Padrão de metadados no domínio museológico
Fábio Rogério Batista Lima; Plácida Leopoldina
V.A.C.Santos; José Eduardo Santarém Segundo
Perspectivas em Ciência da Informação, v.21, n.3, p.50-69, jul./set. 2016 50
Padrão de metadados no domínio
museológico
Fábio Rogério Batista Lima
Mestre em Ciência da Informação e doutorando
no Programa de Pós-Graduação em Ciência da
Informação da Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho - Campus de Marília
Plácida Leopoldina V. A. C. Santos
Livre docente em catalogação e doutora em letra
pela Universidade de São Paulo, Brasil. Docente
do Programa de Pós-Graduação em Ciência da
Informação da Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho - Campus de Marília
José Eduardo Santarém Segundo
Doutor em Ciência da Informação e docente do
Programa de Pós-Graduação em Ciência da
Informação da UNESP/Marília e docente e
coordenador do Curso de Graduação em Ciências
da Informação e da Documentação e
Biblioteconomia, da Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras de Ribeirão Preto
http://dx.doi.org/10.1590/1981-5344/2639
É no ambiente Web que os museus estão tornando
acessíveis, de forma digital, grande parte das informações
sobre seu acervo. No entanto, essas informações estão
sendo disponibilizadas de forma não estruturada. Isso
dificulta a troca de dados, a comunicação e a
interoperabilidade entre sistemas de museus, que
necessitam de padrões de metadados adequados para
gerenciar e disponibilizar informações vinculadas a seus
acervos. A questão de investigação é: como os padrões
de metadados podem contribuir para os museus de arte?
A pesquisa apresenta abordagem qualitativa, é de caráter
teórico de nível descritivo e exploratório. O resultado da
análise demonstrou que nos museus de arte brasileiros
não são utilizados padrões de metadados, e tampouco há
literatura nacional que aborde esse tema. Contudo, em
alguns países utiliza-se alguns padrões destinados ao
universo museológico, dentre os quais o VRA Core versão
4.0, que para a catalogação de obras de arte no
ambiente digital parece ser o mais adequado.
Padrão de metadados no domínio museológico
Fábio Rogério Batista Lima; Plácida Leopoldina
V.A.C.Santos; José Eduardo Santarém Segundo
Perspectivas em Ciência da Informação, v.21, n.3, p.50-69, jul./set. 2016 51
Palavras-chave: Padrão de metadados para obras de
arte; VRA Core; Acervo digital; Museu no ambiente Web.
Standard metadata in museological
domain
It is in the Web environment that museums are making
much of the information about their collection accessible
in digital form. However, this information is being made
available in an unstructured form. It hampers the
exchange of data, communication and interoperability
between museum systems that require suitable metadata
standards to manage and provide information linked to
their collections. The research question is: how can
metadata standards contribute to art museums? The
research presents a qualitative approach is theoretical
character of descriptive and exploratory level. The result
of the analysis showed that the metadata standards are
not being used in Brazilian art museums, and there are
not even national literature for dealing with this issue.
However, in some countries is used some standards for
the museological universe, of which the VRA Core version
4.0, which for cataloging works of art in the digital
environment seems to be the most appropriate.
Keywords: Metadata standard for works of art; VRA
Core; Digital collection; Museum in the Web environment.
Recebido em 27.01.2016 Aceito em 25.08.2016
1 Introdução
A era digital trouxe consigo um mundo mais dinâmico, interativo e
informativo. A Internet, ou também chamada de rede mundial de
computadores, através do protocolo de comunicação TCP/IP1, permitiu
acesso a variadas fontes e recursos informacionais. Com o auxílio de
aparatos tecnológicos cada vez mais sofisticados e de tecnologias de
informação e comunicação (TIC) somadas à evolução do ambiente Web,
tornou-se possível dar um novo direcionamento para as formas
tradicionais de acesso, recuperação, armazenamento e gestão da
informação.
1 TCP/IP - Transmission Control Protocol/Internet Protocol.
Padrão de metadados no domínio museológico
Fábio Rogério Batista Lima; Plácida Leopoldina
V.A.C.Santos; José Eduardo Santarém Segundo
Perspectivas em Ciência da Informação, v.21, n.3, p.50-69, jul./set. 2016 52
Ambientes onde há interação de informação, a exemplo, instituições
responsáveis por patrimônios culturais, como os museus, os quais
“trabalham com a organização, o tratamento, o armazenamento, a
recuperação e a disseminação da informação produzida a partir de suas
coleções” (YASSUDA, 2009, p. 15) estão sendo afetados por aparatos
tecnológicos e ambientes digitais de informação e obrigados a repensar
uma nova forma de produção, gerenciamento e recuperação da
informação em seu acervo.
É no ambiente Web que está sendo disponibilizada, de forma digital,
uma exponencial quantidade de recursos informacionais, nos mais
variados tipos de fontes. No entanto, essas informações estão sendo
disponibilizadas de forma não estruturada, dificultando a troca de dados e
a comunicação entre sistemas e plataformas.
No entanto, para que existam programas que coletem conteúdos em
diversas fontes, troquem resultados, relacionando-se com outros
programas, bem como possibilitem o processamento adequado da
informação, é necessário que as instituições, neste caso especifico os
museus, que atualmente possuem algum “tipo de recursos que incluem
imagens digitais estáticas, textos digitais, arquivos digitais de áudio e
arquivos de imagem digitais em movimento” (MILLER, 2004, p. 6,
tradução nossa), adiram a estruturas padronizadas do conteúdo
informacional, que será representado pelo conjunto de atributos de sua
coleção. Neste sentido, é necessário que elas trabalhem com padrões
específicos de metadados.
O estudo em questão partiu da problemática: como os padrões de
metadados podem contribuir para os museus de arte? Este estudo é de
caráter teórico de nível descritivo e exploratório. A pesquisa apresenta
abordagem qualitativa, tendo como base a observação sistemática da
bibliografia coletada utilizando o suporte teórico da Ciência da Informação
nas questões relacionadas a metadados no universo museológico. Teve
como objetivo geral analisar os padrões de metadados utilizados na
descrição de objetos de arte e, específico, analisar qual dentre eles seria o
ideal para se trabalhar com a catalogação desses objetos.
2 Metadados
Metadados é um termo genérico que abrange uma ampla variedade
de tipos específicos de informações, as quais são criadas ou capturadas
sob vários tipos de recursos informacionais. O termo é usado
frequentemente para referir-se às informações legíveis por máquinas,
outras vezes para referir-se aos registros que descrevem recursos
eletrônicos. Na comunidade biblioteconômica, por exemplo, o termo é
usado para se referir a qualquer esquema de descrição de recurso,
aplicado a qualquer tipo de objeto, sendo ele digital ou não.
Os metadados são essenciais para o entendimento do recurso
armazenado, pois descrevem informações semânticas e sintáticas sobre o
recurso, podendo ser comparados a um sistema de rotulagem, com o
Padrão de metadados no domínio museológico
Fábio Rogério Batista Lima; Plácida Leopoldina
V.A.C.Santos; José Eduardo Santarém Segundo
Perspectivas em Ciência da Informação, v.21, n.3, p.50-69, jul./set. 2016 53
objetivo de mostrar como, quando e por quem o recurso foi armazenado e
como está formatado.
São dados descritivos que podem informar sobre autor, título, data,
publicação, palavras-chave, descrição física, entre outros, nos mais
variados tipos de recurso, como em arquivos de áudio, conjunto de dados
científicos, imagem digital, catálogos de museu, livros etc., como mostra o
quadro 1
Quadro 1 - Metadados de um livro
LC Control No.: 2008015176
LCCN Permalink: http//iccn.loc.gov/2008015176
Type of Material: Book (Print, Microform, Electronic, etc)
Personal Name: Zeng, Marcia Lei, 1956 -
Main Title: Metadata / Marcia Lei Zeng and Jian Qin.
Published/Created: New York : Neal-Schuman Publisher, c2008.
Related Names: Qin, Jian, 1956-
Description: xvii, 365 p. : ill. 23cm.
ISBN: 9781555706357 (pbk. : alk. paper)
1555706355 (pbk. : alk. paper)
Contents: Introduction – Current standards – Schemas : structure and
semantics – Schemas : syntax – metadata records – Metadata
services – Metadata quality measurement and improvement.
Notes: Includes bibliographical references (p.327-357) and index.
Subject: Metadata
LC Classification: Z666.7 .Z45 2008
Dewey Class No. : 025.3 22
Source Library of Congress Online Catalog: HTTP//catalog.loc.gov/.
Fonte: MILLER (2004, p. 4).
Os metadados “são dados ou informações que permitem às pessoas
exercerem determinadas funções em relação aos recursos de informação
a que os metadados se referem [...]” (MILLER, 2004, p.1, tradução
nossa).
A publicação “Understanding Metadata” da NATIONAL INFORMATION
STANDARDS ORGANIZATION (2004) define metadados como
informação estruturada que descreve, explica, localiza, ou
ainda, possibilita que um recurso informacional seja fácil de
recuperar, de usar ou gerenciar. O termo metadados,
frequentemente, designa dados sobre dados ou informação
sobre informação.
Padrão de metadados no domínio museológico
Fábio Rogério Batista Lima; Plácida Leopoldina
V.A.C.Santos; José Eduardo Santarém Segundo
Perspectivas em Ciência da Informação, v.21, n.3, p.50-69, jul./set. 2016 54
Outros autores, como Alves (2010, p. 47), os descrevem como:
Atributos que representam uma entidade (objeto do mundo
real) em um sistema de informação. Em outras palavras, são
elementos descritivos ou atributos referenciais codificados que
representam características próprias ou atribuídas às
entidades; são ainda dados que descrevem outros dados em
um sistema de informação, com o intuito de identificar de
forma única uma entidade (recurso informacional) para
posterior recuperação.
Os metadados facilitam a forma de entendermos a relação entre as
informações e os dados fornecidos nas mais variadas formas e contextos.
Para isso, existem tipos diferentes de padrões de metadados, alguns
específicos para uma determinada área, outros gerais, que servem para
variados fins, como será visto na próxima seção.
2.1 Padrões de metadados
O termo padrão de metadados (standard Metadata), também
chamado de formatos de metadados, é entendido, dentre um vasto leque
de formalidades, como os padrões emitidos por agências de normas e
outras organizações, tais como: International Organization for
Standardization (ISO), the American National Standards Institute (ANSI),
the Dublin Core Metadata Iniciative (DCMI), the Library of Congress (LC),
the Getty Research, the Wide Web Consortium (W3C), entre outros.
Como exemplo de padrões de metadados, temos o Machine
Readable Cataloging (MARC) usado para recursos Catalográficos, o
Metadado Brasileiro para Teses e Dissertações (MTD-BR), Categories for the
Description of Works of Art (CDWA), Computer interchange of museum information
(CIMI), Dublin Core (DC), The Visual Resources Association (VRA Core),
dentre outros.
Atualmente, há grande variedade de tipos de padrões de
metadados, os quais são usados em diversos contextos, como em
empresas, pesquisas, educação, saúde, leis, negócios, comércio na
Internet, bem como em instituições que trabalham com objetos de arte.
Alguns tipos de metadados têm como função gerenciar, administrar ou
preservar recursos ou estruturas internas de complexos objetos digitais, a
exemplo o quadro 2.
Padrão de metadados no domínio museológico
Fábio Rogério Batista Lima; Plácida Leopoldina
V.A.C.Santos; José Eduardo Santarém Segundo
Perspectivas em Ciência da Informação, v.21, n.3, p.50-69, jul./set. 2016 55
Quadro 2 - Tipologia de metadados
Tipo Definição Exemplo
Administrativo
metadados usados no gerenciamento e
na administração de recursos
informacionais.
- Aquisição de informação;
- Acompanhamento de direitos e de
reprodução;
- Documentação de requisitos para o
acesso legal;
- Localização de informação;
- Critérios de seleção para digitalização;
- Controle de versão e diferenciação entre
objetos de informação similares;
- Pistas à auditoria criadas por sistemas
de manutenção de registros.
Descritivo
metadados usados para descrever ou
identificar recursos informacionais
- Ferramentas para localizar;
- Índices especializados;
- Relacionamentos de hyperlinks entre
recursos;
- Anotações dos usuários;
- Metadados para sistemas de
manutenção de registros gerados, pelos
criadores dos registros.
de Preservação
metadados relacionados com o
gerenciamento de preservação dos
recursos informacionais
- Documentação da condição física dos
recursos;
- Documentação das ações realizadas
para preservar as versões digitais e
físicas dos recursos, por exemplo,
atualização e migração de dados.
Técnicos
metadados relacionados ao
funcionamento de um sistema ou ao
comportamento dos metadados
- informações sobre hardware e software;
- autenticidade e segurança dos dados
etc.
de Uso
metadados relacionados com o nível e
tipo de uso dos recursos informacionais
- Registros exibidos;
- Acompanhamento de uso e de usuários;
- Reúso de conteúdo e informações em
múltiplas versões.
Fonte: BACA (1998).
Para Miller (2004), na literatura sobre metadados de patrimônio
cultural, em sua maior parte, os metadados são caracterizados e divididos
em três categorias: metadados administrativos, metadados estruturais e
metadados descritivos.
Há especialistas que, além dessas categorias mencionadas, incluem
metadados de preservação, metadados técnicos e metadados de uso,
como demonstrado no quadro 2.
O tipo mais frequente de metadados destinados a objetos de arte
em ambiente digital são os metadados descritivos, pois eles fornecem
acesso aos conteúdos de uma coleção digital. Sem este tipo de
metadados, as coleções seriam inúteis, pois os usuários não teriam como
encontrar e identificar o objeto dentro da coleção.
A documentação museológica, neste sentido, destina-se ao
tratamento da informação, desde a entrada do objeto no museu até a
exposição. Isso faz parte de um dos aspectos da gestão dos museus. O
museu é uma instituição complexa por concepção e gestão, que responde
às mudanças culturais, políticas e sociais das comunidades onde se
encontra (CRIPPA, 2010, p. 32).
Padrão de metadados no domínio museológico
Fábio Rogério Batista Lima; Plácida Leopoldina
V.A.C.Santos; José Eduardo Santarém Segundo
Perspectivas em Ciência da Informação, v.21, n.3, p.50-69, jul./set. 2016 56
Neste processo, “estão envolvidas tarefas direcionadas à coleta,
armazenamento, tratamento, organização, disseminação e recuperação da
informação” (YASSUDA, 2009, p. 19).
A documentação de museus, segundo Ferrez (1991, p. 1), “[...] é o
conjunto de informações sobre cada um dos seus itens e, por conseguinte,
a representação destes por meio da palavra e da imagem (fotografia).” A
documentação museológica serve como um sistema de recuperação da
informação, que transforma as coleções dos museus de fontes de
informação em fontes de pesquisa, servindo para transmissão do
conhecimento.
Segundo Yassuda (2009, p. 36), os métodos de documentação de
museu, hoje,
[...] continuam em processo de estruturação, adaptando-se às
tecnologias vigentes no mundo globalizado. A tendência à
interoperabilidade de informação é crescente e se mostra
como um grande desafio para os museus da
contemporaneidade.
A “maioria dos procedimentos de criação de dados é conduzida
por meio de padrões, normas e instruções bem consolidadas, incluindo
aquelas para estruturação de dados (por exemplo, esquemas de
metadados), conteúdo de dados (por exemplo, princípios e regras), [...]”
(ZENG, 2013, p. 95).
A utilização de padrões de metadados nas coleções de museu facilita
a troca de dados entre museus que utilizam o mesmo padrão, auxiliam a
recuperação automática da informação e promovem a consistência nos
bancos de dados, tornando mais fácil o compartilhamento de informações
entre eles, pois tanto os padrões de conteúdos, padrões externos, códigos
e regras são determinantes não só para a padronização da sintaxe dos
metadados mas também para a padronização nos valores da
representação (ZENG; QIN, 2008).
Atualmente, existem iniciativas e empresas que se preocupam e
discutem soluções para a elaboração de padrões de metadados para
objetos de arte, especificamente para o ambiente Web.
O Canadian Heritage Information Network (CHIN)2, juntamente com
alguns museus do Canadá, trabalha na intenção de armazenar e
apresentar o conteúdo digital dos acervos para o público.
Outras iniciativas são: o projeto Europeana3, criado em meados de
2005 com a finalidade de tornar acessível a todos o patrimônio cultural da
Europa por meio da criação de uma biblioteca virtual em cooperação com
as bibliotecas nacionais e outros organismos culturais dos Estados-
Membros. Reúne as principais associações de bibliotecas, arquivos,
museus, arquivos audiovisuais e instituições culturais da Europa.
2 CHIN. Disponível em: . Acesso em: 27 jul. 2016. O padrão CHIN é baseado no
Dublin Core e inclui controle de vocabulário para projetos de aprendizagem.
3 Disponível em: .
Acesso em: 27 jul. 2016.
Padrão de metadados no domínio museológico
Fábio Rogério Batista Lima; Plácida Leopoldina
V.A.C.Santos; José Eduardo Santarém Segundo
Perspectivas em Ciência da Informação, v.21, n.3, p.50-69, jul./set. 2016 57
A Europeana está instalada na biblioteca nacional neerlandesa,
a Koninklijke Bibliotheek e já recebeu contribuições de mais de 2.200
organizações culturais de toda a Europa. Utiliza o Europeana Data Model
(EDM),
O EDM é um modelo de dados teórico que permite que os
dados sejam apresentados de diferentes maneiras de acordo
com as práticas dos vários domínios que contribuem para a
Europeana (EUROPEANA, 2014, não paginado, tradução
nossa).
É um esquema de metadados cujos elementos são comuns a todas
as comunidades de fornecedores de dados e que permite o mapeamento
dos diversos conjuntos de dados para uma representação uniforme dos
dados (ISAAC, 2012).
E também o Museum Initiative for Digital Information Interchange
Standards (MIDIIS)4, que possui, como uma de suas metas, buscar
entender o universo das informações de coleções museológicas. Para isso,
busca saber dos museus quais são os tipos de informações que eles
utilizam na descrição e representação de suas coleções. A intenção é criar
metadados para promover a interoperabilidade e a troca de informações
entre os museus.
O MIDIIS é apoiado pelo Consórcio para Intercâmbio de Informação
de Museu (CIMI)5, e envolve o Dublin Core como formato de metadados.
Dessa forma, o CIMI
desenvolveu o XML Schema para descrição de objetos de
museus. Este programa foi baseado no SPECTRUM e
denomina-se CIMI XML Schema. Ele permite uma rica
descrição da informação relativa aos objetos de museus,
incluindo informações associadas a pessoas, lugares e eventos
acerca da história dos objetos, bem como informação sobre o
gerenciamento e uso (YASSUDA, 2009, p. 37).
O projeto tem a preocupação de saber como os museus podem
prover, efetivamente, o acesso às informações criadas por eles para
representar suas coleções que são mantidas em formato digital, como:
informações sobre coleções, publicações, eventos, atividades educacionais
e pessoas, bem como servir para a compreensão das diferentes formas
estruturais dos museus, a fim de testar a linguagem de marcação XML
(eXtensible Markup Language), como sintaxe para representar a
identificação semântica das informações e desenvolver uma DTD
(Document Type Definition) para representar diferentes tipos de informações.
4 Disponível em: . Acesso em: 27 jul. 2016.
5 Disponível em: . Acesso em: 27 jul. 2016.
Padrão de metadados no domínio museológico
Fábio Rogério Batista Lima; Plácida Leopoldina
V.A.C.Santos; José Eduardo Santarém Segundo
Perspectivas em Ciência da Informação, v.21, n.3, p.50-69, jul./set. 2016 58
2. 2 Padrões de metadados para objetos de museus
Há algum tempo, os museus, de modo geral, não se preocupavam
nem tinham uma tradição em manter algum tipo de padronização na
forma de descrição de seus recursos, a qual era feita basicamente
escrevendo-se ou datilografando-se os metadados dos registros. No
entanto, com o surgimento da representação de objetos digitais nas
coleções digitais disponibilizadas on-line, mudou o cenário museológico.
Assim, foi “a partir do trabalho de autores como Alma S. Wittlin, Francis
Henry Taylor [...], além do impulso dado pela formação da Museum
Documentation Association6, que se desenhou um campo de estudos em
torno da documentação museológica” (ARAÚJO, 2014, p. 80-81).
Atualmente os museus têm interesse maior pela padronização e
compartilhamento de metadados, além de verem a importância da
atualização quanto à forma de registrar seus documentos.
Existe ontologias de referência, como a ISO 21127: 20147, que
estabelece as diretrizes para a troca de informações entre instituições de
patrimônio cultural bem como alguns tipos de padrões de metadados que
foram desenvolvidos para trabalhar especificamente com patrimônios
culturais, como obras de arte, arquitetura e imagens desses objetos, a
exemplo: Categories for the Description of Works of Art (CDWA) - e o The
Visual Resources Association (VRA) Core. Esses padrões se propõem
assegurar que informações importantes sejam registradas, auxiliam a
recuperação automática de informação, promovem a consistência entre
bancos de dados, bem como facilitam a migração de dados para sistemas
novos.
O guia utilizado por esses padrões para descrever o conteúdo
das obras e suas imagens é o Cataloging Cultural Objects (CCO)8, um
padrão de conteúdo concebido para aqueles que trabalham com a
descrição de obras de arte, arquitetura e artefatos culturais. São utilizados
também padrões de valores como: Art & Architecture Thesaurus (AAT),
Union List of Artist Names (ULAN), entre outros. Ambos fazem parte do
Getty Foundation e estão disponibilizados no site9.
No panorama brasileiro, o que ocorre tanto em arquivos quanto em museus é
a tendência de essas instituições quererem resolver seus problemas usando
padrões da biblioteconomia, pois nesta última os padrões de metadados estão mais
consolidados quando comparados aos padrões utilizados em arquivos e museus
(COSTA; ALMEIDA, 2010; BEVILACQUA, 2014).
Pode-se partir da experiência já consolidada da biblioteconomia, mas com
cuidado para não deixar de lado as especificidades dessas outras áreas, as quais
demandam uma atenção especial devido às nuances de seus objetos e, também,
para que não ocorra uma simplificação exagerada nos metadados.
6 Disponível em: . Acesso em: 27 jul. 2016.
7 Disponível em: .
Acesso em: 27 jul. 2016.
8CCO é um padrão de conteúdo de dados publicado em 2006, patrocinado pela VRA, e publicado pela American Library
Association (ALA). O projeto foi, em grande parte, financiado pela Fundação Getty.
9 Disponível em: . Acesso em: 27 jul. 2016.
Padrão de metadados no domínio museológico
Fábio Rogério Batista Lima; Plácida Leopoldina
V.A.C.Santos; José Eduardo Santarém Segundo
Perspectivas em Ciência da Informação, v.21, n.3, p.50-69, jul./set. 2016 59
Um dos fatores que impede a utilização de padrões de metadados nos
museus de arte brasileiros é o fato de que a maioria dos padrões que existem e que
estão em estágios avançados em países mais desenvolvidos não estão traduzidos
para o português. Ou seja, há uma barreira de linguagem e também, pelo fato de os
processos de informatização nos museus do Brasil serem de baixa qualidade,
devido à ausência de padrões estabelecidos e aos baixos índices de duração dos
mesmos, que não superam os dois anos de utilização, até serem substituídos por
um novo projeto Bevilacqua (2014).
Existem, como dito anteriormente, algumas iniciativas para acervos
museológicos, como por exemplo o CHIN, MIDIIS e a Europeana, mas aqui no Brasil
nada que aponte para uma solução. Tudo é muito estanque ainda. No entanto, cada
área procura a sua solução – bibliotecas, arquivos e museus. A “área museológica,
por não ter padrões de descrição consolidados, tem apresentado soluções
particulares de sistemas de gestão de acervos” (MARCONDES, 2013, p. 13).
Contudo, por que o fato é tão crucial para o museu? Porque o museu é uma das
únicas instituições que tem os três acervos (bibliográfico, arquivístico e museológico)
convivendo e disponíveis no mesmo espaço.
Dessa forma, os museus constituem um espaço muito interessante que
sempre apresenta uma demanda de integração de sistemas e recuperação da
informação. No entanto, por diversos motivos, em especial “pelo desenvolvimento
independente desses sistemas, pelos diferentes padrões de descrição e
representação de objetos nas áreas arquivistica, bibliográfica e museológica, estes
sistemas hoje não são interoperáveis” (MARCONDES, 2013, p. 11).
Outro problema também relacionado a esses anteriores é a ausência de
fornecedores qualificados. Talvez na Europa já exista um mercado com empresas
fornecendo softwares para gestão de acervos museológicos. No Brasil, a maioria
dos softwares foi adaptada de biblioteca para museus. Com a abertura do mercado,
existem empresas especializadas, as quais vêm com esses padrões todos baseados
no CIDOC e no Spectrum. É outra realidade que se aproxima.
Dessa forma, a tendência de usar metadados ainda é aquela de utilizar
padrões já consolidados da biblioteconomia. Pois, segundo Marcondes (2013, p. 12),
A evolução histórica do desenvolvimento e amadurecimento
dos padrões de descrição de informações em arquivos,
bibliotecas e museus se deu em momentos distintos. O AACR2
– Código de Catalogação Anglo Americano 2ª edição – e os
experimentos com o padrão MARC de catalogação bibliográfica
remontam à década de 60. A norma geral de descrição
arquivística ISAD (G) foi adotada pelo Conselho Internacional
de Arquivos na década de 90. A área museológica não tem um
padrão de descrição, mas sim um modelo de referencia, o
CIDOC-CRM. Enquanto que o MARC é um padrão de fato para
intercâmbio de dados bibliográficos, a norma ISAD(G) e o
modelo CIDOC-CRM são diretrizes ou recomendações gerais.
Existem ferramentas especificas para se trabalhar com objetos
culturais e artísticos, como o CDWA, o CCO, etc. Contudo, não abrangem
todos os campos necessários. A tendência agora, é a busca de
interoperabilidade entre esses modelos.
Padrão de metadados no domínio museológico
Fábio Rogério Batista Lima; Plácida Leopoldina
V.A.C.Santos; José Eduardo Santarém Segundo
Perspectivas em Ciência da Informação, v.21, n.3, p.50-69, jul./set. 2016 60
Existe uma iniciativa que busca esta interoperabilidade e que surgiu
como um grupo de trabalho dentro do CIDOC/ICOM, o Documentation
Standards Working Group (DSWG) há mais de dez anos, chamado de
Conceptual Reference Model (CRM). A interoperabilidade, neste sentido,
“diz respeito à capacidade de sistemas diferentes trocarem e utilizarem
dados gerados por outros sistemas” (MARCONDES, 2013, p. 10).
O que torna este modelo interessante é o fato de ser mais
abrangente do que os demais, pois ele está focado não só em mapear os
possíveis metadados de objetos, mas sim mapear as relações entre eles.
O CRM CIDOC se destina a promover uma compreensão
partilhada de informações sobre o patrimônio cultural,
fornecendo uma estrutura semântica comum e extensível de
modo que qualquer informação sobre herança cultural possa
ser mapeada. Destina-se a ser uma linguagem comum para
especialistas em domínio e implementadores para formular
requisitos para sistemas de informação e para servir como um
guia para a boa prática de modelagem conceitual. Desta
forma, ele pode fornecer a "cola semântica" necessária para
mediar entre as diferentes fontes de informação de patrimônio
cultural, como a publicada por museus, bibliotecas e arquivos
(INTERNATIONAL COUNCIL OF MUSEUM/ CIDOC, 2014, não
paginado, tradução nossa)
Este modelo é, de certa forma, um desdobramento para arquivos,
porque ele vai além da questão do item, do objeto enquanto unidade
intrínseca. Ele foca a relação dos objetos com o produtor, e para museu e
arquivo há uma demanda muito maior para registrar contextos e as
relações desses conjuntos de coleções.
Existem iniciativas interessantes com o CRM, mas ainda são muito
complexas e não foram muito absorvidas pelo corpo técnico das
instituições. Não temos museus brasileiros trabalhando com ele, embora
já exista projeto para a tradução do modelo para o português. O caso
mais famoso do uso do modelo é do British Museum em Londres, o qual
foi o único museu de grande porte que conseguiu fazer isso. Há certa
dificuldade de passar da teoria para a prática, pois o alto nível de
complexidade dos modelos dificulta a sua operacionalidade.
Alguns pesquisadores apontam que o CRM seria a peça que faltava
para que de fato, se possam integrar modelos de dados nos universos
distintos, o que sempre foi uma problemática. Pois, quando se conseguia
programar alguma coisa por um lado não ficava adequado porque se
usavam padrões estabelecidos de outra área e isso sempre gerava
insatisfação no final.
A seguir focaremos em um padrão de metadados conhecido como
Visual Resources Association (VRA Core), o qual indica ser o mais
adequado para se trabalhar, quando se trata de obras de arte. Pois, o
conjunto de elemento da versão VRA Core 4.0, por exemplo, fornece uma
Padrão de metadados no domínio museológico
Fábio Rogério Batista Lima; Plácida Leopoldina
V.A.C.Santos; José Eduardo Santarém Segundo
Perspectivas em Ciência da Informação, v.21, n.3, p.50-69, jul./set. 2016 61
organização de categorias para a descrição da obra, da imagem que
representa a obra bem como da coleção que faz parte a obra. Ou seja,
três entidades: Obra, Imagem, Coleção e que se permite construir
relações de registros Verges (2009).
O registro da obra, por exemplo, pode ser associado a uma ou mais
imagens através do elemento relação. Da mesma forma que uma única
imagem pode se relacionar a uma ou mais obras, quando, por exemplo,
uma imagem de documentário é tomado de uma exposição e essa
imagem retrata várias obras. Um registro de coleção pode ser usado para
agregar trabalhos múltiplos ou vários registros de imagem.
3 The Visual Resources Association (VRA Core): um
breve estudo
Associação de Recursos Visuais, conhecida como (VRA Core)10, é
uma organização internacional destinada a profissionais que trabalham
com instituições museológicas, ou que lidam com objetos de arte e
patrimônios culturais.
Criada no ano de 1982 por bibliotecários membros do College Art
Association (CAA), the South Eastern Art Conference (SECAC), the Art
Libraries Society of North America (ARLIS/NA), e do Mid-America College
Art Association (MACAA), a VRA preocupa-se com a formação de
profissionais da imagem e desenvolve normas para o trabalho com obras
de arte.
A VRA possui algumas versões, sendo a VRA 1.0 (1996) baseada no
CDWA, VRA 2.0 (1996) que identificou a necessidade de padrões de
conteúdos baseado no CCO, VRA 3.0 (2000) que possui os esquemas de
metadados semelhantes ao esquema estrutural do Dublin Core, em sua
simplicidade, número de elementos e uso de qualificadores. E a versão
atual VRA 4.0 que expressa em um esquema XML, a fim de apoiar a
interoperabilidade e troca de registros VRA Core.
Tanto no Dublin Core quanto na VRA Core versão 3.0 os elementos
e qualificadores são opcionais e podem ser repetidos em qualquer ordem.
O padrão possibilita que somente um recurso seja descrito dentro de
um único conjunto de metadados e faz uma nítida distinção entre a obra e
a imagem representada dessa obra. Prevê, também, que o conjunto
descritivo de metadados dos registros possa ser criado para cada uma
delas e lincado dentro de uma base de dados local.
A VRA 3.0 Record Type pode conter um dos dois valores, work ou image.
Dessa forma, o registro de metadados representa uma obra ou uma imagem da
obra. Embora esta distinção não faça tanto sentido em um contexto fora do
museu, pode fornecer uma maneira clara de distinguirmos um objeto de
arte que faz parte de um museu, de uma imagem documental que o
objeto de arte retrata.
10 Disponível em: . Acesso em: 27 jul. 2016.
Padrão de metadados no domínio museológico
Fábio Rogério Batista Lima; Plácida Leopoldina
V.A.C.Santos; José Eduardo Santarém Segundo
Perspectivas em Ciência da Informação, v.21, n.3, p.50-69, jul./set. 2016 62
A VRA Core 3.0 possui 17 esquemas de elementos,
tecnicamente chamados de Categories. Assim como o Dublin Core, esta
versão do VRA possui elementos estabelecidos, baseados no XML, o que
será demonstrado a seguir.
A figura 1 ilustra uma imagem digital da obra This is how it
happened, do pintor espanhol Francisco Goya, feita com a técnica
conhecida como “água forte”, um tipo de gravura que faz parte da coleção
da (MI,USA), University of Michigan Museum of Art.
Figura 1 - Obra de Francisco Goya -This is how it happened
Fonte: Ann Arbor (MI,USA), University of Michigan Museum of Art.
Os Quadros 3 e 4 ilustram o conjunto de dados da obra This is how
it happened nos seguintes aspectos: Work Record e Image Record,
utilizando o padrão de metadados VRA Core 3.0.
Quadros 3 - conjunto de dados VRA core 3.0 (Work Record)
Record Type work
Type print
Title This is how it happened
Title Variant As Sucedi
Measurements.Dimensions 24.5x35cm
Material. Medium ink
Material.Support paper
Technique etching
Technique drypoint
Creator. Personal Name Francisco Jose de Goya y Lucientes
Creator. Role Printmaker
Padrão de metadados no domínio museológico
Fábio Rogério Batista Lima; Plácida Leopoldina
V.A.C.Santos; José Eduardo Santarém Segundo
Perspectivas em Ciência da Informação, v.21, n.3, p.50-69, jul./set. 2016 63
Data. Creation Ca.1810-1814
Location.Current Repository Na Arbor (MI, USA)University of Michigan Museum of Art
Location. Creation Site Madri (Esp)
ID Number. Current Accession 1977/2.15
Style/Period Romanticism
Culture Spanish
Subject war
Relation. Part of Parto f Disasters of war
Description This is how it happened is No.47(33) from the series “the Disaster
of War”, 4th edition, plates for the series ca.1810-14, 1820, 4th
edition was published 1906.
Rights Weber family trust
Source: Adapted from the VRA Core 3.0 “Compedium of Examples,
“http://www.vraweb.org/projects/vracore3/examples.html.data Standards Committee,
Visual Resources Association.
Fonte: MILLER (2004, p. 218).
Quadro 4 - Conjunto de dados VRA core 3.0 (Image Record)
Record Type image
Type digital
Title general view
Measurements. Dimensions 72 dpi
Measurements. Format jpeg
Technique scanning
Creator Fred Technician
Data. Creation 1999
Location. Current Repository Na Arbor (MI, USA)University of Michigan Museum of Art
ID Number. Current
Accession
PCD5010-1611-1037-27
ID Number. Current
Accession
1977/2.15
Description For more information, see
http://www.si.umich.edu/Art_History/demoareals/1977_2.15.html
Source University of Michigan Museum of Art
Rights University of Michigan Museum of Art
Source: see Table 8.2.
Fonte: MILLER (2004, p. 218).
Padrão de metadados no domínio museológico
Fábio Rogério Batista Lima; Plácida Leopoldina
V.A.C.Santos; José Eduardo Santarém Segundo
Perspectivas em Ciência da Informação, v.21, n.3, p.50-69, jul./set. 2016 64
Diferentemente de softwares de bibliotecas, que possuem na sua
maioria interfaces de saída mais voltadas e preocupadas com usuários, a
interface de software de museus em geral é mais voltada para soluções
internas. Geralmente, é tudo separado e há pouca informação disponível
para usuários externos, até mesmo porque tradicionalmente a forma de
extroversão do conhecimento da informação nos museus, de forma geral,
são as exposições.
No entanto, vimos que temos que trabalhar em paralelo, pois a
exposição é uma ferramenta de extroversão e as bases de dados de
sistema de informação são tão importantes quanto as exposições. Os
metadados são um dos componentes necessários para a integração de
sistema de gestão e interoperabilidade em museus, como visto no
exemplo acima possibilitado pelo VRA Core, o que deixou a interface e as
informações das obras muito mais agradável e completa para os usuários.
A versão do padrão VRA Core 4.0 inclui o uso dos elementos e
subelementos dos atributos sintáticos do XML. Esta nova versão possui 19
elementos essenciais, sendo o primeiro uma forma de invólucro, ou
recipiente, utilizado para conter os outros18 elementos. Alguns elementos
possuem subelementos e atributos, e todos os elementos são opcionais e
repetíveis, exceto para Work, Collection, ou Image, para os quais são
necessários e não repetíveis.
O VRA Core 4.0 recomenda que os IDs de Work, por exemplo, sejam
“w”; de Image sejam “i” e de Collection sejam “c”. Assim, tem-se um
invólucro que contém todos os outros elementos em registros individuais,
exemplo . Os elementos genéricos são
chamados de Work, Collection ou Image, mas o nome real do elemento é
um desses três termos, dependendo de qual dos três esteja sendo descrito no
registro de metadados individual.
A área museológica, segundo Marcondes (2013), por não ter
padrões de descrição consolidados, como em outras áreas, não possibilita
que os museus de arte brasileiros façam uso de padrões estruturados de
metadados. No entanto, gestores de museus ou profissionais que trabalham
diretamente com a catalogação de obras de arte, e que necessitam deste tipo de
ferramenta para facilitar o trabalho, encontram saídas em softwares privados,
especializados em trabalhos de catalogação de obras de arte, mas que não
possuem um padrão de metadados bem estabelecido ou compatível com o tipo de
material com que o museu trabalha. A exemplo aqui no Brasil temos o DONATO.
Renomados museus de arte brasileiros, como Museu de Artes de São Paulo e
a Pinacoteca do Estado de São Paulo, por exemplo, utilizam como padrão de
informação o software gerenciador do banco de dados chamado Donato,
versão atual 3.0, baseado no Thesaurus de Helena Dodd Ferrez e Maria
Helena Bianchinni.
Este programa foi criado e adotado pelo Museu Nacional de
Belas Artes para catalogação e gerenciamento de informações de seu
acervo e desenvolvido para atender às necessidades de trabalho dos
técnicos do MNBA, bem como de pesquisadores e visitantes Gemente
(2015). O programa mantém características próprias para este Museu.
Padrão de metadados no domínio museológico
Fábio Rogério Batista Lima; Plácida Leopoldina
V.A.C.Santos; José Eduardo Santarém Segundo
Perspectivas em Ciência da Informação, v.21, n.3, p.50-69, jul./set. 2016 65
A Pinacoteca utiliza o sistema Donato; ele foi desenvolvido para ser
usado em museu de belas artes e possui problemas já resolvidos quando
se trata de gravuras, esculturas, pinturas, gêneros mais tradicionais da
arte. Mas quando se fala de fotografias, performances, bem como de
recursos multimídias como videoarte e arte digital, por exemplo, já não
serve; o sistema apresenta uma série de problemas porque simplesmente
foi feito para um gênero mais tradicional, clássico, das belas artes e não
para gêneros das artes contemporâneas.
A Pinacoteca, por exemplo, fez uma série de modificações no
programa, como a gestão de direitos autorais, que é complicada para o
museu. Há alguns campos da arte contemporânea que não existiam e não
estavam no sistema original criado pelas belas artes. Em outras palavras,
quando criarem uma nova versão do Donato, ou a Pinacoteca continua
com a antiga para manter as mudanças que ela realizou, ou ela vai se
adequar à nova, que não terá essas mudanças que ela implementou.
O uso do Donato em museus que possuem coleções de arte
contemporânea acaba por modificar o padrão que foi criado para os
gêneros das belas artes. Assim, acaba por desvirtuar a própria
ferramenta. A proposta do Donato, de ser uma ferramenta para todos os
tipos de museu, cai por terra, porque se cada museu o usa de um modo e
tenta adaptar à sua maneira o padrão para se adequar à sua realidade, a
tendência é que o Donato já não seja uma coisa só. E como se administra
isso depois? Ele não foi feito para ser pensado como uma coisa dinâmica,
esse é um dos grandes problemas. No entanto, propostas futuras da
versão 4.0 segundo Gemente (2015) é a de interligar museus e usuários
para o compartilhamento de informações entre pesquisadores e permitir
aos técnicos das instituições integradas compartilharem documentos e
pesquisas, tais como: bibliografias, laudos técnicos, solicitação de
empréstimos etc.
O quadro 4 ilustra quais instituições brasileiras, como museus,
galerias ou qualquer outro tipo de instituição que trabalhe com obras de
arte e que utilizam o programa.
Quadro 4 - Instituições que utilizam o DONATO
Bahia Museu de Arte Sacra, Salvador
Ceará
Memorial da Cultura Cearense, Fortaleza
Museu de Arte Contemporânea do Ceará, Fortaleza
Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará, Fortaleza
Casa de José de Alencar, Fortaleza
Distrito Federal Museu do Supremo Tribunal Federal, Brasília
Museu Vivo da Memória Candanga, Brasília
Espírito Santo
Museu de Arte do Espírito Santo, Vitória
Galeria de Arte Espaço Universitário – UFES, Vitória
Diocese de Colatina, Colatina
Maranhão
Museu Histórico e Artístico do Maranhão, São Luiz
Museu de Arte Sacra, São Luiz
Museu Cafua das Mercês, São Luiz
Museu de Artes Visuais, São Luiz
Minas Gerais
Museu Regional de São João Del-Rei
Museu do Garimpo, Tibagi
Museu Municipal de Carangola, Carangola
Padrão de metadados no domínio museológico
Fábio Rogério Batista Lima; Plácida Leopoldina
V.A.C.Santos; José Eduardo Santarém Segundo
Perspectivas em Ciência da Informação, v.21, n.3, p.50-69, jul./set. 2016 66
Museu de Artes Murilo Mendes, Juiz de Fora
Museologia, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto
Pará
Museu de Arte de Belém, MABE, Belém
Museu do Círio de Nazaré, Belém
Museu do Estado do Pará, MEP, Belém
Museu de Arte Sacra, Belém
Museu da Universidade Federal do Pará, Belém
Paraíba
Museu de Arte Assis Chateaubriand –MAAC, Campina Grande
Museu do Brejo Paraibano, Areia
Museu Casa de Pedro Américo, Areia
Museu Regional de Areia, Areia
Museu da Cultura Popular Paraibana, João Pessoa
Paraná
Museu Oscar Niemeyer, Curitiba
Museu Campus Gerais, Ponta Grossa
Casa da Memória de Carambeí, Carambeí
Pernambuco
Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, Recife
Oficina Cerâmica Brennand, Recife
Museu do Estado de Pernambuco, Recife
Departamento de Arqueologia e Museologia (UFPE), Recife
Museu da Medicina de Pernambuco, Recife
Rio de Janeiro
Museu Nacional de Belas Artes
Museu Antônio Parreiras, Niterói
Fundação Eva Klabin Rappaport, Rio de Janeiro
Museu Histórico e Diplomático do Itamaraty, Rio de Janeiro
Museu de Imagens do Inconsciente, Rio de Janeiro
Museus Castro Maya, Rio de Janeiro
Museu Judaico do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro
Museu de Arte Contemporânea de Niterói, Niterói
Instituto Fayga Ostrower, Rio de Janeiro
Museu Histórico Nacional
Museu de Arte Moderna de Resende, Resende
Ateliê Carlos Vergara, Rio de Janeiro
Museu de Arte Sacra, Angra dos Reis
Museu de Arqueologia de Itaipu, Niterói
Museu de Arte Religiosa e Tradicional, Cabo Frio
Rio Grande do Sul
Museu Joaquim José Felizardo, Porto Alegre
Museu Júlio de Castilhos, Porto Alegre
Museu Municipal, Caxias do Sul
Museu IPA (Instituto Porto Alegre) Porto Alegre
Museu das Missões, São Miguel das Missões
Fundação Vera Chaves Barcelos, Viamão
Museu de Artes Visuais Ruth Schneider, Passo Fundo
Museu Histórico, Farroupilha, Piratini
Museu Municipal Monsenhor Wolski, Santo Antonio das Missões
Museu Histórico Regional, Passo Fundo
Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (UFRGS), Porto
Alegre
Santa Catarina
Museu Hassis, Florianópolis
Museu Victor Meirelles, Florianópolis
Museu de Arte Contemporânea Luiz Henrique Schwanke,
Joinville
São Paulo
Pinacoteca do estado de São Paulo, São Paulo
Museu de Arte de São Paulo, São Paulo
Casa das Rosas, São Paulo
Casa Guilherme de Almeida, São Paulo
SESC-SP, São Paulo
Museu Penitenciário Paulista, São Paulo
Fonte: Disponível em: .
Acesso em: 27 jul. 2016.
Padrão de metadados no domínio museológico
Fábio Rogério Batista Lima; Plácida Leopoldina
V.A.C.Santos; José Eduardo Santarém Segundo
Perspectivas em Ciência da Informação, v.21, n.3, p.50-69, jul./set. 2016 67
Existem poucos estudos feitos em universidades brasileiras, por
pesquisadores da área da Ciência da Informação, que procuram soluções
adequadas para a interoperabilidade de informações museológicas. No
entanto, pesquisadores que trabalham com informação, juntamente com
profissionais da área museológica, estão pouco a pouco se adequando ao
novo paradigma informacional e se esforçando com estudos e pesquisas
para que haja uma melhora na interoperabilidade entre instituições
museológicas que já fazem parte do sistema informacional global.
4 Considerações finais
Após a Internet ter se tornado o maior meio de comunicação da era
da informação e pelo fato de grande parte dos recursos informacionais
estarem passando por processo de digitalização, transformando-se em
linguagem computacional de bits e bytes, possibilitando que os dados
sejam manipulados por máquinas, todo processo de produção,
representação, recuperação, acesso, processamento, transferência,
visualização, armazenamento e preservação de dados está passando
também por transformações e exige nova forma de fazer e pensar por
parte dos profissionais que trabalham em unidades informacionais, nas
mais variadas áreas, incluindo as que lidam com patrimônios culturais,
como os museus.
É no ambiente Web que os museus estão disponibilizando, de forma
digital, grande parte das informações sobre seu acervo. Mas, todas essas
informações estão sendo disponibilizadas de forma não estruturada,
dificultando a troca de dados, a comunicação e a interoperabilidade entre
os sistemas de museus. Dessa forma, os padrões de metadados
adequados para gerenciar toda a informação vinculada ao acervo se faz
necessário para garantir o acesso e a recuperação da informação pelos
usuários.
Existem alguns padrões de metadados específicos para ambientes
que trabalham com obras de arte ou patrimônios culturais, como o VRA
Core. No entanto, essa realidade só faz parte de alguns grandes museus
em países mais desenvolvidos, como, por exemplo, o University of
Michigan Museum of Art, nos Estados Unidos. No Brasil, os museus, em
sua maioria, ainda não utilizam normas ou padrões de metadados que
possibilitem uma melhora no acesso da informação pelo usuário nem a
interoperabilidade entre sistemas de museus internacionais. Eles utilizam
padrões internos, adaptados para cada museu, como o exemplo do
programa de gerenciamento de banco de dados, DONATO, o qual permite
a catalogação de obras de arte, e que é o mais utilizado entre os maiores
museus do Brasil, mas que ainda não atende às expectativas de
interoperabilidade e integração de sistemas.
Quase não há estudos no Brasil que se preocupem com essa
questão. Estamos caminhando em passos lentos na elaboração de um
ambiente museológico que acompanhe a tendência mundial de
compartilhamento da informação, na qual já se constrói uma Web mais
inteligente, rápida e compatível com os novos paradigmas informacionais.
Padrão de metadados no domínio museológico
Fábio Rogério Batista Lima; Plácida Leopoldina
V.A.C.Santos; José Eduardo Santarém Segundo
Perspectivas em Ciência da Informação, v.21, n.3, p.50-69, jul./set. 2016 68
Referências
ALVES, R. C. V. Metadados como elementos do processo de catalogação.
2010. 132f. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) – Faculdade de
Filosofia Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2010. Disponível
em:
. Acesso em: 20 jun. 2015.
ARAÚJO, C. A. A. Arquivologia, biblioteconomia, Museologia e Ciência da
Informação: o diálogo possível. Brasilia, DF: Briquet de Lemos/Livros /
São Paulo: Associação Brasileira de profissionais da Informação
(ABRAINFO), 2014.
BACA, M. Introduction to Metadata: Pathways to Digital Information Getty
Information Institute. 1998. Disponível em:
http://www.getty.edu/research/conducting_research/standards/intrometa
data/index.html. Acesso em: 10 Fev. 2016.
BEVILACQUA, G. M. F. Museu como serviço de informação. In:
SEMINÁRIO SERVIÇO DE INFORMAÇÃO EM INSTITUIÇÕES CULTURAIS:
em busca de conceitos, métodos e políticas de preservação, 2., 2014, São
Paulo. Anais... São Paulo: Pinacoteca do Estado de São Paulo, 2014. p.
11-17.
COSTA, I. D. G.; ALMEIDA, M. C. B. Vocabulário de arte: ferramentas
fundamentais no trabalho cooperativo em bibliotecas, museus e arquivos.
In: SEMINÁRIO SERVIÇO DE INFORMAÇÃO EM MUSEU, 1., 2010, São
Paulo. Anais... São Paulo: Pinacoteca do Estado de São Paulo, 2010. p.
89-101.
CRIPPA, G. A faceta humanística da Ciência da Informação: ordem e
memória do/no museu. In: SEMINÁRIO SERVIÇO DE INFORMAÇÃO EM
MUSEU, 1., 2010, São Paulo. Anais... São Paulo: Pinacoteca do Estado de
São Paulo, 2010. p. 23-41
EUROPEANA. Europeana Data Model: Mapping Guidelines v. 2.2.
Disponível em:
. Acesso em: 5 Jul. 2015.
FERREZ, H. D. Documentação museológica: teoria para uma boa prática.
In: FÓRUM NORDESTINO DE MUSEU, 4., Recife. Trabalhos apresentados...
Recife: IBPC/Fundação Joaquim Nabuco, 1991. Disponível em:
. Acesso em: 13 dez.
2015.
GEMENTE, G. Vinte anos de Donato: um breve histórico do Banco de
Dados do Museu Nacional de Belas Artes. Rio de Janeiro: Museu Nacional
de Belas Artes, 2015. Disponível em:
Padrão de metadados no domínio museológico
Fábio Rogério Batista Lima; Plácida Leopoldina
V.A.C.Santos; José Eduardo Santarém Segundo
Perspectivas em Ciência da Informação, v.21, n.3, p.50-69, jul./set. 2016 69
. Acesso em: 22
maio 2016.
ISAAC, Antoine; CLAYPHAN, Robina; HASLHOFER, Bernhard - Europeana:
moving to Linked Open Data. ISQ Information Standards Quarterly. v.42,
n.2/3, 2012. Disponível em:
http://www.niso.org/apps/group_public/download.php/9407/IP_Isaac-
etal_Europeana_isqv24no2-3.pdf. Acesso em: 06 Jul. 2015.
INTERNATIONAL COUNCIL OF MUSEUMS. The CIDOC Conceptual
Reference Model. 2014. Disponível em: .
Acesso em: 28 nov. 2014.
MARCONDES, C. H. Interligando acervos digitais na Web em arquivos,
bibliotecas e museus. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL ARQUIVOS DE
MUSEUS E PESQUISA: humanidades e interfaces digitais, 3., 2013, São
Paulo. Anais... São Paulo: Grupo de Trabalho Arquivo de Museus e
Pesquisas, 2013. p. 9-30.
MILLER, S. Metadata For Digital Collection: a how-to-do-it manual. New
York; London: Neal-Schuman Publishers Inc., 2004.
NATIONAL INFORMATION STANDARDS ORGANIZATION (NISO).
Understanding Metadata. Bethesda, MD: NISO Press, 2004. Disponível
em:
.
Acesso em: set. 2015.
VERGES, J. VRA Core 4.0 na introduction. Boston, MA, 2009. Disponível
em: .
Acesso em: 21 Jun. 2016.
THE VISUAL RESOURCES ASSOCIATION - VRA Core. A data standard for
the description of images and works of art and culture. Disponível em:
. Acesso em: 27
jul. 2016.
YASSUDA, S. N. Documentação museológica: uma reflexão sobre o
tratamento descritivo do objeto no Museu Paulista. 2009. 180f.
Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) - Faculdade de Filosofia
e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2009.
ZENG, M. L.; QIN, J. Metadata. New York: Neal-Schuman Publishers,
2008.
ZENG, M. L. Entendendo e utilizando o Linked Data em Bibliotecas,
Arquivos e Museus (LAM). In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL ARQUIVOS DE
MUSEUS E PESQUISA: humanidades e interfaces digitais, 3., 2013, São
Paulo. Anais... São Paulo: Grupo de Trabalho Arquivo de Museus e
Pesquisas, 2013. p. 93-109.