São Paulo, março/2010 n. 15        CISC  Centro Interdisciplinar   de Semiótica da Cultura e da Mídia  Ghrebh‐ Revista de Comunicação, Cultura e Teoria da Mídia  issn 1679‐9100      Ghrebh‐ n. 15  162    OTTO MARIA CARPEAUX LEITOR DE WALTER BENJAMIN:  Passagens do moderno  OTTO MARIA CARPEAUX, WALTER BENJAMIN’S READER:  Passages from modern condensed  Mauro Souza Ventura1  RESUMO:  Este artigo efetua uma aproximação entre Carpeaux e Benjamin  com a  finalidade de  identificar  pontos de  contato entre os dois autores. Nesta operação metodológica assume papel  crucial o  cotejo de Wege  nach Rom  com  Passagens, de Walter Benjamin, o que nos  leva  a  falar de um  Carpeaux "leitor" de Benjamin.  PALAVRAS‐CHAVE: Modernidade; arte e mercado; Otto Maria Carpeaux, Walter Benjamin.  ABSTRACT:  This  article makes  a  connection between Benjamin  and Carpeaux  in order  to  identify points of  contact  between  the  two  authors.  In  this methodological  operation  assumes  the  crucial  role  collating Wege nach Rom with Benjamin's, Passages, which leads us to speak of a Carpeaux reader  of Benjamin.  KEYWORDS: Modernity, art and market, Otto Maria Carpeaux, Walter Benjamin.    O conhecimento e a  recepção da obra ensaística de Otto Maria Carpeaux  sempre  estiveram circunscritos à sua fase brasileira. Admiradores, amigos, discípulos confessos e  todos  os  que,  com maior  ou menor  intensidade,  conviveram  com  o  crítico  e  jornalista  sabiam que Carpeaux chegara ao Brasil em 1939 com vários livros publicados. No entanto,  um  véu  espesso  passou  a  cobrir  esta  etapa  de  sua  vida,  sobre  a  qual  ele  próprio  se  recusava  a  falar  ou  escrever. Uma  dessas  obras  esquecidas  é  "Caminhos  para  Roma  ‐  Aventura, queda e triunfo dos espíritos", publicado em Viena em 1934.2  São Paulo, março/2010 n. 15        CISC  Centro Interdisciplinar   de Semiótica da Cultura e da Mídia  Ghrebh‐ Revista de Comunicação, Cultura e Teoria da Mídia  issn 1679‐9100      Ghrebh‐ n. 15  163    A  interpretação desse  livro europeu de Carpeaux abre novas perspectivas sobre a  obra do  jornalista e crítico austríaco‐brasileiro. A principal delas está na possibilidade de  se ter uma compreensão sistemática do pensamento daquele que é considerado um dos  mais  importantes críticos  literários do país, e cujos ensaios sobre  literatura  tornaram‐se  um marco da formação da crítica no Brasil. Uma dessas leituras possíveis é a aproximação  que  aqui  se  faz  entre  Carpeaux  e  Benjamin,  com  a  finalidade  de  identificar  pontos  de  contato e de afastamento entre os dois autores. Nesta operação metodológica, assume  papel  crucial  o  cotejo  de Wege  nach  Rom,  de  Carpeaux,  com  duas  obras  de Walter  Benjamin: Passagens e Origem do drama barroco alemão.  O  primeiro  ponto  de  contato  entre  Carpeaux  e  Benjamin  está  na  valorização  do  Barroco  enquanto  referência  estética  e  concepção  de  mundo.  Nesse  sentido,  para  a  análise de Caminhos para Roma, o enfoque metodológico será norteado pela  leitura de  Buci‐Glucksmann  (1984)  e  pela  busca  de  indícios  do  pensamento  benjaminiano  nesta  obra, o que nos leva a argumentar em favor de um Carpeaux "leitor" de Benjamin.  No decorrer do livro, o autor empenha‐se em demonstrar que a religião de Roma é  o ponto para onde convergem todos os movimentos do espírito, idéia esta que se ancora  numa  concepção  do  catolicismo  enquanto  religião  positiva.  Apesar  de  construir  um  sistema  de  idéias  e  analogias  marcadamente  intelectualista,  o  exercício  filosófico  de  Carpeaux neste  livro não o  insere no contexto de um deismo ou mesmo de uma religião  natural.  Há  um  esforço  evidente  do  crítico  no  sentido  de  contrapor  aos  conceitos  de  racionalismo,  iluminismo e autonomia da moral uma concepção de mundo centrada nas  idéias  de  dogma,  tradição  e  fé.  Para  sustentar  tal  operação  teórica,  Carpeaux  invoca  Hegel. "Ele entende a religião como uma pré‐forma da filosofia e o dogma como uma arte  rudimentar e imperfeita."3  São Paulo, março/2010 n. 15        CISC  Centro Interdisciplinar   de Semiótica da Cultura e da Mídia  Ghrebh‐ Revista de Comunicação, Cultura e Teoria da Mídia  issn 1679‐9100      Ghrebh‐ n. 15  164    Outro  aspecto  relevante  desta  obra  está  na  relação  entre  experiência  religiosa  e  expressão literária que, em Carpeaux, transita de uma visão da religião como dogma para  uma posição mais atenuada: o fenômeno religioso enquanto consciência, presença latente  no espírito de alguém cuja  religiosidade  também  sofreu  transformações. Nesse  sentido,  uma das hipóteses levantadas neste artigo está na afirmação de que a própria fé católica  de Carpeaux passou por um processo de secu‐  larização, cuja causa parece estar em sua  trajetória pessoal.  Carpeaux constrói, nesta obra, um diagnóstico da situação da arte nos séculos XIX e  XX  e  formula  alguns dos  critérios  a partir dos quais  sua  concepção  estética  se orienta.  Assim,  será  feita  uma  aproximação  entre  Carpeaux  e  Benjamin  com  a  finalidade  de  identificar  pontos  de  contato  e  de  afastamento  entre  os  dois  autores.  Uma  dessas  aproximações está na visão teologizante da Arte e da História. Cumpre assinalar senão o  parentesco, pelo menos a proximidade com o "fundamento divino de toda história ("die  götlich Grundlage aller Geschichte") presente em Friedrich Schlegel e que tanta influência  exerceu  sobre Benjamin. Nossa hipótese é a de que  tanto o  conceito de arte quanto o  diagnóstico  severo  de  Carpeaux,  presente  em  Caminhos  para  Roma,  a  respeito  do  processo  de  secularização  sofrido  pela  arte  contemporânea,  assentam‐se  sobre  este  fundamento teológico a que nos referimos.  Também próxima desta fundamentação está a visão hegeliana segundo a qual a arte  é vista enquanto celebração, culto.  Ao longo das Lições sobre estética a consideração da obra de arte pela via da religião é  extremamente freqüente. O universo artístico é visto como um estado de religiosidade: a  celebração, o culto, as oferendas. A obra de arte confere materialidade aos rituais.4  Nesse sentido, escreve Carpeaux na abertura do quinto capítulo, "A luz de Satã" [Die  Sonne  Satans], objeto de  análise deste  artigo:  "a  verdadeira  arte é  adoração  a Deus, é  São Paulo, março/2010 n. 15        CISC  Centro Interdisciplinar   de Semiótica da Cultura e da Mídia  Ghrebh‐ Revista de Comunicação, Cultura e Teoria da Mídia  issn 1679‐9100      Ghrebh‐ n. 15  165    religião".5  Cabe  destacar  também  que,  tanto  em  Benjamin  quanto  em  Carpeaux,  as  considerações sobre a arte e a  literatura estão centradas na  idéia de perda da  tradição,  perda  da  narração  clássica  e  perda  da  aura.6  A  estreita  relação  entre  arte,  religião  e  história é a  chave para  se  compreender os argumentos  teóricos  contidos em Caminhos  para Roma. No  referido capítulo, Carpeaux descreve o momento em que a arte  troca a  inspiração divina por temas seculares. Para ele, a perda é irreparável.  Antes, porém, ele relembra aqueles momentos em que a arte encontrava na Igreja  sua  inspiração. Sempre em  tom apologético, Carpeaux  ressalta a  fidelidade da arte, em  todos os tempos, à  Igreja de Roma. De Dante a Celano, de Palestrina a Bellini, passando  pelo pintor Anselm Feuerbach, Carpeaux invoca inúmeros artistas que fundamentaram na  Igreja a temática de suas criações.  Devemos apenas lembrar de alguns nomes para saber que o espírito católico conduziu  a  arte  dos  temas  baixos  da moribunda  Renascença  para  o  ápice  do  Barroco. Não  são  evidentes  a  cúpula  abobodada  da  Catedral  de  São  Pedro  no  Vaticano,  obra  de  Michelangelo, ou o triunfo de Cristo no comovente episódio da Graça? 7  Além de glorificar o barroco e a contra‐reforma, Carpeaux destaca a presença viva  do espírito católico em diversas criações artísticas:  Vive o mesmo espírito católico tanto no estilo e nas formas ambiciosas dos céus de El  Greco  como  também nas  imagens de piedade popular de Madonas e anjos de Murillo,  assim como nos ornamentos para festas religiosas feitos por Rubens ou nos admiráveis e  rústicos aldeões de Caravaggio. Vive o espírito católico nos grandes mestres sonoros do  Barroco, em Benevoli e seus cânticos para 48 vozes, em Scarlatti, em que a suave melodia  do Sul está a serviço da  religião. Vive o espírito católico na poesia espanhola de Lope a  Calderón  (...).  Vive  o  espírito  católico  e  cristão  nos  grandes  poemas  clássicos  dos  São Paulo, março/2010 n. 15        CISC  Centro Interdisciplinar   de Semiótica da Cultura e da Mídia  Ghrebh‐ Revista de Comunicação, Cultura e Teoria da Mídia  issn 1679‐9100      Ghrebh‐ n. 15  166    franceses,  em mestres  da  língua  como  Pascal  e  Bossuet,  Racine  e  Fénelon,  pois  todos  esses eram cristãos.8  Carpeaux  recorre  ao  contexto  da  história  da  arte  para  demonstrar  o  quanto  foi  íntima  a  relação  entre  criação  artística  e  catolicismo  e  o  quanto  a  primeira  sempre  beneficiou‐se desta proximidade. Mas um novo capítulo da história da arte tem início com  este processo de secularização, que faz os temas cristãos serem deixados de lado. Escreve  o crítico:  Uma  grande morte  tem  início.  E  é  uma  obra  católica,  o  Réquiem  de Mozart,  que  acompanha  ao  túmulo  esta  arte  e  esta  sociedade.  (...)  Os  temas  cristãos  da  arte  se  perdem. Uma  grande  deformação  da  alma  tem  início. A  Igreja  empobrece  e  um  outro  público toma seu lugar.9  Carpeaux  identifica em obras  como  Ifigênia e Fausto, de Goethe, e nos  cantos de  Hölderlin e Novalis, assim como na Missa Sollemnis, de Beethoven, os últimos acordes de  uma época em que a arte se alimentava da religião ou, para usar as palavras do crítico,  tempo em que a arte verdadeira era culto e adoração ao divino.  O  conjunto  de mudanças  no  âmbito  da  arte  descrito  por  Carpeaux  coincide  com  aquilo que  Ernst Cassirer denominaria,  também nos  anos 30, de uma nova  consciência  religiosa. Um ethos substitui o antigo pathos religioso, que havia causado tantas guerras  de  religião  nos  séculos  precedentes.  A  liberdade  individual  passa  a  reger  a  própria  concepção de religião. Ao homem recém saído de sua condição de menoridade não cabia  mais  submeter‐se  a  forças  superiores.  "O  homem  não  deve mais  ser  dominado  pela  religião  como  por  uma  força  estranha;  deve  assumi‐la  e  criá‐la  ele  próprio  na  sua  liberdade interior", escreve Cassirer.10  São Paulo, março/2010 n. 15        CISC  Centro Interdisciplinar   de Semiótica da Cultura e da Mídia  Ghrebh‐ Revista de Comunicação, Cultura e Teoria da Mídia  issn 1679‐9100      Ghrebh‐ n. 15  167    Mas  o  movimento  de  Carpeaux  segue  direção  oposta,  ou  seja,  de  crítica  ao  racionalismo  da  Aufklãrung  e  de  defesa  do  barroco:  "a  pompa  sagrada  do  barroco  converte‐se  nos  adornos  luxurio‐  sos  de  uma  sociedade  decadente",  escreve.11  com  a  tradição  e, para  usar  um  termo  importante  em Benjamin,  diante  do ocaso  da  idéia  de  aura. Ao descrever o momento em que a arte deixa de ser fruto do mecenato para guiar‐ se pelos condicionamentos do incipiente mercado de bens culturais e do nascente público  consumidor, Carpeaux lamenta o rebaixamento do conteúdo artístico e as adaptações de  tempo, espaço e de estilo em função do novo público a que a arte agora se dirige. Como  em  Monsieur  Jordain,  comédia  de  Molière  em  que  aparecem  dançarinos,cantores  e  poetas, mas cuja atuação está submetida ao gosto do próprio Monsieur Jordain.  Não mais as  lentas missas solenes ou as sussurrantes cerimônias religiosas. Monsieur  Jordan  deseja  aquilo  que  seus  amigos  comerciantes  bem‐sucedidos  querem,  ou  seja,  coisas mundanas e burguesas. No século 19, Monsieur Jordan é o cliente da arte.12  Impregnado de uma visão aristocrática e, por vezes, até ingênua, Carpeaux lamenta  o abandono dos  temas  religiosos e, ao mesmo  tempo, o vínculo com os  imperativos do  mercado.  A  epopéia  termina,  a  música  sacra  morre  e  a  ópera  se  transforma  em  dramalhão,  pois  já  não  se  tem mais  tempo  para  obras  longas  e  reflexivas.  "A  epopéia  acaba, pois é muito  longa e  lenta para um homem de negócios, que  tem pouco  tempo.  Reduzem‐se primeiro o romance, depois a novela e finalmente o conto", escreve.13  Ao mesmo tempo em que deixa de ser expressão do mundo religioso, a criação artística  perde a projeção que possuía até então. Como explica Knoll, "o valor estético passa a ser  dimensionado pelo mundano. Os heróis, os semi‐deuses, os santos, aqueles que portam  um notável ou um terrível destino deixam de ser os grandes atores da arte. Entra em cena  o homem comum. A arte como momento da 'totalidade divina' já cumpriu sua missão".14  São Paulo, março/2010 n. 15        CISC  Centro Interdisciplinar   de Semiótica da Cultura e da Mídia  Ghrebh‐ Revista de Comunicação, Cultura e Teoria da Mídia  issn 1679‐9100      Ghrebh‐ n. 15  168    É evidente que esse momento histórico não é considerado por Carpeaux, que continua a  exigir da arte que cumpra uma missão que a história já enterrou.  O  diagnóstico  de  Carpeaux  sobre  a  secularização  da  arte  se  completa  com  esta  abordagem  histórico‐social,  em  que  o  fazer  artístico  é,  cada  vez  mais,  visto  como  dependente  do mercado.  O  inconformismo  de  Carpeaux  com  os  rumos  tomados  pela  modernidade chega a tal ponto que ele não hesita em afirmar que "a arte se prostituiu".  Prostituiu‐se,  primeiro,  ao  abandonar  a  religião  enquanto  fonte  de  inspiração  e,  em  segundo  lugar,  ao  se  submeter  às  regras  do  mercado.  Assim  como  rejeita  qualquer  ampliação da idéia de religião, seja no sentido de um deísmo ou de uma religião natural,  Carpeaux  não  aceita  igualmente  qualquer  dilatação  do  horizonte  da  arte.  À  religião  positiva corresponde, pois, uma arte positiva.  Esta  é  a  época  na  qual  passamos  a  apreciar  um  artista  após  sua morte  e  a  obra  é  rebaixada à condição de objeto de especulação. Gostamos mais de construir prédios para  a Bolsa e galerias do que igrejas.15  A  passagem  acima  encontra  correspondência  na  conhecida  análise  de  Benjamin  sobre  as  condições  de  produção  e  consumo  da  obra  de  arte  na  época  da  reprodução  técnica. Mas é quando escreve  sobre a Paris do  século 19 que a correspondência entre  Carpeaux  e  Benjamin  torna‐se  mais  explícita.  "Paris  vive  o  auge  da  especulação.  A  atividade especulativa nas bolsas supera as formas do jogo de azar herdadas da sociedade  feudal".16  É  interessante  confrontar  com  outro  trecho  de  Benjamin,  também  de  Passagens, no exposé de 1935:  A  imprensa  organiza  o  mercado  de  valores  espirituais  provocando  no  primeiro  momento uma alta. Os  inconformados rebelam‐se contra a entrega da arte ao mercado.  Agrupam‐se sob a bandeira da 'arte pela arte'.17  São Paulo, março/2010 n. 15        CISC  Centro Interdisciplinar   de Semiótica da Cultura e da Mídia  Ghrebh‐ Revista de Comunicação, Cultura e Teoria da Mídia  issn 1679‐9100      Ghrebh‐ n. 15  169    As  observações  de  Carpeaux  sobre  os  rumos  tomados  pela  arte  estão  fundamentadas  na  ausência  de  um  estatuto  ou  de  uma  norma  (no  caso,  de  natureza  moral e religiosa) regendo a atividade artística.  O drama necessita de uma norma religiosa e moral absolutas, a favor ou contra, para o  triunfo  ou  a  queda  dos  seus  heróis. Mas  a  sociedade  burguesa  liberal  não  tem mais  nenhum valor absoluto, deixando os valores subirem ou descerem ao sabor das cotações  da Bolsa.18  Por  trás  desta  ausência  de  valores  assinalada  por  Carpeaux,  é  possível  identificar  uma  atitude  de  reação  à  nascente  indústria  de  bens  simbólicos,  principalmente  pelos  efeitos  desses  novos  valores  de  classe  na  condição  humana,  no  esgarçamento  das  relações entre  fé e moral, entre arte e  fé. Em  suma, Caminhos para Roma é uma obra  pautada pela crítica à modernidade a partir de um ponto de vista religioso.  A questão de  fundo remete‐nos ao contexto histórico e cultural do século XIX, em  que  os  inimigos  costumavam  ser  desqualificados  como  bárbaros  e  demônios.  Nesse  sentido,  a  reconstrução  histórica  do  período  feita  por Dolf Oehler  em O  velho mundo  desce aos infernos pode ser útil para contextualizar esta obra de Carpeaux, principalmente  quanto ao teor de crítica à modernidade. Segundo Oehler, no século XIX, "os poderes das  trevas,  segundo  o  entendimento  conservador,  são  os  radicais,  os  democratas,  os  republicanos  vermelhos,  os  socialistas,  os  comunistas  e  anarquistas,  os  agitadores,  raivosos e subversivos. Eles desviam o povo, bom em si mesmo, do caminho direito e o  conduzem ao erro".19  Ilustrativos dessa abordagem são os  termos usados por Carpeaux para se  referir a  Baudelaire:  "alma  católica  moralisticamente  deformada",  que  veste  a  "máscara  do  anticristo" e que descobriu a "deformação de sua alma cristã".20 É  interessante observar  que o  crítico  Jean Royère  considera Baudelaire um místico  católico.21 Outros  exemplos  São Paulo, março/2010 n. 15        CISC  Centro Interdisciplinar   de Semiótica da Cultura e da Mídia  Ghrebh‐ Revista de Comunicação, Cultura e Teoria da Mídia  issn 1679‐9100      Ghrebh‐ n. 15  170    podem ser encontrados não só no título do capítulo que enfocamos neste artigo ("A luz de  Satã"), mas também pelo uso freqüente de expressões de conotação religiosa e moral, tais  como,  "deformação  bárbara"  e  "paganismo  bárbaro",  ou  ainda,  a  observação  de  que  vivemos numa sociedade "decaída em brutal materialismo e ateísmo".  Carpeaux classifica Baudelaire como um poeta anticristão e de vida  tumultuada, e  sua poesia reflete esse estado de coisas: "assim era sua poesia, como a cintilante e fétida  Flores do Mal, um enorme hino à Lúcifer".22 Quando se contrapõe a visão de Carpeaux e  Benjamin  sobre  Baudelaire,  observa‐se  uma  similitude  entre  as  expressões  "Hino  à  Lúcifer", empregado por Carpeaux, e as "Litanias de Satã", poema de As flores do mal.  Ao mesmo tempo, o crítico não deixa de reconhecer em Baudelaire a coragem para  protestar  "contra  uma  época  e  uma  sociedade  que  se  denomina  cristã  mas  que  se  encontra  decaída  em  um  brutal  materialismo  e  ateísmo".23  Carpeaux  observa  que  Baudelaire considerva‐se como vítima desses novos tempos e em seu desespero  invoca,  ao mesmo tempo, anjos e demônios. "Baudelaire sente‐se como uma vítima dessa época  liberal.  Em  seu  desespero,  chama  pelo  anjo  e  pelo  demônio;  e  o  demônio  vem".24  o  possível para preservar seu orgulho".25  Oehler  argumenta  que  o  uso  de  categorias  teológico‐morais  para  interpretar  o  movimento histórico e, por que não, artístico, era um dos traços do pensamento do século  XIX.  "Para  os  conservadores  como  para  os  defensores  do  progresso  e  mesmo  da  revolução, a história e a atualidade apresentam‐se como uma  luta entre o bem e o mal,  entre os poderes da luz e o das trevas", escreve Oehler.26 Ora, o mal é uma idéia fixa entre  os  teóricos, escritores e publicistas do período. Não  será exagero  inferir que Caminhos  para Roma é uma obra cujo contexto de produção remete a esse ambiente, ou melhor, a  esse combate  típico do século XIX, contra o mal e contra a  luz de Satã. Em seu estudo,  Auerbach  argumenta  que  a  interpretação  não  apenas  de  Baudelaire, mas  também  de  São Paulo, março/2010 n. 15        CISC  Centro Interdisciplinar   de Semiótica da Cultura e da Mídia  Ghrebh‐ Revista de Comunicação, Cultura e Teoria da Mídia  issn 1679‐9100      Ghrebh‐ n. 15  171    outros artistas desesperados do século XIX, como "casos exemplares de luta pela fé", era  comum  aos  críticos  católicos  do  período.27Ilustrativa  desta  concepção  é  o modo  como  Carpeaux se refere a Baudelaire:  Ele, que colocou a arte no mais alto patamar — a arte pela arte — sente, no entardecer  de  sua  vida,  a  estupidez  rondando  sobre  sua  cabeça.  Então  cai  por  terra  esta  anima  naturaliter  catholica.  E  cai  também  a  arte  no  abismo  do  esteticismo,  no  vazio. Mas  a  adoração possui exigências, a adoração ocupa o  lugar de Deus, ela é a  luminosa  luz de  satã.28  Uma  citação  de  Thibaudet,  recolhida  por  Benjamin  no  "arquivo  temático  I  ‐  Baudelaire",  e  incluído  em  "Notas  e  Materiais"  [Passagens],  permite  estabelecer  correlação com a visão de Carpeaux sobre o poeta francês, que, em seu desespero, pede  socorro tanto ao anjo quanto ao demônio.  O catolicismo  filosófico e  literário de Baudelaire precisava de um  lugar  intermediário  onde  se  alojar  entre  Deus  e  o  Diabo.  O  título  Les  limbes  (Os  limbos)  marcava  essa  localização geográfica dos poemas de Baudelaire; permitia perceber melhor a ordem que  Baudelaire quis estabelecer entre eles, que é a ordem de uma viagem e, precisamente, de  uma  quarta  viagem  depois  das  três  viagens  dantescas  do  Inferno,  do  Purgatório  e  do  Paraíso. O poeta de Florença continua no poeta de Paris.29  As  confluências  não  cessam:  Carpeaux  cita  o  personagem  de Molière, Monsieur  Jordan, como o novo cliente da arte; Benjamin, por seu turno, refere‐se mais de uma vez,  à nova  situação  social em que a arte  "põe‐se a  serviço do  comerciante".30 Neste ponto  uma  questão  se  impõe:  estamos  nos  anos  1930,  época  em  que  começam  a  surgir  importantes  formulações  críticas  à  Modernidade,  cujos  elementos  de  análise  são:  Baudelaire e as Flores do mal, o  ideal urbanístico de Haussmann, a  técnica, as  relações  entre arte, público e mercadoria, o novo processo de produção da arte, o surrealismo e o  São Paulo, março/2010 n. 15        CISC  Centro Interdisciplinar   de Semiótica da Cultura e da Mídia  Ghrebh‐ Revista de Comunicação, Cultura e Teoria da Mídia  issn 1679‐9100      Ghrebh‐ n. 15  172    papel das vanguardas. Todos esses assuntos estão presentes, em maior ou menor grau,  neste livro de Carpeaux, Caminhos para Roma, e integram, como é sabido, os temas e as  reflexões que perpassam o pensamento de Benjamin, principalmente em Passagens, sua  obra‐prima inacabada.  De acordo com Tiedemann,31 as primeiras notas para este livro começaram a surgir  em 1927 e Benjamin trabalhou neste projeto durante treze anos, até sua morte em 1940.  Considerando que  as primeiras  anotações de Benjamin para o  texto Paris, a  capital do  século XIX datam de 1935  (o  chamado Exposé de 1935,), enquanto que Caminhos para  Roma  data  de  1934,  não  será  um  despropósito  concluir  que  Carpeaux  e  Benjamin  refletiram  no mesmo  período  sobre  essas  questões,  ainda  que  não  exatamente  com  o  mesmo enquadramento teórico. Com efeito, o mínimo que se pode dizer é que há entre  Carpeaux  e  Benjamin  bem mais  do  que  uma  proximidade  temática:  trata‐se  de  uma  identificação e uma concepção de mundo que apresenta  inúmeros pontos de contato, e  cujos indicadores preliminares este estudo busca evidenciar.  NOTAS  1. Doutor  em  Teoria  Literária  pela  Faculdade  de  Filosofia,  Letras  e  Ciências  Humanas  da  Universidade  de  São  Paulo  (FFLCH‐USP)  e  professor  do  Programa  de  Pós‐Graduação  em  Comunicação da UNESP. É autor de De Karpfen a Carpeaux (Topbooks).  2. KARPFEN, Otto Maria. Wege nach Rom. Abenteuer, Sturz und Sieg des Geistes. Wien: Reinhold‐ Verlag,  3. "Er erklärte die Religion als eine Vorform der Philosophie, das Dogma als eine Art unentwickelte  und unvollkommene." KARPFEN, op. cit., p.83. A tradução deste e dos demais trechos citados de  Carpeaux é do autor.  4. KNOLL, Vitor. "História, religião e arte". In: Tempo Social. USP, São Paulo, 8/2, outubro de 1996,  p.113.  São Paulo, março/2010 n. 15        CISC  Centro Interdisciplinar   de Semiótica da Cultura e da Mídia  Ghrebh‐ Revista de Comunicação, Cultura e Teoria da Mídia  issn 1679‐9100      Ghrebh‐ n. 15  173    5. "Wahre Kunst ist Gottesdienst, ist Religion." KARPFEN, op. cit., p.107.  6. GAGNEBIN,  Jeanne Marie.  História  e  narração  em Walter  Benjamin.  São  Paulo:  Perspectiva,  2004.  7. "Man muß nur einige Nammen erinnern, um zu erkennen, wie es katholischer Geist war, der die  Kunst von den Niederungen der sterbenden Renaissance zu den Gipfeln des Barock emporführte.  War es nich der greife Michelangelo, der die Kuppel von St. Peter beim Vatikan emporwölbte, und  nachts in erschütternden Gedichten und die Gnade Christi rang?" KARPFEN, op. cit., p.111.  8. "Es lebt derselbe katholische Geist in den steil zu mystischen Himmeln aufstrebenden Gestalten  des  Greco  wie  in  den  volkstümlich  innigen  Madonnen  und  Schutzengeln  des Murillo,  in  den  rauschenden  Kirchenfesten  des  Rubens wie  in  den  bäuerlichen Anbetungen  des  Caravaggio.  Es  lebt  katholischer  Geist  in  der  großen  Tonmeistern  des  Barock,  in  Benevoli,  der  achtundvierzig  Stimmen  übereinander  zu  türmen wußte,  in  Scarlatti,  der  die  süßen Melodien  des  Südens  der  Kirche dienstbar machte. Es  lebt katholischer Geist  in der spanischen Dichtung, die von Lope bis  Calderon  sich mit  besonderer  Innigkeit  der  Verherrlichung  des  allerheiligsten  Altarsakramentes  weihte.  Es  lebt  christicher  und  katholischer  Geist  in  der  großen  klassischen  Dichtung  der  Franzosen, deren Meister der Sprache von Pascal und Bossuet bis zu Racine und Fénelon alle gute  Christen waren." KARPFEN, op. cit., p.111.  9. "Ein  großes  Sterben  beginnt.  Es  ist  ein  katholisches  Kunstwerk, Mozarts  Requiem,  das  diese  Kunst und diese Gesellschaft zu Grabe geleitet. (...) Dann gehen die christlichen Themen der Kunst  verloren. Die große Deformation der Seelen beginnt. Die Kirche verarmt; und andere Auftraggeber  treten an ihre Stelle." KARPFEN, op. cit., p.112.  10. CASSIRER,  Ernst.  A  filosofia  do  iluminismo.  Trad.  Álvaro  Cabral.  Campinas:  Ed.  da Unicamp,  1994, p.225.  11. "Der  gottgeweihte  Prunk  des  Barock  verwandelte  sich  in  den  luxuriösen  Zierat  einer  verfaulenden Gesellschaft." KARPFEN, op. cit., p.112.  São Paulo, março/2010 n. 15        CISC  Centro Interdisciplinar   de Semiótica da Cultura e da Mídia  Ghrebh‐ Revista de Comunicação, Cultura e Teoria da Mídia  issn 1679‐9100      Ghrebh‐ n. 15  174    12. "In  einem  Lustspiel  von  Moliere  nimmt  ein  reichgewordener  Parvenu,  Monsieur  Jourdain,  Tanzmeister, Sänger und Dichter in reichlichen Sold. Aber sie müssen tanzen, singen und dichten,  was dem Monsieur Jourdain gefällt. Nichts mehr von  langweiligen Hochämtern und rauschenden  Festen. Monsieur  Jourdain will  sehen  und  hören, was  seinem  Kaufmannsherzen  Freude macht,  weltliche und bürgerliche Dinge.  Im 19.  Jahrhundert wurde Monsieur  Jourdain der Auftraggeber  der Kunst." KARPFEN, op. cit., p.112.  13. "Das Epos hört auf; es  ist zu  lang und zu  langweilig  für einen Geschäftsmann, der wenig Zeit  hat. Es verkürzt sich erst zum Roman, dann zur Novelle und endlich zur Kurzgeschichte." KARPFEN,  op. cit., p.113.  14. KNOLL, Vitor. História, religião e arte.  In: Tempo Social. Revista de Sociologia. USP, São Paulo,  8/2, outubro de 1996, p.115.  15. "Es ist die Zeit, da man die Künstler erst nach ihren Tode zu schätzen beginnt und die Werke der  Verhungerten  zu  Spekulationsobjekten  erniedrigt.  Man  baut  lieber  Börsenpaläste  und  Ausstellungshallen als Kirchen." KARPFEN, op.cit. p.113.  16. BENJAMIN, Walter. Passagens. Org. de Willi Bolle. Trad. de Irene Aron e Cleonice Paes Barreto  Mourão. São Paulo: Imprensa Oficial; Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2006, p.49.  17. BENJAMIN, op. Cit., p.48.  18. "Das  Drama  bedarf  absoluter  religiöser  und  sittlicher  Satzunger,  für  oder  gegen  die  seine  Helden  siegen  oder  fallen;  die  liberale  bürgerliche Gesellschaft  glaubt  aber  an  keine  absoluten  Werte mehr, sie läßt die Werte steigen und fallen wie die Börsenkurse." KARPFEN, op. Cit., p.113.  19. OEHLER, Dolf. O velho mundo desce aos infernos. Auto‐análise da modernidade após o trauma  de  junho de 1848 em Paris. Trad.  José Marcos Macedo. São Paulo: Companhia das Letras, 1999,  p.40.  20. KARPFEN, op. cit. p.115.  São Paulo, março/2010 n. 15        CISC  Centro Interdisciplinar   de Semiótica da Cultura e da Mídia  Ghrebh‐ Revista de Comunicação, Cultura e Teoria da Mídia  issn 1679‐9100      Ghrebh‐ n. 15  175    21. AUERBACH,  Erich.  "As  flores  do mal  e  o  sublime".  In:  Ensaios  de  literatura  ocidental.  Trad.  Samuel Tital Jr. e José Marcos Macedo. São Paulo: Duas Cidades; Ed. 34, 2007, p. 320, nota 7.  22. "Wüst war sein Gedicht, das die schillernden und übelriechenden Blumen des Bösen feiert und  in einen Hymne an Luzifer gipfelt." KARPFEN, op. cit. p.115.  23. "(...)  gegen einer Zeit und eine Gesellschaft, die sich christlich nannten und dabei dem  wüstesten Materialismus und Atheismus verfallen waren." KARPFEN, op. cit. p.115.  24. "In  seiner  Verzweiflung  rief  er  die  Engel  und  die  Dämonen  an;  und  die  Dämonen  kamen."  KARPFEN, op. cit. p.116.  25. AUERBACH, op. cit. p.324.  26. OEHLER, op. cit. p.42.  27. AUERBACH, op. cit. p.324‐325.  28. "Er,  der die auf sich allein gestellte Kunst  ‐  l'art pour  l'art  ‐ auf  ihren höchsten Gipfel  gefürt hatte, fühlte am Abend seines Lebens den Flügelschlag des Blödsinns über seinem Haupte.  So  stürzte diese  anima naturaliter  catholica. Und mit  ihr  stürzte die  Kunst  in den Abgrund des  Aesthetizismus, in das Nichts. Sie hatte Abentung gefordert, Abentung an Stelle Gottes; sie war zur  leuchtenden Sonne Satans geworden." KARPFEN, op. cit., p.116.  29. BENJAMIN, op. cit., p.279.  30. BENJAMIN, op. cit., p.55.  31. Apud BENJAMIN, op. cit., p.13‐14.  REFERÊNCIAS  AUERBACH, Erich. "As flores do mal e o sublime". In: Ensaios de literatura ocidental. Trad.  Samuel Tital Jr. e José Marcos Macedo. São Paulo: Duas Cidades; Ed. 34, 2007.  BENJAMIN, Walter. Origem do drama barroco alemão. Trad. e pref. Sérgio Paulo Rouanet.  São Paulo: Bra‐ siliense, 1984.  São Paulo, março/2010 n. 15        CISC  Centro Interdisciplinar   de Semiótica da Cultura e da Mídia  Ghrebh‐ Revista de Comunicação, Cultura e Teoria da Mídia  issn 1679‐9100      Ghrebh‐ n. 15  176    BENJAMIN, Walter. Passagens. Org. de Willi Bolle.  Trad. de  Irene Aron  e Cleonice Paes  Barreto Mourão. São Paulo: Imprensa Oficial; Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2006.  BUCI‐GLUCKSMANN, Christine. La raison baroque de Baudelaire a Benjamin. Paris: Galilée,  1984.  CASSIRER, Ernst. A filosofia do iluminismo. Trad. Álvaro Cabral. Campinas: Ed. da Unicamp,  1994.  KARPFEN, Otto Maria. Wege  nach  Rom.  Abenteuer,  Sturz  und  Sieg  des Geistes. Wien:  Reinhold‐Verlag, 1934.  KNOLL, Vitor. História,  religião e arte.  In: Tempo Social. Revista de Sociologia. USP, São  Paulo, 8/2, outubro de 1996.  MISSAC, Pierre. Passagem de Walter Benjamin. Trad. Lilian Escorel. São Paulo: Iluminuras,  1998.  OEHLER, Dolf. O velho mundo desce aos  infernos. Auto‐análise da modernidade após o  trauma de junho de 1848 em Paris. Trad. José Marcos Macedo. São Paulo: Companhia das  Letras, 1999.  OEHLER, Dolf. Quadros  parisienses.  (1830‐1848):  estética  anti‐burguesa  em  Baudelaire,  Daumier e Heine. Trad. José Marcos Macedo e Samuel Titan Jr. São Paulo: Companhia das  Letras, 1997.  ROCHLITZ,  Rainer.  O  desencantamento  da  arte.  A  filosofia  de Walter  Benjamin.  Trad.  Maria H. Assunção. Bauru: Edusc, 2003.  SELIGMANN‐SILVA, Márcio. Ler o livro do mundo. Walter Benjamin: Romantismo e critica  literária. São Paulo: Iluminuras/Fapesp, 1999.  São Paulo, março/2010 n. 15        CISC  Centro Interdisciplinar   de Semiótica da Cultura e da Mídia  Ghrebh‐ Revista de Comunicação, Cultura e Teoria da Mídia  issn 1679‐9100      Ghrebh‐ n. 15  177    SELIGMANN‐SILVA,  Márcio  (Org).  Leituras  de  Walter  Benjamin.  São  Paulo:  Fapesp/  Annablume, 1999.    Texto recebido em 08 de fevereiro de 2010  Text received on February 08, 2010  Texto publicado em 01 de março de 2010  Text published on March 01, 2010