UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” – UNESP FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES E COMUNICAÇÃO – FAAC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÍDIA E TECNOLOGIA – PPGMIT Gleice Bernardini INTERNET DAS COISAS NO BRASIL: A comunicação nos processos interativos das Cidades Inteligentes BAURU – SP 2021 Gleice Bernardini INTERNET DAS COISAS NO BRASIL: A comunicação nos processos interativos das Cidades Inteligentes Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Mídia e Tecnologia (PPGMiT), da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (FAAC) da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) para obtenção do título de Doutora em Mídia e Tecnologia. Orientadora: Profa. Assoc. Maria Cristina Gobbi Linha de Pesquisa: Tecnologias Midiáticas BAURU – SP 2021 Bernardini, Gleice. Internet das Coisas no Brasil : a comunicação nos processos interativos das Cidades Inteligentes / Gleice Bernardini, 2021 192 f. : il. Orientadora: Maria Cristina Gobbi Tese (Doutorado)–Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, Bauru, 2021 1. Internet das Coisas. 2. Cidades Inteligentes. 3. Comunicação. 4. Interatividade. 5. Brasil. I. Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação. II. Título. Gleice Bernardini INTERNET DAS COISAS NO BRASIL: A comunicação nos processos interativos das Cidades Inteligentes Área de Concentração: Ambientes Midiáticos e Tecnológicos Linha de Pesquisa: 2 – Tecnologias Midiáticas Banca Examinadora: Presidente/Orientadora: Profa. Assoc. Maria Cristina Gobbi Instituição: Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP Membro 1: Profa. Dra. Vânia Cristina Pires Nogueira Valente Instituição: Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP Membro 2: Profa. Dra. Roberta Spolon Instituição: Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP Membro 3: Profa. Dra. Jane Aparecida Marques Instituição: Universidade de São Paulo – USP Membro 4: Profa. Dra. Fernanda Chocron Miranda Instituição: Universidade Federal do Pará – UFPA Suplentes: Profa. Dra. Maria Ataide Malcher Instituição: Universidade Federal do Pará – UFPA Prof. Dr. Joseph Dean Straubhaar Instituição: University of Texas at Austin – UT Prof. Dr. João Pedro Albino Instituição: Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP Prof. Dr. Osvando José de Morais Instituição: Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP Bauru, 08 de abril de 2021. À Deus e aos meus pais, Gerson (in memoriam) e Angela, fontes inesgotáveis de amor, apoio, força, exemplo e dedicação, a quem devo minha vida. AGRADECIMENTOS Agradeço à Deus, por me dar muito mais do que imaginei ou pedi. Acredito em uma força superior que nos guia, nos ilumina e nos orienta. E foi esta força, caracterizada na minha crença no Senhor, que me permitiu chegar a este momento. Agradeço à minha família, ao meu pai, Gerson (in memorian), um homem que foi tirado da escola para trabalhar, que fez a “faculdade da vida” e, ainda assim, a pessoa mais inteligente, criativa e determinada que conheci. O qual tenho muito orgulho de ter tido como pai, meu incentivador, cujo sonho era ver seus filhos formados em uma universidade, com uma profissão. E minha mãe Angela, mulher guerreira, a qual também não teve oportunidade de estudar, foi trabalhadora rural, de família humilde onde o estudo era visto como luxo. Obrigada a vocês, pelo apoio e incentivo para continuar buscando a realização dos meus sonhos. Meus pais sempre foram, e sempre serão, meus guias e eternos exemplos de perseverança, amor e dedicação, a quem tudo devo e a quem sempre buscarei honrar. Ao meu companheiro, hoje esposo, Felipe, que ouviu muitas vezes meus choros, que me deu apoio, foi meu suporte, me auxiliando e cuidando de mim em vários momentos, como os de saúde, e que teve, principalmente, muita paciência, amor e compreensão ao aceitar as minhas faltas como namorada, noiva e esposa. Agradeço aos meus amigos e família, pela paciência e compreensão das minhas negativas e ausências em festas, comemorações, saída de fim de semana, reuniões, encontros, cinemas e almoços de família. Aos mais íntimos por ouvirem minhas queixas e reclamações, me dando suporte e força para continuar. Agradeço aos meus colegas de mestrado, doutorado, de pesquisa e vida acadêmica, como os amigos do grupo PCLA, professores e alunos, os quais tive muita sorte em tê-los como companheiros de trabalho e aprendizado. Todos, cada qual ao seu jeito, me ensinaram algo e me deram um pedacinho de si, me ajudando no meu caminhar, modificando meus atos e ações, para me tornar o que sou hoje. Agradeço ao Professor Dr. Joseph D. Straubhaar por me receber em Austin, na Universidade do Texas (UT), me permitindo conhecer uma nova cultura, ampliar meus horizontes, realizar sonhos nunca sonhados. Sempre muito paciente e conselheiro, me auxiliou nos momentos de aflição e sempre muito prestativo, amoroso e atencioso. Agradeço as Professoras Dra. Vânia Cristina Pires Nogueira Valente, Dra. Roberta Spolon, Dra. Jane Aparecida Marques e Dra. Fernanda Chocron Miranda por aceitarem o convite de estar comigo neste momento, em minha banca de defesa, contribuindo para meu crescimento e em minha caminhada acadêmica. Igualmente, agradeço aos Professores, Dra. Maria Ataide Malcher, Dr. João Pedro Albino, Dr. Osvando José de Morais e, novamente, Dr. Joseph D. Straubhaar, pela disponibilidade para serem membros suplentes da banca de defesa. Bem como, ao Professor Dr. Eduardo Morgado, por ser meu coorientador no doutorado, permitindo meu caminhar entre as diversas áreas de estudos, oportunizando conhecimentos para a produção desta tese. Agradeço a todos, antecipadamente, por todas as contribuições, com certeza, valiosas para meu crescimento acadêmico, profissional e pessoal. E um agradecimento, mais que especial, a minha Orientadora, Profa. Assoc. Maria Cristina Gobbi, um ser humano excepcional, uma pessoa iluminada e professora maravilhosa, que como uma mãe, sempre me apoia com incondicional paciência e atenção, dando broncas necessárias e afagos em momentos oportunos. Com certeza um anjo na vida de todos com os quais convive. Sem o seu ‘sim’, me aceitando como orientanda, nada disto seria possível e nunca estaria aqui agora. Obrigada por acreditar em mim, em meu potencial e me aceitar por tantos anos. Agradeço à Unesp, minha segunda casa desde a graduação, onde passei por inúmeros momentos felizes, lutas e conquistas. Onde, cada aula assistida, na graduação, pós-graduação, mestrado e doutorado, contribuiu para meu crescimento e amadurecimento pessoal e profissional, me trazendo o desejo de retribuir sempre, no mercado como jornalista ou na academia, através da docência, todo esse conhecimento adquirido. Meu muito obrigada a cada Professor desta jornada. Que eu possa, a partir deste momento tão significativo e especial em minha vida, mais do que agradecer com palavras, mas realizar ações e retribuir os conhecimentos a mim disponibilizados, possibilitando a muitas outras pessoas as oportunidades de estudo e crescimento a mim ofertadas. Muito obrigada! [...] a cidade inteligente é mais uma jornada que um destino, e nesse processo evolutivo está claro que as comunidades devem ser incluídas. (BERNARDES, 2020) BERNARDINI, Gleice. Internet das Coisas no Brasil: a comunicação nos processos interativos das Cidades Inteligentes. 2021. (Tese de Doutorado em Mídia e Tecnologia) – FAAC - UNESP, sob a orientação da Profa. Assoc. Maria Cristina Gobbi, Bauru, 2021. RESUMO A pesquisa visa compreender o complexo ecossistema de inovação digital de tecnologias de Internet da Coisas (IoT) relacionadas a Cidades Inteligentes sob o viés da comunicação. Nos embasamos em dados estatísticos e modelos aplicados de Cidades Inteligentes, uma das áreas prioritárias do Brasil para o setor da IoT, em concordância com as diretrizes sugeridas do Plano de Ação (BNDES/MCTIC) e do Plano Nacional de IoT (PNIoT) para promoção de medidas através de políticas públicas, a fim de investigar as viabilidades do uso da IoT no cenário nacional. Partimos do pressuposto que a inovação proporcionada encontra problemas para sua implantação no Brasil. Verificamos que apesar dos vários estudos, consórcios, planos e iniciativas governamentais existente no país, há mais um desejo manifestado através de ações iniciais e tímidas, por parte de alguns setores públicos, órgãos, entidades e associações para a implantação da IoT e a transformação das cidades em inteligentes, do que atuações concretas que firmem sua real efetivação. Como objetivo, a tese buscou compreender as aplicações; compará-las e entender como podem, se podem, ampliar ou produzir novos processos interativos comunicacionais gerando benefícios a população. Neste sentido, para que os preceitos de Cidades Inteligentes sejam implantados satisfatoriamente, promovendo melhorias concretas é primordial um estudo comunicacional, para que se reflita as necessidades da sociedade contemporânea, devendo ser estruturado com base em nossa diversidade cultural, social, econômica, territorial e de inovação tecnológica, visando o cenário de desenvolvimento nacional. Além de que se tenha uma população preparada e consciente para habitar este espaço conectado, para o sucesso da implantação, é necessário que haja receptividade a inovação, mantendo as características e identidade desta sociedade. A tese é embasada na transmetodologia de Maldonado (2010), uma vez que a pesquisa perpassa as áreas de comunicação, informática e das engenharias, necessitando assim uma mescla de métodos e técnicas para atender as demandas necessárias para sua realização, além dos conceitos da ecologia dos meios, de Postman (2015), bem como os preceitos da ecologia da comunicação e teorias relacionadas, que buscam abarcar questões ligadas ao ambiente tecnológico, sob os reflexos na comunicação humana. PALAVRAS-CHAVE: Internet das Coisas. Cidades Inteligentes. Comunicação. Interatividade. Brasil. ABSTRACT This research aims to understand the complex digital innovation ecosystem of the Internet of Things (IoT) technology related to Smart Cities under the bias of communication. This research is based on statistical data and applied models of Smart Cities, one of the priority areas of Brazil in the IoT sector, under the suggested guidelines of the Action Plan (BNDES/ MCTIC) and the National IoT Plan (PNIoT), to promote actions through government public policies, in order to investigate the usability of IoT in the national scenario. We presuppose that the innovation provided has problems for its implementation in Brazil. We conclude that despite the various studies, consortia, plans and governmental initiatives existing in the country, there is one more desire with initial and timid actions, by some public sectors, agencies, entities and associations than concrete actions that confirm its real effectiveness for the implementation of IoT and the transformation cities in smart. The goal is to understand the applications, compare them and seek to understand, if possible, how they expand or produce new interactive communication processes generating benefits to the population. In this sense, for the precepts of Smart Cities to be implemented satisfactorily, promoting concrete improvements a communicational study to reflect the needs of contemporary society is necessary. It must be structured based on our cultural, social, economic, territorial and technological innovation diversity, aiming at the national development scenario. In addition, for the success of the implementation is necessary to be receptive to innovation through a prepared and conscious population to live in this connected space. This thesis is based on Maldonado Trans-methodology Theory (2010). Since the research crosses the areas of communication, information technology and engineering, it requires a mixture of methods and techniques to meet the necessary demands for its realization, such as the concepts of media ecology - by Postman (2015), the precepts of communication ecology and related theories covering issues related to the technological environment under the reflexes in human communication. KEYWORDS: Internet of Things. Smart City. Communication. Interactivity. Brazil. SUMÁRIO CAPÍTULO 1: 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................ 22 1.1 REFERENCIAL METODOLÓGICO ............................................................ 25 1.1.1 Nova Ecologia dos Meios ............................................................................... 29 1.1.2 Ecologia da Comunicação ............................................................................... 36 1.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................................... 43 1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO ................................................................... 44 CAPÍTULO 2: 2. CONCEITOS FUNDAMENTAIS ............................................................... 46 2.1 INTERNET DAS COISAS E TECNOLOGIAS RELACIONADAS ............. 49 2.1.1 Tecnologias da IoT .......................................................................................... 57 2.1.1.1 Tecnologias de detecção e coleta de dados ...................................................... 58 2.1.1.2 Tecnologia de transmissão e comunicação ...................................................... 62 2.1.1.3 Tecnologia de armazenamento, análise e utilização ........................................ 66 2.1.2 Áreas de aplicações para IoT ........................................................................... 71 CAPÍTULO 3: 3. A IOT NO BRASIL ....................................................................................... 76 3.1 O TERMO IOT ............................................................................................... 76 3.2 ESTUDO DA IOT NO BRASIL ..................................................................... 80 3.2.1 Fase 1(janeiro – março/2017) .......................................................................... 82 3.2.2 Fase 2 (abril – maio/2017) ............................................................................... 89 3.2.3 Fase 3 (junho – setembro/2017) ...................................................................... 100 3.2.4 Fase 4 (outubro – março/2018) ........................................................................ 102 3.3 PLANO DE AÇÃO (2018 – 2022) .................................................................. 107 3.4 Plano Nacional de IoT ..................................................................................... 110 3.4.1 Câmara Nacional de IoT ................................................................................. 113 CAPÍTULO 4: 4. CIDADES INTELIGENTES ....................................................................... 117 4.1 A EVOLUÇÃO DO CONCEITO ................................................................... 119 4.2 BRASIL .......................................................................................................... 129 4.2.1 Cartilha de Cidades e o governo Bolsonaro ..................................................... 140 4.2.1.1 Câmara de Cidades 4.0 e suas ações ................................................................ 147 CAPÍTULO 5: 5. CONCLUSÕES ............................................................................................. 157 CAPÍTULO 6: 6. PERSPECTIVAS FUTURAS ...................................................................... 170 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 174 LISTA DE QUADROS QUADRO 1 Campos de aplicação de IoT p. 73 QUADRO 2 Versão final da Árvore de Critérios para priorização dos Ambientes p. 90 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 Requisitos para a tecnologia IoT p. 56 FIGURA 2 As camadas formativas da IoT p. 56 FIGURA 3 Tipos de sistemas RFID p. 58 FIGURA 4 Exemplo de rede ZigBee p. 64 FIGURA 5 Exemplo de rede DigiMesh p. 64 FIGURA 6 Detalhamento inicial das Fases do Estudo p. 82 FIGURA 7 Benchmark da Índia p. 84 FIGURA 8 Benchmark dos EUA p. 85 FIGURA 9 Roadmap tecnológico p. 86 FIGURA 10 Posicionamento dos Países estudados p. 87 FIGURA 11 Classificação dos Ambientes IoT p. 89 FIGURA 12 Detalhamento das técnicas para definição das frentes Prioritárias e Mobilizadora p. 90 FIGURA 13 Frentes Prioritárias e Mobilizadora para IoT no Brasil p. 92 FIGURA 14 Critério ‘Impacto econômico de IoT’ p. 94 FIGURA 15 Critério ‘Impacto no emprego e renda’ p. 94 FIGURA 16 Critério ‘Automação’ p. 95 FIGURA 17 Critério ‘Qualidade de Vida’ p. 96 FIGURA 18 Critério ‘Impacto ambiental’ p. 97 FIGURA 19 Critério ‘Ambiente regulatório’ p. 98 FIGURA 20 Critério ‘Segurança’ p. 99 FIGURA 21 Critério ‘Privacidade de dados’ p. 99 FIGURA 22 Objetivos dos Centros de Competência p. 103 FIGURA 23 Estrutura do Modelo de governança p. 105 FIGURA 24 Metodologia de detalhamento e acompanhamento das iniciativas p. 106 FIGURA 25 IoT e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) p. 107 FIGURA 26 Tabela de termos ‘guarda-chuva’ sobre Cidades Inteligentes p. 121 FIGURA 27 Quadro de autores e suas definições do termo Cidades Inteligentes p. 124 FIGURA 28 Eixos de Oportunidades e Desafios nos Municípios p. 132 FIGURA 29 Desafios para Cidades Inteligentes nos EUA no eixo Mobilidade p. 132 FIGURA 30 Práticas de planejamento e seleção de projetos de Cidades Inteligentes p. 138 FIGURA 31 Arquitetura da inserção das TICs em Cidades Inteligentes p. 141 FIGURA 32 Exemplos de aplicações de IoT para Cidades Inteligentes p. 141 FIGURA 33 Passos para Plano de Implementação de soluções de IoT para Cidades Inteligentes p. 145 FIGURA 34 Comparação do Ranking Connected Smart Cities 2020 e 2019 p. 154 LISTA DE SIGLAS 2G Segunda geração de rede de celular 3G Terceira geração de internet móvel 4G Quarta geração de internet móvel 5G Quinta geração de internet móvel ABCI Associação Brasileira Científica para Inovação ABDI Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial ABES Associação Brasileira das Empresas de Software ABESE Associação Brasileira das Empresas de Sistemas Eletrônicos de Segurança ABII Associação Brasileira de Internet Industrial ABINC Associação Brasileira de Internet das Coisas ABINEE Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica ABISEMI Associação Brasileira da Indústria de Semicondutores ABIT Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção ABM Associação Brasileira de Municípios ABRAP Associação Brasileira de Prefeituras ABRINT Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações ACATE Associação Catarinense de Tecnologia AI Artificial Intelligence AIOTI Alliance for Internet of Things Innovation ou Aliança para Inovação da Internet das Coisas ANATEL Agência Nacional de Telecomunicações ANDUS Agenda Nacional de Desenvolvimento Urbano Sustentável ANFAVEA Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores ANPD Autoridade Nacional de Proteção de Dados ANTAQ Agência Nacional de Transportes Aquaviários APEX Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos API Interfaces de Programação de Aplicações BA Bahia BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BRASSCOM Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação BRT Bus Rapid Transit ou Ônibus de Trânsito Rápido BSA Business Software Alliance ou Aliança de Software Comerciais CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CAP Metro Capital Metropolitan Transportation Authority CE Ceará CEIC Centro Integrado de Comando CERTI Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras CESAR Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife CETIC.br Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação CETUC/PUC-RJ Centro de Estudos em Telecomunicações CGI.br Comitê Gestor da Internet no Brasil CIMI Cities in Motion Index ou Índice de Cidades em Ação CNPQ Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNI Confederação Nacional da Indústria CNA Confederação Nacional da Agricultura CNC Confederação Nacional do Comércio ConTIC Confederação Nacional da Tecnologia da Informação e Comunicação COR Centro de Operações Rio CPqD Fundação Centro de Pesquisa e Desenvolvimento CTI Centro de Tecnologia da Informação DSL Digital Subscriber Line ou Linha Digital de Assinante DSRC Dedicated Short Range Communications ou Comunicação Dedicada de Curto Alcance EIP-SCC European Innovation Partnership on Smart Cities and Communities ou Parceira Europeia de Inovação em Cidades e Comunidades Inteligentes EMBRAPII Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária EPL Empresa de Planejamento e Logística S.A. EPC Electronic Product Code ou Código eletrônico do produto ETSI European Telecommunications Standards Institute ou Instituto Europeu de Padrões de Telecomunicações EUA Estados Unidos da América FEP Fundo de Estruturação de Projetos FIESC Observatório da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina FINATEL Fundação Instituto Nacional de Telecomunicações FINEP Financiadora de Estudos e Projetos FISTEL Fundo de Fiscalização das Telecomunicações FITEC Fundação para Inovações Tecnológicas FNP Frente Nacional de Prefeitos FUNTTEL Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações GIZ Agência de Cooperação Alemã GS1 Brasil Associação Brasileira de Automação GSMA Brasil Groupe Speciale Mobile Association ou Associação do Sistema Global de Comunicação Móvel H2M human-to-machine ou Humano-máquina HCFMUSP Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP HCI Human-Computer Interaction HF High Frequency ou Alta frequência IA Inteligência Artificial IaaS Infrastructure as a Services ou Infraestrutura como um serviço IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBSG Cisco Internet Business Solutions Group ou Grupo Cisco de Soluções para Internet ICI Instituto das Cidades Inteligentes ICT Instituto de Ciência e Tecnologia ID Identificação IDEC Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor IEC International Electrotechnical Commission ou Comissão Internacional Eletrotécnica IEEE Institute of Electrical and Electronic Engineers ou Instituto de Engenheiros Eletrotécnicos e Eletrônicos IESE Instituto de Estudos Superiores da Empresa IHC Interação Humano-Computador IIN Illinois Innovation Network ou Rede de Inovação de Illinois INATEL Instituto Nacional de Telecomunicações INMETRO Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia IoE Internet of Everything ou Internet de Todas as Coisas IoT Internet of Things ou Internet das Coisas IP Internet Protocol ou Protocolo de internet IQM Índice de Qualidade Mercadológica ISO International Organization of Standardization ou Organização Internacional de Padronização ITU International Telecommunication Union ou União Internacional de Telecomunicação LAN Local Area Network ou Rede de área local LARC Laboratório Nacional de Redes de Computadores LF Low Frequency ou Baixa frequência LGPD Lei Geral de Proteção de Dados LGT Lei Geral de Telecomunicações LPWAN Low Power Wide Area Networks ou Redes de área ampla e baixa potência LSI-TEC Laboratório de Sistemas Integráveis Tecnológico M2M Máquina a máquina MAC Media Access Control ou Controle de acesso ao meio MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MBC Movimento Brasil Competitivo MC ou MCom Ministério das Comunicações MCID Ministério das Cidades MCTIC Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações MCTI Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações MD Ministério da Defesa MDIC Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços MDR Ministério do Desenvolvimento Regional ME Ministério da Economia MEI Microempreendedor Individual MG Minas Gerais MIT Massachusetts Institute of Technology ou Instituto de Tecnologia de Massachussets MP Medida provisória ou Ministério Público MPDG Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão MRE Ministério das Relações Exteriores MS Ministério da Saúde MT Mato Grosso MTPA Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil NFC Near Field Communication ou Comunicação de curto alcance NLU Natural Language Understanding ou Entendmento de Linguagem Natural QoS Quality of Service ou Qualidade do Serviço ODS Objetivos de Desenvolvimento Sustentável ONG Organização não-governamental ONU Organização das Nações Unidas P2P Person-to-person ou pessoa-a-pessoa P&D Pesquisa e desenvolvimento PaaS Platform as a Service ou Plataforma como um serviço PAN Personal Area Networks ou Rede de Área pessoal PDSE Programa Doutorado Sanduíche no Exterior PE Pernambuco PECCI Plano Estratégico Campinas Cidade Inteligente PHY Physical Layer ou Camada física PIB Produto Interno Bruto PIN Personal Identification Number ou Número de Identificação Pessoal PINTEC Pesquisa de Inovação PL Projeto de Lei PLV Projeto de Lei de Conversão PMO Proposta de Estrutura de Monitoramento PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios PNDU Política Nacional de Desenvolvimento Urbano PNIoT Plano Nacional de Internet das Coisas POS Ponto de venda PPP Parceria público-privada PUC Pontifícia Universidade Católica RBCIH Rede Brasileira de Cidades Inteligentes e Humanas Rede CHICS Rede Brasileira de Cidades Humanas, Inteligentes, Criativas e Sustentáveis RF Rádio Frequência RFID Radio Frequency Identification ou Identificação de Rádio Frequência RJ Rio de Janeiro RNP Rede Nacional de Ensino e Pesquisa SaaS Software as a Service ou Software como um serviço SBC Sociedade Brasileira de Computação SBMICRO Sociedade Brasileira de Microeletrônica SEPOD Secretaria de Políticas Digitais SETEL Secretaria de Telecomunicações SGDC Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas SINDITELEBRASIL Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel Celular e Pessoal SINDISAT Sindicato Nacional das Empresas de Telecomunicações por Satélite SINIAV Sistema Nacional de Identificação Automática de Veículos SMDRU/MDR Secretaria Nacional de Mobilidade e Desenvolvimento Regional e Urbano do Ministério do Desenvolvimento Regional SMS Short Message Service ou Serviço de Mensagem Curta SOFTEX Associação para Promoção da Excelência do Software Brasileiro SP São Paulo SSC-MM Smart Sustainable City Maturity Model ou Modelo de Maturidade de Cidade Inteligente Sustentável TCP/IP Transmission Control Protocol/Internet Protocol ou Protocolo de Controle de Transmissão/Protocolo de Internet TFF Taxa de Fiscalização de Funcionamento TFI Taxa de Fiscalização de Instalação TIC Tecnologias da Informação e Comunicação TV Televisão TX Texas U4SSC United for Smart Sustainable Cities ou União para Cidade Inteligente Sustentável UE União Europeia UFPE Universidade Federal de Pernambuco UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro UHF Ultra High Frequency ou Ultra alta frequência UIT União Internacional de Telecomunicações UK United Kingdom ou Reino Unido UnB Universidade de Brasília UNESP Universidade Estadual Paulista ‘Júlio de Mesquita Filho’ UNICAMP Universidade Estadual de Campinas USP Universidade de São Paulo UT University of Texas at Austin UTCAL Utilities Telecom & Technology Council America Latina ou Conselho de Tecnologia e Serviços de Telecomunicação da América Latina WLAN Wireless Local Area Network ou Rede de área local sem fio WSN Wireless Sensor Networks ou Redes de sensores sem fio WWW World Wide Web ou Rede Mundial de Computadores 22 1. INTRODUÇÃO Na sociedade contemporânea, a evolução das tecnologias de informação e comunicação vem contribuindo para mudar os modos de vida, as culturas e as formas de intervenção social. Uma vez havendo a decisão de colocar essas tecnologias a serviço da população e, por meio delas, dar acesso às informações, às culturas, à educação etc., elas desempenham papel primordial no desenvolvimento social e da cidadania (PERUZZO, 2007, p. 51). A Internet das Coisas, ou IoT, sigla do inglês Internet of Things, termo cunhado por Kevin Ashton, em 1999, não pode ser considerada apenas uma revolução para as áreas industriais, mas uma confluência de tecnologias e ferramentas que proporciona a interatividade entre dispositivos e pessoas de forma facilitada, quase que sensorial. Consequentemente, a produção de informações através da interatividade produzida é ampliada, gerando um montante imensurável de dados a serem analisados e, se, ou quando, possível, transformados em ações. Possibilitada pela conexão máquina a máquina (M2M) e a internet, produz-se probabilidades de automação de serviços em todas as áreas de atuação, gerando saídas para problemas típicos, como por exemplo, das cidades. Através da aplicação de sensores, em conjunto a tecnologia de geolocalização, cria-se uma malha inteligente, formada por redes comunicacionais, capazes de transmitir dados a serem analisados e devolvidos a terminais no formato de ações e soluções para as adversidades enfrentadas, tais como o congestionamento, a ruptura de tubulações de água e esgoto, quedas de energia, acidentes nas malhas metroviárias, ferroviárias e/ou rodoviárias etc. Neste sentido, a implantação da IoT no Brasil proporciona uma análise e uma aplicação sobre as novas potencialidades de comunicação entre os meios, máquinas e ‘coisas’, e os seres humanos, através de novos aparatos tecnológicos, sejam aplicações, plataformas de conversação, sensores de movimento e de presença, smartphones, entre outros, e da comunicação M2M permitindo novas utilizações, como na criação e gestão de Cidades Inteligentes, área considerada prioritária pelo Estudo IoT desenvolvido pelo Brasil. Por meio da análise de estruturas de modelos de Cidades Inteligentes, que estão sendo desenvolvidas no mundo, a fim de produzir um modelo de inovação para o Brasil, o governo federal, através do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicação (MCTIC), em parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) desenvolveu um estudo para diagnosticar e elencar ações a serem desenvolvidas em um Plano de Ação, com aplicação de 2018 até 2022, para a promoção da implantação de uso e criação de inovações tecnológicas de IoT no país. 23 Com isto, como um dos desígnios da pesquisa, a tese busca investigar se tais definições são abrangentes, visto as diferenças entre as cidades do Brasil, devido sua área territorial, a formação de sua população, as diferenças socioeconômicas, culturais, políticas, ambientais, entre outras. Seguindo as premissas do Plano Nacional de Internet das Coisas (PNIoT) e suas políticas públicas a serem desenvolvidas, que no caso das Cidades Inteligentes tem como objetivo elevar a qualidade de vida por meio da adoção de tecnologias e práticas que viabilizem a gestão integrada dos serviços para o cidadão, a melhoria da mobilidade, da segurança pública e da gestão dos recursos, tais como energia, esgoto e resíduos, bem como ficando de acordo com as quatro áreas que demandam ações importantes para a evolução da IoT no país: capital humano; inovação e inserção internacional; infraestrutura de conectividade e interoperabilidade e, regulatório, segurança e privacidade, investigou-se as iniciativas em andamento, como também as possibilidades de uso da tecnologia para a resolução dos problemas destacados. Assim, analisar as tecnologias interativas nestes cenários, abrangendo as ferramentas de comunicação e sua utilização nas Cidades Inteligentes, do mesmo modo que os problemas relativos à padronização dos dispositivos e sua comunicação, possibilita não só a compreensão das potencialidades de uso da IoT no Brasil, como se torna relevante para que se responda a pergunta: ‘De que maneira a IoT pode potencializar novos processos interativos no cenário comunicativo brasileiro das Cidades Inteligentes?’. Há diversas questões a serem resolvidas para a implantação da IoT e a criação de Cidades Inteligentes no Brasil, como a problemática da criação da tecnologia de forma nacional para diminuição dos custos com equipamentos e software, seja através de consórcios e/ou convênios internacionais de auxílio e cooperação; a produção dos equipamentos necessários e sua instalação; a capacitação e ampliação da mão de obra necessária, através de políticas públicas educacionais e incentivos às empresas para a atualização de pessoal e contratação de mão de obra específica, aqui verificando quais os possíveis impactos dessas mudanças na sociedade, seja gerando um aumento de empregos ou considerando possíveis níveis de desemprego, devido a automação; entre uma série de fatores que influenciam diretamente a iniciativa, debatidas no decorrer dos capítulos. Sobre a comunicação na rede de IoT, também há dúvidas a serem esclarecidas, dentre as quais: Como esta será realizada? Uma vez que, deverá haver uma padronização dos equipamentos para que todos atuem em conjunto, interligados, e que consigam conversar entre si, para possibilitar a formação da rede IoT. Hoje, ainda, de maneira geral, cada fabricante 24 trabalha em uma frequência, estabelecendo conexões apenas entre os aparelhos que produz, inviabilizando, muitas vezes, os processos interativos e de comunicação em rede. Com isto, estudar a IoT é, de fato, relevante para o país, visto que o ganho esperado da introdução de novos equipamentos e/ou soluções serão capazes de fornecer conforto e segurança, dentre outros recursos necessários, e tão escassos atualmente, aos cidadão, como ainda, ampliar o mercado de trabalho e possibilitar que o Brasil esteja entre os principais produtores da tecnologia no mundo. Entendemos que a abordagem da temática compreende que as cidades são lugares onde as pessoas vivem, desfrutam e trabalham e as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) podem proporcionar um aumento da qualidade de vida da população. Assim, além de ser um tema em curso atual, e com possibilidades de mudanças que irão refletir no cenário brasileiro, o objeto de pesquisa é de grande importância na implantação satisfatória das Cidades Inteligentes. Desta forma, a relevância do estudo se confere devido seu ineditismo, principalmente no que tange a área de comunicação, e ao pouco material teórico publicado sobre o tema pesquisado, contendo apenas estudos iniciais sobre a temática nas áreas de Informática e de Engenharias de Software. Pois, fora abarcar a área da interdisciplinaridade, foca a comunicação dentro dos sistemas de informação e automação, promovendo uma melhor compreensão da tecnologia que em visão mais genérica estaria situada apenas nos campos técnicos da funcionalidade. Com tal característica, neste capítulo trataremos de forma mais aprofundada a metodologia a ser empregada em toda a pesquisa, com detalhamento de sua argumentação teórica, autores e demais estudos utilizados, proporcionando assim um embasamento, além da demonstração do estado da arte na pesquisa de tecnologia e inovação do tema abordado na tese. O objetivo principal é analisar questões pertinentes ao estudo de fenômenos comunicacionais interacionais e as tecnologias inovadoras da Internet das Coisas, na perspectiva das Cidades Inteligentes. Sob o subtítulo de “A comunicação nos processos interativos das Cidades Inteligentes” busca-se analisar, com base em iniciativas para soluções de IoT a serem, ou, implantadas nas Cidades, tornando-as, como vem sendo denominadas “inteligentes”, se tais métodos, como projetados, trazem benefícios reais para a população que nela vive. Conhecer as tecnologias e seus usos, compreender as significações, estabelecer conexões e relações entre diversas áreas de estudos, unindo-as em um objeto central, criando algo inovador, às vezes relacionado como denominado por alguns estudiosos como um avanço 25 que levará a etapa final antes da “última invenção que a humanidade precisará fazer” (BOSTROM, 2015), além de analisar e comparar sua aplicabilidade em diversos contextos, é muitas vezes assustador, mas instigante. Para tal trabalho, são necessários diversos meios, técnicas e métodos, descritos a seguir. 1.1. REFERENCIAL METODOLÓGICO Por ser uma temática bastante inovadora e que traz muitas questões que precisam de respostas, a metodologia utilizada na tese se apresenta de forma aberta, sendo desenvolvida com base na construção teórica, em reflexões críticas, desenhadas a partir do diálogo multidisciplinar com diversos autores, seguindo as inovações do mercado e os resultados das pesquisas realizadas. Muniz Sodré em seu livro, A ciência do comum (2014) diz que “[...] o processo de geração do conhecimento começa não apenas no observador, mas também na ponta do objeto” (p. 292). À vista disso, por a pesquisa abarcar um tema ainda em construção, especialmente no que se refere ao processo de implantação da tecnologia, e aos projetos de inovação contidos no PNIoT, é necessário uma mescla de métodos e técnicas para abrigar todas as oportunidades de coleta, sistematização e análise do material trabalhado. Partindo da pesquisa exploratória, bibliográfica e documental, que permitiram os levantamentos iniciais de dados e a compreensão do estágio de desenvolvimento tecnológico no atual cenário mundial e brasileiro, escopo da pesquisa, diversos métodos de coletas, como buscas em bases de dados, leituras dirigidas, acompanhamento de jornais, revistas e meios especializados nas temáticas, ofereceram conhecimentos fundamentais sobre o estado da arte de conceitos básicos da pesquisa, tais como: Internet das Coisas (IoT), Cidades Inteligentes, Plataformas de conversação, inovação tecnológica, ecologias – dos meios, da comunicação, humana, entre outros necessários, a serem acrescentados no decorrer da pesquisa. Logo, para a conceituação da IoT, uma revisão bibliográfica junto as áreas das engenharias e da informática se fizeram necessária, para uma melhor compreensão das ferramentas da TICs envolvidas, sua estrutura e funcionamento. Entendemos que, compreender a tecnologia em suas utilizações, através das interações e interatividades produzidas por esta, é como apreender o novo sentido das comunicações na sociedade moderna, digital e em rede, que vivemos. Assim, concluímos que não basta apenas estudar a tecnologia ou o grupo que se utiliza 26 desta, mas analisar todo o ecossistema a qual ela está presente, considerando as implicações para usuários e não usuários. Nesse ponto, vale lembrar as reflexões de Raquel Recuero (2010): As pessoas adaptaram-se aos novos tempos, utilizando a rede para formar novos padrões de interação e criando novas formas de sociabilidade e novas organizações sociais. Como essas formas de adaptação e auto-organização são baseadas em interação e comunicação, é preciso que exista circularidade nessas informações, para que os processos sociais coletivos possam manter a estrutura social e as interações possam continuar acontecendo. Como a comunicação mediada por computador proporciona que essas interações sejam transportadas a um novo espaço, o ciberespaço, novas estruturas sociais e grupos que não poderiam interagir livremente tendem a surgir. (RECUERO, 2010, p. 89) Desta maneira, os usuários dessas tecnologias não são apenas utilizadores, mas também criadores, que pensam sobre o mundo e suas transformações, e por terem a possibilidade de assumir o controle da produção de informações, também passaram a ter controle sobre a produção de bens, serviços, cultura e agora, das cidades. Harold Innis, em The Bias of Communication (1951), discute as mudanças sociais decorrentes da introdução de uma nova tecnologia em uma cultura, fazendo referência ao poder acumulado por aqueles que detêm o saber especializado para controlar seu funcionamento. O autor afirma que o poder se desloca entre as mãos, na medida em que o grupo que dominava um conhecimento tradicional é deposto por outro que têm acesso ao saber especializado da nova tecnologia. Assim, ‘monopólios do conhecimento’ são erguidos e derrubados, distribuindo de modo desigual os inevitáveis ônus e bônus da implementação de determinado recurso tecnológico. Isto posto, pretendemos equalizar a balança do conhecimento, compreendendo melhor a temática proposta sob o viés da comunicação, para que esse campo não seja subjugado por outros e que possa contribuir, com seu repertório conceitual, com os processos de inovação tecnológica. Outro grande representante da Escola de Toronto, o pesquisador Marshall McLuhan, traz em sua reflexão, “o meio é a mensagem”, que existe uma ideologia na própria tecnologia que permite a veiculação do conteúdo, que o condiciona e o formata, fazendo com que a separação entre a tecnologia e seus conteúdos, passe a ser questionável. O autor define os meios como ambientes comunicacionais a partir dos quais é possível situar as interações, dentro de uma perspectiva evolutiva da comunicação. Fazendo com que, com o advento da internet, seja revisitado e comumente utilizado com frequência, na busca de se explicar alguns fenômenos 27 atuais da sociedade em rede1, como por exemplo, as interatividades possibilitadas pela internet; bem como, através de suas descrições de “aldeia global”, também muito utilizada para uma primeira contextualização de globalidade X localidade, onde em uma perspectiva ampliada, acaba por formar o que alguns autores denominam por glocal2. As Cidades Inteligentes são tratadas com base em diversos autores e pesquisadores, destacando inicialmente Moutinho (2010) em, Das Cidades Digitais às Cidades Inteligentes’, Caragliu et al. (2009) em, Smart cities in Europe, Cidades Inteligentes – por que, para quem?, organizado por Santaella (2016), dentre outros estudos da área de comunicação, informática, engenharias e design, sendo seu conceito debatido no capítulo homônimo. Bem como as plataformas de conversação que trazem outros desafios, pois englobam todas as áreas citadas, principalmente a informática e a engenharia de software, sendo exploradas no que tange às iniciativas em funcionamento de IoT nas cidades brasileiras, em conjunto as experiências vividas no intercâmbio. Ainda, outros conceitos que integram o repertório da tese, como da ‘cibercultura’, diante dos usos e possibilidades em informação e comunicação na Internet; o de ‘aldeia global’ de McLuhan (1969), que retorna frente a sua confluência com o atual momento tecnológico; da sociedade midiática, agora em rede, que vive uma nova ecologia midiática, com espaços virtuais que oferecem a participação social na construção e circulação de conteúdos; das teorias de ‘Ecologia da Comunicação’ e ‘Nova Ecologia dos Meios’, através do debate dos efeitos da tecnologia neste ambiente comunicacional atual; de interação e da interatividade, bem como a própria história da criação da internet e web, entre outras conceituações, denominações e teorias, que perpassam objetos amplamente estudados por pesquisadores, inclusive a própria autora, são assim amparados em trabalhados aprofundados onde são objetos centrais na pesquisa, como também são tratados, ainda que de forma explicativa, no decorrer da tese. Consequentemente, por perpassar diversas áreas do conhecimento, o referencial teórico da pesquisa encontra-se em fase constante de definição, principalmente por se tratar do estudo de tecnologias e de inovação, ainda em fase de criação, experimentação e desenvolvimento, como é o caso das Cidades Inteligentes e dos ecossistemas de IoT. Acreditamos que nosso principal amparo é o Estudo “Internet das Coisas: um plano de ação para o Brasil” (2017), desenvolvido por um consórcio formado entre a empresa de 1 Em referência a Castells (2013), em A Sociedade em Rede. 2 A união do local com o global, derrubando fronteiras e possibilitando não só o comércio e a comunicação entre pessoas há quilômetros de distância, mas também a troca de experiências e culturas. Podemos dizer também que a internet, através de seu ciberespaço possibilitou o movimento de universalização. Para saber mais, ler o capítulo 5 de Pierre Levy, em Cibercultura (1999). 28 consultoria McKinsey Global Institute, a Fundação Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD) e o escritório de advocacia Pereira Neto Macedo Advogados, que teve como objetivo, além de diagnosticar, igualmente propor políticas públicas para o funcionamento da tecnologia no país. Sendo utilizado na comparação e análise, com os dados coletados, para proposição dos questionamentos das políticas públicas a serem implantadas. Outra importante fonte de dados, foi a realização de um intercâmbio, financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), através do Programa Doutorado Sanduíche no Exterior (PDSE), no período de novembro de 2019 à maio de 2020, para a cidade de Austin, Texas, Estados Unidos (EUA), considerada uma Cidade Inteligente, ainda que em processo de implantação, como forma de verificação da resolução dos problemas encontrados e enfrentados nesta construção, além da observação participativa do uso das plataformas de conversação existentes e da comunicação tecnológica e inovadora realizada no ambiente da tecnologia, como forma de análise de dados para uma possível implantação desta no cenário brasileiro. Sobre a metodologia utilizada, nos embasamos na afirmação de Gobbi (2010, p. 21) de que atualmente os cenários comunicativos são amplos e diversificados, e que as condições de produção, circulação e a recepção de mensagens se alteraram de forma rápida. Esse movimento, especialmente no campo comunicacional, oferece a “[...] possibilidade de desenvolvimento de novas potencialidades acopladas ao uso das tecnologias”. Assim, para atender à crescente demanda de outras “[...] formas de dimensionar, estudar e analisar o processo comunicativo, definindo metodologias (métodos e técnicas) capazes de acolher, sistematizar e responder a ‘problemas concretos’, perpassando os métodos já conhecidos” (GOBBI, 2010, p. 21-22) optamos pela perspectiva da Transmetodologia descrita por Maldonado (2010), que “[...] fortalecendo-se de conhecimentos teóricos formulados na linha comunicacional transdisciplinar”, traz outras proposições para dimensionar o processo comunicativo permeado pelas tecnologias. A escolha do método transmetodológico foi feita a partir da premissa que a investigação científica do corpus possui um caráter interdisciplinar, abordando a área de comunicação, assim como é proveniente das áreas tecnológicas e de inovação, informática e engenharias, além da sociologia e política, necessitando assim de uma confluência de múltiplos métodos, para atender aos objetivos propostos. Essa articulação cooperativa entre métodos provenientes de vários campos de conhecimento, e de várias perspectivas dentro dos mesmos campos, leva a uma 29 exigência epistemológica de reconfiguração, atravessamento, desenho complexo, articulação, reformulação e aprofundamento dos desenhos e estratégias de investigação. (MALDONADO, 2008, p. 8). Sob esta perspectiva, a interdisciplinaridade proposta, apresenta possibilidades de convergência entre as áreas, a partir de seus pontos de intersecção: a comunicação. Tais pontos se apresentam tanto na estrutura conceitual, como no desenvolvimento metodológico do objeto, em sua estrutura relacional e socializadora, na qual estão inseridas as plataformas que permeiam o cotidiano dos indivíduos e o mundo no qual estão inseridas, as Cidades Inteligentes, como propõem as tecnologias de IoT. Os resultados têm em vista compreender a importância da utilização da IoT, e seu papel na sociedade, considerando que vivemos um período de profundas e significativas transformações comunicacionais mediadas por novas tecnologias, fruto da inovação, no qual a internet demonstra um papel fundamental no processo. 1.1.1. Nova Ecologia dos Meios Relacionada a teoria da comunicação da Escola de Toronto, a Nova Ecologia dos Meios, proposta por Neil Postman, visa compreender os meios de comunicação como ambientes da ação humana, incluindo as dimensões materiais, históricas, econômicas e interacionais dos processos comunicacionais em suas investigações, apresentando-se, desta forma, como uma contribuição teórica promissora para o estudo de fenômenos do campo da comunicação em geral, sendo abordada como base para a contextualização das mudanças da sociedade e suas adaptações comunicacionais. Postman cria o termo ‘ecologia dos meios’3 em 1970. E evidencia como os "(...) meios de comunicação afetam a percepção humana, a compreensão, os sentimentos e os valores", alertando para que a pesquisa contemple o humanismo da ecologia dos meios (SCOLARI, 2015, p. 97-98). O autor define que Um ambiente é, afinal de contas, um sistema de mensagens complexo que impõe aos seres humanos certas maneiras de pensar, sentir e se comportar. • ele estrutura o que podemos ver e dizer e, portanto, fazer; • ele nos atribui papéis e insiste em que os desempenhemos; • ele especifica o que nos é permitido fazer e o que não é. No caso dos ambientes de mídia (p. ex. livros, rádio, filmes, televisão etc.), as especificações são mais frequentemente implícitas e informais, semiocultas por nossa premissa de que o que estamos lidando não é um ambiente, mas apenas uma máquina. 3 Disponível em: http://www.media-ecology.org/media_ecology/index.html. Acesso em: 15 de jan. de 2018. 30 A ecologia da mídia busca tornar estas especificações explícitas. (POSTMAN, 2000, web)4 Seguindo esse viés, propõe uma reflexão sobre a tecnologia e seus dois lados, em seu livro Tecnopólio (1994), debatendo o efeito bilateral de qualquer inovação tecnológica, que tanto é fardo quanto é graça, reafirmando sua convicção e demonstrando que não seria possível uma tecnologia neutra, na medida em que seus usos são condicionados, em grande parte, pela própria tecnologia, que introduz uma estrutura própria: O telégrafo e o jornal diário mudaram o que antes chamávamos de ‘informação’. A televisão muda o que antes chamávamos de ‘debate político’, ‘notícia’ e ‘opinião pública’. O computador muda a ‘informação’ mais uma vez. A escrita mudou o que antes chamávamos de ‘verdade’ e ‘lei’; a imprensa mudou-as mais uma vez e agora a televisão e o computador tornam a mudá-las. (...) a tecnologia se apodera imperiosamente de nossa terminologia mais importante. Ela redefine ‘liberdade’, ‘verdade’, ‘inteligência’, ‘fato’, ‘sabedoria’, ‘memória’, ‘história’ – todas as palavras com que vivemos. E ela não para para nos contar. E nós não paramos para perguntar (POSTMAN, 1994, p. 18). No mesmo sentido, Scolari (2015) ao estudar McLuhan (1964), em sua afirmação “o meio é a mensagem”, apresenta duas possíveis interpretações para tal aforismo. Na primeira, mais generalista, sugere que as tecnologias de comunicação “geram ambientes que afetam aos sujeitos que as utilizam” (SCOLARI, 2015, p. 29), sendo uma visão influenciada por McLuhan sobre meios e cognição, onde este defende que, sem perceber e sem resistência, os sujeitos são alterados pelos meios nos níveis de percepção e cognição do homem. Tal visão pode ser transportada para os dias atuais, e futuros, na perspectiva das Cidades Inteligentes, onde ambientes gerados e movidos pelas TICs, geram fluxos comunicacionais que produzem dados que alimentam esses ambientes, alterando-os ou fazendo sua manutenção. Assim, os seres humanos são fortemente influenciados e, quase que obrigados, a se utilizarem de tais meios para sua comunicação e vivência. Tais iniciativas, geram modificações nas formas de viver e pensar de toda a sociedade. Já a segunda interpretação estabelece a relação entre os próprios meios de comunicação, explicando a influência de uns sobre os outros, como em uma evolução, onde o primeiro agrega características do segundo, as modifica e realiza melhoramentos ou ampliações de suas propriedades, citando exemplos como do papiro versus a pedra, do rádio versus o jornal e da internet versus a televisão. Podemos destacar ainda os avanços tecnológicos do surgimento da internet e seus aparatos, ou mesmo a própria internet em si, com todas as suas modificações 4 Disponível em: www.media-ecology.org. Acesso em: 02 de out. de 2017. 31 através da perspectiva de Castells, em A sociedade em Rede (2013), onde o autor faz uma análise do período de criação da internet, com sua utilização para troca de pacotes e informações, de maneira estática e sem interatividade, conhecido como Web 1.0, que se estende até o início da década de 2000, quando se inicia o processo de alteração da forma de utilização da rede. Cabral Filho e Coutinho (2009), ao investigar os avanços da internet, destacam que a “mudança não refere apenas as tecnologias utilizadas, mas na forma de circulação do conteúdo e como ele é alterado pelos usuários” (p. 82), como podemos observar a partir dos anos 2000 e da popularização da internet, com o aumento do número de usuários, onde se começa a utilizar as ferramentas de interatividade, modificando assim profundamente as formas e processos comunicacionais dos meios de comunicação tradicionais5. A ‘aldeia global’ de McLuhan (1959)6 passa a viver uma nova ecologia midiática com espaços virtuais que oferecem a participação social na construção e circulação de conteúdos e processos. Neste cenário, Postman também ressalta o surgimento dos grupos de elite e as mudanças no comando do poder, ao revisitar os estudos de Innis (1951), o autor destaca que a aparição dos grupos de elite se dá devido a capacidade de seus integrantes no uso da tecnologia, ocasionando também o aparecimento do grupo dos “incompetentes”, ou seja, daqueles que não detêm o conhecimento da tecnologia, sendo manipulados e estando subordinados aos grupos dominantes. Além de questionar agora os hábitos e o que a sociedade entende por verdade e por necessário. Neste sentido, ressaltamos a sociedade atual e a abertura encontrada por alguns grupos para se manifestarem e ganharem voz através da internet e das redes sociais. Podemos convencionar que a internet possibilitou a mudança de padrões estabelecidos, como os de produtores e consumidores, atribuindo a todos que a acessam esses status. Também podemos destacar o ganho de espaço conseguido por certas minorias, que agora conseguem evidenciar suas lutas para ser ouvidas, como a luta pelo preconceito racial, a discriminação social, étnica, sexual e mesmo a luta pelos direitos das mulheres. Ainda sobre a tecnologia, em seus estudos, podemos acompanhar as considerações que Postman faz a respeito das ferramentas tecnológicas, observando que estas carregam um viés ideológico, objetivando a construção de uma ideia de mundo específica, ou seja, de seu mundo 5 Para saber mais sobre a história da Internet e os conceitos de interação e interatividade, ler: BERNARDINI, Gleice. A segunda tela da TV Digital brasileira (2015). (Dissertação de Mestrado). 6 A expressão “aldeia global” foi descrita em 1959, e aparece em seu livro A Galáxia de Gutenberg, de 1962. (Nota da autora). 32 ideal, através da valorização de certas particularidades acima de outras. Neste sentindo, o autor se aproxima de McLuhan, e de sua afirmação “o meio é a mensagem”. Podemos dizer que para os autores, tal afirmação desmascara a tecnologia, revelando o modo como o homem lida com a natureza, pois, ao proporcionar novas maneiras de relacionamento, esta, não é apenas um transmissor ou veículo da mensagem, mas sim criador e objeto responsável pelas alterações. E prossegue, afirmando que nem mesmo o inventor da tecnologia possui o poder de se prever qual uso será feito de sua criação, ou quais as alterações relacionadas a ela poderão ser geradas. Podemos dizer que o criador possui suas intenções ao produzir a nova invenção, contudo após a sua geração, não detêm mais nenhum poder sobre ela, nem mesmo se as intenções iniciais serão concretizadas. Frente a este cenário, de incertezas diante do futuro, destacamos que os estudiosos da Nova Ecologia dos Meios focalizam seus esforços, muito mais nas alterações resultantes do surgimento das tecnologias, na medida em que estas “alteram a estrutura de nossos interesses: as coisas sobre as quais pensamos. Alteram o caráter de nossos símbolos: as coisas com que pensamos. E alteram a natureza da comunidade: a arena na qual os pensamentos se desenvolvem” (POSTMAN, 1994, p. 29), em um fenômeno chamado pelo autor de tecnopólio, muito mais do que os efeitos provocados pela comunicação resultantes destas tecnologias. Em seus estudos, Neil Postman faz conjuntamente uma análise sobre a aceitação exacerbada da tecnologia, como algo superior ao pensamento humano, proclamado que quando se perde a confiança no julgamento e na subjetividade humana, corre-se o risco de desvalorizar também a capacidade de se ter uma visão abrangente sobre as coisas em suas dimensões psíquicas, morais e afetivas, pois esta fora substituída pela crença no cálculo técnico, ou seja, na ilusão da perfeição da máquina. Considerando esse novo momento social, onde os cidadãos, são denominados por Dan Gillmor (2005) como seres-meio e que têm voz ativa nos processos comunicacionais, se tornando não mais agentes passivos e consumidores, mas prosumers, como define Alvin Tofler (1980), podemos acompanhar essa troca de papéis, de grupos líderes da comunicação e detenção do uso das tecnologias. Temos conjuntamente a possibilidade de visualização de como as interações e interatividades presentes no uso das novas tecnologias ampliam as formas de comunicação atual, criando não somente novos grupos de elite, mas diminuindo as distâncias entre os grupos existentes, através da abertura de novos espaços para as novas vozes. Portanto, a Nova Ecologia dos Meios, mesmo se tratando de uma corrente teórica recente e generalista (SCOLARI, 2015, p. 17), que observa a relação existente entre os meios e 33 a sociedade como um todo, juntamente se ocupa em compreender essas novas formas comunicacionais, agora permeadas por processos interativos. Pois, através desse cenário, compreende-se que a comunicação pode fortalecer ou enfraquecer os traços de uma sociedade. Pode-se, por meio do conceito de aldeia global, verificar que as estruturas midiáticas transformam a sociedade em reféns das classes dominantes, buscando a manipulação dos hábitos, costumes e ideologias de acordo com seus interesses políticos e comerciais. E ademais, acompanhar as lutas da sociedade moderna para a diminuição desta manipulação e a criação de novos espaços de comunicação. Com as mudanças na produção dos conteúdos, alterando linguagens e promovendo questionamentos, através do simples acesso à tecnologia, novas formas de participação e intervenção ocorrem, tais como através das redes sociais, dos dispositivos móveis de acesso à internet e novos aparatos tecnológicos interativos. Neste sentido, Paul Levinson (2012) destaca esta nova fase como um momento que pode ser definido como ‘new new media’7, onde as pessoas se comunicam ativamente através de redes sociais, elevando essas aplicações a um patamar de mídias, no sentindo onde estas são utilizadas não somente para a distribuição de novos conteúdos, mas alteram a estrutura atual, disseminando os canais de produção, quase que em uma homogeneização entre produtores e consumidores. Compreendemos assim que esses novos meios ocupam um papel de novas ‘mídias’ e alteram o cenário de comunicação da sociedade no sentido exposto por Postman e anteriormente explicitado. Tais redes sociais, como formas de comunicação, veiculando, e espalhando, notícias, também são ‘graça e fardo’ por seus papéis de facilitadores no acesso à informação, porém, também desinformam ao divulgar as chamadas fake news8. Além disso, no que diz respeito ao momento comunicacional em que vivemos, surgem novos aparatos pensantes que ampliam ainda mais nossa comunicação, não ficando restrita apenas a produção humana. Através de interações e interatividades9 podemos realizar processos cada vez mais autônomos e personalizados. Em grande escala, essas interatividades e interações entre dispositivos e seres humanos, podem alterar muito mais do que a sociedade, mas fazer nascer uma nova aldeia global, conectada, midiática, comunicacional, onde seres humanos transferem para as máquinas o seu poder pensante, deixando para que estas decidam suas vidas, 7 ‘nova nova mídia’ (Tradução livre), em um sentido de inovação que ultrapassa os novos meios de comunicação de comunicação, ou mesmo, surgidos através deles, como no caso das redes sociais. (Nota da autora). 8 Notícias falsas (Tradução livre). 9 Para saber mais: BERNARDINI (2015). Dissertação de mestrado. 34 podendo tais decisões refletirem coletivamente, alterando as vidas de todos, bem como a sociedade. Ou similarmente, podemos visualizar uma polarização, com a criação não de uma, mas muitas aldeias globais. Na sociedade atual as interações humanas tornam-se mais midiatizadas e abstratas por conta da mediação tecnológica, abrindo novos caminhos para que seja estudada. Assim, a Interação Humano-Computador (IHC)10 busca aportes teóricos em várias disciplinas, tais como a psicologia, a sociologia, a ergonomia, as ciências da computação, as engenharias, principalmente a de software e a inteligência artificial, além da própria comunicação, para conseguir abranger todas as facetas dos processos de interações e interatividades que possam ocorrer, focando também em como estes acontecem, analisando os fatores humanos associados as interfaces dos computadores e considerando aspectos como os níveis de conhecimento, o ambiente de trabalho, a atividade realizada, a satisfação, entre outros. Já considerando a Internet das Coisas, através de sua estrutura que possibilita novas ‘extensões’ da nossa comunicação, através dos dispositivos conectados, esta proporciona maneiras de interações e interatividades diversificadas, ampliando nossos sentidos e, sendo capaz novamente, de alterar o processo comunicacional atual. Porém, para melhor apreender como se dá esse processo, é necessário entender a tecnologia, compreendendo sua definição11. O MCTIC entende que a IoT: É a rede de todos os objetos que se comunicam e interagem de forma autônoma, via internet. Isso permite o monitoramento e o gerenciamento desses dispositivos via software para aumentar a eficiência de sistemas e processos, habilitar novos serviços e melhorar a qualidade de vida das pessoas. As aplicações são diversas e incluem desde o monitoramento de saúde, a automação industrial até o uso de dispositivos pessoais conectados. Estima-se que já existam mais de 15 bilhões de dispositivos conectados em todo o mundo, incluindo smartphones e computadores. A previsão é que, em 2025, esse número possa atingir 35 bilhões de equipamentos. (MCTIC, 2017, web). Desta forma, a tecnologia pode ser considerada um avanço da internet por permitir que não mais, somente, as pessoas estejam conectadas à rede, mas agora também os objetos. Com este novo panorama, nascem novas possibilidades, de automação, de resolução de problemas, de criação de produtos etc., bem como através de novas interatividades modificamos o ambiente ‘sociedade’, já que diversos papéis realizados por humanos agora podem ser atribuídos como tarefas desses novos dispositivos conectados e pensantes, como por exemplo a verificação e manutenção da rede elétrica e/ou de esgoto, para acompanhamento de desperdícios ou 10 Do inglês, Human-Computer Interaction – HCI 11 A conceitualização completa é feita no Cap. 2 – Conceitos Fundamentais. 35 problemas de abastecimento, controlando e desafogando o trânsito, através de ajustes no tempo de abertura dos semáforos e monitoramento do tráfego em horários de pico, medidores de poluição, qualidade do ar, temperatura e luminosidade, que podem auxiliar na diminuição dos custos com energia pública através do acompanhamento dos movimentos de carros e pedestres, além de medidas nas áreas de saúde, como o acompanhamento médico de grávidas, pessoas idosas ou com doenças crônicas, por exemplo.12 No mesmo sentido, no ecossistema da Internet das Coisas, uma das vertentes possíveis a serem analisadas, é a criação e implantação do ecossistema das Cidades Inteligentes, pois, o fluxo de comunicação produzido pela IoT e dos aparatos tecnológicos da internet modificam imensamente a dinâmica atual da cidade, alterando ‘verdades’ e ‘hábitos’ da sociedade inserida neste ambiente. Os dispositivos conectados conversam entre si, coletam dados, que podem ser armazenados na nuvem ou serem utilizados para cálculos ou resoluções de problemas diários, como os já destacados. Tal analogia pode ainda ser ampliada, citando a formação de uma Cidade Inteligente, como uma ‘micro’ aldeia global, automatizada e com sua sociedade dividida por grupo de poderes e, onde a comunicação é tanto influenciada, como proporcionada pelos aparatos tecnológicos. Devemos também analisar as consequências da implantação massiva destas novas tecnologias na sociedade. McLuhan (1972), em uma entrevista para a rede de TV BBC afirmou que as inovações tecnológicas são extensões das capacidades humanas, o que consequentemente remodela a sociedade que criou a tecnologia. Mas, o autor afirma que a sociedade desconhece os efeitos das tecnologias sobre si e isso é perigoso. Destaca que é como se todos estivessem em hipnose, e quando as pessoas começam a entender o ambiente de uma nova tecnologia, ou seja, quando a sociedade começa o seu despertar, este já fora substituído por outro. Complementa, que as sociedades sempre foram moldadas pelos meios de comunicação, desenvolvendo assim uma extensão de si mesma e com a necessidade de se adaptar as novas tecnologias, que são consideradas, por ele, como um agente modificador, assim como o destacado por Levinson (1998). Com isto, ressaltamos que além do estudo desse novo cenário social, é imperativa a busca por alternativas para que a sociedade possa usufruir das inovações tecnológicas de uma maneira ecológica, onde estas sejam, muito mais aliadas ao bem-estar social, do que a agentes modificadores da humanidade. 12 Se encontra em fase de publicação o artigo denominado “IoT na prática: construindo um sistema de alarme escolar com Arduíno”, com participação da autora BERNARDINI, G., onde pode-se verificar a aplicação real das tecnologias de Internet das Coisas. 36 As autoras Jenny Judge e Julia Powles (2015), ao tratar sobre a IoT e seus usos pelas pessoas, relembram da contemporaneidade da internet e que essa ainda tem muito a evoluir: [...] A internet se tornou uma parte tão onipresente de nossas vidas que tendemos a esquecer que ela está em sua infância. Ainda é apenas um protótipo bruto do que poderia ser. A internet do futuro não precisa ser como a internet de hoje: plana, monopolizada e perigosamente opaca. Sua forma, contornos e sensação ainda estão, literalmente, em disputa13. (JUDGE, J.; POWLES, J., 2015, web, tradução livre) 14 Dito isto, pensar no ponto atual de aceitação da tecnologia pela sociedade, muitas vezes de olhos fechados, nos faz temerosos quanto às consequências futuras. E a Internet das Coisas, como junção de tecnologias ainda embrionárias, que por conceituação abarca diversas tecnologias, se torna o objeto de estudo ideal desta teoria, estando ainda destacada na aplicação da formação das Cidades Inteligentes. 1.1.2. Ecologia da Comunicação A comunicação é gerada por processos em sociedade que são alterados, e adaptados, segundo o ambiente e as tecnologias disponíveis. Neste sentido, compreende-se que a comunicação é promovida por interações e interatividades. Assim, como destacado, interagir é inerente à comunicação interpessoal. Portanto, ao se propor estudar a interatividade enquanto ferramenta ou canal de comunicação deve-se ter em mente a relação do conceito com os primórdios da fala e o surgimento da própria comunicação. Wulf (2013) quando trata dos processos miméticos de aprendizagem, diz que o homem se utiliza de “[...] formas produtivas de imitação, nos quais se alcança a assimilação de um oposto, do qual o homem quer ser semelhante” (p. 14). Tais processos são de grande importância na infância, ensinando e alterando as formas de agir: O aprendizado cultural é em grande parte um aprendizado mimético. Em processos miméticos as crianças aprendem a sentir, expressar e modificar seus sentimentos. Da mesma forma, a fala e a postura ereta são habilidades adquiridas mimeticamente. (WULF, 2013, p. 14). Ele cita ainda que a “[...] educação pode ser compreendida como um processo mimético no qual a crítica aos modelos também desempenha um papel importante” (WULF, 2013, p. 14), 13 […] The internet has become such an ubiquitous part of our lives that we tend to forget that it is in its infancy. It’s still just a crude prototype of what it could be. The internet of the future doesn’t have to be like the internet of today: flat, monopolised and dangerously opaque. Its form, contours and feel are still, quite literally, up for grabs. (JUDGE, J.; POWLES, J., web, 2015) 14 JUDGE, Jenny; POWLES, Julia. Forget the internet of things: we need an internet of people. The Guardian, 25 de maio de 2015. Disponível em: https://www.theguardian.com/technology/2015/may/25/forget-internet-of-things-people. Acesso em: 23 de jun. de 2019. 37 por levar diversas formas de culturas aos indivíduos. Tais processos miméticos, podem ser entendidos como interações pessoais. E estas, possuem regras, como o autor descreve ao observar a vida em sociedade: Rituais e gestos criam comunidades. Sem rituais, não haveria o social. A este respeito seres humanos são seres sociais, que necessitam da comunidade e engendram-se nesses rituais. Por isso, rituais desempenham um papel central para a formação social e cultural do ser humano. O seu poder social desdobra-se do seu caráter performativo. Rituais são encenações e representações de relações sociais. [...] Os rituais não são estáticos. Se eles fossem, se degenerariam em estereótipos e perderiam sua função social. Eles são dinâmicos, ou seja, eles mudam ao longo do tempo e são marcados por diferentes situações históricas e culturais. (WULF, 2013, p. 14-15). Assim, podemos relacionar os rituais, aos processos de interação humana e sua vida em sociedade. Essa, tal como o anterior, está em constante mutação, de tal maneira que ao comparar os processos miméticos como sendo uma imitação das formas de agir, pensar e ser do outro, para que esta “imitação” aconteça deve-se necessariamente ocorrer a interação, onde não há a presença de um meio ou mídia nos processos sociais. Já, como já tratado, a interatividade, necessariamente utiliza um meio ou mídia para que aconteça. Desta forma, a interação pode ocorrer em uma conversa informal, pessoal e presencial, mas utiliza-se da interatividade para se trocar mensagens em uma rede social, por exemplo. Partindo deste ponto, tratamos da mediação dos meios, ou mídias, onde Baitello (2011), citando Medienforschung (1971), de Harry Pross, propõe uma classificação dos sistemas de mídia, a diferenciando em primária, secundária e terciária. Para o autor, “Na mídia primária juntam-se conhecimentos especiais em uma pessoa. O orador deve dominar gestualidade e mímica (...), o mensageiro deve saber correr, cavalgar ou dirigir e garantir assim a transmissão de sua mensagem” (PROSS, 1971, p. 127, apud BAITELLO, 2011, p. 2), sendo que, “Toda comunicação humana começa na mídia primária, na qual os participantes individuais se encontram cara a cara e imediatamente presentes com seu corpo; toda comunicação humana retornará a este ponto” (PROSS, 1971, p. 128, apud BAITELLO, 2011, p. 2), estabelecendo uma relação entre as interações, validadas pelo contato pessoal e sem interferências, como sendo um tipo inicial de mídia. Enquanto classifica como mídia secundária, [...] aqueles meios de comunicação que transportam a mensagem ao receptor, sem que este necessite de um aparato para captar seu significado, portanto são mídias secundárias, a imagem, a escrita, o impresso, a gravura, a fotografia, também em seus 38 desdobramentos enquanto carta, panfleto, livro, revista, jornal [...]. (PROSS, 1971, p. 128, apud BAITELLO, 2011, p. 3). E, por fim, a mídia terciária que “[...] são aqueles meios de comunicação que não podem funcionar sem aparelhos tanto do lado do emissor quanto do lado do receptor” (PROSS, 1971, p. 226, apud BAITELLO, 2011, p. 4), destacando “[...] a telegrafia, a telefonia, o cinema, a radiofonia, a televisão, a indústria fonovideográfica e seus produtos, discos, fitas magnéticas, cd’s, fitas de vídeos, dvd’s, etc.”. (BAITELLO, 2011, p. 4). Com isso, vemos uma classificação do avanço das comunicações através do surgimento de novas mídias. O autor destaca que com os avanços tecnológicos, há uma complexificação nos processos comunicacionais, fazendo com que os meios se tornem múltiplos. Há também modificações na disponibilidade tecnológica tanto do emissor, como do receptor, existindo uma “crescente transferência de atribuições e responsabilidades tecnológicas para a esfera da recepção” (BAITELLO, 2011, p. 6), contando com inúmeros ganhos e perdas, destacando que a “dificuldade do transporte físico da mensagem presente na mídia secundária reduz-se, ou anula-se na terciária, graças aos sistemas de eletrificação, às diferentes redes de cabeamento e à transmissão por ondas” (BAITELLO, 2011, p. 6), proporcionada pelo avanço tecnológico. O autor aponta que “a grande mídia terciária do nosso tempo é a eletricidade” sendo esta a mediadora das “possibilidades de geração, transmissão e conservação de mensagens”, enaltecendo que é devido aos sistemas e redes elétricas que foram possíveis o desenvolvimento, do que este chama de “os grandes sistemas contemporâneos de comunicação terciária”, cuja característica maior é a “relativização do espaço (até sua anulação), tornando irrelevante a dimensão do transporte físico de suportes ou portadores de mensagens. (BAITELLO, 2011, p. 6). Desta forma, a utilização das mídias atuais prevê uma tomada maior de tempo, por também proporcionarem um volume maior de conteúdo ao seu consumidor, de forma mais rápida e eficaz, causando a sensação de um “apressamento do tempo”, ou uma ideia de “encurtamento do tempo existente”, onde o que poderia ser feito antes, não pode ser mais concretizado no mesmo período temporal atual. Essa ideia é embasada pela ampliação ao acesso as informações através dos novos meios de comunicação proporcionados pelo uso da eletricidade, como o surgimento da internet e a criação de novos aparatos de conexão e melhorias na rede. Com um volume maior de informações, as interações com esses aparatos se ampliam, como também se multiplicam as interatividades, pois cria-se uma maior necessidade de “sincronizações sociais”, destacadas por Baitello através do resgate da oralidade, que se 39 transforma por via da mediatização, convertendo-se em conservação da presença física, mesmo à distância, por meio de imagens e sons, em um eterno presente do sujeito emissor. Assim, interatividades ocasionam interações e vice-versa, na mídia terciária. Outro fenômeno mais amplamente visto pelos avanços tecnológicos são as mudanças nas produções de conteúdo e informações. Com mais canais disponíveis, um volume maior de informação é produzido, bem como um aumento do consumo, através da maior interatividade com os meios, que por fim, amplia as interações, produzindo um ciclo. O receptor deixa de ser passivo, se tornando agora atuante, não apenas recebendo conteúdo, mas produzindo-o e questionando-os. E a presença, virtual ou real, se torna ampliada, proporcionando novas formas de interações e interatividades. Baitello em, A serpente, a maçã e o holograma (2010), destaca a Treppe der Abstraktion15 formulada por Vilém Flusser (1989)16, ressaltando que essa pode ser como um diagnóstico das mídias contemporâneas, simulando uma escalada que vai “descascando” as dimensões espaciais dos suportes midiáticos, propondo uma Teoria da Mídia, que promove uma configuração com enfoque específico nos processos de mediação dos processos de comunicação. O autor salienta que este novo cenário introduz uma nova potencialidade, a de não-desligamento da pessoa. Assim, o fluxo de informações, que já é contínuo por parte do emissor, agora começa a ser também pelo receptor, que cada vez menos se torna ausente, formando o que Baitello (2010) definiu como “catástrofe”, presente nos estudos de Flusser. Assim, o autor relata o percurso do homem sobre a terra, que passa por três grandes catástrofes, sendo a terceira catástrofe representada pela popularização da internet e a multiplicação dos aparatos conectados, que por esta condição de “casa esburacada” que recebe “os ventos da mídia” e o obriga a sair com este “vento”, o homem “perde o sentido para o possuir e para o acumular”, retornando ao nomadismo, ou melhor, de ‘neonomadismo’, por não ser realizado efetivamente “com os pés”, sendo “apenas aos olhos é facultado o exercício de marchar, caminhar, navegar, voar, surfar sem descanso”, como também representado pelo uso da tecnologia e a cibercultura de Levy (1999). Neste sentido, o homem vive uma nova realidade, agora demarcada pelo encolhimento e ganho de seu espaço. Encolhimento por ter sua privacidade cerceada com os novos dispositivos, que lhe toma a liberdade, mas, ganho, por não mais necessitar se locomover para ‘se mover’ e desfrutar de novas experiências. 15 Escalada da abstração ou escada da abstração (Tradução livre). 16 O autor trata sobre a “escalada da abstração” ou “escada da abstração” em seu artigo “A caminho das não-coisas” de 1989. 40 A IoT, como um movimento novo, não só conectividade de aparelhos, mas de confluência de tecnologias e ferramentas, amplia ainda mais a interatividade entre os dispositivos e as pessoas, tornando esta ação facilitada, de maneira quase que sensorial. Assim, o antigo receptor, agora interagente17 expande novamente os horizontes por onde receber e produz informações. Obviamente que muitos estudiosos poderão igualmente questionar a supressão de tempo e o bombardeamento mais fugaz de informações sobre o usuário, já que neste panorama, além da inexistência da tecla off18 há também um alargamento das possibilidades de recepção de conteúdos. Podemos dizer que há uma atualização da terceira catástrofe de Flusser, pois o interagente não precisa iniciar a interação, ou mesmo, produzir a informação. Através da conectividade entre aparelhos, estes recolhem dados que são mensurados e transformados em novas informações, produzindo interatividades e ocasionando interações, que podemos chamar de ‘inversas’, ou seja, do aparelho com o usuário, e não mais, somente do usuário para o aparelho, modificando o fluxo habitual. Porém nesta nova instância, a quantidade de informações trafegadas se torna exponencialmente incalculável, refletindo na sobrecarga de conteúdo despejado sobre o homem. Mesmo com a criação de um sistema de interação entre máquinas, que possibilitem autonomia para tomada de decisões sobre fluxos cotidianos banais aos olhos humanos, como por exemplo, a manutenção da escolha de canais para recebimento de notícias diárias, a filtragem dos conteúdos pode ser incoerente, causando prejuízos ao usuário. O homem agora é inundado por uma avalanche de conteúdos comunicativos e se perde neste mar, não sabendo como navegá-lo. Mesmo que a conectividade possibilite que as ações diárias, como, por exemplo, que a sua programação de compromissos seja disponibilizada em diversos devices19, ou que a automação de sua residência permita ações integradas entre estabelecimentos e serviços, ou ainda, que seu carro busque e divulgue informações atualizadas sobre o trânsito, em aplicativos e meios de comunicação especializados, este sofre com a falta de tempo livre, de descanso e privacidade, se sentindo sempre atrasado ou com a necessidade constante de correr, na tentativa de alcançar o ritmo de divulgação das novas informações. Com base nestes estudos, podemos dizer que os avanços das tecnologias de conexão e comunicação, através da internet e dos novos aparatos digitais, nos propiciam, o que podemos chamar de uma mídia quaternária, onde o processo de ‘se conectar’ e ‘receber, pensar e gerar 17 Termo cunhado por Alex Primo em “Quão interativo é o hipertexto?” (2003). 18 Desligar (Tradução livre). 19 Dispositivos (Tradução livre). 41 um resultado, ou resposta, com base no que foi recebido’ se torna fluído e parte do processo de comunicação atual, sendo absorvido pelos novos aparatos tecnológicos, as chamadas ‘coisas’, da IoT. Neste estágio, as ‘coisas’ também se agregam ao sistema de comunicação, por, não serem seres pensantes, propriamente ditos, mas possuírem a capacidade de ‘pensar’ e ‘gerar respostas’, ou seja, dados, com base nas informações recolhidas. Assim, se antes, os humanos realizavam esse ‘processamento de dados’ para resolução de questões, tal etapa agora é transferida para a máquina, que ativamente colhe ‘dados’, os gerencia e entrega a nós o resultado. Também aqui, alteramos a mídia terciária ‘eletricidade’, ao buscar novos ‘combustíveis’ para possibilitar o uso das tecnologias, como as baterias, o ar, as ondas eletromagnéticas, a energia solar e o próprio calor corporal. Vicente Romano (2004) destaca que a premissa da ecologia da comunicação visa encontrar um ponto de equilíbrio entre toda essa comunicação, que pode ser invasiva e macular o corpo em “seu sentido original de oikos, casa, lar, lugar de refúgio, segurança, bem-estar” (ROMANO, 2004, p. 149). Desta forma, a ecologia da comunicação deve ser pensada em uma forma de manutenção de um nível aceitável dos fluxos de informações, para que o homem consiga acompanhar essa descarga de conteúdo sobre si. No mesmo sentido, Menezes (2015) defende que, A ecologia é a ciência da interação entre as diferentes espécies no interior de um dado domínio; as ‘espécies’ que aqui nos interessam são as espécies de comunicação, próximas ou distantes, fugazes ou gravadas, táteis ou auditivas, pessoais ou anônimas, que reagem efetivamente uma sobre a outra no espaço fechado das vinte e quatro horas da cotidianidade ou no espaço social do planeta.” (MENEZES, 2015, p. 6, apud MOLES in: MORAGAS, 1982, p. 125). Neste âmbito, seria possível pensar em uma ecologia da comunicação entre os interagentes, no sentido das experiências comunicativas, que atravessam as porosidades dos corpos e dos aparatos tecnológicos, no que tange a Flusser e sua terceira catástrofe, entre a casa e as ruas conectadas, com base nas informações enviadas, recebidas e manuseadas por meio do ciberespaço? Isso devido ao fato que os usuários das tecnologias envoltos tanto em suas redes de convivência cotidianas como também nas redes sociais conectadas, através dos devices e wearables20, sofrem esse adensamento da comunicação através de uma avalanche de conteúdo que lhe toma o tempo, reverberando em efeitos contrários dos sugeridos na criação das tecnologias, que era o ganho de qualidade do tempo e a utilização da tecnologia em favor do bem-estar. 20 dispositivos vestíveis. (Tradução livre). 42 Pensar uma ecologia da comunicação, é raciocinar a favor da qualidade da informação tomada, e manipulada por estes novos dispositivos, para que se entregue ao interagente conteúdo realmente relevante e conciso, para enfim, se conquistar os benefícios delineados. Neste universo de mudanças na forma de produção, gestão e recepção de informações, contando com interações entre homens e máquinas, que por sua vez agora dotadas de ferramentas comunicativas para interatividades internas neste processo, analisando e devolvendo conteúdos programados aos seus usuários, refletir sobre como essa comunicação pode ser benéfica, não só no sentido de produção de novos conhecimentos, mas de automação, para fim de evitar o esgotamento do usuário, é imprescindível, propondo uma ecologia que discuta sobre esses avanços permeados pela IoT e novos dispositivos tecnológicos, tanto no sentido individual, como coletivos, no caso das Cidades Inteligentes, pois, compreende-se que a cidade é formada por pessoas, que por sua vez são como ‘micros’ sistemas, ao se pensar na quantidade de aparatos e de tecnologias que utilizam, estando interligados uns aos outros, formando os ‘macros’ sistemas comunicacionais, numa totalidade formativa de um ecossistema da cidade em que vive. Pensar a comunicação atual, em seu sentido tecnológico, de interações e interatividades, permeadas pelos aparatos e inovações nos faz repensar as possibilidades de viver em um futuro em que poderemos estar em diversos lugares remotamente, acompanhando diversos fluxos de informações e nos comunicando com pessoas virtualmente. Porém, o que pode ser benéfico também demonstra seu preço: a condensação de nosso tempo. Portanto, como proposta de investigação, salientamos que a IoT tem potencial avançado na comunicação midiática, no sentido de dinamizar e recomendar conteúdos aos usuários com base em suas atividades e propor saídas para a análise de informações a serem entregues aos interagentes, desenvolvendo uma ecologia da comunicação satisfatória. As inovações nos possibilitam transferir a tarefa de decidir que informações iremos receber a outros dispositivos, para que possamos acompanhar o fluxo incessante de novos materiais, que a tecnologia proporcionada pelo próprio homem desenvolveu. Isto nos gera uma preocupação com a qualidade e os critérios que serão utilizados para essa seleção. Também nos obriga a raciocinar sobre a quantidade máxima de conteúdo que um ser humano suporta receber. E ainda, se essas escolhas refletem nossos anseios e desejos. Dito isso, uma ecologia de comunicação associada a IoT pode ser uma alternativa razoável para este equilíbrio necessário, visto que as possibilidades oferecidas pela Internet das Coisas utilizam ferramentas de controle e seleção otimizadas pelas preferências do usuário. 43 Porém, como já salientado acima, é imperativo um controle sobre essas escolhas para que o sonho de convivência pacífica não se torne um pesadelo de mundo das máquinas escravizando humanos. 1.2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Levando em conta a grande quantidade de artigos, livros e pesquisas desenvolvidas nos últimos anos que estão relacionadas com o conceito de Internet das Coisas e, o avanço e a complexidade dos sistemas aplicados as Cidades Inteligentes, para o desenvolvimento deste trabalho foi utilizado o seguinte procedimento metodológico: a) Revisão bibliográfica de trabalhos: Realizada através da leitura de artigos, livros e pesquisas acadêmicas relacionadas ao desenvolvimento de tecnologias IoT e suas principais aplicações em Cidades Inteligentes. A pesquisa é necessária para identificar e analisar o crescimento exponencial das aplicações de IoT nas mais diversas áreas de atuação e avaliar como a sociedade, através de seu usuário final, tem se comportado em relação ao contato com essas novas tecnologias. Para garantir o sucesso da pesquisa foi preciso considerar a experiência do usuário e a relação que ele passará a ter com sistemas inteligentes capazes de tomar decisões que impactam diretamente a sua qualidade de vida. b) Estruturação da metodologia de desenvolvimento da pesquisa: A partir da pesquisa bibliográfica e com base nas tecnologias, foi estruturada a metodologia de desenvolvimento da tese de forma a contemplar todas as fases de estruturação e de implementação de uma tecnologia IoT, em uma cidade, até a validação de seu conceito em aplicação, tornando-a inteligente. Através dos dados coletados, do Estudo IoT, do Plano de Ação e do Plano Nacional de IoT, produzidos pelo governo federal brasileiro, pode se analisar as iniciativas e seus, possíveis ou não, benefícios para a sociedade. c) Análise de resultados e considerações: 44 Neste momento serão analisadas as soluções propostas no Plano Nacional de IoT para identificar os pontos positivos e necessidades de melhoria, bem como, possíveis diretrizes a serem seguidas para resolução de problemas encontrados. Também serão ressaltados novos caminhos a serem seguidos para possíveis trabalhos futuros. 1.3. ESTRUTURA DO TRABALHO A tese apresentada é dividida em cinco capítulos e referências bibliográficas. A introdução ao estudo, considerado o Capítulo 1, traz uma visão geral do tema, o uso de IoT em Cidades Inteligentes, descrevendo o problema da pesquisa e sua hipótese, assim como seus objetivos e procedimentos metodológicos. Apresenta também uma revisão bibliográfica da metodologia utilizada, com um embasamento teórico, contendo uma introdução ao tema Internet das Coisas, Cidades Inteligentes e demais conceitos a serem trabalhados na pesquisa. Em seguida, é realizada uma breve apresentação dos autores e métodos utilizados, com foco na Nova Ecologia dos Meios e na Ecologia da Comunicação. O segundo capítulo, denominado Conceitos Fundamentais, explora a definição dos conceitos das tecnologias de Internet das Coisas e de suas principais tecnologias e campos de aplicação, bem como a evolução desses conceitos ao longo do tempo. É dado destaque para as áreas de aplicações da tecnologia, sempre com foco em Cidades Inteligentes. O capítulo 3, A IoT no Brasil traz como objeto o Estudo IoT – Internet das Coisas: um Plano de Ação para o Brasil, especificações e analisa como o Plano de Ação formulado está sendo aplicado, modificado ou reformulado, através dos períodos governamentais. Já o Capítulo 4, Cidades Inteligentes, além da definição e estruturação do conceito e seus desdobramentos, apresenta a análise e exemplificações de iniciativas de Cidades Inteligentes no país, destacam-se os dados do intercâmbio da pesquisadora, para a cidade de Austin (Texas), bem como se ampara em outros projetos em implantação e funcionamento no Brasil, pois demonstra os avanços e possíveis evoluções dos usos das tecnologias de IoT, bem como as movimentações governamentais no sentido de organizar e regular as atividades no campo de Cidades Inteligentes e seus desafios com privacidade e segurança de dados. As Considerações Finais da pesquisa são apresentadas no Capítulo 5, que além de pontuar as possíveis soluções, benefícios e melhorias a serem desenvolvidas para a ampliação da qualidade de vida da sociedade, no que tange ao uso ecológico da IoT na criação das Cidades Inteligentes, apresenta outras questões e caminhos a serem percorridos pós-pesquisa. 45 O Capítulo 6 traz as perspectivas futuras da pesquisadora, ao que tange a pesquisa, com sugestões de continuação e outros possíveis caminhos a serem seguidos. Sendo ao final apresentadas as Referências Bibliográficas utilizadas no estudo, onde são listados os documentos de pesquisa e as legislações pertinentes ao estudo. 46 2. CONCEITOS FUNDAMENTAIS Considerando a grande complexidade da Internet das Coisas, bem como as inúmeras aplicações sob desenvolvimento nessa temática, buscou-se referências que abordassem aplicações na área de Cidades Inteligentes, foco da pesquisa, bem como inovações interligadas, para uma melhor compreensão dos conceitos trabalhados. Neste sentido, este capítulo tem como foco a conceituação do termo Internet das Coisas, abordando desde sua origem, a evolução da internet, principais tecnologias envolvidas, campos de aplicação, alguns desafios e setores de aplicabilidade, tanto dentro das Cidades Inteligentes, entre outros que permeiam a temática, além de questões de privacidade e proteção de dados. Assim, partimos do preceito que as palavras tecnologia e inovação são atualmente correntes e intimamente relacionadas aos ambientes digitais, visto a forma e os espaços nos quais esses termos são utilizados, tanto na imprensa, nas seções de tecnologia de jornais e revistas, quanto na linguagem usual, para se referir a internet e seus avanços, e as suas inovações. Comumente os termos estão interligados e são utilizados para descreverem as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), não apenas em exemplos de avanços dos computadores e da internet, mas também nos setores de energia nuclear, nanotecnologia, biotecnologia, entre outros. É importante, no entanto, compreender que o significado e a etimologia dessas palavras remontam a uma concepção bem mais ampla, estando deslocada de sua construção histórico- cultural. Agazzi (1998) explica que “De acordo com um sentido elementar, pode se entender a técnica como um conjunto de conhecimentos eficazes que o homem desenvolveu ao longo dos séculos para melhorar sua maneira de viver praticamente.” (p. 18, tradução livre)21. No mesmo sentido, Magrani (2018a) afirma que Com o desenvolvimento da sociedade ocidental, à dimensão prática da técnica adicionaram-se as dimensões teórica e científica. Os produtos obtidos a partir das atividades deixaram de ser a preocupação central, cedendo lugar à estrutura organizacional ligada aos fluxos de informação. Assim, surgiu a noção de tecnologia, que não é apenas o estudo de uma arte, mas é um estudo científico, com uma metodologia própria e uma teoria que a embasa. (MAGRANI, 2018a, p. 28-29) Segundo Veraszto et al (2008, p. 80) citado por Magrani (2018a, p. 29) a “palavra tecnologia deriva dos vocábulos gregos tekhné (arte22, indústria, habilidade) e logos (argumento, discussão, razão).” consistindo, “no conjunto de conhecimentos/saberes, 21 “Según un sentido elemental, se puede entender la técnica como un conjunto de conocimientos eficaces que el hombre ha desarrollado a lo largo de los siglos para mejorar su manera de vivir prácticamente.” 22 MORA, José Ferrater. Dicionário de filosofia, cit., tomo I, p. 199-200. 47 argumentos e razões em torno de uma arte/ofício, ou de um fazer determinado.” 23, ou ainda, “como o conjunto dos instrumentos, métodos e técnicas que permitem o aproveitamento prático do conhecimento, voltado para as necessidades humanas.” (MAGRANI, 2018a, p. 30). Com tais características, é possível denominar os avanços da técnica nas transformações realizadas pelos povos primitivos, tais como transformar pedras em lâminas para a caça de animais e o corte de madeira utilizada na construção de casas, por exemplo. Assim, com o passar do tempo, a ideia de tecnologia foi ganhando novos contornos e especificações, tendo atualmente uma noção ampla, que pode ser tratada de diferentes perspectivas, tais como os estudos sobre a Tecnologia da Informação, de Pinochet (2014)24, ou, com uma conotação mercadológica e de aplicabilidade industrial, relacionada a diversas áreas, como a geração de energia, transportes, comunicações, engenharias mecânica, química e agricultura, descritas por Buchanan (2017)25. Já a palavra inovação, segundo o dicionário online Dicio26, tem sua origem no termo em latim innovatio, remetendo ao novo e ao aperfeiçoamento, significando uma “novidade; ação ou efeito de inovar” (2019, web). Porém, apenas explicitar o significado da palavra não é suficiente para expressar uma de suas principais características: o seu papel no impacto econômico no processo capitalista. Joseph Schumpeter (1988) ao estudar a inovação, elaborou uma teoria de desenvolvimento econômico, no contexto do início da Revolução Industrial. Considerando o modelo capitalista, o conceito de inovação ganhou contornos mais nítidos, pois, para ele, “Uma inovação, no sentido econômico, somente é completa quando há uma transação comercial envolvendo uma invenção e, assim, gerando riqueza [...]” (SCHUMPETER, 1988, p. 108). O autor reconhece a inovação tecnológica com algo importante para a economia dos países, que além de não ter limite e por possuir um caráter descontínuo, não sendo uniforme no tempo, oferece dinamicidade aos ciclos econômicos. Schumpeter (1934) define cinco tipos de inovações existentes: de novos produtos, de novos métodos de produção, de novas fontes de matéria-prima, de exploração de novos mercados e de novas formas de organizar as empresas. O pesquisador ainda classifica as inovações como radicais, que envolvem mudanças no sistema econômico, ou inovações incrementais, que são consideradas melhorias das anteriores. 23 Ibid., p. 282. 24 Ler: Tecnologia da informação e comunicação (2014). 25 Ler: History of technology (2017). 26 https://www.dicio.com.br/inovacao/. Pesquisa em: 17 de mar. de 2019. 48 E divide o processo de inovação em três fases, sendo a primeira da invenção - a ideia potencialmente aberta para exploração comercia