ESTUDO COMPARATIVO ENTRE A LUBRI-REFRIGERAÇÃO CONVENCIONAL E A MQL NO PROCESSO DE RETIFICAÇÃO CILÍNDRICA EXTERNA DE MERGULHO RONALDO YOSHINOBU FUSSE Dissertação apresentada a Faculdade de Engenharia da UNESP - Campus de Bauru, para obtenção do título de Mestre em Engenharia Industrial. BAURU - SP MARÇO - 2005 ii ESTUDO COMPARATIVO ENTRE A LUBRI-REFRIGERAÇÃO CONVENCIONAL E A MQL NO PROCESSO DE RETIFICAÇÃO CILÍNDRICA EXTERNA DE MERGULHO RONALDO YOSHINOBU FUSSE Orientador: Prof. Dr. Eduardo Carlos Bianchi Co-Orientador: Prof. Dr. Paulo Roberto de Aguiar Dissertação apresentada a Faculdade de Engenharia da UNESP - Campus de Bauru, para obtenção do título de Mestre em Engenharia Industrial. BAURU - SP MARÇO - 2005 DEDICATÓRIA Aos meus Pais Hiroshi Fusse, Toshiko Ide Fusse, aos meus irmãos César Hideki Fusse e Adriana Akemi Fusse e aos meus avós Katsuichi Ide e Yoshiko Ide. ii AGRADECIMENTOS Expresso os mais sinceros agradecimentos: Ao meu Orientador Prof. Dr. Eduardo Carlos Bianchi, pelo constante apoio cedido em todas as etapas do projeto, pela valiosa amizade sincera, incentivo prestado e total confiança cedida a minha pessoa. Ao Co-Orientador Prof. Dr. Paulo Roberto de Aguiar, pelas excelentes trocas de informações e apoios cedidos durante a realização do Projeto, incentivo e grande amizade desenvolvida. À CAPES pela concessão da Bolsa de Mestrado. Em especial ao Prof. Dr. Leonardo Roberto da Silva do Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET) de Belo Horizonte – MG, Dr. Rodrigo Eduardo Catai que colaboraram de forma direta sempre com muita sinceridade e companheirismo durante toda a confecção deste trabalho. Ao Prof. Dr. Luiz Daré Neto pelo auxílio técnico prestado na realização dessa pesquisa. Ao Prof. Dr. César Antunes de Freitas, da Faculdade de Odontologia de Bauru (USP), pelas colaborações na forma de sugestões. Ao Departamento de Engenharia Mecânica da UNESP, Campus de Bauru e aos Laboratórios de Pesquisa pertencentes à Instituição. De forma especial a todos os Docentes e Funcionários que de alguma forma vieram a contribuir no desenvolvimento deste trabalho. Aos técnicos Uilson Kruger da Oficina Mecânica e Osmar Luis Martinelli do Laboratório de Engenharia Elétrica pelas valiosas informações e ajudas prestadas. Aos técnicos Carlos Roberto Firlanetto do Laboratório de Refrigeração e Ar Condicionado, Hamilton José de Mello do Laboratório de Materiais pelo apoio técnico fornecido. Aos Mestres Eraldo Jannone da Silva, Rodrigo Daun Monici e Sidney Domingues, e aos mestrandos, Thiago Valle França, Thiago Cardoso Magagnin, os quais colaboraram com amizade e informações úteis à pesquisa. Aos meus amigos Luciano Henrique de Almeida e Juliana Maria Albuquerque Gimenez que sempre me incentivaram durante todo o meu trabalho. A minha namorada Daniela Quimelo por estar sempre presente ao meu lado e me apoiando intensamente durante a realização deste trabalho. iii Ao Laboratório de Difração de Raios-X, do Centro de Caracterização de Materiais (CCDM) de São Carlos - SP, na pessoa dos Pesquisadores Associados Dr. Rogério Machado e a M.Sc. Fabíola de Moraes, pelo auxílio técnico na determinação das tensões residuais e realização das microscopias eletrônicas de varredura nos componentes usinados. E principalmente a Deus pelo entusiasmo e saúde mantidos durante todas às etapas desse projeto. iv SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS.............................................................................................................vii LISTA DE TABELAS............................................................................................................vii LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS......................................................................xi RESUMO.................................................................................................................................xii ABSTRACT ...........................................................................................................................xiii 1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................1 2. OBJETIVOS .........................................................................................................................3 3. JUSTIFICATIVA PARA REALIZAÇÃO DESTE TRABALHO...................................3 4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................5 4.1. Variáveis no Processo de Retificação Cilíndrica Externa de Mergulho ...........5 4.1.1 Mecanismo de formação do cavaco ................................................................5 4.1.2 Espessura Equivalente de Corte (heq) ..............................................................6 4.1.3. Arco ou Comprimento de Contato (lc) ...........................................................7 4.2. Rebolos..............................................................................................................7 4.2.1. Dressagem do Rebolo.....................................................................................8 4.3. Fluidos de corte .................................................................................................9 4.3.1. Classificação dos fluidos de corte ..................................................................9 4.3.1.2. Funções do fluido de corte ........................................................................12 4.3.1.3. Aspectos ambientais quanto à utilização de fluidos de corte ....................13 4.3.1.4. Otimização da Aplicação de Fluidos de Corte ..........................................15 4.3.1.5. A Técnica da Mínima Quantidade de Lubrificante (MQL) ......................17 4.3.1.5.1. Classificação e Projeto de Sistemas com Mínima Quantidade de Lubrificante ..........................................................................................................................23 4.3.1.6 Influência da ferramenta e do fluido de corte nas trocas térmicas .............25 4.4. Variáveis de saída envolvidas no processo de retificação...............................27 4.4.1. Força tangencial de corte (Ft) e energia específica (u) ................................27 4.4.2. Desgaste diametral do rebolo .......................................................................30 4.4.3. Integridade Superficial .................................................................................31 4.4.3.1. Rugosidade ................................................................................................31 4.4.3.2. Circularidade .............................................................................................32 4.4.3.2.1. Tolerância geométrica de forma.............................................................32 4.4.3.2.2. Definição de circularidade......................................................................33 v 4.4.3.2.3 A influência dos componentes mecânicos nas máquinas-ferramentas na formação dos erros de circularidade.....................................................................................33 4.4.3.3. Análise da microestrutura - Microscopia eletrônica de varredura (MEV) 34 4.4.3.4. Danos térmicos na retificação ...................................................................35 4.4.3.4.1. Microdureza...........................................................................................36 4.4.3.4.2.Tensões residuais.....................................................................................37 5. MATERIAIS E MÉTODOS..............................................................................................40 5.1. Material dos corpos de prova ..........................................................................40 5.2. Tipos de ferramentas utilizados.......................................................................41 5.3. Lubri-refrigeração convencional .....................................................................41 5.3.1. Bocal utilizado..............................................................................................42 5.4. Mínima Quantidade de Refrigeração - MQL ..................................................42 5.4.1. Bocal utilizado..............................................................................................44 5.5. Aquisição de Dados.........................................................................................46 5.5.1. Força Tangencial de Corte ...........................................................................48 5.5.2. Energia Específica de Retificação................................................................51 5.5.3. Medição do desgaste diametral do rebolo ....................................................51 5.5.4. Circularidade ................................................................................................52 5.5.5. Rugosidade ...................................................................................................54 5.5.6. Preparação das amostras para análise...........................................................55 5.5.6.1. Microdureza...............................................................................................56 5.5.6.2. Microscopia Eletrônica de Varredura – MEV...........................................58 5.5.6.3. Tensão Residual ........................................................................................59 5.6. Seqüência de realização de ensaios .................................................................61 5.7. Marcação do desgaste do rebolo .....................................................................62 5.8. Dressagem do rebolo .......................................................................................63 6. RESULTADOS E DISCUSSÕES .....................................................................................64 6.1. Força Tangencial de Corte ..............................................................................64 6.1.1. Força Tangencial de Corte – Rebolo de Óxido de Alumínio .......................64 6.1.2. Força Tangencial de Corte – Rebolo de CBN..............................................70 6.2. Energia Específica de Retificação...................................................................72 6.2.1. Energia Específica de Retificação – Rebolo de Óxido de Alumínio ...........72 6.2.2. Energia Específica de Retificação – Rebolo de CBN ..................................77 6.3. Tensão Residual ..............................................................................................79 vi 6.4. Circularidade ...................................................................................................81 6.5. Desgaste diametral da ferramenta ...................................................................82 6.6. Rugosidade ......................................................................................................84 6.7. Microdureza.....................................................................................................85 6.7.1. Microdureza – Rebolo de Óxido de Alumínio .............................................85 6.7.2. Microdureza – Rebolo de CBN....................................................................89 6.8. Microscopia Eletrônica de Varredura – MEV.................................................91 7. CONCLUSÕES...................................................................................................................97 8. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ............................................................98 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................99 vii LISTA DE FIGURAS Figura 4.1 - Formação do cavaco por um grão abrasivo, (MALKIN, 1989) ........................................................... 5 Figura 4.2 - Funções do fluido de corte no processo de retificação (Monici, 2003 - adaptado)............................ 13 Figura 4.3 - Diagrama Esquemático de um Sistema de Mínima Quantidade de Lubrificação (Heisel et al., 1998)............................................................................................................................................... 24 Figura 4.4 - Ilustração das componentes de força para retificação de mergulho (a) retificação plana, (b) retificação cilíndrica........................................................................................................................ 28 Figura 4.5 - Distribuição da tensão residual induzida pela retificação, as quais são consideradas induzidas termicamente (MALKIN, 1989)........................................................................................... 38 Figura 5.1 - Dimensões iniciais do corpo de prova ............................................................................................... 40 Figura 5.2 - Disposição de montagem do bocal para lubri-refrigeração convencional.......................................... 42 Figura 5.3 - (a) e (b) aplicador ITW Accu-lube 79053D....................................................................................... 43 Figura 5.4 - Esquema de montagem da linha de ar comprimido ........................................................................... 44 Figura 5.5 - Bocal para MQL (a) vista superior do bocal, (b) vista lateral do bocal, (c) vista anterior do bocal ..................................................................................................................................................... 45 Figura 5.6 - Disposição da montagem do bocal para MQL................................................................................... 46 Figura 5.7 - Montagem dos equipamentos para aquisição dos dados.................................................................... 47 Figura 5.8 - Tela de apresentação do programa..................................................................................................... 48 Figura 5.9 - Curva de calibração da rotação .......................................................................................................... 49 Figura 5.10 - Curva de calibração do módulo de potência (curvopower).............................................................. 50 Figura 5.11 - Circularímetro e computador ........................................................................................................... 52 Figura 5.12 - Base acoplada à máquina................................................................................................................. 53 Figura 5.13 - Sequência das medições de circularidade ........................................................................................ 54 Figura 5.14 - Rugosímetro..................................................................................................................................... 54 Figura 5.15 - Pontos de medição de circularidade................................................................................................. 55 Figura 5.16 - Divisão da peça para análise. ........................................................................................................... 55 Figura 5.17 - Embutimento do corpo de prova para o MEV e tensão residual, (a) vista superior, (b) vista lateral ........................................................................................................................................... 56 Figura 5.18 - Embutimento do corpo de prova para a microdureza, (a) vista superior, (b) vista lateral................ 56 Figura 5.19 - Vista lateral da amostra (adaptado Silva, 2004)............................................................................... 57 Figura 5.20 - Microscópio eletrônico de varredura STEREOSCAN 440 com as amostras................................... 59 Figura 5.21 - Difratômetro de quatro círculos, modelo D5000. ............................................................................ 60 Figura 5.22 – Fluxograma dos ensaios .................................................................................................................. 62 Figura 5.23 - Marcação do desgaste diametral do rebolo ...................................................................................... 63 Figura 5.24 - Operação de dressagem ................................................................................................................... 63 Figura 6.1 - Força Tangencial de Corte para Rebolo de Óxido, Lubri-refrigeração convencional vazão = 8,4 l/min, MQL com velocidade do ar = 20 m/s e vazão do lubrificante = 60 ml/h.......................... 65 Figura 6.2 - Força Tangencial de Corte para Rebolo de Óxido, Lubri-refrigeração convencional vazão = 8,4 l/min, MQL com velocidade do ar = 30 m/s e vazão do lubrificante = 60 ml/h.......................... 65 Figura 6.3 - Força Tangencial de Corte para Rebolo de Óxido, Lubri-refrigeração convencional vazão = 8,4 l/min, MQL com velocidade do ar = 40 m/s e vazão do lubrificante = 60 ml/h.......................... 66 viii Figura 6.4 - Força Tangencial de Corte para Rebolo de Óxido, Lubri-refrigeração convencional vazão = 8,4 l/min, MQL com velocidade do ar = 20 m/s e vazão do lubrificante = 40 ml/h.......................... 66 Figura 6.5 - Força Tangencial de Corte para Rebolo de Óxido, Lubri-refrigeração convencional vazão = 8,4 l/min, MQL com velocidade do ar = 30 m/s e vazão do lubrificante = 40 ml/h.......................... 67 Figura 6.6 - Força Tangencial de Corte para Rebolo de Óxido, Lubri-refrigeração convencional vazão = 8,4 l/min, MQL com velocidade do ar = 40 m/s e vazão do lubrificante = 60 ml/h.......................... 67 Figura 6.7 - Força Tangencial de Corte para Rebolo de Óxido, Lubri-refrigeração convencional vazão = 8,4 l/min, sem refrigeração (a seco) .................................................................................................. 69 Figura 6.8 - Força tangencial de corte para Rebolo de CBN, Lubri-refrigeração convencional vazão = 8,4 l/min, MQL com velocidade do ar = 30 m/s e vazão do lubrificante = 40 ml/h ............................. 70 Figura 6.9 - Força tangencial de corte para Rebolo de CBN, Lubri-refrigeração convencional vazão = 8,4 l/min, MQL com velocidade do ar = 30 m/s e vazão do lubrificante = 60 ml/h ............................. 71 Figura 6.10 - Força tangencial de corte para Rebolo de CBN, Lubri-refrigeração convencional vazão = 8,4 l/min, MQL com velocidade do ar = 40 m/s e vazão do lubrificante = 60 ml/h ............................. 71 Figura 6.11 - Energia Específica de Retificação para Rebolo de Óxido, Lubri-refrigeração convencional vazão = 8,4 l/min, MQL com velocidade do ar = 20 m/s e vazão do lubrificante = 40 ml/h ........................................................................................................................... 73 Figura 6.12 - Energia Específica de Retificação para Rebolo de Óxido, Lubri-refrigeração convencional vazão = 8,4 l/min, MQL com velocidade do ar = 30 m/s e vazão do lubrificante = 40 ml/h ........................................................................................................................... 74 Figura 6.13 - Energia Específica de Retificação para Rebolo de Óxido, Lubri-refrigeração convencional vazão = 8,4 l/min, MQL com velocidade do ar = 40 m/s e vazão do lubrificante = 40 ml/h ........................................................................................................................... 74 Figura 6.14 - Energia Específica de Retificação para Rebolo de Óxido, Lubri-refrigeração convencional vazão = 8,4 l/min, MQL com velocidade do ar = 20 m/s e vazão do lubrificante = 60 ml/h ........................................................................................................................... 75 Figura 6.15 - Energia Específica de Retificação para Rebolo de Óxido, Lubri-refrigeração convencional vazão = 8,4 l/min, MQL com velocidade do ar = 30 m/s e vazão do lubrificante = 60 ml/h ........................................................................................................................... 75 Figura 6.16 - Energia Específica de Retificação para Rebolo de Óxido, Lubri-refrigeração convencional vazão = 8,4 l/min, MQL com velocidade do ar = 40 m/s e vazão do lubrificante = 60 ml/h ........................................................................................................................... 76 Figura 6.17 - Energia Específica de Retificação para Rebolo de Óxido, Lubri-refrigeração convencional vazão = 8,4 l/min, sem refrigeração (a seco) .................................................................. 77 Figura 6.18 - Energia Específica de Retificação para Rebolo de CBN, Lubri-refrigeração convencional vazão = 8,4 l/min, MQL com velocidade do ar = 30 m/s e vazão do lubrificante = 40 ml/h................ 78 Figura 6.19 - Energia Específica de Retificação para Rebolo de CBN, Lubri-refrigeração convencional vazão = 8,4 l/min, MQL com velocidade do ar = 30 m/s e vazão do lubrificante = 60 ml/h................ 78 Figura 6.20 - Energia Específica de Retificação para Rebolo de CBN, Lubri-refrigeração convencional vazão = 8,4 l/min, MQL com velocidade do ar = 40 m/s e vazão do lubrificante = 60 ml/h................ 79 Figura 6.21 - Tensão residual ................................................................................................................................ 81 Figura 6.22 - Circularidade.................................................................................................................................... 82 Figura 6.23 - Desgaste diametral do rebolo........................................................................................................... 83 Figura 6.24 - Rugosidade ...................................................................................................................................... 85 Figura 6.25 - Microdureza para Rebolo de Óxido, Lubri-refrigeração convencional vazão = 8,4 l/min, MQL com velocidade do ar = 20 m/s e vazão do lubrificante = 40 ml/h ............................................. 86 Figura 6.26 - Microdureza para Rebolo de Óxido, Lubri-refrigeração convencional vazão = 8,4 l/min, MQL com velocidade do ar = 30 m/s e vazão do lubrificante = 40 ml/h ............................................. 87 ix Figura 6.27 - Microdureza para Rebolo de Óxido, Lubri-refrigeração convencional vazão = 8,4 l/min, MQL com velocidade do ar = 40 m/s e vazão do lubrificante = 40 ml/h ............................................. 87 Figura 6.28 - Microdureza para Rebolo de Óxido, Lubri-refrigeração convencional vazão = 8,4 l/min, MQL com velocidade do ar = 20 m/s e vazão do lubrificante = 60 ml/h ............................................. 88 Figura 6.29 - Microdureza para Rebolo de Óxido, Lubri-refrigeração convencional vazão = 8,4 l/min, MQL com velocidade do ar = 30 m/s e vazão do lubrificante = 60 ml/h ............................................. 88 Figura 6.30 - Microdureza para Rebolo de Óxido, Lubri-refrigeração convencional vazão = 8,4 l/min, MQL com velocidade do ar = 40 m/s e vazão do lubrificante = 60 ml/h ............................................. 89 Figura 6.31 - Microdureza para Rebolo de CBN, Lubri-refrigeração convencional vazão = 8,4 l/min, MQL com velocidade do ar = 30 m/s e vazão do lubrificante = 40 ml/h ............................................. 90 Figura 6.32 - Microdureza para Rebolo de CBN, Lubri-refrigeração convencional vazão = 8,4 l/min, MQL com velocidade do ar = 30 m/s e vazão do lubrificante = 60 ml/h ............................................. 90 Figura 6.33 - Microdureza para Rebolo de CBN, Lubri-refrigeração convencional vazão = 8,4 l/min, MQL com velocidade do ar = 40 m/s e vazão do lubrificante = 60 ml/h ............................................. 91 Figura 6.34 - MEV para Rebolo de Óxido, Lubri-refrigeração convencional vazão = 8,4 l/min .......................... 92 Figura 6.35 - MEV para Rebolo de Óxido, sem refrigeração (a seco) .................................................................. 92 Figura 6.36 - MEV para Rebolo de Óxido, MQL com velocidade do ar = 20 m/s e vazão do lubrificante = 40 ml/h ........................................................................................................................... 93 Figura 6.37 - MEV para Rebolo de Óxido, MQL com velocidade do ar = 30 m/s e vazão do lubrificante = 40 ml/h ........................................................................................................................... 93 Figura 6.38 - MEV para Rebolo de Óxido, MQL com velocidade do ar = 40 m/s e vazão do lubrificante = 40 ml/h ........................................................................................................................... 93 Figura 6.39 - MEV para Rebolo de Óxido, MQL com velocidade do ar = 20 m/s e vazão do lubrificante = 60 ml/h ........................................................................................................................... 94 Figura 6.40 - MEV para Rebolo de Óxido, MQL com velocidade do ar = 30 m/s e vazão do lubrificante = 60 ml/h ........................................................................................................................... 94 Figura 6.41 - MEV para Rebolo de Óxido, MQL com velocidade do ar = 40 m/s e vazão do lubrificante = 60 ml/h ........................................................................................................................... 94 Figura 6.42 - MEV para Rebolo de CBN, Lubri-refrigeração convencional vazão = 8,4 l/min ............................ 95 Figura 6.43 - MEV para Rebolo de CBN, MQL com velocidade do ar = 30 m/s e vazão do lubrificante = 40 ml/h .............................................................................................................................................. 95 Figura 6.44 - MEV para Rebolo de Óxido, MQL com velocidade do ar = 30 m/s e vazão do lubrificante = 60 ml/h ........................................................................................................................... 95 Figura 6.45 - MEV para Rebolo de CBN, MQL com velocidade do ar = 40 m/s e vazão do lubrificante = 60 ml/h .............................................................................................................................................. 96 Figura 6.46 - MEV para a peça Torneada e com Tratamento Térmico ................................................................. 96 x LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Propriedades mecânicas de grãos abrasivos com elevada dureza (Felipe Jr., 1992).............................. 8 Tabela 3 – Composição química do aço ABNT 4340 (%) .................................................................................... 41 Tabela 3 – Seqüência de ensaios ........................................................................................................................... 62 xi LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS a – penetração do rebolo na peça [mm] ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas ad – profundidade de dressagem [µm] Al2O3 - óxido de alumínio b – largura de retificação [mm] bd – largura de atuação do dressador [mm] CBN – nitreto cúbico de boro CNC - comando numérico computadorizado ds – diametro do rebolo [mm] dw – diâmetro da peça [mm] ε − partição de energia [%] Ft – força tangencial de corte [N] G – relação G [-] heq – espessura equivalente de corte [mm] lc – comprimento de contato [mm] MQL – Mínima Quantidade de Lubrificação n – rotação do rebolo [RPM] Pelet – potência elétrica [W] Ra – rugosidade média [µm] RMS – Root Mean Square τr – tensão residual normal [MPa] ts – tempo de centelhamento [s] ucl – energia específica total de retificação [J/mm3] upl – energia utilizada na deformação do material [J/mm3] usl – energia de deslizamento do grão na peça [J/mm3] Var – velocidade do ar comprimido [m/s] Vf – velocidade de avanço [mm] Qfluido – vazão do fluido de corte [ml/h] Vs – velocidade de corte [m/s] Vw – velocidade da peça [m/s] ωw – rotação da peça [RPM] xii RESUMO A utilização dos fluidos de corte exige certos cuidados, pois os convencionais atualmente empregados, apresentam em sua composição química produtos que podem gerar doenças aos operadores e trazer prejuízos ao meio ambiente. A manutenção e o descarte dos fluidos apresentam custos elevados. O presente trabalho utilizou um tipo de fluido de corte de origem vegetal isento de substâncias tóxicas, e visa utilizar uma nova técnica de aplicação de fluido de corte, a Mínima Quantidade de Lubrificação (MQL) na retificação cilíndrica externa de mergulho de um aço ABNT 4340 temperado e revenido, utilizado comercialmente na fabricação de eixos, virabrequins e engrenagens cujas solicitações mecânicas são elevadas. A MQL é um método que utiliza uma quantidade menor de fluido de corte com relação aos métodos convencionais e já vem sendo pesquisada em outras operações de usinagem como o fresamento e torneamento. A otimização da aplicação do fluido de corte exigiu a confecção de um bocal especial que permitiu a mistura de fluido com ar comprimido, formando assim uma névoa. Utilizou-se dois tipos de aplicação de fluido de corte (MQL e convencional) e dois rebolos (CBN e Al2O3), obtendo-se como parâmetros de saída a força tangencial de corte, energia específica e a integridade superficial do material retificado. Com relação à integridade superficial analisou-se a rugosidade, a circularidade, a microdureza, a tensão residual e a microscopia eletrônica de varredura (MEV). Os resultados alcançados com a MQL mostraram-se promissores na retificação com os parâmetros utilizados. Palavras chave: Retificação, fluido de corte, mínima quantidade de lubrificação, integridade superficial, otimização. xiii ABSTRACT The use of cutting fluids demands certain cares, because some of then can contain in their chemical composition products that cause illnesses to the operators and bring damages to the environment. The maintenance and the discarding of this kind of fluids generates high costs. The present work used a type of vegetal cutting fluid free from toxic substances, and aims at to apply a new technique of cutting fluid application, the Minimum Quantity of Lubrification (MQL) in the external cylindrical plunge grinding of a tempered and annealed ABNT 4340 steel, used commercially in the manufacturing of shafts, crankshafts and gears with high mechanical loads. The MQL is a method that uses a lesser amount of cutting fluid than the conventional methods. A special nozzle was made to allow the mixture of the cutting fluid with the compressed air forming a misty. This work used a CBN and Al2O3 wheel and two types of fluid application (MQL and conventional). It was observed the influence of the MQL and conventional methods in the tangential cutting force, specific energy and superficial integrity of the ground material (roughness, roundness, residual stress and SEM). The results demonstrated the effectiveness of the MQL method for the input parameters used in this study. Keywords: Grinding, Cutting Fluid, Minimum Quantity of Lubrification, Surface Integrity, optimization. 1 1. INTRODUÇÃO O processo de retificação é conhecido como um dos mais complexos processos de usinagem, devido ao grande número de variáveis envolvidas. A busca por produtividade e qualidade nos últimos anos, tem resultado em grandes avanços nos processos de usinagem. Tais avanços ocorrem tanto nas operações convencionais como também na simplificação da seqüência de fabricação de um componente com a substituição de operações intermediárias pelas de acabamento. De acordo com Webster e Ciu (1995), a aplicação do fluido em processos de retificação está se tornando mais importante devido às elevadas taxas de remoção, alta qualidade e longa vida do rebolo. O crescente aumento das velocidades de corte empregados nas máquinas de usinagem, faz com que uma maior quantidade de calor seja gerada no processo, fazendo com que o tipo de fluido de corte e sua forma de aplicação tenham grande relevância. Os fluidos de corte são utilizados como um “agente externo” às condições de usinagem. Os papéis do fluido em operações de usinagem são: refrigerar a peça de trabalho, retirar os cavacos, lubrificar a zona de usinagem, refrigerar e limpar o rebolo. Geralmente a energia de usinagem é dissipada no cavaco, na peça, no rebolo e no fluido. Porém, a eficiência de um fluido de corte dependerá principalmente do tipo de fluido empregado. Há disponível no mercado uma grande diversidade de óleos e fluidos de corte para os diferentes processos de usinagem. Diversos fatores influem na escolha do melhor fluido, como viscosidade, características técnicas, custo, etc., e mesmo após a escolha do mesmo, ainda existem outras considerações que devem ser feitas para melhor aproveitamento deste fluido. Entre as características citadas destacam-se: a geometria do bocal pelo qual o fluido é introduzido na operação, intensidade de pressão e vazão na saída do bocal, posicionamento do bocal, entre outras, sendo todas de substancial importância para a melhoria da qualidade final da peça. Com o desenvolvimento da indústria mecânica, os fluidos de corte tiveram de ser aprimorados e hoje existem produtos que são composições complexas, contendo agentes químicos que variam de acordo com o tipo de operação a ser executada e os metais a serem trabalhados. Segundo Mayer & Fang (1993), Jahanmir & Strakna (1993), devido às pressões exercidas por agências de proteção ambiental e de saúde, os fabricantes de fluidos de corte vêm gerando produtos mais saudáveis ao operador de máquinas-ferramenta e menos danosos ao meio ambiente. 2 Os métodos convencionais de aplicação dos fluidos de corte são pouco eficientes, especialmente sob condições de aplicação severas. A energia armazenada nos fluidos durante a sua aplicação não é suficiente, na maioria dos casos, para vencer a força centrífuga do rebolo ou penetrar na barreira de ar que circunda o mesmo em movimento. Segundo Guo & Malkin (1992), isso produz como resultado uma eficiência na utilização dos fluidos de corte na faixa de 5 a 30%. Caso ocorra uma ineficiente lubrificação e refrigeração da interface rebolo-peça, ocorre um aumento do número de afiações do rebolo (dressagem ou perfilamento, dependendo do tipo de rebolo utilizado) durante uma dada operação de retificação. Com isso, têm-se um desgaste prematuro do rebolo pois, segundo Kovacevic & Mohan (1995), do percentual de desgaste volumétrico de um rebolo, apenas 10% ocorre durante a usinagem propriamente dita. O restante é perdido durante o processo de afiação. Os fluidos de corte para usinagem baseados em emulsão ainda são usados em grande quantidade na indústria de processamento metal-mecânica, gerando elevados custos de consumo e descarte, além do prejuízo ambiental. A necessidade cada vez maior de uma técnica de produção não agressiva ao meio ambiente e o crescimento rápido dos custos de disposição dos fluidos de corte têm justificado a demanda por uma alternativa ao processo de usinagem com fluido de corte. Na última década, porém, as pesquisas tiveram como meta restringir ao máximo o uso de fluidos refrigerante e/ou lubrificante na produção metal/mecânica (Sahm & Schneider, 1996; Dunlap, 1997; Klocke et al., 1998; Machado & Diniz, 2000). A tendência mundial é produzir peças cada vez mais sofisticadas, com elevado grau de tolerância geométrica, dimensional e acabamento superficial, com baixo custo e sem poluir o meio ambiente. Assim os fluidos de corte que normalmente são utilizados para a operação de retificação, são descartados direta ou indiretamente no meio ambiente, o que nos dias atuais não é mais viável pelo rigor das leis, da fiscalização e de um novo conceito de produzir com a adoção do “selo verde”. Este indica se os processos utilizados para a produção de uma determinada peça não prejudicam o meio ambiente e, dessa forma, a utilização em massa de fluidos de corte tende a diminuir com o passar do tempo, tornando-se necessário pesquisas a respeito de tal assunto para que se diminua a participação de tais fluidos no setor produtivo e, conseqüentemente, no meio ambiente. Por outro lado, a concorrência global está obrigando as indústrias nacionais a atender aos padrões internacionais de qualidade e impactos ambientais. Para tanto, é necessária uma análise mais profunda das conseqüências desse tipo de alteração no estado final da peça usinada. 3 2. OBJETIVOS O objetivo deste trabalho é o estudo comparativo da lubri-refrigeração convencional com a técnica da mínima quantidade de lubrificante (MQL) na retificação cilíndrica externa de mergulho, utilizando-se um rebolo convencional de óxido de alumínio (Al2O3) e um superabrasivo (CBN). A avaliação do desempenho foi através da análise do comportamento de variáveis de saída como a força tangencial de corte, a energia específica, o desgaste diametral do rebolo e a integridade superficial (rugosidade, circularidade, microdureza, microestrutura e tensão residual). Dentre os principais objetivos deste trabalho pode-se citar: Avaliar o desempenho quando da utilização de rebolos convencionais e superabrasivos; Desenvolvimento de um bocal especial para a aplicação do fluido de corte utilizando-se da técnica da MQL; Avaliar o comportamento da MQL no processo de retificação a fim de se atender as normas ambientais sem prejuízo da qualidade da peça. Com base nos resultados previstos, diversas empresas do ramo poderão se beneficiar com o desenvolvimento da técnica aplicada a usinagem com ferramentas de geometria não definida. Esta técnica sugere uma racionalização e correta aplicação da quantidade de fluido de corte utilizado no processo de retificação. 3. JUSTIFICATIVA PARA REALIZAÇÃO DESTE TRABALHO Atualmente o processo de retificação utiliza grandes volumes de fluido de corte, que requerem altos custos de manutenção e descarte, podendo afetar o meio ambiente de maneira significativa quando descartados incorretamente. Deste modo, o presente projeto pretende explorar o conceito da mínima quantidade de lubrificante (MQL) no processo de retificação, desenvolvendo uma metodologia otimizada de aplicação de fluido através da construção de um bocal especial, pelo qual uma quantidade mínima de fluido de corte é pulverizada em um fluxo de ar comprimido, a fim de racionalizar a utilização de fluido de corte na retificação o que seria de grande interesse econômico para as empresas. 4 Além do aspecto ambiental, pretende-se analisar o comportamento do processo comparando os resultados da mínima quantidade de lubrificante com os da lubri-refrigeração convencional, utilizado atualmente nas indústrias. Assim, tais resultados permitirão analisar uma possível alternativa de aplicação de fluido de corte no processo de retificação, onde várias empresas poderão se beneficiar com o desenvolvimento e aplicação da técnica, pois esta sugere uma redução na quantidade de fluido de corte utilizado, procurando-se obter condições que não comprometam o estado final da peça retificada. Desta forma as empresas poderão economizar fluido de corte sem alteração da qualidade de seus produtos, com custos reduzidos, sem prejudicar o meio ambiente e os operadores de máquinas. 5 4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Neste capítulo tem-se a intenção de apresentar alguns conceitos sobre o processo retificação cilíndrica externa de mergulho, as variáveis de entrada e saída envolvidas, aspectos de seleção e formas de utilização de rebolos convencionais e superabrasivos de CBN, tipos e diferenças entre os bocais existentes para aplicação de fluido de corte, otimização dos fluidos de corte, aplicação da técnica da Mínima Quantidade de Lubrificação (MQL) nos processos de usinagem e integridade superficial do material retificado, como rugosidade, circularidade, microestrutura, tensão residual e microdureza. 4.1. Variáveis no Processo de Retificação Cilíndrica Externa de Mergulho 4.1.1 Mecanismo de formação do cavaco Segundo Malkin (1989), o mecanismo de formação do cavaco por um grão abrasivo o qual desliza sobre a superfície gerada apresenta um desgaste de área de topo conforme Figura 4.1. Figura 4.1 - Formação do cavaco por um grão abrasivo, (MALKIN, 1989) A extensão de cada uma destas fases depende de fatores relacionados às características de agressividade do rebolo e aos parâmetros de operação utilizados (penetração do rebolo na peça e velocidade de corte e da peça). 6 Essas três fases, que podem ser observadas na Figura 1, são fontes de transformação de parte da energia mecânica envolvida no processo em energia térmica (calor). Este calor pode ser removido da região de contato pelo cavaco, pelo refrigerante, pela peça ou pelo rebolo. Como a quantidade de calor retirada pelo cavaco é pequena e a dissipação do calor pela peça e pelo rebolo é indesejável a refrigeração deverá remover grande parte da energia térmica envolvida no processo. A refrigeração adequada para realizar tal tarefa deve ser abundante, com grande pressão e direcionada diretamente para a região de contato entre o rebolo e a peça, e não para o rebolo ou para a superfície da peça, que fica após a região de contato. 4.1.2 Espessura Equivalente de Corte (heq) Segundo Peters & Decneut (1975) apud Oliveira (1988), a espessura da camada de material removida pelo rebolo numa volta completa denomina-se de espessura equivalente de corte heq, e é um parâmetro que permite quantificar uma condição de trabalho, sendo ainda definido como a relação entre a taxa de remoção específica do material Qw’ e a velocidade de corte. Desta forma, de acordo com Graf (2004), a espessura equivalente de corte para o processo de retificação cilíndrica externa pode ser representada pela Equação 1. s fw s w eq V Vd V Q h *1000*60 **' π == (1) Segundo Malkin (1989), a espessura equivalente de corte está diretamente relacionada com o comportamento do processo de retificação em função das variáveis envolvidas como: forças de corte, rugosidade, vida da ferramenta etc. Diniz et al. (2000) afirma que um aumento do heq reflete no respectivo aumento das forças de corte, rugosidade e diminuição da vida do rebolo. Deste modo, busca-se sempre utilizar rebolos cujas ligas suportem elevadas rotações de trabalho a fim de se melhorar a rugosidade, aumentar a vida útil da ferramenta e diminuir os esforços de corte. 7 4.1.3. Arco ou Comprimento de Contato (lc) Define-se a região de contato entre a peça e a ferramenta como arco ou comprimento de contato, podendo ser calculado através da Equação 2. lc = (a*ds)1 / 2 (2) onde: a é a penetração do rebolo na peça; ds é o diâmetro do rebolo. Segundo Diniz et al. (1999) a pressão gerada durante a retificação é distribuída entre os grãos abrasivos do rebolo de forma que quanto maior for o comprimento de contato menor será a pressão sobre cada grão abrasivo, assim se o comprimento de contato é aumentado pode-se aumentar a porosidade do rebolo e o tamanho dos grãos com a mesma pressão. 4.2. Rebolos Segundo Nussbaum (1988) e Malkin (1989), rebolo é a ferramenta de corte utilizada no processo de retificação. Tal ferramenta é composta basicamente de grãos abrasivos de elevada dureza que efetuam o corte, presos a uma matriz aglomerante de um material mais mole. O desempenho e as propriedades dos rebolos são dependentes dos seguintes fatores: material do grão abrasivo bem como o seu tamanho, material aglomerante, propriedades do abrasivo, do aglomerante e da porosidade (espaço vazio entre os grãos abrasivos no aglomerante). Um abrasivo usina um metal quando sua dureza é no mínimo 1,2 vezes maior. A identificação dos rebolos é feita através de um código alfa-numérico (Malkin, 1989; Oliveira, 1998; Hitchiner, 2001). Os rebolos são definidos pelas seguintes características: material e tamanho dos grãos abrasivos, dureza, estrutura do rebolo e do material aglomerante. A classificação dos grãos abrasivos é baseada na dureza dos materiais sendo dividida em dois grupos: convencionais e superabrasivos. Os grãos abrasivos convencionais apresentam durezas próximas à 2.000 kgf/mm2 (Knoop), enquanto que os superabrasivos apresentam durezas superiores à 4.500 kgf/mm2 (Knoop) (Shaw, 1994; Carius, 1999). 8 Na tabela 1 é apresentada uma comparação entre as propriedades mecânicas e térmicas dos grãos superabrasivos e convencionais. Tabela 1 – Propriedades mecânicas de grãos abrasivos com elevada dureza (Felipe Jr., 1992) Tipo de material abrasivo Dureza na escala Knoop (kgf/mm2) Resistência à compressão (kN/cm2) Condutibilidade térmica (cal/°C.cm.s) Diamante 8.000 870 5.0 CBN 4.500 650 3.3 Óxido de Alumínio 2.500 350 0.08 Carbeto de Silício 2.700 150 0.1 Carbeto de Tungstênio 2.100 350 0.08 Segundo Schuitek et al. (2001), os rebolos de CBN vêm ganhando grande aplicação na produção fabril principalmente para a retificação de aços temperados, uma vez que as principais vantagens no uso destes rebolos no processo de retificação são: durabilidade do grau de afiação (e conseqüentemente do rebolo); diminuição nos tempos de preparação e ajustagem da máquina; diminuição das alterações microestruturais; melhores acabamentos superficiais nas peças; Porém, de acordo com Bianchi et al. (2001), deve-se salientar que embora os rebolos superabrasivos tenham muitas vantagens, quando comparados aos rebolos convencionais, estes não podem ser aplicados em todos os processos de retificação, sendo usados principalmente na retificação de metais ferrosos endurecidos, ferro fundido e superligas de níquel e cobalto. Já os rebolos convencionais são empregados na retificação de aços carbono, aço liga, aço rápido, ferro fundido maleável e nodular, bronze duro etc. 4.2.1. Dressagem do Rebolo Após algum tempo de utilização do rebolo em operações de retificação, os mesmos podem não apresentar condições ideais de utilização, podendo apresentar grãos gastos, não estar numa forma desejada dificultando o corte e os poros podem estar impregnados de cavaco, de modo que a produção de novos cavacos dificultada ocasionando problemas nas peças. Quando as peças retificadas começam a apresentar problemas de acabamento, erros de 9 forma ou de tolerância, normalmente realiza-se a dressagem, a fim de corrigir a superfície do rebolo e devolver-lhe as características de afiação e o restabelecimento do perfil original. Para realizar a dressagem do rebolo são utilizados diversos tipos de ferramentas denominadas dressadores ou retificadores que incluem: cortadores metálicos (rosetas), bastões retificadores, ponta única de diamante, dressadores do tipo placa multigranular (fliese), roletes estacionários e giratórios de diamante e roletes de esmagamento Os rebolos sofrem uma preparação antes de serem utilizados para retificação, sofrem operações de perfilamento e dressagem. O perfilamento consiste na remoção do material da superfície do rebolo, ajustando a sua forma. A dressagem é feita para a obtenção de um determinado comportamento da retificação. Em rebolos convencionais, tais operações são realizadas juntas e são denominadas apenas por dressagem, já para rebolos superabrasivos as operações são realizadas separadamente (Malkin, 1989). A necessidade do processo de dressagem está na recomposição da geometria e na restauração da condição superficial desejada (agressividade do rebolo), uma vez que para operações de retificação de precisão, tolerâncias apertadas e bons acabamentos é necessário um controle cuidadoso da geometria e do acabamento da superfície do rebolo. O fenômeno da auto-afiação consiste na exposição de novas arestas de corte, através da fratura do grão abrasivo e do aglomerante pelos esforços de corte. Tal fenômeno é necessário, uma vez que a superfície do rebolo desgasta-se de forma desigual devido à orientação aleatória dos grãos abrasivos, esforços de corte heterogêneos e diferentes necessidades de remoção de material (King & Hahn, 1992). 4.3. Fluidos de corte 4.3.1. Classificação dos fluidos de corte Cada tipo básico de fluido de corte apresenta características distintas. Entretanto, as características que distinguem as diferentes classes nem sempre são de fácil visualização, existindo pequenas diferenças quanto à classificação dos mesmos (Motta & Machado 1995). Segundo Runge & Duarte (1990) e ASM (1991), os fluidos de corte podem ser agrupados em quatro tipos básicos: 10 Óleos de corte ou fluidos de corte (integral ou aditivado); Fluidos de corte solúveis em água: - Emulsionáveis convencionais (óleos solúveis ou emulsionáveis); - Emulsionáveis semi-sintéticos; - Soluções (fluidos sintéticos); Gases; Pastas e lubrificantes sólidos; Os óleos de corte têm como composto básico o óleo mineral, podendo ser usados no estado puro (sem aditivação) ou aditivado (presença de aditivos polares e/ou aditivos químicos ativos ou inativos). Atualmente estes óleos apresentam base parafínica, em sua maioria, pois segundo Webster (1995), os compostos aromáticos policíclicos, se não forem destruídos durante o processo de formação do óleo de corte, pela forte hidrogenação, podem causar câncer ou dermatites. Estes óleos têm excelentes propriedades lubrificantes, bom controle anti-ferrugem, longa vida útil, porém, apresentam menor poder refrigerante quando comparados com os fluidos de corte solúveis em água. Os fluidos de corte solúveis em água transformam-se em misturas, quando seu concentrado é diluído em água. Estas misturas variam entre emulsões e soluções dependendo da constituição básica do concentrado (óleo mineral ou sais orgânicos e inorgânicos, respectivamente), da presença e da quantidade de emulgadores no mesmo. Dependendo da taxa de diluição e da constituição do concentrado do fluido solúvel, o fluido de corte pode apresentar uma refrigeração eficiente aliado a um moderado poder lubrificante. Nas emulsões, o óleo mineral está disperso na água em forma de gotículas, devido à presença de emulgadores, os quais “quebram” o óleo mineral em minúsculas partículas (gotículas), mantendo-as dispersas e conferindo às mesmas cargas repulsivas, evitando a sua coalescência (união das gotículas de óleo e separação da fase oleosa da aquosa). Apresentam menor poder lubrificante e maior poder refrigerante que o óleo de corte. Todavia necessitam de cuidados especiais quanto à qualidade da água utilizada, ao controle de microrganismos (bactérias e fungos), ao pH e à concentração da emulsão. Os óleos semi-sintéticos são combinações de fluidos sintéticos e emulsões em água. Atualmente, estes fluidos são composições de fluidos sintéticos que contém somente uma pequena porcentagem de óleo mineral emulsionável, variando de 5 a 30% do total do fluido concentrado, o qual é adicionado a fim de propiciar uma emulsão estável, translúcida e composta de minúsculas gotículas de óleo. Os óleos semi-sintéticos combinam algumas das 11 propriedades dos fluidos sintéticos e dos óleos emulsionáveis. As principais desvantagens são a lubrificação insuficiente em determinadas operações, bem como a formação de compostos insolúveis, quando a água utilizada no preparo da emulsão semi-sintética apresentar dureza elevada (alta concentração de CaCO3). Possuem também um melhor controle de oxidação que as emulsões convencionais. Os fluidos sintéticos são soluções químicas constituídas de materiais (sais) orgânicos e inorgânicos dissolvidos em água, não contendo óleo mineral. Em geral, permitem rápida dissipação de calor, bom controle dimensional, excelente poder detergente e visibilidade da região de corte, facilidade no preparo da solução, elevada resistência à oxidação do fluido e à ferrugem. Sua utilização vem crescendo em função do custo elevado dos fluidos de corte integrais, devido às dificuldades de descarte e das restrições atuais quanto a sua utilização. O baixo poder lubrificante, a formação de compostos insolúveis e de espuma para determinadas operações de usinagem podem ser caracterizadas como desvantagens na utilização deste tipo de fluido. Entre os gases, o ar é o fluido gasoso mais comum. Alguns gases, como o argônio, hélio e nitrogênio são utilizados, em alguns casos, para prevenir a oxidação da peça e dos cavacos. Gases como o CO2, que possuem ponto de ebulição abaixo da temperatura ambiente, podem ser comprimidos e injetados na região de corte, promovendo a sua refrigeração. Porém, grandes gradientes térmicos devem ser evitados, impedindo-se distorções das peças, surgimentos de tensões residuais etc. Contudo, pesquisas vem sendo realizadas, visando-se adequar a possibilidade da real utilização destes gases em larga escala, segundo os requisitos de qualidade e produtividade para as peças usinadas. Na tabela 2 são apresentadas algumas características básicas dos quatro principais tipos de fluidos de corte utilizados em retificação (Webster, 1995). As propriedades lubrificantes e refrigerantes são as que mais contribuem para uma boa refrigeração. Entretanto, as demais devem ser consideradas antes da escolha do fluido a ser utilizado. 12 Tabela 2 – Características dos fluidos de corte (1-pior; 4-melhor) (Webster, 1995) Fluidos sintéticos Fluidos semi- sintéticos Emulsões Óleos de corte Remoção de calor 4 3 2 1 Lubrificação 1 2 3 4 Manutenção 3 2 1 4 Facilidade de filtração 4 3 2 1 Aspectos ambientais 4 3 2 1 Custo 4 3 2 1 Aumento da vida do rebolo 1 2 3 4 4.3.1.2. Funções do fluido de corte De acordo com Runge e Duarte (1990), as principais funções dos fluidos de corte são: Melhorar a integridade superficial; Refrigeração; Lubrificação; Remoção dos cavacos da área de corte; Redução do desgaste das ferramentas; Proteção contra a corrosão (máquina, ferramenta e peça). A refrigeração do processo é função primária dos fluidos de corte. O mesmo atua visando a remoção de calor da área de contato entre a ferramenta e a peça, aumentando a vida da mesma, garantindo maior precisão dimensional das peças por meio da redução das distorções térmicas ocorridas. As pressões geradas durante a usinagem são em torno de 1,4 GPa, onde aproximadamente 75% do calor gerado é devido à deformação do material e outros 25% do calor gerado é resultado do atrito da ferramenta com o cavaco. Em situações onde o calor gerado não é retirado de maneira efetiva, excessivas dilatações térmicas ocorrerão na peça, resultando também em elevado desgaste da ferramenta, gerando repetitivas operações de manutenção (Runge e Duarte, 1990). Na interface cavaco-ferramenta há ondulações nas superfícies em forma de vales e picos. Assim o fluido de corte penetra na região compreendida entre ferramenta e peça, reduzindo o atrito, diminuindo o consumo de energia e a geração de calor. 13 Segundo Monici (2003) alguns pré-requisitos básicos são necessários aos fluidos de corte para atingirem uma boa lubrificação, responsável pela diminuição do atrito da ferramenta com a peça, proporcionando como conseqüência, uma menor geração de calor e uma baixa força de corte. Um outro pré-requisito é o poder de refrigeração apresentado pelo fluido de corte, impedindo que a peça atinja temperaturas excessivamente elevadas, podendo causar-lhe muitas vezes algum dano térmico. Além disso, o fluido de corte facilita a remoção de cavacos gerados na zona de contato ferramenta-peça. Dessa forma o fluido de corte pode prevenir um possível contato entre os grãos abrasivos e os cavacos gerados. Na Figura 4.2 são apresentadas as principais funções que os fluidos de corte devem apresentar no processo de retificação. Figura 4.2 - Funções do fluido de corte no processo de retificação (Monici, 2003 - adaptado) 4.3.1.3. Aspectos ambientais quanto à utilização de fluidos de corte Comprovando-se a tendência de preocupação ambiental na utilização de máquinas- ferramenta, conforme relatado por Simon (1999), constatou-se a grande ênfase dada à tecnologia ambiental, ou seja, à preservação do meio ambiente no campo de abrangência da máquina-ferramenta e a busca da conformidade com a norma ISO 14000. De forma mais específica, segundo Simon (1999), uma atenção especial vem sendo voltada à realização de um processo de usinagem não-agressiva ao meio ambiente, priorizando-se tecnologias relacionadas à usinagem a seco, usinagem com mínima quantidade de fluido de corte e 14 usinagem com ar resfriado. Soma-se a este movimento os novos métodos para manuseio e tratamento dos cavacos que facilitam o descarte, recuperam o fluido de corte e reduzem a necessidade de espaço e a influência do calor na máquina e na peça. Atualmente, existe uma tendência mundial, principalmente nos países europeus, de redução da utilização de óleos de corte devido ao elevado custo, mas principalmente pelos riscos que podem causar à saúde humana (Webster 1995). O uso de cloro em fluidos de corte vem encontrando restrições em alguns países, como na Alemanha, em virtude dos danos que os compostos clorados podem causar, quando de seu descarte incorreto. Os solventes clorados têm fácil penetração no solo, podendo existir e acumular-se por um longo período. Podem facilmente podem atingir o lençol freático para contaminá-los totalmente. O descarte de um quilograma de solvente clorado pode envenenar quarenta mil metros cúbicos de água. Na Alemanha existe uma legislação muito severa quanto ao descarte de hidrocarbonetos clorados. Segundo Runge & Duarte (1990), as parafinas cloradas, tal como usadas em fluidos de corte, estão incluídas. A concentração máxima permitida para descarte de óleos usados é de 0,5% de cloro total. Acima destes valores, o material deve ser incinerado em temperaturas superiores a 1100 oC para evitar a formação de dioxinas. A utilização dos óleos de corte integrais está limitada a operações de usinagem de metais de difícil usinabilidade, retificação de formas e nos casos onde os demais fluidos de corte não propiciam bons resultados. Os fluidos de corte utilizados em ambientes fabris podem trazer efeitos negativos à saúde dos operadores de máquinas. Segundo Howes et al. (1991), os danos mais comumente relatados são problemas dermatológicos (Bennett, 1983; Gadian, 1983, apud Howes et al., 1991), mas efeitos respiratórios e pulmonares também são detectados, devido à exposição prolongada aos fluidos de corte (Baden, 1990, apud por Howes et al., 1991). Todavia, alguns pesquisadores sugerem que os riscos oferecidos pelos fluidos de corte podem ser pequenos (Rossmoore, 1981, apud Howes et al., 1991). Segundo Howes et al. (1991), dentre as substâncias perigosas encontradas em fluidos de corte, as nitrosaminas estão entre as mais tóxicas e foram identificadas como cancerígenas. As nitrosaminas são formadas nos fluidos de corte pela reação entre o nitrito de sódio, um inibidor de corrosão, e as etanolaminas. A névoa formada durante a operação de retificação pode trazer sérios riscos à saúde devido à exposição dermatológica e respiratória, ressalta-se que, nos EUA, o nitrito de sódio teve seu uso industrial proibido. Outras substâncias perigosas encontradas em fluidos de corte, as quais são produzidas durante a retificação, incluem: os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos e os hidrocarbonetos clorados. 15 4.3.1.4. Otimização da Aplicação de Fluidos de Corte Segundo Howes et al. (1991), os impactos ambientais causados pelas indústrias não eram considerados como fatores técnicos decisivos para execução de um determinado projeto, porém tal fato está se modificando expressivamente. De acordo com as opiniões públicas e regulamentações governamentais, as indústrias estão passando a assumir uma postura diferente com relação à disposição de seus rejeitos industriais. De acordo com Howes et al. (1991), os fluidos de corte utilizados nas indústrias são considerados como fatores de risco, principalmente para os trabalhadores, sendo que na maioria dos casos, os principais efeitos gerados pelo contato do trabalhador com tal substância são a ocorrência de danos dermatológicos e respiratórios. Os danos dermatológicos ocasionados pelos fluidos de corte podem ocorrer basicamente de duas formas: irritação da pele, pelo contato, totalizando de 50 a 80% de todos os casos, e efeitos alérgicos, devido a esse contato, que correspondem de 20 a 80% dos casos. A irritação da pele é ocasionada pelo contato constante com a substância do fluido, porém tais efeitos podem ser reduzidos pela não exposição constante da pele com o fluido. Ressalta-se que a alergia é ocasionada pela intolerância da pele do trabalhador perante as substâncias químicas presentes nos fluidos, onde tal alergia não é passiva de nenhum tipo de tratamento que possa eliminá-la completamente. Segundo Campbell (1995), a qualidade da peça e o custo estão intimamente relacionados com a forma de aplicação do fluido de corte na região de corte. A otimização da forma de aplicação do fluido de corte no processo é um fator de extrema importância com relação ao custo global envolvido no processo, além de sua relação com o meio ambiente e o ambiente de trabalho gerado. Em situações nas quais o fluido de corte não é aplicado de forma correta, a peça pode ser danificada termicamente, pela queima e tensionamento superficial. A retificação é freqüentemente uma das ultimas operações realizadas na peça durante seu processo de fabricação global, assim caso uma peça seja excessivamente tensionada durante a retificação, todos os parâmetros previamente adicionados ao processo são eliminados e uma nova metodologia deve ser elaborada, para que assim sejam alcançados os resultados desejados. Pequenas taxas de remoção de material e elevado custo podem ser geradas caso o fluido de corte não seja efetivamente utilizado durante processo, ou seja, quando o fluido de corte não penetra na região de corte de maneira coerente, o desempenho do processo como um todo diminui pela falta da retirada de calor e lubrificação. 16 Geralmente a importância da aplicação do fluido de corte é observada de maneira superficial. Em situações de não aplicação otimizada, o fluido não fornece suas propriedades de lubrificação, refrigeração e limpeza apropriada da superfície do componente usinado. Há poucos exemplos na literatura que descrevem a aplicação do fluido de corte com detalhes específicos. Isto porque não há métodos práticos de medição do efeito das variáveis envolvidas no processo, com relação à quantidade de fluido de corte que pode ser utilizada. Recentemente tem sido polêmico o debate a respeito da quantidade de fluido de corte que deve ser aplicado ao processo, podendo-se citar alguns temas envolvidos como a velocidade do fluido, velocidade da ferramenta, ângulo do bocal, mínima quantidade de lubrificante/refrigerante (MQL - MQR), melhoria do projeto do bocal, tipo de fluido de corte, etc. De acordo com Webster et al. (1995), a seleção de um eficiente modo de aplicação é considerado uma das formas de se encontrar metas de produtividade que podem ser tão importantes quanto às especificações da ferramenta de corte. A correta aplicação dos fluidos reduz a queima, pela diminuição da energia específica e redução do contato da zona termicamente afetada. Segundo Webster et al. (1995), um jato de fluido incidindo de forma direta sobre a região de corte é capaz de reduzir de forma significativa a temperatura na região de corte, porém altas velocidades do jato de fluido são necessárias para a penetração do fluido de maneira efetiva, na região de corte. Com a utilização de um bocal de formato circular, constatou-se a redução acentuada da temperatura na região de corte, quando comparado com o jato convencional. Foi comprovado também que o ângulo de incidência do jato na região de corte não altera de maneira significativa a refrigeração da peça. Porém, alta velocidade periférica da ferramenta com relação ao jato é muito significativa no processo de refrigeração da peça. Um outro problema que deve ser analisado é a barreira de ar existente entre o bocal e a peça que deve ser vencida pelo fluido de corte, ocasionando a dispersão do mesmo durante sua penetração na região de corte, fazendo-se novamente necessário, a utilização de um bocal eficiente para evitar tal ocorrência. Deve ser levada em consideração a abertura geométrica do bocal na entrada e saída do fluido, bem como as superfícies internas, sendo que se as mesmas forem de superfície geométrica côncava apresentarão um melhor efeito, pois estas tendem a aproximar as lâminas de fluido que se formam no interior do bocal. Isto diminui o efeito de turbulência do fluido de corte, ao contrário do bocal com superfície convexa, cuja tendência é de separar as lâminas de fluido formadas no interior do mesmo, aumentado o efeito de turbulência. Um outro aspecto 17 muito importante no desenvolvimento do bocal são os cantos próximos a abertura de saída do bocal, os quais contribuem para a formação da turbulência devido os cantos vivos. O bocal deve ser projetado de forma a causar a menor ocorrência de turbulência possível durante a saída do fluido (Webster et al., 1995; Monici, 2003). 4.3.1.5. A Técnica da Mínima Quantidade de Lubrificante (MQL) Comprovando-se a tendência de preocupação ambiental quando da utilização dos fluidos de corte em máquinas-ferramenta, conforme relatado por vários pesquisadores e fabricantes de máquinas-ferramenta, constata-se a grande ênfase dada à tecnologia na área ambiental, ou seja, a preservação do meio ambiente e a busca da conformidade com a norma ISO série 14000. O desenvolvimento de formas alternativas não-nocivas de produção passa a ser de fundamental importância para a humanidade, uma vez que esse procedimento ajudará a conter os atuais níveis de poluição mundial. As alternativas tecnológicas experimentadas têm como finalidade otimizar o desempenho dos fluidos de corte e reduzir a sua influência negativa. Por outro lado, apesar das insistentes tentativas de eliminar completamente os fluidos refrigerantes, em muitos casos a refrigeração ainda é essencial para que se obtenham vidas econômicas de ferramentas e as qualidades superficiais requeridas, principalmente na retificação. Isto é particularmente válido quando há exigência de tolerâncias estreitas e alta exatidão dimensional e de forma. Isso faz da mínima quantidade de lubrificante (MQL) uma alternativa interessante, porque combina a funcionalidade da refrigeração (ar comprimido) com um consumo extremamente baixo de fluidos, geralmente de 10 até no máximo 100 ml/h uma pressão de 4,0 a 8,0 kgf/cm2. A minimização de fluido de corte tem adquirido relevância nos últimos dez anos (Klocke Eisenblàtiter, 1997; Young et al. 1997; Schulz, 1999; Simon, 1999; Dörr & Sahm, 2000; Klocke et al., 2000). Nesta tecnologia, a função de lubrificação é assegurada pelo óleo e a de refrigeração principalmente pelo ar comprimido. Esta pequena quantidade de fluido pode ser suficiente para reduzir o atrito no corte, diminuindo a tendência à aderência em materiais com tais características. De sua comparação com a lubri-refrigeração convencional resultam numerosas vantagens (Klocke & Eisenblatter, 1997; Klocke et al. 1998; Hieisel et al. 1998; Dörr, 1999 e Klocke et al. 2000): A quantidade de fluido de corte em relação ao volume da peça usinada é muitas vezes menor do que no caso da refrigeração convencional; 18 Baixo consumo de fluido de corte e eliminação de um sistema de circulação; Fluídos de corte não consumidos aumentam a necessidade de manutenção e problemas de despejo; Podem ser evitados materiais de filtragem e reciclagens da manutenção dos fluidos de corte; O baixo conteúdo de óleo que permanece nos cavacos não justifica a sua recuperação; As peças usinadas ficam quase secas, de maneira que em muitos casos é desnecessária uma operação de lavagem subseqüente; A aplicação de biocidas e preservativos pode ser eliminada, porque apenas a quantidade de fluido de corte que será usada em um turno de trabalho deve ser colocada no reservatório do sistema de MQL. Por outro lado, comparado com a lubri-refrigeração convencional, a MQL causa custos adicionais para pressurizar o ar e suportes tecnológicos, os quais são necessários no processo para superar as restrições tecnológicas da técnica MQL. Por exemplo, técnicas especiais para a retirada do cavaco podem ser necessárias, e talvez a produtividade seja reduzida devido ao impacto térmico nos componentes usinados. O vapor, a névoa e a fumaça de óleo gerados durante o uso da mínima quantidade de lubrificante na usinagem podem ser considerados subprodutos indesejáveis, pois contribuem para aumentar o índice de poluentes em suspensão no ar e tornaram-se fatores de preocupação, necessitando de um bom sistema de exaustão na máquina. Em virtude deste risco, o ambiente de névoa formado deve ser o menor possível. Na pulverização é utilizada uma linha de ar comprimido que funciona intermitentemente durante o processo. Essas linhas de ar geram um barulho que geralmente ultrapassa os limites admitidos pela legislação. Portanto, além de afetar a saúde do trabalhador, o barulho polui o ambiente e prejudica a comunicação durante a usinagem (Brockhoff & Walter, 1998; Novasky & Dörr, 1999; Machado & Diniz, 2000 e Klocke et al. 2000). Uma drástica redução nos volumes empregados nas operações de usinagem contribui significativamente para a redução do impacto ambiental provocado por estas operações. O sucesso técnico-econômico de cada operação irá exigir uma adaptação nas características técnicas dos fluidos de corte adequadas a esta nova condição de trabalho. Todavia, cada processo e cada operação específica de usinagem exige uma solução particular, merecendo 19 estudos apropriados para cada caso (Klocke & Eisenblatter, 1997; Heisel et al. 1998; Weingaertner et al., 1999 e Dörr, 1999). Uma outra vantagem da tecnologia de mínima quantidade de lubrificante é que não aparecem as tensões causadas por grandes gradientes de temperaturas, como no caso do fresamento e retificação com fluido de corte convencional. Isto é especialmente importante no caso de corte de materiais frágeis (Heisel et al. 1998). Existem estudos que mostram que os custos da refrigeração são muito maiores do que os estimados. No caso de se utilizar uma nova tecnologia torna-se importante detalhar os custos dos investimentos, os custos fixos e os custos proporcionais por ano, para os sistemas de refrigeração. Os custos relativos à eliminação (descartar os fluidos de corte após o uso) também devem ser levados em conta. Com o conhecimento dos custos da usinagem úmida e os da usinagem com MQL, foi feita uma comparação de custos dos investimentos e dos custos fixos e proporcionais anuais na empresa BMW. A confrontação dos custos totais de investimento na linha “transfer”, inclusive do equipamento para limpeza de cavacos, comprovou vantagens financeiras de 22% na usinagem com a tecnologia MQL (Dörr & Sahm, 2000). Esta técnica já é usada com sucesso há muitos anos em vários processos de corte, serramento e conformação de metais. As suas vantagens levam à previsão de que sua faixa de aplicações seja crescente, mas apesar de tudo, as variáveis de influência a serem consideradas e os efeitos sobre o resultado do processo têm sido matéria para apenas alguns poucos estudos. Nos sistemas de mínima quantidade são utilizados principalmente fluidos de corte não solúveis em água, principalmente óleos minerais. Deve-se considerar que, devido às quantidades muito pequenas de fluidos de corte usadas, os custos não deveriam impedir o uso de composições de alta tecnologia no campo dos óleos básicos e aditivos. Não é recomendável o uso de fluidos de corte que são desenvolvidos para sistemas convencionais, porque pode haver forte atomização e vaporização, o que é prejudicial à saúde dos operários. Particularmente, são necessárias informações sobre o tamanho e o tipo de partículas, vapor, névoa e fumaça de óleo. Quanto maior a velocidade de corte que juntamente à temperatura do processo, causam maiores problemas deste tipo, de maneira que, recomenda-se o uso de óleos básicos com uma viscosidade mais alta e adaptações no campo dos aditivos (anti-névoa). Os produtos lubrificantes devem ser ecologicamente corretos (isento de solventes e materiais fluorados) e com altíssima taxa de remoção de calor. Os materiais derivados de origem vegetal estão sendo cada vez mais empregados. Estes óleos, inalados com a formação do aerossol, diminuem os riscos à saúde (HeiseL et al., 1998 e Novaski & Dörr, 1999). 20 Hafenbraedl & Malkin (2001) comprovaram que a técnica de MQL proporciona lubrificação eficiente, reduzindo potência de retificação e a energia específica para um nível comparável ou superior em desempenho ao obtido com óleo solúvel convencional (concentração de 5% com vazão de 5,3 l/min), ao mesmo tempo em que também reduz significativamente o desgaste do rebolo. A MQL também apresentou valores ligeiramente inferiores de rugosidade (Ra). O desempenho da retificação foi também avaliado na condição a seco. Os resultados com MQL foram obtidos no processo de retificação cilíndrica interna por mergulho em aço AISI 52100 temperado com dureza média de 60 HRc utilizando rebolo de óxido de alumínio. Esperava-se que a aplicação da MQL à retificação cilíndrica interna seria mais do que um desafio, devido à natureza contínua do processo, ao espaço limitado para acesso da lubri-refrigeração à zona de retificação e às dificuldades na remoção dos cavacos gerados na operação. Para a técnica de MQL, foi acoplado ao sistema de retificação um dosador de precisão, que fornece óleo de éster a uma taxa de fluxo especificada (12 ml/h). Um bocal mistura o óleo de éster com o ar comprimido a uma pressão de 69 kPa com a finalidade de formar uma névoa fina. A aplicação do óleo de éster para a retificação interna foi dificultada, em virtude do espaço limitado de acesso para o bocal. O projeto do bocal foi otimizado para ficar o mais próximo possível do lado de entrada da zona de retificação. Também foi utilizada uma pistola de ar frio, em uma tentativa de fornecer algum resfriamento da peça. O ar frio (-20C) saía do bocal a uma taxa de fluxo de 3 l/s e uma pressão de 7,6 bar. Foi estimado, subseqüentemente, que a quantidade disponível de ar frio não seria capaz de fornecer resfriamento significativo. Todavia, a principal desvantagem da MQL é com relação ao resfriamento, resultando em temperaturas elevadas e dilatação térmica da peça. Baheti et al. (1998) realizaram experimentos com MQL utilizando óleo de éster (10 ml/h) com ar frio (-100C na temperatura de saída) no processo de retificação plana por mergulho com rebolo de óxido de alumínio em peças de aço carbono. Os autores comprovaram que a técnica de MQL apresenta valores inferiores de energia de partição, temperatura e energia específica em comparação com a lubri-refrigeração convencional. Quando comparada com o óleo solúvel, a MQL com ar frio reduziu a energia específica em uma taxa de 10 a 15%, a temperatura da peça em 20 a 25% e a partição de energia para a peça (fração da energia de retificação que entra na peça como calor) em 15 a 20%. Foram realizados testes com diversas condições de lubri-refrigeração sendo: nitrogênio líquido; óleo solúvel (5% de concentração); a seco; óleo de éster; ar frio (-10 0C) a uma vazão de 990 l/min com pressão de 690 kPa e ar frio + óleo de éster. A condição a seco apresentou maior valor de energia de partição, o que já era esperado. Por outro lado, a utilização de nitrogênio líquido 21 indicou-se maior valor de energia específica. Os pesquisadores concluíram que é possível eliminar ou reduzir o uso de fluido de corte na retificação contribuindo para uma manufatura limpa. Ambientalmente seguro, o óleo de éster foi capaz de fornecer boa lubrificação e quando aplicado junto com ar frio, a refrigeração é efetivamente comparável com o óleo solúvel. O óleo de éster é classificado como uma substancia inofensiva à saúde e não- carcinógena. Ao mesmo tempo, a MQL comprova que é uma alternativa promissora para os fluidos de corte utilizados nos processos de retificação. Embora o nitrogênio líquido prove uma melhor refrigeração, o mesmo apresenta um baixo poder de lubricidade, o que resulta em alta energia específica. Pesquisa adicional é necessária para explorar as aplicações em potencial da técnica de MQL, principalmente no que se refere a aço endurecido, rebolos de CBN, retificação cilíndrica, altas taxas de remoção, integridade superficial, remoção de cavacos e fatores de custos. Klocke et al. (2000) apresentaram o comportamento da força específica normal e tangencial na retificação externa de mergulho quando da comparação da refrigeração por bocal de sapata (24 l/min) e da técnica de MQL (215 ml/h). A técnica MQL resultou na redução da força específica normal e tangencial. No que se refere à microestrutura, revelaram que não foi observada nenhuma modificação quando da utilização das duas vazões. Por outro lado, a aplicação de MQL apresentou pior resultado de rugosidade (Rz) quando comparado com a refrigeração com grande quantidade. Os pesquisadores demonstraram através dos diversos resultados com ferramentas de geometria definida que MQL pode ser usado prosperamente nos processos de retificação. Contudo, extensivos estudos são necessários antes que esta tecnologia seja aplicada industrialmente, principalmente no que se refere ao lubrificante empregado. Neste contexto, pesquisas são necessárias no intuito de verificar os benefícios e danos causados por tal processo, viabilizando assim seu uso em escala industrial. Estas pesquisas incluem otimização da composição do lubrificante junto com modificações nas retificadoras, nas ferramentas abrasivas e estratégias de monitoramento, para adaptá-las a diferentes condições de mínima quantidade de lubrificação. De acordo com Heisel et al. (1998), a técnica de MQL é um elo de ligação entre a usinagem a seco e a lubri-refrigeração convencional. Na aplicação convencional do fluido de corte há uma inundação intensa da superfície usinada e da peça, enquanto que nos sistemas em que se empregam a MQL o fluido é colocado em contato apenas com a área de corte definida entre ferramenta-peça-cavaco. 22 Por outro lado, muitos problemas relacionados com a lubri-refrigeração convencional podem ser eliminados como os custos do armazenamento excessivo e da eliminação de emulsões danosas ao meio ambiente (Novaski & Dörr, 1999). Segundo Klocke et al. (2000), do ponto de vista ecológico, a utilização da técnica de MQL no processo de retificação é desejável. Porém, a retificação a seco tem sido uma exceção em lugar da regra em relação aos outros processos de usinagem. As razões concentram-se na grande quantidade de calor introduzido no processo como resultado do atrito entre o grão abrasivo e a peça e também da grande quantidade arestas de corte em ação. Este fator aumenta o risco de danos térmicos na superfície da peça. O calor introduzido na peça no processo de retificação é superior quando comparado com as operações de usinagem com geometria definida. Por outro lado, a geometria do grão abrasivo geralmente apresenta ângulo de cisalhamento negativo requerendo maior força de atrito na interação, dificultando ainda mais o emprego de MQL na retificação. De acordo com Tawakoli (2003), para se tornar o sistema de MQL habilitado no processo de retificação, são necessários desenvolvimentos nos seguintes sistemas e trabalhos de pesquisa: otimização dos processos de retificação; desenvolvimento de sistemas eficientes para remoção de cavacos; sistemas otimizados para fornecimento de fluidos de corte em pequenas quantidades; os parâmetros de usinagem devem ser baseados no completo entendimento da tecnologia de MQL para que a espessura de cavaco alcance valor ótimo; os componentes de atrito devem ser reduzidos e uso de ferramentas devem ser otimizadas. A norma ISO série 14000 tem sido adotada por organizações de diversos países como base para seu sistema de gestão ambiental. Com o Brasil não foi diferente. Vem crescendo no País o número de empresas com certificados ISO série 14000, demonstrando uma tendência positiva à adoção desse tipo de sistema de gestão. Os resultados obtidos por diversos pesquisadores até o presente momento, utilizando a tecnologia de MQL com ferramentas de geometria definida, mostram que a técnica de MQL pode ser aplicada com vantagens em muitos casos, contribuindo para uma manufatura limpa sem agressão ao meio ambiente e a saúde do pessoal de chão de fábrica. Os pesquisadores demostram que os sistemas de MQL resultam em vida mais longa para a ferramenta, melhor 23 qualidade de acabamento superficial, menor dano à integridade superficial da peça e possibilitam velocidades de corte mais altas. A tecnologia de MQL está perfeitamente apta para os processos de fabricação, porém, é indispensável esforços conjuntos entre usuários, fabricantes de ferramentas e de máquinas para obtenção de resultados mais otimistas. Deve-se lembrar, no entanto, que apesar de todos resultados otimistas com ferramentas de geometria definida, no que se refere ao processo de retificação, a técnica de MQL está longe de ser implementada (Klocke & Eisenblàtter, 1997; Heisel et al., 1998; Dörr, 1999; Kilcke et al., 2000; Silva, 2002 e Tawakoli, 2003). 4.3.1.5.1. Classificação e Projeto de Sistemas com Mínima Quantidade de Lubrificante Como afirmam Brockhoff & Walter (1998); Heisel et al. (1998) Klocke et al. (2000) existem três tipos diferentes de sistemas de mínima quantidade de lubrificação. De um lado estão os sistemas de pulverização de baixa pressão, onde o refrigerante é aspirado por uma corrente de ar e levado à superfície ativa com uma mistura. Esses sistemas se distinguem por um fluxo volumétrico de refrigerante de aproximadamente 0,5 a 10 1/h. Eles são usados principalmente para a refrigeração com emulsões, produzem uma otimização notável e somente podem ser dosados grosseiramente. O segundo tipo de sistema usa bombas dosadoras com alimentação pulsatória de uma quantidade definida de lubrificante para a superfície ativa, sem ar. As taxas de fluxos são ajustáveis numa faixa entre 0,1 e 1 ml por ciclo, com até 260 ciclos por minuto. Estes sistemas são utilizados principalmente em processos intermitentes. O terceiro e mais usado tipo de sistema de refrigeração de quantidade mínima é o de pressão, em que o refrigerante é bombeado para o bocal através de uma tubulação de suprimento em separado, no bocal ocorre a mistura com ar comprimido fornecido separadamente, de forma que as quantidades de ar e lubrificante podem ser ajustadas independentemente. Este tipo de sistema é uma alternativa particularmente interessante, porque combina a funcionalidade da refrigeração com um consumo extremamente baixo, na faixa 10 a 100 ml/h. Ao mesmo tempo, a mistura coaxial de refrigerante e ar no bocal previne de forma eficiente a nebulosidade. Heisel et al. (1998) apresentam um diagrama esquemático de um sistema de mínima quantidade de lubrificação com o princípio de pressão descrito e os seus componentes ilustrados na Figura 4.3. O know-how desta tecnologia consiste na otimização do projeto do bocal. 24 Figura 4.3 - Diagrama Esquemático de um Sistema de Mínima Quantidade de Lubrificação (Heisel et al., 1998). Os sistemas de mínima quantidade de lubrificação requerem espaço muito pequeno para sua instalação nas máquinas, podendo-se assim escolher diversas posições para a sua fixação. Estes sistemas são facilmente integrados com as máquinas, possibilitando instalar válvulas de controle para uma melhor integração. Estas vantagens fazem da MQL um sistema flexível para aplicações na retificação e em outros processos de corte (Heisel et al., 1998 e Klocke et al., 2000). A estabilidade do jato, que significa a convergência da mistura ar-fluido, é muito importante para a aplicação prática nas máquinas de produção, porque ela determina a distância até a superfície ativa e, portanto, o perigo de colisões entre os sistemas de refrigeração e ferramentas, máquinas ou peça. Segundo Heisel et al. (1998), a distância entre o bocal e a área de corte, ângulo de pulverização ou ajuste relativo à interfaces parecem ser parâmetros de menor importância. Isto torna mais fácil o uso da mínima quantidade de lubrificação nas máquinas de produção. A formação da névoa de óleo é causada principalmente pela função dos sistemas de MQL. Eles usam a mistura ar-líquido gerada para a lubri-refrigeração. Todos os óleos utilizados nos sistemas de MQL têm baixa vaporização. Desta forma, as partículas da névoa de óleo são parcialmente projetadas na interface peça-ferramenta, não proporcionando grandes dispersões da névoa. Os danos ao organismo humano somente podem ser causados pelas partículas que são capazes de entrar e permanecer nos pulmões (as chamadas “partículas respiráveis”), cujo diâmetro varia entre 0,5 e 5 µm. Somente partes da névoa e da fumaça de 25 óleo pertencem ao grupo de partículas respiráveis, havendo quem as considere como relativamente não prejudiciais, porque não há registro de danos ao sistema respiratório, mesmo que as concentrações sejam mais altas (Heisel et al., 1998). A função de um sistema de MQL, no entanto, é baseada exatamente na geração de tal névoa. Em relação ao efeito danoso da utilização do sistema de MQL, existem apenas fatos insuficientes disponíveis. Todavia, como o potencial de riscos à saúde do trabalhador é preocupante, torna-se necessário realizar pesquisas mais aprofundadas nesta área (Heisel et al, 1998). Cabe ressaltar que o projeto do bocal, o equipamento de MQL e o lubrificante utilizado permitiram uma excelente formação de névoa sem dispersão da região de corte. O lubrificante empregado nos experimentos apresentou excelente lubricidade contribuindo para a diminuição do atrito na interface resultando positivamente em diversos parâmetros avaliados. 4.3.1.6 Influência da ferramenta e do fluido de corte nas trocas térmicas A maioria dos danos observados no processo de retificação são de origem térmica. Dentre as várias técnicas utilizadas na determinação das temperaturas envolvidas na região de corte (Ueda et al., 1993; Ueda et al., 1995), somente com a utilização de termopares “embutidos” nas peças a serem retificadas foi possível obter-se indicações satisfatórias das temperaturas nas proximidades da região de corte, as quais podem ser efetivamente correlacionadas com os danos térmicos (Kohli et al., 1995). As temperaturas geradas durante o processo de retificação são conseqüência direta da energia introduzida no corte. Os métodos de medição de temperatura não permitem identificar e controlar, de forma prática, as variações de temperatura, sendo estes métodos restritos a testes laboratoriais, os quais não podem ser diretamente aplicados dentro de um processo produtivo de larga escala. Deve-se então adotar métodos indiretos de controle da temperatura e do dano térmico induzido à peça através do monitoramento dos esforços de corte, da rugosidade superficial, da tensão residual. Além disso, torna-se necessário o conhecimento teórico de como cada variável envolvida no processo de retificação afeta a geração e a dissipação do calor produzido, permitindo a otimização do processo. Esta deve englobar todos os componentes do processo, ou seja, a peça, a ferramenta, o fluido de corte e as condições de usinagem. Segundo Malkin (1985), os danos térmicos gerados quando da retificação com rebolos superabrasivos de CBN são, geralmente, inferiores aos que ocorrem quando da retificação com rebolos convencionais. Utilizando-se rebolos de CBN, a queima da peça 26 raramente ocorre e as tensões residuais são, predominantemente de compressão (Tönshoff & Grabner, 1984 apud Malkin, 1989; Vansevenat, 1989). Isto indica que menores temperaturas de retificação são geradas na região de corte. Estas, segundo Kohli et al. (1995), são atribuídas, parcialmente, à menor energia gasta para a retificação com rebolos de CBN, devido à maior dureza de seus grãos (dureza Knoop do grão de CBN é de 4.500 e do grão de Al2O3 é de 2.500 kg/mm2). Isto mantém a capacidade de corte do rebolo durante tempos maiores, diminuindo o desgaste dos mesmos, reduzindo as parcelas de energia relativas ao plowing (upl) e ao deslizamento de grãos cegos (usl). Os menores valores de temperaturas geradas na retificação com rebolos de CBN são também alcançados devido à maior condutividade térmica de seus grãos abrasivos, quando comparadas com os de óxido de alumínio (condutividade térmica do grão de CBN é de 1.300 W(mk)-1 e do grão de Al2O3 é de 29 W(mk)-1). Sendo assim uma fração muito maior do calor gerado é transportado para fora da zona de retificação pela ferramenta abrasiva, ao invés do mesmo fluir pela peça. (Lavine et al., 1989). Comprovando o melhor desempenho dos rebolos de CBN, estudos realizados por Kohli et al. (1995) permitiram determinar a partição da energia gerada quando da realização de operações de retificação com rebolos de Al2O3 e CBN. Utilizando-se a técnica dos termopares embutidos, onde as temperaturas medidas foram comparadas com aquelas obtidas pelas formulações teóricas propostas por MALKIN (1989), observou-se que entre 60 a 75% da energia gerada durante o processo de retificação é transportada na forma de calor para a peça, quando da utilização de rebolos convencionais de óxido de alumínio. Para rebolos superabrasivos de CBN, os valores observados foram em torno de 20%. A menor partição de energia, quando da utilização de rebolos de CBN permite uma diminuição das temperaturas na região de corte e uma menor tendência de indução de danos térmicos à peça. Os modelamentos apresentados por Malkin (1989) negligenciam a influência do fluido de corte nas temperaturas ocorridas na zona de retificação. A peça foi modelada como sendo um sólido adiabático de comprimento semi-infinito, com superfície perfeitamente isolada, exceto na região de localização da banda de calor. A maioria das operações de retificação são realizadas com a utilização de fluidos de corte, os quais lubrificam e refrigeram a peça. Conforme anteriormente mencionado, para que o fluido de corte resfrie efetivamente a região de corte, é necessário que o calor seja removido de dentro da mesma. Na maioria dos casos o fluido de corte, segundo Malkin (1989), não reduz significativamente as temperaturas na região de corte, devido à dificuldade de penetração destes na mesma região. Este baixo desempenho deve-se ao pequeno comprimento de contato e, muitas vezes, 27 à barreira hidrodinâmica gerada pelo rebolo dotado de velocidade Vs, sendo que o fluido deve apresentar velocidade de saída do jato igual à velocidade de corte do rebolo, para conseguir atingir a região de corte (Webster, 1995). O pequeno percentual de fluido de corte que atinge a região de corte, o qual é função da estrutura do rebolo e da forma de aplicação (Guo & Malkin, 1992; Engineer et al., 1992; Krishnan et al., 1995), tem papel ineficiente na refrigeração por convecção da região de corte, devido à ocorrência do efeito de evaporação do filme de fluido de corte (Lavine & Malkin, 1989). À medida que a temperatura crítica de evaporação do filme de lubrificante é atingida, ocorre um aumento abrupto da temperatura e dos esforços de corte (Shafto et al., 1975; Lavine & Malkin, 1989; Guo & Malkin, 1994). Os fluidos de corte diminuem as temperaturas na região de corte de forma indireta, através de suas propriedades lubrificantes, diminuindo o atrito e, conseqüentemente, o desgaste do topo dos grãos abrasivos, gerando menos calor, devido à diminuição da energia despendida no deslizamento e no plowing. 4.4. Variáveis de saída envolvidas no processo de retificação 4.4.1. Força tangencial de corte (Ft) e energia específica (u) De acordo com Malkin (1989) durante o processo de retificação existem forças atuantes na interface peça-rebolo. Para operações de retificação plana de mergulho (Figura 4.4(a)) e retificação cilíndrica externa de mergulho (Figura 4.4 (b)) o vetor resultante da força total de retificação exercida pela peça sobre o rebolo pode ser decomposto em uma componente de força tangencial (Ft) e uma componente de força normal (Fn). 28 Figura 4.4 - Ilustração das componentes de força para retificação de mergulho (a) retificação plana, (b) retificação cilíndrica Durante o processo de retificação, os grãos abrasivos se desgastam, os topos dos mesmos começam a perder suas “cristas”, ou seja, seu grau de afiação, tornando os grãos “cegos”. Devido à perda da afiação dos grãos ocorre um aumento nos esforços de remoção do material, originando deformações na superfície do material ao invés de sua efetiva remoção. Com o aumento destes esforços e das deformações citadas ocorre o aumento da força tangencial de corte, em conseqüência de maiores atritos do topo do grão abrasivo com a superfície do material gerando elevadas temperaturas e calor envolvidos no processo. Assim, com a elevação da força de corte tangencial há, conseqüentemente, a elevação da temperatura, com possibilidades de danos térmicos, podendo afetar também a rugosidade superficial final da mesma. Isto é confirmado por Schwarz (1999), afirmando que quando um rebolo está gasto, sua tendência é produzir um acabamento mais liso ocorrendo, porém, um aumento na probabilidade do aparecimento de danos térmicos, formação de lóbulos e trepidação. Esta variável permite também analisar o desempenho das ferramentas abrasivas, detectar a ocorrência de macro e micro-desgaste, a capacidade de fixação dos grãos abrasivos pelo ligante, a elevação da temperatura na região de corte, o estado de tensão residual, dentre outras. Segundo Malkin (1989), o processo de retificação requer uma quantidade significativa de energia para a remoção de material. Durante o processo, esta energia é transformada em calor, o qual é concentrado dentro da região de corte. As elevadas temperaturas podem produzir vários tipos de danos térmicos à peça, tais como: queima superficial, transformações microestruturais, aquecimento superficial possibilitando o aparecimento da têmpera superficial, re-têmpera do material (quando da usinagem de um aço temperado), com a formação de martensita não revenida, gerando tensões residuais de tração 29 indesejáveis e redução do limite de resistência à fadiga do componente usinado. Além disso, a expansão térmica da peça durante a retificação contribui para erros dimensionais e de forma no estado final da peça. No processo de retificação são consumidas energias que variam entre 20 e 60 J/mm3, o que significa aproximadamente 10 vezes a energia que se consome no processo de torneamento. Esta energia é transformada em calor, o que ocasiona elevadas temperaturas (Weingaertner et al., 2001). Segundo Marshall (1952) e Backer et al. (1952), os estudos das forças e energia específica de retificação (J/mm3), começaram no início dos anos 50 e mostraram que a energia específica envolvida era muito maior quando comparada àquela encontrada em outros processos de usinagem. Como em outros processos de corte de metais, uma tentativa foi feita visando interpretar as forças de retificação, em função dos mecanismos de formação do cavaco. Através de considerações pertinentes referentes à geometria típica dos grãos abrasivos, estimativas da tensão de cisalhamento foram efetuadas, devido à deformação plástica do material durante a formação do cavaco. A energia específica (uc) associada à retificação é uma variável de saída relacionada diretamente com a força tangencial de corte e a velocidade periférica da ferramenta, entretanto a mesma é afetada por outros parâmetros como pode ser verificado na equação 3. bVd VFu fw st c π = (3) Onde: Vs é a velocidade corte b é a largura de retificação Vf é a velocidade de avanço dw é o diâmetro da peça. Apesar da remoção de material ocorrer principalmente por formação de cavaco, devido ao relatado nos itens anteriores, uma grande parte da energia de retificação deve ser despendida em outros mecanismos distintos à formação do cavaco. 30 4.4.2. Desgaste diametral do rebolo O desgaste do rebolo pode ser expresso tanto pela sua perda diametral, bem como, através da redução volumétrica do mesmo, e pode ser classificado em três tipos: atrito, fratura do grão e fratura do ligante. Todos os tipos de desgaste ocorrem simultaneamente mas em intensidades diferentes. Pode-se expressar o desgaste total em termos da relação G, que é a taxa volumétrica de material removido em contraposição ao desgaste do rebolo. Para operações típicas de retificação de precisão com rebolos convencionais (óxido de alumínio ou carboneto de silício) o custo do rebolo é geralmente insignificante, e mais rebolo pode ser consumido pela dressagem do que pelo processo de retificação em si. Em tais casos o menor desgaste do rebolo, com a maior relação G pode não ser a melhor situação, pois pode exigir maiores forças e energias e isso conduz a temperaturas excessivas (Malkin, 1989). Segundo Malkin (1989), restrições de desgaste do rebolo são freqüentemente associadas à rugosidade superficial e tolerâncias necessárias. Com taxas de remoção mais rápidas, a relação G tende a decrescer, levando a uma mais rápida deterioração na forma e no acabamento da superfície. A utilização de um fluido de corte pode aumentar a relação G, diminuindo as forças e temperatura gerada no