vi UNIVERSIDADE ESTADUAL “JULIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA DEPARTAMENTO DE CIRURGIA E ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA VIDEOLAPAROSCOPIA E ULTRASSONOGRAFIA COMO MÉTODOS AUXILIARES NO DIAGNÓSTICO DAS ENFERMIDADES ABDOMINAIS DOS BOVINOS JOSÉ RICARDO BARBOZA SILVA BOTUCATU, SP Março - 2018 UNIVERSIDADE ESTADUAL “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA DEPARTAMENTO CIRURGIA E ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA VIDEOLAPAROSCOPIA E ULTRASSONOGRAFIA COMO MÉTODOS AUXILIARES NO DIAGNÓSTICO DAS ENFERMIDADES ABDOMINAIS DOS BOVINOS JOSÉ RICARDO BARBOZA SILVA BOTUCATU- SP Março - 2018 Dissertação apresentada ao programa de Pós-Graduação em Biotecnologia Animal para obtenção do título de Mestre. Orientador: Prof. Dr. Celso Antônio Rodrigues Palavras-chave: bovino; enfermidades digestivas; ultrassonografia; videolaparoscopia. Silva, José Ricardo Barboza. Videolaparoscopia e ultrassonografia como métodos auxiliares no diagnóstico das enfermidades abdominais dos bovinos / José Ricardo Barboza Silva. - Botucatu, 2018 Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia Orientador: Celso Antonio Rodrigues Capes: 50501003 1. Bovino - Doenças - Diagnóstico. 2. Ultrassonografia veterinária. 3. Aparelho digestivo - Doenças. 4. Laparoscopia. DIVISÃO TÉCNICA DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO - CÂMPUS DE BOTUCATU - UNESP BIBLIOTECÁRIA RESPONSÁVEL: ROSANGELA APARECIDA LOBO-CRB 8/7500 FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA SEÇÃO TÉC. AQUIS. TRATAMENTO DA INFORM. ii Nome do Autor: José Ricardo Barboza Silva Título: VIDEOLAPAROSCOPIA E ULTRASSONOGRAFIA COMO MÉTODOS AUXILIARES NO DIAGNÓSTICO DAS ENFERMIDADES ABDOMINAIS DOS BOVINOS COMISSÃO EXAMINADORA Prof.Dr. Celso Antônio Rodrigues Presidente e Orientador Departamento de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária FMVZ-UNESP-Botucatu Prof.Dr. Carlos Alberto Hussni Membro Departamento de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária FMVZ-UNESP-Botucatu Dr. José Augusto Bastos Afonso Membro Clínica de Bovinos Campus Garanhuns CBG - UFRPE - Garanhuns Data da defesa: 02 de março de 2018. iii Dedicatória A minha família. iv Epígrafe Espero que os clínicos veterinários sempre desejem experimentar um dos prazeres definitivos que acompanha o fato de ser um “doutor”. O prazer de examinar um animal doente ou em sofrimento, fazer um diagnóstico preciso, proporcionar um tratamento efetivo, observar o paciente retornar à saúde e a produtividade e fazer as recomendações para prevenção da doença nos companheiros de rebanho. William C. Rebhun v Agradecimentos Ao prof. Dr. Celso Antônio Rodrigues, por ter aceitado me orientar, pela sua paciência, cordialidade, confiança, dedicação à orientação e amizade. Agradeço a Deus e a Mãe Rainha, por proporcionar-me saúde, discernimento para me dedicar a minha formação. A minha família, pela compreensão de minha ausência durante o mestrado e pelo estímulo constante ao investimento em minha carreira. Aos meus amigos da pós-graduação da UNESP Botucatu e da UFRPE- Clínica de Bovinos, Juliana de Moura Alonso, Gabriel Barbosa de Melo Neto, Uila Alcântara Aragão, Rodolpho Almeida Rebouças, Regina Nóbrega de Assis, Leonardo Magno pela ajuda na realização das cirurgias, exames e necropsias. Ao Dr. José Augusto Bastos Afonso, pela participação no projeto e na comissão examinadora da dissertação, cordialidade, confiança e amizade. A Dra. Carla Lopes de Mendonça pela imensa ajuda na realização das análises laboratoriais, conselhos e permitir a utilização do laboratório da UFRPE- Clínica de Bovinos. A Dra. Maria Isabel de Souza, Dr. Rodolfo José Cavalcante Souto, Dr. Luiz Teles Coutinho e Dr. Nivaldo Azevedo Costa, Dr. Jobson Filipe de Paula Cajueiro, pela imensa ajuda na realização do trabalho, pela hospitalidade e cordialidade durante a realização do trabalho. A FMVZ-UNESP com seu Hospital Veterinário e a Clínica de Bovinos Campus Garanhuns por me proporcionar estrutura física, funcionários e demais recursos colaborando para minha formação e realização do experimento. Aos professores Dr. Carlos Alberto Hussni, Dra. Ana Liz Garcia Alves e Dr. Luiz Cláudio Lopes Correia da Silva membros da comissão examinadora pela disponibilidade em colaborar com o trabalho e minha formação. A Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pelo financiamento ao projeto regular 2016/2006-4, no qual meu experimento estava contido. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela concessão da bolsa de mestrado acadêmico. E a todos que colaboração com a realização deste trabalho. vi SUMÁRIO CAPÍTULO 1 ...................................................................................................... 1 1-INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA...................................................................1 2- REVISÃO DE LITERATURA...........................................................................2 2.1- Desordens traumáticos e obstrutivos do sistema digestório ....................2 2.2- Exame ultrassonográfico do abdome....................................................... 3 2.3.-Laparotomia e videolaparoscopia em bovinos..........................................5 2.4.-Exame físico e anamnese.........................................................................8 2.5.- Patologia clínica........................................................................................9 2.5.1-Avaliação hematológica................ .....................................................9 2.5.2- Análises bioquímicas, muscular, hepática, renal e perfil energético..........................................................................................................11 2.5.3-Análise do líquido peritoneal.............................................................12 2.5.4- Análise do líquido ruminal................................................................13 2.6. Anatomia patológica................................................................................14 2.7.-Considerações finais...............................................................................15 3-REFERÊNCIAS ........................................................................................... 15 CAPÍTULO 2 – Artigo científico ........................................................................ 21 APÊNDICE.........................................................................................................51 Página vii SILVA, J.R.B. Videolaparoscopia e ultrassonografia como métodos auxiliares no diagnóstico das enfermidades abdominais dos bovinos. Botucatu (2018), 51p. Dissertação (Mestrado em Biotecnologia Animal) apresentada a Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Estadual “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP. RESUMO Na abordagem dos bovinos com enfermidades digestivas, durante o exame físico, exames complementares são necessários, de forma a retificar a suspeita clínica, contribuir para o estabelecimento do prognóstico e decisão clínica. Tais exames compreendem a avaliação do perfil hematológico, bioquímico, líquido peritoneal, ruminal, exame ultrassonográfico abdominal e laparotomia exploratória. Este último por se tratar de uma abordagem cirúrgica convencional, está associado as complicações e custos inerentes a técnica. Neste cenário a videolaparoscopia se apresenta com uma possibilidade para reduzir as complicações trans e pós-operatórias. O objetivo deste trabalho foi revisar e comparar a utilização da videolaparoscopia, ultrassonografia e demais métodos diagnósticos das enfermidades digestivas dos bovinos. Foram utilizados 7 bovinos mestiços, atendidos na Clínica de Bovinos de Garanhuns, unidade hospitalar da UFRPE. Realizou-se exame físico, ultrassonografia abdominal, videolaparoscopia exploratória, coleta de amostras de sangue, para a realização de hemograma, determinação plasmática da proteína total e fibrinogênio, e do soro foram realizadas análises dos indicadores bioquímicos: Proteína total, albumina, globulinas, relação albumina/globulina, glicose, L- lactato, uréia, creatinina, as atividades enzimáticas da aspartato aminotransferase (AST), gama glutamiltransferase (GGT), creatino quinase (CK) e lactato desidrogenase (LDH). Foi coletado líquido peritoneal e realizada análise físico-química e bioquímica. Diante dos resultados, observamos que a videolaparoscopia e ultrassonografia abdominal auxiliam na determinação do diagnóstico e prognóstico precisos das enfermidades digestivas. Palavras Chave: bovino, ultrassonografia, videolaparoscopia, enfermidades digestivas. viii SILVA, J.R.B. Laparoscopy and ultrasonography as auxiliary methods for the diagnosis of bovine abdominal diseases. Botucatu (2018). Dissertation (Master course of Animal Biotechnology). Pages 51. School of Veterinary Medicine and Animal Science, Univ Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP. ABSTRACT In the approach of the bovines with abdominal diseases, during the clinical examination, complementary examinations are necessary, in order to ratify the clinical suspicion, to contribute to the establishment of the prognosis and clinical decision. These exams include evaluation of the hematological, biochemical, peritoneal fluid, ruminal, ultrasound examination and exploratory laparotomy. The latter, because it is a conventional surgical approach, is associated with complications inherent to the technique. In this scenario videolaparoscopy presents with a possibility to reduce trans and postoperative complications. The objective of this study was to review and compare the use of videolaparoscopy, ultrasonography and other diagnostic methods of bovine digestive diseases. Seven crossbred cattle were used, attended at the Cattle Clinic of Garanhuns, a UFRPE hospital unit. A physical examination, abdominal ultrasonography, exploratory videolaparoscopy, collection of blood samples, blood count, plasma determination of total protein and fibrinogen, and serum were performed. The biochemical indicators were analyzed: Total protein, albumin, globulins, albumin / globulin ratio, glucose, L-lactate, urea, creatinine, the enzymatic activities of aspartate aminotransferase (AST), gamma glutamyltransferase (GGT), creatine kinase (CK) and lactate dehydrogenase (LDH). Peritoneal fluid was collected and physicochemical and biochemical analyzes were performed. In view of the results, we observed that videolaparoscopy and abdominal ultrasonography help in the determination of the accurate diagnosis and prognosis of digestive diseases. Keywords: bovine, ultrasonography, videolaparoscopy, digestive diseases. 1 Capítulo 1 1 A revisão de literatura será submetida à publicação. O manuscrito a seguir foi redigido 2 em português de acordo com as normas do periódico cientifico Ciência Rural, as 3 normas estão disponíveis no link: http://www.scielo.br/revistas/cr/pinstruc.htm 4 Videolaparoscopia e ultrassonografia associadas ao diagnóstico de afecções 5 abdominais nos bovinos 6 José Ricardo Barboza. Silva*, Juliana de Moura Alonso*, Ana Liz Garcia Alves*, 7 Marcos Jun Watanabe*, Carlos Alberto Hussni*, José Augusto Bastos Afonso**, Celso 8 Antonio. Rodrigues* 9 *Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, UNESP, Botucatu-SP 10 **Clínica de Bovinos campus Garanhuns –UFRPE 11 12 1. INTRODUÇÃO 13 A bovinocultura representa uma atividade econômica e social no país. Trata-se de 14 uma fonte geradora de milhares de empregos diretos e indiretos, aliados ao um rebanho 15 de aproximadamente 218,3 milhões de animais (IBGE, 2016), e contribui 16 expressivamente para o PIB do país. Portanto, estudos envolvendo a saúde e medicina 17 dos bovinos são de grande relevância para a produtividade, seguridade alimentar e 18 soberania nacional. 19 A intensificação e modernização nos sistemas de produção animal, assim como o 20 melhoramento genético objetivam melhorar os índices reprodutivos e produtivos. 21 Contudo, também têm levado a um aumento da ocorrência de transtornos do sistema 22 digestório comprometendo o metabolismo e produção. Assim, destaca-se a importância 23 da ocorrência destas entidades clínicas, custos e prejuízos associados com tratamento 24 clínico cirúrgico, redução da produção e descarte do leite devido à presença de resíduos 25 de antimicrobianos, convalescença, descarte precoce de animais e óbito (COUTINHO et 26 al, 2012). 27 Frequentemente na rotina clínica do médico veterinário, este se depara com casos 28 clínicos de pacientes, onde após o exame clínico há necessidade de exames 29 complementares para confirmar a suspeita. Tais exames também proporcionam suporte 30 para o estabelecimento do prognóstico, viabilidade de intervenção cirúrgica e 31 http://www.scielo.br/revistas/cr/pinstruc.htm 2 dimensionar a gravidade clínica ou lesões funcionais dos sistemas orgânicos. A 32 ultrassonografia e a laparotomia diagnóstica são dois relevantes exemplos que auxiliam 33 nos casos de transtornos traumáticos e obstrutivos do sistema digestório dos bovinos. 34 Esta última caracterizada como procedimento cirúrgico, apresenta custos mais elevados 35 quanto a sua realização, devido ao período de convalescença, possível descarte 36 prolongado de leite devido à presença de resíduos de antimicrobiano e expressivo 37 trauma cirúrgico (AFONSO, 2005). 38 As abordagens minimamente invasivas estão modificando o cenário do tratamento 39 cirúrgico, de forma muito benéfica na medicina. Apesar de não substituírem totalmente 40 as cirurgias convencionais, estão cada vez mais ganhando espaço no arsenal cirúrgico 41 moderno, por constituírem uma modalidade inovadora de acesso muito vantajoso para 42 procedimentos cirúrgicos diagnósticos e terapêuticos. Dentre as vantagens que a 43 cirurgia laparoscópica apresenta, podem ser citadas: acesso através de pequenas 44 incisões, reduzido trauma tecidual, menos desconforto e dor no pós-operatório, menor 45 tempo de hospitalização do paciente, recuperação pós-cirúrgica mais rápida e melhores 46 resultados estéticos (LAU et al., 1997; BOURÉ, 2005, BRUN, 2015). 47 Assim, este estudo tem por objetivo revisar sobre a utilização da videolaparoscopia 48 e ultrassonografia associadas ao exame físico, anamnese e exames laboratoriais 49 utilizados para diagnóstico das afecções abdominais dos bovinos. 50 2. REVISÃO DA LITERATURA 51 2.1. Desordens traumáticas e obstrutivas do sistema digestório 52 Considerando os hábitos alimentares pouco seletivos dos bovinos, estes estão 53 sujeitos ao desenvolvimento de várias enfermidades do sistema digestório. Dentre estas 54 pode ser citada a Reticuloperitonite Traumática, que a depender do curso que o corpo 55 estranho (CE) traumático tomar pode causar hepatite, esplenite, pericardite. O 56 comprometimento pode envolver um único ou vários órgãos, causando a formação de 57 aderências abdominais, formação de abscessos, resultando em sintomatologia clínica 58 diversa, inclusive a indigestão vagal (DIRKSEN et al., 2005). 59 Tais síndromes envolvendo a etiologia por corpos estranhos apresentam incidência 60 de 18% na rotina clínica de unidades de atendimento hospitalar (AFONSO, 2005). A 61 maioria dos CEs são metálicos, originados de pedaços de arame utilizados em cercas, 62 3 fragmentos da tela de aviários, os quais se misturam a cama quando esta é fornecida aos 63 animais, sendo a ingestão realizada de forma inadvertida pelos bovinos. Alguns destes 64 CEs podem permanecer nos pré-estômagos sem causar dano algum, enquanto outros 65 podem perfurar a parede do retículo, levando a transtornos digestivos com decorrências 66 sistêmicas (BRAUN et al., 2007; SILVA, 2011). 67 Os animais acometidos são principalmente adultos e na maioria dos casos, com 68 prognóstico de reservado a ruim e com evolução clínica crônica, normalmente 69 acompanhado de caquexia. A determinação da entidade nosológica, prognóstico, 70 viabilidade econômica e melhor abordagem terapêutica ou descarte, sugere a utilização 71 de exames complementares para o diagnóstico preciso. Entre esses exames destaca-se o 72 perfil bioquímico e hematológico, a ultrassonografia abdominal e ocasionalmente a 73 laparotomia exploratória (TULLENERS, 1990; DIRKSEN et al, 1993). 74 Independentemente da abordagem escolhida, prejuízos expressivos são observados, 75 devido à perda de produção de leite, ganho de peso, redução da fertilidade, descarte 76 precoce, despesas com exames e tratamentos e óbito (DIRKSEN et al., 2005; BRAUN 77 et al, 2007). 78 2.2. Exame ultrassonográfico do abdômen 79 Os exames complementares são necessários quando há suspeita clínica de 80 enfermidades do sistema digestório. Estes objetivam determinar qual a enfermidade ou 81 ao menos determinar o antímero no qual o órgão acometido está localizado. Enfatizando 82 que um exame clínico detalhado deve ser realizado preliminarmente. Assim, os exames 83 complementares constituem uma importante ferramenta, quando associada aos achados 84 clínicos e laboratoriais, servindo como subsídio para tomada de decisão clínica, quanto 85 à necessidade de abordagem, acesso cirúrgicos e prognóstico (BRAUN, 2003; BRAUN, 86 2005). 87 A exploração ultrassonográfica abdominal é realizada no bovino adulto em apoio 88 quadrupedal, sem sedação, apenas com contenção física. Um transdutor linear ou 89 setorial, de 3,5 a 5 Mhz é utilizado no exame (BRAUN, 2003), avaliando-se o rúmem, 90 retículo, omaso, abomaso, fígado, intestinos, pâncreas e rins (Figura 1C). São avaliados 91 com especificidade além da topografia, tamanho, posição e motilidade de cada órgão, 92 4 presença de depósitos e fibrina, abscessos (Figura 1A,B), acúmulo de conteúdo na 93 cavidade abdominal, sendo estes últimos achados sugestivos de peritonite (Figura 1D). 94 95 96 FIGURA 1. Ultrassonografia abdominal: A – Abscesso (seta) entre retículo (A) e saco 97 caudo dorsal do rúmen (B) medindo 1,1 x 1,36 cm, Ds (dorsal), Ve (ventral), Cr 98 (cranial), Cd (caudal), C (baço); B – Abscesso hepático (ponta da seta) medindo 6,2 x 99 6,7 cm, D (Figado), E (omaso); C – Rin direito sem alteração; D – Peritonite 100 serofibrinosa (F) (SILVA, 2018). 101 A ultrassonografia abdominal trouxe ganhos expressivos para a medicina 102 veterinária, principalmente por ser um exame não invasivo, de baixo custo operacional, 103 rápido, possível de ser realizado na fazenda, que na maioria dos casos fornece 104 informações específicas, determinando o refinamento do diagnóstico e estabelecimento 105 preciso do prognóstico. Em muitos casos antes da utilização na rotina buiátrica da 106 ultrassonografia abdominal era realizada a laparotomia exploratória, em muitas vezes 107 para confirmar a suspeita clínica de peritonite, com inviabilidade terapêutica. Tal 108 realidade evoluiu significativamente e a laparotomia exploratória passou a ser realizada 109 5 de forma mais pontual, considerando as informações obtidas pela ultrassonografia e 110 consequentemente com indicação terapêutica (BRAUN, 2005; SILVA, 2011). 111 2.3. Laparotomia e videolaparoscopia em bovinos 112 A laparotomia exploratória consiste em procedimento da rotina médica dos 113 bovinos, por ser de rápida execução, factível na fazenda e fornecer grande quantidade 114 de informações permitindo retificar ou excluir um diagnóstico, ao mesmo tempo em 115 que, se necessário, o tratamento cirúrgico pode ser realizado imediatamente, entretanto 116 apresenta custos inerentes, risco de complicações cirúrgicas, período de convalescença, 117 depreciação do valor comercial da carcaça, período de descarte do leite e tendo como 118 objetivo de exploração da cavidade abdominal em animais com prognóstico reservado a 119 argumentação com o proprietário é difícil (DIRKSEN et al, 1993; AFONSO et al., 120 2007; BRAUN, 2005; FUBINI & DUCHAME, 2017). 121 Quando realizada após o exame clínico e ultrassonográfica detalhada, tem como 122 objetivo esclarecer dúvidas que ainda persistem sobre o diagnóstico e gravidade da 123 doença e estabelecimento do prognóstico. Nestas circunstâncias, a videolaparoscopia 124 exploratória também pode ser utilizada, permitindo a exploração por ângulos 125 inacessíveis à cirurgia convencional como observado em cães (SILVA, 2015). 126 A cirurgia minimamente invasiva apresenta como vantagens menor dano tecidual, 127 melhor resultado estético, redução da dor no pós-operatório e do período de 128 convalescença, menor liberação de citocinas e demais mediadores inflamatórios, mas 129 como desvantagens apesenta o custo de investimento inicial elevado e longa curva de 130 aprendizado assim como na cirurgia minimamente invasiva em cães (WITTEK et al, 131 2012; SILVA, 2015). 132 O desenvolvimento da vídeocirurgia em bovinos e na Medicina Veterinária se 133 iniciou em meados do século XX. Contudo, apenas recentemente, nos últimos 20 anos 134 com o desenvolvimento tecnológico para produção de endoscópios, lentes, fontes de luz 135 e aprimoramento do sistema de captura e armazenamento de imagens, que a técnica 136 ganhou destaque, impulsionando seu desenvolvimento (BABKINE, 2005; BRUN, 2015; 137 COLOMÉ, 2015). 138 A cirurgia minimamente invasiva tem sido utilizada para exploração da cavidade 139 abdominal dos bovinos em desordens como deslocamento de abomaso e reticulo-140 6 peritonite, fazendo uso de um endoscópio flexível e sem indução de pneumoperitôneo. 141 Os autores relataram haver limitações na exploração, mas que a técnica contribuiu para 142 melhor condução clínica dos casos estudados (WILSON & FERGUSON, 1984). 143 Em diversas situações clínicas tem sido utilizada a cirurgia minimamente invasiva 144 em procedimentos eletivos nos bovinos, tais como para realização de aspiração folicular 145 (SIRARD et al. 1985), ovariectomia (BLEUL et al., 2005), para correção das obstruções 146 de teto em vacas e búfalas (HIRSBRUNNER et al, 2001; ESCRIVÃO et al., 2008), 147 correção de deslocamento de abomaso (BABKINE et al., 2005; NEWMAN et al., 2008, 148 MULON et al, 2006; PEROTA, 2017), ruminoscopia (FRANZ et al., 2006) e biópsia 149 renal (CHIESA et al., 2009). 150 Nos bovinos, há um desenvolvimento maior da utilização da cirurgia minimamente 151 invasiva para a correção do deslocamento de abomaso a esquerda que foi a primeira 152 técnica descrita em bovinos por Janowitz (1987) e tratamento das obstruções de teto, 153 mas existe a perspectiva de utilização também para coleta de líquido peritoneal, 154 realização de biópsia renal e hepática (ESCRIVÃO et al, 2008; PEROTA et al., 2017, 155 METZNER, 2018). 156 Referindo-se a exploração da cavidade abdominal, tem-se como objetivo inicial, 157 realizar o procedimento com o bovino em apoio quadrupedal. Pode ser necessária a 158 traquilização leve, além da anestesia local infiltrativa, nos locais das incisões, 159 inicialmente se induz o pneumoperitôneo com CO 2 seguido da inserção dos trocartes 160 (Figura 1A-D). No bovino adulta saudável, com um portal contendo o endoscópio 161 localizado na fossa paralombar direita, é possível visualizar partes das seguintes 162 estruturas: lobo hepático caudado (Figura 3D) e direito, parte do diafragma, duodeno 163 descendente, ascendente e flexura cranial (Figura 3D) , omento maior e menor, rim 164 direito recoberto por tecido adiposo, pâncreas (Figura 3D), ceco (Figura 3C), intestinos, 165 cólon descendente, bexiga, útero e ovários (Figura 3B). Referindo ao acesso pelo 166 antímero esquerdo, na fossa paralombar, pode ser visualizado: saco dorsal do rúmen, 167 rim esquerdo coberto por tecido adiposo, reto, parte dos intestinos, possivelmente 168 porções do cólon ascendente, útero (Figura 3B), baço (Figura 3A), parte do diafragma, 169 rúmen e omento maior. Quando as lesões são focais e localizadas principalmente na 170 região crânio-ventral do abdome, a realização do procedimento com animal em decúbito 171 7 dorsal, com os acessos cirúrgicos localizados caudais ao xifoide obtém melhor 172 visualização (BOURÉ, 2005; BABKINE, 2005). 173 Em estudo retrospectivo foi observada que a videolaparoscopia foi eficiente para 174 o diagnóstico de deslocamento de abomaso a esquerda leve, para peritonite e tiveram 175 limitações para o diagnóstico de íleus, devido apenas alguns segmentos do intestino 176 delgado poderem ser visualizados. Alterações como abscessos e ulceras, mesmo quando 177 não são visualizados, mas as repercussões dessas lesões comumente são observadas. 178 Peritonite, ascite são as principais indicações para videolaparoscopia exploratória em 179 bovinos (KOUTNY, 2008). 180 181 182 FIGURA 2. Procedimento de videolaparoscopia: A- Perfuração da pele com agulha 183 40x16 mm. B- Inserção da agulha de Veres acoplada ao mangote de insuflação, no 184 orifício causado pela agulha. C- Incisão da pele. D- Inserção do trocarte EndoTIP ® com 185 endoscópio rígido (SILVA, 2018). 186 WILSON & FERGUSON (1984) utilizando endoscópio flexível, através da 187 fossa paralombar esquerda, com o paciente em apoio quadrupedal, em todos os que 188 8 apresentavam sinais clínicos sugestivos de deslocamento de abomaso à esquerda (DAE) 189 e de retículo peritonite traumática (RPT) foi possível observar alterações que 190 confirmavam a suspeita clínica, como o abomaso deslocado, entre o rúmen e a parede 191 abdominal esquerda, nos casos de DAE e depósitos multifocais de fibrina sobre 192 peritônio e vísceras, e aderências entre o diafragma e o retículo nos casos de RPT. 193 194 FIGURA 3. A- Aumento de volume de líquido peritoneal, a – parede abdominal, b – 195 baço, c – rúmen; B- vista caudo dorsal da cavidade abdominal, e – cólon descendente, f 196 - ovário direito, g – útero; C- ceco dilatado com serosa hiperêmica e depósitos de 197 fibrina, g – ceco; D- visualização crânio dorsal direita da cavidade abdominal, h – lobo 198 hepático caudado, i – flexura cranial do duodeno, j – pâncreas, (SILVA, 2018) 199 2.4. Exame físico e anamnese 200 A anamnese com foco nas enfermidades digestivas deve incluir informações 201 sobre idade, raça, estágio de produção, data do parto e se houve distocia/infecções 202 puerperais, cetose, hipocalcemia se tratando de vacas leiteiras. O detalhamento da dieta 203 fornecida, incluindo composição bromatológica, tamanho do lote, se há várias 204 categorias do mesmo lote, espaço de linha de cocho e como a dieta é fornecida, tais 205 9 informações são importantes para se elencar uma lista de possíveis enfermidades de 206 acordo com a presença dos fatores de risco. Informações sobre a evolução clínica da 207 enfermidade (superaguda, aguda, subaguda ou crônica), presença de dor, redução do 208 apetite e da produção de leite, contorno abdominal, timpanismo, o estado das fezes e se 209 é caso único ou surto, corroboram para o estabelecimento do diagnóstico, 210 dimensionamento do prognóstico e determinar se o tratamento é cirúrgico ou clínico 211 (DIRKSEN et al, 1993;CÂMARA et al, 2010) . 212 No exame físico, deve ser avaliada se há desidratação, frequência cardíaca e 213 respiratória, assim como qualidade dos sons auscutados, o estado mental, contorno 214 abdominal, presença de timpania, som de líquido ao balotamento, se na percussão 215 auscultatória existe áreas de “ping metálico” e a delimitação das mesmas. As fezes 216 devem ser avaliadas a quantidade, tamanho das fibras, consistência, coloração, presença 217 de substâncias estranhas como pus, fibrina, muco, parasitas, fezes enegrecidas (melena) 218 são observadas nos casos de úlcera de abomaso (RADOSTITS et al, 2002; SILVA 219 FILHO et al, 2012). 220 A palpação retal permite avaliar a localização e dimensão das vísceras 221 abdominais, assim como a presença aderências, ascite, em casos de peritonite também é 222 observada dor durante o exame, e enfermidades como dilatação de ceco, deslocamento 223 de abomaso muitas vezes é possível confirmar a suspeita clínica com a palpação da 224 víscera acometidas (DIRKSEN et al, 1993; RADOSTITS et al, 2002). 225 2.5. Patologia clínica 226 2.5.1. Avaliação hematológica 227 A avaliação do perfil hematológico dos bovinos fornece informações tanto para 228 confirmar suspeita clínica da enfermidade, como dimensionar o dano aos sistemas 229 orgânicos causados pela mesma. O eritrograma está relacionado com a volemia e 230 aspectos morfométricos dos eritrócitos, sendo que diversos processos mórbidos que 231 acometem o sistema digestório e progridem para peritonite, cursam com acentuada 232 resposta inflamatórias e liberação de citocinas. Estes podem ainda, comprometer a 233 eritropoiese, levando à anemia crônica, devido à supressão de fator estimulante de 234 colônias na medula (WEISS et al., 2010). 235 10 O leucograma é o principal elemento que fornece informações acerca da resposta 236 inflamatória, gravidade clínica da enfermidade e capacidade do organismo para 237 responder frente à agressão tecidual. Os elementos celulares observados no leucograma 238 são os polimorfonucleares (eosinófilos, basófilos e neutrófilos), os mononucleares 239 (linfócitos e monócitos) e menos comum no esfregaço sanguíneo de bovinos, os 240 neutrófilos imaturos (bastonetes) e metamielócitos. A avaliação das características de 241 tais células fornece várias informações sobre o status da resposta inflamatória, diante do 242 dano tecidual, tais como a presença de neutrófilos tóxicos, linfócitos atípicos, leucócitos 243 fagocitando bactérias, neutrófilos degenerados e presença de células jovens em demasia 244 (WEISS, 2010). 245 Os bovinos apresentam reserva medular de granulócitos muito pequena, 246 comparada a outras espécies domésticas, além de serem também linfocíticos, por 247 apresentarem proporção de linfócitos/neutrófilos de 2:1. Na fase inicial (aguda) da 248 resposta orgânica contra desordens supurativas, ocorre neutropenia, seguida de 249 equilíbrio e por último aumento da contagem leucocitária total, tal achado deve ser 250 interpretado em conjunto com as alterações clínicas. A contagem diferencial do 251 leucograma reflete a gravidade clínica da enfermidade, ao passo que a contagem 252 leucocitária total reflete a capacidade medular de resposta orgânica (WEISS, 2010). 253 Na resposta inflamatória crônica, pode ser observada de forma pouco frequente a 254 presença de monocitose, mas se estímulo antigênico for persistente como nos casos de 255 abscessos, a neutrofilia será observada. A principal causa de linfocitose nos bovinos é a 256 infecção pelo vírus da Leucose Enzoótica Bovina na forma multicêntrica do adulto, 257 apesar de que apenas 30% dos bovinos infectados apresentam linfocitose persistente 258 (WEISER, 2015; CONSTABLE et al, 2017). 259 Algumas características são comumente observadas no esfregaço sanguíneo dos 260 bovinos, tais como linfócitos com formatos irregulares em tamanho e diâmetro 261 semelhantes ao dos neutrófilos, ou ainda grandes linfócitos granulares, estes últimos 262 têm citoplasma intensamente basofílico, com pequena quantidade de grânulos de 263 coloração rosa-púrpura, e o núcleo pode ter formato irregular, em fenda ou ameboide. É 264 postulado que alguns destes linfócitos granulares sejam células natural killers ou células 265 T. Os eosinófilos dos bovinos apresentam numerosos grânulos esféricos e uniformes 266 (WEISER, 2015). 267 11 O fibrinogênio plasmático é uma proteína de fase aguda positiva, sintetizada pelo 268 fígado, que se mostra como excelente indicador inflamatório para os bovinos, sendo que 269 quando o estímulo antigênico persiste mesmo nas enfermidades de curso crônico, este 270 ainda permanece elevado. Nos casos de hepatopatias, com comprometimento da síntese 271 proteica, mesmo frente a estímulo antigênico intenso, o fibrinogênio pode estar dentro 272 da normalidade, e dentre as proteínas as proteínas de fase aguda, é o mais utilizado na 273 rotina devido ao baixo custo e disponibilidade, apesar do método de precipitação pelo 274 calor, que comumente é utilizado para determinação, não apresentar elevada 275 sensibilidade analítica (ALLISON, 2015). 276 2.5.2. Análises bioquímicas muscular, hepática, renal e perfil energético 277 O perfil bioquímico torna-se particularmente importante na elucidação da 278 dimensão da agressão orgânica causada pela enfermidade, bem como nas situações em 279 que há envolvimento sistêmico e suspeita clínica de comprometimento da função de 280 órgãos específicos, como fígado e rins. Os elementos analisados são enzimas tais como 281 a Aspartato Amino Transferase (AST), Gamaglutamil Trasferase (GGT) e Lactato 282 Desidrogenase (LDH). A função de determinados tecidos também pode ser avaliada por 283 meio da análise de proteínas e eletrólitos relacionados ao metabolismo tais como a 284 albumina, globulinas, uréia, creatinina, lactato, glicose, bilirrubinas, cálcio, potássio, 285 cloro e sódio (KANEKO et al., 2008). 286 As alterações do equilíbrio hidroeletrolítico e ácido básico nos bovinos acometidos 287 por transtornos do sistema digestório são frequentes. Estas merecem destaque, tendo em 288 vista o comprometimento do estado geral que causam, além dos transtornos orgânicos 289 específicos desencadeados pelo processo mórbido. As enfermidades que cursam com 290 obstrução parcial ou total do fluxo da digesta abomaso-enteral, causam refluxo de ácido 291 clorídrico para os pré-estômagos, limitando o turnover normal dos íons Cl - e H + . Nesta 292 situação ocorre uma tentativa orgânica de compensação renal dos desequilíbrios, com 293 estabelecimento de acidúria paradoxal, com alcalose hipocalemica e hipoclorêmica. 294 Assim, observa-se nos casos clínicos severos, alcalose metabólica, com acentuada 295 desidratação, onde ocorre intensa glicólise anaeróbica, elevada produção de lactato. A 296 alcalose metabólica pode ser posteriormente, sobreposta pela acidose metabólica, sendo 297 estes achados laboratoriais indicadores de mau prognóstico (CONSTABLE, 2003; 298 KANEKO et al., 2008). 299 12 Nos bovinos de leite a análise do perfil energético durante o período de transição 300 assume papel determinante, como indicador do status metabólico, para monitoramento 301 da qualidade da dieta consumida, e ainda pode ser utilizado para predizer o risco da 302 ocorrência de desordens metabólicas, reprodutivas e digestivas, associadas ou não, tais 303 como cetose, retenção de placenta, metrite e deslocamento de abomaso assim como 304 monitorar a eficiência do tratamento destas (GEISHAUSER et al, 1997; STENGÄRDE 305 et al, 2010). Esse monitoramento dever ser realizado através de indicadores bioquímicos 306 como os ácidos graxos não esterificados (AGNEs), corpos cetônicos como o β-307 hidroxibutirado no leite, urina ou sangue, e a glicose, apesar desta apresentar menor 308 sensibilidade clínica. Existem equipamentos portáteis disponíveis para mensuração 309 de corpos cetônicos e glicose no sangue assim como fitas reagentes para mensuração 310 semi-quantitativa no leite e urina, ambos possibilitam o uso “ao lado da vaca”. Portanto, 311 programas de monitoramento do perfil metabólico devem ser implantados nas fazendas 312 com o objetivo de otimizar os rendimentos, prevenindo doenças e melhorando os 313 índices zootécnicos (CORASSIN et al, 2011; SILVA FILHO et al, 2017). 314 2.5.3. Análise do líquido peritoneal 315 O abdômen como uma cavidade celômica (abdominal), estéril, fechada e com leve 316 pressão negativa, é revestido internamente pelo peritônio. Este apresenta resposta 317 acentuada contra agentes nocivos, particularmente bactérias, através de vários 318 mecanismos de defesa. Dentre estes se destacam, a resposta celular pelos macrófagos 319 livres na cavidade e a absorção de líquidos e microrganismos, através de vasos 320 linfáticos presentes na superfície peritoneal do diafragma. Nos bovinos observa-se de 321 forma mais expressiva o isolamento do processo infeccioso, com resposta inflamatória 322 local devido à intensa deposição de fibrina (DIRKSEN et al., 1993; COELHO et al., 323 2007). 324 O líquido peritoneal consiste em dialisado do plasma presente na cavidade 325 abdominal com função principalmente de lubrificação da superfície das vísceras. Seu 326 volume é menor que 50 mL (DIRKSEN et al, 1993), isso muitas vezes dificulta ou até 327 impossibilita a coleta de amostra suficiente para realização das análises, principalmente 328 em bovinos. Sua constituição físico-química e celular está diretamente relacionada com 329 a homeostase dos órgãos cavitários. Logo, enfermidades que acometem tais órgãos 330 frequentemente refletem em alterações dos constituintes no líquido de forma igualmente 331 13 proporcional ao dano tecidual. Entretanto, tendo em vista a característica da resposta da 332 superfície peritoneal dos bovinos, frente à agressão, esta tende a localizar os processos 333 mórbidos que ocorrem de forma mais circunscrita, como frequentemente observado nos 334 casos de reticuloperitonite focal. Isto também deve ser considerado na coleta e 335 interpretação dos achados de coleta e análise do líquido peritoneal (WITTEK et al, 336 2010a; WITTEK et al, 2010b). 337 A contaminação da cavidade peritoneal por conteúdo do sistema digestório, 338 urinário ou uterino, estimula uma resposta inflamatória, com liberação de histamina, 339 óxido nítrico, leucotrienos e de outros mediadores inflamatórios. Estes por sua vez 340 causam vasodilatação, hiperemia e proporcionalmente a agressão, intensa exsudação de 341 líquido rico em macrófagos, células polimorfonucleares, opsoninas e anticorpos 342 conforme estudos em equinos (MENDES et al., 1999; WEISS et al., 2010; ALONSO et 343 al, 2014). 344 2.5.4. Análise do líquido ruminal 345 Grande parte dos procedimentos que compõem a análise do líquido ruminal pode 346 ser facilmente realizada na fazenda, desde que estejam disponíveis o material básico 347 para processamento, como tubos de ensaio de 20 mL, pipetador, azul de metileno, 348 garrafa térmica, mesa, fita para mensuração de pH e microscópico óptico. Esta análise 349 apresenta baixo custo e fornece informações relevantes na tomada de decisão clínica, de 350 forma precisa e rápida a cerca da conduta, tendo como possibilidades a abordagem 351 terapêutica, eutanásia ou descarte (DIRKSEN et al, 1993). 352 Os principais componentes a serem analisados são grandemente influenciados pela 353 dieta, características físico-químicas do alimento, volume ingerido, frequência da 354 alimentação e fatores antinutricionais. Na rotina de medicina bovina os principais 355 parâmetros analisados são o pH, cor, odor, consistência, tempo de atividade de 356 sedimentação, tempo de flotação e tempo de redução do azul de metileno. Com relação 357 aos protozoários, a quantidade total e dentro de suas respectivas categorias (pequenos, 358 médios e grandes), motilidade e porcentagem de vivos e mortos e o teor de cloretos 359 (DIRKSEN et al, 1993; AFONSO et al, 2017). 360 A análise do conteúdo ruminal nos bovinos que apresentam transtornos 361 traumáticos e obstrutivos do sistema digestório, revela comprometimento da microbiota 362 14 ruminal. Nestes a redução do azul de metileno, tempo de atividade de sedimentação e 363 flotação encontram-se prolongados, acima da normalidade. O número total de infusórios 364 e a porcentagem de vivos e motilidade estão reduzidos. A cor e pH podem estar 365 alterados, mas vale ressaltar a importância da influência da dieta nesses parâmetros. A 366 consistência a depender do tempo de evolução está mais aquosa, refletindo um líquido 367 inativo (DIRKSEN et al., 1993; DIRKSEN et al., 2005). 368 O teor de cloretos obtido a partir do fluído dos pré-estômagos, consiste na dosagem 369 por métodos bioquímicos, realizada em analisadores automáticos ou semiautomáticos. 370 Nos bovinos adultos o valor de normalidade é de 25 a 30 mEq/L, quando se obtém 371 valores superiores, indica que está havendo refluxo de conteúdo abomaso-ruminal. 372 Nestas situações pode ser causado por obstruções mecânicas ou funcionais, como 373 fitobezoares, intussuscepção, íleo paralítico, dilatação de ceco, deslocamento de 374 abomaso, úlcera de abomaso (SILVA FILHO et al, 2012), compactação de 375 omaso/abomaso, obstruções extra luminais e menos frequentemente os vólvulos e 376 torções intestinais (DIRKSEN et al., 1993; SANTOS et al., 2008; AFONSO et al, 2008; 377 CÂMARA et al, 2010, BARROS et al, 2010; AFONSO, 2017; ). Nos bezerros os 378 valores de normalidade são maiores, próximo de 60 mEq/L (DIRKSEN et al., 1993), e 379 nos casos de ulcera de abomaso, quando ocorre elevação no líquido ruminal esta é de 380 forma mais expressiva (SOUZA et al, 2016). 381 2.6. Anatomia patológica 382 A necropsia para a medicina de bovinos assume papel fundamental, tanto nos casos 383 individuas como na medicina de rebanho, onde grande número de animais é acometido 384 pela enfermidade e vem a óbito. Vale ressaltar que ao se atender um bovino enfermo 385 sempre é necessário dispensar atenção adicional para as condições de manejo que 386 possam favorecer a ocorrência da enfermidade em outros animais do rebanho de forma 387 assumir o caráter de surto, aumentando de forma expressiva os prejuízos do proprietário 388 (DIRKSEN et al, 1993). 389 A necropsia deve fazer parte da rotina do atendimento em medicina bovina, 390 permitindo coleta de material para exames histopatológicos, microbiológicos e 391 toxicológicos, de forma que permite ao médico veterinário confirmar, retificar ou 392 adicionar informações relevantes ao diagnóstico (CRUZ et al, 2011). Desta maneira, 393 possibilita o aprimoramento da acurácia diagnóstica do profissional, revisão das lesões 394 15 causadas pelas diversas enfermidades, conferindo mais credibilidade ao serviço 395 prestado (WÄSLE et al, 2017). 396 A anatomia patológica fornece várias informações, lembrando que é necessário que 397 os profissionais envolvidos tenham conhecimento detalhado da técnica de necropsia, 398 alterações cadavéricas, lesões de pouco significado clínico, indicações e coleta 399 adequada de material, documentação fotográfica e redação de laudos e as alterações 400 macroscópicas encontradas nas principais enfermidades. A deficiência desse 401 conhecimento corrobora para que a necropsia se torne uma série de cortes desordenados 402 em cadáver, associado a interpretações equivocadas, levando a descrédito da técnica, do 403 profissional e aumento do prejuízo do proprietário (DIRKSEN, 1993; FUBINI & 404 DUCHARME, 2017). 405 2.7. Considerações finais 406 A videolaparoscopia e ultrassonografia associadas ao exame físico, anamnese, 407 exames laboratoriais e anatomia patológica aumentam a acurácia diagnóstica e a 408 precisão na elaboração do prognóstico, de forma rápida e com menor custo possível 409 para o proprietário. 410 3. REFERÊNCIAS 411 AFONSO, J.A.B. et al. Alterações clínicas e laboratoriais na obstrução gastrintestinal 412 por fitobezoários em bovinos. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal. v.9, 413 n.1, p. 91-102, 2008. 414 AFONSO, J.A.B. Abordagem clínica das Principais Enfermidades do Sistema Digestivo 415 de Ruminantes. In: II Simpósio Mineiro de Buiatria, 2005, Belo Horizonte. Anais do II 416 Simpósio Mineiro de Buiatria. 2005. 417 AFONSO, J.A.B.; COSTA, N.A. Doenças não transmissíveis do trato digestivo dos 418 ruminantes: obstrução intestinal em bovinos. In: RIET-CORREA, F.; SCHILD, A.L. et 419 al. Doenças de ruminantes e equinos. 3ª ed. 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Veterinary Clinics of North America: Food Animal 542 Practice. v. 6, n. 2, p. 495-514, 1990. 543 WÄSLE, K.; POSPISCHIL, A. et al. The Post-mortem Examination in Ruminants and 544 its Possible Benefit to Ruminant Clinical Medicine. Journal of Comparative 545 Pathology. v. 156, p. 202-216, 2017. 546 WEISS, D.J.; WARDROP, K.J. Schalm’s Veterinary Haematology. 6th Blackwell 547 Publishing, Ames, Iowa, 2010, 1206 p. 548 WEISER, G. Introdução aos Leucócitos e ao Leucograma. P. 101-104. In: THRALL, 549 M.A. et al. Hematologia e Bioquímica Clínica Veterinária. Cap. 2 ed., São Paulo: 550 Roca, 2015. 678 p. 551 WILSON, A.D.; FERGUSON, J.G. Use of Flexible Fiberoptic Laparoscope as a 552 Diagnostic Aid in Cattle. The Canadian Veterinary Journal. v. 25, n. 6, p. 229-234, 553 1984. 554 WITTEK, T., GROSCHE, A. et al. Biochemical constituents of peritoneal fluid in cows. 555 Veterinary Record, v.166, p.15–19, 2010a. 556 WITTEK, T., GROSCHE, A. et al. Diagnostic accuracy of D-dimer and other peritoneal 557 fluid analysis measurements in dairy cows with peritonitis. Journal of Veterinary 558 Internal Medicine 24, p.1211–1217, 2010b. 559 WITTEK, T.; FÜLL, M. et al. Peritoneal inflammatory response to surgical correction 560 of left displaced abomasum using diferent techniques. Veterinay Record. v. 171, 7p. 561 2012. 562 21 Capítulo 2 O manuscrito a seguir foi redigido em português de acordo com as normas do periódico 1 cientifico Veterinary Surgery, As normas estão disponíveis no link: 2 http://onlinelibrary.wiley.com/journal/10.1111/(ISSN)1532-3 50X/homepage/ForAuthors.html 4 Avaliação da videolaparoscopia no diagnóstico de algumas desordens abdominais 5 em bovinos 6 José Ricardo B. Silva 1 , MV; Celso A. Rodrigues 1 *, Dr. 7 1 Botucatu, SP, Brasil, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, 8 UNESP,Botucatu-SP 9 *Autor para correspondência: rodriguesca@fmvz.unesp.br 10 11 Resumo: 12 Objetivo: Avaliar a videolaparoscopia como instrumento de diagnóstico das desordens 13 abdominais dos bovinos. 14 Desenho experimental: Estudo clínico prospectivo. 15 Animais: Bovinos adultos, sendo seis fêmeas e um macho mestiços acometidos de 16 desordens abdominais. 17 Métodos: Os bovinos admitidos na Clínica de Bovinos foram submetidos a exame 18 clínico 1 . Nestes animais procedeu-se além do exame clínico a realização de hemograma, 19 determinações bioquímicas séricas, análise de fluido ruminal, líquido peritoneal e 20 ultrassonografia abdominal. Posteriormente, realizou-se a videolaparoscopia 21 exploratória com os pacientes em apoio quadrupedal, mediante contenção física e 22 http://onlinelibrary.wiley.com/journal/10.1111/(ISSN)1532-50X/homepage/ForAuthors.html http://onlinelibrary.wiley.com/journal/10.1111/(ISSN)1532-50X/homepage/ForAuthors.html 22 anestesia regional infiltrativa. Previamente a realização dos acessos cirúrgicos, foi 23 induzido o pneumoperitôneo com a utilização de CO 2 . Após atingir a pressão intra-24 abdominal de 8 mm de Hg, foi inserido o trocarter EndoTIP de 11 mm, na fossa 25 paralombar do antímero correspondente da enfermidade primária, em seguida foi 26 realizada a exploração da cavidade e vísceras. Após a cirurgia (videolaparoscopia 27 exploratória pelo flanco direito ou esquerdo) dos seis pacientes que apresentavam 28 quadro clínico severo, com inviabilidade terapêutica, procedeu-se a eutanásia e 29 necropsia de todos. 30 Resultados: 31 Os resultados clínicos, laboratoriais e ultrassonográficos permitiram os diagnósticos das 32 enfermidades, bem como a determinação de sua severidade, repercussões sistêmicas e a 33 conduta clínica a ser tomada em cada caso. Os exames necroscópicos foram 34 fundamentais para a consolidação do diagnóstico. Durante a videolaparoscopia não foi 35 possível detectar os casos de reticuloperitonite circunscrita, assim como as demais 36 alterações previamente observadas na ultrassonografia e confirmadas durante a 37 necropsia que estavam localizadas na região crânio-ventral do abdome. Entretanto, 38 alterações consequentes ao dano peritoneal como algumas aderências e malha de fibrina 39 abdominal foram observadas dorsalmente, sendo que esta última não foi observada na 40 ultrassonografia. 41 Conclusão: A videolaparoscopia exploratória através das fossas paralombares 42 possibilitou realizar o diagnóstico preciso, dimensionar as lesões e traçar o prognóstico 43 das desordens abdominais dos bovinos. 44 45 46 23 INTRODUÇÃO 47 Frequentemente, durante o exame físico, há necessidade de exames 48 complementares para confirmar a suspeita clínica, dar suporte para o estabelecimento 49 do prognóstico/diagnóstico e da viabilidade de intervenção cirúrgica e dimensionar a 50 gravidade clínica ou lesões funcionais dos sistemas orgânicos, de forma a permitir a 51 tomada da decisão clínica 1 . Referindo as desordens abdominais dos bovinos, devem ser 52 destacados como procedimentos de exame clínico a ultrassonografia, que é de baixo 53 custo operacional, não invasiva e factível na fazenda e a laparotomia diagnóstica, esta 54 última caracteriza-se como um procedimento cirúrgico, provida de custos, inclusive 55 devido ao período de convalescença, descarte prolongado de leite devido à presença de 56 resíduos de antimicrobianos no leite e expressivo trauma cirúrgico, além de difícil 57 argumentação da necessidade para com o proprietário 3 . 58 As abordagens cirúrgicas minimamente invasivas estão modificando o cenário 59 do tratamento cirúrgico, de forma muito benéfica na Medicina Veterinária. Apesar de 60 não substituírem totalmente as cirurgias convencionais, estão cada vez mais ganhando 61 espaço no arsenal cirúrgico moderno, por constituírem uma modalidade inovadora de 62 acesso muito vantajoso para procedimentos cirúrgicos diagnósticos e terapêuticos. Mas 63 ainda são escassas as publicações sobre cirurgias minimamente invasivas em bovinos 4 . 64 Dentre as vantagens que a cirurgia laparoscópica apresenta, destacam-se o acesso 65 através de pequenas incisões, reduzido trauma tecidual, menos desconforto e dor no 66 pós-operatório, menor tempo de hospitalização do paciente, recuperação pós-cirúrgica 67 mais rápida e melhores resultados estéticos 5,6,7 . 68 O objetivo deste estudo consiste em comparar a videolaparoscopia e 69 ultrassonografia abdominal com relação aos demais exames complementares, para o 70 estabelecimento de diagnóstico e prognóstico preciso. 71 24 MATERIAL E MÉTODOS 72 Animais/avaliação clínica 73 O projeto foi aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) da 74 Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE protocolo 135/2016 e CEUA da 75 Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – FMVZ/UNESP protocolo 124/2016. 76 Foram incluídos no estudo sete bovinos mestiços (holandês com zebu), criados no 77 agreste meridional do estado de Pernambuco, Brasil, com idade de 1,5 a 10 anos, 78 (média de 6,2 anos), sendo seis fêmeas e um macho, criados em manejo semi-intensivo, 79 alimentados com dieta que consistia em pastagem nativa, silagem de milho, 80 concentrados e palma forrageira (Opuntia ficus indica). Nestes animais foi realizado o 81 exame clínico 1 , onde as informações foram registradas em seus respectivos prontuários 82 clínicos. Foram incluídos apenas os animais cuja enfermidade primária sediava-se no 83 sistema digestório. 84 Exame ultrassonográfico 85 Realizou-se o exame ultrassonográfico mediante preparação de rotina 3 , sempre 86 antes da cirurgia, com os animais em apoio quadrupedal, com o objetivo de localizar as 87 principais lesões, assim como estimar a gravidade clínica. Durante a realização do 88 exame, buscou-se a presença de aderências entre o retículo e demais órgãos vizinhos 89 através da mensuração de seu deslocamento do assoalho da cavidade abdominal em 90 sentido crânio-dorsal durante a contração bifásica (fig.1C), assim como o 91 comprometimento de sua motilidade pela observação de aderências hiperecóicas 92 adjacentes ao retículo (fig.1D), presença múltiplos depósitos de fibrina, líquido intra-93 abdominal, abscessos, paratopias e espessamento da parede intestinal. Nos sítios 94 cirúrgicos para realização da videolaparoscopia realizou-se o escaneamento de forma 95 25 semelhante e mensurada a espessura da parede abdominal, nos flancos direito e 96 esquerdo (Mindray, modelo Z6, São Paulo, Brasil.) transdutor convexo de 3,5 Mhz e gel 97 transdutor. 98 Videolaparoscopia exploratória 99 Realizou-se a videolaparoscopia exploratória em todos os animais, frente a jejum 100 alimentar de 24 horas, previamente a cirurgia, sendo os animais mantidos em apoio 101 quadrupedal, sem sedação, somente sob contenção física com cordas em brete cirúrgico. 102 O procedimento foi precedido de preparação cirúrgica de rotina do campo operatório. 103 Posteriormente, realizou-se anestesia local pela técnica de “L” invertido, utilizando 3 a 104 5 mg/kg de Cloridrato de Lidocaína a 2% com vasoconstrictor. O equipamento utilizado 105 para videocirurgia (Telepack Vet, Karl Storz Veterinary Endoscopy), dispunha de fonte 106 de luz de LED (Light emitting diode), conectado a cabo de fibra ótica de 10 mm, 107 microcâmera acoplada a monitor e insuflador (Karl Storz Veterinary Endoscopy) de 108 CO2, com pressão e temperatura controladas 6 . 109 O acesso cirúrgico foi realizado no antímero referente dos principais resultados 110 clínicos e ultrassonográficos. Desta forma, apenas no bovino 3 realizou-se acesso pelo 111 antímero esquerdo, ao passo que nos demais o procedimento foi realizado no direito. 112 Inicialmente induziu-se o pneumoperitôneo com CO2, para melhor visualização 113 intracavitária e realização do primeiro portal cirúrgico. Para tal perfurou-se a pele, 5 cm 114 ventral a vértebra L3, com agulha hipodérmica 40x16 mm, seguida da introdução da 115 agulha de Veres para insuflação abdominal. Após penetração no abdome, procedeu-se a 116 insulflação com CO2, mantendo-se a pressão na ordem de 8 mm de Hg. Posteriormente 117 retirou-se a agulha, logo após realizar o acesso pelo primeiro portal na cavidade 118 abdominal. Este por sua vez foi obtido a partir de uma, incisão da pele de 2,5 cm, 119 seguida da introdução de trocater EndoTIP (Karl Storz Veterinary Endoscopy) de 120 26 11mm, 10 cm ventral a vértrebra L3 e 10 cm caudal a 13º costela acompanhado pela 121 visualização endoscópica para o adequado acesso à cavidade abdominal. Após 122 alcançada a cavidade, acoplou-se um mangote de insuflação ao trocarter. Através do 123 portal promovido pelo EndoTIP, introduziu-se um endoscópio rígido de 0 0 e 57 cm de 124 comprimento para visualização. 125 Após finalizar a exploração cirúrgica, foi desfeito o pneumoperitônio por 126 compressão do abdome no antímero contralateral ao acesso cirúrgico e realizada a 127 dermorrafia com fio de poliamina 0,60 mm, com sutura padrão Wolf. 128 Os animais receberam previamente a videolaparoscopia analgésicos (Flunexin 129 meglumine, 2,2 mg/kg, IV). Após o procedimento cirúrgico em função dos resultados 130 clínicos, laboratoriais, irreversibilidade da quadro clínico e inviabilidade do tratamento 131 procedeu-se a eutanásia de seis animais. A conduta foi executada após autorização do 132 proprietário 8 . Somente um animal diagnosticado com deslocamento de abomaso à 133 esquerda foi tratado após a videolaparoscopia. 134 Coleta das amostras 135 Foram colhidos de cada animal, mediante punção da veia jugular ou veia coccígea 136 média, 4mL de sangue em anticoagulante K3EDTA a 10 %, utilizando-se agulhas 137 25x8mm adequadas para tubos a vácuo, sendo essas amostras utilizadas para realização 138 de hemograma, proteína plasmática total e fibrinogênio plasmático, também foram 139 coletados 4 mL de sangue em anticoagulante K3EDTA com fluoreto de sódio como 140 inibidor de glicólise e 10 ml de sangue sem anticoagulante, utilizando-se mesmo 141 método, estes últimos foram em seguida centrifugados para obtenção de plasma com 142 fluoreto e soro, respectivamente, logo após estes armazenados em alíquotas em 143 microtubos tipo eppendorf em freezer 144 27 (-20 0 C) para posterior processamento. 145 Realizou-se a coleta do líquido peritoneal (LP) por laparocentese em tubos 146 semelhantes aqueles das amostras de sangue 9 . Nos casos de coleta improdutiva, as 147 amostras foram obtidas, quando possível, durante a cirurgia através do portal 148 videolaparoscópico. A amostra de aproximadamente 500 mL de fluido ruminal foi 149 coletada através de sondagem ororruminal utilizando sonda Sorensen & Chambay 150 (Hauptner Herberholtz, Hannover, Alemanha) acoplada à bomba de sucção. 151 Processamento laboratorial 152 Foram realizados os exames de hemograma, determinação da proteína plasmática 153 total e fibrinogênio plasmático 10 . Procedeu-se a análise dos seguintes indicadores 154 bioquímicos no sangue e LP e proteína total, albumina, globulinas, uréia, creatinina e as 155 atividades das seguintes enzimas gamaglutamiltransferase (GGT), lactato desidrogenase 156 (LDH), aspartato aminotransferase (AST) e creatinoquinase (CK). Determinou-se 157 também a glicose e o lactato enzimático no plasma fluoretado. Realizaram-se as 158 dosagens bioquímicas mediante a utilização de kits comerciais em analizador 159 bioquímico semiautomático. Foi realizada a análise física, química do líquido ruminal 1 160 e do líquido peritoneal além de microscópica e citológica, respectivamente 11,12 . 161 Necrópsia 162 O exame post mortem foi realizado em sala de necropsia com mesa para grandes 163 animais, após aproximadamente 2 horas do óbito, segudo a técnica de Ghon (1890) 164 adaptada 13 . 165 RESULTADOS 166 As enfermidade diagnosticadas foram reticuloperitonite peritonite traumática 167 (bovinos 1, 2 e 5), Paratuberculose (diagnóstico post mortem, bovino 3), deslocamento 168 28 de abomaso e anaplasmose (bovino 4), enterite necrótica com peritonite fibrinonecrótica 169 e obstrução do orifício retículo-omasal seguida de compactação ruminal (bovino 6) e 170 hepatite abscedativa (bovino 7). 171 Os resultados dos exames ultrassonográficos estão expostos na tabela 7. 172 A contenção física com anestesia local foi suficiente para realizar a 173 videolaparoscopia de forma segura, com todos animais permanecendo em apoio 174 quadrupedal durante o procedimento. A utilização da agulha de Veres foi satisfatória 175 para indução do pneumoperitôneo de forma eficiente e segura. 176 Os bovinos 1 com reticuloperitonite traumática apresentou LP turvo (fig. 2A) ao 177 passo que o 3 que tinha paratuberculose (diagnóstico post mortem), não foi observada 178 alteração na videolaparoscopia. Ao passo que no bovino 2 havia hiperemia do peritônio 179 na região ventro-lateral, adjacente ao fígado, assim como a presença de aderências 180 recentes entre os mesmos (fig. 2B) e petéquias no mesoduodeno na flexura cranial. O 181 bovino 3 apresentou apenas leve aumento do LP (fig. 3C). Já o bovino 4 foi evidenciado 182 o abomaso deslocado, no antímero esquerdo entre o rúmen e parede abdominal (fig. 183 3D). No bovino 5 foram observados múltiplos abscessos hepáticos, associados a 184 aderências entre o fígado e a parede abdominal e diafragma, múltiplas áreas com 185 petéquias e sufusões (fig. 4E). 186 O procedimento também evidenciou no bovino 6 hiperemia do omento maior 187 com petéquias multifocais e múltiplas aderências entre as vísceras e a parede abdominal 188 (fig. 4F), no bovino 7 foram observadas aderências de formação recente entre fígado, 189 bursa supra omental, mesoduodeno, pâncreas e parede abdominal. 190 Os principais resultados clínicos estão dispostos na tabela 1. 191 29 Os valores do hemograma estão dispostos na tabela 2, exceto a concentração de 192 hemoglobina corpuscular média (CHCM), que estava dentro da normalidade em todos 193 bovinos 14 . Na análise da proteína plasmática total (PPT) foi observado que os bovinos 3 194 e 6 apresentavam hipoproteinemia de 6,8 g/dL e 6,7 g/dL, respectivamente. Enquanto 195 nos bovinos 1 (PPT: 8,7 g/dL) e 2 (PPT: 10,3 g/dL) havia hiperproteinemia. Com 196 relação ao fibrinogênio plasmático este estava acima da normalidade nos bovinos 1 (FP: 197 1.100 mg/dL), 2 (FP: 900 mg/dL) e 5 (800 mg/dL). 198 Os resultados das seguintes análises foram dispostos em tabelas: fluido ruminal 199 (Tabela 3), análise de constituintes protéicos do sangue e do líquido peritoneal (Tabela 200 4), atividade enzimática, glicemia e lactato enzimático do sangue e do líquido peritoneal 201 (Tabela 5) e análise físico-química e citológica do líquido peritoneal (Tabela 6). 202 Quanto aos achados anátomo-patológicos, referentes aos seis bovinos que foram 203 necropsiados, tendo em vista que o bovino 4 teve alta hospitalar. Os bovinos 1, 2 e 5 204 apresentavam diagnóstico clínico de reticuloperitonite traumática, foram observados no 205 1 uma retículo peritonite circunscrita, com abscesso diafragmático, múltiplas aderências 206 aderências crânio-ventrais (fig. 5A) e trajeto abscedativo se estendendo até o saco 207 pericárdico. O animal 2 apresentava uma reticuloperitonite, hepatite e esplenite 208 traumáticas (fig. 5B,C), com esplenite necrótica, hepatite e miocardite abscedativa, 209 endocardite valvular e infartos renais multifocais. No bovino 3 apenas foi observado 210 discreto aumento do líquido peritoneal, espessamento e enrugamento da parede do 211 intestino delgado (fig. 5D), com distribuição multifocal e linfadenomegalia mesentérica. 212 Já no bovino 5 foi observado uma retículohepatite (fig. 4E,F) e peritonite 213 fibrinopurulenta difusa, com múltiplos abscessos hepáticos. 214 O bovino 6 apresentava uma enterite necrótica difusa, concomitantemente a uma 215 compactação ruminal por obstrução do orifício retículo-omasal (fig. 5G), consequente a 216 30 enterite havia uma peritonite fibrinonecrótica difusa (fig. 5H) e infartos multifocais no 217 rim direito. Enquanto que o animal 7 apresentava um abscesso hepático (figs. 5I) no 218 lobo esquerdo e aumento de tamanho dos linfonodos da cadeia mesentérica. 219 DISCUSSÃO 220 A ultrassonografia permitiu o diagnóstico conclusivo da enfermidade primária 221 ante mortem apenas nos bovinos 1, 2 (fig. 1A, B) e 4 enquanto que e nos animais 5, 6 e 222 7 caracterizou a peritonite (fig. 1C, D) sem definição de causa. Contudo em ambas 223 situações as informações clínicas e laboratoriais associadas a ultrassonografia como 224 exame não invasivo, permitiram a tomada de decisão clínica sobre a viabilidade de 225 tratamento e prognóstico, e se necessário a coleta de material guiada também é 226 possível 3,15 . Apesar da indiscutível validade das informações obtidas com a 227 ultrassonografia abdominal quando há aderências 3 nos casos em que havia extensa 228 malha de fibrina abdominal observada pela videolaparoscopia, tal alteração não foi 229 observada pela ultrassonografia. 230 Vale ressaltar que nos bovinos 5 e 6, que apresentavam reticuloperitonite e 231 enterite necrótica, respectivamente, onde havia peritonite severa com produção de gás 232 intracavitário, houve redução do detalhamento estrutural das imagens obtidas 16 . 233 A utilização do acesso laparoscópico pelas fossas paralombares, possibilitou 234 visualizar as alterações envolvendo as estruturas mais dorsais da cavidade, assim como 235 aquelas causadas por peritonite, mesmo nas situações em que a lesão primária estivesse 236 distante, como na região crânio-ventral 17,18 . Nestes casos há inclusive a recomendação 237 de acesso cirúrgico ventral, com o animal em decúbito dorsal, sendo esta inclusive, mais 238 laboriosa 19,17 . Dentre as enfermidades abdominais estudadas, a suspeita peritonite difusa 239 é a principal recomendação de videolaparoscopia exploratória 21 . 240 31 Uma vantagem apresentada pela videolaparoscopia foi a possibilidade de coleta 241 de líquido peritoneal, nos casos em que não se obteve sucesso na coleta por punção 242 abdominal ventral tendo em vista que a mesma frequentemente se mostra 243 improdutiva 22,23 . Como limitação da videolaparoscopia pelo acesso utilizado no 244 presente estudo, podemos citar impossibilidade da exploração da região crânio ventral 245 do abdome, assim como as estruturas localizadas mais ventralmente na bursa supra 246 omental 19 . 247 A utilização da agulha de Veres em bovinos não é algo comumente 248 descrito 24,6,25,26 , mas esta foi satisfatória para indução do pneumoperitôneo em todos 249 animais, não havendo trauma visceral, nem obstrução do fluxo de CO 2 durante o 250 procedimento de insuflação. Contudo, diferentemente do cão 27 , o bovino adulto 251 apresenta uma maior espessura e resistência da pele, tornando-se necessária a 252 perfuração prévia da mesma com agulha hipodérmica 40x16 mm, seguida da introdução 253 da agulha de Veres. As técnicas utilizadas para confirmar a localização da extremidade 254 da agulha na cavidade peritoneal foram baseadas na pressão negativa intracavitária 1,27 . 255 A inserção mais dorsal da agulha do que o local de introdução do portal 6 teve como 256 propósito reduzir o risco de trauma visceral acidental. 257 O trocarter EndoTIP permitiu o rápido e seguro acesso a cavidade peritoneal em 258 todos os bovinos, obviamente que a indução do pneumoperitôneo e a delgada parede 259 abdominal dos bovinos de leite foram fatores que reduziram a possibilidade de 260 destacamento peritoneal e acesso retroperitoneal. A utilização de 8 mm de Hg de CO 2 261 durante a cirurgia permitiu a coleta de amostras do líquido peritoneal, visualização e 262 manipulação visceral satisfatória e segura, sem desconforto do paciente. Este último 263 aspecto é muito importante, tendo em vista que as cirurgias foram realizadas com o 264 animal em apoio quadrupedal, sem sedação e com pacientes severamente enfermos. 265 32 Todas estas medidas, além da contenção física adequada devem ser tomadas, a fim de se 266 evitar o decúbito inesperado durante a cirurgia, complicação já descrita durante 267 procedimentos laparoscópicos em bovinos 26 o que expõe a equipe cirúrgica, paciente e 268 equipamento a riscos desnecessários 18 . 269 Os animais utilizados neste estudo apresentaram sinais de apatia, pelos sem 270 brilho e hipomotilidade ruminal e intestinal, tais resultados são frequentes em bovinos 271 com desordens digestivas, devido a limitações por aderências e também por 272 repercussões sistêmicas da fisiopatogenia dos processos mórbidos, como febre, dor e 273 alterações ácido-básicas e hidroeletrolíticas 28,29 . 274 Diante da palpação transretal o bovino 5 apresentou dor, esta explicada pela 275 peritonite que causa aumento da sensibilidade a manipulação das vísceras, já as 276 crepitações observadas no bovino 6 são devidas a presença de gás na cavidade 277 produzido pela fermentação bacteriana, de forma concomitante mas não associada a 278 compactação ruminal foi devida a obstrução do orifício retículo-omasal, a falha no 279 esvaziamento ruminal observada bovino 7 justificasse pelo comprometimento do nervo 280 vago devido ao abscesso hepático localizado no lobo esquerdo causando compressão e 281 inflamação por contiguidade 30,9 . 282 A redução do volume de fezes, assim como alteração da digestibilidade 283 observadas no presente estudo estão associadas à redução da motilidade gastrintestinal, 284 que leva a maior tempo de permanência da ingesta nos compartimentos do sistema 285 digestório 30 . Nas provas de dor no exame do retículo apenas o bovino 7 foi positivo, 286 apesar deste não apresentar enfermidade reticular, mas havia abcesso hepático no lobo 287 esquerdo, logo, a desconforto foi devido a maior sensibilidade hepática 31 . 288 33 A anemia nos bovinos 3 e 7, provavelmente tem origem na doença crônica, 289 resposta inflamatória comumente associada, sequestro dos íons Fe ++ , e supressão da 290 eritropoiese por citocinas pró-inflamatórias 32,33 . Já o bovino 4, não apresentava doença 291 crônica, mas sim anaplasmose, em fase de recuperação. Neste caso, notou-se anemia 292 macrocítica, devido à resposta medular com aumento da eritropoiese e liberação de 293 células jovens na circulação, as quais são maiores do que as liberadas com tempo de 294 maturação normal 34,14 . No leucograma, apenas o bovino 3 não apresentou resposta 295 leucocitária, sendo que nos demais variou desde uma discreta neutrofilia, até respostas 296 mais acentuadas. Sendo estas diretamente proporcionais a capacidade de resposta 297 medular e severidade clínica da enfermidade, sendo mais graves nas condições 298 necróticas e abscedativas observadas nas peritonites 35,14 . 299 A hipoproteinemia dos bovinos 3 e 6, no primeiro foi devido a uma provável 300 falha na absorção 36 , causada pela enterite crônica. Enquanto que no segundo, havia um 301 sequestro de proteína na cavidade peritoneal devido à peritonite severa 35 . Sendo estas 302 observações corroboradas pelos resultados da análise do líquido peritoneal, imagens e 303 necroscópicos. Contrariamente aos anteriores, os bovinos 1 e 2, portadores de 304 reticuloperitonite circunscrita crônica, apresentavam hiperproteinemia, devido ao 305 aumento das globulinas, causado pelo estímulo antigênico crônico. O fibrinogênio 306 plasmático consiste em uma proteína de fase aguda com elevado valor clínico para os 307 bovinos, sendo que nas enfermidades crônicas, em que o estímulo antigênico 308 permanece 14 este ainda encontra-se elevado, como pôde ser observado nos bovinos 1,2 e 309 5. 310 Os bovinos saudáveis apresentam menos que 50 mL de líquido peritoneal 1 , mas 311 quando acometidos de peritonite esta quantidade aumenta. Apesar das características da 312 resposta peritoneal dos bovinos, na qual comumente ocorre delimitação do foco 313 34 inflamatório pela resposta orgânica a partir de depósitos de fibrina seguida de tecido 314 conjuntivo. Desta forma, comumente se obtém pequena quantidade durante as coletas, 315 ou ainda a mesma se apresenta improdutiva, como observado nos bovinos 4 e 7 1,37 . Na 316 análise do líquido peritoneal dos bovinos 1, 2, 5 e 6 se evidencia peritonite, com 317 exsudato séptico, tendo em vista o aspecto turvo, a proteína acima de 3 g/dL e a 318 contagem total de células nucleadas acima de 2.500 cél/µL, associada ao predomínio 319 percentual de polimorfonucleares e presença de bactérias 38,37 . Estes resultados se 320 somam com os demais resultados clínicos, laboratoriais, ultrassonográficos, 321 videolaparoscópicos e necroscópicos A reticuloperitonite circunscrita ou associada 322 hepatite, esplenite traumática e enterite necrótica com ruptura intestinal definitivamente 323 determinaram alterações nos parâmetros físicos, químicos e citológicos do líquido 324 peritoneal 23 . 325 O bovino 3, apresentava apenas um transudato, concordando com os demais 326 resultados clínicos, laboratoriais, ultrassonográficos, videolaparoscópicos e 327 necroscópicos que sugeriam tratar-se de uma enterite crônica (Paratuberculose 328 diagnóstico histopatológico) com possível falha na absorção de aminoácidos 36 . 329 Observou-se aumento nos valores de proteína no LP, nos animais acometidos 330 por peritonite. Nestes casos a elevação se deve a alteração na permeabilidade vascular, 331 permitindo o extravasamento proteico do leito vascular para a cavidade peritoneal 35,39 . 332 A hiperglicemia observada apenas no bovino 6 pode ser explicada sepse, devido 333 a enterite necrótica e peritonite grave 38,40 . 334 Houve hipoalbuminemia no LP em todos bovinos provavelmente pelos 335 estímulos antigênicos causados pelas enfermidades. Estas cursam com 336 hiperglobulinemia, inibição da síntese de albumina pelo fígado, como mecanismo 337 35 regulador da concentração proteica total e da pressão oncótica sanguínea. Enquanto que 338 as globulinas, devido a serem proteínas cuja síntese se faz mediante o estímulo 339 antigênico 41 se apresentavam elevadas em todos os bovinos. Soma-se a isto o caráter 340 subagudo a crônico das enfermidades, acentuando ainda mais a redução na relação 341 albumina/globulinas no sangue e explicitando a cronicidade da afecção 42 . 342 Considerando que o L-lactato é um isômero, diretamente relacionado com 343 processos mórbidos, que cursam com isquemia/hipóxia tecidual, que por sua vez 344 estimulam vias metabólicas celulares de baixo requerimento de oxigênio e geram como 345 subproduto o ácido lático 43 . A hiperlactatemia sérica dos bovinos 2, 5 e 6 poder-se-ia 346 explicar o maior comprometimento sistêmico pela enfermidade nestes animais. Bem 347 como, os níveis elevados de lactato nas quatro amostras de LP analisadas, consequente 348 ao aumento do metabolismo anaeróbico nos tecidos enfermos 22 . 349 A elevação da CK observada em todos bovinos, provavelmente ocorreu devido 350 ao decúbito dos animais durante o transporte recente. Particularmente no bovino 4, 351 pode ter relação direta com o dano muscular decorrente de três aplicações de fármaco 352 com veículo oleoso pela via intramuscular 42 . Contudo, não foram observadas alterações 353 da enzima no LP, reforçando as anotações anteriormente expostas. 354 A LDH elevada apenas no LP do bovino 5, poderia ser resultante do dano 355 hepático, isquemia tecidual e toxemia, considerando que o mesmo apresentava 356 acentuado comprometimento das vísceras abdominais, causado pela reticuloperitonite 357 difusa e severa, associada a hepatite abscedativa 22,44 . 358 Os níveis elevados da AST sanguíneo nos bovinos 5 e 6, devem ser associados 359 aos valores também aumentados da LDH, CK e GGT. Tal elevação é devida tanto 360 quanto a sua origem hepática quanto muscular, tendo em vista que a mesma tem as duas 361 36 fontes, ressaltando a importância da análise dos demais marcadores. A mensuração da 362 AST no LP, estava aumentada apenas no bovino 5, devido ao dano hepático causado 363 pela hepatite abscedativa. Reforçando a necessidade de sua avaliação neste líquido 364 orgânico 38 . 365 A elevação da GGT observada nos bovinos 2,5 e 7 explica-se pelo dano hepático 366 direto, causado pelos abscessos e colestase associada à cronicidade da enfermidade 45 , 367 sendo este último aspecto também observado nos demais bovinos. Ao passo que o 368 aumento da GGT no bovino 4 com DAE dever-se-ia principalmente a uma falha na 369 excreção biliar 38 . Com relação ao LP, havia aumento apenas nos bovinos 1 e 5, com 370 provável relação com a extensa lesão hepática e colestase 22,23 . 371 A azotemia observada no bovino 6 foi devida a enterite necrótica, associada à 372 peritonite severa e as afecções causaram grave comprometimento sistêmico e acentuada 373 desidratação. Sendo que a necropsia deste bovino revelou ainda múltiplos infartos 374 renais, apesar de que as variações da uréia e creatinina devem ser consideradas 375 particularmente nos ruminantes. Tendo em vista que nestes animais ocorre a reciclagem 376 da uréia, assim o principal biomarcador para lesão renal é a creatinina 40,42,46 . 377 A análise do fluido ruminal caracterizou um comprometimento da microbiota 378 ruminal em todos bovinos, sendo este proporcional à severidade clínica das 379 enfermidades. O comprometimento do fluido explica a redução e alteração da 380 motilidade dos pré-estômagos, estando correlacionados com a hiporexia e anorexia 1 . 381 Nos bovinos 4 e 6 havia também evidente comprometimento do fluxo gastrintestinal, 382 confirmado pelo refluxo de cloretos para o rúmen, nestes casos explicado pelo 383 deslocamento de abomaso para esquerda (bovino 4) e enterite necrótica (bovino 6) 47 . 384 37 A necropsia nos casos de peritonite severa difusa, apresenta papel fundamental 385 no diagnóstico da enfermidade primária, devido a dificuldade da completa visualização 386 abdominal 19,20 . Assim como nos demais casos, a necropsia permite confirmar o 387 diagnóstico clínico, demostra alterações orgânicas que passam desapercebidas no exame 388 clínico, dimensiona de forma precisa os danos causados pelo processo mórbido e serve 389 como controle de qualidade para o serviço de diagnóstico ante mortem, tendo em vista 390 que a total concordância entre o diagnóstico ante e post mortem varia entre 51,3 a 391 85,1 %, e a necropsia forneceu informações complementares a clínica em 70% das 392 necropsias de bovinos 48 . 393 Os resultados necroscópicos confirmam e retificam os resultados das abordagens 394 semiológicas ante mortem. Nos bovinos 1 e 2, foi caracterizada uma reticuloperitonite 395 circunscrita (fig. 5A,B), onde as reações orgânicas limitaram o foco inflamatório a 396 região crânio ventral do abdome. Consequentemente, com menores repercussões 397 sistêmicas, comparando-se ao bovino 5. Neste por sua vez, observou-se 398 reticuloperitonite difusa (fig. 5E,F), com acentuado comprometimento sistêmico. As 399 aderências peri-reticulares observadas no animal 5 causam comprometimento funcional 400 dos pré-estômagos e particularmente do fluxo retículo-omasal 30 , influenciando na 401 qualidade do fluido ruminal nos exames laboratoriais. 402 As resultados observados no bovino 3, como espessamento intestinal, aumento 403 de linfonodos mesentéricos e enrugamento da mucosa intestinal, semelhante as 404 circunvoluções cerebrais(fig. 5D), são muito sugestivas de paratuberculose 36 e os 405 resultados clínicos, laboratoriais e histopatológicos confirmaram essa suspeita clínica 49 . 406 No bovino 6 houve duas enfermidades distintas, mas não associadas, sendo a 407 compactação de rúmen devido a obstrução parcial do orifício retículo omasal por corpo 408 38 estranho não-metálico (fig. 5G). Associadamente observou-se uma enterite necrótica 409 severa no jejuno, com extensa necrose liquefativa da parede entérica (fig. 5H) que 410 causou ruptura intestinal 49 com peritonite difusa, iniciando na Bursa supra omental. 411 O abscesso hepático (fig. 5I) do bovino 7, explica-se pela ocorrência comum em 412 bovinos alimentados com dietas ricas em alimentos concentrados, onde ocorre acidose 413 subclínica, com dano da mucosa ruminal que permite a passagem de bactérias para o 414 sistema porta, seguindo para o fígado e causam abscessos 31 . Tais abscessos localizados 415 no lobo esquerdo cursam frequentemente com indigestão vagal. Pressupõem-se também 416 a mesma fisiopatogenia, decorrente de disseminação bacteriana hematógena para a 417 ocorrência dos abscessos nos bovinos 2 e 5 30 . 418 CONCLUSÃO 419 A videolaparoscopia exploratória através das fossas paralombares consiste em 420 procedimento adjuvante no diagnóstico das desordens abdominais dos bovinos, tendo 421 limitações nos casos de enfermidades com lesões focais concentradas na região crânio-422 ventral do abdome. A técnica quando associada aos exames clínico, laboratorial e 423 ultrassonográfico, amplia substancialmente a probabilidade de se estabelecer um 424 diagnóstico e prognóstico preciso das desordens abdominais nos bovinos. 425 AGRADECIMENTOS 426 À Fundação de Amparo a Pequisa do Estado de São Paulo - FAPESP pelo 427 suporte financeiro concedido ao projeto regular 2016/20066-4, e a Coordenação de 428 Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES pela concessão da bolsa de 429 mestrado. 430 431 39 Conflitos de interesse 432 Os autores declaram não haver conflitos de interesse neste trabalho. 433 REFERÊNCIAS 434 435 [1] Dirksen G, Gründer H, Stöber M. Rosemberger: Exame clínico dos bovinos. 1993, 436 3ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, p. 419. 437 [2] Afonso JAB. Abordagem clínica das Principais Enfermidades do Sistema Digestivo 438 de Ruminantes. In: II Simpósio Mineiro de Buiatria, Belo Horizonte. Anais do II 439 Simpósio Mineiro de Buiatria. 2005. 440 [3] Braun U. 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D- Abscesso no lobo hepático esquerdo (volume quatro L), bovino 7. 553 554 45 555 Figura 2. Resultados videolaparoscópicos: A- LP turvo (bovino 1). B- Aderência entre 556 lobo hepático direito e parede abdominal (bovino 2). 557 558 Figura 3. Resultados videolaparoscópicos: C- Aumento do volume de líquido 559 peritoneal (a - parede abdominal; b-baço; c – rúmen) D- Abomaso deslocado para 560 esquerda entre rúmem e parede abdominal (bovino 4). 561 562 46 563 Figura 4. Resultados videolaparoscópicos: E- Ruptura de abscesso perihepático 564 envolvido em aderência hepática (bovino 5). F- Hiperemia do omento maior com 565 petéquias multifocais (a – bovino 6). 566 46 Tabela 1. Achados clínicos dos bovinos com desordens digestivas. Achados clínicos Bovino 1 Bovino 2 Bovino 3 Bovino 4 Bovino 5 Bovino 6 Bovino 7 Comportamento A