Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 1 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “Júlio de Mesquita Filho” FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES E COMUNICAÇÃO - FAAC CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE BAURU Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI Aluna: LUDMILLA RIGHI ORSI Orientador: Prof. PAULO MASSERAN DEZEMBRO 2009 Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 2 LUDMILLA RIGHI ORSI ARQUITETURA E UTOPIA: O CONTEXTO HISTÓRICO E O URBANISMO NO SÉCULO XXI Monografia apresentada ao curso de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo, da Universidade Júlio de Mesquita Filho (UNESP) como requisito parcial para obtenção da graduação em Arquitetura. Orientador: Prof. Paulo Roberto Masseran BAURU - SP 2009 Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 3 Ao homem de caráter, que deixou em meu coração saudades, mas uma infinita vontade de querer crescer e vencer, sempre, José Eduardo Orsi (in memoriam). Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 4 Agradecimentos Em primeiro lugar, agradeço a Deus que me deu de uma maneira tão real e sublime, me deu forças e alegrias para que eu pudesse trilhar esse caminho e chegar ao final como uma vencedora. Agradeço a ti, Jesus, por fazer do meu coração uma tela na qual o Senhor tem desenhado uma linda história. Obrigada por me consolar e trazer refrigério a minha alma nos momentos em que eu somente podia fitar os meus olhos em Ti. Não posso deixar de agradecer àqueles que me propiciaram a vida e são a base fundamental de toda a minha existência meus pais – Sueli e José Eduardo. O caminho não foi fácil, muitas vezes os olhos limitados cercearam a visão de um futuro certo e cheio de esperança, mas mesmo assim, sustentados por uma força divina, chegamos ao final agraciados pela conclusão deste curso. À minha irmã que mesmo distante ajudou-me a transpor cada obstáculo desta corrida. À minha avó- Zenaide. Que desprendeu horas e anos a me dedicar cuidado e amor Ao meu amado Flávio que esteve sempre ao meu lado. Obrigada pelo amor incondicional e destemido, pelo companheirismo, amizade e todos os momentos de dedicação e zelo. Não posso esquecer os conselhos e carinhos que recebi de meu tio Zé, você foi fundamental em toda a trajetória de lutas e alegrias. Aos demais familiares pela compreensão quando, por muitas vezes, não estive presente, mas que sempre estiveram ao meu lado, com amor e torcida. Quero agradecer às amigas: Silvia e Giovanna. Que sempre estiveram ao meu lado, sempre dispostas a me ouvir e ajudar. Aos queridos professores, que incansavelmente indicaram o caminho, ensinaram além dos livros, tornando-se amigos e não apenas mestres. Aos meus colegas de faculdade, agradeço pelo companheirismo e amizade oferecidos e acolhidos ao longo destes cinco anos. Aos amigos distantes, quero deixar registrado que as lembranças sempre me trouxeram paz e coragem para continuar a prosseguir, sei que mesmo de longe há uma torcida sempre. Por fim, ao professor e orientador Paulo Masseran e à professora Cláudia, por serem atenciosos, desprendendo um tempo de suas vidas para analisarem todo o trabalho de conclusão de curso. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 5 “A grua está sempre ali, de modo que a cidade pode continuamente construir e reconstruir a si mesma.” (Cook, P. 1964) Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 6 Resumo O objetivo principal desta pesquisa é analisar projetos contemporâneos de urbanismo futurista, estudar representantes anteriores desse pensamento e realizar uma comparação entre eles, buscando possíveis semelhanças e diferenças. Esse trabalho pretende levantar questionamentos em relação ao projeto urbano, estudando o passado e o contemporâneo. Palavras chave Urbanismo utópico, planejamento urbano, futurismo. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 7 Sumário 1. Introdução.........................................................................9 2. Revisão Bibliográfica......................................................11 3. Antecedentes do Urbanismo Utópico 3.1. Thomas Morus.....................................................................17 4. Representantes do Urbanismo Utópico 4.1. Robert Owen......................................................................21 4.1.1. Conceitos Teóricos 4.1.2. Análise Projetual 4.2. Charles Fourier..................................................................28 4.2.1. Conceitos Teóricos 4.2.2. Análise Projetual 4.3. William Morris...................................................................34 4.4.1. Conceitos Teóricos 4.4.2. Análise Projetual 4.4. San’t Elia............................................................................37 4.5.1. Conceitos Teóricos 4.5.2. Análise Projetual 4.5. Frank Lloyd Wright..........................................................41 4.5.1. Conceitos Teóricos 4.5.2. Análise Projetual 4.6. Le Corbusier.......................................................................45 4.6.1. Conceitos Teóricos 4.6.2. Análise Projetual 4.7. Archigram...................................................................... 47 4.7.1. Conceitos Teóricos 4.7.2. Análise Projetual 5. Projetos Contemporâneos 5.1. Dong Tan.........................................................................52 Conceitos Teóricos e Projeto 5.2. Santa Giulia.................................................................58 Conceitos Teóricos e Projeto 5.3. Masdar City................................................................67 Conceitos Teóricos e Projeto 6. Consulta Internacional “Le Grand Pari”....................75 6.1. Objetivos do Concurso 6.2. Regras do Concurso 6.3. Equipes Participantes 6.4. Equipe Atelier Portzamparc....................................82 Conceitos Teóricos e Projeto 6.5. Considerações....................................................................93 7. Considerações Finais ..............................................................96 8. Bibliografia...................................................................... Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 8 Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 9 1. Introdução A reflexão sobre o espaço urbano é antiga e de relevância, pois ela é a base para as ações sobre a cidade, que influenciam diretamente a vida do homem. A condição das metrópoles suscita o desejo de melhorar a qualidade urbana, agindo sobre moradias, transportes, ecologia e muitos outros fatores que atuam na cidade. O tema Utopia foi escolhido porque a expressão da arquitetura futurista é um campo de experimentação e crítica, onde os significados sobre lugares e sociedades são produzidos, legitimados e contestados. O Futurismo, enquanto linguagem pioneira se afirma nas primeiras décadas do século XX, como conseqüência do fortalecimento do objeto industrializado e da indústria cultural, contribuindo para o surgimento de linguagens inovadoras nas artes, design e na arquitetura. A metodologia adotada consiste em realizar uma revisão bibliográfica pertinente ao tema e uma análise de todo material obtido. A primeira parte deste projeto se concentrou na busca de referências sobre os temas: urbanismo utópico, futurismo italiano e projetos arquitetônicos. Informações obtidas em diversos livros, textos acadêmicos, artigos e internet. O trabalho será dividido em quatro partes: Revisão Bibliográfica, Representantes do Urbanismo Utópico, Projetos Contemporâneos e Considerações Finais. Na revisão bibliográfica buscou-se fazer uma introdução ao tema do urbanismo, por meio de uma contextualização histórica. Os itens seguintes apresentaram uma abordagem mais detalhadas sobre os principais representantes do urbanismo utópico, em diversos períodos. Essa abordagem serviu de base teórica para uma compreensão dos projetos contemporâneos, em especial a Consulta Internacional “Le Grand Pari”. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 10 Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 11 2. Revisão Bibliográfica A partir do século XIX, a Revolução Industrial teve um papel crucial na formação das cidades. As necessidades dessa nova economia levaram à transformação dos centros urbanos, sendo que a maior delas foi devido ao grande crescimento populacional. As cidades, muitas fundadas no sistema feudal, não estavam preparadas para receber a enorme demanda populacional, vinda, principalmente, do campo, para o trabalho na indústria. O que se seguiu foi o surgimento de bairros insalubres, sem a infra-estrutura básica. A condição precária dos bairros habitados pela classe proletária suscitou, em vários pensadores, o desejo de criar melhoras efetivas na qualidade urbana e, conseqüentemente, na qualidade de vida. “A sociedade industrial é urbana. A cidade é o seu horizonte. Ela produz as metrópoles, conurbações, cidades industriais, grandes conjuntos habitacionais. No entanto, fracassa na ordenação desses locais (…)” 1 Século XIX Os primeiros estudos se encaixam no modelo progressista que tem como principais pensadores Robert Owen, Charles Fourier, Jean Baptiste Godin. Fazem uma feroz crítica à sociedade industrial contemporânea e têm uma visão otimista do progresso futuro. Possuem em comum a característica de criar um homem-tipo com necessidades-tipo, que poderiam ser interpretadas pela ciência. Como o indivíduo humano é um modelo, seria possível a criação de modelos urbanos ideais, que atenderiam às necessidades de qualquer sociedade. Os diversos modelos criados eram repressivos com 1 Choay, Françoise. O Urbanismo: utopias e realidades, uma antologia. Tradução Dafne N. Rodrigues. 5ª edição. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2002. Pág. 01. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 12 rígidas ordens geométricas espaciais e rígidas normas de convivência social, apesar de possuírem um discurso de liberdade.2 O modelo culturalista, ao contrário do anterior, considerava as particularidades de cada indivíduo, tornando-o único na sociedade. Parte de uma análise critica da História, comparando a situação atual com o passado, e adotam como base de seus conceitos a cultura. Principais representantes são John Ruskin e William Morris. Como preceitos pode-se citar um menor rigor com a conduta moral, e na arquitetura não deveria existir padrão ou modelo a ser seguido, cada construção deve se diferenciar da outra pela sua originalidade. O traçado urbano não é geométrico, Morris defende a irregularidade e a assimetria. 3 Na esfera política Marx e Engels propuseram uma nova leitura da cidade, considerando-a o lugar onde se passa a história. Defendiam a revolução com a implantação do socialismo e, posteriormente, do comunismo. Consideravam impossível prever e planejar a cidade futura. Vislumbravam, somente, que a diferença entre campo e cidade deixaria de existir. 4 No final do século XIX, surgiu outra linha de pensadores urbanos nos Estados Unidos, que tomados um sentimento nostálgico da natureza, propuseram um “antiurbanismo”, porque, diferentemente da Europa, o passado do continente americano é marcado pela colonização da floresta nativa. O território urbano foi criticado incessantemente e as propostas se concentravam em buscar um retorno ao “estado rural”. Não produziram nenhum modelo urbano, porém seus pensamentos influenciaram o urbanismo americano o século XX. 5 2 Idem Op. Cit. Pág. 10. 3 Idem Op. Cit. Pág. 12 a 14. 4 Idem Op. Cit. Pág. 15 e 16. 5 Idem Op. Cit. Pág. 17. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 13 Século XX Com a consolidação do sistema capitalista, o termo urbanismo passa a ter um novo significado: a busca, em teoria e em prática, por intervenções urbanas aplicáveis. Deixa também de ter uma preocupação essencialmente socialista e politizada. Surgiu uma nova corrente progressista, cujos principais representantes são Tony Garnier, Walter Gropius e Le Corbusier. Mas e a partir de 1928 que o movimento ganha força internacional através das publicações do grupo C.I.A.M. O interesse passa a ser sobre a estética e a técnica, não mais social e política: é necessária uma mudança na tipologia urbana, unindo tecnologia e arte. 6 Esses novos urbanistas preconizavam a higiene, utilizando amplos espaços verdes e uma preocupação com a insolação em seus projetos; a eficácia, propondo uma ordem rigorosa a cada função urbana; e a beleza, que seriam as formas simples e geométricas. A imagem de um homem-tipo7 influenciou a Carta de Atenas, que determinava as necessidades humanas universais: habitar, trabalhar, locomover e lazer. Com base nesse pensamento, Le Corbusier defendia a necessidade da criação de protótipos: unidades de morar, de trabalho, de circulação, de lazer. 8 A “cidade radiosa” retoma os conceitos fourierista, à medida que oferece os mesmos serviços coletivos e o conceito de rua galeria. Diferencia-se com a proposta do edifício vertical, ao invés do horizontal, e do apartamento-tipo, com funções pré-determinadas pelo projetista. 9 Uma nova versão do modelo culturalista tem como fundadores Camilo Sitte, Ebenezer Howard e Raymond Unwin. Os preceitos ideológicos são: o conjunto social prevalece sobre o individuo; o conceito cultural 6 Idem Op. Cit. Pág. 18. 7 Visão dos progressistas antigos. 8 Idem Op. Cit. Pág. 24. 9 Idem Op. Cit. Pág. 24 e 25. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 14 de cidade sobre o conceito material; a aproximação com a natureza (conceito de cidade-jardim); e a valorização exagerada do passado. A metrópole é refutada, propõe que o espaço urbano deveria ser limitado para uma quantidade de pessoas e deveria ser delimitado por um cinturão verde, para impedir o crescimento desordenado ou a união de duas ou mais cidades. 10 A simetria geométrica dos progressistas é vista de maneira negativa. A multiplicidade urbana e a particularidade de cada construção são exaltadas, consideradas essenciais para a qualidade plástica da cidade.11 Durante a década de 1930, um novo modelo naturalista nasce da corrente antiurbana americana, é radicalmente utópica e foi elaborado por F. L. Wright, com o nome de Broadacre-City. Ele acredita que a metrópole é um agente alienante e somente o contato com a natureza pode fazer o indivíduo se tornar consciente. Acredita em uma democracia social, não no sentido político, onde cada indivíduo poderia agir livremente como lhe conviesse. A partir desses princípios ideológicos a proposta de Wright é a eliminação da idéia de cidade e a arquitetura deve ser “subordinada” a natureza. 12 Propõe um sistema acêntrico, composto por uma rede de circulação e edifícios pontuais, adaptados à topografia do terreno e preservando a natureza. Esse modelo “orgânico” poderia ser construído em qualquer lugar no planeta Terra. 13 O Movimento Futurista se afirma nas primeiras décadas do século XX, como uma linguagem pioneira, e como conseqüência do fortalecimento do objeto industrializado e da indústria cultural. Contribuiu para o surgimento de linguagens inovadoras nas artes e na arquitetura. Definia um futuro de completa modernidade, onde modernidade significava industrialização. 10 Idem Op. Cit. Pág. 27. 11 Idem Op. Cit. Pág. 28. 12 Idem Op. Cit. Pág. 30. 13 Idem Op. Cit. Pág. 31. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 15 Com o fim da Segunda Guerra Mundial, muitos países entraram em um período de expansão econômica e tecnológica, impulsionando o desenvolvimento de meios de transporte e comunicação. Com a ida do homem à Lua e a descoberta de novas tecnologias até então impensáveis, as pessoas voltaram-se para um ideal futurista. Nos anos 60, surgiu o grupo Archigram, que suas propostas inovadoras repercutiram por todo o mundo, redefinindo a maneira de entender e de lidar com a arquitetura. Os seus projetos procuravam antever e moldar o ambiente futuro, com propostas criativas na qual o campo da realidade se encontrava com o imaginário da ficção científica. Eles idealizaram arquiteturas que se fundamentavam em idéias e princípios que estavam intrinsecamente relacionados às transformações provocadas pelos novos sistemas de transporte, pelos novos sistemas de comunicação e de informação e pelas novas tecnologias eletrônicas. 14 É a sustentabilidade que entra em foco das reflexões de desenvolvimento urbano, no final deste século. O conceito de desenvolvimento sustentável surge para lidar com as questões do impacto humano sobre o meio ambiente e é alimentado por várias correntes de pensamentos a partir dos anos 70. A primeira tem relação com o trabalho do Clube de Roma publicado sob o título de “Limites do Crescimento”, em 1972, que propõe medidas radicais como o congelamento do crescimento populacional e da indústria, para conseguir a estabilidade econômica e ecológica. A segunda é pautada na critica à sociedade contemporânea, que se disseminou com a Conferência de Estocolmo, em 1972. Desde então muitos estudos e projetos estão sendo propostos no sentido de alcançar o equilíbrio entre o crescimento urbano, o avanço tecnológico e o meio ambiente. 15 14 Silva, Marcos S. K. Redescobrindo a arquitetura do Archigram Texto disponível em: http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp231.asp Acesso: 20/05/09, 23:28hs. 15 Jacobi, Pedro R. Meio ambiente e sustentabilidade. São Paulo: CEPAM, 199, pág. 175-184. Diponível:http://www.scribd.com/full/7506458?access_key=key-i2yjzf8buz2iw58y3pt Acesso: 08/11/09, 17:20hs. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 16 Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 17 3. Thomas Morus (1478 – 1535) A Ilha da Utopia O livro se organiza a partir de um relato (fictício) feito à Morus pelo viajente Rafael de Hitlodeu viajante e aventureiro, de nacionalidade portuguesa. Rafael descreve com detalhes sua à Ilha da Utopia. A terra de Utopia nem sempre foi uma ilha. Após conquistar o território, Utopus conseguiu o feito de “humanizar uma população grosseira e selvagem”, com mão de obra de seu exército e de indígenas, transformou o território em uma ilha, protegida por um golfo perigoso, no qual somente os utopianos sabem navega-lo com segurança. A ilha de Utopia tem 54 cidades “espaçosas e magníficas”, todas as cidades são idênticas, “quem conhece uma cidade, conhece todas, porque todas são semelhantes, tanto quanto a natureza do lugar permita.”16 Possuem o mesmo plano urbanístico, os mesmo hábitos, mesma linguagem. Amaurota é a cidade central e capital do país, nela fica a seda do governo e do senado. “Amaurota se estende em doce declive sobre a vertente de uma colina. Sua forma é quase um quadrado. Começa a estender-se em pouco acima do cume da colina, prolongando-se cerca de dois mil passos sobre as margens do rio Anidra, alargando-se à medida que vai margeando o rio.” 17 As cidades são circundadas por altas muralhas, com torres na sua extensão. As ruas e praças são convenientemente dispostas seja para o transporte, seja para abrigar-se do vento. “Os edifícios são construídos 16 Morus, T. A Utopia. Tradução Luís de Andrada. Ed. EDIPRO. Bauru, 1994. 17 Idem, pág. 65. Figura 01: Ilha da Utopia. Disponível:http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/i mages/utopia5.jpg Acesso: 17/11/09, 11:57hs. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 18 confortavelmente” 18, ao redor e atrás das casas existem amplos jardins, cultivados e cuidados com pelos moradores. As casas eram de três andares, elegantes, com paredes externas de pedra ou tijolo. “Os habitantes de Utopia aplicam aqui o principio da posse comum. Para abolir a idéia da propriedade privada individual e absoluta, trocam de casa todos os dez anos e tiram a sorte da que lhes deve caber na partilha”19 A idéia de acabar com a propriedade individual é fortemente defendida por Morus, ele afirma que somente quando acabar a propriedade haverá igualdade e felicidade para o homem. Ao redor de cada cidade existia área de terra destinada à lavoura e a produção de artigos de consumo. As casas no campo eram comodamente construídas, providas de todos os instrumentos necessários à agricultura. A família agrícola era composta por no mínimo quarenta indivíduos (sob a direção de um pai e de uma mãe de família), havia um sistema de rodízio de trabalhadores no campo, todos os anos 20 cultivadores chegavam ao campo enquanto outros 20 voltavam para a cidade. Essa renovação tinha por finalidade não consumir por muito tempo a vida dos cidadãos em trabalhos pesados. O trabalho com agricultura é um dever imposto a todos. As roupas e vestimentas eram para todos os habitantes, somente se diferenciava homens, mulheres, casados e solteiros. Eram confeccionadas pelas próprias famílias, com tecidos e forma confortáveis. Além de prestar os serviços agrícolas, por no mínimo dois anos, cada cidadão aprende uma profissão, geralmente a dos seus pais. No entanto, se for do desejo do indivíduo ele pode escolher outra que lhe agrade. O dia dos utopianos é divido em intervalos para: trabalho (6 horas), repouso refeições. Não há tempo para ociosidade. Nas poucas horas de lazer, conversam, ouvem músicas praticam esportes ou continuam a trabalhar. 20 18 Idem, pág. 67. 19 Idem, pág. 67. 20 Idem, pág. 73 a 75. Figura 02: Mapa de Utopia. Disponível:http://users.nsula.edu/sinclaird/utopia.jpg Acesso: 17/11/09, 11:57hs. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 19 Em Utopia existe liberdade religiosa, nem todos os habitantes professam a mesma religião, porem todas as religiões existentes convergia para o mesmo fim: a adoração da natureza divina. “A sabedoria reside em procurar a felicidade sem violar as leis. A religião é trabalhar pelo bem geral. Calcar aos pés a felicidade de outrem, em busca da sua, é uma ação injusta. Ao contrário, privar-se de algum prazer, para a comunicálo a outrem, é indício de um coração nobre e humano, e que encontra prazer em sacrificar-se para os outros.” 21 Morus, através de seu livro, define o significado do termo Utopia: um lugar ideal, onde todos seriam felizes e tudo seria perfeito. No entanto, sua definição de ideal é autoritária, rígida e impõe severas normas de conduta aos habitantes. Thomas Morus é classificado com pré-utopista, porque discorre sobre a cidade ideal, porém seu foco maior é sobre a sociedade e suas regras para uma convivência perfeita. 21 Idem, pág. 99. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 20 Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 21 4.1. Robert Owen (1771-1859) Owen é contemporâneo das primeiras transformações, tecnológicas, sociais e urbanas, impostas pela Revolução Industrial. Nasceu em Newtown, Reino Unido, em 1771, de uma família pobre, começou a trabalhar cedo e testemunhou os problemas enfrentados pela classe operária. 4.1.1. Conceitos Teóricos O pensamento teórico de Robert Owen é influenciado, principalmente, por sua vivência entre a classe operária, pois é essa experiência que lhe dá motivação para pensar e realizar mudanças. Aos dez anos mudou-se para Manchester, Inglaterra, e começou a trabalhar em uma fábrica de algodão. Em 1785, vai trabalhar em uma fábrica de fiação, da qual, aos dezenove anos, tornou-se gerente e implantou novas técnicas de tecelagem.22 Em 1799, tornou-se co-proprietário de uma fábrica de fiação em New Lanark, Escócia, transformando-a numa fábrica modelo: implantou maquinaria moderna, reduziu as jornadas de trabalho. A sociedade adquiriu, além da fábrica, uma extensa aldeia para seus funcionários, na qual foram construídas moradias salubres, uma creche e uma escola primária (pioneiro na Inglaterra). 23 Essas ações esboçam um ponto forte no pensamento de Owen: deveria o proprietário industrial investir na melhoraria da qualidade de vida de seus funcionários. “Encontrou assim um terreno experimentação, uma ocasião para pôr em prática as reformas sociais inspiradas pelo conhecimento direto da miséria do proletariado industrial. Seu esforço recaiu essencialmente na redução das horas de trabalho [...], no melhoramento do 22 Choay, F. O Urbanismo: utopias e realidades, uma antologia. Tradução Dafne N. Rodrigues. 5ª edição. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2002. Pág. 61. 23 Benévolo, L. História da Arquitetura Moderna. Tradução Ana M. Golderger. 4ª edição. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2006. Pág. 173. Figura 03: New Lanark. Fonte:http://specialcollections.vassar.edu/exhibits/owen/com munities.html Acesso 27/09/2009 - 08:21hs Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 22 habitat (cidade-modelo, num espaço verde) e na prática da escolaridade obrigatória [...]. Devem-se a Owen as primeiras escolas maternais da Inglaterra. Ele estava consciente da absoluta meleabilidade do ser humano e sua teoria da educação é a pedra angular de todo o seu sistema [...]” 24 Em 1813, Owen retorna à Londres, e se junta à política local para conseguir regulamentar normas que favorecessem as classes operárias: “torna-se um dos pioneiros da legislação do trabalho, do movimento cooperativo, das organizações sindicais”.25 Na década de 1820, cria o projeto de “convivência ideal”, que constitui uma pequena comunidade, auto-suficiente, onde todos os integrantes pertenceriam à mesma classe social e trabalhariam coletivamente. 26 Socialismo – “homem novo, habitat novo” Em seu livro “The Book of the New Moral World” (1836), Owen descreve o homem como uma “organização composta de diversas faculdades corporais e intelectuais, experimentando necessidades ou inclinações físicas e morais, sensações, sentimentos e convicções”, no entanto, acreditava que a sociedade da época impulsionava o individuo a agir em desacordo com sua inteligência. Somente quando seu “caráter estiver formado”, e se tornar um ser racional, suas ações e sentimentos estarão em harmonia.27 24 Choay, F. O Urbanismo. Op.Cit., pág. 61. 25 Benévolo, L. História da Arquitetura Moderna. Op. Cit., pág. 174. 26 Idem, pág. 174. 27 Choay, F. O Urbanismo. Op. Cit., pág. 62. Figura 04: New Lanark. Fonte: http://sobreescocia.com/2009/06/21/new-lanark-el- pasado-industrial-de-escocia/ Acesso:11/11/09, 08:36hs. Figura 05: New Lanark. Fonte:http://photos.igougo.com/pictures-photos-p370027- New_Lanark.html Acesso:11/11/09, 08:46hs. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 23 Em “An Adress Deliverd to the Inhabitants of New Lanark” (1816), acredita que uma nova era deve começar, na qual o progresso técnico, mecânico e científico (após ter causado miséria e sofrimento) irá “destruir a pobreza, a imoralidade e a miséria”. Para concretizar tais princípios de reforma social, seria necessário a criação de núcleos-modelos, com moradias salubres, e com condições adequadas para a produção de diversos produtos. 28 “Cada uma dessas cidadezinhas novas seria um modelo da maneira pela qual ela se sustentaria, se governaria a si mesma, criaria e ocuparia todos os seus membros” 29 Sua mentalidade é pioneira em seu tempo, isso se deve principalmente a sua relação única com a indústria. Foi esta vivência, primeiro como trabalhador, depois como dono de indústria, que lhe forneceu a base para seu pensamento teórico. Tal pensamento o coloca como um dos precursores da teoria socialista. A solução para os problemas sociais seria a criação de comunidades autônomas e auto-suficientes, onde não haveria diferença de classes sociais. Na política influenciou a origem dos sindicatos de trabalhadores (trade- unions) e a criação de leis trabalhistas. Para Robert Owen era dever do poder privado investir no bem-estar social, já que o poder público se mostrava ineficiente em conseguir melhorias efetivas sobre o mesmo. Essa característica, em particular, suscita discussões nos dias atuais: vários empresários estão investindo no bem-estar de seus funcionários, por exemplo, tornar o local de trabalho mais confortável, com o intuito de aumentar a produção. 28 Choay, F. O Urbanismo. Op. Cit., pág. 63. 29 Owen, R. Courte exposition d’un système social rationnel. Paris, 1848. Obra citada no livro: Choay, F. O Urbanismo. Op. Cit., pág. 63. Figura 06: Edifícios de New Lanark. Fonte: http://www.panoramio.com/photo/629412 Acesso:11/11/09, 08:36hs. Figura 07: Integração com a natureza - New Lanark. Fonte:http://www.panoramio.com/photo/629424 Acesso:11/11/09, 08:46hs. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 24 4.1.2. Projeto New Lanark New Lanark é uma pequena vila (fig. 04 a 06), localizada às margens de um rio, que representa o primeiro modelo urbano de Owen. É constituída por edifícios que necessários à uma comunidade auto- suficiente como indústria, habitação, escola primária, cozinha comunitária, área de lazer e área para agricultura. A implantação dos edifícios acompanha as sinuosidades do terreno, é possível notar também que Owen buscou uma integração com a natureza ao redor (fig. 07). Um pequeno canal divide a vila, ele foi realizado com intuito de utilizar a água nos engenhos de algodão. As construções são distribuídas da seguinte forma: à margem do rio os prédios destinados à tecelagem industrial: engenhos de algodão e tingimento de tecidos; e o prédio da escola. Após o canal encontram-se os edifícios de habitação coletiva, o alojamento para jovens, a casa de Robert Owen, e a cozinha coletiva. Intercalando as construções existem jardins e áreas para o lazer (fig. 08). A arquitetura possui uma linguagem rígida e matemática, os prédios são retangulares e possuem mais de três andares, em sua maioria. A partir das fotos é possível notar uma preocupação com a estética dos edifícios, que se faz notar pela simetria nas fachadas e os detalhes, como as molduras das janelas e portas. Porém é uma estética baseada na geometria, de simples ornamentação e austera. 4.1.3. Projeto New Harmony Owen adquiriu, em 1825, 30 000 acres de terra no Estado de Indiana (EUA) e fundou a colônia New Harmony. Ele elaborou um minucioso projeto de uma comunidade-modelo (fig.09) para 1200 pessoas, através do qual expressou seus principais conceitos. No entanto, a implantação do modelo não se concretizou, a construção se restringiu a uma pequena vila, com modestos edifícios (fig.10). Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 25 O projeto arquitetônico consiste em edifício construído nas laterais de um grande quadrado, com demais prédios e jardins posicionados no interior deste. A geometria continua sendo um ponto importante e ressalta-se na implantação, nas formas e nas fachadas da construção. No prédio central funcionaria a cozinha e o refeitório coletivos: “o edifício central contém uma cozinha pública, refeitórios e tudo o que pode contribuir para uma alimentação econômica e agradável.” 30 As moradias para os trabalhadores seriam distribuídas em três das quatro laterais, cada casal teria espaço suficiente para criar dois filhos, os demais seriam alojados na quarta lateral. Nesta ultima lateral ficariam alojados também os “vigilantes de dormitórios” e a enfermaria. 31 Os edifícios públicos seriam posicionados nas regiões centrais dessas laterais, com a seguinte distribuição: “À direita desse prédio central, uma construção cujo térreo será ocupado pelo jardim de infância, o andar superior por uma sala de conferências e um lugar destinado ao culto. À esquerda, fica um edifício que abriga, no térreo, uma escola para as crianças mais velhas e uma sala do comitê; no primeiro andar, uma biblioteca e uma sala de reunião.” 32 Na região central existiria uma grande área livre e arborizada, destinada ao lazer. Haveria, também, uma área de jardins que contornaria todo o plano quadrangular. Owen utilizou espaços verdes para isolar a indústria, matadouro, estábulos e outros edifícios dos alojamentos: “o matadouro, os estábulos, etc..., também serão separados do estabelecimento coletivo por plantações”. 33 30 Idem, pág. 63. 31 Idem, pág. 63. 32 Idem, pág. 64. 33 Idem, pág. 64. Figura 09: Modelo para Nem Harmony. Fonte:http://amhist.ist.unomaha.edu/module_files/New_harmon y_vision.jpg Acesso: 27/09/2009 - 08:18hs Figura 10: Vila de New Harmony. Fonte:http://www.panoramio.com/photo/629424 Acesso:11/11/09, 08:46hs. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 26 É possível notar, através dos textos de Owen, sua excessiva preocupação com o comportamento humano, criando normas rígidas de conduta para que a comunidade pudesse conviver em harmonia. Um exemplo é a passagem que ele determina a rotina das crianças: “As crianças com mais de três anos irão à escola, comerão no refeitório e dormirão nos dormitórios; antes de sair da escola, terão recebido tudo o que lhe será necessário como conhecimento. As crianças maiores serão acostumadas a ajudar na jardinagem e no trabalho industrial durante um parte do dia, proporcionalmente às suas forças.” 34 A intenção de Owen era a de implantar uma comunidade onde todos vivessem em cooperação mútua e harmonia, não houvesse desigualdade social ou pobreza, utilizando a arquitetura como meio de atingir seu objetivo. Porém não obteve sucesso, pois este dependia de uma mudança ética e moral da sociedade. Mudança que a arquitetura em si não foi suficiente para provocar. Com o fracasso da experiência, Owen retorna à Inglaterra. Muitas famílias permaneceram na vila New Harmony, e contribuíram significativamente para a colonização do Oeste Americano, “[...] a cidadezinha [...] fracassa como comunidade auto-suficiente e torna-se um centro de serviços para todo território circundante.” 35 34 Idem, pág. 64. 35 Benévolo, L. História da Arquitetura Moderna. Op. Cit., pág. 176. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 27 Figura 11: Modelo ideal de New Harmony. Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/ Acesso: 27/09/2009 - 08:17hs. Figura 12: Edifícios de New Lanark. Fonte: http://www.panoramio.com/photo/17282888 Acesso: 27/09/2009 - 08:17hs. Figura 13: Edifício de New Lanark. Fonte:http://www.panoramio.com/photo/629888 Acesso:11/11/09, 08:50hs. Figura 14: Edifícios de New Lanark. Fonte:http://www.panoramio.com/photo/629638 Acesso:11/11/09, 08:46hs. Figura 15: Vila de New Lanark. Fonte:http://www.panoramio.com/photo/629426 Acesso:11/11/09, 08:55hs. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 28 4.2. Charles Fourier (1772-1837) Charles Fourier foi um escritor francês, contemporâneo de Robert Owen, e um dos principais teóricos do socialismo utópico do século XIX. 4.2.1. Conceitos Teóricos Sua teoria instituiu um sistema filosófico e político, baseado nas paixões que influenciam as ações humanas. Fourier classificou doze “paixões fundamentais:” 36 � Paixões primitivas: visão, tato, olfato, audição e paladar. � Paixões afetivas: amor, amizade, paternidade e a ambição. � Paixões mecânicas: variação, intriga (ou conspiração) e composição (associação de duas ou mais paixões) É a partir dessas paixões que ele interpreta a história humana, estabelecendo etapas para a evolução social. Divide-a em períodos: “bastardo, primitivo, selvageria (pré-industrial), patriarcado (pequena indústria), barbárie (média indústria), civilização (grande indústria), garantismo (semi- associação), sociantismo (associação simples) e harmonismo (associação composta).” 37 Constrói uma crítica implacável contra a “civilização”, (período em que Fourier vive). Considerava o trabalho industrial alienante, por isso criou a teoria do “trabalho atraente”: oindivíduo só deveria realizar as atividades que lhe agradasse, que respondesse às suas “paixões.” 38 O período de harmonia é característico de um período onde a evolução humana já estaria completa, e quando as associações acontecem em todos os âmbitos da vida humana. Fourier acreditava que o cooperativismo acabaria com as diferenças sociais, com a pobreza e a exploração dos trabalhadores. 36 Benévolo, L. História da Cidade. Tradução Silvia Mazza. 4ª edição. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2005. Pág. 568. 37 Albornoz, S. G. Atração passional, trabalho e educação em O novo mundo industrial e societário de Charles Fourier. Cad. psicol. soc. trab., jun. 2007, vol.10, no.1, p.1-19. Disponível em: http://pepsic.bvssi. org.br/pdf/cpst/ v10n1/v10n1a02.pdf Acesso: 03/11/09, 19:05hs. 38 Idem. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 29 “Para Fourier, o elemento da sociedade é a comuna. O estado da comuna num país dá a conhecer a natureza da sociedade à qual esse país pertence. Assim, para fazer a França passar do estado ‘civilizado’ ao ‘societário’, seria preciso transformar em comunas societárias – ou ‘falanstérios’”. 39 Fourier propõe como resposta aos problemas da cidade industrial a mescla entre o campo e a cidade e a racionalização dos setores urbanos. Para os problemas sociais, como a pobreza, a solução estaria no sistema cooperativista, pois este proporcionaria a igualdade entre todos os indivíduos. Porém também estabelece rigorosas normas de conduta para os habitantes de seu modelo. 4.2.1. Projeto – Falanstério Fourier defendia a idéia de que sendo sua teoria um modelo científico, a reforma social era algo atingível. Descreve detalhadamente como deveria ser a arquitetura em cada período. Neste trabalho será apresentado o projeto do período Harmonista. Plano para o período Harmonista – o Falanstério Para abrigar a sociedade do período de Harmonismo, onde haveria a associação composta40, ou seja, um número elevado de pessoas convivendo em comunidade e harmonia, Fourier propõe um novo tipo de cidade – o falanstério (fig. 16) – onde tudo é coletivo. Uma das premissas principais de Fourier é a racionalização do espaço, em oposição à desordem da cidade industrial. No início do séc. XIX, a cidade de Londres era confusa, com ruas estreitas e moradias insalubres. Fourier fixou rígidas diretrizes construtivas para regulamentar o espaço urbano: “o mínimo para as ruas é de 9 toesas; as calçadas podem, se as ruas forem destinadas só a pedestres, ser reduzidas a 3 toesas, mas é preciso conservar outras 6, em cercado ou gramado, ou plantado ou estaqueado.” 41 39 Fourier, C. Modifications à introduire dans l’architecture dês villes. Paris, 1849. Obra citada no livro: Choay, F. O Urbanismo. Op. Cit., pág. 71-72. 40 Quando o interesse individual coincide com o interesse comum. Figura 16: O Falanstério de Fourier em perspectiva. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/FicheiroPhalanst%C3%Are.jpg Acesso: 27/09/2009, 13:41hs. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 30 A preocupação com a salubridade é uma constante em sua teoria. Ele definiu normas construtivas visando um melhor aproveitamento da insolação: “na rua, os edifícios não poderão exceder em altura, contada até a base do esqueleto, a largura da rua”; e ventilação: “Assim como é difícil a limpeza em casas apertadas e obstruídas, [...] ela é mais fácil num edifício onde os espaços vazios mantêm correntes de ar.” 42 A proposição das habitações coletivas demonstra, em primeiro lugar, a ênfase que Fourier dá ao viver coletivamente, às comunas. Em segundo, ele considerava que o sistema construtivo de casas individuais se tornaria inviável devido às novas regras construtivas: “Construir casas muito grandes e, no entanto, muito cômodas e salubres, por causa da dupla distância exigida. Nesse tipo de edifício, seríamos levados, sem querer, a tomar todas as medidas de economia coletiva de onde nasceria logo a associação parcial; [...]” 43 Ao centro do edifício do falanstério ergue-se uma torre, a partir da qual se irradiam duas asas simétricas; existem também três pátios internos, espaço de jardins e lazer, com diversas entradas para a construção. Na área central localizam-se as funções públicas: o refeitório, a biblioteca, as salas de estudo, o templo, o telégrafo, o observatório e um pátio de inverno. As asas contêm características residenciais e produtivas: alojamentos, hospedaria, salas de banho, oficinas, entre outros. Diferenciando-se do Owen, Fourier não concebe alojamentos separados, ele propõe um estilo de vida que se assemelha a um hotel: “com os velhos alojados no térreo, as crianças no mezanino e os adultos nos andares superiores.” 44 As asas possuem em toda a sua extensão uma via de circulação, localizada no primeiro andar, é a “rua-galeria”: 41 Idem, pág. 70. 42 Idem, pág. 70. 43 Idem, pág. 70-71. 44 Benévolo, L. História da Arquitetura Moderna. Op. Cit. Pág. 178. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 31 “A rua-galeria situa-se no primeiro andar; [...] não são iluminadas pelos dois lados, aderem ao corpo da construção; todos os corpos possuem duas filas de quartos, das quais uma é iluminada pelo exterior, a outra pela rua galeria; esta deve ter a altura dos três andares que com ela confrontam.” 45 Fourier acreditava que se todas as instruções de suas propostas fossem seguidas, o modelo construído atenderia a todas as paixões humanas: “esses grandes edifícios com a vantagem de ser bem arejados pelo espaço de isolamento plantado satisfariam os cinco sentidos.” 46 E seria assim criada uma sociedade igualitária. Entre 1830 a 1850, existiram várias tentativas de implantação dos falanstérios, na França, Argélia, Rússia e América. (fig. 17). 4.2.1. Projeto – O Familistério de Godin Em 1848, em Guisa (França) Jean-Baptista Godin, construiu um edifício inspirado do falanstério – o chama de Familistério (fig. 18). A principal diferença entre eles é que no segundo, cada família tem o seu alojamento particular. O prédio central é composto por três blocos fechados de quatro andares, com pátios internos (com cobertura de vidro – fig. 19) que substituíam as ruas-galerias. Alguns “edifícios acessórios” abrigam o setor de serviços: escolas, banho, lavanderia, etc.47 Como no falanstério, a preocupação com a salubridade e higiene exerce grande influência no projeto arquitetônico: “No palácio social, a luz deve penetrar por toda parte abundantemente: nada de salas escuras, nada de lugares obscuros; a claridade e o espaço são as primeiras condições da 45 Fourier, C. Traité de l’association, domestique-agricole (1832). Benévolo, L. História da Arquitetura Moderna. Op. Cit. Pág. 178. 46 Fourier, C. Obra citada no livro: Choay, F. O Urbanismo. Op. Cit., pág. 72-74. 47 Benévolo, L. História da Cidade. Op. Cit., pág. 568. Figura 17: Edifício da Falange Norteamericana, um dos falanstérios erguidos nos Estados Unidos no século XIX. A Falange Norteamericana foi uma comunidade experimental, formada em 1841, por seguidores Fourier, nas proximidades de Red Bank, no Condado de Monmouth, Nova Jersey. Seguidores de Fourier estabeleceram ao todo 29 colônias similares em várias partes dos Estados Unidos durante o século XIX. Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Falange_Norteamerica na Acesso: 27/09/2009, 13:47hs. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 32 limpeza e da higiene. Por isso tudo é amplamente iluminado no familistério, como tudo é amplamente provido de ar e de água.”48 Os três blocos eram cercados por praças e passeios, que além do embelezamento eram importantes para o lazer e o ofício da jardinagem: “entre os recursos atrativos do ensino que o familistério oferece às crianças, precisam-se incluir os jardins.” 49 Godin propunha a concentração das funções necessárias, como o comércio, para que os moradores não precisassem se afastar de sua morada: “É preciso, no palácio social, tirar do operário os motivos que o levariam a afastar-se de sua morada: sua casa precisa ser um lugar de tranqüilidade, atrativos e repouso; essa casa precisa ser o apartamento habitável, livre de todas as coisas incomodas, aborrecedoras: a lavagem de roupa deve ser feita num local especial, onde todos encontramos tanques e objetos próprios para essa operação.” 50 As premissas de Owen e Fourier que se mantêm presentes no projeto de Godin são as relacionadas ao bem-estar social, e o sistema educacional, do qual Owen foi pioneiro. Após a morte de Godin, a sua indústria passa a ser administrada por uma cooperativa fundada pela comunidade do familistério. 51 48 Godin, J. La Richesse au Service Du Peuple. Obra citada no livro: Choay, F. O Urbanismo. Op. Cit., pág. 106. 49 Godin, J. Idem, Op. Cit., pág. 107. 50 Godin, J. Idem, Op. Cit., pág. 107. 51 Benévolo, L. História da Arquitetura Moderna. Op. Cit. Pág. 178. Figura 18: Familistério, em Guise. Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Familist%C3%A8re _aile_gauche_ext%C3%A9rieur.JPG Acesso: 27/09/2009, 13:56hs. Figura 19: Familistério, em Guise. Fonte:http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Familist%C3% A8re_Central_Guise_Int%C3%A9rieur.JPG Acesso: 27/09/2009, 13:56hs. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 33 Figura 20: Familistério. Fonte:http://de.wikipedia.org/ Acesso:11/11/09, 10:32hs. Figura 21: Jardim do familistério. Fonte:http://de.wikipedia.org/ Acesso:11/11/09, 10:32hs. Figura 22: Implantação familistério. Fonte: http://web.tiscali.it/icaria/urbanistica/godin/godin.htm Acesso:11/11/09, 10:15hs. Figura 23: Fachada do familistério. Fonte: http://web.tiscali.it/icaria/urbanistica/godin/godin.htm Acesso:11/11/09, 10:15hs. Figura 24: Corte do edifício do familistério. Fonte: http://web.tiscali.it/icaria/urbanistica/godin/godin.htm Acesso:11/11/09, 10:15hs. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 34 4.3. William Morris (1834 - 1896) William Morris é considerado um dos fundadores do movimento socialista na Inglaterra, tendo trabalhado diretamente com Marx e Engels. 4.3.1. Conceito Teórico Morris foi diretamente influenciado por John Ruskin, diferenciando-se deste justamente pelo pensamento socialista: “Morris propõe a ideologia culturalista e nostálgica às classes trabalhadoras, que constituem para ele as forças novas e reais da sociedade.” 52 Faz uma critica ao modo de vida da sociedade industrial contemporânea ao tempo em que ele escreve e acredita na reforma socialista: “Além do desejo de produzir coisas belas, a paixão da minha vida foi e continua sendo o ódio pela civilização moderna. [...] Eu ficaria neste ponto se não me parecesse que, entre os lixos da civilização, as sementes de uma grande mudança, que chamamos de revolução social, não estivessem começando a brotar.[...]” 53 O movimento artístico que Morris o tornou famoso foi a Irmandade Pré-Rafaelita. Ele evitava a manufatura industrial barata de artes decorativas e da arquitetura, e favorecia um retorno ao artesanato, elevando os artesãos à condição de artistas. 52 Idem, pág. 129. 53 Morris, William. How I Became a Socialis, 1894. Obra citada no livro: Choay, Françoise. O Urbanismo. Op. Cit., pág. 129-130. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 35 “A arte popular, a arte que resulta da cooperação de numerosos espíritos, de temperamentos e de talentos diversos, onde cada um subordina sa atividade à da comunidade, sem perder a individualidade, esta arte é inestimável e sua perda irreparável” 54 Em seus ensaios há uma constante preocupação com os problemas da cidade e da arquitetura. Critica o crescimento rápido desordenado de Londres, acredita que esse processo desenfreado prejudica a qualidade artística da arquitetura: “a verdade é que praticamente toda casa nova é de uma feldade vergonhosa e degradante [...]”.55 Seu pensamento é saudosista, enaltece as construções medievais: “casas do campo e catedrais eram construídas com o mesmo estilo e com mesmos ornamentos; só as dimensões e, em certos casos, o material diferenciavam as construções humildes das de destaque.” 56 É possível notar, através de seus desenhos artísticos, como Morris enaltecia a ornamentação na arquitetura e na arte. (fig. ). 4.3.1. Projeto – Notícias de Lugar Nenhum No ano de 1890, Morris expõe sua visão de sociedade ideal no livro “Notícias de Lugar Nenhum”. Descreve a Inglaterra no século XXI, onde não existe nenhuma forma de governo, as diferenças de classes foram abolidas – pensamento socialista. O trabalho seria feito por prazer e não por obrigação ou necessidade; os objetos de arte seriam dados de graça àqueles que os apreciam, portanto deixariam de ser objetos de comércio: “o senhor vai 54 Morris, William. Art, Wealth and Riches, 1883. Obra citada no livro: Choay, Françoise. O Urbanismo. Op. Cit., pág. 132. 55 Morris, W. Art, Wealth and Riches, 1883. Obra citada no livro: Choay, F. O Urbanismo. Op. Cit., pág. 131. 56 Morris, W. Idem. Op. Cit., pág. 131. Figura 25: Notícias de lugar nenhum. Fonte:http://lawsonarchive.com/ Acesso: 25/10/2009, 18:18hs. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 36 entender que somos felizes, que vivemos no meio da beleza [...]; que temos muito a fazer e temos prazer em fazê-lo.” 57 Acredita no fim da diferença entre campo e cidade: “A cidade invadiu o campo; mas os invasores [...] cederam à influencia do dos que o rodeavam e se tornaram camponeses; e quando ficaram mais numerosos que os homens da cidades, influenciaram-nos, de modo que a diferença entre a cidade e o campo foi diminuindo [...].” 58 Rejeita a idéia de modelos arquitetônicos a serem seguidos, cada construção deve se diferenciar da outra pela sua originalidade. Essa originalidade abrangeria também o traçado urbano, que não deveria ser geométrico, mas sim irregular e assimétrica. Opõe-se aos pensadores Owen e Fourier, à medida que valoriza a diversidade; não determina rígidas normas de conduta moral e social; rejeita a idéia de modelos arquitetônicos; e por não defende as habitações coletivas. Aproxima-se de seus antecessores quando defende a igualdade social; a união entre campo e cidade; o prazer no trabalho, que remete à teoria do trabalho atraente de Fourier. 57 Morris, William. News from Nowhere, 1884. Obra citada no livro: Choay, Françoise. O Urbanismo. Op. Cit., pág. 135. 58 Morris, William. News from Nowhere, 1884. Obra citada no livro: Choay, Françoise. O Urbanismo. Op. Cit., pág. 135. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 37 3.4. Movimento Futurista Italiano (início do século XX) 3.4.1. Conceito Teórico Foi um movimento de ruptura, que visava unir tecnologia e arte, buscando entender e absorver o mundo industrializado. Define um futuro de completa modernidade, onde modernidade significava industrialização. Sua teoria e a iconografia exerceram grande impacto sobre a vanguarda internacional. Os manifestos futuristas caracterizam-se pela exaltação a cidade, a velocidade, a máquina, e uma inquestionável crença no progresso científico-tecnológico, anunciando uma nova concepção estética, simbolizada, por exemplo, pelo automóvel (fig. 26 e 27). No que se refere ao meio urbano, o Movimento Futurista inspirou-se nas grandes cidades italianas: “tratava-se de um mundo de tijolo e pedra incorporado às formas tradicionais e clássicas”. 59 3.4.1. Projeto – “Città Nuova” Antonio Sant’Elia foi um o principal pensador sobre a cidade do Movimento Futurista Italiano. Para ele o termo futurismo significava a rejeição do passado e a exaltação do futuro. Sant’ Elia, em 1912, produziu desenhos de impacto da sua Città Nuova (Cidade Nova), com escala monumental de megalópoles com arranha-céus, passarelas e vias suspensas para veículos. Estes são aspectos da crescente atividade industrial e do aparecimento de novas tecnologias e materiais, utilizados nos seus discursos e desenhos. A arquitetura da Cidade Nova é ostensiva e imponente, composta por edifícios grandiosos e verticais, como é possível observar em seus desenhos. (fig. 28 a 31) 59 Humphreys, R. Futurismo. 2ª Ed. Tradução Luiz A. Araújo. São Paulo: osac & Naify, 2001. Pag. 46. Figura 26: Workshop a Porta Romana, Boccioni, 1908. Fonte:http://www.shafe.co.uk/art/Introduction_to_Modern_A rt_24-2-04_-_Italian_Futurism.asp Acesso: 04/11/09, 23:26hs. Figura 27: Automóvel, Boccioni, 1901. Fonte: http://www.shafe.co.uk/art/Boccioni-utomobile_4829- _c-1901.asp Acesso: 04/11/09, 23:26hs. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 38 “Os aranha-céus, as estações ferroviárias, as usinas hidroelétricas e aeroportos de Sant’Elia (idealizados em aço, concreto reforçado, vidro temperado, papelão e outros materiais novos) faziam parte de um pano integrado de racionalização empresarial da Itália moderna.” 60 O "Manifesto da arquitetura futurista" (1914), reivindicava o nascimento de uma nova arquitetura que atendesse às necessidades da vida moderna, através do uso de materiais e tecnologias recentes.61 A figura humana aparece poucas vezes nos desenhos representativos de Sant’Elia: “o ser humano foi absorvido pelo campo dinâmico da pintura futurista”.62 Esse extremismo nas representações aparece com mais força no desenhos de Chiattone63 (fig. 32). As representações dos projetos futuristas de Sant’Elia são desenhos de perspectivas dos edifícios ou conjuntos destes, com cores vibrantes, carregado pros tons alaranjados. Os traços são bem limpos e coerentes, de fácil interpretação. Porem não possui detalhes específicos, são desenhos genéricos, sem precisão. A escala humana não aparece nos desenhos, enfatiza a grandiosidade dos edifícios. 60 Humphreys, R. Op. Cit. Pag. 47. 61 Disponível em: http://veja.abril.com.br/idade/estacao/veja_recomenda/241203/estilos.html Acesso: 13/11/09, 01:38 hs. 62 Humphreys, R. Op. Cit. Pag. 47 63 Chiattone é amigo de Sant’Elia e também faz reflexões sobre a cidade do futuro. Figura 28: Città Nuova. Fonte:http://chimera.roma1.infn.it/GIORGIO/futurismo/archi .html Acesso: 04/11/09, 23:28hs. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 39 Figura 29: Estudo de central eléctrica, desenho de Antonio Sant’Elia. Fonte: Humphreys, R. Op. Cit. Pag. 47. Figura 30: Cidade Nova, desenho de Antonio Sant’Elia. Fonte:�http://arqforum.blogspot.com/2009/05/futurismus.html Acesso: 04/11/09, 23:38hs. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 40 Figura 31: Estudo dp aeroporto, desenho de Antonio Sant’Elia. Fonte: Humphreys, R. Op. Cit. Pag. 47. Figura 32: Constução de uma metrópole, Chittone, 1914. Fonte:�http://arqforum.blogspot.com/2009/05/futurismus.html Acesso: 04/11/09, 23:38hs. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 41 Frank Lloyd Wright (1869 – 1959) O estilo de Frank Loyd Wright se liberta da tradição e cria algo novo: a concepção de plano livre e espaço orgânico. Choay define a teoria urbana de Wright como um “antiurbanismo”, cuja principal característica é a organicidade. 64 (fig, 33 a 35) Defendia uma reformulação no pensamento urbano, para ser possível criar um modelo de cidade adequado às necessidades do homem contemporâneo ao tempo em que ele escreve. Cita o exemplo da cidade medieval que Wright acredita ser adaptada ao homem medieval: “A era maquinista não nos trouxe (em relação à Idade Média) nenhuma nova forma de planejamento urbano. Em suas origens, a vida urbana era uma festa do espírito, tudo estava na escala humana. Uma urbanização autêntica, um urbanismo adaptado à escala de vida daquela época e a seu espaço, recompensava a existência dos tempos feudais.” 65 Wright defendia a qualidade de vida para todas as classes sociais: “Com base na igualdade, os indivíduos pertencentes a elas (classes sociais desfavorecidas) desfrutam agora dos mesmos critérios de qualidade que os ricos. Graças à qualidade de um modelo de alojamento adaptado à época, ao local e às circunstancias, sentir-se-ão em casa, em sua morada, imediata e maravilhosamente ligados ao solo em que vivem.” 66 64 Choay, F. O Urbanismo. Op. Cit., pág. 235-236. 65 Wright, F. Trecho citado no livro: Choay, F. O Urbanismo. Op. Cit., pág. 242. 66 Wright, 1958. Trecho citado no livro: Choay, F. O Urbanismo. Op. Cit., pág. 243-244. Figura 33: Broadacre City Fonte:http://alternations.files.wordpress.com/2008/04/broadacre b.jpg Acesso: 29/09/2009, 21:58. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 42 Criticava o modo de vida nas cidades, dizia que a metrópole produzia a mecanização da vida humana e, portanto, alienação do indivíduo: “a própria vida é cada vez menos ‘suportável’ na grande cidade. A vida do cidadão ‘urbanizado’ é artificial e gregrária; torna-se aventura cega de um animal artificioso.” 67 Acreditava que para reverter esse processo de alienação era necessária a aproximação do homem com a natureza, que o contato com a natureza iria acabar com a agitação e a violência dos centros urbanos. Projeto – Broadacre City Broadacre tem a característica de conceder a cada cidadão um acre de extensão, isolando assim, as famílias em uma grande área verde, que deveria ser utilizada para a agricultura familiar. O conjunto urbano deveria apenas servir para o trabalho, a vida social ocorreria em locais apropriados. 68 Seu conceito de cidade, Broadacre City, é uma resposta às metrópoles americanas. Nela os indivíduos poderiam agir livremente, como lhe conviesse, é a democracia social. “[...] a cidade futura da democracia: ela comportará perspectivas bem mais grandiosas e, um sentido profundamente orgânico, um modo de vida conforme ao Espírito verdadeiro do homem. [...] Broadacre é a cidade natural da liberdade no espaço, do reflexo humano.” 69 Em oposição à centralidade da cidade industrial, em Broadacre a descentralização é levada ao extremo, diluindo o conceito de cidade convencional. Os edifícios estariam diluídos pelo terreno, acompanhando a topografia, é o conceito de arquitetura orgânica.70 67 Wright, F. Trecho citado no livro: Choay, F. O Urbanismo. Op. Cit., pág. 241. 68 Benévolo, L. História da Cidade. Tradução Silvia Mazza. 4ª edição. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2005. Pág. 612. 69 Wright, 1958. Trecho citado no livro: Choay, F. O Urbanismo. Op. Cit., pág. 241-242. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 43 “[...] a arquitetura resultaria autenticamente da topografia; [...] Broadacre seria edificada em tal clima de simpatia para com a natureza [...] A beleza da paisagem seria procurada não como suporte, mas como um elemento da arquitetura.” 71 Broadacre teria toda a sua estrutura interligada por uma rede de circulação, através da qual os deslocamentos seriam feitos pelos automóveis, as rodovias e auto-estradas seriam integradas à paisagem, com canteiros arborizados, e com extensão à todos os serviços necessários. 72 O processo de verticalidade em Broadacre deveria ser contido, um arranha-céu só seria admitido com a condição específica de ser “concebido dentro de um espaço livre e verde” 73, para que não interferisse no entorno. Sua critica se estende a várias características da metrópole, entre elas, o processo de centralização dos centros urbanos (que é a ação de concentrar as funções urbanas fundamentais, por exemplo, comércio, lazer e habitação). Propõe um sistema acêntrico, composto por uma rede de circulação e edifícios pontuais, adaptados à topografia do terreno e preservando a natureza. Esse modelo orgânico poderia ser construído em qualquer lugar no planeta Terra, o que o torna um modelo universal. Porém, é ao mesmo tempo um modelo particular, já que cada território possui características diferentes e únicas. 70 Benévolo, L. História da Cidade. Op. Cit., pág. 612. 71 Wright, 1958. Trecho citado no livro: Choay, F. O Urbanismo. Op. Cit., pág. 241-242. 72 Choay, F. O Urbanismo. Op. Cit., pág. 241. 73 Choay, F. O Urbanismo. Op. Cit., pág. 240. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 44 Figura 34: 'Broadacre City' – The Living City - 1958, Frank Lloyd Wright. Fonte:http://www.mediaarchitecture.at/architekturtheorie/broadacre_city/2009_illustration_005_ en.shtml Acesso: 29/09/2009, 21:54. Figura 35: 'Broadacre City' – The Living City - 1958, Frank Lloyd Wright. Fonte:http://www.mediaarchitecture.at/architekturtheorie/broadacre_city/2009_illustration_005_en. shtml Acesso: 29/09/2009, 21:54. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 45 Charles-Édouard Jeanneret – Le Corbusier (1887 – 1965) Propõe a distinção de várias funções sobrepostas à cidade: habitar, trabalhar, lazer e circular. A residência, onde os habitantes passam a maior parte do dia, se torna o elemento mais importante da cidade, porém é indissociável do setor de serviço (comércio, circulação). As atividades produtivas, agricultura, indústria e comércio, determinam três tipos de setores urbanos: a empresa agrícola espalhada pelo território; a cidade linear industrial e espaços livres. Ele entende que as áreas verdes deveriam permear toda a cidade formando um espaço único, ao invés de serem parques pontuais no território urbano. Acredita que a rua convencional, onde se misturam os diferentes meios de transporte (pedestre, bicicletas, carros, etc.) deve ser substituído por um sistema de percursos separados distribuidos pela cidade- parque. Benévolo, L. Hitória da Cidade. Op. Cit. p.631. A geometria é um conceito projetual adotato por Le Corbusier: a arquitetura deve ser submetida ao controle dos traçados geométricos reguladores”.74 Os Cinco pontos da Arquitetura Moderna são o resultado das pesquisas realizadas nos anos iniciais das carreiras dos arquitetos Le Corbusier: planta livre (ter uma estrutura independente permite a livre locação das paredes); fachada livre (resulta igualmente da independência da estrutura. Assim, a fachada pode ser projetada sem impedimentos); pilotis (elevam a construção, permitindo a criação de uma área livre no térreo); terraço jardim (recupera o solo ocupado pelo edifício, reproduzindo-o para a cobertura, em forma de jardim); grandes aberturas na fachada. A Cidade Radiosa 74 Le Corbusier. Texto citado em Benévolo, L. Hitória da Cidade. Op. Cit. p.631. Figura 36: Cidade Radiosa. Fonte:http://www.urbanidades.arq.br/bancodeimagens/thumbnai ls.php?album=3 Acesso: 29/09/2009, 21:54. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 46 O ponto inicial do projeto da cidade radiosa é a residência: “é preciso extrair dela o novo desenho de toda a cidade”. 75 E seguia quatro preceitos principais: 1.Descongestionar os centros das cidades; 2.Aumentar a densidade populacional; 3.Melhorar a circulação; 4.Aumentar os espaços verdes. A habitação seria em edifícios coletivos e padronizados, implantados geometricamente no terreno, com a preocupação com iluminação e ventilação. Acreditava que trabalho, casa, equipamentos coletivos (escola, igrejas, centros culturais, comércio) e as opções de lazer deveriam estar próximos, facilitando a circulação. As construções e as estradas seriam construídas sobre pilotis, para deixar o terreno livre. Ao redor dos prédios de habitação estariam localizadas as indústrias (leves e pesadas) e o centro financeiro (com arranha-céus e espaços verdes). Sua teoria para intervenção urbana se baseava, principalmente, na idéia de diminuir a concentração urbana nos grandes centros e aumentar os espaços livres. Propôs como solução a construção das torres, pois assim diminui a área ocupada pelas construções e aumenta a capacidade de alojar pessoas. Com menos área destinada à edificação, sobrariam amplos espaços livres e verdes. As cidades passariam a ser constituídas por conjuntos de arranha-céus, rodeados de zonas verdes. Era uma cidade funcional, zoneamento os diversos usos do solo através de quatro funções principais: habitar, trabalhar, lazer e circular. 75 Le Corbusier. Texto citado em Benévolo, L. Hitória da Cidade. Op. Cit. p.631. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 47 Grupo Archigram (anos 60) Archigram era um grupo formado por arquitetos ingleses recém-formados, que influenciados pelo avanço tecnológico pós Segunda Guerra Mundial, propuseram mudanças radicais na maneira de pensar e representar a arquitetura. “... a imagem da arquitetura moderna parece terrivelmente irrelevante. Tetos planos, uma quantidade de muros e vidros brancos [...]. O Archigram 1 propunha que a arquitetura da nossa geração pode aproximar-se mais em suas bases à primeira arquitetura moderna que a maioria dos edifícios do pós-guerra - os quais se supõe que tenham sido sua continuação.”76 O grupo, assim como outros arquitetos de sua época, considerava o Movimento Moderno obsoleto, incapaz de acompanhar às mudanças tecnológicas e, portanto, e incapaz de atender às necessidades da sociedade contemporânea daquele período: “uma nova geração de arquitetura deve surgir com formas e espaços que pareçam rejeitar os preceitos do ‘Moderno’ ainda que de fato retendo estes preceitos. Nós decidimos evitar a decadente imagem Bauhaus que é um insulto ao funcionalismo.” 77 O grupo lançou uma revista com o nome Archigram, um neologismo com a origem nas palavras arquitetura e telegrama: seria “uma revista com a instantaneidade de um telegrama.” 78 Para a representação de seus projetos faziam a justaposição de imagens, desenhos, fotografias e textos, revolucionando não só arquitetura, mas as mídias em geral. 76 Cook, P. Magazine Archigram n. 2, abril de 1962, p. 1. Obra cit.: Cabral, C. P. C. Grupo Archigram, 1961-1974. Tese de doutorado. Disponível: http://www.tesisenxarxa.net/ Acesso: 02/10/09, 12:43hs. 77 Editorial, Magazine Archigram n. 1, op. cit., página interna. Obra cit.: Cabral, C. P. C. Grupo Archigram, 1961-1974. Disponível: http://www.tesisenxarxa.net Acesso: 02/10/09, 12:43hs. 78 Silva, M. S. K. Redescobrindo a arquitetura do Archigram. Disponível: http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp231.asp Acesso: 21/06/09, 13:23hs. Figura 37: Plug in City. Fonte:http://www.archigram.net/projects_pages/plug_in_city_1. html Acesso: 29/09/2009, 21:54. Figura 38: Plug in City. Fonte:http://www.archigram.net/projects_pages/plug_in_city_2. html Acesso: 29/09/2009, 21:54. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 48 “Desde a década de 1960 eles vêem ampliando a linguagem do pensamento e da expressão arquitetônica, subvertendo seus limites e convenções. Sem construir um único projeto (como grupo, pelo menos), eles têm comprovadamente exercido mais impacto nas idéias arquitetônicas do que qualquer outro desde Le Corbusier.” 79 Os projetos do Archigram não tinham o compromisso com técnica construtiva, eram propostas que extrapolavam a realidade e se aproximavam da ficção científica. Criaram uma reflexão sobre o futuro, com princípios relacionados às transformações dos novos sistemas de transporte, de comunicação e de informação. Projeto Plug-in-City O projeto plug-in-city era uma proposta de uma cidade futurista, cujo principal conceito era a mobilidade e flexibilidade: “um espaço urbano planejado como um só edifício, constituído por elementos arquitetônicos móveis” 80 “Estamos em busca de uma idéia, um novo vernáculo, algo que se coloque ao lado das cápsulas espaciais, computadores e embalagens descartáveis de uma era atômico/eletrônica.” 81 A cidade possuía uma parte fixa e outra móvel. A primeira seria uma mega-estrutura composta por torres e uma rede de circulação, que abrangeria todo o território. Nesses edifícios funcionariam as estruturas 79 Rattenbury, K., Bevan, R. e Long, K. Arquitetos Contemporâneos. Trad. Marta Mosley. Ed. Viana & Mosley, RJ, 2004. Pág. 15. 80 Silva, M. S. K. Redescobrindo a arquitetura do Archigram. Disponível: http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp231.asp Acesso: 21/06/09, 13:23hs. 81 Chalk W. Living City; Magazine Archigram, n. 4, 1964, p. 6. p.99. Obra cit.: Cabral, C. P. C. Grupo Archigram, 1961-1974. Disponível: http://www.tesisenxarxa.net Acesso: 02/10/09, 12:43hs. Figura 39: Plug in City. Fonte:http://www.archigram.net/projects_pages/plug_in_city_3. html Acesso: 29/09/2009, 21:54. Figura 40: Plug in City. Fonte:http://www.archigram.net/projects_pages/plug_in_city_4 .html Acesso: 29/09/2009, 21:54. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 49 urbanas de serviços, como hotéis, farmácias, padarias, entre outros, e suas funções seriam totalmente automatizadas. Essa arquitetura possuía características flexíveis, ou seja, se adaptaria às necessidades dos habitantes. Os apartamentos, ou residências, constituíam a parte móvel da cidade, é o conceito de “casa cápsula”. O habitante poderia levar para onde fosse o seu módulo e o plugar (conectar) no local que desejasse. O módulo era totalmente flexível, podendo ser alterado quando necessário. No primeiro desenho de Plug-in-City (fig. 42) é representado um nó de transferência de transportes e outras torres cilíndricas variáveis, destinadas a hotéis e escritórios de serviços. Por meio de uma representação concreta e uma perspectiva na diagonal (fig. 43), tentam representar temas como a mobilidade.82 Pode-se fazer um link entre a mega-estrutura proposta em Plug-in-City e em outros projetos do Archigram, assemelham-se às megalópoles atuais, pois as conurbações contemporâneas, assim como a mega-estrutura deveria ter os centros urbanos interligados. E também, previram o homem vivendo em harmonia com a tecnologia, utilizando-a para facilitar o seu cotidiano. Atualmente, essa relação se dá em vários níveis, desde celular, computador, internet, até a possibilidade de controlar a iluminação de uma residência através de um controle remoto. O conceito fundamental do pensamento do grupo é o conceito de flexibilidade e mobilidade, a arquitetura deveria ser algo descartável (mutável), que se adequasse às necessidades da sociedade. 82 Cabral, C. P. C. Grupo Archigram, 1961-1974. Tese de doutorado. Disponível: http://www.tesisenxarxa.net/ Acesso: 02/10/09, 12:43hs. Figura 41: Plug in City. Fonte:http://www.archigram.net/projects_pages/plug_in_city_5. html Acesso: 29/09/2009, 21:54. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 50 Figura 42:Plug-in City, axometria, 1964; conforme primeira publicação no magazine. Fonte: Cabral, C. P. C. Grupo Archigram, 1961-1974. Tese de doutorado. Disponível: http://www.tesisenxarxa.net/ Acesso: 02/10/09, 12:43hs. Figura 43:Plug-in City, axometria, 1964. Fonte: Cabral, C. P. C. Grupo Archigram, 1961-1974. Tese de doutorado. Disponível: http://www.tesisenxarxa.net/ Acesso: 02/10/09, 12:43hs. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 51 Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 52 5.1.Dongtan (início em 2005) Dongtan é um projeto pioneiro de cidade-sustentável, coordenado pela equipe ARUP. Está localizado na Ilha de Chongming (fig. 45), China, e pretende ser um projeto sustentável no âmbito ambiental, social, econômico e cultura. 5.1.1. Projeto A ilha tem grande importância ecológica, pois é uma área de pântano. Atualmente cerca de meio milhão de pessoas vivem no distrito de Chongming, eles ocupam duas pequenas cidades e uma infinidade de aldeias. As maiorias desses moradores vivem de atividades extrativistas, como pesca, e atividades rurais. 83 O projeto de Dongtan surgiu como tentativa de resposta a um problema cada vez maior na China: o aumento da população urbana no país. A estimativa é que entre 2006 e 2020, a China precise construir 400 novas cidades - quase 30 por ano - para acomodar mais de 300 milhões de pessoas do mundo rural. O governo chinês quer adotar medidas para garantir um desenvolvimento sustentável em suas cidades. 84 É sustentável ambientalmente, porque pretende chegar o mais próximo do “carbono zero” quanto possível, ou seja, diminuir ao máximo a emissão de carbono na atmosfera. Para tanto, uma das principais medidas adotadas é fazer com que todas as fontes de energia sejam renováveis: painéis fotovoltaicos, bio-combustível e energia eólica. 83 China to Build First Eco-City. The Guardian. Jean-Pierre Langellier and Brice Pedroletti. 2006. Disponível: http://english.cri.cn/811/2006/05/07/301@85444.htm Acesso: 30/09/2009, 18:10hs. Traduzido por Ludmilla R. Orsi. 84 Idem. Figura 45: Projeto de Dongtan. Fonte: http://www.worldarchitecturenews.com Acesso: 29/10/2009, 21:54. Figura 44: Área de implantação de Dongtan. Fonte: http://www.worldarchitecturenews.com Acesso: 29/10/2009, 21:54. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 53 O plano de sustentabilidade social inclui integrar a população atual (pescadores e trabalhadores agrícolas) ao novo projeto urbano, em vez de substituí-los. E também “é necessário que a nova parcela populacional tenha diferentes níveis socioeconômicos, para tanto diversos postos de trabalho serão instaurados.” 85 “A cidade de 500.000 habitantes que projetamos, pode reduzir emissões de CO² equivalentes a 22 milhões de dólares/ano. Isto num período de 25 anos converte-se em aproximadamente 500 milhões de dólares – a preços atuais.” 86 Os recursos que resultarão da redução na emissão de CO² serão utilizados para custear os gastos com a manutenção da cidade, por exemplo, praças, parques, infra-estruturas de transporte público e passeios. “Dongtan será um laboratório para utilizar este mecanismo pela primeira vez à escala urbana; na nossa perspectiva é que as infra-estruturas físicas sustentáveis se tornem vantajosas, e as novas regras do jogo, são as que definirão as nossas cidades do século XXI.” 87 A proposta projetual consiste basicamente em três vilas e um centro urbano onde se concentrará as atividades comerciais (fig. 47). A infra-estrutura (estradas, transporte público, escolas, hospitais, áreas comerciais, espaços verder) será projetada para “estimular os moradores a viajar de bicicleta ou transporte público.” 88 A cidade deverá estar completa em três fases: • Fase 1: cerca de 1 quilômetro quadrado será desenvolvido para acomodar 10.000 pessoas, até 2010. 85 Disponível: http://www.nycclimatesummit.com/casestudies/building/bldg_dongtan.html Acesso: 15/11/09, 15:17hs. Tradução livre de Ludmilla R. Orsi. 86 Citação de Gutierrez A. Disponível no site:http://institutofuturista.blogspot.com/2006/11/dongtan-cidade-sustentvel.html Acesso: 16/09/2009, 01:53hs. 87 Idem. 88 Disponível: http://www.nycclimatesummit.com/casestudies/building/bldg_dongtan.html Acesso: 15/11/09, 15:17hs. Tradução livre de Ludmilla R. Orsi. Figura 46: Três vilas e o centro comercial (em vermelho). Fonte: http://www.worldarchitecturenews.com Acesso: 29/10/2009, 21:54. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 54 • Fase 2: 6,5 quilômetros quadrados serão desenvolvidos para acomodar 80.000 pessoas, até 2020. • Fase 3: 30 quilômetros quadrados serão desenvolvidos para acomodar 500.000 pessoas, até 2050. Os edifícios serão dotados de medidas projetuais para diminuir o consumo energético: poucos andares (até oito pavimentos) para evitar o uso de elevadores; uma cobertura verde, ou seja, jardins e gramados que cobrem os telhados, formam um isolamento térmico e também reciclam as águas residuais; utilização de painéis fotovoltaicos e moinhos de vento de pequena escala, integrados aos desenhos da construção para fornecer até 20% da energia utilizada. Sutentabilidade A energia virá de fontes renováveis e até 80 % dos resíduos sólidos serão removidos. Resíduos orgânicos serão levados a um incinerador, que irá gerar parte da energia elétrica da cidade. Outros incineradores consumirão cascas de arroz, que produzem calor e são abundantes na China. Nos arredores localizam-se moinhos de vento gigantes, impulsionados pela brisa do mar, produzem considerável quantidade de eletricidade. Cada edifício é equipado com painéis fotovoltaicos e seu próprio moinho de vento menor. A expectativa é que haja um gasto de 64% menor cem comparação às cidades convencionais. "Dongtan vai ser compacta, inspirada pelas tradicionais cidades chinesas, em quais ações de água, uma parte importante. Fatores sociais são essenciais. Ele terá uma população diversificada, habitação acessível, pelo menos 30.000 postos de trabalho no local, escolas e um hospital, para garantir que não é dependente de Shanghai." 89 89 Disponível: http://www.nycclimatesummit.com/casestudies/building/bldg_dongtan.html Acesso: 15/11/09, 15:17hs. Tradução livre de Ludmilla R. Orsi. Figura 47: Folder de propaganda de Dongtan. Fonte:http://ecologieimages.caradisiac.com/IMG/jpg/4/ 6/5/7/2/Dongtan2.jpg Acesso: 29/10/2009, 21:54. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 55 Veículos e Transporte A proposta é que todas as residências estarão no máximo a 7 minutos a pé de meios de transporte público, e com fácil acesso a escolas, hospitais e locais de trabalho. Serão priorizados para o transporte o uso de bicicletas, motos movidas à bateria ou carros à base de hidrogênio e os meios de transporte público deverão ser movidos a eletricidade ou hidrogênio. Nas representações gráficas é possível notar diversos passeios destinados aos pedestres e espaços arborizados que foram nichos de convivência (fig. 48). Dongtan é apresentada como solução para diversos problemas urbanos: super população, falta de moradia, poluição e degradação do meio ambiente; cujo enfoque principal é o desenvolvimento sustentável, tema recorrente na maioria dos projetos urbanos e arquitetônicos nos dias atuais. Mas será que é realmente sustentável? Ou atende alguns critérios de sustentabilidade e outros deixam a desejar? O discurso utilizado pelos responsáveis pelo projeto é que o mesmo seria sustentável socialmente, pois acolheria a população que já mora na região (pequenos pescadores e agricultores). Mas será mesmo que essa população teria acesso? Ou como na maioria das intervenções urbanas atuais ocorrerá a gentrificação? É um projeto urbanístico ousado e de longo prazo de implantação, a previsão de conclusão era 2040, porém atualmente a obra encontra-se parada por falta de verba para o investimento. Figura 48: Perspectiva computadorizada de Dongtan. Fonte:http://images.usatoday.com/news/_photos/2007/0 2/16/ecocity-topper1.jpg Acesso: 29/10/2009, 21:54. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 56 Figura 48: Vista geral de Dongtan. É possível perceber vários a extensa área verde que percorre todo o projeto. Fonte: http://blog.lib.umn.edu/evans391/architecture/dongtan-east-village-and-east-lake.jpg Acesso: 29/10/2009, 22:24. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 57 Figura 49: Vista geral de Dongtan. Fonte: http://blog.lib.umn.edu/evans391/architecture/dongtan-east-village-and-east-lake.jpg Acesso: 29/10/2009, 22:24. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 58 5.2. Santa Giulia – Milão (início em 2003) 'Uma cidade dentro de uma cidade”, é o lema do projeto urbanístico de Santa Giulia, em Milão, que é de responsabilidade do escritório Norman Foster & Partners, com a colaboração de URBAM, RAUM SRL, Paolo Caputo Partnership, Planikon AG - Arch. Castore. O projeto abrange uma área de 1.200.000 m², onde se apresentava um grande vazio urbano (fig. 50 e 51). “Um esquema de classe mundial para uma cidade de classe mundial, o “Milano Santa Giulia Masterplan” revela uma visão abrangente para o futuro de todas as cidades. Estes ideais são aplicadas a nível local para criar um plano urbanístico que traz a visão global, no entanto, é exclusiva para a topografia de Milão. É um paradigma para a vida futura limpa, integrada e sustentável e uma oportunidade rara para criar uma vizinhança de uso misto vibrante, que se baseia na tradição urbana exclusiva da cidade.” 90 É um projeto de requalificação urbana em uma antiga zona industrial, localizada na região sudeste da cidade de Milão, Itália. Que propõe a valorização de uma área urbana degradada, com objetivo de criar uma “uma cidade dentro da cidade” 91 que deverá ser autônoma e, ao mesmo tempo, integrada ao contexto urbano que a cerca. Deve ser independente à medida que será capaz de oferecer diversos tipos de serviços em seu interior. A integração ao seu entorno urbano resulta da rede de transporte que engloba estradas, ferrovias e metro. A proposta tem a intenção de definir novos preceitos projetuais, que possam ser exemplos aos futuros planos urbanos e que atendam às exigências da vida contemporânea: “Santa Giulia é uma intervenção 90 Texto disponível no site: http://www.fosterandpartners.com/Projects/1278/Default.aspx Acesso: 22/08/2009, 17:33hs. Tradução livre de Ludmilla R. Orsi. 91 Texto disponível: http://www.milanosantagiulia.com/esp/f_home.html Acesso: 14/11/09, 16:14hs. Tradução livre de Ludmilla R. Orsi. Figura 50: Vista aérea da área de intervenção. Fonte: Google Earth Figura 51: Vista panorâmica da área de intervenção. Fonte: www.milanosantagiulia.com Acesso: 22/08/09, 17:50hs. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 59 urbanística que responde a uma nova filosofia de desenho, colocando no centro do próprio desenvolvimento as exigências habitacionais do homem atual”. 92 Pretende-se integrar a estruturas urbanas (residências e serviços, por exemplo) às zonas verdes. Para isso propõe a construção de um parque central (fig. 53 e 54), que se irradia e se une aos setores urbanos: “Seguindo as linhas filosóficas e arquitetônicas expressadas por Foster, as zonas verdes estão organizadas em um grande espaço publico central da qual fazem parte um sistema de jardins públicos e privados.” 93 Santa Giulia, pela articulação das funções e dos serviços oferecidos, foi prevista a possibilidade de alojar em seu interior, entre habitantes e visitantes da cidade, mediante 60.000/70.000 pessoas ao dia. Parque Urbano O projeto de Santa Giulia se desenrola ao redor de um grande parque central, delimitado ao norte pela zona de serviços e ao sul pela zona residencial. A superfície destinada a zona verde alcança 35% do total, enquanto uns 25% de superfície esta dedicada a residências e 40% a serviços e terciário. O parque possui a função principal de melhorar a qualidade de vida da sociedade, oferecendo oportunidades de entretenimento esportivo, recreativo e cultural, além de ajudar a qualidade ambiental. Disponibilizam áreas para caminhadas, quadras e um centro esportivo com piscinas cobertas. 94 “Um dos pontos fortes deste novo pólo urbanístico é a adoção de uma grande infra-estrutura, que abrange e sustenta a posição funcional geral, garantindo a qualidade dos serviços para quem vive, trabalha ou se hospeda na cidade ideal.” 95 92 Texto disponível: http://www.milanosantagiulia.com/esp/f_home.html Acesso: 14/11/09, 16:14hs. Tradução livre de Ludmilla R. Orsi. 93 Idem. 94 Idem. 95 Idem Figura 53: Vista aérea da proposta. Fonte:http://www.fosterandpartners.com/Projects/1278/ Default.aspx Acesso: 22/08/09, 18:35hs. Figura 54: Vista do parque urbano. Fonte: www.milanosantagiulia.com Acesso: 22/08/09, 17:50hs. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 60 Circulação É possível notar, através do discurso e dos desenhos, uma preocupação com o pedestre com a proposta de uma série de calçadões e passeios dedicados ao mesmo: “Na cidade ideal, os pedestres não ‘lutam’ com os automóveis para conquistarem um percurso possível [...]” 96. Na zona comercial, localizada ao norte, existe um grande calçadão com áreas verdes e espelhos d’água, que embelezam e melhoram o conforto térmico (fig. 55). Os edifícios residenciais se estruturam ao redor de outro calçadão, que é marcado pela passagem do metrô (fig. 56). Outra premissa projetual é a viabilidade e eficiência do sistema de transporte, que permita garantir uma fácil circulação dentro da área, assim como com o exterior. Além da rede viária, o projeto prevê um imponente sistema de estacionamento subterrâneo e de superfície (fig. 57). As dimensões projetuais: estacionamento: 8.000 vagas publicasde carro e 13.000 privados alem disso os integrados ao centro de congresso. As estruturas destinadas a estacionamento estarão enterradas e integradas com estacionamentos a nível, sobre toda a área destinada a comercio e ao Cine Multisala, utilizando uma superfície total de 540.000 metros quadrados, o espaço necessário para acolher a mais 21.000 automoveis. Santa Giulia é de fácil acesso aos diferentes meios de transporte, pois está interligada de maneira eficiente à malha viária de Milão. Tem ligação às principais estradas, localiza-se próxima ao aeroporto de Linate e um moderno sistema de metrô e de trem de alta velocidade. 97 “A área sul se alcança percorrendo uma avenida que se separa da estrada nacional e conduz ao centro do novo bairro. É um caminho privilegiado para descobrir o novo centro onde nascem as 96 Idem. 97 Idem. Figura 56: Vista da área comercial. Fonte: www.milanosantagiulia.com Acesso: 22/08/09, 17:50hs. Figura 55: Vista do calçadão, área comercial. Fonte: www.milanosantagiulia.com Acesso: 22/08/09, 17:50hs. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 61 estruturas comerciais. Desde aqui se alcança facilmente a zona residencial, que se desenrola a partir de uma área de pedestre, pela qual passa somente o metrô. E o metrô, atravessa o parque, o que garante a facilidade de deslocamento do sul ao norte de Santa Giulia.” 98 Setor Residencial “Novo conceito de Santa Giulia para a vida urbana foi lançado.” 99 O projeto pretende oferecer o melhor de viver na cidade - próximo ao centro de Milão, com os benefícios de subúrbio: “este equilíbrio significará uma infra-estrutura de transporte excelente, proximidade de lojas, restaurantes e parques em conjunto com o ar fresco, privacidade e segurança.” 100 Em relação aos alojamentos, as abordagens principais são as questões como: pontos de vista, luz, flexibilidade e privacidade. Os apartamentos têm uma grande varanda grande e o interior com um layout livre, o que permite a flexibilidade ao morador (fig. 58). “Mobiliário moderno clássico combinando, pinturas e escultura com elementos tradicionais, o apartamento é um design atemporal para um estilo de vida contemporâneo.” 101 Muitos dos elementos (as alças de porta para o sistema de cozinha, por exemplo) foram projetados pela Foster & partners. A tecnologia tem forte presença no projeto, utilizada para controlar a iluminação e diversos dispositivos eletrônicos (utensílios de cozinha, aquecimento, televisão, etc.). Foster acredita que como “todas as residências estão dotadas das tecnologias mais avançadas” serão capazes de garantir um “serviço funcional e de qualidade elevada.” 102 (fig. 67 a 69) 98 Idem. 99 Texto disponível no site: http://www.fosterandpartners.com/Projects/1278/Default.aspx Acesso: 22/08/2009, 17:33hs. Tradução livre de Ludmilla R. Orsi. 100 Texto disponível no site: http://www.e-architect.co.uk/milan/milan_fair.htm Acesso: 22/08/2009, 17:33hs. Tradução livre de Ludmilla R. Orsi. 101 Texto disponível no site: http://www.fosterandpartners.com/Projects/1278/Default.aspx Acesso: 22/08/2009, 17:33hs. Tradução livre de Ludmilla R. Orsi. 102 Texto disponível: http://www.milanosantagiulia.com/esp/f_home.html Acesso: 14/11/09, 16:14hs. Tradução livre de Ludmilla R. Orsi. Figura 57: Corte esquemático estacionamento e residência.. Fonte: www.milanosantagiulia.com Acesso: 22/08/09, 17:50hs. Figura 58: Vista da área comercial. Fonte: www.milanosantagiulia.com Acesso: 22/08/09, 17:50hs. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 62 Uma das áreas residenciais propostas é Crescent, situada a oeste do passeio principal, seu diferencial está na sua forma semi-circular, que permite à todos os apartamentos acesso a vista do parque urbano (fig. 59). Setor Comercial Empresas comerciais já adquiriram lotes em Santa Giulia, e já possuem projetos de arquitetura prontos: Sky TV, Docce & Gabana. A empresa Sky TV terá sua nova sede italiana em Santa Giulia. Será um complexo imobiliário, onde acontecerão atividades de jornalismo, administrativa e produção televisiva. O projeto é do escritório Byron Harford & Associates e o Estúdio URBAM. (fig. 60) Santa Giulia acolherá Dolce&Gabbana y D&G. As marcas estarão presentes no passeio comercial, queé uma área destinada a colher marcas luxuosas: “A eleição do grupo Dolce & Gabbana de abrir duas boutiques em Santa Giulia confirma a filosofia do novo bairro, caracterizado pela qualidade escolha dos projetos, pela elegância e pelo cuidado em cada detalhe.” 103 Propaganda de venda dos apartamentos residenciais “Espaço e luz em Milão Santa Giulia. O entorno ideal está aqui. O inventor é Norman Foster. Vocês poderão escolher, entre 600 residências estudadas para suas necessidades. Tem apartamentos de 70 m², assim como de 350 m². São residências com um custo e uma estrutura diferentes, mas com o mesmo cuidado. Têm varandas, balcões e terraços que se abrem ao mundo. Têm grandes janelas que oferecem uma luz morna e natural. Tem tudo o que você pode desejar. Fora, tudo passa. Dentro, os eletrodomésticos a seu serviço. 103 Idem. Figura 59: Corte esquemático estacionamento e residência.. Fonte: www.milanosantagiulia.com Acesso: 22/08/09, 17:50hs. Figura 60: Perspectiva da sede da Sky TV. Fonte: www.milanosantagiulia.com Acesso: 22/08/09, 17:50hs. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 63 Imaginamos uma casa pensante, que se adapta a vossas exigências. Uma casa que pode ser acionada a distância com poucos e simples gestos. Uma casa robótica, isto é, uma vida personalizada é o que te oferece Santa Giulia. Aqui, a tecnologia mais inovadora se une em todas as suas formas com o conceito do viver. Uma simples impressão digital e tudo acontece. E se você estiver distante um telefone móvel será a sua mão. Serenidade e segurança. Em uma palavra: Santa Giulia. Uma cidade onde o sistema de proteção é inovador e tecnologicamente avançado. Invisível e invencível. Onde se previne atos de vandalismo, roubos e crimes graças a uma central de segurança, ativa por 24 horas. É um abraço seguro que rodeia o seu morar. Porque em Santa Giulia, a tranqüilidade também é um valor concreto.” O projeto vende a imagem de que Santa Giulia seria o lugar perfeito para se morar: “Santa Giulia se dirige a todos aquele cujo sonho é viver em uma cidade ideal e inovadora, com propostas diferenciadas para satisfazer qualquer exigência.” 104 A palavra sustentabilidade ambiental permeia a proposta de Santa Giulia, inclusive na propaganda de venda dos imóveis. O discurso de lugar ideal e vende a idéia de felicidade, segurança e de um futuro atingível (através da tecnologia), voltado para uma seleta parcela da população. Essa propaganda leva a questionar se a maior preocupação de projeto é a sustentabilidade a favor do meio ambiente. Provavelmente não, é também utilizada para vender a imagem de lugar perfeito para pessoas que podem pagar por isso. 104 Texto disponível: http://www.milanosantagiulia.com/esp/f_home.html acesso: 14/11/09, 16:14hs. Tradução livre de Ludmilla R. Orsi. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 64 Figura 61: Áreas de permanência e interação. Fonte: www.milanosantagiulia.com Acesso: 22/08/09, 17:50hs. Figura 62: Calçadão comercial. Fonte: www.milanosantagiulia.com Acesso: 22/08/09, 17:50hs. Figura 63: Perspectiva de Crescent, conjunto residencial. Fonte: www.milanosantagiulia.com Acesso: 22/08/09, 17:50hs. Figura 64: Perspectiva da sede da Docce & Gabana. Fonte: www.milanosantagiulia.com Acesso: 22/08/09, 17:50hs. Figura 64: Parque urbano. Fonte: www.milanosantagiulia.com Acesso: 22/08/09, 17:50hs. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 65 Figura 65: Vista do calçadão, com espelhos d’água. Fonte: www.milanosantagiulia.com Acesso: 22/08/09, 17:50hs. Figura 66: Perspectiva de um edifício residencial. Fonte: www.milanosantagiulia.com Acesso: 22/08/09, 17:50hs. Figura 68: Alta tecnologia nas residências. Fonte: www.milanosantagiulia.com Acesso: 22/08/09, 17:50hs. Figura 69: Alta tecnologia nas residências. Fonte: www.milanosantagiulia.com Acesso: 22/08/09, 17:50hs. Figura 67: Alta tecnologia nas residências. Fonte: www.milanosantagiulia.com Acesso: 22/08/09, 17:50hs. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 66 Figura 70: Perspectiva do parque. Fonte: www.milanosantagiulia.com Acesso: 22/08/09, 17:50hs. Figura 71: Perspectiva da área comercial. Fonte: www.milanosantagiulia.com Acesso: 22/08/09, 17:50hs. Figura 72: Fotografia da obra em andamento, 2009. Fonte: http://www.panoramio.com/photo/20680884 Acesso: 22/08/09, 17:50hs. � Figura 73: Fotografia da obra em andamento, 2009. Fonte: http://www.panoramio.com/photo/20680887 Acesso: 22/08/09, 17:50hs. Figura 74: Fotografia da obra em andamento, 2009. Fonte: http://www.panoramio.com/photo/20680870 Acesso: 22/08/09, 17:50hs. Arquitetura e Utopia: O Contexto Histórico e o Urbanismo no Século XXI – Ludmilla Righi Orsi / Dez. 2009 67 5.3. Masdar City (início em 2007) Masdar City é uma proposta de uma cidade sustentável, próxima à Abu Dhabi, Emirados Árabes. O projeto é de responsabilidade do escritório Norman Foster e foi iniciado em 2007. A previsão é que quando concluído o projeto inteiro deverá abrigar cerca de 50.000 pessoas e 1500 empresas. Masdar City será construída em sete fases, sendo que primeira, é a sede da cidade de Masdar e o Instituto de Ciência e Tecnologia, deverão estar concluí