3 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “ JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRONÔMICAS INTERAÇÃO FUNGO MICORRÍZICO ARBUSCULAR E ADUBAÇÃO FOSFÁTICA NO CRESCIMENTO E ABSORÇÃO DE NUTRIENTES PELO PORTA-ENXERTO LIMOEIRO “CRAVO” Marli Teixeira de Almeida Minhoni BOTUCATU-SP Maio-2004 Tese apresentada à Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, para obtenção do Título de Livre Docente em Microbiologia Agrícola. 4 INTERAÇÃO FUNGO MICORRÍZICO ARBUSCULAR E ADUBAÇÃO FOSFÁTICA NO CRESCIMENTO E ABSORÇÃO DE NUTRIENTES PELO PORTA-ENXERTO LIMOEIRO “CRAVO” Marli Teixeira de Almeida Minhoni RESUMO Estudou-se o efeito da inoculação com fungo micorrízico arbuscular (FMA), Glomus etunicatum, Glomus clarum, ou Scutelospora heterogama, e da adição de fósforo solúvel (15, 30, 45, 60, 120 e 240 mg de P kg-1 de terra) sobre as variáveis altura, número de folhas, diâmetro do caule, massas vegetais aérea e radicular, teores de nutrientes nas folhas e colonização micorrízica no porta-enxerto limoeiro “Cravo” (Citrus limonia (L.) Osbeck). Os FMAs, Glomus etunicatum e Glomus clarum, e doses crescentes de fósforo exerceram efeitos significativos sobre essas variáveis. O efeito da inoculação sobre as variáveis de crescimento vegetal foi mais acentuado nos tratamentos com adição de 30 a 60 mg de P kg-1 de terra. Para o teor de P foliar, o efeito da inoculação foi mais acentuado nos tratamentos adicionados de 120 a 240 mg de P kg-1 de terra. A inoculação com estes FMAs aumentou a eficiência do limoeiro “Cravo” em absorver nutrientes, tanto que as variáveis estudadas em plantas inoculadas na ausência de adubação fosfática superaram às de plantas não inoculadas em substrato adicionado de 240 mg de P kg-1 de terra. Termos de indexação: Citrus limonia (L.) Osbeck, Glomus etunicatum, Glomus clarum, Scutelospora heterogama, altura, diâmetro de caule, número de folhas, massas vegetais aérea e radicular, teores de nutrientes nas folhas, colonização micorrízica e doses de fósforo. 5 INTERACTION BETWEEN MYCORRHIZAL FUNGI AND PHOSPHORUS AMMENDMENTS ON GROWTH AND NUTRIENT UPTAKE OF RANGPUR LIME ROOTSTOCKS Marli Teixeira de Almeida Minhoni SUMMARY The effects of arbuscular mycorrhizal fungus (AMF) Glomus etunicatum, Glomus clarum or Scutelospora heterogama inoculation and soluble phosphate addition (15, 30, 45, 60, 120 and 240 mg P kg-¹ of soil) on the height, leaf number, stem diameter, shoot and root mass, nutrients in foliar mass and mycorrhizal colonization parameters on Rangpur lime rootstocks plants were studied. AMF inoculation and soluble phosphate levels increased these parameters. Inoculation effect on the plant growth parameters was more intense at 30 to 60 mg P kg-1 soil. AMF inoculation effect on the leaf P was more intense at 120 to 240 mg P kg-1 soil addition. AMF inoculation increased citrus efficiency to absorb nutrients so that the parameters studied of inoculated plants without phosphate addition did not differ of non-inoculated plants in substract with 240 mg P kg-1 soil addition. Index terms: Rangpur lime rootstocks, Citrus limonea, Glomus etunicatum, Glomus clarum, Scutelospora heterogama, height, stem diameter, leaf number,shoot and root mass, nutrients in foliar area and mycorrhizal colonization, phosphorus levels. 6 1. INTRODUÇÃO A formação de mudas de frutíferas em viveiros depende, na maioria das vezes, de um tratamento fitossanitário prévio do substrato, para diminuição ou eliminação de sementes de plantas daninhas, pragas e/ou patógenos. Contudo, esta prática acarreta também a redução ou eliminação de microrganismos benéficos presentes no substrato, tais como fungos micorrízicos arbusculares (FMAs), podendo comprometer a formação e qualidade das plantas, especialmente aquelas dependentes de micorrização. A importância das associações micorrízicas no desenvolvimento e nutrição das plantas tem sido enfatizada em várias revisões (MARONEK et al., 1981; LOPES et al., 1983; MOREIRA; SIQUEIRA, 2002). Nesta associação simbiótica mutualista, muitos fatores estão envolvidos e, dentre estes, o teor de fósforo presente no substrato de cultivo é fator condicionador para o estabelecimento e funcionalidade do processo. O objetivo do presente trabalho foi verificar os efeitos da adição de fósforo solúvel (15, 30, 45, 60, 120 e 240 mg kg-1 de P no solo) e da inoculação com FMA, Glomus etunicatum, Glomus clarum ou Scutelospora heterogama, sobre as variáveis diâmetro do caule, altura, número de folhas, massas vegetais aérea e radicular, teores de nutrientes no limbo foliar e colonização micorrízica do porta-enxerto cítrico limoeiro “Cravo” . 7 2. REVISÃO DE LITERATURA As plantas cítricas são nativas de uma extensa área asiática que vai desde a região do Himalaia, na Índia, até o norte e centro da China, estendendo-se à Burma, Tailândia, Indonésia e Nova Caledônia (CRISTOFANI; MACHADO, 1999). Incluem os “citros primitivos”, com os gêneros Severinia, Pleiospermium, Burkillanthus, Limnocitrus e Hesperathusa, os “próximos a citros”, com os gêneros Citropsis e Atalantia, e os “citros verdadeiros”, com os gêneros Citrus, Poncirus, Eremocitrus, Fortunella, Microcitrus e Clymenia (CRISTOFANI; MACHADO, 1999). Das plantas cítricas, o gênero Citrus é o utilizado na citricultura. Ademais, é a cultura arbórea frutífera de maior importância mundial, com produções anuais de aproximadamente 102 milhões de toneladas (GEORGIOU, 2002). Este gênero apresenta espécies e híbridos de importância econômica, incluindo as laranjas, tangerinas, limões, limas ácidas, pomelos e tangelos. Dentre estes, os mais extensamente produzidos no mundo são as laranjas (65%) e as tangerinas (17%), produção esta concentrada principalmente no Brasil e Estados Unidos (GEORGIOU, 2002). 2. 1. A citricultura brasileira O Brasil tem sido o maior produtor mundial de citros. Embora a maioria dos Estados brasileiros produza frutas cítricas, destacando-se entre estes os Estados de Sergipe, Bahia e Minas Gerais, é no Estado de São Paulo que a produção é concentrada (70%) e também, onde se encontra o parque industrial de processamento dos citros (GAMA et al., 2000). 8 A citricultura brasileira está fundamentada em pequeno número de porta-enxertos e de variedades-copa. Das mudas comercializadas, 97% têm sido produzidas sobre apenas três porta-enxertos a saber: limoeiro “Cravo” (85%), tangerina “Cleópatra” (9%) e citrumelo “Swingle” (3%). Das copas mais utilizadas, temos as laranjas doces “Pêra” (36%), “Natal” e “Valência” (14%), a tangerina “Ponkan” (10%) e a lima ácida “Tahiti” (7%). Outras copas são utilizadas em menor escala e, dentre estas, citam-se as laranjas doces “Hamlin” e “Westin” e a tangerina “Murcott” (CRISTOFANI; MACHADO, 1999). A participação da copa laranja na citricultura brasileira é histórica e, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2003), a produção desta no ano de 2001 correspondeu a 88% da área total plantada, 88% da área total colhida e 85% do valor total da produção. Ainda no ano de 2001, a citricultura brasileira, medida como a soma das culturas de laranjas, limões e tangerinas, apresentou-se com 940175 hectares de área plantada e 937403 hectares de área colhida. A produção foi de 57896 frutos colhidos por hectare, com um valor de 3055202 mil reais, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2003). Os produtos que a citricultura brasileira oferece para os mercados nacional e internacional incluem, principalmente, os sucos concentrados diversos (SILVA et al., 1998; NEVES et al., 2001) e também, a fruta in natura e subprodutos tais como a polpa cítrica (SORBARA et al., 2000; TOKARNIA et al., 2001; MALAFAIA et al., 2002), essências, óleos (MENDES et al., 1997; RAHAL et al., 2001) e outros. Na citricultura brasileira, os frutos de mesa têm tido pouca importância, haja visto que a produção, desde a década de 60, particularmente a paulista, tem sido voltada para matérias primas para a indústria de sucos. Como conseqüência, tem sido dada pouca 9 importância à produção e qualidade das frutas in natura, as quais não tem sido colocadas no mercado norte-americano e outros, devido a problemas técnicos e fitossanitários (NEVES et al., 2001). Este fato pode ser o reflexo da falta de observação e manejo criteriosos permanentes das condições bióticas e abióticas dos diversos sistemas de produção. A queda na produção, inclusive na de sucos, tem sido acentuada e as causas relatadas tem sido especialmente aquelas voltadas ao manejo das culturas. Segundo Tersi e Rigolin (2000), apesar da extensa área cultivada com citros, a produtividade média dos pomares pode ser considerada baixa, ao redor de 20 toneladas por hectare. As razões apresentadas por estes autores foram: 1. existência de pomares jovens ou que se encontravam com produção muito baixa; 2. falta de tratamentos fitossanitários; 3. adubação e correção do pH inadequados; 4. espaçamento muito largo; 5. práticas culturais impróprias; 6. incidência do declínio dos citros. Fatores como a fertilidade do solo, clima, irrigação, conjunto porta-enxerto/copa, monocultivo, tipo de porta-enxerto utilizado, doenças e pragas, em diversas combinações e graus de importância, têm afetado a produção de citros de modo geral, tanto que esta vem caindo acentuadamente nos últimos anos. No ano de 2001, enquanto as áreas plantada e colhida apresentaram uma redução média de 17% em relação ao ano de 1999, a redução na quantidade produzida, em frutos ha-1, foi de 85%, segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2003). Este fato é uma prova da redução da eficiência do sistema de produção. Dentre as doenças dos citros, citam-se a gomose ou podridão radicular, causada pelos fungos Phytophthora parasitica (Dastur) Waterhouse e Phytophthora citrophthora (Smith & Smith) Leon (SIVIERO et al., 2002; MAY-DE MIO et al., 2002), a clorose variegada do citrus (CVC), causada pela bactéria Xylella fastidiosa (ARAÚJO et al., 2002), a tristeza, causada pelo vírus da tristeza do citros (MEISSNER FILHO et al., 10 2002), o cancro, causado pela bactéria Xanthomonas campestris (TUNG; KUO, 1999), denominada a partir de 2001 de Xanthomonas axonopodis pv. citri (CUBERO et al., 2001), a leprose e outras. Segundo Gama et al. (2000), o cancro e a clorose variegada estão entre os principais responsáveis pela diminuição da produção de citros nos últimos anos. Além das doenças acima relatadas, outras anomalias têm acometido a citricultura brasileira, quais sejam, o declínio e o fenômeno morte súbita. Ambas são complexas e de etiologia desconhecida. Enquanto o declínio surgiu há mais de 100 anos (CARLOS et al., 2000) e vem incidindo sobre diversas áreas de produção de citros, a morte súbita é recente e localizada nos Estados de Minas Gerais e São Paulo, até o momento (INFORMATIVO CENTRO DE CITRICULTURA, 2001, 2002). O declínio dos citros passou a ser relatado no Brasil a partir da década de 70, tornando-se grave nos últimos anos. A causa real ainda é desconhecida, embora algumas alterações fisiológicas envolvidas no processo já tenham sido estudadas tais como o teor elevado de Zn nos tecidos vasculares e a associação de proteínas em plantas afetadas (CARLOS et al., 2000). Com relação à morte súbita dos citros (MSC), de causa até o presente também desconhecida, os primeiros sintomas foram observados no final de 1999 em laranjeiras “Valência” com 12 anos de idade, enxertadas em limoeiro “Cravo”. A anomalia já foi relatada também em laranjeiras “Hamlin”, “Natal” e ”Pêra”. A sintomatologia é, às vezes, semelhante à do declínio e, no estádio mais avançado, ocorre a morte rápida da planta. Há evidências de que as causas sejam devidas à alterações edafo-climáticas do sistema e também ao porta-enxerto utilizado, o que aponta para um caráter biótico do fenômeno, ou seja, a um patógeno (INFORMATIVO CENTRO DE CITRICULTURA, 2001, 2002). 11 Com relação às pragas que incidem sobre o citros citam-se os ácaros da ferrugem e leprose (KONNO et al., 2001), as cochonilhas (LARANJEIRA, 1997), o pulgão preto (YAMAMOTO et al, 2000), o bicho furão, a lagarta minadora (SÁ et al., 2000; YAMAMOTO et al, 2000), as cigarrinhas vetores da CVC (YAMAMOTO et al, 2000; MILANEZ et al., 2001; YAMAMOTO et al, 2002; MARUYAMA et al., 2002), os besouros da raiz (LANTERI et al., 2002) e outras. Com relação ao porta-enxerto, este condiciona a compatibilidade com as cultivares- copa de citros, a nutrição e vigor da planta, a produção e qualidade dos frutos, bem como a resistência à pragas e doenças. 2. 2. Porta-enxertos No Brasil, o porta-enxerto mais utilizado tem sido o limoeiro “Cravo” (Citrus limonia Osbeck) (80% ou mais) devido às suas características agronômicas superiores, tais como a compatibilidade com todas as variedades de copa utilizadas no país, rusticidade e vigor elevados, precocidade na formação de mudas, produção elevada, resistência à seca e tolerância à tristeza (POMPEU JÚNIOR, 2001; POMPEU JÚNIOR et al., 2002). A despeito de todas estas características favoráveis ao porta-enxerto limoeiro “Cravo”, têm-se registrado quedas constantes e acentuadas na produção de citros. O limoeiro “Cravo” tem-se mostrado altamente suscetível à gomose (AMORIM; MELO, 2002), ao declínio (CARLOS et al., 2000) e ao fenômeno “morte súbita”, de ocorrência atual no triângulo mineiro e norte de São Paulo. Nestas regiões, o porta-enxerto limoeiro “Cravo” é quase que exclusivo, face à sua compatibilidade com as laranjas e à sua resistência ao déficit hídrico elevado, comuns nos solos destas regiões. 12 Segundo Cristofani e Machado (1999), a pequena diversidade de cultivares porta- enxerto e copas utilizadas no Brasil, associada com o sistema de monocultivo de grandes áreas e as práticas de manejo adotadas, tornam a citricultura brasileira bastante suscetível às pragas e doenças. Outros porta-enxertos têm sido utilizados na citricultura brasileira mas, em menor escala. Dentre estes citam-se as tangerinas “Cleópatra” (Citrus reshni Hot. ex Tanaka) e “Sunki” (Citrus sunki Hot. ex Tanaka), o citrumelo “Swingle” (Poncirus trifoliata Raf. x Citrus paradise Macf.), o limoeiro “Volkameriano” (Citrus volkameriana Tan. ex Pasq.), a laranja “Caipira” (Citrus sinensis L. Osbeck), a laranja “Azeda” (Citrus aurantium L.) e outros. A tangerina “Cleópatra” é tolerante ao declínio mas, apresenta suscetibilidade elevada a nematóides e à gomose, e a produção de laranja “Pêra” é atrasada em 1 a 2 anos em relação ao limoeiro “Cravo” (CARLOS et al., 2000; GROSSER et al. 1990, citados por LATADO et al., 2002). O citrumelo “Swingle”, por sua vez, tem a vantagem de ser altamente resistente à gomose. Foi liberado para uso recentemente mas, ainda é incompatível com a variedade “Pêra” de laranja, a cultivar-copa mais cultivada no país, e é pouco tolerante à seca, sendo utilizado somente em sistemas irrigados, os quais são restritos na citricultura brasileira (CARLOS et al., 2000). A tangerina “Sunki” e a laranja doce “Caipira” também têm sido de uso restrito pois,são altamente suscetíveis à gomose (CARLOS et al., 2000). O limoeiro “Volkameriano” é resistente à seca como o limoeiro “Cravo” e resistente à gomose e, apesar de sua incompatibilidade com a laranja “Pêra” e do desconhecimento de seu comportamento frente à “morte súbita”, tem tido uma difusão crescente entre os produtores do Estado de São Paulo e vem sendo apontado como um 13 possível substituto ao limoeiro “Cravo” (INFORMATIVO CENTRO DE CITRICULTURA, 2002). A mudança de porta-enxerto tem sido investigada no Centro de Citricultura Sylvio Moreira, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), SP, e outros, especialmente para a seleção de porta-enxertos tolerantes ou resistentes aos principais fatores limitantes da citricultura brasileira, tais como a tristeza, declínio, gomose, nematóides, seca e outros, e que sejam compatíveis com as principais cultivares copa utilizadas no país, formando plantas produtivas e longevas. Busca-se também, a característica nanicante, para otimização da densidade de plantio, redução nos custos dos tratos culturais e colheita mecânica (POMPEU JÚNIOR et al., 2002). E agora, com o surgimento da “morte súbita”, a mudança de porta-enxerto pode ser uma das soluções, especialmente em regiões afetadas. Contudo, até o presente momento, não existem resultados de pesquisa que indiquem porta-enxertos compatíveis com a cultivar-copa mais utilizada no país, as laranjas, e que sejam ao mesmo tempo, resistentes `a “morte súbita” e à seca, uma característica das regiões até então afetadas (INFORMATIVO CENTRO DE CITRICULTURA, 2002). Figueiredo et al. (2002) estudaram a produção de lima ácida cultivar-copa “Tahiti” (Citrus latifolia Tanaka) sobre 11 porta-enxertos, na região do Município de Bebedouro, SP, período de 1991 a 1998. Os porta-enxertos avaliados por estes autores, oriundos do Banco de Germoplasma de Citrus, Centro de Citricultura Sylvio Moreira, IAC, SP, foram: 1. tangelo “Orlando”, 2. citrange “Morton” , 3. citrumelo “Swingle”, 4. limoeiro “Volkameriano Catanea 2”, 5. trifoliata “EEL”, 14 6. limoeiro “Cravo”, 7. tangerina “Sunki”, 8. tangerina “Cleópatra”, 9. tangerina “Batangas”, 10. tangerina “Oneco”, e 11. laranja “Caipira DAC”. Houve variação nas produções média e acumulada, bem como na perda de plantas. A produção variou de 357,7 a 114,8 kg planta-1, sendo significativamente maior nos sete primeiros porta-enxertos estudados, os quais não diferiram entre si. A perda de plantas ocorreu quando a cultivar-copa foi enxertada sobre limoeiro “Cravo”, laranja “Caipira DAC”, tangelo “Orlando”, tangerina “Batangas” e tangerina “Oneco”, sendo equivalente a 100, 100, 40, 20 e 20 % do total de dez plantas por tratamento. Ainda neste contexto de busca de outras alternativas de porta-enxertos para a citricultura, a obtenção de híbridos interespecíficos e intergenéricos em Citrus pode resultar em porta-enxertos mais promissores, devido à possibilidade de combinação de características desejáveis de duas espécies (LATADO et al., 2002). Estes autores obtiveram híbridos somáticos de limoeiro “Cravo” e tangerina “Cleópatra”, via fusão de protoplastos; todos os híbridos somáticos obtidos revelaram padrões moleculares aditivos aos das espécies parentais. Pompeu Júnior et al. (2002) também vêm estudando híbridos cítricos com a finalidade de ampliação da diversificação de porta-enxertos para a citricultura brasileira. Estes autores enfatizam que a utilização generalizada de um único porta-enxerto, no caso brasileiro o limoeiro “Cravo”, provavelmente restringe as características genéticas das cultivares-copa, as quais não manifestariam todo o seu potencial produtivo. Os 13 porta- 15 enxertos híbridos avaliados por estes autores, produzidos pelo United States Horticultural Research Laboratory (USHRL), Fort Pierce, Florida, USA, foram: 1. citrange “Morton” (HRS 815)a, 2. tangerina “Changsha” x trifoliata “English Large” (HRS 852), 3. toranja “Siamese” x trifoliata “Gotha-road” (HRS 802), 4. tangerina “Changsha” x trifoliata “English Small” (HRS 801), 5. limoeiro “Cravo” x trifoliata “Swingle”(A), 6. limoeiro “Cravo” x trifoliata “Swingle”(B), 7. tangerina “Sunki” x trifoliata “Benecke” (HRS 812), 8. laranja “Shamouti” x laranja “Mediterranean” x trifoliata “Christeansen” (HRS 850), 9. tangerina “Miaray” (HRS 847), 10. laranja azeda “Smooth Flat Seville” x trifoliata “Argentina” (HRS 849), 11. trifoliata “Davis” A, 12. citrange “Troyer” tetraplóide (HRS 881) e 13. citrange “Carrizo” tetraplóide (HRS 880). Houve variação na altura da copa e diâmetro do caule da cultivar-copa utilizada, laranja “Valência”, precocidade e produção de frutos, bem como nos sólidos solúveis e acidez destes. Quanto à sensibilidade destes porta-enxertos à doença tristeza dos citros, de modo geral, estes não mostraram sintomas típicos, exceto a tangerina “Miaray”. Por outro lado, quanto à sensibilidade ao declínio dos citros, o exame visual das plantas revelou sintomas típicos em algumas plantas enxertadas sobre os híbridos: laranja azeda “Smooth Flat Seville” x trifoliata “Argentina”; tangerina “Changsha” x trifoliata “English a Número de registro no USHRL. 16 Small”; tangerina “Sunki” x trifoliata “Benecke”; toranja “Siamese” x trifoliata “Gotha- road”; citrange “Morton”; trifoliata “Davis” A. Segundo estes autores, do conjunto de porta-enxertos avaliados, somente o trifoliata “Davis” A já foi utilizado na citricultura brasileira e, neste trabalho, além da presença de plantas com sintomas da doença declínio dos citros, verifica-se que a sua produção por planta foi significativamente inferiores à da maioria dos demais porta-enxertos. Outras variedades de porta-enxertos para citros também vêm sendo estudadas na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ) e no Centro de Energia na Agricultura (CENA), da Universidade de São Paulo (USP), Piracicaba, SP, desde 1995, dentro do Programa de Hibridação Somática, com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e do Fundo Paulista de Defesa da Citricultura (Fundecitrus) (MOURÃO FILHO; MENDES, 2000). Os objetivos principais são a combinação de características complementares de resistência à doenças e redução do porte das árvores copa. Os híbridos obtidos já aclimatizados em casa de vegetação e o número de plantas regeneradas são: Híbridos somáticos Número de plantas regeneradas laranja “Caipira” + limoeiro “Cravo” 28 laranja “Caipira” + tangerina “Cleópatra” 23 laranja “Caipira” + limoeiro “Volkameriano” 4 laranja “Caipira” + “limoeiro rugoso da Flórida” (C. jambhiri Lush) 5 tangerina “Cleópatra” + laranja “Azeda” 23 limoeiro “Cravo” + laranja “Azeda” 7 17 Na agricultura, a adoção de métodos de manejos integrados deve ser uma constante, visando a sustentabilidade do sistema. Para o controle da gomose em citros, por exemplo, a redução da umidade do solo bem como a fuga ou evasão cultural podem reduzir ou eliminar a ocorrência da doença e viabilizar o uso de porta-enxertos suscetíveis à esta doença em cultivares-copa não compatíveis com outros porta-enxertos. 2. 3. Substrato de formação de porta-enxertos Além da relação com o tipo e qualidade do porta-enxerto utilizado, a incidência de pragas e de doenças está, muitas vezes, diretamente relacionada ao substrato utilizado na formação destes porta-enxertos. E, neste sentido, existem considerações que devem ser lembradas quando se trata da desinfestação dos substratos de formação de mudas. No sistema de formação de mudas de citros, é obrigatória a utilização de substratos desinfestados, visando a redução e/ou eliminação dos riscos de ocorrência de patógenos e de pragas, que possam ser veiculados pelo substrato. Contudo, a obrigatoriedade deste procedimento é recente (CENTRO DE DEFESA SANITÁRIA VEGETAL, 1999). Desta forma, na citricultura brasileira, muitos dos porta-enxertos que ainda estão no campo, podem ter sido produzidos em substratos naturais. E, nestas condições, ainda que os porta-enxertos pudessem ter interagido com uma comunidade microbiana benéfica eventualmente presente no substrato, este pode também ter veiculado doenças e pragas. Este fato, aliado às conseqüências do monocultivo, da utilização generalizada de um único porta-enxerto, do uso intensivo de biocidas e outros fatores bióticos e abióticos do sistema, podem ter colaborado com as perdas significativas que estão ocorrendo na produção. 18 Atualmente, é obrigatória a desinfestação de substratos para a formação de porta- enxertos para os citros. Contudo, esta prática acarreta também a redução ou eliminação de microrganismos benéficos presentes no substrato, tais como fungos micorrízicos arbusculares (FMAs) (KURLE; PFLEGER, 1994; MINHONI; AULER, 2003) e outros (VENANCIO, 1993), podendo comprometer a formação e qualidade das plantas (WEBER et al., 1990; EISSENSTAT et al., 1993; MELLONI et al., 2000). Apesar do valor e função reconhecidos dos FMAs e de outros microrganismos no crescimento e nutrição de plantas, inclusive para os citros, a utilização destes na citricultura brasileira ainda é restrita à pesquisas. 2. 4. Fungos micorrízicos arbusculares em citros Efeitos positivos de FMAs sobre o crescimento e nutrição de plantas cítricas foram observadas por diversos autores na América do Norte (EISSENSTAT et al., 1993; NEMEC et al., 1996; FIDELIBUS et al., 1999; e outros), na Europa (DUTRA et al., 1996; e outros), no Medierrâneo (GEORGIOU, 2002; e outros), na Ásia, na Oceania (TREEBY, 1992; e outros) na América do Sul (CARDOSO et al., 1986; FONSECA et al., 1994; MELLONI et al., 2000; e outros) e outras regiões. Redução na incidência e/ou controle de patógenos radiculares (AGNANI, 2002), aumento na resistência a estresses abióticos, tais como déficit hídrico, excesso de sais e de metais pesados, também foram relatados em plantas cítricas em função da presença de fungos micorrízicos arbusculares (LINDERMAN, 1994). As micorrizas possuem uma maior superfície de contato com o solo, dada à presença do micélio externo à raiz. Este micélio pode crescer para além da zona de depleção de nutrientes, aumentando assim, o potencial de absorção de água e nutrientes, 19 principalmente os imóveis como o fósforo, o cobre e o zinco (BAGYARAJ, 1994; LINDERMAN, 1994; CARDOSO FILHO et al., 1999; NOGUEIRA; CARDOSO, 2000; MOREIRA; SIQUEIRA, 2002). Ademais, as hifas do micélio, além de apresentarem atividade elevada na absorção de fósforo (SILVEIRA; CARDOSO, 1990), capacidade esta freqüentemente inferida quando o teor de fósforo é baixo e/ou quando este é adicionado na forma de fosfatos de rocha (MINHONI et al., 1993ab), melhoram a estruturação do solo e interagem, de modo direto ou indireto, com a biota rizosférica, inclusive patógenos de plantas e antagonistas destes (LINDERMAN, 1994). Quanto à interações das micorrizas com a biota rizosférica, Xavier e Germida (2003) encontraram bactérias rizosféricas dos gêneros Alcaligenes, Bacillus spp., Burkholderia, Flavobacterium e Pseudomonas em esporos de Glomus clarum. Os efeitos destas bactérias sobre os esporos variaram desde a inibição até a promoção da germinação e crescimento miceliano. FRACCHIA et al. (2003) isolaram a levedura Rhodotorula mucilaginosa de rizosfera de milho e verificaram efeitos positivos desta na germinação de esporos de Glomus mosseae e Gigaspora. rosea, in vitro. Em condições de casa de vegetação, a levedura exerceu efeitos positivos sobre a produção de massa vegetal (aérea e radicular) e colonização micorrízica das associações Glomus mosseae-soja e Gigaspora rosea-trevo (Trifolium pratense), quando a sua inoculação foi feita duas semanas antes da inoculação do FMA. A inoculação da levedura concomitantemente ou duas semanas após o FMA, não exerceu efeitos positivos no crescimento das plantas e colonização micorrízica. Os fungos micorrízicos são parte integrante da comunidade rizosférica da maioria das plantas e como tal, exercem e sofrem ações no sistema solo-planta-microrganismos (AZCÓN-AGUILAR; BAREA, 1992; CAMPRUBÍ et al., 1995; DUTRA et al., 1996). Neste contexto, a incidência de nematóides e patógenos radiculares em plantas, bem como 20 a severidade dos sintomas, podem ser reduzidos com a presença de FMAs. Os mecanismos propostos são diversos mas sempre condicionados à alterações na fisiologia da associação micorrízica, podendo incluir um ou mais dos seguintes aspectos, dentre outros: 1. alteração na exsudação radicular, mediada por fatores bióticos e abióticos do sistema; 2. aumento do vigor da planta em função da melhoria na nutrição; 3. competição por sítios de infecção e/ou por fotoassimilados; 4. aumento de microbiota rizosférica antagônica ao patógeno; 5. alterações morfológicas nos tecidos radiculares; 6. maior tolerância à estresses abióticos (LINDERMAN, 1994; KURLE; PFLEGER, 1994). A ocorrência natural de diversos FMAs em viveiros e/ou em pomares de citros tem sido constatada em diversos Estados do país, incluindo Minas Gerais (SIQUEIRA et al., 1989), Bahia (WEBER; OLIVEIRA, 1994), Sergipe (WEBER; OLIVEIRA, 1994; OLIVEIRA; COELHO, 1995), Rio Grande do Sul (SOUZA et al., 2002), dentre outros. No Estado do Rio Grande do Sul, Souza et al. (2002) constataram a presença dos seguintes FMAs, em ordem decrescente, em viveiros e pomares cítricos: Glomus macrocarpum > Scutelospora heterogama > (Acaulospora scrobiculata = Acaulospora birreticulata) > (Glomus invernaium = Glomus occultum = Entrophospora colombiana) > (Glomus claroideum = Glomus constrictum) > Scutelospora persica. Contudo, a intensidade e efetividade da associação micorrízica nestas condições naturais têm variado em função de fatores intrínsicos aos macro e microssimbiontes envolvidos e a fatores bióticos e abióticos do sistema, especialmente o teor de fósforo disponível no solo. No Estado de Sergipe, a diversidade de FMAs foi observada por Weber e Oliveira (1994) e por Oliveira e Coelho (1995). Os primeiros autores analisaram nove pomares (6 a 8 anos pós enxertia) e sete viveiros (8 a 10 meses pós enxertia) de laranja “Pêra” em limoeiro “Cravo”. Os fungos micorrízicos detectados e em ordem decrescente foram: Acaulospora scrobiculata, Acaulospora spinosa, Glomus occultum, Glomus etunicatum, 21 Acaulospora longula, Gigaspora margarita, Aculospora appendiculata, Acaulospora morrowae, Scutelospora heterogama e Scutelospora pellucida. A colonização variou de 51 a 63% e de modo geral, os valores maiores foram observados nos solos mais pobres. Oliveira e Coelho (1995) também observaram diversidade elevada de fungos micorrízicos em 50 pomares cítricos, com predominância dos gêneros Glomus e Gigaspora. A colonização radicular foi menor, variando de 20 a 30%, sendo que os dados maiores foram observados em solos com teor de fósforo disponível menor que 8 mg kg-1. No Estado de Minas Gerais, Siqueira et al. (1989) já relataram a presença dos FMAs Aculospora morrowae, Aculospora appendiculata, Acaulospora mellea, Acaulospora sp e Glomus intraradices. A colonização variou de 47 a 71%. Ainda neste Estado, Caldeira et al. (1983) verificaram a presença dos FMAs Gigaspora margarita, Glomus occultum, Acaulospora sp e Acaulospora scrobiculata. Embora comunidades de FMAs possam estar presentes na maioria dos solos, as associações micorrízicas devida à estas podem não ser funcionais a ponto de resultar em efeitos positivos na crescimento e nutrição das plantas. Os fatores podem ser diversos e, para muitos autores, o mais importante é o nível de fósforo no solo. Outros fatores também importantes são o potencial baixo de inóculo, a viabilidade baixa deste, a defasagem entre a germinação dos propágulos e a presença de raízes, o índice pH, a temperatura, a microbiota rizosférica, a adubação, biocidas e outros fatores bióticos e abióticos desfavoráveis (WILSON; TOMMERUP, 1992; SAFIR, 1994; BURKE et al., 2003; XAVIER; GERMIDA, 2003). O histórico cultural da área bem como a cultura atual, particularmente em termos de suscetibilidade e de sua influência sobre os propágulos micorrízicos, também são fatores a serem considerados (WILSON; TOMMERUP, 1992). 22 Carvalho et al. (1995) estudaram o efeito de práticas culturais de controle de ervas daninhas sobre a micorrização em laranjeiras “Pêra” com 7 anos de idade, sem inoculação prévia de FMAs, no Estado da Bahia. As práticas envolviam combinações de capina, roçadura, gradagem, leguminosas como adubação verde e herbicidas. A colonização micorrízica foi baixa, de 18 a 28%, não havendo diferenças entre as práticas culturais adotadas. Pelissari (1992) verificou a colonização micorrízica natural de limoeiro “Cravo” enxertado com laranja “Pêra”, Município de Conchal, SP, após 13 anos sem ou com capinas ou aplicações anuais dos herbicidas Terbacil, Simazine, Dichlobenil, Diuron, Bromacil ou Bromacil+Diuron. A colonização foi baixa em todos os tratamentos, variando de 3,5 a 15%. A adição de Terbacil, Bromacil ou Bromacil+Diuron, reduziu a colonização em relação às testemunhas sem e com capinas. Na associação micorrízica e em especial quando o macrossimbionte é uma planta perene ou semi-perene, três aspectos devem ser considerados: 1. a precocidade da infecção, uma função do potencial de inóculo existente no substrato e da localização deste em relação ao sistema radicular, o que condiciona o sucesso da interação, ou seja, o grau e a efeciência desta. 2. muitas frutíferas e outras plantas perenes e semiperenes passam por uma fase de formação de mudas em viveiros e em substratos desinfestados, para diminuição e/ou eliminação de sementes de plantas daninhas, pragas e/ou patógenos. Para os citros, esta prática é recente e obrigatória. Mas, neste processo, há redução ou eliminação de microrganismos benéficos eventualmente presentes, inclusive os fungos micorrízicos arbusculares (FMAs); 3. sabendo-se da importância de FMAs para as plantas de modo geral, aquelas que passam por esta fase de viveiro podem ser micorrizadas logo no início de seu crescimento e com FMAs selecionados. Nestas condições, trabalha-se 23 com um potencial de inóculo abundante e localizado próximo ao sistema radicular e fatores bióticos e abióticos podem ser manejados (SAFIR, 1994). Desta forma, a introdução de FMAs em substratos, principalmente os desinfestados, tem favorecido a formação de porta-enxertos cítricos e mudas de outras frutíferas, medida através de diversas variáveis do crescimento e/ou da absorção de nutrientes (KLEINSCHMIDT; GERDEMANN, 1972; MENGE et al., 1980; LIN, 1986; SOARES; MARTINS, 2000). A tabela 1 reúne informações da literatura nacional consultada sobre as interações entre porta-enxertos cítricos e FMAs. Os efeitos positivos observados nestes trabalhos incluem aumentos na altura, no diâmetro de caule, nas massas vegetais aérea e radicular, na absorção de fósforo, magnésio, cálcio, potássio, enxofre, ferro, manganês e zinco, e/ou no controle de patógeno radicular. A introdução de FMAs em substratos também tem favorecido a formação de mudas de outras frutíferas, tais como abacate (SILVA; SIQUEIRA, 1991; SILVEIRA et al., 2002), manga (SILVA; SIQUEIRA, 1991), maracujá (SOARES; MARTINS, 2000), mamoeiro (RAMIREZ et al., 1975; SILVA, SIQUEIRA, 1991; MOHANDAS, 1992; TRINDADE et al., 2000; TRINDADE et al., 2001; MINHONI; AULER, 2003), goiaba (SCHIAVO; MARTINS, 2002) e outras plantas. Ressalte-se que o grau da micorrização bem como os efeitos desta sobre variáveis do crescimento e nutrição da planta, bem como outras variáveis, estão diretamente relacionados com o teor de fósforo na planta (EISSENSTAT et al., 1993). 24 2. 5. Efeito do fósforo na associação micorrízica Um dos fatores que mais afeta a colonização e esporulação micorrízica é o teor de fósforo no solo e, conseqüentemente, na planta. Em condições de teores de fósforo muito baixos no solo, a micorrização é limitada em decorrência do menor crescimento da planta. Com o aumento da fertilidade do solo, especialmente em termos de fósforo, ocorre melhoria no estado nutricional da planta e a micorrização é aumentada (KURLE; PFLEGER, 1994). Nesta situação de teor moderado de fósforo no solo, os pontos de infecção, a colonização, o comprimento do micélio externo e o número de esporos micorrízicos são aumentados (WILSON; TOMMERUP, 1992). Porém, em condições de excesso de fósforo no solo, a micorrização é diminuída (SAFIR, 1994). Tabela 1. Associações micorrízicas arbusculares experimentadas na citricultura brasileira. Porta-enxerto FMA Literatura consultada tangerina ‘Cleópatra” Glomus etunicatum Glomus clarum Glomus intraradices Weber et al., 1990; Cardoso e Lambais, 1993; Fonseca et al., 1994; Gomes, 1997; Melloni e Cardoso, 1999; Gomes, 1997; Melloni e Cardoso, 1999; Glomus leptotichum Cardoso et al., 1986; Gigaspora gilmorei Cardoso et al., 1986; laranja “Caipira” Glomus intraradices Glomus clarum Gomes, 1997; Melloni e Cardoso, 1999; Gomes, 1997; Melloni e Cardoso, 1999; 25 Glomus leptotichum Gigaspora gilmorei Glomus etunicatum Cardoso et al., 1986; Cardoso et al., 1986; Antunes e Cardoso, 1990; Weber et al., 1990; Agnani, 2002; Oliveira et al., 1992; limoeiro “Cravo” Glomus clarum Glomus intraradices Fonseca et al., 1994; Gomes, 1997; Gomes, 1997; Melloni et al., 2000; Agnani, 2002 Limoeiro “Rugoso da Flórida” Glomus etunicatum Weber et al., 1990; Oliveira et al., 1992; limoeiro ‘Volkameriano” Gigaspora margarita Gigaspora gilmorei Glomus leptotichum Cardoso et al., 1986; Cardoso et al., 1986; Cardoso et al., 1986; Glomus etunicatum Weber et al., 1990; A relação inversa entre o teor de fósforo disponível no solo e as variáveis da micorrização, com conseqüente queda nos efeitos positivos sobre variáveis do crescimento vegetal, é bastante conhecida (CARDOSO et al., 1986; PARON et al, 1997; NOGUEIRA; CARDOSO, 2000). Segundo Moreira e Siqueira (2002), em condições de suprimento elevado de fósforo, a inibição da colonização ocorre indiretamente, sendo resultante de alterações na atividade metabólica da planta. O processo é complexo e as hipóteses apresentadas são que: a. lectinas livres nas células radiculares ligam-se a carbohidratos do fungo, inibindo o seu crescimento e colonização radicular; b. aumenta-se a biossíntese de fosfolipídeos e, como conseqüência, ocorre diminuição na permeabilidade celular e exsudação radicular, o que diminui a infecção e colonização radicular; c. a fotossíntese é aumentada e ocorre aumentos no dreno de sacarose e/ou seus derivados para o sistema radicular e, a concentração maior destes compostos no sistema radicular inibiria os propágulos do fungo micorrízico, tal como já verificado “in vitro”. 26 Todavia, o teor de fósforo disponível que limita a colonização micorrízica é muito variável em função da planta e fungo envolvidos no processo. Ademais, fatores como a disponibilidade de água, o índice pH, a concentração de sais e outros, podem influenciar a formação da micorriza de modo direto ou mesmo indireto, afetando a disponibilidade de nutrientes (SAFIR, 1994). Para algumas combinações, a esporulação e a colonização são elevadas mesmo sob níveis elevados de fósforo disponível no solo (CARDOSO et al., 1986; WEBER; AMORIM, 1994). 27 3. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido em condições de casa de vegetação, no Departamento de Produção Vegetal da Faculdade de Ciências Agronômicas, UNESP, em Botucatu, São Paulo, Brasil, Latitude 22o 51’ Sul, Longitude 48o 27’ Oeste e Altitude 786 m. A amostra de terra utilizada na composição do substrato foi de um Latossolo Vermelho amarelo (EMBRAPA, 1999), do Município de Botucatu, SP. A amostra, coletada a 0-20cm e peneirada a 2mm (peneira ABNT no 10), apresentou-se com as seguintes características químicas: pH em CaCl2 = 3,4; matéria orgânica = 33 g dm-3; P = 4 mg dm–3; H + A1 = 8,8 cmol kg-1; K = 0,03 cmol kg-1; Ca = 0,09 cmol kg-1; Mg = 0,1 cmol kg-1; T = 1,16 cmol kg-1 e V = 11%. Nas determinações do P, K, Ca, e Mg, a extração foi efetuada em resina. (RAIJ; QUAGGIO, 1983). As características granulométricas foram: areia total = 760 g kg-1; silte = 40 g kg-1 e argila total = 200 g kg-1. 3. 1. Fase de bandejas 3. 1. 1. Semeadura O substrato utilizado nesta fase foi uma mistura de areia grossa de rio lavada + vermiculita textura fina (1:1, v/v), disposto em bandejas de isopor com células de 30 cm3 de capacidade. Previamente à semeadura, o substrato foi umedecido a 80% da capacidade efetiva de retenção de água, aproximadamente, e autoclavado por duas vezes a 120o C, durante 1 hora. Sementes extraídas de frutos maduros de limoeiro “Cravo” foram lavadas em água corrente, desinfestadas superficialmente, através de imersão, por dez minutos, em solução 28 de hipoclorito de sódio 0,5%, lavadas novamente em água corrente por duas vezes e secas à sombra. Após, procedeu-se a semeadura nas bandejas de isopor, na proporção de uma semente por célula e cada célula com 30 cm3 de substrato. 3. 1. 2. Inoculação de fungo micorrízico arbuscular O substrato utilizado nesta fase foi uma mistura de terra + areia grossa de rio lavada + vermiculita textura fina (2:1:0,5, v/v), disposto em bandejas de isopor com células de 100 cm3 de capacidade. Previamente à composição do substrato, procedeu-se à calagem (V= 90 %) da amostra de terra com calcário dolomítico (PRNT 91%), umedeceu-se a 70% da c.e.r.a., aproximadamente, e incubou-se por 20 dias. Após, as amostras de terra e areia foram umedecidas a 80% da c.e.r.a. e submetidas à tindalização, separadamente, em autoclave sob vapor fluente (100o C, 1 hora, três dias consecutivos). Após, as amostras foram secas ao ar e misturadas em conjunto com a vermiculita para a composição do substrato. Após o preparo do substrato e aos 59 dias após a semeadura, procedeu-se a inoculação dos FMA e o transplante das plântulas, uma por célula. Os inóculos dos FMA foram colocados na base da célula, na forma de substrato de cultivo de Brachiaria decumbens micorrizada, contendo uma média de 380 esporos+micélio+raízes, para cada fungo inoculado. Os volumes de substratos adicionados foram 6, 30 ou 30 cm3 para os tratamentos inoculados com Glomus clarum, Glomus etunicatum ou Scutelospora heterogama, respectivamente. Procedeu-se o transplante e completou-se o volume com o substrato terra + areia grossa de rio lavada + vermiculita textura fina. Para os tratamentos sem FMA, adicionaram-se 30 cm3 de substrato de cultivo de Brachiaria decumbens sem micorriza. Os inóculos de FMA foram 29 procedentes da Micoteca do Laboratório de Microbiologia do Solo, Departamento de Solos e Nutrição de Plantas, ESALQ/USP, Piracicaba, SP. A multiplicação foi feita em rizosfera de Brachiaria decumbens, cultivada em areia autoclavada, 120o C, durante 1 hora. A nutrição de Brachiaria decumbens foi feita com solução nutritiva de macro e micronutrientes de Hoagland e Arnon, diluída à 50%, uma vez por semana. O manejo da água foi diário, com água destilada, procurando-se manter a umidade do substrato num nível adequado, evitando-se perdas por lixiviação. Após a inoculação dos FMA e transplante das plântulas, 5 cm3 de água destilada foram adicionados diariamente em cada célula. Durante esta fase de crescimento das plântulas na presença ou ausência de FMA, 5 cm3 de solução nutritiva de macro e micronutrientes de Hoagland e Arnon, sem ferro e sem manganês, diluída a 50%, foram adicionados em cada célula, uma vez por semana. 3. 2. Fase de vasos Aos 70 dias após a inoculação, ou seja, aos 129 dias após a semeadura, procedeu-se o transplante das mudas para vasos contendo substrato composto de terra fumigada + areia grossa de rio lavada e autoclavada (2:1, v/v), na proporção de uma planta por vaso. 3. 2. 1. Desinfestação do substrato A fumigação da amostra de terra foi feita com brometo de metila (98%) mais cloropicrina (2%). Para tanto, a amostra de terra foi umedecida até 70% da capacidade efetiva de retenção de água, aproximadamente, e disposta sob lona plástica por 72 horas para a ação do agente fumigante, dose de 200 cm3 m-3 de terra. Após esse período, 30 retirou-se a lona plástica e a amostra de terra foi ventilada naturalmente por 20 dias (FERNANDES et al., 1987). A amostra de areia foi autoclavada a 120o C, durante 1 hora. 3. 2. 2. Calagem e adubação Em seguida, prepararam-se os vasos com a mistura de 2000 cm3 de terra fumigada + 1000 cm3 de areia autoclavada. Procedeu-se à calagem (V= 90 %, 8,6 g de calcário dolomítico - PRNT 91%, por vaso), umedeceu-se a 70% da c.e.r.a., aproximadamente, e incubou-se por 34 dias. Após, adicionaram-se 50 mg kg-1 de K no solo (0,19 g de KCl por vaso), 40 mg kg-1 de N no solo [0,38 g de (NH4)2SO4 por vaso] e fósforo, em cada vaso. As doses de fósforo adicionadas foram: 15, 30, 45, 60, 120 e 240 mg kg-1 de P no solo, na forma de superfosfato triplo (430 mg kg-1 de P2O5 no solo), o que equivaleu à adição de 0,08, 0,16, 0,24, 0,32, 0,64 e 1,28 g kg-1 de superfosfato triplo no solo, respectivamente. Prepararam- se também, vasos sem adição de fósforo. Após homogeneização, procedeu-se o transplante das mudas, com os respectivos torrões. Como adubação de cobertura, foram aplicados 40 mg kg-1 de N no solo, na forma de nitrato de amônio, aos 17, 60 e 113 dias do cultivo em vasos. A umidade do substrato foi mantida em torno de 60% da c.e.r.a., aproximadamente, com adição diária de água destilada. Os tratamentos foram dispostos em delineamento em blocos ao acaso, com seis repetições, segundo um esquema fatorial 4x6 (com três FMA e um nível sem FMA; com cinco doses de adubo fosfático e um nível sem esse adubo). Solução de micronutrientes de Hoagland e Arnon, sem manganês, foi adicionada no substrato logo após o transplante, num volume de 100 ml por vaso. Após, solução completa de micronutrientes foi adicionada uma vez por semana, 100 ml por vaso. 31 Após a correção da acidez e adubação, o substrato dos tratamentos (fósforo adicionado, mg kg-1 = 0, 15, 30, 45, 60, 120 e 240) apresentaram as seguintes características químicas: ----------------- Fósforo adicionado, mg kg-1 ----------------- Características químicas 0 15 30 45 60 120 240 pH, CaCl2 5,97 5,80 5,97 5,73 5,73 5,63 5,70 M. O., g dm-3 15,33 17,33 15,00 19,00 17,00 20,33 20,00 P(resina), mg dm-3 0 4,33 9,33 13,00 18,33 43,33 71,67 H + Al, m molc dm-3 15,33 16,33 14,67 17,33 16,33 18,33 17,33 K, m molc dm-3 1,77 1,50 1,57 1,30 1,10 1,80 1,67 Ca, m molc dm-3 39,67 42,00 43,67 36,67 36,67 39,67 44,00 Mg, m molc dm-3 12,33 13,33 12,33 9,67 9,67 11,33 12,33 SB, m molc dm-3 53,33 56,67 57,33 47,33 47,67 53,00 57,67 CTC, m molc dm-3 68,00 73,67 72,33 65,00 64,00 71,33 75,00 V, % 78,00 77,00 79,33 72,67 74,33 74,33 76,67 Aos 150 dias após o transplante para os vasos, ou seja, aos 79 dias após a semeadura, determinaram-se o número de folhas, a altura das plantas, o diâmetro do caule, as massas vegetais aérea e radicular, o teor de nutrientes no limbo foliar e a colonização micorrízica. Para as variáveis do crescimento e nutrição vegetal, determinou- se o efeito da inoculação (EI) de cada um dos FMAs utilizados, segundo a equação: EI=[(variável em plantas inoculadas com o FMA - variável em plantas não inoculadas com o FMA) / variável em plantas não inoculadas com o FMA] x 100. 32 A altura das plantas foi medida da base do caule, a cerca de 1 cm acima do substrato, até o ápice da folha mais jovem, fazendo-se uso de uma fita métrica. O diâmetro do caule foi medido na base, a cerca de 1 cm acima do colo, fazendo-se uso de um paquímetro. Para determinação da matéria seca da parte aérea, cortou-se a parte aérea na base do caule, a cerca de 1 cm acima do substrato, lavou-se com água corrente e água destilada. Colocou-se em estufa a 60 oC com circulação forçada de ar até peso constante. A seguir, determinou-se o peso da massa seca em balança analítica. Para determinação da matéria fresca da parte radicular, esta foi lavada em água corrente e deixada em repouso sobre papel absorvente por cerca de quinze minutos. A seguir, A seguir, determinou-se o peso da massa fresca em balança analítica. Após determinação do peso da massa fresca radicular, determinou-se a colonização micorrízica. Para tanto, amostras das raízes foram conservadas em álcool a 50 %. A seguir, procedeu-se descoloração e coloração das raízes, segundo método proposto por Vierheilig et al. (1998), no qual se faz uso de soluções de KOH (10%), ácido acético (vinagre, 5%), tinta preta (de caneta tipo tinteiro, 5%) e lactoglicerol. Para avaliação da colonização micorrízica, adotou-se o método proposto por Giovannetti e Mosse (1980), dispondo-se 20 segmentos de 1 cm de raiz em lâmina de microscopia, seguido da observação e avaliação em microscópio óptico sob aumento de 40 vezes. Prepararam-se três lâminas por repetição, ou seja, por vaso. Para a análise de nutrientes nas folhas, adotaram-se métodos descritos por Malavolta et al. (1989), conforme o que se segue: Nutrientes Metodologias N Extração por digestão ácida a quente, sulfúrica, método semi-micro Kjeldahl. 33 K, Ca, Mg, Cu, Fé, Mn, Zn Extração nítrico-perclórica, método e determinação por espectrofotometria de absorção atômica. P Extração nítrico-perclórica, método de colorimetria do metavanadato, determinação por espectrofotômetro UV / VIS (colorímetro). S Extração nítrico-perclórica, método de turbidimetria do sulfato de bário, determinação por espectrofotômetro UV / VIS (colorímetro). B Extração via seca (incineração), método de colorimetria da azometina H, determinação por espectrofotômetro UV / VIS (colorímetro). 3. 2. 3. Análise dos dados Os dados foram submetidos à analise de variância para experimentos em blocos casualizados e, para comparação das médias, o teste de Tukey a 5% de significância. Para a análise, os dados de contagem (número de folhas) foram transformados para (x+1/2)1/2 e os dados em porcentagem (colonização micorrízica) foram transformados para arc seno (x/100)1/2. Para as análises de regressão, utilizou-se o ”software Table Curve 2D” (Jandel Scientific), sendo escolhida a equação de melhor ajuste de acordo com o maior coeficiente de determinação. 34 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1. Crescimento das plantas de porta-enxerto limoeiro “Cravo” Os valores de “P” (nível de significância) para a altura, o diâmetro de caule, o número de folhas, a matéria seca da parte aérea (MSPA) e a matéria fresca da parte radicular (MFPR) do porta-enxerto limoeiro “Cravo” são apresentados na tabela 2. Tabela 2. Valores de “P”(nível de significância) obtidos na análise de variância de altura, diâmetro, número de folhas, matéria seca da parte aérea (MSPA) e matéria fresca da parte radicular (MFPR) do porta-enxerto limoeiro “Cravo”. Causas de Variação Altura Diâmetro Nº Folhas MSPA MFPR Doses de P 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* FMA 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* Doses de P x FMA 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* CV % 7,18 8,94 7,15 11,01 13,22 *: significativo a 0,05 de probabilidade pelo teste “F”; FMA: fungo micorrízico arbuscular. A adição de doses crescentes de fósforo ao substrato e a inoculação com os FMAs, Glomus etunicatum, Glomus clarum ou Scutelospora heterogama, isoladamente ou em conjunto, exerceram efeitos positivos sobre o diâmetro do caule, a altura, o número de folhas, a MSPA e a MFPR do porta-enxerto limoeiro “Cravo”. 35 4. 1. 1. Efeito do fósforo O efeito do fósforo, nutriente limitante no experimento, sobre o crescimento do limoeiro “Cravo”, seguiu comportamentos esperados. Para as plantas não inoculadas com FMA as interações obtidas entre este nutriente e o diâmetro do caule, a altura, o número de folhas, a MSPA e a MFPR foram expressas através da equação y=a+bx (Figuras 1, 2, 3, 4 e 5). Para as plantas inoculadas com FMA, por sua vez, as interações foram expressas através da equação y=a+bx+cx0,5 (Figuras 1, 2, 3, 4 e 5). Estas interações são reflexo do efeito do fósforo sobre o crescimento das plantas sem e com FMA. O limoeiro “Cravo”, planta que necessita de concentrações elevadas de fósforo (FONSECA et al, 1994; GOMES, 1997), apresentou-se com um crescimento baixo e constante na ausência de FMA, em função do fósforo adicionado ao substrato (Figuras 1, 2, 3, 4 e 5). Nesta condição de suprimento insuficiente de fósforo e ausência de fungos micorrízicos, o diâmetro do caule variou de 0,1 a 0,23 cm, a altura variou de 6,4 a 10,5 cm, o número de folhas variou de 11 a 16, a MSPA variou de 0,2 a 0,6 g e a MFPR variou de 0,9 a 2,3 g, respectivamente nos tratamentos sem e com adição de 240 mg kg-1 de P no solo. Melloni e Cardoso (1999) obtiveram valores maiores para a MSPA de plantas de limoeiro “Cravo” não inoculadas com FMA, os quais variam de 0,2 a 3,9 g em função de condições de adubação fosfática semelhantes às do presente experimento. Para Melloni et al. (2000), os dados de crescimento das plantas não inoculadas também foram maiores aos do presente experimento; o diâmetro do caule, a altura e a MSPA situaram-se aproximadamente entre 0,1 a 0,5 cm, 15 a 45 cm e 0,2 a 5,0 g, respectivamente, também em função de condições de adubação fosfática semelhantes às do presente experimento. 36 Figura 1. Relação entre o fósforo adicionado ao substrato e o diâmetro do caule, cm, do porta-enxerto limoeiro “Cravo” inoculado ou não com os FMAs Glomus clarum (GC), Glomus etunicatum (GE) ou Scutelospora heterogama (SH) (seis repetições). 0 60 120 180 240 SH y=0,253-0,003x+0,060x0,5 R2=0,81* 0,00 0,25 0,50 0,75 1,00 0 60 120 180 240 GE y=0,449-0,0026x+0,060x0,5 R2=0,83* P adicionado, mg kg-1 D iâ m et ro d o ca ul e, c m GC 0,00 0,25 0,50 0,75 1,00 sem FMA y=0,001x + 0,087 R2 = 0,82* y=0,491-0,002x+0,038x0,5 R2=0,78* 37 Figura 2. Relação entre o fósforo adicionado ao substrato e a altura, cm, do porta-enxerto limoeiro “Cravo” inoculado ou não com os FMAs Glomus clarum (GC), Glomus etunicatum (GE) ou Scutelospora heterogama (SH) (seis repetições). 0 60 120 180 240 SH y=36,657-0,354x+5,223x0,5 R2=0,80* 0 20 40 60 80 100 0 60 120 180 240 GE y=55,270-0,349x+6,981x0,5 R2=0,85* P adicionado, mg kg-1 y = 0,017x + 6,347 R2 = 0,94* 0 20 40 60 80 100 sem FMA GC y=48,470-0,301x+6,835x0,5 R2=0,92* A ltu ra , c m 38 Figura 3. Relação entre o fósforo adicionado ao substrato e o número de folhas do porta- enxerto limoeiro “Cravo” inoculado ou não com os FMAs Glomus clarum (GC), Glomus etunicatum (GE) ou Scutelospora heterogama (SH) (seis repetições). N úm er o de F ol ha s 0 60 120 180 240 SH y=16,897-0,220x+4,016x0,5 R2=0,80* 0 10 20 30 40 50 60 0 60 120 180 240 GE y=29,223-0,146x+3,216x0,5 R2=0,76* 0 10 20 30 40 50 60 sem FMA y = 0,020x + 11,017 R2 = 0,68* GC y=29,6825-0,1161x+2,5364x0,5 R2=0,83* P adicionado, mg kg-1 39 Figura 4. Relação entre o fósforo adicionado ao substrato e a matéria seca da parte aérea (MSPA), g, do porta-enxerto limoeiro “Cravo” inoculado ou não com os FMAs Glomus clarum (GC), Glomus etunicatum (GE) ou Scutelospora heterogama (SH) (seis repetições). M SP A , g 0 5 10 15 20 0 60 120 180 240 GE y=5,566-0,066x+1,3462x0,5 R2=0,83* 0 60 120 180 240 SH y=3,020-0,048x+0,690x0,5 R2=0,81* GC y=4,9335-0,089x+1,6964x0,5 R2=0,84*y = 0,002x + 0,161 R2 = 0,90* 0 5 10 15 20 sem FMA P adicionado, mg kg-1 40 Figura 5. Relação entre o fósforo adicionado ao substrato e a matéria fresca da parte radicular (MFPR), g, do porta-enxerto limoeiro “Cravo” inoculado ou não com os FMAs Glomus clarum (GC), Glomus etunicatum (GE) ou Scutelospora heterogama (SH) (seis repetições). Moreira et al (2000) obtiveram valores de 1,2 cm para o diâmetro e 53 g para a MSPA, aproximadamente, para plantas de limoeiro “Cravo” com cinco meses de idade, cultivadas em vasos [mistura de amostra de um Latossolo Vermelho escuro (35%) + composto orgânico (25%) + areia grossa (15%) + casca de arroz carbonizada (15%) + M FP R , g 0 10 20 30 40 50 60 0 60 120 180 240 GE y=13,799-0,242x+5,355x0,5 R2=0,82* 0 60 120 180 240 SH y=8,288-0,1441x+2,350x0,5 R2=0,79* P adicionado, mg kg-1 GC y=13,750-0,213x+4,620x0,5 R2=0,83* 0 10 20 30 40 50 60 sem FMA y = 0,006x + 0,885 R2 = 0,88* 41 esterco de galinha (10%), adicionado de 577 mg kg-1 de P]. Gomes (1997) obtiveram 0,2 cm para o diâmetro de caule, 7,4 cm para a altura e 0,03 g para a MSPA de plantas de limoeiro “Cravo” com seis meses de idade cultivadas na ausência de adubação fosfática. As adições de 200 e 800 mg kg-1 de P no solo elevaram estes dados para 0,6 cm, 50 cm e 6,7 g e para 0,6 cm, 70 cm e 11,9 g, respectivamente. Por outro lado, Carvalho (1994), estudando a produção de porta-enxertos cítricos (5 meses de idade) em bandejas com 75 cm3 de substrato (vermiculita/solo orgânico/casca de pinus), com adição de 500 mg kg-1 de P e doses crescentes de nitrato de potássio, obteve dados médios semelhantes aos do presente experimento, ou seja, 0,27 cm para o diâmetro de caule, 10,1 cm para a altura e 0,53 g para a MSPA, nos tratamentos adicionados periodicamente com 10 cm3 de solução 0,2% de KNO3. Esta variação no crescimento de plantas não inoculadas tem fundamento nas características de cada experimento em si, incluindo desde o vigor das sementes, o tipo de substrato, o tipo e nível de adubação, a época de transplante das mudas para o vaso de cultivo, a idade das plantas, as condições edafo-climáticas e outros fatores. Para as plantas inoculadas com FMA, por sua vez, a adição de fósforo até as doses de 120, 30-60, 60, 30-45 e 30-45 mg kg-1 de P no solo, promoveu aumentos gradativos no diâmetro do caule, na altura, no número de folhas, na MSPA e na MFPR, respectivamente. Os valores máximos obtidos para o diâmetro do caule foram 0,82, 0,73 e 0,61 cm, para a altura foram 91,4, 83,3 e 55,9 cm, para o número de folhas foram 49, 44 e 37, para a MSPA foram 12,4, 13,0 e 6,1 g e para a MFPR foram 42,7, 36,9 e 19,9 g, respectivamente em função da inoculação com Glomus etunicatum, Glomus clarum ou Scutelospora heterogama. Em doses maiores de fósforo, houve tendência de redução nestas variáveis. Estes resultados confirmam o papel dos FMAs sobre o crescimento vegetal bem como o efeito maior em condições de nível de fósforo abaixo do ótimo para o 42 crescimento vegetal (ANTUNES, 1987; MINHONI et al., 1993a; BAGYARAJ, 1994; PARON et al., 1997; CARDOSO FILHO et al., 1999; NOGUEIRA; CARDOSO, 2000; MELLONI et al., 2000; MOREIRA; SIQUEIRA, 2002), ou seja, o efeito positivo da micorrização é inversamente proporcional à disponibilidade de fósforo. 4. 1. 2. Efeito da inoculação com fungo micorrízico arbuscular A inoculação com os FMAs aumentou o crescimento das plantas, em termos de diâmetro do caule (Tabela 3), altura (Tabela 4), número de folhas (Tabela 5), MSPA (Tabela 6) e MFPR (Tabela 7), em relação às plantas sem inoculação. De modo geral, os efeitos da inoculação com FMA seguiram a ordem decrescente: Glomus etunicatum > Glomus clarum > Scutelospora heterogama. A presença dos FMAs aumentou a eficiência do limoeiro “Cravo” para absorção de nutrientes, tanto que o desenvolvimento das plantas inoculadas e na ausência de adubação fosfática superou o de plantas não inoculadas submetidas a 240 mg kg-1 de P no solo. O diâmetro do caule foi 100, 117 e 9% maior (Tabela 3), a altura foi 428, 363 e 245% maior (Tabela 4), o número de folhas foi 93, 91 e 4% maior (Tabela 5), a MSPA foi 824, 707 e 362% maior (Tabela 6) e a MFPR foi 476, 455 e 220% maior (Tabela 7) nas plantas inoculadas com Glomus etunicatum, Glomus clarum ou Scutelospora heterogama, respectivamente, e na ausência de adubação fosfática, em relação às plantas não inoculadas submetidas a 240 mg kg-1 de P no solo. 43 Tabela 3. Dados médios originais do diâmetro do caule, cm, do porta-enxerto limoeiro“Cravo” , sem e com inoculação de FMA, Glomus etunicatum (GE), Glomus clarum (GC) ou Scutelospora heterogama (SH), em função do fósforo adicionado ao substrato (Média de seis repetições). ---------------------------FMAs-------------------------- Fósforo adicionado mg kg-1 sem GE GC SH Diâmetro, cm 0 0,100 0,458 0,500 0,250 15 0,100 0,625 0,600 0,458 30 0,100 0,692 0,650 0,517 45 0,100 0,742 0,667 0,517 60 0,108 0,733 0,725 0,542 120 0,167 0,817 0,733 0,608 240 0,225 0,750 0,717 0,525 Média(1) 0,13 D 0,69 A 0,66 B 0,49 C (1) Médias seguidas por letras iguais não diferem entre si (Tukey a 5%), DMS= 0,02, CV%= 8,94. Tabela 4. Dados médios originais da altura, cm, do porta-enxerto limoeiro “Cravo”, sem e com inoculação de FMA, Glomus etunicatum (GE), Glomus clarum (GC) ou Scutelospora heterogama (SH), em função do fósforo adicionado ao substrato (Média de seis repetições). ---------------------------FMAs-------------------------- Fósforo adicionado mg kg-1 sem GE GC SH Altura, cm 0 6,400 55,233 48,400 36,067 15 6,583 77,800 70,667 52,400 30 6,850 81,917 75,717 56,783 45 7,083 88,550 80,933 55,933 60 7,350 85,550 85,300 52,250 120 8,450 91,417 84,017 52,500 240 10,450 79,383 82,433 32,633 Média(1) 7,60 D 79,98 A 75,35 B 48,37 C (1) Médias seguidas por letras iguais em cada linha não diferem entre si (Tukey a 5%), DMS= 2,16, CV%= 7,18. 44 Tabela 5. Dados médios originais do número de folhas do porta-enxerto limoeiro “Cravo”, sem e com inoculação de FMA, Glomus etunicatum (GE), Glomus clarum (GC) ou Scutelospora heterogama (SH), em função do fósforo adicionado ao substrato (Média de seis repetições). ---------------------------FMAs-------------------------- Fósforo adicionado mg kg-1 sem GE GC SH Número de folhas 0 5,750 15,500 15,333 8,500 15 5,917 19,333 18,417 14,917 30 6,167 20,333 19,917 16,917 45 6,083 21,333 21,583 16,500 60 6,417 24,830 22,083 18,667 120 6,853 24,500 21,583 16,500 240 8,167 21,750 20,833 13,750 Média(1) 6,48 D 21,08 A 19,96 B 15,11 C (1) Médias seguidas por letras iguais em cada linha não diferem entre si (Tukey a 5%), DMS= 0,64, CV%= 7,15. Tabela 6. Dados médios originais da matéria seca da parte aérea (MSPA), g, do porta- enxerto limoeiro “Cravo”, sem e com inoculação de FMA, Glomus etunicatum (GE), Glomus clarum (GC) ou Scutelospora heterogama (SH), em função do fósforo adicionado ao substrato (Média de seis repetições). ---------------------------FMAs-------------------------- Fósforo adicionado mg kg-1 sem GE GC SH MSPA, g 0 0,168 5,365 4,682 2,675 15 0,160 9,718 10,365 5,388 30 0,225 11,387 11,408 6,045 45 0,250 12,380 13,033 5,350 60 0,270 11,576 13,027 5,078 120 0,375 11,653 11,593 4,245 240 0,583 10,885 10,257 2,385 Média(1) 0,29 C 10,42 A 10,62 A 4,45 B (1) Médias seguidas por letras iguais em cada linha não diferem entre si (Tukey a 5%), DMS= 0,40, CV%= 11,01. 45 Tabela 7. Dados médios originais da matéria fresca da parte radicular (MFPR), g, do porta-enxerto limoeiro “Cravo”, sem e com inoculação de FMA, Glomus etunicatum (GE), Glomus clarum (GC) ou Scutelospora heterogama (SH), em função do fósforo adicionado ao substrato (Média de seis repetições). ---------------------------FMAs-------------------------- Fósforo adicionado mg kg-1 sem GE GC SH MFPR, g 0 0,893 13,260 12,770 7,373 15 1,007 29,235 30,158 16,102 30 1,067 41,490 32,018 19,903 45 1,093 39,082 36,870 16,598 60 1,227 37,245 36,643 16,312 120 1,602 42,727 36,077 15,898 240 2,293 39,310 35,258 10,697 Média(1) 1,31 D 34,62 A 31,40 B 14,70 C (1) Médias seguidas por letras iguais em cada linha não diferem entre si (Tukey a 5%), DMS= 1,54, CV%= 13,22. Efeitos positivos da inoculação com FMA sobre o crescimento e utilização de fósforo são comuns na literatura. Micorrizas produzem micélio extraradicular, o qual aumenta o potencial do sistema para a absorção de água e nutrientes, contribuindo também para a melhoria da estruturação do solo (LINDERMAN, 1994; BAGYARAJ, 1994; CARDOSO FILHO et al., 1999; NOGUEIRA; CARDOSO, 2000; MOREIRA; SIQUEIRA, 2002). As hifas do micélio, além de manterem um maior contato com as partículas do substrato e de possuírem um crescimento radial, muitas vezes para além da zona de depleção de nutrientes, podem apresentar atividade elevada na absorção de fósforo (SILVEIRA; CARDOSO, 1990). Tais características, dentre outras, justificam os efeitos benéficos da micorrização, bem como a maior eficiência na utilização de fósforo em plantas micorrizadas. As intensidades do efeito da inoculação com Glomus etunicatum, Glomus clarum ou Scutelospora heterogama sobre o crescimento das plantas de limoeiro “Cravo” são 46 apresentadas na tabela 8 (para o diâmetro), tabela 9 (para a altura), tabela 10 (para o número de folhas), tabela 11 (para a MSPA) e tabela 12 (para a MFPR). Tabela 8. Dados médios originais do efeito da inoculação, %, com os FMAs Glomus etunicatum (GE), Glomus clarum (GC) ou Scutelospora heterogama (SH) sobre o diâmetro do caule do porta-enxerto limoeiro “Cravo”, em função do fósforo adicionado ao substrato (Média de seis repetições). ----------------------------FMAs----------------------------- Fósforo adicionado, mg kg-1 GE GC SH Efeito da inoculação, % 0 358,33 400,00 150,00 15 525,00 500,00 358,33 30 591,67 550,00 416,67 45 641,67 566,67 416,67 60 602,78 583,33 408,33 120 400,00 347,22 272,22 240 241,11 227,22 138,89 Média(1) 480,08 A 453,49 A 308,73 B (1) Médias seguidas por letras iguais não diferem entre si (Tukey a 5%), DMS= 30,22, CV%= 14,06. Tabela 9. Dados médios originais do efeito da inoculação, %, com os FMAs Glomus etunicatum (GE), Glomus clarum (GC) ou Scutelospora heterogama (SH) sobre a altura do porta-enxerto limoeiro “Cravo”, em função do fósforo adicionado ao substrato (Média de seis repetições). ----------------------------FMAs----------------------------- Fósforo adicionado, mg kg-1 GE GC SH Efeito da inoculação, % 0 766,58 663,19 467,71 15 1058,57 977,12 695,94 30 1096,20 1006,63 729,52 45 1152,41 1044,76 690,89 60 1063,92 1060,82 610,71 120 981,73 894,58 521,93 240 659,62 689,34 211,80 Média(1) 972,29 A 905,21 B 561,21 C (1) Médias seguidas por letras iguais não diferem entre si (Tukey a 5%), DMS= 35,49, CV%= 8,42. 47 Tabela 10. Dados médios originais do efeito da inoculação, %, com os FMAs Glomus etunicatum (GE), Glomus clarum (GC) ou Scutelospora heterogama (SH) sobre o número de folhas do porta-enxerto limoeiro “Cravo”, em função do fósforo adicionado ao substrato (Média de seis repetições). ----------------------------FMAs----------------------------- Fósforo adicionado, mg kg-1 GE GC SH Efeito da inoculação, % 0 178,51 175,63 49,60 15 238,79 222,20 160,96 30 241,55 235,12 184,47 45 264,89 268,23 183,03 60 301,11 256,81 200,30 120 270,27 225,53 150,18 240 173,09 160,88 70,98 Média(1) 238,32 A 220,63 B 142,79 C (1) Médias seguidas por letras iguais em cada linha não diferem entre si (Tukey a 5%), DMS= 17,41, CV%= 16,73. Tabela 11. Dados médios originais do efeito da inoculação, %, com os FMAs Glomus etunicatum (GE), Glomus clarum (GC) ou Scutelospora heterogama (SH) sobre a matéria seca da parte aérea do porta- enxerto limoeiro “Cravo”, em função do fósforo adicionado ao substrato (Média de seis repetições). ----------------------------FMAs----------------------------- Fósforo adicionado, mg kg-1 GE GC SH Efeito da inoculação, % 0 3111,63 2703,02 1526,00 15 6008,24 6447,18 3309,16 30 5007,97 5072,15 2619,08 45 4875,00 5124,20 2043,00 60 4252,00 4758,29 1805,00 120 3078,11 3090,54 1050,30 240 1807,80 1698,29 322,52 Média(1) 4020,10 A 4127,70 A 1810,80 B (1) Médias seguidas por letras iguais em cada linha não diferem entre si (Tukey a 5%), DMS= 265,88, CV%= 15,44. 48 Tabela 12. Dados médios originais do efeito da inoculação, %, com os FMAs Glomus etunicatum (GE), Glomus clarum (GC) ou Scutelospora heterogama (SH) sobre a matéria fresca da parte radicular do porta-enxerto limoeiro “Cravo”, em função do fósforo adicionado ao substrato (Média de seis repetições). ----------------------------FMAs----------------------------- Fósforo adicionado, mg kg-1 GE GC SH Efeito da inoculação, % 0 1395,24 1384,86 747,77 15 2833,22 2928,49 1526,07 30 3839,06 2947,50 1796,73 45 3580,04 3307,11 1462,73 60 2947,00 2891,45 1232,49 120 2597,13 2176,28 901,14 240 1618,81 1454,95 369,69 Média(1) 2687,21 A 2441,52 B 1148,09 C (1) Médias seguidas por letras iguais em cada linha não diferem entre si (Tukey a 5%), DMS= 171,25, CV%= 15,78. As interações entre o efeito da inoculação com Glomus etunicatum, Glomus clarum ou Scutelospora heterogama e o fósforo adicionado, relativas ao diâmetro do caule, à altura e ao número de folhas de plantas de limoeiro “Cravo” são apresentadas na figura 6, enquanto que as interações relativas à MSPA e à MFPR são apresentadas na figura 7. As curvas obtidas, do tipo y=a+bx+cx0,5 para o efeito da inoculação sobre a altura e do tipo y=a+4bn(1-n); n=exp(-(x-c)/d) para as demais variáveis, traduzem a dinâmica do efeito da inoculação micorrízica sobre o crescimento das plantas. O efeito da inoculação, ocorrido já no tratamento sem adição de fósforo ao substrato, aumentou com o aumento do fósforo adicionado ao substrato até as doses de 15-60 mg kg-1 de P no solo, após o que, doses maiores de fósforo diminuíram os efeitos benéficos da inoculação. Esta redução nos efeitos da inoculação em doses maiores de fósforo é comum na literatura e tem sido explicada através de três hipóteses, segundo Moreira e Siqueira (2002): a. em condições de suprimento elevado de fósforo, a atividade de fosfatases nas raízes é baixa e, como conseqüência, lectinas presentes nas raízes ficam 49 livres e agora, ligam-se a carbohidratos do fungo, inibindo o crescimento deste; b. em condições de suprimento elevado de fósforo, a biossíntese de fosfolipídeos é aumentada e, como conseqüência, a permeabilidade celular, a exsudação radicular (açúcares e aminoácidos), a infecção e a colonização radicular são diminuídas; c. em condições de suprimento elevado de fósforo, a fotossíntese e o dreno de sacarose e/ou seus derivados para o sistema radicular é maior. Esta concentração elevada de sacarose e/ou seus derivados no sistema radicular inibiria propágulos do fungo micorrízico, tal como já verificado “in vitro”. Para o presente trabalho e de acordo com as equações obtidas, estima-se que os picos do efeito da inoculação estariam nas doses de 50, 45 e 50 mg kg-1 de P no solo para o diâmetro de caule, 50, 58 e 35 mg de P kg-1 de terra para a altura, 77, 71 e 58 mg kg-1 de P no solo para o número de folhas, 22, 23 e 15 mg de P kg-1 de terra para a MSPA e 39, 37 e 26 mg kg-1 de P no solo para a MFPR, respectivamente em função da inoculação dos FMAs Glomus etunicatum, Glomus clarum e Scutelospora heterogama. Quanto ao grau dos efeitos da inoculação sobre as variáveis do crescimento das plantas, este seguiu a ordem: MSPA > MFPR > altura > diâmetro > número de folhas. Os efeitos variaram de 1050 a 6447 % para a MSPA, de 370 a 3840 % para a MFPR, de 212 a 1152 % para a altura, de 139 a 642 % para o diâmetro do caule e de 50 a 301 % para o número de folhas. Os efeitos da inoculação sobre as variáveis do crescimento das plantas variaram também em função do FMA inoculado e, de modo geral, segundo a ordem: (Glomus etunicatum = Glomus clarum) > Scutelospora heterogama (Figuras 6 e 7). De acordo com os dados apresentados nestas figuras e ignorando-se o fator fósforo adicionado ao substrato, os efeitos positivos médios devidos à inoculação com os FMAs 50 Figura 6. Relação entre o fósforo adicionado ao substrato e o efeito da inoculação com os FMAs Glomus etunicatum (GE), Glomus clarum (GC) ou Scutelospora heterogama (SH) sobre o diâmetro do caule, altura e número de folhas do porta- enxerto limoeiro “Cravo” (Média de seis repetições). Altura 0 300 600 900 1200 GE GC SH y=787,884-6,550x+92,167x0,5 R2=0,84* y=683,634-6,021x+91,974x0,5 R2=0,80* y=497,677-5,338+63,111x0,5 R2=0,86* Ef ei to d a in oc ul aç ão , % Folhas 0 50 100 150 200 250 300 0 60 120 180 240 P adicionado, mg kg-1 GE GC SH y=1154,919n(1-n); n=exp(-(x+35,142)/162,179) R2=0,64* y=1039,330n(1-n); n=exp(-(x+42,037)/162,644) R2= 0,61* y=808,167n(1-n); n=exp(-(x+8,5431)/95,9282) R2=0,67* SH GC GE Diâmetro 0 100 200 300 400 500 600 700 GE GC SH y=2456,464n(1-n); n=exp(-(x+21,173)/102,051) R2=0,80* y=2238,180n(1-n); n=exp(-(x+29,496)/107,663) R2=0,76* y=1718,036n(1-n); n=exp(-(x+10,364)/86,649) R2=0,80* SH GC GE GE GC SH 51 Figura 7. Relação entre o fósforo adicionado ao substrato e o efeito da inoculação com os FMAs Glomus etunicatum (GE), Glomus clarum (GC) ou Scutelospora heterogama (SH) sobre a matéria seca da parte aérea (MSPA) e a matéria fresca da parte radicular (MFPR) do porta-enxerto limoeiro “Cravo” (Média de seis repetições). MFPR 0 1000 2000 3000 4000 0 60 120 180 240 P adicionado, mg kg-1 GE GC SH y=1498,099+8293,745n(1-n); n=exp(-(x-0,758)/54,848) R2=0,77* y=1351,086+7426,378n(1-n); n=exp(-(x+0,642)/54,628) R2=0,81* M SPA 0 2000 4000 6000 8000 GE GC SH y=2178,675+14092,442n(1-n); n=exp(-(x+2,937)/35,397) R2=0,82* y=2106,857+15856,954n(1-n); n=exp(-(x+1,804)/35,812) R2=0,78* y=615,253+10150,22n(1-n); n=exp(-(x+3,1554)/26,8374) R2=0,87* GE GC SH Ef ei to d a in oc ul aç ão , % y=610,282+4474,076n(1-n); n=exp(-(x-3,173)/33,520) R2=0,80* GE GC SH 52 Glomus etunicatum, Glomus clarum ou Scutelospora heterogama, respectivamente, foram de 480, 454 e 309 % para o diâmetro do caule, 972, 905 e 561 % para a altura, 238, 221 e 143 % para o número de folhas, 4020, 4128 e 1811 % para a MSPA, 2687, 2442 e 1148 % para a MFPR. Fonseca et al. (1994), na associação limoeiro “Cravo” - Glomus clarum sob vários níveis de fósforo (0, 141, 282 e 563 mg kg-1 de P no solo), verificaram que o efeito maior da micorrização sobre as matérias secas da parte aérea e radicular foram de apenas 185 e 113%, respectivamente, e ocorreram no tratamento sem adição de fósforo. Em doses maiores de P adicionado houve inversão nos efeitos micorrízicos. Para Melloni et al. (2000), por sua vez, o efeito maior da inoculação com Glomus intraradices ou Glomus etunicatum sobre a MSPA de limoeiro “Cravo” foi de 506 e 129 %, respectivamente, e ocorreram nos tratamentos adicionados de 50 e 200 mg kg-1 de P no solo, respectivamente. Esta diversidade de efeitos da micorrização sobre variáveis do crescimento de plantas tem fundamento nos fatores que regulam as associações micorrízicas. Embora não haja especificidade entre macro e microssimbionte, o comportamento das associações micorrízicas bem como os efeitos e a intensidade destes variam com a combinação FMA x planta e com os fatores bióticos e abióticos do sistema (BAGYARAJ, 1994). A época da inoculação também é um fator que pode interferir na intensidade do efeito micorrízico, de modo que, quanto mais precoce for a infecção, maiores poderão ser os efeitos da inoculação (SAFIR, 1994). Este fato pode explicar os efeitos micorrízicos maiores no presente experimento em relação aos dados obtidos por Fonseca et al. (1994), Melloni e Cardoso (1999) e Melloni et al. (2000). No presente experimento a inoculação foi feita no momento do transplante de plântulas com 30 dias de idade para bandejas, onde permaneceram por mais 30 dias e com adição periódica de solução nutritiva completa 53 diluída, previamente ao transplante definitivo para os vasos de cultivo. Os demais autores, por sua vez, introduziram os fungos diretamente nos vasos de cultivo, seja no momento da semeadura ou do transplante de mudas com 90 dias de idade. Como consequência, há variações nos efeitos sobre o crescimento das plantas micorrizadas. No presente experimento, a MSPA de plantas inoculadas com Glomus etunicatum, Glomus clarum ou Scutelospora heterogama variou de 2,4 a 13g, em função do fósforo adicionado ao substrato, enquanto que para Melloni e Cardoso (1999) os dados de MSPA de plantas inoculadas com Glomus etunicatum ou Glomus intraradices ou Glomus clarum foram menores, situando-se entre 0,2 a 5,3g. Para Melloni et al. (2000), os dados de MSPA de plantas inoculadas com Glomus etunicatum ou Glomus intraradices também foram menores, situando-se entre 0,2 a 7,0 g aproximadamente. Os efeitos da inoculação com Glomus clarum sobre a MSPA, diâmetro de caule e altura das plantas de limoeiro “Cravo” também foram menores no experimento de Gomes (1997) em relação aos dados do presente experimento, considerando-se condições de adubação fosfática semelhantes; infere-se que tais diferenças também sejam devidas à época de inoculação do FMA. 4. 2. Teor de nutrientes na matéria seca foliar Os valores de “P” (nível de significância) para os teores acumulados de macro e micronutrientes na matéria seca de folhas do porta-enxerto limoeiro “Cravo” são apresentados na tabela 13. A dose de fósforo no substrato afetou o teor de nutrientes acumulados nas folhas, exceto para o zinco. A presença de FMA, por sua vez, afetou o teor de todos os nutrientes nas folhas do porta-enxerto. Ademais, houve interação entre estes dois fatores (nível de fósforo x FMA) sobre o acúmulo de todos os nutrientes analisados. 54 Cardoso et al. (1986) também observaram efeitos isolados do nível de P no substrato (0, 30 e 100 mg kg-1) e da micorrização (Glomus macrocarpum, Gigaspora gilmorei, Glomus fasciculatum ou Gigaspora heterogama) sobre a absorção de P e K nos porta-enxertos laranjeira “Caipira” e limoeiro “Cravo”. Tabela 13. Valores de “P” (nível de significância) obtidos na análise de variância de nutrientes absorvidos pelo porta-enxerto limoeiro “Cravo”. Causas de variação N P K Ca Mg S B Cu Fe Mn Zn P 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* ns FMA 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* P x FMA 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0024* CV % 4,01 13,95 8,09 6,36 5,67 4,95 12,27 19,39 8,98 8,73 18,98 *: significativo a 0,05 de probabilidade pelo teste “F”; ns: não significativo; P: doses de fósforo; FMA: fungo micorrízico arbuscular. Gomes (1997), trabalhando com FMAs (Glomus intraradices ou Glomus clarum) e níveis de P adicionado ao substrato (0, 200, 400, 600 e 800 mg kg-1) no cultivo dos porta- enxertos tangerina “Cleópatra”, laranjeira “Caipira” e limoeiro “Cravo”, também observou efeito isolado do nível de fósforo sobre a absorção de N, P, K, Ca, Mg e S. Contudo, não verificou efeito isolado de FMA na absorção destes nutrientes e também, efeito da interação do nível de P no substrato x FMA ocorreu somente para o fósforo e para o enxofre. Melloni et al. (2000) também verificaram interação significativa de FMAs (Glomus intraradices ou Glomus etunicatum) e doses de P no substrato (0, 50, 100, 150, 200 e 250 mg kg-1) sobre o acúmulo de P, K, Ca, Mg, S, Fe, Mn e Zn na parte aérea de limoeiro “Cravo”. 55 4. 2. 1. Nitrogênio Os teores foliares de N obedeceram à ordem decrescente: sem FMA > Scutelospora heterogama > Glomus clarum > Glomus etunicatum (Tabela 14), um reflexo da provável diluição deste nutriente na massa vegetal, cuja MSPA apresentou a seguinte ordem decrescente: (Glomus etunicatum = Glomus clarum) > Scutelospora heterogama > sem FMA. A interação entre o teor de N nas folhas e o fósforo adicionado ao substrato, nutriente limitante no experimento, obedeceu à uma função polinomial quadrática (Figura 8). Para as plantas não inoculadas houve tendência de aumento gradativo no teor de N foliar em função do aumento de dose de P no substrato (Figura 8). Ademais, estas plantas apresentaram teores de N foliar maiores em relação às inoculadas. Este fato evidencia uma diluição do nutriente nestas últimas, em função de sua biomassa maior (Tabela 6). Para as plantas inoculadas, a interação entre o teor de N nas folhas e o fósforo adicionado ao substrato pode ser dividida em duas fases. A primeira fase, de tendência de decréscimo no teor de N foliar em função do aumento da dose de P adicionada ao substrato até 120 mg kg-1, e a segunda fase, de tendência de aumento gradativo subseqüente à esta dose de fósforo no substrato. A primeira fase coincide tendência de maiores valores de MSPA, enquanto que a segunda fase coincide com tendência de queda nos valores de MSPA (Figura 4). 56 Tabela 14. Dados médios originais do teor de N acumulado, g kg-1, na massa seca foliar do porta-enxerto limoeiro “Cravo”, sem e com inoculação de FMA, Glomus etunicatum (GE), Glomus clarum (GC) ou Scutelospora heterogama (SH), em função do fósforo adicionado ao substrato (Média de seis repetições). ---------------------------FMAs-------------------------- Fósforo adicionado mg kg-1 sem GE GC SH N, g kg-1 0 39,33 38,67 42,00 39,00 15 38,67 31,83 33,83 36,67 30 39,67 30,00 32,83 35,83 45 38,67 29,50 31,83 36,17 60 39,67 28,33 31,00 34,33 120 40,33 29,50 29,83 34,33 240 42,00 30,00 28,33 31,67 Média(1) 39,76 A 31,12 D 32,81 C 35,43 B (1) Médias seguidas por letras iguais em cada linha não diferem entre si (Tukey a 5%), DMS= 1,20, CV%= 4,01. Figura 8. Relação entre o fósforo adicionado ao substrato e o teor de N foliar, g kg-1, do porta-enxerto limoeiro “Cravo” inoculado ou não com os FMA Glomus clarum (GC), Glomus etunicatum (GE) ou Scutelospora heterogama (SH) (seis repetições). y = 0,0004x2- 0,14x + 38,24 R2 = 0,66* 20 30 40 50 0 60 120 180 240 GC y = 0,0004x2 - 0,13x + 35,25 R2 = 0,58* GE y = 3E-05x2 + 0,007x + 38,99 R2 = 0,70* 20 30 40 50 sem FMA y = 0,0001x2 - 0,05x + 37,92 R2 = 0,58* 0 60 120 180 240 SHN n as fo lha s, g kg -1 P adicionado, mg kg-1 57 Fonseca et al. (1994) também verificaram decréscimo no teor de N na MSPA de plantas de limoeiro “Cravo” micorrizadas por Glomus clarum e atribuíram o efeito à diluição do nutriente na MSPA aumentada. Os resultados de teores de nutrientes nas plantas variam com o manejo adotado, com o tipo de massa vegetal analisada, com a idade da planta e outros fatores. Neste sentido, enquanto que no presente experimento as médias gerais observadas para o teor de N foliar nos tratamentos sem FMA ou com Scutelospora heterogama, Glomus clarum ou Glomus etunicatum foram de 39,76, 35,43, 32,81 e 31,12g kg-1, respectivamente, Fonseca et al. (1994) observaram uma média geral de 21,65g N kg-1 de MSPA de limoeiro “Cravo”, inoculado ou não Glomus clarum, cultivado em substrato fumigado (mistura de Latossolo Vermelho Amarelo, bagaço de cana-de-açúcar compostado, areia grossa lavada e vermiculita), adicionado ou não de 320g m-3 de P205 (Super Simples). 4. 2. 2. Fósforo O teor de P foliar foi maior nas plantas inoculadas com Glomus etunicatum, exceto nos tratamentos sem ou com adição de 240 mg kg-1 de P no substrato (Tabela 15). Para as plantas inoculadas com Scutelospora heterogama, por sua vez, o teor de P foliar foi maior em relação às plantas inoculadas com Glomus clarum, nos tratamentos sem adição e com adição de 15 e 30 mg kg-1 de fósforo no substrato. Mas, em doses maiores de P, houve uma inversão, ou seja, o teor foliar de P foi maior nas plantas inoculadas com Glomus clarum. A interação entre o teor de P nas folhas e o fósforo adicionado ao substrato também obedeceu à uma função polinominal quadrática (Figura 9). Nas plantas inoculadas o teor 58 de P foliar tendeu a aumentar até a dose de 120 mg kg-1 de P no substrato após o que, tendeu à queda. Tabela 15. Dados médios originais do teor de P acumulado, g kg-1, na massa seca foliar do porta-enxerto limoeiro “Cravo”, sem e com inoculação de FMA, Glomus etunicatum (GE), Glomus clarum (GC) ou Scutelospora heterogama (SH), em função do fósforo adicionado ao substrato (Média de seis repetições). ---------------------------FMAs-------------------------- Fósforo adicionado mg kg-1 sem GE GC SH P, g kg-1 0 0,60 0,85 0,70 0,98 15 0,50 1,25 0,90 1,08 30 0,50 1,52 1,08 1,33 45 0,50 1,58 1,67 1,35 60 0,50 1,88 1,48 1,23 120 0,50 2,02 1,68 1,65 240 0,60 1,88 2,03 1,60 Média(1) 0,53 C 1,57 A 1,29 B 1,32 B (1) Médias seguidas por letras iguais em cada linha não diferem entre si (Tukey a 5%), DMS= 0,09, CV%= 13,95. Cardoso et al. (1986), na interação limoeiro “Cravo” e FMAs, também observaram tendência de aumentos no teor de P na MSPA das plantas em doses de P semelhantes às do presente experimento, ou seja, 0, 30 e 100 mg kg-1 de P aplicado ao substrato (fosfato bicálcico). Nos tratamentos com Glomus macrocarpum ou com Gigaspora margarita, o teor de P no MSPA das plantas de tendeu a aumentar em função do aumento do P adicionado ao substrato. Contudo, para o tratamento com Gigaspora gilmorei não houve diferenças no teor de P no tecido vegetal em função das doses de P adicionado ao substrato e, no tratamento com Glomus leptotichum, o maior efeito sobre o teor de P na MSPA ocorreu no tratamento sem adição de P ao substrato. 59 Figura 9. Relação entre o fósforo adicionado ao substrato e o teor de P foliar, g kg-1, do porta-enxerto limoeiro “Cravo” inoculado ou não com os FMAs Glomus clarum (GC), Glomus etunicatum (GE) ou Scutelospora heterogama (SH) (seis repetições). Melloni et al. (2000), para plantas de limoeiro “Cravo” inoculadas com Glomus etunicatum ou Glomus intraradices, verificaram que a interação entre o P adicionado ao substrato (0, 50, 100, 150 e 200 e 250 mg kg-1) e o teor de P acumulado na parte aérea foi representada por uma equação linear e quadrática, respectivamente. Verificaram também que, na presença de Glomus intraradices as plantas apresentaram maior acúmulo de P na parte aérea até a dose de 150mg kg-1 de P e, acima desta dose, os valores igualaram-se ou foram inferiores aos das plantas inoculadas com Glomus etunicatum. No presente trabalho, os teores foliares de P obedeceram à ordem decrescente: Glomus etunicatum > (Scutelospora heterogama = Glomus clarum) > sem FMA, com os dados médios de 1,57, 1,32, 1,29 e 0,53 g kg-1, respectivamente (Tabela 15). y = -2E-05x2 + 0,008x + 1,0 R2 = 0,71* 0 60 120 180 240 SH y = -3E-05x2 + 0,012x + 0,74 R2 = 0,80* 0 1 2 3 0 60 120 180 240 GC y = -5E-05x2 + 0,016x + 0,99 R2 = 0,75* GE y = 7E-06x2 - 0,0014x + 0,56 R2 = 0,72* 0 1 2 3 sem FMA P adicionado, mg kg-1 P na s f ol ha s, g kg -1 60 Fatores bióticos e abióticos, bem como a combinação macro x microssinbiorte, interferem no processo micorrízico e eficiência deste sobre o crescimento das plantas, o que justifica os resultados diversos encontrados na literatura. Neste sentido, Cardoso et al (1986), na associação limoeiro “Cravo” e FMA, também observaram diferenças na eficiência do processo em função da combinação macro x microssimbionte. Para estes autores, os dados médios de teor de P na MSPA foram de 0,45, 0,44, 0,50, 0,58 e 0,65g kg-1 nos tratamentos sem ou com inoculação dos FMA Glomus macrocarpum, Glomus leptotichum, Gigaspora margarita ou Gigaspora gilmorei, respectivamente. De modo geral, os tratamentos com Glomus leptotichum e Gigaspora gilmorei foram os que mais se sobressaíram nos efeitos positivos sobre o crescimento e absorção de P pelas plantas. Fonseca et al. (1994) encontraram valor médio de 0,65 g kg-1 de P na MSPA de plantas de limoeiro “Cravo”, inoculado ou não com Glomus clarum. Gomes (1997), por sua vez, não verificou efeitos positivos da inoculação com os FMA Glomus intraradices ou Glomus clarum sobre a absorção de P por plantas de limoeiro “Cravo”, em cada dose de P adicionado ao substrato (0, 200, 400, 600 e 800 mg kg-1, como superfosfato triplo), em comparação às plantas não inoculadas. Contudo, observou efeito significativo da interação FMA x doses de P sobre a absorção de fósforo pelas plantas. Na interação com Glomus clarum, o teor de P na MSPA tendeu a aumentar gradativamente com o aumento da dose de P adicionado ao substrato. Por outro lado, na interação com Glomus intraradices, o teor de P na MSPA tendeu a aumentar somente até a dose de 400 mg kg-1 e após, tendeu à queda. A figura 10 apresenta as interações entre o efeito da inoculação com os FMAs Glomus etunicatum, Glomus clarum ou Scutelospora heterogama e o fósforo adicionado ao substrato sobre o teor de P foliar. De acordo com as equações polinomiais 61 apresentadas, os teores máximos para o P foliar ocorreram entre as doses de 120 a 240 mg kg-1 de P adicionado ao substrato. Figura 10. Relação entre o fósforo adicionado ao substrato e o efeito da inoculação com os FMA Glomus etunicatum (GE), Glomus clarum (GC) ou Scutelospora heterogama (SH) sobre o teor foliar de P, no porta-enxerto limoeiro “Cravo” (seis repetições). 4. 2. 3. Potássio Os teores foliares de K obedeceram à ordem decrescente: sem FMA > Scutelospora heterogama > Glomus etunicatum Glomus clarum, com dados médios de 30,43, 18,48, 13,52 e 11,62 g kg-1, respectivamente (Tabela 16). Este comportamento é semelhante ao observado para o teor foliar de N. Desta forma, é provável que tenha havido diluição também deste nutriente nas plantas micorrizadas, devido à sua massa vegetal aumentada. Por outro lado, é bem conhecido o papel de íons Ca+2 sobre a absorção de K pelas plantas. Em concentrações baixas de Ca+2 na solução do solo, há estímulo na absorção de K; aumentando-se a concentração de Ca+2, este estímulo diminui; em concentração EI, fósforo y = -0,013x2 + 3,70x + 79,62 R2 = 0,76* y = -0,008x2 + 2,85x + 31,60 R2 = 0,77* y = -0,007x2 + 2,06x + 81,38 R2 = 0,70* 0 100 200 300 400 0 60 120 180 240 P adicionado, g kg-1 Ef eit o da in oc ula çã o, % GE GC SH 62 elevadas de Ca+2, este passa a exercer antagonismo sobre o K, o qual tem a sua absorção diminuída (Malavolta, 1976; Raij, 1982). Desta forma, no presente experimento, a redução no teor foliar de K pode também ser devida à inibição competitiva que íons Ca+2 exercem sobre a absorção de K (Fonseca et al., 1994) em associações limoeiro “Cravo” e FMA. Adubação fosfática em doses crescentes é fonte de íons Ca+2 e, estes últimos, em concentrações elevadas, inibem a absorção de K+ através da competição pelos sítios de absorção (Malavolta, 1976, 1980). Tabela 16. Dados médios originais do teor de K acumulado, g kg-1, na massa seca foliar do porta-enxerto limoeiro “Cravo”, sem e com inoculação de FMA, Glomus etunicatum (GE), Glomus clarum (GC) ou Scutelospora heterogama (SH), em função do fósforo adicionado ao substrato (Média de seis repetições). ---------------------------FMAs-------------------------- Fósforo adicionado mg kg-1 sem GE GC SH K, g kg-1 0 30,00 27,67 21,50 22,50 15 30,00 15,00 13,50 20,17 30 30,00 11,17 10,83 20,00 45 30,00 11,00 9,83 18,33 60 31,00 11,83 8,67 16,17 120 31,00 8,50 8,33 16,17 240 31,00 9,50 8,67 16,00 Média(1) 30,43 A 13,52 C 11,62 D 18,48 B (1) Médias seguidas por letras iguais não diferem entre si (Tukey a 5%), DMS= 0,85, CV%= 8,09. Fonseca et al. (1994) encontraram valor médio de 12,75 g kg-1 de K na MSPA de limoeiro “Cravo” inoculado ou não com Glomus clarum, bem como uma queda no seu teor em função do aumento da dose de P adicionado ao substrato, reflexo da diluição do nutriente na massa vegetal aumentada. No presente trabalho, assim como observado por Fonseca et al. (1994), a interação entre o teor de K absorvido e o P adicionado ao substrato foi representada por um função polinomial quadrática (Figura 11), a qual também pode ser interpretada em duas fases 63 como o acontecido para o N (Figura 8), ou seja, houve uma fase de tendência de decréscimo até a dose de 120 mg kg-1 de P adicionado, após o quê, seguiu-se uma fase de tendência de aumento gradativo. Figura 11. Relação entre o fósforo adicionado ao substrato e o teor de K foliar, g kg-1, do porta-enxerto limoeiro “Cravo” inoculado ou não com os FMAs Glomus clarum (GC), Glomus etunicatum (GE) ou Scutelospora heterogama (SH) (seis repetições). Gomes (1997) também verificou tendência de redução na absorção de K por porta- enxertos cítricos, inoculados ou não com FMA, em função do aumento das doses de P adicionado ao substrato. O efeito foi mais intenso para o porta-enxerto tangerina “Cleópatra” em relação ao limoeiro “Cravo” e à laranjeira “Caipira”. y = 0,0006x2 - 0,17x + 17,60 R2 = 0,68* 0 10 20 30 40 0 60 120 180 240 GC y = -4E-05x2 + 0,015x + 29,81 R2 = 0,74* 0 10 20 30 40 sem FMA y = 0,0007x2 - 0,22x + 21,48 R2 = 0,64* GE y = 0,0002x2 - 0,08x + 21,88 R2 = 0,58* 0 60 120 180 240 SH P adicionado, mg kg-1 K n as fo lha s,