MINERAIS PESADOS PROVENIENTES DO LEITO DO RIO AMAZONAS Paulo M. B. Landim (*) Nivaldo J. Bosio (*) (**) Fu T. Wu (*) Paulo R. M. Castro (•••) Resumo Com a intenção de verificar a origem do material transportado pelo Rio Ama­ zonas, amostras de calha foram coleta­ das em 60 locais entre Belém (Brasil) até Iquitos (Peru). Tendo sido escolhidos 28 amostras, as mesmas foram submetidas a um estudo mineralógico, o qual revelou os seguintes minerais pesados presen­ tes: turmalina, zircão, granada, estauroli- ta, hiperstênio, piroxênio (augita), anfibó- lio (hornblenda), tremolita, magnetita ou ilmenita e leucoxênio. Em quase todas as amostras ocorre uma grande quantida­ de de minerais instáveis idiomórficos, co­ mo hiperstênio, augita e anfibólio, indi­ cando uma área fonte constituída pelas rochas básicas e ultrabásicas, diminuin­ do para jusante. Minerais estáveis, co­ mo zircão e turmalina, apresentam-se tan­ to angulosos como arredondados, indi­ cando mais de uma área fonte, mas de qualquer modo sempre a partir de rochas ácidas. Aplicando aos dados o método classificatório multivariante da análise de agrupamentos (cluster analysis), dois maiores grupos de amostras foram res­ saltados: um constituído por amostras localizadas no alto Rio Amazonas e com maior teor em minerais instáveis, prova­ velmente com origem andina; o outro formado principalmente por amostras que se localizam, a partir da confluência com o Rio Juruá, até Belém e contendo uma alta porcentagem em zircão e turmalina, indicando além de uma contribuição an­ dina, fontes nos escudos precambrianos a norte e sul do Rio Amazonas. (*) UNESP, Rio Claro - SP (**) Endereço atual IPT, São Paulo, SP (**•] UNICAMP, Limeira, SP INTRODUÇÃO A bacia Amazônica com uma área de aproximadamente 6 x 106 km2, situada na região norte da América do Sul, pelas suas dimen­ sões continentais vem, de há mui­ to, despertando interesse da co­ munidade científica que tem pro­ curado enfocá-la sob os mais di­ versos aspectos. Um dos mais im­ portantes é sobre o comportamen­ to da atual rede de drenagem do Rio Amazonas e tributários. Geo­ logicamente a região constitui-se em uma bacia intracratônica paleo­ zóica disposta, a grosso modo, no sentido este-oeste, limitada por dois escudos precambrianos ao norte e ao sul. Como depósitos de cobertura encontram-se sedimen­ tos cretácicos e cenozoicos sobre os quais o Rio Amazonas e seus afluentes instalaram-se. A história pré-atual dessa drenagem está, portanto, ligada às condições do ambiente de deposição ao fim do Cretáceo e início do Terciário, principalmente durante o levanta­ mento dos Andes no Terciário mé- ACTA AMAZÔNICA 13(1): 51-72. 1983 — 51 dio que foi de fundamental impor­ tancia no estabelecimento do atual padrão. Na tentativa de contribuir para o esclarecimento desse problema foram coletadas amostras de sedi­ mentos do fundo do leito do Rio Amazonas, de Belém, no Brasil até Iquitos, no Peru, durante a expedi­ ção do navio oceanográfico Alpha- Helix à Amazonia em 1976-1977. A idéia foi a de ao estudar a suite de minerais pesados existentes nesses sedimentos de fundo, po­ der caracterizar quais as fontes e como conseqüência quais as áreas que atualmente contribuem de ma­ neira mais significativa. GEOLOGIA REGIONAL O Rio Amazonas distribui-se por mais de 4.000 km dos Andes ao Oceano Atlântico ocupando aproxi­ madamente o eixo da Bacia Sedi­ mentar Amazonia. Essa bacia, de caráter intracratônico, teve sua origem no Paleozoico inferior si- tuando-se entre o Escudo das Guianas ao norte e o Escudo Cen­ tral Brasileiro ao sul, ambos com­ postos por rochas pré-Cambrianas de idades diversas e predominan­ temente ácidas. Tectónicamente, essa bacia é di­ vidida em três porções: região oriental ou bacia do Marajó; re­ gião central e região ocidental ou bacia do Acre. A região oriental que corresponde à foz do Amazo­ nas, apresenta grande espessura de sedimentos cretácicos e ceno­ zoicos e acha-se separada da re­ gião central pelo arco de Gurupá. A região ocidental que abrange a porção centro-oeste do Estado do Amazonas e o Estado do Acre é constituída por sedimentos meso­ zoicos dobrados por influência da orogenia Andina e principalmente por sedimentos cenozoicos e está separada da região central pelo ar­ co de Iquitos. A região central si­ tuada entre os rios Xingu e Negro, corresponde a parte mais estreita da bacia e é bem caracterizada por sedimentos paleozoicos e intru­ sões básicas de idade mesozoica, sendo coberta por sedimentos cre­ táceos e cenozoicos. Esta região é subdividida pelos altos do Purus a oeste, e de Monte Alegre a les­ te, em Bacia do Alto Amazonas, Bacia do Médio Amazonas e Bacia do Baixo Amazonas. A sedimentação paleozoica foi essencialmente marinha. Com a saída definitiva dos mares interio­ res da região amazônica durante o Permiano médio, o ambiente pas­ sou a ser continental, sendo a re­ gressão no sentido geral de Este para Oeste. A Bacia Amazônica durante a sedimentação final do Paleozoico consistiria de duas ba­ cias distintas: Alto Amazonas e Médio-Baixo Amazonas, separadas pelo Arco do Purus (Carozzi et al., 1972). 52 — Landim et al. Figura 1 — Mapa Geológico esquemático da região amazônica, modificado de An­ drade e Cunha 1971. Os períodos Triássico e Jurássi­ co corresponderam a tempos de intensa deformação tectónica da crosta como uma preparação à abertura do Oceano Atlântico ini­ ciada no fim do Jurássico. Essa fase tectónica foi acompanhada de magmatismo básico na região amazônica representado por inú­ meras intrusões de diabásio. Importante para se entender o estabelecimento da atual drena­ gem é o conhecimento das condi­ ções de deposição dos sedimen­ tos de cobertura. Até há bem pou­ co tempo essa extensa cobertu­ ra continental pós-paleozóica da Amazônia era admitida como re­ presentada por uma única unidade sedimentar, isto é, a Formação Barreiras. Caputo et al. (1971) fo­ ram os primeiros a demonstrar a existência de duas seqüências se­ dimentares distintas nessa área: a Formação Alter do Chão e a For­ mação SolimÕes, sem entretanto definir os seus limites. A obser­ vação de imagens de radar, na es­ cala 1:1.000.000, permitiu Santos (1976) delimitar a vasta distribui­ ção da Formação Solimões desde a região ocidental do Alto do Pu- rus até as cercanias do Peru e da Colômbia, abrangendo área supe­ rior a 1.000.000 km 2 . A Formação Alter do Chão ocorre na região do médio e baixo Amazonas, estando recoberta pela Formação Solimões na região do alto Amazonas e por sedimentos cenozóicos mais re­ centes na foz do rio Amazonas. A Formação Alter do Chão é re­ presentada por arenitos argilosos e argilitos, com grauvacas, bre­ chas intraformacionais e níveis de conglomerados de ocorrência res­ trita. Sua idade é referida por Daemon & Contreira (1971) como cretáceo superior (Cenomaniano e Maestrichtiano). A Formação Soli­ mões é representada por arenitos finos a médios intercalados com argilitos e siltitos contendo restos vegetais e concreções de gipsita. Os argilitos gradam para margas e calcários argilosos e nos 300m su­ pervisores ocorre linhito de baixa qualidade em camadas de 2 m a 10 m de espessura (Santos, 1976). Segundo Daemon & Contreira (1971) a Formação Solimões foi depositado do Paleoceno ao Pleis- toceno. Segundo Almeida (1976) duran­ te o Cretáceo Superior grande parte da região amazônica seria constituída por terras altas, ser­ vindo como área-fonte, enquanto as bacias do Médio e do Baixo Amazonas recebiam os sedimen­ tos que iriam constituir a Forma­ ção Alter do Chão. Nessa ocasião a bacia do Alto Amazonas já esta­ ria separada pelo Alto do Purus. No flanco ocidental do Alto do Purus se instalaria uma bacia hi­ drográfica com sentido geral de corrente de este para oeste. Ao canal principal dessa drenagem Almeida (1976) propôs o nome de Rio Sazonama, isto é, Amazonas ao contrário. Este rio, cujos limi­ tes litorâneos estariam aproxima­ damente ao longo da longitude 73°W, isto é, atuais limites do Bra- sjl e Peru, deveria durante o Cre­ táceo inferior desaguar no Oceano Pacífico. Até o Terciário inferior, as águas continentais da bacia do Alto Amazonas desaguariam no Oceano Pacífico na altura da lati­ tude de Guayaquil. Posteriormen­ te aquela saída seria interrompida como conseqüência do início da orogenia andina. A partir de então as águas fluviais ao atingirem aproximadamente a longitude de Iquitos, deslocaram-se para o nor­ te interconectando-se com a dre­ nagem do Rio Orenoco; ver a pro­ pósito Irving (1971). Esta situação teria perdurado até o início do Pleistoceno inferior, segundo Al­ meida (1976), quando pelo dobra- mento do geossinclíneo andino na Colômbia e Venezuela ocorreria a inversão da drenagem rumo ao oeste. Isso significa que a inver­ são do sentido da rede hidrográfi­ ca da bacia amazônica, condiciona­ da aos movimentos tectónicos da orogenia andina e da epirogênese sul-americana, é mais nova que Pleistoceno inferior. Em outras pa­ lavras, a configuração que a bacia Amazônica apresenta atualmente não deve ter mais de 1.000.000 anos. COLETA DE MATERIAL As amostras do leito do rio Amazonas e da desembocadura de alguns de seus maiores tributários foram coletadas durante um cru­ zeiro do navio oceanográfico AI- pha-Helix, pertencente ao Scripps Institutions of Oceanography, da Universidade da Califórnia, à Ama­ zônia em duas etapas: entre junho e julho de 1976, entre Belém, jun­ to à desembocadura, e Iquitos a 4.000 km rio acima, e entre maio e junho de 1977, entre Iquitos e Belém. Na primeira fase 60 locais fo­ ram amostrados e dessas amos­ tras estudou-se a fração pesada contida na classe areia fina (0,125 — 0,250 mm) de 28 amostras se- lecionadas. A localização dessas amostras está na Figura 2 e o re­ sultado do estudo dos minerais pesados na Tabela 1. Foram determinadas 12 espé­ cies minerais: turmalina, zircão, granada, apatita, estaurolita, epi- doto, hiperstênio, piroxênio (augi- ta), anfibólio (hornblenda), tre- molita, magnetita ou ilmenita e leucoxênio. Todas as amostras são constituídas predominante­ mente por opacos e entre os trans­ parentes distinguem-se os instá­ veis hiperstênio, augita e anfibó­ lio, que se apresentam idiomórfi- cos. A presença desses minerais decresce em direção à foz do Ama­ zonas. Minerais ultraestáveis pre­ sentes, como zircão e turmalina, apresentam-se tanto angulosos co­ mo arredondados indicando tanto derivação direta como material re- trabalhamento. Amostras situadas no terço su­ perior do rio, como as de número 60, 56 e 50 apresentam minerais • L O C A I S OC A M O S T R A G E I Figura 2 — Localização das amostras coletadas na 1.« fase, ou seja, entre junho e julho de 1976. TABELA 1 Distribuição dos minerais pesados por amostra Amostras Tu Z G Ap Et Ep H Ag Af Tr M + I L 60 1.89 5.26 2.26 0.00 0.00 0.00 12.63 29.73 4.38 1.25 35.46 5.59 58 1.43 1.32 2.52 2.03 0.00 0.00 12.45 49.36 2.86 0.72 21.56 2.63 56 1.53 2.46 3.94 0.89 . 0.00 0.15 12.86 19.89 2.62 1.07 47.92 5.95 55 0.50 1.20 1.25 0.72 0.50 1.00 7.88 43.40 5.86 1.95 26.87 6.38 54 0.50 10.53 3.51 0.00 0.00 0.50 12.28 38.10 3.51 0.00 25.82 3.51 53 1.69 1.69 1.69 1.69 0.00 0.00 22.03 37.29 5.08 1.69 20.34 3.39 50 0.50 0.50 2.90 0.50 0.50 0.00 10.14 33.58 1.45 0.50 45.08 4.35 49 2.62 0.70 0.99 1.28 0.30 0.00 15.80 41.13 5.75 2.26 17.30 7.42 48 0.50 0.00 3.70 0.00 0.00 0.00 20.07 40.04 11.11 0.50 18.02 5.56 47 4.00 4.00 3.00 0.50 0.00 2.00 4.00 15.00 45.50 7.00 4.00 2.00 46 0.50 0.50 3.64 0.90 0.00 0.50 14.88 38.84 16.83 2.31 16.36 3.49 45 0.50 0.00 3.95 1.32 0.00 0.50 10.53 38.47 20.05 5.26 14.47 3.95 44 0.00 3.03 0.00 0.00 0.00 3.03 6.06 12.12 6.06 0.00 57.58 12.12 42 0.00 1.67 3.33 0.00 1.67 0.00 23.33 43.33 5.00 5.00 13.33 3.33 39 2.99 8.96 0.00 0.00 2.99 1.49 1.49 1.49 2.99 7.46 50.25 17.91 38 2.00 0.00 4.00 2.00 2.00 0.50 27.00 28.00 6.00 4.00 18.00 2.00 37 0.50 2.53 2.53 1.27 0.00 0.00 5.06 22.28 18.99 1.27 25.32 13.92 35 0.50 2.88 2.88 4.23 0.50 0.00 12.86 27.17 2.82 0.00 35.62 11.27 32 0.50 1.70 3.41 1.05 0.00 0.50 18.26 30.76 5.90 1.70 29.61 6.47 30 0.00 0.50 5.33 1.33 1.33 1.33 14.67 25.67 6.67 2.69 33.33 2.67 29 0.00 2.00 2.00 0.00 2.00 2.00 8.00 42.00 4.00 2.00 18.00 12.00 27 2.00 0.50 2.00 2.00 0.50 0.50 19.50 35.00 14.00 2.00 16.00 4.00 24 3.13 0.00 3.13 0.00 3.13 6.25 0.50 3.13 4.69 1.56 41.64 26.56 15 0.50 1.75 1.75 1.75 1.75 1.75 19.00 26.00 14.04 3.51 22.81 3.51 14 1.69 0.50 3.39 0.50 0.50 3.39 16.00 36.29 10.17 6.78 10.86 6.78 13 0.72 1.67 2.31 1.55 1.21 3.35 16.74 21.39 9.89 4.28 29.19 6.06 12 0.00 1.75 5.26 1.75 1.75 7.02 5.26 27.57 19.30 0.50 24.06 5.26 7 0.00 1.67 1.67 0.50 0.50 3.33 18.33 22.83 3.33 3.33 37.33 5.00 Tu = Turmalina; Z = Zircão; G = Granada; Ap • Apatita; Et • Estaurolita; Ep = Epidoto; H • Hiperstenio; Ag = Augita; Af = Anfibolio; Tr - Tremolita; M + I - Magnetita e Ilmenita; L = Leucoxenio. pesados ultra-estáveis angulosos e arredondados, como turmalina e zircão, como minerais instáveis angulosos, como hiperstênio, augi­ ta e anfibólio. Amostras situadas no terço mé­ dio do rio, como as de número 47, 44, 39 e 24, apresentam maior fre­ qüência em minerais ultra-está­ veis e minerais metaestáveis co­ mo epidoto e estaurollta. Amostras situadas no terço infe­ rior, como as de número 30 a 7, são constituídas por epidoto e es- taurolita em porcentagens consi­ deráveis. As amostras coletadas na se­ gunda etapa, aproximadamente nos mesmos locais, foram utiliza­ das para comparação com os re­ sultados da primeira amostragem, tendo tal comparação revelado va­ lores idênticos. Neste segundo estudo revelaram que andalusita aparece em alguns locais ao longo do alto e médio Amazonas e em afluentes da margem sul e que hi­ perstênio e augita são raras nas areias do fundo dos rios afluentes da margem norte. De posse dos valores percen­ tuais para os doze minerais encon­ trados procurou-se constatar o seu comportamento ao longo do rio Amazonas. O resultado acha-se na Figura 3, o qual, pela variabilidade de cada um dos minerais, não re­ vela de imediato nenhum padrão de distribuição. Como essa manei­ ra de apresentação gráfica do comportamento dos minerais pe­ sados ao longo do Rio Amazonas mostrou-se nada conclusiva, optou- se pela utilização de uma outra metodologia. A fim, pois, de veri­ ficar se existe a possibilidade de uma classificação das amostras em areia, utilizando-se dos mine­ rais pesados, aplicou-se aos dados a técnica multivariante da análise de agrupamentos (cluster analy- sis). ANALISE DE AGRUPAMENTOS (cluster analysis) Quando se dispõe, como no pre­ sente caso, de uma matriz de da­ dos resultante de diversas variá­ veis (minerais pesados) observa­ dos em diversos espécimes (amos­ tras de areia) e há necessidade de um processo classificatório que coloque os espécimes em grupos mais ou menos homogêneos, a téc­ nica estatística multivariante da análise de agrupamentos deve ser usada. Essa técnica procura revelar agrupamentos, representados num espaço multidimensional em um número conveniente, relacionan- do-os através de coeficientes de similaridade ou de semelhança. Para o desenvolvimento de tal metodologia, parte-se de uma ma­ triz simétrica de coeficientes de associação entre itens. Para a combinação dos mesmos, segundo níveis hierárquicos de similarida­ de, adota-se um procedimento aglomerativo apropriado. Isto sig- - - TURMALINA APATITA Figura 3 — Distribuição em valores percentuais dos minerais pesados encontrados desde Iquitos (Peru) ató proximidades de Be­ lém (Brasil). niflca que a matriz de associações deve ser recalculada a cada ciclo de agrupamentos em uma ordem sucessiva no sentido de decrésci­ mo de similaridade. A forma gráfica mais usada pa­ ra representar tal agrupamento hierárquico é o dendrograma. Maiores detalhes podem ser vis­ tos em Davis (1973). Para o presente estudo esco­ lheu-se como coeficiente de simi­ laridade o coeficiente de distân­ cia. Esse coeficiente expressa o grau de similaridade como distân­ cia em um espaço multidimensio- nal. Quanto menor a distância, maior o grau de similaridade e vi­ ce-versa. A distância D entre dois pontos, cuja localização é especi­ ficada num sistema de eixos orto­ gonais, é fornecida, segundo o teo­ rema de Pitágoras, por: D,,j = < (x, — x 2) 2 + (y, — y 2) 2 \ 1/2 onde X i , x2, y t e y2 são as coorde­ nadas dos dois pontos. Para a distância entre k pontos, num espaço n-dimensional, a for­ ma generalizada é: n D YZ (X — x v IJ k = 1 ik jk 1/2 Tendo todas as variáveis o mes­ mo peso, a função distância será limitado pelos valores 0 (maior si­ milaridade) e 1,0 (menor similari­ dade). Se as variáveis não forem previamente homogeneizadas D assumirá os valores de 0 até + 0 0 Como procedimento aglomerati- vo, foi adotado o "weighted pair- group method" (WPGM). Segundo esse método procura-se na matriz inicial de coeficientes de similari­ dade entre amostras pelos mais altos coeficientes de similaridade por coluna que sejam simultanea­ mente os mais altos coeficientes por linhas. Esses valores serão então registrados em um diagra­ ma que indique num de seus limi­ tes o grau de similaridade entre pares de amostras. Em seguida a matriz de similari­ dade é recalculada, tratando os elementos anteriormente agrupa­ dos como elementos singulares. Para tanto calculam-se as médias aritméticas dos valores para os pares de colunas agrupadas. Pro­ cura-se novamente pelos mais al­ tos coeficientes de similaridade na nova matriz e esses valores se­ rão também registrados no gráfi­ co. A operação de recalculo conti­ nua até a obtenção de uma matriz 2x2. Ao gráfico que mostra o re­ lacionamento entre todas as amos­ tras dá-se o nome de dendrogra­ ma. Aplicando-se a análise de agru­ pamentos à matriz de dados em que as amostras representam as linhas e as porcentagens de mine­ rais pesados as colunas, três agru­ pamentos foram determinados (Fi­ gura 4). Esses agrupamentos re- ë «S tfí O) 0> O H- o o ü 5t »! i I i II I I I I i I ?! • ! i A m o s t r a s B <\j O £- IO K> O CU 1 1 ID CD U> IO «> O « Figura 4 -Dendrograma resultante da análise de agrupamentos aplicada às amostras de areias estudadas, tendo como variáveis a porcentagem presente de minerais pesados. velam que as amostras de um dos grupos distribuem-se principal­ mente pelo alto Amazonas, que as amostras de um outro grupo dis­ tribuem-se da confluência com o Rio Juruá até a foz e o terceiro grupo ocupa uma posição interme­ diária, porém mais coincidente com o primeiro (Figura 5). O que já se percebia quando da primeira verificação da distribui­ ção dos minerais pesados por amostra, isto é, um certo condicio­ namento espacial, ficou mais evi­ dente pelos resultados da análise de agrupamentos. A fim de tentar uma explicação geológica para esses agrupamen­ tos calculou-se para cada amostra índices que relacionam minerais instáveis com minerais estáveis, segundo Hubert, 1962. hornblenda + epidoto + granada li = - zircão + turmalina + rutilo epidoto + granada + augita l 2 = zircão + turmalina + rutilo O índice li indica como fonte uma maior ou menor proveniência a partir de gnaisses e xistos. O ín­ dice l 2 evidencia contribuição a partir de rochas básicas. Os resultados referentes a es­ ses índices encontram-se na Tabe­ la 2 e na figura 6. Pela figura 6, pode notar-se que as amostras situadas na porção superior do rio Amazonas tem uma tendência a apresentarem valores maiores para l 2 ou seja uma in­ fluência a partir de rochas bási­ cas, e que as amostras situadas abaixo da confluência com o rio Juruá tem uma tendência a apre­ sentarem valores maiores para h, ou seja uma influência a partir de rochas metamórfitas. 70« W ACA UPA MENTO A • AGRUPAMENTO B AGRUPAMENTO Figura 5 — Localização das amostras de acordo com os grupos resultantes da aná­ lise de agrupamentos. • • .A • 50 I . as Figura 6 — Gráfico mostrando os comportamentos das amostras, segundo os índices I e II de Hubert, 1962. TABELA 2. índices, segundo Hubert (1962) A m o s t r a s I n d i c e s A m o s t r a s », 60 0 93 4.47 58 1 96 18.87 56 1 68 6.01 55 4 77 26.85 54 0 68 3.82 53 2 00 11.53 50 4 35 36.48 49 2 03 12.69 48 29.62 87.48 47 6 31 2.50 46 20 97 42.98 45 49 00 85.84 44 3 00 5.00 42 4 99 27.94 39 0 37 0.25 38 5 25 16.25 37 7 10 8.19 35 1 69 8.89 32 4 46 15.76 30 26 66 64.66 29 4.00 23.00 27 6 60 15.00 24 4 50 4.00 15 7 80 13.11 14 7 74 19.67 13 6 51 11.32 12 18 05 22.77 7 4 99 16.66 CONCLUSÕES A interpretação que se pode dar aos resultados obtidos é a de que os Andes contribuem de maneira decisiva com minerais pesados pa­ ra os sedimentos de. fundo do rio Amazonas. Essa contribuição é mais importante no alto rio, po­ rém constata-se a presença de mi­ nerais andinos até junto à foz. Abaixo porém do Rio Juruá nota-se um aumento da contribuição dos escudos pré-Cambrianos situados a norte e sul do Rio Amazonas. In­ teressante notar que minerais ins­ táveis, como hiperstênio, augita e anfibólio, apresentam-se idiomórfi- cos mesmo junto à foz. A constatação da importância da contribuição andina para o Rio Amazonas quanto à composição e concentração de sólidos em sus­ pensão já havia sido feita por Gibbs (1967). No presente traba­ lho verifica-se que a contribuição andina para os sedimentos de fun­ do é muito mais importante ape­ nas no terço superior do rio. Sedimentos terciários coletados pelo Projeto RADAM-BRASIL na folha Rio Branco entre os parale­ los 8o e 11° e meridianos 66° e 72° W, situada, portanto ao sul das nascentes do Rio Juruá, e estuda­ das por Suguio & Coimbra (1977) revelaram, como características gerais, abundância de andaluzita em quase todas as amostras e presença de turmalinas com cres­ cimento secundário. Isso significa que esses sedimentos terciários não apresentam contribuição andi­ na, mas sim a partir de metassedi- mentos com baixo grau de meta­ morfismo e de rochas submetidas a metamorfismo regional, em ou­ tras palavras, do escudo cristalino situado mais ao sul. AGRADECIMENTOS A coleta desse material somen­ te foi possível porque dois dos au­ tores, Landim e Bosio, participa­ ram como representantes do CNPq na expedição à Amazônia efetua­ da pelo navio oceanográfico Al- pha-Helix, operado para a US Na­ tional Science Foundation pelo Scripps Institution of Oceanogra­ phy, University of California, San Diego, Cal. Essa expedição teve um caráter de cooperação interna­ cional envolvendo cientistas de di­ versas instituições e este trabalho inclui-se na fase que estudou a "Geochemistry and Sediment of the Amazon River and its Plume", cujo cientista-chefe foi o Dr. John M. Edmond, do Massachusetts Ins­ titute of Technology, Cambridge, Mass. Os autores agradecem ao Con­ selho Nacional de Desenvolvimen­ to Científico e Tecnológico, CNPq, pelo suporte financeiro proporcio­ nado aos dois primeiros. Agrade­ cimentos são também apresenta­ dos ao Geólogo Augusto Meyer Jr. pela sua colaboração na análi­ se granulométrica"; ABSTRACT Bed samples of the Amazon River were collected from Iquitos (Peru) to Be­ lém (Brazil). 28 selected samples were analysed and 12 types of heavy minerals were found: tourmaline, zircon, garnet, staurolite, hypersthene, pyroxene (àugi- te), amphibole (hornblende), tremolite, magnetite or ilmenite and leucoxene. Most of the samples presented large amount of idiomorphic unstable minerals such as hypersthene, augite and amphi­ bole pointing towards basic and ultra- basic rocks source. These unstable mi­ nerals diminish toward the lower portion of the river. Stable minerals such as zircon and tourmaline have showed both angular and round shapes, which indicate more than one source but in any case originating from acid rocks. A cluster analysis method was applied to the data and two main clusters were determined. The first group, located at the upper Amazon River, is rich in unstable mine­ rals, probably from an Andean source. The second group, which includes sam­ ples located below the confluence of the Jurua River, presents a high zircon and tourmaline percentage which indicates a contribution from the Precambrian Shields in adition to the Andean source. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, C.A.C. & CUNHA, F.M. BEZERRA 1971 — Revisão Geológica da Bacia Paleozóica do Amazonas. An. XXV Congr. Bras. GeoL, vol. 3:93-112. ALMEIDA, L.F.G. 1976 — A drenagem festonada e seu significado fotogeológico. In: 28.° Congresso Brasileiro de Geologia, Vol. 7, p. 175-197. 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O suporte financeiro proveio principalmente da Nacional Scien­ ce Foundation e do National Insti­ tuto of Health, ambos dos Estados Unidos da América, e do National Research Council do Canadá. A participação brasileira deu-se atra­ vés de cientistas indicados pelo Conselho Nacional de Desenvolvi­ mento Científico e Tecnológico (CNPq), ficando a coordenação ge­ ral a cargo do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). O programa científico desenvol­ veu-se em sete fases, de junho de 1976 a julho de 1977, abrangendo os seguintes tópicos: fase I: estudos geoquímicos, se­ dimentares e de vazão do Rio Amazonas; fase II: genética humana de tri­ bos indígenas da região de Benjamin Constant; fases III e IV: bioquímica compa­ rativa, fisiologia compa­ rativa e evolução de he­ moglobinas em peixes da Amazônia; fase V: estrutura e funcionamen­ to dos olhos de peixes da Amazônia; fase VI: estudos ecológicos de natureza bioenergéticas; fase VII: estudos botânicos com preocupação farmacoló­ gica na região da Amazó­ nia Colombiana. FASE I DA EXPEDIÇÃO ALPHA- HELIX À AMAZÓNIA: GEOQUÍMI­ CA E SEDIMENTOS DO RIO AMAZONAS Esta fase teve como cientista chefe o Dr. John M. Edmond do Massachusetts Institute of Tech­ nology, dos Estados Unidos da América, e participantes desse Instituto (R. F. Stallard e E. A. Boyle); do U.S. Geological Survey, dos Estados Unidos da América (R.H. Meade e C F . Nordim Jr. ) ; do Instituto de Mineralogia e Geo­ química de Palermo, da Itália (A. Longinelli); da University of Edin­ burgh, da Escocia (N.B. Price e E.R. Sholkovitz); do Woods Hole Oceanographyc Institution, dos Es­ tados Unidos da América (F.L. Sayles e P.C. Mangelsdorf Jr) e da Universidade Estadual Paulista, do Brasil (N.J. Bosio e P.M.B. Landim). Os objetivos dessa fase foram o estudo de geoquímica de águas do Rio Amazonas, o estudo sedimen- tológico do material em suspen­ são e de carga de fundo do Rio Amazonas e principais afluentes, bem como medidas de vazão em algumas secções transversais do Rio Amazonas. Numa primeira etapa, isto é, em junho-julho de 1976 o navio Alpha-Helix partiu de Belém (PA) e percorreu o Rio Ama­ zonas até a cidade de Iquitos, no Peru, entrando também na desem­ bocadura dos grandes afluentes. Numa segunda fase, em maio-ju- nho de 1977, o navio fez o cami­ nho inverso. Entende-se por Rio Amazonas todo o trecho do canal principal .desde o Peru até a de­ sembocadura no Oceano Atlântico e que recebe os nomes de Rio Ma- rañon em território peruano, Rio Amazonas em território colombia­ no, Rio Solimões em território bra­ sileiro até a confluência com o Rio Negro e Rio Amazonas a par­ tir desse ponto até a foz. RESULTADOS DA FASE I DA OPERAÇÃO ALPHA-HELIX Estudos Geoquímicos a) Quimismo do Rio Amazonas e principais tributários Os afluentes do Rio Amazonas provenientes dos Andes mostram material dissolvido e em suspen­ são com influência de áreas sedi­ mentares. A geoquímica desses rios foi condicionada pela altera­ ção de rochas com as seguintes proporções: 0,43 m NaCI:15 m CaS04:1,0 m CaC03:0,23 m MgC03: 0,23 m feldspato sódico: 0,7 m feldspato potássico. As principais fontes desses materiais são car­ bonatos, arenitos avermelhados e evaporitos, bem como domos sa­ linos. Assim os rios Ucayali e Ma- rañon, do Peru, tem conteúdos re­ lativamente altos de Na+ + , C l - , Ca+ + , Mg + + , Sr + + , HCO~ (ale.) e SO"^4, 2 a 4 vezes superiores à média da bacia hidrográfica. Con­ teúdo em Si02 e K+ são somente 1-1,3 vezes maiores que a média da bacia. Existe uma relação en­ tre Ca + + , Mg + + e S r++ e alca­ lis e entre Na+ e C l - , indicando fontes duplas para esses ions. Afluentes provenientes dos es­ cudos pré-Cambrianos, portadores de rochas ígneas, e que percorrem essas áreas e áreas cobertas por sedimentos lacustres terciários, exibem uma forte relação entre sílica e alcalinidade, característi­ ca de intemperismo sobre silica­ tos. Nesses rios os menores con­ teúdos (~ 0,0-0,5 vezes a média geral da bacia para N+, Ca+ + , M g + + e alcalis e 0,7-1,1 vezes pa­ ra K+ e Si0 2) ocorrem sobre re­ giões terciárias e em bacias uni­ formemente aplainadas como o Rio Negro. O Na+ + , M g + + e Cl— encon­ trados em água de chuva, cujo pH médio é da ordem de 4,8, são de­ rivados da água do mar. Conteú­ dos em SCv - encontrados em amostras perto da costa são duas vezes o esperado, indicando uma fonte marinha adicional. Ca+ + , K+, N 0 3 — e NH4+ parecem não ter uma influência marinha. b) Elementos traços do Rio Ama­ zonas e alguns tributários Foram encontradas as seguintes concentrações em mol/kg de Ba, Sr e Cu em águas filtradas em pa­ pel de filtro de 0,4u.: c) Composição do material em suspensão no Rio Amazonas e em seu estuário. Foram determinados os elemen­ tos Mg, K, Ca, Si, Al , Ti, P, Mn e Fe. Baseados na relação elemen­ to/Al amostras provenientes do canal principal do Rio Amazonas desde a região andina até a de­ sembocadura mostram composi­ ções constantes. Em contraste,'o Rio Negro, o maior tributário do Rio Amazonas, mostram material em suspensão com baixa razão de Si /Al , K/Al, Ca/Al e Mg/Al , en­ quanto Fe/Al, Mn/Al, Ti/Al e P/Al apresentam valores similares ao do canal principal. Os valores bai­ xos refletem o intenso intemperis- L o c a i s Ba Sr Cu Tocantins 142,7 235 16,2 Xingu 310,4 — 7.3 Tapajós 155,5 — 6,0 Trombetas 131,0 185 9.1 Óbidos 157,5 316 29,1 Madeira 152,5 250 30,4 Negro 71,9 51 7,0 Solimões 163,1 390 29,3 Purus 207,2 269 — Coari 107,4 142 7,4 Tefé 106,8 96 6.1 Japurá 137,1 354 13.7 Juruá 347,5 412 19,2 Jutai 103,5 152 5.7 Iça 100,4 147 17,7 Javari 161,8 173 18.9 Napo 130,9 384 37,1 Iquitos 264,6 1078 31,1 mo e as águas muito ácidas do Rio Negro. No estuário do Rio Amazo­ nas a produtividade biológica pode aumentar a razão Si/Al e P/Al. d) Propriedades de trocas iónicas de sedimentos do Rio Amazo­ nas Os estudos foram feitos em re­ lação à Na+ + , Mg + + , Ca+ + , K+ e H + . Coeficientes de troca mos­ tram valores aproximadamente constantes dentro do sistema, in­ dicando a dominância de uma úni­ ca fonte para as secções amostra­ das. A investigação da distribui­ ção dos íons trocáveis entre fases oxidáveis, redutíveis e residuais demonstrou que todos os três componentes contribuem significa­ tivamente para a capacidade total de troca e a composição do com­ plemento limite. Reações entre material em sus­ pensão e água do mar envolveu primariamente trocas entre Ca2+ periféricos por Na+, modifican­ do significamente o fluxo de Na+ calculado a partir de dados concentração/descarga. Fluxos de Mg 2+ e K+ decrescem também por reações de trocas, porém a ex­ tensões mais limitadas. e) Geoquímica de isótopos está­ veis do Rio Amazonas O estudo de isótopos de oxigê­ nio e de hidrogênio a partir de amostras de água de chuva e de águas do Rio Amazonas revelou: 1. que para o vapor de água at­ mosférico, os valores de 0 l e /0 1 6 e de D/H variam respectivamente de -10,4 a -15,7 e de -66,7 a -112,1 por mililitro. Perto de Belém os valores isotópicos estão próximos aos esperados em equilíbrio com a água do mar. Tornam-se mais ne­ gativos no sentido de Manaus, e nessa região o efeito de continen- talidade acha-se bastante diminuí­ do, provavelmente devido à contí­ nua adição de vapor d'água por evapotranspiração; 2. que o valor médic 0' 8/0' 6 das águas do canal principal é 8%o ± 0,2, os tributá­ rios mostrando uma variação des­ de -3,25 (Xingu) até -8,38 (Jupura); 3. que em 1976, no início da esta ção seca, a razão C' 3/C 1 2 no CO? atmosférico apresentou valores decrescentes para montante até Manaus, e a partir daí são unifor­ mes em torno de -20,5%o. Em 1977, durante a estação chuvosa, os valores apresentavam-se mais dispersos e muito menos negati­ vos, em média -13%o, provavel­ mente refletindo condições atmos­ féricas mais instáveis; 4. que a razão C 1 3 /C' 2 dos carbonatos dis­ solvidos decresce rio abaixo de -14%o em Iquitos para -22%o na desembocadura; 5. que a compo­ sição isotópica do enxofre a par­ tir de sulfatos dissolvidos é bas­ tante constante em torno de ~+6,8%o, porém a composição isotópica do oxigênio decresce para jusante de ~ + 8 % o para ~ + 3 % . f) Efeitos químicos do encontro das águas do Rio Amazonas com o oceano A projeção das águas do Rio Amazonas em direção ao mar ori­ gina uma larga cunha salina que se estende por 700 km a noroeste sobre a plataforma continental Brasileira e das Guianas. O desen­ volvimento para Leste é controla­ do pela energia dos ventos alíseos predominantes. Em maio-junho de 1976 o eixo principal de fluxo es­ tava por volta de 25 m de profun­ didade, em condições oceânicas além de 75 m. Na desembocadura do rio as águas estão bem misturadas verti­ calmente, iniciando-se o desenvol­ vimento da cunha salina a uns 40 km da costa. O material em suspensão superficial decresce em profundidade logarítmicamen­ te com a salinidade chegando a concentrações da ordem de 8%o (5 ppm). O concomitante aumento em transparência resulta condi­ ções favoráveis para a existência de diatomáceas entre a zona com essa isossalinidade até por volta de 15%o. A rica flora de diatomá­ ceas não é acompanhada por orga­ nismos que dela se alimentem. Dentro dessa zona a concentração de nitrato superficial cai abrupta­ mente para zero, sendo ~10u- mol/kg à superfície e o fosfato para <0,1u. mol/kg de 0,5u. mol/kg à superfície. A silica mostra uma substancial deficiência de até 40u, mol/kg. Dentro dessa zona impro­ dutiva de baixa salinidade uma re­ gião altamente nutritiva é obser­ vada . Na cunha salina os níveis de nu­ trientes são altos e variáveis. Ocorre uma substancial diminui­ ção de nitrato em relação ao fos­ fato com valores N:P atingindo o mínimo de 6. Parece que ocorre uma intensiva desnitrificação, as­ sociado a metabolismo na cunha salina, apesar dos níveis de 02 es­ tarem geralmente acima de 100p, mol/kg. A mistura vertical da cunha sa­ lina é restrita às áreas perto da costa sendo mais pronunciada em direção ao mar a partir da ilha de Maracá, situada a norte da desem­ bocadura. Aí são encontrados os mais altos valores de N0 3 e PO4 em superfície. Estudos de carga e de vazão a) Sedimentos e vazão do rio Amazonas e seus principais tributários Amostras de sedimentos em suspensão foram colhidas por amostrador pontual, especialmen­ te confeccionado, e, com melho­ res resultados, por amostrador in­ tegrador de grande capacidade e para maiores profundidades. O material em suspensão medi­ do em Óbidos apresentou taxa mé- dia estimada de 9 x 108 ton/ano, sendo metade desse volume con­ tribuição do Rio Solimões e pelo menos um quarto do Rio Madeira. O Rio Negro contribuiu com me­ nos de um por cento do material em suspensão. Areia (>63p,) com­ preende um quarto a um terço do material em suspensão durante a estação das cheias. As frações de sedimentos entre 0,01 e 0,5 mm apresentam maior concentração junto ao fundo do rio do que em superfície. As concentrações de material em suspensão em sec­ ções transversais do Rio Amazo­ nas e principais afluentes não apresentam distribuições unifor­ mes, quer vertical quer transver­ salmente, e a maior parte das va­ riações transversais é devido à di­ ferença nas concentrações de sil- te e argila. Vazões e cargas de material em suspensão medidas em diversas secções do Rio Amazonas fornece­ ram os seguintes resultados: O material de fundo, recolhido na sua maioria por draga de suc­ ção, é areia fina à média em quase todas as secções transversais, desde Iquitos até a foz do rio Amazonas. A distribuição granu- lométrica do material de fundo não varia sensivelmente ao longo dos 3300 km do curso do rio. b) Minerais pesados no leito do Rio Amazonas Com a intenção de verificar a origem do material de fundo trans­ portado pelo Rio Amazonas, amos­ tras foram coletadas em 60 locais entre Belém (Brasil) até Iquitos (Peru). Tendo sido escolhidas 28 amostras as mesmas foram sub­ metidas a um estudo mineralógi­ co, o qual revelou os seguintes minerais pesados presentes: tur­ malina, zircão, granada, estauroli- ta, hiperstênio, piroxênio (augita), anfibólio (homblenda), tremolita, E s t a ç ã o vazão m' s-' carga 10° ton d-1 concentração mg Iquitos 48.000 1.7 400 São Paulo de Olivença 70.000 1.7 275 Santo Antonio do Iça 80.000 1.7 245 Coari 110.000 1.4 150 Manacapuru 130.000 2.2 200 Rio Negro 50.000 0,02 5 Rio Madeira 40.000 1.1 300 Óbidos 230.000 4.7 235 magnetita ou ilmenita e leucoxê- nio. Em quase todas as amostras ocorre uma grande quantidade de minerais instáveis idiomórficos, como hiperstênio, augita e anfibó- lio, indicando uma área fonte cons­ tituída por rochas básicas e ultra- básicas, diminuindo para jusante. Minerais estáveis, como zircão e turmalina, apresentam-se tanto an­ gulosos como arredondados, indi­ cando mais de uma área fonte, mas de qualquer modo sempre a partir de rochas ácidas. Aplicando aos dados o método classificatório multivariante da análise de agrupamentos (cluster analysis), dois maiores grupos de amostras foram ressaltados: um constituído por amostras localiza­ das no alto Rio Amazonas e com maior teor em minerais instáveis, provavelmente com origem andi­ na: o outro formado principalmen­ te por amostras que se localizam a partir da confluência com o Rio Juruá até Belém e contendo uma alta porcentagem em zircão e tur- malina, indicando além de uma contribuição andina, fontes nos es­ cudos precambrianos a norte e sul do Rio Amazonas. \