UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO”
CÂMPUS DE OURINHOS
A EROSÃO LINEAR NO BAIRRO SÃO DIMAS (SÃO PEDRO/SP) A NECESSIDADE DA
PERCEPÇÃO GEOGRÁFICA E DO SABER AMBIENTAL
Orientando: GABRIEL DOS SANTOS DE -
ALMEIDA CAMPOS
Orientadora: PROFA. DRA. LUCIENE CRISTINA
RISSO
OURINHOS/SP
DEZEMBRO 2017
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO”
CÂMPUS DE OURINHOS
A EROSÃO LINEAR NO BAIRRO SÃO DIMAS (SÃO PEDRO/SP) A NECESSIDADE DA
PERCEPÇÃO GEOGRÁFICA E DO SABER AMBIENTAL
Orientando: GABRIEL DOS SANTOS DE –
ALMEIDA CAMPOS
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à
banca examinadora para obtenção do título de
Bacharel em Geografia pela Unesp – Campus
Experimental de Ourinhos
Orientadora: PROFA. DRA. LUCIENE CRISTINA
RISSO
OURINHOS/SP
DEZEMBRO 2017
Banca examinadora
Profa.Dra. Luciene Cristina Risso
_________________________________________________________________________________
Profa.Dra. Márcia Cristina de Oliveira Mello
_________________________________________________________________________________
Profa.Dra. Marcilene dos Santos
Ourinhos, 09 de
novembro.
Agradecimentos
Expresso minha gratidão pela minha família: Antônio, Evila e Rafael, meu pai, minha
mãe e irmão. Agradeço pela minha companheira Raquel por todo carinho,
compreensão e paciência. Pela orientação na elaboração dessa pesquisa agradeço a
professora Luciene Cristina Risso, por acreditar e me incentivar. Deixo aqui minha
profunda gratidão e respeito pelas amizades que guiam minha jornada.
RESUMO
O conceito de paisagem ao decorrer do tempo passou por diversas
modificações seja na geografia ou em outros ramos da ciência. Definir tal conceito é algo
que realmente tem grande importância e relevância, pois através de uma definição
conceitual pode-se determinar o grau de sua complexidade e partindo disso alcançar
compreensões e interpretações em formatos muito mais dinâmicos e de totalidade acerca
dos elementos e fenômenos que circundam essa temática ou podendo ocorrer também um
processo totalmente inverso limitando o objeto de estudo, neste caso a paisagem. Dessa
forma, o objetivo dessa pesquisa é explorar o conceito de paisagem do autor Georges
Bertrand, através da teoria do GTP (Geossistema-Território-Paisagem) utilizando esta
teoria no munícipio de São Pedro/SP, uma cidade onde se encontra uma extensa voçoroca
em um de seus bairros periféricos. Fica visível que há fatores naturais da região que
ajudam na formação da voçoroca, mas também uma grande cooperação de ações
antrópicas que fazem com que esses problemas ambientais ganhem força e se ampliem de
maneiras incalculáveis. Este trabalho busca compreender a relação entre as comunidades
envolvidas e a paisagem através de um olhar voltado para o sócio-ambiental. Por meio de
um questionário semi estruturado entregue aos moradores que moram próximos à
voçoroca, foi possível analisar as percepções de cada pessoa sobre os grandes problemas
ambientais presentes em seu cotidiano e buscando através da leitura do autor Enrique Leff
fazer um resgate e uma conexão sobre a importância da educação ambiental dentro desse
contexto. Como resultado, foi possível assim determinar a importância da compreensão da
paisagem em sua totalidade, ao analisar os questionários entregues aos moradores do
bairro aplicando o sistema teórico do GTP de Bertrand, entrelaçando com os
conhecimentos de Yi-Fu Tuan sobre a percepção, foi possível visualizar os problemas que
a voçoroca causa de uma maneira mais ampla sabendo identificar quais são os principais
problemas na compreensão dos próprios moradores com a temática ‘’meio ambiente e
erosão’’ e ao analisar o plano diretor do município ficou claro aonde o poder municipal
negligenciou toda ajuda necessária para sanar com os problemas ambientais e sociais.
Palavras-chave: Educação ambiental; paisagem; geossistema; voçoroca;percepção ambiental
7
1 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA
É fundamental lembrar que, para que de fato ocorra um processo erosivo
inúmeros,elementos e fenômenos necessitam estar interligados. Tal conexão ocorre em
diferentes escalas e determinam assim a intensidade e rapidez com que a erosão pode ou
não se desenvolver. O arcabouço geológico, o tipo de solo predominante, a ausência ou a
presença de vegetação, o clima, a temperatura, a ação hidrológica, o uso e a ocupação da
terra são os elementos essenciais básicos para se compreender a dinâmica e os processos
existentes na natureza para formação e desenvolvimento das erosões. Porém, dentro
dessa dinâmica ininterrupta de processos naturais que se interagem dentro de diferentes
escalas existe um fator muito pouco explorado, pouco compreendido e esquecido dentro
de uma perspectiva integrada na geografia e também entre tantas outras ciências físicas:
o fator humano.
É evidente a quantidade de trabalhos acadêmicos em que as ações antrópicas são
citadas como um elemento que pode intensificar as erosões seja pela presença de
populações estabelecidas em áreas de risco ou apenas apontando o fator humano como
intensificador de processos e interferindo assim com toda dinâmica existente no meio
natural. Porém o que de fato observa-se como algo pouco explorado e priorizado dentro
do universo das pesquisas acadêmicas é o estudo da percepção ambiental, buscando
compreender de fato como que determinados indivíduos se sentem ao estarem inseridos
nessas paisagens, onde só é analisado o meio físico por si só e a gênese dos fenômenos
que ocorrem nessas localidades.
O propósito de comunicação com as populações inseridas em áreas onde existe
um fenômeno de grande magnitude que interfere diretamente na vida dessas
comunidades é extremamente importante, pois primeiramente é necessário saber quais
os tipos de conhecimentos que esses indivíduos carregam e até que ponto conseguem
entender das circunstâncias e dos riscos que fazem parte do seu cotidiano em
decorrência dessas problemáticas ambientais, somente assim podem tornar-se parte de
uma possível solução buscando amenizar e melhorar tais problemas existentes.
Sendo uma alternativa possível para alcançar tal objetivo observa-se a inserção da
educação ambiental na vida desses indivíduos ferramenta altamente relevante, pois visa
8
integrar uma verdadeira noção de totalidade dos fenômenos que estão acontecendo, além
é claro, de agregar uma concepção política de seus direitos como cidadãos e sendo
possível exigir ações mais efetivas do governo local contando com todo um arcabouço
teórico cientifico como base.
A realização deste trabalho é permeada por princípios teóricos que variam de
Georges Bertrand (2007), Enrique Leff (1998), Yi-Fu Tuan (1980) além de outros
autores (as) que trabalham com estudos voltados para a percepção ambiental, é
importante ressaltar que tais autores (as) estarão sendo trabalhados através de uma
perspectiva da Geografia Cultural Humanística:
Parece-nos pertinente debatermos esses temas e, sobretudo, valorizarmos e
propagarmos as ideias da Geografia Cultural Humanística, que, num mundo tão
“frio”, vem acalentar as pesquisas, valorizando, ouvindo as pessoas e
considerando as pessoas. Embora muitos ainda pensem que essa corrente teórica
está permeada por romantismos, isso constitui uma inverdade. Trata-se, de fato,
de dar espaço às pessoas, visando compreender suas experiências geográficas.
(Risso,2014)
O marco da corrente denominada Geografia Humanística inicia-se em 1976,
tendo como principal protagonista Yi-Fu Tuan. No Brasil ao longo de 34 anos diversos
conceitos da Geografia Cultural se consolidaram, tais como o espaço vivido, lugar,
paisagem e percepção. Percebe-se assim uma necessidade de compreensão mais ampla
dos conceitos ligados ao território e a paisagem, muitas vezes conceitos esses que são
associados somente através de análises superficiais direcionando todo o olhar e atenção
apenas para os fatores e fenômenos físicos de determinadas localidades ofuscando assim
toda sua real dimensão geográfica e limitando a variedade de abordagens para com o
tema.
O presente trabalho não tem como finalidade debater sobre a multiplicidade de
significados que a paisagem adquiriu conforme o tempo e muito menos fazer qualquer
tipo de resgate histórico, mas fortalecer o verdadeiro sentido que a paisagem tem diante
de toda sua complexidade.
Através das teorias dos autores Bertrand (2007), Leff (1998) e Tuan (1980) o
pequeno munícipio de São Pedro localizado no interior de São Paulo e que contém uma
extensa voçoroca ganha um significado amplo e muito mais dinâmico, numa tentativa de
análise integrada das inúmeras características encontradas nesta área de estudo,
9
englobando uma realidade de paisagem na qual se volta para um olhar diante seus
aspectos sociais, considerados de extrema importância. Na Figura 1 é possível observar
a localização da bacia do córrego Tucunzinho, apresentando a localização da bacia no
contexto do Estado de São Paulo e dos municípios de São Pedro e Charqueada
apontando também o bairro onde está inserida a voçoroca.
Figura 1 – localização da bacia do córrego Tucunzinho, município de São Pedro, bairro São Dimas.
Fonte: Dener Toledo Mathias, Cenira Maria Lupinaci Cunha, Pompeu Figueiredo de Carvalho. (2002,
p.10)
Para compreender então essa paisagem através de um olhar mais aguçado
buscando um entendimento de toda dinâmica existente na paisagem foram
desenvolvidos e aplicados questionários com a população carente moradora do bairro
São Dimas focando nas casas que estão mais próximas da voçoroca com a intenção de se
compreender como os indivíduos se sentem inseridas neste contexto.
10
Para o desenvolvimento deste trabalho, considerou-se o conceito de voçoroca
segundo Lopes e Guerra (2001), que diz “voçoroca‟ pode ser compreendida como uma
escavação ou rasgão de solo ou rocha decomposta, que permite a exposição do lençol
subterrâneo”, e são originadas por fatores geológicos, pedológicos e geomorfológicos e
agravados pelo clima e a ação antrópica.
Grande importância tem Henrique Leff (1998) nesse trabalho, pois é necessário
entender também a importância sobre a educação ambiental, do saber ambiental criando
assim uma reflexão sobre a construção social no mundo atual, cabe também colocar a
relevância de Tuan (1970) percursor da Geografia Humanística e sobre os estudos da
percepção dentro da geografia. Toda degradação ambiental, o risco de colapso
ecológico, as desigualdades sociais e a pobreza são sinais de um contexto muito maior
do qual todos os indivíduos estão inseridos, assim reflete a crise da qual passa o mundo
globalizado.
Dessa maneira, o trabalho apresentado está dividido em partes, primeiramente
apresentando o conceito de geossistema de Bertrand e a caracterização da paisagem de São
Pedro – SP, o segundo item apresenta o histórico desse território e por último será
apresentando um estudo sobre a percepção tendo como complemento a própria percepção
dos moradores do bairro que estão próximos da voçoroca que carrega toda essa
problemática ambiental.
2. OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
O presente trabalho tem como objetivo geral analisar o sistema teórico do GTP
do autor George Bertrand ao redor da voçoroca do bairro São Dimas no município de
São Pedro/SP criando assim um esboço teórico de como esse sistema pode nortear uma
pesquisa ao redor da paisagem. Também pretende-se avaliar as condições
socioambientais da paisagem e a percepção dos moradores que residem no bairro,
analisando de maneira dinâmica todos os fatores que levam ao crescimento da voçoroca
que ali se encontra, neste segundo caso será relacionando tal contexto com as
desigualdades sociais e a pobreza com a falta de conhecimentos da população local sobre
o meio ambiente e educação ambiental correlacionando esses conhecimentos com as
11
leituras do autor Henrique Leff. Análise do plano diretor do município de São Pedro - SP
e identificar sua real efetividade relacionando-o com as questões ambientais e sociais dos
habitantes do bairro..
3. METODOLOGIA
Para conduzir corretamente essa pesquisa foi de fundamental importância todo o
arcabouço teórico gerado através das revisões bibliográficas, dando sustentação ao estudo e
assim sendo possível observar por intermédio dos trabalhos de campos realizados na área
estudada como é extremamente necessário teoria e prática manterem-se unidas para produção de
uma pesquisa completa. Foram elaborados questionários semi estruturados buscando investigar
quais os impactos gerados pela voçoroca e os sentimentos que a paisagem provoca e os próprios
conhecimentos prévios que a população local tem sobre as situações geradas por toda
problemática ambiental, os questionários foram entregues apenas para os moradores que estão
próximos da voçoroca, pois são os que sofrem diretamente com os impactos gerados. O
questionário contém 7 questões, sendo duas questões fechadas e o restante questões abertas, no
capítulo 11, encontra-se um anexo do questionário, foram entrevistados 78 indivíduos homens e
mulheres de diferentes idades foram entrevistados e posteriormente os questionários foram
analisados criando assim um diálogo dinâmico através de toda literatura realizada para a
elaboração e conclusão desse trabalho.
4. A PAISAGEM E O GEOSSISTEMA – A TEORIA DO GTP GEORGES
BERTRAND
4.1 O GEOSSISTEMA
Em 1960, o geógrafo francês Georges Bertrand se torna o principal protagonista
das discussões relacionadas com o conceito de paisagem e de geossistema chegando,
diante de um sistema tripolar denominado GTP – Geossistema, Território e Paisagem
dessa maneira é agregado um caráter cultural à paisagem, tal sistema pode ser
considerado um aporte teórico-metodológico que tem como pretensão lidar com toda
12
complexidade dos fenômenos entre a natureza e a sociedade e que carrega em si seis
níveis temporo-espaciais, de uma parte a zona, o domínio e a região; e na outra parte o
geossistema, o geofáceis e o géotopo, como é possível observar na figura 2:
Figura 2 – Esquema teórico da taxonomia da paisagem e suas escalas de níveis crono-espaciais
A figura 2 foi inspirada pelas escalas crono-espaciais de caráter geomorfológico de
A. Cailleux (1965), J. Tricart (1965) e G. Viers (1967); de caráter climático de M. Sorre
(1957) e nas correspondências aproximativas com a classificação de unidades trabalhadas
por R. Brunet (1965) . Para Bertrand:
Tal classificação deva ser proposta em função da escala temporo-espacial.
Havendo unidades superiores, compatíveis com as ‘zonas’, ‘domínios’, ou
‘regiões naturais’ e unidades progressivamente inferiores, que definiriam os
‘geossistemas’, ‘geofácies’ e ‘geótopos’. Essa colocação apesar de referir-se à
classificação e não à identificação dos geossistemas propriamente dita, faz parte
do processo de reconhecimento, já que auxilia no dimensionamento temporo-
espacial das unidades espaciais, as quais também se articulam.
BERTRAND (1972, p.123)
Na verdade geo “sistema” acentua o complexo geográfico e a dinâmica de
conjunto; geo “fácies” insiste no aspecto fisionômico e geo “topo” situa essa unidade no
último nível da escala espacial. (BERTRAND, 2007). Dentro do geossistema, há unidades
13
fisionomicamente homogêneas, na dimensão média de algumas centenas de metros
quadrados, “onde se desenvolve uma mesma fase de evolução geral do geossistema”
(BERTRAND, 1971, p. 16). Estes são os geofácies, que compõem um “mosaico mutante
cuja estrutura e dinâmica traduzem fielmente os detalhes ecológicos e as pulsações de
ordem biológica” (BERTRAND, 1971, p. 16). No último nível da hierarquia está o
geótopo, cuja dimensão varia do metro quadrado ao decímetro quadrado é a menor
unidade geográfica homogênea diretamente discernível no terreno, composta por biótopos
que, muitas vezes, apresentam condições ecológicas bastante diferentes das do
geossistema e do geofácies, nos quais ele está inserido. Como exemplos, Bertrand (1971)
cita: a área em torno da nascente de um rio, um fundo de vale nunca iluminado pelo sol e
uma face montanhosa. O trabalho que aqui está sendo apresentado tem o foco especifico
na parte em que o geossistema está inserido, para Bertrand o geossistema pode ser
definido como:
Unidade dimensional compreendida em alguns km² e centenas de km² é nessa
escala em que se situa a maior parte dos fenômenos de interferência entre os
elementos da paisagem evoluindo através das combinações dialéticas, escala
mais interessante para o geógrafo (Bertrand 2004, p . 146).
Tal foco possibilita assim uma boa base para os estudos de organização do espaço
extremamente compatível com escala humana estendendo-se posteriormente até o último
nível da taxonomia, onde será possível observar os fenômenos de uma maneira bem mais
acentuada, usando esse recorte tempo-espacial como ferramenta de precisão e
compreensão da paisagem em análise.
Pode-se caracterizar o geossistema através de parâmetros de uma variável
biológica caracterizada pelo equilíbrio de determinados elementos uns sobre os outros, o
que o autor define posteriormente como clímax, porém por se tratar de algo dinâmico o
‘’clímax está longe de ser sempre realizado, apontando alguns fatos para isso, tais como:
mobilidade biológica. Bertrand elabora então uma taxonomia com dominâncias físicas
para fixar de fato esses limites. Essas taxonomias são classificadas a partir das suas
escalas, segundo Bertrand:
Existem, para cada ordem de fenômenos, inícios de ‟manifestações‟ e de
14
‟extinção‟ e por eles pode-se legitimar a delimitação sistemática das paisagens
em unidades hierarquizadas. Isto nos leva a dizer que a definição de uma
paisagem é em função da escala. No seio de um mesmo sistema taxonômico, os
elementos climáticos e estruturais são básicos nas unidades superiores e os
elementos biogeográficos e antrópicos unidades inferiores. ( BERTRAND,
2004, p. 144).
O autor coloca um termo importante que pode caracterizar também o geossistema
denominado de potencial ecológico para evidenciar a disponibilidade de recursos e
combinações de elementos distintos da paisagem, porém que se relacionam
intrinsicamente de forma complexa, sendo esses fatores geomorfológicos, climáticos,
hidrológicos. Será possível observar ao longo do trabalho esses diversos fatores
interagindo entre si, porém é importante reconhecer antes o conceito de paisagem para o
autor:
A paisagem não é a simples adição de elementos geográficos disparatados. É,
em uma determinada porção do espaço, o resultado da combinação dinâmica,
portanto instável, de elementos físicos, biológicos e antrópicos que, reagindo
dialeticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem um conjunto único e
indissociável, em perpétua evolução. A dialética tipo-indivíduo é o próprio
fundamento do método de pesquisa . (BERTRAND, 2004, p.141).
É possível chegar à conclusão através da leitura de Bertrand (2007) que a cidade
de São Pedro no bairro onde se encontra a voçoroca é uma paisagem inserida dentro de
um geossistema em resistasia com a geomorfogênese ligada à ação antrópica
A geomorfogênese domina a dinâmica global das paisagens. A erosão, o
transporte e acumulação dos detritos de toda a sorte (húmus, detritos vegetais,
horizontes pedológicos, mantos superficiais e fragmentos de rocha in loco)
levam uma mobilidade das vertentes e uma modificação mais ou menos
possante do potencial ecológico. (BERTRAND 2004, p.150)
Esse nível de intensidade é muito mais acentuado e denominado como ‟resistasia
verdadeira‟, portanto é necessário investigar a problemática a partir dessa escala e
estudando até que ponto a interferência humana acentua na degradação da paisagem,
levando em conta toda dinâmica da mesma, considerando uma área propicia para que
ocorram fenômenos assim pelo próprio material e elementos compostos/distribuídos na
região.
15
4.2 O TERRITÓRIO DO NATURAL AO ANTRÓPICO
O território para George Bertrand em seu livro Uma Geografia Transversal e de
Travessias pode ser definido como ‘’ (...) um espaço geográfico produzido e vivido pelas
sociedades sucessivas. Ele se presta a uma contribuição à dimensão histórica e
arqueológica do meio ambiente (BERTRAND 2007, p.120)’’, percebe-se aqui uma visão
muito mais elaborada e uma abordagem que antes não se observava tanto na geografia,
quanto em outros ramos da ciência, a primeira grande questão é quando realmente as
mudanças sobre tal conceito começam de fato a serem efetuadas e as transformações que
vão surgir a partir disso.
Nos anos de 1947/1980 ocorreram diversas colaborações de historiadores,
arqueólogos, agrônomos, engenheiros florestais, pedólogos e geógrafos que começaram a
se interessar pela longa história do meio ambiente em perspectivas sociais e naturalistas,
tais interesses ajudam na formação e na caracterização da gênese do conceito do território.
Denis Woronoff do grupo História das Florestas Francesas abre um novo campo de
pesquisa e um amplo debate transdisciplinar em relação às florestas, até então espaço
selvagem e sem qualquer utilização que não fosse para o próprio desmatamento e assim
por partes esse espaço é reconsiderado como unidade territorial integral com suas
características próprias, vegetais, animais, seus usos múltiplos e seus grupos humanos e
também como fonte de energia e de matéria vegetal. Toda essa interdisciplinaridade que
ronda essa questão sobre o território vai revelar novas questões o que necessita a
elaboração de novos métodos.
Por exemplo, ajudando os historiadores ruralistas, esquecidos de sua
geografia inicial, a refundar a análise das estruturas agrárias, dos terroirs
e das suas identidades, considerando que não existe território sem terra e
que a natureza está presente e impregnada mesmo nos espaços
artificializados (...) a arqueologia do terreno amplia sua pesquisa de
campo, depois ao redor do território. Isso implica uma colaboração
material de ordem metodológica, colocando à disposição recursos
técnicos, por exemplo, em torno da cartografia, da foto-interpretação ou
mais recentemente, da imagem de satélite. (BERTRAND 2007, p. 121)
16
Sendo assim, o simples ato de se definir o que é o território tem profunda ligação
no desenvolvimento e no surgimento de outras concepções acerca do espaço geográfico
que rodeia todos os indivíduos, além é claro de novas metodologias diante desde agora
já bem ‘’delimitado’’ território, porém o espaço geográfico não termina apenas nesse
conceito e novas concepções começam a surgir. Percebe-se assim a enorme importância
de se definir com exatidão um conceito que inicialmente parece ser de simples
compreensão, porém tal conceito é apenas um norteador para determinar novas
metodologias e encarar o espaço geográfico de uma maneira muito dinâmica. De fato
limitar-se em certas concepções, quando, por exemplo, o território é relacionado
somente por certos elementos e fenômenos é minimizar ações concretas ligadas ao meio-
ambiente e as sociedades inseridas dentro desse contexto. Diante disso George Bertrand
(2007) elabora o estudo do geossistema buscando incansavelmente alcançar uma
percepção concreta de totalidade diante o espaço geográfico.
5. CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE SÃO PEDRO/SP
5.1 MEIO FÍSICO
Em relação ao meio físico, a área de estudo (figura 3) faz parte da Bacia
Sedimentar do Paraná (Morfoestrutura) datada do Paleozóico ao Mesozóico em que
diversas fases com diferentes ambientes de sedimentação formaram a bacia e durante o
Jura-Cretáceo aconteceram diversos derrames vulcânicos básicos e intrusões básicas
relacionadas com a reativação dos movimentos tectônico das placas.
Figura 3 – Área de estudo
17
Fonte: SANTORO; FULFARO (1996)
A Bacia Sedimentar do Paraná envolve as unidades morfoesculturais denominadas
de Planalto Ocidental Paulista, Cuestas Basálticas, Depressão Periférica. A área de estudo
abrange duas províncias geomorfológicas: a Depressão periférica e o Planalto Ocidental
Paulista, Cuestas Basálticas, Depressão Periférica e Planalto Atlântico (Morfoesculturais).
A região das Cuestas Basálticas é caracterizada como integrante do Planalto
Ocidental Paulista apesar de ter um relevo bem diferenciado do predominante sobre
toda a morfoescultura. Dessa forma:
Os planaltos sem Bacias Sedimentares são quase que inteiramente circundados
por depressões periféricas ou marginais. Estas unidades também se
caracterizam por apresentar nos contatos (planaltos- depressões) os relevos
escarpados caracterizados por frentes de Cuestas (ROSS, 1985, p.18)
18
Devido a essa diferenciação com a maior parte do Planalto Ocidental Paulista,
deve ter suas características bem classificadas. As cidades de Torrinha, Itirapina e
Brotas e parte de São Pedro encontram-se dentro da unidade morfoescultural Planalto
Residual de São Carlos que corresponde ao reverso da Cuesta no interflúvio Tietê/Moji--
Guaçu. O Planalto Residual de São Carlos é o limite entre o Planalto Central Ocidental e
a Depressão Periférica Paulista. O relevo que predomina é o denudacional, cujo
modelado constitui-se basicamente por colinas de topos convexos e tabulares com
altimetria entre 600-900 metros.
Quanto à geologia da área, o município encontra-se sobre o Grupo São
Bento datado da Era Mesozoica (aproximadamente 250 a 65 milhões de anos
atrás), abrangendo parte da Formação Botucatu e da Formação Pirambóia.
A Formação Botucatu, é datada do Período Jurássico (cerca de 200 milhões de
anos), com a presença do arenito fino a grosso de cor avermelhada, grãos bem
arredondados de alta esfericidade, disposto em estratificações cruzadas de grande
porte. Enquanto a Formação Pirambóia é datada do Período Triássico (cerca de
251 milhões de anos), com a presença do arenito médio e fino com cores
esbranquiçadas; avermelhadas e alaranjadas, geometria lenticular desenvolvida.
(ROSS; MOROZ; 1997).
Pode-se afirmar segundo Mathias, Cunha e Carvalho (2009) que ambas as
formações se caracterizam por apresentar rochas areníticas altamente friáveis,
originadas em diferentes ambientes, sendo a primeira típica de processos
eólicos e a segunda de deposição flúvio-lacustre.
A figura 4 apresenta as principais classes de solo no Estado de São Paulo,
onde existe uma predominância dos Argissolos e Latossolos. Em São Pedro,
segundo Mathias, Cunha e Carvalho (2010) ocorre as seguintes classes de
solos: Latossolo vermelho-amarelo, Argissolos e Gleissolos.
19
Figura 4. Mapa pedológico do Estado de São Paulo
Fonte: Oliveira et al. Mapa Pedológico do Estado de São Paulo. Campinas:
IAC/Embrapa, 1999. Mapa, escala 1:500.000.
Sanchez (1971 apud Mathias, Cunha e Carvalho, 2010) afirma que tais solos
possuem como atributos mais notáveis a textura arenosa, alto grau de acidez e
dificuldade em reter água e nutrientes, o que lhes conferem uma grande suscetibilidade
a sofrer intensos processos erosivos, o que se acentua quando somado as condições
climáticas do município.
5.2 CLIMATOLOGIA
O domínio do Cerrado é tropical semiúmido ou tropical continental, em sua área
nuclear comporta de cinco a seis meses secos, opondo-se a seis ou sete meses
relativamente chuvosos, as temperaturas médias anuais variam de amplitude, de um
mínimo de 20º a 22º C até um máximo de 24 a 26º C, AB’Saber, 2003.
20
A humidade relativa do ar atinge níveis baixos no inverno seco, entre 38 a 40% e
no verão chuvoso atinge em média 95 a 97%.
Ao observar o mapa da CEPAGRI (Centro de Pesquisas Meteorológicas e
Climáticas Aplicadas à Agricultura) da Classificação Climática de Koeppen do Estado
de São Paulo (Figura 5), observamos que o clima de São Pedro classifica-se como Aw.
Figura 5. Classificação climática de Koeppen do Estado de São Paulo
Fonte: CEPAGRI (Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura).
Nesse sistema de classificação, a primeira letra maiúscula é baseada na
temperatura, que no caso de São Pedro é identificado como a letra “A”, que caracteriza
climas tropicais chuvosos. Posteriormente é seguido por informações adicionais de
precipitação pluvial e temperatura, sendo subdivididos em letras minúsculas. Tem-se
então que a letra minúscula “w” indica presença de chuva de verão (AYOADE, 1996).
Essas informações podem ser complementadas através dos gráficos a seguir que
caracterizam São Pedro como município de clima tropical: A figura 6, indica que o
mês mais frio do ano tem temperatura superior a 18 °C, e a figura 7 indica que durante
todos os meses chove, com queda durante o inverno e grandes índices de precipitação
para os meses do verão, o que se somado a práticas inadequadas de uso do solo em
situação de erosão hídrica.
21
Figura 6. Temperatura média do ar (°C) em São Pedro/SP
Fonte: Elaboração: Barros (2016) a partir de CEPAGRI
Figura 7. Chuva (mm) em São Pedro/SP
Fonte: Elaboração: Barros (2016) a partir de CEPAGRI
5.3 OS DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS NO BRASIL
Segundo Aziz Ab’Saber domínio morfoclimático e fitogeográfico, é um conjunto
especial de certa ordem de grandeza territorial de centenas de milhares a milhões de
quilômetros quadrados de área, onde haja um esquema coerente de feições de relevo, tipos
de solo, formas de vegetação e condições climático-hidrológicas, onde tais domínios
espaciais, de feições paisagísticas e ecológicas integradas, ocorrem em uma espécie de
área principal, de certa dimensão e arranjo, em que condições fisiográficas e
biogeográficas formam um complexo relativamente homogêneo e extensivo. AB’ SABER,
2003.
22
Até o momento foram reconhecidos seis grandes domínios paisagísticos e
macroecológicos em nosso país. Para Ab’Sáber, 2003 quatro deles intertropicais, dois
subtropicais, sendo assim: O domínio das terras baixas florestadas da Amazônia, o
domínio dos chapadões centrais recobertos por cerrados, cerradões e campestres, o
domínio das depressões interplanáticas semi-áridas do Nordest, o domínio dos mares de
morro florestados, o domínio dos planaltos de araucárias e por último o domínio das
pradarias mistas do Rio Grande do Sul.
5.4 MEIO BIÓTICO – SÃO PEDRO / SP
Quanto ao meio biótico, segundo Mapa de Biomas e de Vegetação do IBGE
(2004) que segue a seguir na Figura 8, o município de São Pedro encontra-se sob o
Bioma do Cerrado.
Figura 8. Mapa da representação espacial do Bioma do Cerrado no Brasil
Fonte: IBGE (2004)
23
5.5 O DOMÍNIO DOS CERRADOS E CERRADÕES
Segundo AB’Saber (2003) a composição florística do Domínio Morfoclimático do
Cerrado é constituída por padrões regionais de cerrados e cerradões, nas áreas onde
ocorrem os cerradões existem verdadeiras florestas baixas e troncos relativamente finos,
também pode-se notar áreas de campestres ilhados semelhantes as savanas africanas e de
pradarias mistas subtropicais de planato.
A paisagem física e geológica é composta por grandes planaltos e feições
morfológicas bem diversificadas devido as ações do intemperismo físico (eólico,
marítimo e fluvial).
Nos cerrados também é predominante as florestas de galeria, amarradas
rigidamente ao fundo aluvial dos vales de porte médio a grande, na sua grande maioria
possui apenas uma vegetação ciliar, disposta linearmente, em sistema frágil de
implantação.
O cerrado possui uma área aproximada de 2.036.448 km² o que corresponde a
quase 24% do território nacional brasileiro , a sua área continua existe sobre os estados
de Goiás, Tocantins, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí,
Rondônia, Paraná e São Paulo O bioma Cerrado abriga mais de 11.00 espécies vegetais,
sendo que mais de 4.000 são endêmicas, além de uma grande variedade de vertebrados
terrestres e aquáticos e elevado número de invertebrados. É característica do cerrado a
heterogeneidade espacial, sendo esta uma característica determinante para a ocorrência
da diversidade de espécies do bioma (MEDEIROS, 2011), a figura 9 pretende
apresentar tal heterogeneidade
24
Figura 9. Tipos fisionômicos do Cerrado
Fonte: BRASIL (2015) adaptado de Ribeiro e Walter (2008)
Pode-se afirmar então que os ambientes do Cerrado variam significativamente
no sentido horizontal não possuindo uma fisionomia única, sendo que áreas campestres,
florestais e savânicas podem existir em uma mesma região (MEDEIROS, 2011). No
município de São Pedro observa-se estratos diferentes alternando-se entre os cerradões
mais ao norte e os campos limpos mais ao sul do município (MATHIAS, 2011).
5.6 OS SOLOS DO CERRADO
Os solos do Cerrado são muito antigos ou envelhecidos, profundos, decompostos,
lixiviados e provavelmente com uma reserva mineral utilizável muito reduzida. É
possível observar esse mesmo tipo de solo na área de estudo.
25
Os solos do Cerrado são extremamente ácidos, geralmente há pouca substancia
orgânica nos solos do Cerrado e a seca prolongada não permite atividade das
bactérias durante vários meses, nesta condição os arbustos e árvores com
sistema radicular profundo sofrem concorrência com a vegetação rasteira, de
modo que as camadas mais profundas do solo tornam-se mais pobres em sais
minerais e, acima de tudo, em nitrogênio, assim encontram-se aparentemente,
as raízes mais profundas, em condições oligotróficas, ou seja, ausência de
nutrientes, (ARENS, 1958)
5.7 A AÇÃO ANTRÓPICA DO CERRADO
A ocupação do Cerrado iniciou-se no século XX. Até a década de 70, a região do
Cerrado ainda era pouco explorada, porém em decorrência das migrações das regiões sul
e sudeste tal cenário transformou-se. Inúmeras espécies de animais e plantas correm
perigo de extinção. Com a crescente pressão para abertura de novas áreas, visando
ampliar o agronegócio ocorre um progressivo esgotamento dos recursos naturais.
O Cerrado tem grande importância social e muitas populações necessitam de seus
recursos naturais para sobrevivência, incluindo etnias indígenas, quilombolas,
gerazeiros, ribeirinhos, babaçueiras, vezanteiros. Mais de 220 espécies de plantas tem
utilidade para medicinal, mais de 10 tipos de frutos comestíveis.
Cabe destacar, que grande parte do Cerrado no município de São Pedro – SP foi
antropizado e desmatado principalmente por conta das atividades agropecuárias
desenvolvidas na região, essa mesma realidade é visível no bairro de São Dimas. O
cerrado é um dos biomas brasileiros que mais sofreu com a ocupação humana, sendo
superado apenas pela Mata Atlântica, o que posiciona o bioma como um hospot de
biodiversidade despertando atenção para a conservação dos seus recursos naturais
(MEDEIROS, 2011).
5.8 ASPECTOS DO TERRITÓRIO – POVOAMENTO DE SÃO PEDRO
Segundo IBGE Cidades o surgimento e ocupação do município de São Pedro
tem relação direta com o povoamento de Piracicaba. Cabe destacar que antes do processo
de ocupação “oficial” da área hoje que abrange o município viviam diversos povos
indígenas, dentre eles destaca-se o povo paiaguás. Em 1856 com a criação da capela de
26
São Pedro em um pequeno bairro sertanejo, no caminho de Brotas, São Carlos,
Araraquara, Dois Corregos e Jaú que favoreceu o estabelecimento de diversas famílias
vindas de diversas partes do estado de São Paulo e do sul de Minas Gerais. Dentre as
famílias que vieram, destaca-se a família Teixeira de Barros. Segundo Andrade e
Souza (2006) foram os três irmãos da família Teixeira de Barros – Joaquim, José e Luiz –
adquiriram a Sesmaria dos Pinheiros, onde hoje se situa São Pedro. Trouxeram os
familiares, os escravos, os empregados e demais agregados. Entre os primeiros habitantes
que contribuíram de forma notável no povoamento do município que marcam até hoje a
história da cidade pela operosa e numerosa descendência que deixaram, destacam-se os
seguintes: o Capitão Afonso, o Capitão Veríssimo Prado, Antônio Teixeira de Barros,
Antônio Teixeira Escobar, que fez construir a primeira igreja e alinhou as primeiras
ruas, Joaquim Pedroso de Queiroz e sua mulher, Gabriela Maria de Jesus, que construíram
muitas casas, lembrando ainda Manoel Morato do Canto, Afonso Gentil de Andrade e
Antônio Gonçalves Ribeiro.
Como distrito de Piracicaba, São Pedro foi criado em 1864. Em 1890 foi levado
a termo Judiciário anexo à comarca de Piracicaba e em 1892 foi São Pedro elevado à
categoria de comarca em virtude da Lei Provincial n.º 80, de 25 de agosto. Nesse
período Andrade e Souza (2006) afirma que entre 1890 a 1895 foi marcado pela
imigração, principalmente a italiana, que substituiu a mão escrava na agricultura. Com a
respeitável produção anual de cerca de 7 milhões de quilos de café, São Pedro conseguiu
projeção na época, o período é marcado também pela chegada dos trilhos de Estrada de
Ferro Sorocabana. Torna-se cidade por Lei Municipal nº 33, de 5 de outubro do ano de
1903. Em divisão administrativa referente ao ano de 1911, o Município de São Pedro
se compõe de 2 Distritos: São Pedro e Santa Maria.
Com a crise de 1929, diminuiu de maneira acentuada a produção cafeeira. A
economia estagnou. O progresso parou. Foi quando se introduziu o bordado em ponto
de cruz. A cidade ganhou fama com esse bordado. A perfuração à procura de petróleo
nos anos 20, em nosso município, ocasionou a descoberta de várias fontes de águas
medicinais: sulfurosas, bicarbonatadas e sulfatadas. Foi o início das Termas de São
Pedro. Houve até a construção de um luxuoso Hotel Cassino. Na década de 40, o
Balneário foi emancipado. Ganhou nome: Águas de São Pedro. Transformou-se em um
novo município (1960), o menor do Brasil. Situa-se em uma área subtraída à de São
Pedro. Hoje a cidade de São Pedro é uma Estância Turística com uma rede considerável
27
de hotéis e pousadas (ANDRADE e SOUZA 2006). Em virtude do Decreto-lei Estadual
nº 14334, de 30 de novembro de 1944, que fixou o quadro territorial para vigorar em
1945-1948, o Município de São Pedro ficou composto dos Distritos de São Pedro e
Tupanci ex-Santa Maria. Aparece nos quadros territoriais fixados pelas Leis nos 233, de
24-XII-48 e 2456, de 30-XII-53 para vigorar, respectivamente, em 1949-53 e 1954-58,
composto dos Distritos de São Pedro e Santa Maria da Serra (ex-Tupanci), comarca de
São Pedro.
Em divisão territorial datada de 01-VII-1960, o Município de São Pedro é
formado apenas do Distrito sede, São Pedro. E na Lei Estadual nº 5285, de 18 de
fevereiro de 1959, desmembra do Município de São Pedro, o Distrito de Santa Maria da
Serra. Tem-se então que a ocupação do município se deu principalmente por conta dos
solos férteis da região para expansão da cultura do café e cana-de-açúcar e podemos
observar que ainda hoje a agricultura tem significativa importância para a economia do
país, e observa-se ainda que São Pedro possui grande potencial para o turismo ecológico.
5.9 USO DA TERRA
O município de São Pedro está localizado no estado de São Paulo na latitude
22º32‟55” sul e a uma longitude 47º54'50" oeste e tem uma área de 611, 278 km²,
segundo Censo IBGE (2010) conta com uma população de 31.662 habitantes. O produto
interno bruto do município gira em torno principalmente do setor de serviços (Figura
10), seguido da agropecuária e da indústria.
28
Figura 10. Produto Interno Bruto (Valor adicionado)
Fonte: IBGE (2006)
Segundo dados do Censo Agropecuário (2006), quanto a utilização de terras
consta que são destinados no município cerca de 5.329 hectares para culturas
permanentes e 4.666 hectares para culturas temporárias. Quanto as culturas permanentes
destacam a produção de bananas (369 toneladas) e do café arábica (51 toneladas).
Quanto às culturas temporárias destaca a cana-de-açúcar (177.841 toneladas), o milho
(872 toneladas), a mandioca (10 toneladas) e o feijão fradinho (1 tonelada). Quanto ao
sistema de preparo do solo temos que 93% dos estabelecimentos utilizam o cultivo
convencional, 5% cultivo mínimo e apenas 1% utilizam do cultivo de plantio direto, o
que resulta em grande pressão sob o recurso natural: solo.
São destinados mais de 22.974 hectares para pastagem sejam naturais ou plantadas
para atender a um contingente de 28.984 cabeças de bovinos, favorecidas pelos
campos limpos típicos da vegetação do Cerrado. Quanto às áreas de matas são no total
4.839 hectares, sendo pouco mais de 80% destinadas à preservação permanente ou
reserva legal. Além disso, segundo IBGE (2015) são destinados ao plantio de eucalipto
4.400 hectares. Costa ainda que existe no município 76 hectares de áreas degradadas,
acredita-se que dentre elas encontra-se a área degradada abordada na análise do presente
trabalho.
6. A APLICAÇÃO DO GTP NA PROBLEMÁTICA EROSIVA (VOÇOROCA) DO
MUNICÍPIO DE SÃO PEDRO/SP
O presente capítulo tem o objetivo da aplicação da teoria do GTP (Geossistema,
Território e Paisagem) de Georges Bertrand dentro de um recorte especifico do município
de São Pedro – SP, um bairro periférico aonde localiza-se uma extensa voçoroca . É
necessário inicialmente delimitar a área de estudo de acordo com a taxonomia da paisagem
29
proposta pelo autor. Dessa forma como já foi trabalhado no capitulo 4 desta pesquisa,
Bertrand (1972) propõe seis ordens de grandeza de unidades taxonômicas do meio
geográfico. Do recorte menor ao maior, são elas: geótopo, geofáceis, geossistema, região
natural, domínio e zona. O geossistema possibilita uma boa base de estudo compatível
com a escala humana, pois todos os fenômenos interagem de maneira visível, dentro então
desse geossistema há unidades fisionomicamente homogêneas chamadas de geofáceis
“onde se desenvolve uma mesma fase de evolução geral do geossistema” (BERTRAND,
1971, p. 16). Estes são os geofácies, que compõem um “mosaico mutante cuja estrutura e
dinâmica traduzem fielmente os detalhes ecológicos e as pulsações de ordem biológica”.
O município de São Pedro – SP através da ótica de paisagem carrega em si
inúmeros mosaicos fisicamente homogêneos ao tratar-se, por exemplo, de fenômenos
erosivos, pois como já foi observado ao decorrer da pesquisa o desencadeamento das
erosões lineares nessa área proveem das características geológicas, geomorfológicas,
pedológicas, hidrológicas e climáticas pré-existentes tornando assim uma paisagem
aonde naturalmente será visível observar aspectos semelhantes em estágios variados.
O bairro de São Dimas e sua extensa voçoroca carrega características próprias
dentro da paisagem tornando assim um recorte muito especifico e diferenciado entre os
inúmeros mosaicos homogêneos existentes na área, primeiramente devido a magnitude da
voçoroca em si, pois em nenhum outro ponto do município é classificado a existência de
uma erosão com tamanho porte, a gênese de sua evolução acelerada devido ao fator
humano também torna-se algo singular e por ser um bairro periférico no município,
descartado e muitas vezes esquecido pela política local as percepções de paisagem, os
valores culturais dos indivíduos e o próprio cuidado com o meio ambiente deve ser
levado em conta para entender toda a dinâmica e complexidade da paisagem e por sua
particularidades já aqui descritas, porém entende-se que dentro das unidades taxonômicas
do meio geográfico descritas por Bertrand a área de estudo está inserida em uma geofáceis
do córrego Tucum pertencente à áreas denundacionais e de colinas de acordo com o mapa
geomorfológico de Jurandir Ross (1995).
É possível observar na figura 11, uma fotografia área do ano 2000 as principais
feições erosivas da área e a sua ocupação urbana. A figura mostra quatro feições erosivas
denominadas de A,B,C e D. A voçoroca está localizada na feição ‘’B’’ e até o ano de
2002 sua profundidade era de aproximadamente 30 metros (FERREIRA 2000).
30
Figura 11: Feições erosivas na área de estudo
Fonte: Aristotelina Ferreira da Silva - Mapeamento Geotécnico e Análise dos processos erosivos na bacia
do córrego Tuncum, São Pedro-SP
A voçoroca de São Pedro está situada na Formação Geomorfológica da Depressão
Periférica a 550 metros de altitude sendo composta por relevos suave . As feições desta se
estendem no ano de 2016 por 2Km e atingindo até 60 metros de profundidade. Pode-se
observar que seu material de origem é proveniente do arenito Botucatu e Pirambóia,
como já apresentado anteriormente neste trabalho, essas características litológicas da
área de estudo são extremamente suscetíveis aos processos erosivos, que se acentuam
quando somado às características climáticas.
Quanto a sua estrutura litológica, pode-se observar na Figura 12, a mudança
litológica brusca, camadas ou lentes de arenito conglomerático com estratificação
cruzadas e suas várias cores. Pode-se observar na área abrangida pela Figura 13, um
depósito tecnogênico gigantesco, que por sua vez, contribui para o aumento da
voçoroca, ou seja, um fator importante a ser ressaltado nesta caracterização.
31
Figura 12: Estratificações cruzadas Figura 13: Depósito Tecnogênico
Fonte: ALEXANDRE, A.P (2013).
Tal fator que faz com que esta voçoroca seja hoje um local de descarte
clandestino, um verdadeiro lixão a céu aberto tem agravado o processo de erosão, a
acumulação desses lixos é um foco de contaminação e um excelente meio para o
desenvolvimento de insetos e roedores, destruindo a paisagem e contribuindo para a
contaminação das águas superficiais e subterrâneas. É então necessário destacar a ação
antrópica como um agente que tem acelerado esse processo, como aponta Perez,
Carpi e Quaresma (2011) as construções de ruas, rodovias e loteamento próximo à
cabeceira da voçoroca. Também destaca a implantação dos chamados postos de areia às
margens dos canais fluviais que extrai os materiais arenosos depositados pelos cursos
de água, oriundo da erosão ocorrida nas áreas a montante, ocasionando um rebaixamento
do nível de base dos cursos fluviais dificultando o estabelecimento de um estado de
equilíbrio impedindo a estabilização dos processos erosivos que ocorrem a montante. A
prefeitura municipal de São Pedro realizou algumas obras no bairro São Dimas que
se localiza ao lado da voçoroca.
A construção de escola, cemitério e ETE (estação de tratamento de esgoto)
32
causam risco a população. O cemitério coloca em risco de contaminação a água do
córrego Tucum. Essas obras e também a localização do antigo lixão que foi desativado
em 2003 e também o lixão clandestino podem ser observados na figura 14.
Figura 14: Obras da prefeitura em área de risco
Fonte: Perez, Carpi e Quaresma, 2011
Em suma, fica evidente que o processo erosivo não é só provocado pelos
aspectos físicos, mas em grande parte é acelerado pela ação antrópica que mesmo diante
dos riscos de sua ampliação, tem se intensificado cada vez mais, enquanto medidas
eficientes poderiam ser tomadas para estabilizar este processo se fossem considerados os
estudos aprofundados sobre a área ou até mesmo através da educação ambiental dos
próprios moradores, porém fica evidente da falta de ações do governo municipal e do
enorme descaso para com toda comunidade, tendo em vista que tal problemática
ambiental é antiga e vai cada vez mais se agravando.
A situação atual da voçoroca é caracterizada através de sua expansão, diversas
pesquisas oriundas principalmente da Universidade Estadual Paulista (UNESP) do
campus de Rio Claro afirmam que do ano de 2002 a 2017 a erosão cresceu cerca de 30
metros, tendo atualmente um tamanho que chega alcançar cerca de 60 metros de altura. É
possível observar nas figuras seguintes diversas ações da prefeitura para amenizar os
problemas relacionados com o descarte de lixo, porém não é possível avaliar de fato sua
efetividade, pois tais ações são extremamente recentes tendo sido implantadas em
setembro de 2017.
33
Figura 15: Ações da prefeitura na voçoroca do bairro São Dimas
Fonte: CAMPOS, GABRIEL, 2017
No ECOPONTO criado pela prefeitura de São Pedro é possível descartar de forma
organizada lixos recicláveis, resíduos de construção, rodas e móveis e não sendo permitido
descarte de lixo orgânico domiciliar, lixo industrial e resíduos de serviços de saúde.
É possível refletir até que ponto de fato toda problemática do lixo foi realmente
resolvida, tornar oficialmente um local de descarte uma área com uma problemática
ambiental grave foi a melhor opção? Nas figuras 16 e 17 é possível observar o
ECOPONTO, é importante ter consciência da localização da voçoroca se encontra a
poucos metros do local.
34
Figura 16: ECOPONTO bairro São Dimas
Fonte: CAMPOS, GABRIEL, 2017
Figura 17: ECOPONTO bairro São Dimas
Fonte: CAMPOS, GABRIEL, 2017.
35
7. A PERCEPÇÃO DA PAISAGEM
O surgimento da Geografia Humanística marca uma valorização das experiências, dos valores
e dos sentimentos com relação às paisagens, aos espaços e aos lugares. O marco dessa corrente teórica
foi através de Yi-Fu Tuan em 1976, através de um artigo chamado Humanist Geography, no Brasil em
1980 é publicado o livro Topofilia –também de Tuan e com isso houve uma ampliação dos debates
relacionados aos espaços vividos, lugar, paisagem e da própria percepção, interpretação das
experiências adquiridas pelas sociedades que são formadas por uma longa linha de percepções
(TUAN, 1980, p.4) . O que é então a percepção?
As pessoas percebem o mundo ao redor através dos órgãos dos sentidos e da
cognição, que, embora sejam individuais e seletivos (pois passam por filtros culturais e
sociais), compartilham de percepções comuns (TUAN, 1980). Tendo sua origem do latim
perceptio, pode ser definido como o ato ou o efeito de perceber; a combinação dos órgãos
sensoriais no reconhecimento de um objeto ou conjunto de elementos do ambiente;
recepção de um estímulo; sensação; intuição; ideia; imagem; representação intelectual.
A psicologia cognitiva é a primeira ciência a descrever o termo de percepção como
sendo o conjunto dos processos pelos quais reconhecemos, organizamos e entendemos as
sensações recebidas dos estímulos ambientais, no entanto, por encontrarem-se teorias
sobre percepção em diversas áreas, estas assumem diferenciados enfoques (STERNBERG,
2000) dessa maneira a geografia não deve ficar à deriva dos debates relacionados com a
percepção, pois é um elemento fundamental para compreensão de toda dinâmica e
complexidade do espaço geográfico. Segundo Davidoff (1983), a percepção define-se
como o processo de organizar e interpretar dados sensoriais recebidos (sensações) para
desenvolvermos a consciência do ambiente que nos cerca e de nós mesmos. A percepção
implica interpretação e dessa forma os sentidos tornam-se janelas para o mundo.
Todos os seres vivos são dotados da percepção desenvolvida em diferentes graus,
conscientemente ou não, para os seres humanos, a percepção é algo flexível, adaptando-se
continuamente na vida diária em decorrência dos estímulos recebidos pelo meio, as
motivações pessoais, as emoções, valores, objetivos, interesses, expectativas e outros
estados mentais influenciam diretamente no que os indivíduos percebem e dessa forma, a
percepção é um processo ativo da mente sendo possível obter uma interpretação do mundo
e tendo a inteligência uma contribuição no processo perceptivo mediada também pelos
valores éticos, morais, julgamentos e expectativas daquelas(es) que percebem. Para Del
36
Rio (2001) importante autor que estuda a percepção destaca atributos específicos para a
formação da realidade percebida, como é possível observar na Figura 18:
Figura 18: Esquema teórico do processo perceptivo
Fonte: Del Rio e Oliveira, 1996, adaptado.
É possível observar dessa forma que a percepção possui determinadas
características, inicialmente há o conhecimento sensorial, dotado por estímulos corporais
demonstrando as relações que existem entre o sujeito e o exterior. O conhecimento serve
como percursor para delimitar qualidades para o mundo, envolve assim toda história
pessoal, condutas, envolvendo valores sociais e culturais, ao tratarmos de percepção,
estamos envolvendo questões tanto sociais como culturais e históricas. Oferecendo
também um acesso ao mundo dos objetos práticos e instrumentais, isto é, nos orienta
para a ação cotidiana, Para Xavier (2007).
A percepção está diretamente ligada à forma como estamos ou não ligados
ao meio. O ser humano integra-se ao ambiente através da experiência,
procurando conhecê-lo e aprendendo formas de ação para seu uso, sua
valorização e, quando necessário, para assumir atitudes em relação a ele. Nessa
interação, as pessoas tomam atitudes, ou ainda adotam condutas que espelham
seus interesses, valores e a visão do contexto em que se inserem (XAVIER,
2007).
Diante das afirmações de XAVIER (2007) fica visível que a tomada de consciência do
ambiente pelo ser humano é fundamental para proteger e cuidar do mesmo. Mesmo que a
37
percepção de cada individuo seja algo pessoal, sabe-se que o individuo não age
isoladamente em um determinado ambiente, mas de forma coletiva. Ao referir-se sobre
questões ambientais e perceptivas, segundo, Alirol (2001): “diferentes atores não vêem os
problemas ambientais e de desenvolvimento da mesma maneira [...]. O sentimento de
responsabilidade, ou a ideia que dele se faz, varia enormemente, conforme a categoria
social ou profissional à qual se pertence”.
O estudo da Percepção Ambiental é uma ferramenta extremamente importante para
compreensão clara das inter-relações entre os seres humanos e o ambiente, suas
expectativas, anseios, satisfações e insatisfações, julgamentos e condutas e para proteção
do meio ambiente outra ferramenta se torna fundamental, no capítulo final dessa pesquisa
pretende-se estabelecer reflexões sobre a educação ambiental estabelecendo dessa forma
uma conexão entre a percepção e o cuidado para com o meio ambiente.
7.1 A PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS MORADORES DO BAIRRO SÃO DIMAS – SÃO
PEDRO /SP
O bairro de São Dimas contém atualmente no ano de 2017, cerca de 189
moradias, os questionários foram aplicados no mês de junho de 2016 e agosto de 2017.
Em quase todas as respostas dos questionários, encontram-se semelhanças e as hipóteses
antes elaboradas, se confirmam de certa forma, quando a maior parte dos moradores se
sente desconfortável com a voçoroca, ou “buracão”, como costumam chamar.
Por exemplo, quando perguntados sobre o que os levou a inserção nesse bairro, a
maioria respondeu que está no bairro devido às condições financeiras. É necessário
compreender que o bairro em decorrência da sua localização em uma área periférica os
custos para obtenção de uma casa é muito baixo em comparação as outras áreas do
município. Tais habitações são construídas, muitas vezes na ilegalidade em áreas de risco,
como é possível observar na figura 19, onde mais de 58% dos indivíduos entrevistados
afirmam que esse é o principal motivo da inserção no bairro. O gráfico (figura 19)
também mostra que grande parte dos entrevistados em porcentagem diz que a casa é
herança de família, ou que o aluguel, bem como preço dos terrenos, eram mais em
conta que o restante da cidade e que quando mudaram para São Pedro era o único bairro
que tinham condições de se fixarem.
38
Figura 19 - Motivo da inserção no bairro São Dimas
Fonte: Campos, Gabriel. Elaborado a partir das respostas dos questionários entregues para população do
bairro São Dimas
Quanto à questão número 2 do questionário que se refere ao sentimento
em relação à cidade de São Pedro percebe-se a consciência dos moradores quanto a
distancia ser um limitante para esse acesso. A prefeitura parece não se importar
com os moradores desse bairro, que sofre com essa distância. Uma das
entrevistadas, diz que o acesso a mais cultura para crianças e adolescentes é
também muito escasso. A falta de coisas básicas para uma das moradoras, como
asfalto e sarjeta, essa não se incomoda com a distância, mas sim com a falta de
estrutura e de preocupação da parte das autoridades, em um dos relatos é possível
observar essas questões de forma muito clara:
Existe certo preconceito em relação às pessoas, quando sabem que moro
aqui, tem aqueles olhar torto, a prefeitura não dá muito valor para as ruas
antigamente, cerca de uns 15 anos atrás não tinha asfalto, era tudo de terra aí
asfaltaram, mas falta muita coisa. À distância não me incomoda, mas sim
esse valor que a gente não vê (Neusa Aparecida, 67 anos).
Na questão número 3 que se refere sobre as sensações e percepção dessa paisagem
degradada, o bairro em que estão inseridos esses indivíduos, revela sentimentos de falta
22%
58%
16%
4%
Motivo da inserção no bairro
Herança Familiar
Condições Financeiras
Ocupação antes da existência da
voçoroca
Outros Motivos
39
de segurança juntamente com a falta de infra estrutura do bairro São Dimas, o que leva
a o desconforto, ‘’ Quando eu passo lá não me sinto bem, evito muitas vezes’’ (Nadia
Souza, 32 anos). Apesar de gostarem do bairro e da convivência com os vizinhos, a
falta de segurança foi um dos fatores que mais causa insegurança aos moradores, por
conta da preocupação com filhos e netos, além do acumulo de lixo que também foi
frequente das respostas.
A questão número 4 do questionário foi a respeito do conhecimento sobre o que é
erosão. Como já foi trabalhado no decorrer desta pesquisa a voçoroca é fruto de processos
erosivos e aonde o fator antrópico, principalmente pelo grande acúmulo de lixo influência
diretamente para o seu desenvolvimento. Foi perguntando aos moradores se eles sabiam o
que era erosão, justamente, pois tal problemática ambiental existe no bairro há mais de 30
anos e o resultado foi assustador, foi possível observar (figura 19) que apenas 10% dos
entrevistados sabiam do que se tratava. Dessa forma percebe-se a importância da
educação ambiental na vida desses indivíduos e uma participação real da prefeitura como
entidade esclarecedora dos fenômenos e problemáticas ambientais que afetam o bairro.
Figura 20 – porcentagem de moradores que conhecem a palavra ‘’erosão’’
Fonte: Campos, Gabriel. Elaborado a partir das respostas dos questionários entregues para população do
bairro São Dimas
A questão número 5 refere-se ao impacto da voçoroca interferindo diretamente na
saúde dos moradores o resultado foi que todas as respostas convergem para a mesma
10%
90%
Moradores que conhecem o termo
''erosão''
Conhecem
Não conhecem
40
opinião, a de que a interferência é direta. Há, por exemplo, um relato de que catadores de
materiais recicláveis do bairro ficaram bastante doentes quando trabalharam no local;
casos de dengue, e de animais peçonhentos atraídos pela quantidade de lixo existente no
local, além do forte odor que atrapalha os moradores. Grande parte dos indivíduos
reclamam diariamente do mau cheiro vindo gerado por esse lixo, Há também a
preocupação com as crianças que costumam brincar aos arredores da voçoroca, a qual é
muito funda, além de outras problemáticas já aqui citadas apresentando dessa forma risco
para a segurança dessas crianças. Uma das questões se referia à interferência direta da
voçoroca na vida dos moradores, percebe-se um incomodo muito grande de todos os
entrevistados. Mesmo os que moram mais longe do “buracão”, dizem que acham uma
vista feia e desagradável, há alguns relatos de que preferem desviar o caminho ao invés de
passarem por lá, por conta do cheiro e da paisagem desagradável. Há também quem
diga que se acostumou, por esse problema existir a muitos anos. É unanime nas
repostas o desagrado e o desejo pela solução do problema, pois todos eles têm consciência
de que a erosão continua e pode causar mais danos para a vida dos moradores do bairro
São Dimas. É possível observar na figura 21, referente à questão número 6 do questionário
sobre as opiniões coletados dos moradores em relação aos problemas relatados. Vale
ressaltar que as respostas foram colocadas em porcentagem, pois muitos moradores
responderem mais de uma questão propostas no questionário.
Figura 21 - Opinião sobre a interferência da voçoroca na saúde dos moradores que residem próximos da
voçoroca.
Fonte: Campos, Gabriel. Elaborado a partir das respostas dos questionários entregues para população do
bairro São Dimas.
Ratos Dengue Lixo
Insetos
Peçonhent
os
Não
Interfere
Opinão dos moradores 38.50% 81.00% 90% 28% 5%
0.00%
20.00%
40.00%
60.00%
80.00%
100.00%
R
e
s
p
o
s
ta
s
e
m
%
Opinão dos moradores
41
Por fim, a última questão (7) do questionário referente a opinião dos moradores
sobre as ações da prefeitura para o melhoramento das problemáticas ambientais do bairro
foi possível observar que grande parte dos moradores acredita que existe um enorme
descaso não somente para a parte ambiental, mas também social o que reflete na
precarização do bairro e na falta de recursos para criar condições adequadas para uma
vida digna no cotidiano desses indivíduos, só depois de muitos anos com a criação do
ECOPONTO é possível ver alguma ação da prefeitura, o que também não passa
despercebido pelos moradores, porém ainda não existe uma opinião formada para a real
efetividade do projeto.
Outro dado também analisado no questionário é o tempo em que cada entrevistado
mora no bairro, é possível analisar através da figura 22 que grande parte dos indivíduos
que residem no bairro acompanha o crescimento da voçoroca diante de um tempo
considerável, poucos entrevistados estão inseridos no bairro a menos de 10 anos e a mais
de 50:
Figura 22 - Tempo que os indivíduos entrevistados residem no bairro
Fonte: Campos, Gabriel. Elaborado a partir das respostas dos questionários entregues para população do
bairro São Dimas
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
MENOS
DE 10
ANOS
10 ANOS 20 ANOS 30 ANOS 40 ANOS MAIS DE
50 ANOS
Tempo que mora no bairro
Tempo que mora no bairro
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8. O PLANO DIRETOR DE SÃO PEDRO - SP
Em 10 de julho de 2001 através da lei nº10.257, é criado o Estatuto da
Cidade que é a regulamentação dos artigos 182 e 183 da às diretrizes necessárias para
a elaboração dos instrumentos que tangem a gestão das cidades dentre eles incluso o
plano diretor. Como citado nos artigos: Art. 40. O plano diretor, aprovado por lei
municipal, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana.
Supostamente o plano diretor deve ser utilizado como um ‘’manual’’ de
gerenciamento dos municípios, contendo os objetivos para o desenvolvimento urbano
da cidade, deve ser elaborado por toda a sociedade, organizando o crescimento e
funcionamento da mesma, sendo obrigatório para as cidades com mais de 20 mil
habitantes.
O município de São Pedro - SP contém cerca de 50 mil habitantes, logo
cumpre naturalmente todas as exigências para que um plano diretor seja estabelecido.
Tal documento existe e tem grande extensão, contendo mais de 192 artigos e tendo
sua última revisão realizada em 2010, nesse capitulo pretende-se destacar e analisar
os artigos 4º, 5º, 100, 129, e 148 do plano diretor relacionados ao meio ambiente,
saúde e habitação verificando sua real efetividade correlacionando-a com a realidade
vivenciada nos trabalhos de campo efetuados para realização desta pesquisa.
PLANO DIRETOR DO MUNICÍPIO DE SÃO PEDRO – SP
Art. 4º Princípios da Política Urbana do Município
III - o aproveitamento e a utilização do solo compatíveis com a segurança e a saúde
dos usuários e dos vizinhos.
Art. 5º São diretrizes da política de desenvolvimento urbano de São Pedro
IV - realizar a regulação pública do solo, mediante a utilização de instrumentos
redistributivos da terra e da renda, reduzindo as desigualdades que atingem diferentes
camadas da população e áreas do Município, particularmente no que se refere à saúde,
educação, cultura, às condições habitacionais e à oferta de infra-estrutura e serviços
públicos;
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Art. 100º Consideram-se Áreas de Risco aquelas sujeitas, de fato ou potencialmente,
a sediarem ou serem atingidas por fenômenos geológicos naturais ou induzidos, bem
como aquelas que já tenham sofrido efeitos danosos de degradação do solo, por
extração ou por processos de urbanização predatória.
Caberá à Secretaria de Meio Ambiente, a elaboração e atualização sistemática do
cadastramento das áreas de proteção, cumprindo-lhe monitorar, avaliar e tomar as medidas
que se fizerem necessárias, quando ocorrerem alterações que exijam ações do poder
municipal.
§ 1º Para fins de planejamento e ações administrativas, as áreas definidas no artigo
anterior, classificam-se em:
I - áreas de risco potencial - incidentes em terrenos não ocupados
II - áreas de risco efetivo - incidentes em terrenos já parcelados, ocupados ou não, que
sofreram grandes modificações na paisagem natural, decorrente de ações lesivas,
praticadas pelo homem, ou em decorrência de fenômenos naturais.
§ 2º Consideram-se áreas de risco geológico, para os efeitos desta lei:
I - áreas passíveis de deslizamento em decorrência de ações antrópicas ou de
fenômenos naturais, que possam causar danos pessoais ou materiais, considerada a
inclinação e a natureza do solo;
II - áreas sujeitas a inundações;
III - áreas sujeitas aos fenômenos de erosão ou de assoreamento.
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Art. 129 Ações previstas pela política municipal de proteção do patrimônio natural e
cultural.
V - implantar e manter programas ambientais de:
a) redução do uso e da aplicação de defensivos e fertilizantes agrícolas,
principalmente em áreas de mananciais;
b) Manejo Correto de pastagens, proibindo queimadas e atividades junto aos cursos
d’água
c) recomposição de matas ciliares e das cabeceiras de drenagem;
d) controle de água pluvial e erosão;
e) prevenção contra incêndio em matas nativas e na vegetação de interesse de
preservação;
f) restauração de áreas degradadas nas áreas de interesse ambiental;
g) coleta e destinação de resíduos sólidos, com ênfase na coleta seletiva de
recicláveis;
h) arborização da cidade;
i) educação ambiental e defesa do meio ambiente.
j) proibir atividades poluentes
Art. 148 São diretrizes gerais da política municipal de habitação:
A política municipal de habitação tem por objetivo orientar as ações do
Poder Público e da iniciativa privada propiciando o acesso à moradia, priorizando
famílias de menor renda, num processo integrado às políticas de desenvolvimento
urbano e regional e demais políticas municipais.
V - estabelecer normas especiais de urbanização, uso e ocupação do solo e edificação
para assentamentos de interesse social, regularização fundiária e urbanização de áreas
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ocupadas por população de menor renda, considerando a situação socioeconômica da
população sem ignorar as normas ambientais;
VIII - promover a relocação de moradores residentes em locais impróprios ao uso
habitacional e em situação de risco, recuperando o meio ambiente degradado;
Em uma análise geral foi possível constatar que o plano diretor em sua teoria é
muito bem estruturado e que teoricamente atende todas as demandas necessárias para
um bem estar social, ambiental e econômico do município de São Pedro, porém em
pontos específicos analisados empiricamente observa-se a enorme distância entre a
teoria e a prática.
O artigo 4º trata do aproveitamento do solo, que prioritariamente deveria ser
compatível com o bem estar, a segurança e a saúde dos usuários, entretanto uma das
moradoras do bairro São Dimas entrevistada expõe que a própria prefeitura já descartou
lixo na área próxima da voçoroca acentuando assim ainda mais essa problemática
ambiental.
O 5º artigo se contradiz da mesma forma ao tratar de ações redistributivas da terra,
saúde, educação, cultura e condições habitacionais, fica evidente a não efetivação do que
é proposto, pois se observa o uso e ocupação do solo irregular em algumas localidades
da cidade, principalmente em bairros periféricos, destacando o bairro São Dimas, aonde
grande parte dos indivíduos inseridos no bairro faz o uso irregular do solo estando
dentro de uma área de risco e distantes de serviços de saúde, educação e cultura.
O artigo 100 é minucioso e bem especifico ao tratar das áreas de risco, assumindo
um comprometimento com áreas onde naturalmente podem acontecer um incidente
geológico por meio natural ou antrópico, destacando também áreas sujeitas aos
fenômenos erosivos. Novamente é visível a falta de comprometimento com o poder
público tendo em vista toda problemática ambiental enfatizada ao longo da pesquisa.
No artigo 129 é importante destacar as letras d, g, i e j, primeiramente, pois todos
esses itens estão extremamente correlacionados: a erosão, a coleta e destinação de
resíduos sólidos, a proibição de atividades poluentes e a educação ambiental. Todos os
itens aqui mencionados estão ausentes nos bairros periféricos da cidade e principalmente
inexistentes na área de estudo escolhida para realização da pesquisa. O que de fato
demonstra tal realidade foram as entrevistas realizadas com os indivíduos que ali
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residem.
E por fim o artigo 148 demonstra ao tratar de habitação que o plano diretor é
extremamente falho e tem pouca utilidade diante as problemáticas sociais e ambientais
existentes no município. .
9. CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL, A IMPORTÂNCIA DO
SABER AMBIENTAL.
Em 1972, ocorre a Primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente, cria-se um documento chamado de Declaração de Estocolmo, tornando
questões do meio ambiente fundamentais na educação e sendo assim as abordagens
direcionadas tornaram-se parte da dimensão educacional (estudos e pesquisas) e também
sistematizando técnicas e práticas de Educação Ambiental.
Em 1999, no Brasil institui-se a Politica Nacional de Educação Ambiental, na qual
se entende por Educação Ambiental (art. 1º) “os processos por meio dos quais o indivíduo
e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do meio ambiente, e sua sustentabilidade”. De
fato o reconhecimento e a emergência de ações voltadas para o meio ambiente ocorreram
de forma acelerada, porém diante disso uma visão reducionista e genérica da expressão
‘’Educação Ambiental’’ acaba emergindo. É importante aperfeiçoar uma sensibilidade
para identificar as problemáticas ambientais gerando atitudes e comprometimento por
parte dos indivíduos. Paulo Freire (1998) alerta que no contexto da Educação Ambiental
tal visão reducionista silencia a complexidade dos conflitos sociais relacionados aos
diferentes modos de acesso aos bens ambientais, fica visível observar a existência dos
interesses neoliberais para com as questões relacionadas com o meio ambiente e com isso
comprometendo também o propósito da Educação Ambiental.
Para Enrique Leff (1998) o saber ambiental se constitui através de processos
políticos, culturais e sociais potencializando e transformando as relações entre sociedade-
natureza, porém para que isso seja alcançado tendo como objetivo um desenvolvimento de
fato sustentável em uma sociedade globalizada onde as relações são arquitetas por
princípios que se resumem apenas num âmbito econômico é mais do que necessário
mudanças nos valores que vão nortear o comportamento dos indivíduos, transformações
do conhecimento e inovações tecnológicas (para resolver os problemas ambientais) além é
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claro de uma sensibilização da sociedade diante dessa questão e a incorporação do saber
ambiental fundamental no sistema educacional. Porém, como aponta Leff (1998) em seu
livro Saber Ambiental alcançar isso é realmente um processo difícil e que exige muito
mais do que apenas a força de vontade de cada indivíduo:
O processo de globalização econômica está transformando os princípios da
educação ambiental, ao privilegiar os mecanismos do mercado como meio de
transição para um futuro sustentável. O neoliberalismo econômico, incapaz de
dar seu justo valor aos recursos ecológicos e aos serviços ambientais da
natureza, leva também a desvalorizar o conhecimento. O utilitarismo, o
pragmatismo e o eficientismo, que regem a racionalidade da ordem econômica
mundial, estão transtornando os princípios da educação ambiental (LEFF, 2001,
p. 222)’’.
’
É necessário o entendimento das múltiplas dimensões interconectadas de causa e
efeito como forma de enfrentamento das problemáticas ambientais, o que vem
acontecendo de uma forma cada vez mais rápida é a modificação cultural da sociedade
para com o meio ambiente e sendo assim é necessário uma mudança teórico-metodológica
da própria educação superando essa compartimentação e fragmentação do saber e
valorizando os saberes populares como ferramenta de transformação do meio. Emergindo
das cinzas do esquecimento e dentro de um contexto tão delicado do meio ambiente a
Educação Ambiental surge como uma proposta educativa, como ressalta Carvalho (2004:
130):
Atitude de investigação atenta, curiosa, aberta à observação das
múltiplas inter-relações e dimensões da realidade e muita
disponibilidade e capacidade para o trabalho em equipe. Significa
construir um conhecimento dialógico, ouvir os diferentes saberes,
tanto os científicos quanto os outros saberes sociais (locais,
tradicionais, das gerações, artísticos, poéticos, etc); diagnosticar as
situações presentes, mas não perder a dimensão da historicidade, ou
seja, dar valor à história e à memória que se inscreve no ambiente e o
constitui, simultaneamente, como paisagem natural e cultural
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Frente a isso, a Educação Ambiental deve ser considerada como “uma práxis
educativa e social que tem por finalidade a construção de valores, habilidades e atitudes
que possibilitem o entendimento da realidade da vida e a atuação lúcida e responsável dos
atores sociais individuais e coletivos no ambiente” (LOUREIRO; LAYARGUES;
CASTRO, 2002). E, portanto:
Torna-se um instrumento de reorganização da construção social da vida, da
relação entre os seres humanos e entre eles e a natureza; um novo processo de
pensamento, ação e gestão, em relação à realidade brasileira, alicerçada na
interlocução entre igualdade e sustentabilidade.
(PEDRO, JACOB, p.21, 2003).
10. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para fundamentar essa pesquisa foi necessário aprofundar-se nas teorias de três
principais autores: Yi-Fu Tuan, Georges Bertrand e Henrique Leff diante das lentes da
Geografia Humanística Cultural reafirmando a riqueza dos debates sobre a percepção,
a paisagem e o individuo. Bertrand demonstra através da teoria do GTP que todos os
fenômenos que ocorrem na paisagem são dinâmicos e tendo em sua gênese uma
conexão extremamente profunda, por trás de uma erosão em um pacato município no
interior do Estado de São Paulo é possível observar inúmeros elementos que
aparentemente estão desconexos, porém juntos contribuem para que exista uma
infinidade de transformações no espaço geográfico. Tuan (1980) ensina da
necessidade de compreensão do individuo e a importância de sua percepção para que
se perceba de fato toda complexidade que permeiam as relações entre o meio natural e
o ser humano e Leff (1998) nos atenta para qual forma devemos preservar a natureza e
como a educação ambiental pode ser uma ferramenta de poder político emancipatório
para a sociedade.
Através dos questionários foi possível compreender que a paisagem pode trazer
muitos aspectos conclusivos e definitivos para cada indivíduo, desde o desconforto até
sentimentos positivos de identidade com o local, pois entende-se que grande parte dos
entrevistados estão fixados na nessa paisagem há décadas e dentro desse contexto se
constituíram suas experiências e aprendizados e assim produzindo um acervo gigantesco
de memórias que percorrem através do tempo e espaço. .
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É importante reconhecer o valor que a paisagem proporciona na vida dos
indivíduos e em relação ao bairro São Dimas da cidade de São Pedro isso é constante,
os possíveis fatores é que de forma natural as pessoas constroem suas próprias
percepções próprias da paisagem, inicialmente o sentir no seu sentido literal, olfato e
visão, nesse caso em específico a paisagem em análise demonstra-se de forma bem clara
quando, por exemplo, um determinado morador se ente desconfortável olfativamente
ou esteticamente ao passar em uma determinada localidade do bairro, possivelmente por
causa do grande acumulo de lixo presente na voçoroca. Todos dividem em comunhão
um grave problema ambiental e também o grande descaso das autoridades locais.
Dividem também a pobreza e olhares de preconceito, porém compartilham com a
paisagem um local de recordações e bons sentimentos lutando por um pouco mais de
respeito e igualdade.
Como possível solução a educação ambiental pode ser uma ferramenta
extremamente útil na elaboração de materiais didáticos para população criando uma
consciência sobre as problemáticas que o bairro enfrenta, é necessário esclarecer
questões simples, como o que é uma erosão, acentuando que o fator humano
principalmente ao jogar lixo agrava no desenvolvimento da voçoroca, além disso é
necessário alertar os cidadãos de seus direitos previstos no próprio plano diretor do
município, tendo em vista que questões como habitação, saúde, cultura e lazer são
obrigações que devem ser supridas pelo poder municipal e sendo assim cada um tem o
direito de exigir tais direitos.
Foi possível observar através da pesquisa o enorme descaso seletivo que a
prefeitura tem com os seus habitantes o que evidencia as desigualdades sociais
existentes e a falta de qualquer tipo de ação para resolver os problemas ambientais que
existem há décadas. Dessa forma a importância dessa pesquisa se faz no registro das
percepções que cada individuo carrega e enxerga em sua totalidade os fenômenos que
acontecem no meio natural de maneira integrada cumprindo dessa forma o objetivo da
ciência geográfica.
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11. MODELO DO QUESTIONÁRIO ENTREGUE AOS MORADORES DO
BAIRRO SÃO DIMAS - SP
QUESTIONÁRIO PERCEPÇÃO
AMBIENTAL
Nome:
Idade:
Quanto tempo mora no bairro:.
1) O que te fez estar inserida (o) nesse bairro?
( ) Herança Familiar.
( ) Condições Financeiras.
( ) Ocupação antes da existência da voçoroca.
( ) Outros motivos.
2) Como você se sente inserida (o) em relação à cidade de São Pedro? Questão de
distância e precarização do bairro.
3) Quais as sensações que a paisagem em que você está inserida (o) produz na sua
vida?
4) Você sabe o que é uma erosão?
5) Na sua opinião a voçoroca interfere na saúde das(os) moradores?
6) No que você acha que a voçoroca influencia/interfere na sua vida cotidiana?
( ) Dengue.
( ) Ratos.
( ) Odor (mau-cheiro).
( ) Insetos Peçonhentos.
( ) Não interfere.
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7) Acredita que a prefeitura ou qualquer órgão municipal tem tomado iniciativas para
melhoramento das problemática ambientais do bairro?
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