28 Revista Equilíbrio Corporal e Saúde, 2012;4(1):28-41 Percepção da importância da participação de idosos em uma Universidade Aberta da Terceira Idade Perceptions on the importance of the participation of elderly in Open University of the Third Age Resumo Introdução: Envelhecer faz parte do caminho natural do ser humano. Envelhecer também é sinônimo de ganho contínuo de experiência. Envelhecer, sobretudo na nossa cultura, infelizmente, também pode ser sinônimo de exclusão, mas não no que se refere à Universidade Aberta à Terceira Idade UNATI de Marília SP, que tem como principal objetivo a integração social mediante o convívio no meio universitário, transformando as experiências e conhecimentos em qualidade de vida num aprendizado constante. Objetivo: Este artigo tem como objetivo relatar uma investigação sobre os motivos atribuídos sobre a importância de um idoso freqüentar uma Universidade Aberta da Terceira Idade na visão dos idosos que a freqüentam. Material e Método: Traz um perfil desses idosos quanto ao sexo, idade, estado civil, nível de escolaridade, profissão, aspectos financeiros. A amostra foi composta por 52 idosos e o método amostral foi o de conveniência. Resultados: Os resultados demonstraram que a maior importância atribuída para a participação foi obter maiores conhecimentos e estar atualizado seguido de conhecer novas pessoas e fazer novos amigos, exercitar a memória, ocupar de forma saudável e interessante seu tempo livre e melhorar a qualidade de vida. A participação dos idosos ocasionou possibilidades de fazer novos amigos, melhora da depressão e motivação para adquirir novos conhecimentos. Conclusão: Conclui- se que as Universidades Abertas da Terceira Idade podem contribuir para a melhora da qualidade de vida principalmente no que se refere ao convívio social e ao aspecto cognitivo. Palavras-chave: Idoso. Envelhecimento. Qualidade de vida. Universidades. Gilsenir Maria Prevelato de Almeida Dátilo1 Fabíola da Costa Tavares2 1 Doutora em Educação pela Universidade Estadual Paulista, UNESP, Profa. Assistente Doutora do Departamento de Psicologia da Educação da Universidade Estadual Paulista, UNESP. 2Graduanda em Pedagogia pela Universidade Estadual Paulista, UNESP. Aluna de Iniciação Científica. Autor para correspondência: Gilsenir Maria Prevelato A. Dátilo Av. Hygino Muzzi Filho, 737 Cx.P.181. Campus Universitário. CEP 17529-900, Marília SP Email: gdatilo@marilia.unesp.br 29 Revista Equilíbrio Corporal e Saúde, 2012;4(1):28-41 Introdução O envelhecimento populacional atualmente é um fenômeno universal, tanto em países desenvolvidos como em países em desenvolvimento. Há cerca de quatro décadas tem sido observado um grande aumento da população idosa, particularmente nos países em desenvolvimento¹. Segundo Neri², idosos são indivíduos com 60 anos ou mais, nos países em desenvolvimento, e de mais de 65, nos países desenvolvidos. Em todo mundo, o número de pessoas com 60 anos ou mais tem crescido mais que o de qualquer outra faixa etária. Segundo Silva³ esse crescimento é conseqüência da industrialização, da urbanização, dos avanços da medicina, da tecnologia e do saneamento básico. Esses fatores geram condições que reduzem a fecundidade e a mortalidade e favorece o aumento da expectativa de vida, assim decorrendo o crescimento da população idosa e como conseqüência o envelhecimento demográfico. Estima-se que em 2025 haverá 1,2 bilhões de pessoas com mais de 60 anos no mundo, e o Brasil será o sexto país do mundo em número de idosos segundo a World Health Organization4. No Brasil, os idosos eram 3,2% da população em 1900, 4,7% em 1960 e poderão chegar à marca 13,8% em 2025. De acordo com Cordeiro5 dentre as inúmeras mudanças ocorridas nos últimos quarenta anos em relação ao modo como as sociedades ocidentais encaram as questões relacionadas ao envelhecimento humano, está à preocupação com a educação permanente das pessoas que envelhecem por parte de instituições de ensino, sejam elas públicas ou privadas, com o intuito de atender a essa parcela da população em suas necessidades culturais e em sua busca por novos conhecimentos e atividades. Com esses objetivos, surgiram as primeiras Universidades da Terceira Idade. Várias pesquisas desenvolvidas no final dos anos 60, em relação aos idosos e seus familiares, mostravam diversos casos de isolamento e de abandono de idosos6. É uma tendência maior e geral de que os idosos passem cada vez mais a morar em unidades domésticas separadas dos filhos. E há também um grande número de idosos que residem próximos aos seus filhos. Podemos considerar o fato de que os idosos morarem com seus filhos não é garantia da presença do respeito e do prestígio, e nem da ausência de maus-tratos, visto que as denúncias de violência física aparecem também nos casos em que diferentes gerações vivem juntas numa mesma unidade doméstica. Para evitar o isolamento dos idosos surgiram as primeiras iniciativas educacionais brasileiras de atendimento aos adultos e idosos que foram feitos pelo SESC e se basearam nas teorias francesas e na teoria da atividade em Gerontologia. Foi a partir dos anos 60, que o SESC introduziu programas de lazer e convivência para os idosos e cursos de preparação para a aposentadoria. E assim nos anos 70, a entidade organizou os primeiros movimentos de idosos e as primeiras Escolas Abertas à Terceira Idade. As iniciativas do SESC refletiram na criação de entidades em todo país até os dias atuais. As criações de novas entidades também proporcionaram maiores vantagens aos mais velhos, essas iniciativas têm propiciado espaços e oportunidades para a discussão do fenômeno velhice e para a investigação de suas características6. A velhice normal é caracterizada pelas perdas e alterações biológicas, psicológicas e sociais típicas da velhice, mas sem patologias; as velhices ótimas, compatíveis com um funcionamento possível ao dos indivíduos mais D á tilo , T a v a re s, 2 0 1 2 30 Revista Equilíbrio Corporal e Saúde, 2012;4(1):28-41 jovens; e as velhices patológicas, coincidentes com a presença de síndromes típicas da velhice ou agressivamente de doenças persistentes6. É na velhice que o ser humano fica mais sujeito a perdas evolutivas em vários domínios, em virtude da sua programação genética, dos eventos biológicos, psicológicos e sociais característicos de sua história individual e dos eventos que ocorrem ao longo do curso da história de cada sociedade. Mas dizer que na velhice ocorrem mais perdas do que ganhos evolutivos, não quer dizer que as pessoas ficam impedidas de funcionar. Viver significa adaptação ou uma possibilidade de constante auto-regulação, tanto em termos biológicos quanto em termos psicológicos e sociais. Os programas educacionais ajudam na capacidade dos idosos de crescerem e se desenvolverem valorizando o seu potencial e em vista do crescimento dessa faixa etária, surgem cada vez mais programas educacionais voltados à terceira idade. O modelo das universidades francesas para a terceira idade existia desde os anos 60, envolvendo a oferta de atividades culturais e de incentivo a sociabilidade, tendo como seu principal objetivo ocupar o tempo livre dos aposentados e favorecer a relação entre eles. Nessa época não havia interesse em programas dirigidos à educação permanente, educação em saúde ou assistência jurídica, e sim em promover atividades ocupacionais e lúdicas, motivo pelo qual essa primeira geração de universidades da terceira idade foi significativamente denominada universidades para o tempo livre. A partir da década de 1980, as universidades começaram a abrir um espaço educacional, tanto para população idosa como para os profissionais interessados no estudo das questões do envelhecimento. Em 1994 o estado de São Paulo criou a Associação das Universidades e Faculdades Abertas Para Terceira Idade (AUFATI), que contou com o apoio do Conselho Estadual do Idoso. Essa associação teve como objetivo a troca de experiências e a busca de novos caminhos na área da Gerontologia Educacional. A expansão das Universidades da Terceira Idade no Brasil e os movimentos organizados de aposentados são indicadores de que a velhice vem ganhando visibilidade cada vez maior no Brasil. A partir da década de 1990, observou-se a criação de espaços voltados exclusivamente para a reunião de pessoas idosas, como os grupos de convivência, as associações de aposentados, as escolas abertas e as universidades da terceira idade. O elemento fundamental na reunião dos participantes nesses programas é a idade cronológica, que define tanto a reunião quanto as práticas desenvolvidas conforme Debert7. Entre as atividades oferecidas para os idosos, as universidades da terceira idade destacam-se segundo Cachioni8 como programas de educação permanente de caráter universitário e multidisciplinar, que têm como pressuposto a noção de que a atividade promove a saúde, o bem-estar psicológico e social e a cidadania das pessoas idosas. As Universidades para a Terceira Idade segundo Fenalti e Schwartz9 visam a valorização pessoal, a convivência grupal, o fortalecimento da participação social, a formação de um cidadão consciente de suas responsabilidades e 31 Revista Equilíbrio Corporal e Saúde, 2012;4(1):28-41 direitos, promovem sua autonomia e sua qualidade de vida. Cachioni8 relata que a primeira universidade da terceira idade surgiu em 1973, na França e no início da década de 1980 chegou à América Latina, pelas Universidades Abertas (UNI Uruguai), com sede em Montevidéu. No Brasil, o primeiro programa de atendimento ao idoso, realizado em uma universidade, surgiu em 1982, na Universidade Federal de Santa Catarina, denominado de Núcleo de Estudos de Terceira Idade. Segundo Irigaray e Schneider10 as Universidades da Terceira Idade se caracterizam pela educação permanente sendo esta um fato educativo global, que surge da necessidade de instrumentalizar o homem para o convívio com as mudanças que ocorrem em todos os aspectos da vida humana, tanto em nível econômico como no político e cultural, tanto em nível científico como na interpretação da natureza e do universo. Ela se prolonga ao longo de toda a existência humana, sem limites cronológicos, remetendo a uma nova concepção de homem, que busca o aperfeiçoamento integral e integrado ao longo de todas as etapas de sua vida e do desenvolvimento de sua personalidade. Castro11 afirma que os programas de educação permanente oferecem atividades que estimulam o autoconhecimento, a auto-estima e a auto- realização dos idosos. Geralmente, esses programas são trabalhos realizados numa situação de grupo, nos quais as pessoas idosas podem criar uma dinâmica de relações pessoais significativas e mantê-las, produzindo espaços de aprendizagens. A educação permanente tem como base segundo Cachione e Neri12 o reconhecimento dos valores inerentes aos idosos, dos seus direitos e de suas oportunidades. Irigaray e Scheider10 acreditam que o papel da educação não é o de divertir ou entreter o idoso, nem de perpetuar ou reproduzir papéis desempenhados em outros momentos da vida, mas sim servir de meio para que a pessoa, independentemente da idade cronológica, consiga manter seus níveis normais de funcionamento e de desenvolvimento. Castro11, Debert7 e Golstein13 em estudos mostraram que a presença feminina nas Universidades da Terceira Idade é marcante, sendo a maioria dos alunos. De acordo com Debert7, esse fato pode estar relacionado às diferenças como homens e mulheres representam o que é a velhice: as mulheres com interesse mais cultural e os homens com interesses mais políticos e esportivos. A expressiva participação feminina nesses programas pode também ser decorrente da vida mais longa das mulheres, que, em média, vivem cerca de cinco a seis anos a mais do que os homens segundo Martin, Smith Mathews, & Ventura14. A feminilização do envelhecimento populacional é objeto de estudo de vários autores e caracteriza-se pelo fato das mulheres das coortes mais antigas, na sua maioria, terem pouca escolarização, baixa qualificação profissional, baixa inserção no mercado de trabalho e viverem em um contexto sócio-cultural que valoriza o masculino, destinando às mulheres papéis subalternos e diferenciados na família15. Nesta última, elas assumem a função de cuidadoras dos familiares idosos e de si próprias, pois as mulheres também envelhecem. Segundo Irigaray, Scheider10, Papalia, Olds & Feldman16 a feminilização do envelhecimento pode ser atribuída a fatores como maior tendência ao autocuidado, como buscar assistência médica, ao maior nível de apoio social que as mulheres desfrutam e à menor vulnerabilidade biológica durante toda a vida. As mulheres idosas tendem a ter problemas de saúde de longa 32 Revista Equilíbrio Corporal e Saúde, 2012;4(1):28-41 duração, crônicos e incapacitantes, enquanto os homens idosos tendem a desenvolver doenças fatais de curta duração. A Gerontologia tem diversos argumentos em favor da educação, integração e da participação dos idosos à vida social; o principal deles, é que as novas aprendizagens promovidas pela educação formal e informal são um importante recurso para manter a funcionalidade, a flexibilidade e a possibilidade de adaptação dos idosos, condições estas associadas ao conceito de velhice bem sucedida. As oportunidades educacionais são apontadas como importantes ganhos evolutivos na velhice, porque se acredita que elas intensificam os conteúdos sociais, a troca de vivências e de conhecimentos e o aperfeiçoamento pessoal. A velhice produtiva engloba significados associados a varias áreas de atividades humanas. Inclui várias possibilidades de exercícios em papéis e funções desempenhadas pelo idoso numa época em que mais e mais pessoas em todo o mundo podem envelhecer bem. Considerando o exposto o objetivo deste estudo foi investigar quais eram as concepções encontradas nos alunos idosos que freqüentam a Universidade da Terceira Idade (UNATI) da UNESP de Marília SP a respeito da importância de freqüentarem um projeto como esse, identificar o perfil do aluno idoso da UNATI no que se refere a seus dados sociodemográficos incluindo idade, sexo, estado civil, escolaridade, renda, situação de moradia, ocupação anterior e tempo de participação no projeto, contribuir para a compreensão da importância das UNATI nos processos de envelhecimento saudável segundo a concepção dos idosos que a freqüentam. Universidade Aberta à Terceira Idade - UNATI A inserção do idoso no contexto acadêmico é uma das funções sociais da Universidade Pública. Com o intuito de possibilitar o acesso dessa população à UNESP, a Universidade Aberta à Terceira Idade (UNATI), vinculada à Pró-Reitoria de Extensão Universitária da UNESP (PROEX), oferece diferentes oportunidades de atividades. O projeto procura promover a integração entre Universidade e Comunidade e a articulação entre ensino, pesquisa e extensão mediante o envolvimento de docentes, alunos, funcionários e a população em geral. Inserida na problemática que o idoso enfrenta atualmente, o Programa UNATI da Faculdade de Filosofia e Ciências - UNESP - Marília SP tem como objetivo principal proporcionar condições para a integração social e acadêmica do idoso, mediante a participação nas atividades programadas pela UNATI, as quais favorecem a convivência com os diversos segmentos da comunidade acadêmica. O desenvolvimento das atividades da UNATI possibilita às pessoas da terceira idade a aquisição de novos conhecimentos e a troca de experiências entre os participantes e a comunidade acadêmica. A UNATI de Marília iniciou suas atividades no ano de 1995 e no ano de 2012 oferece as seguintes atividades: Palestras as quartas-feiras das 15h às 17h essa é atividade linha mestra da UNATI e os alunos escolhem quantas e quais outras oficinas querem fazer de acordo com seu interesse. As palestras são com profissionais da UNESP e de outras instituições. Os temas são sugeridos por escrito pelos alunos idosos em parceria com a equipe de coordenação, alguns deles no ano de 2012 33 Revista Equilíbrio Corporal e Saúde, 2012;4(1):28-41 foram: qualidade de vida, nutrição e a importância da boa alimentação diária, cidadania e democracia no Brasil, a família contemporânea entre a tradição e o direito, Marília, memória e história, prevenção às lesões - quedas na terceira idade, exercícios alongamentos e flexibilidade na melhor idade, direito do idoso, entre outros. Desenvolveu também oficina de voz, teatro, oficina de memória, oficina de leitura, informática, oficina de inglês, oficina do curso de direito e direito das famílias, filmes ou cine UNATI, dinâmicas de grupos pelos estagiários alunos de psicologia com supervisão, atividades essas desenvolvidas em outros dias e horários da semana, de modo que se o idoso quiser tem atividades todos os dias da semana. Material e Método Procedimentos para coleta dos dados O projeto de pesquisa foi enviado ao Comitê de Ética e Pesquisa e devidamente aprovado sob o número 564 2012. A partir da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, os idosos foram convidados a participar do estudo, 52 aceitaram, sendo informados de que responderiam individualmente acerca das informações sociodemográficas, sobre a importância da participação na UNATI bem como as mudanças ocorridas em suas vidas após o ingresso neste projeto e as oficinas e atividades freqüentadas. Os instrumentos (termo de consentimento e questionário) eram auto administráveis, mas mesmo assim houve sempre a presença da pesquisadora e ou da bolsista para esclarecimentos. Instrumentos Foi utilizado um questionário para que o próprio aluno idoso da UNATI preenchesse com seus dados sociodemográficos incluindo idade, sexo, estado civil, escolaridade, renda, situação de moradia, ocupação anterior, ocupação atual e tempo de participação no projeto. Foi composto também por três perguntas abertas sobre quais eram as justificativas atribuídas pelo idoso quanto à importância de freqüentar um projeto como a UNATI, as atividade e oficinas que freqüentava e as mudanças ocorridas em sua vida após a participação no projeto. Amostra A amostra contou com 52 idosos na faixa etária entre 55 a 93 anos, lembrando que a OMS define como idoso o individuo com 60 ou mais, porem freqüentam a UNATI adultos há partir 55 anos devido à grande procura e anuência da coordenação. Foram convidados a participar da presente pesquisa 90 idosos, aceitaram e participaram 52; outros faltaram durante a aplicação por motivo de doença, viagens no período de coleta de dados que foi de 3 a 24 de outubro de 2012 e alguns não aceitaram. O questionário foi respondido individualmente com auxilio da pesquisadora e a bolsista na própria UNATI. 34 Revista Equilíbrio Corporal e Saúde, 2012;4(1):28-41 Procedimentos para análise dos dados A descrição dos dados sociodemográficos foi realizada por meio das freqüências absolutas e porcentagens. As respostas das três questões abertas do questionário sobre a participação na UNATI foram analisadas mediante o método de análise de conteúdo Bardin17. Adotou-se o critério semântico para a identificação de categorias temáticas, baseadas no agrupamento de elementos de significados mais próximos, que compunham as respostas das participantes. Após, foi realizada a contagem da freqüência final dos elementos nas categorias. Resultados Na Tabela 1 observam-se as características sócio econômico culturais dos participantes da UNATI. Mostram um predomínio de idosos viúvos, com ensino superior, com renda de 4 a 5 salários mínimos, com casa própria, morando sozinhos, em sua maioria são professores aposentados e todos com mais de um ano freqüência na UNATI. A Tabela 2 mostra a importância atribuída à freqüência na UNATI, obter maiores conhecimentos, estar atualizado seguido por conhecer novas pessoas, fazer novos amigos e ampliar os relacionamentos, manter a mente aberta, exercitar a memória visando uma velhice com qualidade de vida, sair de casa e dedicar um tempo para eles mesmos e ter uma ocupação saudável e interessante. A Tabela 3 traz dados referentes às atividades e oficinas freqüentadas pelos idosos da UNATI, as palestras aparecem em primeiro lugar seguido por teatro, informática, oficina de memória, inglês, oficina de leitura, oficina da voz, filmes e oficina de psicologia. Na tabela 4 podem-se verificar mudanças ocasionadas pela participação na UNATI segundo a visão dos idosos, a melhora da socialização, sentir-se mais extrovertido, menos tímido e fazer mais amizades foi a mudança predominantemente seguido por motivação maior para obter conhecimentos e melhora da depressão, sentir-se mais feliz, adquirir conhecimentos de internet e melhorar a auto estima. Tabela 1. Características sócio econômico culturais dos participantes da UNATI (n=52) Características n % Solteiro (a) 3 5,76 Casado (a) 22 42,30 Viúva 23 44,20 Separada/divorciada/sem companheiro 3 5,70 Outros 1 1,90 Escolaridade Ensino Médio 11 20,10 Ensino Superior 31 59,50 Pós graduação 2 3,80 Renda 1 salário mínimo 7 13,40 35 Revista Equilíbrio Corporal e Saúde, 2012;4(1):28-41 2 3 salários mínimos 15 28,80 4 a 5 salários mínimos 17 32,60 6 a 9 salários mínimos 11 21,10 Situação de habitação Casa Própria 50 98,00 Casa alugada 1 1,90 Casa cedida 1 1,90 Residem com Cônjuge 14 26,90 Cônjuge e filho 4 7,60 Cônjuge e neto 3 5,70 Filho (a) 13 25,90 Sozinho 16 30,70 Com a mãe 1 1,90 Com o irmão 1 1,90 Ocupação anterior Professor, diretor de escola, supervisor de ensino 18 34,60 Do lar 6 11,50 Funcionário público 5 9,60 Bancário 4 7,60 Outros 33 63,40 Tempo de participação na UNATI 1 a 2 anos 23 44,20 3 a 5 anos 10 19,20 6 a 8 anos 6 11,50 9 a 11 anos 2 3,80 12 a 14 anos 4 7,60 15 a 17 anos 7 13,40 Tabela 2. Frequência das respostas sobre a importância de frequentar a UNATI (n=52). Importância atribuída n % Em ampliar meus relacionamentos 30 57,9 Obter maiores conhecimentos e estar atualizado 36 69,7 com qualidade de vida Sair de casa e dedicar 2 3,8 um tempo para mim Ter uma ocupação saudável 2 3,8 e interessante TOTAL 52 100,0 36 Revista Equilíbrio Corporal e Saúde, 2012;4(1):28-41 Tabela 3. Frequência das respostas sobre as atividades e oficinas frequentadas pelos idosos da UNATI (n=52). Atividades e Oficinas n % Palestras 23 44,2 Informática 19 36,5 Teatro 18 34,6 Memória 14 26,9 Inglês 7 13,4 Leitura 6 11,5 Direito 3 5,7 Voz 3 5,7 Filmes 3 5,7 Psicologia 3 5,7 Total 99 *Cada idoso pode participar de várias oficinas e atividades, portanto são escolhidas como resposta várias atividades Tabela 4. Freqüência de respostas sobre as mudanças ocasionadas pela participação na UNATI Mudanças ocasionadas pela participação n % Despertou em mim a vontade de conhecer mais, ampliou meus conhecimentos 22 42,3 Melhorou minha depressão 22 42,3 Menos tímido, fiz mais amizades 24 46,5 Fiquei mais feliz 8 15,3 Adquiri conhecimentos sobre a internet 7 13,4 Melhorou minha auto estima 4 7,6 Total 87* * O número total de repostas corresponde à freqüência de respostas obtidas e não ao número de participantes. Discussão A Tabela 1 mostra as características sócio econômico culturais dos participantes. Conforme pode ser observado, em relação ao gênero houve o predomínio do sexo feminino (78,8%). O estado civil predominante foi o de viúvo (a) (44,2%), seguido por casado (42,3%), quanto à escolaridade o ensino superior foi dominante (59,6%), a renda mais presente foi de 4 a 5 salários mínimos, ( 28,8%) . A maioria (98,0%) possui casa própria e nesta moram com o (a) cônjuge (40,3%), seguidos por morarem sozinhos ( 30,7%) e com um filho (25,0%) . A profissão anterior mais freqüente foi a de professor, diretor de escola e supervisor de ensino (34,5). Quanto ao tempo de freqüência na UNATI a maior parte (44,2%) de 1 a 2 anos e temos idosos que estão freqüentando entre 15 e 17 anos (13,4%). Os dados mostram a predominância do sexo feminino e confirmam Castro11; Debert7; Goldstein13 em estudos onde evidenciaram que a presença feminina nas Universidades da Terceira Idade é marcante, sendo a maioria dos alunos. 37 Revista Equilíbrio Corporal e Saúde, 2012;4(1):28-41 Lembremos também que no envelhecimento as mulheres são a maioria da população, citando a feminilização do envelhecimento pesquisadores como Irigaray, Scheider10, Papalia, Olds & Feldman16 atribuem este dado a fatores tais como maior tendência ao auto cuidado, como buscar assistência médica, ao maior nível de apoio social que as mulheres desfrutam e à menor vulnerabilidade biológica durante toda a vida. Alguns autores como Cachione8, Irigaray18, Irigaray, Scheider10 e Silva19 têm demonstrado que os idosos que freqüentam as Universidades da Terceira Idade apresentam melhoras nas áreas pessoal, intelectual, afetiva e social, fato também verificado em nossos resultados. Segundo resultados da presente pesquisa a importância atribuída pelos idosos para participarem da UNATI foram obter maiores conhecimentos e estar atualizado seguido de fazer novos amigos, exercitar a memória visando uma velhice com qualidade de vida, dedicar um tempo a si próprio, ter lazer e uma ocupação saudável. Esses dados corroboram com Irigaray, Scheider 10, Castro11; Silva19. Irigaray20 encontrou em um estudo realizado com idosas da UNITI, que a aquisição de novos conhecimentos está relacionada com modificações na maneira de viver, pensar, sentir e agir de idosas. Um dos sujeitos idosos da UNATI ao responder ao questionário enfatizou esse aspecto afirmando “quanto mais eu aprendo fico mais preparado para lidar com coisas que acontecem na vida”sic. Guerreiro21, em seus estudos enfatiza ser a solidão uma das razões para a procura pela universidade aberta da Terceira Idade por possibilitar aos idosos a oportunidade de fazer novos amigos ampliando assim seus relacionamentos sociais. Sobre as atividades e oficinas que freqüentam houve um predomínio das palestras (44,2%), informática (36,5%), seguido por teatro (34,6%) e oficina de memória (26,9%). Verificou-se um predomínio das atividades que envolvem conhecimento, visto que as palestras realizadas às quartas-feiras compreendem temas variados compreendendo os que são ligados à saúde, educação, artes escolhidos e sugeridos pelos alunos idosos e pela equipe de coordenação. A oficina de informática foi a segunda escolhida pelos idosos, salienta-se que alguns idosos dessa oficina tem facebook, MSN e todos tem email, estar atualizado com as ferramentas digitais disponíveis no tempo presente é motivo de maior segurança em muitas situações da vida diária como ir ao banco, se comunicar com parentes que estão longe via internet, pesquisar temas de interesse próprio entre outros. Destacamos que a oficina de informática promove o ensino das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s) como proposta de inclusão dos alunos idosos na Sociedade da Informação, conforme Vidotti22. A terceira atividade mais citada foi a oficina de teatro uma hipótese para tal é a possibilidade de com esta atividade favorecer a socialização a autoconfiança, existe uma particularidade entre os participantes do teatro, são muito unidos e ao final das atividades quase sempre marcam um “cafezinho”, onde conversam, comentam sobre a peça ou poemas que estão ensaiando, fato esse que também favorece as amizades. Dentre as várias alterações decorrentes do processo de envelhecimento as funções do sistema nervoso central, principalmente as de origem neuropsicológica envolvidas no processo cognitivo, tais como o aprendizado e memória, constituem um dos principais alvos de pesquisas realizadas sobre senescência, de acordo com Souza23, estas alterações podem comprometer o bem estar do idoso no que se refere a 38 Revista Equilíbrio Corporal e Saúde, 2012;4(1):28-41 sua vida social e relacionamento com membros familiares. Os idosos da UNATI têm na oficina de memória a quarta escolhida entre atividades de maior procura, uma hipótese para tal é que a memória é uma das funções fundamentais para o convívio social e com a família. Ao se tratar das mudanças ocorridas nos idosos com a participação na UNATI obtivemos como respostas os seguintes dados: melhora da socialização, sentir-se mais extrovertido, menos tímido e apresentar maior facilidade para fazer novas amizades, ter desejo de obter mais e maiores conhecimentos, melhora da depressão, sentir-se mais feliz, adquirir conhecimentos de internet e melhora da auto-estima. Concordamos com os dados que Irigaray, Scheider10, obtiveram em sua pesquisa no sentido de que com a participação na Universidade da Terceira Idade, as idosas passam a buscar o próprio desenvolvimento e a realização pessoal, valorizando o crescimento interior, que, provavelmente, em fases anteriores não tiveram a oportunidade de fazê-lo. Irigaray18 em sua dissertação de mestrado “Dimensões de Personalidade, Qualidade de Vida e Depressão em Idosas da Universidade para a Terceira Idade” demonstra que atividades grupais entre idosos favorecem a boa qualidade de vida e uma menor intensidade de sintomas depressivos talvez por isso alguns idosos atribuam o estar mais feliz e a melhora da depressão como mudanças ocorridas. Cabral24 relata que projetos realizados para os idosos possibilitam a criação de novos laços de amizade. Na tabela 4 podem-se verificar mudanças ocasionadas pela participação na UNATI segundo a visão dos idosos, a melhora da socialização, sentir-se mais extrovertido, menos tímido e fazer mais amizades foi a mudança predominantemente seguido por motivação maior para obter conhecimentos e melhora da depressão, sentir-se mais feliz, adquirir conhecimentos de internet e melhorar a auto estima. Conclusão Os resultados deste estudo mostram que os idosos atribuem como elementos importantes e significativos para sua freqüência na UNATI de Marília obter maiores conhecimentos e estar atualizado, conhecer novas pessoas e fazer novos amigos, exercitar a memória visando uma velhice com qualidade de vida, sair de casa, ter um tempo apenas para eles e ter uma ocupação saudável e interessante. Irigaray, Scheider10 encontraram resultados semelhantes no que se refere aos idosos terem como objetivo a busca e ampliação de conhecimentos e o fato de fazerem novas amizades e ampliarem seus relacionamentos sociais. No que se refere a mudanças ocorridas com a participação na UNATI foram citados pelos idosos a melhora da socialização no sentido de sentirem-se mais extrovertidos e com maior facilidade de fazer amizades, o desejo de obter novos conhecimentos, a melhora da depressão, sentirem-se mais felizes, adquirirem conhecimentos da Internet e a melhora auto-estima. Desta forma pode-se concluir que a UNATI possibilita a inserção do idoso no contexto social e acadêmico contribuindo para o seu bem estar principalmente no que diz respeito ao desejo de aprender fato esse decorrente da educação permanente; a possibilidade de ampliação e manutenção de amizades. Sugere-se que se amplie o número de UNATI e pesquisas na área, visto que o envelhecimento 39 Revista Equilíbrio Corporal e Saúde, 2012;4(1):28-41 da população é um fenômeno de amplitude mundial e estima-se que em 2025 haverá 1,2 bilhões de pessoas com mais de 60 anos no mundo, e o Brasil será o sexto país do mundo em número de idosos segundo a World Health Organization4 e essas pessoas precisarão de iniciativas como as UNATI que contribuam para sua melhor qualidade de vida. Abstract Introduction: Aging is part of the natural human way. Aging is also synonymous with continuous gain experience. Aging, especially in our culture, unfortunately, can also be synonymous with exclusion, but not in relation to the UNATI Marília SP Open University of the Third Age, which has as main objective the integration through social interaction in academia, transforming experience and knowledge in quality of life in a constant learning. Objective: This article aims to report an investigation into the reasons attributed to the importance of an elderly attending the Open University of the Third Age in the vision of the elderly who attend. Material and Method: Bring a profile of the elderly by gender, age, marital status, education level, profession, financial aspects. The sample consisted of 52 elderly and the sampling method was convenience. Results: The results showed that the greater importance attached to participation was to gain more knowledge and be updated followed by meeting new people and making new friends, exercising the memory, healthy and interestingly filling free time and to improve quality of life. The participation of the elderly caused possibilities of making new friends, improvement in depression and motivation to acquire new knowledge. Conclusion: We conclude that the Open University of the Third Age can contribute to improvement of quality of life especially with regard to social interaction and cognitive aspect. Key-Words: Aged. Aging. Quality of life. Universities. Referências [1] Guerra ACLC, Caldas CP. Dificuldades e recompensas no processo de envelhecimento: a percepção do sujeito idoso. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro. 2010; 15(6): 2931-40. [2] Neri A L. Idosos, velhice e envelhecimento. In: ____________. Palavras- chave em Gerontologia. Campinas: Alínea; 2005. p.114-5 [3] Silva JC. 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