UNESP - Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Faculdade de Odontologia de Araraquara José Cleveilton dos Santos Avaliação mecânica e análise por elementos finitos de diferentes desenhos da Osteotomia Sagital do Ramo Mandibular Araraquara 2024 UNESP - Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Faculdade de Odontologia de Araraquara José Cleveilton dos Santos Avaliação mecânica e análise por elementos finitos de diferentes desenhos da Osteotomia Sagital do Ramo Mandibular Tese apresentada à Universidade Estadual Paulista (Unesp), Faculdade de Odontologia de Araraquara, para obtenção do título de Doutor em Ciências Odontológicas, na Área de Diagnóstico e Cirurgia. Orientadora: Profa. Dra. Marisa Aparecida Cabrini Gabrielli Araraquara 2024 S237a Santos, José Cleveilton Dos Avaliação mecânica e análise por elementos finitos de diferentes desenhos da Osteotomia Sagital do Ramo Mandibular / José Cleveilton Dos Santos. -- Araraquara, 2024 60 p. : il., tabs. Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Odontologia, Araraquara Orientadora: Marisa Aparecida Cabrini Gabrielli 1. Osteotomia sagital do ramo mandibular. 2. Estresse mecânico. 3. Análise de elementos finitos. I. Título. Sistema de geração automática de fichas catalográficas da Unesp. Biblioteca da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Odontologia, Araraquara. Dados fornecidos pelo autor(a). Essa ficha não pode ser modificada. José Cleveilton dos Santos Avaliação mecânica e análise por elementos finitos de diferentes desenhos da Osteotomia Sagital do Ramo Mandibular Comissão julgadora Tese para obtenção do grau de Doutor em Ciências Odontológicas Presidente e orientadora: Profª. Dra. Marisa Aparecida Cabrini Gabrielli 2º Examinadora: Profa. Dra. Luciana Asprino 3º Examinador: Prof. Dr. Cássio Edvard Sverzut 4º Examinador: Prof. Dr. Luis Geraldo Vaz 5º Examinador: Prof. Dr. Marcelo Silva Monnazzi Araraquara, 02 de maio de 2024. DADOS CURRICULARES José Cleveilton dos Santos NASCIMENTO 26/06/1989 – Porto da Folha – Sergipe FILIAÇÃO Antonio dos Santos Luzia Matias dos Santos 2009 - 2014 Graduação em Odontologia. Universidade Tiradentes, UNIT, Aracaju, Brasil com período sanduíche em University of Debrecen, Debrecen, Hungria. Título: Antioxidant and wound healing activities of the aqueous extract of Punica granatum Linn in rodent model. Orientador: Profº Drº Ricardo Luiz Cavalcanti de Albuquerque Júnior Bolsista do(a): Programa Universidade para Todos (Prouni) 2017 - 2020 Residência Uniprofissional em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo- Facial. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, São Paulo, Brasil Bolsista do(a): Ministério da Saúde 2020 – 2024 Doutorado em Ciências Odontológicas, área de diagnóstico e cirurgia (Conceito CAPES 5). Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, São Paulo, Brasil Orientadora: Profa. Dra. Marisa Aparecida Cabrini Gabrielli Bolsista do(a): Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) Por não permitir duvidar da minha Fé, dedico a ti, ó Deus “Patrem omnipotentem, Factorem caeli et terrae, visibilium omnium et invisibilium” À minha amada esposa Maria À minha Mãe Luzia e minha irmã Quinô Cristina Ao meu pai Antonio, pela minha formação AGRADECIMENTOS Primeiramente à Deus, por permitir que todas as coisas sejam possíveis, mesmo contra a natureza da sociedade humana. Aos meus pais Luzia Matias dos Santos (Luzia parteira) e Antonio dos Santos (Tonho de Luzia), agricultores, assentados de reforma agrária na Barra da Onça, pertencentes à uma classe trabalhadora e subalterna que tiveram seus direitos negados até mesmo antes de nascer e não mediram esforços para a criação de seus sete filhos, assim como para minha formação pessoal de fé e vida em comunidade. À minha esposa Maria por todo o suporte oferecido desde que nos conhecemos, e por seu companheirismo, sua parceria e sua compreensão, peço-lhes escusas pelas minhas ausências. O seu apoio foi essencial para percorrer esse caminho árduo e prazeroso em busca do conhecimento. À minha irmã Dra. Quinô que exerce a medicina com amor e carinho. Ao meu irmão Eng. Civil Claudeir que edifica um mundo melhor obrigado vocês dois por falar comigo todos os dias não deixando espaço para negatividades, perdoem minhas ausências. Aos meus irmãos Claudeni, Clevisson, Claudivam e Cleberton obrigado pelo apoio e entendimento que a distância é só física e que estamos sempre juntos, pois me sinto sempre ao lado de todos, incluindo meus sobrinhos e demais familiares. À minha orientadora Profa. Dra. Marisa Aparecida Cabrini Gabrielli, por todos os ensinamentos, pelos conselhos, pela paciência, amizade e consideração. Por todo apoio e confiança depositado em mim. Ao Prof. Dr. Mario F. R. Gabrielli, pelo entusiasmo, intercâmbio de experiências, conversas e debates sempre enriquecedores, pela amizade, carinho e alguns cafés! Ao Prof. Dr. Marcelo S. Monnazzi, por compartilhar e transferir conhecimento, pela amizade, pelos conselhos sensatos e por contribuir diretamente na construção deste trabalho. Ao Prof. Dr. Valfrido A. Pereira Filho, pela amizade, conhecimento compartilhado, por todo incentivo e entusiasmo ao tratar da área acadêmica. Ao Prof. Dr. Eduardo Hochuli Vieira, por compartilhar o conhecimento e pela amizade, com toda sua família. À Faculdade de Odontologia de Araraquara da Universidade Estadual Paulista – Unesp/FOAr, ao Departamento de Diagnóstico e Cirurgia e ao Programa de Pós- graduação em Ciências Odontológicas pela oportunidade em desenvolver este trabalho. À CAPES. O presente trabalho foi realizado com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de financiamento 001. Ao Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer – CTI (Campinas/SP), representado pelo Dr. Pedro Yoshito Noritomi e Leonardo Machado, nossos agradecimentos pelas orientações e por possibilitar parte da metodologia empregada no desenvolvimento deste trabalho. Vocês foram fundamentais. Ao Prof. Dr. Luis Geraldo Vaz, por disponibilizar o laboratório de ensaios mecânicos para desenvolvimento deste trabalho. Agradeço aos professores e professoras que compõe a comissão julgadora deste trabalho que, assim como os suplentes, aceitaram com entusiasmo participar deste processo, trazer contribuições para este trabalho, dividir conhecimento e seu precioso tempo comigo. Muitíssimo Obrigado! Ao Programa de Residência e ao serviço de Cirurgia e Traumatologia Buco- Maxilo-Facial, aos residentes e aos pacientes, com vocês venho crescendo e evoluindo não apenas como profissional, mas principalmente como ser humano. Aos amigos da pós-graduação por compartilharem conhecimento, trabalhos e bons momentos: Luiz Henrique Soares Torres, Renato Torres Augusto Neto, Déborah Laurindo Pereira Santos, Guilherme dos Santos Trento, Pedro Henrique Azambuja Carvalho. À A3D Tecnologia em Saúde e aos amigos Luis Fernando de Oliveira Gorla e Diogo de Vasconcelos Macedo pelo apoio na concepção do projeto e estímulo à pesquisa usando as tecnologias como ferramenta principal. A todo o suporte técnico, conselhos e amizade que recebi de Suleima Ferreira, Alessandro Carezia, Priscila Consolaro, Isabela Manzollli, Antônio Medeiros e madrinha Thelma Ap. Gonçalves Ao Centro de Especialidades Odontológicas de Araraquara e todo pessoal que trabalham comigo e deram total apoio na fase final deste trabalho. Agradeço à minha base aos professores e professoras do município de Poço Redondo/SE que mesmo com todas dificuldades me mostraram o caminho da educação para uma vida melhor em especial à Profa. Maria Madalena Venâncio de Carvalho (in memoriam) – mocinha, sem você, talvez esse demente não tivesse chegado tão longe. À Universidade Tiradentes – Unit/SE, todos meus professores e professoras da graduação especialmente Prof. José Carlos Pereira (in memoriam), que me estimulou adentrar na área da cirurgia. Ao Prof. Dr. Ricardo Luiz Cavalcanti de Albuquerque Junior e a Profa. Dra. Isabel Bezerra Lima-Verde por orientarem minha iniciação na pesquisa cientifica. A todos, não citados, que direta ou indiretamente contribuíram nessa trajetória. Muito Obrigado! “Vem, vamos embora Que esperar não é saber Quem sabe faz a hora Não espera acontecer.”* * Vandré, G. Pra não dizer que não falei das flores [CP]. São Paulo: Som Maior; 1968 Santos JC. Avaliação mecânica e análise por elementos finitos de diferentes desenhos da Osteotomia Sagital do Ramo Mandibular [tese de doutorado]. Araraquara: Faculdade de Odontologia da UNESP; 2024. RESUMO A Osteotomia Sagital do Ramo Mandibular é a mais utilizada para correção de deformidades dentoesqueléticas que envolvam a mandíbula. Várias modificações em seu desenho foram propostas ao longo dos anos, sendo que, atualmente, a osteotomia sagital convencional é a mais utilizada. Entretanto, dois outros desenhos dessa osteotomia são amplamente utilizados na atualidade; um descrito como “short split” e outro descrito como “short cut”. Apesar das vantagens de cada técnica, não há na literatura trabalhos que comparem essas osteotomias, para guiar a escolha do cirurgião e prevenir complicações cirúrgicas. Assim, o objetivo deste estudo foi realizar uma analise mecânica e computacional desses diferentes desenhos da osteotomia citados. Para tanto foi realizado um ensaio mecânico a fim de testar a hipótese nula de que não há diferença na força média necessária para separar os segmentos mandibulares quando utilizados tais desenhos, utilizou-se 30 modelos de hemimandíbulas divididos em 3 grupos cada um com um desenho de osteotomia diferente, adicionalmente foi realizada uma análise computacional por meio do método de elemento finitos para analisar a distribuição de tensões em modelos com osteotomia sagital convencional e short cut. A hipótese nula foi rejeitada após análise estatística com ANOVA de uma via (p < 0,05) que evidenciou a osteotomia convencional com maior média de força necessária para separação dos segmentos. A análise computacional demonstrou a magnitude de deslocamento maiores nas áreas mais distantes, assim como a distribuição da tensão principal máxima e tensão de von Mises, concentradas na região de aplicação da força e direcionada ao longo da osteotomia. Conclui-se que a osteotomia sagital convencional demanda maior força de separação e a osteotomia sagital curta apresenta um maior deslocamento dos segmentos e maior concentração de tensões sugerindo uma separação facilitada, entretanto há uma propagação de tensão de von Mises em direção ao côndilo que indicaria o risco de uma fratura indesejada da região. Palavras – chave: Osteotomia sagital do ramo mandibular. Estresse mecânico. Análise de elementos finitos. Santos JC. Mechanical evaluation and finite element analysis of different designs of the Sagittal Split Ramus Osteotomy. [tese de doutorado]. Araraquara: Faculdade de Odontologia da UNESP; 2024. ABSTRACT The Sagittal Split Ramus Osteotomy is the most commonly used procedure for correcting dentofacial deformities involving the mandible. Various modifications to the design of the bone cut have been proposed over the years, with the conventional osteotomy currently being the most widely used. However, two other designs of this osteotomy are extensively employed today; one described as "short split" and another described as "short cut." Despite the advantages of each technique, there are no studies in the literature that compare these osteotomies, facilitating the surgeon's choice, reducing surgical risks and complications. Therefore, the objective of this study was to carry out a mechanical and computational analysis of the different osteotomy designs. To achieve this, a mechanical test was conducted to test the null hypothesis that there is no difference in the average force required to separate mandibular segments when using such designs. Thirty hemimandible models were used, divided into three groups, each with a different osteotomy design, additionally a computational analysis was performed using the finite element method to analyze the stress distribution in models with conventional sagittal and short cut osteotomies. The null hypothesis was rejected after statistical analysis with one-way ANOVA (p < 0.05), which showed that conventional osteotomy had a higher average force required to separate the segments. Computational analysis demonstrated the greater magnitude of displacement in the more distant areas, as well as the distribution of maximum principal stress and von Mises stress, concentrated in the region of force application and directed along the osteotomy. It is concluded that the conventional sagittal osteotomy demands greater separation force and the short sagittal osteotomy presents a greater displacement of the segments and a greater concentration of tensions suggesting an easier separation, however there is a propagation of von Mises tension towards the condyle which would indicate the risk of an unwanted fracture in the region. Keywords: Osteotomy, Sagittal Split Ramus. Stress, Mechanical. Finite Element Analysis. LISTA DE ABREVIAÇÕES .step Standard for the Exchange of Product .stl Standard Triangle Language or Sterolithography 3D Tridimensional AEF Análise por Elementos Finitos ANOVA Análise de Variância MPa MegaPascal N Newton OSRM Osteotomia Sagital do Ramo Mandibular OSConv Osteotomia Sagital Convencional OSSC Osteotomia Sagital de Separação Curta OSC Osteotomia Sagital Curta SUMÁRIO 1 INTRODUÇAO ............................................................................................... 14 2 PROPOSIÇÃO ............................................................................................... 20 2.1 Objetivos Específicos ............................................................................... 20 3 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................ 21 3.1 Definição da Força Média (N) de Separação .......................................... 21 3.1.1 Réplicas de hemimandíbula .................................................................. 21 3.1.2 Delineamento experimental .................................................................. 23 3.1.3 Ensaio mecânico .................................................................................... 23 3.2 Análise de Elementos Finitos .................................................................. 25 3.2.1 Desenvolvimento dos modelos tridimensionais ................................ 26 3.2.2 Caracterização da malha tridimensional ............................................. 26 3.2.3 Simulação computacional ..................................................................... 27 3.3 Análise dos Resultados e Planejamento Estatístico ............................. 29 4 RESULTADOS .............................................................................................. 30 4.1 Ensaio Mecânico ....................................................................................... 30 4.2 Análise de Elementos Finitos .................................................................. 32 4.2.1 Análise da magnitude de deslocamento ............................................. 36 4.2.2 Análise da distribuição da tensão principal máxima ......................... 39 4.2.3 Análise da distribuição da tensão de von Mises ................................ 41 5 DISCUSSÃO .................................................................................................. 45 6 CONCLUSÃO ................................................................................................ 50 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 51 ANEXO ............................................................................................................. 55 14 1 INTRODUÇÃO A Mandíbula é um osso impar do esqueleto facial, que desempenha um papel estético-funcional fundamental no desenvolvimento da face. O seu desenvolvimento se inicia na sexta semana de gestação, lateralmente a cartilagem de Meckel, e continua até a adolescência, sendo a unidade esquelética craniofacial que tem o crescimento fortemente influenciado por fatores extrínsecos, epigenéticos ou ambientais1. Assim, tais fatores podem contribuir no desenvolvimento de deformidades dentofaciais2, como o crescimento exacerbado da mandíbula ou a deficiência deste, causando respectivamente, a prognatismo com uma oclusão Classe III e o retrognatismo com uma oclusão Classe II3. O tratamento das deformidades dentofaciais é um tópico amplamente estudado ao longo do tempo pela especialidade de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial. A cirurgia da mandíbula foi a primeira a ser utilizada para tratar essas deformidades1,4. O Cirurgião Simon P. Hullihen de Wheeling (Virginia, EUA), foi o primeiro a tratar com sucesso uma deformidade na mandíbula, ocasionada pelo crescimento acentuado estimulado por uma cicatriz severa na face e pescoço, causada por queimadura que a paciente sofrera quando tinha 5 anos de idade5. Segundo Obwegeser6, as osteotomias da mandíbula passaram por diversas modificações, desde a primeira utilização: osteotomia de Blair, em 1907; Kostečka em 1926; osteotomia realizada por Schlössmann, em 1922; Perthes, em 1924; Kazanjian, em 1951 e osteotomia de Schuchardt em 1954. A primeira osteotomia sagital na mandíbula foi realizada por Trauner- Obwegeser em 1955 logo após, modificada por Trauner-Obwegeser em 1957; novamente recebeu modificação proposta por Dal Pont em 1958 e por fim, modificação proposta por Obwegeser6, em 1968. A Osteotomia Sagital do Ramo Mandibular (OSRM) é sem dúvida um dos procedimentos mais utilizados para a correção das deformidades dentofaciais. Atualmente, essa osteotomia é executada seguindo os parâmetros técnicos preconizados por Epker7, em 1977, sendo realizada seguindo basicamente as últimas modificações feitas por Hunsuck8, em 1968, que propôs que o corte ósseo medial não deveria ir até a borda posterior do ramo mandibular e Dal Pont9, em 1961, que sugeriu 15 a realização do corte ósseo vertical na região de corpo mandibular. Tais parâmetros preconizados por Epker7, envolviam ainda cuidados com o tecido mole, para evitar edema exacerbado, e com o corte ósseo vertical na região do corpo mandibular até a base da mandíbula para evitar uma fratura incorreta durante a separação dos segmentos ósseos10. Figura 1 - Osteotomia Sagital Convencional Fonte: Proffit et al.2, com modificações do autor. Uma das complicações da OSRM é a possibilidade de ocorrência de fratura inadequada na região da osteotomia, denominada como fratura indesejada ou “bad split”. Fatores de riscos anatômicos ou da realização da técnica são amplamente estudados e a incidência dessa complicação, na literatura, varia amplamente de 0,21% a 22,72%11. Kriwalsky et al.12 avaliaram 220 osteotomias sagitais, em que ocorreram “bad split” em 10,9% dos casos. A avaliação teve como objetivo observar a correlação com a presença de terceiros molares, a idade do paciente e a experiência do cirurgião. Observaram que a presença ou não dos terceiros molares, assim como a experiência do cirurgião, não influenciaram na ocorrência dessa complicação por outro lado pacientes com idade mais avançada apresentam um fator de risco para tal ocorrência. 16 Todavia Reyneck et al.13 realizaram um estudo em que avaliaram 139 osteotomias sagitais executadas por um mesmo cirurgião e sugeriram que a presença de terceiros molares em pacientes jovens está diretamente relacionada as fraturas indesejadas. Além disso, o trabalho ressaltou que a ocorrência de bad split pode ser em áreas frágeis dos segmentos distal, porção lingual após o último dente e do segmento proximal porção superior lateral na região do corpo da mandíbula. Variações anatômicas são amplamente estudadas na literatura14–18, Smith et al.15 realizaram um estudo em 49 mandíbulas humanas com o objetivo de determinar o local, no ramo ascendente, onde ocorre a fusão das corticais vestibular e lingual sugerindo assim que o corte ósseo medial da osteotomia sagital não deveria ser muito acima da língula, pois na região central a fusão poderia influenciar em uma fratura indesejada. Um outro estudo realizado por Cunha et al.14, publicado em 2020, avaliou 62 OSRM por meio de programa de computador específico. Os autores sugeriram que a espessura da mandíbula, principalmente da região do ramo mandibular próxima à língula tem uma influência direta no padrão da fratura e pode ser um fator de risco para fraturas indesejadas. A literatura também demonstra que a extensão do corte ósseo medial, antes ou após a língula16, assim como o rompimento da cortical lingual durante o corte ósseo vertical19 não apresentam uma relação significativa com o padrão da fratura ou com bad splits. Em uma revisão sistemática com meta-análise realizada por Steenen et. al.20, os autores não encontraram evidencias robustas para indicar a influência direta de qualquer fator de risco. A literatura também apresenta trabalhos que avaliaram bad splits relacionadas com o instrumental utilizado Salzano et al.21 estudaram 1120 OSRM divididas em grupos de acordo com o instrumental utilizado para osteotomia e não observaram correlação entre bad splits e o uso do piezoelétrico, serra reciprocante e a broca de Lindemann. Entretanto, não foram encontrados estudos comparativos entre diferentes desenhos da OSRM ou a relação da incidência de fraturas indesejadas com diferentes técnicas de separação dos segmentos ósseos20. 17 Posnick et al.22 realizaram um estudo coorte para avaliar 524 osteotomias mandibulares realizadas em 262 pacientes, pelo mesmo cirurgião, utilizando uma técnica da OSRM modificada, o trabalho concluiu que o desenho da osteotomia resultou em uma separação óssea favorável com reparo bem sucedido. A osteotomia descrita neste estudo, denominada de “Short Split” (osteotomia de separação curta) compreende modificação proposta por Hunsuck8, porém abaixo do forame mandibular, que continua anteriormente por um comprimento variado, dependendo do tamanho do avanço mandibular necessário. Geralmente, até a região de primeiro e segundo molares22 (Figura 2). Figura 2 - Osteotomia Sagital de Separação Curta “Short Split”, com corte ósseo medial abaixo do forame mandibular Fonte: Posnick et al.22, p. 3. Uma variação das diversas modificações propostas por Obwegeser6,23, também publicada por Cordier e colaboradores24 tem por objetivo permitir a realização dos movimentos para correção mandibular sem interferir na continuidade da base da mandíbula. Considerada uma Osteotomia Sagital Curta “Short Cut”, necessita um acesso cirúrgico menor que as técnicas descritas anteriormente, o que faz dela uma técnica cirúrgica considerada minimamente invasiva25. Além disso, uma das 18 vantagens dessa osteotomia é a maior possibilidade de evitar lesão ao nervo alveolar inferior. Outra vantagem da técnica consiste em não gerar comprometimento à articulação temporomandibular, pois há maior facilidade de reposicionamento do segmento proximal, sendo considerada uma alternativa viável dentre as técnicas das osteotomias sagitais do ramo mandibular26 (Figura 3). Porém, esta técnica não deve ser recomendada para todos os casos em que necessite de cirurgia em mandíbula. Figura 3 - Osteotomia Sagital Curta “Short Cut”, A – região em laranja escuro, local do de realização da osteotomia curta e B – Avanço mandibular mostrando o contato ósseo e a possibilidade de fixação dos segmentos Fonte: Cordier et al.24, p. 71. Além dos estudos clínicos retrospectivos sobre as osteotomias sagitais há também pesquisas laboratoriais que usam determinados ensaios para obter resultados de acordo com suas metodologias. Um dos mais utilizados é o ensaio mecânico que assim como outras metodologias realiza testes que elucidam o comportamento e distribuição da força e tensão em uma determinada estrutura, tais ensaios também podem ser computacionais como as Analises por Elementos Finitos (AEF), que consiste em um ensaio realizado com modelos virtuais tridimensionais (3D) por meio de programas específicos de computadores27–31. A AEF pode ser definida como um método matemático no qual um meio contínuo é subdividido em elementos com as mesmas propriedades do meio inicial31. A análise das estruturas pelo método dos elementos finitos pode ser utilizada para a avaliação da estrutura em si, como acontece nos ensaios de fixação das osteotomias sagitais, para avaliar a distribuição 19 da tensão no material e no tecido ósseo após um carregamento durante intervalos de tempo. Além disso pode ser utilizada para estudar o comportamento estrutural após aplicação de uma força conhecida e mensurando a resposta da estrutura. Takahashi et al.32 realizaram um trabalho que levou em consideração três tipos diferentes de osteotomias sagitais, submetidas à análise por meio do método de elementos finitos com o objetivo de avaliar o comportamento mecânico do material de fixação após um avanço mandibular de 5mm. Os autores constataram que na osteotomia proposta por Obwegeser – Dal Pont9, o material de fixação apresentou maior estabilidade comparado com as outras osteotomias propostas por Trauner – Obwegeser23 e por Obwegeser6. As vantagens do uso do método por elementos finitos são inúmeras, suficientes e importantes para avaliar a biomecânica de diferentes desenhos de osteotomias, bem como o melhor método de fixação específico para o tipo de osteotomia escolhido. Além disso, simular virtualmente, fatores estáticos, dinâmicos e ambientais, em modelos no pré-operatório, transoperatório e pós-operatório, aumenta a confiabilidade dos resultados33. O cirurgião tem por objetivo estabelecer critérios de previsibilidade no tratamento das deformidades dento esqueléticas faciais, inclusive de complicações, tendo como orientação a evidência científica disponível. Até o momento, a literatura é escassa de trabalhos que avaliem se há diferença na força necessária para separação óssea entre os diversos desenhos da osteotomia sagital do ramo mandibular e como ocorre a concentração de distribuição de tensões que essa força produz ao longo da osteotomia, indicando maior ou menor probabilidade de fratura indesejada, bem como sendo um dos critérios facilitadores para a escolha do cirurgião para uma cirurgia com menor risco ao paciente. Vale ressaltar que, em uma busca minuciosa, na literatura, não foi encontrado um estudo que avalie o comportamento estrutural ósseo da mandíbula após aplicação de uma força para separar a osteotomia sagital. 50 6 CONCLUSÃO Pelos resultados obtidos, com uso da metodologia proposta neste estudo, podemos concluir que: a. A osteotomia sagital convencional apresenta maior necessidade de forças para sua separação, aumentando o risco de fratura indesejada, comparado as demais osteotomias estudadas. b. O deslocamento dos elementos é maior na osteotomia sagital short cut. c. Apesar da semelhança a maior concentração de tensão principal máxima na osteotomia sagital curta sugere maior facilidade na separação dos segmentos. d. A tensão de von Mises apresentou maior propagação em direção ao côndilo mandibular na osteotomia sagital curta, que pode indicar risco de fratura naquela região. 51 REFERÊNCIAS1 1. Miloro M, Ghali GE, Larsen PE, Waite PD. Princípios de cirurgia bucomaxilofacial de Peterson. São Paulo: Santos; 2016. v.1. 2. Proffit WR, White RP Junior, Saver DM. Tratamento contemporâneo de deformidades dentofaciais. Porto Alegre: Artmed; 2005. 3. Angle EH. Classification of malocclusion. Dent. Cosm. 1899; 41(3): 248-64. 4. Araujo A. Cirurgia Ortognática. São Paulo: Santos; 1999. 5. Hullihen SP. Case of elongation of the under jaw and distortion of the face and neck, caused by a burn, successfully treated. Am J Dent Sci. 1849; 9(2): 157–65. 6. Obwegeser HL. 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