Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Instituto de Artes TAINÁ ALVES CUSTÓDIO CAMINHOS DE MÃOS: morro de mares São Paulo 2022 TAINÁ ALVES CUSTÓDIO CAMINHOS DE MÃOS: morro de mares Trabalho de conclusão de curso, apresentado como requisito para a conclusão do curso de Bacharelado em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” para obtenção do título de Bacharel em Artes Visuais. Orientadora: Profa. Dra. Rita Luciana Berti Bredariolli São Paulo 2022 Ficha catalográfica desenvolvida pelo Serviço de Biblioteca e Documentação do Instituto de Artes da Unesp. Dados fornecidos pelo autor. C987c Custódio, Tainá Alves, 1999- Caminhos de mãos: morro de mares / Tainá Alves Custódio. - São Paulo, 2022. 48 f. : il. color. Orientadora: Profa. Dra. Rita Luciana Berti Bredariolli Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Artes Visuais) – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Instituto de Artes 1. Língua brasileira de sinais. 2. Surdos – Educação inclusiva. 3. Arte - inclusão. I. Bredariolli, Rita Luciana Berti. II. Universidade Estadual Paulista, Instituto de Artes. III. Título. CDD 707 Bibliotecária responsável: Mariana B. Gasparino - CRB/8 7762 TAINÁ ALVES CUSTÓDIO CAMINHOS DE MÃOS: morro de mares Trabalho de conclusão de curso, apresentado como requisito para a conclusão do curso de Bacharelado em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho para obtenção do título de Bacharel em Artes Visuais. Trabalho de conclusão de curso aprovado em: 14/01/2022 Banca Examinadora: __________________________________ Profa. Dra. Rita Luciana Berti Bredariolli UNESP - Orientadora ___________________________________ Profa. Luciana Martins Tavares de Lima UNESP AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer em primeiro lugar ao meu tio Marcos, pela convivência que me fez perceber a necessidade de aprender Libras. À professora Rita, pela cautela e companhia poética, exemplo de educadora a seguir, além de fortalecer a vontade de continuar a pesquisa e motivação para sempre aprender e compartilhar, fazendo as manhãs mais felizes. À minha mãe, pela formação do meu olhar crítico e de percepção das subjetividades, assim como pelas discussões e leituras compartilhadas. Ao meu pai, pela partilha de como é importante perceber o outro e pensar na acessibilidade e nos direitos humanos desde pequena. À Lariela, amiga verdadeira, que me deu forças a enfrentar um trabalho de conclusão de curso em meio a uma pandemia. À Jéssica, por ter me contado com acolhimento a história do Pivô e sobre as iniciativas de acessibilidade da instituição. Agradeço também a todas as outras pessoas que contribuíram para a construção e desenvolvimento dessa narrativa, assim como para a formação da artista e arte-educadora que hoje sou. RESUMO A pesquisa apresentada integra o trabalho de conclusão de curso de Bacharelado em Artes Visuais, apresentando por meio de uma exposição virtual a produção autoral de obras desenvolvidas durante a realização da pesquisa “Caminhos de mãos: libras como forma de acesso à arte”. Dessa forma, o trabalho se coloca como uma produção desenvolvida durante o período de isolamento social causado pela pandemia de Covid-19, durante o ano de 2020 e 2021, relacionando subjetividade, normalidade e normatividade, surdez e silêncio. Palavras-chave: Normal. Língua. Linguagem. Mediação. Surdez. Libras. Língua Brasileira de Sinais Acessibilidade. Artes Visuais. ABSTRACT The research presented is part of the conclusion work of the Bachelor's Degree in Visual Arts, presenting, through a virtual exhibition, the authorial production of works developed during the realization of the research "Paths of hands: Brazilian Sign Language as a form of access to art". In this way, the work presents itself as a production developed during the period of social isolation caused by the Covid-19 pandemic, during the years 2020 and 2021, approaching subjectivity, normality and normativity, deafness and silence. Keywords: Normal. Tongue. Language. Mediation. Deafness. Libras. Brazilian Sign Language. Accessibility. Visual arts. SUMÁRIO 1 Introdução………………………………………………………………………………..…..7 2 Registros da Exposição............................................................................................................9 2.1 Texto Curatorial.......................................................................................................10 2.2 A Exposição.............................................................................................................11 3 Considerações Finais..............................................................................................................47 Referências....………………………………………………………………………………....49 7 1 INTRODUÇÃO Esse trabalho inicia-se num caderno, um caderno maltrapilho, costurado à mão e protegido por uma capa de papelão com suas próprias cicatrizes. Esse trabalho fez o caderno ser, mas o fez ser de verdade, carregando o caderno a sua própria subjetividade. O próprio caderno poderia ser trabalho, mas tímido e simples que é, decidiu que sua história seria contada por aqui. Durante meses essa pesquisa percorreu diferentes caminhos, foi e deixou de ser o que parecia inicialmente, mas não deixou de ser o que poderia ser: uma escrita sobre experiências e subjetividades, sobre língua e linguagem e sobre o silêncio e a palavra. Além disso, o trabalho apresenta-se como conclusão do curso de bacharelado e licenciatura em artes visuais, pois acredito que não foi uma experiência que se separou, a artista e a arte-educadora não se separaram e compuseram esse sujeito: com experiência, subjetividade, vivência e, em consequência, com a criação artística. A pesquisa, portanto, é composta por duas partes que se articulam, essa dissertação como parte da pesquisa escrita e uma exposição virtual como parte expositiva das obras autorais produzidas no decorrer do desenvolvimento poético e científico deste trabalho. Cabe, em consequência, iniciar essa escrita como história, pois a história a fez possível, e como linguagem, pois a linguagem a permite comunicar. E por meio da linguagem, aproprio-me da licença poética para narrar um pouco dessa história, dizendo que essa é uma pesquisa feita durante um período longo de isolamento social devido à pandemia de Covid-19, tempo em que o silêncio se fez intenso, em mim e em muitas outras pessoas, intimidador e violento no início, libertador e potência de autoconhecimento posteriormente. O isolamento restringiu a prática artística a qual estava acostumada na universidade, a produção se tornou mais restrita pela falta de recursos e espaço. As relações tornaram-se estritamente virtuais. O silêncio se fez intensamente presente. Durante as aulas virtuais, o bordado foi companheiro de arte e reflexão, o papel e o lápis pareciam fontes de materialidade para a consciência de que o virtual não era só o que possuíamos naqueles momentos. A palavra também foi companheira de silêncio, pois ampliou a compreensão de que não se fazia apenas falada, mas também escrita e sinalizada por meio da língua brasileira de sinais; a aproximação com redes sociais permitiu perceber a relevância da interpretação em libras do conteúdo para acessibilizar arte àqueles que não ouvem e encontrar, assim, o tema desta pesquisa: a língua como forma de acessar arte, pensando a libras como mediação, e a compreensão da arte como área de conhecimento que deveria ser acessível a todes. 8 Fez-se possível unir, então, o sinal de libras com a palavra em português em traduções visuais que se relacionam com o movimento do sinal de três cores: Azul, Amarelo e Vermelho, imagens que nomeiam o início de cada capítulo dessa pesquisa e que se apresentam no início de cada eixo da exposição virtual das obras desenvolvidas durante a pesquisa. As traduções que fiz se dão pela leitura do movimento das mãos em libras como poético e da compreensão da língua de sinais como importante meio de comunicação para pessoas surdas e com deficiência auditiva que se identificam com essa língua. Durante esse percurso, também foi presente o questionamento sobre o significado de algumas palavras compreendidas no dicionário, pensando em como as palavras podem ser capazes de determinar subjetividades e limitar a experiência de seres. Como exemplo, a palavra “normal” se destaca nesse sentido, ao pensar em que poderia significar determinar algo como normal. O que seria uma arte dita normal ou uma língua entendida como normal? O que determina essa normalidade? O quanto nos submetemos a ela em nossos modos de existir e produzir? O quanto ela determina a nossa fala? Quem pode dizer o que é normal? Seria a normalidade um padrão hegemônico e colonial? Como parte dessa reflexão, também foi desenvolvido, por meio da pesquisa de campo e relatos de experiência, o contato com a articulação cultural para acessibilizar arte a pessoas com deficiência e pessoas surdas, presencialmente e virtualmente, por meio da mediação durante estágio na instituição cultural Pivô - Arte e Pesquisa e consideração de experiências de pessoas surdas que se relacionam com a arte. Desse modo, a partir da narrativa e articulação por meio do pensamento contra–hegemônico, abrem-se caminhos para a partilha desse trabalho com construção subjetiva e de articulação entre a produção artística individual e a arte-educação, entendendo-os como eixos que se completam. Uma pesquisa que partiu de alguns rabiscos em um caderno maltrapilho e se tornou experiência. Deixo aqui o link para acessar a exposição virtual “Morro de Mares” que compõe a produção visual da pesquisa CAMINHOS DE MÃOS - Morro de Mares do TCC de Bacharelado em Artes Visuais: https://sites.google.com/unesp.br/morrodemares/in%C3%ADcio Como forma de manter a exposição ativa por tempo longínquo, de modo a preservar a pesquisa, serão inseridos neste documento capturas de tela da exposição virtual, evitando que o material se perca, caso o site não esteja mais disponível na rede. https://sites.google.com/unesp.br/morrodemares/in%C3%ADcio 9 2 REGISTROS DA EXPOSIÇÃO Neste capítulo serão apresentadas imagens, capturas de tela, que relatam a experiência da Exposição virtual Morro de Mares, permitindo a visita além do link disponibilizado na introdução. 10 2.1 Texto curatorial Morro de Mares é uma mostra composta por obras visuais produzidas durante a graduação em artes em tempos de isolamento causado pela pandemia de Covid-19, apresentada como trabalho de conclusão de curso de bacharelado em artes visuais. Nesses tempos de isolamento social, o silêncio se fez presente nas experiências de muitos e foi fator motivador para reflexões internas sobre as subjetividades e cotidianos apagados ou acostumados ao tal dito “antigo normal”. Como consequência das restrições sociais, também aconteceram restrições espaciais e, consequentemente, de materiais. As obras passaram da pintura a óleo para o bordado em retalhos presentes em casa, do desenho em telas grandes para retalho do papel. O silêncio, muitas vezes compulsório no momento pandêmico, aparentou restritivo e punitivo inicialmente, como de modo violento, apresentou-se como uma forte mudança na rotina humana, como se deliberasse um “novo normal”. O silêncio também permitiu a aproximação com a Língua Brasileira de Sinais, com a fortificação do conteúdo acessível em libras nas redes sociais. A ação desse silêncio trouxe também, para alguns, momentos de reflexão intensa e de autoconhecimento, questionamento de ações antigas e de coisas que eram entendidas como “normais”, palavras entendidas como “normais”. E a própria pergunta: mas afinal, o que é normal? Normal é só uma palavra? Normal é um modo de ser? Normal é uma imposição do ser? Caminha assim, portanto, com essas perguntas, a estruturação dessa exposição, contida no espaço virtual, pois assim foi sentida e pensada no tempo vivido; ela caminha sobre os questionamentos do normal, sobre o que se entende por uma arte normal, sobre pessoa normal, sobre uma língua normal e sobre o que a palavra é capaz de determinar nas subjetividades dos seres. Desse modo, a exposição é repartida em três eixos interligados diretamente com o trabalho de conclusão de curso de bacharelado e licenciatura em artes visuais; os eixos expositivos são nomeados por cores: Azul, Amarelo e Vermelho, que correspondem aos respectivos capítulos da pesquisa Caminhos de mãos: libras como forma de acessar à arte e que possuem cada um no seu início uma tradução visual poética feitas pela artista dos sinais das cores em Libras. Dentro de cada eixo, organizou-se tematicamente as obras conforme sua estrutura comum. “Azul: O que é normal?”, “Amarelo: Montanhas do Silêncio” e “Vermelho: Caminho de Mãos” Texto curatorial por Tainá Alves Custódio 11 2.2 A Exposição 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Concluo, portanto, essa pesquisa como um trabalho entre imagem e história, experiência e subjetividade. Um processo longo e ao mesmo tempo acolhedor, não se colocando como peso, mas como cuidado, um processo de conhecimento como pesquisadora em arte e da área de acessibilidade e educação. Nesse processo criativo de pesquisa, houve um ir e vir de temas e de vontades, de ideias e confusões, em metáfora, uma trilha longa feita pelas montanhas do silêncio, um subir e descer, virar, voltar e seguir para a compreensão, por mínima que possa ser, da arte na vida de pessoas surdas, da língua de sinais brasileira, da sua importância em espaços culturais e conteúdos sobre arte e da necessidade do reconhecimento dessa língua como pertencente a culturas que não devem se limitar ao modo de ser ouvinte. Assim, além de permitir a reflexão sobre a hegemonia e o processo de desouvintização, percorrendo a história da educação dos surdos, da conquista de direitos e do reconhecimento de sua língua, houve o encontro com o questionamento de significados automatizados de palavras e, em consequência, com o pensar sobre o uso dessas palavras, considerando questões de normalidade e normatividade, termos determinados por hegemonias que se colocam como poderosas e dominantes. Além disso, nesse caminho foi trazida a compreensão de que as palavras significam poder e que o silenciamento dos oprimidos pode ser rompido, é necessário romper a dominação da língua e dos corpos, pois a língua que pertence a nossa essência é liberdade. A linguagem que nos é natural é liberdade e identidade. Nesse processo, a arte-educadora que não se imaginava existir, encontrou-se; com a experiência do estágio pensado sobre a acessibilidade em espaços culturais e com os textos de referência para a produção deste trabalho, sendo possível compreender a importância de acessibilizar arte em espaços virtuais e presenciais; entender que o fator de identificação cultural é essencial para o ser e que é imensurável o valor de se possuir intérpretes de libras em espaços que trabalhem e apresentem arte, sejam espaços formais ou não formais. Por fim, o entendimento das diferenças trouxe a amplitude da multiplicidade de vontades e modos de ser, que cada ser deve ter sua vontade respeitada a partir de sua subjetividade, pois cada ser é único. Pensando na referência da obra Anastácia livre de Yhuri Cruz, a mulher Negra amordaçada, que aparece com a boca livre, sem a máscara que a calava, hoje as mãos surdas que se viam amarradas e impedidas de se comunicar por meio dos sinais, mostram-se libertas e desacorrentadas, têm hoje uma comunicação libertária. 49 REFERÊNCIAS HONORA, Márcia; FRIZANCO, Lopes. Livro ilustrado de língua brasileira de sinais: desvendando a comunicação usada pelas pessoas com surdez. 1 ed. São Paulo: Ciranda Cultural, 2009. hooks, bell. Ensinando a transgredir: A educação como prática da liberdade. 1 ed. São Paulo:WMF Martins Fontes, 2017. https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/normal/ Acesso em: 15 jul. 2021 LARROSA-BONDÍA, Jorge. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, ANPEd, n. 19, p. 20-28, Abr. 2002. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbedu/a/Ycc5QDzZKcYVspCNspZVDxC/?lang=pt&format=pdf Acesso em: 16 out. 2021 MAM - Museu de Arte Moderna de São Paulo. Corpo nossa língua. São Paulo: MAM, 2012. 1 vídeo (7 min 1s) Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=YK2aANDHiv4&list=PLOTSdMNFPUJW0FdAOowPs B5kj0xCa_Uop&index=4 Acesso em: 12 jul. 2021 MAM - Museu de Arte Moderna de São Paulo. Exército jovem da Comunicação Libertária. São Paulo: MAM, 2011. 1 vídeo (7 min 49s). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=uCfJOL_e5f8&list=PLOTSdMNFPUJW0FdAOowPsB5k j0xCa_Uop&index=2 Acesso em: 12 jul. 2021 SKLIAR, Carlos. A invenção e a exclusão da alteridade ‘deficiente’ a partir dos significados da normalidade. Educação e Realidade. Rio Grande do Sul, v. 24, n 2, p.15-32, jul-dez, 2019. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/educacaoerealidade/article/view/55373/33644. Acesso em: 20 abr. 2021 TOLEDO-LUCENA, Cibele. 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