UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – UNESP FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO JEAN FERNANDES BRITO ECOLOGIA INFORMACIONAL COMPLEXA EM MUSEUS: TESSITURAS TEÓRICAS E PROPOSTA DE MODELO Marília 2023 JEAN FERNANDES BRITO ECOLOGIA INFORMACIONAL COMPLEXA EM MUSEUS: TESSITURAS TEÓRICAS E PROPOSTA DE MODELO Tese apresentada à Universidade Estadual Paulista (Unesp), Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação (PPGCI), como parte das exigências para obtenção do título de Doutor em Ciência da Informação, na Área de Informação, Tecnologia e Conhecimento. Orientador: Prof. Dr. Daniel Martínez-Ávila. Coorientadora: Profa. Dra. Silvana Aparecida Borsetti Gregorio Vidotti. Linha de Pesquisa: Produção e Organização da Informação. Financiamento: CAPES – Código 001. Marília 2023 IMPACTO POTENCIAL DESTA PESQUISA A referida tese de doutorado possui um impacto social significativo, uma vez que melhora a experiência dos sujeitos informacionais, promove a inclusão e o acesso, incentiva a colaboração e o engajamento do público, além de impulsionar práticas inovadoras no contexto das ecologias informacionais complexas em museus, abrangendo aspectos de produção, organização e tecnologias de informação e comunicação. Ao desenvolver e contextualizar o modelo de ecologia informacional complexa em museus, denominado MEIC-M, que compreende os fluxos de informação e propõe diretrizes para personalização e participação ativa, a pesquisa contribui para a valorização do patrimônio cultural, ampliação do acesso ao conhecimento e enriquecimento das interações sociais nos museus. Além disso, ao abordar a diversidade cultural e as necessidades individuais dos sujeitos informacionais, a pesquisa busca garantir que os museus se tornem ambientes inclusivos e envolventes para todas as pessoas, fortalecendo, assim, a democratização do acesso à cultura e o compartilhamento de perspectivas diversas. Nessa tônica vale destacar que os museus desempenham um papel fundamental na promoção dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, ao permitirem a preservação e divulgação da cultura e história das sociedades, contribuindo para a valorização da diversidade cultural (ODS 11). Além disso, os museus contribuem para a educação, promovendo a conscientização sobre questões ambientais, sociais e econômicas, o que está alinhado com os ODS de Educação de Qualidade (ODS 4) e Ação Climática (ODS 13). Por fim, os museus também fomentam o turismo sustentável, impulsionando a economia local e criando oportunidades de emprego (ODS 8), ao mesmo tempo em que promovem a conservação do patrimônio cultural e natural (ODS 12 e ODS 14). POTENTIAL IMPACT OF THIS RESEARCH This doctoral thesis has a significant social impact, as it improves the experience of informational subjects, promotes inclusion and access, encourages collaboration and public engagement, in addition to boosting innovative practices in the context of complex informational ecologies in museums, covering aspects of production, organization and information and communication technologies. By developing and contextualizing the model of complex informational ecology in museums, called MEIC-M, which comprises information flows and proposes guidelines for personalization and active participation, the research contributes to the appreciation of cultural heritage, expansion of access to knowledge and enrichment of social interactions in museums. In addition, by addressing cultural diversity and the individual needs of informational subjects, the research seeks to ensure that museums become inclusive and engaging environments for all people, thus strengthening the democratization of access to culture and the sharing of diverse perspectives. In this vein, it is worth noting that museums play a key role in promoting the UN Sustainable Development Goals (SDGs), by allowing the preservation and dissemination of the culture and history of societies, contributing to the appreciation of cultural diversity (SDG 11). In addition, museums contribute to education by raising awareness of environmental, social and economic issues, which is in line with the Quality Education SDGs (SDG 4) and Climate Action (SDG 13). Finally, museums also foster sustainable tourism, boosting the local economy and creating job opportunities (SDG 8), while promoting the conservation of cultural and natural heritage (SDG 12 and SDG 14). IMPACTO POTENCIAL DE ESTA INVESTIGACIÓN Esta tesis doctoral tiene un importante impacto social, ya que mejora la experiencia de los sujetos informacionales, promueve la inclusión y el acceso, fomenta la colaboración y el compromiso público, además de impulsar prácticas innovadoras en el contexto de ecologías informacionales complejas en los museos, abarcando aspectos de producción, organización y tecnologías de la información y la comunicación. Al desarrollar y contextualizar el modelo de ecología informacional compleja en museos, denominado MEIC-M, que comprende flujos de información y propone lineamientos para la personalización y participación activa, la investigación contribuye a la valorización del patrimonio cultural, ampliación del acceso al conocimiento y enriquecimiento de la vida social. interacciones en los museos. Además, al abordar la diversidad cultural y las necesidades individuales de los sujetos informativos, la investigación busca garantizar que los museos se conviertan en entornos inclusivos y atractivos para todas las personas, fortaleciendo así la democratización del acceso a la cultura y el intercambio de perspectivas diversas. En este sentido, vale la pena señalar que los museos juegan un papel clave en la promoción de los Objetivos de Desarrollo Sostenible (ODS) de la ONU, al permitir la preservación y difusión de la cultura y la historia de las sociedades, contribuyendo a la valorización de la diversidad cultural (ODS 11). . Además, los museos contribuyen a la educación mediante la sensibilización sobre cuestiones ambientales, sociales y económicas, lo que está en línea con los ODS de Educación de Calidad (ODS 4) y Acción Climática (ODS 13). Finalmente, los museos también fomentan el turismo sostenible, impulsando la economía local y creando oportunidades de trabajo (ODS 8), al tiempo que promueven la conservación del patrimonio cultural y natural (ODS 12 y ODS 14). JEAN FERNANDES BRITO ECOLOGIA INFORMACIONAL COMPLEXA EM MUSEUS: TESSITURAS TEÓRICAS E PROPOSTA DE MODELO COMISSÃO JULGADORA Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Ciência da Informação. Presidente e Orientador: Prof. Dr. Daniel Martínez-Ávila Professor no Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da Universidade Estadual Paulista, Unesp, Campus de Marília. Membro titular: Profa. Dra. Renata Cardozo Padilha Professora do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, Campus de Florianópolis. Membro titular: Prof. Dr. Fabio Rogério Batista Lima Professor Associado do Instituto de Pesquisas e Educação continuada PECEGE/ ESALQ/ Universidade de São Paulo (USP) Membro titular: Profa. Dra. Ângela Maria Grossi Professora do Programa de Pós-graduação em Mídia e Tecnologia pela Universidade Estadual Paulista, Unesp, Campus de Bauru. Membro titular: Profa. Dr. Edgar Bisset Alvarez Professora do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, Campus de Florianópolis. Marília, 31 de março de 2023. Aos Meus Pais, Elias e Florisnal, por serem amor em minha vida. O QUE A CAPES E O CNPQ SIGNIFICAM EM MINHA TRAJETÓRIA Sou nascido e criado no Município de Salto Grande – SP. Filho de ex cortador de cana e mãe empregada doméstica. Minha mãe estudou até a quarta série e meu pai até a quinta. Mesmo com toda a dificuldade eles sempre deram o melhor para mim e para os meus dois irmãos, Ricardo e Robison. Aos 17 anos saí de casa e ingressei em uma universidade pública na Universidade Estadual Paulista (Unesp) na cidade de Marília, tive bolsa de permanência estudantil e morei na moradia. Cursei o bacharelado em Biblioteconomia, curso que me proporcionou muitas alegrias e aprendizados. Nesse período, durante a graduação orientado pela Profa. Silvana Vidotti, fui contemplado durantes três anos com bolsa de iniciação científica pelo CNPq, na época o valor era de R$400,00. Essa bolsa, além do auxílio financeiro, despertou em mim o interesse pela pesquisa e olhar crítico para a sociedade. Fui o primeiro da família a ingressar em uma universidade. Após a conclusão da graduação em 2015, tive a oportunidade de emprego como bibliotecário na cidade de Rosana, interior de SP, e no ano de 2017 fui aprovado em primeiro lugar no mestrado na linha de pesquisa: Informação, Gestão e Tecnologia e mais uma vez em uma universidade pública, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), no Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação. Durante o mestrado fui contemplado por dois anos com bolsa CAPES. Por meio dessa oportunidade concluí o mestrado e pude ser aprovado em dois Doutorados, na UFSC e na Unesp. Acabei escolhendo a Unesp por motivos pessoais e por estar próximo à minha família. Nesse período de doutorado fui bolsista CAPES, bolsista Univesp, e pude atuar como professor substituto na Unesp, Campus de Marília, nos cursos de Arquivologia e Biblioteconomia. Coorientei um trabalho de iniciação científica. Além de ter apresentado trabalho em congressos e publicado artigos científicos com parceiros e parceiras de pesquisa. E hoje encerro esse momento de mais um ciclo e de aprendizagem acadêmica, o doutorado na Unesp. Sou grato a Deus por todas as oportunidades que tive durante esse período de quatro anos. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a DEUS e às todas as pessoas e instituições que fizeram parte da minha vida acadêmica e que me auxiliaram a chegar ao fim desta jornada. Agradeço à intercessão de Nossa Senhora de Guadalupe, a qual eu consagrei esse doutorado. Agradeço à minha família, em especial à minha mãe, Florisnal de Fátima, e ao meu pai, Elias Brito, pela paciência e pela atenção com que ouviram todas as minhas reclamações, choros e histórias do doutorado. Agradeço aos meus irmãos, Robison e Ricardo, às minhas cunhadas, Juliana e as minhas sobrinhas Heloiza e Larissa, por serem amor em minha vida. Ao meu orientador Prof. Daniel Martínez-Ávila pela confiança, e por ter me escolhido para ser o seu orientando no processo seletivo de 2018. Sempre presente e parceiro em todas as discussões e decisões científicas. Meu muito obrigado. À minha coorientadora Profa. Silvana, parceira de pesquisa desde a graduação. Agradeço pelos cafés e às oportunidades de convívio, principalmente quando estive em São Paulo durante a coleta de dados. A todos os funcionários da Faculdade de Filosofia e Ciências da Unesp, Campus de Marília, em especial à equipe da Biblioteca, da Zeladoria, e a Seção de Pós-graduação, pela presença e dedicação no trabalho. Às coordenadoras do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação, a Profa. Marta Valentim e, posteriormente, a Profa. Helen Casarin, por sempre estarem disponíveis para ajudar e tirar as dúvidas necessárias sobre o programa. Aos Professores da Pós-Graduação pelas aulas e por todos os ensinamentos durante as disciplinas que foram cursadas, em especial à Profa. Marta, Prof. Oswaldo, Profa. Deise Sabbag, Profa. Daniele Achiles, Profa. Silvana Vidotti, Profa. Tamara, Prof. Cecílio Rodas, Prof. Henry, Profa. Paloma, Prof. Daniel e Profa. Carolinne Luvizotto. À banca examinadora de qualificação, Profa. Renata Padilha e Prof. Fábio pelos apontamentos necessários para a conclusão da tese. À banca examinadora da defesa, Profa. Renata Padilha, Prof. Fábio, Prof. Edgar e Profa. Angela Grossi pelos apontamentos e melhorias nessa etapa de conclusão da tese. Extensivo também aos suplentes Profa. Deise Sabbag, Profa. Daniele Achiles e Prof. Bruno Machado. Muito obrigado!! Agradeço ao Franco Reinaudo, ex-diretor do Museu da Diversidade, que me acolheu tão bem em São Paulo e sempre esteve disponível para ajudar no que fosse necessário a pesquisa. Agradeço também a toda os educadores do museu e todos os sujeitos com envolvimento na pesquisa de campo. Novamente, um agradecimento especial à Renata Padilha, que alinhou os contatos com a equipe gestora do museu, e pelas conversas e cafés virtuais com dúvidas sobre a pesquisa. Aos amigos da Família Acadêmica, pelo diálogo, amizade e pelos cafés, e por estarem sempre presentes, em especial Gustavo Camossi, Gustavo Trevisan, Henry Poncio, Mariana Brandt, Flavinha, Fernando Vechiato, Cecílio, Fernanda Sanchez, Edgar Bisset, Sandra Milena, Santarém Segundo e Manu Torino. Agradeço à Univesp pela bolsa concedida durante dois anos como facilitador de aprendizagem. Sem dúvidas levarei comigo todos os alunos e as parcerias construídas. "O presente trabalho foi realizado com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de financiamento 001". Um agradecimento mais que especial à amiga Manu Torino pela amizade construída, principalmente pelas andanças em SP. À minha amiga Rafaela Carolina pelos 10 anos de amizades construídos desde a graduação!! Aos meus amigos que sempre estão comigo de forma presencial ou virtual, em especial Rayssa Maria, Lu, Valter Scarpelim, Priscila Fagundes, Raffaela Afonso, Adriana Cativelli, Priscila Sena, Everton Rodrigues, Rafael Castanha, Bianca, Wilsinho, Mariana Mello, Bia, Bruno Machado, João Gabriel, Ana Corrêa, Brenno Demarchi, Keitty e Amabile Costa. Agradeço também ao Padre Francisco da Paróquia Nossa Senhora do Patrocínio de Salto Grande, SP. Agradeço a cozinha da Vizinha na pessoa da Carol Araújo, por ter cedido o espaço por diversas vezes para que a tese fosse concluída. Muitas e muitas laudas foram escritas nessa cafeteria. Agradeço à Ju Antonangelo pela colaboração no desenvolvimento das figuras que foram utilizadas nessa tese. Ao jornalista Caio Túlio da Costa pela revisão gramatical da tese. O sentimento é de GRATIDÃO!! “Quero estar ao lado de pessoas que abraçam causas e abraçam pessoas” (Autor desconhecido). “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas, ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana” (Carl Jung). BRITO, Jean Fernandes. Ecologia informacional complexa em museus: tessituras teóricas e proposta de modelo. Orientador: Daniel Martínez-Ávila. Coorientadora: Silvana Aparecida Borsetti Gregório Vidotti. 2023. 193. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação – Faculdade de Filosofia e Ciências – Universidade Estadual Paulista (UNESP), Marília, 2023. RESUMO Esta tese de doutorado apresenta a proposta de um modelo procedimental de ecologia informacional complexa para museus intitulado MEIC-M. A pesquisa está delineada por meio do método quadripolar, estruturados em quatro polos investigativos: polo epistemológico, polo teórico, polo técnico e morfológico, por meio de um aporte teórico da Ciência da Informação e da Museologia. O polo epistemológico apresenta uma reflexão acerca da Ciência da Informação e paradigma social da informação, o polo teórico discute a Arquitetura da Informação e as ecologias informacionais complexas, as estruturas, espaços e os ambientes dos museus, e a Museologia sob uma perspectiva sociocultural. O polo técnico elucida os procedimentos metodológicos, na qual possui uma abordagem qualitativa do tipo exploratória e bibliográfica, valendo-se do método etnográfico para a coleta, análise e discussão dos resultados. Os museus integraram ao seu cotidiano elementos tecnológicos, o que trouxe a exigência de repensar o acesso, a representação e uso da informação nesses ambientes. Os volumes informacionais que são apresentados e representados por meio de exposições e objetos museológicos estão interligados por diversos canais, mídias, espaços, ambientes ligados holisticamente pela informação e necessitam de uma estrutura efetiva para que os sujeitos consigam se localizar e utilizar desses ambientes com efetividade. A investigação que propomos nessa tese é orientada por uma fundamentação teórica e metodológica baseada no conhecimento de Ciência da Informação e da Museologia, tendo como objetivo geral propor um modelo de ecologia informacional complexa para museus. Os objetivos específicos são: relacionar as funções estruturais dos museus com as ecologias informacionais complexas; apresentar e descrever o modelo de ecologia informacional complexa para museus e aplicar o modelo proposto no Museu da Diversidade Sexual da cidade de São Paulo, buscando compreender um possível funcionamento ecológico nesse ambiente. Uma estruturação de ambientes em museus por meio dos estudos das ecologias informacionais complexas permite que os sujeitos informacionais tenham acesso às experiências cross-channel em museus, por meio de um acesso efetivo e holístico. No contexto do polo morfológico apresentamos o relacionamento dos museus no contexto das ecologias informacionais complexas, bem como as funções dos museus nesse contexto. Nesse diálogo em específico destacamos a comunicação museológica como subárea que dialoga com todas as estruturas da ecologia. O modelo proposto, por sua vez, apresenta quatro etapas em sua composição de modo a permitir a sistematização em museus de pequeno e médio porte. A aplicação do modelo de ecologia no Museu da Diversidade permitiu conhecer a realidade do Museu da Diversidade Sexual, bem como propor diretrizes para melhoria em sua ecologia informacional complexa. Conclui-se que a estruturação das ecologias informacionais complexas, ao serem aplicadas no contexto dos museus, amplia as possibilidades de otimização de acesso aos sujeitos informacionais que utilizam os ambientes digitais, analógicos e as tecnologias. Palavras-chave: Ecologias informacionais complexas. Museu da Diversidade Sexual. Museologia Social. BRITO, Jean Fernandes. Ecologia informacional complexa em museus: tessituras teóricas e proposta de modelo. Orientador: Daniel Martínez-Ávila. Coorientadora: Silvana Aparecida Borsetti Gregório Vidotti. 2023. 193 f. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação – Faculdade de Filosofia e Ciências – Universidade Estadual Paulista (UNESP), Marília, 2023. ABSTRACT This doctoral thesis presents the proposal of a procedural model of complex informational ecology for Museums entitled MEIC-M. The research is outlined through the quadripolar method, represented by four investigative poles: epistemological pole, theoretical pole, technical, and morphological pole, through a theoretical contribution of information science and museology. The epistemological pole presents a reflection on information science and the social paradigm of information, the theoretical pole discusses Information architecture and complex informational ecologies, the structures, spaces, and environments of museums, and museology from a sociocultural perspective. The technical pole elucidates the methodological procedures, in which it has a qualitative approach of the exploratory and bibliographical type, using the ethnographic method for the collection, analysis, and discussion of the results. museums have integrated technological elements into their daily lives, which brought the necessity to rethink access, representation, and use of information in these environments. The informational volumes that are presented and represented through exhibitions and museum objects are interconnected, through different channels, media, spaces, environments holistically linked by information and require an effective structure in order to the subjects can locate and use these environments effectively. The investigation that we propose in this thesis is guided by a theoretical and methodological foundation based on the knowledge of information science and museology, having as general objective the proposal of a model of complex informational ecology for museums. The specific objectives are: to relate the museum structural functions with complex informational ecologies; present and describe the complex informational ecology model for museums, and apply the proposed model in the Museum of Sexual Diversity in the city of São Paulo, seeking to understand a possible ecological functioning in this environment. Certainly, a structuring of environments in museums through studies of complex informational ecologies allow informational subjects to have access to cross-channel experiences in museums, through optimized access. In the context of the morphological pole, we present the relationship of museums in the context of complex informational ecologies, as well as the subareas of museology in this context. In this specific dialogue, we highlight museological communication as a subarea that dialogues with all structures of ecology. The proposed model, in turn, presents four stages in its composition in order to allow the systematization in small and medium-sized museums. The application of the ecology model in the Museum of Diversity made it possible to know the reality of the Museum of Sexual Diversity, as well as to propose guidelines for improving its complex informational ecology. It is concluded that the structuring of complex informational ecologies when applied in the context of museums expand the possibilities of optimizing access to informational subjects who use digital and analog environments and technologies. Keywords: Complex Informational Ecologies. Museum of sexual diversity. Social Museology. BRITO, Jean Fernandes. Ecologia informacional complexa em museus: tessituras teóricas e proposta de modelo. Orientador: Daniel Martínez-Ávila. Coorientadora: Silvana Aparecida Borsetti Gregório Vidotti. 2023. 193 f. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação – Faculdade de Filosofia e Ciências – Universidade Estadual Paulista (UNESP), Marília, 2023. RESUMEN Esta tesis doctoral presenta la propuesta de un modelo procedimental de ecología informacional compleja para museos, denominado MEIC-M. La investigación se plantea a través del método cuadripolar, representado por cuatro polos investigativos, polo epistemológico, polo teórico, polo técnico y polo morfológico, a través de un aporte teórico de las ciencias de la información y la museología. El polo epistemológico presenta una reflexión sobre las ciencias de la información y el paradigma social de la información, el polo teórico discute la arquitectura de la Información y las ecologías informacionales complejas, las estructuras, espacios y ambientes de los museos, y la museología desde una perspectiva sociocultural. El polo técnico aclara los procedimientos metodológicos, en los que tiene un enfoque cualitativo, de tipo exploratorio y bibliográfico, utilizando el método etnográfico para la recolección, análisis y discusión de los resultados. Los museos han integrado elementos tecnológicos en su vida cotidiana, lo que trajo la necesidad de repensar el acceso, la representación y el uso de la información en estos entornos. Los volúmenes informativos que se presentan y representan a través de exposiciones y objetos de museo están interconectados, a través de diferentes canales, medios, espacios, entornos vinculados holísticamente por la información y requieren una estructura efectiva para que los sujetos puedan ubicar y utilizar estos entornos de manera efectiva. La investigación que proponemos en esta tesis guiada por una fundamentación teórica y metodológica basada en conocimientos de ciencias de la información y museología, tiene como objetivo general proponer un modelo de ecología informacional compleja para museos. Los objetivos específicos son: relacionar las subáreas de la museología con las ecologías informacionales complejas; presentar y describir el modelo de ecología informacional compleja para museos y aplicar el modelo propuesto en el Museo de la Diversidad Sexual de la ciudad de São Paulo, buscando comprender un posible funcionamiento ecológico en este ambiente. Ciertamente, una estructuración de ambientes en museos a través de estudios de ecologías informacionales complejas, permite que los sujetos informacionales tengan acceso a experiencias de canales cruzados en museos, a través de un acceso optimizado. En el contexto del polo morfológico, presentamos la relación de los museos en el contexto de las ecologías informacionales complejas, así como las subáreas de la museología en este contexto. En este diálogo específico, destacamos la comunicación museológica como una subárea que dialoga con todas las estructuras de la ecología. El modelo propuesto, a su vez, presenta cuatro etapas en su composición para permitir la sistematización en museos pequeños y medianos. La aplicación del modelo de ecología en el museo de la diversidad permitió conocer la realidad del Museo de la Diversidad Sexual, así como proponer pautas para mejorar su compleja ecología informacional. Se concluye que la estructuración de ecologías informacionales complejas cuando se aplica en el contexto de los museos amplía las posibilidades de optimizar el acceso a los sujetos informacionales que utilizan entornos y tecnologías digitales y analógicas. Palabras-clave: Ecologías Informacionales Complejas. Museo de la diversidad sexual. Museología Social. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Delineamento da pesquisa no contexto do Método Quadripolar.................... 24 Figura 2 - Campo epistemológico da Ciência da Informação......................................... 30 Figura 3 - Perspectivas contemporâneas........................................................................ 31 Figura 4 - Tríade da Arquitetura da Informação............................................................. 34 Figura 5 - Modelo de Arquitetura da Informação Pervasiva........................................... 40 Figura 6 - Delineamento do conceito de ecologia informacional complexa................... 42 Figura 7 - MASP e seu entorno na Avenida Paulista...................................................... 49 Figura 8 - Esquema de organização de um museu de médio porte.................................. 53 Figura 9 - Esquema de organização de um museu de grande porte................................. 53 Figura 10 - Funções estruturais dos museus................................................................... 54 Figura 11 - Objeto museológico: cerâmica com estilo decorativo.................................. 56 Figura 12 - Acervo digital do Museu do Futebol............................................................ 59 Figura 13 - Visita virtual da Memória da Resistência: Elas Vão As Ruas....................... 61 Figura 14 - Realidade virtual: Mona Lisa "Beyond The Glass” ..................................... 62 Figura 15 - Candido Portinari em realidade aumentada.................................................. 63 Figura 16 - Perfil no Instagram do Museu da Língua Portuguesa................................... 64 Figura 17 – Divulgação da exposição do Instagram do Museu da Língua Portuguesa. 65 Figura 18 - Busca na coleção no MUTHA...................................................................... 68 Figura 19 - Página principal do website do Museo LGBTQ........................................... 69 Figura 20 - Sala de exposição do Museo LGBT............................................................. 69 Figura 21 – Palácio dos Campos Elíseos: sede do Museu das Favelas............................ 71 Figura 22 - Exposição Favela Raíz: Museu das Favelas............................................... 71 Figura 23 - Atividade de capoeira no Museu da Maré.................................................... 72 Figura 24 - Etapas da pesquisa....................................................................................... 76 Figura 25 - Diário de campo........................................................................................... 83 Figura 26 - Plano de gestão de dados da pesquisa utilizando o DMPTool...................... 85 Figura 27 - Estrutura das ecologias informacionais complexas em museus.................... 88 Figura 28 - Uso e busca de informação no sistema museal............................................. 91 Figura 29 - Ambientes, sujeitos e tecnologias em museus.............................................. 93 Figura 30 - As funções estruturais dos museus e as EIC................................................. 98 Figura 31 - Elementos no contexto da ecologia informacional complexa em museus... 99 Figura 32 - Modelo de ecologia informacional complexa para museus (MEIC-M)........ 102 Figura 33 - Entrada principal do Museu da Diversidade Sexual..................................... 105 Figura 34 - Ecologia informacional complexa do Museu da Diversidade Sexual........... 107 Figura 35 - Página do website do Museu da Diversidade Sexual.................................... 108 Figura 36 - Feed do Facebook do Museu da Diversidade Sexual.................................... 108 Figura 37 - Página principal do Twitter do Museu da Diversidade Sexual..................... 109 Figura 38 - Página do Instagram no browser.................................................................. 109 Figura 39 - Exposição virtual Queerentena.................................................................... 110 Figura 40 - Parte externa do metrô República (saída da Praça da República)................. 111 Figura 41 - Interior do Museu da Diversidade Sexual..................................................... 112 Figura 42 - Sala de exposição do Museu da Diversidade Sexual.................................... 113 Figura 43 - Exposição na parte interna do Museu da Diversidade Sexual....................... 113 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Estrutura da tese e seus respectivos polos..................................................... 27 Quadro 2 - Elementos da Arquitetura da Informação..................................................... 35 Quadro 3 - Significados das palavras: arquitetura e pervasivo....................................... 37 Quadro 4 - Fatos que instalaram uma emergência da AIP.............................................. 38 Quadro 5 - Tipos arquitetônicos de museus.................................................................... 50 Quadro 6 - Estratégias de musealização......................................................................... 51 Quadro 7 - Alguns tipos de documentos presentes em museus....................................... 55 Quadro 8 - Pontos fundamentais das tecnologias em museus......................................... 58 Quadro 9 - Associações da EIC com a pesquisa etnográfica........................................... 81 LISTA DE SIGLAS AI Arquitetura da Informação AIP Arquitetura da Informação Pervasiva ANCIB ANTRA Associação Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação Associação Nacional de Travestis e Transexuais BDTD Biblioteca Digital de Teses e Dissertações BRAPCI Base de Dados Referenciais da Ciência da Informação CAPES CIDOC Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior Comitê International pour la Documentation CNPq CPTM CRM Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Companhia Trens de São Paulo Conceptual Reference Model EIC Ecologias Informacionais Complexas ENANCIB Encontro Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Ciência da Informação FFC Faculdade de Filosofia e Ciências GP-NTI Grupo de Pesquisa Novas Tecnologias em Informação GT Grupo de Trabalho IBICT Instituto Brasileiro de Ciência e Tecnologia IBRAM Instituto Brasileiro de Museus ICOM International Council of Museums ITI – RG Inteligência, Tecnologia e Informação LGBT+ Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e outras identidades MDS Museu da Diversidade Sexual MEIC-M MIT NDLTD ONU OS Modelo de Ecologias Informacionais Complexas para Museus Massachusetts Institute of Technology Networked Digital Library of Theses and Dissertations Organização das Nações Unidas Organizações Sociais PGD Plano de Gestão de Dados PIBIC Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica POI Produção e Organização da Informação PROPG Programa de Pós-graduação TIC Tecnologias de Informação e Comunicação TCC Trabalho de Conclusão de Curso UFSC UNESCO Universidade Federal de Santa Catarina Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura UNESP Universidade Estadual Paulista WWW World Wide Web WoS Web of Science SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................... 17 1.1 A pesquisa no contexto do Método Quadripolar ............................. 23 1.1.1 Polo epistemológico ........................................................................... 25 1.1.2 Polo teórico .......................................................................................... 26 1.1.3 Polo técnico ......................................................................................... 26 1.1.4 Polo morfológico ................................................................................. 26 1.2 Estrutura da tese ................................................................................. 26 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E EPISTEMOLÓGICA ....................... 29 2.1 A Ciência da Informação e o paradigma social da informação ........ 29 2.2 Arquitetura da informação e as ecologias informacionais complexas ............................................................................................ 33 2.3.1 Estruturas, espaços e ambientes de museus .................................... 46 2.3.2 Tecnologias de informação e comunicação no contexto dos museus ................................................................................................. 58 2.3.3 Museologia Social: aplicações e exemplos ....................................... 66 2.4 Trabalhos realizados durante o doutoramento ................................. 73 3 PERCURSOS E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .................... 76 3.1 Etapas da pesquisa .............................................................................. 76 3.2 Procedimentos metodológicos ........................................................... 77 3.3 A etnografia enquanto pesquisa de campo e aplicação do modelo .................................................................................................. 80 3.3.1 O pesquisador em campo .................................................................... 82 3.3.2 Aspectos éticos da pesquisa .............................................................. 84 3.3.3 Dados da pesquisa e plano de gestão de dados ............................... 84 4 OS MUSEUS COMO ECOLOGIA INFORMACIONAL COMPLEXA ..... 87 4.1 Ambientes, tecnologias e comportamento dos sujeitos no contexto dos museus .......................................................................... 87 4.2 O enlace das funções estruturais dos museus com as ecologias informacionais complexas .................................................................. 94 5 MODELO DE ECOLOGIA INFORMACIONAL COMPLEXA PARA MUSEUS (MEIC-M) ................................................................................ 101 5.1 Apresentação do modelo .................................................................... 101 5.2 Descrição e etapas do modelo ............................................................ 102 6 APLICAÇÃO DO MEIC-M NO MUSEU DA DIVERSIDADE SEXUAL .. 105 6.1 Etapa 1: Caracterização e apresentação do Museu da Diversidade Sexual ................................................................................................... 105 6.2 Etapa 2: Identificação e apresentação dos ambientes, tecnologias e comportamento dos sujeitos em ecologia informacional complexa do Museu da Diversidade Sexual ...................................... 106 6.2.1 Ambientes digitais e tecnologias no Museu da Diversidade Sexual ................................................................................................... 107 6.2.2 Ambientes analógicos ........................................................................ 110 6.2.2.1 Comportamento dos sujeitos no Museu da Diversidade Sexual: algumas notas do pesquisador em campo ........................................ 114 6.3 Etapa 3: Sistematização e apresentação do relatório da ecologia informacional complexa ...................................................................... 117 6.4 Etapa 4: Proposição e apresentação de diretrizes para o museu ... 118 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................. 120 REFERÊNCIAS ..................................................................................... 123 APÊNDICE A - TRABALHOS RECUPERADOS NAS BASES DE DADOS .................................................................................................. 134 APÊNDICE B - TÓPICOS DA ENTREVISTA E DA OBSERVAÇÃO .... 135 APÊNDICE C - TRANSCRIÇÃO DAS OBSERVAÇÕES ...................... 136 APÊNDICE D - TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA ............................. 139 APÊNDICE E - AUTORIZAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA ..................... 152 APÊNDICE F - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ..................................................................................... 156 APÊNDICE G - PLANO DE GESTÃO DE DADOS ................................ 158 ANEXO A - CATÁLOGO DA EXPOSIÇÃO: ORGULHOS E RESISTÊNCIAS ..................................................................................... 163 ANEXO B – NOTAÇÕES DO PROTOCOLO VERBAL .......................... 189 17 1 INTRODUÇÃO Esta pesquisa em nível de doutorado insere-se no contexto do Programa de Pós- graduação em Ciência da Informação (PPGCI) da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita (Unesp) da linha de pesquisa Produção e Organização da Informação (POI) e estabelece perspectivas de uma investigação aplicada no contexto de informação e tecnologia. A Ciência da Informação enquanto área do conhecimento é, na visão de Le Coadic (1996), uma ciência social aplicada. Nesse sentido, Teve uma gênese principalmente impulsionada pelo movimento acelerado das tecnologias de informação e comunicação. O seu desafio é notabilizado tanto por meio de abordagens sobre a natureza, manifestações e efeitos da informação e conhecimento, como pela busca de soluções tecnológicas que garantam a comunicação e uso. Por isso que o objeto (informação) inclui todo o ciclo (produção, organização, armazenamento, representação, disseminação, recuperação, acesso e o uso) da informação. (NHACUONGUE; FERNEDA, 2018, p. 4, grifo nosso). As Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) contribuem para a efetividade e o desenvolvimento de pesquisas teóricas, epistemológicas e aplicadas no contexto da Ciência da Informação, possibilitando, assim, o desenvolvimento de modelos teóricos e aplicados que podem ser estudados em diversos contextos. Em um dos conjuntos desses estudos destacamos as ecologias informacionais complexas (EIC), que por sua vez age como objeto central desse doutoramento, bem como a partir de sua aplicação no contexto dos museus. As EIC são objetos de investigação da Arquitetura da Informação Pervasiva (AIP) que por sua vez, é uma nova abordagem da Arquitetura da Informação, que alia informação e pervasividade em seus contextos (OLIVEIRA, 2014). Nesse sentido, as ecologias informacionais complexas são conceituadas como “um conjunto de espaços e ambientes, (analógicos, digitais ou híbridos), tecnologias (analógicas, digitais ou híbridas) e sujeitos” (OLIVEIRA; VIDOTTI, 2016, p. 97). Essa ecologia informacional complexa é formada por diversos conjuntos e estão interligadas pelos sujeitos informacionais e seus respectivos comportamentos, envolvidos conforme o suporte em que estão inseridos. Nessa perspectiva, Oliveira (2014, p. 18) explica que “os avanços na técnica e na tecnologia propiciam a produção e o uso de artefatos tecnológicos integráveis ao cotidiano das pessoas”. Compreender a tecnologia, então, deve ser uma “preocupação integrante e inalienável de um projeto de formação comprometido social e culturalmente” (SANTOS, 2002, p. 106). Na visão de Cupani (2016), a tecnologia não pode ser vista apenas como uma técnica, mas sim a compreensão como objeto social. O autor ainda dialoga que a tecnologia funciona como processos e sistemas, e que ela influencia no nosso cotidiano e até mesmo em nossas 18 estruturas cognitivas (CUPANI, 2016). Além disso, a tecnologia “é formadora do ambiente concreto da sociedade, pois se refere a todo o segmento do universo físico apropriado” (SANTOS; VIDOTTI, 2009, n. p.). Na visão de Santos e Vidotti (2009), para se estudar a sociedade da informação em seu conjunto total, faz-se necessário entender a tecnologia enquanto objeto de estudo na área de Ciência da Informação, pois tratá-la apenas como uma ferramenta técnica é algo reducionista. Assim, optamos nessa pesquisa em utilizar o conceito de tecnologias para nos referir às digitais, analógicas e híbridas, e a expressão tecnologias de informação e comunicação, as TIC, também foram incorporadas nas discussões ao se referir às [...]“estruturas e modelos de sistemas computacionais atuantes nos processos de produção, de armazenamento, de preservação, de representação, de recuperação, de acesso, de (re)uso e de disseminação de conteúdos informacionais” (SANTOS; VIDOTTI, 2009, n. p., grifo nosso). Com as transformações propiciadas pelas tecnologias de informação e comunicação, os museus integraram ao seu cotidiano elementos tecnológicos digitais, o que trouxe a exigência de repensar o acesso, a representação e uso da informação nesses ambientes. Os volumes informacionais em museus são apresentados por meio de exposições e objetos museológicos e estão interligados e conectados holisticamente pela informação por diversos canais, mídias, espaços e ambientes e necessitam de uma estrutura efetiva para que os sujeitos consigam se localizar e utilizar desses ambientes com facilidade e de forma otimizada. Para o entendimento do conceito de museu, apresentamos a nova definição que foi aprovada em agosto de 2022 na Conferência Geral do International Council of Museums (ICOM), em Praga. Um museu é uma instituição permanente, sem fins lucrativos, ao serviço da sociedade, que pesquisa, coleciona, conserva, interpreta e expõe o patrimônio material e imaterial. Os museus, abertos ao público, acessíveis e inclusivos, fomentam a diversidade e a sustentabilidade. Os museus funcionam e comunicam ética, profissionalmente e, com a participação das comunidades, proporcionam experiências diversas para educação, fruição, reflexão e partilha de conhecimento. (INTERNATIONAL COUNCIL OF MUSEUMS, 2022, n. p., grifo nosso). Os museus devem ser desenvolvidos e construídos para a sociedade, respeitando sua pluralidade e diversidade. Sem sociedade não há museus. Em um contexto ecológico, ou seja, que envolva ambientes, tecnologias, espaços e comportamentos dos sujeitos, um museu deve ser construído e projetado visando as relações humanas e sociais. Essas informações entrecruzadas fazem parte um de funcionamento ecológico, entendido nessa tese como as ecologias informacionais complexas e que se aplicadas em museus, e podem contribuir de forma efetiva para a otimização do acesso pelos sujeitos informacionais. 19 Nos apropriando do livro Conceitos chaves de Museologia, de autoria de André Desvallées e François Mairesse, os autores apresentam um posicionamento que Etimologicamente, a Museologia é “o estudo do museu” e não a sua prática – que remete à “museografia” –, mas tanto o termo, confirmado nesse sentido amplo ao longo dos anos 1950, como o seu derivado “museológico” – sobretudo em sua tradução literal em inglês (museology e seu derivado museological) (DESVALLÉES; MAIRESSE, 2013, p. 61, grifo nosso). Na obra supracitada, os pesquisadores discutem cinco acepções distintas da Museologia. No entanto, nosso objetivo aqui é apresentar o conceito de Museologia e, a posteriori, entender as relações com a museografia. De acordo com o caderno de diretrizes museológicas, a Museologia é definida como a: Disciplina que tem por objeto o estudo de uma relação específica do homem com a realidade, ou seja, do homem/sujeito que conhece com os objetos/testemunhos da realidade, no espaço/cenário museu, que pode ser institucionalizado ou não. Nas últimas décadas, com a renovação das experiências no campo da Museologia, o entendimento corrente de que se trata da ciência dos museus, que se ocupa das finalidades e da organização da instituição museológica, cede lugar a novos conceitos, além do descrito acima, tais como estudo da implementação de ações de preservação da herança cultural e natural ou estudo dos objetos museológicos (CADERNO DE DIRETRIZES MUSEOLÓGICAS, 2006, p. 151). Por outro lado, a museografia é definida como um “conjunto de técnicas desenvolvidas para preencher as funções museais, e particularmente aquilo que concerne à administração do museu, à conservação, à restauração, à segurança, e à exposição” (DESVALLÉES; MAIRESSE, 2013, p. 58). Tanto a Museologia quanto a museografia se relacionam e se complementam “a partir de inter-relacionamentos temáticos e com outras áreas do conhecimento, como comunicação, ciência da informação, artes, ciências sociais entre outras” (MAGALDI, 2021, p. 113). Nesse sentido, a Ciência da Informação, em diálogo possível com a Museologia, reverbera relacionamento que entende os museus como ambientes sociais de informação que integram a sociedade por meio de suas atividades informacionais e comunicacionais. Araújo (2014) explica que houve um dinamismo entre o campo teórico e a prática da Museologia, o que permitiu a ampliação dos produtos, serviços, e o entendimento de tais políticas envolvendo os usuários dos museus. A ideia contemporânea da Museologia é pensar em processo interativo e de mediação entre os sujeitos, que podem ser visitantes dentro do museu. Tais interações são subsidiadas por práticas de comunicação museológicas, tendo com base a Museologia Social, que por sua vez é uma Museologia participativa, que vai além dos modelos tradicionais (ARAÚJO, 2014; CHAGAS; GOUVEIA, 2014). 20 A Museologia Social entendida e elucidada nessa pesquisa está “comprometida com a redução das injustiças e desigualdades sociais; com o combate aos preconceitos; com a melhoria da qualidade de vida coletiva; com o fortalecimento da dignidade e da coesão social [...] dos povos indígenas e movimento LGBT” (CHAGAS; GOUVEIA, 2014 p. 17). Desse modo, ao elucidar as ecologias informacionais complexas no contexto da Museologia, apresentamos o caráter social e holístico dos museus ao visualizá-los como ambientes que congregam experiências cross-channel1. Na literatura da Ciência da Informação, as ecologias informacionais complexas têm sido problematizadas em diversos contextos e perspectivas na qual podemos sinalizar as pesquisas desenvolvidas por Oliveira e Vechiato (2020); Oliveira, Freire e Silva (2015); Oliveira e Vidotti (2016) e Oliveira e Lima (2016). Além desses trabalhos, destacamos em especial o trabalho de Lima e Santos (2018) que discute as tecnologias ubíquas no Museu de Artes da Pinacoteca, e as pesquisas de Brito e Matias (2018) e Brito et al. (2020a) que analisaram os museus em uma perspectiva tecnológica e ecológica, com estudos aplicados sobre tecnologias de informação e comunicação no âmbito do Museu da Diversidade Sexual. Diante do exposto, temos a seguinte questão de pesquisa: Como as ecologias informacionais complexas podem ser aplicadas em museus? Por meio da questão apresentada defendemos a tese de que, por meio de uma estruturação de ambientes e tecnologias digitais, os sujeitos informacionais tenham as experiências de multicanais (cross-channel) em museus. Além disso, por meio dessa estruturação e sistematização podemos apresentar propostas de melhorias nas estruturas informacionais das instituições museológicas por meio de uma modelagem procedimental em museus de pequeno e médio porte. A investigação que propomos nesta tese, orientada por uma fundamentação teórica e metodológica baseada no conhecimento de Ciência da Informação e da Museologia, tem como objetivo geral propor um modelo de ecologia informacional complexa para museus, com o intuito de harmonizar os ambientes, as tecnologias e otimizar o acesso aos sujeitos informacionais em museus. De modo a alcançar o objetivo geral traçamos os seguintes objetivos específicos: a) Relacionar as funções estruturais dos museus com as ecologias informacionais complexas; b) Apresentar e descrever a proposta do modelo de ecologia informacional complexa para museus; c) Aplicar o modelo proposto de ecologia informacional complexa para museus no Museu da 1 Tradução literal de cruzamento de multicanais. 21 Diversidade Sexual da cidade de São Paulo, buscando compreender um possível funcionamento ecológico nesse ambiente. Como mencionado anteriormente, esta pesquisa de doutorado está inserida no universo temático do PPGCI, na linha de pesquisa Produção e Organização da Informação (POI), na área de concentração: Informação, Tecnologia e Conhecimento, da Unesp, Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC/ Campus de Marília). Partindo do princípio de que um dos objetivos da linha de pesquisa destaca a interdisciplinaridade apontada por Saracevic (1995) e vão ao encontro com as relações de interesses tecnológicos dos profissionais da Ciência da Informação, a execução desta pesquisa é relevante na medida em que estabelece perspectivas de estudos na área de tecnologias de informação e comunicação, ecologias informacionais complexas, Museologia e Ciência da Informação. Nesse cenário, damos continuidade a uma trajetória de pesquisa iniciada em 2012 na graduação em biblioteconomia - Unesp atuando no grupo de pesquisa Novas Tecnologias em Informação (GPNTI-UNESP)2, com o Projeto Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC)3 e, posteriormente, em 2017, durante o mestrado com estudos sobre gênero, sexualidade, Arquitetura da Informação e tecnologias de informação e comunicação aplicados à Ciência da Informação desenvolvidos na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), juntamente com o Grupo de Pesquisa Inteligência, Tecnologia e Informação (ITI – RG)4. A justificativa de propor um modelo de ecologia informacional complexa para museus está sustentada na ausência de estudos específicos que expressam a relação supracitada, bem como para promover uma sistematização e integração de ambientes e tecnologias que permitam melhorias em Museus por meio de um acesso holístico. A proposta de um modelo é o de comunicar algo sobre o objeto da modelagem e gerar um melhor entendimento sobre a realidade, nesse caso, a realidade social da ecologia informacional complexa de museus. Outra função do modelo destacada por Sayão (2001) é a normativa, que permite comparações entre fenômenos com características comuns semelhante à função de parentesco, que promove a comunicação das ideias científicas. Além disso, justificamos a relevância em aplicar o modelo proposto no Museu da Diversidade Sexual (MDS), por ser o primeiro museu da América Latina a discutir e expor 2 O Grupo de Pesquisa Novas Tecnologias em Informação foi criado em 1999 e discute as Tecnologias de Informação e Comunicação no bojo da Ciência da Informação. As líderes do grupo são as professoras Plácida Leopoldina Ventura Amorim da Costa Santos e Silvana Aparecida Borsetti Gregorio Vidotti. 3 Projeto PIBIC – CNPq intitulado Arquitetura da Informação e usabilidade: um estudo da contribuição teórica e metodológica no contexto da Ciência da Informação (Processo CNPq 117218/2014-6). 4 Grupo de Pesquisa vinculado ao Departamento de Ciência da Informação da UFSC e coordenado pelos professores Moisés Lima Dutra e Marcio Matias. 22 questões ligadas a gênero, sexualidade e a diversidade sexual. Ademais, destacamos ainda a incipiência de pesquisas acadêmico-cientificas sobre museus e/ou Museologia Social que abordam questões de gênero e sexualidade com enfoque nas tecnologias de informação e comunicação na Ciência da Informação e na própria Museologia, uma vez que estudos dessa natureza ainda são recentes. Vale destacar que nessa pesquisa utilizamos LGBT+ pois é o acrônimo utilizado para se referir às pessoas Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transsexuais e outras identidades de gênero. Optamos por utilizar LGBT+ “pois é deste modo que as populações com identidades e sexualidades dissidentes da matriz heterossexual são denominadas no campo das políticas públicas do brasil” (BOITA et al. 2022, p. 19). Nesse sentido, há uma iniciativa da Museologia Social, que é a Rede LGBT de Memória e Museologia Social, criada em 2012 durante o Fórum Nacional de Museus em Petrópolis, reunindo profissionais de diversas instituições (BAPTISTA; BOITA, 2017). Nesse evento, houveram discussões acerca do conceito de Museologia LGBT+, que por sua vez implica em reconstruir os passos e marcar a construção de uma historicidade LGBT na Museologia brasileira, [...] demanda olhar quais movimentos sociais e acadêmicos contribuíram para fazer emergir, hoje, no campo museológico as discussões e o interesse direcionado as relações entre sexualidade e museu (LADEIA; CASTRO, 2002, p. 232). Refletir sobre a Museologia LGBT+ é abrir possibilidades para um diálogo efetivo com a sociedade marginalizada, especialmente as travestis e transexuais que muitas vezes estão nos entornos dos museus sem o mínimo de reconhecimento e pertencimento. Na visão dos pesquisadores Baptista e Boita (2017, p. 114), “articular a relação entre a memória LGBT com museus e o patrimônio é, antes de tudo, uma ação cidadã interessada em colaborar na superação de fobias à diversidade sexual impregnadas na cultura nacional”. A Museologia LGBT+ impulsiona essa discussão social dos Museus que devem ser plurais e reconhecer o movimento LGBT+ no contexto e em toda a construção de identidade museológica. As questões de gênero e sexualidade que hoje são discutidas em meios científicos de forma ampla e aceita, por muito tempo ficaram à margem não apenas das discussões de área, mas da própria realidade profissional. Com isso, para a Ciência da Informação que, historicamente, estão atreladas ao tecnicismo e as abordagens positivistas, pensar em públicos com necessidades específicas de informação e tradicionalmente marginalizados é um desafio, ainda na atualidade (BRITO et al., 2020a). Inclusive, no ano de 2021 foi criado o grupo de trabalho (GT) 12 no maior evento na 23 Ciência da Informação no Brasil, que discute questões LGBT+ e aspectos étnico-raciais sobre a perspectiva da informação, o que representa um avanço e resistência na área de informação e comunicação. Brito (2019) explica que abordar estudos científicos aplicados acerca dos sujeitos LGBT+ é um tema atual e oportuno neste momento em que a sociedade expõe fortemente as minorias sociais e demonstra que a tendência do futuro é a participação cada vez mais ativa e expressiva desse público em diversos espaços da sociedade, em especial nos museus. 1.1 A pesquisa no contexto do Método Quadripolar A tese está estruturada com respaldo no Método Quadripolar devido a sua elasticidade e flexibilidade, possibilitando a integração dos polos, sejam estes: epistemológico, teórico, técnico e morfológico (OLIVEIRA, 2014; BRUYNE; HERMAN; SCHOUTHEETE, 1991). Nessa pesquisa, portanto, entendemos o Método Quadripolar como delineamento de estrutura da pesquisa científica, e é por meio desses polos que a tese se desenha nos polos investigativos (TORINO, 2023). Segundo Vechiato, o Método Quadripolar (2013, p. 122) “foi proposto por Paul de Bruyne, Jacques Herman e Marc De Schoutheete, da Universidade de Louvain, Bélgica, em 1974, com vistas a se constituir como instrumento de investigação de um novo paradigma para as ciências humanas e sociais”. Nesse contexto, Vechiato (2013) considera que a aplicação do Método Quadripolar na Ciência da Informação surgiu, também, da necessidade de se compreender o aspecto humano e social. Nesse sentido, ao pensar nos museus como objeto de estudo dessa pesquisa, se amalgama um olhar para questões sociais e contemporâneas na Ciência da Informação (ARAÚJO, 2014). Na aplicação e construção da pesquisa sobre o olhar do Método Quadripolar, Ferreira (2018, p. 27, grifo nosso) explica que: O Método Quadripolar propicia a intermediação entre os diferentes polos, e independentemente de tempo ou espaço permite a construção da prática metodológica. Assim, os quatro polos se retroalimentam e consequentemente possibilitam visualizar como a metodologia emerge e se consolida por meio dos resultados obtidos em diferentes fases da pesquisa. Os polos epistemológico, teórico, técnico e morfológico apresentam essa dinâmica investigativa de prática metodológica apresentada por Ferreira (2018), Vechiato (2013), Silva (2006), Bruyne, Herman e Schoutheete (1991) e contribuem para a estruturação efetiva da pesquisa. 24 O polo epistemológico diz respeito ao objeto de investigação científica e as origens da ciência que são representadas em torno dele. Esse polo apresenta as regras de produção e de explicação dos fatos científicos. (FERREIRA, 2018; BRUYNE; HERMAN; SCHOUTHEETE, 1991; SILVA, 2006). O polo teórico, por sua vez, elucida as categorias teóricas e apresenta os aspectos conceituais da pesquisa. A discussão teórica possibilita estruturar os tópicos que conduzirão os elementos constituintes para a investigação (BRUYNE; HERMAN; SCHOUTHEETE, 1991; SILVA, 2006). Já o polo técnico apresenta os modelos de investigação da pesquisa, a sua estrutura e funciona como um controle para a coleta e análise de dados. Neste polo são confrontados resultados com a discussão teórica, apresentando o diálogo com os autores e um reposicionamento do pesquisador (BRUYNE; HERMAN; SCHOUTHEETE, 1991; SILVA, 2006). E, por fim, o polo morfológico apresenta a análise e a discussão dos resultados da pesquisa, retomando os objetivos geral e específicos. Além disso, permite a retomada do objeto e as possíveis variáveis científicas (BRUYNE; HERMAN; SCHOUTHEETE, 1991; SILVA, 2006). Na figura 1, apresentamos o desenho do desenvolvimento da tese no Método Quadripolar e seus respectivos polos. Figura 1 - Delineamento da pesquisa no contexto do Método Quadripolar Fonte: O autor (2023). 25 1.1.1 Polo epistemológico No contexto dessa pesquisa, o polo epistemológico se constitui pela discussão epistemológica da Ciência da Informação e o Paradigma social da informação enquanto objeto de pesquisa da Ciência da Informação. Para a construção desse diálogo epistemológico nos apoiamos em obras como as de Capurro (2003), Saracevic (1995), Borko (1968), Capurro e Hjorland (2007), Araújo (2013, 2014) e Karpinski (2022). Os autores Santos e Vidotti (2009), Oliveira (2014), Vechiato (2013) e Rodas (2017) consideram-se o reposicionamento das tecnologias, como um corpo teórico na Ciência da Informação no que tange a produção, organização e uso da informação, o que contempla a expressiva autonomia das tecnologias de informação e comunicação. O paradigma social da informação, nesse contexto das tecnologias, posiciona um olhar social aos sujeitos informacionais que acessam a informação no contexto das ecologias informacionais complexas em museus (CAPURRO, 2003). 1.1.2 Polo teórico O polo teórico é constituído pelas discussões teóricas e conceituais sustentando os objetivos geral e específicos da investigação e apresentando um olhar crítico ao objeto principal do estudo. As categorias teóricas são Arquitetura da Informação e as ecologias informacionais complexas, museus, Museologia e perspectivas socioculturais que se subdividem em três subseções (espaços, estruturas e ambientes de museus, tecnologias de informação e comunicação em museus e Museologia Social: exemplos e aplicações). Para a construção da categoria teórica, Arquitetura da Informação Pervasiva e as ecologias informacionais complexas, nos apoiamos em atores como Rosenfeld, Morville e Arango (2015), Resmini e Rosati (2011), Oliveira (2014), Oliveira e Vidotti (2016), Alvarez (2017), Vidotti, Cusin e Corradi (2008), Macedo (2005), Brito (2019), Davenport (1998) e Morin (2015). Para a construção da categoria teórica Museus, Museologia em perspectivas socioculturais, nos baseamos em autores como Chagas e Nascimento (2009), dados do ICOM, dados do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), Candido (2014), Nakano e Jorente (2013), Lima e Santos (2018), Oliveira (2007), Loureiro (2016), Caderno de Diretrizes Museológicas (2006), Schaerer (2008), Costa (2006), Padilha (2018), Padilha (2014a; 2014b), Smit (2011), 26 Murakami (2021), Martins (2018), Carrasco (2019), Carrasco e Vidotti (2021), Magaldi (2021), Moutinho (1993), Paiva e Alves (2019), Rechena (2014) e Gouveia e Pereira (2016). 1.1.3 Polo técnico O polo técnico contempla os procedimentos metodológicos relativos à tese. Essa pesquisa apresenta natureza qualitativa, do tipo, exploratória, bibliográfica, documental, tendo como escopo o método de pesquisa aplicada, a Etnografia. A pesquisa qualitativa de acordo com Creswell (2010, p. 26) “envolve as questões e os procedimentos que emergem os dados tipicamente coletados no ambiente do participante, a análise dos dados indutivamente construída”. Além disso, busca retratar uma determinada realidade cientifica, preocupada com as qualificações dos discursos que estão envolvidas. Esse polo contempla, ainda, a etnografia enquanto pesquisa de campo e aplicação do modelo proposto no Museu da Diversidade Sexual, bem como os aspectos éticos da pesquisa e o plano de gestão de dados. 1.1.4 Polo morfológico A interação entre os polos ora apresentados, epistemológico, teórico e técnico, nos leva para a apresentação do morfológico, que propiciou a apresentação, análise e a discussão dos resultados da pesquisa. Esse polo contempla: a) Os museus como ecologia informacional complexa; b) O modelo de ecologia informacional complexa para museus; c) Aplicação do modelo proposto no Museu da Diversidade Sexual. O polo morfológico assume a tese de doutorado propriamente dita, assim como os achados da investigação que foram propostos no objetivo geral e específicos. 1.2 Estrutura da tese O quadro 1 que segue apresenta as seções que dão forma a esta tese e os polos correspondentes. 27 Quadro 1 - Estrutura da tese e seus respectivos polos SEÇÃO APRESENTAÇÃO (RESUMO) POLO 1 Introdução Delineamento do tema e do objeto da tese, bem como a definição do problema, os objetivos e a justificativa. Relação do delineamento da tese no contexto do Método Quadripolar 2 Fundamentação teórica e epistemológica Apresenta uma discussão epistemológica do paradigma social da informação no contexto da Ciência da Informação, apresenta ainda abordagens teóricas sobre Arquitetura da Informação e as ecologias informacionais complexas, museus e Museologia em perspectivas socioculturais, bem como os trabalhos desenvolvidos até então pelo pesquisador. Epistemológico e teórico 3 Percursos e procedimentos metodológicos Apresenta os percursos e os procedimentos metodológicos que incluem as etapas da pesquisa e as considerações metodológicas da etnografia enquanto pesquisa de campo, os aspectos éticos da etnografia e o processo de coleta e análise de dados. Técnico 4 Os museus como ecologias informacionais complexas Apresenta a tessitura teórica discutindo os ambientes, as tecnologias e os sujeitos no contexto dos museus, bem como o relacionamento das funções estruturais dos museus com as ecologias informacionais complexas. Morfológico 5 Proposta do modelo de ecologia informacional complexa para museus Apresenta e descreve o MEIC- M - modelo de ecologia informacional complexa para museus, bem como as suas quatro etapas investigativas. Morfológico 6 Aplicação do MEIC-M no Museu da Diversidade Sexual da cidade de São Paulo Apresenta a descrição dos ambientes informacionais digitais e analógicos do Museu da Diversidade e algumas observações realizadas in loco durante a pesquisa de campo. Morfológico 28 7 Considerações finais Delineia as considerações finais da pesquisa de acordo com os resultados obtidos e apresenta os trabalhos futuros. Retoma os polos epistemológico, teórico e, técnico, sinalizando os achados da pesquisa. Fonte: O autor (2023). 29 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E EPISTEMOLÓGICA Essa seção está inserida nos polos teórico e epistemológico e nela apresentamos a fundamentação teórico-conceitual da pesquisa. Assim, discute-se inicialmente um diálogo epistemológico da Ciência da Informação e o Paradigma social da informação, bem como discussões conceituais sobre a Arquitetura da Informação e as ecologias informacionais complexas; as estruturas, espaços e ambientes de museus, as tecnologias de informação e comunicação no contexto dos museus e, por fim, a Museologia em perspectivas sociais. Além disso, apresentamos um breve resumo dos trabalhos publicados por esse pesquisador ao longo do doutoramento. 2.1 A Ciência da Informação e o Paradigma social da informação Apresentamos a reflexão epistemológica acerca do Paradigma social da informação no contexto da Ciência da Informação concatenando com a questão de pesquisa, o que permite um olhar acerca das ecologias informacionais complexas em museus. A Ciência da Informação lida com produção, organização e uso da informação, Borko (1968, p. 1, grifo nosso) sinaliza esse conceito de forma cirúrgica e afirma que esta Está preocupada com o corpo de conhecimentos relacionados à origem, coleção, organização, armazenamento, recuperação, interpretação, transmissão, transformação. [...] uso de códigos para a transmissão eficiente da mensagem, bem como o estudo do processamento e de técnicas aplicadas aos computadores e seus sistemas de programação. Ao refletir sobre o corpo do conhecimento de uma determinada área, abre-se espaços dialógicos para entender o seu processo originário e perceber o seu papel enquanto ciência. Nos apoiamos na visão de Japiassu (1977, p. 25) e entendemos epistemologia como “o lugar do conhecimento científico dentro do domínio do saber”. Elucidamos nessa tese, portanto, que a epistemologia são as origens e a natureza de uma determinada ciência acerca de um objeto de investigação. Nesse sentido, vem à tona a discussão epistemológica da Ciência da Informação enquanto área do conhecimento e sua relação interdisciplinar com outras áreas do conhecimento, que aqui, em especial, tem diálogo direcionado à Museologia. Karpinski (2022), explica que o campo epistemológico da Ciência da Informação é dividido em três momentos: pós-moderna, interdisciplinar e complexa, conforme apresentado na figura 2. 30 Figura 2 - Campo epistemológico da Ciência da Informação Fonte: Karpinski, (2022, p. 41). Entre os momentos apresentados, destacamos principalmente os campos interdisciplinar e complexa, que reforça dois pontos centrais nessa pesquisa: a) a interdisciplinaridade da Ciência da Informação com a Museologia e b) o olhar da complexidade sobre as ecologias informacionais no contexto dos estudos da Arquitetura da Informação Pervasiva. Na visão de Smit (1993) ao apresentar as “Três Marias”5, há um diálogo possível da Museologia com a Ciência da Informação na medida que contribui com estudos teóricos e práticos desde a representação da informação até o impacto das atuais tecnologias de informação e comunicação. Além de Smit (1993), o pesquisador Carlos Alberto Ávila de Araújo (2013, 2014) propõe uma tessitura teórica articulando os possíveis diálogos da Ciência da Informação com a Museologia. Nesse sentido, Araújo (2014) apresenta algumas perspectivas contemporâneas ao elucidar os Museus como os ambientes sociais que devem romper os paradigmas tradicionais. Na figura 3 apresentamos um infográfico proposto pelo Araújo (2014) sinalizando tais perspectivas. 5 Expressão utilizada por Smit (1993) ao se referir a Museologia, arquivologia e a biblioteconomia. 31 Figura 3 - Perspectivas contemporâneas Fonte: Araújo (2014, p. 97). Os processos apresentados pelo pesquisador na figura representam a complexidade que os processos entre as áreas de biblioteconomia, arquivologia e em especial a Museologia representam nessas novas abordagens socioculturais. É possível visualizar, inclusive, os ambientes, as tecnologias e comportamentos dos sujeitos na imagem na medida que as “setas retas com ponta dupla mostram o caráter dialógico dos processos (pessoas interferem nas instituições; instituições atuam sobre as pessoas); cubos fora de esferas mostram os espaços extra institucionais” (ARAÚJO, 2014, p. 14). A contemporaneidade apresentada por Araújo (2014) evidencia o contato da Ciência da Informação e Museologia como ambientes informacionais e sociais que envolvem diversos tipos de usuários. A complexidade é perceptível também com a inserção das tecnologias, sejam elas digitais ou não, no campo da Museologia, em que houve novas incorporações nos processos de representação e novos fazeres no âmbito dos Museus. Podemos exemplificar com a presença dos museus virtuais e ecomuseus (ARAÚJO, 2013). Lima (2018), em sua pesquisa de doutoramento em Ciência da Informação, elucida a Museologia sob a ótica das tecnologias e o seu papel fundamental para a sociedade ao relacionar aspectos da informação ubíqua, ecologias informacionais e aspectos da Arquitetura da Informação. A pesquisadora Padilha (2018) também apresenta um diálogo da Ciência da 32 Informação com a Museologia ao estudar o objeto museológico e objeto museológico digital sob a perspectiva da reprodutibilidade técnica. No cenário acadêmico e de pesquisa na área de Ciência da Informação brasileira, há um Grupo de Trabalho (GT) específico sobre Museus (GT 9) no Encontro Nacional de Pesquisa e Pós-graduação (ENANCIB)6, coordenada pela Associação Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação no Brasil (ANCIB). O GT 97 intitulado: Museu, Patrimônio e Informação discute os museus, patrimônio e os seus processos estruturais e informacionais. Diante do exposto, defendemos nessa tese o diálogo e a interdisciplinaridade da Museologia com a Ciência da Informação ao entender que ambas as áreas têm um papel social e cultural ao discutir a informação em sua totalidade, por meio da organização, representação e acesso à informação. A complexidade por sua vez é elucidada por Morin (2015) ao tratar a informação como algo dinâmico e que envolve o todo em todas as partes. Segundo ele, a complexidade é “o tecido de acontecimentos, ações, interações, retroações, determinações, acasos que constituem o nosso mundo fenomênico” (MORIN, 2015, p. 1). A visão de Morin (2015) acerca do pensamento da complexidade reflete os caminhos para a construção de uma ecologia informacional e como esses processos complexos dialogam com o objeto da Ciência da Informação, a própria informação. O objeto da Ciência da Informação tem sido problematizado há muito tempo por diversos pesquisadores da área. Capurro (2003) debruça um olhar para o uso dessa informação, que pode ser materializada pelos sujeitos informacionais em diversos contextos. Nesse sentido, a informação, como objeto da Ciência da Informação, assume um papel social e cultural. Esse olhar social é defendido por Capurro (2003) e conceituada como o paradigma social da informação. Na visão de Capurro (2003, p. 7), a “informação é uma dimensão da existência humana, algo que permeia a convivência social, o que significa que a informação e o conhecimento tratam de criações humanas, constituindo-se como fenômeno da esfera da cultura”. A origem da Ciência da Informação é carregada pelos aspectos sociais e culturais relacionados ao mundo humano, encarregada dos impactos gerados pela tecnologia, 6 O Encontro Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Ciência da Informação é o evento mais importante do campo no contexto brasileiro. Conta com 12 grupos de trabalhos que discutem Informação em diversos contextos. É realizado anualmente em local escolhido pela comissão da ANCIB. 7 Disponível em: https://ancib.org/coordenacoes-e-ementas-de-gt/. Acesso em: 08 mar. 2023. 33 principalmente digital, e todo o fluxo de produção, arquivamento, organização e disseminação da informação (CAPURRO, 2003). No contexto do paradigma social da informação, Bembem, Oliveira e Santos (2015, p. 190) afirmam que “o referido paradigma é entendido a partir dos seus condicionamentos sociais e materiais. Os sujeitos, que não são apenas usuários, mas participantes ativos da construção do conhecimento”. Os sujeitos informacionais no âmbito dos sistemas de informação são vistos como protagonistas, possuindo um papel central nos processos de acesso e uso da informação. À medida que os sistemas de informação se tornam mais globais e interconectados, a informação implícita é, muitas vezes, perdida. Essa situação desafia a CI [Ciência da Informação] a ser mais receptiva aos impactos sociais e culturais dos processos interpretativos como uma condição sine qua non dos processos de informação. Como termos demonstrado, esta tarefa é essencialmente multi e interdisciplinar. A construção de redes é basicamente um processo de interpretação. A construção de uma rede cientifica como uma atividade auto reflexiva pressupõe o esclarecimento de conceitos comuns. Um destes conceitos é a informação (CAPURRO; HJORLAND, 2007, p. 194, grifo nosso). O grifo sinalizado sob o olhar de Capurro e Hjorland (2007) reforça a ideia de que precisamos ter uma Ciência da Informação pluralizada que atenda as necessidades informacionais da atualidade. As tecnologias nesse contexto têm um papel oportuno de potencialização e intensificação de uma realidade social em contextos de interdisciplinaridade. Enfim, consideramos o paradigma social como introdutório no desenvolvimento das tecnologias, principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento de arquiteturas da informação e ecologias para ambientes informacionais em museus. Na próxima seção teórica serão apresentados um diálogo conceitual desde Arquitetura da Informação Pervasiva às ecologias informacionais complexas. 2.2 Arquitetura da informação e as ecologias informacionais complexas Em uma perspectiva teórica e conceitual apresentamos a Arquitetura da Informação Pervasiva (AIP) e as ecologias informacionais complexas articulando-se às abordagens identificadas na literatura da Ciência da Informação. Essa subseção embasa e fornece subsídio para o entendimento das EIC e à construção do modelo propriamente dito. A complexidade dos ambientes informacionais faz com que a Arquitetura da Informação esteja aberta às “discussões e debates, no que se refere à sua essência conceitual” (ALVAREZ, 2017, p. 36). 34 A Arquitetura da Informação na visão de Macedo (2005, p. 132), é definida como “uma metodologia de desenho que se aplica a qualquer ambiente informacional, sendo este compreendido como um espaço localizado em um contexto”. Nesse sentido, vale destacar que a Arquitetura da Informação entende os seus ambientes informacionais por meio de uma tríade: conteúdo, contexto e usuários, que podem ser aplicados em ambientes de quaisquer natureza e tipologia (MACEDO 2005; TORINO, 2023). De modo a ilustrar essa tríade, Rosenfeld e Morville (2006) propõem um infográfico, apresentado na figura 4: Figura 4 - Tríade da Arquitetura da Informação Fonte: Rosenfeld e Morville (2006 tradução de TORINO, 2023, p. 25). Em uma Arquitetura da Informação, o conteúdo diz respeito ao que é apresentado e disponibilizado, o que pode ser notícia, entretenimento, vídeo, enfim, toda a estrutura que é fornecida por um determinado ambiente informacional. O contexto, consequentemente, diz respeito aos objetivos e que segmento específico pretende atingir; e os usuários, que nessa tese são considerados como sujeitos informacionais, envolvem o público-alvo, os comportamentos e toda a realidade de acordo com as necessidades informacionais (ROSENFELD; MORVILLE, 2006; BRITO, 2019; TORINO et al. 2022a; TORINO, 2023). Sob o ponto de vista conceitual, a Arquitetura da Informação na visão de Vidotti, Cusin e Corradi (2008) enfoca a organização, navegação, rotulagem, busca, usabilidade e acessibilidade em ambientes informacionais digitais. A combinação desses componentes contribui para que um ambiente informacional seja planejado e organizado, facilitando as atividades de navegação e pesquisa, e leva os sujeitos a uma busca profícua de informações que o levam à sua satisfação. Existem diversos conceitos, considerações e abordagens sobre Arquitetura da Informação na literatura, mas a definição de Vidotti, Cusin e Corradi (2008), apesar de ter sido apresentada há mais de uma década, ainda é coerente do ponto de vista teórico e busca melhor 35 compreender os objetivos da Arquitetura da Informação, sinalizando a anatomia dos elementos apresentados por Rosenfeld, Morville e Arango (2015), pioneiros nos estudos no âmbito da Ciência da Informação. Esses elementos compõem a Arquitetura da Informação e que contribuem para a usabilidade e acessibilidade dos ambientes informacionais digitais. Vale destacar que esses elementos são significativos para os processos de recuperação de forma efetiva e que podem ser considerados para qualquer ambiente de natureza digital (MACEDO, 2005; ROSENFELD; MORVILLE; ARANGO, 2015). No quadro 2 apresentamos as definições dos elementos da Arquitetura da Informação com base em Rosenfeld, Morville e Arango (2015). Quadro 2 - Elementos da Arquitetura da Informação APRESENTAÇÃO DO SISTEMA DA ARQUITETURA DA INFORMAÇÃO DEFINIÇÃO Sistema de organização Maneira como o conteúdo de um site pode ser agrupado, definindo o agrupamento e a categorização de todo o conteúdo informático, envolvendo elementos para a organização das informações da interface e de um banco de dados. Sistema de navegação Ferramentas auxiliares que permitem ao usuário folhear ou navegar por meio dessas unidades de informação, especificando as maneiras de navegar pelo espaço informacional e hipertextual, considerando a estruturação de caminhos a serem percorridos pelo usuário em menus e barras de navegação. Sistema de rotulagem Forma como é representada cada unidade de informação do site, estabelecendo as maneiras de apresentação da informação, definindo signos para cada elemento informativo, com o fim de representar corretamente o conteúdo da informação, como links e ícones. Sistema de busca Permite ao usuário realizar consultas no todo informacional dentro do site, determinando as perguntas que o usuário pode fazer e as respostas que ele irá obter, com o fim de localizar um determinado conteúdo. Fonte: Adaptado de Ribeiro e Monteiro (2012) Além dos elementos sinalizados no quadro anterior, a usabilidade e acessibilidade, por sua vez, estão ligadas com a Arquitetura da Informação de forma sistêmica e contribuem para 36 a facilidade de uso em toda essa teia digital. Sendo assim, Nielsen e Loranger (2007, p. 15) definem a usabilidade como Um atributo de qualidade relacionado à facilidade do uso de algo. Mais especificamente, refere-se à rapidez com que os usuários podem aprender a usar alguma coisa, a eficiência deles ao usá-la, o quanto lembram daquilo, seu grau de propensão a erros e o quanto gostam de utilizá-la. Se as pessoas não puderem ou não utilizarem um recurso, ele pode muito bem não existir. A acessibilidade, por sua vez, é entendida e exemplificada como “transposição de barreiras. Aplicada à Internet isto significa a eliminação de quaisquer obstáculos que impossibilitem ou dificultem o acesso das pessoas com deficiência, ao mesmo tempo em que pode beneficiar pessoas sem limitação” (SIEBRA; OLIVEIRA; MARCELINO, 2014, p. 81). Sob esse olhar defendemos que a Arquitetura da Informação fornece subsídios teóricos, epistemológicos e práticos e que conectados com todos os elementos e sistemas garantem a facilidade de uso (usabilidade) em diversos ambientes e o acesso (acessibilidade) à contextos informacionais. No entanto, apesar da Arquitetura da Informação em uma perspectiva sistêmica e informacional estar consolidada na área da Ciência da Informação com estudos aplicados em ambientes informacionais digitais, sejam estes bibliotecas digitais, repositórios, sites de entretenimento, portais de notícias e entre outros, ainda necessitam de estudos em ambientes que consideram as especificidades dos sujeitos informacionais e seus processos interativos (BRITO, 2019; OLIVEIRA, 2014). Nos últimos anos, Oliveira (2014, p. 56) tem se debruçado e discutido uma nova concepção de Arquitetura da Informação, e explica que: Os problemas informacionais e tecnológicos que impactam no cotidiano social não podem mais ser resolvidos pelas abordagens arquitetural, sistêmica ou informacional, sendo necessário ampliar o escopo e as estratégias de Arquitetura da Informação para tratar de questões informacionais numa perspectiva ecológica. É nessa perspectiva que apresentamos a Arquitetura da Informação Pervasiva, uma nova abordagem da Arquitetura da Informação que lida com os ambientes informacionais digitais, analógicos e híbridos (OLIVEIRA, 2014). Para entender o que é arquitetura de informação Pervasiva, primeiramente é necessária uma comparação com o cotidiano das pessoas. A informação está presente em diversos espaços e ambientes, como no smartphone, no laptop, na loja de departamentos, no metrô, nas mídias sociais, nos panfletos, nos adesivos dos carros, nos estádios de futebol, enfim, por toda a parte. No entanto, essa informação precisa estar sinalizada e organizada de forma que os sujeitos 37 consigam encontrar a informação que procuram, ou seja, facilitando a Encontrabilidade da Informação8 no ambiente. Recorremos ao dicionário de modo a buscar o entendimento de duas palavras arquitetura e pervasivo, que estão expressos no quadro abaixo: Quadro 3 - Significados das palavras: arquitetura e pervasivo CONCEITO SIGNIFICADO Arquitetura Arte de construir e decorar edifícios. Pervasivo Espalhado; que tende a se espalhar, infiltrar, propagar ou difundir por toda parte; de uso geral e completo: tratamento pervasivo. Fonte: Dicionário Oxford Online (2022). Partindo dos conceitos apresentados no dicionário de arquitetura e pervasivo, entendemos que são duas palavras que se concatenam e que são ressignificadas na Ciência da Informação. A ideia de pervasivo representa aquilo que espalha e propaga-se facilmente e a arquitetura como sendo a arte de construir. Os pesquisadores Resmini e Rosati (2011) foram precursores em estudar a Arquitetura da Informação Pervasiva e discutir como a informação poderia ser infiltrada e propagada em diversos canais, mídias, espaços e ambientes. Eles a apresentam ainda como uma abordagem ligada ao design de ecossistemas de informação e tecnologias ubíquas (OLIVEIRA 2014; LACERDA, 2015). A informação no contexto da AIP é elucidada por Resmini e Rosati (2011) como experiências e serviços cross-channel, em que “um único serviço é espalhado por vários canais de tal forma que pode ser experimentado como um todo (se alguma vez) apenas pesquisando vários ambientes e mídias diferentes” (RESMINI; ROSATI, 2011, tradução nossa9). Cross-channel: Cross-media ou transmídia é um termo que deve muito ao trabalho pioneiro sobre convergência de Henry Jenkins no Massachusetts Institute of Technology (MIT). Geralmente se refere a vinculação entre diferentes mídias de entretenimento e conteúdo de marca, como filmes, programas de TC, publicidade e jogos. O conteúdo de mídia cruzada é distribuído e transmitido de tal de forma que qualquer meio único oferece apenas fragmentos da experiência global e depende ativamente sobre os outros para o avanço da narrativa. No entanto, o termo cross- channel tem sido mais amplamente adotado pelas comunidades de marketing e design de serviços para aquelas experiências que abrangem mídias e ambientes, mas não 8 O termo encontrabilidade da informação em português é um conceito proposto por Vechiato (2013) que “sustenta-se fundamentalmente na interseção entre as funcionalidades do ambiente informacional e as características dos sujeitos informacionais”. 9 Citação original: "cross-channel, a single service is spread across multiple channels in such a way that it can be experienced as a whole (if ever) only by polling a number of different environments and media” (RESMINI; ROSATI, 2011, p. 10). 38 estão necessariamente conectadas ou limitadas ao conteúdo oferecido pela indústria do entretenimento (RESMINI; ROSATI, 2011, p. 10, grifo nosso, tradução nossa10). O termo cross-channel, apesar de ser mais utilizado em áreas, como marketing e publicidade, podem ser aplicados em qualquer contexto visando o cruzamento de canais. No caso dessa pesquisa, a estrutura cross-channel poderá ser aplicada em um contexto ecológico para museus propiciando melhorias . Diante disso, ajuizamos em compreender o termo à luz da Ciência da Informação e entender as múltiplas possibilidades de acesso à informação por meio dos canais que são apresentados (RESMINI; ROSATI, 2011). Retomando a visão de Resmini e Rosati (2011) sob a perspectivas de estudos de Oliveira (2014), têm-se alguns fatos que se instalaram em uma emergência da Arquitetura da Informação Pervasiva e que são expressos no quadro 4. Quadro 4 - Fatos que instalaram a emergência da AIP FATO DISCUSSÃO Arquitetura da informação torna-se ecossistemas Quando diferentes mídias e contextos estão entrelaçados com forca, nenhum artefato pode ficar como uma entidade isolada. Cada artefato torna-se um elemento de uma ecologia maior. Todos esses artefatos têm vários links ou relacionamentos uns com os outros e têm de ser concebidos como parte de um processo único e contínuo de experiência do usuário. Usuários se tornam mediadores Os usuários são mediadores nas ecologias e produzem ativamente novos conteúdos ou corrigem o conteúdo existente. A tradicional distinção entre autores e leitores, ou produtores e consumidores torna-se sutil, a ponto de ser inútil e vazia de significado. Estático se torna dinâmico O papel ativo desempenhado pelos usuários/mediadores torna os conteúdos eternamente inacabados, em constante mudança, perpetuamente abertos ao aperfeiçoamento e manipulação. Essas novas arquiteturas abraçam diferentes domínios (analógicos, digitais e híbridos), diferentes tipos de entidades (dados, itens 10 Citação original: “Cross-channel - cross-media, or transmedia, is a term that owes a great deal to the pioneering work on convergence of Henry Jenkins at MIT. It generally refers to linking across different media of branded entertainment and content, such as movies, TV shows, advertising, and games. Cross-media content is distributed and broadcast in such a way that any one single medium offers only fragments of the global experience and actively depends on the others for advancing the narrative. However, the term cross-channel has been more widely adopted by the marketing and service design communities for those experiences that span media and environments but are not necessarily connected or limited to the content offered by the entertainment industry” (RESMINI; ROSATI, 2011, p. 10, grifo nosso). 39 Dinâmico torna-se híbrido físicos e pessoas) e os diferentes meios de comunicação. Todas as experiências são experiências bridge ou cross-media, abrangendo ambientes distintos. Horizontal prevalece no vertical Em arquiteturas abertas e em constante mudança, os modelos hierárquicos (top down) são difíceis de manter e de dar suporte, como os usuários empurram as arquiteturas em direção à espontaneidade, às estruturas efêmeras ou temporárias de significado e à mudança constante. Design de produto torna-se o design da experiência Quando cada artefato (seja conteúdo, produto ou serviço) é parte de uma ecologia maior, o foco muda de como criar itens únicos para como criar experiências de processo. Experiências tornam-se experiências cross-media Múltiplas experiências bridge conectam mídias, ambientes e a ecologia ubíqua, um processo único em que todas as partes contribuem para uma experiência de usuário global e sem emendas. Fonte: Resmini e Rosati (2011 tradução de OLIVEIRA, 2014). Nesse sentido, Oliveira (2014) destaca e apresenta o conceito de informação pervasiva, como aquela que está presente em todos os canais, bem como as diversas formas e possibilidades de acesso. Nesse ínterim, a Arquitetura da Informação Pervasiva, na visão do autor, é definida como: Uma abordagem teórico-prática da disciplina científica pós-moderna Arquitetura da Informação, trata da pesquisa científica e do projeto de ecologias informacionais complexas. Busca manter o senso de localização do usuário na ecologia e o uso de espaços, ambientes e tecnologias de forma convergente e consistente. Promove a adaptação da ecologia à usuários e aos novos contextos, sugerindo conexões no interior da ecologia e com outras ecologias. Facilita a interação com conjuntos de dados e informações ao considerar os padrões interoperáveis, a acessibilidade, a usabilidade, as qualidades semânticas e a encontrabilidade da informação, portanto deve buscar bases na Ciência da Informação (OLIVEIRA, 2014, p. 166). Além do conceito de AIP, Oliveira (2014, p. 166) propõe um modelo teórico que delimita o status científico da disciplina de Arquitetura da Informação Pervasiva como “abordagem teórico-prática de uma disciplina pôs- moderna”. 40 Figura 5 - Modelo de Arquitetura da Informação Pervasiva Fonte: Oliveira (2014, p. 169). O modelo da Arquitetura da Informação Pervasiva é apresentado por cinco categorias, a saber: O status científico, que apresenta o conceito e as suas abordagens, o objeto, que são as ecologias informacionais complexas, a função, que estabelece a função cientifica, os objetivos sinaliza os entregáveis da Arquitetura da Informação e por fim a materialidade, que pode ela pode ser objetivada por meio de relatórios, mapas conceituais etc. (OLIVEIRA, 2014, p. 169, grifo nosso). As cinco categorias apresentadas no modelo visam compreender as possibilidades de aplicações teóricas e práticas da Arquitetura da Informação Pervasiva no contexto da Ciência da Informação. Oliveira (2014) utiliza a fenomenologia do contexto como forma metodológica de investigar a Arquitetura da Informação Pervasiva no contexto das ecologias informacionais complexas e apresenta alguns passos para desenvolver a coleta e análise dos dados, desde a sua identificação até a avaliação. As discussões teóricas e práticas da Arquitetura da Informação Pervasiva permitem novos desdobramentos e estudos nos ambientes informacionais híbridos por meio da intersecção da disciplina científica Arquitetura da Informação (VECHIATO; OLIVEIRA; VIDOTTI, 2016). Dentre as categorias apresentadas no modelo proposto por Oliveira (2014), destacamos as ecologias informacionais complexas, que são objetos de investigação da Arquitetura da Informação Pervasiva. Nesse contexto, por meio da reflexão teórica apresentada, as EIC possibilitam um repensar a Arquitetura da Informação Pervasiva e como ela pode ser aplicada em estudos interdisciplinares na Ciência da Informação. Nesse sentido, vale destacar que o 41 enfoque da tese são apenas delineamento das ecologias informacionais complexas (ambientes, tecnologias e comportamento dos sujeitos). Os pesquisadores Resmini e Rosati (2011) e Lacerda (2015) apresentam e utilizam o conceito de ecossistema da informação ao se referirem sobre as abordagens investigativas da Arquitetura da Informação Pervasiva. Entretanto, Oliveira (2014) utiliza e sinaliza o conceito de ecologia e explica que este não é novo na Ciência da Informação e que já tem sido utilizado outrora por Davenport (1998). Diante disso e com bases nas discussões apresentadas por Oliveira (2014) e Oliveira e Vidotti (2016), ajuizamos em utilizar o conceito de ecologia. O livro intitulado Ecologia da informação: porque só a tecnologia não basta para o sucesso da informação, de Davenport (1998), é um clássico e retoma a discussão do termo ecologia e como o uso das tecnologias, digitais ou não, podem ser intensificados nos processos de multicanais. Davenport (1998, p. 21), explica que a ecologia é “a ciência de compreender e administrar todos os ambientes”. Ainda, segundo o autor, a utilização do termo foi pensada de forma metafórica, mas que pode contribuir para uma visão organizacional em diversos ambientes. Além de pensar e considerar a ecologia nesse processo informacional, Davenport (1998, p. 21), já refletia sobre os multicanais e ambientes que a informação poderia perpassar e que “em vez de modelar um ambiente informacional em máquinas e edifícios, proponho uma abordagem mais harmoniosa com as coisas vivas”. O autor ainda afirma que Cabe a um ecologista informacional, assim como fariam um arquiteto ou um engenheiro, planejar o ambiente de informação de uma empresa. Esse planejamento ecológico permitiria, no entanto, evolução e interpretação: eliminaria a rigidez de alguns controles centrais que nunca funcionaram, e responsabilizaria pelas informações específicas as pessoas que precisam delas e as utilizam. Em suma, a abordagem ecológica do gerenciamento da informação é mais modesta, mais comportamental e mais prática que os grandes projetos da arquitetura da informação e de máquina/engenharia. (DAVENPORT, 1998, p. 22). Vale destacar que o planejamento para estruturação de uma ecologia perpassa por diversos canais, ambientes e atores nesse contexto. Um modelo de ecologia da informação baseia-se em uma teia multidisciplinar de modo a propiciar um acesso efetivo aos sujeitos que estão envoltos. Diante do exposto, e de forma afirmativa sob o olhar de Davenport (1998), concordamos com a ideia de Oliveira (2014) ao reposicionar e entender as ecologias informacionais como objeto de estudos da Arquitetura da Informação Pervasiva. O termo ecologia da informação é ressignificado e estudado no âmbito dos estudos da Arquitetura da Informação Pervasiva para delimitar as muitas relações entrecruzadas de sujeitos 42 processos e de elementos dos ambientes informacionais, para administrar a complexidade e a variedade do uso atual da informação (OLIVEIRA; VIDOTTI, 2016). A complexidade sinalizada por Oliveira (2014) explicita aportes epistemológicos e teóricos com base em Morin (2015), que apresenta processos de complexidade como algo inseparável e que constitui um todo. Diante disso, as ecologias informacionais complexas são definidas como: Um objeto/ fenômeno de investigação da Arquitetura da Informação Pervasiva. Conjunto de relações intercruzadas de sujeitos, processos, estruturas informacionais, estruturas tecnológicas, ambientes, canais, dispositivos e quaisquer elementos pertencentes aos ambientes analógicos, digitais ou híbridos. Se estrutura por meio de um tecido interdependente, interativo, entre o objeto de conhecimento e seu contexto, as partes e o todo, o todo e as partes, as partes entre si. (OLIVEIRA, 2014, p. 158). As necessidades e a diversidade dos sujeitos informacionais estão interligadas com as relações intercruzadas, mídias, processos e estruturas e são características fundamentais do paradigma social da Ciência da Informação e que devem estar atrelados aos ambientes digitais, analógicos e híbridos (CAPURRO, 2003; OLIVEIRA, 2014). Alvarez (2017) apresenta um modelo de ecologia informacional complexa tendo com base os aportes de Oliveira (2014) e sinaliza a aplicação no âmbito das bibliotecas universitárias. Em uma ecologia informacional complexa a informação é o centro, o principal, e as suas relações são estabelecidas de acordo c