Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” UNESP Instituto de Química - IQ “ESTUDO ELETROQUÍMICO DE FILMES HÍBRIDOS SILOXANO – PMMA COMO PRÉ-TRATAMENTOS PROTETORES CONTRA CORROSÃO PARA AÇO ESTANHADO” Fabíola Munhoz Di Loreto da Cruz Tese de Doutorado Assis Vicente Benedetti (Orientador) Patrícia Hatsue Suegama (Co-orientador) Araraquara 2013 3 FABÍOLA MUNHOZ DI LORETO DA CRUZ ESTUDO ELETROQUÍMICO DE FILMES HÍBRIDOS SILOXANO – PMMA COMO PRÉ-TRATAMENTOS PROTETORES CONTRA CORROSÃO PARA AÇO ESTANHADO Tese apresentada ao Instituto de Química, Universidade Estadual Paulista como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Química. Orientador: Prof. Dr.Assis Vicente Benedetti Co-orientador: Profa. Dra. Patrícia Hatsue Suegama Araraquara 2013 4 Fabíola Munhoz Di Loreto da Cruz Nascimento: 03/12/1982 Nacíonalidade: Brasileira Naturalidade: São Paulo - SP Estado Civil: Solteira Filiação: Jorge Henrique da Cruz e Lúcia Beraldina Di Loreto da Cruz Endereço: Av. Alberto Toloi, n. 185, ap. 14 bl. 4, Araraquara – SP E-mail: fabiola.di.loreto@gmail.com Formação Acadêmica Doutorado em Química Curso de Doutorado em Química, área de concentração: Físico-Química. Instituto de Química – UNESP – Campus de Araraquara – SP. Concluído em Fevereiro de 2013. Mestrado em Química Curso de Mestrado em Química, área de concentração: Química Geral e Inorgânica. Instituto de Química – UNESP – Campus de Araraquara – SP. Concluído em Agosto de 2003. Bacharel em Química Tecnológica Curso de Bacharelado em Química Tecnológica. Instituto de Química – UNESP – Campus de Araraquara – SP. Concluído em Dezembro de 2005. Ensino Médio Centro Educacíonal Convívio– São Pedro – SP. Concluído em Dezembro de 2000. Ensino Fundamental Centro Educacíonal Convívio– São Pedro – SP. Concluído em Dezembro de 1997. 5 Atividades acadêmicas relevantes Estágio de doutorado sanduiche na Universidade de Udine – Itália (Università Degli Studi di Udine – Italia) no período de 01/03/2012 a 21/07/2012, sob orientação do Prof. Dr. Lorenzo Fedrizzi e Prof. Dr. Francesco Andreatta. Bolsista-didático auxiliando nas atividades pertinentes à disciplina de Físico-Química Experimental dos cursos de Licenciatura em Química, sob responsabilidade do Prof. Dr. Cecilio Sadao Fugivara e Físico-Química para o curso de Farmácia Bioquímica, sob responsabilidade do Prof. Dr. Miguel Jafelicci Júnior, durante o 2º semestre de 2009 totalizando 8 horas de atividades semanais. Estagiário docente auxiliando nas atividades pertinentes à disciplina de Físico- Química Experimental do curso Licenciatura em Química, disciplina sob responsabilidade do Prof. Dr. Cecilio Sadao Fugivara, no 2º semestre de 2010, totalizando 8 horas de atividades semanais. Trabalhos publicados e/ou submetidos a periódicos indexados CRUZ, F. M. DI L. DA; SUEGAMA, P. H.; FUGIVARA, C. S.; SANTILLI, C. V.; DELLA NOCE, R.; BENEDETTI, A. V. Influence of benzoyl peroxide (BPO) on polysiloxane thin films doped with Ce(III) onto tin coated steel and their anticorrosíon properties. ECS Transactíons, v. 43, n. 1, p. 9-16, 2012. CRUZ, F. M. DI L. DA; Paussa, L.; Lanzutti, A.; Andreatta F.; Fedrizzi, L.; Benedetti, A. V. Withdrawal study for hybrid coating on tinplate. Electrochimica Acta. Submetido SAKAI, R. T.; CRUZ, F. M. DI L. da; MELO, H. G. de; BENEDETTI, A. V.; SANTILLI, C. V.; SUEGAMA, P. H. Electrochemical study of TEOS, TEOS/MPTS, MPTS/MMA and TEOS/MPTS/MMA films on tin coated steel in 3.5% NaCl solutíon. Progress in Organic Coatings, v. 74, p. 288-301, 2012. 6 BASHO. E. N.; SAKAI, R. T.; CRUZ, F. M. DI L. da; MELO, H. G. de; BENEDETTI, A. V.; SUEGAMA, P. H. Study of the influence of the rare earth elements (Ce3+ and Ce4+) concentratíon on the siloxanes coating applied on the copper surface. ECS Transactíons, v. 43, n. 1, p. 3-7, 2012. Participação em eventos científicos 2013 Trabalho submetido e aceito para apresentação na forma de pôster no XIX SIBEE– Simpósio Brasileiro de Eletroquímica e Eletroanalítica – Campos do Jordão-SP (Brasil). CRUZ, F. M. DI L. da; SUEGAMA, P. H.; FUGIVARA, C. S.:, PAUSSA, L.; ANDREATTA, F.; FEDRIZZI, L.; BENEDETTI, A. V. Estudo eletroquímico de revestimentos híbridos aplicados sobre aço estanhado: comparação com latas comerciais. In: XIX SIMPÓSIO BRASILEIRO DE ELETROQUÍMICA E ELETROANALÍTICA, 19., 2013, Campos do Jordão. Submetido. 2012 Trabalho apresentado na forma oral no EMCR 2012 – 10th Symposium on Electrochemical Methods in Corrosíon Research – “Corrosíon Preventíon: Minimizing Risks at New Energetic Challenges” – Maragogi-AL (Brasil). CRUZ, F. M. DI L. da; SUEGAMA, P. H.; FUGIVARA, C. S.: PAUSSA, L.; ANDREATTA, F.; FEDRIZZI, L.; BENEDETTI, A. V. Withdraw Study for Hybrid Coating on Tinplate. In: 10th SYMPOSIUM ON ELECTROCHEMICAL METHODS IN CORROSÍON RESEARCH – “Corrosíon Preventíon: Minimizing Risks at New Energetic Challenges” – Maragogi-AL (Brasil) 2011 Trabalho apresentado na forma oral no XVIII SIBEE – Simpósio Brasileiro de Eletroquímica e Eletroanalítica – Bento Gonçalves-RS (Brasil). CRUZ, F. M. DI L. DA; SUEGAMA, P. H.; FUGIVARA, C. S.; SANTILLI, C. V.; DELLA NOCE, R.; BENEDETTI, A. V. Influence of benzoyl peroxide (BPO) on 7 polysiloxane thin films doped with Ce(III) onto tin coated steel and their anticorrosíon properties. 2010 Participação em trabalho apresentado no 4º Congresso da Rede Brasileira de Tecnologia de Biodiesel / 7º Congresso Brasileiro de Plantas Oleaginosas, Óleos, Gorduras e Biodiesel – Belo Horizonte-MG (Brasil). FAQUIM, D. C.; BENEDETTI, A.V.; FUGIVARA, C. S.; CRUZ, F. M. Di L. da; AKITA, A. H.; AOKI, I. V. Utilização de fio de óxidos de tungstênio como eletrodo de referência em meio de biodiesel. 4º Congresso da Rede Brasileira de Tecnologia de Biodiesel / 7º Congresso Brasileiro de Plantas Oleaginosas, Óleos, Gorduras e Biodiesel, Belo Horizonte, 2010. Acesso em: 22 de Fevereiro de 2011. 2009 Participações em trabalhos apresentados no XXI CIC – Congresso de Iniciação Científica da UNESP – São José do Rio Preto-SP (Brasil). FAQUIM, D. C.; BENEDETTI, A.V.; FUGIVARA, C. S.; CRUZ, F. M. Di L. da; AKITA, A. H.; AOKI, I. V. Preparação de óxido de tungstênio e utilização como sensor de pH. Congresso de Iniciação Científica, São José do Rio Preto, 2009. Acesso em: 08 de Março de 2010. 8 Dedico à... ...meus pais, Jorge e Lúcia, e a Adriano por me apoiarem sempre. 9 Agradecimentos Agradeço a Deus pelas oportunidades, desafios, e realizações. Aos meus pais, pelo apoio, paciência e incentivo para que esse trabalho fosse concluído. Ao Adriano pelo apoio, auxílio, amizade, enfim por estar sempre ao meu lado. Ao Instituto de Química da UNESP – Araraquara, por ser minha casa há vários anos. Ao pessoal do GEMAT pelo companheirismo, em especial ao Rodrigo pela grande ajuda na correção de textos em inglês. A D. Maria Helena, técnica do laboratório, por me ajudar sempre. A Patrícia Hatsue Suegama minha co-orientadora . Ao Prof. Dr. Cecilio Sadao Fugivara, pelo auxilio durante todo o projeto. A Università Degli Studi di Udine - Itália, por ter me recebido durante meu doutorado sanduiche. Ao Prof. Dr. Lorenzo Fedrizzi por permitir e dar todo o apoio durante minha estadia na Universidade de Udine. Ao Prof. Dr. Francesco Andreatta pelo auxílio na minha chegada e instalação em Udine e pela disponibilidade e ajuda. Ao Alex Lanzutti, pelo auxilio com as medidas de GDOES. Ao Luca Paussa por todo o apoio e amizade durante minha estadia em Udine. Aos colegas do laboratório Friuli Innovazíone e da Universidade, em especial ao Davide e Marco. Aos meus amigos do Brasil por compartilharem tanto os desafios como minhas conquistas. A minha família, de coração, de Votuporanga por estarem presente em todos os momentos. A todos os funcíonários do Instituto de Química, em especial a Célia, Wennia e Sandra da SPG. A Capes pela bolsa de doutorado e PDSE – Doutorado sanduiche. Ao meu orientador ASSIS VICENTE BENETTI pela incondicíonal ajuda, paciência, incentivo, pelo exemplo a ser seguido. MUITO OBRIGADA!!!!! 10 Lembranças Assistia junto comigo meus desenhos preferidos, sabendo de cor até as músicas, como a da fada madrinha da Cinderela.... Ainda bem pequenininha, indo para a escola, tinha que correr uma maratona para acompanhar seus poucos passos.... Quando chegava do trabalho, depois de um dia cansativo, ainda tinha tempo de me ajudar com os desenhos das primeiras lições de casa.... Os anos passaram, mas ainda quando chegava do trabalho me ajudava com as atividades da escola, como quando fizemos aquela maquete de um castelo..... Ao contrário do que geralmente acontece, você me mandava dormir quando achava que já tinha estudado de mais.... Na época dos vestibulares, você sempre tinha em mãos os gabaritos quando chegava em casa depois das provas.... E quando entrei na faculdade, sua felicidade e orgulho tornaram essa conquista mais especial, mesmo tendo que voltar para casa toda pintada do trote para você fotografar.... Durante os anos de graduação, sempre me apoiando e lembrando que 5,0 era uma nota excelente..... No mestrado parecia que você era o químico tentando me ajudar a resolver meus problemas, propondo soluções, e acima de tudo me apoiando nos momentos de descrença..... O doutorado.... ah doutorado!!!!! Quanto você falava que deveria fazê-lo e eu teimosa dizia que não.... Mas O lá de cima sabe o que faz e você também, né, então olha eu hoje escrevendo minha tese....... E como dizem “NÃO BASTA SER PAI, TEM QUE PARTICIPAR” você levou isso muito a sério estando sempre presente... desde os primeiros passos até as grandes conquistas, por isso.... MUITO OBRIGADA A VOCÊ MEU PAI!!!!!!!!!!!!!!!! (Fabiola Munhoz Di Loreto da Cruz) 11 Resumo Este trabalho descreve a preparação e utilização de revestimento híbrido composto por TEOS (tetraethoxysilane), MPTS (3-Methacryloxypropyl trimethoxysilane) e MMA (methil methacrylate) depositados sobre chapas de aço estanhado como proteção temporária à corrosão. A utilização de aço estanhado em latas de conservas alimentícias teve seu inicio no século XVIII, porém se tornou popular após a Guerra Civil Norte Americana, 1861 – 1865. Esse material quando em contado direto com a solução de conserva pode se deteriorar gerando produtos que contaminam o alimento diminuindo sua validade. Diante desse fato camadas de verniz do tipo epóxi são comercialmente aplicadas no interior das embalagens para impedir sua corrosão. Outra forma de proteção temporária seria a utilização dos revestimentos híbridos que além de aumentarem resistência a corrosão podem ser utilizados em conjunto com verniz e tintas, funcíonando como um pré tratamento da superfície. Preparou-se revestimentos híbridos com a adição de inibidores de corrosão nas concentrações de 300, 500, 700 e 900 ppm do íon Ce(III) ou Ce(IV). Avaliou-se a influência do iniciador de polimerização, peróxido de benzoila, quando adicíonado em conjunto com os íons, do número de imersões e da velocidade de retirada do substrato da solução do híbrido. Como caracterização utilizou-se medidas de impedância eletroquímica (EIS), de potencial de circuito aberto (OCP), curvas de polarização, microscopias: eletrônica de varredura (SEM), de forcas atômicas (AFM) e emissão ótica de descarga luminescente (GDOES) e espectroscopia vibracíonal de absorção na região do infravermelho (IV). Através do conjunto de caracterizações utilizadas concluiu-se que a presença do BPO no sol dos revestimentos é importante uma vez que os revestimentos formados nessa condição foram mais protetores e mostraram que os íons Ce(III) atuam apenas como inibidores. Os íon Ce(IV) auxiliam na polimerização e também atuam como inibidor. A concentração de 900 ppm de Ce(IV) com BPO foi a que resultou em um maior efeito barreira. Utilizando essa condição variou-se o número de imersões em 1 e 3 vezes sendo que não foi observada grande diferença na proteção quando analisado apenas esse parâmetro. A velocidade de emersão também foi variada em 100, 300 e 500 mm / min e observou-se que com a velocidade de 500 mm / min a espessura do revestimento aumentou melhorando a proteção do substrato principalmente quando associado a um número maior de imersões. Dentre os revestimentos estudados o que apresentou uma melhor resposta a corrosão, podendo ser empregado como proteção temporária, foi com 900 ppm Ce(IV) com BPO, velocidade de retirada de 500 mm / min e três imersões. Palavras chave: Revestimento. Híbrido. Sol-Gel. Aço estanhado. Inibidores. Ce(III), Ce(IV). 12 ABSTRACT This work describes the preparatíon and use of hybrid coatings comprising TEOS (Tetraethoxysilane), MPTS (3-Methacryloxypropyl trimethoxysilane) and MMA (Methil methacrylate) deposited on Sn-coated steel plates as temporary protectíon against corrosíon. The use of Sn-coated steel in canned food began in the 18th century; however it became more popular after the American Civil War, 1861-1865. This material when in direct contact with the solutíon of preserving foods may deteriorate generating corrosíon products that contaminate the food and consequently decrease its validity. In light of this fact, varnish coatings of epoxy-type are commercially applied inside the packages to prevent corrosíon. Another way of temporary protectíon is the use of hybrid coatings that increase the corrosíon resistance and may be utilized in conjunctíon with paint and varnish, acting as a surface pretreatment. In this context, hybrid coatings were prepared with the additíon of corrosíon inhibitors using concentratíons of 300, 500, 700 and 900 ppm Ce(III) or Ce(IV) íons. Also, the influence of a polymerizatíon initiator, benzoyl peroxide when added together with the íons, the number of immersíons, and the withdraw rate of the substrate the hybrid solutíon was evaluated. The electrochemical and physical characterizatíon of coatings were performed using the following techniques: electrochemical impedance measurements (EIS), open circuit potential measurements (OCP), polarizatíon curves, scanning electron microscopy (SEM), infrared spectroscopy (IR), atomic force microscopy (AFM) and glow discharge optical emissíon spectroscopy (GDOES). In general, the characterizatíon results showed that the presence of BPO in the sol plays an important role since in this conditíon the coatings formed were more protective and showed the Ce(III) íons acting only as inhibitors. In additíon, it was observed that Ce(IV) íons assist in the polymerizatíon process and also act as inhibitor. The concentratíon of 900 ppm Ce(IV) with BPO resulted in higher barrier effect. By using this conditíon, it was varied the number of immersíons in 1 to 3 times which presented no significant difference in terms of protectíon considering this parameter only. The emersíon rate was also varied (100, 300 and 500 mm / min) which showed that at 500 mm / min, the coating thickness increased improving the substrate protectíon, particularly when associated with a higher number of immersíons. Therefore, it can be concluded that among the studied coatings, the more resistant to corrosíon, which may be used as temporary protectíon, was containing 900 ppm Ce(IV) with BPO, 500 mm / min withdraw rate and three immersíons. Keywords: Coating, hybrid, sol-gel, Sn-coated steel, Ce (III) and Ce (IV) inhibitors. 13 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Fluxograma da preparação do híbrido em banho de glicerina ................. 40 Figura 2: Fluxograma da preparação do híbrido com uma das etapas em refluxo. 41 Figura 3: Fluxograma da preparação do híbrido dopado em banho de glicerina. ... 42 Figura 5: Imagem MEV do aço estanhado comercial utilizado como substrato ...... 49 Figura 6: Imagem MEV de uma região do substrato, aço estanhado, (a), Gráfico de EDXS indicando a composição elementar das diferentes regiões marcadas na superfície (b). ........................................................................................................... 50 Figura 7: Mapas de distribuição dos elementos na superfície do aço estanhado utilizado como substrato, imagem SEM (a), regiões com maior concentração de Fe (b) e Sn (c). .............................................................................................................. 51 Figura 8: Diagramas de EIS para ■ aço estanhado ● aço e ▲ estanho puro, (a) plano complexo, (b) Bode-módulo de impedância, |Z| (c) Bode-ângulo de fase, . 53 Figura 9: Diagramas de impedância eletroquímica dos revestimentos obtidos através de banho de glicerina (a) Plano complexo, (b) Bode-módulo de impedância, |Z| (c) Bode-ângulo de fase, . ................................................................................ 55 Figura 10: Fotografia da superfície registrada após 72 horas de contato do revestimento obtido em banho de glicerina com a solução de NaCl 3,5%. .............. 56 Figura 11: Diagramas de impedância eletroquímica dos revestimentos obtidos com uma das etapas em refluxo (a) Plano complexo, (b) Bode-módulo de impedância, |Z| (c) Bode-ângulo de fase, . ..................................................................................... 57 Figura 12: Imagem registrada após 72 horas do revestimento obtido com uma das etapas em refluxo em contato com a solução de NaCl 3,5%. .................................. 57 Figura 13: Curvas de polarização anódica dos revestimentos híbridos contendo íons Ce(III), 300, 500, 700, 900 ppm (a) sem BPO (b) com BPO, em meio de NaCl 0,6 mol L-1 ...................................................................................................................... 62 Figura 14: Curvas de polarização anódica dos revestimentos contendo íons Ce(IV), 300, 500, 700, 900 ppm (a) sem BPO (b) com BPO, em NaCl 0,6 mol L-1. ............. 64 Figura 15: Diagramas de impedância tipo Bode para o aço estanhado puro ■ 3h, ● 1dia, ▲2 dias : (a) Bode módulo de Z e (b) Bode ângulo de fase, em meio de NaCl 0,6 mol L-1 . .............................................................................................................. 66 Figura 16: Diagramas de impedância do tipo Bode para o aço estanhado com revestimento sem íons cério e sem BPO em meio de NaCl 0,6 mol L-1 ■3h, ■ 1 dia, ■ 2 dias, ■ 3 dias, ■ 4 dias: (a) Bode módulo de Z e (b) Bode ângulo de fase. ...... 67 Figura 17: Diagramas de impedância para o aço estanhado com revestimento sem Ce(III) e com BPO em meio de NaCl 0,6 mol L-1 ■3h, ■ 1 dia, ■ 2 dias, ■ 3 dias, ■ 4 dias: (a) Bode módulo de Z e (b) Bode ângulo de fase. ........................................... 68 14 Figura 18: Diagramas de impedância para o aço estanhado revestido SEM BPO com 300 ppm Ce(III) em meio de NaCl 0,6 mol L-1: (a) Bode módulo de Z e (b) Bode ângulo de fase. ......................................................................................................... 69 Figura 19: Diagramas de impedância para o aço estanhado revestido SEM BPO com 900 ppm Ce(III) em meio de NaCl 0,6 mol L-1: (a) Bode módulo de Z e (b) Bode ângulo de fase. ......................................................................................................... 71 Figura 20: Diagramas de impedância para o aço estanhado revestido COM BPO e 300 ppm Ce(III) em meio de NaCl 0,6 mol L-1: (a) Bode módulo de Z e (b) Bode ângulo de fase. ......................................................................................................... 73 Figura 21: Diagramas de impedância para o aço estanhado revestido COM BPO e 900 ppm Ce(III) em meio de NaCl 0,6 mol L-1: (a) Bode módulo de Z e (b) Bode ângulo de fase. ......................................................................................................... 74 Figura 22: Diagramas de impedância para o aço estanhado revestido SEM BPO com 300 ppm Ce(IV) em meio de NaCl 0,6 mol L-1: (a) Bode módulo de Z e (b) Bode ângulo de fase. ......................................................................................................... 76 Figura 23: Diagramas de impedância para o aço estanhado revestido SEM BPO com 900 ppm (IV) em meio de NaCl 0,6 mol L-1: (a) Bode módulo de Z e (b) Bode ângulo de fase. ......................................................................................................... 78 Figura 24: Diagramas de impedância para o aço estanhado revestido COM BPO e 300 ppm Ce(IV) em meio de NaCl 0,6 mol L-1: (a) Bode módulo de Z e (b) Bode ângulo de fase. ......................................................................................................... 81 Figura 25. Diagramas de impedância para o aço estanhado revestido com BPO + 900 ppm Ce(IV) em meio de NaCl 0,6 mol L-1: (a) Bode módulo, |Z| e (b) Bode ângulo de fase. ......................................................................................................... 83 Figura 26: Espectros de infravermelho das amostras com Ce(III): (a) sem BPO (b) com BPO. ................................................................................................................. 86 Figura 27: Espectros de infravermelho das amostras com Ce(IV): (a) sem BPO, (b) com BPO. ................................................................................................................. 88 Figura 28: Imagens de AFM-fase das amostras com: a) 300 ppm Ce(III) sem BPO, b) 300 ppm Ce(III) com BPO, c) 900 ppm Ce(III) sem BPO e d) 900 ppm Ce(III) com BPO em áreas de (10 μm x 10 μm). ......................................................................... 90 Figura 29: Perfis de concentração elementar por medidas de GDOES: a) 300 ppm de íons Ce(III) + BPO, b) 900 ppm de íons Ce(III) + BPO, c) 300 ppm de íons Ce(IV) sem BPO, d) 300 ppm de íons Ce(IV) + BPO, e) 900 ppm de íons Ce(IV) sem BPO, f) 900 ppm de íons Ce(IV) + BPO. ........................................................................... 92 Figura 30: Significado da nomenclatura utilizada para as amostras discutidas neste item. ......................................................................................................................... 95 Figura 31: Imagem obtida por microscopia eletrônica da amostra 1L1. .................. 98 15 Figura 32: Gráfico de GDOES para a amostra 1L1( 900 ppm de Ce(IV) + BPO velocidade de 100 mm/min e 1 imersão). ................................................................. 99 Figura 33: Diagramas de impedância eletroquímica do revestimento 1L1 em meio de NaCl 0,05 mol L-1 a) plano complexo, b) Bode |Z| c) Bode ângulo de fase. ...... 100 Figura 34: Imagem obtida por microscopia eletrônica da amostra 1L3 indicando regiões com defeitos. ............................................................................................. 101 Figura 35: Gráfico de GDOES para a amostra 1L3 (900 ppm de Ce(IV) + BPO velocidade de 300 mm/min e 1 imersão). ............................................................... 101 Figura 36: Diagramas de impedância eletroquímica do revestimento 1L3 em meio de NaCl 0,05 mol L-1 a) plano complexo, b) Bode. |Z| c) Bode ângulo de fase. ..... 103 Figura 37: Imagem obtida por microscopia eletrônica da amostra 1L5. ................ 104 Figura 38: Gráfico de GDOES para a amostra 1L5 (900 ppm de Ce(IV) + BPO velocidade de 500 mm/min e 1 imersão). ............................................................... 104 Figura 39: Diagramas de impedância eletroquímica dos revestimentos 1L5 em meio de NaCl 0,05 mol L-1 a) diagrama de impedância no plano complexo, b) Bode - |Z| c) Bode ângulo de fase. ............................................................................................. 106 Figura 40: Imagem obtida por microscopia eletrônica da amostra 3L1 indicando regiões com presença de defeitos. ........................................................................ 107 Figura 41: Gráfico de GDOES para a amostra 3L1(900 ppm de Ce(IV) + BPO velocidade de 100 mm/min e 3 imersões). ............................................................. 108 Figura 42: Diagramas de impedância eletroquímica dos revestimentos 3L1 em meio de NaCl 0,05 mol L-1 a) plano complexo, b) Bode - |Z|, c) Bode ângulo de fase. ... 109 Figura 43: Imagem obtida por microscopia eletrônica da amostra 3L3. ................ 110 Figura 44: Gráfico de GDOES para a amostra 3L3 (900 ppm de Ce(IV) + BPO velocidade de 300 mm/min e 3 imersões). ............................................................. 110 Figura 45: Diagramas de impedância eletroquímica dos revestimentos 3L3 em meio de NaCl 0,05 mol L-1a) plano complexo, b) Bode - |Z| c) Bode ângulo de fase. ..... 112 Figura 46: Imagem obtida por microscopia eletrônica da amostra 3L5 indicando uma superfície mais espessa com aglomerados da solução do revestimento. .............. 113 Figura 47: Gráfico de GDOES para a amostra 3L5 (900 ppm de Ce(IV) + BPO velocidade de 500 mm/min e 3 imersões). ............................................................. 114 Figura 48: Gráficos de impedância eletroquímica dos revestimentos 3L5 em meio de NaCl 0,05 mol L-1 a) diagrama de impedância no plano complexo, b) Bode - |Z| c) Bode ângulo de fase. ............................................................................................. 115 Figura 49: Gráficos de capacitância normalizada em relação à capacitância inicial como função do tempo de imersão: a) até 54 h, b) até 144 h. ............................... 117 16 Figura 50: Esquema exemplificando o circuito para revestimentos perfeitamente isolantes que cobrem parcialmente a superfície metálica do eletrodo. .................. 119 Figura 51: Circuitos equivalentes ajustados para sistemas de aço estanhado com revestimento híbrido de PMMA com íons cério: A) para tempos curtos, B) para tempos longos21. .................................................................................................... 120 Figura 52: Esquema de uma amostra com substrato metálico recoberto por filme híbrido associado aos circuitos para (A) tempos curtos, (B) tempos longos, C) circuito equivalente para reações dentro dos poros21. ........................................... 122 Figura 53: Ajustes dos circuitos para filmes em contato com o eletrólito em tempos curtos de imersão (A) e (B) epara tempos longos de imersão (C) e (D)67. ............. 124 Figura 54: Ajustes dos circuitos para o substrato e amostra 3L5 (melhor efeito barreira) em contato com o eletrólito NaCl 0.5 mol L-1 . Para tempos curtos de imersão do substrato (a), tempos longos de imersão do substrato (b) e para as 144h acompanhadas do revestimento 3L5 (c). ............................................................... 125 Os ajustes foram bons com 2 da ordem de 10-3 para o revestimento 3L5 e de 10-4 para o substrato. .................................................................................................... 125 Uma análise mais detalhada de cada elemento e sua atribuição exata ainda esta sendo realizada para melhor entendimento da ação desses revestimentos como protetores temporários do aço estanhado contra a corrosão ................................. 126 Figura 55: Diagramas de impedância eletroquímica em meio de NaCl 0,05 mol L-1 com os ajustes de circuito equivalente para o substrato aço estanhado. a) diagrama de impedância no plano complexo, b) Bode - |Z| c) Bode ângulo de fase. ............ 126 Figura 56: Diagramas de impedância eletroquímica em meio de NaCl 0,05 mol L-1 com os ajustes de circuito equivalente para a amostra 3L5. a) diagrama de impedância no plano complexo, b) Bode - |Z| c) Bode ângulo de fase. ................. 127 17 LISTA DE TABELAS Tabela I. Medidas de potencial versus tempo [EOC] para as amostras após 3 horas em contato com solução de NaCl 3,5%. .................................................................. 60 Tabela II: Medidas de EIS (log|(Z/Ω cm-2)| e ângulo de fase da constante de tempo em alta frequência) para os revestimentos sem BPO e diferentes concentrações de Ce(III) e para o substrato m baixa frequência. ......................................................... 72 Tabela III: Medidas de EIS (log|(Z/Ω cm-2)| e ângulo de fase para a constante de tempo em alta frequência) para os revestimentos contendo BPO e diferentes concentrações de Ce(III) e para baixas frequências para o substrato. .................... 75 Tabela IV: Medidas de log|Z| (|(Z/Ω cm-2)| e ângulo de fase para a constante de tempo em alta frequência) para os revestimentos preparados sem BPO e com diferentes concentrações de Ce(IV) e para baixas frequências para o substrato. ... 79 Tabela V: Medidas de EIS log(|(Z/Ω cm-2)| e ângulo de fase para a constante de tempo em alta frequência) para os revestimentos preparados com BPO e diferentes concentrações de Ce(IV) e para baixas frequências para o substrato. .................... 84 Tabela VI: Nomenclatura das amostras com uma e três imersoes de deposição e diferentes velocidades de retirada. .......................................................................... 95 Tabela VII: Parâmetros dos circuitos elétrico equivalentes para a amostra 3L5 e para o substrato sobre aço estanhado. O erro em % associado a cada parâmetro esta entre parênteses. ............................................................................................ 128 18 LISTA DE ABREVIATURA, SIGLAS E SÍMBOLOS AFM Atomic Force Microscopy (Microscopia de forças atômicas) ADI Austempered Ductile Iron BTSE Bis-1,2-triethoxysilyl ethane BTESPT Bis-triethoxysilylpropyltetrasulfide BPO Peróxido de benzoíla c Constante Newtoniana para líquidos C(i) Capacitância do filme no tempo i C(0) Capacitância medida inicialmente CN Capacitância normalizada CAN Nitrato de amônio e cério (IV) CPE Constant phase element (Elemento de fase constante) CSN Companhia Siderúrgica Nacíonal DETA diethylenetriamine DDS Dimethyldichlorosilane ω Frequência angular E Potencial Permissividade do vácuo Permissividade relativa do revestimento Eap Potencial aplicado EDXS Energy-dispersive X-ray spectroscopy EIS Electrochemical Impedance spectroscopy (Espectroscopia de impedância eletroquímica) C Potencial de circuito aberto EGDMA Ethylene glycoldimethacrylate GMA Glycidyl methacrylate ϕ Angulo de Fase f Frequência γ Tensão superficial GDOES Glow discharge optical emissíon spectroscopy GLYMO 3-glycidoxypropyl-trimetoxysilano GPTMS Glicidoxipropiltrimetoxisilano η Sobrepotencial η Viscositade do meio h Espessura do revestimento 8 HQ 8 hidróxido quinolina Hz Hertz I Corrente k Quilo (103) MMA Metil metacrilato |Z| Módulo da impedância MPS Mercaptopropyltrimethoxysilane MPTS 3-metacriloxi propil trimetilsilano MBZA 2-methylbenzimidazole MTES Methyltriethoxysilane 19 n Nano NaCl Cloreto de sódio Ω Ohm ORMOSILS Silicatos organicamente modificados ρ Densidade W Warburg RMN Ressonância Magnética Nuclear de Silicio S Área exposta Si Silício SiO2 Sílica Ɵ Grau de cobertura da superfície 1-Ɵ Superfície não bloqueada TiO2 Óxido de titânio TPTMS 3-mercaptopropyl-trimethoxysilane TEOS Tetraetil ortosilano U Velocidade de emersão |ZI Componente imaginário da Impedância ZR Componente real da Impedância μ Micro 1L1 Velocidade de 100 mm / min com uma imersão 1L3 Velocidade de 300 mm / min com uma imersão 1L5 Velocidade de 500 mm / min com uma imersão 3L1 Velocidade de 100 mm / min com três imersões 3L3 Velocidade de 300 mm / min com três imersões 3L5 Velocidade de 500 mm / min com três imersões 20 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO E REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...................................................... 22 1.1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 22 1.1.1 HÍBRIDOS ORGÂNICOS – INORGÂNICOS ................................................................ 22 1.1.2. LATAS DE AÇO ESTANHO .................................................................................... 25 1.1.3 MOTIVAÇÃO PARA O TRABALHO ........................................................................... 27 1.2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................................... 27 1.2.1 APLICAÇÃO DOS DIVERSOS REVESTIMENTOS HÍBRIDOS EM DIFERENTES SUBSTRATOS ................................................................................................................................. 27 1.2.2 ESTUDOS ENVOLVENDO AÇO ESTANHANDO .......................................................... 35 2. OBJETIVOS ............................................................................................................... 38 3 MATERIAIS E MÉTODOS ......................................................................................... 38 3.1 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL ................................................................. 39 3.1.1 PREPARAÇÃO DO SUBSTRATO, AÇO ESTANHADO ................................................... 39 3.1.2 PREPARAÇÃO DO REVESTIMENTO HÍBRIDO ............................................................ 39 3.1.2.1 Método que utiliza banho de glicerina .......................................................... 39 3.1.2.2 Método que utiliza refluxo ............................................................................ 40 3.1.3 PREPARAÇÃO DOS REVESTIMENTOS DOPADOS COM ÍONS CÉRIO. ............................ 41 3.1.4 DEPOSIÇÃO DOS REVESTIMENTOS. ...................................................................... 43 3.1.5 CURA DAS AMOSTRAS ......................................................................................... 43 3.2 CARACTERIZAÇÃO DOS REVESTIMENTOS ................................................................ 44 3.2.1 ESPECTROSCOPIA VIBRASÍONAL DE ABSORÇÃO NA REGIÃO DO INFREAVEMELHO (IV) 44 3.2.2 MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA (SEM) ............................................... 45 3.2.3 ESPECTROSCOPIA DE FORÇA ATÔMICA (AFM) ...................................................... 45 3.2.4 GLOW DISCHARGE OPTICAL EMISSÍON SPECTROMETRY (GDOES) .......................... 45 3.2.5 MEDIDAS DE POTENCIAL TEMPO (OCP) ................................................................ 46 3.2.6 MEDIDAS DE ESPECTROSCOPIA IMPEDÂNCIA ELETROQUÍMICA (EIS) ........................ 46 3.2.7 CURVAS DE POLARIZAÇÃO .................................................................................. 48 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................. 48 4.1 SUBSTRATO: AÇO ESTANHADO .............................................................................. 48 4.1.1 CARACTERIZAÇÃO DO SUBSTRATO ....................................................................... 48 4.1.2 ESPECTROSCOPIA DE IMPEDÂNCIA ELETROQUÍMICA PARA O AÇO ESTANHADO, AÇO E ESTANHO PURO .......................................................................................................... 52 4.1.3 CONCLUSÃO PARCIAL ......................................................................................... 53 4.2 COMPARAÇÃO ENTRE MÉTODOS DE OBTENÇÃO DOS REVESTIMENTOS ....................... 54 21 4.2.1 SOL GEL OBTIDO EM BANHO DE GLICERINA ........................................................... 54 4.2.2 SOLUÇÃO SOL GEL COM ETAPA ENVOLVENDO REFLUXO ......................................... 56 4.2.3 CONCLUSÃO PARCIAL ......................................................................................... 58 4.3 COMPARAÇÃO DE REVESTIMENTOS DOPADOS COM ÍONS CE(III) E CE(IV) .................. 58 4.3.1 POTENCIAL EM CIRCUITO ABERTO E CURVAS DE POLARIZAÇÃO .............................. 59 4.3.2 ESPECTROSCOPIA DE IMPEDÂNCIA ELETROQUÍMICA (EIS) ..................................... 65 4.3.2.1 Brancos: aço estanhado sem revestimento e com filme com e sem BPO, porém sem íons Ce .................................................................................................. 65 4.3.2.2 Aço estanhado recoberto com filmes contendo íons Ce(III) ......................... 68 4.3.2.3 Aço recoberto com filmes contendo íons Ce(IV) .......................................... 76 4.3.3 MEDIDAS DE ESPECTROSCOPIA VIBRACÍONAL DE ABSORÇÃO NA REGIÃO DO INFREVERMELHO ......................................................................................................... 84 4.3.4 MEDIDAS DE MICROSCOPIA DE FORÇAS ATÔMICAS ................................................ 89 4.3.5 MEDIDAS DE GDOES ........................................................................................ 90 4.3.6 CONCLUSÕES PARCIAIS ...................................................................................... 93 4.4 ESTUDO DA INFLUÊNCIA DA VELOCIDADE DE DEPOSIÇÃO PARA REVESTIMENTOS CONTENDO 900 PPM CE(IV) + BPO COM UMA E TRÊS CAMADAS .................................... 93 4.4.1 REVESTIMENTOS COM UMA ÚNICA CAMADA E DIFERENTES VELOCIDADES DE DEPOSIÇÃO. ............................................................................................................... 94 4.4.1.1 Amostra 1L1 (uma camada e velocidade de 100 mm/min) .......................... 98 4.4.1.2 Amostra 1L3 (uma camada e velocidade de 300 mm/min). ....................... 100 4.4.1.3 Amostra 1L5 (uma camada e velocidade de 500 mm/min) ........................ 103 4.4.2 REVESTIMENTOS COM TRÊS CAMADAS E DIFERENTES VELOCIDADES DE DEPOSIÇÃO ............................................................................................................................... 106 4.4.2.1 Amostra 3L1 (três camadas e velocidade de 100 mm/min) ....................... 106 4.4.2.2 Amostra 3L3 (três camadas e velocidade de 300 mm/min) ....................... 109 4.4.2.3 Amostra 3L5 (três camadas e velocidade de 500 mm/min) ....................... 112 4.4.3 ESTUDO QUALITATIVO DA CAPACITÂNCIA DOS REVESTIMENTOS ............................ 115 4.4.4 CONCLUSÃO PARCIAL ....................................................................................... 118 4.5 CIRCUITOS EQUIVALENTES MAIS FREQUENTEMENTE UTILIZADOS NO ESTUDO DESSES REVESTIMENTOS HÍBRIDOS E ESTUDO INICIAL DE AJUSTE DE ALGUNS DADOS EXPERIMENTAIS ............................................................................................................................... 118 5. CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS FUTURAS ................................................... 129 5.1 CONCLUSÕES FINAIS .......................................................................................... 129 5.2 PERSPECTIVAS FUTURAS ..................................................................................... 130 REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 131 22 1. INTRODUÇÃO E REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1.1 Introdução 1.1.1 Híbridos orgânicos – inorgânicos A possibilidade de combinar as propriedades de compostos orgânicos e componentes inorgânicos em um único material é um velho desafio que teve seu início junto com a era industrial. Alguns dos primeiros e mais bem conhecidos orgânico-inorgânicos representantes são certamente os obtidos a partir de tintas e de polímeros, onde pigmentos inorgânicos ou cargas são dispersos em componentes orgânicos (solventes, tensoactivos, polímeros, etc) para produzir ou melhorar propriedades óticas e mecânicas. Esses materiais são homogêneos, devido à mistura dos componentes em nível molecular, usualmente em escala de nanômetro a submicrômetro1. O processo sol-gel permite a síntese destes materiais em condições de temperatura próximas a ambiente, possibilitando de forma geral, a obtenção de nano compósitos homogêneos, evitando-se a degradação do polímero devido à baixa temperatura. A utilização dessa técnica para obtenção de híbridos teve seu inicio na década de 80 com a publicação de H.Schmidt e G.L. Wilkes conforme mencíonado na revisão sobre o assunto2. Desde então, esse tipo de síntese vem atraindo atenção em vários campos de pesquisa sendo até hoje amplamente estudado. Os materiais híbridos utilizados para a proteção temporária da corrosão são, geralmente, constituídos de uma parte inorgânica e uma parte orgânica. Cada um desses constituintes tem sua função especifica dentro do material: a parte inorgânica é responsável por um aumento na adesão entre o substrato e o revestimento híbrido, diminuindo a difusão do oxigênio e consequentemente a corrosão em aços e metais, melhora o desempenho global dos polímeros nos revestimentos híbridos por conferirem boas propriedades mecânicas ao 23 revestimento final. A parte orgânica é responsável por tornar o revestimento mais homogêneo, diminuir sua porosidade e sua e aumentar espessura, uma vez que revestimentos formados apenas pela parte inorgânica são espessos (> 1 mm), aumentar a flexibilidade sem causar fissuras e diminuir a temperatura de cura3. Os híbridos são materiais macroscopicamente homogêneos, uma vez que sua mistura de componentes se dá em escala nanométrica, porém suas propriedades refletem a natureza química de cada bloco constituinte. Essa interface é muito significativa para os híbridos e vem sendo usada para classificar os mesmos em classes do tipo I, II e III4-6. Nos híbridos de classe I, os componentes orgânicos e inorgânicos são associados por interações físicas, por exemplo, ligações hidrogênio ou forças de Van Der Waals7-9, isto é, os componentes orgânicos ficam, geralmente, presos, encapsulados ou depositados em redes ou poros das redes inorgânicas. Os híbridos de classe II são caracterizados pela ligação covalente entre os componentes orgânicos e inorgânicos, ou seja, nessa classe imperam as interações químicas entres as fases4-6. Essas interações permitem a geração de duas cadeias distintas interconectadas no híbrido, criando um efeito sinérgico, melhorando a dureza e flexibilidade dos mesmos. Por fim, materiais formados pela combinação dos híbridos das classes I e II são classificados na classe III, juntando assim, em um mesmo composto, forças de Van Der Waals, ligações de hidrogênio e ligações covalentes. Dentre os materiais mais utilizados para a obtenção dos híbridos destacamos os silanos que podem ter sua estrutura modificada apresentando assim funcíonalidade orgânica e inorgânica. Seus grupos inorgânicos hidrolisáveis podem estabelecer ligações covalentes com o as hidroxilas existente no substrato metálico 24 enquanto a parte orgânica é compatível com sistemas de pintura10. Os silanos formam um revestimento auto-estruturado, que resiste à absorção de água, formando uma barreira física que dificulta a penetração do eletrólito, fornecendo assim, proteção contra a corrosão11-20. Embora esses revestimentos sejam muito homogêneos e eficientes frente à corrosão, micro trincas e poros ainda podem ser observados tornando esses pontos mais susceptíveis à penetração da solução agressora. Por isso, há utilização de inibidores orgânicos como, por exemplo, a 8-hidroxiquinolina, e inorgânicos como os lantanídeos, mais especificamente os íons cério. Ambos formam substâncias insolúveis como quelatos ou precipitados, respectivamente, com os primeiros íons provenientes da corrosão nesses pontos e impedem por um período de tempo a penetração da solução aumentando a vida útil do revestimento3,20,21-24. Como dito anteriormente entre todos os compostos lantanídeos, os sais de cério têm sido utilizados com sucesso como inibidores de corrosão em diferentes ligas metálicas10,19,20,21,25,28-32. Além disso, estudos mostraram o que nitrato de cério(IV) pode reduzir a porosidade e/ou a condutividade do filme15, aumentar a formação de radicais livres favorecendo a reticulação e aumentando a espessura do revestimento (cross-linking) resultando em melhor efeito barreira dependendo da quantidade de dopante adicíonada15. Com a utilização de íons Ce(III), o caráter self-healing30,33, deposição de produtos insolúveis, é amplamente observado, porém há necessidade de uma concentração ideal dependendo do substrato a ser utilizado34,35, pois fora destas condições o efeito barreira é prejudicado. 25 1.1.2. Latas de aço estanho A origem da lata de conservas remonta ao Séc. XVIII, porém quanto ao criador ainda há controvérsias, uns atribuem a Nicolas Appert (criador do sistema de conserva de alimentos), mas ele só se dedicou a utilização de latas em 1814. Outra versão é atribuída a Peter ou Pierre Durand em 1810 que recebeu uma patente do Rei George III pela ideia de preservar comida em “garrafas ou outros vasilhames de vidro, potes ou recipientes de estanho ou outros materiais adequados”. Em 1811 Durand vendeu a patente para a empresa Dorkin, Hall and Gamble. Essa empresa fornecia alimento em conserva para as forças armadas inglesas. Em 1813 eles abrem a primeira fábrica do mundo que utilizaria recipientes com chapas de aço estanhadas. Pode-se dizer que se tratou de uma das maiores invenções do nosso tempo uma vez que veio alargar o tempo de vida-útil dos produtos alimentares e melhorou a distribuição dos mesmos a baixo custo. Naturalmente, a embalagem atual não é mais do que uma parente afastada da lata utilizada no século XVIII, uma vez que ao longo do tempo sofreu grandes transformações que contribuíram para o seu melhoramento e adaptação às exigências tecnológicas e dos consumidores. As primeiras latas chegaram ao consumidor civil europeu em 1830. As primeiras conservas eram de tomates, ervilhas e sardinhas; as embalagens eram de difícil abertura (necessitavam o uso de martelo e talhadeira) e o preço desse tipo de conserva era alto por isso não atraia o consumidor36. O consumo de produtos enlatados apenas se difundiu durante e após a guerra civil americana (1861 – 1865) durante a qual a produção era feita em larga escala para suprir o exército. No pós-guerra os militares ao retornarem elogiavam a comida em lata ganhando assim a confiança da população. Um marco para os 26 produtos enlatados foi a criação de um abridor de latas no final do século XIX, facilitando assim o consumo desses produtos36. Até os dias de hoje esse tipo de envase é utilizado devido ao grande aumento no consumo, sua qualidade, técnicas de preparação e maquinário foram aperfeiçoados, mas o principio continua o mesmo utilizado por Appert desde 1810. Resumidamente ocorreram algumas inovações37: - evolução de formas e formatos das latas; - desenvolvimento de sistemas de abertura fácil; - redução da espessura da folha metálica sem diminuir a resistência mecânica da lata; - substituição da solda convencíonal por agarafagem pela eletrossoldagem; - melhoria na qualidade de impressão; - desenvolvimento de latas embutidas a partir de materiais ferrosos e de alumínio; As embalagens metálicas para alimentos podem ser classificadas em 2 tipos: - embalagens de três peças: costura no corpo da lata e duas tampas (tampo e fundo); - embalagens de duas peças: corpo e fundo da lata numa peça única e tampa. As latas de três peças são normalmente feitas em aço estanhado (ou folha- de-flandres) e utilizadas geralmente para conserva em geral devida a sua relação custo / resistência à corrosão ser boa37. Atualmente no Brasil a Resolução RDC nº 20 de 22 de março de 2007, publicada pela Agência Nacíonal de Vigilância Sanitária (ANVISA) do Ministério da Saúde, regulamenta o uso de embalagens, revestimentos, utensílios, tampas e equipamentos metálicos em contato com alimentos e internaliza a Resolução GMC nº 46/06 do MERCOSUL, autorizando o uso de folha-de-flandres, com ou sem 27 envernizamento interno, para contato direto com alimentos em geral, independentemente da camada nominal de estanho empregada, desde que a embalagem cumpra sua função tecnológica38. 1.1.3 Motivação para o trabalho Devido a grande utilização de latas de aço estanhadas na conservação de alimentos, um estudo com a aplicação de revestimento híbrido para proteção desse material contra a corrosão se mostra interessante. Considerando esse substrato, vários foram os fatores que têm despertado o interesse para essa pesquisa: a ausência de estudos sobre possível influência do peróxido de benzoila (BPO) na qualidade dos revestimentos; o pouco conhecimento da eficiência de inibição de revestimentos dopados com íons Ce(III) e Ce(IV), ou seja, uma comparação entre eles; a necessidade de informação sobre a influência do número de imersões ou camadas bem como da velocidade de deposição dos revestimentos no seu efeito barreira. 1.2 Revisão bibliográfica 1.2.1 Aplicação dos diversos revestimentos híbridos em diferentes substratos A utilização dos híbridos na proteção temporária de materiais é bem diversificada, pois pode ser empregada em aços20 e ligas metálicas39, madeira40 dentre outros materiais com ótimos resultados. Por exemplo, quando utilizado na proteção de madeiras, o revestimento híbrido mostrou-se eficiente não só na capacidade de repelir água e óleos, mas também para proporcionar um aumento na eficiência do tratamento térmico da madeira, sendo considerado um tratamento promissor para sua proteção40. 28 No combate ou retardamento da corrosão de vários tipos de materiais utilizam esse tipo de revestimento. Com o cobre, revestimentos compostos por polímeros epóxi, GLYMO (3-glycidoxypropyl-trimetoxysilano), TPTMS (3- mercaptopropyl-trimethoxysilane), e agentes de cura como DETA (diethylenetriamine) ou APTMS (3-aminopropyl-trimethoxysilane) ou MBZA (2- methylbenzimidazole) foram estudados por técnicas eletroquímicas. Os resultados eletroquímicos mostraram que a adição de 5% de TPTMS aumentou a resistência à corrosão, atuando como agente de cura para ligar os oligômeros epóxi em uma rede tridimensíonal e na ligação química entre o substrato de cobre e revestimento. Da mesma forma, revestimentos contendo MBZA exibiram melhor proteção contra a corrosão e maior vida útil do substrato do que quando foram incorporados DETA e APTMS nas formulações41. Ainda utilizando o cobre como substrato, Basho et al.42 compararam a proteção fornecida por revestimentos compostos por MMA (Metil metacrilate), MPTS (3-Methacryloxy-propyltrimethoxysilane) e TEOS (tetraethyl orthosilicate) dopados com diferentes concentrações, 300, 500, 700 e 900 ppm de íons Ce(III) e Ce(IV). Estudos eletroquímicos mostraram que o melhor efeito barreira foi obtido com 700 ppm Ce(IV)42. O Alumínio vem sendo amplamente utilizado como acabamento em áreas externas, janelas, portas e vagões de trens de carga e comercial42 que ficam expostos ao tempo, consequentemente mais susceptíveis à corrosão, mesmo com a formação natural de seus óxidos. A aplicação de um revestimento é uma opção para auxiliar na proteção natural do metal e aumentar sua vida útil. Amostras de alumínio foram revestidas com um híbrido formado por GLYMO (3-glycidyloxypropyl-trimethoxysilane), TEOS (tetraethylorthosilicate), MTES 29 (methyltriethoxysilane) e/ou Aerosil 300 (partícula de sílica hidrofílica)44 ou Aerosil R972 (sílica tratada com DDS - Dimethyldichlorosilane que garantem um caráter hidrofóbico à sílica45. Estudos eletroquímicos mostraram que a adição de partículas de Aerosil melhora o caráter protetor do revestimento; foi verificado ainda que o Aerosil 300, que é hidrofílico, permitiu a permeação da água com o tempo, logo a degradação do revestimento foi mais rápida. Já para o R972, que tem características hidrofóbicas, esse fato não foi observado e a vida útil do substrato foi maior. Sem as partículas foi verificada uma degradação muito mais rápida do híbrido devido a grande porosidade existente no revestimento46. Outro tipo de revestimento utilizado sobre alumínio foi estudado por Pepe e col.47 utilizando TEOS (tetraethylorthosilicate), MTES (methyltriethoxysilane) e partículas de Ce(III) e Ce(IV) depositados sobre alumínio 3005 e vidro. A concentração de sais de cério foi inferior a 300 ppm. O revestimento foi feito com uma ou duas camadas de deposição. Os espectros UV-vis obtidos com os revestimentos sobre substratos de vidro mostraram que ambos os íons Ce(III) e Ce(IV) estão sempre presentes. Os estudos eletroquímicos desse sistema demonstraram o papel protetor do cério quando incorporado nos revestimentos, tanto em filmes de uma única camada como de duas. Os revestimentos contendo Ce(III) apenas apresentaram uma boa proteção quando depositadas duas camadas devido, possivelmente, a um melhor bloqueio da superfície. Já as amostras com Ce(IV) foram protetoras tanto com uma quanto com duas deposições, observando- se um aumento na proteção quando duas camadas estavam presentes47. Revestimentos híbridos dopados com diferentes concentrações de íons Ce(III) sobre amostras de ligas de alumínio, AA 2024-T3, foram estudados por Cambon et al.34. Nesse estudo o revestimento foi composto por 30 glicidoxipropiltrimetoxisilano (GPTMS) alumínio tri-sec-butoxido Al(OsBu)3 com água destilada e propanol na razão molar de 5:1:10:12, o Ce(III) na forma de Ce(NO3)3.6H2O foi adicíonado nas concentrações de 0 a 0,1M e agitado por 2 h à temperatura ambiente. A deposição foi via dip coating após 24 h da preparação da solução com velocidade de 20 cm min-1 e cura a 110°C por 24 h. Os revestimentos obtidos foram homogêneos sem defeitos e a condição ótima de Ce(III) foi com 0,01M. Concentrações menores que 0,01M apresentaram modificações na polimerização da parte orgânica e inorgânica e a incorporação de alumínio nas redes de silício é modificada explicando o menor efeito barreira desse material. Já para concentrações menores que 0,01 M a taxa de polimerização orgânica aumenta e a inorgânica tem um aumento moderado podendo originar um revestimento mais rígido, porém com a formação de possíveis buracos o que frágilizaria o revestimento34. Outro estudo utilizando revestimento orgânico – inorgânico dopado com íons Ce(III) foi realizado por Paussa et al.48. Nesse estudo foi utilizado TEOS (tetraethoxysilane), MPTS (methacryloxypropyltrimethoxysilane), e partículas de SiO2 coloidais para melhorar as propriedades mecânicas e aumentar a densidade uma vez que essas partículas melhoram as ligações entre os grupos inorgânicos do precursor (cross linking) Os autores obtiveram um revestimento poroso, sendo que o revestimento que continha o inibidor apresentou uma proteção maior; proteção esta sendo relacíonada com a migração de íons Ce(III) para a superfície do substrato metálico48. Rosero-Navarro et al.49 estudaram revestimentos híbridos compostos por TEOS (tetraethoxysilane), MPTS (methacryloxypropyltrimethoxysilane), EGDMA (ethylene glycoldimethacrylate) e GMA (glycidyl methacrylate). Esses revestimentos 31 foi aplicado sobre ligas de alumínio AA2024, e o filme era composto por 2 ou 3 camadas. O revestimento com 3 camadas tinha na camada intermediária o inibidor de corrosão nitrato de cério. Foi observado que os revestimentos apresentam alta porosidade proporcíonando um efeito barreira limitado. Dentre os dois tipos de filme o que continha íons Ce(III) apresentou um efeito barreira ligeiramente maior devido à migração dos íons cério para a superfície do alumínio. Para uma proteção melhor seria indicada a utilização uma camada orgânica superior49. Ainda utilizando ligas de alumínio AA2024 como substrato, outros autores50-53 estudaram diferentes tipos de revestimentos como proteção contra a corrosão. Os revestimentos estudados utilizavam a polimerização de diversos silanos como o 3– GPTSM (3-glicidoxipropiltrimetoxisilano)50, BTSE (Bis-1,2-triethoxysilyl ethane, BTESPT(bis-triethoxysilylpropyltetrasulfide, MPS(mercaptopropyltrimethoxysilane)51, além de revestimentos epoxi com e sem dopantes orgânicos e inorgânicos52,53. Em todos os testes realizados os revestimentos apresentaram boa proteção ao substrato, porém pode-se destacar que revestimentos com 3 – GPTSM, apresentaram boa proteção ao substrato. Dentre os silanos estudados por Cabral et al.51 o que apresentou melhor efeito barreira foi o BTESPT quando utilizado sozinho, e BTESPT e BTSE quando recobertos com esmalte de poliuretano. O estudo de Snihirova et al.51 mostrou que revestimentos “smart” compostos por esferas de CaCO3 contendo íons Ce(III) apresentaram um maior efeito barreira do que os filmes sem as esferas e sem dopantes. Balaskas et al.53 observaram que o filme composto por ORMOSIL (revestimento epóxi) dopado com inibidores inorgânicos como Ce(NO3)3 e Mn(NO3)2 apresentaram um aumento na proteção do substrato contra a corrosão, melhora do efeito barreira. Já com adição de inibidores 32 orgânicos, 2-mercaptobenzothiazole e 8-hydroxyquinoline, essa melhoria não foi observada. Devido à crescente utilização de ligas de magnésio em diversos campos como dispositivos portáteis, aeronaves, equipamento militar, equipamentos ortopédicos, de mergulho, entre outros, diversos autores54-55 estudaram formas de aumentar a vida útil desse material, depositando revestimentos híbridos, dopados ou não com inibidores orgânicos ou inorgânicos. Em todos os estudos, uma boa proteção foi observada, principalmente quando aos revestimentos foram adiconados inibidores como íons Ce(III) ou a 8 hidroxidoquinolina (8 HQ). Com relação à influência do número de camadas, Tan et al.58 estudaram a proteção do magnésio com filmes finos utilizando MPTS (3-Methacryloxypropyl trimethoxysilane) e TPTMS (3-mercaptopropyl trimethoxysilane) variando o número de camadas de 1 a 5. Para melhorar adesão, o substrato de magnésio foi anodizado e o filme fino depositado sobre a camada de óxido. Os resultados eletroquímicos e de caracterização morfológica mostraram que a deposição de até duas camadas foi a que melhor protegeu o substrato, pois a deposição do filme selou os poros existentes deixando a superfície mais homogênea. Já a deposição de mais do que duas camadas não mostrou uma boa adesão entre as mesmas frágilizando o revestimento58 O ferro tipo ADI (Austempered Ductile Iron), utilizado em componentes automotivos e peças de máquinas como engrenagens e válvulas, foi utilizado como substrato para o revestimento formado por TEOS (tetraethylorthosilicate) e MTES (methyltriethoxysilane)59. Os resultados dos ensaios eletroquímicos utilizando NaCl 3,5% mostraram que a aderência do revestimento à superfície do ADI foi boa para revestimentos de até 1 μm de espessura, em uma única camada, pois na segunda 33 deposição o revestimento apresentou rachaduras, o que o torna mais frágil. Com uma única camada os resultados eletroquímicos mostraram uma boa proteção, agindo como um bloqueio para o eletrólito59. Gallardo e col.60 estudaram o aço inoxidavel, que é muito utilizado em implantes temporários. Esse tipo de material geralmente forma fendas entre as peças implantadas além de contato elétrico que pode gerar uma corrosão galvânica devido à presença de Cl- proveniente dos fluidos biológicos, o que pode causar pites. Com a liberação de íons Fe mesmo em pequenas quantidades, causada pela corrosão, na superficie dos implantes pode ocorrer fibrose e necrose dos tecidos causando rejeição da prótese. Diante disso, a proteção desse aço utilizando revestimento formado por TEOS (tetraethylorthosilicate) e MTES (methyltriethoxysilane) foi estudada em um meio com composição próxima ao meio biológico (plasma sanguíneo e outras soluções contendo diversos tipos de íons) por 28 dias. Os resultados mostraram uma significativa melhora na resistência à formação de pites. Com isso, esse tipo de revestimento poderia ser utilizado em dispositivos temporários em cirurgias aumentando sua vida útil60. Outro tipo de revestimento estudado sobre aço inoxidável foi realizado por Pepe e col.61 que utilizaram TEOS (tetraethylorthosilicate) e MTES (methyltriethoxysilane) dopados com íons Ce(III) ou íons Ce(IV) com razão molar de Si/Ce = 95/5 e aplicação de 3 deposições. O estudo eletroquímico realizado com 24 h e 7 dias de imersão em NaCl 3,5 % mostrou que os revestimentos dopados com Ce(III) aumentaram a proteção do substrato, pois formaram um efeito barreira, além disso, os defeitos que apareceram com o tempo ativaram o efeito do Ce(III) na inibição, depositando hidróxidos insolúveis nesses pontos provocando um aumento da vida útil do substrato. Já os revestimentos com Ce(IV) apresentaram defeitos 34 observados após as primeiras 24 h, porém, com o passar dos dias de imersão na solução esses defeitos observados nos ensaios eletroquímicos foram minimizados, provavelmente com a deposição de hidróxidos ou óxidos insolúveis no filme, o que foi observado pelo aumento da impedância do sistema61. Devido às inúmeras aplicações do aço inoxidavel, Varela Caselis et al.62 estudaram a deposição de revestimento híbrido composto por 6 razões molares (100 - 00, 90 – 10, 75 – 25, 50 – 50, 25 – 75, 10 – 90) de MMA (metil metacrilato) e TEOS (tetraetil ortosilicato), respectivamente, além de água, MPTS (3-Methacryloxy- propyltrimethoxysilane) e etanol. Esse revestimento foi depositado via dip coating e curado a 70°C por 24 horas. A diminuição do efeito barreira foi acompanhada por 3000 h utilizando a técnica de ruído eletroquímico. Os resultados indicaram que o melhor revestimento foi o obtido com 75:25 PMMA/sílica, pois apresentou superfície homogênea e livre de defeitos. Por meio de medidas de ruído eletroquímico foi avaliada a proteção contra a corrosão em função do tempo e observou-se que para a razão 75:25 a durabilidade do efeito barreira foi maior do que 2750 h em contato com uma solução 5% m/m de NaCl com um valor de Rn constante de 107 Ω; para as demais condições o valor medido para Rn não ultrapassou 106 Ω, indicando assim a condição cuja razão era 75:25 para a utilização como efeito barreira62. Outro tipo de aço inoxidável que vem sendo empregado na indústria aeroespacial é o X13VD, aço inoxidável martensítico (X12CrNiMoV12-3), e para melhorar sua resistência à corrosão, um revestimento híbrido foi experimentado contendo glicidoxipropiltrimetoxisilano (GPTMS), alumínio tri-sec-butóxido Al(OsBu)3 com água destilada e propanol na razão molar de 5:1:1:10, o Ce(III) como Ce(NO3)3.6H2O foi adicíonado nas concentrações: 0,001; 0,005; 0,01; 0,05 e 0,1 M. Em seguida, a solução foi agitada por 2 h à temperatura ambiente35. A deposição 35 via dip coating ocorreu após 24 h da preparação da solução. Foi observado que um aumento no teor de íons Ce(III) aumenta o caráter hidrofóbico do revestimento e consequentemente a permeação de água é minimizada. Através das medidas de impedância eletroquímica foi encontrada a concentração de 0,01 M como sendo a de melhor efeito barreira em 24 h de imersão. Um aumento nessa concentração faz com que o efeito barreira seja diminuído, frágilizando o revestimento. Os íons cério não indicaram nenhuma influência sobre as propriedades de adesão. Medidas de ressonância magnética nuclear de silício (29Si RMN) indicaram que para concentrações menores que 0,01 M de Ce(III) ocorre um modificação na estrutura química da rede sol-gel diminuindo o efeito barreira devido à formação de mais ligações do tipo Si-O-Si tornando o revestimento mais rígido logo mais susceptível à formação de trincas. Considerando a condição ótima encontrada, esse revestimento dopado com íons Ce(III) pode ser uma boa opção para a proteção do aço X13VD35 contra a corrosão. 1.2.2 Estudos envolvendo aço estanhando O aço estanhado é um material ainda pouco utilizado como substrato para filmes finos, embora para sua utilização em embalagens de alimentos seja aconselhável a utilização de uma camada passiva para aumentar a vida útil dessa lata frente à corrosão. A função dessa camada passiva é garantir que a solução utilizada no armazenamento, geralmente de ácido cítrico e citrato, não reaja com a embalagem, gerando produtos de corrosão que deteriorem o alimento ali contido. O revestimento utilizado com maior frequência é o cromo eletrodepositado, empregando uma solução de dicromato de sódio, porém, sabe-se que o cromo hexavalente é tóxico e cancerígeno, necessitando, portanto, ser substituído63. 36 Estudos envolvendo a camada nominal de estanho vêm sendo realizado para diferentes tipos de conservas, como por exemplo, ervilha63, leite condensado64 e café solúvel65. Nesses casos foi avaliada a possibilidade de redução da camada de estanho de 2,8 para 2,0 g cm-2. Em todos os casos essa redução se mostrou satisfatória, mantendo a integridade do material acondicíonado por períodos iguais ou superiores a 400 dias, porém, a aplicação de verniz epóxi fenólico sobre a nova superfície de estanho é necessária. Com a utilização de revestimentos sobre aço estanhado Sakai et al.67 estudaram o efeito barreira conferido por filmes cujos precursores eram TEOS (tetraethyl orthosilicate), TEOS/MPTS (3-methacryloxy-propyl-trimethoxysilane), MPTS/MMA (methyl methacrylate) e TEOS/MPTS/MMA. Nesse estudo foi observado que os revestimentos contendo apenas TEOS ou MPTS não apresentam efeito barreira. Já a mistura deles ofereceu a melhor proteção ao substrato dentre os filmes estudados. A adição do MMA ao filme ocasíonou uma diminuição do efeito barreira possivelmente devido a baixa interação entre o TEOS e MMA67. O estudo realizado por Mora et al.68 utilizou 10.000 ppm Ce(III) em solução aerada depositada galvanostaticamente sobre folhas de aço estanhado. O estudo consistiu na comparação entre folhas com uma camada de cério depositado em sua superfície, folhas de aço sem qualquer tipo de revestimento e folhas protegidas com depósitos de cromo. Estudos eletroquímicos mostram que a resistência à polarização do aço com os dois tipos de revestimentos é da mesma ordem de grandeza (1 kΩ cm2). O revestimento com cromo ainda apresentou uma proteção maior, porém, devido a sua baixa toxicidade os íons Ce(III) demostraram ser uma opção viável para substituição do cromo68. 37 Estudos realizados por Da Cruz et al.69 mostraram que os íons Ce(III) não influenciam diretamente na polimerização do revestimento, logo há necessidade da adição de um iniciador de polimerização. Nesse estudo foi utilizado o peróxido de benzoila (BPO), sendo que sua presença melhorou a capacidade protetora dos revestimentos estudados. Foi observado também que a maior proteção ocorreu com a adição de 900 ppm Ce(III) e BPO69. Os íons Ce(IV) também mostraram características protetoras quando utilizados em filmes sobre aço estanhado como mostram os estudos realizados por Suegama et al.21. Nesse estudo, o efeito do CAN (nitrato de amônio e cério (IV)) na quantidade de 500 ppm utilizado na polimerização do MMA (Metil metacrilate) com MPTS (3-Methacryloxy-propyltrimethoxysilane) e TEOS (tetraethyl orthosilicate) mostrou, por meio dos ensaios eletroquímicos, que quando adicíonado na fase orgânica, melhora a polimerização do MMA, e o revestimento apresentou uma maior resistência à corrosão. Quando adicíonado à fase inorgânica foi observado um aumento no grau de policondensação tornando o revestimento mais rígido e consequentemente mais suscetível a trincas e com pior capacidade protetora21. Revestimentos depositados sobre aço estanhado também foram estudados por Huang e Li70,71 que utilizaram La(NO3)3·6H2O em meio de (NH4)2SO4 como inibidor, sendo depositado galvanostaticamente. Os ensaios eletroquímicos mostram que o aço estanhado recoberto com depósitos de lantânio possui uma proteção semelhante ao aço estanhado recoberto por cromo em meio de NaCl 3,5%; já em meio de 0,1 M de tampão ácido cítrico/citrato, a proteção observada para os depósitos de lantânio foi melhor71,72. Huang e Li72 também utilizaram óxidos de titânio, TiO2, obtidos via sol-gel para testes de proteção contra a corrosão do aço estanhado. Esse revestimento 38 mostrou ser mais protetor que os revestimentos com cromo. O teste em presença de compostos de enxofre, encontrado nas proteínas e aminoácidos de comida animal, mostrou que a película de TiO2 protege o aço estanhado não alterando a coloração dourada do depósito. Os testes eletroquímicos mostraram que em meio de NaCl 3,5%, a proteção do filme de TiO2 e do cromo são semelhantes e em meio de tampão ácido cítrico/citrato, os revestimentos de titânio são mais protetores. Com resultados obtidos por Huang e Li a utilização do lantânio ou TiO2 tornaram-se opções para substituição aos cromatos na proteção contra a corrosão72. 2. Objetivos Tendo como substrato a ser protegido o aço estanhado, os objetivos foram estudar dois diferentes métodos de síntese para revestimentos híbridos dopados com diferentes concentrações de íons Ce(III) e Ce(IV), a influência do peróxido de benzoila (BPO) nesses revestimentos, a influência do número de camadas (imersões) na formação do revestimento e a velocidade de emersão para os revestimentos com 900 ppm Ce(IV) e BPO. Buscou-se analisar os efeitos desses fatores sobre a resistência à corrosão de eletrodos desses materiais em soluções de 0,6 mol L-1 e 0,05 mol L-1 NaCl aquoso naturalmente aerado. 3 MATERIAIS E MÉTODOS Nesta sessão descreve-se a preparação do substrato, deposição e cura dos revestimentos, sob o título geral de procedimento experimental, e a metodologia de caracterização dos mesmos, sob o título geral de caracterização dos revestimentos. 39 3.1 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL Neste item é apresentado o procedimento experimental detalhado da preparação do substrato e dos híbridos siloxano - poli(metacrilato de metila) (PMMA). Durante o desenvolvimento do trabalho de preparação dos híbridos foram comparados, inicialmente, dois procedimentos experimentais, sendo um deles adotado como base para a preparação de todos os revestimentos estudados posteriormente. 3.1.1 Preparação do substrato, aço estanhado O aço estanhado utilizado nesse estudo foi comprado da empresa Incoflandres LTDA (SP, Brasil), fornecido na forma de folhas de apróximadamente 1 m2. A camada estanhada contém uma composição nominal de estanho de 2,0 a 2,8 g m-2. A preparação das amostras de aço estanhado ou folha de flandres consistiu em cortá-las em retângulos de apróximadamente 2,5 cm por 3 cm. Esses corpos-de- prova foram desengraxados utilizando Extran® neutro 10% a 80 OC por 10 minutos. Após esse tempo, as amostras foram mergulhadas em etanol e secas com papel macio e posteriormente guardadas em dessecador. Antes de sua utilização foram mergulhadas novamente em etanol e secas com ar comprimido isento de óleo. 3.1.2 Preparação do revestimento híbrido 3.1.2.1 Método que utiliza banho de glicerina Esse método de preparação foi baseado nos estudos de Sarmento11 e Suegama et al.21 e consiste de duas etapas: • Etapa a: Tetraetilortosilicato (TEOS) – 24,5% v/v, 3-metacriloxi-propil-trimetoxi- silano (MPTS) –13% v/v, água (H2O a pH 1 ajustado com ácido nítrico) - 10,5% v/v e 40 etanol 17% v/v. Solução deixada sob agitação por uma hora a 45 ºC em banho de glicerina. • Etapa b: Peróxido de benzoíla (BPO) – 8 mg/mL e metil metacrilato (MMA) – 35% v/v. Solução deixada sob agitação à temperatura ambiente (30 ºC ± 2) até completa dissolução do BPO. A reação de formação do híbrido ocorreu com a adição da etapa b na etapa a agitando durante 10 minutos a 45 ºC. Figura 1: Fluxograma da preparação do híbrido em banho de glicerina 3.1.2.2 Método que utiliza refluxo A polimerização do metil metacrilato foi baseada no estudo de Carvalho et al.73 sendo substituído o 3-(trimethoxysilylpropyl) methacrylate (TMSM) pelo 3- metacriloxipropil-trimetoxi-silano (MPTS) e as concentrações ajustadas para o novo sistema como segue abaixo: • Etapa 1, co polímero: Reação em refluxo por 15 horas a 85 OC de tetrahidrofurano (THF) - 64% v/v, metilmetacrilato (MMA) - 10,3% v/v, MPTS - 2,6% v/v e peróxido de benzoíla (BPO) - 0,17mg/mL. 41 • Etapa 2: Adição da etapa 1 ao tetraetilortosilicato (TEOS) – 8,8% v/v, água (H2O) a pH 1 - 3,1% v/v, tetrahidrofurano (THF) - 10,4% v/v na temperatura de 55 ºC por 5 minutos. Figura 2: Fluxograma da preparação do híbrido com uma das etapas em refluxo. Comparando os dois métodos de preparação, os resultados quanto à proteção ao substrato frente a corrosão foram semelhantes e considerando que esse revestimento seria feito em escala comercial a utilização o banho de glicerina ou algum outro tipo de banho termostático seria mais viável economicamente principalmente pelo tempo de reação. Outro fator que desfavorece a utilização do método com refluxo é o uso do THF que possui uma toxicidade para manuseio alta. 3.1.3 Preparação dos revestimentos dopados com íons cério. O procedimento base de preparação utilizado para os revestimentos dopados com íons cério foi o descrito no item 3.1.2 usando banho de glicerina sendo 42 adicíonado sais de cério(III) ou cério(IV) na etapa b nas concentrações de 300, 500, 700 ou 900 ppm do íon. O peróxido de benzoila, em algumas amostras, foi retirado da composição permanecendo assim somente o sal de cério. • Etapa a: Tetraetilortosilicato (TEOS) – 24,5% v/v, 3-metacriloxi-propil-trimetoxi- silano (MPTS) –13% v/v, água (H2O a pH 1) - 10,5% v/v e etanol 17% v/v. Solução deixada sob agitação por uma hora a 45 ºC. • Etapa b: Peróxido de benzoíla (BPO) – 8 mg/mL e adição de íons Ce (ou nitrato de cério(III) hexahidratado [Ce(NO3)3·6H2O, Aldrich] ou nitrato amoniacal de cério(IV) [(NH4)2Ce(NO3)6, Aldrich)]) e metil metacrilato (MMA) – 35% v/v. A mistura foi agitada à temperatura ambiente até completa dissolução do BPO. A reação de formação do híbrido ocorreu com a mistura da etapa b na etapa a mantendo a agitação por 10 minutos a 45 ºC. Figura 3: Fluxograma da preparação do híbrido dopado em banho de glicerina. 43 3.1.4 Deposição dos revestimentos. Os revestimentos foram depositados via Dip Coating deixando o substrato em contato com a solução por 1 minuto e foi modificado: • número de camadas: utilizou-se revestimentos com uma ou três imersões sendo a deposição feita à temperatura ambiente com intervalos de 5 minutos entre as deposições nas amostras multicamadas; • velocidade de retirada da amostra: as velocidades de retirada utilizadas foram 100, 300 ou 500 mm/min. Na literatura mencíona-se a utilização de, geralmente, velocidades iguais ou inferiores a 200 mm/min21,25,53,54,74, para diferentes composições de revestimentos híbridos, porém com o sistema estudado, utilizando velocidades de 100 mm/min, não se obteve um bom efeito barreira devido a irregularidade do substrato, optando-se por buscar uma velocidade de emersão que gerasse filmes espessos e uniformes de forma semelhante ao estudado por Paussa et al.74. 3.1.5 Cura das amostras As amostras foram submetidas a um tratamento térmico21 em estufa constituído de duas etapas: Primeira etapa: 24 horas a 55 ºC. Segunda etapa: 160 ºC por 3 horas. Após esse tratamento as amostras retornaram gradativamente à temperatura ambiente e foram acondicíonas em dessecador para posterior caracterização. Uma série de experimentos demonstrou que o melhor procedimento de cura é o que foi empregado e descrito acima. Outras condições foram experimentadas e não foram adequadas conforme se verifica a seguir. 44 Teste 1 As amostras foram curadas em única etapa a 180 ou 200 ºC por 1 h, e o resultado obtido foram amostras craqueladas e com revestimento não aderente devido provavelmente à evaporação rápida do MMA (ponto de ebulição 101 ºC) deixando espaços vazios que frágilizaram o filme. Teste 2 O tempo de cura utilizado foi de 65 ºC por uma hora e 110 ºC por 3 h. As amostras apresentaram revestimento fino, com muitas áreas sem recobrimento. Teste 3 Entre as imersões das amostras multicamadas foi feita uma cura intermediária por 10 min a 70 ºC entre cada imersão e após as deposições a cura foi feita como descrito anteriormente. As amostras obtidas eram extremamente irregulares e com rachaduras devido à formação de bolhas decorrente das sucessivas imersões. 3.2 Caracterização dos revestimentos Os revestimentos estudados foram caracterizados com técnicas eletroquímicas e físicas. A escolha das técnicas a serem utilizadas para caracterização física baseou-se nos resultados eletroquímicos e foram feitas apenas para alguns revestimentos. 3.2.1 Espectrometria vibracíonal de absorção na região do infreavemelho (IV) Os espectros vibracionais no IV dos revestimentos foram obtidos a partir de pastilhas de KBr75 com massa de amostra de 0,0155 g no intervalo espectral de (4000-400) cm-1 com resolução de 4 cm-1 utilizando espectrômetro FT-IR PERKIN ELMER 2000 do Instituto de Química-UNESP. 45 3.2.2 Microscopia eletrônica de varredura (SEM) As medidas de SEM foram feitas no Departamento de Chimica, Fisica e Ambiente da Universidade de Udine [Udine – Itália], no modo SEI76. O equipamento utilizado foi um microscópio eletrônico de varredura Carl Zeiss EVO 40 equipado com espectrômetro de dispersão de energia de raios X (EDXS). O mapa da superfície foi feito utilizando o equipamento Field Emissíon Eléctron Microscope (FEG) JSM – 7500F, acoplado com EDXS termo Scientific – Noran Sistem six. 3.2.3 Microscopia de força atômica (AFM) Imagens de microscopia de força atômica (AFM) foram adquiridas em um AFM 5500 – Agilent operando no modo Fase77 das imagens em ar Cantilever de Si foi utilizado como nanosensor com pressão de 50 N / m e frequência de ressonância nominal de 291 kHz. A frequência de operação foi de 5% menor do que a ressonância. Unidade de amplitude foi de 300 mV e ponto de operação de 214 mV. 3.2.4 Glow discharge optical emissíon spectrometry (GDOES) Medidas de GDOES78 [Glow discharge optical emissíon spectrometry] foram feitas no Departamento de Chimica, Fisica e Ambiente da Universidade de Udine [Udine – Itália]. O equipamento utilizado foi um Horiba JY, com tempo de contato de 120 s, profundidade de 3.1658 m e pressão 650 Pa. A tecnica de GDOES é uma espectrometria de emissão óptica com plasma de descarga luminescente que devido à excitação e relaxamento dos íons 46 comparadas com um padrão é possivel identicar a distribuição quantitativa e qualitativa em profundidade dos elementos de uma superfície de um revestimento. Conhecendo essa fropundidade a espessura pode ser estimada utilizando a profundidade máxima de um elemento. 3.2.5 Medidas de potencial de circuito aberto (EOC) Antes do início das medias de impedância eletroquímica foi medido o potencial x tempo das amostras durante 3 horas, tempo necessário para a estabilização do potencial, utilizando um Potenciostato/Galvanostato, marca PRINCETON APPLIED RESEARCH (PAR), modelo EG&G PAR – 283. Nos estudos realizados variando a velocidade de emersão e o número de camadas foi utilizado um Potenciostato AUTOLAB PG-STAT 12 e os potenciais foram anotados antes e após as medidas. 3.2.6 Medidas de espectroscopia impedância eletroquímica (EIS) Os estudos de EIS foram divididos em duas partes, a primeira foi o estudo dos revestimentos variando a concentração de íons Ce (III) ou Ce(IV) e realizados no Brasil. A segunda parte foi o estudo variando a velocidade de emersão e o número de camadas com a melhor condição obtida na primeira parte do estudo. A primeira parte do estudo foi realizada utilizando um Potenciostato/Galvanostato, marca PRINCETON APPLIED RESEARCH (PAR), modelo EG&G PAR – 283, com um analisador em frequência modelo PAR- 1025, célula eletroquímica convencíonal, Figura 4, com área geométrica do eletrodo de trabalho (aço estanhado recoberto com filmes) de 1 cm2 exposta à solução. O eletrodo de referência foi Ag|AgCl|KClsat e como auxiliar foi utilizado uma rede de platina. O eletrólito utilizado foi uma solução de NaCl 0.6 mol L-1 naturalmente 47 saturada em ar, e as medidas foram realizadas a 27 1 oC, amplitude de 10 mV (RMS), 10 pontos por década, varredura de 1 x 105 a 1 x 10-2 Hz. Figura 4: Foto das células eletroquímicas utilizada nos estudos de espectroscopia de impedância eletroquímica. (Fonte: BASHO, E. N79.; INFLUÊNCIA DA ADIÇÃO DE ÍONS CÉRIO EM REVESTIMENTOS HÍBRIDOS ORGÂNICO-INORGÂNICOS CONTRA CORROSÃO DO COBRE, 2011, 55 f. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) – Universidade Federal da Grande Dourados, Dourados, 2011.) Para a segunda parte foi utilizado um Potenciostato AUTOLAB PG-STAT 12 com módulo analisador em frequência, célula eletroquímica convencíonal com área do eletrodo de trabalho de 1 cm2 exposta à solução. O eletrólito utilizado foi uma solução de NaCl na concentração de 0,05 mol L-1. Essa variação na concentração das soluções de ataque ocorreu devido a necessidade de se acompanhar de forma mais lenta a entrada no eletrólito pelo filme48,74. O eletrodo de referência foi Ag|AgCl|KClsat e como auxiliar foi utilizado uma rede de ródio. A varredura foi feita de 1 x 105 a 1 x 10-2 Hz aplicando uma perturbação senoidal de 10 mV (rms). As medidas foram feitas em triplicata e acompanhadas até se observar danos no substrato, indicando o ataque do mesmo pelo eletrólito. Esse tempo foi de apróximadamente 96 h, exceto para a amostra com três imersões e velocidade de 48 deposição de 500 mm/min que foi acompanhada por 144 h. Essas medidas foram obtidas no laboratório do Prof. Lorenzo Fedrizzi da Universidade de Udine – Itália, no âmbito de um doutorado sanduíche financiado pela CAPES. Todos os resultados experimentais de espectroscopia de impedância eletroquímica se ajustaram ao tratamento pelas Transformadas de Kramers-Kronig (KKT)89. 3.2.7 Curvas de polarização As curvas de polarização foram obtidas utilizando um Potenciostato/Galvanostato, marca PRINCETON APPLIED RESEARCH (PAR), modelo EG&G PAR – 283, varrendo-se um intervalo de potencial de 0 até +0,35 V versus EOC/(Ag/AgCl/KCl3M) , com velocidade de varredura de 0,166 mV s-1 e após uma hora de imersão. Todas as medidas eletroquímicas foram feitas a 28 °C. 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Substrato: aço estanhado 4.1.1 Caracterização do substrato O aço estanhado usado neste trabalho é um material comercial e que pode ser usado para produzir essas latas. Esse aço estanhado comercial não apresenta uniformidade na superfície como pode ser observada na imagem MEV presente na Figura 5, na qual linhas ou faixas com diferentes espessuras e profundidades são notadas. Medidas de EDXS (Energy-dispersive X-ray spectroscopy), Figura 6a, identificaram essas faixas como sendo formadas (Figura 6b), predominantemente, por estanho, ponto 3, com pouquíssima quantidade de ferro; por uma combinação maior de estanho com ferro, ponto 1; e ferro com um pouco de estanho, ponto 2. 49 Mapas de distribuição desses elementos nessa superfície também foram obtidos utilizando um microscópio FEG com aumento de 5000 vezes, Figura 7, confirmando essa cobertura não uniforme de estanho sobre o aço. Figura 5: Imagem MEV do aço estanhado comercial utilizado como substrato. 50 (a) (b) Figura 6: Imagem MEV de uma região do substrato, aço estanhado, (a), Gráfico de EDXS indicando a composição elementar das diferentes regiões marcadas na superfície (b). 51 (a) (b) (c) Figura 7: Mapas de distribuição dos elementos na superfície do aço estanhado utilizado como substrato, imagem SEM (a), regiões com maior concentração de Fe (b) e Sn (c). 52 4.1.2 Espectroscopia de impedância eletroquímica para o aço estanhado, aço e estanho puro Devido a essas regiões com baixa concentração do estanho esse material se torna mais susceptível à corrosão do que se possuísse uma camada de estanho homogênea em sua superfície. Esse fato pode ser confirmado por meio das medidas de impedância eletroquímica (EIS) em meio de NaCl 0,6 mol L-1 apresentadas na Figura 8, nas quais observou-se um comportamento intermediário para o aço estanhado utilizado quando comparado com o estanho puro (superfície ideal) e para o aço sem estanho. 0 5 10 15 20 0 5 10 15 20 0 50 100 150 0 50 100 150 -Z im g (k c m 2 ) Zre (k cm2) 0.01Hz 0.10Hz Estanho puro Aço Aço estanhado (substrato) 0.01Hz -Z im g (k c m 2 ) Zre (k cm2) 0.05Hz1.09Hz 0.10Hz (a) -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6 2 3 4 5 6 lo g (|Z | / c m 2 ) log (f / Hz) -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6 0 20 40 60 80 - (g ra us ) log (f / Hz) (b) (c) 53 Figura 8: Diagramas de EIS para ■ aço estanhado ● aço e ▲ estanho puro, (a) plano complexo, (b) Bode-módulo de impedância, |Z| (c) Bode-ângulo de fase, . A partir do diagrama no plano complexo, Figura 8a, observou-se a presença de um arco capacitivo para todos os materiais sendo que para o estanho puro observou-se um valor de impedância real maior, que representa uma superfície uniforme de depósito, do que para os demais. Já o aço estanhado comercial apresenta uma impedância maior que a do aço puro, porém significativamente menor que a do estanho puro. Essa mesma diferença pode ser observada nos gráficos de Bode - ângulo de fase e Bode - |Z|, Figura 8c, nos quais observou-se apenas uma constante de tempo em frequências menores que 100 Hz e o ângulo de fase do aço estanhado é menor em relação ao obtido para o estanho puro e o |Z| apresenta valores intermediários ao estanho puro e ao aço. Os resultados observados para esse substrato mostram uma superfície muito ruim quando comparado com outros aços estanhados utilizados na literatura. Mora at al69 utilizou um aço com um recobrimento bem mais homogêneo, o EDXS da superfície mostrou uma concentração de estanho semelhante ao observado no ponto “3” da micrografia apresentada na figura 6b. Outros autores com Huang e Li70- 73 utilizaram aço estanhado com composição nominal de 11 g de Sn/m2 garantindo assim um melhor recobrimento de estanho. 4.1.3 Conclusão Parcial A superfície do aço estanhado utilizado não é homogênea. Há regiões com maior quantidade de estanho e outras pobres em estanho, a distribuição desse metal ocorre em faixas onde há maior quantidade e também algumas falhas. Nas faixas entre as regiões com maior quantidade de estanho, a predominância é ferro do aço com menor quantidade de estanho. Desta forma, há regiões de maior 54 tendência à corrosão, ou seja, onde o aço está exposto ao eletrólito. Essa superfície também deve resultar na obtenção de revestimentos não uniformes, ou com diferentes capacidades de proteção temporária do substrato. A natureza desse substrato comercial sugere menor facilidade de produzir um revestimento que ofereça um bom efeito barreira. 4.2 Comparação entre métodos de obtenção dos revestimentos Neste item os dois métodos de obtenção do Sol Gel foram comparados com base numa análise qualitativa dos valores do módulo da impedância medidos por espectroscopia de impedância eletroquímica para os revestimentos imersos em diferentes tempos em solução de cloreto de sódio 0,06 mol L-1. 4.2.1 Sol Gel obtido em banho de glicerina Ao utilizar-se o método descrito no item 3.1.2.1, que emprega banho de glicerina a 45°C, observou-se que o revestimento confere ao material uma impedância, Figura 9a, próxima a 8x104 Ω cm2 nas primeiras 3 horas em contato com a solução. Após 24 h observou-se que essa impedância diminui pela metade (4x104 Ω cm2) e assim continua até 72 h de imersão quando a superfície está completamente coberta pelos óxidos de ferro como pode ser observado na Figura 10. O efeito barreira desse revestimento pode ser observado nas primeiras 48 horas, Figura 6c, na qual a presença da constante de tempo em altas frequências (104Hz), atribuída ao filme, pode ser observada. De acordo com o diagrama de bode |Z|, Figura 9b, observou-se que o módulo de impedância (|Z|) diminui com o passar dos dias de imersão e que o deslocamento em frequências entre 1 e 10 Hz sugere a ocorrência de fenômenos na superfície do eletrodo como, por exemplo, a oxidação 55 do ferro. Observou-se também que após 72 h os valores medidos para o |Z| e ângulo de fase são os mesmos medidos apenas para o substrato sem recobrimento. 0 40 80 0 40 80 Banho glicerina 3h 24h 48h 72h 0 2 4 6 8 10 0 2 4 6 8 10 0.1 Hz 1 Hz 1 Hz -Z im g (k c m 2 ) Zre (k cm2) 1 Hz 0.1 -Z im g (k c m 2 ) Zre (k cm2) 0.005 0.005 0.01 (a) -2 0 2 4 6 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 4.5 5.0 lo g (|Z | / c m 2 ) log (f / Hz) -2 0 2 4 6 0 10 20 30 40 50 60 70 - (g ra us ) log (f / Hz) (b) (c) Figura 9: Diagramas de impedância eletroquímica dos revestimentos obtidos através de banho de glicerina (a) Plano complexo, (b) Bode-módulo de impedância, |Z| (c) Bode- ângulo de fase, . 56 Figura 10: Fotografia da superfície registrada após 72 horas de contato do revestimento obtido em banho de glicerina com a solução de NaCl 3,5%. 4.2.2 Solução sol gel com etapa envolvendo refluxo O revestimento obtido utilizando o método descrito no item 3.1.2.2, que emprega refluxo para a polimerização do metil metacrilato (MMA) em meio de THF apresentou módulo de impedância, Figura 11a, próxima a 10x104 Ω cm2 nas primeiras 3 horas em contato com a solução. Após 24 h observou-se que esse módulo de impedância diminui para menos da metade (3x104 Ω cm2) e assim continua até 72 h de imersão quando a superfície apresenta pontos de corrosão. O efeito barreira desse revestimento vai diminuindo durante as 72 h de experimento, Figura 11c. A constante de tempo em altas frequências (104 Hz), atribuída ao filme, diminui seu ângulo de fase, porém não desaparece. Essa permanência da constante de tempo relacíonada com o filme pode ser explicada devido à corrosão localizada do substrato em forma pites, como notamos na Figura 12, na qual uma área significativa da amostra ainda está protegida, justificando a presença da constante de tempo referente ao filme e a pequena variação de |Z| em baixas frequências, Figura 11b a partir da 24 h de imersão. Essa corrosão mais localizada pode estar relacíonada com uma possível polimerização maior do MMA durante o tempo de refluxo. 57 0 25 50 75 100 0 25 50 75 100 -5 0 5 10 15 20 25 30 35 -5 0 5 10 15 20 25 30 35 0.1Hz 0.01Hz -Z im g (k c m 2 ) Zre (k cm2) 0.005Hz 0.01Hz0.1Hz 1Hz 0.005Hz Com refluxo 1h 24h 48h 72h -Z im g (k c m 2 ) Zre (k cm2) 0.005Hz 0.01Hz 0.1Hz 1Hz (a) -2 0 2 4 6 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 4.5 5.0 lo g (|Z | / c m 2 ) log (f / Hz) -2 0 2 4 6 0 20 40 60 80 - (g ra us ) log (f / Hz) (b) (c) Figura 11: Diagramas de impedância eletroquímica dos revestimentos obtidos com uma das etapas em refluxo (a) Plano complexo, (b) Bode-módulo de impedância, |Z| (c) Bode- ângulo de fase, . . Figura 12: Imagem registrada após 72 horas do revestimento obtido com uma das etapas em refluxo em contato com a solução de NaCl 3,5%. 58 4.2.3 Conclusão parcial Embora o revestimento obtido com a solução envolvendo uma etapa em refluxo sugere um efeito barreira melhor, sua impedância real após 24 h em contato com a solução se torna menor que a observada para o revestimento cuja solução foi obtida em banho de glicerina. Também é bem mais marcante a presença de pites após 72h de imersão no revestimento cujo sol gel foi obtido com refluxo. Levando-se em conta que esse revestimento eventualmente será utilizado em escala comercial o uso do THF e de refluxo torna-se desaconselhável. Outro fator que leva a escolha do banho em glicerina é a obtenção de diagramas mais simples de serem interpretados, menos constantes de tempo observadas. Diante disso o método escolhido para a preparação das soluções para os revestimentos híbridos foi o que utiliza banho de glicerina e etanol. 4.3 Comparação de revestimentos dopados com íons Ce(III) e Ce(IV) A utilização de revestimentos a base da camada de conversão dos cromatos para aumentar a vida útil dos materiais frente ao processo de corrosão foi a principal técnica utilizada por muitos anos. Porém devido sua alta toxicidade e potencial caráter carcinogênico, sua substituição tornou-se necessária25. Dentre os possíveis revestimentos com potencial para substituí-lo, os híbridos se mostram muito eficientes na proteção temporária, mas indicaram a necessidade de utilização de dopantes para minimizar o efeito da presença de micro trincas e poros contidos nesse tipo de material. Os dopantes que apresentaram resultados satisfatórios foram os íons de cério20-34,61,68. Esses íons formam compostos insolúveis que se depositam sobre pontos de corrosão retardando seu crescimento e aumentando a vida útil do material3,21-35,62,69. 59 Frente a essas características um estudo variando-se as concentrações de íons cério, nas suas duas valências, Ce(III) e Ce(IV), foi realizado para se identificar a condição que poderia oferecer maior proteção, maior efeito barreira, para revestimentos híbridos, além de se avaliar a influência desses íons na polimerização do filme, substituição ou não do peróxido de benzoila que é o iniciador da polimerização do metilmetacrilato. 4.3.1 Potencial em Circuito Aberto e curvas de polarização As medidas de potencial em circuito aberto (EOC) para o aço estanhado sem e com BPO nas diferentes composições de revestimentos (com 300, 500, 700 e 900 ppm íons Ce(III) ou Ce (IV))foram acompanhadas por 3 h em contato com a solução aquosa de NaCl 0,6 mol L-1 e estão apresentadas na Tabela I. Todas as amostras apresentaram um potencial mais positivo do que o do aço estanhado puro indicando um caráter mais nobre. Dentre as amostras dopadas com íons Ce(III) e que não tinham BPO em sua composição observa-se que os potencias medidos praticamente não variam, indicando que a presença de diferentes quantidades de íons Ce(III) não interfere significativamente no aumento do potencial. Isso sugere que os íons Ce(III) não interferem na etapa de polimerização, possivelmente atuando apenas como inibidores de corrosão. Para os revestimentos que continham Ce(III) e BPO observa-se que com 900 ppm de Ce(III) o potencial medido após 3 h aumentou, indicando uma possível melhora na proteção do substrato, provavelmente devido ao maior efeito inibidor da corrosão. Já nas demais condições os potenciais em circuito aberto apresentaram variações insignificantes mesmo quando comparados com os revestimentos sem BPO. 60 Para os revestimentos que continham íons Ce(IV) os mainores potenciais em circuito aberto observados nas amostras sem BPO para 300, 900 ppm foram -0,49 e -0,53 V vs. Ag|AgCl|KClsat. Isso indica que após as primeiras 3 horas esses seriam os revestimentos capazes de oferecer a maior proteção contra a corrosão. Os demais revestimentos sem BPO não apresentaram diferença significativa. Ao se adicíonar o BPO nos revestimentos mediram-se valores de potenciais em circuito aberto mais positivos que o substrato puro. A variação dos potenciais entre as amostras foi insignificante, indicando que a adição de diferentes concentrações dos íons não interferiu no aumento do potencial após as 3 primeiras horas de imersão. Tabela I. Medidas de potencial versus tempo [EOC] para as amostras após 3 horas em contato com solução de NaCl 3,5%. Cíon / ppm EOC / V (NaCl 3,5% - Ag|AgCl|KClsat) com revestimento híbrido sem íons Ce(III) Ce(IV) sem BPO com BPO sem BPO com BPO sem BPO com BPO 0 -0,53 -0,57 -- -- -- -- 300 -- -- -0,53 -0,55 -0,49 -0,56 500 -- -- -0,55 -0,56 -0,56 -0,50 700 -- -- -0,55 -0,52 -0,57 -0,49 900 -- -- -0,54 -0,49 -0,53 -0,50 Após as medidas em circuito aberto, as curvas de polarização foram registradas para os revestimentos com íons Ce(III) ou Ce(IV) e mostradas na forma de sobrepotencial, , versus logaritmo da densidade de corrente, log i, nas Figuras 13a e 13b e Figuras 14a e 14b, respectivamente. Ao alterar o potencial por qualquer imposição de potencial, afirma-se que o eletrodo metálico sofreu polarização. Essa alteração no potencial é intitulada de sobrepotencial, usualmente designada por que pode ser calculado pela equação 1, sendo Eap o potencial aplicado e Eoc o potencial de circuito aberto. Se > 0 tem-se uma polarização anódica e se < 0 tem-se polarização catódica. 61 = Eap – EOC (1) Para todas as amostras os valores dos potenciais de corrosão, Ecorr, foram próximos e indicaram alguma proteção ao substrato. Fixando a corrente em 10-6 A observa-se que os sobrepotenciais para as amostras com Ce(III) sem BPO tiveram um leve aumento quando comparados apenas com o substrato, ƞ 0,05 V. Esse aumento foi um pouco maior para as amostras que continham BPO na sua composição, ƞ 0,1 V indicando uma melhora na proteção do substrato. Verifica-se também que para um mesmo potencial a densidade de corrente diminui com a presença do revestimento embora não haja grande variação de densidade de corrente entre as várias condições. Observa-se também que para os revestimentos com 700 e 900 ppm Ce(III) e BPO os potenciais foram mais positivos e a densidade de corrente foi menor em praticamente 1 ordem de grandeza, insert Figura 13b, indicando um aumento da proteção do substrato pelos revestimentos. 62 -10 -9 -8 -7 -6 -5 -4 -3 -2 0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 -10 -8 -6 -4 -2 -0.8 -0.7 -0.6 -0.5 -0.4 -0.3 -0.2 E / V v s. A g /A g C l/K C l s at log (i/A cm-2) Ce(III) Sem BPO 300 500 700 900 Substrato Aço sem estan