UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS CÂMPUS DE JABOTICABAL AGREGAÇÃO E CARBONO ORGÂNICO DE LATOSSOLO EM FUNÇÃO DE CULTIVARES DE CANA DE AÇÚCAR E IRRIGAÇÃO POR GOTEJAMENTO SUBSUPERFICIAL YASMIN REIS MAGALHÃES Engenharia Agronômica 2022 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS CÂMPUS DE JABOTICABAL AGREGAÇÃO E CARBONO ORGÂNICO DE LATOSSOLO EM FUNÇÃO DE CULTIVARES DE CANA DE AÇÚCAR E IRRIGAÇÃO POR GOTEJAMENTO SUBSUPERFICIAL YASMIN REIS MAGALHÃES Orientadora: Profa. Dra. Carolina Fernandes Coorientador: Dr. Anderson Prates Coelho Trabalho apresentado à Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias - UNESP, Câmpus de Ja- boticabal, para graduação em ENGENHARIA AGRONÔMICA. 2022 M188a Magalhães, Yasmin Reis Agregação e Carbono Orgânico de Latossolo em função de Cultivares de Cana de Açúcar e Irrigação por Gotejamento Subsuperficial / Yasmin Reis Magalhães. -- Jaboticabal, 2022 35 p. : il., tabs. Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado - Engenharia Agronômica) - Universidade Estadual Paulista (Unesp), Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Jaboticabal Orientadora: Carolina Fernandes Coorientador: Anderson Prates Coellho 1. Agregação do solo. 2. Irrigação. 3. Carbono Orgânico. 4. Latossolo. 5. Gotejamento. I. Título. Sistema de geração automática de fichas catalográficas da Unesp. Biblioteca da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Jaboticabal. Dados fornecidos pelo autor(a). Essa ficha não pode ser modificada. I DEDICATÓRIA Dedico aos meus pais João Magalhães dos Santos e Pricilliana Ester dos Reis, e a minha vó Ivalda Pires dos Reis II AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a minha mãe Pricilliana Ester dos Reis e a minha vó Ivalda Pires dos Reis, por sempre estarem me apoiando e me acompanhando nesse período de graduação. Agradeço também a Profª Drª Carolina Fernandes por disponibilizar essa opor- tunidade de realizar esse trabalho junto ao Departamento de Ciências da Produção Agrícola – Setor de Ciência do Solo e por todo auxílio prestado durante esse período. Juntamente, agradeço ao meu coorientador Dr. Anderson Prates Coelho, sempre sendo meu braço direito, principalmente na parte escrita. Agradeço ao Prof. Dr. Alexandre Barcellos Dalri por disponibilizar sua área ex- perimental para ser realizado o presente trabalho. Agradeço também ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tec- nológico – CNPq que me deu a oportunidade de desenvolver este trabalho com o fomento da bolsa do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC. Gostaria de agradecer também a Claudia Campos Dela Marta, a Isis Albuquer- que Tassim e a Yasmin Uchino Orioli pelo auxílio no desenvolvimento das análises laboratoriais. Por fim, gostaria de agradecer a instituição FCAV Unesp Jaboticabal, e todos os funcionários envolvidos neste trabalho. Gostaria de agradecer a instituição por essa oportunidade e por todo aprendizado adquirido dentro da instituição por meio de pro- fessor excelentes. III SUMÁRIO RESUMO ................................................................................................................... IV ABSTRACT ................................................................................................................ V 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 1 2. REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................... 4 3. MATERIAL E MÉTODOS .............................................................................. 10 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................... 14 5. CONCLUSÃO ................................................................................................ 24 REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 25 IV RESUMO A cultura da cana-de-açúcar apresenta diversos sistemas de produção. Dentro desses sistemas, fatores como a cultivar utilizada, o tipo de solo, a manutenção da palhada e a irrigação podem levar a diferenças na estruturação do solo. O objetivo do trabalho foi avaliar e comparar a agregação do solo e o teor de carbono orgânico em áreas cultivadas com cultivares de cana-de-açúcar submetidas a irrigação por gotejamento e não irrigadas. O experimento foi realizado em um Latossolo Vermelho eutroférrico de textura argilosa (582 g kg-1 de argila na camada 0,0-0,10 m e 591 g kg-1 de argila na camada 0,10-0,20 m de profundidade). Foram coletadas amostras de solo em 20 pontos em quatro áreas de cana-de-açúcar nas camadas 0,00-0,10 m e 0,10-0,20 m. As áreas corresponderam ao cultivo irrigado e não irrigado das cultivares CTC 4 e IACSP93-3046. Nessas amostras foram determinados o índice de estabilidade dos agregados, diâmetro médio ponderado de agregados, carbono orgânico particulado, carbono orgânico associado aos minerais, carbono orgânico do solo e foram calcula- das as classes de agregados. Foi realizada a estatística descritiva dos atributos do solo e a análise multivariada de componentes principais e de fatores. Os escores ge- rados para cada amostra na análise multivariada de fatores foram submetidos à aná- lise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey. A irrigação subsuper- ficial promove maior estabilidade dos agregados do solo em áreas cultivadas com cana-de-açúcar. Cultivares de cana-de-açúcar proporcionam diferenças na agregação do solo, sendo que a cultivar responsiva à irrigação (IACSP93-3046) promove maior agregação do solo do que a cultivar não responsiva (CTC 4). Palavras-chave: Diâmetro médio de agregados do solo; Estabilidade de agregados do solo; Estrutura do solo. V ABSTRACT Sugarcane cultivation has several production systems. Within these systems, factors such as the cultivar used, soil type, straw maintenance and irrigation can lead to dif- ferences in soil structure. The objective of this study was to evaluate and compare soil aggregation and organic carbon content in areas cultivated with irrigated and rainfed sugarcane cultivars. The experiment was carried out in an Oxisol (582 g kg-1 clay layer 0.00-0.10 m and 591 g kg-1 clay layer 0.10-0.20 m layer). Samples were collected at 20 points in the four sugarcane areas in the 0.00-0.10 m and 0.10-0.20 m layers. The areas corresponded to irrigated and rainfed cultivation of cultivars CTC 4 and IACSP93-3046. In these samples, aggregate stability index, weighted average aggre- gate diameter, particulate organic carbon, mineral-associated organic carbon, soil or- ganic carbon was determined, and the aggregate classes were calculated. Descriptive statistics of the soil attributes and multivariate analysis of principal components and factors were performed. The scores generated for each sample in the multivariate fac- tor analysis were submitted to variance analysis and the means compared by Tukey test. Subsurface irrigation promotes greater aggregates stability in areas cultivated with sugarcane. Sugarcane cultivars provide differences in soil aggregation, with irri- gation-responsive cultivar (IACSP93-3046) promoting higher soil aggregation than non-responsive cultivar (CTC 4). Keywords: Average diameter of soil aggregates; Stability of soil aggregates; Soil structure. 1 1. INTRODUÇÃO A cana-de-açúcar é a terceira cultura mais plantada no Brasil, com área cultivada de aproximadamente 8,26 milhões de hectares (CONAB, 2021). Os ca- naviais apresentam vários sistemas de produção, podendo ser cultivados em li- nhas duplas, simples, com e sem palhada sobre o solo, plantados por toletes ou mudas pré-brotadas, com ou sem irrigação. No Brasil, a área total irrigada é de 8,2 milhões de hectares, sendo a cana-de-açúcar responsável por 3,6 milhões de hectares irrigados dentro desse total (ANA, 2021). Devido às diferenças no crescimento e no desenvolvimento da vasta gama de cultivares de cana-de-açúcar, quando submetidas às mesmas condi- ções (CASTRO-NAVA et al., 2016), são necessários estudos que indiquem a adaptação dos genótipos em diversos ambientes de produção. Existem cultiva- res que afetam a porosidade do solo, aumentando a quantidade de microagre- gados e diminuindo a de macroagregados (CAMILOTTI et al. 2005). Além disso, existem cultivares de cana-de-açúcar que apresentam maior desenvolvimento radicular (FAGUNDES et al., 2014), podendo favorecer a agregação do solo. Desta forma, a escolha adequada da cultivar de 2 cana-de-açúcar pode auxiliar na preservação e/ou na melhoria da estrutura do solo. Sistemas de produção conservacionistas são comumente empregados para melhorar a estrutura e a fertilidade do solo, além de evitar sua degradação. Dentre os atributos físicos e químicos de um solo estão a agregação e o teor de carbono orgânico, respectivamente. A agregação do solo e a quantidade de car- bono no solo são fatores relevantes para a obtenção de elevados rendimentos agrícolas. Esses fatores atuam em conjunto, disponibilizando nutrientes, água, oxigênio e estrutura ideal para o desenvolvimento das raízes das plantas e, as- sim, favorecem o desenvolvimento das culturas (OADES, 1984). Quanto às cultivares de cana-de-açúcar, existem diversos estudos que avaliaram a distribuição do sistema radicular da cultura (MEDINA et al., 2002; PAULINO et al., 2011). Alguns trabalhos indicam que a irrigação e a fertirrigação são os principais fatores do manejo agrícola que interferem na distribuição do sistema radicular da cana-de-açúcar, deixando-o mais concentrado superficial- mente (FARIAS et al., 2013; SOUSA et al., 2013). Entretanto, estudos que ava- liam o efeito dessa diferença de distribuição das raízes da cana-de-açúcar, em função da irrigação e de cultivares na estrutura do solo são escassos e, quando encontrados, as avaliações são realizadas separadamente. Por sua vez, a irrigação pode apresentar efeito sobre o teor de carbono orgânico no solo, que é o principal constituinte da matéria orgânica. Além de ser o principal reservatório de nutrientes para as plantas, a irrigação possui um papel importante para os agentes cimentantes, que unem as partículas do solo for- mando os agregados. Em áreas irrigadas, a taxa de decomposição da matéria 3 orgânica do solo pode ser maior do que em áreas não irrigadas, diminuindo o seu teor com o decorrer do tempo, podendo causar efeitos negativos na estrutura e na fertilidade do solo (BONA et al., 2006; MURSEC et al., 2018). Em experimentos com cana-de-açúcar durante o período de três anos, com cinco cultivares (CTC 4, IACSP93-3046, RB86-7515, IAC95-5000 e IAC91- 1099), irrigadas e não irrigadas, observou-se que a cultivar CTC 4 não apresen- tou resposta quando irrigada para os atributos fenológicos e de rendimento, en- quanto a cultivar IACSP93-3046 foi a cultivar mais responsiva, observando-se incrementos de até 60% na produtividade (COELHO, 2016; LANDELL, 2017). Essas diferenças na fenologia e no rendimento das cultivares CTC 4 e IACSP93- 3046 quando irrigadas ou não podem levar a alterações na estrutura do solo. Dessa maneira, a avaliação da agregação e do teor de carbono orgânico de solo cultivado com cultivares de cana-de-açúcar, com e sem irrigação, é ne- cessária para conhecer as diferenças entre os sistemas de produção e recomen- dar as práticas de manejo que evitem a degradação do solo. Neste sentido, as hipóteses são que a irrigação por gotejamento subsu- perficial promove redução da agregação do solo e que cultivares de cana-de- açúcar contrastantes quanto à responsividade à irrigação promove diferenças na agregação do solo. O objetivo do trabalho foi avaliar o efeito da irrigação por gotejamento subsuperficial e de cultivares de cana-de-açúcar nos atributos físi- cos e no teor de carbono orgânico de um Latossolo. 4 2. REVISÃO DE LITERATURA A cana-de-açúcar possui grande importância mundial. O que prova isso são seus principais produtos de interesse como o açúcar cristal, o açúcar deme- rara, o açúcar mascavo, muito importantes nas indústrias de produção de ali- mentos e o etanol, que é um dos principais combustíveis de fonte renovável. Para os brasileiros, a cachaça, amplamente produzida e comercializada dentro do país, é uma iguaria cultural muito importante na história. Além disso, existem fins para os subprodutos obtidos nas usinas sucroe- nergéticas nos processos de produção de açúcar, etanol e cachaça, sendo al- guns deles o bagaço de cana-de-açúcar, utilizado para a produção de energia (FLAUSINIO, 2015), etanol de segunda geração produzido pelos resíduos do etanol de primeira geração, como o bagaço de cana-de-açúcar (LORENZI & AN- DRADE, 2019) e outros subprodutos como a vinhaça, que é muito utilizada como fertilizante, e a torta de filtro, utilizada como substrato para a produção de mudas (SFEIR, 2013). Neste sentido o estudo das interações do ambiente com a cultura de cana-de-açúcar é indispensável, pois ele propiciou melhores formas de 5 utilização e reutilização dessa cultura e se torna necessário para viabilizar o seu cultivo com o decorrer do tempo. A cana-de-açúcar pertence à família Poaceae, gênero Saccharum e as cultivares comerciais atualmente disponíveis (Saccharum spp.) aos produtores são híbridos interespecíficos, principalmente entre as espécies S. officinarum e S. spontaneum (LANDELL et al., 2008) e é originária da Ásia e da Índia Ocidental (CRUSCIOL, 2014). A cana-de-açúcar foi introduzida no Brasil pelos portugue- ses no período colonial (séc XVI e XVIII), sendo que o seu cultivo tinha como principal objetivo a produção de açúcar para exportação (EMBRAPA, 2006). Dentre as diversas espécies cultivadas no Brasil, a cana-de-açúcar é a terceira com maior área plantada, atrás somente da soja e do milho (CONAB, 2021). Segundo o Instituto de Economia Agrícola de São Paulo (NACHILUK, 2021), o Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar. Em levantamento feito pela CONAB (2021), foi estimada uma área total de produção de 8,26 mi- lhões de hectares no Brasil, sendo estimada para a safra 2021/22 a produção de 568,43 milhões de toneladas de cana-de-açúcar. Diferentemente dos grãos, geralmente no cultivo de cana-de-açúcar não é possível estabelecer sistemas de produção muito conservacionistas para o solo, visto a necessidade de várias operações mecanizadas para o plantio, tratos culturais e colheita da cultura. Cherubin et al. (2016), avaliando o impacto da expansão do cultivo de cana-de-açúcar no Brasil sobre a qualidade física do solo, observaram que áreas com a cultura apresentam deterioração nos atributos físi- cos do solo relacionados à erosão, retenção de água, capacidade de cresci- mento do sistema radicular e infiltração de água. 6 Como para o Brasil a cana-de-açúcar tem importância econômica desde os períodos de Brasil colônia, houve avanço junto ao decorrer dos anos de culti- vares de cana-de-açúcar, através da seleção de espécies e do melhoramento genético. Essas cultivares podem ter resistência a pragas, tolerância a seca, va- riação de adaptação quanto ao tipo de solo, tolerância a aplicação de herbicidas, entre outras qualidades. Com isso, cada cultivar possui características agronô- micas específicas, influenciando na sua escolha de acordo com o a exigência do produtor e da região onde será cultivada. Quando se trata da estrutura física do solo, o principal fator de influência é o manejo do solo. Assim, um manejo conservacionista, como por exemplo o plantio direto, pode melhorar o ambiente do solo para a cultura instalada. O plan- tio direto pode favorecer desde a diminuição da evaporação da água do solo, devido a barreira formada pela cobertura de palhada na superfície do solo (MIL- LER et al., 1998), até o favorecimento da agregação do solo, pois há diminuição do revolvimento e do tráfego de máquinas no solo (FERNANDES, 2018) promo- vendo assim menor compactação. Outra técnica de manejo importante que pos- sui influência nas características físicas do solo é a irrigação. Melo et al. (2017) verificaram que a irrigação por aspersão no cultivo do capim-tifton 85 promoveu maior estabilidade dos agregados. A agregação do solo ocorre através de processos químicos, físicos e bio- lógicos que promovem a união das partículas minerais de solo pela ação dos agentes cimentantes, formando assim os agregados. A interação dos agregados do solo com a matéria orgânica e a sua classificação como macroagregados e microagregados foi realizada por Tisdall; Oades (1982). Dentre as variáveis que 7 afetam a agregação de solos tropicais podem ser destacadas a textura do solo, o teor de matéria orgânica do solo, a atividade microbiológica e a composição da fração argila (CASTRO FILHO et al., 2002). A mensuração da agregação do solo é essencial, pois esse processo interfere na retenção de água no solo, distribui- ção radicular das plantas e absorção de nutrientes (QUEIROZ et al., 2015), tra- zendo dessa forma benefícios às culturas e, consequentemente, maior produti- vidade. A agregação do solo promove a formação de poros no perfil do solo que permitem a aeração, a infiltração e o armazenamento de água para as plantas (DEXTER, 1988). A argila e a matéria orgânica contribuem para a formação dos agregados, pois ambas agem como agentes cimentantes que unem as partículas de solo. Fernandes (2018) observou em um solo tropical (Latossolo Vermelho) que a fração argila do solo foi fundamental para a formação de agregados de até 2 mm, enquanto o carbono orgânico para a formação de agregados maiores do que 4 mm. Além disso, a autora observou que o carbono orgânico foi essencial para a estabilidade de agregados do solo, auxiliando na proteção contra a ero- são. Castro Junior (2020) estudou a agregação do solo sob cultivo de cana-de- açúcar e mata nativa no Cerrado em Latossolo Vermelho Amarelo, onde foi cul- tivada a cultivar RB85-5156 durante 7 anos. Após esse período, os autores cons- tataram que na mata nativa houve maior estabilidade dos agregados e a camada do solo cultivada com cana-de-açúcar que mais se assemelhou a mata nativa foi a 0-20 cm, fato que ocorreu pela deposição de palhada e pela distribuição de raízes mais concentrada nessa região. 8 Os resíduos vegetais que vão compor a matéria orgânica do solo são es- senciais para a agregação. Castro Filho, Muzilli & Podanoschi (1998) avaliaram, em um Latossolo Roxo, áreas com plantio direto e cultivo convencional com as culturas soja/trigo/milho e milho/trigo/milho. Os autores concluíram que o au- mento do carbono orgânico com o passar do tempo de cultivo aumentou os índi- ces de agregação do solo, e a área de plantio direto melhorou a agregação do solo. A irrigação por gotejamento subsuperficial existe desde os anos 60, mas recentemente, visto os benefícios desse sistema de irrigação para o manejo da cultura e pelo seu aspecto sustentável e econômico, houve maiores investimen- tos em pesquisas para solucionar suas limitações (TESTEZLAF, 2017). Esta téc- nica está sendo implantada atualmente para a cultura de cana-de-açúcar. A irri- gação por gotejamento subsuperficial associada a estações meteorológicas e monitoramento constante da área, é capaz de aumentar a produtividade da cana- de-açúcar, assim como observado no trabalho de DALRI (2008). Nesse trabalho, foi utilizada a cultivar de cana-de-açúcar RB 72 454, com 3 frequências hídricas e uma testemunha, sendo que os tratamentos foram definidos pela frequência de irrigação, onde o sistema de irrigação era acionado quando a evapotranspi- ração acumulada da cana-de-açúcar atingisse 10 mm, 20 mm e 30 mm, respec- tivamente e a testemunha não foi irrigada. Dentre as frequências hídricas, não houve diferença significativa, porém em relação a testemunha houve incremen- tos de produtividade de 47,33%, 58,53% e 39,86%, respectivamente. Resultados semelhantes foram observados no trabalho de Gava et al. (2011), onde as 9 cultivares RB867515, RB855536 e SP80-3280 obtiveram diferentes respostas com o aumento da disponibilidade hídrica. O manejo adequado da irrigação significa melhor desenvolvimento da planta de cana-de-açúcar. Assim, existe maior potencial para a planta produzir maior massa radicular e maior quantidade de palhada. Laclau (2005) observou um crescimento de raízes significativamente maior em manejo com maior dispo- nibilidade hídrica, onde a cultivar RB 72454 foi submetida ao déficit hídrico e a irrigação. Além das raízes, os restos culturais da colheita anterior podem aumen- tar o teor de matéria orgânica no solo, servindo de fonte de energia para os mi- crorganismos resultando na formação dos agregados (SILVA e MIELNICZUK, 1997; VEZZANI & MIELNICZUK, 2011). 10 3. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado em área experimental próxima às coordena- das com latitude 21º14’50’’ S, longitude 48º17’05’’ W e altitude de 570 m. De acordo com a classificação de Koppen, o clima da região é do tipo Aw, caracte- rizado por precipitação anual média de 1416 mm (1975-2015), com total médio para o mês mais chuvoso de 255 mm (dezembro) e de 25 mm para o mês mais seco (julho). O solo da área experimental é classificado como Latossolo Verme- lho eutroférrico (SANTOS et al., 2013) de textura argilosa, com 183 g kg-1 de areia, 582 g kg-1 de argila e 235 g kg-1 de silte na camada 0,00-0,10 m de pro- fundidade, e 178 g kg-1 de areia, 591 g kg-1 de argila e 231 g kg-1 de silte na camada 0,10-0,20 m de profundidade. Foram avaliadas quatro áreas, mantidas com as cultivares de cana-de- açúcar CTC 4 e IACSP93-3046 durante 4 anos, submetidas à irrigação por go- tejamento subsuperficial e não irrigadas. Na área experimental, o manejo da irri- gação adotado supriu 100% da evapotranspiração da cultura (ETc), aplicando-se 20 mm de água quando o déficit hídrico da área (ETc - chuva) fosse igual a 20 mm (DALRI & CRUZ, 2002). A adubação da área com 11 manejo irrigado foi via irrigação (fertirrigação), enquanto para a área com manejo não irrigado a adubação foi realizada em cobertura no solo. Essa diferença no manejo nutricional da área pode levar a diferenças no crescimento radicular das cultivares, uma vez que em área fertirrigada as raízes da cana-de-açúcar podem se concentrar mais superficialmente (SOUSA et al., 2013), afetando a estrutura do solo. A quarta colheita das áreas avaliadas foi realizada em julho de 2018 e a amostragem de solo em outubro de 2018. Para determinar os atributos do solo, foram coletadas amostras deformadas de solo com o auxílio de enxadão nas camadas 0,00-0,10 m e 0,10-0,20 m. Foram amostrados 20 pontos em cada uma das 4 áreas, totalizando 160 amostras. Para cada amostra de solo, metade da quantidade de solo foi utilizada para tamisação de agregados de diâmetro entre 6,3 e 4,0 mm, para posterior determinação do diâmetro médio ponderado dos agregados do solo (DMP) (NIMMO & PERKINS, 2002) e a outra metade foi divi- dida em duas partes, sendo uma utilizada para separação dos agregados de diâmetro entre 2,0 e 1,0 mm, para a determinação do índice de estabilidade de agregados do solo (IEA) (NIMMO & PERKINS, 2002) e a outra utilizada para a obtenção da terra fina seca ao ar (TFSA), fração do solo menor que 2,0 mm. A partir da TFSA, pelo processo de fracionamento físico do carbono orgâ- nico (CO) (CAMBARDELLA & ELLIOTT, 1992), foi obtido o material para a de- terminação do teor de carbono orgânico particulado (COP). Os teores de CO e COP foram determinados por método colorimétrico (YEOMANS & BREMER, 1988). O teor de carbono orgânico associado aos minerais (COAM) foi obtido pela diferença entre o teor de CO e COP. 12 A partir dos resultados obtidos da análise de DMP, foram calculadas as classes de agregados 6,3-4,0 mm (CA1); 4,0-1,0 mm (CA2), 1,0-0,5 mm (CA3) e <0,5 mm (CA4) sendo utilizadas como variáveis para as análises estatísticas. Primeiramente, foi realizada a estatística descritiva dos atributos do solo para cada área, utilizando-se para isso a média e o erro padrão da média. Pos- teriormente, devido à estrutura de dependência no conjunto original de variáveis, foi realizada a análise exploratória multivariada de componentes principais e de fatores, que possibilitou projetar toda informação contida nas variáveis originais em novas variáveis latentes, que foram os processos (HAIR et al., 2009). Na análise multivariada não se utiliza variáveis calculadas em função de outras va- riáveis presentes no conjunto original dos dados, portanto o CO não foi utilizado nas análises multivariadas, por ser uma variável obtida pela soma do COP e COAM, optando-se por utilizar essas duas variáveis individuais. Os dados foram padronizados, com o objetivo de todas as variáveis apre- sentarem o mesmo peso na análise, apresentando média nula e variância unitá- ria. A seleção do número de componentes principais e de fatores foi realizada com base no critério de Kaiser, utilizando-se aqueles com autovalores superiores a 1 (KAISER, 1958). Os autovalores foram extraídos da matriz de covariância das variáveis originais. Para a análise de fatores, variáveis com cargas fatoriais acima de 0,600 foram consideradas relevantes para o processo. Após a análise de fatores, os escores gerados para cada amostra e processos foram testados como modelo linear generalizado (MILSTEIN et al., 2005), objetivando comparar o efeito dos tratamentos nos processos obtidos. Quando significativos no modelo linear 13 generalizado, os escores dos tratamentos foram analisados pelo teste de média de Tukey ao nível de 5% probabilidade. As análises estatísticas foram realizadas no software Statistica®, versão 7.0. 14 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Pela análise de componentes principais (Figura 1), observou-se que os dois primeiros componentes (CP) explicaram 69,78% da variabilidade total dos dados, com 53,66% para o CP1 e 16,12% para o CP2. As variáveis que mais influenciaram na separação das amostras no CP1 foram DMP, CA1, COP, COAM, CA2 e CA3, enquanto para o CP2 foram o IEA e a CA4. Figura 1. Dispersão das amostras das áreas de cana-de-açúcar cultivadas com as cultivares CTC 4 (A) e IACSP93-3046 (B), submetidas a irrigação (I) e não irrigadas (NI), nas camadas 0,00-0,10 m (C1) e 0,10-0,20 m (C2); Diâmetro médio ponderado de agregados (DMP); Índice de estabilidade de agregados (IEA); Carbono orgânico particulado (COP), Carbono orgânico associado aos minerais (COAM) e classes de agregados 6,3-4,0 mm (CA1), de 4,0-1,0 mm (CA2), de 1,0-0,5 mm (CA3) e < 0,5 mm (CA4). 15 Verificou-se nos quadrantes do eixo X positivo (quadrantes I e IV) ficaram concentradas as amostras da camada 0,10-0,20 m, sendo mais relacionadas às variáveis com tamanho de agregados menores, e nos quadrantes do eixo X ne- gativo (II e III), concentraram-se as amostras da camada 0,00-0,10 m, sendo mais relacionadas às variáveis que determinam diâmetro de agregados maiores. Nos quadrantes do eixo Y negativo (III e IV), ficaram mais distribuídas as amos- tras de solo submetidas à irrigação por gotejamento subsuperficial (I), sendo mais correlacionadas com maiores valores de IEA, enquanto nos quadrantes de eixo Y positivo ficaram mais concentradas as amostras de solo das áreas não irrigadas (NI), apresentando maior correlação com a menor classe de agregado (CA4). Para a análise estatística multivariada de fatores, foram utilizados os va- lores dos atributos do solo coletados nas duas camadas das quatro áreas culti- vadas com cana-de-açúcar, com as cultivares CTC 4 (A) e IACSP93-3046 (B), submetidas a irrigação por gotejamento subsuperficial (I) e não irrigadas (NI) (Tabela 1). 16 Tabela 1. Coeficiente de correlação da análise de fatores dos atributos do La- tossolo Vermelho, com dois processos (P1 e P2), em função de cultivares de cana-de-açúcar submetidas à irrigação por gotejamento subsuperficial e não ir- rigadas. Atributo Diâmetro de agregados (P1) Estabilidade de agregados (P2) Diâmetro médio ponderado de agregados (DMP) -0,977 0,049 Carbono orgânico particulado (COP) -0,631 -0,004 Classe de agregados entre 6,3 - 4,0 mm (CA1) -0,975 0,134 Classe de agregados entre 4,0 - 1,0 mm (CA2) 0,714 -0,563 Classe de agregados entre 1,0 - 0,5 mm (CA3) 0,938 -0,086 Classe de agregados < 0,5 mm (CA4) 0,525 0,600 Índice de estabilidade de agregados (IEA) -0,366 -0,753 Carbono orgânico associado aos minerais (COAM) -0,437 -0,165 Variância explicada 4,293 1,290 % da variância explicada 53,66 16,12 Foram obtidos dois processos, sendo que o primeiro processo (P1) expli- cou 53,66% da variância do conjunto original dos dados e o segundo processo (P2) explicou 16,12%, possibilitando reter 69,78% da variabilidade geral dos da- dos. O P1 foi denominado “Diâmetros de agregados”, devido às variáveis rele- vantes nesse processo, que possuem escores maior que 0,600 serem relaciona- das ao tamanho e formação dos agregados do solo, que são o DMP, COP, CA1, CA2 e CA3. O P2 foi denominado “Estabilidade de agregados”, pois as variáveis com escores maior que 0,600, relevantes para esse processo, foram relaciona- das à estabilidade dos agregados em água (IEA e CA4). Os atributos com coeficientes positivos se relacionam indiretamente com os atributos com coeficientes negativos (Tabela 1), sendo assim, quanto maior um atributo com coeficiente negativo, menor é o atributo com coeficiente positivo e vice-versa. No processo “Diâmetros de agregados” (P1), os atributos do solo com co- eficientes de correlação negativos DMP, COP e CA1 apresentaram relação 17 direta entre si. Os atributos com coeficientes positivos foram CA2 e CA3 apre- sentando relação inversa com os atributos com coeficientes negativos. Para o processo “Estabilidade de agregados” (P2), o atributo negativo, IEA possui relação inversa com CA4. Assim, quanto maior a quantidade de solo retido na menor classe de agregado (CA4), menor o valor de IEA. De acordo com o modelo linear generalizado, observou-se que não houve efeito significativo das interações, somente dos fatores isolados (Tabela 2). Para o processo “Diâmetros de agregados” houve significância de efeito simples para cultivar e camada e para o processo “Estabilidade de agregados” o efeito irriga- ção foi significativo somente para irrigação (Tabela 2). Tabela 2. Modelo linear generalizado para o processo “Diâmetros de agregados” (P1) e “Estabilidade de agregados” (P2) Fonte de variação Diâmetros de agregados P1 Estabilidade de agregados P2 F valor-p F valor p Cultivar 3,600* 0,049 0,712 0,400 Irrigação 0,698 0,405 56,072** <0,001 Camada 99,027** <0,001 0,183 0,669 Cultivar x Irrigação 0,009 0,924 1,617 0,206 Cultivar x Camada 0,279 0,598 0,004 0,947 Irrigação x Camada 0,193 0,661 2,904 0,091 Cultivar x Irrigação x Camada 0,732 0,394 0,588 0,445 Realizando o teste de média para os escores dentro do processo 1, ob- servou-se que os agregados do solo foram maiores para as áreas cultivadas com a cultivar B e para a camada do solo 0,00-0,10 m. Para o processo 2, a estabili- dade dos agregados foi superior para as áreas irrigadas (Tabela 3). 18 Tabela 3. Teste de média dos escores para os efeitos significativos do modelo linear generalizado para cada processo Fonte Diâmetros de agregados - P1 Estabilidade de agregados - P2 Cultivar CTC 4 (A) IACSP93-3046 (B) ------ Média 0,13 b -0,13 a Irrigação ------- Irrigado (I) Não Irrigado (NI) Média -0,53 a 0,54 b Camada 0,00-0,10 0,10-0,20 ------ Média -0,66 a 0,62 b Os escores negativos gerados pelo teste de média (Tabela 3) se relacio- nam com os escores negativos da análise de fatores (Tabela 1), e os escores positivos se relacionam com os escores positivos da análise de fatores. Dessa forma, as áreas com escores de sinal negativo no P1 (Tabela 3) apresentam maior DMP, COP e CA1, enquanto para o P2 as áreas com escores positivos possuem maior CA4 e os negativos possuem maior IEA. Como na análise de variância do modelo linear generalizado (Tabela 2) não foi observado interação significativa entre os fatores de estudo: irrigação, camada e cultivar, na Figura 2 são apresentados as médias e o erro padrão da média dos atributos avaliados nas áreas irrigadas (I) e não irrigadas (NI) cultiva- das com cana-de-açúcar, cultivares CTC 4 (A) e IACSP93-3046 (B) nas cama- das 0,00-0,10 m e 0,10-0,20 m. 19 Figura 2. Diâmetro médio ponderado de agregados (DMP - a), carbono orgânico particulado (COP - b), carbono orgânico associado aos minerais (COAM - c), carbono orgânico (CO - d) e índice de estabilidade de agregados (IEA - e) de Latossolo Vermelho cultivado com irrigação (I) e sem irrigação (NI) em função de duas cultivares de cana-de-açúcar (A - CTC 4 e B - IACSP93- 3046). Pode-se observar que na camada 0,00-0,10 m o valor do DMP foi superior do que na camada 0,10-0,20 m para todas as áreas avaliadas. Para a cultivar A, o valor do DMP na camada 0,00-0,10 m foi 22,59% superior ao da camada 0,10- 0,20 m e para a cultivar B essa diferença foi de 17,68%. Para a área não irrigada, na camada 0,00-0,10 m o valor do DMP foi 20,79% superior ao valor da camada 0,10-0,20 m, enquanto para a área irrigada, na camada 0,00-0,10 m o valor do DMP foi 19,77% superior ao valor da camada 0,10-0,20 m. Para a cultivar B, o valor do DMP na camada 0,00-0,10 m foi 2,53% superior ao valor da área com 20 a cultivar A. Na camada 0,10-0,20 m, essa diferença foi significativa, com o valor do DMP da área com a cultivar B 8,33% superior. Esses resultados corroboram com o observado na análise multivariada, em que a cultivar B promoveu maior agregação do solo do que a cultivar A, e na camada 0,00-0,10 m maior agrega- ção do que na camada 0,10-0,20 m. O valor do COP (Figura 2b) foi diferente entre as camadas. Na camada 0,00-0,10 m o valor do COP do solo com a cultivar A foi 56,55% superior ao valor na camada 0,10-0,20 m, enquanto para cultivar B essa diferença foi de 42,90%. Para o manejo I, na camada 0,00-0,10 m o valor do COP foi 39,28% superior em relação ao valor da camada 0,10-0,20 m, e para o manejo NI essa diferença foi de 53,40%. Para o valor do COAM (Figura 2c) também se observaram diferenças en- tre as camadas. Para o manejo NI o valor do COAM na camada 0,00-0,10 m foi 12,74% superior ao valor da camada 0,10-0,20 m, enquanto para o manejo I a diferença entre as camadas foi de 10,92%. Na área com a cultivar B, o valor do COAM na camada 0,00-0,10 m foi 14,33% superior ao valor na camada 0,10- 0,20 m, enquanto na área com a cultivar A essa diferença foi de 9,37%. O mesmo foi observado para o valor do CO, em que na área com a cultivar A o valor do CO na camada 0,00-0,10 m foi 14,62% superior ao valor da camada 0,10-0,20 m, enquanto na área com a cultivar B essa diferença foi de 18,57%. Para o manejo I, o valor do CO na camada 0,00-0,10 m foi 14,95% superior ao valor na camada 0,10-0,20 m, e para o manejo NI essa diferença foi de 18,23%. Na Figura 3, está representado a massa dos agregados nas quatro clas- ses avaliadas. Observou-se que na camada 0,00-0,10 m a classe que possuiu 21 maior representatividade na massa total de agregados é a classe de agregado entre 6,3-4,0 mm (CA1). Figura 3. Distribuição de agregados nas classes de agregados (CA). CA1: 6,3-4,0 mm (a); CA2: 4,0-1,0 mm (b); CA3: 1,0-0,5 mm (c) e CA4: < 0,5 mm (d). A – CTC 4; B – IACSP93-3046; I – com irrigação; NI – sem irrigação. Entre cultivares, houve diferença significativa somente para a CA1. Na camada 0,10-0,20 m, na área com a cultivar B observou-se 20,58% maior massa de agregados nessa classe do que a área com a cultivar A. Isso foi confirmado também pela análise de variância do modelo linear generalizado (Tabela 2), pois ocorreu diferença significativa entre cultivares para o P1, em que o solo da área com a cultivar B apresentou maior “Diâmetro de agregados” do que o solo da área com a cultivar A. De acordo com os resultados obtidos (Tabelas 1, 2 e 3 e Figura 2 e 3), os maiores valores dos atributos do solo CO, COP, DMP e CA1 foram determinados d c b a 22 na camada 0,00-0,10 m. Isso ocorre devido à maior quantidade de material or- gânico presente na superfície do solo, proveniente de raízes e da parte aérea da cana-de-açúcar (PEDREIRA et al., 2011). Os maiores valores de carbono orgâ- nico nas camadas mais superficiais do solo são decorrentes das práticas de ma- nejo do solo e sabe-se que o carbono orgânico é o principal agente cimentante do solo para a formação dos agregados (BRONICK & LAL, 2005). Devido a maior aeração do solo na superfície, a atividade microbiana é mais elevada nessa re- gião (STONE et al., 2014). Esse fato permite a degradação de resíduos mais rapidamente do que em camadas mais profundas, aumentando o teor de car- bono orgânico nessa camada e, consequentemente, o diâmetro e a massa de agregados (DMP e CA1). Para o processo “Diâmetro de agregados” houve diferença entre cultiva- res (Tabela 2), em que o solo da área com a cultivar IACSP93-3046 obteve maior agregação do que o solo da área com a cultivar CTC 4 (Tabela 3). Esse fato foi observado em função das variáveis DMP e CA1, especialmente na camada 0,10- 0,20 m (Figuras 2a e 3a). Como ao longo de quatro anos de experimento foi observado que a cultivar IACSP93-3046 é responsiva à irrigação e a cultivar CTC 4 não se mostrou responsiva (COELHO, 2016; FISCHER FILHO, 2018), prova- velmente ocorreu diferenças no crescimento e distribuição do sistema radicular das cultivares (FAGUNDES et al., 2014). Assim, a cultivar IACSP93-3046 tende a apresentar maior quantidade de raízes em camadas mais subsuperficiais, apresentando maior eficiência de absorção de água em comparação a cultivar CTC 4. Essa maior quantidade de raízes em camadas mais profundas ajuda a explicar os maiores valores de DMP e CA1 na camada 0,10-0,20 m do solo com 23 essa cultivar, promovendo maior agregação do solo, uma vez que ao longo do ano ocorre a renovação do sistema radicular da cana-de-açúcar (FARONI & TRI- VELIN, 2006). Levando em consideração o manejo hídrico, nota-se que o solo das áreas irrigadas obteve maior “Estabilidade de agregados” do que aquele das áreas não irrigadas, com ambas cultivares. Isso ocorreu devido ao próprio umedecimento e a secagem do solo pelo manejo de irrigação, uma vez que esse processo une as partículas menores presentes no solo, deixando-as mais coesas e gerando maior dificuldade para separá-las (PIRES & BACCHI, 2010). 24 5. CONCLUSÃO A irrigação por gotejamento subsuperficial promove maior estabilidade dos agregados em áreas cultivadas com cana-de-açúcar em solo de textura ar- gilosa. Cultivares de cana-de-açúcar proporcionam diferenças na agregação do solo, sendo que a cultivar responsiva à irrigação (IACSP93-3046) promove maior agregação do solo do que a cultivar não responsiva (CTC 4). 25 REFERÊNCIAS ANA. Agência Nacional de Águas. Atlas Irrigação, Brasília, 2021. p. 1-66. BONA, F. D.; BAYER, C.; BERGAMASCHI, H.; DIECKOW, J. 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