UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS - RIO CLARO ECOLOGIA LÍVIA FERREIRA NEVES IMPLANTE DE MICROCHIPS PARA CERTIFICAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DE MUDAS DE PLANTAS UTILIZADAS EM REFLORESTAMENTO Rio Claro 2009 LÍVIA FERREIRA NEVES IMPLANTE DE MICROCHIPS PARA CERTIFICAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DE MUDAS DE PLANTAS UTILIZADAS EM REFLORESTAMENTO Orientador: MASSANORI TAKAKI Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - Câmpus de Rio Claro, para obtenção do grau de Ecólogo. Rio Claro 2009 Neves, Lívia Ferreira Implante de microchips para certificação e identificaçao de mudas de plantas utilizadas em reflorestamento / Livia Ferreira Neves . - Rio Claro : [s.n.], 2009 41 f. : il., figs., gráfs., fots. Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado - Ecologia) - Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências Orientador: Massanori Takaki 1. Ecologia vegetal. 2. Identificação eletrônica. 3. Michochips RFID. 4. Certificação FSC. I. Título. 581.5 N518i Ficha Catalográfica elaborada pela STATI - Biblioteca da UNESP Campus de Rio Claro/SP DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a minha família e a todos que me ajudaram de alguma forma para que sua realização fosse possível. Cássia Riscado AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente ao meu orientador, Massanori Takaki, que considerou essa idéia, minha e de meu pai, um projeto viável. Agradeço também a Pró-Reitoria da UNESP e ao Banco Real pela bolsa e recursos extras que permitiram a viabilização deste trabalho. Agradeço ao professor Mario Tomazello Filho, a técnica de laboratório Maria pela grande ajuda e paciência e a todos do Laboratório de Anatomia da Madeira da ESALQ. Agradeço também ao João e aos outros funcionários do Jardim Experimental que sempre se dispuseram a me ajudar. Assim como o João do departamento de Botânica e aos orientados do Massa. Ao meu pai, Luiz, que por ser um homem curioso fez com que uma simples conversa no almoço de domingo virasse meu trabalho de conclusão de curso. A minha mãe, Eva, que mesmo sem ser tão curiosa sempre me apoiou a sua maneira. Agradeço a minha pequena família, que agora se vê ainda menor pela ausência de minha avó Noemia. Minha irmã, Lara, vovó Geny, Tio Adão e a parte mais distante fisicamente, a família Minorello (tio, tia e primas). A família De Nardo, principalmente minha madrinha, Beth, e sua filha Thais, e todos aqueles que sempre encheram minha casa em Campinas de alegria (Tia Gló, Tio Renato, Rose, Carlão, Tia Vanda). Ao meu namorado, Felipe Brum, que sempre me apoiou em tudo, e me proporcionou momentos inesquecíveis. Te amo muito! Agradeço também a sua família. Ao pessoal da turma de Ecologia de 2006, que me fez aprender a conviver com grandes diferenças de personalidades e pensamentos durante esses quatro anos. Agradeço principalmente a minha querida amiga Amanda Corradini, com quem me identifiquei e adorei desde o primeiro dia de aula e considero a amizade mais importante que adquiri nessa fase da minha vida, vou sentir muita saudades! A República Jack Tequila, composta pela própria Amanda, Carol, Imaira e Bia, que abriram as portas para mim e trouxeram momentos muito felizes e cômicos! Ao time de Hand feminino (Ellen, Thais, Júlia, Flavia, Aline, Buba, Curiosa, Mimo, Marcelo, Jamila, Bauru, Créu, desculpa se esqueci de alguém!) e aos técnicos Laurie e Junior que sempre tiveram muita paciência e bom humor comigo! SUMÁRIO Página 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 3 1.1. O outro lado da certificação ....................................................................................... 10 1.2. Objetivos ................................................................................................................... 14 1.3. Materiais e métodos ................................................................................................... 14 1.3.1. Espécies utilizadas .............................................................................................. 14 1.3.1.1. Cedrela odorata Vellozo (Cedro-rosa) .......................................................... 14 1.3.1.2. Dalbergia nigra Velloso (Jacaránda-da-bahia) .............................................. 17 1.3.1.3. Caesalpinia echinata Lamarck (Pau-brasil) ................................................... 19 1.3.2. Sistema RFID ...................................................................................................... 22 1.3.3. O implante .......................................................................................................... 23 1.3.4 Análise do material amostrado ............................................................................. 27 1.3.4.1 Metodologia de densiometria de Raios X ....................................................... 27 2. RESULTADOS E DISCUSSÕES .................................................................................... 28 2.1. Relação entre diâmetro do caule e distância de leitura ................................................ 28 2.1.1 Cedro ................................................................................................................... 28 2.1.2. Jacarandá-da-bahia .............................................................................................. 30 2.1.3. Pau-brasil ............................................................................................................ 31 2.2. Análises macroscópicas ............................................................................................. 33 2.2.1 Cedrela odorata (cedro-rosa) ............................................................................... 34 2.2.2. Dalbergia nigra (jacarandá-da-bahia) .................................................................. 35 2.2.3. Caesalpinia echinata (pau-brasil) ........................................................................ 36 3. CONCLUSÕES ............................................................................................................... 38 4. REFEÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 39 3 1. INTRODUÇÃO O IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis), 2009, define o desmatamento como qualquer descaracterização, por prática de corte, capina ou queimada (por fogo ou produtos químicos), que venha a suprimir toda vegetação nativa de uma determinada área, e considera vegetação nativa toda vegetação original, remanescente ou regenerada, caracterizada pelas florestas, capoeiras, cerradões, cerrados, campos, campos limpos, vegetações rasteiras, etc. A história do desmatamento no Brasil acontece desde antes da colonização, mas em pequena proporção, quando índios se utilizavam de árvores para construção de barcos e utensílios, apenas para suprir as necessidades dos indivíduos formados de pequenos grupos. Já com a colonização, grandes área, principalmente da Mata Atlântica, foram devastadas para ocupação dos colonos e exploração do pau-brasil, utilizado para produção de corante para o mercado externo (SÃO PAULO, 2006). A associação entre o desmatamento e os ciclos econômicos brasileiros é evidente. O primeiro ciclo relacionado com o desmatamento em larga escala é o da cana-de-açúcar, quando grandes áreas perderam sua floresta original para dar lugar a essa cultura e a madeira retirada era utilizada como fonte de energia nos engenhos. O ciclo do ouro, no século XVIII, revirou milhares de quilômetros dentro da Mata Atlântica a procura deste minério. Outro ciclo foi a economia cafeeira no século XIX e nas primeiras décadas do século XX, onde as queimadas para preparação do solo destinado ao plantio, foram as grandes responsáveis pelo desmatamento, além do conjunto de atividades e empreendimentos associados à esta economia, como desenvolvimento urbano, industrialização, implantação da malha ferroviária e o grande crescimento populacional da Região Sudeste (SÃO PAULO, 2006). Durante o século passado, as práticas tradicionais de derrubada e queimada realizadas pelos agricultores brasileiros foram se mostrando cada vez mais ineficientes para acompanhar a demanda do crescimento populacional e as pressões de mercado. A partir de 1960 surgem os primeiros processos de modernização tecnológica da agropecuária brasileira, recebendo o nome de Revolução Verde, que consiste em um pacote tecnológico que engloba o uso de agrotóxicos, fertilizantes químicos, melhoramento genético de sementes, motomecanização, 4 processamento industrial da produção, sistema de monocultura em grandes propriedades e crédito agrícola subsidiado. Como exemplos deste agronegócio surgem o setor sucroalcoleiro e a soja. Devido à demanda por novas áreas para expansão agrícola, o agronegócio esbarrou em novas fronteiras como áreas da Amazônia e do Cerrado. O resultado se observa agora com a grande redução de área de mata nativa, diminuição de biodiversidade e recursos genéticos, erosão, poluição dos solos e das águas (SÃO PAULO, 2006). Atualmente, segundo o Ministério do Meio Ambiente (BRASIL, 2009a), os maiores responsáveis pela extinção, degradação e a fragmentação de ambientes naturais, são as implantações de pastagens, que necessitam de abertura de grandes áreas, ou agricultura convencional, o extrativismo desordenado, expansão urbana, ampliação da malha viária, poluição, incêndios florestais, formação de lagos para hidrelétricas e mineração de superfície. Estas devastações aumentam o grau de isolamento entre as populações ainda existentes e diminuem a fluxo gênico das espécies, o que pode levar a perdas de variabilidade genética e até mesmo a extinção de espécies. Essa devastação intensa resultou em um grande aumento no número de espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção, que são definidas pelo IBAMA (2009) como aquelas com alto risco de desaparecimento na natureza em futuro próximo. No começo do século passado, esse número era de 108 espécies (lista oficial de 1992), a lista atual, elaborada em 2008, possui 472 espécies. .A lista elaborada pela Fundação Biodiversitas, a pedido do Ministério do Meio Ambiente (RIBEIRO, 2008), considera todos os biomas brasileiros e revela que as florestas com o maior número de espécies ameaçadas são a Mata Atlântica, com 276 espécies ameaçadas; o Cerrado, com 131 espécies e a Caatinga com 46 espécies. A Amazônia apresenta 24 espécies, o Pampa 17 e o Pantanal 2. Infelizmente nenhuma das espécies presentes na lista de 1992 se encontra fora da lista atual. A indústria madeireira possui interesse em 12 espécies ameaçadas, estas já se encontravam na lista de ameaça de 1992. O Peltogyne Maranhensis, “pau-roxo” da Amazônia é a única espécie de interesse madeireiro adicionada na nova lista, todas as outras já constavam na lista de 1992. Levando em consideração a distribuição das espécies ameaçadas por estado brasileiro, o Sudeste apresenta o maior numero de espécies (348), seguido por Nordeste (168), Sul (84), Norte (46) e Centro Oeste (44). Já o estado com o maior número de espécies próximas as extinção é Minas Gerias (126), seguido por Rio de Janeiro (107), Bahia (93), Espírito Santo (63) e São Paulo (52) (RIBEIRO, 2008). 5 Sendo o setor madeireiro um dos responsáveis pelo desmatamento nacional, surge o manejo florestal sustentável como forma de combate ao comércio de madeira ilegal, que pode ser aplicado a madeira e seus derivados, como sementes, fibras, óleos entre outros produtos florestais. Com esse método de produção florestal, pode-se certificar a madeira a ser utilizada seja pelo produtor ou pelo consumidor, processo denominado de certificação florestal. A certificação florestal tem como objetivo garantir que a matéria florestal utilizada em um produto é oriunda de um processo produtivo manejado, para isso precisa ser ecologicamente adequado, utilizando técnicas próximas ao ciclo natural da floresta e causem o mínimo impacto, permitindo a renovação e permanência da floresta e sua biodiversidade; socialmente justa, estando de acordo com a legislação nacional, respeitando todos os direitos e cumprindo todos os deveres; e economicamente viável, com técnicas de manejo florestal que aumentem a produtividade da floresta, garantam a durabilidade dos investimentos, e agreguem valor ao produto (FSC, 2009). O Forest Stewardship Concil – FSC, traduzido para o português como Conselho de Manejo Florestal, é o sistema de certificação atual. O FSC foi fundado em Toronto – Canadá, em 1993, por 130 representantes de organizações ambientalistas, entidades indígenas, comunidades tropicais, instituições de certificação de produtos florestais de 25 países, indústrias madeireiras e silvicultores (GREENPEACE, 2009) e não possui fins lucrativos. Este sistema de certificação promove a gestão florestal sustentável já que foi baseado em princípios e critérios do acordo internacional da Declaração das Florestas, sendo esta aprovada durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1992, realizada no Rio de Janeiro, e se aplica a todos os tipos de florestas que forneçam madeira para indústria. O FSC é o selo verde mais reconhecido em todo o mundo, está presente em 75 países e em todos os continentes. A figura 1 apresenta um esquema referente as diferenças entre a madeira certificada e a madeira ilegal no Brasil (WWF Brasil - Word Wide Fundo of Nature, 2009) 6 Figura 1. Infográfico :diferenças entre madeira certificada e madeira ilegal (WWF Brasil, 2009) 7 A certificação é um processo voluntário e para sua aquisição é realizada a avaliação do empreendimento florestal por uma organização certificadora independente. Esta organização verifica se o empreendimento cumpre os conjuntos de regras chamados Princípios e Critérios, os quais englobam as salvaguardas ecológicas, benefícios sociais e a viabilidade econômica. Atualmente no Brasil existem cinco certificadoras credenciadas pelo FSC Internacional (FSC IC) autorizadas a avaliar as unidades de manejo florestal e as indústrias processadoras permitindo ou vetando o uso da logomarca do FSC. Existem regras estabelecidas pelo FSC IC para o credenciamento das certificadoras de liberação do selo verde, sendo monitoradas constantemente para garantir a credibilidade e a evolução da certificadora. O Conselho Brasileiro de Manejo Florestal não emite certificado e não recebe nenhum subsidio ou repasse financeiro pelas certificações concedidas no Brasil (FSC, 2009). Segundo o Greenpeace (2009), organização independente, a Certificação Florestal FSC parte de 10 princípios: 1. O cumprimento das leis nacionais e acordos internacionais 2. A manutenção dos direitos e responsabilidades da propriedade 3. O cumprimento dos direitos dos povos indígenas 4. O respeito dos direitos do trabalho e das comunidades locais 5. A promoção do uso eficiente dos múltiplos benefícios da floresta 6. A existência de um Plano de Manejo Florestal com objetivos claros 7. A conservação da biodiversidade 8. O resultado e avaliação deste tipo de gestão 9. A conservação das florestas de alto valor ecológico 10. Que a gestão dos cultivos florestais se realize seguindo os critérios anteriores Existem dois tipos de certificação: Certificação de Manejo Florestal e Certificação Cadeia de Custodia. A Certificação de Manejo Florestal pode ser obtida por todos os produtores, sejam pequenas ou grandes organizações ou associações comunitárias, as florestas podem ser naturais ou plantas, públicas ou privadas. Este tipo de certificação pode ser caracterizada pelo tipo do produto florestal, como madeireiro (toras ou pranchas de madeira) 8 ou não-madeireiros (óleos, sementes e fibras). O certificado de Manejo Florestal é válido por cinco anos sendo necessário um monitoramento por ano. Já a Certificação Cadeia de Custodia é aplicada aos produtores que processam a matéria prima de florestas já certificadas, sendo eles os serralheiros e empresas de diversos setores, que se utilizam dessa matéria prima e desejam utilizar o selo FSC em seus produtos finais, o que acaba por garantir que todo o ciclo de produção está dentro dos padrões do FSC, desde os materiais florestais utilizados até os produtos finais (FSC, 2009). O Conselho de Manejo Florestal FSC caracteriza o processo de certificação em seis etapas assim descritas: � Tomada a decisão em se certificar, é necessário solicitar uma pré-avaliação do manejo de floresta junto a uma das certificadoras credenciadas, não é uma etapa obrigatória do processo, mas sim uma consulta para verificar como tal operação florestal está em acordo com os padrões de certificação referentes aquele tipo de manejo ou tipo de floresta � A organização certificadora é contratada para avaliar a área por completo com o objetivo de certificar a unidade de manejo. Cabe a certificadora definir o escopo, a equipe de avaliação e as fases da auditoria de campo. Antes da avaliação de campo é realizado um processo de consulta pública para que a certificadora se informe sobre a opinião das populações locais em relação ao manejo praticado pelo empreendimento. Na avaliação de campo, a equipe de auditores visita as áreas de manejo em questão e os escritórios, verificando os cumprimentos dos Princípios e Critérios do FSC � Para ser certificada, a unidade de manejo florestal precisa passar por uma certificação de Cadeia de Custodia, na unidade de processamento ou beneficiamento, o que garante o rastreamento do produto desde o campo até sua comercialização. Somente produtos explorados nas unidades certificadas podem receber o selo verde FSC � Após essa etapa, os auditores elaboram relatórios sobre as pré-condições (pontos que precisam ser resolvidos antes do empreendimento receber a certificação) e condições (pontos que podem ser resolvidos com o tempo), além de recomendações referentes a alguns pontos da operação florestal que podem ser melhorados, para que o licenciamento seja efetivado pela logomarca FSC. Se houver pré-condições, a unidade de manejo possui um tempo para se adequar e convidar novamente a certificadora para a checagem final. Sem nenhuma situação pendente, o relatório final gerado pela 9 certificadora é analisado por especialistas e as decisões são tomadas para a liberação ou veto da certificação FSC � Após esses processos, a certificadora elabora um resumo público sobre o processo de certificação e disponibiliza o documento publicamente � Se o processo de certificação for aprovado, a área de manejo recebe visita anual da certificadora responsável pelo licenciamento. Em caso de denúncia de irregularidades, a certificadora poderá realizar visitas extras, além de ser necessária a renovação do certificado a cada cinco anos, quando é realizado um outro processo de avaliação completo Segundo Alves et al (2009), a história da certificação no Brasil teve início em 1999. Entre os cinco primeiros anos de certificação florestal (1999-2003) a indústria moveleira, obteve apenas cinco empresas certificadas, o que representa 18,52% do total já certificado, nos três anos subsequentes (2004-2006), sete empresas foram certificadas (25,92%) e o maior salto foi verificado nos últimos dois anos (2007-2008), em que quinze empresas (55,56%) buscaram a certificação florestal. Atualmente a certificação na indústria moveleira nacional se concentra na Região Sul, onde o Estado de Santa Catarina se destaca com o maior número de empresas certificadas, onze no total, e em segundo está o Estado de São Paulo, com seis empresas certificadas. Muitas dessas empresas moveleiras certificadas tem como mercado países desenvolvidos, que são exigentes na questão ambiental. Os principais países importadores de móveis das empresas brasileiras certificadas são Estados Unidos, França, Alemanha, Reino Unido, Espanha, Holanda e Argentina, porém os Estados Unidos e Argentina não exigem a certificação. Ainda constam como destinos países como Japão, Finlândia, Austrália, Israel, Hong Kong, Portugal, Malásia, Nova Zelândia, Colômbia, República Tcheca, Bélgica, Suíça, Itália, Uruguai e México (ALVES et al., 2009). A certificação florestal só não é maior no setor moveleiro devido a baixa exigência dos clientes, principalmente no mercado interno (ALVES et al., 2009), 78% das empresas moveleiras revelam que o consumidor ainda não exige a certificação no ato da compra, o que é uma fonte de desestímulo ao investimento. Normalmente o produto certificado é mais caro e o consumidor brasileiro não está disposto a pagá-lo já que de uma forma geral, o consumidor brasileiro desconhece a certificação florestal e não conhece o selo FSC nos produtos. Esta posição pode ser alterada através da educação ambiental, divulgação dos benefícios para a sociedade e o ambiente com a produção de produtos ambientalmente corretos e com preço compatível com o poder aquisitivo da maioria da população. 10 1.1. O outro lado da certificação A certificação florestal, como um instrumento voluntário de mercado, é considerada cada vez mais uma poderosa ferramenta perante a globalização econômica. Esta certificação tem o objetivo de estimular os produtores florestais a adotarem práticas de manejo ditas socialmente apropriadas, ambientalmente saudáveis e economicamente viáveis o que faz com que esse ideal ganhe relevância estratégica política para implementar o tão visado desenvolvimento sustentável entre as várias instituições nacionais e internacionais, como o Banco Mundial, por exemplo (NICOLE FRERIS; KLEMENS LANCHEFSKI, 2009). O artigo “A fachada verde da exploração madeireira - Os mitos da certificação madeireira e da vocação florestal na Amazônia”, produzido por Freris & Laschefski (2009), aponta relações entre a exploração florestal e as empresas madeireiras certificadas pelo sistema FSC de maneira negativa. Um exemplo citado é o caso do WRM, World Rainforest Movement, que publicou um relatório crítico sobre duas empresas de plantações de eucalipto em Minas Gerais, que possuem cerca de 20% do total de áreas certificadas no Brasil, e relata os impactos ecológicos promovidos pela expansão e monoculturas no Cerrado, uso de agrotóxicos e conflitos com a população local, entre outros. Ou seja, há negligencias na certificação e falta de transparência o que fere os princípios e critérios criados pelo FSC, citado como o mais rigoroso do mundo. Freris & Laschefski (2009) definem como a principal causa desses problemas a estratégia de crescimento rápido do FSC devido a pressão do mercado e da competição entre vários outros esquemas de certificação. Devido ao grande investimento na exploração de madeira certificada e sua conseqüente expansão para as áreas florestais nativas, os autores chamam atenção para uma reflexão, a certificação de florestas ameaçadas é realmente uma resposta viável para a exploração florestal? Surgem aí mitos em defesa da certificação das florestas tropicais. Muito dos pressupostos impostos para certificação pelo FSC, não ocorrem na realidade sendo omitidos pelas madeireiras certificadas. Para que uma empresa consiga explorar a madeira de sua área certificada, é necessária a construção de estradas para o transporte dessa madeira para as serrarias e zonas de comércio, zonas de arraste de madeira e áreas de estocagem, mas as certificadoras parecem esquecer que para essas atividades muitas áreas de floresta nativa são desmatadas sem qualquer acompanhamento ou estudo prévio. Muitas vezes, as estradas de posse das madeireiras são de qualidade superior a vias públicas e podem ser utilizadas para a entrada de caçadores em área florestal, já que não há um devido controle de circulação de 11 pessoas. Após a utilização de certa área, as estradas construídas não são fechadas ficando abandonadas, o pode servir de convite para a entrada de colonos, fazendeiros e até mesmo outras madeireiras ilegais. Outro problema omitido é que para a conservação de espécies arbóreas de interesse comercial, as empresas fazem anéis na casca de árvores sem valor comercial para que morram em pé, sem cair e derrubar as árvores de interesse. Essas árvores aneladas perdem folhas e galhos que aumentam a disponibilidade de nutrientes no solo e aumentam também a incidência de luz, que junto com o acúmulo de matéria orgânica seca, podem causar incêndios. Uma das exigências para conseguir a certificação, é a de que a empresa precisa ser economicamente viável e para que isso seja real no setor madeireiro, a empresa visa extrair o máximo de madeira de sua área, se esse volume total não for o suficiente, a empresa aumenta sua área de exploração, devastando cada vez mais as áreas naturais com o apoio das certificadoras. Esse é um problema ainda sem solução, uma vez que as certificadoras não podem impor que a quantidade de produção seja diminuída, caso contrário a empresa não consegue se sustentar economicamente. Outro grande problema se refere a população local, que antes da entrada de madeireiras na região, sobrevivem de exploração de subsistência, como coleta de castanhas e borracha, sem comprometer a manutenção florestal. Quando a empresa se instala na região, há proibição do trabalho de subsistência na área pertencente a empresa certificada, o que leva os ribeirinhos a total dependência do setor madeireiro para conseguir um salário, normalmente bem abaixo do salário mínimo brasileiro, sendo um trabalho quase escravo. Quando a empresa já extraiu tudo que podia da área, vai embora sem deixar nenhum recurso para os moradores locais e mantém o mesmo nível de desemprego. Já a instalação de serrarias em áreas urbanas, incentiva a migração da população rural para as cidades em busca de trabalho causando um crescimento urbano desordenado. Muitas empresas certificadas fazem acordos comerciais de volume de madeira que não conseguem extrair de suas áreas certificadas e para cumprir tal acordo se submetem a compra de madeira retirada de forma ilegal da floresta. A grande problemática nesse fato, é que não há meio de se diferenciar a madeira certificada da ilegal e ha falta de comprometimento com os princípios e critério criados pelo FSC, além do financiamento do corte ilegal de madeira. 12 Outro mito sobre a exploração madeireira é de que a exploração seletiva de madeira aumenta a capacidade florestal de fixar carbono reduzindo o efeito estufa, uma vez que com a retirada de árvores há criação de espaços para o crescimento de outros indivíduos, que durante seu processo de desenvolvimento consomem o carbono atmosférico e mantém o estado permanente de renovação. Tendo por base essa dinâmica, o manejo florestal em áreas nativas pode ser considerado uma forma de redução do aquecimento global e as florestas nativas intocadas têm menos potencial de fixar carbono colaborando para o aquecimento global sendo menos eficientes que as florestas manejadas. Porém, nem todas as atividades estão contabilizadas nessa dinâmica, as madeireiras não colocam nessa conta a liberação de carbono pela própria atividade de exploração madeireira industrial através do consumo de energia na produção e uso do maquinário e demais equipamentos florestais. As empresas também não consideram a destinação final da madeira explorada, aproximadamente 70% das toras que chegam as serrarias viram resíduos e somente 30% da madeira é utilizada para produção de pranchas serradas. Os resíduos gerados na produção de laminados e compensados são queimados ou utilizados para produção de carvão, o que acaba por liberar o carbono fixado na madeira para a atmosfera. Como os produtos gerados pela madeira extraída não duram séculos, fazendo as contas, vale mais a pena para fixação de carbono, deixar a árvore em seu ambiente natural durante séculos do que transformá-la em um material que vai liberar o carbono em alguns anos. Nesses últimos anos houve a conscientização dos consumidores sobre qual a procedência do produto que está levando pra casa e muitos afirmam que pagariam mais caro para obter um produto ecologicamente correto. Mas na prática a maioria da população brasileira não possui instrução nem condições financeiras para pagar até 5% a mais em um produto de procedência confiável. Além do que, a parte da população que pode fazer esse tipo de consumo, a classe média ou alta, não representa uma fração muito considerável da população brasileira e o mesmo vale para níveis mundiais. Sendo assim, a responsabilidade de garantir que os produtos sejam ecológica e socialmente justos deve ser do governo e não do consumidor. Muitas pessoas acreditaram que atribuindo valor econômico à madeira tropical seria uma maneira de preservar as florestas nativas, muitos pensaram que a certificação FSC fortaleceria as populações locais através de iniciativas comunitárias, sendo uma alternativa ao desmatamento desenfreado. De certa forma a certificação melhora o planejamento e controle de exploração madeireira. Os investimentos e a propaganda para a certificação de madeireiras 13 estão resultando no surgimento de uma nova cultura econômica, técnica e ambiental. Porém este pensamento é atrelado ao conceito ideológico da vocação florestal, reduzindo o complexo ecossistema florestal a um produto único, a madeira. Para Freris & Laschefski (2009) a certificação tem impacto insignificante no combate a exploração predatória nas florestas tropicais. Esta serve como uma alternativa de sobrevivência para grandes madeireiras atrai novos investidores internacionais para exploração dos recursos florestais tropicais. Não há indicação de que a valorização de florestas nativas pelo manejo florestal contribui para diminuir o desmatamento para fins agropecuários. Os benefícios sociais oferecidos pelas empresas certificadas são mínimos e os problemas com respeito a participação da população local não são resolvidos. Considerando esses fatores, o consumo de madeira certificada simplesmente representa mais uma pressão adicional as florestas nativas e as populações tradicionais. 14 1.2. Objetivos Desenvolver uma técnica de implante de chips do tipo RFID (Radio Frequency Identification) em três espécies de árvores nativas, o cedro, o jacarandá-da-bahia e o pau- brasil, ainda em estágio de muda e monitorar o processo de cicatrização, localização do microchip no interior do tronco através do raio-x e corte por micrótomo, e a viabilidade de leitura por um período de nove meses. Além disso, verificamos a possibilidade de utilização das metodologias de anatomia e densiometria de raios X na localização do chip no lenho e no processo de cicatrização das mudas de cedro, jacarandá-da-bahia e pau-brasil. 1.3. Materiais e métodos 1.3.1. Espécies utilizadas Foram utilizadas 50 mudas com caule de no mínimo 15 milímetros de diâmetro do cedro-rosa, jacarandá-da-bahia, espécies utilizadas em reflorestamento (SÃO PAULO, 2006) e o pau-brasil, de grande valor histórico. O jacarandá-da-bahia e o pau-brasil encontram-se na lista de espécies e ameaçadas de extinção (BRASIL, 2009b). 1.3.1.1. Cedrela odorata Vellozo (Cedro-rosa) O cedro rosa, Cedrela odorata, pertence à classe das Magnoliopsida, ordem Sapindales e família Meliaceae. É considerada uma árvore caducifólia (perde as folhas em alguma época do ano), com 10 a 25 metros de altura e 40 a 80 centímetros de diâmetro na altura do peito (DAP), podendo atingir até 40 metros de altura e 300 centímetros de DAP em idade adulta. Uma característica distinta do cedro é a de que todas as partes da planta quando esmagadas produzem um odor semelhante ao de alho. Seu tronco é cilíndrico, reto ou pouco tortuoso, normalmente com ausência de sapopemas (raízes laterais situadas na base da árvore) ou quando presente são pouco desenvolvidas. A fuste pode atingir até 15 metros de comprimento. A casca do cedro possui espessura de até 40 milímetros sendo a parte externa, marrom a pardo-acinzentada com fissuras longitudinais profundas e largas, enquanto a casca interna é avermelhada a amarelada com odor agradável. Suas folhas são compostas, paripinadas, geralmente com 25 a 45 centímetros de comprimento, mas podem atingir até 140 15 centímetros, polimorfas, com 8 a 30 pares de folíolos de 6,5 centímetros de largura, oblongo- lanceolados a ovalados-lanceolados, com base subaguda a cordada, simétrica ou levemente obliqua. Quando são desprendidas do galho, produzem um odor desagradável semelhante ao de cebola (CARVALHO, 2003). A anatomia foliar do cedro possui características peculiares principalmente em relação aos tipos de tricomas e estômatos, além da densidade estomática, que é maior se comparada com outros táxons da família Meliaceae. As flores do cedro são unissexuais por aborto, sendo as flores masculinas mais alongadas que as femininas amadurecendo em tempo diferente destas. As pétalas são esverdeado-brancas, podendo ser rosadas no ápice, com 12 milímetros de comprimento e reunidas em tirsos auxiliares de até 30 centímetros de comprimento mas pode atingir até 60 centímetros. Seus polinizadores são possivelmente mariposas (MORELLATO, 1991) e as abelhas (STEINBACH & LONGO, 1992 apud CARVALHO, 2003). O fruto é uma cápsula piriforme deiscente, seltifraga, abrindo-se até mais da metade através de cinco valvas longitudinais, lenhosas, espessas, rugosas, de coloração morrom- escuras, com lenticelas claras, com comprimento de 3 a 10 centímetro e 3 a 3,5 centímetros de largura, pesando 13 gramas e aproximadamente 30 a 100 sementes viáveis por fruto. Esta semente é alada em uma das extremidades, comprimida lateralmente, de coloração bege a castanho-avermelhada, com pequeno núcleo seminal, até 35 milímetros de comprimento por 15 milímetros de largura (BELTRATI et al., 1985 apud CARVALHO, 2003). A dispersão dos frutos e sementes ocorre pela queda das sementes no solo ainda dentro do fruto ou pela ação de dispersão dos ventos (ALCANTARA et al., 1997 apud CARVALHO, 2003). Em plantio, o processo reprodutivo do cedro se inicia entre 10 e 15 anos de idade. O cedro é uma espécie arbórea secundaria inicial (VACCARO et al., 1999 apud CARVALHO, 2003), secundaria tardia (NAVE et al., 1997 apud CARVALHO, 2003), a clímax (MOTTA et al., 1997 apud CARVALHO, 2003) ou espécie clímax exigente de luz (PINTO, 1997 apud CARVALHO, 2003). Também é considerado espécie rara devido à sua distribuição escassa dentro da floresta primária, esta se desenvolve no interior da floresta primaria, regenerando-se principalmente em clareiras com menos de 60 m² (COSTA & MANTOVANI, 1992 apud CARVALHO, 2003) ou bordas de mata, mas apresenta grande agressividade na vegetação secundária (em capoeirões). Ocorre no país da latitude de 12° N na Costa Rica a 32° S no Rio Grande do Sul e o limite Norte do cedro no Brasil se da a aproximadamente 1° S no Pará. Quanto aos solos, o cedro ocorre principalmente em solos profundos e úmidos, mas bem drenados e com textura argilosa a areno-argilosa. Solos rasos 16 ou com camadas de pedras e áreas de lençol-fratico superficial não são favoráveis ao seu desenvolvimento. Referente a madeira do cedro, esta possui massa variando de leve a moderadamente densa a 15% de umidade (MAINIERI & CHIMELO, 1989 apud CARVALHO, 2003). O alburno possui coloração de branca a rosada, o cerne varia do bege rosado-escuro ou castanho-claro-rosado, mais ou menos intenso, até ao castanho-avermelhado. Sua madeira possui superfície lustrosa e com reflexos dourados, textura grosseira, pouco ondulada com cheiro característico, agradável e gosto ligeiramente amargo. A resistência ao ataque de organismos xilófagos é moderada e é resistente aos agentes exteriores exceto se enterrada ou submersa, quando apodrece rapidamente. Seca facilmente em estufa não ocorrendo empenamento ou rachaduras, já a secagem ao ar livre é rápida e a ocorrência de defeitos é pequena. A madeira do cedro é fácil de ser trabalhada com instrumentos manuais ou mecânicos, o aplainamento produz uma superfície lisa e uniforme. Apresenta boa retenção de pregos e parafusos, com excelente absorção de pigmentos e polimento. O cedro produz uma das madeiras mais apreciadas no comércio, tanto brasileiro quanto internacional, por ter coloração semelhante ao mogno e, entre as madeiras leves, é uma das que possibilita o uso mais diversificado. Como madeira serrada e roliça é indicada para construção civil como venezianas, rodapés, guarnições, forros e janelas, em construção naval é usada em acabamentos internos decorativos e em casco de embarcações leves, parte interna de moveis finos, folhas faqueadas decorativas, molduras para quadros, instrumentos musicais e cabos de vassoura. Como fonte de energia, sua lenha é considerada de boa qualidade. Possui óleo essencial se submetida a destilação, que mesmo sendo de baixo teor, tanto na casca como no lenho (SAKITA & VALLILO, 1990 apud CARVALHO, 2003), que também apresentam intensa substancias tanantes (SAKITA & VALLILO, 1990 apud CARVALHO, 2003), evitam o ataque de cupim e outros insetos. Como suas flores dão melíferas, produzindo pólen e néctar (REIS et al., 1992; STEINBACH & LONGO, 1992 apud CARVALHO, 2003), possuindo interesse para apicultura. O cedro também possui características medicinais já que sua casca é utilizada na medicina popular em forma de chá como tônico para pessoas enfraquecidas, adstringente, combate a febre, desinterias e artrite (FRANCO, 1997 apud CARVALHO, 2003)Índios de varias etnias do Paraná e de Santa Catarina (ARQUESINI, utilizam as folhas do cedro para o tratamento da gagueira. O cedro também é recomendado para recuperação de ecossistemas degradados e para restauração de matas ciliares em locais com ausência de inundação (DURIGAN & NOGUEIRA, 1990 apud CARVALHO, 2003). É também 17 recomendado para áreas de solo contaminado por metais pesados como zinco (Zn), cádmio (Cd), chumbo (Pb) e cobre (Cu) (MARQUES et al., 1997 apud CARVALHO, 2003). 1.3.1.2. Dalbergia nigra Velloso (Jacaránda-da-bahia) O jacarandá-da-bahia, pertence à Classe Magnoliopsida, Ordem Fabales e Família Fabaceae. É uma árvore semicaducifólia, com 10 a 20 metros de altura e 15 a 45 centímetros de diâmetro na altura do peito (DAP), podendo atingir excepcionalmente até 35 metros de altura e 155 centímetros de DAP em idade adulta (LEÃO & VINHA, 1975 apud CARVALHO, 2003). O tronco é tortuoso e irregular com fuste de até 10 metros de comprimento e a copa é larga, achatada e densifoliada. A casca do jacarandá possui espessura de até 7 milímetros sendo a parte externa de coloração pardo-acinzentada, áspera, longitudinalmente subdividida em pequenas placas verticais retangulares finas e largas, descamando aos poucos e com muitas lenticelas horizontais e estreitas, já a casca interna possui coloração avermelhada. As folhas são compostas, alternas, paripinadas, com 10 a 20 folíolos, de 0,7 a 2,5 centímetros de comprimento por 0,4 a 1,0 centímetro de largura, os folíolos quando jovens, são pilosos, quando adultos, glabros. As flores são branca-amareladas, perfumadas, medindo de 0,5 a 1,0 centímetros de comprimento, reunidas em cachos axilares de até 6 centímetros de comprimento, dando origem a panículas de até 20 centímetros. O fruto é uma sâmara elíptica ou oblonga, plana, membranácea,indeiscente, com 3 a 8 centímetros de comprimento por 18 a 22 milímetros de largura, a estipe mede de 3 a 5 milímetros de comprimento, em geral com uma semente, mas também pode conter até duas sementes centrais (PAOLI, 1990 apud CARVALHO, 2003). As sementes são castanhas, lisas, reuniformes, achatadas e pequenas, de testa delgada, membranáceas. Os principais vetores de polinização são abelhas e pequenos insetos diversos e a dispersão de frutos e sementes é anemocórica (ocorre pela ação do vento). O crescimento desta espécie é considerado de moderado a rápido. O jacarandá-da-Bahia ocorre naturalmente no Brasil entre a latitude de 13°15’ S na Bahia a 22°50’ S no Estado de São Paulo. É considerada espécie secundária tardia, em seu habitat natural raramente ou nunca se encontra em regeneração natural, devido a presença do coelho-do-mato (Syvilagus brasiliensis), ávido pelas plântulas dos gêneros Dalbergia e Machaerium (DUARTE, 1978 apud CARVALHO, 2003), sendo o maior predador natural do 18 jacarandá na fase inicial de sua vida. O jacarandá é uma espécie característica e exclusiva da Floresta Ombrofila Densa Submontana (Floresta Atlântica), também é encontrado na floresta pluvial de tabuleiro (NASCIMENTO et al., 1996; RIZZINI et al., 1997 apud CARVALHO, 2003). Em Guaratinguetá, SP, ocorre na transição entre a Floresta Estacional Semidecidual e a Floresta Ombrofila Densa (Floresta Atlântica) (CAVALCANTI, 1998 apud CARVALHO, 2003). A melhor zona de sua freqüência ocorre no sul da Bahia a 0,8 árvore por hectare. Quanto aos solos, ocorre naturalmente em solos de baixa fertilidade química e com pH superior a 5,2 (LEÃO & VINHA, 1975 apud CARVALHO, 2003), no sul da Bahia ocorre em terrenos ondulados e montanhosos, ocupando topos e encostas das elevações onde ocorrem solos argilosos e argilo-arenosos, profundos e de boa drenagem (LEÃO & VINHA, 1975 apud CARVALHO, 2003). Segundo Gomes et al.(1976), esta espécies é muito resistente as deficiências de umidade. É uma espécie semi-heliófila que tolera sombreamento de leve a moderado na fase juvenil mas não tolera baixas temperaturas. É recomendada para arborização de pastos ou para arborização de culturas. Em plantações de cacaueiro no sul da Bahia, são deixadas árvores de sombra nativas, que segundo Leão & Vinha, 1975 (apud CARVALHO, 2003), são indicadoras de terrenos férteis. Infelizmente o jacarandá-da-Bahia esta na lista oficial de espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção (BRASIL, 2008), categoria vulnerável (BRASIL, 1992 apud CARVALHO, 2003), bem como na lista de espécies que correm perigo (RIZZINI & MATTOS FILHO, 1986 apud CARVALHO, 2003). Sperandio & Fonseca, 1986 (apud CARVALHO, 2003), definem dois fatores de extinção: a exploração desordenada e a ausência de plantios de reposição. A madeira do jacarandá possui o alburno de coloração variando de branco a amarelado, comumente bem demarcado, a cerne geralmente é de coloração pardo-escuro arroxeado, com listas pretas mas as vezes bege-rosado, com reflexos alaranjados e com listras típicas. Sua superfície é lisa ao tato e irregularmente lustrosa, de textura fina, oleosa, um pouco áspera, o grã varia de reta a irregular. A madeira possui cheiro agradável e pouco intenso, muito peculiar da espécie e com gosto adocicado. É muito durável, de alta resistência ao ataque de organismos xilófagos em condições favoráveis ao apodrecimento. É fácil de ser trabalhada, com bom acabamento e alto polimento natural, mas alguns exemplares são muito oleosos, dificultando o polimento (CARVALHO, 1990). 19 Esta espécie é conhecida comercialmente há mais de 300 anos, por ser a mais valiosa das espécies madeireiras que ocorre no Brasil. Sua madeira é muito procurada para fabricação de móveis e foi objeto de exploração através dos portos da Bahia e do Rio de Janeiro, desde os tempos coloniais. A cerne, mais interessante comercialmente, é encontrada em árvores mais antigas tendo uma formação lenta. Uma árvore adulta produz cerca de 2m³ de madeira e mesmo com imperfeições usuais, racha e fende-se facilmente, tem valor de cerca de US$ 5 mil dólares do metro cúbico serrado (CARVALHO, 2003). Esta madeira de estimado interesse comercial possui várias utilidades. Por possuir média retrabilidade, resistência mecânica entre média e alta e sobretudo pela aparência típica e agradável, é indicada para fabricação de móveis de luxo, folhas faqueadas decorativas para painéis, revestimento de móveis, caixas de rádio e de televisor (até há algum tempo), peças torneadas, cabos de escovas, cabos para peças de cutelaria, para entalhe, peças de adorno, mesas de bilhar, carroçaria e em construção civil. É também utilizada para construção de instrumentos musicais e de caixas de pianos. Pode ser utilizada como carvão e lenha de boa qualidade. Esta madeira ainda contém óleo essencial de cheiro muito agradável (CORREA, 1969). O jacarandá também é utilizado em arborização de praças, parques e de avenidas (LORENZI 1992a) e é recomendada na recuperação do solo de áreas degradadas, por depositar razoável camada de folhas (REZENDE et al., 1997 apud CARVALHO, 2003) e por mostrar grande amplitude de tolerância ambiental (BRAGA et al., 1994 apud CARVALHO, 2003). 1.3.1.3. Caesalpinia echinata Lamarck (Pau-brasil) O pau-brasil é a árvore símbolo do Brasil, pertence à Ordem Fabales, Família Caesalpiniaceae e é descrita como árvore perenifólia (aquela que não perde as folhas), com 5 a 15 milímetros de altura e de 15 a 50 centímetros de diâmetro na altura do peito (DAP), podendo atingir até 30 metros de altura e 100 centímetros de DAP, em idade adulta. Seu tronco é geralmente curto, tortuoso e recoberto de grossos acúleos descamando em placas irregulares (CARVALHO, 2003). A fuste (eixo principal da árvore) geralmente é curto, atingindo excepcionalmente 15 metros de comprimento com pequenas sapopemas na base. A casca possui espessura de até 10 milímetros, sendo a parte externa de coloração pardo- acinzentada ou pardo-rosada, nos locais descamados, e rugosa, devido a presença de muitas lenticelas que se desprendem sob a forma de placas providas de grossos acúleos e a casca 20 interna é vermelho-escura. Suas ramificações são dicotômicas e irregulares, a copa é aberta, ampla, com folhagem verde-escura brilhante e com os ramos aculeados. As folhas do pau- brasil são compostas, alternas, apresentando de 6 a 10 pares de pinas alternas, com 10 a 20 folíolos sésseis e há presença de espinhos abaixo da ráquis. Possui inflorescências terminais compostas por inúmeras flores de quatro pétalas, amarelo-douradas, perfumadas, e uma pétala central modificada, sendo maior e de coloração vermelho-escura, reunidas em panículas terminais (CARVALHO, 2003). Após a floração, que ocorre na primavera, surgem os frutos compostos por uma vagem capsulada de coloração pardo-avermelhada, com 5 a 8 centímetros de comprimento por 2,5 centímetros de largura, sendo coberta extremamente de múltiplas cerdas curtas e rígidas, com deiscência explosiva e 1 a 2 sementes marrons que germinam com certa facilidade. A semente gerada é possui forma elíptica, sendo lisa, achatada, com contorno irregular, medindo, em média, 17 milímetros de comprimento por 15 milímetros de largura. O principal vetor de polinização é formado principalmente por abelhas e diversos insetos pequenos. Já a síndrome de disperção de frutos e sementes é autocórica (por explosão), e principalmente barocórica (pela força da gravidade), apresentando deiscência explosiva (CARVALHO, 2003). O pau-brasil ocorre naturalmente entre a latitude 5°39’ S no Rio Grande do Norte até 23° S no Estado do Rio de Janeiro. É uma espécie clímax pertencente ao grupo sucessional e ocupa o estrato médio da floresta. Possui extensa longevidade, podendo atingir por volta de 300 anos de idade (Pesquisadores..., apud CARVALHO, 2003). É uma espécie característica da Floresta Estacional Semidecidual das Terras Baixas (VELOSO et al., 1991 apud CARVALHO, 2003), denominada por Lima ,1961, (apud CARVALHO, 2003) de Floresta Estacional Caducifólia Costeira. Esta espécie arbórea também habita a Floresta Ombrófila Densa (Floresta Atlântica), chegando até as Matas das Dunas, em Natal, RN (FREIRE, 1990 apud CARVALHO, 2003). Também é considerada espécie típica das restingas do Rio de Janeiro (SCHNEIDER et al., 1997 apud CARVALHO, 2003), mas se distribui de forma bem reduzida e esporádica pela faixa litorânea. O pau-brasil ocorre naturalmente em tabuleiros do Pliopleistoceno do Grupo Barreiras. Esses solos se caracterizam por baixa fertilidade química natural, boa drenagem e textura que varia de arenosa a franca. É espécie semi-heliófila, capaz de tolerar o sombreamento, mas não é tolerante a baixas temperaturas (VELOSO et al., 1991 apud CARVALHO, 2003). 21 O pau-brasil teve grande importância no mercado pela produção de corantes destinados ao tingimento de tecidos. Para conter sua intensa exploração, em 12 de dezembro de 1605, Felipe II, rei de Portugal e Espanha, assinou a primeira lei de proteção florestal brasileira, batizada de Regimento Pau-Brasil, a qual proibia a extração desta espécie sem autorização real. A mesma lei também vetava o corte de árvores jovens de qualquer espécie e criou uma guarda de fiscalização. Os motivos para a tomada destas medidas se deviam ao fato de que o pau-brasil era o principal item de exploração da Colônia brasileira, seguido pelo açúcar e o ouro, os portugueses não podiam permitir que ele se esgotasse (BRASIL, 2006 apud CARVALHO, 2003). Devido a intensa exploração desde o descobrimento do Brasil, quando ainda era encontrado em abundância, em 1920 o pau-brasil já era considerado raro devido a devastação da Mata Atlântica. Atualmente, em área natural, restam exemplares desta espécie em pequenos fragmentos no sul da Bahia, no Parque Nacional de Monte Pascoal, e na Reserva Ecológica do Pau-Brasil, em Porto Seguro; em Pernambuco e no Estado do Rio de Janeiro (entre Itaboraí e Macaé). É necessário estabelecer, com urgência, um amplo trabalho de conservação para a espécie, principalmente in-situ, já que esta espécie se encontra na lista oficial de espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção (BRASIL, 2008). Além da produção de corante, o pau-brasil tem grande valor pelas características da sua madeira. A madeira do pau-brasil, que apresenta crescimento lento e irregular, é densa a 15% de umidade, possui o alburno e a cerne de coloração laranja ou vermelho-alaranjada, uniforme, tornando-se vermelho-violaceo de reflexos dourados, com o tempo. Segundo Ducke (1953), depois de cortada, a madeira pardo-amarelada-clara se torna vermelha e a madeira de árvores plantadas no Estado de São Paulo é amarelada (NOGUEIRA, 1977 apud CARVALHO, 2003). A madeira do pau-brasil apresenta superfície lustrosa e lisa ao tato, textura média, grã irregular ou reversa e um cheiro ligeiramente aromático. É muito resistente a fungos e considerada incorruptível. A presença de anéis distintos possibilita a datação da espécie (BRESSAN-SMITH et al., 1997 apud CARVALHO, 2003). A madeira do pau-brasil, serrada e roliça é utilizada em construção civil, em ripa, caibro, tabulado, carpintaria, móveis, mourões e em dormentes, com duração média de 20 anos. Atualmente esta madeira é muito utilizada na fabricação de instrumentos musicais, principalmente na confecção de arcos de violino, devido a sua flexibilidade. Segundo Paula, 1997, a madeira do pau-brasil é promissora na produção de energia devido a qualidade da 22 lenha produzida (NOGUEIRA, 1977 apud CARVALHO, 2003). Como já se sabe esta madeira também produz importante tintura, denominada Brasil ou brasileto, cor de vinho, utilizada em tinturaria. Os europeus utilizavam esse corante para tingir sedas, linhos e algodoes, dando aos tecidos uma cor de brasa,a cor dos reis e dos nobres. Essa tintura também era usada para fabricar tintas de escrever e ornamentos de manuscritos. A madeira desta espécie também possui propriedades medicinais já que o lenho possui caráter adstringente, corroborante e secante, odontálgico e tonico (CORREA, 1978), o chá feito das folhas é ótimo contra diabetes e o pó da casca atenua as cólicas menstruais. Pesquisadores da universidade Federal da Pernambuco descobriram que esta espécie apresenta propriedades medicinais que podem combater alguns tipos de câncer (COSTA & OLIVEIRA, 1996 apud CARVALHO, 2003). No paisagismo, o pau-brasil é considerado uma espécie ornamental utilizada em parques, praças, jardins e em arborização urbana (LORENZI, 1992b). É utilizada na arborização de Brasília DF (JACINTO & IMANÃ-ENCINAS, 2000 apud CARVALHO, 2003). O pau-brasil também é utilizado para reconstituição de ecossistemas degradados, pois proporciona grande acumulo de folhedo. 1.3.2. Sistema RFID O sistema de identificação RFID (Radio Frequency Identification) é realizado por radiofreqüência e é utilizado na construção de etiquetas eletrônicas. O microchip utilizado é um “transponder” constituído de um código exclusivo e inalterável, encapsulado em vidro cirúrgico, microrevestido em capa de polipropileno (figura 2). Esse microchip é utilizado na identificação de animais sendo inserido sob a sua pele. O microchip possui aproximadamente 11,5 mm x 1 mm (próximo a um grão de arroz) e forma arredondada alongada. Os microchips (transponderes) são aparelhos passivos, não carregam bateria e permanecem inativos a maior parte do tempo. O pequeno circuito eletrônico do microchip é energizado somente quando ele recebe uma freqüência de rádio de baixa potência enviada por um aparelho de leitura compatível, chamado de leitor (figura 2). O microchip envia seu número de identificação como um sinal de rádio de volta ao escaner que decodifica o número e o mostra em uma pequena tela similar a de uma calculadora. O microchip e o leitor utilizados neste trabalho são da marca Real Trace RT 100 V5 CE. 23 Figura 2. Relação de tamanho do microchip (A) e o leitor (B). 1.3.3. O implante Os microchips foram implantados nas mudas com caule de pelo menos 15 milímetros de diâmetro (figura 3). Os implantes dos microchips nas mudas de cedro e jacarandá-da-bahia foram realizados utilizando uma parafusadeira sem fio, por possuir velocidade inferior à furadeira convencional, com broca de furadeira de 2 mm de diâmetro adaptada, e para os implantes no pau-brasil foi utilizada a furadeira convencional, com o mesmo tamanho de broca utilizada nas outras espécies. A profundidade do furo realizado pela parafusadeira ou furadeira é suficiente para que o microchip fique totalmente introduzido dentro do caule (um pouco maior que o tamanho do próprio microchip), de forma que o microchip fique o mais próximo da posição horizontal e no meio do caule, atingindo a parte lenhosa (figura 4). Após a realização do furo no caule, o microchip foi inserido com o auxilio de uma pinça e a parte restante foi coberta por uma pasta de lanolina com ácido indol butírico (Camelatto et al., 2006) na concentração de 1000 ppm, para indução da cicatrização (figura 4). Após o implante dos microchips, a leitura foi verificada com o leitor, o código devidamente anotado (figura 4) e o diâmetro do caule na altura da cicatriz foi medido através de uma fita métrica. 24 Para o estudo anatômico, cinco indivíduos de cada espécie foram sacrificados a cada mês, no primeiro trimestre e posteriormente a cada três meses, por um período de nove meses. Como controle, cinco indivíduos de cada espécies também tiveram os microchips implantados mas sem o acréscimo do ácido indol butírico à pasta de lanolina e se desenvolveram por dois meses, no caso do cedro, e três meses no caso do jacarandá e pau-brasil. As mudas para coleta de um, dois e três meses não foram plantadas devido ao curto tempo de adaptação ao meio, e foram mantidas nos sacos plásticos e em estufa, já as mudas para coleta de seis e nove meses foram plantadas no Jardim Experimental no Campus da UNESP de Rio Claro (figura 5). O desenvolvimento do caule foi medido pelo seu diâmetro a cada mês de corte e a distância de leitura foi medida por uma régua e o leitor, para esta medida também foi considerada a posição do microchip em relação ao caule (leitura na parte da frente, onde há a cicatriz, e do lado oposto ao da cicatriz). Para o monitoramento em um tempo maior do que nove meses, cinco representantes de cada espécies serão monitoradas a cada seis meses, por um período de pelo menos dez anos para o acompanhamento da intensidade do sinal emitido pelo microchip. Estes representantes foram plantados próximos ao Departamento de Ecologia no Campus da UNESP de Rio Claro. 25 Figura 3. Mudas de pau-brasil (A), cedro (B) e jacarandá-da-bahia (C) 26 Figura 4. Sequência do implante do microchip no caule de cedro-rosa: perfuração do caule (A); implante do microchip (B); superfície do caule após o implante (C); aplicação da pasta de lanolina com ácido indol butírico (D) e leitura do código do microchip pelo leitor (E) 27 Figura 5. Mudas de cedro com microchips implantados, plantadas no Jardim Experimental da UNESP, campus de Rio Claro-SP 1.3.4 Análise do material amostrado As amostras retiradas dos meses citados das mudas das três espécies receberam preparo macroscópico no micrótomo de deslize da marca Leica. Os cortes variaram de 40, 20 e 10 micras de espessura, de acordo com a proximidade da lâmina no microchip. Primeiramente foram feitos cortes na horizontal até que fosse possível a visualização da parte superior e inferior no microchip. Em seguida, as amostras foram registradas através de foto na lupa de marca Olympus SZX12, com a lente Olympus DF PLFL 0,5 x PF. Os registros foram feitos de ambos os lados da amostra e com zoom no tecido de cicatrização formado ao redor do microchip. 1.3.4.1 Metodologia de densiometria de Raios X As amostras dos segmentos de caule das mudas e cedro (seis meses) e jacarandá-da- bahia (um mês) foram radiografadas com filme de raios X (Kodak, Diagnostic Film T-Mat, 240x180 mm) com equipamento de raios X (Hewlett Packard, Faxitron 43805 N a uma distância de 1,20 m da fonte de raios X ao filme) com cinco minutos de exposição (Tomazello et al., 2008). Os filmes radiográficos foram revelados avaliando-se em seguida, a imagem radiográfica do lenho e do caule e a posição interna do microchip. 28 2. RESULTADOS E DISCUSSÕES Durante o período de nove meses, as mudas se desenvolveram normalmente e não houve nenhuma morte. Porém, todos os indivíduos de cedro foram atacados por cochonilhas. Esta praga foi tratada com o inseticida para uso em jardinagem da marca “Jardim Primavera – mata cochonilha” (500 ml), fabricado por Bonigo Indústria e Comércio Ltda. O seu uso foi eficaz, resolvendo o problema num período de cinco meses (de dezembro de 2008 a abril de 2009). 2.1. Relação entre diâmetro do caule e distância de leitura A relação entre o desenvolvimento do caule e a distância de leitura é um dos resultados obtidos. É necessário relembrar que as mudas do 1°, 2° e 3° mês não foram plantadas, o que interferiu na sua velocidade de crescimento, sendo mais lento ou nulo. Esta relação segue abaixo, considerando cada espécie separadamente devido à diferente velocidade de desenvolvimento do caule. As medidas feitas nos indivíduos do 10° mês foram realizadas em indivíduos ainda plantados sem a retirada do material para análise. 2.1.1 Cedro Figura 6. Relação entre o desenvolvimento do caule (medido pelo diâmetro) e o tempo (meses) das mudas de cedro D iâ m et ro d o ca ul e (c m ) 1 2 3 6 9 10 Meses após o implante 29 Figura 7. Relação entre a distância de leitura (cm) da parte da frente da cicatriz de implante ( ), parte de trás da cicatriz de implante ( ( ) ) e os meses de corte das mudas de cedro Considerando os dois gráficos, é possível afirmar que durante os três primeiros meses não houve aumento no diâmetro do caule, mas houve variação nas distâncias de leitura na parte da frente e de trás da cicatriz. Mesmo com diferentes medidas de diâmetro do caule, há uma relação entre a leitura e crescimento considerando apenas a parte da frente da cicatriz, onde o diâmetro aumentou até o 9° mês e o leitor gera sinal mais próximo ao caule. Já no 10° mês o diâmetro do caule da amostra foi menor que no 9° mês e o sinal foi captado mais distante do caule na parte da frente da cicatriz. Considerando a parte de trás da cicatriz, há grande diferença de distância de leitura do 3° para o 6° mês sendo que o esperado era de que conforme o aumento do diâmetro seria necessário uma distância menor para realização da leitura (quanto maior o diâmetro, mais perto o leitor teria que estar do caule para gerar o sinal). Assim, é difícil estabelecer um padrão de distância de leitura em relação ao diâmetro do caule na altura da cicatriz para o cedro. Talvez esta falta de relação esteja associada à posição do microchip dentro do caule, podendo estar posicionado mais para borda ou para o meio do caule. 1 2 3 6 9 10 D is tâ nc ia d e le itu ra (c m ) Meses após o implante 30 2.1.2. Jacarandá-da-bahia Figura 8. Relação entre o desenvolvimento do caule (medido pelo diâmetro) e o tempo (meses) das mudas de jacarandá-da-bahia Figura 9. Relação entre a distância de leitura (cm) da parte da frente da cicatriz de implante ( ), parte de trás da cicatriz de implante ( ) e os meses de corte das mudas de jacarandá-da-bahia Considerando os dois gráficos é possível notar que não há um crescimento considerável nos três primeiros meses, mas há variação nas distâncias de leitura tanto na parte da frente quanto na de trás da cicatriz. Há uma variação de 3,3 cm de diâmetro de caule entre o 3° e o 6° mês e a leitura na parte da frente é de mesma distância. Na leitura na parte de trás da cicatriz o estabelecimento de uma relação fica ainda mais difícil já que há variação de 1,54 cm de distância de leitura entre o 6° e o 9° mês e 1,4 cm de proximidade entre o 9° e o 10° e entre eles há aumento de diâmetro. D is tâ nc ia d e le itu ra (c m ) 1 2 3 6 9 10 Meses após o implante D iâ m et ro d o ca ul e (c m ) 1 2 3 6 9 10 Meses após o implante 31 É possível verificar que no 3° mês, a distância de leitura na parte da frente e na parte de trás são praticamente as mesmas, talvez isso de deva a posição do microchip no interior do caule, este pode estar exatamente no meio do caule e a presença da cicatriz não apresenta melhor de detecção do sinal. Assim, também é difícil estabelecer um padrão de distância de leitura em relação ao diâmetro do caule na altura da cicatriz para o jacarandá-da-bahia. Talvez esta falta de relação esteja associada à posição do microchip dentro do caule, podendo estar posicionado mais para borda ou para o meio do caule. 2.1.3. Pau-brasil Figura 10. Relação entre o desenvolvimento do caule (medido pelo diâmetro) e o tempo (meses) das mudas de pau-brasil D iâ m et ro d o ca ul e (c m ) 1 2 3 6 9 10 Meses após o implante 32 Figura 11. Relação entre a distância de leitura (cm) da parte da frente da cicatriz de implante ( ), parte de trás da cicatriz de implante ( ( ) e os meses de corte das mudas de pau-brasil Analisando os dois gráficos é possível verificar que nos três primeiro meses também não houve grande alteração no diâmetro do caule, mas houve grandes variações nas distâncias de leitura, sendo o 2° mês o de maior distância de leitura na parte da frente da cicatriz e o 1°e o 3° mês praticamente com a mesma distância de leitura também na frente mas na parte de trás possuem uma diferença de 2,85 cm de diferença de distância de leitura. Já do 3° para o 6° mês, houve diminuição na distância de leitura na parte da frente, que mantida até o 9° mês, mesmo com o aumento do diâmetro do tronco. Considerando os mesmos meses, a mesma situação é observada na leitura da parte de trás. No 10° mês, o de maior diâmetro, a leitura na parte da frente possui maior distância que o 9° mês e a leitura mais próxima do caule (menor distância) que o 9° mês na parte de trás, era esperado o contrário, maior diâmetro, menor a distancia. Mais uma vez, é difícil estabelecer um padrão de distância de leitura em relação ao diâmetro do caule na região da cicatriz para o pau-brasil. Talvez esta falta de relação esteja associada à posição do microchip dentro do caule, podendo estar posicionado mais para borda ou para o meio do caule. D is tâ nc ia d e le itu ra (c m ) 1 2 3 6 9 10 Meses após o implante 33 2.2. Análises macroscópicas As imagens do raio-x mostram nitidamente a posição do microchip no lenho de cada espécies (figura 12), através da diferença de densidade entre os tecidos vegetais e o do microchip. Também é possível verificar a formação de um tecido diferenciado ao redor do microchip implantado. Figura 12. Positivo do Raio X de um mês de jacarandá-da-bahia mostrando nitidamente a posição do microchip A avaliação das estruturas macroscópicas produzidas pelo uso da lupa evidenciou a formação de um alo de reação de cicatrização na região de inserção do microchip, característico em cada espécie. 34 2.2.1 Cedrela odorata (cedro-rosa) Observa-se a presença do halo de cicatrização de coloração mais avermelhada e de pequeno diâmetro ao redor do microchip (figura 13 A). Nas amostras de plântulas mais maduras (figura 13 C e E), o diâmetro do halo diminui, indicando que com o amadurecimento do lenho há tendência de diminuição do halo. Figura 13. Amostras macroscópicas de cedro de 2 meses (A) e aumento na parte de inserção do microchip (B); 6 meses (C) e aumento na parte de inserção do microchip (D); 9 meses (E) e aumento na parte de inserção do microchip (F) 35 2.2.2. Dalbergia nigra (jacarandá-da-bahia) Observa-se que halo de cicatrização possui coloração marrom-claro e de pequeno diâmetro ao redor do microchip. Algumas amostras possuem uma faixa contínua e quase chega a outra extremidade da área de inserção do microchip (figura 14 A). As amostras de plântulas mais maduras não mostraram muita diferença das mais novas (figura 14 C), possuindo também esse alo diferenciado e de mesma proporção ao redor do microchip. Figura 14. Amostras macroscópicas de jacarandá da bahia controle (A) e aumento na parte de inserção do microchip (B); 6 meses (C) e aumento na parte de inserção do microchip (D); 9 meses (E) e aumento na parte de inserção do microchip (F) 36 2.2.3. Caesalpinia echinata (pau-brasil) Observa-se que o halo de cicatrização possui a coloração mais escura dentre as espécies estudadas, contendo até tons de preto, e abrange uma parcela muito maior do lenho, formando uma faixa que atinge de uma extremidade à outra, mesmo em amostras mais maduras (figuras 15 A e C). Figura 15. Amostras macroscópicas de pau-brasil de um mês (A) e aumentos na parte de inserção do microchip (B ); 6 meses (C) e aumento na parte de inserção do microchip (D e E); 9 meses (F) e aumento na parte de inserção do microchip (G) 37 A reação à inserção do microchip mais distinta e mais característica foi observada nas amostras de pau-brasil e deve estar relacionada com sua menor taxa de crescimento em diâmetro, em relação as demais espécies e também pode estar relacionado com a velocidade de perfuração do lenho já que esta foi a única espécies com implante realizado por furadeira e pode ter provocado um aumento na temperatura durante a perfuração. O cedro apresentou uma diminuição do halo em indivíduos mais desenvolvidos, sendo esta a espécie com maior taxa de crescimento, comparada com as outras espécies estudadas. Esta característica de diminuição do tecido de cicatrização pode ser uma tendência para as outras duas espécies, mas como a taxa de desenvolvimento das mesmas é inferior ao cedro, não é possível notar tal característica. De uma forma geral, entre as três espécies e todas as amostras, também foi possível notar que com o desenvolvimento das mudas, o microchip se manteve no meio do lenho. 38 3. CONCLUSÕES Por meio das análises realizadas, é possível afirmar que a introdução de microchip utilizando parafusadeira ou furadeira é viável, já que não houve nenhum óbito dos exemplares após o implante e nem rejeição do microchip pelas mudas. Porém os dados também mostram que há um dano considerável nos tecidos vegetais, sendo necessário pesquisas para se desenvolver uma técnica que danifique menos os tecidos vegetais e padronize a posição de implante, já que estes foram realizados à mão livre. As leituras podem ser realizadas tanto na área de cicatrização ou em qualquer região de mesma altura de implante do microchip, sendo que a distância de leitura varia, mas não de forma padrão. Pelas análises macroscópicas é possível verificar que o microchip se mantém na parte central do lenho sendo sua expulsão uma hipótese rejeitada e o implante efetivo, assim como sua certificação, mantendo a identificação do indivíduo se houver a manutenção do sinal de leitura pela microchip. 39 4. REFEÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, R. R. Certificação florestal e o mercado moveleiro nacional. Rev. Árvores, Viçosa - MG, vol. 33, n. 3, p.583-589. 2009. 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Disponível em. http://www.fsc.org.br/. Acessado em abril de 2009 GREENPEACE. FSC: Madeira para sempre, disponível em http://www.greenpeace.org/brasil/amazonia/fsc-e-a-explora-o-sustentavel. Acessado em abril de 2009. LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Nova Odessa: Plantarum, p.200, 1992a. LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Nova Odessa: Plantarum., p.145, 1992b. MORELLATO, L. P. C. Estudo da fenologia de árvores e lianas de uma floresta semidecídua no sudeste do Brasil. 1991, p. 102. Tese (Doutorado) - Universidade de Campinas/Instituto de Biologia, Campinas, SP. PAULA, J. E. de. 897 Madeiras Nativas do Brasil: Anatomia, dendrologia, dendometria, produção e uso. Porto Alegre: Cinco Continentes, 1997,438p. RIBEIRO, J. 472 espécies da flora brasileira estão ameaçadas de extinção. Publicada em 24 de setembro de 2008. 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INTRODUÇÃO 2. RESULTADOS E DISCUSSÕES 3. CONCLUSÕES 4. REFEÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS