UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA CAMPUS DE ARARAQUARA FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS UMA ANÁLISE COMPARATIVA DOS VERBOS FRANCESES MAIS FREQUENTES DE PRIMEIRO GRUPO NOS DICIONÁRIOS BILÍNGUES FRANCÊS-PORTUGUÊS (Dissertação de Mestrado) MARIA CRISTINA PARREIRA DA SILVA 1997 MARIA CRISTINA PARREIRA DA SILVA UMA ANÁLISE COMPARATIVA DOS VERBOS FRANCESES MAIS FREQUENTES DE PRIMEIRO GRUPO NOS DICIONÁRIOS BILÍNGUES FRANCÊS-PORTUGUÊS MARIA CRISTINA PARREIRA DA SILVA UMA ANÁLISE COMPARATIVA DOS VERBOS FRANCESES MAIS FREQUENTES DE PRIMEIRO GRUPO NOS DICIONÁRIOS BILÍNGUES FRANCÊS-PORTUGUÊS —Ffase Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus de Araraquara, para a obtenção do título de Mestre em Letras (Área de Concentração: Lingúística e Língua Portuguesa). Orientadora: Profº. DÊ. Maria Tereza de Camargo Biderman. v/33671/5386 Araraquara 1997 NASCIMENTO FILIAÇÃO 1989/1992 1993 1993 1994 DADOS CURRICULARES MARIA CRISTINA PARREIRA DA SILVA 02.11.1968 - DAMIANÓPOLIS /GO Albércio Parreira Silva Amselma Maria da Silva Curso de graduação em Letras Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista “Júlio Mesquita Filho” de São José do Rio Preto/SP. Bolsa de Estudos para o exterior (França), dentro do acordo Université de Nice Sophia Antipolis e UNESP, no período de jan. 1993 a mar. 1993. Curso de duas disciplinas como aluna especial no quadro da pós- graduação em Letras na Faculdade de Ciências e Letras da UNESP de Araraquara. Ingresso como aluna regular no curso de pós-graduação em Letras, Area de Concentração em Lingúística e Língua Portuguesa, nível de Mestrado, na FCL - UNESP de Araraquara. A Deus que na minha crença é responsável por tudo que existe e é a força maior que nos impulsiona, mesmo quando não notamos. A meus pais Albércio e Maria Aparecida pela dedicação, por terem me criado, me educado e me incentivado sempre na perseverança dos meus estudos e por terem me ensinado coisas que na escola não poderia aprender, como ser digna e lutar pelos meus objetivos. Ão Amor elemento essencial que, não importando a quem ou a quê direcionado sempre produz frutos, como esta dissertação de mestrado. AGRADECIMENTOS Para realizar este trabalho contei com a colaboração direta e indireta de muitas pessoas. Gostaria de dedicar este espaço para expressar a minha gratidão a todas elas: à minha orientadora Prof. Drº. Maria Tereza de Camargo Biderman, que através de suas aulas me incentivou a ingressar nesta área da Lexicografia, por ser sempre solícita nas correções e por valorizar os acertos em primeiro lugar. à minha professora de francês Prof. Maria Teresa de Figueiredo Negreiros, da UNESP de São José do Rio Preto, quem me iniciou na língua francesa, despertando meu amor a esta língua e também meu interesse pela pesquisa lingúística, ao orientar meu primeiro trabalho na graduação. aos funcionários das bibliotecas da UNESP, Campi de São José do Rio Preto e de Araraquara, pela dedicação e paciência. às Profs. Cláudia Maria Xatara e Wanda Aparecida Leonardo de Oliveira, do Departamento de Letras Modernas da UNESP de São José do Rio Preto por sua ajuda, seu incentivo e pelo material emprestado. SUMÁRIO Lista de Abreviaturas...ea.Listas de tabelas clio 1 — Introdução .....liooo 1.1. Objetivoscco.1.2. Justificativas e delimitações .......lllo2— A ciência lexicoBráfica .......io.2.1. Princípiosteóricos...2.2. Importância do desenvolvimento dos estudos lexicográficos no Brasil ......... 2.3. Resenhas de pesquisas sobre o uso do dicionário ......isnnnnnnnna 3 — O dicionário bilíngiie Francês-POrtuguês .......3.1. O que é um dicionário bilíngiie ?co.3.2. Os principais dicionários usados no nível básico... 3.3. Apresentação do prefácio dos dicionários bilíngiies ....lliccoo. 3.3.1. O DLAea3.4. Tradução-paráfrase dos prefácios do Petit Robert (PR)... 3.5. Comparação dos bilíngies com o PR...oo.4 — Processo de ensino/aprendizagem do francês como LE ....o.4.1. Motivação do brasileiro para a aprendizagem do francês... 4.2. Relação aluno/professor/diCionário ......lccc 4.3. O dicionário como objeto imprescindível no processo de aprendizagem de UMA língua ....sr A 5 — O COFpus analisado ......llicii 53 5.1. A escolha : O Francês Fundamental (FF)... 53 5.2. Histórico da elaboração do FF ..... 53 5.3. Seleção de um segmento do vOCabulário ......icioo so 5.3.1. A opção pelo primeiro grupo verbal .....Neciioo 60 5.3.2. À importância da predicação verbal...o ae 61 | 5.3.3. O tratamento da polissemia nos dicionários .......iiiioo 61 6 — Análise dos dicionários (sentido francês-português) .........ioooo 65) 7 — Considerações finais € SUgestÕES .......iieso 216 8 — Referências bibliográficas ......iicces 219 ANEXOScitatao 226 ResumoAo 232 ABSIPACI ociosase disiddiasn. 233 Resumo em francês ........eooSIAesLua 234 LISTA DE ABREVIATURAS Absolt. = absoluto (intransitivo) Abstrait = abstrato Adj. = adjetivo A.F.L = Alfabeto Fonético Internacional Agric. = agricultura Ancien = antigo Argot. = argotique (gíria) Arquit. = arquitetura Biol. = biologia Bras. (Br.) = brasileirismo ch. = coisa Class. = clássica Coloq. = coloquial Comm. = comércio compl. = complemento Comptab. = contabilidade Coordin. = coordenação Cour. = corrente DB = dicionário bilíngie D.F. = dicionário-fonte DDA = Dicionário Domingos Azevedo DLA = Dicionário Larousse Collection Apoilo Dr. = droit, direito Écon. = economia Éllip. = elíptico FF = francês fundamental Fam. = familiar Fig. = sentido figurado Gir. = gíria Hortic. = horticultura Impers. = impessoal ind. = indicativo Infl. = influência Iron. = irônico LC = Lexia complexa ou expressões Litt. = literário Loc. = locução LS = Lexia simples Math. = matemática Med. = medicina Mill. = militar Mod. = Moderno Par anal. = por analogia Par Sagér. = por exagero Par (por) ext. = por extensão Par euph. = por eufemismo Pass. = passiva PDM = Pequeno dicionário Michaelis Péj. = pejorativo pers. = pessoa Philos. = filosofia Pol. = política Pop. = popular Pp. = particípio passado PR = Petit Robert pr. = próprio Pred. = predicação verbal Pronom = pronome, pronominal Prov. = provérbio, proverbial Récipr. = recíproco Réfl. = reflexivo Région. = regional Spéc. = língua de especialidade Sport. = esporte subj. = subjuntivo suj. = sujeito Tech. (tecn.) = técnico | Tip. = tipografia VI = verbo intransitivo VIMP = verbo impessoal VPr = verbo pronominal VT = verbo transitivo |! VTI = Verbo transitivo indireto 9 | LISTA DE TABELAS E FIGURAS : SE Tipologia dos dicionários Iui. 18 Tipologia dos dicionários UM ico. 18 Quadro comparativo das introduções dos DB ......oo 45 Quadro comparativo com a paginação dos DB ......iooo 46 Tabela da inclusão das palavras no FF ReA S8 Tabela ilustrando as maiores discrepâncias quando à quantidade de LC ............... 72 Tabelas das acepções dos verbos nos dicionários LS e LC io 72-213 Total do número de acepções dasLS... 213 Total dos dados numéricos dasLC...ao 213 Quadro do número de acepções de cada verbo em cada dicionário ............. o 214 Agrupamento dos verbos segundo o número de acepções .......iioo 215 1 — INTRODUÇÃO 1.1 — Objetivos Um aprendiz de língua estrangeira precisa basicamente de uma gramática e de um dicionário para aprender uma língua! pois o objeto de uma gramática e de um dicionário é descrever a competência natural do usuário ideal de uma língua. À gramática muitas vezes é substituída pelos métodos, mas o dicionário, por suas caracteristicas próprias e também pelo respeito que recebe por ser considerado por muitos como uma autoridade, não é substituível, e infelizmente não costuma ser, em certas sociedades, repensado e reelaborado de acordo com as novas metodologias de ensino, com os novos conceitos lingúísticos e com a evolução da língua e da cultura. Pode-se afirmar que o material lexicográfico disponível muitas vezes não satisfaz as necessidades do público. O que nos interessa neste trabalho como objeto de pesquisa é o dicionário. É ponto pacífico afirmar o respeito que ele recebe da sociedade, mesmo apresentando falhas. Não é raro ouvir dizer de uma pessoa, frustrada ao consultar uma palavra, que certamente “a palavra não existe”. Cabe-nos questionar os motivos desta frustração : o consulente procurou na obra certa? Ele sabe fazer tentativas para descobrir, por exemplo, se a grafia da palavra pesquisada é diferente da imaginada por ele ? Por que ele aceita o fato sem questionar a si mesmo e à obra empregada ? Cremos que as pesquisas lexicográficas devem orientar-se em dois sentidos - 1) conscientizar os consulentes de dicionários de seu papel diante da obra; 2) melhorar a qualidade dos dicionários para satisfazerem as necessidades do público e para atender a demanda. Essa conscientização pode ser realizada através de uma maior preocupação com relação à apresentação das obras lexicográficas, incitando os usuários do dicionário a consultar suas introduções, e também proporcionando, nos cursos superiores, uma melhor formação aos professores de línguas estrangeiras no domínio lexicográfico 1.2 — Justificativa e delimitações Segundo as palavras do renomado lexicógrato, Alain Rev (1989), nenhum dicionario recente de qualidade compara 1 francês com o português (entre outras linguas importantes na Europa) 1 Pensando nisso e face aos inúmeros problemas existentes no uso de dicionários, resolvemos abordar um tema de indiscutível necessidade : verificar como as obras lexicográficas bilingues disponíveis para os aprendizes brasileiros trataram os verbos, dada a importância desta categoria na codificação e decodificação do discurso. As obras a serem tratadas foram escolhidas empiricamente : três dicionários bilíngies e um dicionário monolingúe. O monolíngie servirá de parâmetro para a comparação das acepções dos verbos, por ser considerado uma das melhores obras do gênero no mercado, a saber : o Petit Robert. Para Biderman (1984a) os Robert são os melhores dicionários de língua francesa exonstituem um modelo exemplar de trabalho lexicográfico. Os dicionários bilíngies selecionados são os mais utilizados pelos alunos, sejam de nível elementar ou superior. Dois deles são elaborados em Portugal e um no Brasil. À opção por uma parcela do vocabulário — a classe verbal — justifica-se pela importância —do verbo no eixo do enunciado e também por ser necessário circunscrever o corpus, porque seria um trabalho gigante para um só pesquisador abranger todo o vocabulário de uma língua. O corpus constitui-se de 150 verbos de primeira conjugação, selecionados no Francês Fundamental,? segundo critérios de frequência. Os verbos de primeira conjugação são morfologicamente regulares na língua francesa, sendo esse modelo paradigmático produtivo para criações neológicas em francês. Através da comparação dos dicionários bilíngies, faremos uma pesquisa quantitativa, indicando o número de acepções dos verbos estudados em cada obra. Em seguida, analisaremos a qualidade dessas obras. Os estudos quantitativos têm como objeto o levantamento e a organização de grande número de dados. Justamente por essa razão, cremos que uma pesquisa quantitativa possa ser a base para determinar a qualidade de certos corpora analisados. No caso dos dicionários, quanto mais completos, de melhor qualidade. O dicionário bilingúe necessita de ser estudado mais acuradamente para se alcançar um modelo estrutural de melhor qualidade. Seus problemas são bastante complexos, pois tem-se, nesse caso, não apenas o problema da definição e/ou da nomenclatura, mas também problemas de equivalência semântica entre duas línguas diferentes. * Informações sobre sua elaboração serão apresentadas mais adiante. no capítulo cinco 2— À Ciência Lexicográfica 2.1 — Princípios teóricos A Lexicologia é a ciência que estuda o sistema lexical de uma língua, suas características e os elementos que o compõem. A Lexicografia tem por objetivo descrever o léxico, visando elaborar dicionários de língua. A palavra léxico é de origem grega (lexicon) e é sinônimo em sentido lato, de vocabulário, ou seja, é o conjunto dos vocábulos de uma língua. Dificilmente dois idiomas possuem os mesmos tipos de categorias léxicas, ou seja, as comunidades nomeiam sua realidade de formas arbitrárias e que não são coincidentes entre si, embora possa ocorrer de haver semelhanças se os dois idiomas forem de mesma procedência. As línguas de origem latina ilustram bem esse caso. Das estruturas lingúísticas, a lexical é a menos sistemática por depender da realidade extra-linguística, pois os signos só existem em função das “coisas” que eles designam. De acordo com Rey-Debove (1984, p.46): “o léxico de uma língua seria o conjunto das unidades submetidas às regras gramaticais dessa mesma lingua, sendo necessária a conjunção da gramática e do léxico para a produção ou compreensão das frases desta língua.” Mas, há uma disparidade : enquanto o sistema gramatical é fechado e finito, o sistema lexical é aberto e está em constante expansão. Um indivíduo é capaz de aprender todas as regras do sistema gramatical, no entanto o sistema lexical nunca poderá ser apreendido na sua totalidade por seu caráter infinito. Sempre surgiriam termos novos ou termos com novas nuanças sendo integrados a este sistema. Segundo —“Rey-Debove (1970) uma língua de civilização—compreenderia, exaustivamente falando, em torno de 500 mil palavras (incluindo nomes próprios, termos técnicos, etc.) e um indivíduo culto possuiriaz um vocabulário de aproximadamente vinte mil palavras, levando-se em conta tanto o vocabulário ativo quanto o passivo. Se se levar em conta apenas o ativo, esta cifra poderia cair consideravelmente. As mudanças no sistema lexical resultam do uso da língua (da fala). Faz parte da natureza de uma língua que seus falantes transformem as normas existentes criando novas regras, integrando novos elementos. Para que houvesse a fossilização de um sistema lexical seria preciso que a língua morresse, como é o caso do latim que é considerado língua morta porque não é mais usado como meio de comunicação oral. O léxico só existe em função dos falantes que o empregam, agem sobre ele e se identificam através dele. Depende da sociedade e da cultura de um povo. É um elemento unificador, sendo um dos laços que influem na definição de uma nação. Como o sistema lexical de uma língua está constantemente em expansão, é normal que ocorra o fenômeno da neologia, termo que designa o processo da criação lexical. Em outras palavras, neologja é o processo fundamental que identifica a produção de elementos inéditos no vocabulário de uma língua. Na cultura moderna, os usuários de uma língua têm necessidade de novos termos para designar novas realidades, principalmente termos técnicos e científicos. Pode-se dizer que as ciências e tecnologias contribuem muito para a expansão do léxico de uma língua, não apenas na sua terminologia específica, mas também no domínio geral, já que os termos muitas vezes são banalizados. À neologia ocorre sobretudo no contexto das línguas de especialidade, entretanto pode ocorrer também na língua geral (Boulanger, 1990). À neologia é, portanto, inevitável numa língua viva, pois a criação lexical é a responsável direta pela evolução das línguas; ela surge por necessidades manifestadas social, cultural e profissionalmente. Uma neologia pode ser criada por qualquer usuário de uma comunidade lingúística, permitindo assim, o acréscimo de palavras novas às já disponíveis no léxico. Portanto, não é só o cientista ou o técnico que tem a necessidade de utilizar novos lexemas, mas toda a comunidade. Atualmente, uma boa parte da sociedade usufrui da tecnologia avançada, movimentando suas contas bancárias por terminais de computadores, possuindo computadores em suas residências como qualquer outro eleirodoméstico, etc. O léxico de uma língua se expande porque incorpora as experiências pessoais e sociais de sua comunidade linguística. Através do vocabulário de uma língua podemos conhecer a cultura da sociedade que se serve dela como meio de expressão. No decorrer da história de uma língua há elementos que entram em desuso, tornando-se obsoletos, há outros que recebem novas acepções e há formas totalmente inéditas que se integram ao tesouro vocabular. À criação neológica é a responsável por essa constante renovação do léxico, podendo ocorrer com termos vernáculos ou com termos alógenos. Contudo, há um fato que deve ser tratado com mais atenção (pelos linguistas, lexicógrafos, terminólogos), que é este último tipo de neologia citado : a entrada exagerada de empréstimos estrangeiros no léxico da língua portuguesa, principalmente dos angilicismos. O léxico de uma língua transforma-se também através da comunicação entre povos de culturas diferentes. À influência de um povo sobre Ê | | | |! 4 outro pode promover essa entrada desordenada de termos estrangeiros. Na França há uma comissão normalizadora de termos técnicos e empréstimos que contribui neste sentido. No Brasil, só recentemente se tem notícias de leis obrigando os manuais de aparelhos importados a terem traduções em português. Há pouco tempo também está sendo divulgado o interesse pela terminologia, há grupos de estudo conceituados nas Universidades Federais de Brasília, do Rio Grande do Sul, de Pernambuco e na Universidade de São Paulo, a título de exemplo. Seria necessário que esses grupos formassem uma comissão apta e responsável pela integração de novos termos à língua portuguesa, fazendo as adaptações necessárias e verificando se sua adoção é realmente imprescindível, pois muitas vezes há termos vernáculos adequados que só não são usados por causa do desconhecimento dos usuários e por não existirem leis favorecendo o uso destes termos. Além disso, esses profissionais deveriam se preocupar não só em produzir, mas também em divulgar mais suas obras, deixando-as disponíveis para o público em geral. E é exatamente o tipo de usuário que determinará os princípios que regerão a elaboração da obra e a avaliação de sua qualidade. Uma obra pode ser perfeita para um americano e não ser adequada a um brasileiro, devido sobretudo ao distanciamento cultural. Deve-se considerar ainda a idade do usuário : não se pode indicar um dicionário muito denso para um público infantil, pois além de não atrair sua atenção, o vocabulário nele contido não é compatível com a necessidade de uma criança. Todas estas noções são imprescindíveis para tratar de um objeto tão complexo como o dicionário. Como compor uma obra perfeita, sistematizada e estática, cujos elementos são irregulares e dinâmicos ? Para Biderman o dicionário é uma foto congelada de um estado do léxico e para Rey-Debove (1970) todo dicionário só apresenta um subconjunto das palavras e a inclusão dos elementos é realizada em detrimento dos restantes. Podemos dizer com certeza que um dicionário nunca será uma obra completa, pois nunca abrangerá todo o léxico, que é assistemático e'infinito. Pode-se admitir que a obra seja perfeita segundo a concepção de seu autor, num determinado momento,” dentro de uma especialidade, para um certo público. Como os dicionários são concebidos visando objetivos distintos, devem ser avaliados a partir de uns tantos critérios específicos. É importante situar a obra consultada dentro de uma escala de parâmetros, que apresentaremos neste capítulo, após definirmos o objeto “dicionário”. Uma definição concisa e simples de dicionário : conjunto de palavras colocadas numa certa ordem (geralmente alfabética), com a finalidade de dar informações sobre ' O vocabulário da língua e dicionários. Manuscrito. * À maioria dos dicionários é construída sempre considerando-se um corte na realidade, ou seja, o dicionário recobre um determinado período de tempo (os estudos sincrônicos). Entretanto há os dicionários que indicam a etimologia e a evolução das palavras. 15 estas palavras e defini-las através de palavras da mesma língua, utilizando recursos metalingúísticos. Vigner (1983) afirma a não necessidade da classificação por ordem alfabética. Para ele todo sistema taxionômico fundado sobre princípios conhecidos pelos consulentes e com a possibilidade de conduzir de modo rápido, prático e eficiente à resposta requisitada constitui um dicionário. Um dos apectos que é o mais característico do dicionário na distinção entre outras obras, é a forma dupla de apresentação do texto lexicográfico (Rey-Debove, 1984):por um lado há a macroestrutura ou nomenclatura, uma sequência vertical de elementos, chamados de entradas, dispostos geralmente em ordem alfabética; por outro lado a microestrutura, um sequência horizontal que forma os verbetes, que contêm informações variadas sobre cada entrada. Ou seja, no modelo do dicionário monolingue, a entrada é cada uma das palavras incluídas na nomenclatura. O verbete é o texto que se segue a uma palavra-entrada de um dicionário, cuja primeira informação é a definição do termo, onde encontramos também as acepções, no caso das palavras polissêmicas. Uma acepção é cada um dos sentidos ou significados de uma palavra que compreende vários valores semânticos. Dubois & Dubois (1971) fazem uma definição bem mais ampla. Para eles o dicionário é um objeto fabricado cuja produção responde às exigências de informação e comunicação. É um instrumento pedagógico de educação permanente porque visa a aproximar o conhecimento dos leitores àquele de toda comunidade, facilitando a comunicação linguística. Serve para ajudar seus consulentes a traduzir (dicionários bilíngies); a descobrir o significado de palavras de níveis diferentes (técnicos, sociais) dentro de sua própria língua (dicionários técnicos, de gírias); a exercer domínio sobre os meios de expressão de sua língua, através da análise semântica, sintática, morfológica e fonética (dicionários de língua ou monolíngie); a aumentar o saber dos leitores (dicionários enciclopédicos). Os dicionários estão interligados com o desenvolvimento da comunicação escrita : são tributários da transcrição da língua falada; expressam através de seu texto a cultura de um povo, atestando a existência de uma língua nacional; auxiliam no ensino da comunidade, proporcionando-lhe o acesso à cultura e ao conhecimento. Portanto, os dicionários são também objetos culturais, símbolos de uma cultura, testemunhando umacivilização. Pode-se então afirmar que o dicionário refere-se a dois objetos : um ontológico (a língua) e outro ideológico (a cultura), de acordo com Dubois & Dubois (1971). É também uma obra literária, pois representa a estrutura ideológica dominante de uma época, participando concomitantemente na preservação desta ideologia ao compelir os consulentes a adotarem suas regras, o que pode ser evidenciado principalmente através dos exemplos. 16 O dicionário constrói a competência lexical de cada usuário ao ensinar itens novos. Ele é a fonte de um incessante aprendizado que ocorre ao longo da vida do consulente. É uma fonte inesgotável de conhecimentos, pois dificilmente um falante armazenaria todas as informações de um dicionário geral na sua memória. E, por seu caráter fragmentar e de referência, pode ser lido e relido cada vez que o consulente buscar informações diferentes, inclusive no mesmo item. O texto do dicionário constitui também um discurso acabado, tendo a língua e a cultura como objeto. Os autores destas obras são apenas os mediadores da comunidade. Eles a representam, registrando a norma linguística. O lexicógrafo redige seus textos de acordo com algumas regras que o tornam um discurso pedagógico. Como as regras se transformam e o léxico se expande, é uma obra que deve progredir ao lado das ciências e da linguística. O dicionário é questionado, consultado, não é lido como as outras obras didáticas. Ele facilita a comunicação entre grupos sócio-culturais, mas depende por sua vez destes grupos. Estes ora questionam sobre a ortografia ou a estrutura de uma construção sintática, visando a verificar seus conhecimentos, ora têm por objetivo o aumento de sua competência lexical ( seu vocabulário) e sua cultura. Assim pode-se considerar uma dicotomia na definição de dicionário : 1) a obra vista como uma praxis, um produto manufaturado de acordo com certas regras de fabricação, visando a satisfação comercial ; ou 2) a obra vista como um discurso, um texto, uma obra literária que segue as regras da produção do texto lexicográfico. Para a produção de um dicionário é preciso conceber um projeto previamente, definindo : a) o tipo de leitor visado; b) suas dimensões; c) a natureza e a quantidade de informações; d) seu custo ou preço. Para planejar uma obra é preciso antes conhecer as necessidades do leitor e do mercado para, em seguida, estabelecer os procedimentos, o conteúdo e forma da obra. Além disso, a produção deve ser empreendida por especialistas em cada domínio trabalhando conjuntamente com lexicógrafos, através de uma divisão de tarefas. Passaremos agora a expor a tipologia dos dicionários. Alvar Ezquerra (1988-1) divide os dicionários em formais e conceptuais. À maioria dos dicionários são concebidos segundo critérios formais, através da ordem alfabética, que é considerada por alguns pesquisadores como a menos ambígua e mais simples. Os conceptuais são em menor número mas beneficiam-se de um certo prestígio por causa da qualidade de algumas obras" que agrupam conceitos. Os dicionários formais podem ser alfabéticos diretos, inversos, de rimas, etc.; os conceptuais podem ser ideológicos, temáticos, analógicos, de nomes próprios. * Como por exemplo o Diccionario ideologico de ta lengua espahiola de Julio Casares. Esta classificação, embora mais recente do que a que apresentaremos a seguir, é muito generalizadora. Especificaremos melhor com o auxílio de outras referências de pesquisadores. De acordo com a nomenclatura, os dicionários gerais classificam-se em dois grandes tipos : a) dicionário geral de uma língua — engloba o conjunto das palavras de uma língua, podendo ser parciais; b) a enciclopédia universal — engloba o conjunto das coisas nomeadas de uma civilização, é seletiva e dá acesso a grande quantidade de informações sobre o mundo. Enquanto no dicionário geral de língua há inclusão de termos gramaticais, na enciclopédia há a presença de nomes próprios, o que define o grande contraste destes dois tipos de nomenclaturas. À macroestrutura do dicionário geral apresenta todas as partes do discurso, exceto os nomes próprios. E geralmente não incluem ilustrações, pois trata do signo linguístico e não dos seus referentes, das coisas. O dicionário de língua descreve um estado da língua. Às palavras que constituem as entradas não têm nenhuma relação entre si na sequência alfabética. Estuda-se sua natureza linguística, seus componentes semânticos e seu contexto sintático. Atualmente ocorre, muitas vezes, uma intersecção entre os dois tipos definições que informam sobre o signo e sobre a coisa (dicionários técnicos e científicos, p. ex.) e informações sobre o signo na enciclopédia (dicionários linguístico- enciclopédicos). Nascem dessa conjunção outros elementos na tipologia lexicográfica. Dentro dos dicionários de língua, aqueles que fornecem dados culturais complementares, como os usos, as variações no tempo, espaço e sociedade — os dicionários culturais — e aqueles que são voltados diretamente para aprendizes da língua, selecionando o seu conteúdo e adaptando-o às necessidades pedagógicas — os dicionários didáticos . À tendência atual é a combinação dos vários tipos de dicionários, visando a recobrir o máximo de informações pertinentes num espaço reduzido, de acordo com um corpus determinado, para a satisfação de um público alvo bem definido, por meio de procedimentos técnicos coerentes. Aproveitamos o esquema de Vigner e o reproduzimos com algumas alterações, para ilustrar a tipologia descrita acima : REY-DEBOVE. !. : VIGNER. G. : BIDERMAN. M.T.C.;: LESSARD.D. & GUILLOTON.N. *? Pour un nouveau dictionnaire. in : Etudes de Linguistique .ipliquée, n. 49. 1983, p. 177 | ] | | | | DICIONÁRIOS DICIONÁRIO DICIONÁRIO GERAL DE LINGUA ENCICLOPEDICO Formais. Signos Conceptuais. Referentes lingúísticos (palavras) do mundo (coisas) [ CULTURAIS | [DIDATICOS |[ALFABÉTICO | POR ASSUNTO [ DICIONÁRIOS DE | ESPECIALIDADE DICIONÁRIOS LINGUÍSTICO-ENCICLOPÉDICOS | Conjunção : tendência atual. Rey-Debove (1984) classifica os dicionários de forma um pouco diversa. Para ela os dicionários subdividem-se em dois tipos principais : os dicionários gerais, que tratam tanto dos signos quanto das coisas, incluindo os nomes próprios; os dicionários especiais, que discutem apenas uma parcela dos signos e das coisas (representada no quadro a seguir pelo símbolo = : dicionários de sinônimos, de verbos, de linguística, além dos especializados em determinada área do conhecimento, como os dicionários de medicina, de engenharia, de informática, etc.). Os gerais, por sua vez, subdividem- se em três grupos : os puramente lingúísticos, que apresentam as palavras como signos nem sempre as definindo (etimológico), os enciclopédicos, que definem as coisas, incluindo nomes próprios (técnicos) e os dicionários de língua, que definem os signos não inserindo nomes próprios (históricos, monolíngies e bilíngies). HIustraremos através do quadro que se segue : D DICIONÁRIOS LINGUÍSTICOS ETIMOLÓGICOS [|DICIONÁRIOS + signos /— ,+ definições C|GERAIS I DICIONÁRIOS ENCICLOPEDICOS TÉCNICO-CIENTIFICOS O|+ signos + coisas / + definições /+ Nomes prs. N Á|+ coisas DICIONÁRIOS DE LÍNGUA MONOLINGÚUES R + signos / + def. / — Nomes próprios|BILÍNGUES 1|+ nomes próprios — | HISTÓRICOS O|DICIONÁRIOS *DICIONÁRIO DE SINÔNIMOS *DICIONARIO DE MEDICINA S|ESPECIAIS *DICIONÁRIOS DE VERBOS *DIC. DE ENGENHARIA | = signos/ = coisas | “DICIONÁRIO DE LINGUÍSTICA *DIC. DE INFORMÁTICA, etc. 19 Outra sistematização que citaremos é a de Biderman'”, que classifica os dicionários de lingua segundo a dimensão de sua nomenclatura. Para ela, há pelo menos quatro tipos básicos de dicionários de língua nos países com tradição lexicográfica : 1) o dicionário geral ou tesouro, que tenta abranger todo o léxico de uma língua; 2) o dicionário-padrão, que comporta em torno de 50.000 palavras- entrada; 3) o dicionário escolar, que inclui a cifra aproximada de 15.000 a 30.000 vocábulos; 4) o dicionário infantil, que compreende de 4.000 a 5.000 palavras. É curioso notar também, com Lessard & Guilloton (1991-2) a existência de um tipo particular de dicionários. Estes, denominados “discrecionários” pelos autores citados,—não figuram nas tipologias de dicionários tradicionais por não serem considerados por muitos estudiosos como verdadeiros dicionários, mas como textos literários, uma vez que não são consultados, mas lidos linearmente. Os autores definem este tipo especial como sendo um dicionário sobre o qual não se exerce nenhum controle, e cujo conteúdo serve de objeto lúdico tanto para o autor quanto para os leitores. Normalmente estes dicionários representam a opinião pessoal de seus autores, com definições cômicas ou polêmicas. Apesar de sua diversidade, podem ser divididos em dois grupos : os essencialmente lúdicos (jogos de palavras, trocadilhos) e os que exprimem o pensamento do autor (pessoais). Detodos esses tipos, o que nos interessa aqui é o dicionário escolar bilingue, que será tratado com mais atenção no próximo capítulo. 2.2. Importância do desenvolvimento do estudo lexicográfico (no Brasil). Países que apresentam grande desenvolvimento no campo lexicográfico são a Inglaterra, a França, a Alemanha e a Espanha. O Brasil está longe de alcançar tal estágio de desenvolvimento, principalmente em relação aos dicionários bilíngues. Pode-se entender esse fato em virtude de o consumo não ser grande no Brasil, devido ao preço elevado dos livros, face à capacidade aquisitiva da população. Mas não seria melhor termos obras brasileiras feitas de acordo com as nossas necessidades e visando a públicos específicos ? Somos obrigados a adquirir obras importadas, de preço alto” e inadequadas à nossa realidade ? Não podemos deixar de admitir que este dado seja muito relevante para aumentar a acessibilidade das classes menos favorecidas à cultura. Sobretudo se considerarmos o Brasil como “um país em desenvolvimento” para os mais otimistas e º O vocabulário da língua e dicionários. Manuscrito. * O léxico varia entre as diferentes línguas. atingindo aproximadamente 500 mil palavras. * Um PDM. feito no Brasil. custa aproximadamente R$ 13.00. enquanto um DLA, de Portugal e nas mesmas dimensões do PDM. custa R$ 30.00 e cada volume de um DDA aproximadamente R$50.00 ! 20 “terceiro mundo” para os restantes. Devemos, como pessoas que tiveram a oportunidade de transmitir conhecimentos, facilitar essa “passagem” de um nível (sócio?!) cultural a outro mais elevado. Afinal, com quais objetivos uma criança decide aprender uma língua estrangeira ? (ou os pais decidem por ela ?). Ou mesmo, para que um jovem deseja formar-se numa universidade ? Outro fator do atraso do Brasil em relação aos países citados acima é que ainda não possuímos subsídios, para esses fins culturais, nem legais nem financeiros do governo e da sociedade. Há equipamentos de alta tecnologia, computadores capazes de armazenar um banco de dados enorme e de elaborar listagens sistematizadas de palavras. No entanto, somos obrigados a trabalhar com o mínimo que temos, mas não desistindo nunca de pleitear, buscando melhores condições para obtermos melhores produtos. Sabemos que algumas tentativas vêm sendo realizadas, mas proporcionalmente à população de educandos os resultados ainda não são ainda suficientes. É preciso que (pós-)graduandos, professores, tradutores e intelectuais se interessem mais em pesquisar assuntos referentes ao léxico da língua Portuguesa por si mesma ou relacionando-a a outros idiomas como o francês, o espanhol, e mesmo o inglês, que embora seja efetivamente o idioma mais estudado, não creio que haja estudos contrastivos suficientes e obras que atendam a todas as necessidades. Mesmo sendo alvo de muitas críticas, o trabalho de Aurélio Buarque de Holanda' é louvável, sendo autor da única obra de tal grandeza no Brasil, chegando a representar o tesouro léxico da língua Portuguesa com 130 mil verbetes na sua nomenclatura. 2.3. Resenhas de pesquisas sobre o uso do dicionário Um dicionário deve ser concebido pelo lexicógrafo visando a um público determinado. Muitas vezes o dicionarista é mal informado sobre como os usuários empregam sua obra, quais suas expectativas em relação a ela e quais problemas buscam resolver ao consultá-la, agindo intuitivamente. No artigo de Bogaards, À propos de l'usage du dictionnaire de langue étrangeêre (1988-1), há uma discussão crítica dos estudos sobre o uso e os usuários dos dicionários de língua estrangeira. Muitos pesquisadores se dedicaram a esse tema, principalmente após os anos 80. Bogaards os cita e descreve suas investigações. É interessante retomá-los aqui para conferir os métodos empregados e os resultados obtidos.” ? Os resultados destas pesquisas já foram apresentados sucintamente no artigo de Bogaards. Não utilizamos os autores que se seguem emsua fonte. de qualquer forma só os resultados nos interessam. 21 Tomaszcezyk trabalhou com um questionário respondido por 449 sujeitos de niveis de conhecimento e objetivos diferentes (estudantes estrangeiros e estudantes de lingua estrangeira, professores e tradutores), tendo como finalidade : a) recolher informações sobre a aprendizagem e o emprego das línguas; b) o uso dos dicionários monolingúes e bilingúes Baxter investigou 342 estudantes japoneses através de um pequeno questionário sobre o uso de dicionários monolingúes da língua inglesa e bilingúes Inglês - Japonês / Japonês - Inglês. Béjoint limitou sua pesquisa ao uso do dicionário unilingue por estudantes do inglês (LE) na universidade de Lyon. Hartmann trabalhou com questões respondidas em grupo por estudantes de nível secundário e universitário sobre dicionários bilingues (inglês e alemão) Galisson também trabalhou com um questionário para estudantes de francês (LE) e francês segunda-língua, concernente a dicionários monolingues e bilingúes Rasmussen organizou uma investigação entre os usuários do dicionário Dinamarquês - Francês de Blinkenberg e Hbybye Bogaards faz um balanço dos resultados mais interessantes destas investigações, comentando algumas questões importantes como : 1) saber o que se procura nos dicionários; 2) em quais circunstâncias alguém abre o dicionário; 3) com qual frequência o dicionário é consultado; 4) qual o grau de satisfação dos usuários; 5) qual dicionário - monolingúe ou bilingue - é preferido pelo usuário; 6) quando um usuário consulta vários dicionários de uma vez Os dados obtidos para cada uma das questões acima foram os seguintes 1) todo o usuário, de lingua materna ou estrangeira, procura no dicionário monolingúe ou bilingúe as significações (sentido ou definição de palavras). Os usuários de lingua estrangeira, principalmente, buscam informações gramaticais, do emprego no contexto e da pronúncia. Os informantes quase nunca citam a etimologia, os níveis de língua ou os homônimos como elementos importantes. 2) Em primeiro lugar, utiliza-se o dicionário para traduzir, mais da LE — LM do que da LM — LE. Nas tarefas de decodificação e codificação escritas é mais empregado do que nas orais. Além das funções de decodificar e codificar. o dicionário. de acordo com pesquisadores e mais ainda com os usuários. deve ser funcional na aprendizagem 3) O resultado das investigações realizadas são dispares porque não foram bem distinguidos os tipos de dicionários e as opções dos investigados eram insuficientes. mas foi apurada uma cifra alta de pessoas (+ de 90 %) que se utilizam pelo menos uma vez por semana de dicionários DR [) 4) Os usuários parecem se satisfazer mais com o monolingúe do que com o bilingue, e este falha mais no sentido LM —LE do que no sentido LE — LM. Essa insatisfação é devida a lacunas que se manifestam tanto no nível microestrutural quanto no nível macroestrutural e também há definições que são confusas, vagas, complexas e insuficientes. 5) Os aprendizes de uma LE preferem usar o bilingue ao monolingue, mas seu emprego diminui à medida que o usuário vai aumentando seu domínio sobre a lingua. 6) Um indivíduo consulta vários dicionários, para buscar uma única informação, sobretudo em língua estrangeira, e isso decorre da não-satisfação das informações da primeira obra consultada. Normalmente essa verificação ocorre no sentido bilingúe — monolingue Esses dois últimos resultados corroboram a importância e a necessidade de se produzirem dicionários bilíngues de nível básico. Nas críticas feitas aos resultados destas pesquisas, o autor se refere à falta de homogeneidade dos dados, à ausência de análises mais aprofundadas, à imprecisão de algumas questões, que, muitas vezes, induziam à resposta esperada pelo pesquisador Observadas estas falhas, Bogaards fez uma investigação com um público universitário bem determinado sobre o uso de 22 diferentes dicionários franceses (monolingues e bilingies). Foi aplicado um questionário a 371 falantes nativos de língua holandesa, estudantes de língua francesa, de três níveis diferentes - básico, intermediário e avançado. Foram apresentados os resultados da investigação, com indicações das diferenças significativas entre as respostas de estudantes de níveis de aprendizagem diferentes. À primeira questão concerne à frequência do uso dos dicionários monolingues e bilingúes. Embora, no conjunto, a maioria dos estudantes utilize com mais frequência o bilingie, como nos resultados das pesquisas anteriores, concluiu-se que o emprego do bilingie diminui com o desenvolvimento do aluno. dando lugar ao monolingúe Verificou-se que o emprego do dicionário é mais frequente nas tarefas escritas do que nas orais, porém, mais na codificação do que na decodificação. Também neste caso o bilingúe é mais usado do que o monolingúe em todas as tarefas, ou seja, nenhuma tarefa (oral ou escrita, tradução ou versão) exige que se use o monolingúe em detrimento do bilingue. Contudo, muitas vezes o estudante faz o emprego simultâneo de dicionários, quase sempre partindo do bilingue para o monolingúe. o que manifesta uma certa desconfiança em relação àquele dicionário Quanto aos motivos que levam os estudantes a preferirem um dicionário a outro, são citados (para os dois tipos) o caráter completo das informações, a clareza da apresentação e dos exemplos em vrande quantidade, a presença da lineuagem quotidiana e para o monolinguúe acrescenta-se a presença de sinônimos e de antônimos Os motivos que levam a preterir um dicionário são coerentes com os anteriores: simplicidade demasiada, grande quantidade de lacunas (ausência de palavras ou de sentido de palavras) e numero reduzido de exemplos - falhas encontradas sobretudo no bilingúe. Concluindo, Bogaards diz que, embora essas pesquisas tenham fornecido informações importantes sobre os usuários, que seriam de grande utilidade para o lexicógrafo, elas ainda precisam ser complementadas com novos estudos de dados mais específicos, utilizando novos métodos além do questionário. Considerando estes dados, notamos que o dicionário bilingue é o mais utilizado pelos aprendizes de uma língua estrangeira qualquer, visto que as pesquisas citadas foram realizadas em países diferentes. Além disso, nele se encontram falhas inadmissíveis, uma vez que elas perturbam o avanço na aprendizagem dos estudantes. Por este motivo achamos necessário um estudo sobre os dicionários bilingues de lingua francesa. Ainda mais porque poucos pesquisadores em nosso pais se dedicam a essa tarefa tão útil tanto aos profissionais de tradução quanto aos professores e estudantes de lingua francesa. Isso resulta na inexistência de obras bem elaboradas. 3 — O dicionário bilíngiie francês-português Neste capítulo definiremos o que é um dicionário bilíngie, contrastando-o com o monolingúe, em seguida apresentaremos as obras que serão analisadas neste estudo, os dicionários bilingues que certamente são as obras mais usadas no nível básico: Dicionário Larousse collection Apollo (DLA), Pequeno Dicionário Michaelis (PDM), Dicionário Francês/Português Domingos Azevedo da Editora Bertrand (DDA) e o dicionário monolíngue: Le Petit Robert (PR). Pretendemos averiguar se o que é proposto na introdução destas obras escolhidas é realmente efetivado no corpo da obra. O dicionário monolíngie será tomado como controle da língua francesa. De acordo com Alan Rey (1986), os dicionários bilíngites correspondem pelo menos no Ocidente a uma longa tradição histórica. Sua aparição em vários países da Europa evidencia duas necessidades sociais : a primeira é a de garantir o domínio lexical das línguas clássicas (grego e latim) e a segunda é a de relacionar duas línguas vernáculas (línguas vivas). Foi exatamente a primeira necessidade que causou o desenvolvimento dos dicionários bilingúes no século XVI. 3.1. O que é um dicionário bilíngiie ? Como já dissemos, o dicionário de lingua pode ser classificado em:1), dicionário monolíngiie (ou unilingie) e 2) Dicionário bilíngiie. Biderman (1984b) define-os da seguinte forma : dicionário bilingue é aquele que trata da correspondência das palavras entre duas línguas, indicando a tradução do termo de uma língua na outra língua considerada : tem a dupla função de decodificar e de codificar. Já o dicionário monolíngue, também chamado de unilíngie, se diferencia por conter as palavras de uma língua definindo-as e fornecendo informações sobre elas através de paráfrases nessa mesma língua, seja ela materna ou estrangeira (LM — LM ou LE > LE) O dicionário monolingúe pode ser também empregado na decodificação da lingua estrangeira (LE) para a lingua materna (LM), quando o aprendiz já possui um certo nivel de conhecimento. À codificação (LM — LE) é uma tarefa quase sempre impossível através do uso desse dicionário, porque não se pode encontrar neste dicionário um significante desconhecido (na lingua estrangeira) de um significado que se quer exprimir. Portanto a diferença fundamental é que, no dicionário bilíngue, a informação da palavra-entrada é expressa através de uma equivalência de signos (um na LM e outro na LE) e não através de um significado perifrástico, excetuando-se, logicamente, OS casos em que não existem equivalências entre essas palavras. Pode-se concluir, de acordo com Rey-Debove (1970) que o dicionário bilíngie é puramente metalingúístico e que nele não se manifesta a ambivalência signo/coisa e sim a correspondência entre signos de códigos diferentes. Para Rey (1989), os dicionários bilíngiies concernem a língua e sua aprendizagem por meio de uma outra língua melhor conhecida. Carras (1993) corrobora esta opinião. Para ela o problema que o dicionário bilingue deve resolver não é o da definição do termo, mas o da equivalência entre os termos das línguas estrangeiras. Definição aqui é entendida como uma paráfrase da entrada, de acordo com Biderman (1993). No lugar da definição o dicionário bilíngue apresenta uma tradução da entrada. Portanto, seus problemas de equivalência são mais complexos que os do monolíngue. Os dicionários bilíngues são raramente adaptados às necessidades dos usuários porque, ao tratarem de dois códigos linguísticos diferentes, nem sempre conseguem resolver as dificuldades da tradução, diminuindo a distância que existe entre eles. Neste sentido, a situação de todo dicionário bilingue varia conforme a natureza das línguas comparadas. Cada uma delas veicula seu universo cultural e entre culturas muito diferentes quase todos os conceitos e equivalentes exigiriam comentários adicionais, como por exemplo num dicionário japonês-português. Neste caso o dicionário deve ser bastante modesto, porque dificilmente conseguiria indicar “todas” as nuanças de sentidos entre os equivalentes de dois códigos tão distintos, e caso isso fosse possível, resultaria em uma obra bastante extensa. Entre línguas de culturas mais parecidas (as latinas, por exemplo) esses comentários podem ser reduzidos ou na maioria dos casos nem mesmo existirem. acontecendo, muitas vezes, que uma única tradução recubra todas as acepções (ou quase todas) da outra lingua Segundo Lyons (1979, Pp 459), “o verdadeiro bilingiismo implica a assimilação de duas culturas” E mais fácil aprender em língua estrangeira aqueles 26 fatos que têm traços culturais mais parecidos com os da LM. As estruturas mais particulares só são assimiladas depois de longa prática em falar essa língua. Os dicionários bilíngues requerem uma apresentação tipográfica mais econômica e ao mesmo tempo bastante descritiva. Há também de se fazer atualizações mais frequentes, pois as necessidades da tradução relacionam-se aos discursos da modernidade muito mais que quando buscamos a definição num dicionário monolingúe Nos dicionários monolíngues, a definição pode ser realizada por três tipos de inclusão: a hiponímia (raíz = parte da planta...), a hiperonímia (livraria = loja que vende livros), sinonímia (explanar = esclarecer). Há ainda a antonímia, que é a definição negativa ou privativa ( preterir = não fazer caso de, deixar algo de lado). Nos monolíngues, a definição sinonímica (por uma palavra) deve ser evitada porque não existem sinônimos perfeitos, sendo preferível a definição por uma paráfrase, que na verdade tem a função de sinônimo metalinguístico. Entretanto, nos dicionários de língua estrangeira, a definição por meio de sinônimos (síriciu sensu) é a mais indicada, pois trata-se de fornecer o equivalente desconhecido de uma palavra conhecida (tanto da LM — LE quanto da LE > LM). É óbvio que podem surgir problemas de correspondências entre os termos por causa das diferenças dos sistemas linguísticos, bem como da influência da cultura e visão de mundo na nomeação da realidade. Neste caso, o lexicógrafo deve fazer uma análise sêmica dos termos na língua de origem e na lingua de chegada para determinar a equivalência; caso não haja equivalente, recorre-se à definição. Dificilmente haverá uma relação unívoca, na maioria dos casos, o termo de uma das linguas equivalerá a mais de um termo na outra Mesmo dentro de uma língua ocorre essa assimetria. As unidades codificadas do léxico são finitas; assim como uma palavra pode ser substituída por uma perífrase correspondente a ela (sinônima), há referentes que são designados por perífrases às quais não correspondem palavras simples registradas pelo léxico da lingua em questão Entre duas linguas essa assimetria é ainda mais evidente e problemática, pois os sentidos das palavras raramente se recobrem totalmente Constata-se então, na microestrutura do dicionário, traduções por uma série de sinônimos postos lado a lado, frequentemente separadas por uma simples vírgula, sem indicação das diferenças de significados ou usos. As palavras que não possuem 27 equivalentes são muitas vezes excluídas da nomenclatura. Isso acarreta graves prejuizos para o usuário que se está iniciando no estudo da língua estrangeira, pois frequentemente ele não terá parâmetros para escolher a acepção equivalente entre as línguas ou conhecimentos para empregar uma perífrase. Sempre que isso acontecer o lexicógrafo deve indicar a alternativa adequada para cada caso através de uma definição ou do termo equivalente. De acordo com Duval (1990) para o consulente de dicionários, a tradução é considerada como uma espécie de sinônimo entre as línguas de partida e de chegada. À realidade extralinguística seria percebida de modo semelhante por todos e cada lingua faria descrições, recortes e denominações distintas. Às palavras resultantes teriam o mesmo significado e significantes diferentes. De fato, as equivalências entre uma lingua e outra não decorrem de um recorte idêntico da realidade e são justamente estas diferenças de recorte que devem ser levadas em conta na elaboração dos verbetes dos dicionários bilíngies, como verificou Darbelnet ( 1970). Substituindo uma palavra de uma língua por uma em outra lingua poder-se-ia dizer que a tradução ocorre no eixo paradigmático. Assim, a tarefa do dicionário seria a de fornecer elementos paradigmáticos necessários à tradução. No entanto não é sempre desse modo que ocorre, pois além da palavra há outras unidades mais complexas na tradução, como o sintagma, a expressão, a locução, que também devem figurar na nomenclatura dos dicionários. Além do mais, é preciso notar que os termos em traduções reais são divergentes dos termos dos dicionários bilíngues. Isso se explica pelo fato de que as equivalências da tradução se encontram no nível do discurso, enquanto as do dicionário, no nível da língua. Falta a contextualização, ou Seja, a passagem da língua para o discurso. O lexicógrafo pode contribuir indicando as acepções mais correntes de um termo, mas não poderá abranger todas as nuanças por ser impossível e também porque o objeto do dicionário é a língua e não o discurso Se for feita uma tradução termo a termo de uma expressão pode-se incorrer em pelo menos dois erros: ao fazer um decalque. criar uma frase aceitável sintaticamente. mas não corrente e incompreensivel semanticamente: traduzir por uma expressão que seja Igualmente corrente na outra língua. mas com significação diferente. Conforme a afirmação de Biderman (1978, p. 134) 28 As expressões idiomáticas são geralmente intraduzíveis de uma língua para outra, ou seja, não se pode fazer uma tradução literal de um idiotismo, pois o resultado seria absurdo e não corresponderia ao significado global da expressão. Segundo Carras (1993), o dicionário bilíngie tem duas funções essenciais : 1º.) aprender ou precisar a significação de um termo da língua estrangeira — leitura — percurso da lingua-alvo à língua-fonte (LE > LM). 2º.) substituir um termo da língua-fonte por um termo da LE — redação — percurso da língua-fonte para a língua-alvo (LM — LE). Ou seja, as funções de decodificação e codificação. O título de um dicionário indica a primeira informação sobre o seu programa: dicionário etimológico, dicionário de rimas, dicionário de sinônimos, etc. O dicionário bilingue, na sua especificação, português / francês (e vice-versa), já explicita que seu objetivo é informar como se diz uma palavra da LM na LE (ou da LE na LM). Um dicionário deve apresentar também um prefácio ou uma introdução que defina seu programa operacional, explicitando os critérios utilizados por seus autores na seleção das entradas e indicando a fundamentação teórica adotada na sua elaboração. Quanto à forma de apresentação da macroestrutura do dicionário, os resultados da pesquisa de Carras (1993) comprovam aqueles das pesquisas Já citadas no capítulo anterior : Os usuários preferem a classificação alfabética, o que proporciona uma localização mais rápida. Os consulentes também apreciam que o dicionário apresente um apêndice gramatical da língua, o que denota sua opinião de que o dicionário tem função pedagógica Comrespeito à nomenclatura, é o lexicógrafo quem deve selecioná-la, tendo de operar com critério, principalmente observando os dados da frequência de usos na lingua. Esta é a metodologia lexicográfica mais usual e segura, que ajuda a evitar muitas falhas, embora muitas vezes, num determinado corpus, palavras referentes a coisas comuns e importantes tenham baixa frequência, o que não impede sua inclusão na nomenclatura do dicionário. O dicionarista deve preocupar-se ainda em não deixar de incluir na nomenclatura do dicionário todas as palavras empregadas nas suas definições e exemplos Deve-se ter em mente. para cada tipo específico de obra lexicográfica. o que sua proposta exige:seja a exaustão, no caso dos dicionários gerais ou tesouros. seja 29 uma escolha inteligente e pertinente dos dados inseridos. No caso, por exemplo, de um dicionário bilingie dirigido ao nível básico deve-se utilizar principalmente a frequência como método para que esta escolha resulte num bom trabalho. No dicionário bilíngie é importante a presença das palavras mais frequentes da língua, pois ele tem como alvo um público que está se iniciando numa outra língua. o objetivo destes aprendizes é captar o essencial e com seus progressos na aprendizagem surgem as necessidades de conhecer o significados específicos de palavras cada vez mais específicas. Já no dicionário monolíngie fica mais evidente a necessidade do consulente de buscar “palavras difíceis” e pouco frequentes, pois as básicas, de uma forma ou de outra, são reconhecidas e identificadas pelo contexto e são familiares a este consulente, embora muitas vezes o falante não saiba defini-las. A microestrutura do dicionário bilíngie é formada geralmente por quatro elementos: a entrada, informações diversas (separação em sílabas, pronúncia, categoria gramatical), definição ou palavra equivalente na outra lingua e exemplo. O dicionário bilíngie francês-português e português-francês (F - P/ P - E) pode ter as seguintes configurações: A) para estudantes falantes nativos da lingua portuguesa : /) no dicionário F - P — entrada F, informações P, equivalente P, exemplo F. 2) no dicionário P - F — entrada P, informações P, equivalente F, exemplo P. B) para estudantes falantes da língua estrangeira : /) no F- P > entrada F, informações F, equivalente P, exemplo F. 2) P - F — entrada P, informações F, equivalente F, exemplo P. Dessa forma, a metalinguagem está colocada de acordo com a origem do estudante, o que caracteriza um desmembramento das duas partes do dicionário bilingue em quatro Geralmente os lexicógrafos trabalham para satisfazer seus compatriotas, assim, a sua competência como falante ideal da lingua irá auxiliá-lo no discernimento dos fatos que podem parecer problemáticos aos usuários em geral, já incluindo os esclarecimentos necessários. Mas o ideal seria que o dicionário bilíngue apresentasse as diferentes nuanças entre as palavras das duas línguas independentemente do público visado. se bem que dificilmente um dicionário tão detalhado fosse editado. devido ao fato de transeredir a regra comercial de economia de espaço. Apesar disso. segundo Bovaards. como já citamos. os dicionários bilíngies são mais causadores de insatisfação no sentido LM — LE. tanto na macroestrutura quanto na microestrutura 7Quais seriam os motivos No dicionário bilíngue há um problema quanto ao levantamento da frequência dos usos e a seleção das entradas nas duas modalidades — (LE > LM e LMSLE). Surge a dúvida se as palavras mais frequentes em português (LM) seriam equivalentes às da língua estrangeira e se não forem correspondentes, qual das frequências deveria prevalecer ? E ainda a partir de quais textos os dicionaristas deveriam levantar a frequência na LE, nos textos autênticos, nos didáticos, nos escritos ou orais ? Estas questões poderiam ser objeto de um outro estudo. 3.2. Os principais dicionários usados no nível básico Não realizamos uma pesquisa exaustiva para demonstrar com dados numéricos o que diremos a seguir. Contudo, dados empíricos nos levam a afirmar que a escolha dos principais dicionários a serem empregados na aprendizagem de uma língua estrangeira no nível básico não segue os, parâmetros referentes à qualidade ou modernidade da obra, mas à praticidade. Esta se dá em vários níveis. Alguns alunos afirmam que utilizam o dicionário que encontraram na biblioteca de sua casa, normalmente um dicionário antigo que foi usado por alguém da família. Outros compram aquele que o mercado oferece, através de propagandas enganosas. Outros ainda preferem os menores, mais fáceis de carregar ou mesmo os de preço mais acessivel... Normalmente os mais conhecidos do público estudantil são aqueles que escolhemos para nosso estudo, e é justamente por essa razão que pretendemos analisá- los. 213.3. Apresentação do prefácio (ou introdução) dos dicionários bilíngiies Conforme a classificação dos dicionários, os citados acima são dicionários gerais de lingua, do tipo escolar e bilíngues. Suas nomenclaturas, variam: o PDM apresenta mais de 36.000 verbetes; o DLA , 45.000 palavras e expressões e calcula-se que o DDA apresente aproximadamente 50.000 verbetes. Nas obras referidas não foi especificado se a nomenclatura era concernente às duas partes ou a apenas uma delas Muito provavelmente o total da nomenclatura do PDM e do DLA é a soma das duas partes, ou seja : PDM, 18.000 verbetes para cada parte e DLA, 22.500. Quanto aos seus programas, por serem bilíngues já se sabe de antemão que seus objetivos são auxiliar na tradução e na aprendizagem da língua estrangeira (francesa). A seguir serão colocados alguns dados sobre a introdução destes dicionários. 3.3.1. O DLA O dicionário Larousse Collection Apollo francês-português e português- francês foi elaborado por Fernando V. Peixoto da Fonseca, publicado pela Larousse, sendo sua primeira edição de 1957. O volume consultado pertence à última edição revista e corrigida, do ano de 199] É composto de um único volume com 758 páginas, com aproximadamente 45 mil palavras e expressões. Além da sua nomenclatura, o DLA apresenta nas duas línguas, um prefácio indicando seu programa operacional, uma listagem das abreviaturas empregadas, um resumo da gramática francesa e da portuguesa, um guia da conversação, o modo de escrever uma carta e regras de pronúncia. No prefácio, o discurso do autor é bem próprio do discurso publicitário, afirmando que o consulente encontrará todas as indicações necessárias para traduzir, pronunciar e construir corretamente, e ainda que cada palavra recebe todas as traduções na outra língua. Este dicionário foi concebido para atender tanto ao leitor português quanto ao francês. Para aquele, foi elaborada a parte português-francês (escrita toda em português), onde encontrará traduções francesas de cada palavra com explicações em português, com a indicação do gênero da palavra e a colocação do acento tônico na transcrição. Os verbos irregulares são tratados em ordem alfabética no resumo gramatical. Nos verbetes são indicados as diferentes acepções através de explicações e com muitos exemplos quando necessário. Às palavras de difícil Pconstrução são contextualizadas através destes exemplos, como as preposições e o verbos difíceis de traduzir. O mesmo ocorre para os leitores franceses na parte francês- português (escrita em francês). Ambos leitores encontrarão a tradução dos vocábulos consultados na outra parte. Resumindo. a entrada é apresentada da seguinte forma palavra-entrada com uma divisão (|) ) da suposta raiz, indicação eramatical: pronúncia figurada; tradução e explicações; indicação gramatical da palavra equivalente na outra língua; locuções e expressões; sufixo acrescentando outras classes gramaticais, outras acepções. Quanto à transcrição fonética há uma nota referindo-se às diferenças do português do Brasil, indicando-as em seguida. Para a pronúncia é adotado um sistema simples, usando o alfabeto ordinário mais alguns símbolos especiais (para pronúncia de Portugal)'. O Alfabeto Fonético Internacional (AFI) não foi empregado para não dificultar para aqueles que não conhecem seus símbolos especiais. O autor admite a necessidade de que alguém explique oralmente como realizar as pronúncias figuradas. Podemos afirmar que para os brasileiros este quadro não é de grande utilidade devido à grande distância existente entre as pronúncias portuguesa e brasileira, embora sejam relatadas algumas peculiaridades no item “português do Brasil”. Ao tratar da nomenclatura, o autor diz que o vocabulário contido nesta obra é muito mais rico do que o de outros dicionários mais volumosos, devido ao agrupamento de palavras de mesma raiz (reais ou não) num só verbete - ex amuj|sant, ante adj - divertido. da. ||-sement mm. - divertimento. ||-ser vv. divertir. entreter. Essa característica pode ter atendido aos problemas de espaço, porém didaticamente é prejudicial, pois muitas vezes o aluno desiste de procurar o verbete por não encontrá- lo na entrada principal. Se bem que isso decorre geralmente da falta de hábito do consulente de ler a introdução dos dicionários antes de usá-los. Além disso, foi concedido, segundo Fonseca, lugar importante aos neologismos, à língua familiar e aos brasileirismos. É importante mais uma vez ressaltar que o DLAtrata do português de Portugal e por isso várias divergências de sentido são observadas pelos falantes do português do Brasil. No resumo de gramática de cada língua o leitor pode rever ou aprender algumas noções imprescindíveis para dominar a língua, assim como o pequeno guia de conversação, destinado aos principiantes e turistas No quadro de abreviaturas notamos aquelas que indicam a classificação gramatical (s., adj, adv., vá, v.1., ete.); o nível de lingua (Arg., fam., pop., vulg.); a frequência do uso (am., des., imis., p.us., u., vx.); o tipo de especialidade (ugr., arch. (urgq.), Ástr.. ete.):; ete Há um erro de impressão. pois o dicionário remete à uma página verde para buscar às regras de pronúncia e estas estão impressas numa pagina cor-de-rosa 3.32. O PDM O Pequeno Dicionário Michaelis francês-português e português-francês, editado pela Melhoramentos em 1993, foi concebido por Helena B.C. Pereira e Rena Signer.” Sua nomenclatura ultrapassa a cifra dos 36 mil verbetes, em um volume com 678 páginas. O PDM expõe sua organização visando tanto aos consulentes de língua portuguesa quanto aos de língua francesa, fornecendo as explicações nas duas linguas. Os itens contidos na apresentação são: a organização do dicionário, as abreviaturas utilizadas, a conjugação dos verbos e uma lista dos verbos irregulares. No primeiro tópico — a organização do dicionário — o primeiro ponto tratado é a entrada, que se inicia com a palavra-entrada, impressa em negrito e dividida em sílabas”, vindo em seguida a transcrição fonética no Alfabeto Fonético Internacional (adaptada para o português do Brasil) e indicando a silaba tônica. À indicação da categoria gramatical encontra-se após a transcrição, impressa em itálico (s.m., v.t.). À tradução fornece o equivalente na outra lingua, mas quando há dificuldades em encontrar um termo correspondente na outra língua recorre-se à definição. Se existirem várias acepções, estas serão separadas por ponto e vírgula e os sinônimos por vírgula. Finalmente as locuções e expressões virão na sequência com a respectiva tradução; nestes casos a entrada é substituída pelo símbolo = para evitar repetições Na apresentação ainda encontra-se uma lista com os números cardinais e ordinais em francês e português Quando se trata das noções da língua francesa, cabe acrescentar que, na entrada em francês, os substantivos e adjetivos são geralmente indicados no masculino singular acrescidos do feminino ou plural quando são irregulares. À ortografia adotada no francês segue as novas retificações de dezembro de 1990. O H aspirado* é marcado por um asterisco As abreviaturas, que compõem o segundo item tratado, indicam, além da categoria gramatical citada acima, o nível de lingua (fam., pop., vulg.), os termos técnico-científicos (Aér., anar., bor., ling., Inform.), se se trata de locução, provérbio, sentido figurado, (loc. prov., fig.) ete. Devemos chamar a atenção ao fato de que - Estas autoras são também responsáveis por dicionarios em outras línguas * Os verbos pronominais são anotados com o pronome e à indicação v.pr Não tem som. servindo apenas para impedir à clisão ou ligação nesta obra estão incluídos termos da informática, um domínio de conhecimento bastante moderno que, por essa razão, não é tratado em muitas obras mais antigas. O terceiro tópico é representado pelos quadros de conjugação verbal nas duas línguas incluindo uma listagem dos verbos irregulares e suas dificuldades. As autoras não expõem a fundamentação teórica empregada na composição da nomenclatura deste dicionário, mas uma vantagem que não pode ser desconsiderada no PDM é ser elaborado de acordo com o português do Brasil. 3.3.3. O DDA A obra consultada nomeada por esta sigla, uma edição Bertrand-Garnier, de fevereiro de 1975, é composta de um volume coligido do Grande Dicionário de Domingos de Azevedo, por Jean Rousé e Ersílio Cardoso. Como os outros dicionários bilíngues, possui duas partes: francês / português e português / francês. Não há um texto introdutório na edição utilizada. Nas páginas iniciais são apresentadas a pronúncia figurada e uma explicação das abreviaturas. Na pronúncia há a informação de que os símbolos empregados nesta obra coligida são os da AFI, como são demonstrados. A lista das abreviaturas é extensa e as anotações coincidem com as dos outros dicionários, como por exemplo aquelas referentes aos verbos: vi, vs, vpr, as dos níveis de língua: fam., pop., ete. Ainda na parte francês / português, (888 páginas), no final da apresentação dos verbetes, encontramos uma lista contendo alguns nomes próprios e geográficos traduzidos e também uma lista alfabética dos verbos irregulares franceses. À parte português / francês (902 páginas) contém os mesmos itens visando o leitor francês Tentamos buscar informações complementares sobre a elaboração deste dicionário em um prefácio de outra edição. A obra original constitui-se de dois volumes: um F-P e outro P-F. Encontramos apenas o prefácio da quarta edição, no volume F-P, escrito por Vitorino Nemésio. Obtivemos aí a informação de que o Prefácio da primeira edição havia sido elaborado por umescritor chamado Camilo,” entre 1887 e 1889. Nota-se então que esta obra é bastante antiga, sendo sua primeira publicação ainda do século passado. À quarta edição é datada de 1975, revista e O sobrenome não é citado. mas acreditamos tratar-se de Camilo Castelo Branco. atualizada pelos professores doutores J.J. Duthoy e J. Rousé O autor da introdução se coloca como amante da língua francesa e seu eterno aprendiz para avaliar essa obra. Afirma que a obra de Domingos Azevedo revelou-se como o melhor instrumento que a língua portuguesa possui para aqueles que trabalham com o francês. Mas admite que tal tipo de trabalho requer uma atualização constante; o que havia sido realizado por Duthoy e Rousé. Os responsáveis pela quarta edição fizeram várias transformações que consistiram em suprimir os particípios passados regulares, as palavras obsoletas, o exagero com os nomes dos astros, vocábulos de uso muito restrito ou em desuso. Os quadros de conjugação dos verbos derivados por prefixação (por exemplo comprendre, reprendre) e as abonações supérfluas são eliminados. Eliminaram-se também as longas definições, dando preferência à correspondência imediata entre os vocábulos do francês e do português. O mentor do prefácio ainda acrescenta que falhas graves do trabalho de Domingos Azevedo foram corrigidas como, por exemplo, a ausência de alguns vocábulos importantes, deficiência na exemplificação necessária para facilitar a construção de frases com os adjetivos e os verbos, não inclusão de termos técnicos e neologismos. Adotou-se ainda uma terminologia gramatical mais coerente e uma transcrição fonética com símbolos simples para o consulente português que desconhece o AFI. Vitorino Nemésio deixa claro que este dicionário não foi concebido como um trabalho verdadeiramente científico, visto que, na época de sua elaboração a Lexicografia portuguesa estava ainda engatinhando. Contudo, isto não tira o mérito desta obra 3.4 — Tradução-paráfrase dos Prefácios (1972 e 1994) do Petit Robert (PR) Tomamos o PR, dicionário monolingue geral, como parâmetro na comparação com os bilingues analisados. Antes de realizarmos esta comparação, é necessário expormos como foi apresentado o prefácio do PR na sua integra. Os dados do corpus foram consultados na mais nova edição da obra:O Nouveau Petit Robert (NPR), de 1994. Ao compulsarmos as introduções da edição nova e de outra de 1972. notamos 36 algumas diferenças, principalmente no que concerne as inovações da edição de 1994, em relação à revisão dos termos aí contidos, exclusão de termos em desuso e inclusão de novos termos emergentes. O Prefácio escrito por Paul Robert é mantido nas duas edições. Nele o mentor desta obra expõe sua preocupação primordial na elaboração de um novo dicionário que fosse prático, de fácil manipulação e num único volume. À modernidade desta obra consiste sobretudo no enriquecimento dos verbetes através das relações analógicas. As palavras incluídas são relacionadas com muitas outras do seu campo semântico, sejam sinônimos, antônimos, ou mesmo com exemplos, que servem para indicar seu contexto sintático. São também apresentadas locuções e expressões correntes. Os conhecimentos linguísticos atuais são largamente empregados na constituição desta obra, que possui aproximadamente duas mil páginas, com mais ou menos sessenta mil definições na nova edição. A apresentação do PR de 1972 foi escrita por Alain Rey. Nela está exposta com detalhes a metodologia empregada em sua elaboração. O primeiro ponto tratado é para quem a obra é destinada. O público alvo constitui-se de todas as pessoas interessadas na lingua francesa e que a empregam, principalmente os professores e aprendizes do francês como língua materna (FLM); também é muito útil aos aprendizes do francês como língua estrangeira (FLE), por causa do grande número de informações didáticas (exemplos, construções, niveis de linguagem, listagem de sinônimos e antônimos, transcrições fonéticas). Diferentemente dos dicionários de tipo enciclopédico (que informam sobre as coisas), este é um dicionário de lingua de umtipo particular, sendo ao mesmo tempo descritivo (descreve o francês contemporâneo), histórico (contém informações sobre o francês antigo), e analógico (reagrupa as palavras através de exemplos e remissões) Quanto à forma, como já foi dito, para ser facilmente consultado, este dicionário é formado por um único volume, com aproximadamente duas mil páginas. impressas em duas colunas em umcaracter tipográfico pequeno, mas legivel. Para economizar espaço sem prejudicar a clareza, foi utilizada uma variedade tipográfica, com simbolos e abreviações Quanto à nomenclatura. o PR pode ser classificado como um dicionário geral, pois ultrapassa as cinquenta mil entradas. Estão incluídos ai os termos correntes do francês contemporâneo e numerosos termos técnicos, científicos, antigos e regionais. Para os termos correntes foi considerada, em primeiro lugar, a listagem do Francês Fundamental (FF), por conter as palavras mais correntes da língua francesa, e ainda termos do Dictionnaire élémentaire de G. Gougenheim e da lista de frequência de Van der Beke. A inclusão de termos técnicos e científicos é de grande importância, embora seu uso esteja muitas vezes sujeito a variações, passando geralmente para o uso corrente da língua. O neologismo é descrito no PR sem o preconceito dos puristas, embora a Maioria seja proveniente da língua inglesa, anglicismos, que são sem dúvida, os mais produtivos. Tanto para as palavras quanto para as expressões foi estabelecida uma espécie de escala de valores considerando-se, por umlado a frequência, o caráter corrente ou a necessidade de designar uma realidade dada, e, por outro lado a modernidade da expressão ou de seu emprego Cada palavra constitui uma entrada, e cada sentido uma subdivisão (um número) desta entrada. O essencial na avaliação de um dicionário não é saber a quantidade de palavras nele tratadas, mas o conteúdo de cada entrada, suas explicações e exemplificações. É por esta razão que, nesta obra, se encontram grande número de exemplos curtos onde as palavras são colocadas nos possíveis contextos Embora, como todos os dicionários, o PR apresente-se como uma lista de palavras dispostas na ordem alfabética, ele é enriquecido com o método analógico que reagrupa as palavras de acordo com suas relações de sentido e de forma e também pelas pronúncias transcritas no Alfabeto Fonético Internacional, que facilita ao representar a linguagem falada. À necessidade desta transcrição é evidente para os estrangeiros, mas também importantíssima para os franceses, que também têm dificuldades neste domínio. De fato a ordem alfabética é arbitrária e não considera a realidade da linguagem falada, uma vez que há uma distância considerável entre a grafia e a pronúncia das palavras da língua francesa. Emrelação às entradas, as palavras são anotadas na forma tradicional. ou seja, os substantivos e adjetivos no masculino singular e os verbos no infinitivo. E importante nos atermos mais aos verbos, objeto deste estudo. Os verbos regulares são conjugados de acordo com o modelo de conjugação apresentado num quadro no final em anexo As formas pronominais são assinaladas pela abreviação v.pron., os facultativos com valor reflexivo, recíproco ou passivo. Os empregos transitivos são separados dos intransitivos, assim como dos pronominais, em grandes parágrafos com numeração romana (1, II, ID, subdivididos em números arábicos. Alémda descrição do francês moderno que é a essência deste dicionário, são inseridos também dados históricos, ou seja, a etimologia da palavra e a datação de suas primeiras aparições, acrescentando a indicação de quando a palavra caiu em desuso (vx., vieilli) e de quando ela ainda é um neologismo (néol.) As definições não são somente paráfrases. São frases curtas, destinadas a recobrir exatamente e a sugerir o que se chama significado, quer dizer, o conjunto dos valores do emprego de uma sequência de sons, de letras (significante), que seja uma palavra ou expressão. Normalmente umafrase deste tipo é constituída por uma palavra central que designa uma noção geral (gênero próximo) e por outras palavras que especificam o seu sentido (diferença específica). A inclusão de exemplos é primordial na composição de um dicionário. Uma boa descrição do francês depende, além dos conhecimentos e métodos do lexicógrafo, do uso real. O dicionário tem um papel duplo : reter e classificar os empregos mais frequentes e apresentar entre eles exemplos que sirvam de modelos. Há dois tipos de exemplificação : os exemplos forjados pelos lexicógrafos e as citações de autores. Assim, encontramos no PR os complementos mais usuais de um verbo, suas construções mais correntes, sem falar das expressões e locuções e exemplos das dificuldades sintáticas. São ilustradas as diferenças existentes entre uma sequência de palavras frequente, mas que pode ser transformada (exemplo ou citação) e uma sequência de palavras que é fixa (expressão, locução, provérbio), tão indispensável para o conhecimento quanto a própria palavra. Isso justifica a contagem e exemplificação das lexias complexas e compostas apresentadas no corpus. É muito difícil delimitar estes casos. Entretanto será fácil reconhecer as expressões estáveis ou fixas no dicionário pois elas sempre vêm seguidas de uma explicação quando seu sentido é obscuro e vêm precedidas de uma menção particular: loc.; prov É bom lembrar que estes grupos de palavras se encontram frequentemente mencionados na entrada de seu elemento principal, geralmente o substantivo ou adjetivo. Quando a expressão já apareceu em outra entrada, é preciso recorrer às remissões (J' = voir) que além de facilitar a consulta para o leitor, contribuem para a economia de espaço. Esta é uma grande vantagem do dicionário analógico. Além do mais, é o único tipo de dicionário onde se pode encontrar uma palavra que não é previamente conhecida, o que é de grande utilidade para os franceses cultos, e essencial para os estudantes, os aprendizes estrangeiros, enfim todos envolvidos com a língua francesa. Também têm grande utilidade, sobretudo para os estrangeiros, as marcas de uso, indicando se a palavra pertence à linguagem corrente ou se está em desuso (1x, vieill); a região em que é usada (région.), o nível de linguagem (littér., fam., pop., argot., vulg., péj.), a frequência (rare), o estilo (uso especializado - didacr., sc., physiol., méd., chim., bor., etc.).À ausência destas abreviações significa que a palavra seguinte é de uso normal (corrente) para uma pessoa culta; no entanto, cour. (courant) ou mod. (moderne) podem ser empregados para afastar uma dúvida ou para contrapor um emprego atual a um emprego especial ou em desuso. Evidentemente esta notação está sujeita a contestações. Entretanto os autores consideram que este recurso é indispensável, fornecendo ao usuário, principalmente estrangeiro, dados tão preciosos quanto o significado ou as construções de uma palavra. O prefácio da edição de 1994 foi elaborado por Alain Rey e Josette Rey- Debove. O conteúdo essencial da edição anterior que acabamos de apresentar é o mesmo, contudo está reeditado com algumas alterações e novas reflexões Primeiramente, os autores deste prefácio fazem um comentário sobre o sucesso do Petit Robert e asseguram que sua preocupação em mantê-lo atualizado os levou a fazer uma nova edição, necessidade evidente pois um dicionário deve acompanhar a evolução da lingua, que nunca pára. O léxico reflete essa evolução e cabe ao lexicógrafo fazer estudos precisos para atualizar os dicionários, sintonizando-os com o universo cultural moderno. Para tanto, o Novo Petit Robert contou com a vantagem de beneficiar-se das técnicas da informática, o que tornou o trabalho mais fácil. rápido e atualizado, o que antes não era possível No tratamento do item “dicionário de lingua”, fez-se uma comparação com enciclopédia bem mais detalhada do que no prefácio de 1972. As principais oposições apontadas são as seguintes: enquanto o dicionário de lingua informa sobre as palavras, a enciclopédia informa sobre o conhecimento do mundo: quanto à definição. o primeiro apresenta o significado de uma palavra, enquanto a segunda trata do objeto 40 designado por esta palavra; uma oposição que não é muito pertinente, por não ser tão séria e por ser muito restritiva é aquela em que o dicionário trata dos nomes comuns, enquanto a enciclopédia trata dos próprios. O critério decisivo é o de que no dicionário figuram as palavras gramaticais e na enciclopédia não, pois os objetivos são muito divergentes: enquanto a enciclopédia está interessada apenas no reconhecimento e compreensão da palavra, o dicionário deve permitir a produção de frases, indicar as pronúncias, as construções, trazer exemplos contextualizados para compor uma fraseologia da língua, ou seja, deve proporcionar as funções de decodificação e de codificação. Em suma, todas as informações sobre o signo, excetuando-se a definição, servem para distinguir o dicionário de língua do dicionário enciclopédico. O dicionário geral bilíngue é sempre um dicionário de língua: serve para a tradução e versão e não poderia ser considerado enciclopédico, uma vez que nesta obra passa-se de uma língua à outra através de equivalências de palavras das quais o conteúdo não é analisado, havendo uma ausência de definições (a não ser que o objeto designado não exista na lingua de chegada). O projeto fundamental de um dicionário de língua é o levantamento e a análise das significações. O dicionário de língua é a memória lexical de uma sociedade, e é o léxico que é portador de quase todas as significações que nenhum de nós pode memorizar na sua totalidade. Mesmo assim, nenhum dicionário de lingua é completo, pois ele não consegue abranger todas as palavras da língua descrita. O léxico não é algo estagnado, um conjunto fechado e acabado. Ele é indeterminado, pois a cada instante novas palavras são criadas ou tomadas emprestadas e quando são do uso especializado, nem chegam ao conhecimento do público geral, e nem precisam necessariamente serem tratadas no dicionário de língua, para isto existem os dicionários especializados atendendo à necessidade dos profissionais. O leitor deve informar-se antes de criticar uma obra, pois, muitas vezes, não está buscando a palavra no local certo O Novo Petit Robert possui uma nomenclatura vasta, e o conteúdo dos verbetes são bastante ricos. À esta edição foram acrescentados cerca de quatro mil palavras e outras já em desuso foram eliminadas. Dessa forma. toda a nomenclatura teve que ser revisada e reelaborada, principalmente para manter as remissões analógicas em harmonia e para não prejudicar a coerência do texto lexicográfico. Isso confirma que o PR está enriquecendo-se constantemente com palavras novas, cujos Sae 41 empregos são importantes. As novas entradas constituem-se sobretudo de neologismos, dentro de vários domínios : palavras didáticas; palavras culturais que refletem o estado social; palavras científicas, essencialmente das ciências biológicas; palavras que designam realidades quotidianas (como nomes de alimentos, por exemplo) O NPR verificou que a evolução do léxico realizou-se em várias direções, no período ocorrido entre a primeira e a última edições. Os neologismos estão sendo criados segundo novos modelos, não essencialmente através dos empréstimos. Nas obras antigas essas inovações não eram atestadas. Na época atual são inventados novos processos para criar palavras, como enumeraremos na sequência As palavras compostas constituem um modelo cada vez mais produtivo, sendo formadas através da mistura do grego ou latim com o francês (agroalimentaire), ou mesmo de duas palavras francesas (riziculture) O truncamento é a ação de encurtar palavras. Ele se vem acelerando em todos os registros de língua no francês contemporâneo; em palavras como cinéma, météo e familiares como beaujo (vinho - beaujolais) e mob (mobilete). Outra formação é o emprego de siglas, antes reservadas às sociedades. instituições, partidos e sindicatos, agora são muito empregadas, visando a economia, para nomes — un (.)—, ou mesmo adjetivos — B.(C.B.G.— comuns. º Entre as novas entradas não poderiam faltar as palavras estrangeiras recentemente encorporadas ao francês. O anglicismo continua sendo quantitativamente dominante, mas observa-se o aparecimento de empréstimos a outras línguas como o italiano, árabe, espanhol, alemão, Japonês e russo. O prestígio dos Estados Unidos, seu poder econômico e seu avanço técnico e científico suscita uma invasão de empréstimos, que ocorrem mesmo quando já existe uma palavra francesa correspondente. À situação agrava-se pela rapidez atual da informação. No domínio terminológico há comissões ministeriais que se reunemna França (também no Québec) para propor palavras francesas que substituam os anglicismos Outro fato interessante em relação aos empréstimos da língua inglesa é o fortalecimento do fenômeno da “acronimia” ou formação de uma palavra com certas silabas extraídas de várias palavras (ex.:brunch = inel. breakfast luncl) Currculun Vitae e Bon chic, bon venre : | 42 Quanto à pronúncia, os empréstimos influem na transcrição fonética do dicionário. O PR optou por anotar uma única variante das pronúncias existentes; entretanto há uma hesitação quando se trata de palavras estrangeiras, podendo haver uma pronúncia mais próxima da língua de origem e outra totalmente afrancesada, vindo, em seguida, as outras possibilidades. Quanto à grafia, também há problemas com algumas palavras recentemente emprestadas. No início várias grafias podem ser atestadas e com o passar do tempo uma delas estabiliza-se. O NPR está atento à evolução das grafias, que tendem geralmente a uma maior simplicidade. Uma outra formação citada é o verlan, que apresenta as palavras ao inverso (lenvers). A descrição deste sistema não é imprescindível, pois é limitado à um meio bastante restrito. Apenas algumas palavras mais difundidas foram incluídas (femme = meus). Os exemplos e citações receberam igual tratamento nesta nova edição. O NPR acrescentou numerosas citações de jornais, que justificam as atestações das ocorrências atuais, pois a imprensa está sempre mais em dia do que a literatura. O conjunto dos exemplos de um dicionário é apenas o que se diz frequentemente numa determinada época numa dada língua. O PR foi totalmente reformulado, não se tratando apenas de um volume coligido da obra anterior, o Robert em seis volumes. Difundiu-se rapidamente, obtendo um grande sucesso comercial, só perdendo para o Petit Larousse. Este sucesso pode ter ocorrido principalmente por dois motivos : |) foia primeira vez que se realizou uma obra bastante abrangente em um volume com dimensões razoáveis; 2) a obra corresponde a uma necessidade social, pedagógica e cultural para os países francofônicos, já que o PR foi o primeiro dicionário geral de lingua que não continha nomes próprios, ilustrações e tampouco continha definições enciclopédicas. 3.5. — Comparação dos bilíngiies com o PR O primeiro ponto a ser observado na comparação é justamente o conteúdo de cada introdução. Notamos uma grande discrepância. Podemos concluir que quanto mais uma apresentação é detalhada. de melhor qualidade é a obra Primeiramente 43 porque através da leitura dos procedimentos de elaboração tomamos conhecimento de como otimizar a utilização da obra. Em segundo lugar porque os autores apresentam um método de trabalho, o que de certa forma garante que a obra tenha sido planejada e elaborada de acordo com certos critérios. Observemos os principais itens a serem considerados : º Dois dicionários o PDM e o DLA classificam-se como dicionário de língua escolar bilíngue, o DDA como dicionário de lingua padrão bilíngie e o PR como dicionário de lingua geral monolíngue. * Somente o volume consultado do DDA não continha uma nota introdutória. * Ostrês dicionários bilíngies seguem a seguinte ordem cronológica (do mais antigo para o mais atual) : ºe DDA (1889), e DLA (1957), e PDM (1992) * eomonolíngie PR (1967); NPR (1994). º* Ordem de extensão da nomenclatura : (PR), DDA, DLA e PDM. No plano da nomenclatura o PDM é o mais modesto, mas a desproporção não é tão relevante entre os três dicionários bilíngiies * Público alvo : PR = franceses e aprendizes estrangeiros; DDA, DLA e PDM = falantes da lingua portuguesa e francesa * Nivel lingúistico : todos incluem linguagem familiar e termos técnicos. O PDM inclui termos da informática; o DLA inclui brasileirismos; o DDA não inclui neologismos atuais (edição de 1975) e o PR é o mais completo em relação a todas estas inclusões * Material privilegiado — linguagem moderna ou antiga, escrita ou oral. Nenhum dos prefácios dos dicionários bilíngues analisados aqui trata desse assunto. Somente o dicionário monolingue afirma que descreve o francês contemporâneo oral e escrito, além do histórico (francês antigo. através das etimologias) * Quanto à definição, todos a incluem O PDMadmite Inserir o equivalente ou a definição se necessário (separados por ponto e virgula). O PR define através de frases curtas e simples. separando os sentidos por parágrafos 44 * Ilustração e exemplificação : nenhum dos dicionários verificados comporta, no sentido estrito do termo, ilustrações dos referentes, nem mesmo em apêndices. Todos ilustram o significado e usos das palavras através de exemplos de frases. Quando necessário, o DLA apresenta muitos exemplos. O PDM indica não só exemplos comuns, mas locuções e expressões traduzidas. O PR contextualiza os significados através de exemplos curtos, tomados de autores ou forjados pelos lexicógrafos ou ainda captados na imprensa. Os dicionários bilíngies não informam a fonte dos exemplos escritos. A transcrição fonética ora é feita através do AFI (PR, DDA e PDM — adaptando-o para o português do Brasil); ora por símbolos especiais de pronúncia figurada, muitas vezes do alfabeto comum, forjados pelos lexicógrafos, (DLA). Convém acrescentar que o DLA preocupa-se em demonstrar as diferenças fonéticas do português do Brasil em relação ao de Portugal. A justificativa para o não-uso do AFI é facilitar para os aprendizes que não conhecem seu sistema. O DDA utiliza o AFI no volume coligido e símbolos simples no volume F-P. O PR afirma que a representação fonética no AFI beneficia não apenas os leitores estrangeiros como tambémos próprios franceses, que, muitas vezes, consultam o dicionário para saber como se pronuncia uma palavra. Todos contêm informações gramaticais e estão de acordo quanto à classificação verbal, salvo algumas diferenças de abreviatura. Vários anexos são apresentados, tanto nos dicionários bilíngúes quanto nos monolíngiues, principalmente os verbais. Quanto ao método de escolha da nomenclatura, os dicionários bilíngies não mencionam umsó critério. Já o PR indica suas fontes : * o Francês Fundamental (FF); * o Dictionnaire élémentaire (DE); * alista de frequência de Van der Beke (LFVDB); º ouso da informática para armazenar e processar essas informações. Para melhor visualização. ilustraremos com um quadro comparativo |Dicionários | DLA PDM DDA PR E Dicionário de Dicionário de Dicionário de Dicionário de Classificação|língua escolar língua escolar língua padrão língua geral bilíngie bilingie bilíngie monolíngiePrefácio sim sim não sim Data da 1957 1992 1889 1967É ed. utilizada : 199] utilizada : 1993 utilizada: 1975|utilizada:1994 tou - + de +ou- +ou-Extensão 45 mil (ota 36 mil (rota) 50 mil (eadapartey|60 mil 758 p. 678p. 1790 p 2000 p.Público alvo leitor Português|leitor Português|leitor Português|todo leitor do e Francês e Francês e Francês FLM e FLE * inclui neologis- inclui linguagem inclui lingua- inclui registros : Nível mos, linguagem|familiar e termos gem familiar e familiar regional,linguístico familiar e brasi-|técnicos popular técnico, antigo eleirismos. moderno. o francês Material contemporâneousado — — =— eo antigo. A linguagem oral e a escrita. sim ou frases curtas de Definição e sim equivalente sim autores, da explicação separados imprensa ou por (;) forjadas quando necessário|exemplos / Ilustração e muitos exemplos|locuções e sim exemplos curtosexemplificação expressões contextualizados traduzidas alfabeto comum,|AFI adaptado AFI no volume|AFI representaTranscrição diferenças do para o Português|coligido; a língua falada.fonética Português do do Brasil com símbolos Para estrangei-Brasil. simples no tos e franceses. volume F-P. sim sim sim sim Informações Verbos : Verbos : VIVT,|Verbos: VI, Verbos : VI,gramaticais. VI, VT, VR VPR, VIMP VT, VPR VT, VPR (Réfl,, Récipr.,Pass.) Súmula Grama-|Nºs. cardinais e Nomes próprios|Onomástica tical (port ./fr.). ordinais francês /|e geográficos. (topônimos,Anexos Guia de conver-|português. Conju-|Verbos gentílicos), sação. Guia de gação verbal e irregulares. sufixos, quadro pronúncia e de lista de verbos de Verbos. cartas. irregulares. FF, DE,Métodos de — — — LFVDB,Inclusão Analogia. Informática.PR"FLM = francês como língua materna e FLE = francês como língua estrangeira. 46 Todos os bilíngies começam pela seção francês/português. Isso denota que eles visam ao falante português, o que confirma o que já vimos anteriormente : o principal uso dos dicionários bilíngúes ocorre na decodificação escrita. Nenhum dos dicionários indicou o número exato de lemas de cada parte : utilizam os termos “mais de”, “aproximadamente”, “todos” para caracterizar a extensão de sua nomenclatura. Mas pela paginação podemos verificar que em dois deles, a parte francês/português é menos extensa que a outra (português/francês). No DLA há vinte páginas a menos e no DDA há trinta e uma ! O número de páginas da primeira parte só é mais extensa no PDM : dezoito páginas a mais. Nos dicionários bilíngues da língua italiana foi constatado exatamente o contrário por Debyser (1981). Nenhuma obra expõe o motivo desta diferença. Observemos o quadro abaixo : Dicionários DLA PDM DDA[Nº. de páginas Fr./port. 352 330 864 Nº. de páginas Port./fr. 372 312 895 Diferença para 1º. Parte (F-P) - 20 +18 -31 TOTAL”? 724 642 1759 Páginas de anexos e introd. 34 36 31 TOTAL GERAL 758 678 1790 Apesar da desigualdade dos dados fornecidos (cf. tabela anterior, nos itens Prefácio e Anexos), os três dicionários bilingies apresentam semelhança relativamente ao número de páginas destinadas às introduções e aos anexos. Só a nomenclatura. excetuando-se os anexos. ao an 4 — Processo de ensino/aprendizagem do francês como LE É importante tratar também de uma preocupação específica nossa em relação ao processo de ensino/ aprendizagem do francês como língua estrangeira. Cremos queà existência de um bom material serve como estimulo para a aprendizagem, além dos motivos culturais e sócio-econômicos que levam um indivíduo a querer aprender umalíngua estrangeira. O professor deve ter acesso a diversos materiais e saber analisá-los e indicar o mais adequado ao objetivo proposto. De qualquer modo, o dicionário deve ser visto como um objeto imprescindível no processo de aprendizagem de uma língua estrangeira, e por ser imprescindível, não devemos permitir que os aprendizes só tenham em mãos materiais ultrapassados, mal elaborados e incompletos. Estamos certos de que, o dicionário, por ser uma obra vasta que tem por objetivo englobar aspalavras de uma língua, tem muitas falhas; no entanto, mesmo conhecendo adificuldade para produzir "a obra perfeita", deve-se cumprir a tarefa de aperfeiçoá-lacada vez mais. 4.1. Motivação do brasileiro para a aprendizagem do francês Mesmo na lexicografia francesa há insuficiências em relação a obras contrastivas direcionadas para diferentes linguas estrangeiras. Já a lexicografia inglesaé bastante rica, o que pode ser explicado pelas diferenças na difusão das línguas O mercado, embora constitua um elemento imediatista e utilitário demais. nãodeve ser desprezado na justificativa da produção lexicográfica. Entretanto, não se deve considerar apenas o valor quantitativo, mas sim o qualitativo. Ou seja, não é porquehá obras disponíveis no mercado que não exista a necessidade de produzir outras. É preciso antes proceder a uma verificação da qualidade destas obras. Se for elaborada uma obra melhor e mais acessível. com certeza ela dominará o mercado. Outro pontoa ser discutido é relativo ao número do público alvo, que deve serconsiderável. Muitas vezes, comparando-se, por exemplo, a quantidade dos aprendizesda lingua francesa e do espanhol. conclui-se que o público da francesa é irrisório. Mas. Justamente por esta razão não há obras adaptadas para este número restrito de usuários. Dessa maneira, o que estiver ao alcance destes aprendizes de francês. bom ou ruim, é o que será consumido O que se constata atualmente é que quanto mais uma lingua é ensinada e praticada. mais sua descrição é satisfatória e mais são produzidas obras concorrentes no mercado 48 O português ensinado na França geralmente é o de Portugal; por isso duas das três obras analisadas têm essa língua como objeto, enquanto que a do nosso país diverge dela em muitos pontos, não só semânticos ou fonéticos, mas também sintáticos. Deduz-se então que uma boa obra contrastiva deve ser realizada no Brasil, visto o interesse que ainda se percebe na aprendizagem da língua francesa em nosso país, sobretudo das pessoas que visam a obter um nível cultural mais elevado intelectuais, escritores, pesquisadores e também pessoas ligadas à moda, ao turismo internacional, etc. O aprendizado de uma LE contribui de modo geral na formação escolar de umacriança. Esta passa a ter a noção de que existem outras culturas que usam línguas diferentes, com um funcionamento intrínseco e cuja sistematização facilita a compreensão inclusive dos mecanismos da LM. É importante ressaltar a influência da LF na língua Portuguesa que se intensificou em meados do século passado. Até hoje encontram-se inúmeras palavras de origem francesa em uso no nosso vocabulário, principalmente no domínio da moda, artes e culinária. Cremos que, para os brasileiros aprenderem o francês, a melhor motivação é o desejo de acesso a uma cultura superior e, por conseguinte, a uma posição social melhor. A França é um pólo de produções científicas e ter acesso a elas na língua original é uma maneira de otimizar as pesquisas nacionais. Citaremos as palavras de um componente da Academia Francesa, G. Duhamel (apud Besse, 1979, p.25), que embora nos pareçam um pouco chauvinistas, ilustram bem o sentimento que as pessoas têm em relação a essa língua : “Apprenez la langue française justement en raison de Veffort intelligent qu elle exigera de vous. Elle est parlée, dans beaucoup de pays Par les sociétés d'élite : élevez-vous au niveau de ces élites. ” 4.2. Relação aluno/professor/dicionário Já foi constatado que um dicionário bilíngue bem elaborado é necessário aos estudantes, para que lhes proporcione informações sobre sentido, cultura e estrutura da LE em relação à sua LM, principalmente no início de sua aprendizagem. Mas, por outro lado, talvez o estudante crie uma dependência (o que é uma desvantagem) manifestada pela consulta mesmo de termos conhecidos, o que levaria a resultados não-satisfatórios na aprendizagem. Contudo, isso não pode justificar que não se aperfeiçoem as obras existentes, pois tendo em mãos um bom instrumento de trabalho, | | | | 49 aprender a utilizá-lo é uma outra tarefa que depende apenas das instruções de uso e do interesse dos educadores. Em um estudo de Bogaards, Dictionnaires et compréhension écrite (1995-2), verificaram-se=algumas — conclusões interessantes — que apresentaremos — aqui Primeiramente os aprendizes não gostam de se servir de dicionários, além disso, eles não sabem usá-lo e ainda o dicionário prejudica o processo de leitura. As razões destas constatações são as seguintes : para os usuários, muitas vezes, os dici