unesp UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DE COMPUTAÇÃO E ESTATÍSTICA ÁLGEBRAS NÃO ASSOCIATIVAS OCTONIÔNICAS E RELAÇÕES EXTENSIVAS DO TIPO “DE MOIVRE” Cristiane Aparecida Pendeza Dissertação de Mestrado Pós-Graduação em Matemática Aplicada Rua Cristóvão Colombo, 2265 15054-000 - São José do Rio Preto - SP - Brasil Telefone: (017) 221-2444 Fax: (017) 221-2445 Álgebras não associativas octoniônicas e relações extensivas do tipo “De Moivre” Cristiane Aparecida Pendeza 1 Dissertação apresentada ao Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus de São José do Rio Preto, São Paulo, para a obtenção do t́ıtulo de Mestre em Matemática Aplicada. Orientador: Prof. Dr. Manoel Ferreira Borges Neto São José do Rio Preto 20 de fevereiro de 2006 1contato: jrc crispen@ibilce.unesp.br i “Uma longa jornada se começa com um simples passo.” Provérbio chinês ii A Deus. À minha famı́lia. Aos meus amigos. Dedico iii Agradecimentos Uma dissertação não se faz somente com esforço e conhecimento, mas também com o apoio e confiança de grandes amigos. Dentre eles quero agradecer: A Deus, por tudo. À minha famı́lia que sempre me apoiou. Em especial ao Prof. Dr. Manoel Ferreira Borges Neto, pela confiança, amizade, orientação e paciência que sempre foram para mim um incentivo na elaboração deste trabalho. À todos meus amigos de curso agradeço, já com sintomas de saudade, pelo apoio nos momentos dif́ıceis e pelos momentos de descontração e em especial aos amigos Carol e Ricardo pelo companheirismo nesses dois anos. À todas as pessoas que, direta ou indiretamente, contribúıram para a ela- boração deste trabalho, em especial à Gabi, Bárbara e Lucia pelo apoio, paciência e amizade. À CAPES pelo apoio financeiro. iv Resumo O presente trabalho tem por objetivo apresentar uma análise dos octônios, bem como da álgebra octoniônica 8-dimensional, que, apesar de não associativos, são descritos para um número de estruturas excepcionais como por exemplo os grupos de Lie excepcionais e suas respectivas álgebras, favorecendo assim o en- tendimento das rotações de espaços euclidianos de dimensão inferior. Por essa razão se tornam fascinantes em aplicações nas diversas áreas da Matemática e F́ısica. Apresenta-se também uma aplicação dos octônios na analogia da relação clássica de Moivre, e presentes conexões entre funções octoniônicas transcenden- tais e operadores diferencias da teoria de Fueter. Palavras-chave: Octônios, teoria de Fueter, funções hipercomplexas, relação De Moivre. v Abstract The objective of this work is to present an analysis of the octonions, as well as the octonionic algebras 8-dimensional. Although they aren’t associative, they are described by a number of structures, such as the Lie’s exceptional groups and its respective algebras, which help the understanding of rotations of Euclidian spaces of lower dimension. Because of that they are fascinating in applications in several areas of Mathematics and Physics. This work also presents application of octonions in the analog of The Classical De Moivre Relation and presents connections between octonionic transcendent functions and differential operators of Fueter Theory. Keywords: Octonions, Fueter theory, hipercomplex functions, De Moivre rela- tion. vi Sumário Introdução 1 1 Introdução à análise octoniônica 3 1.1 Nota histórica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 1.2 Tópicos de álgebra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 1.3 Construindo os octônios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 1.4 Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 2 Construção da álgebra octoniônica 20 2.1 Preliminares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 2.2 O problema de Hurwitz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 2.3 Construção Cayley-Dickson . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 2.4 Análise do teorema de Hurwitz generalizado . . . . . . . . . . . . 32 2.5 Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 3 Octônios relacionados à estruturas excepcionais 38 3.1 Octônios e os grupos de Lie excepcionais . . . . . . . . . . . . . . 38 3.1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 3.1.2 Conceitos de topologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 3.1.3 Propriedades topológicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 3.1.4 Propriedades algébricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 3.1.5 Unificação da Álgebra e Topologia . . . . . . . . . . . . . . 47 vii Sumário 3.2 Octônios e as álgebras de Lie excepcionais . . . . . . . . . . . . . 56 3.3 Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72 4 Extensão do teorema de Moivre para octônios e operadores de Fueter 73 4.1 Relação de Moivre generalizada para octônicos . . . . . . . . . . . 74 4.1.1 Conceitos básicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74 4.1.2 Definição da função exponencial octoniônica . . . . . . . . 79 4.2 Operadores de Fueter e funções octoniônicas transcendentais . . . 86 4.2.1 Funções octoniônicas regulares . . . . . . . . . . . . . . . . 86 4.2.2 Integração e diferenciação em octônios . . . . . . . . . . . 89 4.3 Aplicação da função exponencial octoniônica à equações de opera- dores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101 4.4 Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113 Conclusão 114 Referências Bibliográficas 116 viii Introdução Trabalhos recentemente exibidos [17], [18], [19] e [20] mostram resultados de uma teoria quaterniônica que vem se solidificando em várias aplicações na Matemática e F́ısica. Uma primeira tentativa de generalizar duas pra quatro dimensões foi graças a Rudolf Fueter que, na década de 1930, definiu conceitos de regularidade à esquerda e à direita de funções de uma variável quaterniônica, apresentando análogos quadri-dimensionais das Equações de Cauchy-Riemann. Embora es- forços, até o presente não se tem uma teoria quadri-dimensional completa, devido a questões de analiticidade dessas funções. Em matemática, é imprescind́ıvel a busca por teoria unificadas que per- mitem estabelecer generalizações. Com a análise octoniônica não foi diferente. A teoria octoniônica vista como uma extensão quaterniônica, assim como esta, sofre a carência de uma teoria completa. Os quatérnios foram descobertos pelo irlandês William Rowan Hamilton. Neste mesmo ano, John T. Graves, um amigo de Hamilton, descobre uma álgebra de 8 dimensões, os octônios, os quais não sa- tisfaziam a propriedade da associatividade. Sem muitos avanços, somente foram redescobertos em 1845 por Arthur Cayley. Por essa razão são mais conhecidos como números de Cayley. Surgia assim uma nova álgebra abandonando os pos- tulados de comutatividade e associatividade para multiplicação. Essa álgebra generaliza o conceito dos quatérnios não possuindo a estrutura de um corpo, nem de anel e nem de grupo, mas sim de quasi grupos e será denotada por O. Este trabalho busca criar uma aproximação em oito dimensões da teoria quaterniônica (ver Oliveira [21]) através da generalização da relação clássica de 1 Introdução Moivre para octônios. No primeiro caṕıtulo desta dissertação temos por objetivo apresentar a origem dos octônios ressaltando tópicos algébricos, designados bases, que per- mitem ao leitor um bom entendimento do texto, familiarizando-se assim, com a teoria octoniônica. O segundo caṕıtulo é dedicado a uma análise da construção da álgebra de divisão normada dos octônios com o intuito de solidificar essa teoria. Começaremos por analisar o problema considerado primeiramente por Hurwitz em se obter formas quadráticas o que é equivalente a se obter todas as álgebras de divisão posśıveis sobre o corpo R. No terceiro caṕıtulo apresentaremos os octônios relacionados à estruturas excepcionais. Dentre elas destacamos os grupos de Lie excepcionais e as álgebras não associativas excepcionais: Lie e Jordan. A teoria dos grupos desempenha um papel de extrema importância nas relações f́ısicas no estudo sobre simetrias. Os grupos de Lie excepcionais, relatados para os octônios, são representados como grupos de transformações lineares num espaço 8-dimensional. Relacionados a estes grupos temos as álgebras de Lie excepcionais, formadas pelas álgebras de Hurwitz e as álgebras excepcionais de Jordan. Os resultados serão apresenta- dos brevemente, em virtude de certos conceitos estarem além do propósito deste trabalho. No último caṕıtulo desta dissertação mostraremos que a relação de Moi- vre clássica bi-dimensional pode ser reescrita sob uma generalização octoniônica, definimos assim a função exponencial octoniônica generalizada. Uma analogia à teoria das funções regulares de Fueter, definimos funções octoniônicas regulares estabelecidas sob condições de integrabilidade e diferenciabilidade, bem como ope- radores octoniônicos. Uma aplicação desses operadores a exponencial octoniônica nos fornecem equações de operadores, permitindo estabelecer uma conexão entre esses operadores da teoria de Fueter generalizados e funções octoniônicas trans- cendentais. 2 Caṕıtulo 1 Introdução à análise octoniônica Este caṕıtulo tem por objetivo apresentar os octônios como estruturas algébricas, vistas como uma extensão não associativa dos quatérnios. Na primeira parte fa- zemos uma breve introdução histórica, na qual toma-se como apoio as referências [1] e [2]. A segunda parte refere-se a conceitos algébricos preliminares, através, sobretudo de consultas às referências [3], [4] e [5]. Na seqüência apresenta-se a construção dos octônios como uma álgebra de divisão normada 8-dimensional mostrada na terceira parte deste caṕıtulo. 1.1 Nota histórica O processo que levou à introdução de um ponto de vista verdadeiramente abstrato em álgebra teve ińıcio em 1815, quando vários matemáticos da Universidade de Cambridge fundaram a Analytical Society, uma sociedade que tinha por finalidade reformar o ensino do cálculo, adotando as notações em uso no continente. Porém, sua contribuição fundamental foi repensar e discutir os fundamentos da álgebra. Foi no peŕıodo de intensa atividade na direção de uma crescente abs- tração, que um notável matemático irlandês, Sir William Rowan Hamilton (1805-1865), deu a fundamentação definitiva dos números complexos como pares ordenados de números reais. 3 Caṕıtulo 1.Introdução à análise octoniônica Sua reformulação da teoria dos números complexos parte de uma ob- servação muito simples; ele nota que a expressão a + bi não denota uma soma genúına do mesmo tipo que 2 + 3 e afirma que o uso do sinal + é um acidente histórico e, certamente, bi não pode ser adicionado a a. Assim, percebe que es- crever um número complexo na forma a + bi não é mais do que o par ordenado de números reais (a,b). A partir desta observação, Hamilton desenvolve a teoria formalmente, definindo soma e produto de pares da forma que hoje nos é familiar: (a,b) + (c,d) = (a+b,c+d) (a,b)(c,d) = (ac - bd,ad+bc) Hamilton adota um ponto de vista formal. Ele era também um f́ısico e percebia claramente as implicações de sua descoberto: ele tinha desenvolvido uma álgebra que permitia trabalhar com os vetores do plano. Isto o levou a considerar um problema que seria fundamental para a f́ısica da época: desenvolver uma álgebra de ternas que daria a linguagem para trabalhar com vetores do espaço. Trabalhou durante dez anos neste problema antes de descobrir onde es- tava a dificuldade essencial. Uma carta a seu filho Archibald, de Outubro de 1843, revela sua obsessão com a questão: Toda manhã, quando descia para o café, teu irmão William Edwin e você mesmo costumavam perguntar-me “Bem, pai, você já pode mul- tiplicar ternas?” A isso eu sempre me via obrigado a responder, com um triste balanço de cabeça, “Não, eu posso somá-las e subtráı-las”. Para compreender como poderia ser feita esta multiplicação, Hamilton escrevia suas ternas na forma a + bi + cj, por semelhança ao que era feito com os complexos e tentava desenvolver o produto (a+bi+cj)(x+yi+zj) e representá- lo como um elemento da mesma forma. Esperava ainda que o comprimento do produto de vetores fosse igual ao produto dos comprimentos,i.e., que a2+b2+c2 = x2 + y2 + z2 fato que chamou lei dos módulos. Para desenvolver o produto, assumiu naturalmente que i2 = j2 = −1 mas a dificuldade estava em determinar qual devia ser o valor dos produtos ij 4 Caṕıtulo 1.Introdução à análise octoniônica e ji. Foi a tentativa de preservar a lei dos cossenos que lhe impôs finalmente a necessidade de trabalhar com uma dimensão a mais. Numa carta a seu filho, Hamilton descreve como foi a descoberta final: Mas no dia 16 de outubro de 1843 - que era uma segunda-feira e reunião do Conselho da Real Sociedade da Irlanda - eu ia andando para participar e presidir, e tua mãe andava comigo, ao longo do Royal Canal,. . . , embora ela falasse comigo ocasionalmente, uma cor- rente subjacente de pensamento estava acontecendo na minha mente, que finalmente teve um resultado, cuja importância senti imediata- mente. Pareceu como se um circuito elétrico tivesse se fechado; e saltou uma fáısca, o heraldo de muitos anos vindouros de pensamento trabalho dirigidos, por mim, se poupando, e de qualquer forma por parte de outros, se eu vivesse o suficiente pa comunicar minha desco- berta. Nesse instante eu peguei uma libreta de anotações que ainda existe e fiz um registro naquela hora. Não pude resistir ao impulso - tão não filósofo quanto possa ser - de gravar com um canivete numa pedra da ponte Brougham, quando a cruzamos, a fórmula fundamental dos śımbolos i, j, k, i2 = j2 = k2 = ijk = −1 que contém a solução do Problema. Com a multiplicação definida dessa forma, o conjunto dos quatérnios constitui o primeiro exemplo de anel não comutativo, com divisão. Hamilton reconheceu imediatamente a importância de sua descoberta, especialmente pelas suas implicações para o desenvolvimento da f́ısica. No dia seguinte, em 17 de outubro de 1843, Hamilton escreveu a seu amigo John T. Graves comunicando-lhe seus resultados. A semente de novos desenvolvimentos tinha sido plantada: em dezembro desse mesmo ano, Graves descobriu uma álgebra de dimensão 8, os octônios. Havia, porém, uma notável diferença: em julho de 1844 Hamilton lhe observou que a propriedade associativa 5 1.2. TÓPICOS DE ÁLGEBRA valia claramente para os quatérnios mas não valia para os octônios. Escreve para Graves apontando que octônios são não-associativos: “A.BC = AB.C, se A,B,C serem quatérnios, mas não octônios”. Em 26 de dezembro, Graves escreveu para Hamilton dizendo ter desco- berto uma nova álgebra 8-dimensional, mostrando que formam uma álgebra de divisão normada, e usou para expressar o produto de duas soma de oito quadrados perfeitos é igual a outra soma de oito quadrados perfeitos. Este sistema foi redescoberto independentemente em 1845 por Arthur Cayley (1821-1895) e por essa razão os octônios são conhecidos também como Números de Cayley. Estava assim aberto o caminho para novas generalizações. 1.2 Tópicos de álgebra Definição 1.1. (Álgebra) Consideremos uma álgebra A sobre o corpo dos reais como um espaço vetorial equipado com um mapeamento bilinear B : A×A −→ A chamado “multiplicação” e o elemento “unidade” denotado por 1 tal que 1 ∈ A e B(1, x) = B(x, 1) = x. Como é usual abreviaremos por B(x, y) = xy. Definição 1.2. (Grupo) Um conjunto G com uma operação G×G −→ G (x, y) 7−→ x · y é um grupo se as condições seguintes são satisfeitas: i) A operação é associativa, isto é, x · (y · z) = (x · y) · z, ∀x, y, z ∈ G. ii) Existe um elemento neutro, isto é, e ∈ G tal que e · x = x · e = x,∀x ∈ G iii) Todo elemento possui um elemento inverso, isto é, ∀x ∈ G, ∃y ∈ G tal que x · y = y · x = e 6 Caṕıtulo 1.Introdução à análise octoniônica Observação 1.2.1. 1) O elemento neutro é único. De fato, se e,e’ ∈ G, então e = e · e′ pois e′ é elemento neutro = e′ pois e é elemento neutro 2) O elemento inverso é único. De fato, seja x ∈ G, e sejam então y,y’ ∈ G dois elementos inversos de a, temos: y = y · e = y · (x · y′) pois y′ é inverso de x = (y · x) · y′ = e · y′ = y′ pois y é inverso de x Denotaremos o único inverso de x por x−1. 3) Da unicidade do inverso de um elemento x ∈ G, obtém-se o fato mais geral seguinte: Se x, x, y ∈ G, então a equação x ·x = y tem a única solução em G, a saber y · x−1. De fato, se z é uma solução de x · x = y, então temos z · x = by, logo z · x · x−1 = y · x−1. Por outro lado, y · x−1 é claramente uma solução. Se maneira similar, obtém-se que a equação x·x = y tem uma única solução em G, a saber y · x−1. 4) Em de decorrência do terceiro item de (1.2.1), para mostrar que um ele- mento f ∈ G é igual ao elemento neutro do grupo, basta mostrar que que f · x = x para algum elemento a ∈ G. 5) (x · y)−1 = y−1 · x−1 Prova Seja multiplicação (x · y) · y−1 · x−1 = x · (y · y−1)x−1 = x · e · x−1 = e⇒ (x · y)−1 = y−1 · x−1 Nota: 1. Muitas vezes deixaremos de indicar a operação do grupo, escrevemos G para denotar (G, ·). Também quando não existir ambigüidade, escrevemos xy no lugar de x · y. 7 Caṕıtulo 1.Introdução à análise octoniônica Definição 1.3. (Grupo Abeliano) Um grupo é abeliano ou comutativo se: - A operação é comutativa, isto é, x · y = y · x, ∀x, y ∈ G Exemplo 1.2.1. O grupo aditivo dos inteiros (Z,+) é um grupo abeliano infinito. Isso decorre de que para a adição usual em Z vale: x+ (y + z) = (x+ y) + z;x+ 0 = 0 + x = x; x+ (−x) = (−x) + x = 0;x+ y = y + x. Exemplo 1.2.2. (Q,+), (R,+),(C,+) são grupos (aditivos) abelianos. Exemplo 1.2.3. O grupo multiplicativo dos racionais (Q∗, ·) também é um grupo abeliano infinito. Exemplo 1.2.4. O grupo G = {1,−1} é um grupo em relação à multiplicação usual. É um grupo abeliano finito de ordem 2. Definição 1.4. (Subgrupo) Seja G, · um grupo. Um subconjunto não-vazio H de G é um subgrupo de G (denotamos H < G) quando, com a operação de G, o conjunto H é um grupo, isto é, quando as condições seguintes são satisfeitas: 0) h1 · h2 ∈ H, ∀ h1 · h2 ∈ H. i) h1 · (h2 · h3) = (h1 · h2) · h3, ∀ h1, h2, h3 ∈ H. ii) ∃ eH ∈ H tal que eH · h = h · eH = h, ∀ h ∈ H. iii) Para cada h ∈ H, existe k ∈ H tal que h · k = k · h = eH . Observação 1.2.2. 1) A condição i) é sempre satisfeita, pois a igualdade g1 · (g2 · g3) = (g1 · g2) · g3 é válida para todos os elementos de G. 2) o elemento neutro eH de H é necessariamente igual ao elemento neutro e de G. De fato, tomando a ∈ H ⊆ G, temos eH · a = a; multiplicando os dois lados por a−1 à direita, obtemos eH = e. 8 Caṕıtulo 1.Introdução à análise octoniônica 3) Dado h ∈ H, o inverso de h em H é necessariamente igual ao inverso de h em G. De fato, se k é o inverso de h em H, então h · k = k · h = eH , logo h · k = k · h = e pois eH = e, e portanto k é o inverso de h em G. Exemplo 1.2.5. Se G é um grupo, então {e} e G são subgrupos de G. Exemplo 1.2.6. Seja (2Z,+) G é um subgrupo de (Z,+). De maneira mais geral, se n é um inteiro qualquer, (nZ,+) é um subgrupo de (Z,+). Definição 1.5. (Quasegrupo) Seja um conjunto Q e uma operação binária * : Q × Q −→ Q ∀ a,b ∈ Q, ∃ únicos elementos a,b ∈ Q de modo que a ∗ x = b e y ∗ a = b. As únicas soluções destas equações são x = a \ b and y = b / a, onde as operações \ e / são chamadas divisão à direita e à esquerda. Exemplo 1.2.7. Os inteiros Z com operação de subtração formam um quase- grupo. Exemplo 1.2.8. Todo grupo é um quasegrupo, porque a * x = b ⇐⇒ x = a−1 ∗b, e y * a = b ⇐⇒ y = b ∗ a−1. Definição 1.6. (Loop) Um loop é um quasegrupo com elemento identidade. Cada elemento de um quasegrupo tem um único inverso à direita e à esquerda. Definição 1.7. (Moufang Loop) Um Moufang loop L é um quasegrupo (L,*) satisfazendo (a ∗ b) ∗ (c ∗ a) = (a ∗ (b ∗ c)) ∗ a ∀ a, b, c ∈ L. Definição 1.8. (Anel) Um anel ou anel comutativo (A,+, .) é uma conjunto A com pelo menos dois elementos, munidos de uma operação denotada por + (chamada adição) e de outra operação denotada por · (chamada multiplicação) que satisfazem as condições seguintes: 9 Caṕıtulo 1.Introdução à análise octoniônica A.1) A adição é associativa, isto é, ∀ x, y, z ∈ A, (x+ y) + z = x+ (y + z) A.2) Existe um elemento neutro com respeito à adição, isto é, ∃ 0 ∈ A tal que,∀ x ∈ A, 0 + x = x e x+ 0 = x. A.3) Todo elemento de A possui um inverso com respeito à adição, isto é, ∀ x ∈ A, ∃z ∈ A tal que x+ z = 0 e z + x = 0. A.4) A adição é comutativa, isto é, ∃x, y ∈ A, x+ y = y + x. M.1) A multiplicação é associativa, isto é, ∀x, y ∈ A, (x · y) · z = x · (y · z). M.2) Existe um elemento neutro com respeito à multiplicação, isto é, ∃ 1 ∈ A tal que,∀ x ∈ A, 1 · x = x e x · 1 = x. M.3) A multiplicação é comutativa, isto é, ∀ x, y ∈ A, x · y = y · x. AM) A adição é distributiva relativamente à multiplicação, isto é, ∀x, y, z ∈ A, x · (y + z) = x · y + x · z. Se todas as condições são satisfeitas com exceção de M.3), então (A,+,·) é chamado de anel não-comutativo. Exemplo 1.2.9. (Z,+, ·), (Q,+, ·), (R,+, ·), (C,+, ·) são anéis comutativos com unidades. Exemplo 1.2.10. Mn×n(R) = {(aij) : aij ∈ N, i, j = 1, . . . , n} é anel não comutativo com unidades In (matriz identidade de ordem n). Exemplo 1.2.11. Seja Mn×n(R) o conjunto das matrizes n × n com entradas em R, sejam + a adição usual de matrizes e · a multiplicação usual de matrizes. Então, Mn×n(R,+, ·) é um anel não-comutativo se n ≥ 2. 10 Caṕıtulo 1.Introdução à análise octoniônica Definição 1.9. (Subanel) Seja (A,+, .) um anel. Um subconjunto L ⊂ A,L 6= ∅, é um subanel de A, se e somente se, cumpre o seguinte: 1) o subconjunto L é fechado para ambas as operações de A, isto é, (∀x, y)(x, y ∈ L −→ x+ by ∈ L e xy ∈ L) 2) (L,+, ·) também é um anel. Definição 1.10. (Anel com divisão) Um anel (A,+, .) é um anel com di- visão ( ou quase corpo) se (A− {0}, ·) é um grupo. No caso de anel com divisão, temos 1 ∈ A, e ∀x ∈ A, x 6= A,∃y ∈ A, tal que x · y = y · x = 1. O elemento y é inverso de x e é denotado por x−1. Exemplo 1.2.12. (Anel dos Quatérnios) Veremos agora um exemplo de anel não comutativo com unidade. Seja R4 = {(a, b, c, d)\a, b, c, d ∈ R}, onde (a, b, c, d) = (a′, b′, c′, d′)⇐⇒ a = a′, b = b′, c = c′, d = d′. O anel (R4,+, ·) pode ser identificado com o anel (H,+, ·), ou seja, anel dos Quatérnios não comutativo com a unidade. Definamos as operações de soma e produto em R4 como (a, b, c, d) + (a′, b′, c′, d′) = (a+ a′, b+ b′, c+ c′, d+ d′), (a, b, c, d).(a′, b′, c′, d′) = (aa′ − bb′ − cc′ − dd′, ab′ + ba′ + cd′ − c′d, ac′ + a′c+ db′ − d′b, ad′ + da′ + bc′ − b′c). com zero do anel como (0,0,0,0) e unidade (1,0,0,0). Faremos algumas identi- ficações: 1 ←→ (1, 0, 0, 0) i ←→ (0, 1, 0, 0) j ←→ (0, 0, 1, 0) k ←→ (0, 0, 0, 1) (1.1) assim,a+bi+cj+dk e identificamos assim uma base para R4. 11 Caṕıtulo 1.Introdução à análise octoniônica Observação 1.2.3. Podemos verificar que a multiplicação entre dois elementos quaisquer i, j, k desta base, não é comutativa. Como por exemplo i · j 6= j · i. Para isto analisemos a seguinte definição: Definição 1.11. (Produto vetorial) Seja uma base ortonormal positiva (i, j, k) ∈ R3. Sendo dois vetores (u = x1, y1, z1), (v = x2, y2, z2) relativos a esta base, tem- se u× v =      i j k x1 y1 z1 x2 y2 z2      Através da definição 1.9 verificamos que i · j 6= j · i. Então, i× j =      i j k 1 0 0 0 1 0      = k e j× i =      i j k 0 1 0 1 0 0      = -k Logo as posśıveis produtos vetoriais entre os elementos desta base é {i × j = k, j×k = i,k×i = j, j×i = -k,k×j = -i, i×k = -j}. Informações complementares sobre quatérnios podem ser encontradas em [21]. Definição 1.12. (Corpo) Um anel (A,+, .) é chamado corpo se todo elemento não nulo de A possui um inverso com respeito à multiplicação, isto é, ∀x ∈ A\{0}, ∃y ∈ A talque x · y = 1 Exemplo 1.2.13. Os anéis (2Q,+, ·), (2C,+, ·), (2R,+, ·) são corpos. Exemplo 1.2.14. O anel (Z,+, ·) não é um corpo, pois existe um simétrico multiplicativo para qualquer inteiro diferente de 1 e -1. Definição 1.13. (Álgebra de divisão) Seja A uma álgebra de dimensão finita. Dizemos que A é uma álgebra de divisão se a operação de “multiplicação” pela di- reita e pela esquerda por algum elemento não-nulo da álgebra é inverśıvel. Dados x, y ∈ A de modo que xy = 0, temos 12 Caṕıtulo 1.Introdução à análise octoniônica x · y · y−1 = 0 então x=0 x−1 · x · y = 0 então y=0 As álgebras de divisão admitem também uma operação de anti-evolução, tal que (x∗)∗ = x, (xy)∗ = y∗x∗ A operação de conjugação corresponde à transposição na representação matricial. Definição 1.14. (Álgebra de divisão Normada) Seja A é uma álgebra de divisão. Dizemos que A é uma álgebra de divisão normada se existe uma forma quadrática Q positivo-definida Q : A −→ R+ x−→ Q(x) = x∗x, ∀x, y ∈ A Q (xy) = Q(x)Q(y). Toda álgebra de divisão normada é uma álgebra de divisão de modo que as condições de álgebra de divisão seguem para as condições de norma. Suponha xy = 0 para quaisquer x, y ∈ A. Então Q(xy) = Q(x)Q(y) = 0. Desde que campos são domı́nios inteiros, isto implica Q(x) = 0 ou Q(y) = 0 o que implica que x = 0 ou y = 0. Definição 1.15. (Álgebra associativa) Uma álgebra sobre um corpo F é um par consistindo de uma anel (A,+, ·, 0, 1) e um espaço vetorial A sobre F de modo que o conjunto subjacente A, a adição e o elemento neutro são os mesmos no anel e espaço vetorial, e a(xy) = (ax)y = x(ay) ∀a ∈ F, x, y ∈ A (1.2) Denotamos a álgebra pela letra A para designar o conjunto subjacente A. Exemplo 1.2.15. Sejam R,C e H exemplos de álgebras associativas. Estaremos fazendo a verificação da demonstração no caṕıtulo 2. 13 Caṕıtulo 1.Introdução à análise octoniônica Definição 1.16. (Álgebra alternativa) Uma álgebra A é alternativa se a subálgebra gerada por qualquer par de elementos da álgebra é associativo. Então sejam x, y ∈ A, temos: x(xy) = x2y, (xy)y = xy2 então a álgebra A é alternativa. Observação 1.2.4. Mais detalhes sobre a definição (1.16) se encontram em [4] e estaremos discutindo no caṕıtulo 2. Definição 1.17. (Homomorfismo(homo=igual; morphos=forma) Sejam (A,+, ·) e (B,⊕,⊗) dois anéis. Uma aplicação f : A −→ B é um homomorfismo se ela é compat́ıvel com as estruturas de anéis, isto é, se i) f(x+y) = f(x) ⊕ f(y), ∀ x, y ∈ A. ii) f(x.y) = f(x) ⊙ f(y), ∀ x, y ∈ A. i) f(1A) = 1A. Exemplo 1.2.16. Id: (A, +, ·)−→(A, +, ·), definido por Id(a)=a, ∀ a ∈A, é um homomorfismo chamado identidade. Definição 1.18. (Isomorfismo(iso=igual/mesma; morphos=forma) Um homomorfismo de anéis f : A −→ B é um isomorfismo se ele é injetivo e sobre- jetivo. Definição 1.19. (Automorfismo(auto=si mesmo/próprio; morphos=forma ) Seja G um grupo. Uma aplicação f : G −→ G é um isomorfismo, então f é dito ser um automorfismo. Definição 1.20. (Função injetiva) Seja f: X −→ Y uma função. Dizemos que f é injetiva quando: ∀x1, x2 ∈ X, f(x1) = f(x2) =⇒ x1 = x2. Definição 1.21. (Função sobrejetiva) Dizemos que f é sobrejetiva quando: ∀ y ∈ Y,∃ x ∈ X tal que f(x) = y ou seja Imf = Y. 14 1.3. CONSTRUINDO OS OCTÔNIOS 1.3 Construindo os octônios Os octônios são uma uma extensão não-associativa dos quatérnios. Eles formam uma álgebra de divisão normada 8-dimensional sobre R. A álgebra de Cayley, também chamada de oitavas ou álgebra dos octônios é denotada por O, sendo uma álgebra de divisão alternativa de di- mensão 8. Define-se o conjunto dos octônios O como O = {(a, b, c, d, e, f, g, h)/a, b, c, d, e, f, h ∈ R}, onde (a, b, c, d, e, f, g, h) = (a′, b′, c′, d′, e′, f ′, g′, h′)⇐⇒ a = a′, b = b′, c = c′, d = d′ , e = e′, f = f ′, g = g′, h = h′ , no qual as operações de adição e multiplicação são definidas por: ( a, b, c, d, e, f, g, h) + (a′, b′, c′, d′, e′, f ′, g′, h′) = ( a+ a′, b+ b′, c+ c′, d+ d′, e+ e′, f + f ′, g + g′, h+ h′) (1.3) e (a, b, c, d, e, f, g, h).(a′, b′, c′, d′, e′, f ′, g′, h′) = (aa′ − bb′ − cc′ − dd′ − ee′ − ff ′ − gg′ − hh′, ab′ + ba′ + cd′ − dc′ − ef ′ + fe′ − gh′ + hg′, ac′ − bd′ + ca′ + db′ − eg′ + fh′ + ge′ − hf ′, ad′ + bc′ − cb′ + da′ − eh′ − fg′ + gf ′ + he′, ae′ + bf ′ + cg′ + dh′ + ea′ − fb′ − gc′ − hd′, af ′ − be′ − ch′ + dg′ + eb′ + fa′ − gd′ + hc′, ag′ + bh′ − ce′ − df ′ + ec′ + fd′ + ga′ − hb′, ah′ − bg′ + cf ′ − de′ + ed′ − fc′ + gb′ + ha′). (1.4) 15 Caṕıtulo 1.Introdução à análise octoniônica Vemos que os números octoniônicos (0, 0, 0, 0, 0, 0, 0, 0) e (1, 0, 0, 0, 0, 0, 0, 0) são os respectivos elemento neutro da adição e a unidade da multiplicação, existindo ainda o inverso aditivo e multiplicativo para cada elemento não-nulo em O. Logo o anel dos octônios representado por (O,+, ·), não é um corpo pois não satisfaz a propriedade comutativa da multiplicação, pois de acordo com (1.4) (0, 1, 0, 0, 0, 0, 0, 0).(0, 0, 1, 0, 0, 0, 0, 0) 6= (0, 0, 1, 0, 0, 0, 0, 0)(0, 1, 0, 0, 0, 0, 0, 0) Conseqüentemente, dizemos que (O, +, ·) é um anel com divisão ou um corpo não comutativo. O anel dos octônios não é um grupo por não satisfazer o item 1 em (1.2). Os octônios formam um Moufang Loop (1.7). Fazendo as identificações: 1←→ (1, 0, 0, 0, 0, 0, 0, 0) l←→ (0, 0, 0, 0, 1, 0, 0, 0) i ←→ (0, 1, 0, 0, 0, 0, 0, 0) li←→ (0, 0, 0, 0, 0, 1, 0, 0) j←→ (0, 0, 1, 0, 0, 0, 0, 0) lj←→ (0, 0, 0, 0, 0, 0, 1, 0) k←→ (0, 0, 0, 1, 0, 0, 0, 0) lk←→ (0, 0, 0, 0, 0, 0, 0, 1) (1.5) temos um número octoniônico o = (a, b, c, d, e, f, g, h) com a,b,c,d,e,f,g,h ∈ R, pode ser representado na forma o = (a, 0, 0, 0, 0, 0, 0, 0)(1, 0, 0, 0, 0, 0, 0, 0) +(0, b, 0, 0, 0, 0, 0, 0)(0, 1, 0, 0, 0, 0, 0, 0) +(0, 0, c, 0, 0, 0, 0, 0)(0, 0, 1, 0, 0, 0, 0, 0) +(0, 0, 0, d, 0, 0, 0, 0)(0, 0, 0, 1, 0, 0, 0, 0) +(0, 0, 0, 0, e, 0, 0, 0)(0, 0, 0, 0, 1, 0, 0, 0) 16 Caṕıtulo 1.Introdução à análise octoniônica +(0, 0, 0, 0, 0, f, 0, 0)(0, 0, 0, 0, 0, 1, 0, 0) +(0, 0, 0, 0, 0, 0, g, 0)(0, 0, 0, 0, 0, 0, 1, 0) +(0, 0, 0, 0, 0, 0, 0, h)(0, 0, 0, 0, 0, 0, 0, 1), (1.6) na qual a é chamada de parte escalar positiva do octônio o e r = bi + cj + dk + el + f li + glj + hlk a sua parte vetorial. Assim O pode ser representado com a soma direta O = R⊕ V (1.7) onde R é o corpo dos reais e V é um espaço euclidiano. Definimos as unidades octoniônicas 1, i, j, k, l, li, lj, lk, como uma res- pectiva base ortonormal da álgebra 8-dimensional. Tomando esta base e utili- zando em (1.4) obtemos a seguinte tábua de multiplicação: ∗ 1 i j k l li lj lk 1 1 i j k l li lj lk i i −1 k −j −li l −lk lj j j −k −1 i −lj lk l −li k k j −i −1 −lk −lj li l l l li lj lk −1 −i −j −k li li −l −lk lj i −1 −k j lj lj lk −l −li j k −1 −i lk lk −lj li −l k −j i −1 (1.8) Uma maneira conveniente para lembrar a multiplicação dos octônios é dado por um diagrama chamado Plano Fano: 17 Caṕıtulo 1.Introdução à análise octoniônica Figura 1.1: Plano Fano Observe que as linhas são orientadas neste diagrama. Os pontos cor- respondem aos elementos da base dos octônios. As setas indicam os sinais dos resultados da multiplicação de cada elemento da base. Nota: 2. O nome do diagrama é devido aos axiomas de Gino Fano (1892), um italiano que definiu as primeiras fundamentações à geometria projetiva: Axioma 1: Existem uma reta e um ponto que não são incidentes. Axioma 2: Toda reta é incidente com pelo menos três pontos distintos. Axioma 3: Dois pontos distintos são incidentes com exatamente uma reta. Definição 1.22. (Octônio conjugado) Definimos o octônio conjugado ō de um octônio o = (a, b, c, d, e, f, g, h) = a+bi+cj+dk+el+f li+glj+hlk como sendo o número ō = (a,−b,−c,−d,−e,−f,−g,−h) = (a−bi−cj−dk−el−f li−glj−hlk). Definição 1.23. (Norma) A norma ‖o‖ de um octônio o = a+bi+cj+dk+el+ f li + glj + hlk é um número real ‖o‖ = √ a2 + b2 + c2 + d2 + e2 + f 2 + g2 + h2. Note que esta é a norma euclidiana em R8 A existência de uma norma sobre O implica a existência de um inverso para todo elemento não nulo de O. 18 Caṕıtulo 1.Introdução à análise octoniônica Definição 1.24. (Inverso de um octônio) O inverso de um número octônio é dado por o−1 = ō ‖o‖2 Isto satisfaz oo−1 = o−1o = 1. Sejam algumas propriedades dos octônios que estaremos utilizando mais adiante. Propriedade 1.1. Dados dois números octônios o1 e o2, temos que: o1o2 = ō2ō1. Propriedade 1.2. Dado um número octônio o1, temos que: ō1o1 = o1ō1 = |o1|2. 1.4 Conclusão Como pode-se analisar, os octônios são uma generalização dos números reais, complexos e quatérnios, com posśıveis e vastas aplicações à F́ısica e à geometria. Sua relevância à geometria era obscura em 1925, até Élie Cartan descrever a “triality” - a simetria entre vetores e spinors e um espaço euclidiano 8-dimensional [6]. Sua relevância à F́ısica foi noticiado em 1934 por Jordan, von Neumann e Wigner sobre fundamentações da mecânica quântica [7]. Em [8] nota-se que em 1980 observou-se que octônios explicam algumas caracteŕısticas da teoria de Cordas. Além disso os octônios são relatados para um número de estruturas excepcionais, entre elas os grupos de Lie excepcionais. Além disso, como mostrado em [9] sobre emaranhados quânticos, pode-se traçar paralelos à essas construções com álgebras octoniônicas que são não associativas. 19 Caṕıtulo 2 Construção da álgebra octoniônica Este caṕıtulo têm por objetivo apontar a construção das álgebras de divisão normadas octoniônicas. Para isso, tomamos como referências [4] e [10]. Na pri- meira parte deste caṕıtulo apontamos algumas preliminares como a base para esta construção. Na segunda parte analisamos o Problema de Hurwitz para soma dos quadrados. Dessa forma descrevemos o processo Cayley-Dickson chegando a construção da álgebra octoniônica. Boa parte das demonstrações são apresenta- das em detalhes. 2.1 Preliminares Um caminho para se criar uma nova forma matemática sob uma teoria exis- tente, especialmente apresentada numa forma axiomática, é generalizar a teoria “enfraquecendo” algumas de suas hipóteses. Usando este caminho no conceito de álgebras associativas (1.15), somos conduzidos ao conceito de álgebras não- associativas. Interessantes classes das álgebras não associativas chamam à atenção dos algebristas devido à suas aplicações a outros campos. Definição 2.1. (Álgebra não associativas) Uma álgebra A é chamada não associativa se a lei associativa para multiplicação (1.2) não é considerada para 20 Caṕıtulo 2.Construção da álgebra octoniônica x, y ∈ A. Exemplo 2.1.1. Podemos citar dois exemplos de álgebras não-associativas: Lie e Jordan que serão analisadas no caṕıtulo 3. Definição 2.2. (Comutador) O comutador é um mapeamento bilinear na álgebra [. . . , . . .] : A2 −→ A (x, y) −→ [x, y] = xy − yx Definição 2.3. (Associador) Seja o associador um mapeamento trilinear na álgebra [. . . , . . . , . . .] : A3 −→ A (x, y, z) −→ [x, y, z] = (xy)z − x(yz) Observação 2.1.1. Assim como o comutador mede a falha da comutatividade o associador mede a falha da associatividade. Definição 2.4. (Forma Bilinear) Seja o corpo R e um espaço vetorial A de dimensão não-nula sobre R. Definimos uma forma bilinear B sobre V como um mapeamento B(x, y) : A×A −→ R de modo que, para x, x’,y, y’ ∈ A e a ∈ R, o mapeamento yR : x→ B(x, y) ou xL : y → B(x, y) é uma função linear sobre A. Nestas condições segue-se que: 1) B(x+x’,y)=B(x,y)+B(x’,y), 2) B(x,y+y’)=B(x,y)+B(x,y’), 3) B(ax,y)=aB(x,y), 4) B(x,ay)=aB(x,y). Definição 2.5. (Forma Bilinear não-degenerativa) Seja uma forma bili- near B(x,y) simétrica, ou seja, B(x,y)=B(y,x) ∀ x, y ∈ A. A forma bilinear simétrica é chamada não-degenerativa se , para B(a,x)=0, segue que a = 0. 21 2.2. O PROBLEMA DE HURWITZ Nota: 3. A geometria euclidiana vista analiticamente é o estudo do espaço ve- torial n-dimensional sobre R relativa a uma forma bilinear simétrica que serve para definir o comprimento de um vetor e cosseno do ângulo entre dois vetores. Tomando V = Rn podemos tomar uma forma bilinear como x · y = n ∑ 1 xiyi para x = (x1, . . . , xn),y = (y1, . . . , yn). Então x · x = ∑ x2 i = |x|2, o quadrado do comprimento de x,e se θ é o ângulo entre dois vetores x e y, então cos = (x.y)/|x|.|y|. O produto escalar de x e y, é bilinear no sentido que (x+ x′)y = x.y + x′.y x(y + y′) = x.y + x.y′ a(xy)y = a(xy) = x(ay) para os vetores x, x’, y, y’ e o número real a, e o produto escalar é simétrico e positivo definido (x · x > 0, se x 6= 0). Podemos considerar extensões da geometria euclidiana obtida em tro- cando Rn = A, um espaço vetorial de dimensão finita sobre R e o produto es- calar por alguma forma bilinear B(x,y) não-degenerativa. Podemos chamar essa forma bilinear B(x,y) uma métrica sobre A. A geometria obtida tomando B(x,y) simétrica é chamada geometria ortogonal e que a associada com a forma alterna- tiva é chamada geometria simpléctica. 2.2 O problema de Hurwitz Consideremos o problema de Adolf Hurwitz em 1898.“Para quais valores de n existem identidades da forma ( n ∑ 1 x2 i )( n ∑ 1 y2 i ) = n ∑ 1 z2 i (2.1) onde os zi são da forma 22 Caṕıtulo 2.Construção da análise octoniônica zi = ( n ∑ j,k=1 ) aijkxjyk, (2.2) aijk são números complexos?” Para n = 1 é trivial: ( 1 ∑ 1 x2 i )( 1 ∑ 1 y2 i ) = n ∑ 1 z2 i =⇒ x2 1y 2 1 = (x1y1) 2 Para n = 2 é trivial: ( 2 ∑ 1 x2 i )( 2 ∑ i y2 i ) = 2 ∑ 1 z2 i ⇒ (x2 1 + x2 2) · (y2 1 + y2 2) = z2 1 + z2 2 ⇒ (x1y1) 2 + (x1y2) 2 + (x2y1) 2 + (x2y2) 2 = (x1y1 − x2y2) 2 + (x1y2 + x2y1) 2 = z2 1 + z2 1 Para n = 4 : ( 4 ∑ 1 x2 i )( 4 ∑ 1 y2 i ) = 4 ∑ 1 z2 i ⇒ (x2 1+x 2 2+x 2 3+x 2 4)·(y2 1+y 2 2+y 2 3+y 2 4) = z2 1+z 2 2+z 2 3+z 2 4 ⇒ (x2 1y 2 1 +x2 2y 2 2 +x2 3y 2 3 +x2 4y 2 4) +(x2 1y 2 2 +x2 2y 2 1 +x2 3y 2 4 +x2 4y 2 3) +(x2 1y 2 3 +x2 2y 2 4 +x2 3y 2 1 +x2 4y 2 2) +(x2 1y 2 4+x 2 2y 2 3+x 2 3y 2 2+x 2 4y 2 1) = (x1y1 − x2y2−x3y3−x4y4) 2+(x1y2+x2y1+x3y4 − x4y3) 2 +(x1y3 − x2y4 + x3y1 + x4y2) 2 + (x1y4 + x2y3 − x3y2 + x4y 2 1) = (z1 + z2 + z3 + z4) 2. Para n = 8 : (x2 1 + x2 2 + x2 3 + x2 4 + x2 5 + x2 6 + x2 7 + x2 8)· (y2 1 + y2 2 + y2 3 + y2 4 + y2 5 + y2 6 + y2 7 + y8) = z2 1 + z2 2 + z2 3 + z2 4 + z2 5 + z2 6 + z2 7 + z2 8 ⇒ = (x1y1 − x2y2 − x3y3 − x4y4 − x5y1 − x6y2 − x7y3 − x8y4) 2 +(x1y2 + x2y1 + x3y4 − x4y3 − x5y2 + x6y1 − x7y4 + x8y3) 2 +(x1y3 − x2y4 + x3y1 + x4y2 − x5y3 + x6y4 − x7y1 − x8y2) 2 +(x1y4 + x2y3 − x3y2 + x4y1 − x5y4 − x6y3 + x7y2 + x8y1) 2 +(x1y5 + x2y6 + x3y7 + x4y8 + x5y5 − x6y6 − x7y7 − x8y8) 2 23 Caṕıtulo 2.Construção da análise octoniônica +(x1y6 − x2y5 − x3y8 + x4y7 + x5y6 + x6y5 − x7y8 + x8y7) 2 +(x1y7 + x2y8 − x3y5 − x4y6 + x5y7 + x6y8 + x7y5 − x8y6) 2 +(x1y8 − x2y7 + x3y6 − x4y5 + x5y8 − x6y7 + x7y6 + x8y5) 2 = (z1 + z2 + z3 + z4 + z5 + z6 + z7 + z8) 2. Hurwitz propôs e resolveu este problema usando um número de tentativas abor- dadas para encontrar outras e as identificou para n = 1, 2, 4, 8. Não se sabe quem primeiro descobriu a identidade antecedente à n = 2, soma de dois quadrados. Exemplos de identidades para a soma com n = 4 foi conhecido por Euler e Lagrange, concordando para L. E. Dickson. A soma da identidade com n = 4 jogam a importante regra para prova do teorema de Lagrange. Para n = 8 foi encontrado por C. F. Degen em 1822. Em 1843 Hamilton construiu uma álgebra de divisão 4-dimensional para a soma de quatro quadrados. Em 1845 Cayley construiu uma álgebra de divisão dando a identidade par a soma de oito quadrados. Uma álgebra análoga foi cons- trúıda por Graves em 1844. Hamilton notou que a existência da identidade (2.1) é equivalente à existência de uma álgebra de divisão de uma forma definida com dimensão n sobre R. Neste caso podemos definir em Rn a seguinte multiplicação: se x = (x1, . . . xn), y = (y1, . . . yn) e z = (z1, . . . zn) então x · y = z, onde zi são funções de xi e yi determinadas pela identidade (2.1) em termos dos números complexos fixados aijk. Desde que para tal álgebra (2.1) pode ser escrito como |x||y| = |x · y|. (2.3) Definimos em (2.3) z = xy como uma composição bilinear, obtendo uma álgebra não-associativa. Também denotamos ∑ x2 i como Q(x) e temos Q(x)Q(y) = Q(xy) ∀ x, y ∈ A. (2.4) Em conexão com o problema de Hurwitz surge a seguinte questão: O que acontece se no lugar das somas de quadrados considerarmos alguma forma quadrática não-degenerativa sobre o espaço, e em que esta influencia sobre o problema de Hurwitz? 24 Caṕıtulo 2.Construção da análise octoniônica O problema então se reduz à descrição de uma certa classe de álgebras: as Álgebras de Composição. Definição 2.6. (Álgebras de Composição) Álgebras de Composição (A,Q) é um par consistindo de uma álgebra não-associativa A com uma unidade e uma forma quadrática não-degenerativa Q sobre A de modo que Q(xy) = Q(x)Q(y) ∀x, y ∈ A. As álgebras de composição são uma natural generalização das álgebras dos números complexos, quatérnios e octônios e jogam uma importante regra na teoria das álgebras alternativas e de Jordan. Temos por objetivo verificar, a partir das considerações de (2.6), que A é uma álgebra de composição. Ao definir-se uma operação numa álgebra A, convém que esta satisfaça algumas propriedades. Uma propriedade se referindo às condições de regularidade é dada como: Definição 2.7. (Regularidade) Um elemento a ∈ A é regular para uma operação ∗ se satisfizer as seguintes condições: x ∗ a = y ∗ a, com x, y ∈ A⇒ x = y(a é regular à esquerda). e a ∗ x = a ∗ y, com x, y ∈ A⇒ x = y(a é regular à direita) Seja A uma álgebra não associativa. Podemos mostrar que modificando o produto em A, assumimos que tem uma unidade. Por hipótese, escolhermos o elemento v ∈ A de modo que Q(v) 6= 0 e escrevemos u = Q(v)−1v2 = 1. Então Q(u) = 1, temos Q(xu) = Q(x) = Q(ux) ∀x. Portanto, chamemos uR e uL as multiplicações à direita e à esquerda em relação à u, e temos que são transformações ortogonais de A em relação à Q. Assim estas são inverśıveis e seus inversos também são ortogonais. Definimos então um novo produto x ∗ y em A por x ∗ y = (u−1 R x)(u−1 L y) e temos Q(x ∗ y) = Q(u−1 R x) ∗Q(u−1 L y) = Q(x) ∗Q(y). 25 Caṕıtulo 2.Construção da análise octoniônica Agora definimos uma unidade para nossa foram quadrática Q em relação a mul- tiplicação ∗. Sendo u−1 L u2 = u−1 L (uLu) = u ⇒ u2 uL = uLu uL = u e u−1 R u2 = u−1 R (uRu) = u ⇒ u2 uR = uRu uR = u, então u2 ∗ x = (u−1 R u2)(u−1 L x) = u(u−1 L x) = x x ∗ u2 = (u−1 R x)(u−1 L u2) = (u−1 R )u = x Portanto u2 é uma unidade relativa à multiplicação ∗. Podemos então, reverter a notação original xy por x∗y e assumimos que a álgebra A tem unidade, denotada por 1. O próximo passo é verificar que A contém uma forma quadrática Q(xy) = Q(x)Q(y) ∀x, y ∈ A. Para isto faremos algumas considerações. Definição 2.8. (Forma Quadrática) Uma forma quadrática Q é um mapea- mento Q : A −→ R em uma base R de modo que i) Q(ax) = a2Q(x), a ∈ F, x ∈ A. ii) B(x, y) = Q(x+ y)−Q(x)−Q(y) é bilinear, isto é, (x, y) −→ B(x, y) é uma forma bilinear simétrica. Definição 2.9. (Involução) Seja j : x −→ x̄ uma função linear definida como uma involução em A. Introduzimos map j = −S1, onde S1 é a simetria no hiperplano ortogonal a 1, j : x −→ B(x, 1)− x, abreviando x̄ = j(x), T (x) = B(x, 1). Nota: 4. A definição (2.7) é equivalente à definição (2.9). Então temos Q(x̄) = Q(x), ¯̄x = x (2.5) e podemos enunciar o seguinte lema: 26 Caṕıtulo 2.Construção da análise octoniônica Lema 2.1. Sejam as seguintes propriedades x̄x = Q(x) = xx̄ (2.6) x̄(xy) = (x̄x)y = Q(x)y (2.7) (yx)x̄ = y(xx̄) = Q(x)y (2.8) xy = ȳx̄. (2.9) A demonstração do Lema (2.1) será omitida e pode ser encontrada, para uma análise mais completa, em [4]. Da definição de x̄, temos x + x̄ = T (x). Além disso, (2.8) e (2.9) resultam nas relações do associador [x̄, x, y] = 0 = [y, x, x̄]. Desde que [1, x, y] = 0 = [y, x, 1] e x = T (x)− x̄, estas relações implicam em [x, x, y] = 0 = [y, x, x]. (2.10) Portanto A é uma álgebra alternativa no sentido de que a identidade (2.10) é válida ∀ x, y ∈ A. Temos agora mostrado que se (A,Q) é uma álgebra de composição, então A é alternativa com involução j : x −→ x̄ de modo que x̄x = Q(x). Podemos em (2.10) assumir a seguinte identidade para álgebras alternativas: Definição 2.10. (Identidade de Moufang) Seja A uma álgebra alternativa. Então definimos a identidade (ux)(yu) = u(xy)u, [y(xy)]u = y[x(yu)], u[y(xy)] = [(uy)x]y. como sendo as identidades de R.Moufang ∀ x, y, u ∈ A. 27 2.3. CONSTRUÇÃO CAYLEY-DICKSON Agora supondo A é a álgebra alternativa com 1 e involução j :−→ x̄ de modo que x̄x = Q(x) onde Q(x) é uma forma não-degenerativa. Então por linearização temos x̄y + ȳx = Q(x, y). (2.11) Em (2.11) trocamos y = 1 e obtemos x + x̄ = T (x) onde T (x) = Q(x, 1). Então de (2.11) e x+ x̄ = T (x), temos x̄(xy) = (x̄x)y = Q(x)y. Agora se fizermos Q(xy) = (x̄y)(xy) = (ȳx̄)(xy) = [(T (y)− y)x̄](xy) = (T (y)x̄− yx̄)(xy) = T (y)x̄(xy)− (yx̄)(xy) = Q(x)T (y)y − y(x̄x)y = Q(x)[T (y)− y]y = Q(x)(ȳy) = Q(x)Q(y). Logo seja (A,Q) uma álgebra de composição onde Q(xy) = Q(x)Q(y). Para isto conclúımos que Teorema 2.1. Alguma álgebra alternativa (A,Q) é alternativa e tem a involução j : x −→ x̄ de modo x̄x = Q(x). Reciprocamente, seja A a álgebra alternativa com unidade e a involução j : x −→ x̄ de modo que x̄x = Q(x), onde Q(x) é uma forma quadrática não-degenerativa. Então (A,Q) é uma álgebra de composição. Nossa próxima seção tem por objetivo construir todas álgebras de com- posição. Esta constitui uma generalização da construção dos números complexos como pares de reais. 2.3 Construção Cayley-Dickson O processo Cayley-Dickson permite construir uma nova álgebra com involução que contenha A como subálgebra. Se a dimensão da álgebra A é igual a m, então a dimensão da nova álgebra é igual a 2m. 28 Caṕıtulo 2.Construção da álgebra octoniônica Tomando os resultados obtidos do final da seção 2.2, A é uma álgebra de composição não-associativa com unidade 1 e involução j, que contém uma forma quadrática Q(x) não-degenerativa. Então, de (2.11) e x+ x̄ = T (x), consideremos um elemento não-nulo c da base de R. Considerando A, j e c podemos construir então uma nova álgebra D satisfazendo as mesmas condições que A e tendo dimensão 2 dimA. Seja D = A2, o espaço vetorial do par (x, y), x, y ∈ A, com a soma direta usual da estrutura de um espaço vetorial. Introduzindo um produto binário nessa nova álgebra D pela fórmula, (u, v)(x, y) = (ux+ cȳv, yu+ vx̄). (2.12) Temos que (2.12) é bilinear e (1,0) é unidade sobre D. Podemos identifi- car A como subálgebra de D produzida a partir dos elementos (u, 0) onde u ∈ A. Portanto temos que a involução j sobre A como mapeamento linear j : (x, y) −→ (x, y) = (x̄,−y). (2.13) é a involução sobre a nova álgebra D. Além disso temos (x, y)(x, y) = (x̄,−y)(x, y) = ((Q(x)− cQ(y)), 0) = (Q(x)− cQ(y)). O par (x, y) −→ Q(x)−cQ(y) é uma forma quadrática sobre D. A forma bilinear correspondente ((u, v), (x, y)) −→ B(u, x)− cB(v, y) é não-degenerativa. Logo D satisfaz as mesmas condições que A como no teorema (2.1) e podemos chamar D de c− dobro de A. Para isto sejam as seguintes condições do lema em relação à D : Lema 2.2. 1) O c− dobro D é comutativa e associativa se e somente se A é comutativa e associativa e j = 1. 2) D é associativa se e somente se A é comutativa e associativa. 3) D é alternativa se e somente se A é associativa. 29 Caṕıtulo 2.Construção da álgebra octoniônica Prova Tomemos X = (x, y), U = (u, v), Z = (z, t) para x, y, u, v, z, t ∈ A. Então usando o comutador (2.2), o associador (2.3) e usando (2.12) temos [U,X] = [(u, v), (x, y)] = [(u+ iv), (x+ iy)] = (u+ vi)(x+ iy)− (x+ iy)(u+ vi) = (ux+ uyi+ vxi− vy)− (xu+ xvi+ yxi− yv) = ux+ uyi+ vxi− vy − xu− xvi− yxi+ yv = ux− vy − xu+ yv + i(uy + vx− xv − yu) = ([x, u] + c(ȳv − v̄y), y(u− ū+ v(x̄− x)) (2.14) da mesma forma obtemos [U,X,Z] = ([u, x, z] + c{t̄(yu)− u(t̄y) + t̄(vx̄)− (x̄t̄)v + (ȳv)z −(zȳ)v}, t(ux)− (tx)u+ (yu)z̄ − (yz̄)u+ (vx̄)z̄ −v(z̄x̄) + c{t(ȳv)− v(ȳt)}). (2.15) Como A é uma subálgebra de D, temos que D é comutativa ou associativa, então A é comutativa ou associativa. De (2.14) com u = 0 = x, v = 1 mostra que [U,X] = 0 implica que ȳ = y. Reciprocamente em (2.14) A é associativa e co- mutativa, então D é comutativa (1). Em (2.15) se substituirmos v = x = z = 0 e t = 1 obtemos a condição necessaria yu = uy, y, u ∈ A para a associativi- dade de D. Logo D associativa temos que A é associativa e comutativa. Assim provamos que se A é associativa e comutativa, então D é associativa (2). De (2.10) para alternatividade, D é alternativa se e somente se [X,X,Z] = 0 ∀X,Z e X + X̄ = T (X). Se considerarmos a relação [X,Y, Z] = (XY )Z −X(Y Z) = Z(Y X) − (ZY )X = −[Z, Y ,X]. Então temos [Z,X,X] = 0 ∀Z,X. Assumindo A alternativa. Tomamos U = X = (x̄,−y) em (2.15) e usando o associador, obtemos [X,X,Z] = (c[x̄, t̄, y],−[y, z̄, x̄]) 30 Caṕıtulo 2.Construção da álgebra octoniônica o qual mostra que [X,X,Z] = 0 ∀X,Z, se e somente se A é associativa. Com isto conclúımos que D é alternativa e provamos (3). Nota: 5. As álgebras que estamos considerando neste lema são álgebras de com- posição se e somente se são álgebras alternativas. Assim podemos considerar os exemplos: 1) Tomando A = R, não há restrições quanto à comutatividade e associativi- dade. 2) Um dobro de A é uma álgebra associativa e comutativa de acordo com o primeiro item do Lema (2.2) que é bidimensional. Estas álgebras de com- posição são álgebras quadráticas ou álgebras dos números complexos, uma extensão de R. 3) Um dobro das álgebras quadráticas é associativo mas não comutativo. São álgebras 4-dimensional chamadas álgebras quaterniônicas. 4) Um dobro destas álgebras são chamadas álgebras octoniônicas e não são nem comutativas nem associativas. Um resultado do processo de construção da nova álgebra a partir da álgebra A podemos dizer que Proposição 2.1. A = R(portanto comutativa)⇔ D é comutativa. Proposição 2.2. A é comutativa e associativa ⇔ D é associativa. Proposição 2.3. A é associativa e normada ⇔ D é alternativa e normada. Proposição 2.4. A é normada ⇔ D é normada. Através da construção Cayley-Dickson obtemos todas as álgebras de com- posição. Faremos a verificação através da análise do teorema de Hurwitz genera- lizado na próxima seção. 31 2.4. ANÁLISE DO TEOREMA DE HURWITZ GENERALIZADO 2.4 Análise do teorema de Hurwitz generalizado O que acontece se no lugar da soma de quadrados, alguma forma quadrática não-degenerativa sobre o corpo dos R for considerada? Hurwitz em 1898 prova que a identidade de interesse somente é posśıvel para n = 1, 2, 4, 8. Antes de analisarmos os resultados de Hurwitz para essas identidade, faremos a seguinte observação à respeito de cada passo que analisamos para obtermos uma álgebra de composição: Proposição 2.5. Seja A uma álgebra de composição definida em (2.6) então: 1) A álgebra A tem uma unidade; 2) A álgebra A contém uma forma Q sobre A de modo que Q(xy) = Q(x)Q(y),∀x, y ∈ A; 3) A forma quadrática Q é não-degenerativa; 4) Essa forma quadrática possui uma forma bilinear B(x, y) não-degenerativa; 5) Em A definimos uma involução j de modo que x̄ = j(x), ∀x ∈ A; Teorema 2.2. Seja a lista completa de todas álgebras de composição sobre R de dimensão finita: (I) o corpo R; (II) as álgebras quadráticas; (III) as álgebras quaterniônicas; (IV ) as álgebras octoniônicas; Prova: Temos observado, a partir dos resultados analisados, que a álgebra A considerada é uma álgebra de composição. Então: (I): Tomando A = R, a unidade 1 esta em A. A álgebra A contém uma forma quadrática Q de modo que ∀a ∈ R, Q(a) = a2. A forma quadrática Q possui uma forma bilinear B(a, b) = Q(a + b) − Q(a) − Q(b),∀a, b ∈ R. Essa forma bilinear é não-degenerativa como definida em (2.5). O corpo R é ordenado e seu próprio conjugado. Logo uma ∀a ∈ R, ā = j(a) e j pode ser considerado uma involução em R. Logo dimensão de R = 20 = 1, então em dimensão finita. Portanto R é uma álgebra de composição. Além disse afirmamos, da definição (1.14), que A é uma álgebra de divisão normada. 32 Caṕıtulo 2.Construção da análise octoniônica (II): Se R ⊂ A, A contém uma subálgebra quadrática C que é não-degenerativa. Se A coincide com esta subálgebra, então ela é quadrática. A unidade 1 esta em C. A álgebra C contém uma forma quadrática Q de modo que ∀x, y ∈ C, Q(x, y) = Q(x)Q(y). A forma quadrática Q possui uma forma bilinear B(x, y) = Q(x+y)− Q(x)−Q(y),∀x, y ∈ C não-degenerativa. O conjugado de x é x̄ e estabelecemos uma involução j : x −→ x̄ em C. Logo dimensão de C = 21 = 2. Logo C é uma álgebra de composição. Também afirmamos que A é uma álgebra de divisão normada. (III): Se C ⊂ A, A contém uma subálgebra H que é não-degenerativa. Se A coincide com esta subálgebra, temos então uma álgebra quaterniônica. A uni- dade 1 esta em H. A álgebra H contém uma forma quadrática Q de modo que ∀x, y ∈ H, Q(x, y) = Q(x)Q(y). A forma quadrática Q possui uma forma bili- near B(x, y) = Q(x+y)−Q(x)−Q(y),∀x, y ∈ H não-degenerativa. O conjugado de x é x̄ e estabelecemos uma involução j : x −→ x̄ em H. Logo dimensão de H = 22 = 4. Logo H é uma álgebra de composição. Também afirmamos que A é uma álgebra de divisão normada. (IV): Se H ⊂ A, A contém uma subálgebra O que é não-degenerativa. Se A coincide com esta subálgebra, temos então uma álgebra octoniônica. A uni- dade 1 esta em O. A álgebra O contém uma forma quadrática O de modo que ∀x, y ∈ O, Q(x, y) = Q(x)Q(y). A forma quadrática Q possui uma forma bili- near B(x, y) = Q(x+y)−Q(x)−Q(y),∀x, y ∈ O não-degenerativa. O conjugado de x é x̄ e estabelecemos uma involução j : x −→ x̄ em O. Logo dimensão de O = 23 = 8. Logo O é uma álgebra de composição e também dizemos que A é uma álgebra de divisão normada octoniônica. Podemos obter através do processo Cayley-Dickson uma forma para as bases referentes a cada álgebra e suas respectivas tábuas de multiplicação: (I): A álgebra R é considerada A0 com a base i20 = i0. 33 Caṕıtulo 2.Construção da análise octoniônica (II): Consideremos A1 como a álgebra quadrática C, e c1 − dobro de A1. A base que escolhemos para A1 é i0 = 1 e i1 = (0, 1). Temos que i21 = c1. (2.16) (III): No próximo passo temos a álgebra A2, H, e formamos o c2 − dobro A2 de A1 escrevendo i2 = (0, 1) em A2. A base formada é (i0, i1, i2, i3 = i1i2). A parte essencial da tábua de multiplicação da álgebra quaterniônica é i21 = c1. i22 = c2. i23 = −c1c2. Logo i1i2 = i3 = −i2i1 i2i3 = −c2i1 = −i3i2 (2.17) i3i1 = −c1i2 = −i1i3. (IV): Finalmente consideramos a álgebra octoniônica A3, O,que é o c3− dobro de A2 e escrevemos a base i0 = 1, i1, i2, i3 = i1i2, i4, i5 = i1i4, i6 = i2i4, i7 = (i1i2)i4. (2.18) A tábua de multiplicação para A3 é ∗ i0 i1 i2 i3 i4 i5 i6 i7 i0 i0 i1 i2 i3 i4 i5 i6 i7 i1 i1 c1i0 i3 c1i2 i5 c1i4 −i7 −c1i6 i2 i2 −i3 c2i0 −c2i1 i6 i7 c2i4 c2i5 i3 i3 −c1i2 c2i1 −c1c2i0 i7 c1i6 −c2i5 −c1c2i4 i4 i4 −i5 −i6 −i7 c3i0 −c3i1 −c3i2 −c3i3 i5 i5 −c1i4 −i7 −c1i6 c3i1 −c1c3i0 c3i3 c1c3i2 i6 i6 i7 −c2i4 c2i5 c3i2 −c3i3 −c2c3i0 −c2c3i1 i7 i7 c1i6 −c2i5 c1c2i4 c3i3 −c1c3i2 c2c3i1 c1c2c3i0 34 Caṕıtulo 2.Construção da análise octoniônica Através dessas bases referentes as álgebras, podemos definir formas quadráticas conforme definição (2.6) para álgebras de composição. Em A0 se tomarmos x = x0i0 , aplicando o primeiro resultado (2.6) do lema (2.1), obtemos Q(x) = x2 0. (2.19) Para A1 se tomarmos x = x0i0 + x1i1, Q(x) = x2 0 − c1x2 1. (2.20) Da mesma forma tomando y = y0i0 + y1i1 temos x.y = (x0i0 + x1i1)(y0i0 + y1i1) = (x0y0 + x1y1c1)i0 + (x0y1 + x1y0)i1 a forma quadrática Q(x) para A1 fica Q(x)Q(y) = (x2 0− c1x2 1)(y 2 0 − c1y2 1) = (x0y0 + c1x1y1) 2− c1(x0y1 + c1x1y 2 0) (2.21) Em A2 se tomarmos x = x0i0 + x1i1 + x2i2 + x3i3, Q(x) = x2 0 − c1x2 1 − c2x2 2 + c1c2x 2 3 (2.22) Da mesma forma tomando y = y0i0 + y1i1 + y2i2 + y3i3 temos x.y = (x0i0 + x1i1 + x2i2 + x3i3)(y0i0 + y1i1 + y2i2 + y3i3) = (x0y0 + x1y1c1 + x2y2c2 − x3y3c1c2c3)i0 + (x0y1 + x1y0 − x2y3c2 + x3y2c2)i1 + (x0y2 + x1y3c1 + x2y0 − x3y1c1)i2 + (x0y3 + x1y2 − x2y1 + x3y0)i3 (2.23) a forma quadrática Q(x) para A2 fica Q(x)Q(y) = (x2 0 − c1x2 1 − c2x2 2 + c1c2x 2 3)(y 2 0 − c1y2 1 − c2y2 2 + c1c2y 2 3) = (x0y0 + c1x1y1 + c2x2y2 − c1c2x3y3) 2 −c1(x0y1 + x1y0 − c2x2y3 − c2x3y2) 2 −c2(x0y2 + x2y0 + c1x1y3 − c1x3y1) 2 35 Caṕıtulo 2.Construção da análise octoniônica +c1c2(x0y3 + x3y0 + x1y2 − x2y1) 2. (2.24) Da mesma forma, tomando em A3 x = x0i0 + x1i1 + x2i2 + x3i3 + x4i4 + x5i5 + x6i6 + x7i7, Q(x) = x2 0 − c1x2 1 − c2x2 2 + c1c2x 2 3 − c3x2 4 + c1c3x 2 5 + c2c3x 2 6 − c1c2c3x2 7. (2.25) Da mesma maneira y = y0i0 + y1i1 + y2i2 + y3i3 + y4i4 + y5i5 + y6i6 + y7i7 então x.y = (x0i0 + x1i1 + x2i2 + x3i3 + x4i4 + x5i5 + x6i6 + x7i7) ( y0i0 + y1i1 + y2i2 + y3i3 + y4i4 + y5i5 + y6i6 + y7i7) =(x0y0 + x1y1c1 + x2y2c2 − x3y3c1c2 + x4y4c3 − x5y5c1c3 − x6y6c2c3 + x7y7c1c2c3)i0 +(x0y1+x1y0−x2y3c2+x3y2c2−x4y5c3+x5y4c3−x6y7c2c3+x7y6c2c3)i1 +(x0y2 + x1y3c1 + x2y0 − x3y1c1 − x4y6c3 + x5y7c1c3 + x6y4c3 − x7y5c1c3)i2 +(x0y3 + x1y2 − x2y1 + x3y0 − x4y7c3 + x5y6c3 − x6y5c3 + x7y4c3)i3 +(x0y4 + x1y5 + x2y6c2 − x3y7c1c2 + x4y0 − x5y1c1 − x6y2c2 + x7y3c1c3)i4 +(x0y5 + x1y4 + x2y7c2 − x3y6c2 − x4y1 + x5y0 + x6y3c2 − x7y2c2)i5 +(x0y6 − x1y7c1 + x2y4 + x3y5c1 − x4y2 − x5y3c1 + x6y0 + x7y1c1)i6 +(x0y7 − x1y6 + x2y5 + x3y4 − x4y3 − x5y2 + x6y1 + x7y0c1c3)i7, (2.26) a forma quadrática Q(x) para A3 fica Q(x)Q(y) = (x2 0 − c1x2 1 − c2x2 2 + c1c2x 2 3 − c3x2 4 + c1c3x 2 5 + c2c3x 2 6 − c1c2c3x2 7) ( y2 0 − c1y2 1 − c2y2 2 + c1c2y 2 3 − c3y2 4 + c1c3y 2 5 + c2c3y 2 6 − c1c2c3y2 7) =(x0y0+x1y1c1+x2y2c2+x3y3c1c2+x4y4c3+x5y5c1c3+x6y6c2c3+x7y7c1c2c3) 2 −c1(x0y1 + x1y0 + x2y3c2 + x3y2c2 + x4y5c3 + x5y4c3 + x6y7c2c3 + x7y6c2c3) 2 −c2(x0y2 + x1y3c1 + x2y0 + x3y1c1 + x4y6c3 + x5y7c1c3 + x6y4c3 + x7y5c1c3) 2 + c1c2(x0y3 + x1y2 + x2y1 + x3y0 + x4y7c3 + x5y6c3 + x6y5c3 + x7y4c3) 2 −c3(x0y4 + x1y5 + x2y6c2 + x3y7c1c2 + x4y0 + x5y1c1 + x6y2c2 + x7y3c1c3)i 2 + c1c3(x0y5 + x1y4 + x2y7c2 + x3y6c2 + x4y1 + x5y0 + x6y3c2 + x7y2c2) 2 + c2c3(x0y6 + x1y7c1 + x2y4 + x3y5c1 + x4y2 + x5y3c1 + x6y0 + x7y1c1) 2 −c1c2c3(x0y7 + x1y6 + x2y5 + x3y4 + x4y3 + x5y2 + x6y1 + x7y0c1c3) 2. (2.27) 36 2.5. CONCLUSÃO Tomando ci = −1 obtemos as identidades que listamos para R,C,H,O para o problema dos n quadrados de Hurwitz. Através do processo de obter- mos as bases e respectivas tábuas de multiplicacao dessas álgebras conseguimos determinar as formas quadradas e as leis de composição correspondentes. A álgebra O de Cayley-Dickson é uma álgebra de divisão onde, para algum x 6= 0 ∈ O temos x−1 onde x · x−1 = x−1 · x = 1. Vemos então que alguma álgebra de composição cuja forma quadrática é não-nula é uma álgebra de divisão. 2.5 Conclusão A álgebra dos octônios é uma álgebra de composição. Surgem em conexão com um problema sobre formas quadráticas considerado primeiramente por Hurwitz. Através do processo Cayley-Dickson vemos que são o c-dobro da álgebra de H. Seja ∑ x2 i = |x|2 e ∑ y2 i = |y|2, então do resultado (2.1) chegamos que a álgebra de composição dos octônios, de (1.14), é uma álgebra de divisão normada. Por- tanto o problema de Hurwitz em determinar todas as álgebras de composição sobre R só é posśıvel para n = 1, 2, 4 e 8. Se continuarmos aplicando o pro- cesso Cayley-Dickson para os octônios, obtemos uma seqüência de c-álgebras de dimensões 16, 32, 64, assim por diante. A primeira delas é chamada de sedênios e é 16-dimensional. Todas c-álgebras nesta seqüência são satisfatoriamente nor- madas mas não reais, nem comutativas, nem alternativas. Todas tem inversos multiplicativos, mas não são álgebras de divisão, pois o cálculo mostra que os sedênios e todas as outras, tem zero divisores. Em [11] e [12], vemos que os ze- ros divisores da norma dos sedênios formam um subespaço que é homeomórfo ao grupo de Lie G2 que definiremos no próximo caṕıtulo. No caṕıtulo 4 deste trabalho faremos uma aplicação da relação de Moivre clássica para octônios com conexões à operadores da teoria de Fueter. Temos por objetivo fazer a extensão para a álgebra dos sedênios com posśıveis resultados. 37 Caṕıtulo 3 Octônios relacionados à estruturas excepcionais Neste caṕıtulo faremos uma breve apresentação dos octônios relacionados a es- truturas excepcionais como, por exemplo, os grupos de Lie e álgebras de Lie. Tomamos como base para esta análise as referências [4], [5], [13], [14], [15] e [16]. Na primeira parte estaremos analisando os grupos de Lie, especialmente os gru- pos de Lie excepcionais. Na segunda parte iremos tratar das respectivas álgebras excepcionais relacionadas. 3.1 Octônios e os grupos de Lie excepcionais Grupos de Lie são bonitos e importantes pois tem suas bases em duas grandes di- visões da matemática: álgebra e geometria. Suas propriedades algébricas derivam dos axiomas de grupo. Suas propriedades geométricas derivam da identificação das operações de grupo com pontos num espaço topológico. 38 Octônios relacionados à estruturas excepcionais 3.1.1 Introdução A teoria de Lie surgiu em 1870 desenvolvida por Marius Sophus Lie, um noru- eguês que publicou alguns artigos com colaborações de F. Engel. Inicialmente foi desenvolvida para facilitar a solução de equações diferenciais. Também era chamada de teoria dos “grupos cont́ınuos e finitos”. Lie em seu programa tenta usar ferramentas chamadas teoria dos gru- pos pra resolver, ou mais simplificar, equações diferenciais ordinárias. São uma extensão dos métodos de Évareste Galois para equações algébricas no estudo de equações diferenciais. Embora mais cedo Galois já tinha usado a teoria dos grupos para resolver equações algébricas quadráticas, cúbicas e quárticas. Primeiramente Lie considerou apenas a noção de “grupos de transformações” a um parâmetro gerado por “muitas repetições infinitesimais”. Tomou o grupo das matrizes n × n, A ∈Mn(C). Isto gera o grupo a um parâmetro consistindo das transformações etA = ∑ n≥0 tn · An n! (t ∈ C). (3.1) A série é absolutamente convergente para todo t, e satisfaz a relação esA · etA = e(s+t)A (s, t ∈ C). (3.2) A procura por pontos fixados para grupos a um parâmetro é então reduzido a um problema da álgebra linear. Mais geralmente, um espaço vetorial X = ∑ iXi(x) · ∂ ∂xi , geram equações dife- renciais dxi dt = Xi(x1, . . . , xn) (i = 1, . . . ,m). (3.3) Se x(x0, t) = x(x0, t)1 . . . , x(x0, t)n denota a curva da integral de x0 para t = 0, então temos, em (3.1), x(x0, t)i = ∑ j≥0 Xjxi j! := (etX(x0))i (3.4) 39 Octônios relacionados à estruturas excepcionais e para valores de s, t em (3.2) esX(etX(x0)) = e(s+t)X(x0). (3.5) Os pontos fixos dessas transformações são os zeros do espaço vetorial. Aqui as componentes do espaço vetorial definido por A são Xi ∑ j aijxj, onde aij são os coeficientes de A. A noção de grupo abstrato não era familiar para a época. Podemos dizer que a noção básica de grupos que usamos nos dias atuais teve sua origem nos grupos de transformações. Supondo que U é um conjunto aberto de Cn com coordenadas xi, e V uma vizinhança de origem em Cp com coordenadas a1, . . . , ap. Seja G um conjunto de transformações de U parametrizado por V . Sejam f1, . . . fn : U × V → C funções holomórfas de modo que fixando a ∈ V , a aplicação ga : x −→ f(x, a) (x ∈ U, a ∈ V )), (3.6) onde ga = f(x, a) = (f1(x, a), . . . fn(x, a)) tem as coordenadas fi(x, a), define uma transformação local de U , i.e, do conjunto aberto U sobre outro subconjunto aberto de Cn para cada a ∈ V . Se g0 é o mapeamento identidade de U e gb(ga(x)) = gϕ(a,b)(x) onde ϕ = (ϕ1, . . . , ϕn) e ϕi : V × V −→ C, então este define um grupo G de transformações de U . Tomando primeiro derivações com respeito a a na origem em Cp, Lie ob- teve transformações infinitesimais e mostrou que o grupo a um parâmetro gerado por alguma delas pertence a G, e que elas formam um espaço vetorial fechado sob os “bracket”de transformações infinitesimais, ou seja, um objeto que hoje é chamado de “Álgebra de Lie” que é denotado por g . Um exemplo é grupo de transformações lineares inverśıveis: as exponen- ciais dos elementos de uma álgebra de Lie de matrizes formam, geram, um grupo 40 Octônios relacionados à estruturas excepcionais de Lie. O termo “álgebra de Lie” foi popularizado a partir de 1920 com Her- mann Weyl, em substituição ao “grupo infinitesimal” que se utilizava desde os tempos de Lie. Os “grupos infinitesimais” foram considerados objetos concretos associados a grupos de transformações. 3.1.2 Conceitos de topologia Definição 3.1. (Conjunto fechado) Um conjunto S é fechado se seu comple- mentar Sc é aberto. Definição 3.2. (Conjunto aberto) Dizemos que um conjunto G é aberto se todos seus pontos são pontos interiores, ou seja, G é vizinhança de cada um de seus pontos. Definição 3.3. (Caminho) Dados dois pontos x e y de um espaço topológico M, um caminho ligando x a y em M é uma aplicação cont́ınua f : [a, b] ⊂ R → M tal que f(a) = x e f(b) = y. Figura 3.1: Caminho Definição 3.4. (Função cont́ınua) Uma função f : R → R é cont́ınua no ponto x0 se para cada ε > 0 ∃ δ > 0 tal que |x − x0| < δ ⇒ |f(x) − f(x0)| < ε. A função f é cont́ınua se o é em cada pinto do seu domı́nio. Definição 3.5. (Função anaĺıtica) Seja uma função f definida em um domı́nio complexo X, diz-se que: i) f é anaĺıtica em z0 ∈ X se, e somente se, f é diferenciável em cada ponto z0 de uma vizinhança V ⊂ X do ponto z0; 41 Octônios relacionados à estruturas excepcionais ii) f é anaĺıtica em um domı́nio X se, e somente se, f é anaĺıtica em cada ponto z0 de X. Definição 3.6. (Vizinhança) Seja p um ponto de um espaço topológico M. Um subconjunto N de M é uma vizinhança de p se, e somente se, N contém um conjunto aberto G que contém p: p ∈ G ⊂ N. Definição 3.7. (Espaço Topológico) Um espaço localmente euclidiano de di- mensão d é um espaço topológico M em que cada ponto p ∈ M possui um vizi- nhança U ⊂M homeomórfa a um aberto de Rd. Figura 3.2: Espaço Topológico Ao homeomorfismo φ : U −→ Rd chamamos um sistema de coordenadas , às funções φi = xi ◦ φ chamamos funções coordenadas e designamos o sistema de coordenadas abreviadamente por (U, φ). Definição 3.8. (Espaço conexo) Um espaço topológico M é conexo, se e so- mente se, (i) M não é a união de dois aberto não vazios disjuntos, ou (ii) M e ∅ são os únicos subconjuntos de M que são, simultaneamente, abertos e fechados. Definição 3.9. (Domı́nio simplesmente conexo) Um domı́nio, ou região, é chamado simplesmente conexo se todo caminho simples e fechado contido nesse domı́nio tem em seu interior só pontos do domı́nio. 42 Octônios relacionados à estruturas excepcionais O espaço topológico que parametriza os elementos em um grupo é cha- mado de variedade. Definição 3.10. (Manifold) Um manifold ou Variedade (topológica) é um espaço de Hausdorff em que todo ponto tem uma vizinhança homeomórfa. Definição 3.11. (Espaço Hausdorff) Um espaço de Hausdorff é um espaço topológico M, onde x, y ∈M existem vizinhanças U de x e V de y, tal que U ∩ V. O conceito de variedade é uma generalização da idéia de superf́ıcie em R3, que é uma superf́ıcie com um plano tangente em cada ponto. Um manifold é um espaço em que qualquer região em pequena escala parece Euclidiano. Veja o exemplo: Exemplo 3.1.1. Todo ponto sobre uma superf́ıcie de uma esfera unitária S2 ⊂ R3 : x2 + y2 + z2 = 1, tem uma vizinhança que é semelhante, numa pequena distância, a um pedaço do plano R2. Localmente, os dois espaços S2 e R2 são topologicamente equivalentes mas globalmente são diferentes. Figura 3.3: Cada ponto p sobre a esfera S2 é cercada por uma vizinhança aberta que é igual a uma vizinhança aberta em algum ponto no plano R2. Localmente os dois espaços são iguais. Globalmente são diferentes. Definição 3.12. (Estrutura diferenciável) Uma estrutura diferenciável de classe Ck(1 ≤ k ≤ ∞) num espaço topológico M de dimensão d, é uma coleção de sistemas de coordenadas C = {(Uα, φα) : α ∈ A} que satisfaz as seguintes propriedades: i) {Uα : α ∈ A} é uma cobertura aberta de M, i.e., ⋃ α∈A Uα = M ; 43 Octônios relacionados à estruturas excepcionais ii) As funções de transição φα ◦ φ−1 β são de classe Ck para quaisquer α, β ∈ A; iii) A coleção C é maximal: se (U, φ) é um sistema de coordenadas com a propriedade de que φ ◦ φ−1 α e φ−1 α ◦ φ são de classe Ck ∀ α ∈ A, então (U, φ) ∈ C. Um par (M, C) chamamos de uma variedade diferenciável de dimensão d. Figura 3.4: Esboço de Variedade Diferenciável Exemplo 3.1.2. Uma esfera n-dimensional, com topologia relativa é um espaço topológico: se N = (0, . . . , 0, 1) e S = (0, . . . , 0,−1) designam os pólos norte e sul, então obtemos dois sistemas de coordenadas (Sn−{N}, πN) e (Sn−{S}, πS), onde πN e πS designam as projeções estereográficas por N e S. Figura 3.5: A estrutura diferenciável principal na esfera obtém-se considerando a coleção de coordenadas que contém estes dois sistemas de coordenadas. 44 Octônios relacionados à estruturas excepcionais Definição 3.13. (Grupo Topológico) Podemos definir um grupo topológico como sendo uma variedade topológica G equipada da estrutura de um grupo de modo que as operações de grupo são cont́ınuas, e uma ação cont́ınua de G sobre uma variedade topológica M ser um homeomorfismo de G dentro do grupo de homeomorfismos de M. 3.1.3 Propriedades topológicas A estrutura geométrica de um grupo de Lie vem da identificação de cada elemento no grupo com um ponto no mesmo espaço topológico. A conexão entre a álgebra e estruturas topológicas é que a multiplicação de grupos e um map x→ x−1 são cont́ınuos. Definição 3.14. (Grupos de Lie) Um grupo de Lie é uma variedade dife- renciável G equipado com a estrutura de um grupo de modo que as operações de grupo como definido em (1.2) são diferenciáveis. Definição 3.15. (Grupos Cont́ınuos) Um grupo cont́ınuo de dimensão n é um conjunto cujos elementos estão em correspondência biuńıvoca com os pon- tos de uma variedade diferenciável n-dimensional, e se estrutura como um grupo satisfazendo os axiomas apresentados no caṕıtulo 1. Ambas estruturas estão re- lacionadas pelo fato de que a lei de composição dos elementos do grupo, é uma aplicação cont́ınua sobre a variedade. Observação 3.1.1. Continuidade quer dizer que para algum ponto na variedade existem pontos na variedade que são próximos a este, quanto se queira. Podemos dizer que grupos de Lie são grupos cont́ınuos. Definição 3.16. (Ação da Variedade) Uma ação da variedade sobre um grupo de Lie G numa variedade diferenciável M é um função φ : G×M −→M de modo que φ(1, x) = x, φ(g2, φ(g1, x)) = φ(g2g1) · x. 1 · x = x, g2 · (g1 · x) = (g2g1) · x. 45 Octônios relacionados à estruturas excepcionais Definição 3.17. (Difeomorfismo) Sejam M1 e M2 variedades diferenciáveis. Uma aplicação ϕ : M1 −→M2 é um difeomorfismo se ela é diferenciável, biuńıvoca, sobrejetiva e sua inversa ϕ−1 é diferenciável. Um grupo cont́ınuo ou grupo topológico tem dois tipos diferentes de es- truturas: estrutura algébrica e estrutura topológica. Algebricamente é um grupo e topologicamente é um manifold. O espaço topológico que parametriza os ele- mentos num grupo de Lie é um manifold (3.10). O exemplo (3.1.1) ilustra bem essa definição. Exemplo 3.1.3. Matrizes reais 2 × 2 são identificadas por quatro variáveis. A condição para essas quatro variáveis é que det(A) = 1. Todo elemento de grupo em SL(2,R) é determinado por um ponto no mesmo espaço real 3-dimensional. Uma posśıvel parametrização é (x1, x2, x3)→   x1 x2 x3 1+x2x3 x1   x1 6= 0 (3.7) A dimensão do manifold que parametriza um grupo de Lie é a dimensão do grupo de Lie, ou seja, número de parâmetros reais cont́ınuos exigidos para descrever cada operação no grupo. 3.1.4 Propriedades algébricas As propriedades algébricas de um grupo de Lie originam nos axiomas de um grupo como definido em 1.2. Exemplo 3.1.4. Consideremos o conjunto das matrizes reais 2× 2 SL(2,R): A =   α β γ δ   det(A) = αδ − βγ = +1 46 Octônios relacionados à estruturas excepcionais onde α, β, γ, δ são números reais. Este conjunto forma um grupo sob a multi- plicação de matriz. Verifiquemos que satisfaz os axiomas de um grupo: Fechamento: A e B são matrizes reais, e A ·B = C, então C é uma matriz real 2× 2. Se det(A) = +1 e det(B) = +1, então det(C) = det(A)det(B) = +1. Associatividade: (A ·B) · C e A · (B · C) são dados por ∑ k ( ∑ j AijBjk)Ckl = ∑ j Aij( ∑ k BjkCkl) ⇒ ∑ k ∑ j AijBjkCkl = ∑ j ∑ k AijBjkCkl Identidade: A matriz identidade é   1 0 0 1   = I2 −→ e Inverso: A única matriz de A é   A11 A12 A21 A22   −→   A11 A12 A21 A22   −1 = 1 A11A22−A12A21   A22 −A12 −A21 A11   3.1.5 Unificação da Álgebra e Topologia A exigência das estruturas dos grupos de Lie é que a combinação de propriedades algébricas e topológicas deva satisfazer uma continuidade. O espaço topológico que parametriza os elementos num grupo de Lie é um manifold. Um grupo de Lie consiste de um manifold M que parametriza as operações de grupo (1.2) e uma operação x · y = z, onde a coordenada z ∈M depende con- tinuamente das coordenadas x, y ∈ M . Em outras palavras, z = φ(x, y), onde φ é cont́ınua em (x, y). Exemplo 3.1.5. Seja SL(2,R) com parametrização (3.7), então a função de composição z = φ(x, y) é constrúıda facilmente da multiplicação de matriz x ·y = φ(x, y) 47 Octônios relacionados à estruturas excepcionais (x1, x2, x3) · (y1, y2, y3) = (z1, z2, z3) = φ(x1, x2, x3; y1, y2, y3)      x1 x2 x3 1+x2x3 x1      ×   y1 y2 y3 1+y2y3 y1   =   x1y1 + x2y3 x1y2 + x2 1+y2y3 y1 x3y1 + y3 1+x2x3 x1 ∗   (3.8) O resultado é facilmente interpretado fazendo as respectivas identificações: z1 = φ1(x1, x2, x3; y1, y2, y3) = x1y1 + x2y3 z2 = φ2(x1, x2, x3; y1, y2, y3) = x1y2 + x2 1 + y2y3 y1 z3 = φ3(x1, x2, x3; y1, y2, y3) = x3y1 + y3 1 + x2x3 x1 (3.9) A função φ é anaĺıtica nestes dois pares de argumentos desde que x1 e y1 são limitados, ou seja, x1 6= 0 e y1 6= 0. Na vizinhança destes valores a parametrização do grupo é necessária. A exigência de que a função φ(x, y) seja anaĺıtica pode ser substitúıda por uma exigência que liga fortemente a álgebra com a geometria. Esta suposição é que a aplicação de cada operação de grupo e sua inversa sejam cont́ınuas. Exemplo 3.1.6. Tomando o exemplo acima, podemos determinar as coordenadas (y1, y2, y3) de (x1, x2, x3) −1 fixando (z1, z2, z3) = (1, 0, 0) e calculando (y1, y2, y3) em termos de (x1, x2, x3). Ou simplificando, podemos calcular o inverso da matriz (3.7)   x1 x2 x3 1+x2x3 x1   −1 =   1+x2x3 x1 −x2 −x3 x1   . (3.10) A aplicação inversa (x)−1 = y = ψ(x) é ψ1(x1, x2, x3) = y1 = (1 + x2x3)/x1 ψ2(x1, x2, x3) = y2 = −x2 ψ2(x1, x2, x3) = y2 = −x3 (3.11) 48 Octônios relacionados à estruturas excepcionais Esta aplicação é anaĺıtica exceto em x1 = 0, onde a parametrização é exigida. O exemplo a seguir descreve este problema. Exemplo 3.1.7. Toda matriz em SL(2,R) pode ser escrita como o produto de uma matriz simétrica e uma matriz de rotação. A matriz simétrica é parametriza por um manifold 2-dimensional, a hipérbolóide z2 − x2 − y2 = 1. A matriz de rotação é parametrizada por um ponto sobre um ćırculo. O manifold que parametriza SL(2; R) é H2 × S1 3-dimensional. z2 − x2 − y2 = 1 SL(2; R) =   z + x y y z − x  ×   cos θ sen θ −sen θ cos θ   Nota: 6. (Importante) Os elementos de grupo são pontos numa variedade e assim são parametrizados por variáveis reais cont́ınuas. Esses pontos são des- critos satisfazendo os axiomas de grupo (1.2). A operação φ(x, y) definida por x · y = z = φ(x, y) é cont́ınua em ambos conjuntos de variáveis. Desta forma, assumimos que a aplicação y = ψ(x) é uma operação de grupo e a inverso (x)−1 = y = ψ(x) é cont́ınua. Quase todos grupos de Lie que encontramos em aplicações são grupos de matrizes. Estes simplificam a descrição de propriedades algébricas, topológicas e de continuidade destes grupos. Algebricamente a operação de grupos que consideramos é a multiplicação de matrizes. Geometricamente os manifolds 49 Octônios relacionados à estruturas excepcionais que encontramos são aqueles que podem ser constrúıdos de matrizes impondo restrições algébricas. A propriedade de continuidade é simplesmente a inversão de matrizes. Vejamos alguns exemplos de grupos de Lie de matrizes: Exemplo 3.1.8. O grupo linear geral GL(n) é o grupo das matrizes não singulares n × n. O grupo linear em n-dimensões é não abeliano. O número essencial de parâmetros é n2. Por essa razão, em Rn2 estes grupos operam como os subconjuntos de matrizes de determinantes não nulos. Esses grupos munidos com a operação composição de funções, tornam-se um grupo de Lie, ou seja, a aplicação φ : GL(n,R)×GL(n,R) → GL(n,R) (M,N) 7−→ M ·N−1 onde é diferenciável, quaisquer que sejam M,N ∈ GL(n,R). De fato, sabemos que o produto dos elementos é simplesmente a multiplicação das matrizes, com a inversa dada pela inversa das matrizes. O números de parâmetros ou coordenadas é n2 inteiros, então, seja M = {aij} e N = {bij}, temos N−1 = {cij}. Logo MN−1 = {∑n k=1 aikckj}. Assim, dφ = ∑ j ∑ i ∂ ∂aij ( n ∑ k=1 aikckj)daij + ∑ j ∑ i ∂ ∂bij ( n ∑ k=1 aikckj)dbij = ∑ j ∑ i cijdaij. Como φ é diferenciável, então GL(n,R) é um grupo de Lie. Exemplo 3.1.9. Grupo linear em duas dimensões, GL(2): x′ = a1x+ a2y, y′ = a3x+ a4y,   a1 a2 a3 a4   6= 0. Os quatro parâmetros são essenciais. Se considerarmos x,y como componentes de um vetor r, a transformação pode ser escrita na notação de matriz: r′ = Ar,   x′ y′   =   a1 a2 a3 a4     x y   . 50 Octônios relacionados à estruturas excepcionais O grupo linear em duas dimensões é isomórfo ao grupo de matrizes 2 × 2, com multiplicação de matrizes com a lei de combinação. E lemento identidade : A =   1 0 0 1   = 1. E lemento inverso : A = A1. E lemento produto : C = BA O grupo linear em duas dimensões é um grupo não abeliano a quatro parâmetros. Exemplo 3.1.10. São de particular interesse em aplicações f́ısicas o grupo li- near especial SL(n), subgrupos dos espaços GL(n,R)(ou GL(n,C), conhecidos como espaços das aplicações lineares bijetivas de Rn em Rn ou (Cn em Cn), onde as transformações são definidas com determinante igual a unidade e o números de parâmetros essenciais é n2 − 1. Observação 3.1.2. Similarmente definimos GL(n,C) e SL(n,C). Exemplo 3.1.11. O grupo ortogonal O(n) é um subgrupo fechado de GL(n) definido por XX t = X tX = I, onde X representa as matrizes do grupo. Con- siderando duas dimensões temos um subgrupo de O(n) das matrizes ortogonais dado por SO(2) =   cosθ senθ −senθ cosθ   = X θ ∈ [0, 2π) É um subgrupo fechado de GL(n) definido por XX t = X tX = I. Observação 3.1.3. grupos ortogonais são grupos que preservam métricas simétricas bilineares. Exemplo 3.1.12. A rotação em torno da origem em um espaço tridimensional forma um grupo de Lie. Este grupo pode ser representado pelas matrizes ortogo- nais O(3) = {X ∈ GL(3,R)|XX t = X tX = I}, onde X t é a transposta de X, 51 Octônios relacionados à estruturas excepcionais que é um subgrupo de GL(3,R). Portanto, O(3) com a operação composição é um grupo de Lie. Exemplo 3.1.13. O grupo ortogonal especial SO(n) é O(n) ∩ SL(n,R) é um grupo de Lie. Dessa maneira podemos SO(n) = {x ∈ R : XX−1 = X−1X = 1, det(X) = 1}. Exemplo 3.1.14. O grupo unitário U(n) é um subgrupo de GL(n,C) definido por XX−1 = X−1X = I onde X−1 denota o conjugado transposto da matriz de X. Este grupo é relatado para os números complexos. Observação 3.1.4. grupos unitários são grupos que preservam métricas anti- simétricas bilineares. Exemplo 3.1.15. Seja S1 = {eiθ| θ ∈ R(mod 2 π)} a esfera unitário no plano complexo. Definiremos as operações do grupo como eiθ · eiϕ = ei(θ+ϕ) e (eiθ)−1 = e−iθ Para que S1 seja um grupo de Lie , mostremos que a aplicação ψ : S1 × S1 −→ S1 ( eiθ, eiϕ) 7−→ (eiθ) · (eiϕ)−1 = ei(θ−ϕ) seja diferenciável, quaisquer que sejam θ, ϕ ∈ R(mod2π). De fato, seja ψ(eiθ, eiϕ) = ei(θ−ϕ), então dψ = ∂ψ ∂θ · dθ + ∂ψ ∂ϕ · dϕ = ei(θ−ϕ)i · dθ + ei(θ−ψ)(−i)dϕ = i · ei(θ−ϕ)(dθ − dϕ). Como dψ existe para quaisquer θ, ϕ ∈ R(mod 2 π), então ψ é diferenciável. Portanto, S1 é um grupo de Lie, que chamaremos de U(1). Exemplo 3.1.16. Seja o grupo unitário especial SU(n) dado como a in- tersecção dos grupos U(n) ∩ SL(n,C). è um subgrupo de U(n). Temos então SU(n) = {x ∈ C : XX−1 = X−1X = 1, det(X) = 1}. Este é um grupo de Lie. 52 Octônios relacionados à estruturas excepcionais Observação 3.1.5. O conjunto de todos os automorfismos da álgebras de com- posição formam um grupo. Por exemplo, o grupo de automorfismos dos quatérnios é o grupo SU(2). Exemplo 3.1.17. O grupo simpléctico(complexo) Sp(n) é um subgrupo de GL(n,H) definido por Sp(n) = {X ∈ H : XX−1 = X−1X = I}. Como vemos, o grupo Sp(n) é relatado para números quaterniônicos. Exemplo 3.1.18. O grupo de transformações lineares preservando a métrica de Minkowski corresponde ao grupo ortogonal O(n,1) e a componente identidade deste é chamado grupo de Lorentz SO(n,1). É um exemplo de grupo de Lie fundamental na teoria da relatividade geral. Exemplos como tais apresentados formam os grupos clássicos de Lie. São quatro séries infinitas de grupos de Lie de translações num espaço n-dimensional, An,Bn,Cn e Dn, e são relatados para espaços simétricos tal como espaços projetivos e esferas. An corresponde ao grupo das rotações generalizadas complexas SU(n+ 1) · SU(1) é o grupo trivial com um único elemento. Bn corresponde ao grupo das rotações, uma cobertura dos grupos SO(n). Correspondem as rotações num espaço 2n+1-dimensional onde contém uma esfera 2n-dimensional. Por exemplo, o grupo SO(2) é isomórfo a S1 que denota a multiplicação de grupo dos números complexos de raio 1. Este isomorfismo mandam o número complexo eiθ = cosθ+ isenθ para matriz ortogonal   cosθ −senθ senθ cosθ   . Cn corresponde ao grupo simpléctico Sp(n) que são os grupos de trans- formações num espaço quaterniônico 2n-dimensional sobre R. Dn corresponde ao grupo SO(2n), i.é., rotações no espaço (2n)-dimensional que contém uma esfera 2n+1-dimensional, e são denotadas por Spin(2n). Contem o grupo de Lorentz SO(n, 1) num espaço 4-dimensional. 53 Octônios relacionados à estruturas excepcionais Esses são os exemplos de grupos clássicos de matrizes admitindo repre- sentações sobre R,C e H. São exemplos de Grupos de Lie, muito importantes para as aplicações f́ısicas. Definição 3.18. (Representação de um grupo) Uma Representação de um grupo G num espaço vetorial V é uma ação φ : G −→ V tal que todas trans- formações lineares φ(g) são aplicações lineares de V. A partir das propriedades das ações temos que cada φ(g) é inverśıvel e que φ : G −→ Gl(V ) é um homomorfismo, e GL(V ) denota o grupo das transformações lineares inverśıveis de V . Então, V é chamado de espaço da representação. Essas representações são ações lineares de uma variedade. Seja M uma variedade. Uma ação ϕ : M −→ M é chamada difeomor- fismo. Chamamos de representação ϕ : G −→ diff(M) de um grupo, uma ação linear da variedade ou uma representação. A noção de representação vem da idéia de descrever (representar) os gru- pos de Lie como grupos de transformações lineares. A teoria das representações estuda propriedades de grupos via suas transformações lineares de espaços veto- riais. Além dos grupos clássicos, podemos também relatar os grupos excepci- onais: G2,F4,E6,E7 e E8. Todos eles são relatados param os octônios. Eles não formam as séries infinitas devido a não associatividade dos octônios que fin- dam as séries. Octônios não são associativos, mas leis de multiplicação associativa podem ser definidas sobre conjuntos de elementos de octônios para criar grupos de Lie. Os grupos excepcionais podem ser constrúıdos através das álgebras de automorfismos das álgebras de Jordan J i3 (i = 1, 2, 4, 8) e as álgebras de automor- fismos das álgebras de Hurwitz Hj (j = 1, 2, 4, 8) por meio de uma construção chamada Construção Tits. Esta se deve a Jacques Tits que prove modelos de álgebras de Lie simples excepcionais usando álgebras de composição e as álgebras 54 Octônios relacionados à estruturas excepcionais de Jordan. Nessa construção, os grupos excepcionais surgem num quadrado cha- mado quadrado mágico de Freudenthal como mostrado na tabela (3.1.5): - - J1 3 J2 3 J4 3 J8 3 H1 • SO(3) SU(3) Sp(3) F4 H2 • SU(3) SU(3)⊕ SU(3) SU(6) E6 H4 SU(2) Sp(3) SU(6) SO(12) E7 H8 G2 F4 E6 E7 E8 Tabela 3.1.4- Quadrado mágico Na tabela (3.1.5) as linhas J i3 correspondem aos grupos de automorfismos das álgebras de Jordan J i3, que estaremos tratando na próxima seção, enquanto que as colunas Hj correspondem aos grupos de automorfismos das álgebras de Hurwitz Hj. Os grupos de Lie excepcionais surgem na intersecção (ij). G2 surge como o grupo de automorfismos dos octônios 14-dimensional, ou seja, o grupo de operações sobre os octônios que preservam o produto oc- toniônico. O grupo de automorfismos de JR n é SO(n). O grupo de automorfismos de JC n é SU(n). O grupo de automorfismos de JH n é Sp(2n). O grupo de automorfismos das álgebras de Jordan excepcionais JO n é F4. É representado por matrizes hermitianas 3× 3 dos octônios      a11 a12 a13 a21 a22 a23 a31 a32 a33      onde a11, a22, a33 ∈ R e a12, a13, a23 são octônios conjugados de a21, a31, a32. Um plano projetivo octoniônico foi constrúıdo em 1949 por Jordan, usando projeções no grupos de matrizes hermitianas. Mais tarde Borel notou que F4 é o grupo de isometrias do plano projetivo sobre os octônios, 52-dimensional. E6 é como F4, expandido para os números complexos. É o grupo de isometrias, 78-dimensional, de planos projetivos sobre as álgebras: C ⊗ O, os bioctônios. E7 é como F4 55 3.2. OCTÔNIOS E AS ÁLGEBRAS DE LIE EXCEPCIONAIS expandido para os quatérnios, o grupo de isometrias, 133-dimensional, de pla- nos projetivos sobre as álgebras: H ⊗ O, os quateroctônios. E E8 é como F4 expandido para os octônios, o grupo de isometrias de planos projetivos sobre as álgebras: O⊗O, os octooctônios 248-dimensional. Os bioctônios, quateroctônios e os octooctônios não são álgebras de divisão. 3.2 Octônios e as álgebras de Lie excepcionais Um dos programas de Lie era o de classificar os grupos de Lie de transformações agindo num determinado espaço. Deve-se a Wilhelm Killing (1884) a idéia de dividir esse problema em dois: o de classificar o objeto abstrato que corresponde à álgebra de Lie e logo após analisar as ações dos grupos correspondentes. Em uma série de artigos ele classificou as álgebras de Lie complexas e obteve as quatro álgebras de Lie Clássicas e cinco excepcionais. Mais tarde Élie Cartan em 1894 deu a segunda contribuição fundamental à teoria de álgebras de Lie. Ele corrigiu e completou o trabalho de Killing e provou a existência das álgebras de Lie simples complexas excepcionais. A cada grupo de Lie existe uma álgebra de Lie associada. Considerando aplicações em áreas da Matemática e da F́ısica, uma importante classe de álgebras são as álgebras de Lie e Jordan. Em 1931, Pascual Jordan analisou que observáveis na mecânica quântica são descritos por matrizes complexas hermitianas n × n formando uma álgebra não associativa. Tentando entender melhor esse fato, inventou a definição de que hoje chamamos de álgebras de Jordan [2]. Definição 3.19. (Álgebra de Jordan) Uma álgebra de Jordan é uma álgebra não associativa sobre R, onde o produto x ·y de dois elementos da álgebra satisfaz as leis: x · y = y · x, (x2 · y) · x = x2 · (y · x) (3.12) Introduzimos nessa álgebra o produto de Jordan (ou anti-comutador) dado por 56 Octônios relacionados à estruturas excepcionais x · y = 1 2 (xy + yx) (3.13) Substituindo o produto associativo xy por x · y obtemos a álgebra de Jordan A+. A classificação das álgebras simples de Jordan finitas dimensionais foram dadas em 1934 por Jordan, von Neumann e Wigner. Seus resultados encontrados descrevem dois caminhos para obter essas álgebras: I)Podem ser obtidas de alguma álgebra associativa. De modo que resultam em álgebras chamadas álgebras de Jordan especiais. Há quatro tipos de álgebras especiais. i) J(Q) = R⊕ V, ii) hn(R), iii) hn(C), iv) hn(H), onde (i) vem de uma forma quadrática Q(x, y) = x · y ∀ x, y ∈ V . O significado de J(Q) pode ser entendido mais facilmente em termos de uma álgebra de Jordan em = (1, e1 . . . en), onde i = 1, 2, . . . , n.. Cada elemento de uma álgebra de Jordan pode ser escrito como um combinação linear dessa base. Os outros três tipos (ii), (iii), (iv) são descritas como matrizes hermitianas n×n JAn , onde A são representações sobre R,C, e H. Essas álgebras são caracterizadas pelo produto de Jordan x·y = 1 2 (xy+yx) como anticomutador. II)A álgebra de Jordan é uma álgebra 27-dimensional e pode ser constrúıda como segue. Seja X =      a1 x ȳ x̄ a2 z y z̄ a3      , (3.14) onde a1, a2 e a3 são números reais ou complexos e x, y, z são octônios e x̄, ȳ, z̄ são octônios conjugados. Definindo o produto de Jordan X · Y = 1 2 (XY + Y X) 57 Octônios relacionados à estruturas excepcionais em (3.14) e o produto XY é não associativo já que octônios são não associativos. Este define uma a álgebra de Jordan h3(O) excepcional 27-dimensional. Álgebras de Jordan estão associadas a espaços projetivos, o plano proje- tivo octoniônico. São aplicadas em análise, geometria, além de serem utilizadas para construção dos grupos excepcionais. Outro exemplo de álgebra não associativa são as álgebras de Lie. Os grupos de Lie são de natureza geométrica enquanto que as álgebras de Lie, ou grupos infinitesimais como relatados por Lie, são objetos algébricos. Uma álgebra de Lie é um espaço vetorial linear que pode ser pode ser estudado usando as principais ferramentas de um espaço vetorial. Definição 3.20. (Álgebra de Lie) Uma álgebra de Lie consiste de um espaço vetorial g munido de um produto (colchete ou comutador) [ , ] : g× g −→ g com as seguintes propriedades: 1. é bilinear, 2. é anti-simétrico, isto é, [X,X] = 0 para todo X ∈ g (o que implica [X,Y]= - [Y,X] para todo X,Y ∈ g ), 3. satisfaz a identidade de Jacobi, isto é, para todo X,Y, Z ∈ g, [X, [Y, Z]] + [Z, [X,Y ]] + [Y, [Z,X]] = 0. A anti-simetria e a identidade de Jacobi são caracteŕısticas das álgebras de Lie. O colchete de Lie ou “bracket de Lie” não é, em geral, associativo, pois em qualquer circunstância [[X,X], Y ] = 0 e no entanto [X, [X,Y ]] nem sempre se anula. Existe um grande número de exemplos interessantes de álgebras de Lie, desde o ponto de vista da teoria em si como das aplicações desta teoria aos grupos de Lie. A noção de representação das álgebras de Lie vem da idéia de representar essas álgebras como álgebras de transformações lineares. Antes de ver alguns exemplos de álgebras de Lie, é conveniente introduzir o conceito de subálgebra de Lie. 58 Octônios relacionados à estruturas excepcionais Definição 3.21. (Subálgebra de Lie) Seja g uma álgebra de Lie. Uma subálgebra de g é um subespaço vetorial h de g que é fechado pelo colchete, isto é, [X,Y ] ∈ h se X,Y ∈ h. Evidentemente, uma subálgebra de Lie é uma álgebra de Lie com a estrutura de g. Exemplo 3.2.1. gl(n,K) : O espaço de todas transformações lineares de um espaço vetorial de dimensão n sobre um corpo K que é o mesmo que o espaço das matrizes n× n com coeficientes em K O colchete é dado por [X,Y ] = XY − Y X com X e Y matrizes. Exemplo 3.2.2. Álgebras de Lie provenientes de álgebras associativas: Seja A uma álgebra associativa e nesta álgebra defina o colchete comutador [x, y] = xy − yx x, y ∈ A. Este colchete define em A uma estrutura de álgebra de Lie. Exemplo 3.2.3. Subálgebras de gl(n,R) : (a) so(n,K) = {X ∈ gl(n,K) : X +X t = 0} onde indica a matriz transposta. O espaço das matrizes simétricas {X ∈ gl(n,K) : X = X t (b) sl(n,K) = {X ∈ gl(n,K) : trX = 0}. Como no caso de gl(n), muitas vezes denotará estas álgebras apenas por sl(n). (c) sp(n,K) = {X ∈ gl(2n,K) : XJ + JX t = 0} onde J é escrito em blocos n× n como J =   0 −1 1 0   com 0 representando a matriz nula e 1 a matriz identidade n × n. Para ver que este subespaço é de fato uma subálgebra, observe em primeiro lugar 59 Octônios relacionados à estruturas excepcionais que J2 = −1 e, portanto, X ∈ sp(n,K) se e só se X t = JXJ . Se X,Y ∈ sp(n,K), então [X,Y ]t = (XY − Y X)t = −X tY t + Y tX t = −JXJ2Y J + JY J2XJ = J(XY − Y X)J = J [X,Y ]J, isto é, [X,Y ] ∈ sp(n,K). (d) u(n) = {X ∈ gl(n,C) : X + X̄ t = 0} onde X̄ é a matriz obtida de X por conjugação de suas entradas. u(n) é uma álgebra de Lie sobre o corpo dos reais. É denominada de álgebra unitária por ser a álgebra de Lie do grupo de matrizes unitárias. (e) su(n) = {X ∈ u(n) : trX = 0}. Definição 3.22. (Ideal) Um subespaço g é um ideal se ∀Y ∈ h, X ∈ g, [X,Y ] ∈ h, isto é, [g,h] = {[X,Y ] : X ∈ g, Y ∈ h} ⊂ h. Definição 3.23. (Ideal de Lie) Podemos dizer que h é um ideal de g se para x, y ∈ g, então é válido [x, y] ∈ h. Vamos citar duas categorias para álgebras de Lie: Definição 3.24. (Álgebras simples) Uma álgebra de Lie g é uma álgebra de Lie simples se [g,g] 6= 0 e se não tem outros ideais além de zero. Ou seja, não apresenta outros ideais além dos triviais. Definição 3.25. (Álgebras semi-simples) Uma álgebra de Lie g é uma álgebra de Lie semi-simples se é a soma direta de álgebras de Lie simples, ou seja g = ⊕r i=1 gi. A soma direta ⊕ implica que [gi, gj] = 0 ∀ i 6= j e cada gi é simples. 60 Octônios relacionados à estruturas excepcionais A classificação das álgebras de Lie fornece a classificação dos espaços de simetrias. As álgebras de Lie são classificadas em duas grandes divisões: as álgebras de Lie clássicas e as álgebras de Lie excepcionais. As álgebras de Lie clássicas são an, bn, cn e dn e correspondem aos grupos de Lie clássicos como foram mencionados anteriormente, enquanto que as álgebras correspondem aos grupos de Lie excepcionais são: g2, f 4, e6, e7 e e8. A construção das álgebras excepcionais apresentadas são devidas a H.Freudenthal. Uma forma alternativa é apresentar as álgebras excepcionais como álgebras de derivações de certas álgebras não associativas. A construção Tits relatada para construção dos grupos de Lie excepcio- nais demonstra essa forma de obter essas álgebras. Sejam Hj (j = 1, 2, 4, 8) as álgebras de Hurwitz e J i3 (i = 1, 2, 4, 8) as quatro álgebras de Jordan constrúıdas das álgebras de Hurwitz. Temos que dada álgebra de Lie é determinada da segunda forma: g ij = AutJ i3 + J i(0) 3 ⊗Hj(0) + AutHj (3.15) onde J i(0) 3 é uma matriz hermitiana 3 × 3 com traço nulo e Hj(0) é a parte ima- ginária pura do numero de Hurwitz Hj. Em 1914, Èlie Cartan descobriu g2, a álgebra de derivação dos octônios.f 4 é a álgebra das derivações de uma álgebra de Jordan de dimensão 27, a álgebra de Jordan excepcionais J8 3 , que pode ser realizada como uma subálgebra de ma- trizes sobre os octônios. Assim consideramos as outras três álgebras excepcionais relativas e6, e7, e e8. Um exemplo seguinte podemos demonstrar a construção (3.15) para a álgebra excepcional g ij. Exemplo 3.2.4. Seja gij uma álgebra de Lie com i = 2 e j = 8. Então temos g28 = AutJ2 3 + J 2(0) 3 ⊗H8(0) + AutH8 = SU(3) + J 2(0) 3 ⊗H8(0) + g2 = e6 e a dimensão correspondente 61 Octônios relacionados à estruturas excepcionais d(g28) = [d(SU(3)) + [d(J2 3 )− 1][d(H8)− 1]− 1 + d(G2) = 8 + [9− 1][8− 1] + 14 = 78. A álgebra correspondente à esta construção é e6. Da mesma forma obtemos as outras álgebras de Lie excepcionais. As dimensões relativas a essas álgebras de Lie excepcionais correspondem as dimensões dos grupos de Lie excepcionais. A essas álgebras podemos associar siste