RESSALVA Atendendo solicitação da autora, o texto completo desta dissertação será disponibilizado somente a partir de 26/05/2025. UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” Faculdade de Ciências e Letras - Campus de Araraquara - SP CAROLINE LAURIANO SILVA REQUISITOS DE APOIO DISCURSIVO EM PEÇAS DE TEATRO DO SÉCULO XX - 1950 A 1970: um estudo sociolinguístico ARARAQUARA – S.P. 2023 CAROLINE LAURIANO SILVA REQUISITOS DE APOIO DISCURSIVO EM PEÇAS DE TEATRO DO SÉCULO XX - 1950 A 1970: um estudo sociolinguístico Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Linguística e Língua Portuguesa, da Faculdade de Ciências e Letras – UNESP/Araraquara, como requisito para obtenção do título de Mestre em Linguística e Língua Portuguesa. Linha de pesquisa: Análise Fonológica, Morfossintática, Semântica e Pragmática Orientador: Profa. Dra. Rosane de Andrade Berlinck Bolsa: CNPq ARARAQUARA – S.P. 2023 S586r Silva, Caroline Lauriano Requisitos de apoio discursivo em peças de teatro do século XX - 1950 a 1970: : um estudo sociolinguístico / Caroline Lauriano Silva. -- Araraquara, 2023 151 p. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista (Unesp), Faculdade de Ciências e Letras, Araraquara Orientadora: Rosane de Andrade Berlinck 1. Marcadores discursivos. 2. Requisitos de apoio discursivo. 3. Peças teatrais. 4. Variação linguística. I. Título. Sistema de geração automática de fichas catalográficas da Unesp. Biblioteca da Faculdade de Ciências e Letras, Araraquara. Dados fornecidos pelo autor(a). Essa ficha não pode ser modificada. CAROLINE LAURIANO SILVA REQUISITOS DE APOIO DISCURSIVO EM PEÇAS DE TEATRO DO SÉCULO XX - 1950 A 1970: um estudo sociolinguístico Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Linguística e Língua Portuguesa, da Faculdade de Ciências e Letras – UNESP/Araraquara, como requisito para obtenção do título de Mestre em Linguística e Língua Portuguesa. Linha de pesquisa: Análise Fonológica, Morfossintática, Semântica e Pragmática Orientador: Profa. Dra. Rosane de Andrade Berlinck Bolsa: CNPq Data da defesa: 26/05/2023 MEMBROS COMPONENTES DA BANCA EXAMINADORA: Presidente e Orientadora: Profa. Dra. Rosane de Andrade Berlinck Universidade Estadual Paulista – UNESP/FCLAr Membra Titular: Profa. Dra. Carla Regina Martins Paza Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC Membro Titular: Prof. Dr. Sebastião Carlos Leite Gonçalves Universidade Estadual Paulista – UNESP/Ibilce Local: Universidade Estadual Paulista Faculdade de Ciências e Letras UNESP – Campus de Araraquara Àqueles que me incentivaram a nunca desistir dos meus sonhos... AGRADECIMENTOS Nem todas as palavras do mundo seriam suficientes para agradecer a todos aqueles que, de algum modo, fizeram parte desse período de aprendizado e de desenvolvimento; entretanto, eu não poderia deixar de expressar a minha gratidão. Primeiramente, agradeço a Deus por essa oportunidade e por ter me conduzido, me guardado e me fortalecido ao longo de todo o processo. Além disso, deixo os meus agradecimentos: À minha mãezinha, essa mulher batalhadora e sábia que carrega uma alegria contagiante. Obrigada por me inspirar a ser forte e corajosa, por me ensinar a agir com sabedoria e gentileza e por me incentivar a sonhar e a dançar em meio às tempestades da vida; também agradeço pelas palavras de encorajamento e pelo “colinho” nos momentos difíceis. À minha irmã, Gabizinha, que, além de me encorajar e de me colocar para cima, sempre está ao meu lado. Obrigada pelo apoio, pela força e por todas aquelas conversas, que, mesmo à distância, fizeram toda diferença. À minha querida orientadora, Rosane, que, com toda certeza, é uma grande inspiração para mim. Por todo o apoio e disponibilidade, por todos os direcionamentos e conhecimentos compartilhados, os quais transcendem as páginas desta dissertação, por toda sua gentileza e parceria, deixo o meu mais sincero agradecimento! Aos meus familiares e amigos, que, constantemente, torcem por mim. Aos colegas do Núcleo de Pesquisas em Sociolinguística de Araraquara (SoLAr), os quais, direta ou indiretamente, contribuíram para o desenvolvimento desta dissertação. Deixo um agradecimento especial a Milena, que, mesmo em meio ao doutorado e à correria do dia a dia, arranjou um tempinho para me auxiliar com o programa R. Ao professor Sebastião e à professora Carla, por terem, bondosamente, aceitado fazer parte das bancas de qualificação e de defesa. Acrescento, ainda, um agradecimento ao professor Sebastião, por ter debatido o meu trabalho no SELin - 2022, contribuindo, imensamente, para o desenvolvimento deste estudo. Ao Programa de Linguística e Língua Portuguesa da UNESP de Araraquara e a todos os docentes que contribuíram para a minha formação ao longo desse período. O presente trabalho foi realizado com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - Brasil (CNPq). JUIZ JOVEM Antes... Não sei Excelência. É tão difícil colocar Esse tempo que pedis Antes, depois, agora… Cone do passado Cone da memória E a hora em que tudo se faz. Vede, Excelência… O tempo o que é? É o que demora! JUIZ VELHO É o que nos escapa. JUIZ JOVEM Isso é poesia. JUIZ VELHO O tempo... depende Se é visto pela física Ou pela metafísica. JUIZ JOVEM Na física tudo é coerente. JUIZ VELHO Mas alguém me disse Que o relógio da poesia Anda mais depressa E com mais maestria do que aquele da física. Hilda Hilst (2000[1968], p. 218-219) RESUMO Este estudo verifica a ocorrência de marcadores discursivos (MD), mais especificamente daqueles que integram o subconjunto dos requisitos de apoio discursivo (RAD) – compreendeu?, entendeu?, percebeu?, sabe?, viu? etc. –, em peças de teatro brasileiras produzidas entre as décadas de 1950 e 1970 (século XX). O objetivo desta pesquisa é investigar o uso variável dos RAD originados dos verbos de cognição compreender, entender, perceber, saber e ver, verificando quais forças linguísticas e sociais motivam o uso desses elementos. Para tal fim, parte-se dos pressupostos da Sociolinguística Variacionista (WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006[1968]; LABOV, 2008[1972]), da Sociolinguística Histórica (ROMAINE, 1982; CONDE SILVESTRE, 2007) e do Sociofuncionalismo (BYBEE, 2010, 2016; TAVARES, 2013). Parte-se, também, dos estudos desenvolvidos por Schiffrin (1987, 2001, 2006) e da Gramática Textual-Interativa (RISSO; SILVA; URBANO, 2019), abordagens de estudo de MD adotadas neste trabalho. Selecionaram-se 39 peças teatrais para compor o corpus do trabalho; essas obras foram extraídas de acervos disponíveis virtualmente e de um acervo destinado a pesquisas (socio)linguísticas, organizado pelo Núcleo de Pesquisas em Sociolinguística de Araraquara (SoLAr), no âmbito do projeto Língua EmCena. Sendo assim, controlaram-se variáveis de natureza linguística (apresentação formal, posição e presença/ausência de respostas) e variáveis de natureza social (gênero/sexo, fase da vida, instrução, classe social, etnia, relação entre os personagens/interlocutores, ambientação e autoria das peças). Após a coleta e o processamento estatístico dos dados, constataram-se 319 ocorrências de RAD no corpus analisado, distribuídas da seguinte forma: entender (104 – 33%), ver (91 - 28%), saber (72 - 23%), compreender (42 – 13%) e perceber (10 – 3%). Utilizando o programa R (CORE TEAM, 2022), a análise foi realizada por meio de testes de qui-quadrado e do modelo de árvores de inferências condicionais. Ao controlar as variáveis de natureza linguística – apresentação formal, posição e presença/ausência de respostas –, observou-se que os RAD em análise, em sua maioria, possuem forma simples (262 – 82%), atuam em posição medial de turno (240 – 75%) e são caracterizados pela ausência de respostas após seu uso (300 – 94%), particularidades que correspondem aos traços típicos dos RAD, sinalizando que as formas analisadas já não operam como verbos plenos, mas encontram-se em diferentes estágios do processo de gramaticalização. Quanto às variáveis de natureza social, verificou-se que, apesar de a produção dos RAD ser mais influenciada pela percepção dos dramaturgos, usuários reais da língua, as macrocategorias sociais (gênero/sexo, fase da vida, instrução, classe social e etnia) e a ambientação demonstraram ser aspectos relevantes para a construção e representação dos personagens de peças teatrais. Palavras-chave: marcadores discursivos; requisitos de apoio discursivo; peças teatrais; variação linguística. ABSTRACT This study verifies the occurrence of discursive markers (DM), more specifically those that integrate the subset of discourse markers of support (RAD) – compreendeu?, entendeu?, percebeu?, sabe?, viu? etc. –, in Brazilian theater plays produced between the 1950s and 1970s (20th century). The objective of this research is to investigate the variable use of RAD originated from the cognition verbs compreender, entender, perceber, saber, and ver, verifying which linguistic and social forces motivate the use of these elements. To this end, this research is based on the assumptions of Variationist Sociolinguistics (WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006[1968]; LABOV, 2008[1972]), Historical Sociolinguistics (ROMAINE, 1982; CONDE SILVESTRE, 2007), and Sociofunctionalism (BYBEE, 2010, 2016; TAVARES, 2013). It is also based on studies developed by Schiffrin (1987, 2001, 2006) and Textual-Interactive Grammar (RISSO; SILVA; URBANO, 2019), DM study approaches adopted in this work. We selected thirty-nine theater plays to compose our corpus; these plays were extracted from collections available virtually and from a collection intended for (socio)linguistic researches, organized by Núcleo de Pesquisas em Sociolinguística de Araraquara (SoLAr), within the scope of Língua EmCena project. Thus, we controlled variables of linguistic nature (formal presentation, position, and presence/absence of answers) and variables of social nature (gender/sex, stage of life, education, social class, ethnicity, relationship between characters/interlocutors, setting, and authorship of the plays). After data collection and statistical processing, we verified 319 occurrences of RAD in the analyzed corpus, distributed as follows: entender (104 – 33%), ver (91 - 28%), saber (72 - 23%), compreender (42 – 13%), and perceber (10 – 3%). Analysis was performed in R programming (CORE TEAM, 2022), using chi-squared tests and the conditional inference trees model. When controlling variables of linguistic nature – formal presentation, position, and presence/absence of answers –, we observed that the RAD under analysis, for the most part, have a simple form (262 - 82%), act in a medial position of turn (240 – 75%), and are characterized by the absence of answers after their use (300 – 94%). These characteristics correspond to typical traits of RAD, signaling that the analyzed forms no longer operate as verbs, but they are at different stages of the grammaticalization process. As for variables of social nature, although the production of RAD is more influenced by the perception of the playwrights, real language users, social macrocategories (gender/sex, stage of life, education, social class, and ethnicity) and setting proved to be relevant aspects for the construction and representation of characters in theatrical plays. Keywords: discourse markers; discourse markers of support; theater plays; linguistic variation. LISTA DE QUADROS Quadro 1 Os RAD considerados na análise 20 Quadro 2 Matrizes básicas propostas pela GTI 45 Quadro 3 Traços identificadores dos MD 62 Quadro 4 Núcleo-piloto de MD proposto pela GTI 62 Quadro 5 O corpus 66 Quadro 6 Variáveis e critérios propostos pelo projeto Língua EmCena 68 Quadro 7 Os RAD considerados na análise 70 Quadro 8 Variáveis independentes 72 Quadro 9 Critérios da variável fase da vida 78 Quadro 10 Sistematização das variáveis independentes 84 Quadro 11 Valores dos testes de qui-quadrado: variáveis linguísticas 88 Quadro 12 Formas compostas dos RAD 90 Quadro 13 Núcleo-piloto de MD proposto pela GTI 103 Quadro 14 Valores dos testes de qui-quadrado: variáveis extralinguísticas 104 Quadro 15 Critérios da variável fase da vida 107 Quadro 16 Critérios da variável instrução 110 Quadro 17 Critérios da variável classe social 112 Quadro 18 Categorização de personagens de classe 4 118 Quadro 19 Categorização de personagens não brancos 120 Quadro 20 Local de nascimento dos autores 124 LISTA DE TABELAS Tabela 1 Os RAD mais frequentes no corpus 95 Tabela 2 Distribuição dos RAD de acordo com a apresentação formal 96 Tabela 3 Posição e apresentação formal dos RAD 98 Tabela 4 Distribuição dos RAD de acordo com a posição no turno 98 Tabela 5 Distribuição dos RAD de acordo com a presença/ausência de respostas 100 Tabela 6 Distribuição dos RAD de acordo com a fase da vida dos personagens 108 Tabela 7 Distribuição dos RAD de acordo com o nível de instrução dos personagens 111 Tabela 8 Distribuição dos RAD de acordo com a classe social dos personagens 113 Tabela 9 Distribuição dos RAD de acordo com a etnia dos personagens 115 Tabela 10 Distribuição dos RAD produzidos por personagens de classe 4 119 Tabela 11 Distribuição dos RAD de acordo com as relações entre os personagens/interlocutores: íntimas e não íntimas 122 Tabela 12 Distribuição dos RAD de acordo com as relações entre os personagens/interlocutores: assimétricas e simétricas 122 Tabela 13 Ambientação das peças de teatro 123 Tabela 14 Distribuição dos RAD de acordo com a ambientação das peças 123 Tabela 15 Distribuição dos RAD de acordo com o local de nascimento dos autores 124 Tabela 16 Distribuição dos RAD de acordo com a autoria 126 Tabela 17 Distribuição de personagens de acordo com a autoria 127 LISTA DE FIGURAS Figura 1 Distribuição dos RAD no corpus 86 Figura 2 Apresentação formal dos RAD 95 Figura 3 Posição dos RAD no turno conversacional 97 Figura 4 Presença/ausência de respostas após o uso dos RAD 99 Figura 5 Diagrama arbóreo: variáveis linguísticas 101 Figura 6 Diagrama arbóreo: posição e presença/ ausência de respostas 102 Figura 7 Distribuição dos personagens de acordo com o gênero/sexo 105 Figura 8 Distribuição dos personagens de acordo com a fase da vida (1950 – 1963) 107 Figura 9 Distribuição dos personagens de acordo com a fase da vida (1964 – 1970) 108 Figura 10 Distribuição dos personagens de acordo com o nível de instrução 110 Figura 11 Distribuição dos personagens de acordo com a classe social 113 Figura 12 Distribuição dos personagens de acordo com a etnia 115 Figura 13 Diagrama arbóreo: macrocategorias sociais – gênero/sexo, fase da vida, instrução, classe social e etnia 117 Figura 14 Diagrama arbóreo: etnia e instrução 120 Figura 15 Diagrama arbóreo: ambientação e local de nascimento dos autores 125 Figura 16 Diagrama arbóreo: ambientação e autoria 132 Figura 17 Diagrama arbóreo: ambientação e variáveis de natureza linguística 133 Figura 18 Diagrama arbóreo: ambientação e perfil social dos personagens 134 Figura 19 Diagrama arbóreo: correlação entre os RAD e as variáveis independentes 136 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS BAD Busca de Aprovação Discursiva GTI Gramática Textual-Interativa MD Marcador Discursivo NURC Projeto da Norma Urbana Linguística Culta RAD Requisito de Apoio Discursivo SoLAr Núcleo de Pesquisas em Sociolinguística de Araraquara TG Teoria da Gramaticalização TVML Teoria da Variação e Mudança Linguística SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 16 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DOS RAD 23 2.1 A Sociolinguística Variacionista: pressupostos teórico-metodológicos 23 2.2 Sociofuncionalismo 25 2.3 A Sociolinguística Histórica: breves considerações 27 2.4 O teatro brasileiro nas décadas de 1950, 1960 e 1970 29 2.4.1 O texto teatral como fonte de análise para investigações linguísticas 31 2.5 Marcadores discursivos: diferentes rótulos, diferentes abordagens 35 2.5.1 A abordagem de Schiffrin 37 2.5.2 A Gramática Textual-Interativa 41 2.5.3 Um diálogo entre abordagens: a multifuncionalidade dos MD em foco 46 2.6 Delimitação do objeto 48 2.6.1 Os requisitos de apoio discursivo 51 2.6.2 Gramaticalização dos RAD 54 2.7 Sintetizando... 64 3 METODOLOGIA 65 3.1 As etapas da pesquisa 65 3.2 O corpus: peças de teatro produzidas entre as décadas de 1950 e 1970 66 3.3 Coleta e tratamento dos dados 69 3.4 Variáveis dependente e independentes 69 3.4.1 Apresentação formal 72 3.4.2 Posição 74 3.4.3 Presença/ausência de respostas 75 3.4.4 Perfil social dos personagens 76 3.4.4.1 Gênero/sexo 77 3.4.4.2 Fase da vida 77 3.4.4.3 Instrução 79 3.4.4.4 Classe social 79 3.4.4.5 Etnia 79 3.4.5 Relação entre os personagens/interlocutores 81 3.4.6 Ambientação 82 3.4.7 Autoria 82 3.5 Sintetizando... 83 4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS: UM OLHAR PARA OS RAD NAS PEÇAS TEATRAIS 85 4.1 Visão geral dos resultados 85 4.2 Variáveis de natureza linguística 88 4.2.1 Apresentação formal 89 4.2.2 Posição 96 4.2.3 Presença/ausência de respostas 98 4.2.4 Cruzamentos: variáveis de natureza linguística 100 4.3 Variáveis de natureza extralinguística 103 4.3.1 As macrocategorias sociais: o perfil dos personagens 104 4.3.1.1 Gênero/sexo 104 4.3.1.2 Fase da vida 106 4.3.1.3 Instrução 110 4.3.1.4 Classe social 112 4.3.1.5 Etnia 115 4.3.1.6 Correlacionando as macrocategorias sociais 117 4.3.2 Relação entre os personagens/interlocutores 121 4.3.3 Ambientação 122 4.3.4 Autoria 126 4.3.5 Cruzamentos 131 4.4 Sintetizando... 139 5 CONCLUSÃO 140 REFERÊNCIAS 145 16 1 INTRODUÇÃO A espontaneidade é uma das principais características da conversação, visto que sua formulação ocorre concomitantemente à sua produção; por essa razão, é comum nos depararmos com hesitações, reformulações, interrupções e ajustes na fala espontânea. Entretanto, além dessas particularidades, os textos orais contam com certos recursos que auxiliam em sua estruturação e facilitam a comunicação, dentre os quais destacamos os marcadores discursivos (MD), objeto de análise desta pesquisa. Os MD, de maneira geral, operam na organização do texto falado, amarrando as porções textuais e orientando os interlocutores no decorrer da interação (RISSO; SILVA; URBANO, 2019), e, assim como outros elementos linguísticos/discursivos, “são formas variáveis, sensíveis aos contextos sociocultural e regional” (FREITAG, 2008, p. 4). Posto isso, são diversos os elementos que compõem o grupo dos MD (né?, olha, uhn uhn, bem, veja, é?, hein?, entendeu?, então, aí, daí, mas), os quais provêm das mais variadas classes gramaticais, constituindo, assim, um conjunto bastante amplo e heterogêneo. Dada a relevância do papel executado por esses elementos no discurso, os estudos referentes aos MD têm se multiplicado ao longo do tempo. Devido à amplitude e à heterogeneidade desse conjunto, decidimos investigar um dos subconjuntos de MD: o de requisitos de apoio discursivo (RAD). De acordo com Valle (2014), que se fundamenta em estudos diversos acerca dos MD, os RAD atuam tanto no plano textual quanto no plano interacional, desempenhando diversas funções, que, por vezes, se sobrepõem, porque ambos os planos estão inter-relacionados. Silva e Macedo (1996), por seu turno, destacam que essas unidades são usadas para testar a atenção do interlocutor ou para obter a sua aquiescência. Os trechos abaixo, extraídos das peças teatrais selecionadas para a análise deste estudo, exemplificam o uso de alguns RAD: (1) CAFUNÉ - Pode se boba pra você! Cê num precisa de mandinga, né? Já é o melhor do campo desde hoje, né? (Chapetuba Futebol Clube – Oduvaldo Vianna Filho, 1959). (2) VITOR - Eu tenho só que acabar de arrumar as coisas e quero uma companhia pra ficar comigo até a última hora. Só isso, te pago mais 20, tá? Daí fica arredondado pra cem. (O assalto – José Vicente de Paula, 1969). (3) 17 RICO – Pô, cara, você também quer saber de tudo, hein? (Cordélia Brasil - Antônio Bivar, 1967). Por meio desses excertos, percebe-se que, não obstante as unidades que constituem o subconjunto dos RAD possuam certas semelhanças, há, ainda, discrepâncias quanto a outros critérios, como a classe gramatical de origem. A partir disso, objetivando reunir um grupo coerente para nossa análise, selecionamos os RAD derivados dos verbos de cognição compreender, entender, perceber, saber e ver, os quais são tratados como variantes, uma vez que se assemelham quanto à natureza conceptual, à classe gramatical de origem e partilham contextos de uso, atuando no domínio da requisição de apoio discursivo (VALLE, 2014). Apesar de ver ser um verbo de percepção visual, seu sentido desliza para a cognição, tornando-o semelhante aos verbos cognitivos. Rost Snichelotto (2009), que estuda MD derivados dos verbos de percepção ver e olhar, defende que, além de terem um sentido mais concreto, relacionado à percepção visual, esses verbos adquirem sentidos mais abstratos, ligados à cognição. No caso de ver, especificamente, a autora conclui que, Em sua trajetória de mudança semântica, ver perde parte do significado relativo à percepção visual (perceber com os olhos) e passa a veicular a acepção de saber, perceber com a razão, e depois, compreender. Observa-se a perda parcial do sentido de base da forma sob transformação, desenvolvendo-se novos sentidos relacionados uns com os outros, num movimento que vai de um significado-fonte, mais concreto, para sentidos derivados, mais abstratos, preservado o sentido original de captar algo. (ROST SNICHELOTTO, 2009, p. 54, grifos da autora) Os trechos abaixo ilustram o uso de ver como verbo pleno, cujo significado está relacionado à percepção visual, e como RAD, que é usado de modo abstratizado, associado à cognição. (4) CAFUNÉ - [...] Ninguém qué que eu tire a barba, né, Bila? Engraçado. Riram de mim, cê viu? Te abraçaram também? O que é que diz aí, hein? Fiquei com vergonha de perguntá... (Chapetuba Futebol Clube – Oduvaldo Vianna Filho, 1959). (5) DURVAL – [...] Olha... não gosto de escrevê carta, viu? Confesso mesmo... (Chapetuba Futebol Clube – Oduvaldo Vianna Filho, 1959). 18 No exemplo (4), percebemos que a expressão [vo]cê viu? faz referência à ação mencionada anteriormente (“riram de mim”); logo, o personagem deseja saber se o amigo viu, em sentido concreto, certas pessoas rindo dele. Por outro lado, no exemplo (5), notamos que o verbo desempenha papel de RAD e assume um sentido mais abstrato, podendo ser substituído, sem prejuízo de sentido proposicional, por entendeu?, sabe?, compreendeu? ou percebeu?, que são formas intercambiáveis nesse contexto: i) Olha... não gosto de escrevê carta, entendeu? Confesso mesmo... ii) Olha... não gosto de escrevê carta, sabe? Confesso mesmo... iii) Olha... não gosto de escrevê carta, compreendeu? Confesso mesmo... iv) Olha... não gosto de escrevê carta, percebeu? Confesso mesmo... Por serem fenômenos típicos da fala, presentes em situações comunicativas e dialógicas, o estudo dos MD, e, particularmente, dos RAD, em sincronias passadas torna-se desafiador. A invenção de ferramentas que permitem gravar a língua falada e registrá-la é, ainda, recente, o que significa que, para investigar os usos linguísticos de épocas mais distantes, o pesquisador deve recorrer a registros escritos, os quais, nem sempre, são fidedignos quanto à realidade oral de determinado período. A probabilidade de encontrarmos MD em fontes escritas que seguem, rigidamente, os padrões normativos da época é quase inexistente; daí a necessidade de selecionar fontes escritas que sejam representativas da fala, como é caso das peças teatrais. Os dados analisados provêm, então, de peças de teatro produzidas por autores brasileiros ao longo do século XX, mais especificamente entre as décadas de 1950 e 1970. A escolha de peças teatrais como fonte de análise e de extração de dados se justifica pelo fato de esse gênero textual se estruturar a partir do diálogo, que pode ser tomado como uma representação do texto falado. Ademais, o diálogo exerce um papel importante no processo de criação dos personagens, pois, por meio dele, é possível identificar as características linguísticas e sociais desses personagens. As peças constituem uma rica fonte de dados (socio)linguísticos, sobretudo de períodos para os quais não se tem acesso a dados de fala (BERLINCK; BARBOSA; MARINE, 2008; BERLINCK, 2020; ALMEIDA; PINTO, 2020; BERLINCK; BRANDÃO, 2021). Somado a isso, os MD são elementos que se manifestam, majoritariamente, no discurso oral, o que torna ainda mais justificável o uso de textos que são representativos da fala e da interação entre interlocutores/personagens. Quanto ao recorte temporal proposto, trata-se de um período historicamente relevante por dois motivos: primeiramente, devido às modificações no contexto sócio-histórico brasileiro e à influência do 19 meio social sobre os usos que os membros da sociedade fazem da língua – cumpre destacar que língua e sociedade são indissociáveis e que a língua muda porque a sociedade muda (FARACO, 2006) – e, em segundo lugar, por se tratar de um período profícuo no que tange à produção de textos dramáticos. Este trabalho, portanto, tem como objetivo geral investigar o uso variável dos RAD originados dos verbos compreender, entender, perceber, saber e ver, tendo como fonte de análise peças de teatro brasileiras produzidas entre as décadas de 1950 e 1970. À guisa de exemplo, nos trechos abaixo, destacamos as ocorrências de cada um desses RAD: (6) TUNINHO - E não saiu coisa nenhuma. Está em casa, compreendeu? Vai avisar a teu patrão que eu vou me plantar aqui e que não saio nem a tiro! (A Falecida - Nelson Rodrigues, 1953). (7) HOMEM - [...] Toda quarta-feira eu tiro feriado e faço uns passeios “digestivos” só pra “espairecer” o espírito sem “finalidades” mais “profundas”, tá entendendo? Eu sou um cara de classe, Mariazinha. [...] (Fala baixo, senão eu grito - Leilah Assumpção, 1969). (8) AURORA - Não há drama. Eu sou assim, de veneta, percebeu? Quando cismo com um camarada, já sabe: topo qualquer parada. [...] (Os sete gatinhos - Nelson Rodrigues, 1958). (9) GERVÁSIO - Isso é uma injustiça. Pouca gente pode atirar a primeira pedra. Até me revolta, sabe? Mas vocês não vão entrar com o mandado de segurança? Vocês querem ir no mole? [...] (Em moeda corrente do país - Abílio Pereira de Almeida, 1960). (10) BENEDITO - Tratem de calar a boquinha, viu? Se essa história se espalha! Os dois valentões aqui, ajoelhados, pedindo misericórdia! (A pena e a lei - Ariano Suassuna, 1959). Visto que os RAD podem apresentar variação em sua forma, os dados são controlados a partir da fonte verbal desses elementos, de modo que todas as variantes sejam incluídas na análise, conforme exposto no quadro 1. 20 Quadro 1 - Os RAD considerados na análise RAD Fontes verbais Variantes Compreender Exemplos: compreendeu? compreende? compreendestes? Entender Exemplos: tá entendendo? entendeu? entende? Perceber Exemplos: percebeu? percebeste? tá percebendo? Saber Exemplos: sabe? sabia? tá sabendo? Ver Exemplos: viu?1 Fonte: própria Para atingir o propósito geral, estabelecemos os seguintes objetivos específicos: i) verificar quais forças linguísticas e sociais estão correlacionadas ao uso dos RAD em estudo; e ii) discorrer sobre o processo de gramaticalização desses elementos para que possamos compreender de que modo essas formas passaram de verbos plenos a RAD. Nosso intuito, então, não é recuperar a trajetória de mudança de cada um desses RAD, mas propor um panorama geral do processo de gramaticalização das formas em estudo. Portanto, considera-se que este trabalho contribuirá com os estudos sócio-históricos, que destacam a relevância de materiais escritos para as investigações linguísticas, bem como com discussões acerca dos MD no âmbito da Teoria da Variação e Mudança Linguística (TVML). Nossa hipótese é que o uso dos RAD esteja relacionado a fatores linguísticos, como a posição dos RAD no discurso, e extralinguísticos, tais como idade, gênero/sexo, classe social etc. Apesar de os resultados de trabalhos anteriores (SILVA; MACEDO, 1996; VALLE, 2001, 2014) terem revelado que as macrocategorias sociais exercem pouca influência no uso dos RAD, supomos que – por estarmos lidando com textos dramáticos, diferentemente dos referidos estudos, que analisaram dados de fala – há relação entre os RAD e fatores como gênero/sexo, etnia, escolaridade, idade e classe social. Consideramos que personagens com determinados perfis sociais usarão RAD específicos. Em vista disso, a temática deste trabalho se mostra relevante pelas seguintes razões: i) todos os falantes, com maior ou menor frequência, fazem uso dos MD, que são essenciais para o planejamento e para a organização dos textos falados; ii) ainda que as peças teatrais tragam uma representação da língua em uso, seus autores, ao criarem os personagens, atribuem a eles determinados “modos de falar”, dando aos diálogos características de uma conversação natural; iii) os MD são, frequentemente, rotulados como vícios de linguagem, 1 Não encontramos variação dos RAD provenientes da fonte verbal ver em nosso corpus. 21 tornando-se alvo de estigma social e de preconceito linguístico, posições que desconsideram a relevância desses elementos para a estruturação dos textos falados (FREITAG, 2007); e iv) o tratamento variável a fenômenos discursivos, tais como os RAD, é uma prática pouco recorrente em trabalhos que versam sobre variação linguística. Somado a isso, Valle (2014), que também investiga RAD derivados de verbos de cognição2, declara que são poucos os trabalhos que se dedicam à investigação de marcadores dessa origem, o que torna o tema ainda mais relevante e pertinente para os estudos dos MD e, especialmente, dos RAD. Em síntese, os MD são elementos passíveis de múltiplas e variadas análises, constituindo um amplo campo ainda pouco explorado, particularmente sob a perspectiva da TVML; logo, a presente pesquisa se dedica à investigação desse fenômeno, de modo a contribuir com estudos prévios e futuros. Além desta introdução, na qual apresentamos a proposta, o tema, o problema da pesquisa, a justificativa, os objetivos geral e específicos e a hipótese levantada, esta dissertação é estruturada em alguns capítulos. O segundo capítulo é destinado à discussão dos subsídios teóricos; dessa forma, dissertamos sobre os pressupostos teórico-metodológicos da Sociolinguística Variacionista, do Sociofuncionalismo e da Sociolinguística Histórica, apresentamos as principais características do teatro brasileiro entre as décadas de 1950 e 1970 e, com base em estudos prévios, destacamos a relevância do gênero dramático para as investigações (socio)linguísticas. Em seguida, direcionamos o foco das discussões para os MD, fazendo uma breve contextualização do fenômeno. Feito isso, nos debruçamos sobre as duas perspectivas que norteiam este trabalho, a saber, Schiffrin (1987, 2001, 2006) e Risso, Silva e Urbano (2019), e estabelecemos um diálogo entre ambas as abordagens. Adiante, explicamos como se deu a delimitação do objeto, justificando a escolha dos RAD sob análise e esmiuçando a definição desses elementos. Para encerrar o capítulo, discorremos sobre o processo de gramaticalização dos RAD com o intuito de compreender o percurso de mudança desses elementos. No terceiro capítulo, detalhamos a metodologia da pesquisa: apresentamos o corpus do trabalho, indicando quais foram as peças teatrais selecionadas, bem como seus autores e datas de produção/publicação; elucidamos os procedimentos adotados para a realização da coleta e do tratamento dos dados; e especificamos a variável dependente e as variáveis independentes a serem controladas. No quarto capítulo, realizamos a análise e a discussão dos resultados obtidos. Por fim, sintetizamos as conclusões, as contribuições da 2 Valle (2014) investiga as seguintes formas: sabe?, sabes?, entende?, entendeu?, entendesse?, tá entendendo? e tás entendendo?. 22 dissertação e os encaminhamentos futuros. Ao final de cada capítulo, apresentamos uma síntese, de modo a condensar os aspectos centrais das discussões desenvolvidas. 140 5 CONCLUSÃO O objetivo geral deste trabalho foi investigar o uso variável dos RAD derivados dos verbos de cognição compreender, entender, perceber, saber e ver. Para alcançar esse propósito geral, verificamos quais forças linguísticas e sociais poderiam estar correlacionadas ao uso dos RAD em estudo e discorremos sobre o processo de gramaticalização desses elementos, buscando entender de que modo essas formas passaram de verbos plenos a RAD, tornando-se intercambiáveis em um mesmo domínio funcional. Articulando os pressupostos teórico-metodológicos da TVML, do Sociofuncionalismo e da Sociolinguística Histórica, partimos da concepção de língua como sistema heterogêneo, passível de variação e mudança linguísticas – as quais podem ser identificadas em registros escritos, como as peças teatrais. Relembramos, também, os principais eventos que marcaram a história do teatro brasileiro no século XX e defendemos o uso das peças teatrais como corpus para os estudos (socio)linguísticos. Na sequência, voltamos nossa atenção para os MD, que são elementos típicos da fala, caracterizando, assim, a espontaneidade e a dinamicidade da língua em uso. Somado a isso, sintetizamos as abordagens de Schiffrin (1987, 2001, 2006) e de Risso, Silva e Urbano (2019), as quais fundamentam este trabalho, discorremos a respeito dos RAD, pontuando as principais características desse subconjunto, e discutimos o processo de gramaticalização desses elementos. Dando continuidade à pesquisa, detalhamos o caminho percorrido até a obtenção dos resultados: descrevemos o corpus – constituído por 39 peças teatrais brasileiras produzidas entre as décadas de 1950 e 1970 –, explicamos como foram realizados a coleta e o tratamento dos dados e especificamos cada uma das variáveis independentes e as hipóteses a respeito delas. Como mencionado na seção dedicada à discussão dos pressupostos teórico-metodológicos da Sociolinguística Variacionista, dos cinco problemas empíricos postulados por Weinreich, Labov e Herzog (2006[1968]), o presente trabalho lidou com o problema da restrição, porque avaliamos os determinantes linguísticos e extralinguísticos envolvidos na escolha dos RAD em estudo, e com o problema do encaixamento, dado que nos propusemos a explicar de que modo os RAD derivados dos verbos de cognição compreender, entender, perceber, saber e ver estão inseridos na matriz social do período histórico em investigação (1950-1970). A análise e a discussão dos resultados demonstraram que: i) é possível dispensar um tratamento variável aos RAD, posto que atuam no mesmo domínio funcional e possuem naturezas e sentidos semelhantes; e ii) há aspectos linguísticos e sociais envolvidos na produção desses elementos. 141 Constatamos 319 ocorrências dos RAD em estudo no corpus, distribuídas da seguinte forma: entender (104 – 33%), ver (91 - 28%), saber (72 - 23%), compreender (42 – 13%) e perceber (10 – 3%). Na discussão concernente à variável apresentação formal, observamos que, com exceção de ver, os RAD em estudo apresentam variabilidade de forma. Contudo, verificamos que, mesmo havendo variação, os RAD mais recorrentes no corpus são formas simples e fixas, que, possivelmente, estão mais gramaticalizadas, porque manifestam traços identificadores dos MD prototípicos (cf. Tabela 1). Quanto à posição, os RAD ocorrem mais em posição medial, operando no desenvolvimento e na sustentação do turno, bem como no gerenciamento da interação. Considerando que a apresentação formal dos RAD poderia ter alguma relação com a posição ocupada por esses elementos no turno conversacional, conjecturamos que formas compostas, por terem mais material linguístico, ocorreriam, preferencialmente, em posição final. Ao contrário do que havíamos previsto, as formas compostas, assim como as simples, surgem mais em posição medial de turno, porém notamos que, de fato, há uma certa tendência de as formas compostas ocuparem a posição final. A variável presença/ausência de respostas demonstrou que os RAD em estudo, em sua maioria, não são acompanhados de manifestações verbais por parte do ouvinte, o que condiz com os resultados de estudos anteriores (URBANO, 1999a; VALLE, 2001, 2014; TRAPP, 2014). Esse resultado, portanto, reforça o caráter dos RAD como perguntas retóricas, para as quais não se espera uma resposta, como também sinaliza a perda da ilocução interrogativa desses elementos (FREITAG, 2009). Resumidamente, os RAD possuem formas mais simples e reduzidas, atuam, geralmente, em posição medial de turno e não costumam ser sucedidos por respostas. Levando em consideração o núcleo-piloto de MD proposto pela GTI, concluímos que, de maneira geral, as características dos RAD em estudo condizem com os traços mais estáveis dos MD, revelando que as formas sob análise já não atuam como verbos plenos, mas encontram-se em diferentes estágios do processo de gramaticalização. Com base nos princípios de Hopper (1991), exibidos na seção referente à gramaticalização dos RAD, constatamos que: i) os RAD advindos de compreender, entender, perceber, saber e ver variam e coexistem em um mesmo domínio funcional, o de requisição de apoio discursivo, e são formas intercambiáveis, que podem ser substituídas umas pelas outras sem perda de sentido proposicional (princípio da estratificação); ii) em certos contextos, é possível que a variação deixe de ocorrer, propiciando a fixação de uma das formas em coexistência – a exemplo disso, 142 podemos mencionar as formas apresentadas na tabela 1, que foram as mais frequentes no corpus, ou seja, mesmo havendo outras variantes, há uma rotinização de determinadas formas, que acabam sendo mais usadas pelos falantes (princípio da especialização); iii) os verbos dos quais os RAD em estudo se originam permanecem em uso no sistema linguístico, desempenhando outras funções, conforme demonstramos ao longo do trabalho (princípio da divergência); iv) em algumas formas, principalmente naquelas que aparentam estar em estágios incipientes ou intermediários de gramaticalização, há manutenção de certos traços semânticos dos verbos de origem (princípio da persistência); e v) à medida que se gramaticalizam, os RAD perdem as características de verbos plenos e assumem propriedades particulares aos MD, atuando exclusivamente na organização textual-interativa dos textos falados (princípio da descategorização). As macrocategorias sociais (gênero/sexo, fase da vida, instrução, classe social e etnia), apesar de não influenciarem diretamente a produção dos RAD, são essenciais para a construção do perfil social dos personagens e para a elaboração de seus “modos de falar”. Dessa forma, consideramos que, no processo de criação dos personagens e dos diálogos, os autores são norteados por essas categorias, que, em sua quase totalidade, se mostraram significativas pelos testes de qui-quadrado (cf. Quadro 14). Ainda em relação a essas variáveis, ao analisarmos as tabelas verticalmente, detectamos uma possível distinção social entre compreender/perceber e saber/ver. Identificamos, mediante as proporções apresentadas nas tabelas, a seguinte tendência: Compreender e Perceber ● Instrução: básica ou avançada; ● Classe social: classes 1 ou 2; ● Etnia: brancos. Saber e Ver ● Instrução: média ou sem instrução; ● Classe social: classes 3 ou 4; ● Etnia: não brancos. Os RAD derivados de entender, por seu turno, aparentam ser os menos influenciados por esses aspectos sociais, pois são utilizados nas falas de personagens com diferentes perfis sociais. Esses resultados, embora sejam interessantes, requerem análises mais profundas e um 143 número maior de dados, de modo que possamos realizar afirmações precisas e consistentes. Estas, então, são atividades para possíveis estudos futuros. Quanto à relação entre os personagens/interlocutores, ainda que as relações simétricas e íntimas, nas quais esperávamos maior produção de RAD, tenham sido mais frequentes do que as relações assimétricas e não íntimas, essa variável não foi considerada significativa pelos testes de qui-quadrado (cf. Quadro 14), indicando, que, nas peças teatrais analisadas, a produção de RAD não é motivada por esses fatores. Por meio da variável ambientação, observamos que alguns RAD são utilizados somente em uma das regiões consideradas (nordeste ou sudeste), como é caso de compreender e de perceber, que foram produzidos apenas em peças ambientadas no sudeste, e outros, apesar da predominância em uma das regiões, são usados em ambas as localidades, tais como entender, saber e ver. Finalmente, a autoria revelou ser a variável mais significativa em nossa análise. Constatamos que os dramaturgos fazem uso de RAD específicos, que estão relacionados à ambientação das tramas e, menos acentuadamente, ao perfil social dos personagens, variáveis que se mostraram relevantes para a construção e representação dos personagens. Diante disso, depreendemos que a percepção dos dramaturgos, usuários reais da língua, é imbuída de traços sociais, históricos, culturais e, também, linguísticos, pois, para construir seus personagens, os autores precisam definir quais características intelectuais, físicas, sociais, regionais e linguísticas essas figuras irão assumir. Nessa direção, nossos resultados condizem, em certa medida, com os de estudos anteriores (SILVA; MACEDO, 1996; VALLE, 2001, 2014), os quais já haviam constatado que a escolha e o uso dos RAD estão mais relacionados a fatores contextuais e atitudinais do que às macrocategorias sociais; nas peças de teatro, tais fatores conduzem os autores na criação dos personagens e dos diálogos. Futuramente, é possível realizar um estudo diacrônico, utilizando materiais escritos como fonte de análise, a fim de investigar mais a fundo a trajetória de mudança dos RAD derivados de verbos de cognição. Além das peças teatrais, pode-se verificar outros gêneros, como roteiros de cinema, que são similares às peças por se estruturarem a partir do diálogo, constituindo, assim, materiais produtivos para a investigação de fenômenos linguísticos. É válido, também, considerar, além de forças linguísticas e sociais, forças estilísticas e identitárias que possam motivar a produção dos RAD. Este trabalho, então, integra o conjunto de estudos que busca responder questões concernentes aos MD – e aos RAD, mais especificamente –, grupo extremamente amorfo e heterogêneo, que, a cada investigação, ocasiona o surgimento de novas ramificações e de 144 caminhos diversos a serem percorridos. Lidar com variáveis discursivas não é uma tarefa simples, ainda mais quando essa atividade envolve a análise de materiais escritos; todavia, o trabalho com os MD, e, em especial, com os RAD, não se esgota facilmente, antes, quanto mais exploramos esse conjunto, mais fascinante ele se torna. Silva e Macedo (1996, p. 14), comparando os estudos dos MD a uma floresta repleta de árvores distintas e de difícil penetração, declaram que “há que se fazer cortes, traçar caminhos e avançar com cautela, voltar sobre os passos e contornar obstáculos” até que sejamos capazes de “chegar a uma clareira de onde se possa ter uma melhor visão”. Esperamos, portanto, que esta pesquisa contribua para a ampliação da visão desse fenômeno. 145 REFERÊNCIAS ALKMIM, T. M. Sociolinguística (parte 1). In: MUSSALIM, F.; BENTES, A. C. (orgs.). Introdução à linguística: domínios e fronteiras - vol. 1. São Paulo: Cortez, 2001. p. 21-47. ALMEIDA, M. A.; PINTO, L. G. O uso das peças teatrais na análise sócio-histórica do português brasileiro. Revista da ABRALIN, v. 19, n. 2, p. 1-5, 19 out. 2020. BELL, A. Language Style as Audience Design. Cambridge University Press. v. 13, n. 2, p. 145-204, jun. 1984. BELTRÃO, K. I.; NOVELLINO, M. S. Alfabetização por raça e sexo no Brasil: evolução no período 1940-2000. 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