Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP 3 UNESP – UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO NÚCLEOS DE ENSINO DA UNESP ARTIGOS DOS PROJETOS REALIZADOS EM 2007 ORGANIZADORES SHEILA ZAMBELLO DE PINHO JOSÉ BRÁS BARRETO DE OLIVEIRA São Paulo 2011 Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP 5 Ficha Técnica 2011 @ Cultura Acadêmica Editora Pró-Reitoria de Graduação da Unesp N964 Núcleos de ensino da Unesp : artigos dos projetos realizados em 2007 [recurso eletrônico] / organizadores Sheilla Zambello de Pinho [e] José Brás Barreto de Oliveira. – São Paulo : Cultura Acadêmica : Universidade Estadual Paulista, Pró-Reitoria de Graduação, 2011 Para acesso é necessário o Adobe Acrobat Reader ISBN 978-85-7983-071-6 Universidade Estadual Paulista – Núcleos de ensino. I. Pinho, Sheilla Zambelo de. II. Oliveira, José Brás Barreto de. III. Título. CDD 378.8161 Ficha catalográfica elaborada pela Coordenadoria Geral de Bibliotecas da Unesp Vários autores. Bibliografia. Editoração Eletrônica: Info ABR Projeto Gráfico Liliam Lungarezi Capa: Andrea Yanaguita Artigos originais dos autores Apoio: Coordenadores dos Núcleos de Ensino da Unesp Fomentos: Programa Núcleos de Ensino da Unesp Pró-Reitoria de Graduação – Reitoria Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP 7 Dirigentes da Unesp Vice-Reitor no exercício da Reitoria Julio Cezar Durigan Pró-Reitora de Graduação Sheila Zambello de Pinho Pró-Reitora de Pós-Graduação Marilza Vieira Cunha Rudge Pró-Reitora de Pesquisa Maria José Soares Mendes Giannini Pró-Reitora de Extensão Universitária Maria Amélia Máximo de Araújo Pró-Reitor de Administração Ricardo Samih Georges Abi Rached Secretária Geral Maria Dalva Silva Pagotto Chefe de Gabinete Carlos Antonio Gamero Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP 9 Pró-Reitoria de Graduação Pró-Reitora Sheila Zambello de Pinho Secretária Silvia Regina Carão Assessoria Elizabeth Berwerth Stucchi José Brás Barreto de Oliveira Klaus Schlünzen Junior (Coordenador Geral – NEaD) Maria de Lourdes Spazziani Técnica Bambina Maria Migliori Camila Gomes da Silva Cecília Specian Eduardo Luis Campos Lima Fúlvia Maria Pavan Anderlini Gisleide Alves Anhesim Portes Ivonette de Mattos Maria Emília Araújo Gonçalves Maria Selma Souza Santos Renata Sampaio Alves de Souza Sergio Henrique Carregari Vitor Monteiro dos Santos Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP 11 Livro Eletrônico Institucional As normas para publicação dos artigos resultantes dos projetos realizados por docentes e discentes da Unesp, em parceria com a rede pública de ensino (munici- pal ou estadual) do estado de São Paulo, em atendimento ao programa dos núcle- os de ensino da unesp, são divulgadas anualmente aos docentes desta instituição. É permitida a reprodução do material escrito nesta Publicação com a devida indicação da fonte e autoria. Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Pró-Reitoria de Graduação -2011 Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP 13 Apresentação Esse volume, integrante da série de livros eletrônicos da Pró-Reitoria de Graduação da UNESP, está organizado em 8 capítulos temáticos, reunindo um total de 62 artigos produzidos a partir dos resultados derivados dos 111 projetos desenvolvidos no Programa Núcleos de Ensino da UNESP no ano de 2007. Os temas que constituem o presente livro cobrem aspectos cruciais da formação de professores, relacionados ao cotidiano na escola. Os quatro capítulos iniciais tratam das práticas pedagógicas, focando o contexto da escola, dos conceitos e metodologias de en- sino, dos recursos pedagógicos enfatizando os materiais didáticos e da formação de pro- fessores, possuindo, portanto um caráter geral. Outros temas de caráter mais específico como o ambiental, a educação matemática e a educação social, além da linguagem e leitura compõem os últimos quatro capítulos. Um novo projeto gráfico foi preparado para os Livros Eletrônicos do Programa sendo este volume o primeiro a adotá-lo; com ele espera-se possibilitar uma leitura mais con- fortável. Também, a partir desse volume, os conteúdos serão publicados por meio de CD- -ROM que esperamos venha contribuir para a difusão dos textos. A Pró-Reitoria de Graduação parabeniza e agradece aos professores e estudantes da Universidade, bem como aos professores das escolas públicas parceiras que produziram o rico material que constitui esse livro com a certeza de que representa uma contribuição relevante para a área da educação, particularmente, na área da formação de professores. Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP APRESENTAÇÃO ........................................................................................... 13 CAPÍTULO I – PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NO CONTEXTO ESCOLAR A EDUCAÇÃO SOB O PRISMA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS: PENSANDO O FRAGMENTÁRIO, COMPREENDENDO AS MÚLTIPLAS FACES DO GLOBAL Elizabete Sanches Rocha, Tchella Fernandes Maso ................................................31 A PROBLEMATIZAÇÃO DIALÉTICA EM JOGOS PEDAGÓGICOS: UM ESTUDO DE “EXPRESSÃO GÊNICA: PRODUZINDO HEMOGLOBINA” Maria Eliza Brefere Arnoni ....................................................................................45 A QUÍMICA EXPERIMENTAL COMO FACILITADORA DO PROCESSO ENSINO – APRENDIZAGEM Iêda Aparecida Pastre, Vera Aparecida de Oliveira Tiera, Fernando Luis Fertonani, Carolina Baldin Caporalin, Caio Ricardo Faiad da Silva ........................................57 AMBIENTAÇÃO E SALA TEXTUALIZADA – DA EDUCAÇÃO INFANTIL AO ENSINO FUNDAMENTAL Cyntia Graziela Guizelim Simões Girotto .............................................................67 CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA SÓCIO-HISTORICA AOS PROCESSOS PEDAGÓGICOS: PESQUISA E INTERVENÇÃO EM EDUCAÇÃO INFANTIL Lígia Márcia Martins, Angelina Pandita Pereira, Giselle Mode Magalhães, Taís Ribeiro Silva ............................................................................................................81 FÍSICA ANIMADA Eloi Feitosa, João Paulo Ortiz , Rosemara Perpetua Lopes ....................................99 HIPERATIVIDADE E O LÚDICO Edelvira de Castro Quintanilha Mastroianni, Tânia Cristina Bofi, Bruna Facion Donato, Rafael César Ferrari.................................................................................111 O DESENVOLVIMENTO DE ATIVIDADES PRÁTICAS DE QUÍMICA POR MEIO DE KITS EXPERIMENTAIS: UMA EXPERIÊNCIA EM ESCOLAS DE ENSINO MÉDIO Kátia de Cássia Moreia, Lígia Bueno, Marília Soares, Luiz Roberto de Assis Jr., Andréia C. S. Wiezzel, Marcos F. S. Teixeira ........................................................129 Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP O JARDIM COMO LABORATÓRIO PARA O ESTUDO DOS SERES VIVOS E SUAS RELAÇÕES EM SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Marina Begali Carvalho, Rita de Cássia Sindrônia Maimoni-Rodella, Luciana Maria Lunardi Campos ........................................................................................145 O PAPEL DO PROFESSOR POLIVALENTE NO PROCESSO ENSINO- APRENDIZAGEM DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Denise Ivana de P. Albuquerque, Thaís Fernanda de Carvalho .............................163 CAPÍTULO II – CONCEITOS E METODOLOGIAS DE ENSINO A ESCOLA COMO ESPAÇO PARA A CONSTRUÇÃO DE NOVAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS: RECONHECENDO E ACEITANDO DIFERENÇAS Marcela de Freitas Rodrigues, Luciana Maria Lunardi Campos ..........................183 AS MANIFESTAÇÕES SOCIAIS NO COTIDIANO ESCOLAR: O ESTUDO DE UMA ESCOLA ESTADUAL NO MUNICÍPIO DE FRANCA-SP Kajali Lima Vitório, Cirlene Aparecida Hilário da Silva Oliveira ........................195 ASPECTOS IDEOLÓGICOS DE IMAGENS NOS LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA DO ENSINO FUNDAMENTAL Bárbara Cristina Longo, Iraíde Marques de Freitas Barreiro ................................221 PLURALIDADE DE CONDUTAS SOCIAIS: A PROCURA DO HABITUS CULTIVADO NO PROJETO LER É VIVER Luci Regina Muzzeti, Darbi Masson Suficier, Fabio Tadeu Reina, Cássia Regina Coutinho Sossolote, Artur Carmello Neto, Morgana Múrcia Ortega, Sandra Fernandes de Freitas .............................................................................................233 DOCUMENTÁRIO NA ESCOLA Antônio César Frasseto, Bruna B. Santana, Priscila B. Almeida ..........................243 EXPOSIÇÃO DIDÁTICA SOBRE SONO E SAÚDE: AVALIAÇÃO DE UMA EXPERIÊNCIA Tatiana Setsue Itokazu, Raphael de Souza Lima, Miriam Mendonça Morato Andrade ................................................................................................................251 Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP MUSEU VIVO: A CIÊNCIA ITINERANTE NA REGIÃO DE PRESIDENTE PRUDENTE Kaue Cabrera Rosalem, Angel Fidel Vilche Peña .................................................269 NA SALA DE AULA – DO ENTRETENIMENTO À REFLEXÃO. UM RETRATO DO BRASIL NA CANÇÃO: “QUE PAÍS É ESSE?” Mariana de Toledo Soares, Paula Sanae Lopes Nishiwaki, Pedro Geraldo Tosi ...... 277 O FEMININO FICCIONAL E A EDUCAÇÃO Patrícia do Prado Ferreira Lemos .........................................................................287 ORIENTAÇÃO SEXUAL: DOS CAMINHOS DE DESCAMINHOS DA IMPLEMENTAÇÃO DOS TEMAS TRANSVERSAIS NO ENSINO FUNDAMENTAL Sérgio Azevedo Salvador, Célia Maria David .......................................................299 CAPÍTULO III – RECURSOS PEDAGÓGICOS – MATERIAIS DIDÁTICOS A CONSTRUÇÃO DE UM LIVRO DIDÁTICO NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: TEMAS RELEVANTES PARA CADA CONTEÚDO Suraya Cristina Darido, Amarílis Oliveira Carvalho, André Barroso, André Minuzzo de Barros, Anoel Fernandes, Fernanda Moreto Impolcetto, Heitor Rodrigues, Janaina Terra, Laércio Franco, Maria Fernanda Telo Ladeira, Odailton Pollon Lopes, Osmar Moreira de Souza Junior, Ricardo Ducatti Colpas .............313 A HISTÓRIA DO ESPORTE EM AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: SOBRE O PROJETO “ATLETISMO SE APRENDE NA ESCOLA V” Sara Quenzer Matthiesen, Vagner Matias do Prado, Guy Ginciene, Fernando Paulo Rosa de Freitas, Marcelo Garuffi Santos, Aline de Oliveira Gomes, Cíntia Andressa Araújo Fioravante .................................................................................................333 ARTRÓPODES – VIDA E AMBIENTE: DESENVOLVIMENTO DE EXPOSIÇÃO EDUCATIVA PARA ALUNOS DO ENSINO MEDIO E FUNDAMENTAL Bruna Pozzi Rufato, Helton Otsuka, Isabela Maria Piovesan Rinaldi, Miriam Celi Pimentel Porto Foresti ..........................................................................................355 CONGRUÊNCIA E SEMELHANÇA DE TRIÂNGULOS ATRAVÉS DE MODELOS Rita de Cássia Pavani Lamas ................................................................................373 Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP CONSTRUINDO FERRAMENTAS PARA O ENSINO DA HISTÓRIA LOCAL Rosa Fátima de Souza...........................................................................................381 EDUCAÇÃO PATRIMONIAL SE FAZ NO MUSEU, NA ESCOLA E JUNTO Á COMUNIDADE Neide Barrocá Faccio, Gabriela Machado Carrê, Hellen Cristiane Souza, Juliana Aparecida Luz ......................................................................................................393 MATERIAIS DIDÁTICOS PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA Maria de Lourdes Spazziani, Thiago Baptistela Cabral, Frederico Horie Silva.....403 MÓDULOS DE ENSINO SOBRE ANATOMIA HUMANA José Anchieta de Castro e Horta Júnior, Itamar José Costa Resende, Patricia Fernandes, Luciana Maria Lunardi Campos .........................................................423 PEDICULOSE NA ESCOLA – UMA ABORDAGEM PARA A APRENDIZAGEM Paula Aiello Tomé de Souza, Paula Oddone Souza, Newton Goulart Madeira ...... 435 PRODUÇÃO DE MATERIAL E AÇÕES DIDÁTICO-PEDAGÓGICOS EM ARTES AUDIOVISUAIS Pelópidas Cypriano de Oliveira ............................................................................447 UNIDADE DIDÁTICA SOBRE A FISIOLOGIA DA AUDIÇÃO I: A UTILIZAÇÃO DE UM MODELO DIDÁTICO PARA A COMPREENSÃO DOS FENÔMENOS FÍSICOS DA AUDIÇÃO Juliana Troll, Sílvia Mitiko Nishida ......................................................................457 UTILIZAÇÃO DE SITUAÇÕES PRÁTICAS DO COTIDIANO NO DESENVOLVIMENTO DE UM MATERIAL DIDÁTICO – SUPORTE PARA AS AULAS DE FÍSICO-QUÍMICA Iara Aparecida de Oliveira Brito, Silvania Lanfredi Nobre, Marcos Augusto de Lima Nobre ..........................................................................................................467 CAPÍTULO IV – FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DE PROFESSORES A ATIVIDADE LÚDICA NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA José Milton de Lima, Márcia Regina Canhoto de Lima, Natálya Camargo de Souza, Elaine Gomes da Silva, Janaína da Silva Marinho dos Santos ..............................485 Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP AÇÕES EDUCATIVAS SOBRE VOZ COM PROFESSORES E ALUNOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL Eliana Maria Gradim Fabron, Luciana Tavares Sebastião, Iana da Costa Pires, Priscila Haydée de Souza ......................................................................................499 FORMAÇÃO CONTINUADA EM SERVIÇO: DESENVOLVIMENTO DE ESTRATÉGIAS PARA AMENIZAÇÃO DAS DIFICULDADES ENFRENTADAS NO TRABALHO DOCENTE Flávia Graziela Moreira, Edson do Carmo Inforsato, Rosebelly Nunes Marques, Mauro Carlos Romanatto .....................................................................................515 GRUPO DE PROFESSORES DE FÍSICA MODERNA: A IMPORTÂNCIA DO AMBIENTE DE DISCUSSÃO NA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES João Ricardo Neves da Silva, Alex Lino, Ana Maria Osório Araya Balan, Filipe Pereira Faria, Thiago Pereira dos Santos ................................................................527 NÚCLEO DE ENSINO: FORMAÇÃO INICIAL E EM SERVIÇO DE PROFESSORES UTILIZANDO AS TIC PARA A INCLUSÃO DIGITAL, SOCIAL E ESCOLAR Daniela Cristina Barros de Souza, Danielle Aparecida do Nascimento dos Santos, Elisa Tomoe Moriya Schlünzen, Cláudia Raquel Trigo Mancilla, Karen Caroline Rodrigues Gonçalves, Simone Moro da Silva Rocha ............................................541 O PROCESSO DE FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA NA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE REGENTE FEIJÓ Mônica Furkotter, Maria Raquel Miotto Morelatti, Andréia Teixeira Machado, Mônica Podsclan Faustino ....................................................................................561 TRAJETÓRIA DE VIDA, SABERES TEÓRICOS E SABERES PRÁTICOS: ELEMENTOS ESTRUTURADORES DA FORMAÇÃO E ATUAÇÃO DOCENTE Marilda da Silva, Eva Poliana Carlindo ................................................................577 CAPÍTULO V – A TEMÁTICA AMBIENTAL NA ESCOLA .............................. ETAPAS METODOLÓGICAS NA APLICAÇÃO DA CARTILHA: ÁGUA E CIDADANIA – AÇÃO LOCAL, EFEITO GLOBAL Analúcia Bueno dos Reis Giometti, Letícia Morais Queiroz, Rejane Teodoro Guimarães, Kamila Lima da Silva .........................................................................593 Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP LEITURA E CIRCULAÇÃO DE GÊNEROS TEXTUAIS MIDIÁTICOS POR ALUNOS DE ESCOLA PÚBLICA Juvenal Zanchetta Junior, Flávia Santana .............................................................887 INFOGRAFIA NA SALA DE AULA Laiara Perin ..........................................................................................................899 PRODUÇÃO E ADAPTAÇÃO DE JOGOS PARA O ENSINO DE ITALIANO EM ESCOLAS PÚBLICAS BRASILEIRAS Marilei Amadeu Sabino, Araguaia S. de Souza Roque .........................................907 SALA DE LEITURA: FORMANDO LEITORES LITERÁRIOS Renata Junqueira de Souza, Onaide Schwartz Correa de Mendonça, Marcela Coladello Ferro, Márcia Adriana Jorge .................................................................919 SÉRIES INICIAIS E PRODUÇÃO DE TEXTOS: PROCESSO DE FORMAÇÃO CONTINUADA Renata Junqueira de Souza, Gislaine Ciumara de Oliveira, Ana Carolina Pereira ...................................................................................................................931 Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP BRICANDO COM ÁGUA - INCENTIVO A CIÊNCIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Eva Vieira Leite, Ana Lúcia Carvalho Baldo Seixlack, Maria da Consolação Fonseca de Albuquerque .......................................................................................611 TRILHANDO PELOS SOLOS: UMA MANEIRA DIDÁTICA DE COMPREENDER E RELACIONAR PROCESSOS PEDOLÓGICOS E ANTRÓPICOS João Osvaldo Rodrigues Nunes, Maria Cristina Perusi, Denise Jerônimo Dantas, Isabela Saldella Hatum, Marcus Vinicius Zecchini, Melina Fushimi ...................621 EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UM OLHAR SOCIO-CULTURAL Cláudio Benito O. Ferraz, Daiana Marques Costa, Natália Pereira, Kássia Barbosa Cajuela, Giovana Burato .......................................................................................637 CAPÍTULO VI – EDUCAÇÃO MATEMÁTICA A ALFABETIZAÇÃO MATEMÁTICA DO PROJETO ÁBACO: UMA EXPERIÊNCIA DE INTERVENÇÃO NO ENSINO FUNDAMENTAL Mário Roberto da Silva, Fátima Aparecida Soares, Camila Ferreira Lopes, Mirella Aires Alves ............................................................................................................657 CONSTRUINDO UMA PRÁTICA DE ENSINO DE MATEMÁTICA FUNDAMENTADA NA PARTICIPAÇÃO DOS ALUNOS EM ATIVIDADES Paulo Isamo Hiratsuka .........................................................................................669 O GEOPLANO NO ENSINO-APRENDIZAGEM DA GEOMETRIA Valéria Guedes Cipolli, Vera Lia Marcondes Criscuolo de Almeida ....................677 NEGOCIAÇÃO DE SIGNIFICADOS NA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA DE JOVENS E ADULTOS José Carlos Miguel ...............................................................................................691 CONTEXTUALIZAÇÃO, HISTORICIZAÇÃO E ENREDAMENTO: IMPLICAÇÕES PARA A CONSTRUÇÃO DAS OPERAÇÕES MATEMÁTICAS ELEMENTARES José Carlos Miguel, Kátia do Nascimento Venerando de Sousa ...........................707 EXPLORANDO POLIEDROS CONVEXOS NO ENSINO MÉDIO COM O SOFTWARE POLY Ermínia de Lourdes Campello Fanti, Hélia Matiko Yano Kodama, Maria Aparecida Necchi ...................................................................................................................729 Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP VARIAÇÕES SOBRE UM MESMO TEMA: ZIGUE-ZAGUE E AS EXPRESSÕES NUMÉRICAS Aparecida Francisco da Silva, Hélia Matiko Yano Kodama .................................747 CAPÍTULO VII – EDUCAÇÃO SOCIAL E INCLUSIVA A TECNOLOGIA ASSISTIVA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: CONTRIBUIÇÕES PARA O PROCESSO DE INCLUSÃO DE CRIANÇAS DEFICIENTES VISUAIS Fátima Inês Wolf de Oliveira, Carla Andressa Plácido Ribeiro ............................761 INCLUSÃO EDUCACIONAL E LIBRAS: ACOLHIMENTO AO ALUNO SURDO NO ENSINO REGULAR Sandra Eli Sartoreto de Oliveira Martins, Claudia Regina Mosca Giroto, Kate Manhy Kumada ....................................................................................................771 O RECONHECIMENTO DA PATERNIDADE E EDUCAÇÃO: DIREITOS DA CRIANÇA QUE SE COMPLEMENTAM? Jonas Batista Silva Junior, Yoshie Ussami Ferrari Leite, Luis Antonio Miguel Ferreira ..................................................................................................................791 PRÁTICAS INTERDISCIPLINARES E DISCURSIVAS EM UM PROGRAMA DE ATENDIMENTO BILÍNGÜE A SURDOS, FAMILIARES E PROFESSORES Claudia Regina Mosca Giroto, Sandra Eli Sartoreto de Oliveira Martins, Iana da Costa Pires, Amanda Christina Gomes de Moura, Ana Paola Torrizi Leme ........819 VIOLÊNCIA NA ESCOLA: ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO Rose Mary Frezza de Goes, Priscila de Souza Leite, Janaina Pereira Roque ........833 CAPÍTULO VIII – LÍNGUAGEM, LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS CARTAS E MEMÓRIA CULTURAL: APROPRIAÇÃO DA ESCRITA E PARTICIPAÇÃO SOCIAL Dagoberto Buim Arena, Ivone da Silva Delfino, Sonia dos Santos Oliveira, Lucimar Fagundes Dantas, Nara Soares Couto ...................................................................849 CONTRAPONTOS DA NARRAÇÃO E EXPOSIÇÃO A PARTIR DA PRODUÇÃO TEXTUAL DO ALUNO DA ESCOLA PÚBLICA Miriam Frare, Juvenal Zanchetta Jr ......................................................................871 Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP A E d ucação So b o Prism a d as R elaçõ es Internacio nais... 31 A Educação Sob o Prisma das Relações Internacionais: Pensando o Fragmentário, Compreendendo as Múltiplas Faces do Global Elizabete Sanches ROCHA1 Tchella Fernandes MASO2 Resumo: O Projeto “Estar no mundo: a Escola Pública montando as peças do quebra-cabeça mundial” foi desenvolvido no ano letivo de 2007, por seis estudantes de Relações Internacionais da Universidade Estadual Paulista (UNESP), sob a coordenação da Profa. Dra. Elizabete San- ches Rocha, em uma escola da rede pública de ensino da cidade de Franca. Através de encontros semanais, com duração de 1h e 40min, realizados no período normal de aulas, quarenta alunos de uma clas- se do segundo ano do Ensino Médio discutiram temas como globa- lização, multiculturalismo, meio-ambiente e sociedade. O grupo de estudantes da UNESP tem por objetivo a promoção da pesquisa e da extensão universitária através da comunicação entre assuntos perti- nentes à graduação em Relações Internacionais e o cotidiano da co- munidade estudantil secundarista. Os projetos já realizados visam ao desenvolvimento do protagonismo juvenil e à consolidação de um pensamento sistêmico. O método utilizado pelos universitários e sua professora orientadora tem por premissa os postulados do educador Paulo Freire e a ênfase na interdisciplinaridade. Palavras-chave: multiculturalismo; globalização; educação. Introdução Estar no mundo, nos dias de hoje, não se configura tarefa fácil, nas palavras de Milton Santos: “vivemos em um mundo confuso e confusamente percebido” (2000, p.17). Nesse sentido a atualidade presencia não só o encurtamento das distâncias físicas, a unidade dos problemas ambientais, a ampliação de redes de comunicação e transporte, mas principal- 1 Coordenadora do Projeto e Professora Assistente Doutora do Departamento de Educação, Ciências Sociais e Política Internacional da FHDSS/UNESP – Franca/SP. Responsável pelas disciplinas Cultura e Linguagem e Antropologia Cultural do curso de Relações Internacionais. 2 Estudante de graduação em Relações Internacionais na UNESP-Franca e aluna/bolsista do projeto “Estar no mundo: a escola pública montando as peças do quebra-cabeça mundial”, do Núcleo de Ensino da UNESP – Franca. Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP 32 C ap .1 • Práticas Ped ag ó g icas no C o ntexto E sco lar mente um conjunto de fatores que alteram a percepção e a atuação do indivíduo nessa realidade. As noções de espaço e tempo, reflexos do modo de representação do mundo (HAR- VEY, 1998), estão hoje comprimidas: informações de distintas partes do globo são aces- sadas com um “click” e o avanço das técnicas permite a cognoscibilidade do planeta. O espaço deixou de ser um fator limitador das relações, em comparação à época das grandes navegações, e o tempo efêmero; revela-se, assim, uma alteração da percepção do indivíduo acerca de seu momento, expressa na sensação de que o mundo está “menor e mais rápido”. Em geral, as novas classificações e divisões da configuração mundial admitem os fatores locais não mais como limitantes da percepção acerca do global. Na condição atual, somos ao mesmo tempo parte de diversos mundos que se relacionam, se completam e se chocam; mundos estes formados a partir de um conjunto de interações humanas e sociais situadas em um determinado tempo e espaço (GIDDENS, 1991, p. 5). Nesse contexto, a formação de nossa identidade constitui um processo de construção que, metaforicamente, assemelha-se àquele desenvolvido quando tentamos ordenar e en- caixar as peças de um quebra-cabeça. Em primeiro lugar, procura-se enxergar o desenho e a particularidade de cada peça, olhando-as não superficialmente, mas sim na riqueza do detalhamento que distingue cada uma das demais; em seguida, analisar os contornos, a fim de compreender como se relaciona a peça observada com as demais peças do quadro – como será a peça diretamente ao lado? Como será a interação de suas figuras? Por fim, faz-se necessário compreender a unidade formada a partir das peças que, individualmente, apresentam-se como diferentes e únicas. Como afirma Geertz: “Num mundo estilhaçado, devemos examinar os estilhaços” (2001, p. 193). A partir de tal exposição, a atuação do Núcleo de Ensino com os alunos secundaris- tas reflete a tentativa de compreender o todo em sua relação dialógica com as partes. De forma específica, a percepção do indivíduo enquanto reflexo de um conjunto de relações forjadas no seio da globalização é o fio condutor da intervenção dos estudantes de Rela- ções Internacionais em sala de aula, visando ao desenvolvimento da prática cidadã. É neste sentido que o projeto apresenta a escola pública enquanto formadora do quebra-cabeça mundial, uma vez que esta constitui uma das peças componentes e apresenta também, em particular aos estudantes, uma percepção das outras partes e do conjunto. Por isso a importância da reflexão acerca da realidade e do estar no mundo, conforme expõe Bauman “questionar as premissas supostamente inquestionáveis do nosso modo de vida é provavel- mente o serviço mais urgente que devemos prestar aos nossos companheiros humanos e a nós mesmos” (1999, p.11). Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP A E d ucação So b o Prism a d as R elaçõ es Internacio nais... 33 Desenvolvimento O método utilizado para executar tal proposta foi a divisão do tema em quatro módulos desenvolvidos bimestralmente: globalização, multiculturalismo, meio-ambiente e socieda- de. Deste modo, o grupo apresentou inicialmente o panorama atual das relações mundiais, ou seja, a discussão do conceito de globalização e suas vinculações com o cotidiano; reali- zou posteriormente uma análise das conseqüências humanas de tal fenômeno, atrelada a aspectos culturais e à ênfase no respeito à diversidade; e por fim buscou discutir, a partir dos assuntos abordados anteriormente, a questão do meio-ambiente e da sociedade como um todo, refletindo em que medida os alunos inseriam-se de forma crítica em tais debates. O projeto foi executado durante nove meses, desenvolvendo bimestralmente cada as- sunto – tempo necessário para realizar os módulos de forma plena e efetiva, sem, no entanto, esgotar as possibilidades de análise acerca do tema e/ou torná-lo repetitivo. Os tópicos foram transmitidos de maneira a abarcar o maior número de discursos transmi- tidos pela mídia a fim de desenvolver nos alunos um senso crítico capaz de estabelecer um debate mais profícuo e aprofundado. Isso porque o estabelecimento de uma cidadania integral possui como prerrogativa os meios de informação éticos e plurais, capazes de transmitir uma visão de todo do evento apresentado. Em cada encontro o Núcleo de Ensino comprometeu-se a confeccionar um material de apoio individual, a ser entregue para cada estudante, de modo a sintetizar o tema da aula e incluir poesias, citações, bibliografia, charges e letras de música capazes de tornar o debate em sala mais rico e instigante. O objetivo também era o de que durante o projeto o aluno possuísse um mínimo de informações impressas para que pudessem ser consultadas e também retomadas em momentos extra-classe, de modo a incentivar a reflexão dos alu- nos de Ensino Médio a partir de seu cotidiano. Nesse sentido buscou-se aproximá-los dos debates presentes na Universidade Pública, estimulando a pesquisa e a percepção crítica da realidade. Tendo em vista que as atuações individuais de cada aluno, em seu contexto particular, devem ser tocadas para que a interdependência entre o local e o global e o protagonismo juvenil possam ser despertados, a dinâmica dos encontros versou entre a apresentação de slides e filmes, sendo alguns deles confeccionados pelos próprios membros do grupo; expo- sição dos assuntos; debates entre a classe; reflexões acerca de pinturas, músicas e poesias; simulações de organismos internacionais; teatros; seminários ministrados pelos estudan- tes a partir de material a eles fornecido, entre outras atividades que visavam uma maior interconexão entre os temas propostos, e uma maior interação entre os estudantes, tanto universitários, quanto secundaristas. Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP 34 C ap .1 • Práticas Ped ag ó g icas no C o ntexto E sco lar Muitas das aulas foram desenvolvidas a partir das colocações dos secundaristas, carac- terizando a construção coletiva da proposta; por exemplo, para discutir o “estar no mundo” do Homem em um contexto de globalização, o grupo pôde apreciar e debater imagens da obra do pintor Salvador Dalí, trechos do poema “Tabacaria” de Fernando Pessoa e discutir “Memórias Póstumas de Brás Cubas” ou contos de Machado de Assis, para que a par- tir das impressões subjetivas dos secundaristas se pudesse debater o enfraquecimento da identidade, o frenesi do mundo atual e a necessidade de uma consciência histórica capaz de revitalizar antigas raízes que estão sendo suplantadas pela ordem do global. Além das constantes respostas que foram requisitadas aos alunos durante os encontros, ao término dos bimestres estes produziram um artigo de opinião sobre o tema discutido ao longo do módulo. O intuito era somar os saberes dos professores das diferentes áreas envolvidas no projeto, o conhecimento proposto pela universidade e a experiência vivida e demonstrada pelo estudante do Ensino Médio; dessa forma, o grupo avaliou seu processo de intervenção na classe e em que medida este respondeu às expectativas da escola. Nesse sentido, a escola, durante o ano letivo de 2007, desenvolveu um projeto institucional de produção de Artigos de Opinião, logo se buscou trabalhar em conjunto com os professores particularmente no que se refere à produção dos mesmos realizada pelos estudantes. O ar- tigo de opinião coube como ferramenta capaz de concretizar muitas das reflexões feitas em sala, e isso consolidou a percepção de que os saberes não são divididos ou fragmentados. Ou seja, o que se discute na aula de História ou Geografia, por exemplo, não é desvincula- do das aulas de Biologia, Física e Língua Portuguesa. Por isso, a integração do núcleo com os projetos já desenvolvidos na escola pode ser uma maneira importante de se materializar, aos olhos dos estudantes, esta integralidade ou interdisciplinaridade do conhecimento, dos saberes. Pois, se o objetivo é o cidadão integral, é preciso que ele seja capaz de opinar, seja um multiplicador de opiniões críticas acerca de si mesmo, da escola, de seu bairro e do mundo em sua complexidade. A globalização foi tratada ao longo do primeiro bimestre como a representação do nos- so tempo (SANTOS, 2000), na qual a inserção do modo de produção capitalista e seu principal expoente, o capital financeiro, alcançaram escalas globais. No entanto, o grupo entendeu como necessário o resgate histórico dos processos de globalização uma vez que, a rigor, as sociedades do mundo estão inseridas em tais processos desde o início da História (SANTOS, 2008, p. 6-7). Sendo assim, só é possível compreender a nova configuração do cenário internacional enquanto resposta conjuntural aos acontecimentos que a precederam. Na tentativa de despertar a noção de perspectiva histórica, promovendo a interdisciplinari- dade, foi elaborada uma dinâmica na qual um espiral (que representava a linha cronológica e continha previamente as informações: Revolução Industrial, I Guerra Mundial, II Guerra Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP A E d ucação So b o Prism a d as R elaçõ es Internacio nais... 35 Mundial, Guerra Fria e queda do Muro de Berlim), seria completado com os respectivos processos e acontecimentos. Estes estavam listados através das palavras: descolonização, bolsa de valores, leste, oeste, multinacionais, Estados fracos, totalitarismo, Estado Nacional forte, mídia, bomba atômica, áreas de influência, blocos econômicos, capitalismo, socia- lismo, movimentos sociais, corrida armamentista, dependência econômica, ONG’s, crise econômica, Guerra Fria, flexibilização das fronteiras, Norte, Sul e opinião pública mundial. A escolha das palavras referentes a cada período fez com que os alunos refletissem acerca da História enquanto um ciclo (HARVEY, 1998) e também compreendessem mais profundamente o desenrolar dos processos e a interdependência dos fatores sociais, político-ideológicos, econômicos e culturais. Pois é a partir das mudanças trazidas com o fim da bipolaridade que se dá o surgimento e o fortalecimento de novos atores no cenário internacional, de forma a alterar a dinâmica de poder interestatal. O grupo apresentou a globalização enquanto decorrência da hegemonização do mode- lo de produção capitalista e do liberalismo ocidental, enfatizando e discutindo tanto seus aspectos positivos quanto negativos. A ênfase foi dada na presença da globalização em nosso cotidiano, como o acesso à informação e a padronização do vestuário, da estética, da cultura, de gostos e preferências, entre outras influências. Com o intuito de enfatizar a interdependência das relações em escala global e o papel de diferentes atores na manutenção ou superação do status quo, foram estudados de forma espe- cífica e detalhada alguns desses atores emergentes no cenário internacional, a saber: indiví- duo, organizações não-governamentais, mídia e opinião pública internacional, movimentos sociais e cúpulas internacionais. Estes foram escolhidos por representarem em grande medi- da exemplos de atuação alternativa às práticas excludentes e impositivas do modelo vigente. Observa-se que tal fenômeno não é homogêneo e admite em seu interior uma gama de disparidades. Isso porque o acesso às informações e às técnicas não se dá de forma igualitária, revelando no conjunto das relações sociais de âmbito local e global uma grande parcela de marginalizados. A sociedade moderna engaja seus membros por meio do consumo (BAUMAN, 1999) e seus reflexos permeiam tanto a redefinição das identidades e uma espécie de homogenei- zação, quanto a exclusão de uma parcela da população, pois “estamos condenados à vida de opções, mas nem todos temos os meios de ser optantes” (1999, p.24). A fim de problematizar a necessidade da detenção de condições materiais para a con- seqüente inserção no sistema, os integrantes do Núcleo de Ensino trabalharam a seguinte dinâmica: utilizando-se de uma lata de coca-cola vazia, somente o estudante (tanto os Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP 36 C ap .1 • Práticas Ped ag ó g icas no C o ntexto E sco lar integrantes do núcleo quanto os secundaristas) que estivesse com a posse desse material poderia fazer uso da palavra. Dessa maneira foram discutidos os vínculos de poder que envolvem as relações humanas em esferas micro e macro, o monopólio do discurso do- minante, bem como a invisibilidade sofrida por aqueles que de alguma forma não estão inseridos na lógica “globalitarista” (SANTOS, 2000) e do consumo. A virada para o século XXI é marcada por profundas transformações não somente no que diz respeito à revolução tecnológica, à interdependência econômica e presença de multinacionais, à flexibilização das fronteiras, ao multilateralismo nas relações entre os Estados, mas também às mudanças nas percepções subjetivas do “estar no mundo”, com a paulatina construção do ideário de “aldeia global”, o qual remete o indivíduo a uma situa- ção de unicidade. É nesse sentido que Marshall Berman afirma que o homem, ao modifi- car todo o mundo físico, moral e social, transforma a si mesmo (BERMAN, 1998), pois ao arrastar “as economias para a produção do efêmero, do volátil (...) e do precário (empregos temporários, flexíveis, de meio expediente)” (PETRELLA, 1997, p.17), a globalização produziu alterações substanciais nas percepções subjetivas do indivíduo. Sensações como volatilidade, instantaneidade, descartabilidade, individualidade e velo- cidade perpassam as relações humanas inseridas na sociedade moderna. Isso porque a per- manência do status quo atual depende do sentimento de insatisfação forjado no indivíduo através de instrumentos ideológicos e o impele a consumir em larga escala: “não se pode ficar parado em areia movediça” (BAUMAN, 1999, p.86). A padronização edifica-se então como uma das grandes conseqüências do fenômeno da globalização, da qual muitos dos alunos da escola em que realizamos o projeto são reflexos (obviamente, em maior ou em menor grau a sociedade em geral corresponde a esta pasteurização do comportamento). Tal assunto foi abordado durante o decorrer de todo o segundo bimestre, uma vez que a homogeneização no ideário popular da lógica do consumo pode adquirir uma conotação perversa ao desenvolver sentimentos como a competitividade e o conformismo (SANTOS, 2000). Foi com a preocupação de desmistificar essas verdades prontas a respeito da competiti- vidade, do individualismo, do vencer a todo custo, que o tema da formação de identidades foi tratado em classe. Os alunos apresentaram certa dificuldade em diferenciar o conceito de personalidade e identidade, sendo esta posteriormente superada através de exemplos pessoais. Para Castells, a identidade se forma com base em atributos culturais, constituin- do-se como a fonte primordial de significado e experiência de um povo (CASTELLS, 2000). Sendo assim, ela está atrelada às vivências do indivíduo em comunidade e também às relações produzidas pela ordem globalizada (SHOHAT, 2006, p. 28). Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP A E d ucação So b o Prism a d as R elaçõ es Internacio nais... 37 Afetadas por uma cultura dita de massa por ser produzida em escala industrial visan- do ao consumo (MORIN, 2007), as diversidades são conseqüentemente apropriadas em troca da imposição de normas de comportamento e inserção social. Dessa forma, o con- junto de símbolos e significados partilhados pelos atores membros de um sistema social (LARAIA, 2006, p. 62-63) é homogeneizado a partir de uma estrutura única sedimentada pelo modo de produção vigente. O cotidiano dos alunos está mitigado por um dos principais veículos da cultura de massa, a mídia, premissa esta observada quando a classe, após ouvir a música do cantor popular brasileiro, Jorge Ben Jor, “Mas, que nada!” e uma versão da banda norte-americana Black Eyed Peas desta mesma música, demonstrou conhecer a versão norte-americana em detrimento da nacional. Logo a “tendência homogeneizante (...) cosmopolita (...) tende a enfraquecer as diferenciações culturais nacionais em prol de uma cultura das grandes áreas transnacionais” (MORIN, 2007, p. 43). Os mecanismos e estruturas de poder articulados em âmbito global de forma a moldar a relação entre os diferentes complexos culturais estão atrelados conseqüentemente aos meios difusores de informação. Tendo em vista a inserção dos alunos nos discursos produ- zidos pela mídia, um olhar crítico sobre a mesma deve constituir-se como ponto chave da ruptura com a padronização com vistas à construção dialógica da identidade. Fica eviden- te, por outro lado, que o processo de ocidentalização sofrido pela sociedade mundial foi então vinculado aos grandes centros econômicos e de decisão política do planeta (IANNI, 1996, p.82). A forma como o indivíduo compreende sua realidade na atualidade está vinculada à visão ocidental, que possui como instrumento a cultura de massa, e dissemina, de acordo com relações de poder, uma concepção dos outros complexos culturais, como o árabe, o hindu, o nipônico, o africano, entre outros. Contudo tal produção de estereótipos (como a assertiva segundo a qual todo “árabe é terrorista”) não significa que as demais culturas tornem-se invisíveis por completo. É por meio da valorização da cultura popular em opo- sição aos estigmas propostos que se evidencia a grande diversidade nos modos de entender e estar no mundo dos diferentes povos. A classe recebeu ainda a visita de três intercambistas mexicanos e também de um egresso do curso de Relações Internacionais da UNESP-Franca, participante de projetos anteriores do Núcleo de Ensino, que realizou um conjunto de viagens para países da África e da Ásia. Após a apresentação dos mesmos acerca de suas experiências os alunos mostraram-se moti- vados diante do contato com o diferente e também com a quebra de estereótipos e precon- ceitos. Percebeu-se ainda a grande identificação entre os adolescentes latino-americanos e Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP 38 C ap .1 • Práticas Ped ag ó g icas no C o ntexto E sco lar o total desconhecimento da realidade oriental. Nesse sentido é elucidativa a incredulidade de vários alunos ao ver a foto de um saudita vestindo uma túnica e jogando futebol. A diversidade cultural não está presente apenas nas relações entre os países, mas perpas- sa também o interior do Estado-nação. O povo brasileiro é um reflexo de tal diversidade. Inserido também nesse contexto de aprofundamento das diversidades está o fenômeno da migração, que vem crescendo de forma exponencial devido à maior intercomunicação entre as localidades. O encontro do “eu” e do “outro” provoca estranheza e exclusão e necessita de medidas oficiais mais efetivas no sentido do reconhecimento do diferente. Para ilustrar esse debate foi exibido o filme “CRASH – no limite” (2004), dirigido por Paul Haggis. Os traços culturais de um povo na ordem globalizada romperam os muros do tradicio- nalismo de modo irreversível. O desafio, neste sentido, é promover uma cultura mundia- lizada, aquela que “corresponde a uma civilização cuja territorialidade se globalizou. Isso não significa, porém, que o traço comum seja sinônimo de homogeneidade” (ORTIZ, 1994, p.31). Conquanto, admite-se a internacionalização de traços comuns de uma cultura vinculados a aspectos econômicos e políticos; no entanto, questiona-se em que medida tal processo subordinou, ou até mesmo tornou invisíveis, outras formas de expressão cultural, como a cultura popular. Exatamente por reconhecer uma multiplicidade cultural e saber que essa diversidade está imersa em contextos de relações de poder é que se ressaltou a importância de uma vi- são multicultural, pois esta “descoloniza as representações não apenas quanto aos artefatos culturais – cânones literários, exibições em museus, filmes – mas principalmente quanto às relações de poder entre diferentes comunidades” (SHOAT, 2006, p. 26). Em tal colocação multiculturalismo pode ser definido como uma interação dialógica a partir da constatação de uma rica diversidade cultural. Tendo por base o reconhecimento do “outro”, na com- preensão de seu discurso como legítimo e na valorização de sua humanidade, de sua iden- tidade e de sua riqueza cultural, busca-se romper a idéia de indivíduo enquanto “máquina de consumo ou etiqueta exposta na vitrine do mercado global” (ROCHA, 2005). Seguindo essa mesma linha, foram abordados conceitos como paz pró-social e a vincula- ção da mesma com a resolução não-violenta de conflitos, em sala de aula. Esta foi dividida em cinco grandes grupos os quais tinham por objetivo apresentar uma possível solução para o problema relatado em uma ficha. Os problemas, diferentes para cada grupo, eram referen- tes às esferas micro e macro das relações sociais, partindo dos âmbitos pessoais, como uma crise conjugal, e atingindo níveis globais, como as relações bélicas entre os Estados. A partir do panorama da globalização e suas conseqüências humanas, o Núcleo de Ensino tratou no terceiro bimestre a questão do meio-ambiente, e no quarto, a socieda- Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP A E d ucação So b o Prism a d as R elaçõ es Internacio nais... 39 de. O intuito destes módulos era reforçar práticas emancipatórias em relação aos temas abordados, compreendendo em que medida os alunos, cientes da lógica global enquanto promotora de identidades padronizadas e sentimentos comuns, faziam uso de conceitos inovadores para empreender a análise e a proposição de alternativas. As questões que envolvem o meio ambiente, e mais especificamente as relações do ser humano com a natureza, merecem destaque nessa nova ordem globalizada. O modelo de desenvolvimento econômico mundial não baseia-se na sustentabilidade e na preservação dos ecossistemas, o que ocasionou o avanço de desastres ecológicos. Tais desatres afetam a sociedade de diferentes formas: agravam os quadros da saúde pública, produzem mas- sas de refugiados, deflagram problemas sanitários e habitacionais inviabilizando zonas urbanas, quebram o equilíbrio da biosfera produzindo aquecimento global e dimuição da diversidade, entre outras mazelas. É por entender as relações existentes entre o local e o global, o indivíduo e a socie- dade, o homem e a natureza, enfim, pela percepção segundo a qual todos fazemos parte de um mesmo todo de forma dinâmica, que o Núcleo de Ensino abordou o tema Meio Ambiente com os alunos da segunda Série do Ensino Médio. Nesse sentido cabe ressaltar ainda o papel destacado da sociedade civil no que se refere às frentes de preservação do meio ambiente, como Ong’s e Movimentos Sociais, em contrapartida a medidas diminu- tas desenvolvidas pelos Estados e suas representações na comunidade internacional. Para Vandana Shiva: Não importa quem somos e onde estamos, mais uma vez, devemos com sensibilidade e responsabilidade, fazer as pazes com a diversidade. Temos que aprender que a diversidade não é uma receita para o caos e sim nossa única chance de um futuro mais sustentável e justo – em termos sociais, políticos, econômicos e ambientais. É a única maneira de sobrevivermos. (SHIVA, 2001, p. 144). Desse modo, para aproximar e interconectar o debate ambiental às questões sociais, econômicas, políticas e culturais foi desenvolvida junto aos alunos a problemática dos re- fugiados ambientais. Este termo, que remete a todos aqueles indivíduos que deslocam-se de seu local de origem por problemas vinculados ao ambiente, ainda não é reconhecido legalmente em tratados da Organização das Nações Unidas. Esta questão foi debatida de forma vigorosa em classe ao identificarem-se as necessidades de assistência humanitária internacional para com estas pessoas. Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP 40 C ap .1 • Práticas Ped ag ó g icas no C o ntexto E sco lar A fim de aproximar tal debate ambiental do cotidiano dos estudantes foi abordada a questão do lixo e da invisibilidade social através do curta-metragem lançado em 1989, “Ilha das Flores”. O documentário aborda a desigualdade social existente nas relações de consumo e em que medida tal situação degrada a própria dignidade humana e a noção de ser humano, de forma a relativizar o conceito de lixo e sua carga negativa. Os alunos foram questionados em relação à importância dos profissionais responsáveis pela limpeza da escola, sendo estes convidados a dar uma pequena exposição sobre sua tarefa e a maneira como eram tratados pelos alunos. Tal atividade mostrou-se muito positiva ao promover a reflexão acerca da invisibilidade – o não reconhecimento do “outro” e conseqüentemente da figura humana – sofrida por todos aqueles que possuem uma atividade profissional vinculada à coleta “do que jogamos fora”. Aspectos da globalização como a biotecnologia, e em particular os transgênicos, foram também discutidos em sala com vistas à promoção da ética ambiental, entendida como a relação consciente entre homem e natureza, na qual o homem se vê como parte do meio ambiente e busca harmonizar-se com ele, no lugar de tentar subjugá-lo. A sala foi divi- dida em grupos, os quais assumiram o papel de cinco grandes envolvidos com a questão dos transgênicos: uma multinacional, latifundiários, pequenos produtores, o Estado, um movimento social e uma ONG. Os alunos estabeleceram um debate frutífero a partir de materiais fornecidos, e compreenderam de forma dinâmica os vários interesses existentes na legalização ou proibição das sementes geneticamente modificadas. Para concluir o terceiro módulo os secundaristas foram convidados a fazer uma refle- xão do quadro de Salvador Dalí, “Destino”, e a pensar em que medida este expressava as relações do Homem com a (sua) Natureza. O último módulo abordou debates acerca da democracia, dos direitos humanos, da educação, dos movimentos sociais e da participação dos indivíduos na sociedade. Em todos estes temas primeiro realizou-se uma exposição de conceitos seguida de uma atividade dos alunos. Estas envolveram debates, dramatizações, atuações na realidade es- colar e diálogos com grupos de extensão da universidade. Merece destaque o dossiê escrito pelos alunos para discutir os problemas da escola, envolvendo o âmbito docente, discente, da infra-estrutura e dos funcionários. Para tal foram realizadas entrevistas com a comuni- dade escolar e pesquisas de campo, resultando na percepção de que muitos dos problemas apontados tinham como lócus a atuação individual dos próprios discentes. Por fim, o filme “Quanto Vale ou é por Quilo” foi utilizado com o intuito de relacionar os temas abordados durante o bimestre. Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP A E d ucação So b o Prism a d as R elaçõ es Internacio nais... 41 Conclusão A coexistência de coletividades diversas se faz, cada vez mais, parte do cotidiano. A formação do cidadão integral perpassa o conhecimento e a compreensão do que ocorre no cenário global, pelo reconhecimento do “outro” e do próprio “eu” no mundo e em suas subdivisões. Como pode a cidadania ser integral, plena e completa sem que o cidadão compreenda o todo no qual está inserido e nele saiba e possa interagir? A ordem internacional é preenchida e costurada por muitos elementos simbólicos que legitimam determinadas concepções de mundo em detrimento de outras. Segundo o teó- rico Robert Cox (1986, p.204-254), toda teoria é interessada em um estado de coisas, seja ele político, econômico, cultural ou social. A epifania do pertencer ao mundo não mais limitado por fronteiras físicas nos permite deduzir que os rumos globais não são governa- dos somente pela natureza, mas são resultado da ação humana e em constante mudança. O conhecer para compreender e transformar dentro dessa lógica de mundo é fator es- sencial para desmistificar o que nos é posto apenas parcialmente e quebrar a imobilidade de ação que nos é vendida. Segundo Michel Foucault (1980, p.66), toda forma de domi- nação depende de uma articulação entre conhecimento e poder. Deste modo, a proposta de levar o debate acadêmico sobre estes temas para o espaço da escola pública e vincular os grandes problemas internacionais à transformação do meio escolar é relevante na me- dida em que viabiliza a construção de uma capacidade de avaliação crítica pelos alunos do Ensino Médio, a respeito de seu próprio potencial de parte-atuante na sociedade con- temporânea. Faz-se extremamente importante que os sistemas educacionais (entendidos não apenas como a escola, mas também como a família e a sociedade de um modo amplo) ajudem o jovem a solucionar o dilema entre aquilo que recebe de fora e aquilo que o ca- racteriza dentro de sua cultura (GIROUX, 1995, p.88). É, portanto, fundamental o papel da escola na promoção da discussão sobre o impacto de tais mudanças em nosso cotidiano, sobre como podemos aprender com o novo e tam- bém sobre como esse processo, aparentemente exógeno, constitui uma via de mão dupla na qual não somente recebemos as mudanças, mas também somos capazes de promovê-las. A partir da necessidade de humanização das relações, o projeto “Estar no mundo: a es- cola pública montando as peças do quebra-cabeça mundial” entende a educação através de uma troca dialógica com o macro, como um espaço de construção e superação de desafios. O incentivo à cooperação e à comunicação no ambiente escolar tem por base a crença de que pequenas alterações de comportamento no universo interpessoal contribuem para a solução de conflitos e disparidades na dimensão internacional (GAARDER, 2005). Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP 42 C ap .1 • Práticas Ped ag ó g icas no C o ntexto E sco lar A Universidade Pública e os estudantes de Relações Internacionais, nessa experiência possibilitada pelo Núcleo de Ensino, representam um elo de comunicação entre o aluno do Ensino Médio e debates muitas vezes limitados pelos muros da academia, entre a co- munidade e a pesquisa, entre a peça e o conjunto que formam o quebra-cabeça mundial, com vistas a resgatar e enfatizar o ser humano em todo esse processo. O caráter multidisciplinar dos temas que são abordados nas Relações Internacionais confere ao projeto uma peculiaridade a mais: é possível interagir com todos os professores das mais diferentes disciplinas. Assim, justifica-se a entrada da UNESP e dos alunos das Relações Internacionais na escola pública, uma vez que, para se tratar do cidadão inte- gral em um mundo, caracterizado por muitos teóricos, como estando em pedaços, cabe a intervenção pedagógica nos moldes de Paulo Freire, que sempre buscou, no decorrer do processo e não no produto final, elaborar as perguntas certas, a fim de se construir, coleti- vamente, as melhores respostas. Agradecimentos Registramos nossos agradecimentos à coordenadora da Escola Estadual “Mário D’Elia”, professora Regina Jesus Silva, cujo apoio foi fundamental para a realização deste projeto. BIBlIogrAfIA BAUMAN, Z. Globalização: as conseqüências humanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999. BERMAN, M. Tudo que é sólido se desmancha no ar. São Paulo: Cia das Letras, 1998.    CASTELLS, M. O poder da identidade. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2000. COX, R. W. Social forces, states and world orders: beyond international relations theory. In: KEOHANE, R. O. 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Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP A Pro b lem atização D ialética em Jo g o s Ped ag ó g ico s... 45 A Problematização Dialética em Jogos Pedagógicos: um Estudo de “Expressão Gênica: Produzindo Hemoglobina” Maria Eliza Brefere ARNONI Docente de Didática UNESP-IBILCE de São José do Rio Preto, Departamento de Educação Resumo: Este artigo discute o uso da problematização dialética, segundo a Me- todologia da Mediação Dialética – M.M.D. – (ARNONI, 2007), na produção de um recurso didático para a sala de aula, o jogo pedagógico. Como a M.M.D. pauta-se na relação dialética que se estabelece entre professor e aluno, em situação de aula, o jogo pedagógico também exige a participação de ambos, no decorrer de seu desenvolvimento. A lingua- gem provocativa e estimuladora do jogo constitui um meio adequado para manter a interação pedagógica entre professor e aluno e, respecti- vamente, entre ensino e aprendizagem, dois processos distintos que so- mente se relacionam dialeticamente por intermédio dos sujeitos que os realizam na prática educativa, considerando as circunstâncias concreta- mente postas pelo contexto histórico. Para exemplificar, descrevo a ela- boração do jogo “Expressão Gênica: produzindo hemoglobina”, gerado para situações presenciais que exigem o estudo e a articulação de duas áreas do conhecimento distintas, a biológica e a pedagógica, neste caso, a Lógica Dialética. Os dados obtidos de sua aplicação indicam tratar-se de um recurso didático que apresenta design atrativo, linguagem dinâ- mica e permite a compreensão do conteúdo desenvolvido. Palavras-chave: problematização, jogo pedagógico, lógica dialética. Introdução Em meus estudos sobre a aula, na perspectiva dialética e ontológica, considero a lingua- gem como o meio propício para de se estabelecer a mediação pedagógica entre professor e aluno na prática educativa, sendo ela a responsável pela conseqüente relação entre os dis- tintos processos que eles desenvolvem, o ensino e a aprendizagem, respectivamente. Neste contexto, a linguagem é a base relacional da práxis educativa, ou seja, da relação dialética entre conhecimento individual e o histórico, o que potencializa um processo contínuo Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP 46 C ap .1 • Práticas Ped ag ó g icas no C o ntexto E sco lar de transformações no homem e a inserção de nexos causais na práxis, entendida como o mundo humano e social, criado pelo próprio homem. Neste aspecto, as diferentes moda- lidades de linguagens e a forma como são tratadas constituem um fator importante na for- mação do ser social. Este texto pretende colaborar nesta discussão, ao apresentar, (a) uma proposição metodológica centrada na mediação dialética, como fundamento pedagógico da aula presencial; (b) a aplicação desta proposição na elaboração da atividade “Expressão Gênica: produzindo hemoglobina”, na qual, a linguagem do jogo é usada, simultaneamen- te, para gerar a problematização e para estabelecer e manter a mediação pedagógica entre professor e aluno. Na questão da aprendizagem, a problematização caracteriza-se por “si- tuações de jogo” que explicitam a contradição entre os conhecimentos iniciais dos alunos e o conteúdo de ensino desenvolvido, potencializando a superação das idéias iniciais e a compreensão do conteúdo. Os resultados obtidos pela aplicação deste jogo mostram que ele constitui-se num recurso didático que dinamiza a aula e potencializa a compreensão do conteúdo que desenvolve. Desenvolvimento 1. Pressupostos teóricos da proposição metodológica, a Metodologia da Mediação Dialética (ArNoNI, 2007) A proposição da “Metodologia da Mediação Dialética” fundamenta-se nos pressupos- tos da Dialética e da Ontologia do Ser Social, operacionaliza o método dialético e centra- -se na relação de tensão dialética, a mediação pedagógica, entre os seres sociais envolvidos na prática educativa, o aluno e o professor, por meio do desenvolvimento metodológico do conteúdo de ensino. A mediação pedagógica permite, simultaneamente, o desenvolvimento do conteúdo de ensino, junto aos alunos, por estabelecer a tensão dialética entre professor e aluno, e, a relação entre os processos de ensino e de aprendizagem que estes desenvolvem, respectivamente. Nesta proposição teórico-metodológica, a contradição, por um lado, gera e mantém a mediação pedagógica – professor x aluno – durante todo o desenvolvimento da prática educativa, pela diferença de conhecimento que estes desenvolveram, em relação ao conte- údo de ensino, ou seja, pela qualidade de relações que estabelecem sobre o referido conte- údo, relações mediatas ou imediatas. Por outro lado, a contradição manifesta-se no con- teúdo de ensino por intermédio da problematização de situações capazes de gerar tensões dialéticas entre os conhecimentos iniciais do aluno (Ponto de partida – plano do imediato) e o conteúdo que se pretende que o aluno aprenda na prática educativa (Ponto de chegada Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP A Pro b lem atização D ialética em Jo g o s Ped ag ó g ico s... 47 – plano do mediato). Em termos do pensamento do aluno, a problematização potencializa a superação dos conhecimentos iniciais na perspectiva do conteúdo pretendido, possibili- tando, assim, a elaboração de sínteses que expressam o conhecimento aprendido. A Metodologia da Mediação Dialética compõem-se de etapas distintas e articuladas que informam o desenvolvimento da prática educativa: Resgatando, Problematizando, Sis- tematizando e Produzindo. 1ª. Etapa – resgatando Resgatar é buscar o ponto de partida, em relação ao conhecimento inicial dos alunos, para o desenvolvimento do conteúdo de ensino. O professor apresenta aos alunos uma sé- rie de atividades que envolvem o conteúdo de ensino para que os alunos possam expressar as idéias iniciais que trazem sobre o referido conteúdo. As respostas dos alunos representam, provisoriamente, o conhecimento inicial do alu- no sobre o conteúdo, em questão, e o professor, ao compará-las com o conhecimento que pretende ensinar, depreende a contradição (relação de tensão) entre ambos para, então, elaborar o Problematizando. 2ª. Etapa – Problematizando Problematizar é criar uma situação pedagógica, uma “questão-problema” capaz de provocar no aluno a possibilidade de ele comparar seus conhecimentos iniciais sobre o conteúdo de ensino com o próprio conteúdo e depreender a contradição entre ambos. A problematização explicita as diferenças entre esses conhecimentos, tensionando-os por contradição e, assim, estimula o aluno a elaborar soluções para “questão-problema”, le- vando-o a perceber que seus conhecimentos iniciais não são suficientes para elaborar a resposta solicitada. A atividade problematizadora pauta-se nos conhecimentos que o aluno traz, mas, sua direção e sentido visam o conteúdo de ensino a ser desenvolvido. Ela não deve nem difi- cultar e nem facilitar em demasia seu entendimento e, por este motivo, impulsiona para além dela, estimulando o aluno na busca de novos conhecimentos. 3ª. Etapa - Sistematizando Sistematizar é desenvolver situações pedagógicas que possibilitem ao aluno retomar a “questão-problema” e, a partir dela, discutir o conteúdo de ensino, no sentido de superar a Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP 48 C ap .1 • Práticas Ped ag ó g icas no C o ntexto E sco lar contradição os conhecimentos iniciais. Essa situação potencializa a elaboração de sínteses, o conhecimento aprendido. 4ª. Etapa - Produzindo Produzir é desenvolver situações pedagógicas em que o aluno possa expressar, por intermédio das diferentes linguagens, as sínteses elaboradas, ao vivenciar as etapas da MMD. As produções dos alunos representam o Ponto de Chegada da prática educativa, um conhecimento provisório que se torna imediatamente um novo Ponto de Partida, constituindo-se em um elemento imprescindível para avaliar a aprendizagem do aluno. As etapas, acima descritas, indicam as atividades pedagógicas a serem desenvolvidas junto aos alunos e, portanto, informam o processo de aprendizagem. No entanto, para serem planejadas, uma questão do ensino, é necessário que o professor inicialmente esta- beleça a relação entre as duas áreas de conhecimento distintas que sustentam a M.M.D., a que produziu o conceito a ser ensinado e a que produziu o aporte pedagógico, a Ló- gica dialética e a Ontologia do ser social (ARNONI, 2003). Nesta proposição, o aporte pedagógico, de cunho filosófico, subsidia a organização metodológica do conteúdo de ensino que articula dialeticamente as atividades propostas pelo professor e as desenvol- vidas pelo aluno. Nesta perspectiva, a utilização da linguagem do jogo, como procedimento pedagógi- co, tem como objetivo o desenvolvimento de uma dinâmica para a sala de aula, em que o professor atua como orientador do processo e que todos os alunos participem ativa- mente de todas as etapas, criando, assim, um ambiente favorável para o desenvolvimento da prática educativa. 2. Aplicação da Metodologia da Mediação Dialética na elaboração do jogo “Expressão gênica: produzindo hemoglobina1” O jogo foi planejado, produzido e aplicado pelos alunos da, sob minha orientação, como trabalho final da disciplina que exigia a aplicação dos fundamentos estudados numa 1 Jogo “Expressão Gênica: produzindo hemoglobina”, desenvolvido na disciplina Didática do Ensino Superior da Pós- Graduação de Genética, UNESP-IBILCE São José do Rio Preto, em 2003, sob a orientação da Profa. Dra. Maria Eliza Brefere Arnoni, Departamento de Educação, pelos alunos Sandra Regina de Carvalho Marchesin, Alexandra Laranja, Cristiane Ruzzante Tamburi, José Márcio Marcatto. Integra, desde 2006, o Projeto Jogos de Biologia Molecular do IBILCE, coordenado pela Profa. Dra. Maria Eliza Brefere Arnoni, selecionado pelo Programa Ciência na UNESP, para promulgar a produção científica da UNESP. Em 2007, foi objeto de estudo do Projeto do Núcleo de Ensino/PROGRAD e, desde 2008, integra o Centro Integrado de Ciências e Cultura de São José do Rio Preto, uma parceria IBILCE-FAPERP- Prefeitura Municipal de São José do Rio Preto. Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP A Pro b lem atização D ialética em Jo g o s Ped ag ó g ico s... 49 proposição de aula, entendida como práxis educativa. Para isto, era necessário que os alu- nos desenvolvessem as fases da aula, distintas e articuladas, planejar, desenvolver junto aos alunos e avaliar. A intencionalidade da disciplina, para este ano, era a organização metodológica do conteúdo de ensino, ou seja, a transformação do conceito Expressão gênica em conteúdo de ensino de Expressão gênica, por intermédio da linguagem do jogo, preservando o rigor científico dos conceitos produzidos pelas áreas de conhecimento envolvidas, Ciências Bio- lógicas (ALBERTS, B. et al., 1999; GRIFFITHS, A.J.F. et al., 1998; RAW, I.; FREED- MAN, A ; MENNUCCI, L., 1981) e Ciências Humanas (ARNONI, 2007; LESSA, 2007; LUKÁCS, 1979a, 1979b; MARX, 2008; KOSIK, 1976). Além desta intencionalidade, a disciplina pretendia: (a) Inovar a produção de jogos pe- dagógicos, articulando dialeticamente a questão metodológica ao conceito biológico a ser ensinado; (b) Organizar atividades lúdicas que tornam os conceitos biológicos compre- ensíveis para a população; (c) Desenvolver o conceito de anemia falciforme, colaborando para a melhoria da qualidade da saúde humana. Para isso, no planejamento inicial que antecede a prática educativa de sala de aula, os alunos criaram o design do jogo que incorpora os conceitos selecionados das respectivas áreas do conhecimento, elaborando o modelo pretendido, as metas e os contornos de sua dinâmica lúdica. Assim, planejaram o seu desenvolvimento (development) e elaboraram o plano da aula (design putlook), a base para a produção do mesmo. O design, desenho do jogo pedagógico, apresentava quatro tabuleiros para representa- rem as etapas da M.M.D., o que permitui a escolha do material para sua produção, bem como, a seleção das informações conceituais e a elaboração de situações interessantes e desafiadoras. Prendia-se, também, aplicar o jogo, no sentido de verificar o atendimento dos objetivos pretendidos e, de posse dessas análises, replanejá-lo, se necessário, e disponi- bilizá-lo á comunidade. 2.1. Apresentação do jogo O jogo pedagógico “Expressão Gênica: produzindo hemoglobina” é composto por dois kits, cada um contendo quatro tabuleiros que representam as etapas da M.M.D., pois é jogado por dois grupos de alunos que se articulam. Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP 50 C ap .1 • Práticas Ped ag ó g icas no C o ntexto E sco lar TABUlEIro 1: resgatando Foto do Tabuleiro 1 – RESGATANDO Jogo pedagógico “Expressão Gênica: produzindo hemoglobina” A produção deste tabuleiro baseou-se nos dados obtidos de um questionário que os alunos da Didática do Ensino Superior elaboram e aplicaram junto aos alunos de 3º. Ano do Ensino Médio e do 1º. Ano de Graduação em Ciências Biológica do IBILCE. A análise das respostas dos alunos, público alvo da pesquisa, mostrou as dificuldades rela- cionadas aos conceitos básicos para a compreensão de Expressão Gênica. Por este motivo, o tabuleiro é denominado de Resgatando e trabalha os conceitos necessários para a com- preensão do tema expressão gênica, utilizando peças que representam a composição dos nucleotídeos: grupo fosfato, pentoses e bases nitrogenadas. Esta etapa propicia a exteriorização das idéias iniciais do aluno, em relação ao conceito desenvolvido, o nucleotídeo, a unidade fundamental do material genético: constituintes químicos, diferenças entre os nucleotídeos que compõem o DNA e o RNA, dentre outros, considerados básicos para o entendimento de expressão gênica. TABUlEIro 2: Problematizando Foto do Tabuleiro 2 – PROBLEMATIZANDO Jogo pedagógico “Expressão Gênica: produzindo hemoglobina” Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP A Pro b lem atização D ialética em Jo g o s Ped ag ó g ico s... 51 Neste Tabuleiro, a partir dos nucleotídeos já montados, que representam parte da fita de DNA molde da Proteína de hemoglobina, os alunos recebem bases nitrogenadas para a construção da fita de DNA complementar e, a partir desta, deverão construir a fita de mRNA. Em seguida, usando a tabela do código genético, selecionarão os aminoácidos correspondentes para montar parte da seqüência protéica da hemoglobina. E, como não é comentado que as hemoglobinas formadas serão diferentes, a Equipe A forma parte de uma hemoglobina falciforme e a Equipe B forma parte de uma hemoglobina normal. Este fato é evidenciado quando as equipes, ao terminarem a tarefa, recebem o passa- porte para o terceiro tabuleiro. Nesta etapa, os jogadores respondem a pergunta “Em qual tipo celular a proteína que foi formada está presente? Resp: hemácias, neste momento os jogadores visualizarão a figura de uma “hemácia”. Para os jogadores da equipe A a hemácia apresenta-se na forma de foice (forma característica de uma hemácia alterada) e para os da Equibe B a hemácia apresenta-se na forma oval( forma característica de uma hemácia normal). A problematização é explicitada com o seguinte questionamento: “Por que foram for- madas hemácias diferentes?”. Desta forma, ao se depararem com a “situação-problema”, as equipes são estimuladas a compararem os tabuleiros A e B para identificarem a alteração geradora desta diferença e, então, responderem a questão “por que foram formadas hemá- cias diferentes?”. TABUlEIro 3: Sistematizando Foto do Tabuleiro 3 – SISTEMATIZANDO Jogo pedagógico “Expressão Gênica: produzindo hemoglobina” Neste Tabuleiro, diante das figuras diferentes, cada equipe utiliza as perguntas e respostas, desta etapa, para discutir a Problematização, a partir dos conceitos genéticos de anemia fal- ciforme. Isto possibilita a resolução da “situação-problema” (superação) pela compreensão da causa da alteração ocorrida, o que potencializa a superação das idéias iniciais e a elaboração Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP 52 C ap .1 • Práticas Ped ag ó g icas no C o ntexto E sco lar de síntese, pelo aluno, a aprendizagem de que a anemia falciforme é a expressão gênica (fe- notípica) de uma mutação gênica pontual ocorrida na proteína hemoglobina. Ou seja, a ane- mia falciforme é gerada por uma mutação pontual que consiste na substituição de um único nucleotídeo (Adenina por Timina), ocasionando conseqüências fenotípicas resultantes desta alteração genotípica: a substituição do aminoácido ácido glutâmico (Guanina-Adenina- -Guanina) presente na proteína hemoglobina normal para uma valina (Guanina-Timina- -Guanina). Esta substituição causa uma alteração na estrutura da proteína hemoglobina levando a formação de hemácias morfologicamente modificadas quando em presença de um estresse oxidativo passando da forma oval para a de foice. Estas hemácias, agora deficientes no transporte de oxigênio, geram a doença genética conhecida como Anemia Falciforme. TABUlEIro 4: Produzindo Foto do Tabuleiro 4 – PRODUZINDO Jogo pedagógico “Expressão Gênica: produzindo hemoglobina” Neste Tabuleiro, a classe é dividida em grupos e cada grupo recebe diferentes textos com informações científicas sobre a doença genética - anemia falciforme -, para a discus- são sobre: as causas, os sintomas, o diagnóstico, o tratamento, a incidência na população; a cura e o local para procurar esclarecimentos e informações. No fechamento da atividade, os alunos produzem e apresentam para a sala um material de divulgação, de cunho político e social, que expresse o conteúdo aprendido e informe a comunidade sobre esta patologia. Para a elaboração do jogo foram utilizados os conceitos produzidos no campo da biologia celular, genética, molecular e bioquímica, os quais incluem desde a conceituação da menor unidade constituinte do DNA e RNA, o nucleotídeo, perpassando as ativida- des dinâmicas da célula como transcrição e tradução, chegando-se a expressão fenotípica Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP A Pro b lem atização D ialética em Jo g o s Ped ag ó g ico s... 53 resultante, a proteína sintetizada pela célula. Além destes, são discutidos no jogo conceitos de mutação pontual, ou seja, mínima, mas capaz de alterar morfologica e funcionalmente uma proteína, cujo exemplo oferecido é o da anemia falciforme, desde sua origem, causa, sintomas, tratamento, prevenção e cura. As Fichas Informativas sobre os conceitos trabalhados no jogo guiam as ativida- des a serem desenvolvidas pelos alunos e, a passagem de um tabuleiro para outro é permi- tida por peças denominadas passaportes, que representam o objetivo e a síntese de cada tabuleiro. O último tabuleiro contém textos que abordam o tema “anemia falciforme”, fechando a atividade com a produção de um material que expresse o que foi aprendido pelos alunos, propondo a articulação dos conceitos trabalhados com a temática social. O diferencial e a exclusividade deste jogo centram-se no fato de ele ser planejado e desenvolvido com base em pressupostos filosóficos, como suporte pedagógico, ou seja, ele é único em sua gênese e especificidade, de utilizar a dinâmica da linguagem do jogo na transformação de conceitos genéticos em conceitos para o ensino de Genética. Ao analisar o jogo, em sua totalidade, percebem-se a simultânea relação e especificidade dos quatro tabuleiros que representam, respectivamente, as quatro etapas da “Metodolo- gia da Mediação Dialética”. Uma informação relevante é a constatação que cada um dos tabuleiros, dentro de sua especificidade, caracteriza-se pelo desenvolvimento das quatro etapas da referida proposição metodológica. Isto permite que cada tabuleiro, também, seja considerado e trabalhado como totalidade menos complexa, articulada ao jogo, como um todo, a totalidade complexa. Conclusão Jogo pedagógico “Expressão Gênica: produzindo hemoglobina” Coordenadora do Projeto Núcleo de Ensino e graduandos Local: CICC Centro de Ciências e Cultura de São José do Rio Preto Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP 54 C ap .1 • Práticas Ped ag ó g icas no C o ntexto E sco lar O jogo didático “Biologia Molecular: Produzindo Hemoglobina”, elaborado segundo a proposição da “Metodologia da Mediação Dialética”, exigiu que a equipe produtora estudasse os conceitos biológicos, investigando suas relações históricas internas e externas a ele, bem como, os conceitos pedagógicos, de cunho filosófico que informam a metodolo- gia usada para sua produção. Este estudo permitiu a elaboração das informações contidas no jogo, as quais são consultadas pelo aluno diante das dificuldades que o próprio jogo promove. Todo o estudo realizado está disponível no Informativo, sendo necessário que o professor que coordena as duas equipes de alunos e seus respectivos mestres, domine-os. Assim, este jogo pedagógico permite ao aluno superar o plano do imediato e alcançar o que de melhor a ciência vem produzindo ao longo da história, avanços que nem sempre chegam aos estudantes de forma coerente, como parte da realidade e socialmente contex- tualizados. E, como recurso didático, propicia, ao professor, um trabalho interessante com conteúdo de ensino e aos alunos uma auto-avaliação quanto aos seus desempenhos, além de fazer com que analisem seu próprio raciocínio, como mostram as fotos abaixo. Jogo pedagógico “Expressão Gênica: produzindo hemoglobina” Alunos do 2º ano do Ensino Médio Local: da Escola Estadual Centro Paula Souza, de São José do Rio Preto Jogo pedagógico “Expressão Gênica: produzindo hemoglobina” 4° Ano de graduação em Licenciatura do curso de Ciências Biológicas Local: UNESP-IBILCE de São José do Rio Preto Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP A Pro b lem atização D ialética em Jo g o s Ped ag ó g ico s... 55 Este artigo mostra a versão impressa do do jogo e expressa a complexidade de sua ela- boração e aplicação, devido seu diferencial, anteriormente discutido. Porém, os resultados obtidos em sua exposição e operacionalização mostraram a necessidade de torná-lo vir- tual, uma forma de melhor difundí-lo. Este trabalho foi iniciado e demandou um longo estudo das novas linguagens tecnológicas e de seu uso na produção do jogo, mantendo os referênciais teóricos que o embasam. E, assim, emergiu um novo desafio que se mantém, pois, permanece em elaboração. BIBlIogrAfIA ALBERTS, B. et al. Fundamentos da biologia celular: uma introdução à biologia molecular da célula. Porto Alegre. Artmed, 1999. ARNONI, Maria Eliza Brefere. Metodologia da Mediação dialética e o ensino de conceitos científicos. In: XII ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino, 2004, PUCPR, Curitiba. CD-ROM ISBN: 85 7292-125-7. ARNONI, Maria Eliza Brefere, OLIVEIRA, Edilson Moreira; ALMEIDA, José Luís Vieira. Mediação Dialética na Educação Escolar: teoria e prática. São Paulo: Edições Loyola. 2007. ISBN 978-85-15-03440-6. GRIFFITHS, A.J.F. et al. Introdução a genética / tradução: Paulo Armando Motta. Edição 6. Rio de Janeiro. Guanabara; c1998. KOSIK, Karel H. Dialética do concreto. [Trad. Célia Neves; Alderico Turíbio], 2ed, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1976. LESSA, Sérgio. Para compreender a ontologia de Lukács. 3.ed.rev.e ampl. Ijuí: Ed. Unijuí, 2007. 240 p. ISBN 9788574294971 LUKÁCS, György. Ontologia do Ser Social: A falsa e a verdadeira ontologia de Hegel. [Trad. Carlos Nelson Coutinho] São Paulo: Livraria Editora Ciências Humanas, 1979a. LUKÁCS, György. Ontologia do Ser Social: Os princípios ontológicos fundamentais de Marx. [Trad. Carlos Nelson Coltinho] São Paulo: Livraria Editora Ciências Humanas, 1979b. MARX, Karl. O capital: crítica da economia política: livro I/Karl Marx; tradução de Regi- naldo Sant Anna. 26ª. ed. - Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. RAW, I.; FREEDMAN, A ; MENNUCCI, L. Bioquímica: fundamentos para as ciências biomedicas .São Paulo. McGraw-Hill, 1981. 2v. Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP A Q uím ica E xp erim ental C o m o Facilitad o ra d o Pro cesso ... 57 A Química Experimental Como Facilitadora do Processo Ensino – Aprendizagem1 Iêda Aparecida PASTRE2 Vera Aparecida de Oliveira TIERA2 Fernando Luis FERTONANI2 Carolina Baldin CAPORALIN3 Caio Ricardo Faiad da SILVA3 Resumo: A presente proposta parte da constatação de que os estudantes apresen- tam deficiências na transposição de uma constatação macroscópica para o modelo microscópico que descreve a química e suas transformações. O presente trabalho representa um mecanismo de ligação entre os dois lados do conhecimento: o popular e o científico. A tendência ao didatismo, para tornar um conceito assimilável, chegando ao abstrato a partir do concreto, pode estar no fato de os alunos se encontrarem mais perto dos conheci- mentos cotidianos de tal modo que seus problemas, quando colocados, não são os da ciência. Assim, a realização de experimentos e o uso de observações das transformações do ambiente, introduziram e ilustraram diversos itens do programa da disciplina de química conduzindo a forma- ção de conceitos e estabelecimento de princípios, levando o aluno a um preparo autêntico. O trabalho, ajustado aos objetivos do ensino, foi reali- zado desenvolvendo-se atividades monitoradas, envolvendo a realização de experimentos que auxiliam o professor no ensino da teoria, e promo- vendo-se a inserção em um contexto significativo para o aluno. Dessa for- ma, o trabalho ofereceu aos alunos princípios teóricos de maneira lógica e agradável, possibilitando um entendimento da química como uma ciência articulada, visando sua compreensão e aplicações na sociedade atual. Palavras-chave: ensino de química; ensino médio; experimentação; contextualização. Introdução A ciência, como um conjunto organizado de conhecimentos, apresenta-se dividida em várias disciplinas, que se relacionam entre si. Neste conjunto de disciplinas temos a Quí- 1 Projeto Financiado pela Prograd/Reitoria 2 Docentes do Departamento de Química e Ciências Ambientais 3 Graduandos do curso de Bacharelado em Química Ambiental - Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas – UNESP – Campus de São José do Rio Preto. Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP 58 C ap .1 • Práticas Ped ag ó g icas no C o ntexto E sco lar mica, que estuda a natureza da matéria, suas propriedades, transformações e a energia envolvida nesses processos. Pode-se notar que a química está mesmo presente em tudo, desde uma simples e muito usual reação de combustão à emissão de luz pelos fogos de artifício e até a comunicação bioluminescente entre os insetos. Estes fenômenos aparen- temente bem diferentes, na realidade, utilizam as mesmas propriedades básicas da maté- ria como a espectroscopia, a estrutura atômica, etc. (ARROIO, 2002). Desde os tempos primitivos, os seres humanos observavam a transformação das substâncias (a carne cozi- nhando, a madeira queimando) e já especulavam sobre as causas dessa transformação. No século XVIII Lavoisier, por meio da Lei da conservação da massa abriu o caminho para a química moderna. O homem não encontrou o “elixir da vida” mas trabalha incansavel- mente no desenvolvimento de novas tecnologias e produtos que melhoram seu bem estar e aumentam sua longevidade. A química tem exercido uma enorme influência sobre a vida humana: i) desenvolvem-se técnicas para sintetizar, com grande economia, substâncias novas; ii) criam-se novos plásticos e tecidos, e iii) desenvolvem-se metodologias para ob- tenção de fármacos visando a cura de patologias. Ao mesmo tempo, teve início a união de ciências que antes estavam totalmente separadas. Neste sentido entende-se que o ensino de Química deve ser traduzido como um facilitador da leitura do mundo, permitindo uma melhor interação cidadão - mundo. No contexto que se apresenta, aspectos importantes da interface química/sociedade e ambiente podem ser usados como temas motivadores. Procurando analisar as maneiras como o conhecimento químico pode ser usado - bem como as limitações no seu uso - na solução de problemas sociais, busca-se uma educação para a cidadania. No trabalho rea- lizado por Cardoso & Colinvaux com alunos, principalmente do ensino médio de escolas públicas e privadas do Estado do Rio de Janeiro, a química foi considerada importante na vida pessoal de 76% dos alunos, que mostraram ter um bom conhecimento de sua pre- sença no cotidiano. O trabalho, rico em dados sobre a questão ensino aprendizagem da química, revela que os alunos consideram o estudo da química importante devido à mar- cante presença desta disciplina em suas vidas, possibilitando um melhor conhecimento do mundo. A existência de uma “prática comprovando a teoria” e a facilidade de assimilação dos conceitos também os motiva. Em contrapartida, alguns alunos consideram a discipli- na desinteressante ou sem utilidade em sua vida cotidiana. A forma como a disciplina é apresentada e a dificuldade em sua assimilação são fatores que desestimulam e contribuem para a falta de motivação. Observa-se que a motivação/desmotivação demonstrada no ensino de química, está associada à presença de três fatores: necessidade/não necessidade; facilidade/dificuldade, e teoria/prática (forma como é apresentada). Os dados sugerem que a necessidade, a facilidade e a forma como o conteúdo é apresentado, são fatores que estimulam e motivam o aluno a estudar química. Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP A Q uím ica E xp erim ental C o m o Facilitad o ra d o Pro cesso ... 59 Dentro desta perspectiva, entendemos que as razões e os objetivos que justificam e motivam o ensino desta disciplina, poderão ser alcançados abandonando-se as aulas base- adas na simples memorização de nomes e fórmulas, vinculando - as aos conhecimentos e conceitos do dia-a-dia do aluno (MOL & SANTOS, 2000). A experimentação no ensino de química é reconhecidamente uma ferramenta pedagó- gica capaz de despertar o interesse dos alunos, envolvendo-os nos temas propostos pelos professores, e aumentar a capacidade de aprendizado. Porém, essa ferramenta possui al- gumas dificuldades para sua efetiva aplicação tais como, a falta de tempo para a realização dos experimentos, espaço físico inadequado, equipamentos e reagentes em péssimo estado de conservação, fazendo com que os experimentos não sejam realizados nas escolas. A química do cotidiano, assim como o conhecimento popular podem também, quando aliados á experimentação, se constituírem em instrumentos que em muito auxiliarão a compreensão dos conceitos básicos de química ensinados nas escolas de nível fundamental e médio. O potencial dessas ferramentas é aumentado quando elas forem inseridas dentro de um contexto significativo para o aluno, e esteja ajustado aos objetivos do ensino (MO- REIRA & MASINI, 1982). Dentro desta visão de ensino teórico-experimental integrada ao mundo cotidiano dos alunos o projeto teve como objetivos: objetivos gerais 1- Associar exemplos significativos com os princípios teóricos de maneira lógica e agradável para o entendimento da química como uma ciência articulada que muito pode contribuir para melhorar nossa saúde, nossa qualidade de vida e a nós mesmos como seres humanos. 2- Estabelecer uma conexão entre a teoria e a prática visando a compreensão da quími- ca e suas aplicações na sociedade atual. objetivos específicos 1- Desenvolver atividades monitoradas nas escolas da rede pública de São José do Rio Preto. As atividades envolveram a realização de experimentos que auxiliaram o professor, no ensino da teoria, inseridos em um contexto significativo para o aluno e ajustado aos objetivos do ensino. 2- Desenvolver experimentos que possibilitaram, por meio da visão macroscópica, a familiarização com diferentes transformações químicas (moleculares, ácido-base, oxido- -redução) e que estimularam a necessidade de descrevê-las na forma mais adequada, por Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP 60 C ap .1 • Práticas Ped ag ó g icas no C o ntexto E sco lar meio de um formalismo que melhor corresponda aos modelos microscópicos (equações químicas envolvendo moléculas, átomos e ou íons). 3- Buscar interagir informações e conceitos teóricos com os já existentes da estrutura cognitiva do aluno, destacando-se a possibilidade de desenvolver o ensino da química, considerando que o desenvolvimento tecnológico cria fatos inéditos e também possibilita o enfrentamento de vários problemas da humanidade. 4- Por fim, este trabalho de orientação, teve também como meta contribuir para o pro- jeto de formação de cidadãos que possam atuar de forma consciente na sociedade. Metodologia O projeto iniciado em março de 2007 foi desenvolvido junto à Escola Estadual Monse- nhor Gonçalves e teve como ação didático-pedagógica uma intervenção na realidade escolar. Esta intervenção foi realizada por meio do desenvolvimento de atividades experimentais em química como uma ferramenta que tem se mostrado motivadora no aprendizado da mesma. O projeto foi desenvolvido da seguinte forma: 1- Encontros semanais, dos professores integrantes do projeto e coordenadora, com os professores de química no HTPC (hora de trabalho pedagógico coletivo), onde eram ava- liados os programas, os problemas mais recorrentes que dificultavam o processo ensino- -aprendizagem de química e as atividades a serem executadas na semana seguinte. 2- Frente aos problemas levantados, contou-se com a participação nas aulas de gradu- andos em química ambiental, como monitores para auxiliarem nas atividades de laborató- rio, tanto na parte prática como na teórica. Os monitores trabalharam conceitos teóricos essenciais para uma boa realização, entendimento e contextualização da parte experimen- tal. Os conceitos teóricos e os experimentos foram preparados para serem aplicados em aulas de 50 minutos. 3- Os roteiros, além de apresentarem o desenvolvimento experimental, apresentavam tabelas que foram preenchidas pelos alunos com as observações feitas durante o experi- mento e questões a serem respondidas. 4-Recomendava-se ao professor também trabalhar com seus alunos experimentos adi- cionais, relacionados com os conteúdos do plano de aula, cujos roteiros eram fornecidos como sugestão. 5-A aplicação das atividades experimentais foi sempre monitorada pelo professor de química, por um ou dois estagiários que se revezam e por um professor da equipe. Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP A Q uím ica E xp erim ental C o m o Facilitad o ra d o Pro cesso ... 61 6- No início das atividades do projeto ministrou-se uma palestra sobre segurança em laboratório. Foi uma atividade particularmente interessante, pois foram selecionados e demonstrados, durante a apresentação da palestra, experimentos simples que envolvem reações químicas perigosas. Estes experimentos chamaram a atenção dos alunos e foram utilizados para enfatizar a necessidade dos cuidados a serem tomados no laboratório, no armazenamento e manuseio dos produtos químicos bem como na nossa vida diária com o manuseio dos produtos domésticos de limpeza, perfumes, remédios, etc. As palestras foram realizadas na sala de cine-vídeo da escola. 7- Aplicou-se um questionário, para verificar qual o entendimento que os alunos ti- nham da química e da química no cotidiano. Ao final de cada aula experimental avaliou-se o nível de aprendizagem dos alunos em relação ao conteúdo ministrado. A partir das respostas obtidas nos questionários fez-se o tratamento estatístico dos dados coletados, podendo assim avaliar o percentual de apro- veitamento em relação ao conteúdo aplicado. As estratégias do curso foram: trabalhar a abordagem dos conceitos fundamentais, contextualizar o ensino da química com os fatos do panorama atual e motivar o aluno para as aulas de química. resultados Do universo pequisado, 600 alunos do ensino médio de uma escola pública estadual, um total de 245 alunos da primeira à terceira série do ensino médio, ou seja 41%, responderam as questões aplicadas no início do curso. Este dado mostra o baixo comprometimento dos alunos, para com o conhecimento, que só participam das atividades se estas tiverem como recompensa a nota. Mostra também que 59% dos alunos não se interessam pela ciência, que não se sentem sintonizados com o seu discurso e suas formas de agir. Mesmo partindo da vivência do aluno, é árduo o trabalho do professor para com este elevado percentual que apenas ocupam os assentos escolares e são resistentes ou refratários à superação do senso comum. São apresentadas a seguir a análise de algumas respostas de um total de 14 questões relacionadas com a bagagem química do aluno, que tem como enfoque principal a motivação ao estudo da química, sendo esse um dos principais problemas apontados durante as reuniões com os professores. Não podemos falar da baixa motivação do aluno do ensino médio para com o conhecimento científico sem nos reportarmos ao ensino fun- damental que não promove todos os seus alunos, e não trabalha as diferenças individuais nivelando o ensino por baixo. O contexto escolar muitas vezes não possibilita uma maior discussão entre os alunos acerca dos conhecimentos adquiridos, seja por limitação de tem- po ou ainda devido à inadequação de nossos currículos e práticas pedagógicas. Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP 62 C ap .1 • Práticas Ped ag ó g icas no C o ntexto E sco lar Particularmente no ensino de química, a falta de qualificação profissional do professor é outro fator importante que deve ser considerado na análise de um ensino desmotivador. Dos dados levantados na região de São José do Rio Preto - SP, 81% dos professores são formados em faculdades particulares enquanto apenas 19% em Universidades Públicas. Outro fato que chama a atenção é que apenas 22% dos professores que atuam no ensino de química são Licenciados em Química (Figura 1). Figura1: Qualificação do professor de química da região de São José do Rio Preto - dados coletados no período de 2001 a 2007. Quando perguntados se gostam de estudar química, dos 245 questionários respondidos 70,3% afirmaram que gostam de estudar química, observando como principal justificativa fornecida a possibilidade de conhecer e entender as substâncias. Para os 29,7% restantes a química possui uma quantidade excessiva de assuntos a serem estudados e memorizados. Observa-se aqui uma prática pedagógica inadequada no ensino da química, que é uma ciência que requer muito raciocínio e compreensão, leva o aluno a uma desmotivação para o estudo, associada à dificuldade em entender e assimilar os conteúdos da química. Já quando perguntado se o aluno conhecia alguém que trabalhava com química para identificar a experiência pessoal e escolar do mesmo, a análise das respostas permitiu re- velar que 59,4% dos alunos conhecem profissionais da química. Isso evidencia que não há relação entre conhecer profissionais da química e motivação aos estudos de química já que dos que gostam de química 11% não conhecem outros profissionais da área a não ser o seu professor. Ao perguntar sobre a função do químico, 8,2% admitem não serem esclarecidos sobre o assunto, 65% reconhecem o químico atuando em laboratórios, indústrias e desenvolvendo pesquisas e aproximadamente 40% reconhecem o químico atuando na área acadêmica. Ao enumerar 8 tópicos com produtos do cotidiano utilizados no ambiente doméstico, na higiene pessoal, limpeza doméstica, consumidos na alimentação e como fármacos, e perguntar ao aluno quais deles têm relação com a química, apenas 32,4% conseguiram reconhecer a presença de compostos químicos em todos os produtos apresentados. Assim, Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP A Q uím ica E xp erim ental C o m o Facilitad o ra d o Pro cesso ... 63 aproximadamente 68% não têm um bom conhecimento da presença da química no coti- diano e apenas 10% reconhecem a presença da química nos alimentos e medicamentos. Essas respostas mostram claramente que, dentro do universo pesquisado, um alto percen- tual dos alunos do ensino médio com os conteúdos curriculares que se apresentam não consegue estruturar e reelaborar suas idéias, indo além do senso comum e desmistificar a frase “alimentos sem química”. Em se tratando da presença da química no meio ambiente, avaliou-se a visão da reci- clagem como solução para os problemas ambientais ou apenas como uma medida preven- tiva, sendo os dados apresentadas nas Figuras 2 e 3. Figura 2: Reciclagem como solução aos problemas da poluição Figura 3: Reciclagem como prevenção ao agravamento da poluição. Pelos dados constata-se que o conhecimento da reciclagem oriundo e veiculado na sociedade quando relacionados aos conhecimentos escolares, não estão sendo adequadamente discutidos e estruturados. Pelas leis da química e da física não há conversão total de matéria ou energia. Resí- duos são gerados em todas as atividades dos seres vivos e também na reciclagem. Os estudos das transformações químicas, os resíduos gerados e seus reflexos na qualidade de vida necessitam de tratamento mais elaborado nos livros didáticos para dar suporte pedagógico ao professor. O livro didático surgiu como um complemento aos grandes livros clássicos. De uso restrito ao âmbito da escola, reproduzia valores da sociedade, divulgando as ciências e a filosofia e reforçando a apren- dizagem. Tornou-se um instrumento pedagógico que possibilita o processo de intelectualização e contribui para a formação social e política do indivíduo. O livro instrui, informa, diverte, mas, acima de tudo, prepara para a liberdade (SOARES, 2002). Uma análise mostra que a partir de 1991 por uma imposição do MEC os autores introduzem o tema, poluição ambiental, com um caráter mais ecológico e verifica-se uma evolução na discussão da química inserida na problemá- tica ambiental. Porém, mesmo nos textos atuais devem ser salientados alguns “vícios” dos autores: Pró Reitoria de Graduação - Núcleos de Ensino da UNESP 64 C ap .1 • Práticas Ped ag ó g icas no C o ntexto E sco lar - não fazem distinção entre os problemas ambientais naturais e aqueles causados pela atividade humana; - não mencionam que mesmo a reciclagem gera resíduos e que mesmo a queima do biogás gera CO2, contribuindo assim para o efeito estufa; - induzem os alunos a pensarem que o biogás, a reciclagem e a coleta seletiva resolverão o problema do mundo e não abordam a Química da Atmosfera nem mesmo em tópicos especiais, onde os alunos mais atenciosos costumam observar; - não fornecem elementos para o leitor relacionar o efeito tóxico com tempo de expo- sição e da concentração d