UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO SELMA LETICIA CAPINZAIKI OTTONICAR INTELIGÊNCIA COMPETITIVA E COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO NO CONTEXTO DA INDÚSTRIA 4.0 DE STARTUPS: POSSIBILIDADES INTERDISCIPLINARES PARA A GESTÃO EMPRESARIAL E A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO Marília 2020 Selma Leticia Capinzaiki Ottonicar INTELIGÊNCIA COMPETITIVA E COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO NO CONTEXTO DA INDÚSTRIA 4.0 DE STARTUPS: POSSIBILIDADES INTERDISCIPLINARES PARA A GESTÃO EMPRESARIAL E A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação como requisito parcial para a obtenção do título de Doutora em Ciência da Informação. Área de Concentração: Informação, Tecnologia e Conhecimento Linha de Pesquisa: Gestão, Mediação e Uso da Informação Orientadora: Profa. Dra. Marta Lígia Pomim Valentim Marília 2020 Selma Leticia Capinzaiki Ottonicar INTELIGÊNCIA COMPETITIVA E COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO NO CONTEXTO DA INDÚSTRIA 4.0 DE STARTUPS: POSSIBILIDADES INTERDISCIPLINARES PARA A GESTÃO EMPRESARIAL E A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO Banca Examinadora: Presidente e Orientadora Profa. Dra. Marta Lígia Pomim Valentim Universidade Estadual Paulista (Unesp/Marília) Membro Titular Profa. Dra. Regina Célia Baptista Belluzzo Universidade Estadual Paulista (Unesp/Marília) Membro Titular Profa. Dra. Luana Maia Woida Universidade Estadual Paulista (Unesp/Marília) Membro Titular Profa. Dra. Elaine Paiva Mosconi Université de Sherbrooke (UdES) Membro Titular Prof. Dr. Carlos Francisco Bitencourt Jorge Universidade de Marília (UNIMAR) Marília, 01 de Setembro de 2020. Aos meus pais, Angela e Walter Ao meu esposo Andrew Às professoras Luana Woida, Marta Valentim e Regina Belluzzo AGRADECIMENTOS Primeiramente, agradeço à Deus por ter me ajudado ao longo desta caminhada e por sempre corrigir minhas falhas. Ele tem sido o socorro presente nas dificuldades e tem me propiciado alegrias durante esta jornada. “Desejai afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite racional, não falsificado, para que por ele vades crescendo” (I Pedro, Capítulo 2, Versículo 2). O leite racional pode ser o conhecimento que nos alimenta e nos possibilita crescer como pessoa, mas deve ser o conhecimento advindo de fontes confiáveis e verdadeiras. Parece que, inclusive, a Bíblia nos ensina a evitar o leite racional falsificado, ou seja, as fake news. Essa é minha pequena interpretação. Aos meus pais, Maria Angela Capinzaiki Ottonicar e Walter Caldas Ottonicar Júnior por ter me ensinado que o conhecimento é fundamental para a minha vida. Além do apoio para a realização de cursos, sempre me deram o apoio emocional para seguir em frente. Meus pais são aprendizes ao longo da vida e me inspiram a aprender a aprender. Minha mãe que sempre realiza cursos e pós-graduação sobre neuropsicologia e o meu pai que estuda física e matemática antes de dormir. Ao meu querido esposo, Andrew Carkner pelo apoio durante minha trajetória profissional em todos os sentidos. Por ser um exemplo de leitor inato, sempre me estimulando a ler sobre outros contextos, além da tese. Aos meus irmãos Flávio Gabriel Capinzaiki Ottonicar e Rafael Gustavo Capinzaiki Ottonicar pelo exemplo de esforço e humildade. Esses dois são definitivamente um exemplo de cidadãos com pensamento crítico, sempre me fazem pensar na competência em informação. Às professoras Marta Lígia Pomim Valentim, Regina Célia Baptista Belluzzo, Glória Georges Feres, Luana Maia Woida, Cássia Regina Bassan de Moraes e Elaine Paiva Mosconi pela paciência e por contribuir com o meu aprendizado ao longo da vida, também pelas orientações, contribuições e parcerias ao longo desta jornada. Exemplo de mulheres fortes que não se deixam derrotar pelas adversidades e por serem éticas no ambiente profissional. Agradeço também ao Professor Luis Antonio de Santa-Eulália por sempre perguntar se eu estava precisando de alguma coisa em Sherbrooke e pelos conselhos de publicação. Ao Professor Fabiano Armelini por fazer parcerias científicas e me ensinar a desenvolver pesquisa de qualidade. Ao Professor Mark Loo que me convidou e me motivou a desenvolver artigos. Ao Professor Daniel Martínez-Ávila que me ensinou a pensar criticamente e pelas parcerias em artigos. Aos membros do Grupo de Pesquisa ‘Informação, Conhecimento e Inteligência Organizacional’ (ICIO) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Marília, São Paulo, Brasil, e ao IntelliLab da Université de Sherbrooke (UdS), Québec, Canadá. Em especial agradeço à Natália Marinho do Nascimento e Gisele Atayde pelas discussões e contribuições sobre a tese. Agradeço também as empresas que aceitaram participar da pesquisa, pela disponibilidade e contribuições durante a investigação prática. A aceleradora das startups se mostrou aberta e solícita na coleta de dados, por isso, sou grata aos gestores também. Aos membros da banca titular, os professores Dra. Regina Célia Baptista Belluzo, Dra. Luana Maia Woida, Dra. Elaine Paiva Mosconi, Dr. Carlos Francisco Bittencourt Jorge, e aos membros suplentes Dra. Ieda Pelógia Martins Damian, Dra. Elaine da Silva e Dra. Juliana Cardoso dos Santos pelas contribuições com a pesquisa. Por último, mas não menos importante, gostaria de dizer que “o presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001”. Agradeço também ao ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) – código de financiamento 141484/2019-5, ao Program of Future Leaders of America (PFLA) e ao Fonds de Recheche du Québec – Nature et Technologie (FRQNT) pelas bolsas concedidas a fim de desenvolver esta pesquisa até o presente momento. “It is our choices, Harry, that show what we truly are, far more than our abilities” Albus Percival Wulfric Brian Dumbledore OTTONICAR, S. L. C. Inteligência competitiva e competência em informação no contexto da indústria 4.0 de startups: possibilidades interdisciplinares para a Gestão Empresarial e a Ciência da Informação. 2020. 412f. Relatório de Defesa (Doutorado) – Programa de Pós- Graduação em Ciência da Informação, Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC), Universidade Estadual Paulista (Unesp), Marília, 2020. RESUMO No atual contexto econômico as organizações necessitam definir e estabelecer estratégias para sobreviver no mercado em que atuam. Isso ocorre especialmente no contexto da indústria 4.0, a qual tem se tornado cenário para uma significativa produção de informação. As startups participam de aceleradoras para desenvolver o plano de negócios, aumentar a vantagem competitiva e obter benefícios junto ao governo. Nessa perspectiva, o objetivo estabelecido é analisar a inter-relação entre a competência em informação e o processo de inteligência competitiva no âmbito das startups aceleradas no contexto da Indústria 4.0. O produto final proposto é um modelo teórico-conceitual de inteligência competitiva baseado na competência em informação. Os procedimentos metodológicos envolvem primeiramente a revisão sistemática da literatura, abrangendo: inteligência competitiva, competência em informação, indústria 4.0, inovação e startups tanto no âmbito da Ciência da Informação quanto da Gestão Empresarial. O universo pesquisado se refere à uma aceleradora de startups voltada à produção de sistemas de inteligência artificial e Internet das coisas aplicados a diferentes áreas como Educação, Saúde, Agroindústria e Tecnologias de Informação e Comunicação. Os métodos aplicados se referem ao Estudo de Caso (Yin) e a Análise de Conteúdo (Bardin), e as técnicas estabelecidas são a triangulação (Yin) e a Análise Categorial (Bardin). Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram: questionário, entrevista e documentos. Os resultados evidenciam como a inteligência competitiva e a competência em informação podem ser aplicadas na aceleradora como um serviço especializado a ser oferecido aos seus membros, de modo a contribuir para a formulação de diferenciais competitivos das startups no contexto da Quarta Revolução Industrial. Além disso, as startups poderão se beneficiar do modelo, utilizando-o no processo decisório e na solução de problemas voltados a obtenção de vantagem competitiva. Palavras-Chave: Competência em Informação; Inteligência Competitiva; Startups; Indústria 4.0; Revisão Sistemática da Literatura; Estudo de Caso; Modelo Teórico-Conceitual. OTTONICAR, S. L. C. Competitive intelligence and information literacy in the context of startups industry 4.0: interdisciplinary possibilities for Business Management and Information Science. 2020. 412f. Thesis Report (Ph.D.) – Graduate Program in Information Science, Faculty of Philosophy and Sciences, Sao Paulo State University (Unesp), Marilia, 2020. ABSTRACT In the current economic context, organizations need to define and establish strategies to survive in the market in which they operate. This is especially true in the context of industry 4.0, which has become the backdrop for significant information production. Startups participate in accelerators to develop the business plan, increase competitive advantage and get benefits from the government. Based on these ideas, the purpose of this thesis is to analyze the interrelationship between information literacy and the competitive intelligence within accelerated startups in the context of industry 4.0. The proposed final product is a theoretical and conceptual model of competitive intelligence based on information literacy. The methodological procedures primarily involve a systematic literature review, covering competitive intelligence, information competence, industry 4.0, innovation and startups in both Information Science and Business Management fields. The researched universe refers to a startup accelerator focused on the production of artificial intelligence systems and IoT applied to different areas such as Education, Health, Agribusiness and Information and Communication Technologies. The applied methods refer to the Case Study (Yin) and Content Analysis (Bardin), and the established techniques are triangulation (Yin) and Categorical Analysis (Bardin). The instruments used for data collection were questionnaire, interview and documents. The partial results show how competitive intelligence and information literacy can be applied to startup accelerator as a specialized service to be offered to its members in order to contribute to the formulation of competitive differentials in the context of the fourth industrial revolution. In addition, startups will be able to benefit from the model by using it in decision-making and problem solving for competitive advantage. Keywords: Information Literacy; Competitive Intelligence; Startups; Industry 4.0; Systematic Literature Review; Case Study; Theoretical-Conceptual Model. LISTA DE FIGURAS P. Figura 1 - Era moderna dos negócios................................................................. 32 Figura 2 - TIC como suporte ao processo decisório............................................ 52 Figura 3 - Processo de inteligência competitiva organizacional......................... 54 Figura 4 - Ciclo da inteligência........................................................................... 55 Figura 5 - Modelo teórico-conceitual de IC de Dishman e Calof......................... 57 Figura 6 - Modelo teórico-conceitual de IC de Nasri.......................................... 58 Figura 7 - Modelo teórico-conceitual de Gainor................................................ 59 Figura 8 - Monitoramento e competência......................................................... 60 Figura 9 - Modelo teórico-conceitual de inteligência competitiva organizacional de Teixeira................................................................. 61 Figura 10 - Ciclo de inteligência de Miller ........................................................... 62 Figura 11 - Ciclo de inteligência de Herring......................................................... 63 Figura 12 - Interdependência conceitual............................................................. 71 Figura 13 - A amplitude da competência em informação nas competências do profissional da informação................................................................ 76 Figura 14 - Inter-relação entre competência em informação e aprendizado ao longo da vida..................................................................................... 86 Figura 15 A competência em informação como propiciadora do aprendizado ao longo da vida................................................................................ 86 Figura 16 - Modelo de uso da informação........................................................... 88 Figura 17 - Competência em informação, capacidade de absorção e as competências especializadas............................................................. 97 Figura 18 - Elementos conceituais que sustentam a competência em informação........................................................................................ 98 Figura 19 Resumo das Revoluções Industriais................................................... 109 Figura 20 - Modelo de referência arquitetural da Indústria 4.0 (RAMI 4.0) ......... 112 Figura 21 - Diferenças entre incubadoras e aceleradoras.................................... 150 Figura 22 - Programa Startup Brasil.................................................................... 152 Figura 23 - Programa Conecta Startup Brasil....................................................... 154 Figura 24 - Metodologia da tese......................................................................... 155 Figura 25 - Descrição do processo de Revisão Sistemática da Literatura.............. 157 Figura 26 - Relação dos conceitos de inteligência competitiva, competência em informação, inovação e startups........................................................ 209 Figura 27 - Modelo conceitual de inteligência competitiva e competência em informação no contexto da Indústria 4.0........................................... 219 Figura 28 - Modelo teórico-conceitual de IC e CoInfo para Startups............................................................................................ 347 Figura 29 - Processo de IC em Startups............................................................... 350 LISTA DE GRÁFICOS P. Gráfico 1 - Porcentagem de artigos publicados................................................... 178 Gráfico 2 - Autores que publicaram sobre CoInfo e IC......................................... 179 Gráfico 3 - Nível de escolaridade dos colaboradores................................................................................... 325 Gráfico 4 - Compreensão sobre CoInfo............................................................... 326 Gráfico 5 - Percepção da própria necessidade de informação........................................................................................ 327 Gráfico 6 - Sentimentos durante o processo de busca de informação........................................................................................ 328 Gráfico 7 - Locais de acesso à informação........................................................... 329 Gráfico 8 - Avaliação da fonte de informação.................................................. 330 Gráfico 9 - Tipos de uso da informação nas Startups........................................... 331 Gráfico 10 - Lei de Acesso à Informação............................................................... 332 Gráfico 11 - Propriedade intelectual e registro de patente................................... 323 Gráfico 12 - Percentual e a Frequência das respostas do colaborador A................ 334 Gráfico 13 - Percentual e a Frequência das respostas do colaborador B................ 335 Gráfico 14 - Percentual e a Frequência das respostas do colaborador C................ 336 Gráfico 15 - Percentual e a Frequência das respostas do colaborador D................ 336 Gráfico 16 - Percentual e a Frequência das respostas do colaborador E................ 337 Gráfico 17 - Percentual e a Frequência das respostas do colaborador F................ 338 Gráfico 18 - Percentual e a Frequência das respostas do colaborador G................ 338 Gráfico 19 - Comparação das questões 5 e 9......................................................... 340 Gráfico 20 - Comparação das questões 10 e 12..................................................... 341 Gráfico 21 - Comparação das questões 13 e 15..................................................... 342 Gráfico 22 - Comparação das questões 16 e 23..................................................... 343 LISTA DE QUADROS P. Quadro 1 - Definições de inteligência competitiva........................................... 33 Quadro 2 - Tipos de inteligência organizacional............................................... 42 Quadro 3 - Terminologia relacionada à inteligência competitiva...................... 44 Quadro 4 - Fases/etapas do ciclo de inteligência competitiva.......................... 56 Quadro 5 - Habilidades no processo de aprendizagem..................................... 79 Quadro 6 - Abordagens de aprendizagem que influenciam os conceitos de competência em informação......................................................... 83 Quadro 7 - Definições de Capacidade de Absorção.......................................... 95 Quadro 8 - Convergências e divergências sobre o conceito de competência em informação e capacidade de absorção...................................... 96 Quadro 9 - Padrões e indicadores de desempenho adotados pelo CAUL.......... 100 Quadro 10 - Padrões de competência em informação da IFLA............................ 101 Quadro 11 - Padrões, indicadores de desempenho e resultados desejáveis aplicáveis as startups..................................................................... 102 Quadro 12 - Protocolo da Revisão Sistemática da Literatura.............................. 158 Quadro 13 - Artigos selecionados da terceira RSL ‘business information literacy’.......................................................................................... 196 Quadro 14 - Relação dos conceitos de inteligência competitiva, competência em informação, inovação e startups............................................... 204 Quadro 15 - Inter-relação entre inteligência competitiva, competência em informação e indústria I4.0............................................................ 213 Quadro 16 - Alianças entre instituições brasileiras...................................................................................... 227 Quadro 17 - Principais ações e políticas públicas de Indústria 4.0 no Brasil........ 235 Quadro 18 - Indicadores de Desempenho - síntese da aplicação da entrevista aos gestores das startups............................................................... 260 Quadro 19 - Resultados Esperados - síntese da aplicação da entrevista aos gestores das startups..................................................................... 260 Quadro 20 - Indicadores de Desempenho - síntese da aplicação do questionário aos colaboradores das startups........................................................................................... 299 Quadro 21 - Resultados Esperados - síntese da aplicação do questionário aos colaboradores das startups............................................................................................ 300 Quadro 22 - Categorias da análise de conteúdo................................................... 301 Quadro 23 - Questões de avaliação da informação.............................................. 339 Quadro 24 - Etapas do modelo e ações na aceleradora........................................ 352 LISTA DE TABELAS P. Tabela 1 - Resultados quantitativos da primeira RSL......................................... 177 Tabela 2 - Resultados quantitativos da segunda RSL.................................................................................................... 186 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ACATECH - German Academy of Science and Engineering ACRL - Association for College and Research Libraries ABC - Academia Brasileira de Ciências ABDI - Associação Brasileira de Internet Industrial ABRAIC - Associação Brasileira de Analistas de Inteligência Competitiva ABRAII - Associação Brasileira de Empresas Aceleradoras de Inovação e Investimento ABStartups - Associação Brasileira de Startups CA - Capacidade de Absorção ACN - Apoio à Consultoria Nacional AIST - National Institute of Advanced Industrial Science and Technology ALA - American Library Association AMP - Advanced Manufacturing Partnership AMRI - Advanced Manufacturing Research Institute ANCIB - Associação Nacional de Ciência da Informação do Brasil APL - Arranjo(s) Produtivo(s) Local(is) AUSC - Programa de Apoio ao Usuário do Serviço de Consultoria BASA - Banco da Amazônia BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento BNDE - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BRAPCI - Base de Dados Referenciais de Artigos de Periódicos em Ciência da Informação CA - Capacidade de Absorção CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível CAUL - Council of Australian University Libraries CEO - Chief Executive Officer CERTI - Fundação de Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras CFAF - Banco de Desenvolvimento da América Latina CNI - Confederação Nacional das Indústrias CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNS - Conselho Nacional de Saúde CoInfo - Competência em Informação COO - Chief Operations Officer COPIN - Conselho Temático Permanente de Política Industrial e Desenvolvimento Tecnológico CPS - Centro Paula Souza CPS - Cyber-Physical Systems CTO - Chief Technical Officer DW - Data Warehouse EMBRAPII - Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial ENANCIB - Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação ETEC - Escola(s) Técnica(s) FAMPE - Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo FATEC - Faculdade(s) de Tecnologia FDA - Fundo de Aval FGI - Fundo Garantidor de Investimentos FGO - Fundo de Garantia de Operações FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos FIPEME - Programa de Financiamento à Pequena e Média Empresa FIESP - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo FNDCT - Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico FRQNT - Fonds de Recherche du Québec - Nature et Technologies FUNCET - Fundo Estadual de Desenvolvimento Científicos e Tecnológico FUNTEC - Fundo de Desenvolvimento Técnico-Científico GC - Gestão do Conhecimento GI - Gestão da Informação GPS - Global Positionning Systems IC - Inteligência Competitiva ICMS - Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços ICO - Inteligência Competitiva Organizacional IEL - Instituto Euvaldo Lodi Investe São Paulo - Agência Paulista de Promoção de Investimento e Competitividade IO - Inteligência Organizacional IoT - Internet das Coisas I4.0 - Indústria 4.0 IFLA - International Federation for Libraries Association JUCESP - Junta Comercial do Estado de São Paulo KAMS - Korea Advanced Manufacturing System KITECH - Korea Institute of Industrial Technology LISA - Library and Information Science Abstracts LISTA - Library Information Technology Abstracts MBA - Master of Business Administration MBI - Master Business in Innovation MCTIC - Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comuinicações MDIC - Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior M2M - Máquina para Máquina MEC - Ministério da Educação MEI - Microempreendedor Individual MES - Manufacturing Execution Systems MF - Ministério da Fazenda MPE - Micros e Pequenas Empresas MPDG - Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão MTb - Ministério do Trabalho MS - Ministério da Saúde NAI - Núcleos de Assistência Industrial NSF - National Science Foundation OECD - Organização para a Cooperação de Desenvolvimento Econômico ONU - Organização das Nações Unidas P&D - Pesquisa e Desenvolvimento PEED - Plano Empresarial Estratégico de Digitalização PG&C - Perspectiva em Gestão & Conhecimento PIPE - Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas PITE - Programa de Apoio à Pesquisa em Parceria para Inovação Tecnológica PGR - Procuradoria Geral da República RAMI 4.0 - Reference Architectural Model of Industry 4.0 REBECIN - Revista Brasileira de Educação em Ciência da Informação REDESIM - Rede Nacional para Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios RFID - Radio Frequency Identification RSL - Revisão Sistemática da Literatura SBPC - Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência SciELO - Scientific Electronic Library Online SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SEBRAE/SP - Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado de São Paulo SDECTI - Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação SEMPE - Subsecretaria de Empreendedorismo e da Micro e Pequena Empresa SICS - Sistemas de Inteligência Competitiva Setoriais SUDENE - Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste TCC - Trabalho de Conclusão de Curso TI - Tecnologia da Informação TIC - Tecnologias de Informação e Comunicação TO - Termo de Outorga UdeS - Université de Sherbrooke UEL - Universidade Estadual de Londrina UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura Unesp - Universidade Estadual Paulista ‘Júlio de Mesquita Filho’ UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas USP - Universidade de São Paulo VDI - Associação de Engenheiros Alemães WEF - World Economic Forum WoS - Web of Science ZVEI - Associação dos Fabricantes Eletroeletronicos Alemães SUMÁRIO P. 1 INTRODUÇÃO............................................................................................... 21 2 INTELIGÊNCIA COMPETITIVA........................................................................ 31 2.1 Aspectos Históricos e Conceituais................................................................ 31 2.2 Inteligência Competitiva e Termos Correlatos.............................................. 38 2.3 Inteligência Competitiva para Micros e Pequenas Empresas e Startups........ 48 2.4 Modelos de Inteligência Competitiva........................................................... 51 3 COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO................................................................ 65 3.1 Aspectos Históricos e Conceituais................................................................ 65 3.2 Abordagens Teóricas sobre a Competência em Informação.......................... 79 3.3 Competência em informação no ambiente de negócios............................... 88 3.4 Capacidade de Absorção e Competência em Informação............................. 93 3.5 Padrões e indicadores de competência em informação no contexto de startups....................................................................................................... 99 4 INDÚSTRIA 4.0............................................................................................. 107 4.1 Aspectos Históricos e Conceituais................................................................ 107 4.2 Cenário da Indústria 4.0............................................................................... 115 4.3 Conceito de Inovação................................................................................... 130 4.4 Inovação no Contexto das Micros e Pequenas Empresas e Startups............. 134 4.5 Inovação Aberta.......................................................................................... 139 5 STARTUPS.................................................................................................... 142 5.1 Aspectos Históricos e Conceituais................................................................ 142 5.2 Aceleradoras de Startups............................................................................. 147 5.3 Cenário das Startups no Contexto Brasileiro................................................ 150 6 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS............................................................ 155 6.1 Revisão Sistemática da Literatura................................................................ 156 6.2 Estudo de Caso............................................................................................ 159 6.2.1 Universo e Sujeitos de Pesquisa................................................................... 160 6.3 Procedimentos de Coleta de Dados.............................................................. 160 6.3.1 Questionário................................................................................................ 161 6.3.2 Entrevista.................................................................................................... 171 6.3.3 Indicadores.................................................................................................. 173 6.4 Procedimentos de Análise de Dados............................................................ 175 6.5 Procedimentos Éticos em Pesquisa.............................................................. 176 7 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ........................................ 177 7.1 Revisão Sistemática da Literatura................................................................ 177 7.2 Inter-Relação Teórica entre Inteligência Competitiva e Competência em Informação no Contexto da Indústria........................................................... 203 7.3 Políticas e Ações Governamentais do Brasil Rumo a Indústria 4.0................ 221 7.4 Resultados das Entrevistas com os Gestores das Startups............................ 237 7.4.1 Gestor A....................................................................................................... 237 7.4.2 Gestor B....................................................................................................... 242 7.4.3 Gestor C....................................................................................................... 245 7.4.4 Gestor D....................................................................................................... 248 7.4.5 Gestor E....................................................................................................... 252 7.4.6 Gestor F....................................................................................................... 254 7.4.7 Gestor G...................................................................................................... 258 7.5 Resultados dos questionários com os colaboradores das startups....................................................................................................... 261 7.5.1 Colaborador A............................................................................................. 261 7.5.2 Colaborador B............................................................................................. 267 7.5.3 Colaborador C............................................................................................. 271 7.5.4 Colaborador D............................................................................................. 276 7.5.5 Colaborador E............................................................................................. 281 7.5.6 Colaborador F............................................................................................. 288 7.5.7 Colaborador G............................................................................................ 293 7.6 Análise Qualitativa...................................................................................... 300 7.7 Análise Quantitativa.................................................................................... 324 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................... 344 REFERÊNCIAS............................................................................................... 354 APÊNDICES................................................................................................... 378 APÊNDICE A – Questionário......................................................................... 379 APÊNDICE B – Entrevista Estruturada........................................................... 387 APÊNDICE C – Checklist................................................................................ 389 APÊNDICE D – Aprovação do Comitê de Ética............................................... 386 APÊNDICE E - Abordagens dos artigos analisados na RSL.............................. 391 APÊNDICE F – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido......................... 394 APÊNDICE G - Revisão Sistemática da Literatura.......................................... 396 1 INTRODUÇÃO Existem organizações nacionais de grande porte que alcançam nível internacional no ambiente de negócios, principalmente porque se instalam em outros países e atendem ao mercado sem fronteiras. Concomitante, há organizações menores responsáveis pelo desenvolvimento regional porque absorvem a mão-de-obra local e atendem a sociedade em suas demandas. Essas organizações menores são conhecidas como startups que geralmente são jovens e diferentes do sistema tradicional empresarial. As startups são baseadas em alta tecnologia e se iniciam com poucos colaboradores. Essas organizações vêm mudando o mercado e o modo de se fazer a gestão dos processos organizacionais (NAGAMATSU; BARBOSA; REBECCHI, 2013; SEBRAE MG, 2019). Parte significativa das organizações de grande porte aplicam o processo de Inteligência Competitiva (IC), voltado à obtenção, análise e uso estratégico da informação. O objetivo da IC é gerar diferenciais competitivos para atingir as estratégias de curto, médio e longo prazos estabelecidas pelos gestores. Esse processo envolve profissionais capacitados, tanto para a busca quanto para o uso da informação e, portanto, é um processo oneroso para as organizações. As startups também necessitam do processo de IC porque são negócios de alto risco, pois a taxa de mortalidade é muito alta, podendo chegar até 75% de chance1. Diferentes economias ao redor do mundo contam com as startups para gerar renda e criar empregos como, por exemplo, a brasileira, uma vez que no Brasil as scale-ups2 são responsáveis por 50% dos novos empregos3 (ABSTARTUPS, 2020). Destaca-se, também, que o tamanho da organização não é o principal fator de competitividade, mas a estratégia adotada por ela que determina sua sobrevivência no mercado. A IC é um processo que deve envolver todos os níveis organizacionais, enfocando o processo decisório e as estratégias de médio e longo prazos, a fim de gerar diferenciais competitivos. Dessa maneira, Hassani e Mosconi (2017) questionam se “É legítimo se perguntar se as diferentes práticas de IC dependem do tamanho da empresa” (HASSANI; MOSCONI, 2017, p.10, tradução nossa). 1 Informações disponíveis em: . Acesso em: 14 jan. 2020. 2 São start-ups que se tornaram mais competitivas e cresceram no mercado. 3 Informações disponíveis em: < https://abstartups.com.br/sobre-a-abstartups/ >. Acesso em: 15 jan. 2020. Para realizar o processo de IC os profissionais necessitam de coletar, avaliar e usar a informação e o conhecimento disponível de maneira crítica. Essas ações são norteadas pela competência em informação (CoInfo), pois trabalha com a ideia de aprendizagem ao longo da vida em diferentes contextos (OTTONICAR; VALENTIM; FERES, 2016), inclusive em ambiência de organizações competitivas (LLOYD, 2017). Corroborando tais interpretações, Azevedo, Araújo e Duarte (2017) defendem que a aplicação do processo de IC necessita da CoInfo, a fim de que haja a busca, o tratamento, a avaliação e o compartilhamento da informação. Essas ações servem para aprender sobre os concorrentes, fornecedores, clientes e outros stakeholders4, a fim de conhecer e monitorar o mercado. As startups passam por um processo de aceleração e, neste processo, recebem ajuda de uma aceleradora de startups para a elaboração do seu plano de negócio. Os gestores devem ser capazes de acessar, avaliar e usar a informação e, assim, aprender todos os dias com seu trabalho (OTTONICAR, 2016), destacando-se a necessidade da CoInfo em ambiência de startups. Em pesquisa anterior, evidenciou-se que a CoInfo contribui significativamente para a geração de competitividade dos aglomerados por meio da experiência (OTTONICAR, 2016). Desse modo, acredita-se que o processo de IC baseado na CoInfo dos gestores contribui para o crescimento econômico das startups, principalmente para aquelas que participam de aceleradoras, foco deste estudo. A pesquisa se caracteriza como interdisciplinar, uma vez que exige conhecimentos relacionados à Gestão Empresarial e à Ciência da Informação. O conceito adotado para a CoInfo nesta pesquisa se refere a compreensão de aprendizagem ao longo da vida (BRUCE, 1999; BELLUZZO; FERES, 2015; LLOYD, 2017) e pode ser aplicado às organizações competitivas. A CoInfo possibilita que as pessoas percebam, acessem, analisem dados e informações oriundos de distintas fontes para transformá-los em conhecimento que, por sua vez, contribui para que os indivíduos pensem de maneira crítica em relação a informação obtida e entenda seu contexto (LLOYD, 2017). 4 Stakeholders é uma palavra que se refere às partes envolvidas com a organização (CAMARGO, 2019). Disponível em: . Acesso em: 18 out. 2019. Os gestores necessitam de dados e informações para resolverem um problema e para tomarem uma decisão. Eles aprendem a partir da interação com os dados e informações, gerando conhecimento novo ou incremental. A aprendizagem dos gestores estimula a criatividade que influencia na inovação de produtos e processos (OTTONICAR, 2016). A CoInfo possui padrões e indicadores desenvolvidos por organizações internacionais como a International Federation Libraries (IFLA), o Council of Australian University Libraries (CAUL) e a Association of College and Research Libraries (ACRL). Tais padrões podem guiar as etapas do processo de IC, a fim de que o acesso à informação sobre o mercado concorrente seja de qualidade. Para Zhang, Majid e Foo (2010) poucos estudos têm associado à CoInfo aos processos de gestão no contexto de negócio. De acordo com Tisluk, Mosconi e Chamberland-Tremblay (2015) a geração de ferramentas provenientes da IC possibilitam a interpretação e integração da quantidade de dados disponíveis. O avanço das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), particularmente a das plataformas Web e das redes sociais influíram em significativas mudanças no acesso, mediação e uso de dados e informações devido a quantidade e diversidade de fontes, bem como de tecnologias sofisticadas para prospectar, monitorar e selecionar dados e informações de modo rápido e eficiente. Essas mudanças se traduzem em desafios para as organizações, principalmente, em relação à inovação, pois atualmente as abordagens mais vantajosas são as colaborativas. A inovação aberta, pode se apoiar em diferentes serviços ou departamentos de uma mesma organização, bem como pode ser fruto de trocas entre serviços internos com parceiros externos. Em todo caso, a inovação aberta contribui para a melhoria da eficácia dos processos de inovação, compartilhando os custos e reduzindo os riscos. A inovação aberta pode tomar várias formas como, por exemplo, o crowdsourcing e a co-criação (ROCH; MOSCONI, 2016). Essas possibilidades promissoras fizeram com que o uso das mídias seja fundamental, tanto interiormente quanto exteriormente à organização. Externamente, as fontes podem ser aproveitadas para a inovação e desenvolvimento de produtos e serviços, por meio do conteúdo e conhecimentos criados pelos consumidores (BELKAHLA; TRIKI, 2011; CAO; ZHANG, 2011; CHUA; BANERJEE, 2013). Internamente, as fontes devem alavancar o conhecimento dos indivíduos, promover o aprendizado, a colaboração entre os pares e a dinâmica de troca informal (KUEGLER; SMOLNIK; KANE, 2015; CAYA; MOSCONI, 2016). Atualmente, o mercado está caminhando para a 4ª Revolução Industrial ou Indústria 4.0 (I4.0). Em meados de 2011 na Alemanha na abertura da Hannover Messe surge o temo ‘Indústria 4.0’ que foi conectado a automação. Este novo termo trouxe uma mudança para as organizações, uma vez que se remete a quarta Revolução Industrial (JASPERNEITE, 2012). Esta Revolução, ainda, está em transição e tem mobilizado vários países e governos rumo às novas formas de produção. A I.40 conecta pessoas, objetos e elementos biológicos (SCHWAB, 2016). Com ela há o aparecimento da expressão smart factory (fábrica inteligente) que tem como base a produção massiva de dados e informações entre os objetos em tempo real. Atualmente, o setor que já demonstrou preocupação com o tema é o de manufatura, sendo que a comunicação entre os objetos tem potencial de competitividade e inovação de maneira rápida e eficaz. O contexto da I4.0 é oportunidade de inovação e mercado para as startups, tendo em vista que o foco dessas organizações é a alta tecnologia. Parte das startups desenvolvem software e sistemas de inteligência artificial (IA), internet das coisas (IoT), informação nas nuvens, segurança da informação, entre outras. Essas tecnologias atuais fazem parte do contexto da I4.0 (SCHWAB, 2016; JASPERNEITE, 2012; OTTONICAR; VALENTIM; MOSCONI, 2018). A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial tem percebido a importância da I4.0 para as startups e criou um edital que estimula essas organizações a desenvolver essas tecnologias no Brasil5 (ABDI, 2020). A partir das considerações elucidadas foi possível desenvolver as seguintes questões de pesquisa: 1) Existe inter-relação entre a CoInfo e a IC no contexto da Indústria 4.0 (I4.0)? 2) Há benefícios proporcionados por essa inter-relação em termos de inovação para as startups? 3) Existem políticas e ações governamentais de incentivo às startups no contexto da I4.0? 4) É possível desenvolver um modelo flexível de IC baseado nos ‘Padrões e Indicadores de CoInfo’ de Belluzzo para as startups brasileiras aceleradas no contexto da I4.0? 5 Disponível em: . Acesso em: 14 jan. 2020. Os pressupostos baseados nos problemas de pesquisa foram desenvolvidos, conforme segue: 1) A CoInfo possui padrões e indicadores para medir características relacionadas aos sujeitos e aos processos organizacionais que podem ser utilizados como norteadores do processo de IC. 2) A CoInfo e a IC influenciam significativamente a inovação e possibilitam que as startups consigam competir no mercado em que atuam. 3) A CoInfo e a IC ao serem inter-relacionadas se tornam um instrumento estratégico para a inovação e a competitividade de startups aceleradas no contexto da I4.0. 4) Ao realizar o estudo das startups espera-se encontrar semelhanças e diferenças no modo como os gestores acessam e usam a informação para alcançar seus objetivos e metas. 5) O modelo do domínio de conhecimento obtido pela investigação prática pode contribuir significativamente para a inovação e competitividade das startups. O objetivo geral se refere a analisar como a CoInfo e a IC estão representadas ou não nas startups que produzem tecnologias ou fornecem serviços no contexto da I4.0. Como objetivos específicos definiu-se: a) Sistematização das abordagens e dos conceitos sobre CoInfo, IC, I4.0, startups e inovação; b) Sistematização das políticas e ações públicas nacionais de incentivo às startups para a I4.0; c) Identificar e caracterizar as inter-relações entre a CoInfo e a IC nas startups; d) Verificar como a CoInfo contribui para a IC no que tange a inovação das startups; e) Verificar as semelhanças e diferenças no modo como os gestores das startups percebem, acessam, analisam e usam dados e informações para alcançar seus objetivos e metas. f) Propor um modelo flexível de IC baseado nos ‘Padrões e Indicadores de CoInfo’ de Belluzzo para startups no contexto da I4.0. Em meio a essas transformações e a quantidade de informações produzidas no contexto da I4.0, os gestores necessitam cada vez mais saber como perceber, acessar e buscar informações e utilizá-las para construir conhecimento significativo por meio da CoInfo. O mesmo ocorre no processo de IC, pois os profissionais precisam ser competentes no acesso, busca e uso de dados e informações sobre o cenário externo. Além disso, as informações provenientes de fontes formais já não suprem as necessidades da IC, sendo que no contexto da I4.0 as próprias TIC são produtoras de dados em diferentes níveis e contextos. A CoInfo e a IC são processos primordiais da I4.0 ao possibilitar o acesso às fontes formais e informais provenientes de várias plataformas e objetos e, nesse sentido, ressalta-se que as fontes podem ser físicas e biológicas. Tanto a CoInfo quanto a IC contribuem para a avaliação eficiente de dados e informações, a partir da percepção da ideologia da fonte e do meio de compartilhamento, além disso orientam os indivíduos em como usar a informação a fim de inovar e gerar vantagem competitiva. Existem poucos estudos sobre a CoInfo no âmbito de startups, apesar de que em seu surgimento, no ano de 1974, Paul Zurkowski já mencionava sua relevância para as organizações competitivas. Os gestores captam e disseminam dados e informações todos os dias em suas rotinas de trabalho, pois analisam o contexto organizacional por meio do monitoramento da informação. Desse modo, saber como buscar, avaliar e usar a informação de maneira eficiente para construir o aprendizado ao longo da vida é um fator primordial para o desenvolvimento das startups, fatores estes inclusos no conceito da CoInfo. O processo de IC também envolve o acesso, a busca, a análise e o uso de dados e informações internas e externas, a fim de apoiar o processo decisório e a inovação. Contudo, a IC é um processo oneroso para as startups e, por essa razão, em geral apenas as organizações de grande porte possuem recursos para implantar e se beneficiar deste modelo de gestão. Nessa perspectiva, implantar o processo de IC em aceleradoras que congregam startups é mais viável, uma vez que os custos podem ser compartilhados. O compartilhamento dos custos da IC pode ser viabilizado por meio das aceleradoras de startups, uma vez que têm como estratégia o fortalecimento das startups no mercado e, assim, podem obter incentivos oriundos de políticas públicas e ações governamentais para o setor em que atuam. As aceleradoras têm como finalidade organizar os processos das startups, promovendo parcerias, palestras e eventos entre seus membros, a fim de melhorar a competitividade. Além disso, devem fornecer dados e informações fidedignas de modo a facilitar a atuação dos gestores. Nessa perspectiva, defende-se que as aceleradoras têm condição de oferecer o serviço de IC para as startups, diminuindo o custo para as organizações separadamente. A inter-relação entre a CoInfo e a IC é evidente, sendo assim, apresenta-se um modelo teórico-conceitual que poderá ser aplicado às startups. Ressalta-se que as startups pesquisadas na tese foram selecionadas porque produzem tecnologias inteligentes. Essas tecnologias fazem parte do contexto da I4.0. Além disso, os gestores e colaboradores das startups se mostraram interessados responder aos instrumentos. Por isso, os conceitos de I4.0 são relevantes para a tese porque contextualizam o mercado atual das organizações pesquisadas. O modelo foi elaborado com base em um estudo de caso de startups, visando a geração de diferenciais competitivos. De acordo com Campos (2004) o estudo prático de contextos reais possibilita o desenvolvimento de um modelo de conhecimento generalizado (CAMPOS, 2004), sendo assim, o modelo é flexível, pois pode ser adaptado e utilizado por outras aceleradoras de startups. O modelo estabelece a inter-relação entre a CoInfo e a IC, especificamente voltado para startups, podendo servir de base para outros estudos teóricos e aplicados. Acredita-se que essa inter-relação pode contribuir com a evolução do arcabouço teórico da área, pois relaciona dois temas estudados de maneira segregada pela Ciência da Informação. Do mesmo modo, a área de Gestão Empresarial também não tem agregado estudos sobre a CoInfo (ZHANG; MAJID; FOO, 2010; 2012; OTTONICAR; VALENTIM; MOSCONI, 2018), sendo assim essa pesquisa demonstra sua viabilidade e importância para a área. O modelo pode ser implantado por diferentes aceleradoras de startups, a fim de que o custo da atividade seja compartilhado pelas organizações participantes e, assim, desenvolvam estratégias para se inserirem no contexto da I4.0. A aplicação dos padrões e indicadores da CoInfo nas etapas do processo de IC possibilita aos profissionais identificar falhas e melhorar suas ações voltadas ao acompanhamento do mercado, a fim de aproximar o acesso e a busca de dados e informações ao ambiente prático e, assim, o processo é utilizado de maneira eficiente e eficaz. A avaliação da inter-relação entre CoInfo e IC pode evidenciar questões relevantes que devem ser retrabalhadas e reestruturadas de maneira a propiciar inovação e competitividade às startups. O Brasil, segundo o Startup SC e o SEBRAE (2018), é o terceiro país no mundo com o maior número de startups. O primeiro e o segundo lugar são ocupados pelos Estados Unidos e pela China respectivamente6, ou seja, as startups se constituem em organizações que possuem potencial competitivo nos países mencionados. Nessa perspectiva, há que se considerar estudos que fortaleçam as startups por sua influência no panorama econômico atual e futuro e, também, porque geram empregos e renda para muitas pessoas nas regiões em que atuam. A pesquisa pretende apresentar a possibilidade do uso da IC por startups que fazem parte de aceleradoras, fenômeno comum em São Paulo, Brasil. A maioria das pesquisas sobre a IC estão voltadas para as grandes empresas, no entanto, o Brasil possui 27 milhões de pessoas envolvidas com o próprio negócio (STARTUP SC, 2018) e sua economia é baseada em empresas de pequeno porte (92%), conforme o SEBRAE destaca (2018)7. Além disso, a pesquisa tem como pano de fundo a I4.0. que é tema emergente na área da Ciência da Informação (OTTONICAR; VALENTIM; MOSCONI, 2018). Sendo assim, a pesquisa visa estudar este fenômeno, tendo em vista que a Internet das Coisas (IoT) e as tecnologias conectadas está revolucionando a maneira com que as organizações vão se relacionar com o cliente real e potencial. Escolheu-se as startups do ramo de tecnologia porque é o setor que, atualmente, tem recebido impacto e demanda implementar transformações rumo ao contexto da I4.0. Diante da produção massiva de dados e informações nesse âmbito, os gestores devem ser competentes para acessarem, buscarem, analisarem, interpretarem e usarem dados e informações para tomarem decisões, resolverem problemas, criarem e inovarem. Do mesmo modo, as organizações necessitam estar em acordo com a evolução dos processos industriais para sobreviverem e, portanto, é essencial utilizar a IC para que o setor possa gerar diferenciais competitivos que as mantenham no mercado em que atuam. A pesquisa é interdisciplinar, porquanto se apropria de conceitos da área da Ciência da Informação e da Gestão Empresarial. A gestão de organizações necessita valorizar a CoInfo em suas pesquisas (SANTOS, 2014; YAFUSHI, 2015; OTTONICAR, 2016) e este estudo pode demonstrar esta importância, principalmente, no contexto da I4.0, pois os modos de produção são cada vez mais associados à informação. A pesquisa pretende demonstrar a relevância da 6 Fonte: . Acesso em: 27 jul. 2019. 7 Fonte: . Acesso em: 27 jul. 2019. CoInfo para a área da Gestão que, por sua vez, pode se apropriar de seus conceitos, a fim de melhorar os processos organizacionais. A pesquisa contribui para o avanço dos conhecimentos sobre o tema da I4.0 que é emergente no Brasil, além disso, pode contribuir para a compreensão deste objeto e fenômenos relacionados no âmbito das áreas de Ciência da Informação e Gestão Empresarial. Conforme explica Dutton (2014) a área das Ciências Sociais e outros conhecimentos multidisciplinares necessitam enfocar a respeito do design, implementação e impactos da IoT. Essas transformações vêm trazendo resultados econômicos e sociais, portanto, é necessário compreendê-las em seu surgimento. As pesquisas sobre o tema devem aproveitar a colaboração entre os negócios, a indústria e a academia, desenvolvendo tecnologia e padrões voltados à inovação. A presente tese foi dividida em seções que formaram o arcabouço teórico e subsídios para as análises posteriores realizadas por meio da aplicação dos métodos Estudo de Caso (YIN, 2010) e Análise de Conteúdo (BARDIN, 2010), que são descritos em seção específica. A primeira Seção foi constituída pela Introdução ao tema, ao objeto, às questões e pressupostos, aos objetivos e à justificativa da pesquisa. Na Seção 2 apresentou-se a IC com base em aspectos teóricos e conceituais, uma breve discussão sobre sua terminologia e história, a importância da IC para as startups e os modelos conceituais desta temática. O enfoque da Seção foi demonstrar a necessidade da implementação do processo de IC para as startups e sua contribuição para a geração de diferenciais competitivos. A Seção 3 foi elaborada enfocando a temática CoInfo, pois demonstrou os aspectos históricos e conceituais, sua atuação no contexto de negócios, as abordagens de interpretação teóricas e os padrões e indicadores voltados ao acesso, busca, análise e uso de dados e informações e suas fontes. A Seção 4 apresentou os conceitos, teorias e o surgimento da I4.0 na sociedade . O foco foi estabelecer como o fenômeno é entendido na presente pesquisa, bem como observar sua relação com o ambiente de inovação e competitividade, principalmente em ambientes de negócio. Introduziu-se também os conceitos de inovação e inovação aberta, evidenciando que a parceria entre as empresas é uma estratégia plausível para que sobrevivam nesse contexto. Na Seção 5 conceituou-se o que são startups, os seus aspectos históricos, as terminologias, a explicação a respeito das aceleradoras de startups e o cenário brasileiro. Por fim, apresentou-se uma Revisão Sistemática de Literatura relacionando as publicações internacionais sobre I4.0 e startups na área da Ciência da Informação e Gestão Empresarial. A Seção 6 descreveu os procedimentos metodológicos, a natureza e o tipo de pesquisa, os métodos e as técnicas de coleta e análise de dados. Descreveu-se o método ‘Estudo de Caso’, com a aplicação da triangulação de dados, bem como a prática de um grupo de startups aceleradas no interior do Estado de São Paulo, demonstrando a possibilidade de aplicação do modelo. A Seção 7 descreveu a análise e a discussão dos resultados parciais obtidos com estudo de caso. Assim, inter-relacionou-se as temáticas CoInfo, IC e I4.0. No final da Seção, apresentou-se uma Revisão Sistemática da Literatura (RSL) com base nos conceitos de IC e CoInfo, o que possibilitou compreender como as teorias vêm tratando estas temáticas em nível internacional. Posteriormente, realizou-se a investigação prática no contexto organizacional para demonstrar como essas temáticas se relacionam nos processos de trabalho dos sujeitos pesquisados. Na Seção 8 apresenta-se as explicações sobre as considerações finais e a apresentação do modelo de IC baseado na CoInfo que pode ser utilizado pelas startups para estimular a criatividade, inovação e, consequentemente, obter vantagem competitiva. Além disso, foi necessário explicar as limitações da presente pesquisa, sua importância para a sociedade e empresas no Século XXI, bem como as sugestões às pesquisas futuras. 2 INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 2.1 Aspectos Históricos e Conceituais No contexto da II Guerra Mundial a informação passou a ser valorizada devido ao uso de computadores e redes de comunicação entre as bases aliadas. A inteligência, antes vista como um processo de espionagem entre os países, foi adotada pelas organizações, a fim de atingirem seus objetivos e metas de médio e longo prazos. Além disso, o destaque da informação foi nítido, principalmente, a partir da criação de um novo campo científico, qual seja, a Ciência da Informação. No senso comum há uma distorção quanto ao que seja IC, pois muitas vezes a confundem com a espionagem industrial ilícita, pois o termo ‘inteligência’ remete aos agentes secretos de agências governamentais, cujo objetivo é coletar informações para os países. Essa situação advém do arcabouço histórico deixado pelas guerras, principalmente pela denominada Guerra Fria entre os Estados Unidos e a antiga União Soviética entre as décadas de 1950 e 1970, concomitante a criação e desenvolvimento da rede Internet. A partir disso, algumas disputas saíram da dimensão física e migraram para a dimensão eletrônica/digital. Os serviços de inteligência secreta dos países acessam, buscam, analisam, organizam e armazenam dados e informações para construírem conhecimento sobre determinada situação que lhes interessam politicamente e/ou economicamente. No entanto, a IC não age de maneira ilícita e aparece como uma disciplina integradora entre o planejamento estratégico e o monitoramento interno e externo de dados e informações. Sua função é compreender os processos que ocorrem com os concorrentes, entender o mercado e as demandas dos clientes reais e potenciais. A IC gera dados e informações inteligentes em tempo real e de maneira dinâmica, propiciando às organizações se anteciparem frente ao ambiente competitivo em que atuam (SOUZA, 2016). A IC surge nas teorias científicas em meados de 1960-1970 e, a partir de 1980, se desenvolveu voltada às organizações de grande porte. Em 1990 houve o crescimento do arcabouço teórico da área, pois a literatura passou a considerar a questão da Gestão da Informação (GI) e Gestão do Conhecimento (GC) como alicerces para a aplicação da IC (TARAPANOFF; VALENTIM; ÁLVARES, 2016). A IC é necessária, principalmente, porque contribui para distintos segmentos de negócios. Kahaner (1997) já destacava a evolução dos negócios (Figura 1). Figura 1: Era moderna dos negócios. Fonte: Kahaner (1997, p.21, tradução nossa). Na Era do Conhecimento (inteligência) o foco das atividades é direcionado para as informações, análises e sistemas de IC (KAHANER, 1997). Apesar de esses sistemas serem desenvolvidos para coletar uma quantidade enorme de dados, ainda, é o ser humano quem toma as decisões no contexto organizacional, portanto, possuir tecnologia de última geração não é garantia de efetividade nos negócios. A informação não pode ser a única fonte de tomada de decisão, mesmo que seja compreensível ou apurada. A inteligência é desenvolvida a partir da coleta de uma gama de dados e informações filtradas e analisadas. Inteligência e informação são elementos diferentes, mas se complementam (KAHANER, 1997). A filtragem está relacionada com a avaliação da qualidade da fonte de informação. O profissional de IC deve ser capaz de identificar as intenções e as ideologias que estão por trás dos veículos de comunicação, principalmente, os que estão presentes no ambiente Web, uma vez que qualquer pessoa pode disseminar fatos inverídicos, denominados de fake news, desinformação ou contrainformação.8 Os conceitos e responsabilidades dos profissionais de IC também passaram por modificações durante o tempo. Pintro, Vianna e Varvakis (2016, p. 24) desenvolveram um quadro explicativo com os conceitos de IC presentes na literatura de 1997 e 2016 (Quadro 1). 8 Fake news são notícias falsas compartilhadas pelas redes sociais para enganar as pessoas. Desinformação (do inglês disinformation) são informações falsas para prejudicar um grupo ou alguém e contrainformação (do inglês misinformation) significa uma informação falsa que não tem objetivo de prejudicar alguém ou organização (ETHICAL JOURNALISM NETWORK, 2019). Disponível em: https://ethicaljournalismnetwork.org/tag/fake-news/page/2. Acesso em: 18 out. 2019. Quadro 1: Definições de inteligência competitiva. Autor(es) Conceito(s) Cubillo (1997, p.261) Inteligência competitiva é um "[...] conjunto de capacidades próprias mobilizadas por uma entidade lucrativa, destinadas a assegurar o acesso, capturar, interpretar e preparar conhecimento e informação com alto valor agregado para apoiar a tomada de decisão requerida pelo desenho e execução de sua estratégia competitiva”. Tyson (1998) “Um processo sistemático que transforma bits e partes de informações competitivas sobre posição competitiva atual, desempenho, pontos fortes e fracos e intenções específicas para o futuro em conhecimento estratégico para auxiliar na tomada de decisão”. Tarapanoff (2001, p.45) “Uma nova síntese teórica no tratamento da informação para a tomada de decisão, uma metodologia que permite o monitoramento informacional da ambiência e, quando sistematizado e analisado, a tomada de decisão”. Miller (2002, p.25) “A inteligência competitiva trata da análise das informações sobre o mercado e da geração de recomendações para os que decidem dentro das empresas”. Canongia et al. (2004, p.232) “A inteligência competitiva pressupõe o desenvolvimento da capacidade de identificar, sistematizar e interpretar sinais do ambiente externo das organizações, para alimentar processos de decisão”. Associação Brasileira de Analistas de Inteligência Competitiva (ABRAIC) (2012) “É um processo informacional proativo que conduz à melhor tomada de decisão, seja ela estratégica ou operacional. É um processo sistemático que visa descobrir as forças que regem os negócios, reduzir o risco e conduzir o tomador de decisão a agir antecipadamente, bem como proteger o conhecimento gerado”. Strategic and Competitive Intelligence Professionals (SCIP) (2016) “É uma disciplina ética de negócios voltada para a tomada de decisão com base na compreensão do ambiente competitivo”. Fonte: Pintro, Viana e Varvakis (2016, p.24). Percebe-se a partir dos conceitos descritos no Quadro 1 que, no Século XX a IC estava intrinsecamente relacionada as tecnologias, pois Tyson (1998) ressalta inclusive o termo bits que é fortemente utilizado pela Ciência da Informação e áreas correlatas. No início, buscava- se saber os pontos fortes da organização no contexto mercadológico, conforme se observa no conceito exposto por Cubillo (1997) ao citar as capacidades próprias da organização. Com Tarapanoff (2001) o conceito passa a incorporar as informações externas e aparece o termo “monitoramento” demonstrando que a IC não é um processo estático, mas que muda constantemente seguindo as informações contextuais disponíveis. Em 2016 conforme destaca a SCIP, a IC se preocupa com a ética durante o acesso e a busca de dados e informações, cujo objetivo é entender, principalmente, o ambiente externo em que a organização atua. Nos conceitos de IC, as palavras dado, informação, conhecimento e inteligência aparecem na literatura de modo contínuo e podem ser facilmente confundidas, visto que a informação contém dados, o conhecimento possui informação e a inteligência se baseia tanto na informação quanto no conhecimento. Os dados são geralmente definidos como fatos, medidas, estatísticas, a informação é conceituada como o ato de informar, o conhecimento envolve o ganho de experiência por meio da aprendizagem e a inteligência, por sua vez, é compreendida como a capacidade de entender e aplicar conhecimento (BOUTHILLIER; SHEARER, 2003). Valentim et al. (2003) explicam que a IC A inteligência competitiva é o processo que investiga o ambiente onde a empresa está inserida, com o propósito de descobrir oportunidades e reduzir os riscos, bem como diagnostica o ambiente interno organizacional, visando o estabelecimento de estratégias de ação a curto, médio e longo prazo. [...] é entendida como processo organizacional e é fundamental à organização sob vários aspectos, como por exemplo, para as pessoas desenvolverem suas atividades profissionais, para as unidades de trabalho planejarem suas ações táticas e operacionais, para os setores estratégicos definirem suas estratégias de ação, visando o mercado, a competitividade e a globalização. Além disso, é perceptível as necessidades informacionais, em diferentes níveis de complexidade, da organização como um todo e que são supridas através do processo de IC. Para efeitos desta tese adotou-se o conceito de IC de Valentim et al. (2003) que a compreende como um processo organizacional voltado à tomada de decisão para compreender o contexto externo. Corroborando com tais ideias, Hassani e Mosconi (2017) explicam que a IC tem como objetivo o acesso, a interpretação e a difusão de informação inteligente, sendo que a informação advém do contexto externo à organização. A análise das informações externas é fase crucial do processo, uma vez que a informação inteligente contribui com a inovação de serviços e produtos, a velocidade da inovação e a qualidade dos produtos finais. Muitos gestores, ainda, acreditam que possuir diversas informações é a chave para o desenvolvimento do negócio, contudo, atualmente, não é mais suficiente apenas buscar as informações corretas. A informação inicia o processo de tomada de decisão e a sua qualidade determina os resultados por meio da análise e do uso da informação (KAHANER, 1997). A inteligência é derivada da informação e ocorre por um meio da análise ou armazenamento de informação voltado a um objetivo específico. Nesse sentido, a inteligência faz parte da solução de problemas e da união entre informação e conhecimento (BOUTHILLIER; SHEARER, 2003). Tarapanoff, Valentim e Álvares (2016, p.6) explicam: “Observa-se que o termo IC está imbricado a capacidade de o indivíduo compreender o contexto em que está inserido, no intuito de tomar decisões que resolvam problemas e possibilite adaptar-se às novas situações”. A IC é o processo de acesso e coleta de informação para orientar as organizações privadas e públicas. Além disso, a IC contribui para estabelecer políticas públicas. Esse acesso acontece de maneira sistemática e em fontes públicas disponibilizadas sobre o mercado e, portanto, os concorrentes. Assim, os gestores podem tomar decisões eficazes e guiar a organização (VAITSMAN, 2001). Kahaner (1997) já explicava que esse processo é sistemático para aprender sobre as atividades dos concorrentes e as tendências de negócios. A IC é um processo do nível estratégico organizacional, pois seu objetivo é definido de modo a garantir a sobrevivência, isto é, obter vantagem competitiva. Monitorar e se antecipar as ações dos concorrentes não é tarefa fácil para os profissionais, portanto, é necessário possuir capacidades, habilidades e atitudes em relação ao trato da informação. Não se pode ignorar o fato de que a IC teve sua origem a partir da espionagem industrial que buscava informações da concorrência de maneira ilícita. Atualmente, há maior cuidado por parte dos profissionais de IC em analisar os fluxos de informações disponíveis no ambiente físico e na Web de modo a conectar fatos ao risco do negócio (VAITSMAN, 2001). No contexto das organizações, a IC é um processo tático e estratégico por meio da obtenção de instrumentos e métodos de planejamento. Os agentes de inteligência organizacionais podem ser os profissionais da informação, cujo objetivo é o de evidenciar o ambiente competitivo e prever os passos dos concorrentes (VAITSMAN, 2001). Antes de monitorar as outras organizações atuantes no mercado, é fundamental que o profissional de IC conheça os processos de sua própria organização, portanto, a competência do sujeito deve abranger de maneira holística todo o ambiente organizacional, missão, valores e perceber quais as estratégias para a obtenção de vantagem competitiva. Para Pereira e Ramos (2009, p.2): Considera-se que a área de competitive intelligence – CI é relativamente nova com um vasto campo a ser explorado e estudado. Mesmo com muitas definições sobre o termo ainda não há uma sistematização da literatura sobre uma fundamentação teórica que defina com clareza o que é a CI. No entanto, é um desafio investigar sua importância para as organizações. A situação de maior risco organizacional ocorre quando o indivíduo tem muita experiência e conhecimento sobre a organização, levando-o a acreditar que apenas os rivais habituais podem colocar a competitividade em risco. A falha consiste no fato dos analistas não perceberem as novas organizações entrantes que vão atuar no mesmo mercado (MURPHY, 2005). Há também os produtos/serviços substitutos que são fonte de preocupação dos profissionais, à medida que oferecem alternativas inovadoras e com menos custo para os consumidores. Cabe aos indivíduos buscar informação em diversas fontes formais, como sites da Internet, catálogos, revistas, entre outras, e fontes informais, a partir dos próprios clientes e parceiros. Mesmo que as fontes de acesso à informação sejam abrangentes, existem organizações que tem cruzado a linha da ética e realizam espionagem, por exemplo, instalam escutas telefônicas e roubam informações das organizações (KAHANER, 1997). Essa estratégia ilegal pode ser substituída, por exemplo, pela contratação de profissionais das organizações concorrentes, pois possuem conhecimento e experiência advindos de suas atividades de trabalho e, assim, não se configura uma ação ilegal. O setor de IC nas grandes corporações, em geral, se situa hierarquicamente na área estratégica da organização, uma vez que possui relações diretas com os gestores (KAHANER, 1997). A IC é um processo que contribui com toda a organização, principalmente com os gestores do nível estratégico, mas também com os gestores do nível tático e operacional, conforme recomenda Kahaner (1997, p.47, tradução nossa): “[...] o departamento de IC deveria estar perto dos usuários primários, mas acessível para todos na organização”. Ressalta-se que não existem receitas ou fórmulas para realizar a IC, pois cada contexto é diferente e está em constante mudança. Os profissionais precisam se adaptar e agir segundo o conhecimento construído. É necessário equilibrar a imperfeição do ambiente ao mesmo tempo que lida com a margem de risco organizacional (FULD, 2006). Fuld (2006, p.21) explica que “[...] não importa quanta informação você coleta, pois, a incerteza sempre existirá ainda que tenha que tomar uma decisão”. Desse modo, compreende-se que a informação é um ‘caminho de mão dupla’, porque pode solucionar um problema ou trazer mais dúvidas. A diferença está na competência do indivíduo em lidar com a informação e estabelecer elos entre fatos sobre o mercado e a concorrência. Antes de se estabelecer o planejamento estratégico é fundamental analisar o entorno, caracterizado pela sua complexidade devido às mudanças frequentes e rápidas (VARELA, 2005). Segundo a mesma autora (2005) existem, basicamente, dois tipos de contextos: a) contexto geral que é formado pelos fatores que determinam a evolução da organização; b) contexto competitivo que, por sua vez, se constituem nos fatores que afetam e influenciam na rentabilidade. A Organização que for capaz de conhecer o ambiente interno e externo poderá atingir as metas estabelecidas estrategicamente, e assim reduz as incertezas sobre o mercado. A tomada de decisão é baseada em fatos de qualidade e, por isso, será mais eficaz (VALENTIM; SOUZA, 2013). Assim, deve-se levar em conta a capacidade de contextualização interna e externa dos indivíduos que realizam o processo de IC. Bothillier e Shearer (2003) elucidam que é um processo caro e os custos são bem recebidos se os gestores percebem as vantagens para a organização. A ideia de valor agregado está constituída, e para manter a vantagem competitiva é fundamental adicionar valor aos produtos e serviços ofertados. Cabe ao profissional de IC saber trabalhar com os dados e informações disponíveis: acessar, buscar, analisar, interpretar e usar de maneira a propiciar diferenciais para a organização. Essas atividades exigem a participação da CoInfo que influencia o cognitivo e o comportamento do sujeito organizacional durante o processo como um todo, sendo assim, tais ações são necessárias em qualquer tipo de organização. O Serviço Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), também, demonstra se preocupar com a questão da IC nas MPE ao citar seu próprio conceito, conforme segue: o ambiente organizacional está repleto de incertezas, por isso existe a necessidade de monitoramento em face às transformações culturais, demográficas, tecnológicas, políticas e institucionais, tendo em vista que esses são fatores de influência no negócio (SEBRAE, 2017). As organizações precisam estar monitorando tais mudanças e usar os dados e as informações de maneira inteligente, a fim de atingir a vantagem competitiva e sobreviver na economia capitalista. As startups possuem um desafio iminente: criar, usar e compartilhar dados, informações e conhecimentos por meio das TIC. Segundo o SEBRAE (2017, sem paginação): “A IC é um processo de aprendizagem definido pela competição. Com base em informações de mercado, permite a otimização da estratégia corporativa em curto e longo prazo”, assim, não se pode ignorar o papel da aprendizagem no processo de inteligência competitiva em contextos organizacionais. Não se pode esquecer de que a colaboração é fundamental no processo de IC, pois ocorre por meio do relacionamento entre os distintos setores de uma organização. Assim, a informação inteligente circula por toda a organização e os colaboradores podem aproveitá- las em seus processos (HASSANI; MOSCONI, 2017). As startups surgem em um ambiente de inovação aberta entre várias outras organizações. Esse ambiente é estimulado pela aceleradora que faz a mediação entre as startups, institutos de pesquisa, universidades, empresas, consultores, fornecedores e clientes. Além da colaboração, a IC contribui para que as organizações sejam capazes de inovar. O processo inovativo propicia dados, informações e conhecimentos que, por sua vez, geram diferenciais competitivos e, esses, por sua vez, retroalimentam o processo decisório. Desse modo, a inteligência agrega valor aos insumos do processo de inovação e, com isso, os investimentos podem ser direcionados as mudanças de maneira eficaz (TARAPANOFF; VALENTIM; ÁLAVARES, 2016). O conhecimento construído sobre a concorrência e o contexto de competição contribui para que as organizações desenvolvam novas habilidades para atuarem em um ambiente externo dinâmico. Nessa perspectiva, é fundamental implementar um programa sistemático e ético de IC, com o objetivo de obter e gerenciar informações internas e externas que influenciam no planejamento e no processo decisório das organizações (SEBRAE, 2017). As startups estão inseridas nesse contexto de competição e mudanças, portanto, necessitam monitorar as informações para permanecerem ativas. 2.2 Inteligência Competitiva e Termos Correlatos A IC possui tipos de inteligência que a complementam, entre elas destacam-se a inteligência estratégica, inteligência da concorrência, inteligência de mercado, inteligência técnica. A diferença entre os conceitos está no objetivo que possuem com base no acesso, busca de dados e informações. Entretanto, tais ferramentas possuem aspectos comuns, pois identificam e coletam dados e informações sobre o ambiente competitivo, por meios éticos e legais de fontes públicas, analisam os dados com várias ferramentas e compartilham os resultados com o tomador de decisão, a fim de que os dados e as informações sejam utilizados (MCGONAGLE; VELLA, 2012). O termo inteligência estratégica advém do inglês strategic intelligence e é entendida por McGonagle e Vella (2012) como uma estratégia que apoia a IC, pois fornece níveis altos de inteligência sobre o ambiente competitivo, político e econômico em que a organização atua e poderá atuar no futuro. Os profissionais responsáveis por este tipo de inteligência são os executivos e diretores que a utilizam na elaboração do planejamento de longo prazo, planejamento sobre investimento de capital, política de risco, fusão e aquisição de joint ventures e alianças corporativas, além disso, serve para o planejamento da Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). A inteligência estratégica concentra seus esforços no ambiente geral da organização, incluindo os concorrentes diretos e indiretos. A inteligência estratégica deve desenvolver um programa de IC para as mudanças de longo prazo causadas pelas forças que regem os fornecedores, clientes, produtos ou serviços substitutos e concorrentes potenciais. Os indivíduos se utilizam da análise estratégica da IC para se focar nos fatores críticos como as tendências tecnológicas, desenvolvimento legal e riscos políticos que afetam as forças do ambiente (MCGONAGLE; VELLA, 2012). Em suma, a inteligência estratégica enfoca menos o passado e o presente, ou seja, enfoca mais o futuro. O profissional de IC coleta e analisa diversos dados e informações, a fim de que a organização avalie as perdas e os ganhos advindos de suas próprias estratégias. Dessa maneira, os gestores podem verificar as opções futuras, ressalta-se que os dados e as informações do passado são úteis porque possibilitam o aprendizado e uma possível previsão do que irá acontecer no futuro (MCGONAGLE; VELLA, 2012). A inteligência da concorrência (competitor intelligence) se preocupa com os concorrentes, suas competências, atividades e planejamentos. É usada pelas operações estratégicas que fazem parte do setor estratégico da organização. Ela é também utilizada pelos profissionais responsáveis pela inovação, ou seja, gestores de P&D voltados ao desenvolvimento de novos produtos, serviços, processos e negócios. Essa inteligência analisa dados e informações atuais e potenciais (MCGONAGLE; VELLA, 2012). A inteligência de mercado (market intelligence) envolve ações voltadas ao mercado como um todo. As ações são realizadas a partir de análises qualitativas dos dados e informações (quantitativos ou não) obtidos sobre o mercado. Geralmente é realizada pelos setores de marketing, pesquisa mercadológica e planejamento de marketing, fornecendo informações sobre a situação das vendas, bem como as ameaças e oportunidades (MCGONAGLE; VELLA, 2012). O foco da inteligência de mercado está relacionado a precificação, pagamento, financiamento e promoção dos produtos e serviços oferecidos. Essa inteligência se baseia no contexto atual e próximo futuro (MCGONAGLE; VELLA, 2012). A inteligência técnica (technical intelligence) contribui para a identificação de oportunidades técnicas e científicas, além disso, observa as ameaças que podem surgir de cada mudança. Esse tipo de inteligência é útil às atividades de P&D, pois suas práticas determinam os métodos de produção da concorrência, o acesso e uso das tecnologias por parte dos concorrentes, marcas e patentes em desenvolvimento e ou obtidas pelos concorrentes, tipo de pesquisas utilizadas por eles e as capacidades de os profissionais que atuam nessas organizações (MCGONAGLE; VELLA, 2012). Portanto, a inteligência técnica estabelece uma linha tênue com a inteligência de mercado e da concorrência porque as três abarcam fornecedores e clientes. Contudo, ao invés de lidar com as tendências mercadológicas, a inteligência técnica está direcionada às tendências científicas e tecnológicas, indicando as oportunidades e as ameaças. Tal inteligência necessita de informações atuais para determinar o planejamento de médio e longo prazos (MCGONAGLE; VELLA, 2012). Também existem outras ferramentas que podem ser confundidas com a IC. Tais ferramentas complementam a IC e se inter-relacionam em suas etapas como, por exemplo, o rastreamento ambiental (environmental scanning), inteligência de negócio, sistema de inteligência de marketing, análise de negócio (business analysis) e benchmarking. O rastreamento ambiental (environmental scanning) enfatiza o futuro, não o presente ou o passado e se utiliza de dados e informações para se preparar para problemas futuros e apoiar o processo de tomada de decisão. É importante ressaltar que alguns profissionais de IC se utilizam do termo rastreamento ambiental com o objetivo de dar um maior alcance a suas pesquisas ao invés de usar simplesmente o termo IC (MCGONAGLE; VELLA, 2012). A inteligência de negócio era utilizada por alguns profissionais para descrever a IC de uma maneira abrangente e para demonstrar que era a única inteligência que contribuía com a estratégia organizacional. Contudo, atualmente seu conceito sofreu apropriação por parte dos profissionais de gestão de dados e de data warehouse9. Desse modo, está relacionada ao software utilizado para gerir dados, ou seja, à gestão de dados conhecida como data mining. Além disso, lida com os processos internos como logística, previsão de vendas e controle de qualidade (MCGONAGLE; VELLA, 2012). O processo de IC possui um enfoque qualiquantitativo e, sendo assim, os profissionais de IC necessitam acessar os dados, as informações e as pessoas que os fornecem. A maioria 9 Data Warehouse (DW) se refere a um banco de dados que armazena dados e informações detalhadas sobre a organização. Disponível em: . Acesso em: 31 mar. 2019. dos sistemas de GC enfocam o conhecimento interno organizacional sobre os colaboradores, gestores, clientes, fornecedores e distribuidores. Sendo assim, todas as informações fornecidas pelos sistemas de GC são importantes para o processo de IC, visto que em geral armazenam decisões, estratégias e percepções (MCGONAGLE; VELLA, 2012). Vale destacar que a IC se utiliza métodos qualiquantitativos para a análise das informações obtidas sobre o contexto organizacional e do mercado, ou seja, enfoca os concorrentes e a própria empresa em tempo real. O processo de IC trabalha com dados e informações sobre os concorrentes potenciais, fornecedores e P&D, contudo, sua perspectiva principal é a observação futura. Assim, a IC é fortemente qualiquantitativa ao analisar as forças e as fraquezas do negócio frente ao mercado (MCGONAGLE; VELLA, 2012). O sistema de inteligência de marketing envolve as atividades relacionadas ao ambiente de marketing, cuja missão principal é encontrar as oportunidades e as ameaças presentes, monitorar a concorrência para que a tomada de decisão seja eficaz (ARMSTRONG; KOTLER, 2010). Existem várias informações que podem ser coletadas nos ambientes que envolvem a organização. No ambiente interno há informações provenientes dos administradores, vendedores, engenheiros, compradores, entre outros. Externamente, as informações advêm dos fornecedores, concorrentes, clientes, bem como da observação de outras organizações. A organização pode comprar os produtos e os analisar, monitorar as vendas, verificar os anúncios de recrutamento, entre outros (ARMSTRONG; KOTLER, 2010). O uso cada vez mais frequente da inteligência de marketing gera dois tipos de discussão, o primeiro está relacionado à legalidade e o segundo ao respeito à ética. Há uma linha tênue entre os dois aspectos, pois algumas práticas de coleta de informação podem ser legais, mas consideradas como não éticas pelas organizações. O uso dessas técnicas pode gerar um comportamento agressivo por parte dos concorrentes. Além disso, existem outras técnicas consideradas como espionagem industrial, contudo, deve-se acessar as fontes de informação disponíveis de maneira legal (ARMSTRONG; KOTLER, 2010). Por meio da comparação entre os produtos, processos ou serviços os indivíduos constroem, durante o processo de aprendizagem, o conhecimento sobre um determinado tema. Nesse intuito, uma organização pode desenvolver suas práticas em parceria com outras organizações, inclusive os concorrentes. O sistema de inteligência de marketing contribui com o processo de IC, principalmente no planejamento estratégico, ao incluir metas para superar os concorrentes e realizar inovações. Além disso, o monitoramento pode ser realizado a partir de técnicas como o benchmarking10. De acordo com o Instituto Internacional de Análise de Negócios, a análise de negócio (business analysis) é definida como a ação que estimula uma mudança organizacional, por meio da definição de necessidades e soluções capazes de conferir valor aos stakeholders. O analista de negócio tem como objetivo gerenciar o processo de mudança nas organizações, a partir do diagnóstico da necessidade de mudança nos processos organizacionais (BABOK, 2009). Para atingir as metas organizacionais são necessárias mudanças que contribuam para o alcance dos resultados requeridos, tais mudanças compõem a solução dos problemas anteriormente detectados. As soluções envolvem métodos específicos de aplicações práticas em cada domínio, ou seja, a área específica da análise que está sendo realizada (BABOK, 2009). Ressalta-se que a IC pode ser compreendida de maneira diferente devido ao enfoque recebido. Por um lado, é vista como um processo e é aplicada à estrutura organizacional. Por outro lado, o enfoque diz respeito à compreensão da IC como uma ferramenta que possui começo, meio e fim, isto é, uma vez que a inteligência é utilizada na organização e cumpre seu papel, suas atividades são encerradas (TARAPANOFF; VALENTIM; ÁLVARES, 2016) (Quadro 2). Quadro 2: Tipos de inteligência organizacional. Tipo de Inteligência e Ferramentas Descrição Foco Profissionais que a Realizam Nível Hierárquico Inteligência Estratégica (Strategic Intelligence) Concentra seus esforços no ambiente geral da organização e apoia o processo de IC. Propicia níveis altos de inteligência sobre o ambiente competitivo, político e econômico em que a organização atua e pode atuar no futuro (MCGONAGLE; VELLA, 2012). Informações externas sobre o macroambiente Executivos e diretores Estratégico Inteligência Concorrencial (Competitor Intelligence) Analisa os concorrentes, suas competências, atividades e planejamentos. Contribui para a criação de novos produtos, processos, serviços e negócios (MCGONAGLE; VELLA, 2012). Informações internas e externas Gestores de produção, engenheiros, P&D Estratégico e Tático 10 Benchmarking é um processo de aprendizagem entre duas organizações, a fim de adotar novos práticas de contabilidade, gestão, produção etc. (MADEIRA, 1999). Disponível em: https://repositorio.ipcb.pt/handle/10400.11/964. Acesso em: 18 out. 2019. Inteligência de Mercado (Market Intelligence) As ações são realizadas a partir de análises qualiquantitativas obtidas na pesquisa de mercado, fornecendo informações sobre os sucessos das vendas, bem como suas falhas (MCGONAGLE; VELLA, 2012). Informações internas e externas Pesquisa mercadológica e planejamento de marketing Tático Inteligência Técnica (Technical Intelligence) Contribui para a identificação de oportunidades técnicas e científicas, observando as ameaças de cada mudança. Está direcionada às tendências científicas e tecnológicas, indicando as oportunidades e as ameaças (MCGONAGLE; VELLA, 2012). Informações externas sobre ciência e tecnologia P&D Tático Benchmarking Comparação de produtos, processos, serviços e métodos da concorrência, a fim de melhorar as práticas organizacionais Informações interna e externa para comparação Todos os setores Estratégico, tático e operacional Análise de Negócio (Business Analysis) O analista de negócio identifica os problemas organizacionais e as soluções a serem adotadas. As soluções se concretizam pelas mudanças realizadas nos diferentes setores da organização. O processo realiza o acompanhamento das mudanças (BABOK, 2009). Informações internas (problemas e mudanças) Analista de negócio Estratégico, tático e operacional Rastreamento ambiental (Environmental Scanning) Enfatiza o futuro, não o presente ou o passado e se utiliza dos dados para gerar soluções futuras e apoiar o processo de tomada de decisão (MCGONAGLE; VELLA, 2012). Informações externas sobre o futuro Gestores estratégicos Estratégico Inteligência de Negócio (Business Intelligence) Está relacionada a aplicação de software para gerir dados, conhecido como data mining. Trabalha com os processos internos como logística, previsão de vendas e controle de qualidade (MCGONAGLE; VELLA, 2012). Informações internas Gestão de dados Tático Sistemas de GC (Knowledge Management Systems) A maioria dos sistemas de GC enfoca o conhecimento interno organizacional sobre os colaboradores, gestores, clientes, fornecedores e distribuidores. Os sistemas de GC são qualitativos, enquanto o processo de IC possui um enfoque qualiquantitativo (MCGONAGLE; VELLA, 2012). Informações internas Especialista em GC, engenheiros, gestores Tático Pesquisa de Mercado (Market Research Research) A pesquisa de mercado enfoca a concorrência e a própria empresa em tempo real. O processo de IC trabalha com informações sobre os concorrentes reais e potenciais, fornecedores e P&D (MCGONAGLE; VELLA, 2012). Informações externas Gestão de marketing, estratégica Estratégico e Tático Fonte: Baseado em Mcgonagle e Vella (2012) e Babok (2009). No Brasil, utiliza-se os termos ‘inteligência organizacional’ (IO), ‘inteligência competitiva organizacional’ (ICO), ‘inteligência competitiva’, ‘inteligência econômica’, ‘inteligência empresarial’, ‘inteligência de negócios’, ‘prospecção informacional’, ‘monitoramento informacional’ e ‘vigilância informacional’ (TARAPANOFF; VALENTIM; ÁLVARES, 2016). As definições das autoras (2016) são explicadas por uma perspectiva cognitiva e social (Quadro 3). Quadro 3: Terminologia relacionada à inteligência competitiva. Terminologia Conceitos na Perspectiva Cognitiva Conceitos na Perspectiva Social Inteligência Competitiva “Processo contínuo de coleta, análise e gerenciamento de dados, informações e conhecimento sobre o ambiente de negócios em que a organização está inserida, visando obter vantagem competitiva” (TARAPANOFF; VALENTIM; ÁLVARES, 2016, p.8). “Destaca-se também a formação de profissionais especializados em IC, essencial para as organizações contemporâneas. Nessa perspectiva, o mundo do trabalho requer competências e habilidades direcionadas ao desenvolvimento e aplicação da inteligência nas atividades e tarefas desempenhadas pelos sujeitos organizacionais” (TARAPANOFF; VALENTIM; ÁLVARES, 2016, p.8). Inteligência Competitiva Organizacional ou Inteligência Organizacional “A inteligência competitiva organizacional (ICO) ou inteligência organizacional (IO) enfoca as capacidades de o indivíduo compreender o contexto interno [organização] e externo [mercado] em que está inserido, no intuito de tomar decisões que resolvam problemas e possibilite adaptar-se às novas situações, ou seja, o desenvolvimento de capacidades que propiciem a compreensão tanto de processos internos quanto externos que gerem inteligência para a organização” (TARAPANOFF; VALENTIM; ÁLVARES, 2016, p.8). “Destaca-se, assim, que a IO é compreendida como um modelo de gestão, envolvendo a cultura e comunicação organizacional, a aprendizagem organizacional, a gestão da informação e a gestão do conhecimento, portanto, diferentes elementos e aspectos do ambiente organizacional, tornando a IO um modelo de gestão que deve envolver todos os níveis organizacionais” (TARAPANOFF; VALENTIM; ÁLVARES, 2016, p.8). “Considerando a perspectiva cognitiva se normaliza o conceito como se segue: Inteligência Competitiva Organizacional ou Inteligência Organizacional é um modelo de gestão que envolve a cultura e a “Aspectos sociais e circunstanciais influíram significativamente para a consolidação do termo “inteligência organizacional”, cuja compreensão está relacionada a geração de conhecimentos, competências e capacidades internas. O capital intelectual ou ativo intangível passa a ser valorizado no contexto organizacional, cujo valor imaterial é essencial para a inovação e o estabelecimento de diferenciais competitivos. O ambiente de aprendizagem se constitui na base da inteligência organizacional. [...] Nessa perspectiva, a inteligência organizacional se insere na complexidade, abrangendo desde a cultura e a comunicação organizacional até o desenvolvimento de competências essenciais nos sujeitos que nela atuam” (TARAPANOFF; VALENTIM; ÁLVARES, 2016, p.9). comunicação organizacional, no intuito de propiciar espaços de aprendizagem para o desenvolvimento de competências essenciais aos sujeitos organizacionais, visando a geração de diferenciais competitivos para a inovação e a competitividade organizacional” (TARAPANOFF; VALENTIM; ÁLVARES, 2016, p.10). Inteligência Econômica “Conjunto de ações coordenadas de busca, tratamento, distribuição e proteção de informação útil aos atores econômicos, incluindo responsabilidades em nível de Estado, regiões e empresas. Inteligência territorial: aplicação da inteligência econômica utilizada como meio de desenvolvimento regional sustentável, em especial das pequenas empresas, focada em suas cadeias de valor, baseada na cooperação e em parcerias público- privadas”(TARAPANOFF; VALENTIM; ÁLVARES, 2016, p.12). “Sua finalidade consiste em fornecer aos responsáveis pela tomada de decisão nas empresas e no Estado (atores econômicos), os conhecimentos necessários para a compreensão de seu entorno social, político, ambiental e econômico e, assim, poder ajustar suas estratégias individuais e coletivas. Em seus fundamentos operativos, a inteligência econômica pode ser definida tanto como um produto quanto como um processo. O produto é a informação e o conhecimento operacionais (a tomada de decisão) e também inteligência produzida. O processo é o conjunto de meios usados sistematicamente na aquisição, avaliação, tratamento, análise e disseminação / comunicação da informação e do conhecimento operacionais” (TARAPANOFF; VALENTIM; ÁLVARES, 2016, p. 11). Inteligência Empresarial “Sinergia entre conhecimento, inovação e empreendedorismo” (TARAPANOFF; VALENTIM; ÁLVARES, 2016, p.13). “Seu produto é o ‘conhecimento empresarial’. Seu processo inclui a gestão interna dos ‘capitais estrutural’, de ‘relacionamento’ e ‘intelectual’; e a gestão externa o ‘monitoramento ambiental’. Tem como finalidade criar e desenvolver produtos e serviços na área de inteligência empresarial, com ênfase na gestão do conhecimento” (TARAPANOFF; VALENTIM; ÁLVARES, 2016, p.13). Inteligência de Negócios “[...] o termo Inteligência de Negócios (Business Intelligence), difundido como BI, passa a referir-se ao uso de tecnologias de integração e análise de dados internos e externos à organização, a partir de fontes de origens diversas, com o objetivo de disponibilizar informação para a tomada de decisão. A particularidade deste conceito consiste em combinar eficazmente o uso de dados com ferramentas analíticas para apresentar informação complexa de maneira que apresente significado aos planejadores e tomadores de decisão, cujo conjunto de técnicas e ferramentas denomina-se de Tecnologias BI” (TARAPANOFF; VALENTIM; ÁLVARES, 2016, p. 14). “Inteligência de Negócios ou Business Intelligence se refere ao uso de tecnologias de integração e análise de dados internos e externos à organização a partir de fontes de origens diversas, com objetivo de disponibilizar informação para tomada de decisão” (TARAPANOFF; VALENTIM; ÁLVARES, 2016, p.15). Prospecção Informacional “[...] é denominada de varredura passiva (scanning), uma vez que varre fontes de informação que não necessariamente indicam de modo latente conteúdos relevantes ao negócio da organização. Sendo assim, a equipe de inteligência atua no intuito de ‘farejar’ fontes de informação formais e informais que apresentem potencial informacional para o negócio da organização”. “A partir da detecção de conteúdo relevante, a equipe de inteligência passa a monitorar [varredura ativa] sistematicamente a fonte de informação, ou seja, se desenvolve outro estágio de extração de dados, informações e conhecimento” (TARAPANOFF; VALENTIM; ÁLVARES, 2016, p.17). “Prospectar informação em fontes desconhecidas, mas que indicam potencial de conteúdo relevante ao negócio da organização. No âmbito da Administração a área de vendas e de marketing também se apropriaram do termo, e muito comum o uso de prospecção de clientes potenciais, prospecção de mercados potenciais” (TARAPANOFF; VALENTIM; ÁLVARES, 2016, p.16). “[...] varred