1 NAYARA RODRIGUES DA SILVA MUDANÇAS HIDROGEOMORFOLÓGICAS DECORRENTES DA URBANIZAÇÃO NA BACIA HIDROGRÁFICA RIO ARICANDUVA, SÃO PAULO/SP Presidente Prudente/SP 2022 FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA – FCT PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA 2 NAYARA RODRIGUES DA SILVA Mudanças hidrogeomorfológicas decorrentes da urbanização na bacia hidrográfica rio Aricanduva, São Paulo/SP Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho FCT/UNESP – Presidente Prudente, para obtenção do título de Mestra em Geografia. Sob orientação da Prof. Dra. Isabel Cristina Moroz Caccia Gouveia. Presidente Prudente/SP 2022 FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA – FCT PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA 3 4 5 Dedico este trabalho à minha avó materna, Eva Campos, meus avós paternos, Severino Manoel e Sebastiana Ribeiro. Aos meus pais, Paulo Daniel e Maria Isabel, meus irmão Mayqui Rodrigues e Marlon Daniel. Todas e todos os moradores do Pq. Maria Luiza. 6 AGRADECIMENTOS Agradeço a proteção dos/das Orixás, Guias e Encantados. Laróyè Ogunhê Ora yê yê Agradeço ao apoio incondicional e puxões de orelha da Ialorixá Dona Eva, minha avó. Que me protege, escuta e aconselha. Tudo que faço é por ela e espero conseguir retribuir tudo que ela faz por mim. Agradeço ao Paulo Daniel (meu pai) e Maria Isabel (minha mãe), que me deram a vida e toda a liberdade escolher meus caminhos. Meus avós Severino Manoel e Sebastiana (in memoriam). Aos meus irmãos Mayqui e Marlon. Tenho certeza de que não chegaria aqui sem o apoio, amizade, companheirismo e orientação da Profa. Dra. Isabel Cristina Moroz Caccia Gouveia! Estamos trabalhando juntas há quase 10 anos. A Isabel é a pessoa mais doce e justa que conheci na UNESP/FCT, com um humor sutil e sempre tão serena, me acolheu e sempre acreditou nessa parceria. Um dia espero ser metade da professora, orientadora e pesquisadora que ela é. Meu muito obrigada! Agradeço aos Prof. Dr. João Osvaldo Nunes Rodrigues e Prof. Dr. Rodolfo Luz pelas considerações na qualificação. Que foram importantes para direcionar a finalização da dissertação. A vida sempre me presenteou com grandes amizades que estão espalhadas pelo mundão e mesmo com a distância se fazem presentes. Agradeço ao Henrique Vinicius, Paula Agnes, Érika Mari, Renan Marcondes, Fernando Gallo, Carlos Eduardo, Matheus, Lucas Morato e Ana Paula. E as amizades que a UNESP/FCT me deu... Agradeço à Dayane Garcia, Priscila Maldonado, Cintia Santos, Lidiana Pinho, Anna Paula, Prof. Dr. Mariano Caccia Gouveia, Prof. Dr. Paulo César Rocha, João Pimenta, Dona Ana (in memoriam), Dona Iza, Sinthia Silvestre, Thiago Passos, Aline Aparecido, Prof. Dr. Lindberg Nascimento Júnior, Eusébio de Sousa, Lucas Silva e Karis Rocha. Esse período pandêmico ficou um pouquinho 7 “menos pior” por conta da presença de vocês no meu dia a dia: Lucas Araújo, José Carlos, Victória Batista, Bruno Lucas, Guilherme Sousa, Gustavo Henrique, Gleice Santana, Marco Aurélio. Meu muito obrigada pessoal! Aos colegas da turma 31 do Programa de Pós - Graduação Geografia. Aos colegas do grupo de pesquisa GAIA e o pessoal do Laboratório de Geologia, Geomorfologia e Recursos Hídricos. Por fim, agradeço à Escola Estadual João Gomes Martins (localizada em Martinópolis/SP), no qual me tornei realmente professora e os primeiros desafios da docência no ensino fundamental e médio. Nunca vou esquecer o frio na barriga de enfrentar o 6º C e o 1º C. E a segunda escola que me acolheu, o CEEJA – Professor José Líbano, que trouxe outros desafios com o ensino de jovens e adultos. Agradeço à diretora Maria Aparecida Marinho Gomes, a vice-diretora Daniela Tarifa e ao coordenador Evandro Massaroti Munhoz pela oportunidade. As funcionárias da secretária e organização escolar, as professoras e professores, equipe de Linguagens e Códigos Aline Cremonezi, Marlene Biscaíno, Marx Willian, Eliane Parron e Valéria Alves. E a equipe mais legal e bonita do CEEJA, Equipe Humanas, as amigas e ao amigo: Dionizia Estevam, Paulo Oliveira, Natalie Floriano, Ritielle Aparecido e Viviane Carvalho, agradeço imensamente por todo aprendizado, acolhida e por me mostrarem que dá sim para trabalharmos em equipe, mesmo com tantas diferenças, mas com respeito e diálogo podemos construir pontes entre nós e a(o)s aluna(o)s. Me tornei uma pessoa e uma professora melhor graças a vocês! Por fim, Fomos atravessados pela pandemia e para piorar com um governo fascista/genocida no poder. Um período que nenhum filme apocalíptico poderia prever e com isso tivemos que aprender tudo do zero. As mesas dos botecos foram trocas pela escrivaninha e computador, os encontros nos corredores da universidade, trocados por vídeos-chamadas. Agradeço por toda(o)s a(o)s profissionais da saúde e profissionais da educação, que graças a elas/eles estamos aqui. Toda força e amor do mundo para as pessoas que perderam parentes durante essa guerra contra a covid-19. 8 Espero de coração que o atual momento político em todos os âmbitos não destrua os sonhos das próximas gerações! Que tenha saúde, educação, emprego, alimento e dignidade para geral! Que a educação e vença a barbárie! O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001. 9 “Até o rio mais sujo pode acolher as águas da chuva para continuar sendo rio” Babalorixá Sidnei Nogueira 10 RESUMO A pesquisa tem como premissa investigar e sistematizar cartograficamente dados hidrogeomorfológicos para avaliar qualitativamente as principais transformações ocorridas nos canais e planícies fluviais, bem como os conjuntos interfluviais da bacia hidrográfica do rio Aricanduva, localizada na zona leste do município de São Paulo. Assim, a partir da reconstituição das morfologias originais, pré-urbanas e da identificação das morfologias antropogênicas, foram realizadas análises com o auxílio da metodologia desenvolvida por Lima (1997), Rodrigues (2005, 2010), Moroz–Caccia Gouveia (2010, 2017)e Luz (2014), com abordagens da Geomorfologia Antropogênica e Geomorfologia Urbana Histórica cujo objetivo foi avaliar o grau de artificialidade imposto à área e suas implicações nos processos hidrogeomorfológicos. Para identificar as mudanças impostas pela urbanização no sistema físico da bacia hidrográfica rios Aricanduva foram realizadas análises comparativas referentes entre os anos de 1930 (fase inicial de urbanização) e 2020 (fase de urbanização consolidada). Como resultados da pesquisa foram produzidos dados que expressam as mudanças na bacia hidrográfica rio Aricanduva decorrentes do processo de urbanização, tais como: mapas originais (Mapa da Morfologia Original, Mapa da Hidrografia Original e Mapa de Cobertura Vegetal Original), mapa pré-urbanos (mapa de uso e cobertura da terra 1930, mapa de hidrografia de 1930), mapa antropogênicas (mapa de uso e cobertura da terra de 2020 e mapa da hidrografia de 2020), por fim os mapas sínteses com o Mapa de Unidades Morfológicas Complexas de 1930 e 2020 e pontos inundações. Com o auxílio dos mapeamentos identificamos o grau de artificialidade devido aos processos de urbanização imposto a bacia hidrográfica rio Aricanduva, como a canalização dos rios e córregos, aumento da área da bacia hidrográfica promovido pela retificação dos rios e córregos. Palavras-chave: Geomorfologia Antropogênica; Geomorfologia Urbana Histórica; Cartografia Geomorfológica Retrospectiva 11 ABSTRACT The research aims to investigate and cartographically systematise hydrogeomorphological data to qualitatively assess the main transformations that occurred in the channels and fluvial extensions, as well as the interfluvial sets of the hydrographic basin of the Aricanduva river, located in the eastern zone of the city of São Paulo. Therefore, from the reconstitution of the original, pre-urban morphologies and the identification of anthropogenic morphologies, analyses were carried out using the methodology developed by Lima (1997), Rodrigues (2005, 2010), Moroz–Caccia Gouveia (2010, 2017 ) and Luz (2014), with approaches from Anthropogenic Geomorphology and Historical Urban Geomorphology whose objective was to evaluate the degree of artificiality imposed on the area and its specifications in hydrogeomorphological processes. To identify the changes imposed by urbanization in the physical system of the Aricanduva river basin, comparative analyzes were carried out referring to the years 1930 (initial urbanization phase) and 2020 (consolidated urbanization phase). As a result of the research, the resulting data express the changes in the hydrographic basin of the Aricanduva river as the result of the urbanization process, such as: original maps (Original Morphology Map, Original Hydrography Map and Original Vegetation Coverage Map), pre-urban maps (1930 land use and cover map and 1930 hydrographic map), anthropogenic map (2020 land use and cover map and 2020 hydrographic map as well as the schematic Maps, composed of the Map of Complex Morphological Units of 1930 and 2020 and flooding points. With the help of the mapping work, we identified the degree of artificiality due to the urbanization processes imposed on the Aricanduva river basin, such as the canalization of rivers and streams and the increase of the area of the hydrographic basin, promoted by the rectification of rivers and streams. Keywords: Anthropogenic Geomorphology; Historical Urban Geomorphology; Retrospective Geomorphological Cartography. 12 Listas Figuras Figura 1: Regiões administrativas do município de São Paulo ................................................ 17 Figura 2: Localização da Bacia Hidrográfica Rio Aricanduva ................................................. 23 Figura 3: Classificação de padrões de drenagem conforme Christofoletti (1980) ................... 26 Figura 4: Tipos de leitos fluviais .............................................................................................. 27 Figura 5: Eventos hidrogeomorfolóficos .................................................................................. 28 Figura 6: Fluxograma de comportamento hidrodinâmico ........................................................ 37 Figura 7: Elementos das formas de relevo obtidos dos Geomorphons..................................... 40 Figura 8: Mosaico com as cartas topográficas S.A.R.A ........................................................... 42 Figura 9: Pontos notáveis ......................................................................................................... 43 Figura 10: Organização das cartas topográfica S.A.R.A escala 1:5.000 .................................. 44 Figura 11: Convenções cartográficas 1930 .............................................................................. 45 Figura 12: Fluxograma para identificação de unidades morfológicas complexas e graus de perturbação 1930. ..................................................................................................................... 48 Figura 13: Fluxograma para grau de perturbação 2020 ............................................................ 48 Figura 14: Expansão urbana bacia hidrográfica rio Aricanduva .............................................. 53 Figura 15: Unidades climáticas naturais - recorte BHRA ........................................................ 57 Figura 16: Unidades Climáticas Urbanos - recorte BHRA ...................................................... 58 Figura 17: Hidrografia original bacia hidrográfica rio Aricanduva – São Paulo ..................... 60 Figura 18: Mapa dos Grupos Litológicos ................................................................................. 62 Figura 19: Mapa de declividade ............................................................................................... 66 Figura 20: Mapa de morfologias originais ............................................................................... 67 Figura 21: Cobertura Vegetal Original Bacia Hidrográfica Rio Aricanduva – São Paulo ....... 69 Figura 22: Mapa Hidrografia 1930 ........................................................................................... 71 Figura 23: Mapa da Hidrografia 2020 ...................................................................................... 72 Figura 24: Mapa Uso e Cobertura da Terra 1930 ..................................................................... 75 Figura 25: Mapa Uso e Cobertura da Terra 2020 ..................................................................... 78 Figura 26: Mapa de unidades morfológicas complexas 1930 bacia hidrográfica rio Aricanduva .................................................................................................................................................. 85 Figura 27: Mapa de Unidades Morfológicas Complexas 2020 Bacia Hidrográfica Rio Aricanduva – São Paulo ........................................................................................................... 90 Figura 28: Galerias pluviais ...................................................................................................... 92 Figura 29: Aumento do nível da água ...................................................................................... 93 Figura 30: O rio Aricanduva ..................................................................................................... 93 Figura 31: Outros pontos de inundação .................................................................................... 94 Figura 32: Pontos de inundação bacia hidrográfica rio Aricanduva – São Paulo 16 de janeiro de 2022. .................................................................................................................................... 95 Figura 33: Mapa síntese com os pontos de inundação e as Unidades Morfológicas Complexas .................................................................................................................................................. 96 Tabelas Tabela 1: Demografia dos bairros localizados na área da Bacia Hidrográfica do Rio Aricanduva................................................................................................................................ 21 13 Tabela 2: Mudanças observadas nos canais fluviais e bacia hidrográfica (Indicadores Morfológicos) ........................................................................................................................... 73 Quadros Quadros 1: Classificação de eventos de natureza hidrogeomorfodinâmica ............................. 28 Quadros 2: Indicadores morfológicos....................................................................................... 35 Quadros 3: Indicadores dos materiais superficiais: formações superficiais e solos/uso físico da terra e cobertura vegetal ........................................................................................................... 35 Quadros 4: Indicadores de processos Hidrogeomorfológicos .................................................. 35 Quadros 5: Classes de Declividade .......................................................................................... 41 Quadros 6: Organização dos dados gerados ............................................................................. 49 Quadros 7: Unidades climáticas “naturais” do município de São Paulo - (I) clima tropical úmido de altitude do Planalto Paulistano ................................................................................. 58 Quadros 8: Unidades climáticas urbanas do município de São Paulo ...................................... 59 Quadros 9: Uso e cobertura da terra 1930 ................................................................................ 76 Quadros 10: Uso e cobertura da terra ....................................................................................... 79 Quadros 11: Unidades Complexas e Níveis de Perturbação 1930 ........................................... 82 Quadros 12: Unidades Morfológicas Complexas e Níveis de Perturbação 2020 ..................... 87 Gráficos Gráficos 1: Expansão urbana bacia hidrográfica rio Aricanduva ............................................. 53 Gráficos 2: Classes de declividade (%) .................................................................................... 65 Gráficos 3: Formas do relevo ................................................................................................... 65 Gráficos 4: Distribuição dos tipos de uso e ocupação em 1930 ............................................... 77 Gráficos 5: Distribuição dos tipos de uso e cobertura da terra em 2020 .................................. 80 Gráficos 6: Níveis de perturbação - 1930 ................................................................................. 86 Gráficos 7: Níveis de perturbação - 2020 ................................................................................. 91 14 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO .......................................................................................................... 15 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 16 CAPÍTULO I ................................................................................................................... 21 1. OBJETIVOS ................................................................................................................ 21 1.1.1. Objetivo geral: ....................................................................................................... 21 1.1.2. Objetivos específicos: ............................................................................................ 21 1.2. ÁREA DE ESTUDO ................................................................................................ 21 CAPÍTULO II: REFERENCIAL TEÓRICO E METODOLÓGICO ............................. 24 2. REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO ...................................................... 24 2.1. Geomorfologia .......................................................................................................... 24 2.2. Geomorfologia fluvial e processos geohidrodinâmicos ........................................... 25 2.3. Geomorfologia Antropogênica ................................................................................. 28 2.4. Cartografia geomorfológica e retrospectiva ............................................................. 30 2.5. Comportamento hidrodinâmico e unidades complexas ............................................ 36 CAPÍTULO III - PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ........................................ 39 3. PESQUISA BIBLIOGRÁFICA E CARTOGRÁFICA ............................................... 39 3.1. Reconstituição cartográfica da morfologia e hidrografia originais (ou pré-urbana) 39 3.2. Identificação e mapeamento da morfologia antropogênica em 1930 e 2020 ........... 42 3.3. Avaliação quali-quantitativa das mudanças hidrogeomorfológicas decorrentes da ação antrópica no meio físico na bacia hidrográfica do Rio Aricanduva. ............................... 46 CAPÍTULO IV: RESULTADOS .................................................................................... 52 4.1 O Além Tamanduateí: o processo de urbanização além-Tamanduateí ..................... 52 4.2. Caracterização física da área de estudo .................................................................... 55 4.2.1. Clima ..................................................................................................................... 56 4.1.2. Hidrografia original ............................................................................................... 60 4.1.3. Geologia ................................................................................................................ 62 4.1.4. Relevo .................................................................................................................... 64 4.1.5. Cobertura Vegetal Original ................................................................................... 68 4.1.6. Mudanças na hidrografia ....................................................................................... 70 4.1.7. Usos e Cobertura da Terra e Morfologia Antropogênicas ..................................... 74 4.1.8. Unidades Morfológicas Complexas e Níveis de Perturbações Hidrogeomorfológicas......................................................................................................81 4.1.9. “Essa rua tem o nome de um rio que a cidade sufocou” ...................................... 91 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 98 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 101 15 APRESENTAÇÃO A dissertação apresentada intitulada “MUDANÇAS HIDROGEOMORFOLÓGICAS DECORRENTES DA URBANIZAÇÃO NA BACIA HIDROGRÁFICA RIO ARICANDUVA, SÃO PAULO/SP”, sob a orientação da Prof. Dra. Isabel Cristina Moroz Caccia Gouveia, corresponde ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Faculdade de Ciências e Tecnologia de Presidente Prudente, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, área de concentração: Produção do Espaço Geográfico, na linha de pesquisa Dinâmicas da Natureza e vinculado ao subprojeto Fragilidade Ambiental e mudanças nas dinâmicas hidrogeomorfológicas nos meios rural e urbano, com coordenação da Prof. Dra. Isabel Cristina Moroz Caccia Gouveia. A presente dissertação está dividida da seguinte forma: elementos que compõem uma bacia hidrográfica, logo:  Introdução  Capítulo I: apresenta os objetivos da pesquisa, e a escolha da área de estudo;  Capítulo II: tem o intuito de traçar os caminhos da pesquisa a partir do referencial teórico-metodológico;  Capítulo III: apresenta os procedimentos metodológicos que foram utilizados para o desenvolvimento da dissertação;  Capítulo IV: apresenta os resultados obtidos  Considerações finais. Por fim, são apresentadas as referências bibliográficas e anexos utilizadas para a elaboração da dissertação. 16 INTRODUÇÃO “O que significa Aricanduva? Por que o rio é tão sujo? Por que essa água suja chega em casa todo dia que chove? Por que todo mundo perde alguma coisa depois da chuva? O rio sempre foi assim?” Durante toda minha infância, fazia essas perguntas ao meu pai e meu avô. Queria entender por que nos dias de chuva a água chegava até a minha casa e nas casas dos vizinhos. A culpa nesse momento ficava na conta da chuva e a curiosidade permanecia. Ao entrar na universidade comecei a ter algumas pistas que poderia responder essas questões e assim cheguei na presente dissertação que é o resultado das minhas inquietações e buscas de possíveis respostas: “Mudanças hidrogeomorfológicas decorrentes da urbanização na bacia hidrográfica Rio Aricanduva, São Paulo/SP.” A palavra Aricanduva, de acordo com a Prefeitura de São Paulo (2008) tem origem indígena da etnia tupi que significa sítio das plantas aíris, que é um determinado tipo de palmeira. O nome do rio principal da bacia hidrográfica nos revela uma característica da paisagem original. A toponímia tem como objetivo investigar a origem dos nomes de lugares, cidades, regiões. Dick (2004) destaca que as populações indígenas tinham como característica nomear lugares e afins de um modo descritivo devido à realidade vivenciada diariamente. Logo, tais denominações, nos dão dicas e descrevem como eram esses lugares, pois está diretamente ligado à história e a geografia mesmo que, atualmente, os elementos geográficos originais não estejam presente. Ao olhar hoje a situação que o rio Aricanduva e demais afluentes se encontram, bem como a paisagem da bacia hidrográfica, é quase impossível imaginar sua morfologia original 17 mesmo com as “pistas” trazidas através do seu nome. O rio hoje já não possuí nenhuma vegetação em seu entorno e muito menos, as palmeiras que lhe deram nome. De acordo com a Prefeitura de São Paulo (2015), o município é dividido em cinco regiões administrativas, no qual cada região é denominada como: zona central, zona norte, zona sul, zona oeste, zona leste. Esta pesquisa direciona suas investigações para as transformações ocorridas ao longo do processo de urbanização na bacia hidrográfica do rio Aricanduva (BHRA), situada na zona leste da cidade de São Paulo/SP. Abaixo, a figura 1 apresenta as cinco zonas administrativas: Figura 1: Regiões administrativas do município de São Paulo Elaboração: A autora 18 À medida que a mancha urbana da cidade de São Paulo se desenhou à leste, acabou intensificando as transformações nos córregos, rios, várzeas, colinas e morros, a fim de facilitar a implantação de loteamentos, vias e infraestrutura urbana. Tais obras de engenharia alteraram drasticamente o relevo, os solos e a rede de drenagem. Como consequência, temos o aumento na frequência e magnitude de enchentes, inundações e alagamentos, processos erosivos e movimentos de massa que, combinados com a situação de segregação e desigualdades socioeconômicas, pode gerar uma diversidade de riscos e vários níveis de vulnerabilidade 1 . Assim, enquanto componente do risco (VEYRET, 2007), o conceito de vulnerabilidade põe em evidência as relações entre problemáticas ambientais, sociais e urbanas, desde a sua dimensão espacial num movimento contraditório e dialético. Para Souza (2005), o espaço urbano e a cidade são produzidos através da ação de agentes sociais que são: os proprietários dos meios de produção (principalmente as grandes industrias); proprietários fundiários; promotores imobiliários; o Estado e os grupos sociais excluídos, que corresponde a uma parcela da população que não possui renda para pagar por imóveis ou alugueis, e para a qual restam habitações precárias (como cortiços, sistemas de autoconstrução, favelas ou conjuntos habitacionais fornecidos pelo agente estatal). Diante isso, é importante entender que as cidades contemporâneas, produzidas no âmbito do modelo social, econômico e político pautado no modo de produção capitalista e no neoliberalismo, têm como característica intrínseca as desigualdades que são transformadas em diferenciações socioespaciais de cunho negativo, que se expressam tanto materialmente nas condições diferenciadas e desiguais de realização da vida cotidiana, quanto subjetivamente, nas representações que baseiam os processos de identificação/diferenciação/estigmatização entre os segmentos sociais e no interior deles, pautando práticas socioespaciais cada vez mais marcadas pela negação do convívio entre os diferentes (MEDEIROS, 2010). 1 Destacamos que a presente dissertação não tem objetivo aprofundar o debate sobre vulnerabilidade na Bacia Hidrográfica Rio Aricanduva, mas apresentar pontualmente que existe tais riscos na área de estudo. 19 O argumento é importante, pois atende às leituras de que o processo de urbanização afeta diretamente a morfologia do relevo e os processos hidrogeomorfológicos, orientada por tais ações, logo a consolidação das cidades é resultado e produto da conjuntura da sociedade. Nessa condição, os ritmos sociais são inseridos e sobrepostos aos ritmos e formas naturais, transformando e ressignificando tudo que era natural em natureza social (SUERTEGARAY; NUNES, 2001). A pesquisa conduzida a partir de metodologia apoiada na Geomorfologia Antropogênica e Geomorfologia Urbana Histórica permite identificar as mudanças impostas à paisagem e ao sistema físico da Bacia Hidrográfica do Rio Aricanduva (BHRA), desde a fase pré-urbanização até a atualidade. Destacando a importância dos rios e córregos para a organização territorial preterida e a sua situação atual, além de mensurar (qualitativamente e quantitativamente) as perturbações impostas à morfologia original ou pré-urbana. Conforme afirma Rodrigues (2004), o processo de urbanização e as intervenções antrópicas no meio físico devem ser entendidos como processos geomorfológicos com a necessidade de mensuração dos efeitos em bacias hidrográficas e em sistemas fluviais como canais e planícies de inundação. Dentre as propostas de investigação de Rodrigues (2004) ressaltamos a análise da cartografia retrospectiva como um importante instrumento para a compreensão das alterações ambientais decorrentes da ação antrópica 2 e suas consequências. Diante do exposto, a presente pesquisa objetiva compreender como o processo de urbanização modificou os canais e planícies fluviais e os conjuntos interflúvios, utilizando a proposta metodológica de Rodrigues (1999, 2004, 2005, 2006, 2008 e 2010), Moroz Caccia Gouveia (2010), Luz (2014) et al. Buscando atingir esse objetivo, utilizaremos os 2 Vale destacar que ao referirmos “ação antrópica” ou “o homem como agente modificador do relevo”, entendemos que os processos de modificação são implementados pelo interesse de uma parcela pequena da população e por agentes hegemônicos, pois estamos inseridos em uma sociedade capitalista e com interesses definidos. 20 mapeamentos do Projeto SARA 3 , que é um marco histórico e é um riquíssimo acervo para compreendermos os processos de expansão da zona leste, como também identificar os aspectos físicos (morfologia dos canais fluviais, relevo, ocupação e até a vegetação) e assim gerar documentos cartográficos retrospectivos e evolutivos. E por fim, identificar como a expansão urbana à leste do município de São Paulo gerou o aumento dos riscos (aumento da magnitude das inundações, enchentes e alagamentos). 3 SARA (Società Anonima Rilevamenti Aerofotogrammetrici), é o nome da empresa italiana que venceu a concorrência para executar esse levantamento topográfico e o mapeamento sistemático da cidade de São Paulo nos anos 20 e originalmente publicado em 1930. 21 CAPÍTULO I Neste capítulo são apresentados os objetivos (geral e específicos) e a área de estudo. 1. OBJETIVOS 1.1.1. Objetivo geral: Avaliar a intensidade das intervenções antrópicas na paisagem e nos processos hidrodinâmicos da Bacia Hidrográfica do Rio Aricanduva, sob a ótica da Geomorfologia Antropogênica e Urbana Histórica. 1.1.2. Objetivos específicos:  Reconstituição cartográfica da morfologia original (ou pré-urbana);  Identificação e mapeamento da morfologia antropogênica em 1930 e 2020; e,  Avaliar quali-quantitativamente mudanças hidrogeomorfológicas decorrentes da ação antrópica na bacia hidrográfica do Rio Aricanduva. 1.2. ÁREA DE ESTUDO As nascentes do Rio Aricanduva estão localizadas no extremo da zona leste de São Paulo, limítrofe ao município de Mauá, sendo sua área de drenagem aproximadamente 103,9 km². A área da BHRA engloba 11 bairros de quatro subprefeituras distintas conforme se observa na Tabela 1. Tabela 1: Demografia dos bairros localizados na área da Bacia Hidrográfica do Rio Aricanduva Subprefeitura Bairros População Densidade demográfica (hab/km²) Penha Penha 117.691 104,15 Vila Matilde 98.173 110,31 Tatuapé 75.481 92,05 Itaquera Cidade Líder 130.255 127,7 22 Subprefeitura Bairros População Densidade demográfica (hab/km²) Parque do Carmo 69.630 45,21 São Mateus São Mateus 158.533 121,95 São Rafael 151.017 114,41 Iguatemi 126.645 64,61 Aricanduva Aricanduva 92.982 140,88 Vila Formosa 89.927 126,82 Vila Carrão 71.366 95,15 Total 1181,334 1143,24 Fonte: Prefeitura de São Paulo (2016); Org.: Silva, N. R. (2019). A Figura 2 apresenta o mapa de localização da bacia hidrográfica da Bacia do Rio Aricanduva e os bairros por ela abrangidos. 23 Figura 2: Localização da Bacia Hidrográfica Rio Aricanduva Elaboração: A autora 24 CAPÍTULO II: REFERENCIAL TEÓRICO E METODOLÓGICO O presente capítulo tem como objetivo apresentar as principais referências teóricas e metodológicas utilizadas. Entendemos que a pesquisa nunca é um processo solitário sendo necessário um aporte teórico e metodológico, no qual autoras e autores são fundamentais para a elaboração da mesma. 2. REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO 2.1. Geomorfologia Geomorfologia é o estudo do relevo, considerando os processos responsáveis pela formação e distribuição das formas. Os processos (gênese das formas) têm suas origens nas forças endógenas (forças que atuam no interior da Terra) e nas forças exógenas (forças que atuam na atmosfera). Se o relevo existe, é porque foram geradas e esculpidas pela ação de determinado processo ou grupo de processos. Dessa maneira, há um relacionamento entre formas e processos e o estudo de ambos podem ser considerados o objetivo central deste ramo do conhecimento, como as características fundamentais do sistema geomorfológico (CHRISTOFOLETTI, 1980). Entretanto, há que se considerar ainda, um terceiro elemento: os materiais. Moroz- Caccia Gouveia (2010) acrescenta que o estudo relevo está diretamente ligado ao estudo dos materiais, pois determinados processos expressam-se em diferentes formas do relevo, logo as características dos materiais também irão condicionar a ação dos processos. Assim, entende- se que a geomorfologia está diretamente ligada aos estudos dos materiais (condicionantes), processos (ação) e formas (resultado). Ao observar e analisar as formas de relevo presentes na Terra nota-se que não há homogeneidade. As forças que comandam os processos da origem e evolução da geomorfologia sejam elas endógenas, exógenas ou ainda biológicas ou antrópicas, não atuam https://www.travessa.com.br/Antonio_Christofoletti/autor/a46a0f56-c8ff-4b80-860c-b1e974fc45c7 25 de forma contínua e uniforme sobre a superfície terrestre. Portanto, o balanço de processos, e cada processo individualmente, também não agem com a mesma frequência, intensidade e magnitude, o que explica a grande diversidade de formas de relevo na superfície terrestre. (MOROZ-CACCIA GOUVEIA, 2010). Para Ross (1992) é necessário compreender a dinamicidade escala-temporal e as inter- relação dos elementos que moldam a superfície terrestre e já que as formas do relevo apresentam velocidades diferentes em sua formação, que podem ser aceleradas pela ação antrópica. Para isto Ross (1992) propõe a classificação taxonômica para a cartografia geomorfológica dividido em seis táxons: 1º táxon - unidade morfoestrutural; 2º táxon - unidades morfoesculturais; 3º táxon – unidades morfológicas ou padrões de formas semelhantes; 4º táxon – tipos de formas de relevo; 5º táxon – tipos de vertentes e o 6º táxon formas de processos atuais (como ravinas, voçorocas e afins). A sistematização dos dados para identificação das formas do relevo e os usos e ocupação da terra é importante para entender os componentes espaciais, no qual vive as sociedades. Logo, constitui-se em suporte para as interações naturais e antrópicas, assim refletindo tais interações. Temos como resultado dessas interações sociedade – relevo, a modificação de formas, materiais e processos – os três elementos possuem relações dinâmicas e devem ser estudados de maneira integrada. 2.2. Geomorfologia fluvial e processos geohidrodinâmicos A água tem como principal função na geomorfologia a modificação, esculturação do relevo e transporte de sedimentos, portanto é capaz de transformar a paisagem. A Geomorfologia Fluvial interessa-se pelo estudo das formas, processos e materiais relacionados às bacias hidrográficas, escoamento e cursos d’água (CHRISTOFOLETTI, 1980). Bacias hidrográficas são unidades naturais cujo elemento integrador está representado 26 através dos leitos fluviais ou canais de drenagens naturais (ROSS & PRETTE, 1998). Além disso, é formada por um rio principal e rios secundários (afluentes), planície de inundação e vertentes que compõem o sistema interfluvial. As redes de drenagem das bacias hidrográficas são formadas devido aos fatores físicos (geologia, clima, geomorfologia, solos e cobertura vegetal). Segundo Christofoletti (1980) o padrão de drenagem pode ser classificado em anelar, radial, paralela, retangular, treliça e dendrítica (Figura 3). De acordo com as premissas do autor a área de estudo, a bacia hidrográfica rio Aricanduva, possuí padrão de drenagem dendrítico. Figura 3: Classificação de padrões de drenagem conforme Christofoletti (1980) Fonte: Christofoletti, Antonio (1980). As planícies de inundação são formadas por aluviões e por materiais variados, depositados no canal ou fora dele, sendo encontradas em rios de diferentes grandezas. De acordo com o Christofoletti (1980): A planície de inundação é a faixa do vale fluvial composta por sedimentos aluviais, bordejando o curso de água, e periodicamente inundadas pelas águas de transbordamentos provenientes do rio. Embora esta definição seja razoável, a planície de inundação pode ser definida e delimitada por critérios diversos, conforme a perspectiva e os objetivos dos pesquisadores. Para geólogos, é a área do vale fluvial periodicamente inundada por cheias de determinadas magnitudes e frequências (nível das cheias com intervalo de recorrência de 10 anos, por exemplo); para o legislador, pode ser delimitada e definida pelo estudo do uso da terra; para o 27 geomorfólogo, a planície de inundação apresenta configuração topográfica específica, com formas de relevo e depósitos sedimentares relacionados com as águas fluviais, na fase do canal e no transbordamento.” (CHRISTOFOLETTI, 1980, p. 76). Quando o nível do canal aumenta recebendo mais águas, o rio transborda para as planícies de inundação. O leito de vazante, que está incluso no leito menor é utilizado para escoamento das águas baixas, serpenteia entre as margens do leito menor e acompanha o talvegue (que é a linha de maior profundidade ao longo do leito); o leito menor é bem delimitado e encaixado entre as margens geralmente bem definidas. O escoamento das águas nesse leito tem frequência suficiente para impedir o crescimento da vegetação e possui trechos irregulares (áreas profundas, partes retilíneas e obliquas); o leito maior periódico ou sazonal é regularmente ocupado por cheias; o leito maior excepcional é onde ocorrem as cheias mais elevadas e enchentes, ambos os processos naturais ocasionados pela hidrodinâmica (CHRISTOFOLETTI, 1980). A Figura 4 ilustra os tipos de leitos fluviais e terraços fluviais 4 . Figura 4: Tipos de leitos fluviais Fonte: http://www.rc.unesp.br/igce/aplicada/ead/interacao/inter11.html Os processos hidrogeomorfodinâmicos das bacias hidrográficas podem gerar os seguintes eventos (Quadro 1): 4 De acordo com o Dicionário Geológico Geomorfológico, terraço fluvial é: “superfície horizontal ou levemente inclinada, constituída por depósito sedimentar, ou superfície topográfica modelada pela erosão fluvial, marinha ou lacustre limitada por dois declives do mesmo sentido.” (GUERRA & GUERRA, 2008). http://www.rc.unesp.br/igce/aplicada/ead/interacao/inter11.html 28 Quadros 1: Classificação de eventos de natureza hidrogeomorfodinâmica Inundação: Representa o transbordamento das águas de um curso d’água, atingindo a planície de inundação ou área de várzea. Enchentes ou cheias: São definidas pela elevação do nível d’água no canal de drenagem devido ao aumento da vazão, atingindo a cota máxima do canal, sem extravasar. Alagamento: Acúmulo momentâneo de águas em determinados locais por deficiência no sistema de drenagem Fonte: AMARAL; RIBEIRO. (2009). Org: Silva, N.R. (2021) A figura 5 é a representação das informações contidas no Quadro 1, no qual apresenta os tipos de eventos hidrogeomorfológicos que ocorrem na BHRA. Figura 5: Eventos hidrogeomorfolóficos Fonte: Acqualis Engenharia Disponível em: . 2.3. Geomorfologia Antropogênica De um modo geral, as atividades humanas sobre o ambiente terrestre não eram levadas em consideração nos estudos geográficos até a década de 1950, embora autores como Marsh (1864) e Sherlock (1922) já apontassem caminhos para a inserção do antrópico na pesquisa geográfica e geomorfológica em fins do século XIX e início do século XX (RODRIGUES, 1997). Gregory (1992) destaca que entre 1950 e 1960, a atividade humana não despertava muita a atenção dos geógrafos, sendo as principais pesquisas realizadas a partir dos processos não modificados por tais atividades, e quando estudados, eram considerados como elemento 29 secundário. Porém, os estudos voltados aos aspectos antrópicos na Geografia Física e, em especial, na Geomorfologia, possibilitada pela adoção da abordagem sistêmica a partir da década de 1970, reflete o contexto histórico de uma época marcada por problemáticas sociais, econômicas, políticas, em que as questões ambientais não ficaram de fora. As preocupações mundiais diante desses problemas tiveram forte visibilidade também nos setores acadêmicos e científicos (MOROZ-CACCIA GOUVEIA, 2010). Conforme afirma Rodrigues (2004), o processo de urbanização e as intervenções antrópicas no meio físico devem ser entendidos como processos geomorfológicos, com a necessidade de mensuração dos efeitos em bacias hidrográficas e em sistemas fluviais como canais e planícies de inundação. Desta forma, Ross (1995) complementa: O entendimento do passado permite uma adequada “radiografia” do presente e que por sua vez possibilita antever o futuro pelo quadro tendencial. Assim sendo, é possível ter-se, na linguagem cinematográfica, os “cenários do passado”, os “cenários do presente” e os “cenários do futuro” dentro de uma perspectiva inercial ou espontânea ou ainda “cenários futuros projetados”, desde que haja intenção de interferir e redirecionar as tendências percebidas. (ROSS, 1995, p. 66). Com a consolidação da urbanização, industrialização e demais intervenções que modificaram compartimentos geomorfológicos e os processos hidrogeomorfológicos nas cidades, aliados ao sistema econômico capitalista, o meio ambiente se tornou recurso. Para que os espaços pudessem ser capitalizados para a formação e constituição de cidades, foram implantados os mais variados equipamentos urbanos que serviram para sujeitar e adequar seus atributos naturais. Assim, desconsiderando os suportes naturais, a cidade foi estruturando-se a partir de tecnologias para verticalizar, adensar e implantar sistemas de circulação, aterrando e drenando áreas úmidas, mudando cursos de rios, canalizando e retificando meandros, removendo mata nativa e outros (FURLAN, 2004). Devido à necessidade de abordagem interdisciplinar, as sistematizações e referências teóricas para a consideração do antrópico em estudos do meio físico estão localizadas, 30 predominantemente, nas obras teóricas da Geografia Física e em algumas de suas disciplinas, tal como a Geomorfologia (RODRIGUES, 1997). A partir da abordagem sistêmica e da utilização de ferramentas clássicas, como a cartografia geomorfológica e o monitoramento de processos, Rodrigues (2005, 2008, 2010), Moroz-Caccia Gouveia (2010), Luz (2014) dentre outros, vêm desenvolvendo, por meio de análises de documentos iconográficos e levantamentos históricos, além de técnicas em geomorfologia aplicada e urbana, procedimentos para avaliação dos graus de intervenção antrópica da urbanização em sistemas geomorfológicos urbanizados de SãoPaulo. Silveira &Lupinacci (2019) destacam que a geomorfologia antropogênica pode contribuir para a compreensão espacial das formas de relevo e para a identificação das mudanças que ocorrem ao longo do tempo em áreas urbanizadas, no qual podem auxiliam na projeção de áreas potencialmente problemáticas no futuro. 2.4. Cartografia geomorfológica e retrospectiva Ao estudar Geomorfologia Antropogênica, é necessária a delimitação de uma dada área e a realização de um levantamento histórico sob a ótica da análise da paisagem e da geomorfologia, a fim de entender os processos que ali ocorreram e ocorrem e quais são as consequências atuais. Desta forma, é utilizada a cartografia geomorfológica e evolutiva, geoindicadores e categorias de análise para quantificar e qualificar os eventos da área em questão. Ainda segundo Rodrigues et al. (2014), esta metodologia foi gestada por testes e por uma ampla revisão da literatura em geomorfologia, na qual foram selecionados inúmeros autores com proposições para o estudo das ações antrópicas no meio físico, particularmente dos processos de urbanização. Dentre eles, destacam-se referência de geomorfologia antropogênica (NIR, 1983; GOUDIE, 1984; GREGORY; WALLING, 1987; DOUGLAS, 1983; SZABÓ et al. 2010), referência sobre mapeamento geomorfológico (SAVIGEAR, 31 1965; TRICART, 1965), além de autores que adotam abordagem histórica em geomorfologia fluvial (WOLMAN, 1967; HOOKE; KAIN, 1982; PETTS et al. 1989; GOUDIE; VILES, 1997; GREGORY et al., 1992; CRUTZEN, 2002; GURNELL et al., 2003; BENITO; THORNDYCRAFT, 2004; TRIMBLE 2008). A maior parte dos estudiosos propõe a necessidade de se reconstruírem os cenários geomorfológicos representativos de fases anteriores, contemporâneas e posteriores às intervenções antrópicas e destacam o fato de que as ações antrópicas que acompanham os processos de urbanização devem ser consideradas ações geomorfológicas diretas e efetivas (DOUGLAS; LAWSON, 2000). Destacam ainda a relevância e a adequação do aparato geomorfológico na análise das mudanças dos sistemas físicos urbanizados com o oferecimento de um quadro referencial para o estudo retrospectivo destes sistemas (RODRIGUES; COLTRINARI, 2004). Segundo Rodrigues (2005), a diferença fundamental para outras abordagens é a consideração da própria interferência antrópica como ação geomorfológica, ação essa que pode: modificar propriedades e localização dos processos e gerar, de forma direta e indireta, outra morfologia, aqui denominada de morfologia antropogênica. Cabe salientar que, para o desenvolvimento dos produtos cartográficos, deve-se respeitar e prestar atenção quanto à escala a ser utilizada e seu conteúdo. No caso de mapas geomorfológicos detalhados e semi-detalhados (1:10.000 a 1:50:000), o principal conteúdo deve ser as formas de relevo concretas e suas partes, que é feita pela decomposição destas formas em superfícies geneticamente homogêneas (DEMEK, 1967). De acordo com Rodrigues (2005) as morfologias originais ou semipreservadas, correspondem às áreas dotadas de cobertura vegetal (áreas de preservação permanente, matas, campos, vegetação de várzeas, reflorestamentos, áreas verdes urbanas) com pouca ou 32 nenhuma intervenção antrópica; e com formas originais ou semipreservadas dos canais fluviais; e morfologias antropogênicas, correspondem às áreas altamente modificadas pela ação antrópica, geralmente ocasionada pelos processos de urbanização e especulação imobiliária. Para a análise do comportamento hidrodinâmico das morfologias semipreservadas e morfologias antropogênicas, temos que compreender quais são as causas e consequências das perturbações no meio físico, ou seja, como o comportamento hidromorfodinâmico pode ser modificado. Na busca pela compreensão da ação antrópica como agente modificador do relevo, Rodrigues (2005) destaca que é necessário: a. Observar as ações humanas como ações geomorfológicas na superfície terrestre; b. Investigar nas ações humanas padrões significativos para a morfodinâmica; c. Investigar a dinâmica e a história acumulativa das intervenções humanas, iniciando com os estágios pré-perturbação; d. Empregar diversas e complementares escalas de espaço – temporais; e. Empregar e investigar as possibilidades da cartografia geomorfológica de detalhe; f. Explorar a abordagem sistêmica; g. Usar a noção de limiar geomorfológica e a análise de magnitude e frequência; h. Dar ênfase à análise integrada em sistemas geomorfológicos; i. Levar em consideração as particularidades dos contextos morfoclimáticos e morfoestruturais; 33 j. Ampliar o monitoramento de balanços, taxas e geografia dos processos derivados e não derivados de ações antrópicas. Dentre os dez parâmetros de ação antrópica como agente modificador do relevo apresentados por Rodrigues (2005) destacamos os itens: (a) Observar as ações humanas como ações geomorfológicas na superfície terrestre; (b) Investigar nas ações humanas padrões significativos para a morfodinâmica; (c) Investigar a dinâmica e a história acumulativa das intervenções humanas, iniciando com os estágios pré-perturbação; (d) Empregar diversas e complementares escalas de espaço – temporais e (e) Empregar e investigar as possibilidades da cartografia geomorfológica de detalhe. Parâmetros utilizados ao longo da dissertação, a fim de atingir os objetivos proposto. Além das consequências citadas que o processo de urbanização provoca no meio físico, com as modificações e alterações no relevo, canais e planícies fluviais, temos o aumento da problemática ambiental e social como resultados desses processos, ou seja, o risco socioambiental. Para Mendonça (2011): Neste contexto a abordagem dos riscos socioambientais urbanos pode ser concebida como um novo paradigma, na medida em muda o foco da compreensão da lógica de produção e reprodução socioespacial; ou seja, ela atesta a inserção de uma nova base de análise na relação sociedade – natureza, pois salta de uma base de certeza e estabilidade para uma outra de incerteza e de instabilidade quanto à repercussão dos processos naturais e sociais do espaço geográfico. Veyret (2007), assim como Dubois-Maury e Chaline (2002) dentre inúmeros outros estudiosos desta temática são concordantes em conceber o risco segundo três dimensões distintas, porém muitas vezes complementares entre si, quais sejam os riscos naturais, os riscos tecnológicos e os riscos sociais. (MENDONÇA, 2011, p.155). Ao analisar as alterações da ação antrópica no ambiente entende-se que o risco e a vulnerabilidade são resultados sociais, e podem ser mensurados e cartografados, já que se espacializam. Para Mendonça (2011), a dimensão dos riscos tem sua expressão espacial e são temporalmente datados, o que os torna uma temática atual para a geografia. Neste caso é necessária uma abordagem geográfica, pois os riscos estão diretamente ligados aos diversos elementos que compõem o espaço geográfico e alteram a paisagem. Por fim, tais estudos 34 podem dar possibilidades de aplicação do conhecimento gerado no planejamento ambiental e urbano para mitigação ou para as identificações de problemáticas. De acordo com Moroz-Caccia Gouveia (2010), para identificar a morfologia original é necessário conhecer os princípios gerais da cartografia geomorfológica em escalas de detalhe. Rodrigues (2001) complementa que a utilização de mapas históricos e cartas topográficas como aquelas resultantes do levantamento topográfico (por exemplo, o Projeto SARA de 1930), fotografias e gravuras históricas bem como as primeiras fotografias aéreas podem oferecer informações, ainda que parciais, sobre a distribuição espacial das morfologias pré- intervenção. O levantamento dos materiais cartográficos e icnográficos deve ser realizado junto a arquivos de órgãos públicos e privado. O município de São Paulo possuí um grande acervo com materiais iconográficos, vale destacar o Arquivo Público do Estado de São Paulo, Arquivo Histórico Municipal, Acervo Aguirra, Centro de Memória da Câmara de São Paulo, dentre outros. Para identificar e cartografar a morfologia antropogênica Rodrigues (2001), apresenta a necessidade de uma cartografia evolutiva abrangendo as sequências cronológicas de intervenções dos processos de “urbanização” e demais processos que modificam a morfologia original até o estado atual. Os documentos resultantes de sensoriamento remoto como as imagens de satélite possuem informações variadas que permitem realizar análises tridimensionais, com auxílio de Sistema de Informação Geográfica (SIG). Os resultados foram interpretados e analisados de acordo com os indicadores e parâmetros de análise propostos por Rodrigues (2010). Assim, a autora utilizou os seguintes indicadores morfológicos; indicadores dos materiais superficiais: formações superfícies e solos/uso físico da terra e cobertura vegetal; e indicadores de processos 35 hidrogeomorfológicos. Dentre os inúmeros parâmetros de análise elencados pela autora, destacamos nos Quadros 2, 3 e 4 aqueles que deverão ser utilizados na presente pesquisa: Quadros 2: Indicadores morfológicos Sistema Indicador Natureza / Escala Parâmetro Medida Instrumentos Básicos Planícies de inundação AO/MD Área m² ou km² Cartografia Geomorfológica Retrospectiva Canais Fluviais AO / MD Comprimento m/km/década/ano/mês Cartografia Geomorfológica Retrospectiva Canais Fluviais AO / MD Padrão m ou km/ano/mês/ padrão Cartografia Geomorfológica Retrospectiva Sistema Indicador Natureza / Escala Parâmetro Medida Instrumentos Básicos Bacias hidrográficas AO / MD Área / forma/localização m² ou km² /década/ ano/ mês Cartografia Geomorfológica Retrospectiva Nota: Indicadores e instrumentos para a avaliação de impacto e mudanças em sistemas hidrogeomorfológicos urbanizados. (NATUREZA DO INDICADOR: ORIGINAL OU PRÉ-ANTROPOGÊNICO = O./ ANTROPOGÊNICO = A.; - ESCALA ESPACIAL DO INDICADOR: MÉDIA = M; DE DETALHE= D). Fonte: RODRIGUES (2010) e MOROZ–CACCIA GOUVEIA (2010); Adaptado: SILVA (2015). Quadros 3: Indicadores dos materiais superficiais: formações superficiais e solos/uso físico da terra e cobertura vegetal Indicador Natureza Parâmetro Medidas Instrumentos Básicos Cobertura Vegetal AO / DM Área / sistema / tempo m²/Km²/década Cartografia (documentos antigos e recentes, imagens de satélite/mosaicos e campo) Solos Impermeabilizados A / DM Área / tempo Km²/mês/ano/década Cartografia (documentos antigos e recentes, imagens de satélite/mosaicos e campo) Solos Perturbados (superfícies expostas/cortes e terraplanagens) A / DM Área / tempo Km²/mês/ano/década Cartografia (documentos antigos e recentes, imagens de satélite/mosaicos e campo) Superfícies Urbanizadas (contínuas) A / DM Área / tempo Km²/mês/ano/década Cartografia (documentos antigos e recentes, imagens de satélite/mosaicos e campo) Superfícies urbanizadas (descontínua) A / DM Área / tempo Km²/mês/ano/década Cartografia (documentos antigos e recentes, imagens de satélite/mosaicos e campo) Nota: Indicadores e instrumentos para a avaliação de impacto e mudanças em sistemas hidrogeomorfológicos urbanizados. (NATUREZA DO INDICADOR: ORIGINAL OU PRÉ-ANTROPOGÊNICO = O./ ANTROPOGÊNICO = A.; - ESCALA ESPACIAL DO INDICADOR: MÉDIA = M; DE DETALHE= D). Fonte: RODRIGUES (2010) e MOROZ–CACCIA GOUVEIA (2010); Adaptação: SILVA (2015). Quadros 4: Indicadores de processos Hidrogeomorfológicos 36 Nota: Indicadores e instrumentos para a avaliação de impacto e mudanças em sistemas hidrogeomorfológicos urbanizados. (NATUREZA DO INDICADOR: ORIGINAL OU PRÉ-ANTROPOGÊNICO = O./ ANTROPOGÊNICO = A.; - ESCALA ESPACIAL DO INDICADOR: MÉDIA = M; DE DETALHE= D). Fonte: RODRIGUES (2010) e MOROZ–CACCIA GOUVEIA (2010); Adaptação: SILVA (2015). Tais indicadores direcionam para um maior nível de detalhamento para a interpretação, sistematização, análise dos dados e documentos cartográficos. Vale ressaltar que a elaboração dos documentos cartográficos temáticos permite a realização de análises qualitativas e quantitativas. Além das avaliações de caráter qualitativo, acerca das mudanças nas formas, materiais e nos processos em função da urbanização, os produtos cartográficos permitem ainda análises espaciais quantitativas que, a partir de indicadores, possibilitam a avaliação de mudanças (MOROZ-CACCIA GOUVEIA, 2010). 2.5. Comportamento hidrodinâmico e unidades complexas Desse modo, dentre várias possibilidades de análises qualitativas e quantitativas, por exemplo, será possível quantificar o grau de artificialidade dos canais fluviais, através da mensuração de mudanças no comprimento e padrão, impostas por retificações; a supressão de planícies de inundação ou a perda de suas funcionalidades no amortecimento de picos de vazão; a substituição de áreas com tendência à infiltração por áreas com tendência ao escoamento superficial e suas implicações no aumento de ocorrências de enxurradas, alagamentos e inundações. A figura 6 apresenta, de forma sintética, o comportamento hidrodinâmico em morfologias originais e morfologias antropogênicas: Indicador Natureza Parâmetro Medidas Instrumentos Básicos Balanços de Tipos de Fluxos hídricos em sistemas de vertentes AO/DM Participação relativa /Tipo de fluxo/tempo/área/sistema Percentuais/tipo/dia/mês/ano década/m²/km²/sistema Cartografia, Pesquisa documental e monitoramento 37 Figura 6: Fluxograma de comportamento hidrodinâmico Fonte: Moroz-Caccia Gouveia (2017). Rodrigues (2004, 2005), Moroz-Caccia Gouveia (2010, 2017), Luz (2010, 2014), destacam a importância do mapeamento das unidades morfológicas complexas para compreensão e mensuração do comportamento hidrodinâmico na bacia hidrográfica. Tais unidades são obtidas através da sobreposição de informações do uso ocupação da terra e morfologias originais (ou pré perturbação). Rodrigues (2005) destaca que a identificação de unidades morfológicas complexas é uma importante ferramenta para o planejamento urbano, pois através da combinação e sobreposição dos elementos (morfologia original e morfologias antropogênicas) temos como resultado a espacialização das tendências dos processos hidrodinâmicos. Os estudos desenvolvidos por Rodrigues (2010, 2005, 2011), Moroz – Caccia Gouveia (2010, 2017) e Luz (2010, 2014), dentre outros, ao definir os valores para as unidades morfológicas complexas de acordo com o grau de derivação em relação às unidades morfológicas originais permitem identificar os diferentes níveis de perturbação morfológica; 38 classificar qualitativativamente (tendências espaciais); quantitativamente (por área) e, por fim, identificar as características hidrodinâmicas (como tendência ao escoamento superficial concentrado ou difuso) e o grau de conservação ambiental. A aplicabilidade da metodologia desenvolvida pelos autores auxilia na compreensão das mudanças em comportamentos hidromorfodinâmicos de acordo com a tipologia antropogênica, podendo ser utilizada para o planejamento ambiental, de caráter preventivo e para recuperação de áreas (RODRIGUES, 2005). 39 CAPÍTULO III - PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Este capítulo refere-se ao desenvolvimento da pesquisa bibliográfica e cartográfica para a caracterização da área de estudos e os mapeamentos efetuados que serão apresentados no próximo capítulo que contém os resultados. 3. PESQUISA BIBLIOGRÁFICA E CARTOGRÁFICA Esta etapa consistiu em uma revisão bibliográfica sobre o processo histórico de ocupação urbana e as principais características físicas da área de estudo. Foram selecionados aspectos julgados importantes para um melhor entendimento da dinâmica natural do sistema físico (clima, geologia, geomorfologia, e cobertura vegetal original). Utilizou-se como fontes principais de pesquisa da evolução da ocupação urbana: Rolnik; Frúgoli Jr, (2001), Delí (2010), Mendes (1958). Para a caracterização do meio físico, utilizou-se o Atlas Ambiental do município de São Paulo (PMSP/SMVMA/SEMPLA, 2002), Ross & Moroz, (1997); Moroz-Caccia Gouveia (2010), Ab’Saber (2007), Jardim (2007), Conti (2007), Simas (2017); bases cartográficas disponibilizadas no DataGeo 5 , GeoSampa 6 , Topodata 7 . 3.1. Reconstituição cartográfica da morfologia e hidrografia originais (ou pré-urbana) Para identificação das feições e morfologia original ou pré-perturbação inicialmente foi elaborado um mapa geomorfológico utilizando-se a classificação automatizada Geomorphons, proposta por Jasiewicz & Stepinski (2013). A classificação pode ser feita na ferramenta online Geomorphons (http://sil.uc.edu/geom/app) ou no QGis (módulo r.geomorphon), a partir da extração de 5 https://datageo.ambiente.sp.gov.br/ 6 http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/ 7 http://www.dsr.inpe.br/topodata/ http://sil.uc.edu/geom/app 40 dados topográficos do modelo digital do terreno SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) disponibilizados pelo Projeto Topodata, do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE). Moroz-Caccia Gouveia & Ross (2019) inspirados por Robaina et al (2016; 2017) e Silveira (2018) utilizaram a classificação automática Geomorphons para identificação dos elementos das formas de relevo, que correspondem ao 5º táxon, de acordo com a proposta de classificação taxonômica do relevo, proposta por Ross (1992). Ao utilizar a ferramenta Geomorphons temos como resultado 10 feições diferentes através de pontos cotados (Figura 7), sendo necessário reclassificar de acordo com a realidade da área e para tanto utilizamos a Carta Geotécnica do município de São Paulo, de 1993, em escala 1:10.000, resultante de trabalho conjunto entre a Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA), Secretaria Municipal de Habitação (SEHAB) e Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de são Paulo (IPT) disponibilizadas em GeoSampa (em formato shape), Mapa de declividades produzido na pesquisa e cartas topográficas do Projeto S.A.R.A. Brasil, de 1930, escala 1:5.000, por exemplo, para distinguir áreas planas que podem corresponder à topos e patamares aplanados daquelas que correspondem à planícies e terraços fluviais. Figura 7: Elementos das formas de relevo obtidos dos Geomorphons Fonte: Adaptado de Silveira, C. T. & Silveira, R. M. P (2018) 41 Para a elaboração do mapa de declividade foram utilizadas imagens SRTM (Shuttle Radar Topography Mission), processadas através do software ArcGis 10.3 utilizando-se a ferramenta Slope. Para a definição das classes de declividades foi utilizada a metodologia apresenta por Ross (1994) “Análise Empírica da Fragilidade dos Ambientes Naturais e Antropizados”. Desse modo, foram definidos os seguintes intervalos quadro 5: Quadros 5: Classes de Declividade Classes de declividades 0 - 2% 2 - 6% 6 -10% 10 - 20% 20 – 30% Acima de 30% Fonte: Ross (1994) Para a obtenção da hidrografia original, além da análise dos dados SRTM, também utilizou-se as cartas topográficas do Projeto S.A.R.A. Brasil, de 1930, escala 1:5.000, cujos procedimentos de obtenção, tratamento e vetorização serão melhor detalhados no item 3.2.3. Nesses documentos cartográficos, grande parte da rede hidrográfica pode ser considerada como original, pois não apresentavam alterações como retificações, canalizações ou tamponamentos. Entretanto, foi necessário inferir a partir da interpretação das morfologias originais, o traçado original de alguns poucos canais fluviais mais próximos à foz, pois os mesmos já haviam sido alvo de intervenções em 1930. Além do Mapa da Morfologia Original e o Mapa da Hidrografia Original, nessa etapa também foi produzido o Mapa da Cobertura Vegetal Original, a partir da compilação do Mapa das Regiões Fitoecológicas do PROJETO RADAMBRASIL (Levantamento de Recursos Naturais, FOLHAS SF.23/24, em escala 1:250.000), disponível em DataGeo (http://datageo.ambiente.sp.gov.br/app/?ctx=DATAGEO#). http://datageo.ambiente.sp.gov.br/app/?ctx=DATAGEO 42 3.2. Identificação e mapeamento da morfologia antropogênica em 1930 e 2020 Para a identificação da morfologia antropogênica de 1930, foram utilizadas as cartas topográficas de 1930, mapeamento realizado pelo Projeto S.A.R.A , escala 1:5.000, extraídas do acervo online Arquivo Histórico de São Paulo (disponível em: htt://www.arquiamigos.org.br/info/info37/i-mosaico5000.htm). Lima (2013), destaca que a representação e posição relativas obtida através das cartas topográficas realizadas pelo S.A.R.A. é bastante fiel as feições ainda existes no munícipio de São Paulo, como veremos a seguir. Figura 8 apresenta o mosaico das cartas topográficas do Projeto S.A.R.A disponíveis no Arquivo Histórico de São Paulo. Figura 8: Mosaico com as cartas topográficas S.A.R.A Fonte: Acervo online Arquivo Histórico de São Paulo (disponível em: htt://www.arquiamigos.org.br/info/info37/i-mosaico5000.htm). Para realizar o mapeamento das feições das cartas topográficas, o primeiro passo consistiu em fazer o download das cartas que correspondem a bacia hidrográfica:  Faixa 1 com as cartas topográficas números 39, 40 e 41; http://www.arquiamigos.org.br/info/info37/i-mosaico5000.htm http://www.arquiamigos.org.br/info/info37/i-mosaico5000.htm 43  Faixa 2 com as cartas topográficas números 53, 54, 55 e 56;  Faixa 3 com as cartas topográficas números 68, 69, 70, 70, 71 e 72;  Faixa 4 com as cartas topográficas números 77-78 e 78-79. As imagens correspondentes às cartas topográficas estão em formato JPG. Logo o segundo passo foi formatá-las para TIF. (raster) e iniciar os procedimentos no ambiente SIG (Sistema de Informação Geográfica). Para o terceiro passo utilizamos o ArcGis para realizar o georreferenciamento das imagens. Para tal utilizamos 22 pontos notáveis no conjunto de cartas topográficas e com a imagem de satélite gerada pelo ArcGis, como veremos abaixo na figura 9: Figura 9: Pontos notáveis Elaboração: As autoras (2021) Para exemplificar o que seria os pontos notáveis destacamos o ponto 1, no qual podemos identificar o traçado do arruamento na Vila Japão, tanto na imagem de satélite, quanto na 44 carta topográfica. Ao longo do georreferenciamento utilizamos a mesma técnica em encontrar semelhanças. O quarto passo refere-se ao tratamento das imagens (raster) utilizando as ferramentas do ArcGis (data management tools > raster > raster dataset > copy raster). Após o tratamento das imagens para corrigir eventuais erros, iniciamos o quarto passo que é a criação de uma única camada raster, através da ferramenta mosaic e inserir as coordenadas geográficas, que foi utilizada em todo projeto: SIRGAS 2000 23S. A Figura 10 apresenta a articulação das cartas topográficas, com destaque em vermelho da BHRA, e numeração das cartas correspondentes. Figura 10: Organização das cartas topográfica S.A.R.A escala 1:5.000 Fonte: Acervo online Arquivo Histórico de São Paulo, organizado pela autora. 45 Para o refinar o mapeamento das cartas topográfica e principalmente a área de estudo foi necessária efetuar o recorte da área de estudos através da ferramenta extract by mask (spatial analyst tools > extract > extract by mask > inserir o shapefile da bacia hidrográfica > e o mosaico). Após todos esses procedimentos iniciou-se a vetorização das feições que constam nas cartas topográficas. Na figura 11 apresenta a legenda das cartas topográficas: Figura 11: Convenções cartográficas 1930 Fonte: Carta topográfica número 77-78 (S.A.R.A 1930) As principais feições encontradas na área de estudo foram drenagem (rios e córregos), uso e ocupação da terra (matas, capoeiras, vegetação de várzea, meandros abandonados), planícies fluviais, arruamentos e via férrea. Assim, para o mapeamento das morfologias antropogênicas e hidrografia de 1930, foram extraídas das cartas SARA informações referentes ao uso e cobertura da terra e 46 hidrografia, identificando retificações efetuadas. Deste modo, foram produzidos os mapas de uso e cobertura da terra de 1930 e mapa hidrográfico de 1930. Para identificação das feições hidrográficas e morfologias antropogênicas de 2020 foram utilizadas imagens de satélite do Google Earth Pro, referentes ao ano de 2020 e para a confirmação das mesmas utilizamos o Google Street View. Após a identificação das feições procedeu-se a vetorização no ambiente SIG através do ArcGis 10.3. Assim, nesta etapa foram produzidos os mapas de uso e cobertura da terra de 2020 e mapa hidrográfico de 2020. 3.3. Avaliação quali-quantitativa das mudanças hidrogeomorfológicas decorrentes da ação antrópica no meio físico na bacia hidrográfica do Rio Aricanduva. Para analisar quantitativamente as mudanças na BHRA, utilizamos os softwares ArcGis® e QGis, pois estes Sistema de Informação Geográfica (SIG) permitem a sobreposição, correlação e quantificação dos dados gerados; também o Google Earth que possibilita o uso de imagens de satélite. Assim, com base nos indicadores selecionados, os resultados expressos em gráficos e tabelas, permitem a análise das mudanças ocorridas no sistema hidrogeomorfológico da área de estudo. Para a avaliação das mudanças nos padrões e comprimento dos canais fluviais e nas bacias hidrográficas (Indicadores morfológicos – Quadro 2) procedeu-se a comparação entre a hidrografia original e mapas hidrográficos de 1930 e 2020. Para avaliar mudanças ocorridas na BHRA, ainda referentes aos Indicadores morfológicos, foram analisados os mapas da geomorfologia original e mapas de uso e cobertura da terra de 1930 e 2020, para identificar e quantificar a supressão dessas áreas ao longo do processo de ocupação urbana. O mesmo procedimento permitiu ainda a avaliação de mudanças referentes aos Indicadores dos materiais superficiais: formações superficiais e solos/uso físico da terra e cobertura vegetal (Quadro 3). 47 Para as análises relativas aos Indicadores de processos Hidrogeomorfológicos (Quadro 4) e para definir tipos de fluxos hídricos em sistemas de vertentes foram utilizados os seguintes mapas: Mapa da Morfologia Original, Mapa da Cobertura Vegetal Original, Mapas de Uso e Cobertura da Terra (1930 e 2020) Os procedimentos para quantificar e qualificar os processos hidrodinâmicos originais e antropogênicos (infiltração, escoamento difuso e concentrado) na Bacia Hidrográfica Rio Aricanduva, basearam-se em Rodrigues (2004, 2005), Moroz – Caccia Gouveia (2010) e Luz (2014). Os autores citados apresentam modelos de cálculo para identificar as tendências hidrodinâmicas graus de perturbação em suas áreas de estudo. Deste modo, foram produzidos Mapa das Unidades Morfológicas Complexas e Níveis de Perturbações Hidrogeomorfológicas 1930 e Mapa das Unidades Morfológicas Complexas e Níveis de Perturbações Hidrogeomorfológicas 2020. Para o desenvolvimento do Mapa de Unidades Morfológicas Complexas 1930 foram utilizados o Mapa de Morfologia Original e a o Mapa de Uso e Cobertura da Terra de 1930, onde foram utilizadas as morfologias originais ou semi-preservadas e as morfologias antropogênicas, sendo que tais sobreposições indicam os Níveis de Perturbação Hidrogeomorfológicas. Desta forma, com a finalidade de elaborar mapas que apresentem as tendências de infiltração e escoamento, aplicou-se a sobreposição ponderada. A sobreposição foi feita através da ferramenta Weighted overlay (Spatial Analyst Tools> Overlay> Weighted overlay) presente no ArcGis. Utilizou-se duas variáveis: elementos das formas de vertentes (morfologia original), uso e ocupação da terra. A atribuição de pesos (valores) foi dada de acordo com a tendência de escoamento e infiltração de cada variável para identificar o grau de perturbação. 48 A figuras 12 apresenta um fluxograma dos procedimentos operacionais para realizar os cálculos e sobreposições para a elaboração dos Mapas de Unidades Morfológicas Complexas e Níveis de Perturbação Hidrogeomorfológicas de 1930. Figura 12: Fluxograma para identificação de unidades morfológicas complexas e graus de perturbação 1930. Elaboração: A autora, 2021. . Para o mapa de Unidades Morfológicas Complexas e Níveis de Perturbações Hidrogeomorfológicas 2020 o procedimento basicamente foi o mesmo, porém utilizou-se o Mapa deUuso Predominante do Solo, disponibilizado pelo GeoSampa, o qual atualizamos de acordo com as imagens de satélite fornecidas pelo ArcGis e Google Earth. Tal sobreposição indicou os Níveis de Perturbação Hidrogeomorfológicas, como está representado na figura 13. Figura 13: Fluxograma para grau de perturbação 2020 49 Elaboração: A autora, 2021. Por fim, o Quadro 6 apresenta a organização dos dados cartográficos utilizados ou gerados (nome da camada produzida, sistema de projeção e datum utilizados, o tipo de arquivo (formato) e a elaboração/fonte dos dados. Vale destacar que essa quadro evidência a importância de cada elemento para a elaboração dos mapeamentos propostos. Quadros 6: Organização dos dados gerados ORGANIZAÇÃO DOS DADOS GERADOS CAMADA PROJEÇÃO E DATUM TIPO DE ARQUIVO ELABORAÇÃO/FONTE Delimitação regiões administrativas do município de São Paulo SIRGAS 2000 e UTM zone 23S Shapefile/ vetorial GeoSampa (http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SB C.aspx) Delimitação BHRA (2020) SIRGAS 2000 e UTM zone 23S Shapefile/ vetorial GeoSampa (http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SB C.aspx) Delimitação BHRA (Original) SIRGAS 2000 e UTM zone 23S Shapefile/ vetorial Elaborado pela autora Drenagem SIRGAS 2000 e UTM zone 23S Shapefile/ vetorial GeoSampa (http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SB C.aspx) Bairros BHRA SIRGAS 2000 e UTM zone 23S Shapefile/ vetorial GeoSampa (http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SB C.aspx) Imagem de Satélite UTM zone 23S Tiff/matricia l 10.3 ArcMap/ESRI Litológico/Geotécni co SIRGAS 2000 e UTM zone 23S Shapefile/ vetorial Desenvolvido pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo), Prefeitura de São Paulo e Secretária Municipal de Desenvolvimento Urbano, Secretária de Planejamento, Habitação. Disponível em: GeoSampa (http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SB C.aspx); Declividade SIRGAS 2000 e UTM zone 23S Tiff/matricia l Elaborado pela autora Modelo Digital de Elevação - Relevo Sombreado SIRGAS 2000 e UTM zone 23S Tiff/matricia l TOPODATA - Banco de Dados Geomorfométricos - DSR/INPE http://www.webmapit.com.br/inpe/topodata/ http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx 50 CAMADA PROJEÇÃO E DATUM TIPO DE ARQUIVO ELABORAÇÃO/FONTE Drenagem Original SIRGAS 2000 e UTM zone 23S Shapefile/ vetorial Elaborado pela autora Geomorfologia Original SIRGAS 2000 e UTM zone 23S Shapefile/ vetorial Elaborado pela autora Drenagem 1930 SIRGAS 2000 e UTM zone 23S Shapefile/ vetorial Elaborado pela autora (vetorizado a partir das Cartas topográfica SARA 1930 - http://www.arquiamigos.org.br/info/info37/i- mosaico5000.htm) Rio Tietê 1930 SIRGAS 2000 e UTM zone 23S Shapefile/vet orial Elaborado pela autora (vetorizado a partir das Cartas topográfica SARA 1930 - http://www.arquiamigos.org.br/info/info37/i- mosaico5000.htm) Meandros Abandonados SIRGAS 2000 e UTM zone 23S Shapefile/ vetorial Elaborado pela autora (vetorizado a partir das Cartas topográfica SARA 1930 - http://www.arquiamigos.org.br/info/info37/i- mosaico5000.htm) Canais Modificados 1930 SIRGAS 2000 e UTM zone 23S Shapefile/ vetorial Elaborado pela autora (vetorizado a partir das Cartas topográfica SARA 1930 - http://www.arquiamigos.org.br/info/info37/i- mosaico5000.htm) Vegetação de Várzea – Brejos 1930 SIRGAS 2000 e UTM zone 23S Shapefile/ vetorial Elaborado pela autora (vetorizado a partir das Cartas topográfica SARA 1930 - http://www.arquiamigos.org.br/info/info37/i- mosaico5000.htm) Sub-bacia SIRGAS 2000 e UTM zone 23S Shapefile/ vetorial Elaborado pela autora Rio Tietê 2020 SIRGAS 2000 e UTM zone 23S Shapefile/ vetorial Elaborado pela autora (vetorizado a partir das imagens de satélite Google Earth e ArcMap/ESRI) Reservatório Amortecimento 2020 SIRGAS 2000 e UTM zone 23S Shapefile/ vetorial GeoSampa (http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SB C.aspx) Canais semipreservados com vegetação arbórea SIRGAS 2000 e UTM zone 23S Shapefile/ vetorial Elaborado pela autora (vetorizado a partir das imagens de satélite Google Earth e ArcMap/ESRI) Canais tamponados e/ou fechados SIRGAS 2000 e UTM zone 23S Shapefile/ vetorial Elaborado pela autora (vetorizado a partir das imagens de satélite Google Earth e ArcMap/ESRI) Canais abertos e retificados SIRGAS 2000 e UTM zone 23S Shapefile/ vetorial Elaborado pela autora (vetorizado a partir das imagens de satélite Google Earth e ArcMap/ESRI) Capoeira SIRGAS 2000 e UTM zone 23S Shapefile/ vetorial Elaborado pela autora (vetorizado a partir das Cartas topográfica SARA 1930 - http://geosgb.cprm.gov.br/geosgb/downloads.html) 51 CAMADA PROJEÇÃO E DATUM TIPO DE ARQUIVO ELABORAÇÃO/FONTE Matas SIRGAS 2000 e UTM zone 23S Shapefile/ vetorial Elaborado pelaautora (vetorizado a partir das Cartas topográfica SARA 1930 - http://geosgb.cprm.gov.br/geosgb/downloads.html) Via Férrea SIRGAS 2000 e UTM zone 23S Shapefile/ vetorial Elaborado pela autora (vetorizado a partir das Cartas topográfica SARA 1930 - http://geosgb.cprm.gov.br/geosgb/downloads.html) Fase inicial de urbanização SIRGAS 2000 e UTM zone 23S Shapefile/ vetorial Elaborado pela autora (vetorizado a partir das Cartas topográfica SARA 1930 - http://geosgb.cprm.gov.br/geosgb/downloads.html) Urbanização consolidada SIRGAS 2000 e UTM zone 23S Shapefile/ vetorial Elaborado pela autora (vetorizado a partir das Cartas topográfica SARA 1930 - http://geosgb.cprm.gov.br/geosgb/downloads.html) Via CPMT/METRÔ SIRGAS 2000 e UTM zone 23S Shapefile/ vetorial GeoSampa; atualização elaborado pelas autoras (vetorizado a partir das imagens de satélite Google Earth e ArcMap/ESRI) Urbanização Consolidada (2020) SIRGAS 2000 e UTM zone 23S Shapefile/ vetorial GeoSampa; atualização elaborado pelas autoras (vetorizado a partir das imagens de satélite Google Earth e ArcMap/ESRI - ) Gramíneas (2020) SIRGAS 2000 e UTM zone 23S Shapefile/ vetorial GeoSampa; atualização elaborado pelas autoras (vetorizado a partir das imagens de satélite Google Earth e ArcMap/ESRI) Cobertura arbórea (2020) SIRGAS 2000 e UTM zone 23S Shapefile/ vetorial GeoSampa; atualização elaborado pelas autoras (vetorizado a partir das imagens de satélite Google Earth e ArcMap/ESRI) Solo exposto (2020) SIRGAS 2000 e UTM zone 23S Shapefile/ vetorial GeoSampa; atualização elaborado pelas autoras (vetorizado a partir das imagens de satélite Google Earth e ArcMap/ESRI) Regiões Fitoecológicas SIRGAS 2000 e UTM zone 23S WMS/matric ial DataGeo (http://datageo.ambiente.sp.gov.br/geoserver/datageowms/o ws?SERVICE=WMS&) Uso predominante do do solo SIRGAS 2000 e UTM zone 23S Shapefile/ vetorial GeoSampa; atualização elaborado pelas autoras (vetorizado a partir das imagens de satélite Google Earth e ArcMap/ESRI) Níveis de perturbação SIRGAS 2000 e UTM zone 23S Shapefile/ vetorial Elaborado pelas autoras Expansão Urbana SIRGAS 2000 e UTM zone 23S Shapefile/ vetorial GeoSampa; atualização elaborado pelas autoras (vetorizado a partir das imagens de satélite Google Earth e ArcMap/ESRI) Unidades climáticas naturais e urbanas Não consta Imagem jpeg GeoSampa; atualização elaborado pelas autoras Organização/Elaboração: A autora, 2021. 52 CAPÍTULO IV: RESULTADOS 4.1 O Além Tamanduateí: o processo de urbanização além-Tamanduateí Em 1554 os jesuítas fundam a vila de São Paulo de Campos de Piratininga, atualmente localizada no centro histórico de São Paulo. A vila é fundada estrategicamente nas colinas do divisor de águas do rio Tamanduateí e Anhangabaú, pois deste local era possível ter uma visão das áreas de várzeas. Por um longo período a cidade de São Paulo delimitava todo o processo de urbanização no que chamamos hoje de centro histórico ou centro velho. Todas as atividades e vida urbana ali aconteciam. “Além-Tamanduateí” é uma expressão que indica dois processos, o primeiro refere-se à espacialidade e o segundo à importância da hidrografia enquanto obstáculo a ser transposto pela mancha urbana, pois essa expressão referia-se à planície de inundação do rio Tamanduateí e terrenos na margem direita do Rio Tamanduateí, que correspondiam a áreas de chácaras ou à área rural do núcleo urbano, à leste da cidade. Como vimos em Moroz-Caccia Gouveia (2010), toda a várzea fora drenada em 1920, acarretando a supressão das planícies fluviais, criando novos terrenos disponíveis para a industrialização e, sobretudo, transpondo um obstáculo à expansão urbana para leste. Andrade (2002) destaca que no final do século XIX a cidade de São Paulo recebeu um grande contingente de imigrantes, incentivado e promovido pelo governo brasileiro, e surgem então os primeiros bairros “além-Tamanduateí” que são o Brás, Mooca e Belenzinho. Como características principais esses bairros apresentavam uma grande concentração de fábricas e, portanto, eram bairros operários. Outra atividade importante à incorporação do que hoje chamamos de zona leste ao tecido urbano foi a linha férrea que fazia a conexão entre São Paulo e o Rio de Janeiro. O fato determinante para a instalação da então chamada “São Paulo Railway” foram os aspectos do meio físico. Ab’Sáber (1957) destaca que os engenheiros ferroviários procuraram terrenos 53 mais enxutos pertencentes aos terraços fluviais e baixas colinas. Desde modo inicia-se a ocupação da foz do rio Aricanduva e o aumento do tecido urbano à leste. Na figura 14 podemos observar que ao longo do processo histórico a bacia hidrográfica aos poucos é ocupada. Figura 14: Expansão urbana bacia hidrográfica rio Aricanduva Elaboração: Autoras Destacamos que as primeiras ocupações ocorrem em 1905, porém observa-se a partir de 1930, a ocupação mais efetiva ao longo da linha férrea e nos anos posteriores a mancha urbana ocupando a média e alta bacia. No gráfico 1 observamos as áreas em Km² que foram incorporadas à mancha urbana. Gráficos 1: Expansão urbana bacia hidrográfica rio Aricanduva 54 Elaboração: a autora, 2021. A estruturação socio-territorial da zona leste se desenvolveu inicialmente de forma dispersa, na qual uma série de núcleos se espalhou ao longo do caminho que ligava São Paulo ao Rio de Janeiro, através da antiga ferrovia Central do Brasil no final do século XIX (ROLNIK; FRÚGOLI JR, 2001). Tal estruturação revela que essa porção da cidade era conhecida como “lado de lá” da várzea do Carmo e da ferrovia Santos–Jundiaí onde foram implementadas indústrias, definindo assim uma forte barreira entre o centro e a ocupação periférica, onde ao longo do século XX, foram criadas moradias de trabalhadores em loteamentos irregulares (ROLNIK; FRÚGOLI JR, 2001). De acordo com Mendes (1958 apud DELI, 2010), a ocupação urbana no local que hoje chamamos de zona leste tinha como limite o Ribeirão do Tatuapé 8 que tinha como aspecto um povoamento disperso e linear. 8 Atualmente o Tatuapé é um bairro localizado na zona leste de São Paulo. 0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35 0,4 0,45 0,5 0,55 0,6 1905 1914 1930 1950 1962 1972 1983 1995 2001 2020 K m ² Expansão urbana BHRA Ocupação urbana 55 O processo de urbanização da zona leste ocorreu de modo lento, porém a partir dos anos 60 e 70 houve uma aceleração com as construções da Avenida Radial Leste e posteriormente com a implantação da linha vermelha do Metrô, em 1979. Tais obras consolidaram o eixo de expansão em direção ao fundo de vale do rio Aricanduva (ROLNIK; FRÚGOLI JR, 2001). Assim, a incorporação da zona leste à mancha urbana da cidade de São Paulo ocorreu, sendo orientada a partir dos canais fluviais e morfologias da bacia hidrográfica Delí (2010) afirma que tal comportamento também ocorreu em relação à consolidação e integração do Vale do Aricanduva com a abertura da avenida com o mesmo homônimo, segundo o autor: A consolidação da integração do baixo com o alto vale do Aricanduva foi a avenida Aricanduva, implantada, como obra de fundo de vale, em três segmentos consecutivos: o primeiro, construído de 1976 a 1979, fez a ligação da Marginal Tietê (através de um extenso viaduto) e da Radial Leste com a av. Itaquera (compreendendo todo o trecho do baixo vale); o segundo segmento subiu o médio vale, seguindo até a ponte da av. Afonso de Sampaio e Souza, na primeira metade dos anos 80; o terceiro e último segmento subiu parte do alto vale.” (DELI, 2010, p. 111). À medida que a mancha urbana da cidade de São Paulo se desenhou à leste em direção a bacia hidrográfica rio Aricanduva, intensificaram-se as transformações nas vertentes, córregos, rios, várzeas, colinas e morros a fim de facilitar a implantação de loteamentos, vias de circulação e obras de mobilidade. Tais obras de engenharia alteraram drasticamente o relevo, os solos e a rede de drenagem. Como consequência, temos o aumento na frequência e magnitude dos chamados problemas urbanos, por exemplo, as enchentes, as inundações, os alagamentos, os processos erosivos e os movimentos de massa. 4.2. Caracterização física da área de estudo 56 4.2.1. Clima O Estado de São Paulo apresenta clima tropical sendo caracterizado por temporada de chuvas durante o verão e seca no inverno, sendo a temperatura média superior a 22º C no mês mais quente (qual o mês mais quente). De acordo com Conti (2007) a cidade de São Paulo tem sua normal térmica entre 19,3ºC e regime de chuvas em duas fases distintas, entre outubro e março com precipitação de 66,1% do total anual e 33,9% entre abril e setembro. Jardim (2007) destaca que a participação dos sistemas atmosféricos “Transparece pela quantidade e sucessão temporal: a exceção do anticiclone dos Açores e dos sistemas equatoriais, este último ligado geneticamente à Zona de Convergência Intertropical e à região dos “Doldruns” do interior da Amazônia, todos os demais sistemas atmosféricos atuantes sobre o território brasileiro participam, em maior ou menor grau, consoante à época do ano, na estruturação do clima local da bacia paulistana”. Tais elementos apresentados por Conti (2007) e Jardim (2007), são sistemas atmosféricos que atuam na cidade de São Paulo. Tarifa & Armani (2001) nos apresentam o conceito de “unidades climáticas” divididas naturais e urbanas, e estabelecem uma análise do clima do município de São Paulo através de fatores geomorfológicos, regimes pluviométricos e uso e ocupação da terra. Unidade climática natural Tarifa & Armani (2001) distinguem cinco unidades climáticas naturais no município de São Paulo: (I) clima tropical úmido de altitude do Planalto Paulistano; (II) clima tropical serrano da Cantareira – Jaraguá; (III) clima tropical úmido de altitude do Alto Juqueri; (IV) clima tropical suboceânico super úmido do reverso do Planalto Atlântico e (V) clima tropical oceânico superúmido da fachada oriental do Planalto Atlântico, que são subdividas. 57 Destaca-se a unidade climática – clima tropical úmido de altitude do Planalto Paulistano (I), pois tal unidade corresponde à área de estudo. Na figura 15, temos o recorte do mapa produzido por Tarifa & Armani (2001), no qual destacamos a área corresponde a BHRA (Mapa: Munícipio de São Paulo – Unidades Climáticas Naturais completo está inserido no Anexo 1) Figura 15: Unidades climáticas naturais - recorte BHRA Fonte: Adaptado de Tarifa & Armani (2001) No quadro 7 temos as características climáticas descritas por Tarifa & Armani (2001), onde destacam-se as subunidades que compõe a área de estudos. 58 Quadros 7: Unidades climáticas “naturais” do município de São Paulo - (I) clima tropical úmido de altitude do Planalto Paulistano Controles Climáticos Atributos Climáticos Características Fundamentais Mesoclimas/ Topoclimas Altutude (m) Relevo Temperatura (ºC) Pluviosidade (mm) Média Máx. Mín. Totais médias anuais Máx. diários Forma I A1 800 - 950 Maciços, serras e morros do Alto Aricanduva e Itaquera 19,3 – 18,7 24,9 – 24,3 15,5 – 14,9 1400 – 1450 100 – 150 Média a alta declividade. Boa ventilação e dispersão de poluentes. Temperaturas amenas I B4 740 – 800 Terraços, colinas e patamares do Tamanduateí e Aricanduva 19,6 – 19,3 25,2 – 24,9 15,8 – 15,5 1400 – 1480 100 – 125 Forte aquecimento diurno nos terraços e patamares planos a sub- planos. Dispersão de poluentes razoável a ruim. Boa ventilação com ventos de leste a sudeste I C4 720 – 740 Várzeas e baixos terraços do Vale do Aricanduva 19,7 – 19,6 25,3 – 25,2 15,9 – 15,8 1450 – 1470 110 – 125 Elevada estabilidade atmosférica noturna e matinal, com nevoeiros e acumulação de ar frio neste período. Ventos fracos, calmarias e inversões térmicas próximas do solo. Forte aquecimento diurno. Dispersão ruim de poluentes. Boa ventilação com ventos SE e NW. Fonte: Adaptado de Tarifa & Armani (2001) A subunidade I A1 corresponde ao alto curso do rio Aricanduva, e limite com o município de Mauá. A subunidade I B4 corresponde ao médio curso e a subunidade I C4 corresponde ao baixo curso, já na foz e encontro com o rio Tietê. Unidade climática urbana Tarifa & Armani (2001) apresentam as unidades climáticas urbanas, nas quais o uso e ocupação da terra é um fator determinante para a classificação e são especializadas em duas unidades que são: (I) unidade climática urbana central e (II) unidade climática periférica. Na figura 16 temos o recorte do mapa produzido por Tarifa & Armani (2001), no qual destacamos a área corresponde a BHRA (Mapa: Município de São Paulo – Unidades Climáticas Urbanos está inserido no Anexo 2). Figura 16: Unidades Climáticas Urbanos - recorte BHRA 59 Fonte: Adaptado de Tarifa & Armani (2001). Sendo que a área de estudo está inserida nas duas unidades climáticas, conforme o quadro 8: Quadros 8: Unidades climáticas urbanas do município de São Paulo Unidades Climáticas Controles Climáticos Temp. Estimada pelo Satélite LANNDSAT 7 (ºC) Local/Mes o Meso Topo/ Micro Uso do solo predominante % de áreas verdes Setembro Abril Temp. Predominan te (ºC) Variação de temp. (ºC) Temp. Predominant e (ºC) Variação de temp. (ºC) I – Unidade climática urbana central F – Além do Tamanduateí 1 Res. – Baixo Mooca/Tatuapé Muito pequena 32 29 - 33 30 29 – 32 2 Vert. Anália Franco Pequena 28 27 - 31 28 27 – 31 3 Cemitério Vila Formosa Média 32 29 - 32 28 28 – 30 60 4 Res. – Baixo Penha/Vila Matilde Muito pequena 31 29 -32 29 29 - 31 II – Unidade climática urbana periférica A – Da zona leste 1 Res. Baixo/Favela – São Miguel Paulista Muito pequena 30 29 - 32 29 28 – 31 2 Vert. Conj. Hab Muito pequena 30 29-32 28 28-30 3 Res. Baixo/Favela – Cidade Líder Pequena 29 28-32 28 26-30 4 Indus. Média a grande 28 28-31 28 26-29 5 Res. Baixo/Favela – Sapopemba/S. Mateus Muito pequena 32 29-32 29 28-31 6 Res. Baixo/Favela – C.Tiradentes/Guaiana zes Média 28 28-31 28 26-29 7 Pq. Do Carmo Dominante 26 25-29 23 23-29 8 Pq. Ecológico do Tietê Dominante 23 25-29 23 23-28 Fonte: Adaptado de Tarifa & Armani (2001) O processo de urbanização não ocorre de modo homogêneo nas cidades e podemos identificar tais desigualdades no uso e ocupação da terra. Tarifa & Armani (2001) destacam que clima e o seu conjunto de interações físicas, biológicas, humanas e sociais fazem parte dessa totalidade e assim devem ser compreendidos. 4.1.2. Hidrografia original As nascentes do Rio Aricanduva estão localizadas no extremo da zona leste de São Paulo, limítrofe ao município de Mauá, sendo que a BHRA apresenta a área de drenagem de aproximadamente 103,9km² atualmente. A Figura 17 apresenta a hidrografia original da BHRA. Figura 17: Hidrografia original bacia hidrográfica rio Aricanduva – São Paulo 61 Elaboração: As autoras, 2021 62 Ressalta-se que originalmente a BHRA ocupava 100,2 Km². Porém, após a retificação do Rio Tietê junto à foz do Rio Aricanduva, em meados da década de 50, sua área aumentou de 100,2km² para 103,9km² (tabela 2) com a incorporação de uma pequena bacia hidrográfica que drenava diretamente para o Rio Tietê. Tais modificações serão melhor discutidas adiante. 4.1.3. Geologia Simas (2017) destaca na BHRA a presença de três grupos litológicos que são: Sedimentos Terciários; Sedimentos Quaternários e rochas de embasamento cristalino pré- Cambriano. De acordo com Ab’Saber os sedimentos terciários (Tc), correspondem a pacotes de sedimentos de idade terciária e solos predominantemente argilosos e espessos da Bacia Sedimentar de São Paulo; já o embasamento cristalino corresponde aos maciços de solos e rochas xisto-micáceas (Xm) que são um conjunto de rochas e solos originados de xistos (rocha metamórfica rica em minerais micáceos com estrutura foliada) e por fim os sedimentos quaternários correspondem às planícies e terraços fluviais (áreas de fundo de vale com baixa declividade). A Figura 18 apresenta o Mapa dos Grupos Litológicos. Figura 18: Mapa dos Grupos Litológicos 63 Elaboração Nayara Rodrigues da Silva 64 Os materiais que originaram a formação da Bacia Sedimentar de São Paulo estão relacionados aos processos da abertura do oceano Atlântico. A depressão formada nas rochas cristalinas foi sendo preenchido por sedimentos transportados e depositados pelo rio Tietê e seus afluentes (COLTRINARI, 2006). Como já apresentamos, o rio Aricanduva é um afluente da margem do rio Tietê, tendo como característica um perfil transversal nitidamente assimétrico devido ao relevo e à formação geológica, na qual o rio Aricanduva “se encaixou” no bordo SSE do maciço granítico de Itaquera e ao longo do seu curso entra em contato com sedimentos terciários (AB’SABER, 1957). 4.1.4. Relevo De acordo com o Mapa Geomorfológico do Estado de São Paulo (ROSS; MOROZ, 1997) e Moroz-Caccia Gouveia (2010), grande parte da zona leste está inserida na unidade morfoescultural Planalto de São Paulo, que corresponde à Bacia Sedimentar de São Paulo, além de pequenas áreas originalmente correspondentes às Planícies Fluviais (ambas morfoesculturas pertencentes à unidade Morfoestrutural Bacias Sedimentares Cenozóicas). Secundariamente, apresenta também áreas correspondentes aos terrenos cristalinos da unidade Morfoestrutural Cinturão Orogênico do Atlântico, cuja unidade morfoescultural denomina-se regionalmente Planalto Atlântico e, localmente, Planalto Paulistano. De acordo com. Ab’Saber (2007) o rio Aricanduva é orientado na direção de SE para NW, e sua bacia hidrográfica apresenta altas colinas próximas ao bairro da Penha e nas demais áreas dominam colinas terraceadas e colinas tabulares suavizadas, além de terraços, e planícies fluviais. As nascentes do Rio Aricanduva localizam-se próximo ao limite dos municípios de São Paulo e Mauá, nos terrenos cristalinos do pré-Cambriano. A Figura 19 apresenta o Mapa de declividades, onde se observa a predominância de declividades medianas, sendo que apenas na parte superior da bacia hidrográfica e porções da 65 margem direita do Rio Aricanduva, apresentam declividades mais acentuadas. Como podemos ver no gráfico 2: Gráficos 2: Classes de declividade (%) Elaboração: A autora. Como podemos verificar no gráfico 2 a BHRA tem como característica a predominância de 6 – 10% de declividade. Na Figura 20, Mapa de Morfologias Originais, se observam topos alongados das colinas, a predominância de vertentes convexas e as áreas de planícies fluviais e terraços longo dos principais canais fluviais. No gráfico 3 a distribuição das formas de relevo. Gráficos 3: Formas do relevo Elaboração: A autora. 66 Figura 19: Mapa de declividade Elaboração: A autora. 67 Figura 20: Mapa de morfologias originais Elaboração: A autora. 68 4.1.5. Cobertura Vegetal Original De acordo com o mape