UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES E COMUNICAÇÃO - FAAC CAMPUS DE BAURU Retratos Impessoais Orientanda: JULIANA ROMANO Orientador: Prof. Dr. MARCOS AMÉRICO _______________________________________________ Comissão Examinadora: Ma. LIENE NUNES SADDI Universidade Estadual de Campinas Prof. Dr.DENIS PORTO RENÓ Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” Bauru 2015 2 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES E COMUNICAÇÃO - FAAC CAMPUS DE BAURU Retratos Impessoais JULIANA ROMANO GOMES RA: 11033851 Bauru 2015 Projeto Experimental apresentado como exigência parcial para obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social – Habilitação em Radialismo (Rádio e Televisão), ao Departamento de Comunicação Social da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" 3 Às minhas guerreiras vó, mãe e irmã 4 Agradecimentos Agradeço primeiramente à aquela que me deu a oportunidade de realizar um sonho. Que me deu todo o suporte financeiro, estrutural e emocional para que eu pudesse passar por esses quase cinco anos de Unesp me dedicando ao meu crescimento: mãe. Agradeço ao meu orientador “Tuca” por me guiar, escutar meus medos e me responder sempre com tranquilidade que “depois, na montagem você vai ver que deu certo”. Aos membros da banca Liene e Denis, por aceitar o convite e dedicarem algum tempo a conhecer minhas maluquices. A todos os entrevistados, que cederam suas histórias, seus sorrisos e seus medos para minha câmera. Pessoas realmente especiais que cruzaram o meu caminho, mudaram a minha forma de enxergar o mundo e marcaram minha jornada para sempre. Se los llevo conmigo! Às amigas campineiras Dani e Mayara por me incentivarem, “puxarem minha orelha” e até por a mão na massa em dia de gravação. Somos o melhor trio! A Gabi Sakita por dedicar tempo em cuidar da parte gráfica e, junto com Talu e toda Nazaré, escutar minhas lamentações, me fazer rir, e compartilhar comigo o dia-a-dia desse finzinho. A todos que passaram pela minha vida durante a graduação. A Juliana que entrou aqui em 2011 está, definitivamente bem longe de ser a que hoje sai. Vocês tiveram papel fundamental nisso. Ao Rafa, Fúlvio, e todos que de alguma forma, direta ou indiretamente contribuíram para este projeto, obrigada! Por último, mas não menos importante, ao companheiro, amigo, sócio e parceiro, Guilherme Haddad, que mergulhou de cabeça e participou de cada etapa deste projeto como se fosse seu. Obrigada porme deixar invadir sua casa, por cada café, cada noite escrevendo, editando, montando até tarde. Por toda dedicação, e por toda paciência em momentos de crise. Por cada ideia, cada palavra, cada carinho. Esse filme é nosso! 5 Sumário INTRODUÇÃO......................................................................................................... 8 Capítulo 1 A normalidade problematizada..................................................... 10 Capítulo 2 O documentário em seu papel provocador.................................. 14 2.1 Considerações sobre o gênero..................................... 15 2.2 Retratos bastante pessoais........................................... 16 Capítulo 3 O processo................................................................................... 18 3.1 Pré-produção................................................................. 19 3.2 Produção....................................................................... 19 3.2.1 Entrevistas..................................................................... 20 A Grace...................................................................... 20 B Bob.......................................................................... 21 C Erandini................................................................... 22 D Kaligari.................................................................... 22 E Vagal....................................................................... 23 3.3 Pós-Produção................................................................ 23 3.3.1 Delimitação da estrutura narrativa................................. 24 A Olhar Social – Expectativa...................................... 24 B Despertar ou tomada de consciência..................... 25 C Empoderamento..................................................... 26 D Olhar Social – Julgamento..................................... 26 E Conclusão............................................................... 27 3.3.2 Roteiro e montagem...................................................... 27 3.3.3 Ajustes finais e colaborações........................................ 29 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................... 31 REFERENCIAL........................................................................................................ 38 ANEXOS.................................................................................................................. 34 6 Lista de Anexos Anexo 01 Lista de perguntas iniciais................................................... 33 Anexo 02 Roteiro (versão final)........................................................... 34 7 Resumo Este trabalho procura retratar, por meio de um filme documentário, o universo de quatro personagens que possuem um estilo de vida fora dos padrões sociais de normalidade. Por meio de entrevistas, o espectador pode imergir no universo de cada um deles, conhecendo mais sobre suas respectivas buscas por suas próprias identidades Palavras chave Documentário; identidade; normalidade; padrão social; 8 Introdução Muitas são as questões que influenciam o estilo de vida de uma comunidade: suas características culturais, o clima e a região onde ela se localiza, a organização social que possui, seu modelo econômico, etc. O desenvolvimento do capitalismo modificou a lógica de produção e de consumo e transformou as relações sociais e de trabalho, fazendo com que a questão econômica, mais do que nunca, tivesse um papel ativo na definição de como a sociedade vive e se relaciona. Padrões de comunicação e de comportamento, modelos educacionais, escolhas no âmbito pessoal, profissional e social: todos estes aspectos estão, inevitavelmente, sendo influenciados pelo nosso sistema atual e por sua necessidade de consumo. Em paralelo a este processo, a velocidade do mundo contemporâneo, faz com que pouco tenhamos tempo para dar-nos conta destas e tantas outras questões referentes a nós mesmos, à nossa subjetividade e à nossa constante necessidade de auto-avaliação e auto-conhecimento. Desta forma, permite-se uma brecha para que um estilo de vida padrão seja construído e replicado, absorvido socialmente, ensinado ao longo das gerações e difundido amplamente nos meios de comunicação. Surgem então, definições simbólicas de o que deve ser considerado como êxito ou falha, sucesso ou fracasso, normal ou anormal. Entretanto, a tendência de tal modelo dualista é de generalizar e padronizar o ser humano, descartando sua individualidade. A constante necessidade de se encaixar nestes padrões e de obter aprovação, muitas vezes nos distancia de nossa verdadeira essência e da caminhada rumo a aquilo que realmente desejamos nos tornar. Assim, “Retratos Impessoais” nasceu a partir de uma inquietação: a necessidade pessoal de compreender melhor de que maneira tais padrões afetam a nossa caminhada rumo à realização pessoal e de que forma é possível (se é que é possível) ser independente deles. A realização deste documentário veio, antes de mais nada, suprir um desejo de escutar tais pessoas que possuem a defesa da própria identidade como luta pessoal. Para a realização de tal projeto, ocorreu uma completa imersão no tema e no estilo de vida das pessoas aqui retratadas. Pude não só acompanhar suas 9 rotinas, como também vivencia-las, experimenta-las como se fossem minhas. E foram. Este processo foi fundamental para que eu pudesse compreender melhor o tema o qual estava tratando, e que tivesse a certeza de que esse é o universo que eu buscava retratar. O documentário, juntamente com esta monografia, pretende fazer com que diminuamos o ritmo, ainda que por alguns instantes, para uma reflexão. Busca-se estimular e dar ferramentas para um questionamento inicial sobre o quanto permitimos influências externas sobre nossas questões individuais. No primeiro capítulo deste trabalho, buscou-se problematizar o conceito de normalidade e seus padrões sociais, apresentar o conceito de normose relacionar ambos com o processo de identificação e individualização do ser humano. Já o segundo capítulo propõe-se a compreender melhor as definições do documentário, seu papel enquanto agente de transformação pessoal e social, e também as características do filme expositivo de entrevistas e as relações criadas por ele entre produtor, objeto e público. No terceiro e último capítulo, registra-se os detalhes da produção do produto propriamente dito, desde sua concepção até os ajustes finais. 10 Capitulo 1 A normalidade problematizada 11 O conceito de normalidade possui definição bastante controversa. Grande parte das traduções encontradas para tal signo seja em dicionários, livros ou sites na internet, baseiam-se em um dualismo que pressupõe que só há normalidade a partir da existência de seu oposto, a anormalidade. Ainda que tal descrição, a princípio soe bastante óbvia e simplista, ao limitarmos o conceito em algo binário, deixamos de lado uma infinidade de possibilidades existentes entre os dois opostos. Tais possibilidades dizem respeito à subjetividade que o termo „normalidade‟ pressupõe. Vargas (1990, p.25) afirma que tal conceito dispõe-se à compreensão de acordo com a formação cultural daquele que o conceitua. Ou seja, tal conceito só existe a partir de um contexto subjetivo e previamente estabelecido dentro de uma esfera cultural. Dentre estas buscas, a definição abaixo se destacou ao fugir um pouco à regra: “Normalidade: qualidade ou condição daquilo que é normal: que está em conformidade com as normas ou que se encontra no seu estado natural” 1 Diferente da maioria encontrada, esta, permite duas correntes de interpretação para o termo: 1. aquilo que está de acordo com as normas; 2. aquilo que está condizente com seu estado normal (natural). A primeira por se tratar de uma padronização, tende à criação de expectativa social, projeta valores em cima dos sujeitos pertencentes a aquela comunidade; a segunda, por sua vez remete a uma ideia oposta, a de que normalidade está relacionada à natureza característica de cada individuo. A diferenciação entre tais linhas interpretativas compõe a questão central proposta por este documentário. O produto busca, por meio do relato de quatro personagens diferentes, retratar o olhar social colocado sobre eles, seja com relação ao estilo de vida, padrões de pensamento ou de trabalho. Busca também acompanhar variações deste olhar na medida em que cumprem com tais 1 Definição retirada do site http:// http://conceito.de/normalidade 12 expectativas e também quando rompem com ela, fugindo às normas postas pelo consenso social. É válido ressaltar que a criação de normas é fundamental para o convívio dentro de uma sociedade. Weil (2014, p 17) afirma que as normas têm a função de “preservar nosso equilíbrio físico, emocional ou mental, assim como a harmonia e a qualidade de vida”. Entretanto, o teórico também afirma que em um dado momento, sobretudo na sociedade pós-industrial capitalista, alguns destes consensos sociais se tornam patogênicos, à medida que normalizam e tornam cotidianas ações nocivas ao indivíduo. Surge então, o conceito de normose. A normose pode ser considerada como o conjunto de normas, conceitos, valores, estereótipos, hábitos de pensar ou agir aprovados por um consenso ou pela maioria de pessoas de uma determinada sociedade, que levam a sofrimentos, doenças e mortes. Em outras palavras: que são patogênicas ou letais, executadas sem que seus atores tenham consciência da natureza patológica. (WEIL, 2014, p. 18) O autor destaca em vários momentos de sua obra o caráter automático da ação normótica, afirmando que esta, em sua natureza é uma forma de alienação, já que acontece de maneira inconsciente. Desta forma, o rompimento com tal ação se dá a partir de uma tomada de consciência. É neste momento em que a expectativa social é quebrada, e o sujeito parte em busca do próprio self 2. Este processo é claramente evidenciado por alguns personagens no início da obra. Todos narram o momento de suas respectivas quebras, os dois primeiros ao abandonarem o trabalho formal por demasiado mecanizado e alienante, e o terceiro por ser demitido após publicar criticas políticas, discordando da linha editorial do jornal onde trabalhava. Tal quebra com a expectativa social não é resultado de um transcurso simples. Desde o princípio do processo identificação do ser humano, o medo da não aprovação e do não pertencimento está presente. Segundo Leloup (2014, p. 21), ao mesmo tempo em que existe em nós um “desejo de plenitude”, existe também o “medo do aniquilamento”, enquanto Weil (2014, p. 19) coloca que este medo é gerado, pois “pertencer à minoria é tornar-se vulnerável, expor-se à crítica”. 2Leloup (2014) utiliza o termo para falar da busca pela própria identidade, independente do olhar social (O chamado do Self) 13 Entretanto, de acordo com, Bauman (2005, p.18) “a ideia de „ter uma identidade‟ não vai ocorrer às pessoas enquanto o „pertencimento‟ continuar sendo o seu destino, uma condição sem alternativa”, ou seja, a ideia de identidade está erroneamente ligada com a ideia de pertencimento, quando na verdade, para que uma ocorra é preciso dissociá-la da outra. Sobre esta vulnerabilidade, Bauman afirma que Pode-se reclamar de todos esses desconfortos e, em desespero, buscar a redenção, ou pelo menos o descanso, num sonho de pertencimento. Mas também se pode fazer desse fato de não ter escolha uma vocação, uma missão, um destino conscientemente escolhido - ainda mais pelos benefícios que tal decisão pode trazer para os que a tomem e a levem a cabo, e pelos prováveis benefícios que estes podem então oferecer a outras pessoas (BAUMAN, 2005, p.20) A ideia de “benefícios” citada pelo autor muito se assemelham com o “não-patogêncio” dos conceitos de Pierre Weil. Desta forma, é possível estabelecer uma relação, atribuindo à busca proposta por Bauman um caráter libertador da normose proposta por Weil. 14 Capitulo 2 O documentário em seu papel provocador 15 2.1 Considerações sobre o gênero Assim como a normalidade, o documentário também é objeto de múltiplas definições e interpretações. Muito se tem discutindo, desde a criação deste gênero, o que o torna diferente dos gêneros ficcionais. O tradicional e já conhecido discurso de que tal diferenciação se dá pelo fato de o documentário retratar o “real”, possui diversas contradições. Afinal, a delimitação de o que é real pode ser bastante difícil se pressupormos que a compreensão do mundo se dá a partir de nossas percepções pessoais. Desta forma, cada indivíduo possui uma “realidade” diferente. Um outro problema de tal definição, é o fato de que uma narrativa ficcional também pode ser considerada um retrato do real à medida em que reproduz um status quo social. Sobre tal possibilidade, Bill Nichols (2005, p.26) afirma que “todo filme é um documentário. Mesmo a mais extravagante das ficções evidência a cultura que a produziu e reproduz a aparência das pessoas que fazem parte dela”. É valido então pensarmos em um produto documental como um recorte, um olhar direcionado, dentro deste grande escopo de realidades. Ainda citando a visão de Nichols, Se o documentário fosse uma reprodução da realidade, esses problemas seriam bem menos graves. Teríamos simplesmente a réplica ou cópia de algo já existente. Mas ele não é uma reprodução da realidade, é uma representação do mundo em que vivemos. Representa uma determinada visão do mundo, uma visão com a qual talvez nunca tenhamos deparado, antes mesmo que os aspectos do mundo nela representados nos sejam familiares. (NICHOLS, 2005, p. 47) Desta forma, o autor segue o raciocínio afirmando que em um produto documental existem no mínimo três realidades diferentes: aquele com a visão do entrevistado/objeto, a que o diretor teve a intenção de produzir e uma outra com o olhar do espectador. Em um filme onde a narrativa é baseada primordialmente em entrevistas, como é o caso do produto apresentado, a pessoa retratada possui papel ainda mais ativo na construção do sentido narrativo. A utilização da primeira pessoa coloca o entrevistado em lugar protagonista no que diz respeito à sua própria identidade, ainda que esta venha a ser somada pela visão diretor, na escolha de suas perguntas ou no momento da montagem. 16 Para Almeida (2006, p. 3), “a entrevista deve ser entendida como uma técnica, um mecanismo de troca de subjetividades”, ou seja, a construção se dá mutuamente, a partir da troca, da relação com o outro. Ainda que, hipoteticamente, assistamos um documentário sobre nós mesmos, poderíamos considerar tal produto como uma porta aberta à outra realidade. Através desta interação é possível criar relações de identificação ou de negação, gerar questionamentos, compreender o papel social enquanto indivíduos, etc. A partir de tais concepções, é possível compreender o documentário em seu potencial transformador, atuando não como obra conclusiva, mas sim como agente de provocação. 2.2 Retratos bastante pessoais Um grande objetivo deste projeto foi, desde o princípio, dar voz aos personagens representados. A escolha do método expositivo (ainda que fundido com o método performático)3, e da construção de uma narrativa baseada em entrevistas, causou bastante insegurança à princípio. Entretanto, a possibilidade de retratar a busca da própria identidade por meio do olhar de terceiros não fazia sentido algum. Tal insegurança partiu não só do medo de construir uma narrativa massante, mas também da incerteza da possibilidade de criar uma conexão e sustentar um conceito somente através das falas dos personagens. Assim como em “O fim e o princípio”, documentário de Eduardo Coutinho (2005), saiu-se em busca de um documentário sem a segurança de que ele se concretizaria. Entretanto, a mesma resposta encontrada por Coutinho, foi também encontrada na montagem de “Retratos Impessoais”: a individualidade de cada personagem se tornou tão importante quanto (ou mais) suas respectivas histórias. Em crítica publicada na Revista Contracampo, Cléber Eduardo afirma que Quando a voz de Eduardo Coutinho, no início de O Fim e o Princípio, anuncia a proposta do filme, estamos com as regras dadas. Diz o diretor que quer histórias: não importa quem as conte, desde que, seguindo o modelo de seus filmes, o narrador seja performático. (EDUARDO, 2013) 3 Classificações criadas por Bill Nichols em Introdução ao documentário (2005). 17 Tomar consciência desta questão foi fundamental durante o processo de montagem. Contar as histórias linearmente deixou de ser uma necessidade, dando uma maior liberdade narrativa e também estética, colocando o discurso como personagem principal. A singularidade da fala de cada entrevistado diante da câmera, as diferentes visões de mundo que são expressas, seus silêncios, suas atitudes, enfim, sua performance, tudo contribui para evidenciar as peculiaridades de cada personagem. Eles deixam de „representar‟ uma categoria social para representarem a si mesmos. (ALMEIDA, 2006 p.7) Por fim, a desconstrução da forma estrutural clássica, inicialmente planejada para o produto foi fundamental para sua construção de sentido. Expor a “impessoalidade” da narrativa, à medida em que os personagens são apresentados superficialmente (se analisarmos de um ponto de vista normativo), contraposta com a tamanha pessoalidade e individualidade mostrada na tela, introjeta o discurso pretendido: pouco sabemos sobre seus nomes, idades, nacionalidades. Porém sabemos como se portam, como se expressam, quais são seus anseios, o que os motiva, em que acreditam. Era esta identidade a qual estávamos buscando. 18 Capitulo 3 O processo 19 3.1 Pré-Produção Diversas são as dificuldades que surgem em meio ao processo de produção. O conhecimento da linguagem documental até o momento não havia saído do âmbito do espectador. Mesmo com a existência de um olhar crítico e curioso ao processo, instigado e proporcionado pela graduação, o descobrimento do fazer documentalfoi sendo construído e aprimorado ao passo que o processo se concretizava. Desta forma, o inicio do processo de produção consistiu em pesquisas sobre à linguagem documental, e a questionamentos bastante internos e subjetivos à respeito do tema. A partir desta reflexão inicial, criou-se um breve guia (Anexo 1), uma lista de perguntas a serem feitas aos entrevistados. Em um segundo momento, iniciou-se a busca por possíveis personagens. Foram contatados três pessoas no Brasil, que seriam os últimos entrevistados . Ao final do processo, somente uma destas entrevistas foi de fato executada, por questões de logística e disponibilidade de tempo. Neste mesmo momento, fazia-se também o levantamento de equipamentos necessários para que a produção fosse realizada com o mínimo de equipe e custos possíveis. Tendo em vista que grande parte das imagens seriam captadas em outro país (México), contar com uma equipe de apoio não era viável. Grande parte das entrevistas foram realizadas com uma só câmera (Canon T3i - lente 18-55), o áudio captado com um gravador (Tascam DR07 Mk II) adquirido posteriormente à realização da primeira entrevista, e com auxílio de 2 tripés. Esta ausência de equipe, e de uma variedade de equipamentos, posteriormente geraram algumas limitações técnicas que foram sendo contornadas à medida que isso se fez possível. 3.2 Produção A produção propriamente dita se iniciou com a gravação das entrevistas. Uma vez em terras mexicanas, os entrevistados apareceram de maneira muito natural, com a convivência, entre viagens ou a partir de um simples caminhar pelas ruas. A quantidade de artistas existentes no grande centro de Guadalajara, cidade onde a maioria das entrevistas foram gravadas, é bastante grande. Entre conversas 20 e pré-entrevistas, foi-se selecionando aquelas que pareciam ter as melhores histórias para contar, ou que possuíam algum tipo de ideal em comum com os demais entrevistados. A qualidade das questões propostas e do conteúdo das entrevistas em geral foram sendo aprimorados à medida em que elas foram sendo realizadas. A constante revisitação e novo entendimento do tema proposto, somados a uma maior familiaridade com o ato de entrevistar resultaram em um aproveitamento maior das ultimas gravações. Entretanto, as primeiras possuem também grande valor não só de conteúdo, mas também de registro da organicidade que habita o gênero documental. As imagens de cobertura foram gravadas posteriormente às entrevistas, algumas durante viagens pelo sul do México e outras no Museu Ferroviário e no Calçadão da Rua Batista de Carvalho, ambos em Bauru. 3.2.1 Entrevistas A. Grace A primeira entrevistada foi a americana Grace. Viajante, como ela mesma se auto-entitula, Grace cruzou os Estados Unidos inteiro viajando de carona, apenas com o dinheiro que recebia tocando música nas ruas, ou fazendo performances circenses enquanto outros artistas tocavam. Também viveu em comunidades alternativas onde o dinheiro não existe, e a subsistência é proveniente do cultivo do próprio alimento, da coleta de frutos e da caça de animais, que eram aproveitados integralmente. Apesar de ser um conteúdo muito rico a ser explorado, esta entrevista foi muito pouco aproveitada no produto final, por diversos motivos. Neste momento, ainda não se possuía todos os equipamentos necessários para as gravações. Porém, a entrevistada deixava o país naquele mesmo dia, então optou-se por perder qualidade de som e imagem, devido a ausência do gravador e de tripé, ao perder tal entrevista, o que resultou em algumas imagens não aproveitáveis. A falta de know-how em entrevistar pessoas também impediu que alguns assuntos fossem melhor explorados. Somado a esta questão, o fato da entrevistada 21 possuir dificuldades com a língua espanhola, fizeram com que algumas ideias não fossem tão bem expressadas, e também ocasionaram em algumas intervenções por parte da entrevistadora. Estas, são perceptíveis inclusive no produto final, entretanto, foi uma escolha da entrevistada não falar inglês. Por fim, no momento em que tal entrevista foi realizada, buscavam-se exceções aos padrões de normalidade e pessoas com um estilo de vida menos automatizado e sistematizado. Não se imaginava que o tema do produto acabaria sendo centralizado na questão do trabalho. Desta forma, muito pouco se falou de tal questão com Grace, o que fez com que grande parte de seu discurso não se encaixasse na narrativa criada posteriormente. B. Bob Um holandês com um histórico de vida bastante conturbado, permeado por problemas familiares e dependência de drogas. Após um processo de recuperação, tornou-se designer, e especializou-se em design de bicicletas. Tal profissão permite que Bob trabalhe a distância, que lhe dá mobilidade. Sua residência é um caminhão, transformado por ele mesmo em uma espécie de motorhome. Assim como Grace, Bob também é um viajante, viajou mais da metade da Holanda dentro de sua própria casa, além de conhecer Europa e América central. O interesse em entrevista-lo também surgiu do seu diferente estilo de vida, da constante busca por distanciar-se das grandes indústrias, por alternativas ecológicas, mas mais do que isso, por seu discurso sobre a normatividade. Bob relata que sempre fugiu muito às normas e a não aceitação social o levou a ter muitos problemas. Seu estilo de vida está diretamente relacionado com uma busca do próprio self, independente do olhar social e também de auto-aceitação. No processo de montagem decidiu-se não utilizar esta entrevista, tanto por problemas técnicos na gravação, quanto pelo fato de Bob possuir um trabalho formal, diferente dos demais entrevistados. 22 C. Erandini Erandini, o personagem mais velho a ser entrevistado, é entusiasta das artes. Escolheu ser caricaturista como profissão, e até hoje se classifica desta forma. Entretanto, além de ter um livro e muitas caricaturas publicadas, também é músico, possui um disco lançado, possui duas bandas com quem toca em bares, faz performances artísticas e poéticas e pinta. O interesse em entrevistar o personagem surgiu não só pelo seu olhar particular sobre o mundo, mas também pelo fato de ser um personagem mais velho, e possuir conceitos mais maduros e desenvolvidos. Erandini se decepcionou muito cedo com sua profissão dentro de um emprego formal: trabalhava em jornais, fazendo caricaturas sobre o cenário político local. Porém, foi censurado diversas vezes por denunciar e fazer piadas contra a corrupção. O personagem convive a anos com a sua escolha de um estilo de vida mais simples, longe do ritmo desenfreado do trabalho desgastante, afastado das grandes redes de supermercado e dos produtos industrializados, ainda que esteja vivendo em um grande centro urbano. A voz de uma pessoa mais velha, convicta de suas escolhas foi importante para sustentar a narrativa. D. Kaligari Um malabarista encontrado nos semáforos, Kaligari se mostrou interessante por seus ideais e seu discurso de empoderamento. Nascido em uma família bastante carente em uma cidade pequena onde quase não há estímulo a cultura, saiu de casa muito cedo por não se enquadrar nos padrões de sua família bastante religiosa. Para sobreviver trabalhava como soldador, porém aos poucos foi aprendendo a fazer artesanato. O novo ofício lhe deu mobilidade, e viajando por todo México começou a aprender atividades circenses, até que o malabar se tornou sua fonte de renda. Este personagem chama atenção por ser de origem bastante humilde e ter pouco ou nenhum contato com algum estilo de vida parecido com este que possui atualmente. A sua busca pelo próprio self certamente não surgiu por meio de influências externas, e sim de um incômodo e de um não-pertencimento no local e modo de vida que levava até então. 23 Apesar de tais falas acabarem sendo cortadas da narrativa por uma questão de ritmo e narratividade, Kaligari fala em vários momentos de seu trabalho como professor voluntário de malabar em uma escola de circo, e também sobre sua ideia de ter um próprio projeto para ensinar crianças carentes, e afasta-las dos vícios presentes na rua. E. Vagal O único entrevistado brasileiro, Vagal é um personagem bastante idealista. Nascido em classe média, o rapaz que vivia e trabalhava em São Paulo, um dia decidiu abandonar o emprego e a cidade por sentir-se deslocado em meio ao consumismo e ao caos urbano. O auto-entitulado “artista marginal” sobrevive tocando música, vendendo artesanato e fazendo malabar nas ruas. Critica constantemente e evidência o caráter patogênico do sistema econômico atual. Esta foi a única entrevista que contou com uma segunda câmera para registrar imagens adicionais, o que criou maiores possibilidades de cortes e uma montagem um pouco mais dinâmica. 3.3 Pós-Produção Após a finalização das entrevistas, tinha-se claramente a sensação de que não havia material suficiente captado para responder as questões que motivaram a existência deste produto. Acreditava-se na necessidade de realizar uma ultima entrevista mais elucidativa através de um conhecimento menos empírico e mais embasado. Entretanto, ao trabalhar com uma temática bastante abrangente e subjetiva, é preciso compreender que o objetivo não é encontrar respostas, e sim estimular o surgimento de novos questionamentos. Em uma tentativa de levantar temas que faltavam ser abordados, começou-se um processo de estudo e pré- seleção de todo material coletado. 24 O processo de seleção se inicia já na escolha do tema, desse pedaço de mundo a ser investigado e trabalhado na forma de um filme documentário. Continua com a definição dos personagens e das vozes que darão corpo a essa investigação. (SOARES, 2007, p. 21) Cerca de uma hora de entrevista foi analisada, e neste momento começou-se não só a compreender melhor a história de cada personagem, mas também os pontos em comum entre suas vidas, e o que os motivara a fugirem da normalidade. Após a decupagem de todos os arquivos iniciou-se um processo da construção da narrativa e da criação de sentido. 3.3.1 Delimitação da estrutura narrativa O objetivo a ser trabalhado residia no conflito existente na busca da própria identidade em meio a normatividade social em seu caráter patológico e degradante. Desta forma, optou-se por trabalhar tais interpretações do conceito de normalidade inicialmente citada em “a normalidade problematizada” através da seguinte estrutura narrativa: A. Olhar Social - Expectativa Partindo-se do princípio que a questão central é delimitada por uma expectativa posta sobre cada individuo, iniciou-se a construção narrativa por este item. Os entrevistados aparecem dando relatos da expectativa colocada sobre eles, vezes por terceiros e até por eles mesmos, como é o caso do personagem Vagal, que além de relatar a expectativa de sua própria mãe, relata também a sua própria em esperar adquirir bens materiais como uma casa e um carro. Esta fala especificamente carrega consigo um valor agregado bastante significante para a questão proposta. Além de já introduzir uma crítica ao sistema capitalista em seu caráter alienante, ela também faz referência à normose em sua essência. Leloup (2014, p. 25) afirma que em uma determinada etapa do desenvolvimento intelectual do ser humano, a fase social, “há a busca de uma forma que corresponda à imagem que a sociedade apresenta como sendo de um homem 25 ou a de uma mulher ideal, de bem”, de modo com que tal busca afaste os indivíduos de sua própria definição de “sucesso” ou de “ideal”. No caso específico do personagem, ter mobilidade e poder transitar por diferentes lugares é mais importante do que possuir uma residência. Falas de outros entrevistados também elucidam bastante tal questão: Grace deixa bastante claro a repreensão social por sua escolha em não ter um emprego fixo; Kaligari cita a maneira como sua mãe o compara aos demais filhos, menosprezando-o pelo fato de o personagem não cumprir com determinados papéis sociais, como ter um emprego, constituir uma família etc. B. Despertar ou tomada de consciência O segundo momento da estrutura, diz respeito ao ponto de virada, instante em que os personagens tomam consciência do não pertencimento nos parâmetros da normatividade. Este ponto de virada é demarcado na narrativa, entre outros momentos, pela apresentação de Erandini. O personagem começa contando sua história, e como se tornou ilustrador. Ainda que a escolha da profissão por si só já enuncie uma certa fuga da padrão, (levando-se em consideração que o personagem nasceu em uma família indígena), a verdadeira quebra é demonstrada no momento em que Erandini abdica do trabalho formal (desta vez já vivendo em um grande centro urbano), por motivos ideológicos e por buscar um estilo de vida menos “automatizado”. Bauman (2005, p.19) afirma que “as „identidades‟ flutuam no ar, algumas de nossa própria escolha, mas outras infladas e lançadas pelas pessoas em nossa volta, e é preciso estar em alerta constante para defender as primeiras em relação às ultimas”. Este “alerta constante” que o autor cita, ilustra claramente o caráter não automático deste momento, assim como menciona Pierre Weil. Este fragmento da narrativa, não só mostra a postura individual e afirmativa dos personagens, como também atua como um elo de conexão entre a expectativa social e o empoderamento. 26 C. Empoderamento Neste tópico buscou-se mostrar um pouco mais dos ideais e motivações ideológicas que levaram os personagens a romper com seus antigos estilos de vida. Buscou-se também, elucidar qual caminho utilizaram, que meios encontraram para adquirir tal nível de independência do sistema. Quais as possibilidades de sub- existência, que conhecimentos foram adquiridos, etc. Este momento é de extrema importância para que o espectador esteja ciente que, ainda que o trabalho e a educação não sejam formalizados, eles existem. Os diferentes estilos de vida retratados pelo documentário exigem e proporcionam diversos conhecimentos específicos e horas de dedicação, estudo e investimento. Este conhecimento permeia não só no campo artístico especificamente (como é o caso da pintura, do desenho, dos malabares, da música, etc), mas também no conhecimento teórico-ideológico, na articulação de redes, no aprendizado de outras línguas, de técnicas de desenvolvimento sustentável, etc. D. Olhar social - Julgamento Uma vez que a escolha já foi tomada, voltamos ao olhar social, agora a partir da ótica do não cumprimento da expectativa anteriormente criada. Neste momento os personagens relatam os preconceitos que sofrem, e também há um reforço de seus ideais, à medida que existe uma resistência a este preconceito. Weil(2014) e Bauman (2005) falam do medo da reprovação social, e nesta etapa da narrativa podemos ver como, ainda que ela tenha ocorrido, os personagens seguem suas buscas individuais. Kaligari afirma que ainda que seu ofício não seja categorizado como trabalho por muitos, é o que o sustenta, e isso lhe dá satisfação. E sim muita gente me repudiou, mandou que eu trabalhasse, mas a verdade é que você está vivendo do que você está fazendo (...). Eu tinha pensado em buscar um emprego por enquanto, mas a verdade é que com o que eu faço e com o que ganho estou muito feliz(KALIGARI em entrevista) 27 É no momento do julgamento também que se constrói o discurso de o quanto a normatividade que rege o inconsciente coletivo da sociedade atual é patogênica e alienante. As cenas de transição, as pessoas consumindo e caminhando aceleradas em contrapartida com as cenas em slowilustram o caráter automatizado do estilo de vida abdicado pelos personagens. Assim, afirmam os personagens deste documentário: “As pessoas estão muito zumbis” (Erandini) e “os olhos estão fechados” (Grace), falas que junto às imagens compõe este discurso. E. Conclusão As falas que viriam a compor a conclusão consistiam em auto-avaliações por parte dos personagens. Estes apontavam vantagens e desvantagens, situações positivas e negativas que experienciaram, para ao final dar um parecer sobre sua escolha. Entretanto, como já foi mencionado anteriormente, em meio ao processo de reflexão sobre o produto, percebeu-se a ausência da necessidade de um posicionamento conclusivo sobre o tema. Encerrar o documentário com uma síntese já pronta excluiria um dos objetivos iniciais da obra: incitar um auto-questionamento no espectador à respeito de suas próprias escolhas de vida. 3.3.2 Roteiro e Montagem Após desenhar tal estrutura, categorizar e selecionar as falas que poderiam ser encaixadas nela percebeu-se que o material já captado sustentava uma narrativa coesa. Abrir mão da ultima entrevista, o ponto de vista especializado, foi uma decisão que concedeu ao produto final um caráter mais representativo e evitou que uma incoerência fosse cometida: que a palavra final partisse de um terceiro fossea concretização do olhar social, e não do olhar dos próprios indivíduos retratados. Nichols (2005, p. 30) afirma que esta representação, feita do ponto de vista do próprio indivíduo, é fundamental para persuadir e fazer com que suas opiniões sejam aceitas. Desta forma, iniciou-se o processo de construção do roteiro. 28 Com a estrutura e a decupagem definidas, o método de roteirização que pareceu mais adequado foi o de fichamento. Passaram-se todas as falas e imagens selecionadas para pequenos pedaços de papel, para então simular possibilidades de montagem. Prática comum entre os roteiristas de ficção, o trabalho com cartelas de papel para a construção do roteiro de edição é também aconselhável para o filme documentário. „Um dos melhores métodos (para a edição) é fazer uma edição no papel. Cada seqüência pode ser escrita em fichas de arquivo resumindo o assunto tratado por cada uma delas, suas entradas e saídas” (SOARES, 2007, p. 188) Alguns dias foram dedicados para o estudo, às tentativas e debates entre os responsáveis pela direção e montagem. Neste mesmo período também já se começava a construção do roteiro propriamente dito. O modelo de roteiro utilizado foi o televisivo, de duas colunas (áudio e vídeo), disponível no Anexo2. Após a conclusão de cerca de 50% deste processo, iniciou-se também a montagem do vídeo na timeline. À medida em que o produto foi tomando forma e se concretizando, percebia-se que algumas das cenas planejadas no fichamento não funcionavam como o planejado, seja por motivos de corte, por problemas técnicos ou muitas vezes por não passar o sentido imaginado. Assim, o processo exigiu uma constante revisitação do roteiro. Sobre essa necessidade, Soares (2007) afirma: (...) nota-se que o processo de maturação de um roteiro de documentário pode ser bem mais longo que o de ficção e envolver todas as etapas de produção do filme. Essa peculiaridade é consequência da maior dificuldade de apreensão e controle do universo de representação, universo aberto e sujeito a transformações, oposto ao universo fechado e controlado da ficção” (SOARES, 2007, p. 23) Ao mesmo tempo, alguns outros questionamentos ideológicos também surgiram, contribuindo para que o processo fosse ainda mais orgânico e mutável. Dentre tantos desafios presentes no projeto, aqueles que geraram maiores dúvidas e questionamentos foram estes, relacionados à teorias e ideologias. A questão proposta é permeada de subjetividade por todos os lados, seja no âmbito da normalidade, dos padrões de comportamento ou da identidade. Compreender a 29 questão que movia o documentário foi tarefa constante, permeada sempre por muita pesquisa e conversa com uma grande quantidade de diferentes pessoas. Manter a identidade dos personagens oculta até as cenas finais do filme foi uma escolha. Esta foi uma estratégia utilizada para ilustrar a crítica aos padrões de identificação citados anteriormente. O espectador é forçado a escutar a história que os entrevistados tem a contar, sem saber seus nomes, suas idades, suas nacionalidades ou profissões. A personagem Grace, na fala inicial no filme já introduz este tema: a pergunta “quem é você?” ou “o que você faz?” é sempre respondida com alguns conceitos enquadrados em papéis de identificação (homem, mulher, pedagogo, arquiteta, brasileiro, etc). Bauman, afirma que (...) perguntar „quem é você‟ só faz sentido se você acredita que possa ser outra coisa além de você mesmo; só se você tem uma escolha, e só se o que você escolhe depende de você; ou seja, só se você tem de fazer alguma coisa para que a escolha seja „real‟ e se sustente. (BAUMAN, 2005, p. 25) Ainda que tal colocação seja bastante incisiva, ela é válida para ilustrar o quanto a identificação deve ser um processo autônomo e subjetivo. Desta forma, considerando a ideia de Bauman, tal pergunta faz todo sentido no contexto deste projeto, já que seus entrevistados buscam em suas jornadas „ir além‟ da própria identidade que lhes foi atribuída. Por tais motivos optou-se em, ao final de cada entrevista, perguntar aos entrevistados quem eram eles, pedir para que se auto-definissem, utilizando esta cena final como substituta dos tradicionais caracterescom o nome e a ocupação dos entrevistados que comumente vemos em documentários. 3.3.3 Ajustes finais e colaborações Ao final do último corte, passou-se então a trabalhar as questões estéticas tanto visuais quanto sonoras que foram partilhadas com alguns colaboradores. 30 A escolha do nome “Retratos Impessoais” surgiu após muitas ideias frustradas e de pouco impacto. A palavra “retrato” faz um jogo com as cenas finais de apresentação que simulam retratos fotográficos, porém em movimento, além de evidenciar que o filme se propõe a mostrar apenas um recorte da vida dos personagens em questão. Já o segundo termo propõe uma critica um pouco irônica sobre a impessoalidade do mundo contemporâneo, tanto da ótica da não identidade, quando da negligência do olhar ao outro, bastante relatada pelos personagens nas falas finais do filme. A criação do logotipo, design da capa e do cd buscaram atribuir uma identidade visual ao projeto. Da mesma forma, a trilha sonora original, a edição, tratamento e mixagem do som buscaram não só criar uma identidade, como também uma unidade estética coesa para a narrativa. 31 Considerações Finais Construir um documentário partindo de um tema tão subjetivo se mostrou uma tarefa bastante difícil, e ao mesmo tempo deliciosa. Os constantes questionamentos sobre o tema e sobre minhas crenças e motivações pessoais exigiram uma imersão no projeto e me instigavam o tempo todo a seguir em frente, proporcionando um universo de descobertas e de autoconhecimento. Por tal característica do tema, trabalha-lo foi uma escolha bastante arriscada. Entretanto, acredito ser uma questão que precisa ser trazida para debate. A reavaliação da estrutura narrativa, e a escolha de abdicar de algumas cenas, apesar de partir de uma escolha difícil e de um desapego, acabaram por se mostrar a melhor alternativa para a cadência e fluidez do produto. É inegável o reconhecimento de que existem falhas, sobretudo técnicas a serem corrigidas e outras a serem aceitas. Entretanto, um dos motivos pelo qual este projeto foi proposto, foi pelo desejo antigo de realizar um projeto documental e aprender durante o processo. Certamente, este objetivo foi concluído. A observação das próprias falhas, durante a produção, somada à constante investigação sobre o processo documental, guiaram todo o desenvolvimento até a conclusão deste projeto, resultando em algum conhecimento e em ainda mais desejo de continuar tal aprendizado. Por fim, é valido ressaltar que a jornada da construção de identidade é constante e interminável. A transformação relatada neste documento é de alguma forma, a fruto do questionamento que eu gostaria de provocar com o produto. Independente do resultado final, é inegável que o processo, por si só, já foi absolutamente enriquecedor. 32 Referências Filmografia Retratos Impessoais, Direção e Produção: Juliana Romano. 13 min. Formato digital. O fim e o princípio, Direção: Eduardo Coutinho. Produção: Walter Salles e João Moreira Salles. Rj, VideoFilmes 2005. Bibliografia ALMEIDA, A. O processo de construção de personagens em documentário de entrevista. 2006. Trabalho apresentado ao NP de Comunicação Visual, do VI Encontro dos Núcleos de Pesquisa da Intercom. Disponível em . Acesso em 08/09/2015. BAUMAN, Z. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Rio de Janeiro: Zahar, 2005 CONCEITO.De Normalidade. Disponível em . Acesso em 25/06/2015 LINS, C; MESQUITA, C. Filmar o Real: Sobre o Documentário Brasileiro Contemporâneo. Ed. Zahar, 2008. NICHOLS, B. Introdução ao documentário. Campinas, SP: Papirus, 2005 NORMAL, ANORMAL E PATOLÓGICO EM PERÍCIA CIVEL. Disponível em Acesso em 21/06/2015. http://conceito.de/normalidade http://www.polbr.med.br/ano11/for0211.php 33 EDUARDO, C. Crítica: O Fim e o Princípio .Revista Contracampo, Edição 77, abril de 2013. Disponível em: . Acesso em 07/09/2015 SOARES, S. Documentário e Roteiro de Cinema: da pré-produção à pós- produção. Campinas, SP: [s.n.], 2007 VARGAS, H. Manual de psiquiatria forense. Rio de Janeiro: Editora Freitas Bastos, p.25, 1990. WEIL, P; LELOUP, J;CREMA, R.Normose, a patologia da normalidade. 5ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014. 34 ANEXOS 35 Anexo 1 – Perguntas -Você considera o seu estilo de vida normal? - O que te levou a ter o estilo de vida que tem hoje? - Qual a sua profissão? - Você se sente aceito pela sociedade? - Como a sua família reage ao seu estilo de vida? - Onde você mora? - Você se considera diferente das outras pessoas? Se sim, quando percebeu que era diferente? - Como você se sustenta? Que tipo de trabalhos já fez para conseguir dinheiro? - Você já sofreu preconceito por ser quem você é? - O que te motiva a seguir com este estilo de vida? - Quem é você? 36 Anexo 2 – Roteiro Vídeo Áudio Identificação : Tela preta Descrição : 2 personagens, Vagal e Entrevistadora. Cena 1: Entrevista Vagal Loc Vagal : Como assim ? Como assim , o que você quer pra sua vida, meu filho ? Loc entrevistadora: Que você respondeu quando sua mãe perguntou? Identificação :Externa/Quintal da Casa em qual Vagal esta se hospedando. Descrição: 1 Personagem Vagal. Cena 2: Entrevista Vagal Téc : Som de ambiente do quintal. Loc Vagal: que..eu tenho uma porção de coisas pra conquistar e não posso ficar ai parado Identificação : Logo do filme e da produtora Téc: Ruído colocado para não deixar um silêncio absolutado no filme. Identificação :Externas/Trilho de Trem e Plantas se mexendo com o vento Téc: Fade desom de passarros e grilos e ambiente com vento Identificação:Interna/ Carros passando visto de dentro de uma galeria. Téc: Som dos carros passando e do ambiente da cidade Identificação : Externa/Sol nascente. Téc: Som de Ambiente com fade-out . Identificação: Interna/Sala de Jantar Descrição: 2 personagem , Grace e entrevistadora. Cena 3: Entrevista Grace Cena 4: Close rosto da Grace Téc: Som ambiente de sala e de cozinha no fundo Loc Grace (Traduzida): estava dizendo, estou vivendo, estou aprendendo coisas sobre a vida, estou conhecendo novos amigos, estou falando com pessoas que normalmente não falo, e... isso é uma experiência LocGrace(Traduzida): é como... o que você faz ? o que você esta fazendo ? Isso é uma pergunta interessante porque, especialmente nos Estados Unidos“o que você faz” é qual é seu trabalho ? LocEntrevistadora(Traduzida): Sim Loc Grace (Traduzida): e quando você 37 não tem um trabalho para ganhar dinheiro é como ... (você é um lixo). Identificação: Externa/ Rua de Guadalajara em frente de uma fonte em uma praça. Descrição: 1 Personagem, Kaligari. Cena 5: Entrevista Kaligari. Téc: Ambiente da praça, água da fonte e carros passando. LocKaligari (Traduzido): “E olha a Marcela”, “ e olha a Mônica”, “e Fernanda já tem filhos e trabalha!”, ou seja são os nomes dos meus irmãos. Mas não, nunca gostei de ser como eles, de competir com eles muito menos. Eu gosto de competir com a imagem que eu vejo no espelho, assim comigo mesmo. Identificação: Externa/Quintal da casa em qual Vagal esta se hospedando. Descrição : 1 Personagem, Vagal. Cena 6: Entrevista Vagal. Téc: Som de ambiente do quintal. Loc Vagal: Tava trabalhando...e numa ... numa paranoia assim de juntar dinheiro, ah eu tinha uns pequenos sonhos pessoais de comprar um automóvel, comprar uma casa, manter um estilo de vida sei lá ... ae eu não senti minha essência naquilo e pulei fora assim. Identificação: Externa/ Rua de Guadalajara em frente de uma fonte em uma praça. Descrição: 1 Personagem, Kaligari. Cena 7: Entrevista Kaligari. Téc: Ambiente da praça, água da fonte e carros passando. LocKaligari (Traduzido): O trabalho me entendiou, mas eu gosto de viajar, de conhecer gente, conhecer lugares. Identificação: Externa/Quintal da casa em qual Vagal esta se hospedando. Descrição : 1 Personagem, Vagal. Cena 8: Entrevista Vagal. Téc: Som de ambiente do quintal. Loc Vagal: Tem sempre alguma coisa rolando entende ? Então é... como eu posso dizer ? Um fluxo. Identificação: Interna/ Imagens de lugares se passando pela janela do ônibus. Téc: Som diegético de um grupo de mariachis tocando uma música. Identificação. Interna/Cozinha da casa que Erandini mora. Descrição: 1 Personagem, Erandini. Cena 9: Erandini Cozinhando em sua entrevista. Cena 10 : Close no Erandini cortando a cenoura. Cena 11: Erandini Cozinhando em sua entrevista. Téc: Som do Erandini cozinhando. LocErandini( Traduzido): Bom, comecei a desenhar, desde bem pequeno... me sentava com meu pai em uma mesa, LocErandini( Traduzido): para copiar os quadrinhos que ele me levava, LocErandini( Traduzido): já quando terminei o colégio, fui pedir trabalho, para eles que estavam nesse momento 38 Cena 12: Close no rosto de Erandini. Cena 13: Close no Erandini cortando o Pepino. Cena 14: Close no Rosto do Erandini publicando caricaturas. LocErandini( Traduzido): E parece que eu desesperei meus editores porque era muito perguntao e muito minucioso. E então eu queria saber o porquê... e porque sim publicavam e porque não. Simplesmente me diziam “não, não gostamos”. LocErandini( Traduzido): Eu não acreditava, então eu enviava para outros colaboradores e enviava com o título “ Os Impublicáveis”, até que me despediram. LocErandini( Traduzido): Acontece que também deixei em parte de, em parte de desenhar, porque sentia que estava desenhando muito por nada, e desenhar eu o fiz durante todo minha vida. Então chega um momentoem que você diz não quero estar aqui sentado, isolado, desenhando, desenhando, desenhando, desenhando. Vamos deixar de desenhar um pouco, vamos conviver com as pessoas, vamo fazer música , ou vamos fazer outra coisa, ou simplesmente vamos fazer nada, né ? Também. Identificação : Externa/ Erandini passando nas ruas com seus instrumentos sendo levado por um carrinho de mão. Téc: Som ambiente do carrinho de erandini. Identificação : Externa/ Cenas de carros pessoas e carros passando intercalado com o Erandini tocando hangdrum Téc: Som do Erandini tocando seu instrumento. Identificação: Externa/Quintal da casa em qual Vagal esta se hospedando. Descrição : 1 Personagem, Vagal. Cena15: Entrevista Vagal. Téc: Som ambiente do quintal. Loc: Na verdade a arte de rua, ela surgiu, a partir do momento... que os artistas declararam a arte sendo do povo mesmo , né ? Então tinha que ser rua, tinha que ser pras pessoas, não dentro do museu, dentro do teatro Identificação: Interna/Sala de Jantar Descrição: 1 personagem , Grace. Cena 16 : Entrevista Grace Téc: Som ambiente de sala e de cozinha no fundo. LocGrace(Traduzida): Quando estava na rua, ou quando não estava trabalhando por dinheiro, estava fazendo bombolê, é diferente quando você não tem uma plateia que quer te ver e é mais fácil 39 ganhar dinheiro com o bambolê pelo sex appeal do que quando você esta tocando violão e cantando Identificação : Externa/ Cenas de o Erandini tocando “hangdrum na rua, intercalada com ele cozinhando. Descrição: 1 Personagem, Erandini. Cena 17: Erandini Tocando. Cena 18: Erandinica cozinhando Téc: Som do Erandini tocando seu instrumento. LocErandini (traduzida): Eu toco meus próprios temas e obviamente não tenho esse alcance das grandes massaou o a grande aceitação do público para que possa estar vivendo disso Identificação: Externa/Quintal da casa em qual Vagal esta se hospedando. Descrição : 1 Personagem, Vagal. Cena19: Vagal acariciando um cachorro. Cena 20: Entrevista Vagal. Cena 21: Vagal Jogando malabares. Téc: Som ambiente do quintal. Loc Vagal: Procurei a me familiarizar com práticas que me levassem a autonomia, assim, de todas as formas possíveis, tanto na saúde ou na forma de obter renda. A olhar o mundo de uma forma diferente. Identificação: Interna/Sala de Jantar Descrição: 1 personagem , Grace. Cena 22 : Entrevista Grace Téc: Som ambiente de sala e de cozinha no fundo. Loc Grace (traduzida): Você ... Quando não tem dinheiro, é como ... existem coisas que não se pode ter, mas sempre há comida Identificação: Externa/ Rua de Guadalajara em frente de uma fonte em uma praça. Descrição: 1 Personagem, Kaligari. Cena 23: Entrevista Kaligari. Téc: Ambiente da praça, água da fonte e carros passando. LocKaligari (traduzido): Na verdade tinha cogitado buscar um emprego por enquanto, mas na verdade acho que com o que eu faço e com o que eu ganho, estou muito bem Identificação: Externa/Quintal da casa em qual Vagal esta se hospedando. Descrição : 1 Personagem, Vagal. Cena 24: Entrevista Vagal. Téc: Som ambiente do quintal. Loc Vagal: A sociedade técnico-industrial , ela tá em decadência assim, a gente ta fazendo coisas que a gente não precisa fazer , pra consumir coisas que a gente não precisa Identificação : Imagens aceleradas das pessoas andando pela cidade de diversas formas. Téc : Trilha sonora original Identificação. Interna/Cozinha da casa que Erandini mora. Descrição: 1 Personagem, Erandini. Téc : Som do Erandini cozinhando LocErandini (traduzida): Todo esse processo foi lento, me dei tempo para 40 Cena 25: Erandini Cozinhando em sua entrevista. não... acelerar as coisas e sim que se fossem dando pouco a pouco, acho que aprendi desde então que as coisas que tem qualidade, não são feitas tão rápido e precisam de um processo de maturação Identificação: Externa/Quintal da casa em qual Vagal esta se hospedando. Descrição : 1 Personagem, Vagal. Cena 25: Entrevista Vagal. Cena 26: Vagal fazendo malabares. Cena 27 : Entrevista Vagal Téc: Som ambiente do quintal. Loc Vagal : Eu to sempre, eu alcancei uma, uma... um planejamento de vida assim que eu to... euto sempre... eu me livrei da obrigação do trabalho sabe ? Então pra mim é eu trabalho quando eu preciso trabalhar, eu descanso quando eu preciso descansar, então isso já não me enquando numa... numa regra domesticatória. Eu posso simplesmente escolher “hoje eu não vou trabalhar “ . E isso me faz ... não sentir que fosse um trabalho sabe ? Por mais que eu precise correr atrás, que eu precise... que eu precise... sacrificar tempo pra aquilo, é uma coisa que eu gosto... e eu não vejo como um trabalho. Então eu vejo como... como, num sei . Loc Vagal :Eu teria que inventar uma palavra pra isso , mas não é um lazer mas não é um trabalho. O trabalho ele vem da palavra “tripalium “ que era um instrumento de tortura da idade média .Então ...não é isso não. Identificação: Externa/ Rua de Guadalajara em frente de uma fonte em uma praça. Descrição: 1 Personagem, Kaligari. Cena 28: Entrevista Kaligari. Cena 29: Close nas mãos do personagem. Téc: Ambiente da praça, água da fonte e carros passando. LocKaligari (traduzido): Muita gente me repudiou, mandou que eu trabalhasse, que isso não era trabalho. Mas você sabe que você ta vivendo do que você esta fazendo Identificação: Externa/Quintal da casa em qual Vagal esta se hospedando. Descrição : 1 Personagem, Vagal. Cena 30: Entrevista Vagal. Téc: Som ambiente do quintal. LocVagal: Teve uma vez que eu tava tocando violino na rua e passou um.. um professor assim do ... do violino.. um acadêmico... mestrado lá do violino.. e ele começou a falar ...”ó isso é um absurdo, isto é horrível, isto esta desafinado, não sei o que ...” ae ele saiu e todo mundo assim ...”não ouça ele garoto”, não sei o que e tipo ... 41 Identificação: Externa/ Quintal da casa em qual Vagal esta se hospedando Descrição 1: Personagem, Vagal. Cena 31: Vagal tocando violino. Cena 32: Entrevista Vagal. Téc: Som do personagem tocando violino. LocVagal: Essa perfeição que as pessoas colocam que as pessoas colocam dentro do que eles querem dizer que é ou o que deixa de ser a música. É ultrapassado né, isso ae já caiu por terra. Acho que todo barulho é musica, você pode gostar ou não e isso é uma visão pessoal sua. Identificação: Externa/ Rua de Guadalajara em frente de uma fonte em uma praça. Descrição: 1 Personagem, Kaligari. Cena 33: Entrevista Kaligari Cena 34: Insert de imagens de Criança observado o Erandini tocar o Hangdrum. Téc: Ambiente da praça, água da fonte e carros passando. LocKaligari (traduzido) : Uma pessoa que por causa dos seus problemas cotidianos não olha pra você, mas como é uma criança, como é de mente mais branda, mais tranquila você vê sua expressão, te motiva mais... te motiva a fazer. Identificação : Externa/ Praca que eranndini toca. Descrição: Criancas olhando, e Vagal. Cena 34: continuação Cena 35: Entrevista Vagal. Loc Vagal: Aquela mãe e aquele pai assim,enfurnado no seus pensamentos, e a criança “nossa ... nossa...” Aquela parada você deixou uma mensagem ali você criou uma coisa bonita. Téc: Fade in na trilha sonora original. Identificação : Externa/ Praça com fonte. Descrição: Kaligari Jogando malabares. Cena 36: Fonte Kaligari Téc: Ambiente da praça, água da fonte e carros passando. Téc: Trilha sonora original. Identificação: Externa/ Erandini enrolando cabos. Cena37 Téc: Trilha sonora original Identificação: Externa/ Pessoa na praça, e menino andando de skate Cena 38 Téc: Trilha sonora original Identificação: Externa/ Moça sentada no Banco da praça. Cena 39 Téc: Trilha sonora original Identificação: Externa/ Meninos sentado no banco da praça. Cena 40 Téc: Trilha sonora original Identificação: Externa/ Pessoas atravessando a Rua. Téc: Trilha sonora 42 Cena 41 Identificação. Interna/Cozinha da casa que Erandini mora. Descrição: 1 Personagem, Erandini. Cena 41: Erandini Cozinhando em sua entrevista. Téc: Trilha sonora original Loc: Isso eu vejo direto... as pessoas estão muito zumbis, lhes falta... lhes falta uma boa educação cultural. Identificação: Interna/Sala de Jantar Descrição: 1 personagem , Grace. Cena 42 : Entrevista Grace Téc: trilha sonora original, e som da sala e da cozinha de fundo. LocGrace(traduzido): Os olhos são fechados, no geral. Acho que é isso que acontece. Identificação. Interna/Cozinha da casa que Erandini mora. Descrição: 1 Personagem, Erandini. Cena 43: Erandini Cozinhando em sua entrevista. Téc: : Som do Erandini cozinhando, trilha sonora original. LocErandini(traduzido): Vamos ver como vai isso...já está totalmente vapor, dá uma olhada ? Parece que está bom, né? ... vou deixar um pouquinho mais Identificação: Interna/Sala de Jantar Descrição: 1 personagem , Grace. Cena 44: Grace Parada Téc: Trilha sonora original Identificação. Interna/Cozinha da casa que Erandini mora. Descrição: 1 Personagem, Erandini. Cena 45: Erandini Cozinhando em sua entrevista. Téc: Trilha sonora original Identificação: Externa/ Rua de Guadalajara em frente de uma fonte em uma praça. Descrição: 1 Personagem, Kaligari. Cena 46: Kaligari parado na fonte Téc: Trilha sonora original Identificação: Externa/ Quintal da casa em qual Vagal esta se hospedando Descrição 1: Personagem, Vagal. Cena 47: Vagal parada Téc: Trilha sonora original 43 Créditos Finais. Téc: Trilha sonora original