R A E d G J e a R b R c F d P R D h 0 ev Bras Ciênc Esporte. 2016;38(2):156---162 www.rbceonline.org.br Revista Brasileira de CIÊNCIAS DO ESPORTE RTIGO ORIGINAL stratégias de participação da mulher nos esportes e aventura isele Maria Schwartza,∗, Leonardo Madeira Pereirab, uliana de Paula Figueiredoc, Danielle Ferreira Auriemo Christofolettib Viviane Kawano Diasd Departamento de Educação Física, Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, io Claro, SP, Brasil Laboratório de Estudos do Lazer, Departamento de Educação Física, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, io Claro, SP, Brasil Departamento de Educação Física, Centro de Ciências da Saúde e do Esporte, Universidade do Estado de Santa Catarina, lorianópolis, SC, Brasil Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Humano e Tecnologias, Instituto de Biociências, Universidade Estadual aulista Júlio de Mesquita Filho, Rio Claro, SP, Brasil ecebido em 16 de janeiro de 2013; aceito em 5 de setembro de 2013 isponível na Internet em 7 de dezembro de 2015 PALAVRAS-CHAVE Preconceito; Feminismo; Esporte; Atividades de lazer Resumo A presença feminina nos esportes de aventura ainda não é uma constante, pelos estigmas socialmente arraigados. Entretanto, já se podem notar iniciativas para vencer esses obstáculos. O interesse deste estudo qualitativo foi investigar os motivos de adesão e as estra- tégias usadas para inserção e disseminação da participação feminina em esportes de aventura. Os resultados apontam como principais motivos de adesão o gosto pelo esporte e o contato com a natureza; como estratégias para inserção nesses esportes estão a influência da família, amigos e namorado; como forma de divulgação das conquistas são usadas as novas tecnologias. Sugerem-se novos estudos para se compreenderem outras formas de superação das mulheres para participação nesses esportes. © 2015 Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados. KEYWORDS Strategies for the participation of women in adventure sports women in adventure sports is not a constant, due to socially entren- it can be already noticed women’s initiatives to overcome these Prejudice; Feminism; Abstract The presence of ched prejudice. However, Sport; Leisure activities obstacles. The interest of this qualitative study was to investigate the reasons for adherence and strategies used for insertion and dissemination of female participation in adventure sports. ∗ Autor para correspondência. E-mail: schwartz@rc.unesp.br (G.M. Schwartz). ttp://dx.doi.org/10.1016/j.rbce.2015.11.007 101-3289/© 2015 Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados. dx.doi.org/10.1016/j.rbce.2015.11.007 http://www.rbceonline.org.br http://crossmark.crossref.org/dialog/?doi=10.1016/j.rbce.2015.11.007&domain=pdf mailto:schwartz@rc.unesp.br dx.doi.org/10.1016/j.rbce.2015.11.007 Estratégias de participação da mulher nos esportes de aventura 157 The results indicated that the main reasons for adherence were the empathy with these sports and the contact with nature, the strategies for inclusion are related to the influence of family, friends and boyfriend, and new technologies are used for disseminating the achievements. Further studies are suggested to understanding the ways of overcoming difficulties faced by women for participating in these sports. © 2015 Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. Published by Elsevier Editora Ltda. All rights reserved. PALABRAS CLAVE Prejuicio; Feminismo; Deporte; Actividades recreativas Estrategias para la participación de la mujer en deportes de aventura Resumen La presencia de mujeres en los deportes de aventura no es una constante debido a los estigmas socialmente arraigados. No obstante, ya se pueden señalar iniciativas para superar estos obstáculos. El interés de este estudio cualitativo fue investigar los motivos de adhesión y las estrategias para la introducción y difusión de la participación femenina en los deportes de aventura. Los resultados indicaron que los principales motivos de adhesión fueron el gusto por el deporte y el contacto con la naturaleza; como estrategias para la inclusión en estos deportes estuvieron la influencia de la familia, amigos y novios, y como forma de difundir los logros se utilizaron las nuevas tecnologías. Se sugieren nuevos estudios para comprender las estrategias usadas con el fin de superar las dificultades con que se enfrentan las mujeres a la hora de participar en este tipo de deportes. © 2015 Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Todos los derechos reservados. S a r a D T p q t q m m d e J d n m p d p fi c c t Introdução Desde antes da publicação do Decreto de Lei n◦. 3.199, Artigo 54, do Conselho Nacional de Desportos, de 14 de abril de 1941 (Brasil, 1941), observa-se que as mulheres são estigmatizadas como sexo frágil, no que concerne à prá- tica esportiva. Nesse documento, mais uma vez isso ficou patente, uma vez que nele constava que: ‘‘[...] Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza [...]’’. Entretanto, mesmo com os empecilhos legais que surgiam no Brasil, as práticas esporti- vas atraíram e provocaram as mulheres, as quais, tentando ser indiferentes às convenções morais e sociais, paulati- namente aderiram à sua prática, independentemente do discurso hegemônico contrário. Não é de hoje que a mulher luta pela igualdade de opor- tunidades sociais em diferentes contextos (Rutland et al., 2010). Entretanto, isso ainda está longe de ser uma reali- dade concretizada, tendo em vista o desrespeito com que ainda é tratada em diversas esferas sociais. No âmbito do esporte, de modo geral, percebe-se a restrição ao reconhe- cimento da mulher, não apenas como atletas, mas até nos cargos deliberativos, ou mesmo na exacerbação da figura masculina associada ao esporte (Goellner, 2005). No contexto do fenômeno social do campo dos esportes de aventura, esse desrespeito pela inserção feminina tam- bém parece ser evidente (Oliveira et al., 2008; Valporto, 2006). Talvez isso se explique pelo fato de esses esportes chamarem a atenção por suas características de enfren- tamento de situações-problema, vinculadas ao âmbito do domínio do desconhecido e da presença de desafios cons- tantes, ligados ao ambiente natural (Le Breton, 2006, 2007; i c o chwartz, 2006), ou pelo fato de a sociedade, ainda errone- mente, conceber a figura feminina como um ser frágil. Na tentativa de desmistificar essas atividades e supe- ar sua visão como uma prática essencialmente adequada o perfil masculino, algumas iniciativas já se fazem notar. e acordo com os dados divulgados pela Adventure Travel rade Association (ATTA), em 2007, um relatório anual de esquisa sobre a Indústria do Turismo de Aventura no Mundo ue envolveu 35 países, foi constatado que 52% dos turis- as de aventura já eram do sexo feminino. Isso demonstra ue a busca de maior inserção no campo da aventura pelas ulheres começa a despontar. Reforçando as tentativas de vencer essas barreiras, algu- as mulheres se tornam aliadas em uma luta pela igualdade e direitos nos esportes de aventura e usaram diversas stratégias interessantes. Uma delas foi evidenciada por osiassen e Assaf (2013), os quais estudaram a possibili- ade de aquisição de visibilidade social com a participação o campo do turismo. Para esses autores, os indivíduos se ostram preocupados com a avaliação de outros, motivo elo qual são inclinados a escolher determinadas ativida- es, mais pelo que elas representam socialmente do que, ropriamente, pelo desejo particular por elas. As mulheres, para dar maior visibilidade às suas próprias guras e às modalidades às quais pertencem, têm até pro- urado criar canais de rápida comunicação, especialmente om o ambiente virtual (Figueira, 2008). Já estão sendo vis- os diversos blogs e sites para a disseminação de dados e nformações sobre a participação feminina nesses esportes. Porém, ainda que algumas iniciativas já estejam em urso, muito se deve percorrer para promover mudanças axi- lógicas efetivas, capazes de revigorar a adesão da mulher 1 a c r a m M E u p g 1 t o o e r r p b a p d e a E c 2 p i d R A p n c p a m c r A i d e n ( d a o e m ( c ( a t G e t d ( d r a m t a f n o c m p s e d m e s c a a m r o o ( a 2 e r d s d c s d p d s s r a e a d 58 os esportes de aventura. Nesse sentido, este estudo teve omo objetivo investigar, junto a mulheres atletas de dife- entes modalidades de esportes de aventura, os motivos de desão e as estratégias usadas para inserção, bem como o odo como disseminam as informações sobre suas atuações. aterial e métodos ste estudo, de natureza qualitativa, desenvolveu-se por ma pesquisa exploratória, com o uso como instrumento ara a coleta de dados de um questionário com quatro per- untas abertas. A amostra intencional foi constituída por 6 mulheres, com idade média de 34 ± 2,1 anos, pratican- es de esportes de aventura, com reconhecimento nacional u internacional em suas modalidades e por terem acesso nline, por blogs, sites ou redes sociais. As participantes ram praticantes de corrida de aventura (n = 6), escalada em ocha (n = 3), mountain bike (n = 2), paraquedismo (n = 2), afting (n = 1) e skate (n = 1). Inicialmente, fez-se contato com algumas mulheres, raticantes de esportes de aventura, por meio de seus logs, sites ou redes sociais, momento em que ocorreu a presentação do objetivo do estudo e o convite oficial para articipação. De posse da anuência das atletas foi assinado igitalmente o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido os questionários foram enviados por e-mail. Este estudo foi provado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade stadual Paulista, sob o número de protocolo 6313. Os dados coletados foram examinados descritivamente, om a técnica de análise de conteúdo temático (Richardson, 007). Foram também usadas medidas de tendência central ara expressão dos resultados, média e desvio padrão, para dade e tempo de prática e percentual da média para os emais resultados. esultados e discussão s participantes do estudo apresentaram tempo médio de rática nos esportes de aventura de 9,5 ± 4,2 anos, com ível de escolaridade superior completa (94%), atletas de orrida de aventura, escalada em rocha, mountain bike, araquedismo e rafting, e ensino médio incompleto (6%), tleta da modalidade skate. As questões abertas permitiram ais de uma resposta de cada participante, o que enrique- eu sobremaneira os resultados expressos A primeira questão versava sobre os motivos que leva- am as mulheres a aderir à prática dos esportes de aventura. resposta mais recorrente (16,5%) foi referente ao gosto e à dentificação com a modalidade, seguida pela oportunidade e contato com a natureza (13,9%), vivências de sensações e moções que os esportes de aventura propiciam, como adre- alina (8,3%), prazer (2,8%), bem-estar (2,8%), satisfação 2,8%), imprevisibilidade (2,8%), calma (2,8%) e superação e limites (2,8%). O fato de gostar de esportes de aventura o ar livre (11,1%) e, ainda, de esportes em geral (8,3%), gosto pelo risco e desafio (8,3%) e o ambiente prazeroso desafiador (2,8%) também foram relatados. Ainda foram encionados a busca pela saúde (5,6%), a fuga da rotina 2,8%), a influência da família (2,8%) e o fato de ter conhe- ido o esporte pela televisão e ter procurado se aproximar 2,8%). p n c e Schwartz GM et al. Pode-se perceber que entre os principais motivos estão queles inerentes ao enredo psicológico e ligados às carac- erísticas de personalidade. Esses dados corroboram os de omes e Isayama (2009), visto que entre os motivos que nvolvem a busca das pessoas em geral por práticas espor- ivas e de lazer na natureza e, em particular, as corridas e aventura está o contato com esse ambiente. Tahara 2004) destacou que, movido por inúmeros ideais, o desejo e aproximação maior e mais intenso com o meio natu- al é preponderante para o indivíduo praticar atividades de ventura. Já Bruhns (2009) acredita que a busca pelo prazer por eio dessas práticas restabelece ligações entre os pratican- es e a natureza. Essa última é não apenas tomada como mbiente de prática, mas em uma simbiose muito mais pro- unda. Stigliano e César (2002) observaram que o ambiente atural representa uma possibilidade de reintegração com s ambientes dos quais o ser humano se distancia nas grandes idades e nos espaços urbanos. Lavoura et al. (2008) relatam que se encontram forte- ente expressas as aproximações de tais práticas com a ossibilidade de vivência de emoções, em especial com as ensações e os sentimentos de prazer, descanso, vertigem risco. Os autores ressaltam que a vivência de atividades esenvolvidas em contato com o ambiente natural promove omentos emocionais de grande significado. Conforme Bruhns (2000, p. 39), a natureza representa um spaço privilegiado para o redimensionamento dos aspectos imbólicos e emocionais, tendo em vista que pode desen- adear um ‘‘[...] reencantamento do mundo, opondo-se o desencantamento próprio a períodos anteriores, onde estética havia sido apagada ou confinada [...]’’. Nesse esmo sentido, os resultados desta pesquisa também cor- oboram aqueles encontrados por Paixão (2010), em que autor vê a prática de esporte de aventura como uma pção para vivenciar fortes emoções, superar limites e re)encontrar-se com o meio natural. Correr riscos controlados e vivenciar emoções diferenci- das daquelas do cotidiano, na visão de Le Breton (2006, 007), podem servir para que os sujeitos resgatem certos ncantos perdidos no cotidiano. O autor ressalta que a expe- iência cotidiana, sobretudo aquela que envolve o campo o trabalho, geralmente é limitada de iniciativas e de pos- ibilidades de experimentações excepcionais, em termos e sensações e emoções, aspectos que são favorecidos na onfrontação com o risco controlado, com o alargamento da ensibilidade e com o reencontro com o outro, propiciados urante os esportes de aventura. Essas características próprias das atividades de aventura odem, de certa forma, explicar o paradoxal interesse e o esejo crescentes por esses esportes. Em um mundo dema- iadamente ascético e com uma tendência a se buscar a egurança em todos os âmbitos, deliberadamente procu- ar o envolvimento com esse tipo de esporte com caráter ventureiro ainda parece ser um elemento que requer novos sforços para compreensão de todos os aspectos subjetivos í envolvidos. Independentemente da modalidade esportiva e aventura praticada, seja ela na terra, na água ou no ar, ara as mulheres de modo geral parece não haver diferença os motivos de adesão à pratica. Este estudo não teve omo objetivo comparar os motivos entre as modalidades sugerem-se novos estudos nesse sentido. ura a s t p i d i g e e p e A q C p d f t a n e p 2 - n a p l r f a q f s n A p s g r N p m d à d v s m c a o compra e aluguel de equipamentos, viagens, participação Estratégias de participação da mulher nos esportes de avent O engajamento em tais práticas também pode estar dire- tamente associado aos traços de personalidade, já que se percebe que essa participação pode gerar novos estilos de vida, nesse caso caracterizados como o estilo de vida aven- tureiro (Marinho, 2006). Isso ocorre especialmente devido ao forte componente lúdico e à aventura, associados à natureza, presente nesses esportes (Marinho, 2008). Ao se promover o encontro de corpos com a natureza, baseado no componente lúdico e de fruição deliberada, Le Breton (2006) evidencia a possibilidade de se reencontrar e potenci- alizar novos sentidos, intensificar a sensação humana de sua presença no mundo e ampliar a possibilidade de construção da identidade ou de uma nova identidade. Para esse autor, nessa conjuntura de corpos e natureza, o sujeito tem a pos- sibilidade de penetrar em outras esferas de sua existência ou mesmo de ver sua realidade por outro prisma. Schwartz (2002), assim como Bahia e Sampaio (2007), enfatiza que, na busca pelos esportes de aventura, podem-se perceber algumas condutas compensatórias dos indivíduos, como a perspectiva de fuga temporária das difi- culdades vividas no cotidiano. Silva e Freitas (2010) propõem que as emoções sentidas nessas práticas que envolvem risco imaginário criam um viés subjetivo, pois o praticante vai ao encontro de um perigo aparente, revela sentidos camufla- dos no seu íntimo, difíceis de ser notados no cotidiano, mas revelados pelo ser humano na busca de novos significados. Portanto, os motivos expressos estão diretamente relacio- nados aos parâmetros das subjetividades, o que os torna ao mesmo tempo explícitos, porém intensamente complexos para análise. A temática referente à subjetividade tem sido até con- siderada em estudos de Giddens (2002), Rolnik (1997) e Monteiro (2004), que evidenciam as reflexões sobre a maneira como se processa a subjetivação feita pelos sujei- tos contemporâneos. Conforme Monteiro (2004), os estudos procuram salientar o modo como os indivíduos se aproximam das experiências que propiciam o contato consigo próprio e com o outro. As alterações percebidas na sociedade contemporânea, baseadas em seu dinamismo, passam a afetar os valo- res e as condutas pessoais (Giddens, 2002). Isso causa ressonâncias importantes, na medida em que promovem novas configurações na maneira como os indivíduos se auto- constituem e em como se processa a subjetivação. Para Rolnik (1997), as forças provenientes dessas transformações constantes delineadas na esfera social afetam sensivel- mente condutas e valores habituais, haja vista que estão permeados pela realidade da globalização. A autora também salienta o papel importante das tecnologias no contorno axi- ológico, impregnado de uma variabilidade e densidade cada vez intensas, que afeta até o campo das experiências subje- tivas do ser humano em contato com a esfera dos esportes de aventura. Monteiro (2004, p. 76), ao reconhecer as experiências humanas em contato com a natureza como campo privilegi- ado para a constituição de subjetividades, argumenta sobre a rica possibilidade de se ‘‘[...] intensificar uma relação renovada consigo próprio, com a cultura e com a alteridade, aí incluídos os outros seres humanos e os demais seres e ele- mentos do planeta’’. Essa concepção se baseia no fato de que tais experiências propiciam a ‘‘[...] reelaboração de cultura, [...] constituindo-se num essencialismo e s t 159 bstrato, mas aproximando-se dos processos de ingularização [...]’’ (Monteiro, 2004, p. 75), e permi- em novas formas de expressão da sensibilidade, novas ercepções e maneiras de autoafirmação. Na segunda questão referente às estratégias usadas para nserção das mulheres nos esportes de aventura, ficou evi- enciado que a maioria das mulheres participantes (53,8%) niciou nessas práticas por influência da família (24,1%), ami- os (19%) e namorados (9,7%), com a participação em cursos specíficos (15,4%), para as atletas de escalada em rocha paraquedismo, e em eventos esportivos (30,8%), para as raticantes de corrida de aventura, mountain bike, rafting skate. Esses resultados não diferem dos dados apresentados por maral e Dias (2008) com relação à prática do surfe, em ue foram entrevistados 10 surfistas, homens e mulheres. onstatou-se que os principais meios de acesso ao surfe são or intermédio do estímulo da família, de amigos e por meio e cursos em escolas específicas. Com relação à influência amiliar, cabe ressaltar que essa pode ser positiva no que ange ao incentivo e à motivação à prática, o que ocasiona flexibilidade de escolha da modalidade desejada, porém ão se pode descartar a existência do aspecto negativo xercido também por essa influência, que pode inibir e com- rometer o desenvolvimento no esporte (Vilani e Samulski, 002). No caso das mulheres nos esportes de aventura, pode- se perceber que a família pode interferir positivamente, o que concerne a representar um fator de motivação para prática, até entre gerações da mesma família. Esse dado arece ser contrário ao do senso comum, quando a famí- ia, geralmente apoiada nos aspectos de segurança, podem epresentar um grande empecilho, dificultar a participação eminina, por desacreditar de seu potencial ou ainda ver mulher como um ser frágil. Neste estudo, percebeu-se ue as famílias incentivaram a prática desses esportes e acilitaram, assim, a criação de momentos destinados exclu- ivamente a essas práticas e ofereceram estímulos positivos a manutenção delas. A participação em cursos especializados, conforme maral e Dias (2008), pode gerar maior confiança e até ropiciar melhor intercâmbio de informações, a ponto de ervirem como incentivadores para as práticas de modo eral. Além disso, outra estratégia apresentada pelas mulhe- es foi a participação em eventos esportivos de interesse. o caso das corridas de aventura, como estratégia de opularização, diversos organizadores oferecem percursos enores, de 20 a 30 km, clínicas de iniciação e até a gratui- ade de inscrição para as mulheres, como forma de incentivo prática do esporte. À guisa de exemplo, a terceira etapa e um circuito realizado no Estado de São Paulo em 2011, álido pelo ranking brasileiro de corridas de aventura, apre- entou a possibilidade de gratuidade na inscrição para as ulheres (Geronimo, 2011). No que se refere à terceira pergunta, sobre as difi- uldades para se manterem nos esportes de aventura, foi presentada a questão financeira (52,5%) como o principal bstáculo, seja por demanda de custos com o treinamento, m competições, ou mesmo pela dificuldade de se con- eguir patrocínio. Outra dificulta apontada foi a falta de empo (21,7%), uma vez que se torna complicado conciliar a 1 p f t r A e c p ( fi e B a u a a p c q g e d p d c m a t e s à g d p e a q r i g d g a n a t s e m d g o q p 2 s d m ( d a e A e m d d m d i r d t c l O t e i n p c C e t e d v e c d a e o e n e p m à v v t K c d E e d m g 60 rática e os treinamentos com os estudos, cuidados com a amília e com o trabalho. Aspectos organizacionais (4,3%) ambém foram mencionados como facetas que oferecem esistência para a permanência nos esportes de aventura. lém desses, ainda foram citados a existência de poucos ventos (4,3%) e também a necessidade de treinos específi- os e orientação profissional adequada (4,3%), a dificuldade ara trabalhar e se sustentar por meio dessas práticas 4,3%), o que representa empecilhos para uma estabilidade nanceira. O alto custo que permeia os esportes de aventura já foi videnciado em outras pesquisas, como a de Nazari (2007), uckley (2007) e Dias (2006). Entretanto, Tahara et al. (2006) pontam que, embora tais vivências de aventura demandem m alto custo financeiro para a compra de equipamentos e permanência nelas, a adesão a essas práticas continua em scensão. A questão do tempo para a prática de esportes elas mulheres já era evidenciada desde a década de 30, omo apresenta Goellner (2000), existem forças opostas em ue, ao mesmo tempo em que se incentivam as mulheres a ozar de liberdade, igualdade e participação ativa na soci- dade, tem-se a cobrança de preservar valores femininos e everes, como os cuidados com o lar e filhos. Nessa mesma erspectiva, Adelman (2006) evidencia que em grande parte os esportes, quando há o envolvimento das mulheres em ompetições e treinamentos, existem dificuldades de se anter nesse contexto, devido à necessidade de conciliar s responsabilidades domésticas com a longa duração dos reinamentos e com as competições, as quais, geralmente, xigem grandes deslocamentos. Torna-se importante ressaltar, nessa perspectiva, diver- as outras dimensões que também podem estar atreladas s questões de gênero, tais como classe social, etnia, reli- ião, profissão, compromissos familiares, entre outras. Essas imensões podem até representar barreiras para uma maior articipação e maior envolvimento das mulheres com os sportes. Em um estudo feito por Bartram (2001), ao investigar s trajetórias das carreiras de atletas femininas de caia- ue, o autor pôde constatar que as trajetórias profissionais ecebem influência de diferentes fatores, a exemplo de dade, classe social, situação familiar, capacidade atlética e ênero. Esses dados reforçam a ideia da interferência das iversas dimensões anteriormente citadas às questões de ênero. Ao abordar especificamente a modalidade corrida de ventura, Marinho (2001) aponta que o alto valor cobrado a inscrição para participar das provas, bem como as taxas dicionais, faz com que essa modalidade, muitas vezes, orne-se elitista e apresente uma relação direta com a classe ocial. Por outro lado, no que se refere à questão financeira empregatícia, alguns locais já apresentam grande cresci- ento no mercado da aventura, tornam-se a principal fonte e renda para a localidade, devido à mercantilização que ira em torno do turismo e do esporte de aventura. Esse é caso da Nova Zelândia, amplamente divulgada na mídia, ue reforça as características aventureiras e emocionantes roporcionadas pelo turismo de aventura (Cloke e Perkins, 002). Esse dado pode representar um aspecto positivo, no entido de poder proporcionar emprego àquelas praticantes e esportes de aventura que desejam se dedicar exclusiva- ente a esse ramo e trabalhar nesse segmento. s t o Schwartz GM et al. No cenário nacional, pode-se citar a cidade de Brotas SP) e o Rio de Janeiro, a primeira considerada a ‘‘capital a aventura’’ (Barrocas, 2005, p. 04), a qual tem expandido quantidade de empresas que operam nesse segmento e mpregam grande quantidade de mão de obra especializada. segunda por apresentar vários clubes de montanhismo e xcursionismo filiados à federação estadual e consequente- ente à confederação nacional e internacional do setor e esenvolver um trabalho ativo de inserção e capacitação e profissionais nos esportes praticados em ambiente de ontanha (Federação de Montanhismo do Estado do Rio e Janeiro, 2011). Entretanto, em contexto global, faltam niciativas para disseminação desse campo de trabalho e egulamentação dos profissionais, a fim de garantir estabili- ade na área e valorização da carreira no Brasil. As participantes praticantes de rafting e skate que apon- aram não encontrar dificuldades (8,6%), por conseguir onciliar o tempo dedicado a esses esportes com o traba- ho, acreditam que o mercado nessa área está favorável. grande número de mulheres que se envolve nesses espor- es contribui para facilitar a participação feminina. Ainda xpuseram que vem aumentando o número de empresas nteressadas em patrocinar esse tipo de esporte. Na questão quatro, sobre as estratégias para dissemi- ar a própria atuação nos esportes de aventura, todas as articipantes apontaram a internet como ambiente propí- io para isso e usam blogs e Facebook. Isso é ressaltado por astells (2009) e Moura (2009), os quais têm evidenciado os feitos do surgimento da internet no contexto social e enfa- izam, ainda, que esse é um meio altamente abrangente , por consequência, promove a interação social e grande isseminação de informações. Por intermédio desses meios irtuais é possível expressar processos, interesses, valores mudanças nas instituições sociais, o que ocorre até no ontexto do esporte. Buckley (2003) ressalta que a mídia vem apostando na ivulgação de várias modalidades de aventura, patrocinando tletas masculinos famosos, a fim de divulgar produtos specializados, como calçados, veículos e vestuário, e tem btido êxito nas iniciativas. Entretanto, não se tem registro specífico do mesmo sucesso em relação ao público femi- ino de atletas. Existe a necessidade de se buscarem novas stratégias com os recursos tecnológicos e as mídias, para romover maior número de mulheres atletas e equipes, por eio de investimentos nesses esportes, concomitantemente procura por patrocínios em diferentes nichos do mercado, isto que a maioria apresentou o fator financeiro como agra- ante. Com relação às redes sociais, vem crescendo significa- ivamente o acesso a esses meios de comunicação virtual. han e Jarvenpaa (2010) ressaltam que alguns eventos, omo os relacionados às diversas modalidades de esporte e aventura, já são divulgados por meio dessas redes. sse parecer ser o caso das mulheres praticantes de sportes de aventura, que usam essas tecnologias para isseminação de suas performances, servindo até como um eio de aglutinação entre elas e de fortalecimento de rupo. Pempek et al. (2009) também ressaltam o uso das redes ociais, como as mencionadas pelas esportistas participan- es, não apenas entre as jovens, mas até por mulheres em utras faixas do desenvolvimento humano, para poderem ura d r e q n e e a p C O R A A A B B B B B B B B C C D F F esporte em construção. 2008. 244 f. Tese (Doutorado em Ciências do Movimento Humano) - Escola de Educação Física, Universi- Estratégias de participação da mulher nos esportes de avent atualizar suas páginas, disponibilizar informações e manter- -se atualizadas. Em seu estudo sobre a era da informação e as ressonâncias do avanço tecnológico nas culturas e nas sociedades mundiais contemporâneas, Castells (2009) sali- enta as transformações importantes ocorridas nesse setor e suas interferências nos outros campos da vida social. O autor evidencia que esse avanço traz consequências positi- vas e negativas, haja vista que podem não apenas aproximar o mundo e os mercados, mas também distanciar ainda mais os países que não se tornarem potências no desenvolvimento tecnológico. Isso pode ter consequências drásticas e significativas até no que se refere à perspectiva de igualdade de direitos mundiais. Sobretudo no caso das mulheres participantes do estudo, o uso de recursos tecnológicos representa uma forma de se impor e vencer os obstáculos ainda existentes no que se refere à liberdade de participação no campo das vivências na aventura. Entretanto, essa oportunidade deve ser dada igualmente a todas. Certamente, esses entraves necessitam de novos direcionamentos, com o intuito de promover novas reflexões, capazes de ampliar as possibilidades e oportunidades igualitárias a mulheres em todos os países de decidir espontaneamente a respeito da participação nas vivências com as quais tenham afinidade. Conclusão Com base nos resultados do estudo pode-se perceber que as mulheres se inserem nos esportes de aventura sobretudo pelo gosto e pela identificação com as modalidades, que permitem o contato mais intenso com o ambiente natural, ou urbano, no caso do skate. A iniciação nessas práticas se dá, principalmente, por intermédio da família e até com a participação de cursos e eventos para se atualizar e forta- lecer a noção de grupo. As participantes usam as novas tecnologias como estra- tégia para se desenvolver no esporte e para disseminar suas próprias atuações. O estabelecimento de redes sociais para divulgar suas conquistas, motivações e anseios parece ser uma estratégia importante adotada para vencer em con- junto as barreiras estigmatizantes ainda presentes nesse segmento esportivo. Esse aspecto está intimamente relaci- onado com as transformações que ocorrem no espectro da vida social, que implantam novas formas de comunicação e infinitas possibilidades de disseminação de valores e condu- tas. A superação de obstáculos decorrentes do alto custo dos equipamentos e das viagens para competições são ainda aspectos a ser repensados. Assim também, a visibilidade da mulher nesses esportes e o respeito a suas iniciati- vas tornam-se desafios a serem superados, no desejo de consolidação como profissionais nesses esportes. Tornam-se importantes novos esforços, a fim de contri- buir para ampliar as possibilidades de atuação das mulheres nos diversos segmentos da aventura, seja na condução da atividade em si ou em cargos administrativos. Com o aumento da permanência e maior envolvimento das mulhe- res no mercado da aventura, podem-se ampliar as chances de superação do problema referente ao aspecto financeiro para permanecer na atividade, destacado pelas participan- tes. G 161 Novos direcionamentos devem ser apontados, capazes e traçar reflexões que contribuam para se compreende- em mais densamente as transformações feitas em si próprio na sociedade, com base na participação em experiências ue focalizam os esportes de aventura pela população femi- ina. Também é premente que se reconheçam as intenções tensões subjacentes, causadas pelas diversas formas de stigmas ainda presentes no âmago desses esportes, especi- lmente no que se refere à participação feminina, para se romoverem novas estratégias de superação. onflitos de interesse s autores declaram não haver conflitos de interesse. eferências delman M. Mulheres no esporte: corporalidades e subjetividades. Movimento 2006;12(1):11---29. dventure Travel Trade Association. Benchmark 2006 Adventure Travel Practices and Trends Report Unveiled. 2007. Disponí- vel em: . Acesso em: 10 jan. 2013. maral AV, Dias CAG. Da praia para o mar: adesão à adesão e à prática do surfe. Licere 2008;11(3):1---22. ahia MC, Sampaio TMV. Lazer --- meio ambiente: em busca das atitu- des vivenciadas nos esportes de aventura. Rev Bras Ciênc Esporte 2007;28(3):173---89. arrocas R. A trans(formação) do turismo no município de Brotas, SP: a relação entre o morador e o turista. 2005. 99f. 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http://refhub.elsevier.com/S0101-3289(15)00125-0/sbref0230 Estratégias de participação da mulher nos esportes de aventura Introdução Material e métodos Resultados e discussão Conclusão Conflitos de interesse Referências