Leonardo Tambellini Sistemas Dinâmicos Finitos: Paciência Búlgara (Shift em Partições e Composições ćıclicas) São José do Rio Preto 2013 Leonardo Tambellini Sistemas Dinâmicos Finitos: Paciência Búlgara (Shift em Partições e Composições ćıclicas) Dissertação apresentada como parte dos requisitos para obtenção do t́ıtulo de Mestre em Matemática, junto ao Programa de Pós-Graduação em Matemática, do Insti- tuto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da Uni- versidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Câmpus de São José do Rio Preto. Orientador: Prof. Dr. Vanderlei Minori Horita São José do Rio Preto 2013 Tambellini, Leonardo. Sistemas dinâmicos finitos : paciência búlgara (Shift em partições e composições cíclicas) / Leonardo Tambellini. - São José do Rio Preto : [s.n.], 2013. 80 f. : il. ; 30 cm. Orientador: Vanderlei Minori Horita Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas 1. Sistemas dinâmicos diferenciais. 2. Teoria dos números. 3. Partições (Matemática) 4. Paciência búlgara. I. Horita, Vanderlei Minori. II. Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas. III. Título. CDU - 517.93 Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca do IBILCE Campus de São José do Rio Preto - UNESP Leonardo Tambellini Sistemas Dinâmicos Finitos: Paciência Búlgara (Shift em Partições e Composições ćıclicas) Dissertação apresentada como parte dos requisitos para obtenção do t́ıtulo de Mestre em Matemática, junto ao Programa de Pós-Graduação em Matemática, do Insti- tuto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da Uni- versidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Câmpus de São José do Rio Preto. Comissão Examinadora Prof. Dr. Vanderlei Minori Horita Orientador UNESP - IBILCE Prof. Dr. Carlos Gustavo T. de A. Moreira IMPA - RJ Prof. Dr. Claudio Aguinaldo Buzzi UNESP - IBILCE São José do Rio Preto 26 de junho de 2013 À minha famı́lia. Dedico. AGRADECIMENTOS Ao concluir este trabalho, deixo meus sinceros agradecimentos: Aos meus pais, Domingos e Angélica, e à minha irmã Natália, por todo o apoio. À minha companheira de longa data, Jeanne, pelo amor, paciência e motivação durante todos esses anos. À todos os agregados, moradores e frequentadores da república Kurupi, pelos bons momentos que passamos nos inúmeros churrascos, almoços, cervejadas... Aos meus amigos e colegas de trabalho do Departamento de Matemática do IBILCE. Aos professores que fizeram parte da banca examinadora, Vanderlei, Claudio Buzzi e Gugu. Aos meus amigos de graduação e pós-graduação. À CNPq, pelo aux́ılio financeiro. E à todos que de alguma forma contribúıram para a conclusão deste trabalho. “A Matemática é o alfabeto com o qual Deus escreveu o Universo.” (Galileo Galilei) Resumo Neste trabalho abordamos um tema introdutório na interseção de duas áreas da Matemáticas, Sistemas Dinâmicos e Teoria dos Números. Através de um jogo aparentemente ingênuo, a Paciência Búlgara, estudamos dinâmicas em conjuntos finitos. Devido à finitude do domı́nio, todos os pontos do sistema convergem para uma órbita periódica, mas interessante é saber quantas órbitas distintas o sistema apresenta em função da quantidade de elementos do domı́nio. Outra pergunta natural é sobre o tempo de convergência a estas órbitas. Estudamos também uma variação deste jogo, a Paciência Carolina. Palavras-chave: Paciência Búlgara. Partições de Inteiros. Aplicação Shift. Paciência Carolina. Abstract This work refers to a introductory topic in the intersection of two areas in Mathematics, Dynam- ical Systems and Number Theory. Motivated to a game seemingly naive, Bulgarian Solitaire, we study dynamics in finite sets. Due to the finiteness of the domain, all points of the sys- tem converge to a periodic orbit, but it is interesting to know how many distinct orbits the system displays depending on the size of the domain. Another natural question is about the convergence time of these orbits. We also study a variation of this game, Carolina Solitaire. Keywords: Bulgarian Solitaire. Integer Partitions. Shift application. Carolina Solitaire. Sumário Introdução 10 1 Conceitos Inicias 13 2 Paciência Búlgara 15 2.1 Partições e aplicação B-shift . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 2.2 Partições ćıclicas, dB(λ) e DB(n) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 2.3 Plotando diagramas através do software “Wolfram Mathematica” . . . . . . . . 20 2.4 Caracterização das Partições Ćıclicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 2.5 Quantidade de Ciclos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 2.6 Partição raiz, gerada, pré-ćıclica e caracterizações . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 2.7 Cálculo de DB(n) para números triangulares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 2.8 Cálculo de Limites de DB(n) para números não triangulares . . . . . . . . . . . 49 2.9 Conjectura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 3 Paciência Carolina: Uma variação da Paciência Búlgara 60 3.1 Composições e aplicação C-shift . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 3.2 Composições ćıclicas, dC(λ) e DC(n) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62 3.3 Caracterização das Composições Ćıclicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64 3.4 Cálculo de DC(n) para números triangulares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68 3.5 Cálculo de Limites de DC(n) para números não triangulares . . . . . . . . . . . 70 3.6 Conjectura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79 Introdução Antes de começarmos com a matemática, vamos a um breve histórico do surgimento do pro- blema que será estudado. Em meados de 1980, em uma viagem de trem de Moscou à São Petersburgo: − Olá, para você que é um matemático deixe-me mostrar uma coisa interessante - disse o estranho sem nome no trem. Mas eu estou tentando trabalhar na minha palestra, pensei. Enquanto o trem percorria os trilhos, o homem sentado à minha frente me olhava ansioso. OK, vamos acabar logo com isso. − Aqui temos 15 cartas de um baralho, divida-as em quantas pilhas quiser, e em cada pilha coloque quantas cartas quiser. E eu as dividi em pilhas de tamanho 3, 1, 4, 1, 6. − Agora retire uma carta de cada pilha e forme uma nova pilha com estas cartas. A operação me deixou com pilhas de 3−1 = 2 cartas, 4−1 = 3 cartas, 6−1 = 5 cartas, duas pilhas vazias e uma nova pilha de 5 cartas. Eu percebi que a ordem das pilhas não importava, então por convenção, as coloquei em ordem não crescente, 5, 5, 3, 2. − Agora repita isso de novo e de novo. Eu sei o que vai acontecer − e assim o homem olhou para o outro lado, onde não estavam as cartas. Ele já conseguiu pensar através das iterações? Quanto tempo isso levará?. Eu estava curioso agora. Assim obtive a seguinte sequência do tamanho das pilhas: (6, 4, 3, 1, 1)→ (5, 5, 3, 2)→ (4, 4, 4, 2, 1)→ (5, 3, 3, 3, 1)→ (5, 4, 2, 2, 2)→ → (5, 4, 3, 1, 1, 1)→ (6, 4, 3, 2) Nossa! É quase como eu comecei. Quando isso irá terminar? E então, de repente, terminou: (6, 4, 3, 2)→ (5, 4, 3, 2, 1)→ (5, 4, 3, 2, 1) de novo. − Hmm − eu disse. − Você terminou com uma pilha com 5 cartas, outra com 4 cartas, outra com 3 cartas, outra com 2 cartas e por fim uma com 1 carta, não foi? − e assim o homem voltou os olhos para as cartas. 10 − Isso é o que sempre ocorre. Tente novamente! Eu comecei com uma única pilha com 15 cartas. Levou mais movimentos, mas chegou no padrão 5,4,3,2,1. Então eu comecei com 3 pilhas de 5 cartas. Demorou um pouco mais, mas novamente chegou na mesma configuração. Três exemplos não é uma prova, mas o fato é razoável. Sempre será alcançada a mesma configuração? Quanto tempo demora para alcançar a configuração padrão? O que acontece com outro números de cartas? − Isso é interessante − admiti. Esse “quebra-cabeça” foi popularizado por Martin Gardner em 1983 [3], com um nome pe- culiar “Paciência Búlgara”. Antes de Gardner: Por volta de 1980, Kostantin Oskolkov do Steklov Mathematical Institute de Moscou viajou em um trem para dar uma palestra em Leningrad, agora São Petersburgo. Um homem no trem lhe explicou sobre o problema, no entanto os detalhes do diálogo acima é fict́ıcio, Oskolkov compartilhou isso com seus colegas no instituto. Dizem que quando um matémático da área de teoria dos números soube sobre o problema, “o seu rosto assumiu uma expressão satânica, correu para seu escritório, trancou a porta e não saiu de lá até resolver o problema”. O “quebra-cabeça” chegou a Victor Gutenmacher, editor do jornal Kvant. O problema apareceu por lá em 1980, no contexto de pilhas de livros. Andrei Toom, um cientista na Uni- versidade Estadual de Moscou, publicou uma solução em 1981. O material foi também inclúıdo em um livro de olimṕıadas de matemática em 1981 no qual os autores incluem Gutenmacher e Toom. No fim de 1980, Anatolii Alexeevich Karatsuba viajou de Steklov para o Instituto de Matemática da Academia de Ciências da Bulgária em Sofia. Depois de uma palestra de teoria de aproximação, ele compartilhou a história de Oskolkov e do quebra-cabeça. Novamente, ele capturou a atenção de muitos matemáticos, e Milko Petkov o publicou na seção de “competição de problemas” de um jornal de uma escola de ńıvel médio em 1980, no contexto de monte de bolas. Nenhum estudante conseguiu resolver o problema, e então a solução de Borislav Bojanov, colega do instituto de Petkov, foi publicada em 1981. Gert Almkvist da Universidade Lund, estava visitando a cidade de Sofia enquanto Karatsuba estava lá. Quando Almkvist retornou para a Suécia, ele compartilhou o quebra-cabeça com seus colegas, incluindo Henrik Erikisson da KTH Royal Institute of Technoloy, que publicou uma solução também em 1981, com o nome “Bulgarisk patiens”, no contexto de pilha de cartas. 11 Jørgen Brandt, terminou seu mestrado na Universidade de Aarhus, e de algum modo apren- deu o quebra-cabeça também (sem nenhum nome). “O problema pareceu tão puro, que eu não pensei muito de onde ele possa ter vindo”, explicou recentemente. Sua solução, no cenário de partições de inteiros, foi submetida para Proceedings of the American Mathematical Society em 1981 e publicada em 1982. Enquanto isso, Eriksson viajou de Estocolmo para a Califórnia, onde ele chamou o quebra- cabeça de Bulgarian Solitaire, na tradução literal, Paciência Búlgara. Ele explicou recente- mente, “O nome bobo foi minha invenção, bobo porque não é nem Búlgaro e nem é jogo de paciência”. Donald Knuth começou em 1982 seminários de programação e solução problema com a Paciência Búlgara. Ron Graham passou isso à Gardner que em 1983 popularizou com o mesmo nome dado por Erikisson, que até hoje perdurou. Após isso, outras variações da Paciência Búlgara foram criadas. O intuito deste trabalho é estudar a versão original e uma variação chamada Paciência Carolina [4]. Vamos transformar a Paciência Búlgara no cenário de Sistemas Dinâmicos, trocando cartas por números inteiros positivos, o conjunto de pilhas por partição desses números e o movimento do jogo por uma aplicação shift bem definida no conjunto das partições. 12 Caṕıtulo 1 Conceitos Inicias Um sistema dinâmico é uma função f definida em um certo conjunto X, ou seja, f : X −→ X A dinâmica, isto é, a passagem do tempo, é visto como sendo a iteração dessa função. Desta forma, se começamos com um ponto x ∈ X (que corresponde ao instante zero) depois ele estará em f(x) (instante 1), depois f(f(x)) (instante 2) e assim sucessivamente. Para evitarmos escrever expressões como f(f(f(f(f(x))))) (1.1) usaremos a seguinte convenção, padrão nessa área: f 0(x) := x f 1(x) := f(x) fn(x) := f(fn−1(x)) para n ≥ 1 Desta maneira a expressão (1.1) pode ser reescrita simplesmente f 5 (x) significando que f foi iterada 5 vezes. Não se deve confundir isso com com elevar f(x) a potência 5, até porque essa operação algébrica pode não fazer o menor sentido no conjunto X. Nessa nova notação, então, o que se pretende estudar é a evolução do tempo de um ponto x, ou seja, x, f(x), f 2(x), f 3(x), . . .. Este conjunto é conhecido como a órbita do ponto x: O(x) := ⋃ n∈N fn (x) . Dizemos que x é um ponto periódico ou ćıclico de peŕıodo p se p é o menor inteiro tal que f p(x) = x. Quando p = 1, ou seja, temos f(x) = x, então dizemos simplesmente que x é um ponto fixo para f . Quando x é periódico então sua órbita x, f(x), f 2 (x), f 3 (x), . . ., f p−1 é um conjunto finito conhecido como órbita periódica ou ćıclica. 13 Definição 1.0.1 Seja n um inteiro positivo, dizemos que n é um número triangular se n = 1 + 2 + . . .+ k = Tk = (k)(k + 1) 2 para algum k ∈ Z+. Exemplo 1.0.1 Os números 1, 3, 6, 10, 15, 21, 28 são os 7 primeiros números triangulares. Definição 1.0.2 Seja x um número natural, a função totiente, às vezes chamada de to- ciente, ou função fi de Euler, representada por ϕ(x), é definida como sendo igual à quanti- dade de números naturais menores ou iguais à x coprimos com respeito à ele, ou seja, ϕ(x) = �{n ∈ N | (n ≤ x) ∧ (mdc(n, x) = 1)} Exemplo 1.0.2 ϕ(8) = 4, uma vez que os números 1, 3, 5 e 7 são coprimos de 8. ϕ(1) = 1, já que mdc(1, 1) = 1. 14 Caṕıtulo 2 Paciência Búlgara 2.1 Partições e aplicação B-shift Definição 2.1.1 (Partição) Seja n um inteiro positivo, dizemos que λ = (λ1, λ2, . . . , λs) ∈ Zs, s = 1, . . . , n, é uma partição de n, e escrevemos λ � n, se λi > 0, ∀i = 1, . . . , s, λ1 ≥ λ2 ≥ . . . ≥ λs e s∑ i=1 λi = n. Nesse caso chamamos cada λi, i = 1, . . . , s de i-ésima parte da partição. O número de partes da partição definimos como sendo o seu comprimento (tamanho), e escrevemos |λ| = s. Exemplo 2.1.1 λ = (1, 1, 1, 1, 1, 1) e μ = (4, 2) são partições do número 6. λ possui 6 partes iguais, ou seja, |λ| = 6 e μ possui 2 partes distintas, |μ| = 2. Definição 2.1.2 Seja n um inteiro positivo, definimos Λn = {λ | λ � n} o conjunto de todas as partições de n. Em Teoria dos Números, a cardinalidade de Λn (�Λn) é a Função Partição p(n) que calcula a quantidade de partições posśıveis de n. Quando precisarmos calcular a quantidade de partições de um determinado inteiro n, utilizaremos o comando “Lenght[IntegerPartitions[n]]” do software “Wolfram Mathematica”. Exemplo 2.1.2 Seja n = 4. No software “Wolfram Mathematica” utilizando o comando “IntegerPartitions[4]” obtemos as partições de 4, que são: (4), (3, 1), (2, 2), (2, 1, 1), (1, 1, 1, 1). Utilizando o comando “Lenght[IntegerPartitions[4]]” obtemos o valor 5 que é a quantidade de partições de 4 que, em teoria dos números, é p(4), e pela definição anterior é também a cardinalidade de Λ4 (�Λ4 = 5). 15 Definição 2.1.3 Sejam n um inteiro positivo e λ = (λ1, λ2, . . . , λs) � n. Definimos por B-shift a aplicação, B : Λn −→ Λn, que associa λ à uma nova partição de n denotada por B(λ), obtida da seguinte maneira: 1) diminui-se uma unidade de cada parte λi, i = 1, . . . , s. 2) Descarta(m)-se a(s) parte(s) nula(s), caso houver. 3) Insere-se uma parte de tamanho s de forma que B(λ) seja uma partição de n. Observação 2.1.1 Se |λ| = s então, pela definição, |B(λ)| ≤ s+ 1. Exemplo 2.1.3 Sejam λ = (2, 2, 2, 1, 1), θ = (7, 1) e γ = (2, 2, 2, 2) partições de 8. B(λ) = (5, 1, 1, 1), B(θ) = (6, 2) e B(γ) = (4, 1, 1, 1, 1). Geometricamente podemos ver a aplicação B-shift da seguinte maneira: Suponha que o número inteiro dado seja uma quantidade de blocos, como ilustrado na Figura 2.1. Figura 2.1: 8 blocos Uma partição desse número pode ser representada por uma pilha desses blocos dispostos de maneira não crescente. Por exemplo a partição λ = (2, 2, 2, 1, 1) é representada como mostra a Figura 2.2. Figura 2.2: Uma partição de n = 8 16 A aplicação B-shift retira um bloco de cada pilha (por convenção pode-se supor que o bloco retirado é o do topo da pilha), e com esses blocos retirados forma-se uma nova pilha que é colocada de maneira que os blocos continuem organizados de forma não crescente, conforme a Figura 2.3. Figura 2.3: B-shift Com base nos conceitos do Caṕıtulo 1, dado n um inteiro positivo vamos estudar a dinâmica do conjunto Λn pela aplicação B-shift. Definição 2.1.4 Dada uma partição λ de um inteiro positivo n, descrevemos a “Paciência Búlgara” de λ como sendo a sequência: λ,B(λ),B(2) (λ), . . . tal que B(i)(λ), i ∈ Z+, representa a partição de n, obtida através de sucessivas aplicações de B-shift em λ, no total de i vezes. Nesse caso dizemos que B(i)(λ) é a i-ésima iterada de λ pela aplicação B-shift. Ou seja, a “Paciência Búlgara” de uma partição λ � n, pensando como um sistema dinâmico no conjunto Λn com a aplicação B-shift, nada mais é do que a sua órbita. Observação 2.1.2 Como o número de partições de um número inteiro é finito, então as partições da sequência da Paciência Búlgara começam a repetir em algum momento. Exemplo 2.1.4 Seja λ = (2, 1, 1, 1, 1) � 6, então temos B(λ) = (5, 1), B(2)(λ) = (4, 2), B(3)(λ) = (3, 2, 1), B(4)(λ) = (3, 2, 1), . . .. 17 Figura 2.4: Figura 2.5: Exemplo 2.1.5 Seja μ = (6, 1) � 7, assim temos B(μ) = (5, 2), B(2)(μ) = (4, 2, 1), B(3)(μ) = (3, 3, 1), B(4)(μ) = (3, 2, 2), B(5)(μ) = (3, 2, 1, 1), B(6)(μ) = (4, 2, 1), B(7)(μ) = (3, 3, 1), . . . . Observe que no Exemplo 2.1.4 após 4 iteradas de B em λ chegamos em uma partição que não se modifica através de B. Já no Exemplo 2.1.5, as partições começaram a se repetir após 6 iteradas de B em μ. 2.2 Partições ćıclicas, dB(λ) e DB(n) Sejam n um inteiro positivo, λ � n e B : Λn −→ Λn. Definição 2.2.1 Dizemos que λ é B-ćıclica, ou simplesmente ćıclica, de peŕıodo i, se i é o menor inteiro positivo tal que B(i)(λ) = λ. Assim o conjunto O(λ) = {λ,B(λ),B(2)(λ), . . . ,B(i−1)(λ)} é a sua órbita periódica, ou ciclo, e o seu peŕıodo é i. Nesse caso também podemos dizer que λ é periódica de peŕıodo i. Observação 2.2.1 (1) Se i = 1 dizemos que λ é uma partição fixa. (2) Se λ é ćıclica de peŕıodo i, então O(λ) = O(B(λ)) = . . . = O(B(i−1)(λ)) No Exemplo 2.1.4, a partição (3, 2, 1) é uma partição fixa, ou seja, uma partição B-ćıclica de peŕıodo 1, enquanto no Exemplo 2.1.5 as partições (4, 2, 1), (3, 3, 1), (3, 2, 2), (3, 2, 1, 1) também são periódicas, todas de peŕıodo 4. Definição 2.2.2 Definimos dB(λ) como sendo o menor inteiro i ≥ 0 tal que B(i)(λ) é B-ćıclica e DB(n) := max{dB(λ) | λ � n}. 18 Observação 2.2.2 Nesse caso i é o menor tempo necessário (número de iteradas) para a partição λ alcançar um ciclo. Pode-se falar também que λ levou i iteradas para alcançar um ciclo ou uma partição B-ćıclica. DB(n) é o maior valor de dB(λ), λ � n. Exemplo 2.2.1 Seja λ = (4, 1) � 5. Fazendo as iterações em λ obtemos: Figura 2.6: Assim dB(λ) = 1 pois a partição μ = B(λ) = (3, 2) é B-ćıclica, já que B(3)(μ) = μ. Exemplo 2.2.2 DB(4) = 2, pois as partições de 4 são λ = (1, 1, 1, 1), α = (4), γ = (3, 1), δ = (2, 2), β = (2, 1, 1) e, dB(λ) = 2, dB(α) = 1, dB(γ) = dB(δ) = dB(β) = 0. Figura 2.7: Os valores de DB(n), 4 ≤ n ≤ 36, são mostrados na tabela a seguir, calculados computa- cionalmente. A representação de n é da forma n = 1 + 2 + 3 + . . .+ (k − 1) + r, 1 ≤ r ≤ k. Um dos objetivos principais deste trabalho é encontrarmos o valor de DB(n) e para isso precisaremos introduzir vários conceitos, para assim termos ferramentas necessárias para de- terminá-lo. Para n triangular DB(n) é um valor exato, quando n não for triangular vamos encontrar um limite superior e um limite inferior, que é conjecturado como sendo o valor exato. 19 Tabela 2.1: Valores de DB(n), n = 4, . . . , 36 k = 3 k = 4 k = 5 k = 6 k = 7 k = 8 r = 1 DB(4) = 2 DB(7) = 4 DB(11) = 8 DB(16) = 15 DB(22) = 24 DB(29) = 35 r = 2 DB(5) = 3 DB(8) = 5 DB(12) = 8 DB(17) = 12 DB(23) = 18 DB(30) = 28 r = 3 DB(6) = 6 DB(9) = 7 DB(13) = 9 DB(18) = 13 DB(24) = 18 DB(31) = 24 r = 4 DB(10) = 12 DB(14) = 14 DB(19) = 16 DB(25) = 19 DB(32) = 25 r = 5 DB(15) = 20 DB(20) = 23 DB(26) = 26 DB(33) = 29 r = 6 DB(21) = 30 DB(27) = 34 DB(34) = 38 r = 7 DB(28) = 42 DB(35) = 47 r = 8 DB(36) = 56 2.3 Plotando diagramas através do software “Wolfram Mathematica” O software “Wolfram Mathematica” será muito útil neste trabalho pois dado n um inteiro positivo, é posśıvel plotar a “Paciência Búlgara”, ou seja, um diagrama contendo a dinâmica de todas as suas partições através da aplicação B-shift, o qual daremos o nome de Diagrama B-shift de n. Nesse diagrama os śımbolos “•” representam as partições de n e as flechas, re- presentam as aplicações B-shift. As partições ćıclicas em especial, serão coloridas em vermelho. A única diferença de notação é que no texto definimos as partições entre parênteses “( )” e nos diagramas as partições aparecem entre chaves “{ }” O diagrama nos ajudará a entender melhor as definições deste trabalho, assim como nos ajudará no entendimento de demonstrações de resultados. O código utilizado, feito por Ken Levasseur, disponibilizado em seu blog: http://applieddiscretestructures.blogspot.com.br/2011/01/bulgarian-solitaire-follow-up.html, é composto de 3 linhas, onde a primeira linha define a iteração que usamos, a segunda linha é usada para para definir a plotagem do diagrama e a terceira linha é para executar o comando: 1a Linha: Bulgaria[pile List] := Sort[Select[Prepend[pile −1, Length[pile]], # > 0 &], #1 > #2 &] 2a Linha: BulgariaGraphLabeled[n ] := Graph[Map[# -> Bulgaria[#] &, Inte- gerPartitions[n]], VertexLabels -> “Name”, PlotRange -> All, VertexSize -> Nor- 20 mal, PlotRangePadding -> 1, ImagePadding -> 1, GraphStyle -> “BasicBlack”, GraphLayout -> “SpringElectricalEmbedding”] 3a Linha: BulgariaGraphLabeled[n] onde n é um inteiro positivo. Na 2 a linha é posśıvel fazer várias alterações, como por exemplo, caso não for interessante a rotulação da partição basta trocar VertexLabels -> “Name” por VertexLabels -> None. É importante observar que neste software há o chamado Case sensitive que é a diferenciação de letra maiúscula de minúscula. Se for interessante também é posśıvel rotular a partição com o respectivo tamanho, bastando substituir na segunda linha, VertexLabels -> “Name” por VertexLabels -> Map[# -> Length[#] &, IntegerPartitions[n]]. Há várias opções paraGraphStyle (Cores) e GraphLayout (Estilo de disposição das partições) que estão elencadas no próprio Help do software. Exemplo 2.3.1 A Figura 2.8 representa a dinâmica das partições de n = 7. Pelo diagrama conseguimos encontrar o valor de dB(λ) para qualquer λ partição de n, assim como o valor de DB(n). � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � Figura 2.8: Diagrama B-shift de n = 7, estilo LayeredDrawing 21 A Figura 2.9 também representa a dinâmica das partições de n = 7, a diferença é apenas o GraphLayout. � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �� � � � � � � � �� � � � � � � � � � �� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � Figura 2.9: Diagrama B-shift de n=7, estilo SpringElectricalEmbedding 22 2.4 Caracterização das Partições Ćıclicas Nesta seção introduziremos alguns elementos e conceitos para encontrar uma caracterização para partições ćıclicas. A prinćıpio vamos definir uma matriz formada apenas por entradas com valores 0 ou 1 que represente uma dada partição, afim de conseguirmos encontrar um padrão de comportamento desses 0’s e 1’s ao longo das iteradas da aplicação B em λ. Veremos que podemos obter B(λ), B(2)(λ), . . . a partir de um certo processo de shift nas entradas da matriz. Definição 2.4.1 Dada uma partição λ = (λ1, λ2, . . . , λs) � n definimos por Mλ a sua matriz associada, de forma que: Mλ = [mij ] ∞ i,j=1, onde mij = ⎧⎨ ⎩ 1, se j ≤ s e i ≤ λj ; 0, c.c. Exemplo 2.4.1 Seja λ = (5, 3, 2, 1, 1) � 12, então: Mλ = ⎛ ⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎝ 1 1 1 1 1 0 · · · 1 1 1 0 0 0 · · · 1 1 0 0 0 0 · · · 1 0 0 0 0 0 · · · 1 0 0 0 0 0 · · · 0 0 0 0 0 0 · · · ... ... ... ... ... ... . . . ⎞ ⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎠ ou seja, o número de 1’s de cada coluna corresponde à respectiva parte da partição. Vamos mostrar que MB(λ) pode ser obtida a partir de Mλ através de um processo de “shifting” ou “deslocamento” dos 0’s e 1’s da matriz. Com isso obtemos as partições B(λ), B2(λ), B3(λ), . . . a partir da matriz. Definição 2.4.2 Dada uma matriz M = [mij ] definimos, para cada w ∈ Z+, como a w-ésima diagonal, ou diagonal w de M , como sendo a w-upla formada pelas entradas mij tal que i+ j − 1 = w, ou seja, a diagonal w é dada por: DM(w) = (mw,1, mw−1,2, mw−2,3, . . . , mw−i,i+1, . . . , m2,w−1, m1,w︸ ︷︷ ︸ w elementos ) 23 Figura 2.10: Diagonais de Mλ Exemplo 2.4.2 Sejam λ uma partição e Mλ = [mij ] a sua matriz associada. Assim, a 1a diagonal consiste apenas da entrada m11, a 2a diagonal é formada pelas entradas m12 e m21, já a 3a diagonal é formada pelas entradas m31, m22 e m13. Logo, DMλ (1) = (m11), DMλ (2) = (m12, m21) e DMλ (3) = (m31, m22, m13), conforme ilustra a Figura 2.10. Definição 2.4.3 (Processo B-shifting) Sejam λ = (λ1, λ2, . . . , λs) � n e Mλ = [mij ] a sua matriz associada. O processo de obtenção de MB(λ) a partir de Mλ, chamado de Processo B-shifting é composto de no máximo 2 passos: Passo 1: Shifting Circular Diagonal: Nesse passo vamos criar uma matriz M ′ λ = [m′ ij ] tal que m′ i,j = mi+1,j−1 se j ≥ 2 e m′ i,j = mj,i se j = 1, ou seja, para cada diagonal de Mλ, por exemplo, DMλ (w) = (v1, v2, . . . , vw), reordenamos as suas entradas e escrevemos DM ′ λ (w) = (vw, v1, v2, . . . , vw−1). Note que o número de 1’s nas colunas de M ′ λ são s, λ1 − 1, λ2 − 1, . . . , λs − 1, 0, 0, 0, . . .. Se s ≥ λ1 − 1, ou seja, se houver mais 1’s na primeira coluna do que na segunda coluna, então M ′ λ = MB(λ). Se s < λ1 − 1 então precisamos de um passo a mais para obter MB(λ). Mλ = ⎛ ⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎝ · · · · · · · · · · · · · · · · · · vw · · · · · · · · · · · · · · · · · · vw−1 · · · · · · · · · · · · · · · · · · . . . · · · · · · · · · ... ... ... . . . ... ... ... · · · ... ... v3 · · · · · · · · · · · · · · · ... v2 · · · · · · · · · · · · · · · · · · v1 · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · ... ... ... ... ... ... ... · · · ⎞ ⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎠ 24 Figura 2.11: Representação do Passo 1 M ′ λ = ⎛ ⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎝ · · · · · · · · · · · · · · · · · · vw−1 · · · · · · · · · · · · · · · · · · vw−2 · · · · · · · · · · · · · · · · · · . . . · · · · · · · · · ... ... ... . . . ... ... ... · · · ... ... v2 · · · · · · · · · · · · · · · ... v1 · · · · · · · · · · · · · · · · · · vw · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · ... ... ... ... ... ... ... · · · ⎞ ⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎠ Passo 2: Shifting pela esquerda: Removemos todos as entradas nulas da primeira coluna da matriz M ′ λ e deslocamos cada entrada da posição (i, j) tal que i ≥ s + 1 e j ≥ 2 para a posição (i, j − 1) . A nova matriz é a matriz MB(λ). M ′ λ = ⎛ ⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎝ m′ 11 m′ 12 m′ 13 m′ 14 · · · m′ 21 m′ 22 m′ 23 m′ 24 · · · 0 m′ 32 m′ 33 m′ 34 · · · 0 m′ 42 m′ 43 m′ 44 · · · ... ... ... ... . . . ⎞ ⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎠ Passo2 −→ MB(λ) = ⎛ ⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎝ m′ 11 m′ 12 m′ 13 m′ 14 · · · m′ 21 m′ 22 m′ 23 m′ 24 · · · m′ 32 m′ 33 m′ 34 m′ 35 · · · m′ 42 m′ 43 m′ 44 m′ 45 · · · ... ... ... ... . . . ⎞ ⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎠ Observação 2.4.1 Note que o Passo 1 do processo faz com as colunas de Mλ o equivalente com o que a definição da aplicação B-shift faz com as partes da partição, a menos de ordem. 25 Por isso as vezes é necessário o Passo 2, para poder manter a ordem não crescente das partes da partição (respectivamente colunas da matriz). Observação 2.4.2 Com a definição do processo B-shifting, a partir de Mλ obtemos MB(k)(λ), ∀k ∈ Z+ e portanto, obtemos a partição B(k)(λ). Ou seja, sempre que conveniente, ao invés de trabalharmos com a aplicação B-shift em λ, iremos trabalhar com o processo B-shifting em Mλ. Exemplo 2.4.3 Seja λ = (2, 2, 1, 1). Pela definição da aplicação B-shift sabe-se que B(λ) = (4, 1, 1). Aplicando o processo B-shifting em Mλ obtemos: Mλ = ⎛ ⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎝ 1 1 1 1 · · · 1 1 0 0 · · · 0 0 0 0 · · · 0 0 0 0 · · · ... ... ... ... . . . ⎞ ⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎠ Passo1 −→ M ′ λ = ⎛ ⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎝ 1 1 1 0 · · · 1 0 0 0 · · · 1 0 0 0 · · · 1 0 0 0 · · · ... ... ... ... . . . ⎞ ⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎠ Como há mais 1’s na primeira coluna de M ′ λ do que na segunda então M ′ λ = MB(λ). Exemplo 2.4.4 Seja λ = (4, 2), então aplicando o processo B-shifting: Mλ = ⎛ ⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎝ 1 1 0 · · · 1 1 0 · · · 1 0 0 · · · 1 0 0 · · · ... ... ... . . . ⎞ ⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎠ Passo1 −→ M ′ λ = ⎛ ⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎝ 1 1 1 · · · 1 1 0 · · · 0 1 0 · · · 0 0 0 · · · ... ... ... . . . ⎞ ⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎠ Passo2 −→ MB(λ) = ⎛ ⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎝ 1 1 1 · · · 1 1 0 · · · 1 0 0 · · · 0 0 0 · · · ... ... ... . . . ⎞ ⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎠ Agora temos as ferramentas necessárias para encontrar a caracteŕıstica de uma partição B-ćıclica. Teorema 2.4.1 Seja n = 1 + 2 + 3 + . . .+ (k − 1) + r, 1 ≤ r ≤ k, k ∈ Z+. λ � n é B-ćıclica se, e somente se, λ tem a forma, chamada de forma ćıclica: (k − 1 + δk−1, k − 2 + δk−2, . . . , 2 + δ2, 1 + δ1, δ0) tal que δi ∈ {0, 1}, para todo i = 0, . . . , k − 1, e k−1∑ i=0 δi = r. 26 Demonstração: (⇐) Suponha que λ = (k − 1 + δk−1, k − 2 + δk−2, . . . , 2 + δ2, 1 + δ1, δ0), tal que δi ∈ {0, 1}, para todo i = 0, . . . , k− 1, e k−1∑ i=0 δi = r. A matriz associada de λ, Mλ, é formada apenas de 1’s nas (k − 1) primeiras diagonais, a diagonal k é formada por (δk−1, δk−2, . . . , δ2, δ1, δ0), ou seja, DMλ (k) = (δk−1, δk−2, . . . , δ2, δ1, δ0), e as diagonais abaixo da diagonal k são formadas apenas de 0’s. Desta forma a cada aplicação do processo B-shifting em Mλ, apenas a diagonal k é alterada. Como DMλ (k) possui k elementos, depois de utilizados k vezes o processo B-shifting, a matriz MB(k)(λ) = Mλ. Logo, B (k)(λ) = λ e, portanto, λ é B-ćıclica. 1alinha −→ 2alinha −→ k−2alinha −→ k−1alinha −→ kalinha −→ ⎛ ⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎝ 1 1 · · · 1 1 δ0 0 · · · 1 1 · · · 1 δ1 0 0 · · · ... ... . . . . . . . . . ... ... · · · 1 1 δk−3 0 0 0 0 · · · 1 δk−2 0 0 0 0 0 · · · δk−1 0 0 0 0 0 0 · · · 0 0 0 0 0 0 0 · · · ... ... ... ... ... ... ... · · · ⎞ ⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎠ = Mλ (⇒)No processo B-shifting, notamos que o Passo 1 mantém todas as entradas da matriz na mesma diagonal, enquanto que o Passo 2 sempre traz a entrada 1 da posição (s + 1, 2) para uma diagonal de ı́ndice menor. Assim, para qualquer partição μ que é B-ćıclica o processo de obtenção de MB(μ) através de Mμ pelo processo B-shifting, deve envolver apenas o Passo 1. Sejam λ uma partição B-ćıclica e Mλ a sua matriz associada. Suponha que λ não possua a forma ćıclica. Então para algum w ∈ Z+, há um 0 na w-ésima diagonal e um 1 na (w+1)-ésima diagonal da matriz Mλ. Como a série de processos B-shifting de Mλ para MB(λ) para MB(2)(λ), e assim por diante, apenas envolve o Passo 1 (Shifting Circular Diagonal) então iremos chegar em uma matriz Mμ em que a entrada (1, w) é 0 e a entrada (w + 1, 1) é 1. Assim o processo B-shifting de Mμ para MB(μ) envolve o Passo 2, o que é uma contradição. 27 walinha −→ w+1alinha −→ ⎛ ⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎝ 1 1 · · · 1 1 1 1 · · · 1 1 · · · 1 1 0 0 · · · ... ... . . . . . . . . . ... ... · · · 1 1 1 0 0 0 0 · · · 1 1 0 0 0 0 0 · · · 0 0 0 0 0 0 0 · · · 0 0 0 0 0 0 0 · · · ... ... ... ... ... ... ... · · · ⎞ ⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎠ = Mλ walinha −→ w+1alinha −→ ⎛ ⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎝ 1 1 · · · 1 1 0 0 · · · 1 1 · · · 1 1 0 0 · · · ... ... . . . . . . . . . ... ... · · · 1 1 1 0 0 0 0 · · · 1 1 0 0 0 0 0 · · · 1 0 0 0 0 0 0 · · · 1 0 0 0 0 0 0 · · · ... ... ... ... ... ... ... · · · ⎞ ⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎠ = Mμ Corolário 2.4.1 Seja n = Tk = 1+2+3+ . . .+ k, k ∈ Z+, então (k, k− 1, . . . , 2, 1) é a única partição de n que é B-ćıclica. Demonstração: Seja λ � n uma partição B-ćıclica, assim pelo Teorema 2.4.1 λ = (k − 1 + δk−1, k − 2 + δk−2, . . . , 2 + δ2, 1 + δ1, δ0), onde cada δi é 0 ou 1, i = 0, . . . , k − 1, e k−1∑ i=0 δi = k. Logo δi = 1 ∀i, i = 1, . . . , k − 1, e portanto, λ é escrita de maneira única. Exemplo 2.4.5 Seja n = 1+2+3 = 6. Assim pelo Corolário 2.4.1, (3, 2, 1) é a única partição B-ćıclica, como ilustra a Figura 2.12. Exemplo 2.4.6 Já para n = 1 + 2 + 3 + 4 = 10, pelo Corolário 2.4.1, (4, 3, 2, 1) é a única partição B-ćıclica, como mostra a Figura 2.13. 28 � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � Figura 2.12: Diagrama B-shift de n=6, estilo LayerredDrawing Observação 2.4.3 Dado n = 1 + 2 + . . . + (k − 1) + r = Tk−1 + r, 1 ≤ r ≤ k, com a forma de uma partição λ � n, B-ćıclica já caracterizada, teremos também uma caracterização de sua matriz associada Mλ, que é de que as suas diagonais de 1 a (k − 1) são sempre formadas apenas de 1’s e as diagonais abaixo da diagonal k são todas nulas, ou seja, quando aplicarmos sucessivamente o processo B-shifting em Mλ apenas a diagonal k se modifica e assim sempre será utilizado apenas o Passo 1 do processo (Shifting Circular Diagonal). 29 � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � Figura 2.13: Diagrama B-shift de n=10, estilo LayerredDrawing 2.5 Quantidade de Ciclos Dado n = 1+ 2 + 3 + . . .+ (k − 1) + r, 1 ≤ r ≤ k, k ∈ Z+, podemos ver pelo Teorema 2.4.1 que se r = k, k − 1 ou 1, começando por qualquer partição de n, após repetidas aplicações de B-shift sempre chegamos em um único ciclo de partições de n. Se 2 ≤ r ≤ k − 2 dependendo da partição de n podemos chegar em diferentes ciclos. Exemplo 2.5.1 Para n = 1+ 2+ 2 = 5, qualquer que seja a partição de 5 sempre chegaremos em um único ciclo conforme mostra a Figura 2.14. Note que esse ciclo tem peŕıodo 3. Exemplo 2.5.2 Para n = 1 + 2 + 3 + 2 = 8 podemos chegar nos ciclos conforme a Figura 2.15. Note que o ciclo da esquerda, na Figura 2.15, tem peŕıodo 4 e que o ciclo da direita tem peŕıodo 2. 30 � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � Figura 2.14: Diagrama B-shift de n=5, estilo SpringElectricalEmbedding � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � Figura 2.15: Diagrama B-shift de n=8, estilo LayeredDrawing Assim para a contagem de ciclos na “Paciência Búlgara”, ou seja, o número de órbitas, temos o seguinte Teorema, demonstrado em [2] e [1]. Teorema 2.5.1 Seja n = 1 + 2 + 3 + . . . + (k − 1) + r, 1 ≤ r ≤ k, k ∈ Z+, então o número 31 de ciclos para a Paciência Búlgara é CB(n) = 1 k ∑ d|mdc(k,r) ϕ(d) ⎛ ⎝ k/d r/d ⎞ ⎠, onde ϕ(d) é a função totiente de Euler. Exemplo 2.5.3 Seja n = 18. Pela notação do Teorema 2.5.1 escrevemos n = 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 3 = 18 e assim temos k = 6 e r = 3. Logo o número de ciclos para a Paciência Búlgara quando n = 18 é: CB(18) = 1 6 ∑ d|mdc(6,3) ϕ(d) ⎛ ⎝ 6/d 3/d ⎞ ⎠ = 1 6 ∑ d|3 ϕ(d) ⎛ ⎝ 6/d 3/d ⎞ ⎠ = = 1 6 ϕ(1) ⎛ ⎝ 6 3 ⎞ ⎠+ 1 6 ϕ(3) ⎛ ⎝ 2 1 ⎞ ⎠ = 1 6 · 1 · 6! 3! · 3! + 1 6 · 2 · 2! 1! · 1! = 20 6 + 4 6 = 24 6 = 4 A Figura 2.16 mostra o Diagrama B-shift de n=18 sem os rótulos das partições e também sem as flechas. Nessa figura podemos observar a quantidade de ciclos que calculamos. Figura 2.16: Diagrama B-shift de n=18, estilo RadialDrawing Quanto maior o natural n mais interessante fica o seu Diagrama B-shift. 32 Exemplo 2.5.4 A Figura 2.17 mostra o Diagrama B-shift de n=32 com o estilo SpringElec- tricalEmbedding, sem os rótulos das partições e sem as flechas. Por questão de zoom fica dif́ıcil de ver os peŕıodos de cada ciclo porém a figura mostra claramente a quantidade de ciclos, que coincide com a quantidade de “ redes” de partições distintas. Figura 2.17: Diagrama B-shift de n=32, estilo SpringElectricalEmbedding 33 2.6 Partição raiz, gerada, pré-ćıclica e caracterizações Observação 2.6.1 B-shift não é uma aplicação injetora pois dados λ = (4, 3, 1, 1, 1) e θ = (6, 3, 1) partições de 10, temos B(λ) = B(θ) = (5, 3, 2). B-shift também não é sobrejetora pois se λ = (1, 1, 1, 1, 1) � 5, não existe θ � 5, tal que B(θ) = λ. Com a Observação 2.6.1 foi motivada a seguinte proposição: Proposição 2.6.1 Sejam n um inteiro positivo e λ = (λ1, λ2, . . . , λs) � n: (i) Se λi < s− 1, ∀i = 1, . . . , s, então não existe μ � n tal que B(μ) = λ. Nesse caso dizemos que λ é uma partição raiz. (ii) Se para algum i, i = 1, . . . , s, λi ≥ s− 1, então existe θ � n tal que B(θ) = λ. Nesse caso dizemos que λ é uma partição gerada por θ, e nesse caso θ é a geratriz de λ. Demonstração: (i) Suponha que existe μ = (μ1, μ2, . . . , μk) � n tal que B(μ) = λ, logo μ possui pelo menos s − 1 partes (ver Observação 2.1.1) e assim para algum i, i = 1, . . . , s, λi ≥ s− 1, o que é um absurdo. (ii) Segue direto da definição da aplicação B-shift. Observação 2.6.2 Em [7] a partição raiz é chamada de partição “Garden of Eden” na tradução literal “Jardim do Éden”, que provém da terminologia de autômatos celulares e teoria combi- natória de jogos. Também em [7] foi provado a quantidade dessas partições, dado um inteiro positivo. Exemplo 2.6.1 λ = (3, 2, 2, 1, 1, 1) é uma partição raiz. Exemplo 2.6.2 α = (4, 2, 1) � 7 é uma partição gerada por μ = (3, 2, 1, 1) � 7 e θ = (5, 2) � 7 pois B(μ) = B(θ) = (4, 2, 1), ou seja, as geratrizes de uma partição não são únicas e isso ocorre pelo fato da aplicação B-shift não ser injetora. Figura 2.18: 34 Definição 2.6.1 Dizemos que λ é uma partição pré-ćıclica se λ não é ćıclica e B(λ) é ćıclica, ou seja, λ é uma geratriz não ćıclica de uma partição ćıclica. Exemplo 2.6.3 Seja n = 18 e λ = (7, 6, 3, 2). Então λ é uma partição pré-ćıclica pois λ não é ćıclica já que não tem a forma ćıclica do Teorema 2.4.1 e B(λ) = (6, 5, 4, 2, 1) que é ćıclica. Lema 2.6.1 Seja λ = (λ1, λ2, . . . , λs) � n uma partição gerada. Se λ possui l partes distintas maiores ou iguais a (s− 1), então λ possui l geratrizes distintas. Demonstração: Seja λi para algum i = 1, . . . , s uma parte de λ tal que λi ≥ s − 1. Pela definição de B-shift, existe μ � n, |μ| = λi, μ �= λ, tal que B(μ) = λ, a saber: μ = (λ1 + 1, λ2 + 1, . . . , λi−1 + 1, λi+1 + 1, . . . , λs + 1, λi−(s−1)︷ ︸︸ ︷ 1, 1, . . . , 1︸ ︷︷ ︸ λi ) Portanto, como λ possui l partes distintas maiores ou iguais a (s − 1), então conseguimos determinar l geratrizes distintas para λ. Questão: Qual a caracterização das partições pré-ćıclicas? Seja n um inteiro positivo, n = Tk−1 + r, 1 ≤ r ≤ k. Se λ � n é uma partição B-ćıclica, então λ tem a forma ćıclica dada no Teorema 2.4.1: (k − 1 + δk−1, k − 2 + δk−2, k − 3 + δk−3, . . . , 3 + δ3, 2 + δ2, 1 + δ1, δ0) tal que δi = 1 ou 0 e k−1∑ i=0 δi = r. Se n é triangular, ou seja, r = k, então pelo Coroláro 2.4.1: λ = (k, k − 1, k − 2, . . . , 3, 2, 1) e assim λ possui k partes, ou seja |λ| = k. Logo possui 2 partes, λ1 = k e λ2 = k − 1 tal que λ1, λ2 ≥ k − 1 e assim, pelo Lema 2.6.1, λ possui 2 geratrizes distintas, κ1 e κ2 . - Seja κ1 a geratriz com k partes, logo, pela definição de B-shift, κ1 = λ que é ćıclica. - Seja κ2 a geratriz com k − 1 partes, logo, pela definição de B-shift: κ2 = (k + 1, k − 1, k − 2, . . . , 4, 3, 2︸ ︷︷ ︸ k−1 ) (2.1) que não é ćıclica. Portanto, para n triangular, as partição pré-ćıclicas são da forma dada em (2.1). Se n é não triangular, ou seja, 1 ≤ r < k então: 35 • Se δ0 = 1 então λ possui k partes, ou seja, |λ| = k. Logo possui 2 partes, a saber, λ1 = k− 1 + δk−1 e λ2 = k − 2 + δk−2, com δk−2 = 1, tal que λ1, λ2 ≥ k− 1 e assim, pelo Lema 2.6.1, λ possui 2 geratrizes μ1 e μ2 com μ1 �= μ2. - Seja μ1 a geratriz com (k − 1) + δk−1 partes, logo, pela definição de B-shift: μ1 = (k − 1 + δk−2, k − 2 + δk−3, . . . , 3 + δ2, 2 + δ1, 1 + δ0, δk−1︸ ︷︷ ︸ (k−1)+δk−1 ) que é ćıclica. - Seja μ2 a geratriz com (k − 2) + δk−2 partes, δk−2 = 1, logo, pela definição de B-shift: μ2 = (k + δk−1, k − 2 + δk−3, k − 3 + δk−4, . . . , 3 + δ2, 2 + δ1, δk−2 + δ0︸ ︷︷ ︸ (k−2)+δk−2 ) Se δk−1 = 0 então μ2 é ćıclica. Se δk−1 = 1 então μ2 não é ćıclica. • Se δ0 = 0 então λ possui (k− 1) partes, ou seja, |λ| = k− 1, logo possui 3 partes, a saber λ1 = k−1+ δk−1, λ2 = k−2+ δk−2 e λ3 = k−3+ δk−3, com δk−3 = 1, tal que λ1, λ2, λ3 ≥ k−1 e assim, pelo Lema 2.6.1, λ possui 3 geratrizes distintas θ1, θ2 e θ3. - Seja θ1 a geratriz com (k − 1) + δk−1 partes, então θ1 = μ1. - Seja θ2 a geratriz com (k − 2) + δk−2 partes, então θ2 = μ2. Se δk−2 = 1 então: se δk−1 = 0, então θ2 é ćıclica. se δk−1 = 1, então θ2 não é ćıclica. Se δk−2 = 0 então θ2 não é ćıclica. - Seja δ3 a geratriz com (k − 3) + δk−3 partes, δk−3 = 1, logo, pela definição de B-shift: θ3 = (k + δk−1, k − 1 + δk−2, k − 3 + δk−4, . . . , 3 + δ2, 2 + δ1︸ ︷︷ ︸ (k−3)+δk−3 ) que não é ćıclica. Portanto, se n é não triangular, então as partições pré-ćıclicas são da forma: ζ = (k + δk−1, k − 2 + δk−3, k − 3 + δk−4, . . . , 3 + δ2, 2 + δ1, δk−2 + δ0) (2.2) com δ0 ≤ δk−2 e (δk−1, δk−2) �= (0, 1) ou ϑ = (k + δk−1, k − 1 + δk−2, k − 3 + δk−4, . . . , 3 + δ2, 2 + δ1) (2.3) 36 com δ0 = 0 e δk−3 = 1. No caso em que δk−2 = δ0 = 0 e δk−3 = 1 temos ζ = ϑ. Exemplo 2.6.4 Seja n = T4 + 2 = 12. As partições ćıclicas de 12 são da forma: (4 + δ4, 3 + δ3, 2 + δ2, 1 + δ1, δ0) tal que δi = 1 ou 0, para i = 0, . . . , 4, e 4∑ i=0 δi = 2. Logo as partições pré-ćıclicas são da forma: (5 + δ4, 3 + δ2, 2 + δ1, δ3 + δ0) com δ0 ≤ δ3 e (δ4, δ3) �= (0, 1) ou (5 + δ4, 4 + δ3, 2 + δ1) com δ0 = 0 e δ2 = 1. E as possibilidades são: (6, 4, 2), (6, 3, 3), (5, 4, 3), (6, 3, 2, 1) e (5, 5, 2), como mostra a Figura 2.19. � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � Figura 2.19: 37 2.7 Cálculo de DB(n) para números triangulares Na Seção 2.2 definimos DB(n) e nesta seção vamos encontrar o valor de DB(n) para números triangulares. Teorema 2.7.1 Se n = Tk = 1 + 2 + . . .+ k, k ∈ Z+, então DB(n) ≥ k2 − k. Demonstração: É suficiente mostrar que existe λ � n tal que dB(λ) = k2 − k já que DB(n) := max{dB(λ) | λ � n}. Seja λ = (λ1, λ2, . . . , λk+1), tal que λ1 = k − 1, λi = k − i + 1 para i = 1, . . . , k, e λk+1 = 1. Assim λ = (k − 1, k − 1, k − 2, k − 3, . . . , 3, 2, 1, 1). Fazendo a matriz associada Mλ temos que as diagonais de 1 a (k − 1) são formada apenas por 1’s, a diagonal k é da forma (0, 1, 1, . . . , 1, 1), a diagonal k + 1 é da forma (0, 0, 0, . . . , 0, 0, 1) e as diagonais abaixo da diagonal k + 1 são formadas apenas de 0’s. k−1alinha −→ kalinha −→ k+1alinha −→ ⎛ ⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎝ 1 1 · · · 1 1 1 1 · · · 1 1 · · · 1 1 0 0 · · · ... ... . . . . . . . . . ... ... · · · 1 1 1 0 0 0 0 · · · 1 1 0 0 0 0 0 · · · 0 0 0 0 0 0 0 · · · 0 0 0 0 0 0 0 · · · ... ... ... ... ... ... ... · · · ⎞ ⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎠ = Mλ Com a forma da matriz Mλ definida, ao aplicar k vezes o processo B-shifting em Mλ, apenas DMλ (k + 1) é alterada, pois as outras diagonais são formadas apenas por 1’s ou são formadas apenas por 0’s e a diagonal k permanece a mesma também pois possui k elementos. Note que nessas k vezes foi preciso apenas utilizar o Passo 1 (Shifting Circuarl Diagonal) por causa da configuração de Mλ. Assim as diagonais DMλ (k) e DMλ (k + 1) se comportam da seguinte maneira: 38 � Processo B-shifting em Mλ (Passo 1) DMλ (k) DMλ (k + 1) k (0, 1, 1, . . . , 1, 1, 1︸ ︷︷ ︸ k ) (0, 0, 0, . . . , 0, 0, 1, 0︸ ︷︷ ︸ k+1 ) 2k (0, 1, 1, . . . , 1, 1, 1︸ ︷︷ ︸ k ) (0, 0, 0, . . . , 0, 1, 0, 0︸ ︷︷ ︸ k+1 ) ... ... ... (k − 2)k (0, 1, 1, . . . , 1, 1, 1︸ ︷︷ ︸ k ) (0, 0, 1, 0, . . . , 0, 0, 0︸ ︷︷ ︸ k+1 ) (k − 1)k (0, 1, 1, . . . , 1, 1, 1︸ ︷︷ ︸ k ) (0, 1, 0, 0, . . . , 0, 0, 0︸ ︷︷ ︸ k+1 ) Assim depois de aplicados (k−1)k vezes o Passo 1 do processo B-shifting em Mλ, chegamos em uma matriz Mθ com a seguinte configuração: k−1alinha −→ kalinha −→ k+1alinha −→ ⎛ ⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎝ 1 1 · · · 1 1 1 0 · · · 1 1 · · · 1 1 0 0 · · · ... ... . . . . . . . . . ... ... · · · 1 1 1 0 0 0 0 · · · 1 1 0 0 0 0 0 · · · 0 1 0 0 0 0 0 · · · 0 0 0 0 0 0 0 · · · ... ... ... ... ... ... ... · · · ⎞ ⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎠ = Mθ Há mais 1’s na segunda coluna do que na primeira, logo precisamos aplicar o Passo 2 do processo B-shifting em Mθ e assim obtemos a matriz MB((k−1)k)(λ) que é a matriz associada da partição B((k−1)k)(λ). Logo B((k−1)k)(λ) = (k, k − 1, k − 2, . . . , 3, 2, 1) que é ćıclica e portanto dB(λ) = k2 − k. k−1alinha −→ kalinha −→ k+1alinha −→ ⎛ ⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎝ 1 1 · · · 1 1 1 0 · · · 1 1 · · · 1 1 0 0 · · · ... ... . . . . . . . . . ... ... · · · 1 1 1 0 0 0 0 · · · 1 1 0 0 0 0 0 · · · 1 0 0 0 0 0 0 · · · 0 0 0 0 0 0 0 · · · ... ... ... ... ... ... ... · · · ⎞ ⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎠ = MB((k−1)k)(λ) Antes de provarmos o próximo teorema vamos precisar de algumas ferramentas, notações e lemas. 39 Vamos começar com um exemplo para para um natural n = 15. O número 15 possui 176 partições. Como 15 é um número triangular escrito na forma n = 1 + 2 + 3 + 4 + 5 = T5, pelo Corolário 2.4.1, sabemos que a partir de qualquer partição de 15, sempre alcançamos a partição (5, 4, 3, 2, 1) em um certo número de iteradas. As 176 partições do número 15 podem ser agrupadas em uma árvore, ilustrada na Figura 2.20, cujo os vértices correspondem ao número de partes da respectiva partição e a ligação de cada vértice, lendo de cima para baixo, representa a aplicação B-shift. Figura 2.20: Representação dos tamanhos das 176 partições do número 15 Por exemplo, o número 5 na base da árvore representa a partição (5, 4, 3, 2, 1) que possui 5 partes. O número 4 que vem logo acima desse 5 representa a partição (6, 4, 3, 2) que possui 4 40 partes. Definição 2.7.1 Seja λ � n, associamos a λ a sequência seqB(λ) =< c1, c2, . . . >, tal que ci = |B (i−1)(λ)|, i ∈ Z+, ou seja, ci é o tamanho da partição B(i−1)(λ). Exemplo 2.7.1 Na Figura 2.20, o vértice no topo e mais à esquerda, corresponde à partição λ = (4, 4, 3, 2, 1, 1) � 15. Logo ela possui a sequência associada: seqB(λ) =< 6, 5, 5, 5, 4, 5, 6, 5, 5, 4, 5, 5, 6, 5, 4, 5, 5, 5, 6, 4, 5, 5, 5, 5, . . . >. Dado n um inteiro positivo, podemos também plotar através do software “Wolfram Math- ematica” um diagrama semelhante ao Diagrama B-shift de n, de tal forma que os vértices agora são rotulados com o tamanho das respectivas partições. Chamaremos esse diagrama de Árvore B-shift de n. Exemplo 2.7.2 A Figura 2.21 representa a Árvore B-shift de 10. Comparando com a Figura (2.13) é posśıvel ver a associação entre a partição e o respectivo tamanho. � � � �� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �� � � �� � � � � �� � Figura 2.21: Árvore B-shift de 10 Na Figura 2.20, observamos que o padrão “x− 1, x, x, . . . , x, x, x+ 1” aparece com grande frequência nas sequências associadas. Esse padrão é fundamental para o cálculo preciso de DB(n). Para estudarmos esse padrão, associamos um diagrama para cada partição. 41 Definição 2.7.2 Dada uma partição λ = (λ1, λ2, . . . , λs) � n, seja seqB(λ) =< c1, c2, . . . > a sua sequência associada. O diagramaB(λ) é definido como o diagrama mostrado na Tabela 2.2, tal que cada coluna rotulada por λi (respc., ci ) possui λi (respec., ci) 1’s a partir do topo e em sequência, e infinitos 0’s em todas as outras entradas. Os śımbolos � no diagramaB(λ) são ignorados. Tabela 2.2: diagramaB(λ) � � � � λ1 λ2 · · · λs � � � c1 · · · � � c2 · · · � c3 · · · . . . · · · ... · · · ... ... ... ... ... ... · · · ... Exemplo 2.7.3 Se λ = (4, 2, 2, 2) então o diagramaB(λ) é: � � � � � � � � 4 2 2 2 � � � � � � � 4 1 1 1 1 � � � � � � 5 1 1 1 1 1 � � � � � 3 1 1 1 0 0 0 � � � � 4 1 1 1 1 0 0 0 � � � 4 1 1 1 1 0 0 0 0 � � 4 1 1 1 1 0 0 0 0 0 � 4 1 1 1 0 1 0 0 0 0 0 4 1 1 1 1 0 0 0 0 0 0 0 1 1 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 42 Observação 2.7.1 1) Pela definição do diagramaB(λ) há ci 1’s na coluna de ci , i ∈ Z+. Temos também o mesmo número de 1’s na linha de ci , isso pelo fato da própria definição de seqB(λ) e diagramaB(λ). O que difere os 1’s das colunas e das linhas de ci é que nas colunas os 1’s são consecutivos e na linhas os 1’s não necessariamente são. 2) Além disso o diagramaB(λ) pode ser considerado como um “lembrete” para a operação B-shift em λ, já que podemos obter facilmente B(i) (λ) a partir do diagramaB(λ) para qualquer natural i. Às vezes precisaremos reorganizar as colunas. Por exemplo, o retângulo formado abaixo de c2 = 5 e à direta de c3 = 3 nos mostra, ignorando os zeros, B(2)(λ) = (5, 3, 2) e o retângulo abaixo de c7 = 4 e à direta de c8 = 4 resulta, ignorando os zeros, em B(7)(λ) = (4, 3, 2, 1). Proposição 2.7.1 Sejam λ � n e seqB(λ) =< c1, c2, . . . >. Então: (1) ci+1 ≤ ci + 1 para i ≥ 1. (2) Para n = 1+ 2+ . . .+ (k− 1) + r, onde 1 ≤ r ≤ k, k ∈ Z+, a soma de quaisquer k termos consecutivos da seqB(λ) é no máximo k(k − 1) + r. (3) (Propriedade do Sandúıche) Sejam i, j, x ∈ N∗. Se i < j e ci < x < cj, então existem inteiros p e q tal que i ≤ p < q ≤ j, q ≥ p+ 2, e (cp, cp+1, . . . , cq) = (x− 1, x, x, . . . , x, x+ 1). Demonstração: (1) Seja λ � n uma partição cujo número de partes é ci. Logo, pela definição de seqB(λ), ci+1 é o número de partes da partição B(λ) e, pela definição da aplicação B-shift, apenas um dos seguintes casos pode acontecer: i) ci+1 = ci, se uma das partes de λ for igual a 1 e as outras partes maiores que 1. ii) ci+1 < ci, se duas ou mais partes de λ forem iguais a 1. iii) ci+1 = ci + 1, se nenhuma das partes de λ for igual a 1. Portanto, ci+1 ≤ ci + 1. (2) Observe no diagramaB(λ) que para i > 0, ci+1 + ci+2 + . . . + ci+k é o número de 1’s nas k linhas rotuladas por ci+1 + ci+2 + . . . + ci+k. O retângulo formado abaixo de ci e à direita de ci+1 nos mostra, ignorando os zeros, a partição B(i)(λ), ou seja, há n 1’s nesse retângulo. Olhando verticalmente ao lado esquerdo desse retângulo, como estamos somando k termos consecutivos, temos (k − 1) + (k − 2) + . . . + 2 + 1 casas para serem completadas por 0 ou 1. Essa soma terá valor máximo quando todas as casas forem completadas por 1. Assim ci+1 + ci+2 + . . .+ ci+k ≤ n + 1 + 2 + . . .+ (k − 1) = (k − 1)k + r. (3) Escolha p o maior inteiro posśıvel tal que i ≤ p < j e cp = x− 1. Como escolhemos o maior p tal que vale essa condição então cp+1 = x, pois se cp+1 ≥ x+ 1 chegaŕıamos em um absurdo 43 por (1), e se cp+1 ≤ x − 1, então não teŕıamos escolhido o maior p. Temos que cp+2 = x ou x+1, pois se cp+2 ≥ x+2 ou cp+2 ≤ x−1, chegaŕıamos nos mesmos absurdos do caso anterior. Se cp+2 = x+1 então (3) é satisfeita, se cp+2 = x então raciocinando da mesma forma cp+3 = x ou x+1. . . . Assim para um determinado q com p < q ≤ j, cq = x+1 e teremos a condição (3) satisfeita. Precisaremos agora de uma série de lemas que relacionam a Proposição 2.7.1 e o diagramaB(λ). Definição 2.7.3 Sejam λ = (λ1, λ2, . . . , λs) � n, seqB(λ) =< c1, c2, . . . > e i, j ∈ Z+. Para i > j, denotamos por ei,j a entrada da linha ci com a coluna cj do diagramaB(λ). Para j ∈ {1, . . . , s}, denotamos por fi,j a entrada da linha ci com a coluna λj . � � � � λ1 λ2 · · · λs � � � c1 f1,1 f1,2 · · · f1,s � � c2 e2,1 f2,1 f2,2 · · · f2,s � c3 e3,2 e3,1 f3,1 f3,2 · · · f3,s . . . e4,3 e4,2 e4,1 f4,1 f4,2 · · · f4,s ... ... ... ... ... ... · · · ... Observação 2.7.2 Sejam i, j ∈ Z+, i ≥ 2. Segue das definições: 1) ei,i−1 = 1 2) Se ei,j = 1, então cj ≥ i− j. Se ainda ei+1,j = 0 então cj = i− j 3) Por outro lado, se ei,j = 1, então ei−1,j = ei−2,j = . . . = 1. 4) Se ei,j = 0 então ei+1,j = ei+2,j = . . . = 0. Se ainda ei+1,j+1 = 1 então cj+1 = cj + 1. 5) Dados i, k ∈ Z+, se ci = k e ci+1 = ci + 1 e, sem perda de generalidade, as k primeiras entradas da linha de ci forem 1’s então as k+1 primeiras entradas da linha de ci+1 são também formadas por 1’s. Lema 2.7.1 Seja λ � n = 1 + 2 + . . .+ k, k ∈ Z+, e seqB(λ) =< c1, c2, . . . >. Então (1) dB(λ) = t, com seqB(λ) =< c1, . . . , ct−1, ct, ct+1, ct+2, . . . >=< c1, . . . , ct−1, k − 1, k, k, . . . >. (2) Se dB(λ) = t, com t ≥ k + 1, então pelo menos uma das seguintes condições é satisfeita: (i) (cp, cp+1, cp+2, . . . , cq−1, cq) = (k − 1, k, k, . . . , k, k + 1) para inteiros positivos p, q com t− k ≤ p < q ≤ t− 1 e q ≥ p+ 2; (ii) (cp, cp+1, cp+2, . . . , cq−1, cq) = (k− 2, k− 1, k− 1, . . . , k− 1, k) para inteiros positivos p, q com t− k + 1 ≤ p < q ≤ t + 1 e q ≥ p+ 2. 44 Demonstração: (1) Como dB(λ) = t, por definição B(t)(λ) é B-ćıclica. Pelo Corolário 3.3.1, B(t)(λ) = (k, k − 1, . . . , 2, 1), já que n = 1 + 2 + . . . + k. Assim, por definição, ct+1 = k. Pela definição da aplicação B-shift temos B(t)(λ) = B(t+1)(λ) = B(t+2)(λ) = . . ., logo ct+1 = ct+2 = ct+3 = . . .. Assim, seqB(λ) =< c1, . . . , ct, k, k, . . . >. Falta provarmos que ct = k − 1. Para isso, sejam μ e γ as partições de tamanhos ct e ct+1 respectivamente, então μ �= γ pois se μ = γ, então dB(λ) < t, o que é um absurdo. Pelo Corolário 3.3.1, γ = (k, k − 1, . . . , 2, 1). Se ct = k, então pela definição de B-shift, μ = (k, k − 1, . . . , 2, 1), o que é um absurdo. Assim ct �= k. Se ct ≥ k+ 1, então ct + ct+1 + . . .+ ct+k ≥ k+1+ (k− 1)k = k2 +1, o que é um absurdo pela Proposição 2.7.1(2). Se ct ≤ k − 2, então ct+1 > ct + 1, o que é um absurdo pela Proposição 2.7.1(1). Logo, ct = k − 1 e portanto seqB(λ) =< c1, . . . , ct−1, k − 1, k, k, . . . >. (2) Pela Observação 2.7.2, temos et,t−1 = 1. Como ct = k − 1, seque que et,i = 0 para algum i, t− k ≤ i ≤ t− 2. Escolhemos tal i como sendo o maior posśıvel. Assim et,i+1 = 1, e, como ct+1 = k = ct + 1, pelo item 5) da Observação 2.7.2, temos et+1,i+1 = 1. A Proposição 2.7.1(1) nos dá ci ≥ ci+1 − 1, o que força et−1,i = 1. Logo, temos et−1,i = 1 e et,i = 0 e pelo item 2) da Observação 2.7.2 segue que ci = t− i− 1. Como et,i = 0 e et+1,i+1 = 1, pelo item 4) da Observação 2.7.2 segue que ci+1 = ci + 1 e assim temos ci+1 = t− i. Se t − k + 1 ≤ i ≤ t− 2 então, ci ≤ k − 2 e assim (ii) vale pela propriedade do sandúıche, pois temos ci = k − 2 quando i = t − k + 1, ci < k − 1 < cj = k, com j = t + 1, logo existem inteiros p e q tal que i = t − k + 1 ≤ p < q ≤ j = t + 1 com (cp, cp+1, cp+2, . . . , cq−1, cq) = (k − 2, k − 1, k − 1, . . . , k − 1, k). Se i = t−k então ct−k = k−1 e ct−k+1 = k. Se cj ≤ k−2 para algum j, t−k+2 ≤ j ≤ t−1, então (ii) vale pela propriedade do sandúıche pela mesma justificativa anterior. Se cj ≥ k + 1 para algum j, t−k+2 ≤ j ≤ t−1, então (i) vale pela propriedade do sandúıche, pois ci = k−1 com i = t− k, ci + 1 = k e cj ≤ k + 1, t− k + 2 ≤ j ≤ t− 1, ou seja, temos ci < k < cj, logo existem p e q tal que i ≤ p < q ≤ j e (cp, cp+1, cp+2, . . . , cq−1, cq) = (k − 1, k, k, . . . , k, k + 1). Suponha por absurdo que k − 1 ≤ cj ≤ k para j = t− k + 2, t− k + 3, . . . , t− 1, pois caso isso ocorrer (i) ou (ii) não vale. Como i = t − k, a linha de ct consiste em k − 1 1’s consecutivos, seguidos por 0’s. A linha ct+1 é formada de k 1’s consecutivos, seguidos por 0’s. Há k 1’s no topo das colunas ct+1, ct+2, . . .. Assim no retângulo formado abaixo de ct−1 e à direita de ct temos k − 1 1’s na primeira linha e k − j + 1 1’s nas linhas j, 2 ≤ j ≤ k. Nas linhas abaixo, tudo é zero. No total temos 45 n− 1 1’s nesse retângulo, o que é uma contradição, já que esse retângulo representa, depois de reordenadas as colunas se necessário, a partição B(t−1)(λ) de n. Lema 2.7.2 Sejam λ � n e seqB(λ) =< c1, c2, . . . >. Se para inteiros p e k, (cp, cp+1, cp+2, . . . , cp+k−1, cp+k) = (k − 2, k − 1, k − 1, . . . , k − 1, k), então p+ k ≤ n+ 1. Demonstração: Temos que ep+k−2,p = 1 e ep+k−1,p = 0, já que cp = k− 2. Pela condição dada na hipótese, na linha cp+k também temos ep+k,j = 1 para j = p+ 1, p+ 2, . . . , p + k − 1. Note que a soma dessas entradas resulta em k − 1, e, portanto, ainda falta completar uma entrada com 1 no diagramaB(λ) na linha de cp+k, já que cp+k = k. Esse 1 que falta em uma dessas entradas no diagramaB(λ), ou vem da coluna de algum λj, 1 ≤ j ≤ s, ou vem da coluna de algum cj, 1 ≤ j ≤ p− 1. Se acontecer o primeiro caso então temos p + k ≤ λj ≤ n e j = 1, pois se 2 ≤ j ≤ s, como λ1 ≥ λ2 ≥ . . . então λj−1 = 1 e áı haveriam k + 1 1’s na na linha de cp+k, absurdo. Se acontecer o segundo caso então p + k ≤ cj ≤ n + 1 e j = 1, pois se p − 1 ≤ j ≤ 2 teremos ep+k,j−1 = 0 e como cp+k = k = cp+k−1 + 1, comparando as linhas cp+k e cp+k−1 no diagramaB(λ) também teremos ep+k−1,j−1 = 0. Analogamente, como cp+k−1 = cp+k−2, ep+k−2,p = 1 e ep+k−1,p = 0, comparando as linhas cp+k−1 e cp+k−2 no diagramaB(λ) teremos ep+k−2,j−1 = 0. Assim cj > cj−1 + 1, o que é uma contradição pela Proposição 2.7.1(1). Lema 2.7.3 Sejam λ � n e seqB(λ) =< c1, c2, . . . >. Se para inteiros x, p e q, com q ≥ p+3 e (cp, cp+1, cp+2, . . . , cq−1, cq) = (x− 1, x, x, . . . , x, x+ 1), então ou p ≤ x ou (cp′, cp′+1, cp′+2, . . . , cq′−1, cq′) = (x′ − 1, x′, x′, . . . , x′, x′ + 1), para inteiros x′, p′ e q′, com x′ ≤ x, 2 ≤ q′ − p′ < q − p, e p− x ≤ p′ < q′ ≤ p+ 1. Demonstração: Vamos assumir p ≥ x+ 1 e provar a existência de p′, q′ e x′. Como cp = x − 1 então temos que ep,p′ = 0 para algum p′, p − x ≤ p′ ≤ p − 2. Escolhemos o maior p′ posśıvel que satisfaça essa condição. Assim ep,j = 1 para j = p′ + 1, p′ + 2, . . . , p − 1, e, como cp+1 = x = cp + 1, comparando as linhas de cp e cp+1 no diagramaB(λ) , também temos ep+1,j = 1 para j = p′ + 1, p′ + 2, . . . , p. A coluna abaixo de cp′+1 possui 1’s até pelo menos no 46 cruzamento com a linha cp+1. A Proposição 2.7.1(1) nos diz que cp′ ≥ cp′+1 + 1, o que força todas as entradas, acima de 0 em ep,p′, e serem 1. Assim cp′ = p− p′ − 1, pois ep−1,p′ = 1 então cp′ ≥ p − 1 − p′ e também ep,p′ = 0. Também temos cp′+1 = p − p′, pois ep+1,p′+1 = 1 então cp′+1 ≥ p+1−p′−1 = p−p′ e também ep+2,p′+1 = 0, pois se ep+2,p′+1 = 1 então cp′+1 > cp′ +1, absurdo. Como cp+2 = x = cp+1, comparando as linhas de cp+2 e cp+1 no diagramaB(λ) temos ep+2,j = 1 para j = p′ + 2, p′ + 3, . . . , p + 1. Se ep+3,p′+2 = 1 então cp′+2 ≥ p + 3 − p′ − 2 = p − p′ + 1 e como ep+4,p′+2 = 0 então cp′+2 = p− p′ + 1 e assim terminamos. Assim podemos assumir que ep+3,p′+2 = 0 e cp′+2 = p− p′. Como cp+3 = x = cp+2, comparando as linhas de cp+3 e cp+2 no diagramaB(λ) temos ep+3,j = 1 para j = p′ + 3, p′ + 4, . . . , p + 2. Se ep+4,p′+3 = 1 então cp′+3 ≥ p + 4 − p′ − 3 = p − p′ + 1 e como ep+5,p′+3 = 0 então cp′+3 = p− p′ + 1 e assim terminamos. Assim podemos assumir que ep+4,p′+3 = 0 e cp′+3 = p− p′. Continuando esse processo... Podemos assumir que eq−1,p′+q−p−2 = 0, cp′+q−p−2 = p− p′, e eq−1,j = 1 para j = p′ + q − p − 1, p′ + q − p, . . . , q − 2. Como cq = x + 1 = cq−1 + 1, comparando as linhas de cq e cq−1 no diagramaB(λ), temos eq,p′+q−p−1 = p− p′ + 1. E assim completamos a prova do teorema. Lema 2.7.4 Sejam λ � n e seqB(λ) =< c1, c2, . . . >. Se (cp, cp+1, cp+2) = (x− 1, x, x+ 1) então p ≤ x. Demonstração: Vamos supor que p > x. Então cp = x − 1 < p − 1 que implica ep,i = 0 para algum i, 1 ≤ i ≤ p − 2. Escolha o maior i posśıvel que satisfaça essa condição, e assim ep,i+1 = 1. Como cp+1 = x = cp +1 e cp+2 = x+1 = cp+1 +1, comparando as linhas de cp, cp+1 e cp+2 no diagramaB(λ), temos também ep+2,i+1 = ep+1,i+1 = 1. Assim ci+1 > ci + 1, o que é uma contradição pela Proposição 2.7.1(1). Agora temos condições de provar o próximo teorema. Teorema 2.7.2 Se n = Tk = 1 + 2 + . . .+ k, k ∈ Z+, então DB(n) = k2 − k. Demonstração: Provamos no Teorema 2.4.1 que DB(n) ≥ k2− k. Basta agora provarmos que que DB(n) ≤ k2 − k. 47 Seja λ � n, é suficiente mostrar que dB(λ) ≤ k2−k. Vamos assumir que k ≥ 3, pois quando k ≤ 2, dB(λ) ≤ k2 − k, já que para k = 1, (1) é a única partição de 1 e quando k = 2 temos n = 3, e as partições de 3 são (2, 1), (3), (1, 1, 1). Além disso, assumimos que dB(λ) ≥ k + 1, pois se dB(λ) ≤ k, como k ≥ 3, então dB(λ) ≤ k < k2 − k. Seja seqB(λ) =< c1, c2, . . . > onde < ct, ct+1, ct+2, . . . >=< k−1, k, k, . . . >. Assim dB(λ) = t e pelo menos (i) ou (ii) do Lema 2.7.1 vale. Se (ii) vale com q = p + k (que é o valor máximo para q), então temos p = t − k + 1 e q = t+1. Note que o Lema 2.7.2 nos dá p+k ≤ n+1. Então dB(λ) = t = p+k−1 ≤ n ≤ k2−k, já que k ≥ 3. Se não, (i) ou (ii) vale e q ≤ p + k − 1. Utilizando os Lemas 2.7.3 e 2.7.4, a seqB(λ) tem no máximo (k − 1)+(3 + 4 + . . .+ (k − 2) + (k − 1))+((k − 3) + (k − 4) + . . .+ 2 + 1) = k2 − 2k − 1 termos antes do termo cp: seqB(λ) =< �k−1︷ ︸︸ ︷ c1, . . . , ck−1, �3︷ ︸︸ ︷ ck, ck+1, ck+2, �k−3︷ ︸︸ ︷ ck+3, . . . , c2k−1, �4︷ ︸︸ ︷ c2k, c2k+1, c2k+2, c2k+3, �k−4︷ ︸︸ ︷ c2k+4, . . . , c3k−1, . . . . . . , �k−2︷ ︸︸ ︷ cp−2k, . . . , cp−k−3, �2︷ ︸︸ ︷ cp−k−2, cp−k−1, �k−1︷ ︸︸ ︷ cp−k, . . . , cp−2, �1︷︸︸︷ cp−1, �k︷ ︸︸ ︷ cp, . . . , cp+k−1> Assim dB(λ) = t ≤ (p− 1) + k + 1 ≤ (k2 − 2k − 1) + k + 1 ≤ k2 − k. Definição 2.7.4 Seja λ � n, n = 1+ 2+ . . .+ k, k ∈ Z+. Se dB(λ) = k2− k então chamamos λ de partição extrema. Observamos que para k = 2 (resp. k = 3), λ = (1, 1, 1) (resp., λ = (2, 2, 1, 1)) é a única partição de n = 1 + 2 + . . .+ k tal que dB(λ) = k2 − k. Para k ≥ 4,temos: Teorema 2.7.3 Sejam k ≥ 4 e n = 1 + 2 + . . . + k, k ∈ Z+. Se λ � n, com dB(λ) = k2 − k, então a sua matriz associada Mλ = [mij ] ∞ i,j=1 satisfaz as seguintes condições: (1) mij = 1 para j ≤ k + 3− 2i, (2) mij = 0 para j ≥ 2k + 1− 2i, e (3) |{(i, j) : j = k + 4− 2i,mij = 0}| ≤ 2. Demonstração: Se k ≥ 4 e dB(λ) = k2−k, a demonstração do Teorema 2.7.2 implica que (i) do Lema 2.7.1 vale e q = p+k−1. Portanto, temos seqB(λ) =< c1, c2, . . . > onde (ck, ck+1, ck+2) = (k − 1, k, k + 1) e (c2k, c2k+1, c2k+2, c2k+3) = (k − 1, k, k, k + 1). Nessas condições temos no diagramaB(λ) que ek+2,k+1 = 1 e ek+2,k = 1. Também temos ek+2,i = 1 para i = 1, 2, . . . , k− 1, pois caso contrário escolhemos o maior i posśıvel tal que 1 ≤ i ≤ k−1 e ek+2,i = 0, comparando as linhas de ck+2, ck+1 e ck no diagramaB(λ), teremos ek,i = ek+1,i = 0 o que implica ci+1 > ci+1, o que é um absurdo. Portanto, ci ≥ k + 2 − i para i = 1, 2, . . . , k + 2, e assim a Condição (1) 48 vale. Temos também e2k,i = 1 para i = k + 1, k + 2, . . . , 2k − 1, pois caso contrário escolhemos o maior i posśıvel tal que k+3 ≤ i ≤ 2k− 2 e e2k,i = 0. Logo e2k,i+1 = 1. Note que e2k+1,k+1 = 1 e e2k+2,k+1 = 0, já que ck+1 = k. Comparando as linhas c2k, c2k+1 e c2k+2 no diagramaB(λ), temos e2k+2,i+1 = e2k+1,i+1 = 1 e assim ci+1 > ci + 1, o que é um absurdo. Portanto, e2k,i = 0 para i = 1, 2, . . . , k e a Condição (2) vale. Como e2k,k+3 = 1, comparando as linhas c2k, c2k+1, c2k+2 e c2k+3 no diagramaB(λ), temos e2k+3,k+3 = e2k+2,k+3, e2k+1,k+3 = 1, e assim ck+3 ≥ k. Portanto, temos k+2∑ j=1 ek+3,j ≥ k, e assim a Condição (3) vale. Computacionalmente foi checado que a rećıproca do teorema é válida para k = 4, 5, 6, 7, em particular a rećıproca com a condição (3) removida também é válida para k = 4, 5, 6. Quando k = 8, existem 1.276 partições de k satisfazendo as 3 condições do Teorema 2.7.3, mas 9 dessas partições tem dB(λ) �= 20 = k2 − k, são elas: (1) (7, 7, 6, 6, 3, 3, 2, 1, 1) (2) (7, 7, 6, 6, 3, 2, 2, 2, 1) (3) (7, 7, 6, 6, 3, 2, 2, 1, 1, 1) (4) (7, 7, 4, 4, 3, 2, 2, 1, 1, 1, 1, 1, 1, 1) (5) (7, 7, 4, 3, 3, 3, 2, 1, 1, 1, 1, 1, 1, 1) (6) (7, 7, 4, 3, 3, 2, 2, 2, 1, 1, 1, 1, 1, 1) (7) (5, 5, 4, 3, 3, 2, 2, 2, 2, 2, 2, 2, 1, 1) (8) (5, 4, 4, 4, 3, 2, 2, 2, 2, 2, 2, 2, 1, 1) (9) (5, 4, 4, 3, 3, 3, 2, 2, 2, 2, 2, 2, 1, 1) Portanto as três condições do Teorema 2.7.3 são necessárias mas não são suficientes para a matriz associada das partições extremas. 2.8 Cálculo de Limites de DB(n) para números não tri- angulares Para qualquer número não triangular n, podemos escrevê-lo como n = 1+2+ . . .+(k−1)+r, tal que 1 ≤ r < k, k ∈ Z+. Nesta seção primeiramente vamos provar que DB(n) ≤ k2 − k baseado no Teorema 2.7.2 e depois vamos melhorar esse limite para k2 − 2k − 1 para k ≥ 4. Também apresentaremos um 49 limite inferior. Seja Λ = ∞⋃ i=1 Λi, onde Λi denota o conjunto que contém todas as partições de i, conforme definido em 2.1.2. Definição 2.8.1 Para λ = (λ1, λ2, . . .) e μ = (μ1, μ2, . . .) ∈ Λ, definimos uma ordem parcial, ou seja, reflexiva, antissimétrica e transitiva por: λ ≤ μ⇐⇒ λi ≤ μi, para i = 1, 2, . . . Lema 2.8.1 Sejam x1, x2, . . . e y1, y2, . . . (não necessariamente em ordem não crescente) as partes das partições x e y, x, y ∈ Λ, respectivamente. Se xi ≤ yi, para i ≥ 1, então x ≤ y. Demonstração: Sem perda de generalidade assumimos que x1, x2, . . . estão em ordem não crescente. Se y1 < y2, trocamos y1 e y2 e xi ≤ yi, para i ≥ 1, continua valendo. Se y2 < y3, trocamos y2 e y3 e assim xi ≤ yi, para i ≥ 1, continua valendo. Continuando com esse processo, podemos rearranjar todos os y′is em ordem não-crescente e xi ≤ yi, para i ≥ 1, e assim x ≤ y. Teorema 2.8.1 Se λ, μ ∈ Λ e λ ≤ μ então B(λ) ≤ B(μ). Demonstração: Seja λ, μ ∈ Λ então para algum n ∈ N∗, λ ∈ Λn e para algumm ∈ N∗, μ ∈ Λm. Sem perda de generalidade suponha que λ = (λ1, λ2, . . . , λs) � n e que μ = (μ1, μ2, . . . , μt) � m Então as partes de B(λ) são x1 = s, x2 = λ1 − 1, x3 = λ2 − 1, . . . , xs+1 = λs − 1. Analogamente as partes de B(μ) são y1 = t, y2 = μ1 − 1, y3 = μ2 − 1, . . . , yt+1 = μt − 1. Como xi ≤ yi, para i ≥ 1, pelo Lema 2.8.1, temos B(λ) ≤ B(μ). Combinando o Teorema 2.8.1 com o Teorema 2.7.2, podemos mostrar o próximo Teorema. Teorema 2.8.2 Seja n = 1 + 2 + . . .+ (k − 1) + r, 1 ≤ r < k. Então: DB(n) ≤ k2 − k Demonstração: Seja λ � n. É suficiente mostrar que dB(λ) ≤ k2 − k. Escolha μ e ν tal que μ � (1 + 2 + . . . + (k − 1)), ν � (1 + 2 + . . . + k) e μ ≤ λ ≤ ν. Pelo Teorema 2.8.1, temos que B(k2−k)(μ) ≤ B(k2−k)(λ) ≤ B(k2−k)(ν). Note que o Teorema 2.7.2 nos dá B(k2−k)(μ) = (k−1, k−2, . . . , 2, 1) e B(k2−k)(ν) = (k, k−1, . . . , 2, 1). Portanto B(k2−k)(λ) tem a forma ćıclica do Teorema 2.4.1 e assim dB(λ) ≤ k2 − k. Vamos provar um lema análogo ao Lema 2.7.1, mas agora para números não triangulares. Aplicando esse Lema junto com os Lemas 2.7.2, 2.7.3 e 2.7.4, vamos melhorar o limite superior de DB(n) para números não triangulares. 50 Lema 2.8.2 Sejam n = 1 + 2 + . . .+ (k − 1) + r, 1 ≤ r < k, λ � n e seqB(λ) =< c1, c2, . . . >. (1) Se (ct, . . . , ct+k−1) = (ct+k, . . . , ct+2k−1) = . . ., ou seja, ct+i = ct+i+k para i ≥ 0, então dB(λ) ≤ t−1. (Assim podemos encontrar dB(λ) escolhendo tal t como sendo o menor posśıvel.) (2) Se ct = k − 1, ct+1 = k, ct+i = ct+i+k para i ≥ 0, dB(λ) ≥ k + 1 e (ct−k, . . . , ct−1) �= (ct, . . . , ct+k−1), então pelo menos (i) ou (ii) do Lema 2.7.1 vale. Demonstração: (1) Se ct+i = ct+i+k para i ≥ 0, então cada ct+i é o número de partes de alguma partição B-ćıclica de n, e assim o Teorema 2.4.1 nos garante que k− 1 ≤ ct+i ≤ k para i ≥ 0. Em particular, note que cada linha de ct, ct+1, . . . , ct+k−1, no diagramaB(λ), consiste em k − 1 ou k 1’s. Pela Observação 2.7.1 item 2), temos que o retângulo formado abaixo de ct−1 e à direita de ct, ignorando os zeros e, se necessário, reorganizando as colunas, nos dá B(t−1)(λ). Observe que se ct+i = k− 1 para todo i = 0, . . . , k− 1, então haverá 1+ 2+ . . .+(k− 1) 1’s nesse retângulo, o que seria uma absurdo, pois ele representa B(t−1)(λ). Assim ct+i = k para pelo menos algum i = 0, . . . , k − 1. Também não podemos ter ct+i = k para i = 0, . . . , k − 1, pois chegaŕıamos no mesmo absurdo do caso anterior e assim temos que ter ct+i = k − 1 para algum i = 0, . . . , k − 1. (Ver Exemplo abaixo com n = 13). Logo a partição B(t−1)(λ) possui a forma ćıclica do Teorema 2.4.1 e assim é uma partição B-ćıclica , e portanto dB(λ) ≤ t− 1. � � � � � � � . . . . . . . . . . . . � � � � � � ct−1 . . . . . . . . . . . . � � � � � ct 1 1 1 1 1 � � � � ct+1 1 1 1 1 1 0 � � � ct+2 1 1 1 1 0 0 0 � � ct+3 1 1 1 1 1 0 0 0 � ct+4 1 1 1 1 0 0 0 0 0 . . . ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... Exemplo: n = 13, ou seja, k = 5 e r = 3 (2) A demonstração é análoga à do Lema 2.7.1(2). No último caso, vamos supor por absurdo que ct−k = k − 1, ct−k+1 = k, e k − 1 ≤ cj ≤ k, para j = t− k+ 2, t− k+ 3, . . . , t− 1. Análoga 51 à demonstração de (1) o retângulo abaixo de ct−k−1 e à direita de ct−k no diagramaB(λ), nos mostra que B(t−k−1)(λ) é B-ćıclica. Assim, pelo Teorema 2.4.1, B(t−k−1+i)(λ) = B(t−1+i)(λ) para i ≥ 0. Contando o número de partes de cada partição, temos (ct−k, . . . , ct−1) = (ct, . . . , ct+k−1), o que contradiz a hipótese.. Teorema 2.8.3 Seja n um número não triangular, n = 1 + 2 + . . . + (k − 1) + r, 1 ≤ r < k. Então: (1) DB(n) ≤ k2 − 2k − 1 para k ≥ 4. (2) A igualdade vale quando k ≥ 4 e r = k − 1 Demonstração: (1) Se k = 4 temos que r pode assumir os valores de 1, 2 ou 3 e assim n pode assumir os valores de 7, 8 ou 9. DB(7) = 4 pela Figura 2.8, DB(8) = 5 pela Figura 2.15 e DB(9) = 7 pela Figura 2.22. Portanto DB(n) ≤ 7 para k = 4, e assim podemos assumir que k ≥ 5. Sejam λ � n e seqB(λ) =< c1, c2, . . . >. É suficiente mostrar que dB(λ) ≤ k2 − 2k − 1. Seja B(t−1) (λ) uma partição B-ćıclica para algum t ≥ 1. Logo o Teorema 2.4.1 nos dá ct+i = ct+i+k e k − 1 ≤ ct+i ≤ k para i ≥ 0, e assim pelo Lema 2.8.2(1), dB(λ) ≤ t − 1. Também podemos assumir ct = k − 1 e ct+1 = k, já que r �= k, e escolhemos tal t como o menor posśıvel. Se t ≤ k, então dB(λ) ≤ t− 1 ≤ k − 1 < k2 − 2k − 1, já que k ≥ 5. Logo, assumimos t ≥ k + 1 e (ct−k, . . . , ct−1) �= (ct, . . . , ct+k−1), já que escolhemos o menor t posśıvel. Assim, pelo Lema 2.8.2(ii), pelo menos (i) ou (ii) do Lema 2.7.1 vale. Se (ii) vale com q = p + k, temos (p, q) = (t − k + 1, t + 1). Note que o Lema 2.7.2 nos dá p+ k ≤ n + 1. Assim, dB(λ) ≤ t− 1 = p+ k − 2 ≤ n− 1 < k2 − 2k − 1 já que k ≥ 5. Se não, (i) ou (ii) vale e q ≤ p+ k− 2, pelos Lemas 2.7.3 e 2.7.4, a seqB(λ) tem no máximo k2− 3k− 1 termos antes do termo cp. Logo, dB(λ) ≤ t− 1 ≤ (p− 1) + k ≤ (k2− 3k− 1) + k = k2 − 2k − 1. Se não, suponha por absurdo que (i) ou (ii) vale com q = p + k − 1: se (i) vale com q = p + k − 1, temos que (p, q) = (t − k, t − 1) e ct−1 = k + 1, o que é uma contradição, pois teremos (cp, . . . , cq) = ( k elementos︷ ︸︸ ︷ ct−k, . . . , ct−1) = (k − 1, k, . . . , k, k + 1). Fazendo a soma desses k elementos cp + . . .+ cq = (k − 1) + (k − 2)k + k + 1 = (k − 1)k + k e pela Proposição 2.7.1(2) essa soma é no máximo (k − 1)k + r, 1 ≤ r < k. Se não (ii) vale com q = p + k − 1 e temos (p, q) = (t − k + 2, t + 1) e ct−k+2 = k − 2, o que é uma contradição, já que, comparando as linhas de ct+1 e ct no diagramaB(λ), temos que ct−k+2 �= k − 2. (2) Suponha k ≥ 4 e r = k−1. Por (1), é suficiente exibir λ � n tal que dB(λ) = k2−2k−1. Seja λ = (λ1, λ2, . . . , λk, λk+1), onde λ1 = k − 1, λ2 = k − 2, λi = k − i+ 1 para i = 3, 4, . . . , k 52 � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � Figura 2.22: Diagrama B-shift de n=9, estilo RadialDrawing e λk+1 = 1. Assim λ = (k − 1, k − 2, k − 2, k − 3, k − 4, . . . , 3, 2, 1, 1). Fazendo a matriz asso- ciada Mλ temos que as diagonais de 1 a (k − 1) são formada apenas por 1’s, a diagonal k é da forma (0, 0, 1, . . . , 1, 1), a diagonal k+1 é da forma (0, 0, 0, . . . , 0, 0, 1) e as diagonais abaixo da diagonal k + 1 são formadas apenas de 0’s. 53 k−1alinha −→ kalinha −→ k+1alinha −→ ⎛ ⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎝ 1 1 · · · 1 1 1 1 · · · 1 1 · · · 1 1 0 0 · · · ... ... . . . . . . . . . ... ... · · · 1 1 1 0 0 0 0 · · · 1 0 0 0 0 0 0 · · · 0 0 0 0 0 0 0 · · · 0 0 0 0 0 0 0 · · · ... ... ... ... ... ... ... · · · ⎞ ⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎠ = Mλ Com a forma da matriz Mλ definida, ao aplicar k vezes o processo B-shifting em Mλ, apenas DMλ (k + 1) é alterada, pois as outras diagonais são formadas apenas por 1’s ou são formadas apenas por 0’s e a diagonal k permanece a mesma também pois possui k elementos. Note que nessas k vezes foi preciso apenas utilizar o Passo 1 do processo (Shift Circular Diagonal) por causa da configuração de Mλ. Assim, as diagonais DMλ (k + 1) e DMλ (k) se comportam da seguinte maneira: � Processo B-shifting em Mλ (Passo 1) DMλ (k) DMλ (k + 1) k (0, 0, 1, . . . , 1, 1, 1︸ ︷︷ ︸ k ) (0, 0, 0, . . . , 0, 0, 1, 0)︸ ︷︷ ︸ k+1 2k (0, 0, 1, . . . , 1, 1, 1︸ ︷︷ ︸ k ) (0, 0, 0, . . . , 0, 1, 0, 0︸ ︷︷ ︸ k+1 ) ... ... ... (k − 3)k (0, 0, 1, . . . , 1, 1, 1︸ ︷︷ ︸ k ) (0, 0, 1, 0 . . . , 0, 0, 0)︸ ︷︷ ︸ k+1 ... ... ... (k − 3)k + (k − 1) (0, 1, 1, . . . , 1, 1, 0︸ ︷︷ ︸ k ) (0, 1, 0, 0, . . . , 0, 0, 0︸ ︷︷ ︸ k+1 ) Assim depois de aplicados (k − 3)k + (k − 1) = k2 − 2k − 1 vezes o Passo 1 do processo B-shifting em Mλ, chegamos em uma matriz Mθ com a seguinte configuração: 54 k−1alinha −→ kalinha −→ k+1alinha −→ ⎛ ⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎝ 1 1 · · · 1 1 0 0 · · · 1 1 · · · 1 1 0 0 · · · ... ... . . . . . . . . . ... ... · · · 1 1 1 0 0 0 0 · · · 1 1 0 0 0 0 0 · · · 0 1 0 0 0 0 0 · · · 0 0 0 0 0 0 0 · · · ... ... ... ... ... ... ... · · · ⎞ ⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎠ = Mθ Há mais 1’s na segunda coluna do que na primeira, logo precisamos aplicar o Passo 2 do processo B-shifting em Mθ e assim obtemos a matriz MB(k2−2k−1)(λ) que é a matriz associada da partição B(k2−2k−1)(λ). Logo B(k2−2k−1)(λ) = (k, k − 1, k − 2, . . . , 3, 2) e portanto dB(λ) = k2 − 2k − 1. k−1alinha −→ kalinha −→ k+1alinha −→ ⎛ ⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎝ 1 1 · · · 1 1 0 0 · · · 1 1 · · · 1 1 0 0 · · · ... ... . . . . . . . . . ... ... · · · 1 1 1 0 0 0 0 · · · 1 1 0 0 0 0 0 · · · 1 0 0 0 0 0 0 · · · 0 0 0 0 0 0 0 · · · ... ... ... ... ... ... ... · · · ⎞ ⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎠ = MB(k2−2k−1)(λ) Até agora obtemos um limite superior para DB(n) no Teorema 2.8.3. A seguir iremos determinar um limite inferior para DB(n) que é conjecturado como o valor exato. Teorema 2.8.4 [Limite Inferior] Para n ≥ 3 e n = 1 + 2 + . . .+ (k − 1) + r, 1 ≤ r ≤ k, DB(n) ≥ ⎧⎪⎪⎨ ⎪⎪⎩ (k − 3− r)k + r + 2 para 1 ≤ r < �k−1 2 n− k + 1 para r = �k−1 2 ou �k+1 2 (r − 2)k + r para �k+1 2 < r ≤ k Demonstração: É suficiente exibir λ � n tal que dB(λ) é o valor do respectivo limite inferior para DB(n). Vamos considerar três casos: Caso (1) 1 ≤ r < �k−1 2 : Seja λ = (λ1, λ2, . . . , λk) tal que λ1 = k − 2, λi = k − i para i = 2, 3, . . . , k − r − 1, e λj = k − j + 1 para j = k − r, k − r + 1, . . . , k. Seja Mλ a sua matriz associada. Assim as diagonais de 1 a (k− 2) são todas compostas de 1’s, DMλ (k− 1) = 55 (0, 1, 1, . . . , 1︸ ︷︷ ︸ k−1 ) e DMλ (k) = (0, 0, 0, . . . , 0, r+1︷ ︸︸ ︷ 1, 1, . . . , 1︸ ︷︷ ︸ k ), e as diagonais abaixo de DMλ (k) são todas nulas. Com essa configuração dada, ao aplicar (k−1) vezes o processo B-shifting em Mλ, sendo necessário apenas o Passo 1, somente DMλ (k) se altera. Logo temos o seguinte comportamento na matriz Mλ: � Processo B-shifting em Mλ (Passo 1) DMλ (k − 1) DMλ (k) (k − 1) (0, 1, 1, . . . , 1, 1, 1, 1︸ ︷︷ ︸ k−1 ) (0, 0, 0, . . . , 0, r+1︷ ︸︸ ︷ 1, 1, . . . , 1, 0︸ ︷︷ ︸ k ) 2(k − 1) (0, 1, 1, . . . , 1, 1, 1, 1︸ ︷︷ ︸ k−1 ) (0, 0, . . . , 0, r+1︷ ︸︸ ︷ 1, 1, . . . , 1, 0, 0︸ ︷︷ ︸ k ) ... ... ... (k − r − 2)(k − 1) (0, 1, 1, . . . , 1, 1, 1, 1︸ ︷︷ ︸ k−1 ) (0, r+1︷ ︸︸ ︷ 1, 1, . . . , 1, . . . , 0, 0, 0︸ ︷︷ ︸ k ) Assim depois de aplicados (k− r− 2)(k− 1) vezes o Passo 1 do processo B-shifting em Mλ, chegamos em uma matriz Mθ e análogo à demonstração do Teorema 2.8.3, usando o Passo 2 do processo B-shifting, obtemos a matriz MB(k−r−2)(k−1)(λ) que é a matriz associada da partição B(k−r−2)(k−1)(λ) = (k − 1, k − 2, k − 3, . . . , 3, 2, 1) + (0, 0, r︷ ︸︸ ︷ 1, 1, . . . , 1, 0, . . . , 0) que por sua vez é B-ćıclica e, portanto, dB(λ) = (k−r−2)(k−1) = k2−k−kr+r−2k+2 = (k−3−r)k+r+2. Caso (2) r = �k−1 2 ou �k+1 2 : Seja λ = (1, 1, . . . , 1︸ ︷︷ ︸ n ). Vamos provar primeiramente através de indução sobre i que: B(1+1+2+3+...+i) (λ) = (n− (1 + 2 + . . . , i), i, i− 1, i− 2, . . . , 2, 1) (2.4) para i = 1, . . . , k − 2. Por definição da aplicação B-shift, B(λ) = (n) e B(2)(λ) = (n− 1, 1). Assim, (2.4) vale para i = 1. Agora suponha que (2.4) vale para i = k−3 e vamos provar que vale para i = k−2. Assim, seja z = 1 + 1 + 2 + 3 + . . .+ (k − 3), temos: B(z) (λ) = (n−(1+2+. . .+(k−3)), k−3, k−4, . . . , 2, 1) = ((k−2)+(k−1)+r, k−3, k−4, . . . , 2, 1) e assim a sua matriz associada MB(z) é da forma: 56 MB(z) = ⎛ ⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎝ 1 1 1 1 · · · 1 1 1 0 · · · 1 1 1 1 · · · 1 1 0 0 · · · 1 1 1 1 · · · 1 0 0 0 · · · ... ... ... . . . . . . . . . ... ... ... · · · 1 1 1 1 . . . 0 0 0 0 · · · 1 1 1 0 0 0 0 0 0 · · · 1 1 0 0 0 0 0 0 0 · · · 1 0 0 0 0 0 0 0 0 · · · 1 0 0 0 0 0 0 0 0 · · · ... ... ... ... ... ... ... ... ... · · · 1 0 0 0 0 0 0 0 0 · · · 0 0 0 0 0 0 0 0 0 · · · ... ... ... ... ... ... ... ... ... · · · ⎞ ⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎠ As diagonais de 1 a (k − 2) de MB(z) são formadas apenas por 1’s. Portanto a cada vez aplicado o processo B-shifting em MB(z) apenas as diagonais com ı́ndices maiores que (k − 2) são alteradas. Note que a coluna 1 possui (k − 2) + (k − 1) + r 1’s e a coluna 2 possui (k − 3) 1’s. Sendo assim aplicando o Passo 1 do processo B-shifting em MB(z) a coluna 2 fica maior que a coluna 1 e portanto precisamos aplicar o Passo 2 para encontrarmos MB(z+1). Aplicando o Passo 2 a diagonal (k − 1) recebe um novo 1 que é o mesmo 1 que a coluna 1 perde. Assim, ao aplicar o processo, aumentou-se um 1 na diagonal (k − 1) e diminui-se um 1 na coluna 1. Seguindo com o racioćınio temos: � Processo B-shifting em MB(z) DMλ (k − 1) Quantidade de 1’s na coluna 1 0 (1, 0, 0, . . . , 0︸ ︷︷ ︸ k−2 ) (k − 2) + (k − 1) + r 1 (1, 1, 0, 0, . . . , 0︸ ︷︷ ︸ k−3 ) (k − 3) + (k − 1) + r 2 (1, 1, 1, 0, 0, . . . , 0︸ ︷︷ ︸ k−4 ) (k − 4) + (k − 1) + r ... ... ... (k − 3) (1, 1, . . . , 1, 1, 0︸ ︷︷ ︸ k−2 ) (1) + (k − 1) + r (k − 2) (1, 1, . . . , 1, 1, 1︸ ︷︷ ︸ k−1 ) (k − 1) + r 57 Logo, as diagonais de 1 a (k − 1) de MB(z+(k−2)) são formadas por 1’s e a coluna 1 possui (k − 1) + r 1’s. Sendo assim MB(z+(k−2)) é a matriz associada da composição B(z+(k−2))(λ) = B(1+1+2+3+...+(k−2)) = ((k− 1) + r, k− 2, k− 3, . . . , 2, 1) e assim terminamos a demonstração da indução. Seja y = z + (k − 2) = (1 + 1 + 2 + 3 + . . . + (k − 2)), logo, como demonstrado acima as (k − 1) primeiras diagonais da matriz MB(y) são formadas apenas por 1’s, e assim utilizando o mesmo racioćınio utilizado, a cada aplicação do processo B-shift em MB(y) apenas as diagonais de ı́ndice maiores que (k − 1) são alteradas e assim: � Processo B-shifting em MB(y) DMλ (k) Quantidade de 1’s na coluna 1 0 (1, 0, . . . , 0︸ ︷︷ ︸ k ) (k − 1) + r 1 (1, 1, 0, . . . , 0︸ ︷︷ ︸ k ) (k − 1) + r − 1 2 (1, 1, 1, 0, . . . , 0︸ ︷︷ ︸ k ) (k − 1) + r − 2 ... ... ... (r − 2) ( r−1︷ ︸︸ ︷ 1, 1, . . . , 1, 0︸ ︷︷ ︸ k ) (k − 1) + 2 (r − 1) ( r︷ ︸︸ ︷ 1, 1, 1, . . . , 1, 0︸ ︷︷ ︸ k ) (k − 1) + 1 Assim, as diagonais de 1 a (k − 1) de MB(y+(r−1)) são formada por 1’s e a coluna 1 possui (k − 1) + 1 1’s. Sendo assim MB(y+(r−1)) é matriz associada da partição B(y+(r−1))(λ) = ((k − 1) + 1, (k − 2) + 1, . . . , (k − r) + 1, . . . , 3, 2, 1) que é B-ćıclica e portanto dB(λ) = y + (r − 1) = 1 + 1 + 2 + 3 + . . .+ (k − 2) + (r − 1) = n− k + 1. Caso (3) �k+1 2 < r ≤ k: Seja λ = (λ1, λ2, . . . , λk+1) onde λi = k−i para i = 1, 2, . . . , k−r+1, λj = k− j +1 para j = k− r+ 2, k− r+ 3, . . . , k e λk+1 = 1. Seja Mλ a sua matriz associada. Assim as diagonais de 1 a (k− 1) são todas compostas de 1’s, DMλ (k) = (0, 0, . . . , r−1︷ ︸︸ ︷ 1, 1, . . . , 1︸ ︷︷ ︸ k ) e DMλ (k + 1) = (0, 0, . . . , 0, 1︸ ︷︷ ︸ k+1 ). Logo temos o seguinte comportamento na matriz Mλ: 58 � Processo B-shifting em Mλ (Passo 1) DMλ (k) DMλ (k + 1) k (0, 0, . . . , r−1︷ ︸︸ ︷ 1, 1, . . . , 1︸ ︷︷ ︸ k ) (0, 0, . . . , 0, 1, 0︸ ︷︷ ︸ k+1 ) 2k (0, 0, . . . , r−1︷ ︸︸ ︷ 1, 1, . . . , 1︸ ︷︷ ︸ k ) (0, 0, . . . , 1, 0, 0︸ ︷︷ ︸ k+1 ) ... ... ... (r − 2)k (0, 0, . . . , r−1︷ ︸︸ ︷ 1, 1, . . . , 1︸ ︷︷ ︸ k ) (0, 0, . . . , r−1︷ ︸︸ ︷ 1, 0, . . . , 0, 0︸ ︷︷ ︸ k+1 ) ... ... ... (r − 2)k + (r − 1) ( r−1︷ ︸︸ ︷ 1, 1, . . . , 1, 0, . . . , 0︸ ︷︷ ︸ k ) (1, 0, . . . , 0, 0︸ ︷︷ ︸ k+1 ) (r − 2)k + (r) (0, r−1︷ ︸︸ ︷ 1, 1, . . . , 1, 0, . . . , 0︸ ︷︷ ︸ k ) (0, 1, 0, . . . , 0, 0︸ ︷︷ ︸ k+1 ) Assim depois de aplicados (r − 2)k + (r) vezes o Passo 1 do processo B-shifting em Mλ, chegamos em uma matriz Mθ e análogo à demonstração do Teorema 2.8.3, usando o Passo 2 do processo B-shifting, obtemos a matriz MB(r−2)k+(r)(λ) que é a matriz associada da partição B(r−2)k+(r)(λ) = ((k−1)+1, (k−2)+1, (k−3)+1, . . . , (k−r)+1, (k−r+1), (k−r+2), . . . , 3, 2, 1) que por sua vez é B-ćıclica e, portanto, dB(λ) = (r − 2)k + (r). 2.9 Conjectura Em [4] foi lançada a seguinte conjectura, que até o presente trabalho não se tem not́ıcia de que foi provada. Conjectura 2.9.1 No Teorema 2.8.4, “DB(n) ≥” pode ser substitúıdo por “DB(n) =”. A conjectura foi confirmada quando r = k − 1, k e para n = 3, 4, . . . , 36, ver Tabela 2.1. 59 Caṕıtulo 3 Paciência Carolina: Uma variação da Paciência Búlgara Vamos neste caṕıtulo definir formalmente a Paciência Carolina, criada por Andrey Andreev e os elementos usados para mostrar as relações com a Paciência Búlgara e também demonstrar alguns resultados análogos ao da Paciência Búlgara. 3.1 Composições e aplicação C-shift Definição 3.1.1 (Composição) Seja n um inteiro positivo, dizemos que λ = (λ1, λ2, . . . , λs) ∈ Zs, s = 1, . . . , n, é uma composição de n, e escrevemos λ |= n, se λi > 0, ∀i = 1, . . . , s e s∑ i=1 λi = n. Assim como na partição, λi, i = 1, . . . , s é i-ésima parte da composição e também o seu comprimento (tamanho) é |λ| = s. A diferença entre composição e partição de um número, é que na composição não necessari- amente as partes tem que estar em ordem não crescente e se estiver a composição coincide com a partição. Exemplo 3.1.1 λ = (6, 1, 6) é uma composição do número 13 e possui 3 partes, |λ| = 3. μ = (1, 1, 1, 1, 5, 3, 8) é uma composição do número 20 e possui 7 partes, |μ| = 7. Definição 3.1.2 Seja n um inteiro positivo, definimos Γn = {λ | λ |= n} o conjunto de todas as composições de n. Análogo às partições de um inteiro n, vamos definir uma aplicação de Γn em Γn e posteri- ormente a “Paciência Carolina”. 60 Definição 3.1.3 Dado um inteiro positivo n e λ = (λ1, λ2, . . . , λs) |= n. Definimos por C-shift a aplicação, C : Γn −→ Γn, que associa λ à uma nova composição de n denotada por C(λ), obtida da seguinte maneira: i) diminui-se uma unidade de cada parte λi, i = 1, . . . , s. i = 1, . . . , s. ii) Descarta(m) se a(s) parte(s) nula(s), caso houver. iii) Cria-se uma nova parte de tamanho s, colocando-a como primeira parte. Observação 3.1.1 Assim como na aplicação B-shift, se λ |= n possui s partes então C(λ) possui no máximo s+ 1 partes. Exemplo 3.1.2 Seja λ = (1, 5, 1, 7) |= 14, logo C(λ) = (4, 4, 6). Se μ = (2, 3, 1, 4) |= 10, então C(μ) = (4, 1, 2, 3). Utilizando a mesma ideias de blocos, podemos ver geometricamente o comportamento de C-shift, conforme ilustra a Figura 3.1 Figura 3.1: Definição 3.1.4 (Paciência Carolina) Dada uma composição λ de um inteiro positivo n, descrevemos a “Paciência Carolina” de λ como sendo a sequência: λ, C(λ), C(2)(λ), . . . onde C(i)(λ), i ∈ Z+, representa a composição de n, obtida através de sucessivas aplicações de C-shift em λ, no total de i vezes. Nesse caso dizemos que C(i)(λ) é a i-ésima iterada de λ pela aplicação C-shift. 61 Ou seja, a “Paciência Carolina” de uma composição λ |= n, pensando como um sistema dinâmico no conjunto Γn com a aplicação C-shift, nada mais é do que a sua órbita. Exemplo 3.1.3 Seja λ = (2, 1, 1, 1, 1) |= 6, então temos C(λ) = (5, 1), C(2)(λ) = (2, 4), C(3)(λ) = (2, 1, 3), C(4)(λ) = (3, 1, 2), C(5)(λ) = (3, 2, 1), C(6)(λ) = (3, 2, 1), . . . . Exemplo 3.1.4 Seja μ = (6, 1) |= 7, assim temos C(μ) = (2, 5), C(2)(μ) = (2, 1, 4), C(3)(μ) = (3, 1, 3), C(4)(μ) = (3, 2, 2), C(5)(μ) = (3, 2, 1, 1), C(6)(μ) = (4, 2, 1), C(7)(μ) = (3, 3, 1), C(8)(μ) = (3, 2, 2), C(9)(μ) = (3, 2, 1, 1), C(10)(μ) = (4, 2, 1), . . .. Observe que no Exemplo 3.1.3 após 5 iteradas de C em λ chegamos em uma composição que não se modifica mais através de C. Já no Exemplo 3.1.4, após 4 iteradas de C em μ chegamos em uma composição que se repete ao longo da sequência de iteradas. Definição 3.1.5 Dizemos que uma composição μ = (μ1, μ2, . . . , μs) |= n é uma permutação da composição λ = (λ1, λ2, . . . , λs) |= n, se as partes μi de μ são permutações das partes λi de λ, i = 1, . . . , s. Exemplo 3.1.5 A composição μ = (2, 1, 2, 4) |= 9 é uma permutação da composição λ = (1, 4, 2, 2) |= 9. Pela definição, podemos observar que dada uma composição μ = (μ1, μ2, . . . , μs) |= n ela é sempre uma permutação de uma única partição λ = (λ1, λ2, . . . , λs) � n. Por exemplo, seja μ = (2, 1, 4, 5) |= 12, organizando suas partes em ordem não crescente, temos que μ é uma permutação da partição λ = (5, 4, 2, 1) � 12. Observação 3.1.2 Um fato interesante e importante que será utilizado em demonstrações é que se μ |= n é uma permutação de λ � n, então ∀i > 0, C(i)(μ) |= n é também uma permutação de B(i)(λ) � n. Isso vem direto das definições de B-shift e C-shift já que ambas as aplicações fazem exatamente o mesmo a menos de ordem das partes. Assim no mesmo “ńıvel” i de iteração sempre teremos a permutação entre a composição e a partição. 3.2 Composições ćıclicas, dC(λ) e DC(n) Analogamente para uma partição μ � n B-ćıclica, dB(μ) e DB(n) na Paciência Búlgara, podemos definir uma composição λ |= n C-ćıclica, dC(λ) e DC(n) na Paciência Carolina. Sejam n um inteiro positivo, λ |= n e C : Γn −→ Γn. 62 Definição 3.2.1 Dizemos que λ é C-ćıclica, ou simplesmente ćıclica, de peŕıodo i, se i é o menor inteiro positivo tal que C(i)(λ) = λ. Assim o conjunto O(λ) = {λ, C(λ), C(2)(λ), . . . , C(i−1)(λ)} é a sua órbita periódica, ou ciclo, e o seu peŕıodo é i. Nesse caso também podemos dizer que λ é periódica de peŕıodo i. Observação 3.2.1 (1) Se i = 1 dizemos que λ é uma composição fixa. (2) Se a composição λ é ćıclica de peŕıodo i, então O(λ) = O(C(λ)) = . . . = O(C(i−1)(λ)) No Exemplo 3.1.3 (3, 2, 1) é uma composição fixa, enquanto no Exemplo 3.1.4 (3, 2, 2) é uma composição C-ćıclica, de peŕıodo 4. Definição 3.2.2 Definimos dC(λ) como sendo o menor inteiro i ≥ 0 tal que C(i)(λ) é C-ćıclica e DC(n) := max{dC(λ) | λ |= n}. Analogamente, vale também a mesma interpretação da Observação 2.2.2. Exemplo 3.2.1 λ = (4, 1) |= 5. Fazendo as iterações em λ obtemos: (4, 1) C → (2, 3) C → (2, 1, 2) C → (3, 1, 1) C → (3, 2) C → (2, 2, 1) C → (3, 1, 1) C → . . . Assim dC(λ) = 3 pois a composição μ = C(3)(λ) = (3, 1, 1) é C-ćıclica, já que C(3)(μ) = μ. Exemplo 3.2.2 DC(4) = 3, pois as composições de 4 são: (1, 1, 1, 1), (3, 1), (1, 3), (2, 2), (2, 1, 1), (1, 2, 1), (1, 1, 2), (4), e: (1, 1, 2) ↓C (1, 1, 1, 1) C → (4) C → (1, 3) C → (2, 2) C → (2, 1, 1) C → (3, 1) C → (2, 2) C → (2, 1, 1) . . . ↑C (1, 2, 1) Pelo diagrama acima dC(1, 1, 1, 1) = 3, dC(3, 1) = 0, dC(1, 3) = 1, dC(2, 2) = 0, dC(2, 1, 1) = 0, dC(1, 2, 1) = 1, dC(1, 1, 2) = 1, dC(4) = 1. Os valores de DC(n), 4 ≤ n ≤ 36, são mostrados na Tabela a seguir, calculados computa- cionalmente. A representação de n é da forma n = 1 + 2 + 3 + . . .+ (k − 1) + r, 1 ≤ r ≤ k. 63 Tabela 3.1: Valores de DC(n), n = 4, . . . , 36 k = 3 k = 4 k = 5 k = 6 k = 7 k = 8 r = 1 DC(4) = 3 DC(7) = 6 DC(11) = 11 DC(16) = 19 DC(22) = 29 DC(29) = 41 r = 2 DC(5) = 5 DC(8) = 8 DC(12) = 12 DC(17) = 17 DC(23) = 23 DC(30) = 34 r = 3 DC(6) = 8 DC(9) = 10 DC(13) = 13 DC(18) = 18 DC(24) = 24 DC(31) = 31 r = 4 DC(10) = 15 DC(14) = 18 DC(19) = 21 DC(25) = 25 DC(32) = 32 r = 5 DC(15) = 24 DC(20) = 28 DC(26) = 32 DC(33) = 36 r = 6 DC(21) = 35 DC(27) = 40 DC(34) = 45 r = 7 DC(28) = 48 DC(35) = 54 r = 8 DC(36) = 63 3.3 Caracterização das Composições Ćıclicas Vamos traçar o mesmo caminho que foi feito para a “Paciência Búlgara” para encontrarmos a caracterização das composições ćıclicas e assim vamos definir uma matriz formada apenas por 0’s e 1’s que represente uma composição. Definição 3.3.1 Dada uma composição λ = (λ1, λ2, . . . , λs) |= n definimos por Mλ a sua matriz associada, se forma que: Mλ = [mij ] ∞ i,j=1, onde mij = ⎧⎨ ⎩ 1, se j ≤ s e i ≤ λj ; 0, c.c. Portanto, a matriz associada é a mesma usada para partições. Exemplo 3.3.1 Seja λ = (2, 5, 3, 2, 4) |= 16, então: Mλ = ⎛ ⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎝ 1 1 1 1 1 0 0 · · · 1 1 1 1 1 0 0 · · · 0 1 1 0 1 0 0 · · · 0 1 0 0 1 0 0 · · · 0 1 0 0 0 0 0 · · · 0 0 0 0 0 0 0 · · · 0 0 0 0 0 0 0 · · · ... ... ... ... ... ... ... . . . ⎞ ⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎠ ou seja, o número de 1’s de cada coluna corresponde à respectiva parte da composição. 64 Análogo ao processo B-shifting para partições μ, vamos definir o processo C-shifting para composições λ, para obtermos MC(λ), MC(2)(λ), . . ., a partir de Mλ somente deslocando 0’s e 1’s das diagonais da matriz associada. Definição 3.3.2 (Processo C-shifting) Sejam λ = (λ1, λ2, . . . , λs) |= n e Mλ = [mij ] a sua matriz associada. O processo de obtenção de MC(λ) a partir de Mλ, chamado de Processo C-shifting, é composto de no máximo 2 passos: Passo 1: Shifting Circular Diagonal: É o mesmo Passo 1 do processo B-shifting para partições, descrito na seção 2.4. Após esse passo, obtemos uma nova matriz, denotada por M ′ λ. Note que a quantidade de 1’s nas colunas de M ′ λ são s, λ1 − 1, λ2 − 1, . . . , λs − 1, 0, 0, . . .. Se λi − 1 = 0 e λi+1 − 1 > 0 para algum i, i = 1, . . . , s, ou seja, se tivermos uma coluna de M ′ λ toda nula e a coluna posterior não nula, então precisamos de um passo extra para obtermos MC(λ). Caso contrário, M ′ λ = MC(λ). Passo 2. Shifting pela Esquerda: Sempre que para algum inteiro positivo j tal que a coluna j de M ′ λ for toda nula e a coluna (j + 1) de M ′ λ não for, removemos a coluna j e deslocamos cada coluna com ı́ndice maior para à esquerda. Repetimos esses deslocamentos até não existir tal inteiro j. A nova matriz é MC(λ). Observação 3.3.1 Note que o Passo 1 do processo faz com as colunas de Mλ o equivalente com o que a definição da aplicação C-shift faz com as partes da composição. As vezes é necessário o Passo 2, pois quando uma coluna é toda nula e a posterior não, isso quer dizer que há uma parte nula na composição e a posterior não nula e assim há a necessidade de eliminação dessa coluna da matriz (respect. parte da partição) Observação 3.3.2 Com a definição do processo C-shifting, a partir de Mλ obtemos MC(k)(λ), ∀k ∈ Z+ e portanto, obtemos a composição C(k)(λ). Ou seja, sempre que conveniente, ao invés de trabalharmos com a aplicação C-shift em λ, iremos trabalhar com o processo C-shifting em Mλ. Exemplo 3.3.2 Sejam λ = (3, 2, 4) |= 9 e Mλ a sua matriz associada. Pela definição da aplicação C-shift, sabe-se que C(λ) = (3, 2, 1, 3). Aplicando o processo C-shifting em Mλ obte- mos: 65 Mλ = ⎛ ⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎝ 1 1 1 0 · · · 1 1 1 0 · · · 1 0 1 0 · · · 0 0 1 0 · · · ... ... ... ... . . . ⎞ ⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎠ Passo1 −→ M ′ λ = MC(λ) = ⎛ ⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎝ 1 1 1 1 · · · 1 1 0 1 · · · 1 0 0 1 · · · 0 0 0 0 · · · ... ... ... ... . . . ⎞ ⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎠ Exemplo 3.3.3 Para λ = (1, 3) |= 4 temos: Mλ = ⎛ ⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎝ 1 1 0 · · · 0 1 0 · · · 0 1 0 · · · 0 0 0 · · · ... ... ... . . . ⎞ ⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎠ Passo1 −→ M ′ λ = ⎛ ⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎝ 1 0 1 · · · 1 0 1 · · · 0 0 0 · · · 0 0 0 · · · ... ... ... . . . ⎞ ⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎠ Passo2 −→ MC(λ) = ⎛ ⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎝ 1 1 0 · · · 1 1 0 · · · 0 0 0 · · · 0 0 0 · · · ... ... ... . . . ⎞ ⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎠ Foi necessário a utilização do Passo 2 pois ao aplicar o Passo 1 a coluna 2 de M ′ λ ficou toda nula. Vamos demonstrar o próximo resultado que caracterizaa as composições C-ćıclica. Teorema 3.3.1 Seja n = 1 + 2 + 3 + . . .+ (k − 1) + r, 1 ≤ r ≤ k, k ∈ Z+. λ |= n é C-ćıclica se, e somente se, λ tem a forma ćıclica: (k − 1 + δk−1, k − 2 + δk−2, . . . , 2 + δ2, 1 + δ1, δ0) onde cada δi é 0 ou 1, i = 0, . . . , k − 1, e k−1∑ i=0 δi = r. Demonstração: (⇐) Análoga à demonstração do Teorema 2.4.1(⇐), trocando B-shifting por C-shifting. 1alinha −→ 2alinha −→ k−2alinha −→ k−1alinha −→ kalinha −→ ⎛ ⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎝ 1 1 · · · 1 1 δ0 0 · · · 1 1 · · · 1 δ1 0 0 · · · ... ... . . . . . . . . . ... ... · · · 1 1 δk−3 0 0 0 0 · · · 1 δk−2 0 0 0 0 0 · · · δk−1 0 0 0 0 0 0 · · · 0 0 0 0 0 0 0 · · · ... ... ... ... ... ... ... · · · ⎞ ⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎠ = Mλ 66 (⇒) No processo C-shifting, notamos que o Passo 1 sempre mantém as entradas da matriz associada na mesma diagonal, enquanto que no Passo 2 sempre deslocamos algumas entradas da matriz para diagonais de ı́ndice menor. Assim para qualquer composição C-ćıclica μ, devemos usar apenas o Passo 1 no processo de obtenção da matriz MC(μ). Sejam λ |= n uma composição C-ćıclica e Mλ a sua matriz associada. Suponha que λ não possui a forma ćıclica. Assim para algum w ∈ N∗, há um 0 na w-ésima diagonal e um 1 na (w+1)-ésima diagonal na matrizMλ, ou seja, DMλ (w) = (. . . , 0, . . .︸ ︷︷ ︸ w ) eDMλ (w+1) = (. . . , 1, . . .︸ ︷︷ ︸ w+1 ). Como a série de processos C-shifting de Mλ para MC(λ), para MC(2)(λ) e assim por diante envolve apenas o Passo 1, em algum momento chegaremos em uma matriz Mθ cuja entradas (2, w − 1) e (3, w − 1) são iguais a 0. Assim o processo C-shifting de Mθ para MC(θ) envolve o Passo 2, o que é um absurdo. walinha −→ w+1alinha −→ ⎛ ⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎝ 1 1 · · · 1 1 1 1 · · · 1 1 · · · 1 1 0 0 · · · 1 1 · · · 0 1 0 0 · · · ... ... . . . . . . . . . ... ... · · · 1 1 1 0 0 0 0 · · · 1 1 0 0 0 0 0 · · · 1 0 0 0 0 0 0 · · · ... ... ... ... ... ... ... · · · ⎞ ⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎠ = Mλ walinha −→ w+1alinha −→ ⎛ ⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎝ 1 1 · · · 1 1 1 1 · · · 1 1 · · · 1 0 1 0 · · · 1 1 · · · 1 0 0 0 · · · ... ... . . . . . . . . . ... ... · · · 1 1 1 0 0 0 0 · · · 1 1 0 0 0 0 0 · · · 1 0 0 0 0 0 0 · · · ... ... ... ... ... ... ... · · · ⎞ ⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎠ = Mθ Corolário 3.3.1 Seja n = Tk = 1+2+3+ . . .+ k, k ∈ Z+, então (k, k− 1, . . . , 2, 1) é a única composição de n que é C-ćıclica. 67 Demonstração: Seja λ |= n uma composição C-ćıclica, assim pelo Teorema 3.3.1 λ = (k− 1+ δk−1, k − 2 + δk−2, . . . , 2 + δ2, 1 + δ1, δ0), onde cada δi é 0 ou 1, i = 0, . . . , k − 1, e k−1∑ i=0 δi = k. Logo δi = 1 ∀i, i = 1, . . . , k − 1, e portanto, λ é escrita de maneira única. Portanto, a caracterização das composições ćıclicas é a mesma das partições ćıclicas. 3.4 Cálculo de DC(n) para números triangulares Pelos Teoremas 2.4.1 e 3.3.1 temos que λ |= n é C-ćıclica se e somente se λ � n é B-ćıclica. Portanto, o número de ciclos para a Paciência Carolina é o mesmo que na Paciência Búlgara. A seguir veremos alguns resultados que envolvem a relação entre Paciência Búlgara e Paciência Carolina que serão fundamentais para o cálculo d