Programa de Pós-graduação em Ciências do Movimento Thamyres Rangel Mendes Barros Efeitos da hidratação e da capacidade cardiorrespiratória sobre o comportamento da dinâmica não linear da frequência cardíaca em jovens saudáveis: ensaio clínico cross-over Presidente Prudente – SP 2022 Programa de Pós-graduação em Ciências do Movimento Thamyres Rangel Mendes Barros Efeitos da hidratação e da capacidade cardiorrespiratória sobre o comportamento da dinâmica não linear da frequência cardíaca em jovens saudáveis: ensaio clínico cross-over Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências e Tecnologia – FCT/UNESP, campus de Presidente Prudente, para a obtenção do título de Mestre no Programa de Pós-graduação em Ciências do Movimento. Orientadora: Profa. Dra. Franciele Marques Vanderlei Co-orientador: Prof. Dr. Luiz Carlos Marques Vanderlei Presidente Prudente – SP 2022 Dedicatória Dedico este trabalho à minha família, em especial aos meus pais, meu irmão e meus avós, que durante todo o processo me apoiaram, me incentivaram e acreditaram em mim. Agradecimentos Não poderia deixar de agradecer primeiramente à Deus por tudo o que Ele me proporcionou e me permitiu conquistar até aqui. Agradeço grandemente aos meus pais e meu irmão por todo o apoio durante anos de graduação, especialização e pesquisa, sem eles nada disso seria possível. Aos meus pais: amo vocês e sou grata por todo o sacrifício que eu sei que vocês fizeram para me manter aqui durante 8 anos. Toda a saudade que eu deixei, todas as lágrimas derramadas na rodoviária quando eu voltava para cá, e principalmente, os ensinamentos que vocês me deram desde pequena a respeito da importância do estudo e da dedicação me trouxeram até esse momento, com todo o meu coração eu posso afirmar: essa conquista é de vocês, meus maiores exemplos de vida!! Ao meu irmão: Sair de casa aos 18 anos para morar a 570km de distância não é nada fácil, somados a deixar você criança e perder seu crescimento foi a pior parte do processo, por noites chorei (e ainda choro – inclusive estou chorando agora rs) por saudade. Vi, hoje tenho tanto orgulho do que você se tornou, já disse muitas vezes e não me canso de dizer, você é o que eu tenho de mais precioso e vou continuar cuidando de você independente de tudo. Estarei sempre do seu lado, eu te amo gordo. Ao meu professor Luiz Carlos: professor, somente um “muito obrigada” é insuficiente para demonstrar o carinho e gratidão que tenho pelo senhor! Foi você quem despertou esse amor em mim, primeiramente pela cardiologia, depois por lecionar. Algo que nem eu sabia que existia, mas você enxergou, insistiu e não desistiu, mesmo quando eu queria desistir de tudo. Tenho certeza que esse sentimento não é só meu, mas de todos que trabalham contigo: nos espelhamos e nos inspiramos no senhor, pelo profissional, pesquisador e pessoa que o senhor é. Muito obrigada mais uma vez por todo o apoio professor, sou muito grata por todas as oportunidades e conhecimento que adquiri ao longo dos anos. A minha professora Roselene M. Lorençoni, da qual poderia facilmente trocar o termo “professora” por “mãe da faculdade”. Sempre brincamos com isso, mas para mim não é somente brincadeira, foi isso que a senhora foi para mim durante todos esses anos, e eu não poderia deixar de te agradecer publicamente por tudo. Desde o segundo ano da faculdade a senhora me acolheu no teu projeto, me fez crescer, me fez assumir responsabilidades, confiou em mim e viu potencial onde eu não enxergava (até o pouco de molejo que tenho hoje, devo a você rs). Mais uma vez: muito obrigada professora, você também é fonte de inspiração para todos, e em especial para mim, serei sempre grata. Agradeço especialmente a minha professora orientadora Franciele M. Vanderlei pela oportunidade e confiança durante esses dois anos. A senhora é incrível professora, e não é somente minha opinião aqui não viu? Todos que conheço respeitam e se inspiram em você, não somente pelo lado pesquisadora/professora, mas também a pessoa que sempre está disposta a ajudar, sabemos que o dom é para poucos, mas você com certeza é uma dessas pessoas. Muito obrigada! A todos do Laboratório de Fisiologia do Estresse por me aceitar nesse time incrível de pesquisa! Em especial, agradeço a Anne, Felipe, Helo, Maju, Natacha e Carol por me ajudarem no início da jornada onde era tudo muito novo para mim em relação à pesquisa, e vocês me ofereceram o suporte necessário para que eu conseguisse terminar essa pesquisa. Muito obrigada! Agradeço também a minha banca: professora Francis, professora Anne, Professora Rayana, Professora Rose e professora Ana Clara, por aceitarem fazer parte desse momento especial e contribuirem de maneira significativa para esse processo. Epígrafe “Não fui eu que ordenei a você? Seja forte e corajoso! Não se apavore, nem desanime, pois o Senhor, o seu Deus, estará com você por onde você andar” Josué 1:9 Resumo Introdução: Fatores como a perda expressiva de líquidos pelo suor e níveis mais baixos de capacidade cardiorrespiratória podem influenciar o período recuperativo e prejudicar o desempenho durante o exercício físico. Técnicas que promovam uma recuperação mais rápida e eficiente tem sido estudada, e dentre elas, a reposição hídrica têm demonstrado resultados positivos. Apesar disso, a influência desses dois fatores sobre a dinâmica não linear da frequência cardíaca ainda é desconhecida. Objetivo: Avaliar os efeitos da hidratação e da capacidade cardiorrespiratória sobre a dinâmica não linear da frequência cardíaca durante e após uma sessão de exercício de intensidade moderada e duração prolongada em jovens saudáveis. Materiais e métodos: Foram incluídos no estudo indivíduos do sexo masculino, saudáveis, com idade entre 18 e 30 anos e fisicamente ativos. Todos os voluntários foram submetidos a três etapas: I) Teste de esforço máximo; II) Protocolo controle (PC); III) Protocolo hidratação (PH). A etapa I teve por objetivo determinar a carga de trabalho para as etapas seguintes (60% da FC registrada no VO2pico) e dividir os voluntários nos grupos Maior VO2 (n=16) e Menor VO2 (n=15) de acordo com a mediana dos valores de VO2pico. O PC e PH foi constituído por 10 minutos de repouso inicial, seguido por 90 minutos de atividade aeróbia e 60 minutos de recuperação final. Somente no PH os voluntários foram hidratados com água mineral durante exercício e no período recuperativo. O comportamento não linear da FC foi analisado em 10 momentos pré- definidos utilizando-se os índices do plot de recorrência (REC, DET e SampEn), da análise de flutuações depurada de tendência (DFA-total, Alfa-1 e Alfa-2) e da análise simbólica (0V, 1V, 2LV e 2ULV). Resultados: Durante o exercício não foram encontradas diferenças significantes (p < 0,05) entre os protocolos e grupos de acordo com o VO2, sendo as respostas fisiológicas e características do período. No entanto, durante o período recuperativo, a hidratação influenciou a dinâmica não linear da FC, acelerando sua recuperação. Quando comparado os protocolos, todos os índices observados apresentou efeito de momentos (p < 0,05), e interação momento vs. protocolo também para todos os índices, exceto alfa-2 e 1V. No PH todos os índices se recuperaram entre o 5° e 20°min da recuperação, enquanto que no PC, com exceção do índice 1V, não foi observado recuperação completa mesmo após 60min. Quando comparado os níveis de aptidão cardiorrespiratória, o grupo de maior VO2 apresentou uma recuperação acelerada de seus índices, ao passo que o grupo de menor VO2 foi beneficiado pelo PH em comparação as respostas obtidas durante o PC. Todos os índices apresentam efeito de momentos, e os índices 0V e 1V apresentaram efeito entre grupos (p < 0,05). Conclusão: Apesar de não ter influenciado durante o exercício, o protocolo de hidratação realizado se mostrou eficiente durante o período recuperativo, acelerando a recuperação da dinâmica não linear da FC. Apesar de indivíduos com maiores valores de VO2pico apresentarem uma recuperação mais rápida da dinâmica não linear da FC, independentemente do nível de hidratação, o protocolo proposto beneficiou indivíduos com menores níveis de aptidão cardiorrespiratória, sendo capaz de alterar as características da dinâmica não linear da FC e acelerar sua recuperação; Palavras – chave: Exercício; Reidratação; Sistema Nervoso Autônomo; Variabilidade da Frequência Cardíaca; Dinâmica não linear. Abstract Introduction: Factors such as significant loss of fluid through sweat and lower levels of cardiorespiratory capacity can influence the recovery period and impair performance during physical exercise. Techniques that promote faster and more efficient recovery have been studied, among them, water replacement has shown positive results. Despite this, the influence of these two factors on the non-linear dynamics of heart rate (HR) is still unknown. Objective: To analyze the effects of hydration and cardiorespiratory capacity on the non-linear dynamics of heart rate during and after a moderate-intensity and prolonged duration exercise session in healthy young people. Materials and methods: Male, healthy individuals aged between 18 and 30 years and physically active were included in the study. All volunteers underwent three stages: I) Maximum stress test; (II) Control Protocol (CP); III) Hydration protocol (HP). Stage I determined the exercise load for the following stages (60% of HR recorded at VO2peak) and based on the VO2peak median, the volunteers was divided into group Higher VO2 (n=16) and Lower VO2 (n=15). The CP and HP consisted of 10 minutes of initial rest, followed by 90 minutes of aerobic activity and 60 minutes of the final recovery. Only in the HP the volunteers were hydrated with mineral water during exercise and in the recovery period. The non-linear dynamic of HR was analyzed in 10 pre-defined moments using the indexes of recurrence plot (REC, DET and SampEn), detrended fluctuation analysis (DFA-total, Alpha-1 and Alpha-2), and symbolic analysis (0V, 1V, 2LV and 2ULV). Results: During exercise, no significant differences (p < 0,05) were found between protocols and groups according to VO2, the responses observed were physiological and characteristics of the period. However, during the recovery period, hydration influenced the non-linear dynamics of HR, accelerating his recovery. When comparing the protocols, all observed indices showed a moment effect (p < 0.05), and moment vs. protocol also for all indexes except alpha-2 and 1V. During HP the recovery of all indexes occurred between the 5th and 20th minutes of recovery, while during CP, with the exception of the 1V index, complete recovery was not observed even after 60min. When comparing the levels of cardiorespiratory fitness, the group with higher VO2 showed an accelerated recovery of their indexes, while the group with lower VO2 benefited from HP compared to the responses obtained during the CP. All indices show a moment effect, and the 0V and 1V indices showed an effect between groups (p < 0.05). Conclusion: Despite not having influenced during exercise, the hydration protocol performed proved to be efficient during the recovery period, accelerating the recovery of non-linear HR dynamics. Although individuals with higher VO2peak values show a faster recovery from the non-linear dynamics of HR, regardless of the hydration level, the proposed protocol benefited individuals with lower levels of cardiorespiratory fitness, being able to change the characteristics of the non- linear dynamics of HR and accelerate your recovery. Key-Words: Exercise; Rehydration; Autonomic Nervous System; Heart Rate Variability; Nonlinear Dynamics. Lista de Ilustrações LISTA DE ILUSTRAÇÕES MANUSCRITO 1............................................................................................................ Figura 1 – Fluxograma procedimental........................................................................43 Figura 2 – Fluxograma de perdas...............................................................................48 MANUSCRITO 2............................................................................................................ Figura 1 – Desenho do protocolo experimental..........................................................67 Figura 2 – Fluxograma de perdas...............................................................................71 Lista de Tabelas LISTA DE TABELAS MANUSCRITO 1.......................................................................................................... Tabela 1 – Caracterização da amostra.....................................................................49 Tabela 2 – Variáveis massa corporal, temperatura corporal e densidade específica da urina.....................................................................................................................50 Tabela 3 – Comparação entre o período de exercício e repouso para o PC e PH...51 Tabela 4 – Comparação entre o período de repouso e recuperação para o PC e PH............................................................................................................................53 MANUSCRITO 2.......................................................................................................... Tabela 1 – Características antropométricas e dados cardiovasculares...................72 Tabela 2 – Comparação entre os grupos de maior e menor VO2 para os índices obtidos pelo plot de recorrência e pela análise de flutuações depuradas de tendência..................................................................................................................73 Tabela 3 – Comparação entre os grupos de maior e menor VO2 para os índices da análise simbólica. Período de exercício vs. repouso inicial.......................................74 Tabela 4 – Comparação entre os grupos de maior e menor VO2 para os índices obtidos pelo plot de recorrência e pela análise de flutuações depuradas de tendência. Período de repouso inicial vs. recuperação..............................................................76 Tabela 5 – Comparação entre os grupos de maior e menor VO2 para os índices da análise simbólica. Período de repouso inicial vs. recuperação.................................77 Lista de Quadros LISTA DE QUADROS MANUSCRITO 2.......................................................................................................... Quadro 1 – Metodologia utilizada para análise da VFC...........................................69 Lista de Abreviaturas e Siglas LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS FCT: Faculdade de Ciências e Tecnologia SNA: Sistema nervoso autônomo VFC: Variabilidade da frequência cardíaca FC: Frequência cardíaca Consort: Consolidated Standards of Reporting Trials VO2pico: Consumo de oxigênio pico PC: Protocolo controle PH: Protocolo hidratação VO2: Consumo de oxigênio DFA: Flutuações depuradas de tendências REC: Recorrência DET determinismo SampEn: Entropia da amostra 0V: Nenhuma variação 1V: Uma variação 2LV: Duas variações iguais 2ULV: Duas variações diferentes SPSS: Statistical Packages for Social Sciences Kg: Quilogramas m: Metros IMC: Índice de massa corporal Kg/m2: Quilograma / metro2 ml: Mililitro Min: Minuto FCmax: Frequência cardíaca máxima BPM: Batimentos por minuto Mmt: Momentos Int: Interação Gp: Grupos IPAQ: Questionário internacional de atividade física mmHg: Milímetros de mercúrio PAS: Pressão arterial sistólica PAD: Pressão arterial diastólica ANOVA: Analise de variância para medidas repetidas DP: Desvio padrão Lista de Símbolos LISTA DE SÍMBOLOS >: Maior que <: Menor que =: Igual (): Parênteses []: Colchete %: Porcentagem °C: Graus celsius ±: Mais ou menos η²P: eta-squared parcial Sumário SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ................................................................................. 30 INTRODUÇÃO .....................................................................................322 MANUSCRITO 1 ..................................................................................388 MANUSCRITO 2 ................................................................................... 61 CONCLUSÃO ........................................................................................ 88 REFERÊNCIAS .................................................................................... 90 Apresentação Este é um modelo alternativo de dissertação e contempla a pesquisa intitulada: Efeitos da hidratação e da capacidade cardiorrespiratória sobre a recuperação da dinâmica não linear da frequência cardíaca em jovens saudáveis: ensaio clínico cross-over, realizada no Laboratório de Fisiologia do Estresse da Faculdade de Ciências e Tecnologia – FCT/UNESP. De acordo com as normas do modelo alternativo do Programa de Pós- graduação em Ciências do Movimento da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – FCT/UNESP, a presente dissertação está dividida da seguinte forma:  Introdução: contextualização do tema pesquisado;  Manuscrito 1: Barros TRM, Vanderlei FM e Vanderlei LCM. Efeitos da hidratação sobre a dinâmica não linear da frequência cardíaca durante e após exercício aeróbio de intensidade moderada e duração prolongada em jovens saudáveis: ensaio clínico cross-over;  Manuscrito 2: Barros TRM, Vanderlei FM e Vanderlei LCM. Influência da capacidade cardiorrespiratória associada a hidratação sobre a dinâmica não linear da frequência cardíaca durante e após exercício aeróbio de intensidade moderada e duração prolongada: ensaio clínico cross-over;  Conclusões: obtidas por meio da pesquisa realizada;  Referências: Com formato de acordo com as normas para apresentação da dissertação. Introdução 33 Durante a realização de exercício físico, diversos ajustes são necessários para que se mantenha um funcionamento adequado do organismo frente ao estresse gerado1. Ao término do exercício, na fase de recuperação, há a ativação de mecanismos responsáveis pela restauração dos sistemas à sua condição basal, a fim de restabelecer a homeostase corporal1,2. A reentrada vagal e a redução progressiva da atividade simpática são exemplos de tais mecanismos, os quais são importantes por promoverem uma desaceleração do sistema cardiovascular3. Ainda, o período de recuperação é conhecido por se tratar de um momento de maior vulnerabilidade do sistema cardiovascular, além de possuir um significativo valor prognóstico4-6. Considerando a importância do período recuperativo, diversos autores têm investigado métodos que possam beneficiar esse processo, levando a uma recuperação mais rápida e eficiente dos sistemas cardiorrespiratórios e autonômicos7,8. Dentre esses métodos, as técnicas de reposição hídrica vem sendo utilizadas e tem demonstrado resultados positivos9-11, sendo capaz de influenciar o sistema nervoso autônomo (SNA) a partir de alterações significativas na modulação autonômica, acelerando o processo de reativação vagal12,13, e o sistema cardiorrespiratório, promovendo o rápido retorno da pressão arterial sistólica e diastólica próximos aos valores iniciais, bem como a diminuição da frequência cardíaca e melhora do desempenho respiratório no período de recuperação14,15. A reidratação durante o exercício é importante uma vez que há uma perda expressiva de líquidos em forma de suor com o objetivo de dissipar a energia que é gerada pela contração muscular, mantendo assim uma temperatura corporal adequada e evitando lesões térmicas e prejuízos aos sistemas envolvidos16,17. Conforme a intensidade e duração da atividade progride, essa perda de líquidos se não reposta de maneira adequada pode levar a uma redução do volume plasmático, 34 sobrecarga no sistema cardiovascular, deterioração na regulação da temperatura corporal e consequente desidratação, interferindo diretamente no desempenho e na saúde dos praticantes18,19. Outro fator que pode influenciar o período de recuperação é a capacidade cardiorrespiratória. Estudos anteriores demonstraram que melhores níveis de condicionamento aeróbio estão associados a melhor controle autonômico pós- exercício3 e desempenho durante a prática20. Esses achados demonstram a relevância do condicionamento aeróbio sobre o equilíbrio autonômico cardíaco, onde valores cardiorrespiratórios mais altos podem contribuir para uma maior atuação do componente autonômico parassimpático21,22. A avaliação da modulação autonômica nesse contexto se torna essencial devido o papel que exerce sobre os mecanismos regulatórios fisiológicos, promovendo as alterações necessárias para que o corpo seja capaz de se adaptar e suprir as diferentes demandas metabólicas quando a homeostasia é alterada, como é o caso do exercício físico23. Esta pode ser feita por meio da análise da variabilidade da frequência cardíaca (VFC), método não invasivo capaz de analisar o comportamento da modulação autonômica por meio das oscilações dos intervalos entre batimentos cardíacos consecutivos (intervalos RR)24. Mudanças nos padrões desses intervalos são um indicador sensível de saúde e, em geral, maiores valores de VFC caracterizam um indivíduo saudável com mecanismos autonômicos eficientes. Por outro lado, uma baixa VFC pode estar relacionada a uma ineficiente adaptação do SNA, indicando um mau funcionamento fisiológico25. A análise da VFC pode ser feita por meio de métodos lineares e/ou não lineares. Os métodos lineares são comumente utilizados na literatura e quantificam a magnitude das oscilações entre os intervalos RR por meio das análises no domínio 35 do tempo (índices estatísticos e geométricos) e da frequência26. Já os métodos não lineares diferem-se por avaliar as propriedades de qualidade, escala e correlação dos sinais27, oferecendo informações sobre previsibilidade, fractalidade e complexidade de um sistema28. Características como fractalidade e complexidade das séries de intervalos RR podem ser modificadas de acordo com o nível de atividade dos ramos simpático e parassimpático do SNA. Quando há predominância da estimulação simpática, há uma diminuição da variabilidade entre os intervalos, o que representa uma diminuição do comportamento fractal da série, tornando-se mais previsível e linear. Em contrapartida, com o predomínio da atividade parassimpática, a variabilidade aumenta, favorecendo o comportamento fractal, complexo e pouco previsível29,30. A importância dos métodos não lineares para a análise do comportamento de um sistema complexo vem ganhando destaque na literatura devido a sua capacidade de verificar como os componentes individuais agem e interagem entre si para produzir um sistema dinâmico, cuja saída de resposta irá variar de acordo com o estado do sistema, dos elementos e das suas interações no momento de entrada28. Nesse sentido, analisar os elementos separadamente, como ocorre com os métodos lineares, não irá refletir o comportamento complexo do sistema28. Estudos têm demonstrado ainda que os métodos não lineares podem ser utilizados como uma importante ferramenta de caráter prognóstico31, com capacidade de predizer morbidade e mortalidade no pós-operatório de revascularização do miocárdio32, investigar os efeitos do exercício aeróbio intenso nos períodos de exercício e recuperação33, bem como analisar o processo de recuperação do SNA após exercício máximo30. 36 Apesar dos estudos terem investigado os efeitos da ingestão hídrica na recuperação autonômica, nenhum deles explorou essas repercussões por meio dos métodos não lineares da VFC. Além disso, não é de nosso conhecimento estudos que tenham avaliado a influência do nível de aptidão cardiorrespiratória na recuperação da modulação autonômica com e sem reposição hídrica. A partir do exposto, alguns questionamentos são levantados: A perda de líquidos que ocorre no decorrer da sessão modificará a dinâmica não linear da frequência cardíaca durante a fase ativa e recuperativa? Se houver alterações, quais serão suas características? A hidratação será capaz de amenizar possíveis alterações durante a fase ativa e, ainda, capaz de acelerar o processo recuperativo da dinâmica não linear da FC? A hidratação será capaz de otimizar a dinâmica não linear da frequência cardíaca em exercício e recuperação independentemente do nível de aptidão cardiorrespiratória? Se a hidratação se mostrar benéfica para ambos os grupos, algum deles se beneficiará mais que o outro? O desenho deste estudo pretenderá responder a essas questões. Hipotetizamos que a hidratação durante e após uma sessão de exercício aeróbio de intensidade moderada e duração prolongada otimizará as respostas da dinâmica não linear da frequência cardíaca, de maneira a acelerar o processo de recuperação autonômica. Quando analisados os grupos de acordo com os valores de aptidão cardiorrespiratória, hipotetizamos que ambos os grupos serão beneficiados pela reposição de líquidos, porém a velocidade de recuperação será maior nos indivíduos com maiores níveis de capacidade funcional. Para responder essas lacunas, foram realizados experimentos que originaram a elaboração de dois manuscritos. O primeiro, intitulado “Efeitos da hidratação sobre a dinâmica não linear da frequência cardíaca durante e após exercício aeróbio de intensidade moderada e duração prolongada em jovens saudáveis: ensaio clínico 37 cross-over”, teve como objetivo analisar o efeito da hidratação realizada durante e após uma sessão de exercício físico aeróbio de intensidade moderada e duração prolongada sobre a dinâmica não linear da frequência em jovens saudáveis. O segundo manuscrito, intitulado “Influência da capacidade cardiorrespiratória associada a hidratação sobre a dinâmica não linear da frequência cardíaca durante e após exercício aeróbio de intensidade moderada e duração prolongada: ensaio clínico cross-over” teve por objetivo investigar a influência da capacidade cardiorrespiratória associada a hidratação sobre a dinâmica não linear da frequência cardíaca nos períodos de exercício e recuperação de uma sessão de exercício aeróbio de intensidade moderada e duração prolongada em jovens saudáveis. 38 Manuscrito 1 39 Efeitos da hidratação sobre a dinâmica não linear da frequência cardíaca durante e após exercício aeróbio de intensidade moderada e duração prolongada em jovens saudáveis: ensaio clínico cross-over RESUMO Introdução: A hidratação é descrita como uma estratégia de fácil acesso e eficaz para beneficiar o organismo durante e após o exercício, auxiliando na termoregulação e na diminuição do esforço cardiovascular, apesar disso, sua influência na dinâmica não linear da frequência cardíaca ainda não foi estudada. Objetivos: analisar os efeitos da hidratação realizada durante e após uma sessão de exercício físico aeróbio de intensidade moderada e duração prolongada sobre a dinâmica não linear da frequência cardíaca em indivíduos jovens saudáveis. Materiais e Métodos: 31 homens, com idade entre 18 e 30 anos, foram submetidos primeiramente a um teste de esforço máximo (etapa I), com objetivo de determinar a carga de trabalho para as etapas seguintes; A etapa II [protocolo controle (PC)] foi constituída por 10min de repouso inicial, 90min de exercício aeróbio e 60min de recuperação final. A etapa III [protocolo hidratação (PH)], foi semelhante ao PC, porém com ingestão de água em porções individualizadas durante e após o exercício. A dinâmica não linear da FC foi observada durante 10 momentos pré-definidos utilizando a Análise de flutuações depuradas de tendências (DFA-Total, alfa-1 e alfa-2), plot de recorrência (REC, DET, SampEn) e análise simbólica (0V,1V,2LV,2ULV). Resultados: Em exercício não foram encontradas diferenças significantes (p < 0,05) entre os protocolos, sendo as respostas fisiológicas e características desse período. Porém durante a análise do período recuperativo, a hidratação influenciou o comportamento autonômico, resultando em efeito de momento para todos os índices observados (p < 0,05), e interação momento vs. protocolo também para todos os índices, exceto alfa-2 e 1V. No PH todos os índices se recuperaram totalmente entre o 5° e 20°min da recuperação, enquanto que no PC, com exceção do índice 1V, não foi observado recuperação completa, mesmo após 60min. Para o índice 0V foi encontrado efeito de protocolos (p < 0,05). Conclusão: A dinâmica não linear da FC não foi influenciada pela hidratação durante o exercício, mas na recuperação o PH utilizado promoveu uma recuperação mais rápida dessa dinâmica em comparação ao estado de hipo- hidratação. 40 Palavras-chaves: Sistema Nervoso Autônomo; Reidratação; Recuperação; Exercício. INTRODUÇÃO A prática de exercício físico está associada à inúmeros benefícios1-3. Apesar de importante, durante a sua realização há um aumento da temperatura corporal devido a energia gerada a partir da contração muscular. Para que não haja prejuízos, a manutenção da temperatura corporal é realizada principalmente pela perda de calor por meio do suor4 e, embora eficiente, a perda contínua de líquidos, se não reposta de maneira adequada, leva a um quadro de hipohidratação, prejudicando a função fisiológica normal5-7 e a termorregulação6. A perda de líquidos continua no período de recuperação, o qual é conhecido por apresentar vulnerabilidade a ocorrência de eventos como síncopes, arritmias e morte súbita, mesmo em indivíduos sem comprometimentos prévio8,9. Nesse contexto, atenção está sendo dada a investigar métodos alternativos que possam beneficiar os sistemas cardiorrespiratórios e autonômicos, principalmente voltadas a acelerar a recuperação e diminuir os riscos10. Dentre esses métodos, a reposição hídrica vem demonstrando resultados positivos em sua utilização7. Diversos autores destacam a importância da reposição hídrica associada ao exercício aeróbio para a recuperação do sistema nervoso autônomo (SNA), uma vez que este é o principal responsável pelas alterações fisiológicas necessárias para manter o organismo em constância e equilíbrio durante o exercício físico11,12. Diante deste cenário, é notável a importância da avaliação do comportamento do SNA frente ao exercício físico, principalmente no período de recuperação. Essa avaliação pode ser feita por meio da variabilidade da frequência cardíaca (VFC), método não invasivo que reflete a dinâmica de equilíbrio e interação entre o sistema 41 simpático e parassimpático13. Diversos métodos podem ser utilizados para analisar a VFC14, porém a partir do entendimento do comportamento do SNA como um sistema complexo15, os métodos denominados de não lineares tem ganhado destaque por analisar a VFC utilizando propriedades como qualidade, escala e correlação dos sinais16, oferecendo informações sobre previsibilidade, fractalidade e complexidade do sistema17. Apesar dos estudos descritos na literatura avaliarem os efeitos da hidratação sobre a recuperação autonômica, principalmente utilizando VFC, não é de nosso conhecimento trabalhos que exploraram essas repercussões por meio dos métodos não lineares. Diante disso, esse estudo teve como objetivo analisar os efeitos da hidratação realizada durante e após uma sessão de exercício físico aeróbio de intensidade moderada e duração prolongada sobre a dinâmica não linear da frequência cardíaca nos períodos de exercício e recuperação em jovens saudáveis. Hipotetizamos que a hidratação será capaz de otimizar as respostas da dinâmica não linear da frequência cardíaca, acelerando a recuperação autonômica e amenizando as possíveis alterações que ocorrem durante o exercício no SNA. MATERIAIS E MÉTODOS População Estudo clínico cross-over não randomizado em função do delineamento do estudo proposto. Foram avaliados 31 homens, fisicamente ativos, com idade entre 18 e 30 anos recrutados a partir de mídia social e formulário on-line enviado por endereço eletrônico institucional de discentes de uma faculdade do interior paulista. O recrutamento dos voluntários foi realizado por um pesquisador que não estava envolvido na aplicação das intervenções. 42 Não foram incluídos no estudo indivíduos tabagistas e etilistas, aqueles que possuíam infecções, doenças metabólicas e respiratórias conhecidas, problemas ortopédicos que impossibilitassem a realização do protocolo experimental e estivessem em uso de qualquer medicamento. Indivíduos que apresentaram alterações hemodinâmicas ou rítmicas durante o teste de esforço máximo ou séries de intervalos RR com menos de 95% de batimentos sinusais foram excluídos do estudo18. O tamanho amostral foi realizado considerando-se como variável o índice não linear 2ULV, que apresentou maior N amostral. O cálculo foi realizado no software G*Power – versão 3.1.9.7 considerando: risco alfa de 0,05 e beta de 0,80 para um modelo de ANOVA bifatorial para medidas repetidas, e um tamanho de efeito eta- squared parcial de 0,5, que resultou em um número de, no mínimo, 20 voluntários. Este estudo segue as recomendações do Consolidated Standards of Reporting Trials (CONSORT)19, foi registrado na plataforma clinicaltrials.gov (n° NCT05231434), aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências e Tecnologia - FCT/UNESP (CAAE: 38152620.5.0000.5402) e obedeceu a resolução do Conselho Nacional de Saúde 466/12 e a declaração de Helsinki. Todos os voluntários foram devidamente informados sobre os procedimentos e objetivos, e após concordarem, assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Intervenção O procedimento experimental foi dividido em três etapas, com um intervalo mínimo de 48 horas entre elas a fim de assegurar o período de washout dos participantes (figura 1). 43 A primeira etapa foi composta por um teste de esforço máximo com o objetivo de determinar a carga de exercício utilizada nas próximas etapas com base no consumo de oxigênio pico (VO2pico), bem como de caracterizar os voluntários. A segunda etapa correspondeu ao protocolo controle (PC), onde os voluntários realizaram inicialmente 10 minutos de repouso deitados, seguido por 90 minutos de atividade aeróbia e 60 minutos de recuperação final na mesma posição do repouso inicial. Já na terceira etapa, denominada protocolo hidratação (PH), os voluntários realizaram as mesmas atividades propostas no PC, porém com o acréscimo de ingestão de água mineral em 10 porções iguais, administradas em intervalos regulares a partir do 15° minuto de exercício até o final do período de recuperação. Figura 1: Fluxograma procedimental Os protocolos foram realizados no período da tarde, entre 14:00hrs e 18:00hrs a fim de minimizar as influências do ritmo circadiano, e com temperatura ambiente 44 (21°C a 23°C) e umidade (40 a 60%) controladas. Todos os voluntários foram orientados previamente a evitarem substâncias estimulantes (achocolatado, chá, café e refrigerantes) e atividades físicas intensas nas 24hrs antes das etapas deste estudo, a consumirem uma refeição leve duas horas antes da realização das etapas do protocolo, a ingerirem 500ml de água também duas horas antes das intervenções para garantir a hidratação inicial e a terem uma boa noite de sono20. Todos os procedimentos das intervenções foram feitos por um fisioterapeuta treinado previamente. Etapa I – Teste de Esforço Máximo Para determinar a carga de exercício para as próximas etapas do protocolo experimental, os participantes foram submetidos ao teste de esforço máximo, realizado em esteira ergométrica (Super ATL, Inbrasport, Brasil), de acordo com o protocolo máximo de Bruce21, sendo o teste interrompido mediante exaustão voluntária ou segundo critérios estabelecidos para interrupção do teste de esforço21. Para a determinação do consumo de oxigênio (VO2), os gases expirados foram analisados pelo sistema comercial Teem 100 – VO 2000 (Aerosport, Ann Arbor, USA), previamente validado por Novitsky et al.22, e Wideman et al.23, calibrado com volumes e gases de concentrações conhecidas. A frequência cardíaca observada durante o valor mais alto de VO2 atingido no teste (VO2pico) foi registrada e utilizada posteriormente para determinação da carga a ser empregada nos PC e PH. Etapa II e III – Protocolo Controle e Protocolo Hidratação Como avaliação inicial, foi coletada a massa corporal, por meio de uma balança digital (Plenna, TIN 00139 MAXIMA, Brasil), a altura, utilizando um 45 estadiômetro (ES 2020 - Sanny, Brasil), a temperatura axilar com um termômetro (BD Thermofácil, China) e uma amostra de urina para avaliação da condição de hidratação. Ainda, para registro da FC batimento a batimento foi posicionado um cardiofrequencímetro Polar S810i (Polar Electro, Kempele, Finland), no tórax e punho do voluntário. Após as coletas iniciais, os voluntários permaneceram em repouso em decúbito dorsal durante 10 minutos, seguido por 90 minutos de exercício físico em esteira ergométrica com a carga equivalente à 60% da frequência cardíaca registrada durante o VO2pico encontrado na etapa anterior. Ao término dos 90 minutos, a temperatura axilar foi mensurada novamente e os voluntários permaneceram 60 minutos em decúbito dorsal para recuperação final. No PH os mesmos procedimentos foram realizados, mas foi ofertado aos voluntários água mineral (Bonafont, Brasil), administradas em 10 porções iguais, em um intervalo de 15 minutos entre elas, a partir do 15° minuto de exercício até o final da recuperação. A quantidade adequada de água a ser administrada foi obtida pelo cálculo da diferença entre a massa corporal inicial e final encontrada no PC, considerando que cada um grama perdido equivale a um mililitro de líquido perdido24. Análise do nível de hidratação Ao início do PC, e antes e após o PH, os voluntários coletaram uma amostra de urina com o objetivo de observar a condição de hidratação por meio da análise da densidade específica da urina (Choiceline 10, Roche®, Brasil). Os resultados classificaram os indivíduos em euidratados, com valores entre 1,013 a 1,029, e desidratados, com valores acima de 1,03025. 46 Análise da Variabilidade da Frequência Cardíaca A análise da variabilidade da FC (VFC) foi realizada a partir das séries de intervalos RR captadas pelo cardiofrequencímetro, que, inicialmente foram submetidas a uma filtragem digital pelo software Polar Precision Performance SW (versão 5.0), com um filtro moderado, seguida por uma filtragem manual, para eliminação de batimentos ectópicos prematuros e artefatos11. Somente séries com mais de 95% de batimentos sinusais e pelo menos 256 intervalos RR consecutivos foram incluídas no estudo18. A extração dos dados de VFC e os procedimentos de filtragem foram realizados por um pesquisador cego às etapas do protocolo experimental e com experiência de 8 anos no gerenciamento de dados de VFC. Os índices de VFC foram avaliados nos seguintes momentos: a) Repouso: M1: 5 min finais do repouso; b) Exercício: M2: 25° ao 30° min; M3: 55° ao 60° min; M4: 85° ao 90° min; c) Recuperação: M5: 0° ao 5° min; M6: 5° ao 10° min; M7: 15° ao 20° min; M8: 25° ao 30° min; M9: 40° ao 45° min; M10: 55° ao 60° min. Para a análise não linear da VFC foram utilizados os seguintes métodos: I) Análise de flutuações depuradas de tendências (DFA): Foram calculados a partir do software disponível no repositório PhysioNet26 os índices: DFA total, alfa-1 (expoente de curto prazo com períodos de 4 a 11 batimentos) e alfa-2 (expoente de longo prazo com o restante da série)27. Essa análise permite classificar as séries em fractal (valores próximos a 1,0), linear (valores próximos a 1,5) e aleatória (valores próximos a 0,5); II) Plot de Recorrência: Os índices foram obtidos por meio do software Kubios HRV – versão 2.028, e a partir do gráfico formado, foram extraídos a taxa de recorrência (REC) e determinismo (DET), que representam a regularidade ou 47 previsibilidade da série, e a entropia da amostra (SampEn), representando a complexidade da série29; III) Análise simbólica: Seus índices demonstram a quantidade e o tipo de variação existente entre 3 intervalos RR consecutivos, classificando-os em 0V (nenhuma variação, categorizando a modulação simpática); 1V (uma variação, categorizando a modulação global); 2LV (duas variações iguais, categorizando a modulação parassimpática) e 2ULV (duas variações diferentes, também categorizando a modulação parassimpática)30. Esses índices foram calculados por meio do software Symbolic Analysis fast version – versão 4.0 Universita’ degli Studi di Milano, Itália, 2005. Análise Estatística Para descrever o perfil dos voluntários, os dados foram apresentados com valores de médias, desvio padrão e intervalo de confiança. A normalidade dos dados foi determinada por meio do teste Shapiro-Wilk. As comparações entre os momentos de um mesmo protocolo (inicial vs final) para as variáveis: massa corporal, temperatura corporal e densidade específica da urina foi realizada pelo teste de t Student para dados pareados ou teste de Wilcoxon. A comparação de um mesmo momento (inicial e final) entre os protocolos foi feita por meio do teste t de Student para dados não pareados ou teste de Mann Whitney. Em relação aos índices de VFC, a comparação entre os momentos (repouso vs exercício e repouso vs recuperação) e protocolos (PC vc PH) foi realizada por meio da análise de variância para medidas repetidas (ANOVA) no esquema de dois fatores, seguido da aplicação do teste de Bonferroni. A esfericidade dos dados foi checada pelo teste de Mauchly e, quando violada, a correção de Greenhouse-Geisser foi 48 considerada. Para a análise dos momentos entre os protocolos foi utilizado o teste t de Student para dados não pareados ou teste de Mann Whitney dependendo da normalidade. O tamanho de efeito eta-squared parcial foi avaliado e a significância estatística fixada em 5%. As análises foram realizadas no software IBM SPSS Statistics – versão 22.0 (IBM Corp, Armonk, New York). RESULTADOS Foram recrutados e participaram de todas as etapas desse estudo 31 voluntários. Durante a etapa de análise dos dados, 2 voluntários foram excluídos devido a presença de erro superior à 5% na série de intervalos RR. Dessa forma, foram analisados 29 voluntários (Figura 2), dos quais os dados de caracterização estão descritos na Tabela 1. Figura 2: Fluxograma de perdas 49 Tabela 1. Caracterização da amostra (N = 29) Legenda: DP = desvio padrão; Kg = quilograma; m = metro; IMC = índice de massa corporal; Kg/m² = quilograma/metro²; VO2 pico = consumo pico de oxigênio; ml = mililitro; min = minuto; FC máx = frequência cardíaca máxima; bpm = batimentos por minuto. Os valores obtidos das mensurações da massa corporal, temperatura corporal e densidade específica da urina estão descritos na tabela 2. É possível observar que houve uma perda significativa de massa corporal ao final do PC (p < 0,05), com uma porcentagem de perda corporal média de 1,96 ± 0,59%. Em contrapartida, a porcentagem de perda corporal do PH foi de 0,11 ± 0,9%, e a densidade específica da urina demonstrou que a reposição hídrica se mostrou suficiente para manter o estado euidratado dos voluntários. 50 Tabela 2: Variáveis massa corporal, temperatura corporal e densidade específica da urina. Média ± desvio padrão. Valores em negrito: diferença significante (p < 0,05) para a comparação entre os momentos de um mesmo protocolo [Teste t de Student pareado (variáveis massa corporal e temperatura corporal) ou teste de Wilcoxon (variável densidade específica da urina)]. Legenda: Kg = quilograma; °C = graus Celsius Os resultados obtidos a partir da análise da dinâmica não linear da FC durante o período de exercício em comparação ao repouso estão evidenciados na Tabela 3. É possível verificar que houve efeito de momento (p < 0,05) para todos os índices, porém não foram encontrados efeitos entre os protocolos e na interação momento vs. protocolo (p > 0,05). Observou-se aumento significante dos valores dos índices DFA total, Alfa-2, REC, DET e 0V e redução significativa do índice 2LV durante o exercício em comparação ao período de repouso, para ambos os protocolos. Para os índices DET e 0V do PH essas diferenças deixaram de ser significantes após o M3. 51 Tabela 3. Comparação entre o período de exercício e repouso para o PC e PH. Média ± desvio padrão. Valores em negrito: diferença significante (p < 0,05) entre os momentos de exercício e o repouso (ANOVA de duas vias para medidas repetidas seguida do pós-teste de Bonferroni). Legenda: PC = protocolo controle; PH = protocolo hidratação; M1 = 5 minutos finais do repouso; M2 = 25° ao 30°min de exercício; M3 = 55° ao 60°min de exercício; M4 = 85° ao 90°min de exercício; η²P = eta-squared parcial; Mmt = momentos; Int = interação; Gp = grupos. Os resultados das análises do período de recuperação em comparação ao repouso inicial estão descritos na Tabela 4. Foram observados efeitos de momento para todos os índices avaliados (p < 0,05). Observou-se também efeito na interação momentos vs. protocolos para os índices, exceto para o Alfa-2 e 1V. Em relação à comparação entre os protocolos, o efeito foi significante apenas para o índice 0V da análise simbólica (p < 0,05). Índices Protocolo Momentos P valor (η²P) M1 M2 M3 M4 Análise do DFA DFA Total PC 0,87±0,21 1,16±0,09 1,19±0,10 1,17±0,09 Mmt: 0,000 (0,656) PH 0,89±0,19 1,16±0,08 1,20±0,08 1,16±0,11 Int: 0,697 (0,007) Gp: 0,681 (0,003) Alfa-1 PC 0,99±0,25 0,95±0,29 0,96±0,30 0,96±0,34 Mmt: 0,006 (0,088) PH 0,98±0,26 1,01±0,27 0,99±0,27 1,00±0,28 Int: 0,371 (0,018) Gp: 0,896 (0,000) Alfa-2 PC 0,84±0,23 1,19±0,12 1,25±0,13 1,26±0,13 Mmt: 0,000 (0,696) PH 0,87±0,21 1,16±0,13 1,24±0,12 1,23±0,12 Int: 0,832 (0,004) Gp: 0,965 (0,000) Plot de recorrência REC PC 29,66±7,79 44,87±5,53 46,32±5,17 44,99±6,80 Mmt: 0,000 (0,636) PH 30,01±8,74 46,89±6,36 47,23±4,52 45,31±9,28 Int: 0,991 (0,000) Gp: 0,161 (0,035) DET PC 98,20±1,44 99,23±0,68 99,19±0,61 99,02±0,85 Mmt: 0,000 (0,361) PH 98,12±1,67 99,39±0,63 99,33±0,49 98,91±1,16 Int: 0,790 (0,003) Gp: 0,278 (0,021) SampEn PC 1,44±0,34 1,32±0,48 1,29±0,41 1,31±0,56 Mmt: 0,004 (0,085) PH 1,43±0,40 1,30±0,37 1,28±0,38 1,34±0,44 Int: 0,393 (0,017) Gp: 0,219 (0,027) Análise simbólica 0V PC 21,91±14,90 36,61±14,88 37,82±14,34 34,38±13,96 Mmt: 0,000 (0,259) PH 23,42±13,48 40,51±11,09 39,75±12,73 33,99±14,88 Int: 0,833 (0,004) Gp: 0,461 (0,010) 1V PC 46,33±6,10 41,09±7,45 39,17±6,32 39,14±5,89 Mmt: 0,000 (0,322) PH 46,44±4,36 39,69±5,50 38,23±6,73 37,88±5,18 Int: 0,897 (0,004) Gp: 0,421 (0,012) 2LV PC 12,41±6,11 2,49±2,25 2,12±2,12 2,18±2,04 Mmt: 0,000 (0,676) PH 11,73±5,92 1,64±1,42 1,55±1,54 2,34±2,53 Int: 0,726 (0,004) Gp: 0,331 (0,017) 2ULV PC 19,33±11,15 19,64±7,71 20,87±8,09 24,28±8,45 Mmt: 0,001 (0,111) PH 18,38±10,72 18,14±7,02 20,45±7,41 25,76±10,15 Int: 0,703 (0,006) Gp: 0,814 (0,001) 52 Durante a recuperação, foi observado o retorno gradual dos índices para valores próximos aos encontrados durante o repouso inicial em ambos os protocolos, porém o momento em que o retorno completo ocorreu foi diferente, acontecendo mais rapidamente no PH, com exceção do índice 1V que se recuperou ao mesmo momento em ambos os protocolos. 53 Tabela 4. Comparação entre o período de repouso e recuperação para o PC e PH. Média ± desvio padrão. Valores em negrito: diferença significante (p < 0,05) entre os momentos de exercício e o repouso (ANOVA de duas vias para medidas repetidas seguida do pós-teste de Bonferroni). Legenda: PC = protocolo controle; PH = protocolo hidratação; M1 = 5 minutos finais do repouso; M5 = 0° ao 5°min de recuperação; M6 = 5° ao 10°min de recuperação; M7 = 15° ao 20°min de recuperação; M8 = 25°ao 30°min de recuperação; M9 = 40° ao 45°min de recuperação; M10 = 55° ao 60°min de recuperação; η²P = eta-squared parcial; Mmt = momentos; Int = interação; Gp = grupos. Índices Protocolo Momentos P valor M1 M5 M6 M7 M8 M9 M10 Análise do DFA DFA Total PC 0,87±0,21 1,08±0,13 1,04±0,15 0,99±0,17 0,94±0,16 1,00±0,16 1,04±0,11 Mmt: 0,000 (0,271) PH 0,89±0,19 1,06±0,12 0,94±0,17 0,97±0,14 0,85±0,16 0,91±0,16 0,91±0,15 Int: 0,004 (0,060) Gp: 0,058 (0,063) Alfa-1 PC 0,99±0,25 1,24±0,17 1,20±0,21 1,15±0,25 1,09±0,24 1,19±0,20 1,22±0,17 Mmt: 0,000 (0,302) PH 0,98±0,26 1,19±0,19 1,13±0,22 1,08±0,20 1,00±0,23 1,05±0,22 1,05±0,22 Int: 0,005 (0,065) Gp: 0,097 (0,048) Alfa-2 PC 0,84±0,23 1,02±0,16 0,99±0,16 0,96±0,16 0,89±0,15 0,93±0,18 0,97±0,12 Mmt: 0,000 (0,158) PH 0,87±0,21 1,00±0,14 0,89±0,17 0,96±0,15 0,82±0,16 0,88±0,15 0,87±0,15 Int: 0,136 (0,029) Gp: 0,103 (0,047) Plot de recorrência REC PC 29,66±7,79 46,65±5,72 41,50±8,23 36,70±11,25 37,39±9,65 38,39±7,98 39,12±6,92 Mmt: 0,000 (0,423) PH 30,01±8,74 45,59±5,38 40,22±8,31 38,32±9,32 33,68±8,55 33,96±9,06 32,76±10,01 Int: 0,005 (0,053) Gp: 0,344 (0,016) DET PC 98,20±1,44 99,69±0,36 99,27±1,00 98,57±1,71 98,54±1,26 99,04±0,88 99,21±0,78 Mmt: 0,000 (0,324) PH 98,12±1,67 99,61±0,41 99,00±1,02 98,85±0,99 98,14±1,39 98,46±1,25 98,40±1,45 Int: 0,036 (0,045) Gp: 0,283 (0,021) SampEn PC 1,57±0,35 0,73±0,30 1,05±0,28 1,20±0,42 1,27±0,39 1,07±0,34 1,03±0,29 Mmt: 0,000 (0,470) PH 1,51±0,36 0,82±0,32 1,16±0,36 1,23±0,33 1,38±0,32 1,35±0,36 1,38±0,36 Int: 0,001 (0,075) Gp: 0,062 (0,061) Análise simbólica 0V PC 21,91±14,90 53,20±12,74 44,75±14,47 40,40±18,76 36,10±14,43 41,88±16,40 45,02±13,77 Mmt: 0,000 (0,434) PH 23,42±13,48 45,65±14,81 38,34±15,64 33,78±14,55 26,87±14,82 31,26±15,46 31,58±17,51 Int: 0,005 (0,060) Gp: 0,030 (0,081) 1V PC 46,33±6,10 37,18±7,97 41,41±7,22 41,42±7,46 44,82±5,39 41,80±7,58 41,96±5,94 Mmt: 0,000 (0,191) PH 46,44±4,36 40,45±8,31 42,99±6,66 45,05±5,95 45,46±5,59 45,91±5,16 44,11±4,73 Int: 0,247 (0,023) Gp: 0,070 (0,057) 2LV PC 12,41±6,11 3,05±2,96 5,10±4,62 8,11±6,75 9,47±7,15 6,69±5,45 5,58±4,24 Mmt: 0,000 (0,313) PH 11,73±5,92 4,61±3,79 7,66±5,69 8,82±5,64 13,22±8,06 9,53±6,13 10,53±7,61 Int: 0,013 (0,050) Gp: 0,061 (0,061) 2ULV PC 19,33±11,15 6,55±3,61 8,72±5,17 10,09±8,61 10,84±6,71 8,82±5,89 7,74±4,79 Mmt: 0,00 (0,286) PH 18,38±10,72 9,27±5,82 10,99±6,67 12,33±6,64 16,15±10,35 13,15±8,17 13,84±10,24 Int: 0,043 (0,044) Gp: 0,051 (0,066) 54 DISCUSSÃO Os resultados deste estudo sugerem que, em jovens saudáveis submetidos a uma sessão de exercício aeróbio de duração prolongada, a estratégia de hidratação empregada foi capaz de acelerar o retorno da dinâmica não linear da FC a seus valores basais durante o período de recuperação. Entretanto, durante o exercício, embora o PC tenha levado a uma hipo-hidratação dos voluntários com uma redução de aproximadamente 2% da massa corporal31, isso não foi suficiente para influenciar a dinâmica não linear da FC. Este foi o primeiro estudo, de nosso conhecimento, a avaliar a influência da hidratação sobre a dinâmica não linear da FC durante o exercício e recuperação em indivíduos jovens e saudáveis. Durante exercício sabe-se que para compensar a demanda exigida, o ramo simpático do SNA passa a predominar sobre o ramo parassimpático32, a fim de proporcionar aumento das variáveis cardiorrespiratórias e consequentemente atender as necessidades metabólicas do organismo. Esse comportamento foi evidenciado em nosso estudo pelo incremento nos valores do índice 0V e redução do índice 2LV, respectivamente. Esses achados corroboram com os obtidos por Moreno et al33 que, utilizando-se de métodos lineares, observaram aumento de índices ligados à atividade simpática e diminuição dos índices de predominância parassimpática, o que também evidenciou a maior ação simpática e a retirada vagal durante o exercício. Mesmo com uma perda de 1,96 ± 0,59% do peso corporal durante o PC, sugerindo um estado de hipo-hidratação, não foram observadas diferenças significantes entre os protocolos e o comportamento da modulação autonômica encontrado no exercício foi fisiológico34 apesar dos possíveis efeitos deletérios da hipo-hidratação35, como por exemplo, a redução da resposta barorreceptora, 55 alterações na osmolaridade e a dificuldade na manutenção da pressão arterial, ambos fatores que influenciam o SNA, diminuindo a modulação vagal36-38. Os resultados obtidos pelos outros índices não lineares que foram avaliados corroboram também com esses achados. A elevação do DFA-total e Alfa-2 evidencia o aumento da linearidade das séries e o aumento dos índices REC e DET e a diminuição da complexidade, observada pela medida de entropia da amostra (SampEn), demonstram o aumento da previsibilidade das séries temporais de intervalos RR. Esse comportamento encontrado por nosso estudo é característico do período de exercício, uma vez que a maior ativação simpática favorece o aumento do comportamento linear e previsível das séries temporais de intervalos RR, diminuindo sua complexidade17. No período de recuperação, o organismo retorna ao seu estado basal e no SNA observa-se reentrada vagal e diminuição da atividade simpática34, o que leva a um aumento da complexidade e fractalidade das séries de intervalos RR, bem como a diminuição da previsibilidade e linearidade17. Esse comportamento foi evidenciado em nosso estudo através da diminuição do índice 0V que reflete a modulação simpática e aumento do 2LV, o qual indica a modulação parassimpática. Esse comportamento foi também observado pelo aumento da entropia da amostra e diminuição dos índices REC e DET, o que sugere aumento na complexidade da série, bem como a diminuição da sua previsibilidade. Valores próximos a 1,0 nos índices do DFA evidenciaram a retomada do comportamento fractal das séries. Apesar desse comportamento característico da dinâmica não linear da FC durante o período de recuperação, é possível observar que as respostas de 56 recuperação foram aceleradas quando a água foi continuamente administrada. No PC com exceção do índice 1V, todos os demais índices não retornaram aos seus valores basais, demonstrando que o organismo não foi capaz de se recuperar totalmente mesmo após 60 minutos de recuperação. Já no PH, todos os índices retornaram aos seus valores basais entre o 5° e o 20° minuto de recuperação. Os índices 2LV, 2ULV e SampEn, apresentaram um aumento gradativo de seus valores e rápida recuperação na condição de hidratação, o que não foi observado quando os indivíduos estavam hipohidratados. Já para os índices REC, DET, 0V e 1V, houve uma diminuição e retorno dos valores ao estado basal em até 20 minutos após o término da atividade física em indivíduos hidratados, mas não na condição de hipohidratação. Esse achado corrobora com os observados por Vanderlei et al.12 que utilizando métodos lineares da VFC compararam os efeitos de diferentes protocolos de hidratação, ministrado durante e após o exercício, sobre a recuperação da modulação autonômica, e observaram que tanto a bebida isotônica quanto a água foram capazes de acelerar o processo de recuperação12. Vianna et al.39 investigou através de análises cardiorrespiratórias a influência da ingestão de 500ml de água, administrada imediatamente após o fim do exercício submáximo, para a reativação vagal, e concluiu que a hidratação foi eficiente não somente para controle da temperatura corporal, como também para acelerar a reativação vagal39. Fatores associados à desidratação, como a hiperosmolaridade plasmática e o aumento da temperatura corporal podem ter prejudicado a recuperação completa do SNA no PC. Estudos demonstram que quadros de desidratação levam a uma diminuição do volume intravascular e aumento da osmolaridade plasmática40, e, como resposta protetora do organismo a fim de evitar a hipotensão, há um aumento no 57 controle barorreflexo e maior predomínio da modulação simpática sobre o sistema cardiovascular, o que justifica a lenta recuperação das variáveis autonômicas avaliadas durante o PC. O estudo apresenta algumas limitações que devem ser descritas. O desenho experimental proposto neste estudo não permitiu a randomização dos protocolos, pois o PC precisou sempre ser executado primeiro para determinar a quantidade de água perdida. Durante os protocolos, não foi observado um aumento da temperatura axilar como esperado, o que pode estar relacionado ao controle da temperatura ambiente e a área de transpiração utilizada para mensuração. Ainda, não foi possível apresentar os dados para densidade específica da urina ao final do PC, em consequência à perda hídrica gerada, grande parte dos voluntários não conseguiram realizar a coleta da amostra necessária. Como pontos fortes desse estudo, é possível destacar a hidratação como um método de fácil acesso e baixo custo eficaz para promover uma rápida recuperação do SNA, e isso possui implicações clínicas importantes, uma vez que a lenta recuperação pode estar relacionada a eventos súbitos e mortalidade após o exercício. Além disso, o protocolo de hidratação baseado na perda de peso corporal proposto por este estudo deve ser destacado, uma vez que o excesso de líquido também pode prejudicar o sistema cardiovascular, dessa forma, a hidratação realizada de maneira individualizada foi benéfica para evitar uma possível hiponatremia. Este estudo acrescenta novas informações à literatura a respeito da influência e os benefícios da hidratação sobre o comportamento não linear da FC nos períodos de exercício e recuperação de jovens saudáveis, uma vez que até o momento não é de nosso conhecimento estudos que utilizaram-se de tais métodos para abordar essa temática. 58 É esperado que novos estudos que abordem essa temática sejam realizados para melhor entendimento das características do comportamento não linear da FC e dos efeitos fisiológicos da hidratação, bem como compreender melhor a aplicabilidade clínica dos métodos não lineares da VFC. Além disso, sugere-se a utilização de outras substâncias e diferentes formas de administração como estratégia de reposição. Diante dos nossos achados, conclui-se que, apesar da perda de líquidos não ter modificado a dinâmica não linear da FC durante o exercício, o PH utilizado foi eficiente no período pós-exercício, promovendo uma recuperação mais rápida dessa dinâmica em comparação ao PC. REFERÊNCIAS 1. Malm C, Jakobsson J, Isaksson A. Physical activity and sports - Real health benefits: A review with insight into the public health of sweden. Sports 2019;127(7):1-28. 2. Wilson MG, Ellison GM, Cable NT. Basic science behind the cardiovascular benefits of exercise. Br J Sports Med 2016;50(2):93-99. 3. Stamatakis E, Gale J, Bauman A, et al. Sitting time, physical activity, and risk of mortality in adults. J Am Coll Cardiol 2019;73(16):2062-72. 4. Périard JD, Eijsvogels TMH, Daanen HAM. 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Materiais e Métodos: Estudo que avaliou 31 jovens fisicamente ativos, constituído por 3 etapas: Etapa I – teste de esforço máximo, cujo objetivo foi a divisão dos voluntários nos grupos maior VO2pico vs. menor VO2pico, e obtenção da carga de trabalho para as próximas etapas; Etapa II – protocolo controle, composto por 10min de repouso inicial, 90min de exercício aeróbio e 60min de recuperação final; Etapa III – protocolo hidratação, formado pelo mesmo desenho experimental da etapa anterior, porém com acréscimo de ingestão de água em porções individualizadas durante e após o exercício. A dinâmica não linear da FC foi observada durante 10 momentos pré-definidos utilizando-se os métodos: Análise de flutuações depuradas de tendências (DFA-Total, alfa-1 e alfa-2), Plot de recorrência (REC, DET, SampEn) e Análise simbólica (0V,1V,2LV,2ULV). Resultados: Durante o exercício não foram encontradas diferenças significantes para a comparação entre os grupos de acordo com o VO2pico (p > 0,05). No entanto, durante o período recuperativo as respostas foram influenciadas tanto pela capacidade cardiorrespiratória, quanto pelo protocolo de hidratação utilizado. O grupo de maior VO2pico apresentou uma recuperação acelerada de seus índices, enquanto o grupo de menor VO2pico foi beneficiado pelo PH em comparação as respostas obtidas durante o PC. Todos os índices apresentaram efeito de momentos, e os índices 0V e 1V apresentam efeito entre grupos (p < 0,05). Conclusão: A capacidade cardiorrespiratória pouco influenciou a dinâmica não linear da FC durante o exercício com ou sem hidratação. Já no período recuperativo, indivíduos com maiores valores de VO2pico apresentaram uma 63 recuperação mais rápida dessa dinâmica, ao passo que o PH utilizado beneficiou indivíduos de menor VO2pico, acelerando também sua recuperação. Palavras-chaves: Dinâmica Não Linear; Sistema Nervoso Autônomo; Recuperação; Aptidão Cardiorrespiratória; Reidratação. INTRODUÇÃO A prática de atividade física promove diversas modificações cujo objetivo é a manutenção da homeostase1. A regulação da temperatura corporal é uma dessas modificações, pois a energia gerada a partir da contração muscular precisa ser dissipada para que não haja prejuízos no desempenho ou lesões térmicas2. A principal forma de perda de calor durante esse processo é pelo suor3 e, embora seja eficiente, a perda contínua de água corporal, se não reposta de maneira adequada, pode levar a um quadro de hipohidratação, exacerbando a tensão cardiovascular e prejudicando a capacidade de exercício3,4. Para evitar essa sobrecarga, uma estratégia de baixo custo e fácil acesso é a reposição de fluídos, considerada eficiente para proporcionar funcionamento adequado dos processos homeostáticos envolvidos e melhorar o desempenho5,6. Associado à importância durante o exercício, a rehidratação também promove uma recuperação acelerada do sistema cardiorrespiratório7, o que é importante, uma vez que o período recuperativo possui significativo valor prognóstico e está relacionado a ocorrência de eventos adversos8,9. Um fator de confusão que pode influenciar a velocidade de recuperação é o nível de aptidão cardiorrespiratória. Estudos demonstraram que melhores níveis de aptidão cardiorrespiratória, além de aumento na qualidade de vida10, estão associados a uma reentrada vagal acelerada11 e diminuição dos riscos para comprometimentos cardiovasculares ou morbidades12. 64 O sistema nervoso autônomo (SNA) é, pelo menos em parte, responsável por essas alterações e, nesse contexto, estudar as alterações que ocorrem nesse sistema durante exercício e recuperação são fundamentais para compreensão das respostas obtidas pelo organismo em diferentes condições experimentais. Uma das formas de avaliar o SNA é por meio da variabilidade da frequência cardíaca (VFC)13, método não invasivo que de forma geral demonstra o comportamento da modulação autonômica através das oscilações dos intervalos RR consecutivos13. Métodos lineares e não lineares são usados para a avaliação da VFC, e embora os métodos lineares sejam os mais utilizados na literatura, estes são menos sensíveis do que os métodos não lineares para quantificar a complexidade da dinâmica da frequência cardíaca14. Embora conhecidos as vantagens da hidratação e de uma maior aptidão cardiorrespiratória durante o exercício e a recuperação, são escassos os estudos que investigaram a influência conjunta dessas variáveis sobre a modulação autonômica cardíaca, e desconhecidos os trabalhos que fizeram isso utilizando os métodos não lineares da VFC. Neste contexto, este estudo teve por objetivo investigar a influência da capacidade cardiorrespiratória sobre a dinâmica não linear da FC em jovens saudáveis submetidos a hidratação nos períodos de exercício e recuperação de uma sessão de exercício aeróbio de intensidade moderada e duração prolongada. MATERIAIS E MÉTODOS População Estudo clínico cross-over não randomizado em função do delineamento do estudo proposto, que recrutou 31 indivíduos do sexo masculino, sem comorbidades conhecidas e fisicamente ativos de acordo com o questionário internacional de 65 atividade física – IPAQ15. O estudo segue as recomendações do Consolidated Standards of Reporting Trials (CONSORT)16. O recrutamento foi realizado por um pesquisador sem envolvimento com as intervenções via mídia social, com a divulgação por meio de formulário enviado para o e-mail institucional de alunos de uma faculdade do interior paulista. O cálculo amostral foi realizado no software G*Power – versão 3.1.9.7 considerando-se como variável o índice não linear 2ULV que apresentou maior N amostral, com risco alfa de 0,05, beta de 0,80 e um tamanho de efeito eta-squared parcial de 0,5 para um modelo de ANOVA bifatorial para medidas repetidas, resultando em um N total de 20 voluntários. Indivíduos que possuíssem doenças metabólicas ou respiratórias conhecidas, tabagistas, etilistas, que estavam utilizando qualquer tipo de medicamento ou aqueles com problemas ortopédicos que comprometesse a realização das etapas deste estudo não foram incluídos. Alterações hemodinâmicas e rítmicas durante o teste de esforço máximo ou erro superior a 5% na série de intervalos RR se caracterizaram como critérios de exclusão17. Este estudo obedece a resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde e a declaração de Helsinki. Todos os procedimentos utilizados foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências e Tecnologia FCT/UNESP (CAAE: 38152620.5.0000.5402) e o estudo foi registrado na plataforma clinicaltrials.gov (n° NCT05231434). Os voluntários foram informados sobre os objetivos e procedimentos do estudo e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. 66 Protocolo experimental Todas as etapas do protocolo experimental foram realizadas com controle da temperatura ambiente entre 21 a 23°C e umidade entre 40 a 60%. Para minimizar as influências do ritmo circadiano, o protocolo experimental foi realizado entre 14:00 a 18:00 horas. Antes da realização de todas as etapas deste protocolo experimental, os voluntários foram orientados a evitar 24hrs antes da sua realização o consumo de substâncias estimulantes e atividades físicas intensas, e ainda, a terem boa noite de sono e a consumirem 500ml de água duas horas antes de cada etapa deste estudo18. O protocolo experimental ilustrado na figura 1 foi composto por 3 etapas com um intervalo de 48 horas entre elas, a fim de garantir a total recuperação do voluntário. A primeira etapa foi constituída pelo teste de esforço máximo, realizado com objetivo de dividir os voluntários em dois grupos de acordo com a sua capacidade cardiorrespiratória (Maior VO2pico e Menor VO2pico) e para determinar a carga de exercício a ser utilizada nas etapas seguintes. As etapas II e III corresponderam, respectivamente, ao protocolo controle (PC) e hidratação (PH), onde os voluntários de ambos os grupos, após coletarem uma amostra de urina para avaliação do estado de hidratação inicial, tiveram o peso e temperatura corporal mensurados e foram colocados em decúbito dorsal por 10 minutos. Após o repouso inicial, os voluntários realizaram um protocolo de exercício aeróbio em intensidade moderada por 90 minutos, seguido de 60 minutos de recuperação nas mesmas condições do repouso inicial. No PH, além desses procedimentos, os voluntários foram hidratados com 10 porções iguais de água mineral (Bonafont, Brasil) em intervalos regulares a partir do 15° minuto de exercício, em quantidade equivalente ao que foi perdido no PC19. 67 Figura 1. Desenho do protocolo experimental. Etapa I – Teste de Esforço Máximo O teste de esforço máximo foi realizado em uma esteira ergométrica (Super ATL, Inbrasport, Brasil), seguindo o protocolo máximo de Bruce20. O teste foi interrompido quando o voluntário atingiu a exaustão ou de acordo com os critérios de interrupção do próprio teste20. As análises do VO2 foram feitas pela observação dos gases expirados utilizando-se o sistema comercial Teem 100 – VO 2000 (Aerosport, Ann Arbor, USA). As etapas seguintes (PC e PH) utilizaram carga de 60% do valor de frequência cardíaca observado durante o VO2pico encontrado neste teste. Com base no valor da mediana do VO2pico, os voluntários foram divididos em dois grupos: menor VO2pico 68 (valores abaixo da mediana do VO2pico) e maior VO2pico (com valores iguais e acima da mediana do VO2pico). Etapa II e III – Protocolo Controle e Protocolo Hidratação Os PC e PH, como observado na figura 1, foram semelhantes e constituídos da seguinte forma: 10 minutos de repouso inicial, 90 minutos de exercício aeróbio realizado na esteira ergométrica com carga ajustada a 60% do valor de frequência cardíaca obtida no VO2pico na etapa I, e 60 minutos de recuperação final. O repouso e a recuperação foram realizados com o voluntário em decúbito dorsal. No PH os voluntários foram hidratados com água mineral (Bonafont, Brasil) a partir do 15° minuto de exercício com 10 porções iguais ingerida a cada 15 minutos. A quantidade ingerida foi calculada individualmente considerando a diferença obtida entre a massa corporal inicial e final encontrada no PC – considerando que um grama de massa perdido equivale a um mililitro de líquido perdido19. Ao início de ambos os protocolos foram coletados massa corporal e temperatura axilar. A captação da FC batimento a batimento para análise de sua variabilidade foi feita utilizando-se um cardiofrequencímetro Polar S810i (Polar Electro, Kempele, Finland) que foi acoplado ao tórax do voluntário durante todo o protocolo experimental. Por último, para a observação do estado de hidratação dos voluntários, foi colhido uma amostra de urina ao início do PC, e antes e após o PH, classificando os voluntários em euidratados ou desidratados de acordo com a densidade específica da urina21. Análise da variabilidade da frequência cardíaca Para obtenção dos índices não lineares da VFC, as séries de intervalos RR captadas pelo cardiofrequencímetro Polar S810i (Polar Electro, Kempele, Finland) 69 foram inicialmente submetidas a uma filtragem digital através do software Polar Precision Performance SW (versão 5.0), seguida por uma filtragem manual para eliminação de batimentos ectópicos prematuros e artefatos17. Séries com menos de 95% de batimentos sinusais não foram incluídas nas análises. A dinâmica não linear foi analisada através dos seguintes métodos: Quadro 1. Metodologia utilizada para análise da VFC. Fonte: Elaboração do autor (2022). 22-26 Para a observação do comportamento da VFC a partir dos índices investigados nesse estudo foram determinados os seguintes momentos para análise: M1 – 5 minutos finais do repouso; M2 – 25° ao 30° minuto do exercício; M3 – 55° ao 60° minuto do exercício; M4 – 85° ao 90° minuto do exercício; M5 – 0 ao 5° minuto de recuperação; M6 – 5° ao 10° minuto de recuperação; M7 – 15° ao 20° minuto de recuperação; M8 – 25° ao 30° minuto de recuperação; M9 – 40° ao 45° minuto de recuperação; M10 – 55° ao 60° minuto de recuperação. 70 Análise Estatística A normalidade dos dados foi determinada por meio do teste Shapiro-Wilk. Para as variáveis massa corporal, densidade específica da urina e temperatura corporal a comparação entre os momentos de um mesmo protocolo foi realizada pelo teste de t Student para dados com distribuição normal ou teste de Wilcoxon para dados não normais. A comparação de um mesmo momento (inicial e final) entre os protocolos e grupos foi feita por meio da ANOVA de uma via ou teste de Kruskal-Wallis seguido por pós-teste de Bonferroni. A comparação entre os momentos e protocolos para os índices da VFC foi realizada por meio da análise de variância para medidas repetidas (ANOVA) seguida da aplicação do teste de Bonferroni. A esfericidade dos dados foi checada pelo teste de Mauchly e, quando violada, a correção de Greenhouse-Geisser foi considerada. Para a análise dos momentos entre os protocolos foi utilizado o teste t de Student para dados ou teste de Mann Whitney dependendo da normalidade. O tamanho de efeito eta-squared parcial foi avaliado e a significância estatística fixada em 5%. As análises foram realizadas no software IBM SPSS Statistics – versão 22.0 (IBM Corp, Armonk, New York). RESULTADOS A partir dos critérios de elegibilidade foram recrutados 31 voluntários para este estudo, os quais foram divididos em 2 grupos: maior VO2pico (N = 16) e menor VO2pico (N = 15). Durante a etapa de análise de dados, 2 voluntários apresentaram erro superior à 5% em suas séries de intervalos RR e, portanto, foram excluídos do estudo, totalizando ao final 29 voluntários (Figura 2). 71 Figura 2. Fluxograma de perdas. As características antropométricas, bem como os dados das variáveis cardiovasculares dos voluntários estão representados na Tabela 1. Foi observado uma FC de repouso menor em indivíduos com maiores valores de VO2pico, em contrapartida, a média de peso foi maior nos indivíduos do grupo de menor VO2pico, embora o IMC não tenha tido diferença significante durante a comparação dos grupos. Como esperado, a média do VO2pico entre os grupos apresentou efeito significante (p < 0,05). 72 Tabela 1. Características antropométricas e dados cardiovasculares (N = 29) Média ± desvio padrão. [Mínimo-Máximo]. Legenda: Kg = quilograma; m = metro; IMC = índice de massa corporal; Kg/m² = quilograma/metro²; VO2pico = consumo pico de oxigênio; ml = mililitro; min = minuto; FC = frequência cardíaca; bpm = batimentos por minuto; PAS = pressão arterial sistólica; PAD = pressão arterial diastólica; mmHg = milímetros de mercúrio. As análises obtidas nos grupos de maior e menor VO2pico durante exercício estão representadas na tabela 2 e 3. Para todos os índices avaliados foram encontrados efeito de momentos (p < 0,05), porém não foi verificado efeito entre os grupos e na interação momento vs. protocolo (p > 0,05). É possível verificar um aumento significativo dos valores em ambos os grupos para os índices REC, DFA-Total e Alfa-2 em comparação ao repouso. Para o índice DET, nos PC e PH do grupo maior VO2pico houve um aumento significativo do índice em relação ao repouso para os três momentos avaliados. Em contrapartida, nos protocolos do grupo de menor VO2pico não foi observado aumento significativo nos valores desse índice em relação ao repouso (p > 0,05). Não foram observadas Variável Maior VO2pico Menor VO2pico P valor Idade (anos) 21,21 ± 1,92 [18 – 24] 21,76 ± 2,12 [19 – 25] 0,484 Peso (kg) 67,85 ± 9,63 [53,8 – 80,6] 76,52 ± 12,17 [54,7 – 94] 0,049 Altura (m) 1,75 ± 0,07 [1,60 – 1,88] 1,79 ± 0,07 [1,67 – 1,94] 0,185 IMC (kg/m²) 22,01 ± 2,07 [19,38 – 25,99] 23,75 ± 3,37 [16,87 – 28,07] 0,117 VO2pico (ml/Kg/min) 52,42 ± 2,93 [48,64 – 58,54] 41,24 ± 6,32 [26,90 – 48,14] 0,000 FC repouso (bpm) 65,92 ± 5,57 [50 – 82] 74,00 ± 9,78 [56 – 87] 0,024 PAS repouso (mmHg) 112,85 ± 9,13 [100 – 130] 117, 69 ± 11,65 [100 – 140] 0,265 PAD repouso (mmHg) 73,71 ± 8,18 [60 – 90] 76,92 ± 11,09 [60 – 100] 0,427 73 alterações significantes para os índices SampEn e Alfa-1 entre o repouso e os três momentos avaliados em exercício (p > 0,05). Tabela 2. Comparação entre os grupos de maior e menor VO2pico para os índices obtidos pelo plot de recorrência e pela análise de flutuações depuradas de tendência. Índices Grupo Protocolo Momentos P valor (η²P) M1 M2 M3 M4 REC Menor VO2pico PC 30,2±8,5 46,1±5,2 45,8±3,9 44,2±5,5 Mmt: 0 (0,637) Int: 0,987 (0,010) Gp: 0,332 (0,061) PH 30,3±8,0 46,2±3,3 45,9±5,6 44,8±7,7 Maior VO2pico PC 27,3±7,1 44,2±5,9 44,6±7,6 44,4±8,0 PH 29,8±9,7 46,0±4,3 47,1±3,2 46,4±4,2 DET Menor VO2pico PC 97,7±1,7 99,3±0,7 99,3±0,5 99,0±0,7 Mmt: 0 (0,361) Int: 0,965 (0,010) Gp: 0,300 (0,065) PH 97,8±1,8 99,5±0,3 99,2±0,6 98,9±1,1 Maior VO2pico PC 97,3±1,3 99,2±0,8 98,9±1,1 98,9±1,1 PH 97,7±2,0 99,4±0,4 99,5±0,3 99,3±0,8 SampEn Menor VO2pico PC 1,5±0,4 1,3±0,4 1,2±0,2 1,5±0,6 Mmt: 0,004 (0,088) Int: 0,481 (0,050) Gp: 0,559 (0,037) PH 1,5±0,4 1,3±0,4 1,4±0,4 1,3±0,5 Maior VO2pico PC 1,6±0,2 1,4±0,6 1,4±0,6 1,5±0,6 PH 1,6±0,3 1,3±0,3 1,2±0,3 1,4±0,5 DFA-total Menor VO2pico PC 0,9±0,2 1,2±0,2 1,2±0,1 1,2±0,1 Mmt: 0 (0,660) Int: 0,826 (0,027) Gp: 0,615 (0,032) PH 0,9±0,1 1,2±0,1 1,2±0,1 1,2±0,1 Maior VO2pico PC 0,8±0,2 1,1±0,1 1,2±0,1 1,2±0,1 PH 0,9±0,2 1,2±0,1 1,2±0,1 1,2±0,1 Alfa-1 Menor VO2pico PC 1,0±0,2 0,9±0,2 0,8±0,2 0,9±0,2 Mmt: 0,005 (0,093) Int: 0,503 (0,047) Gp: 0,990 (0,002) PH 1,0±0,2 1,0±0,3 0,8±0,2 0,8±0,3 Maior VO2pico PC 0,9±0,2 0,9±0,3 0,9±0,3 0,9±0,3 PH 0,9±0,2 0,9±0,3 0,9±0,2 0,8±0,2 Alfa-2 Menor VO2pico PC 0,9±0,2 1,2±0,1 1,3±0,1 1,3±0,1 Mmt: 0 (0,703) Int: 0,721 (0,035) Gp: 0,960 (0,006) PH 0,9±0,2 1,2±0,1 1,2±0,2 1,3±0,1 Maior VO2pico PC 0,9±0,1 1,2±0,1 1,2±0,1 1,2±0,1 PH 0,9±0,2 1,2±0,1 1,3±0,1 1,2±0,2 Média ± desvio padrão. Valores em negrito: diferença significante (p < 0,05) entre os momentos de exercício e o repouso (ANOVA de duas vias para medidas repetidas seguida do pós-teste de Bonferroni). Legenda: PC = protocolo controle; PH = protocolo hidratação; VO2pico = consumo pico de oxiênio; M1 = 5 minutos finais do repouso; M2 = 25° ao 30°min de exercício; M3 = 55° ao 60°min de exercício; M4 = 85° ao 90°min de exercício; η²P = eta-squared parcial; Mmt = momentos; Int = interação; Gp = grupos. Para o índice 0V o grupo com maior VO2pico apresentou maiores valores dos três momentos de exercício em relação ao repouso (p > 0,05), o que não ocorreu com o grupo de menor VO2pico. Redução significante do índice 1V foi observado a partir do M2 para o grupo de maior VO2pico do PH e a partir do M3 para o grupo de menor VO2pico do PH e de maior VO2pico do PC, porém essa redução significativa entre os 74 momentos não foi observada para o grupo com menor VO2pico do PC (p > 0,05). Para o índice 2LV em ambos os grupos e protocolos menores valores em exercício em comparação ao repouso foram observados (p < 0,05) e para o índice 2ULV não foram encontradas alterações significantes entre os momentos avaliados (p > 0,05). Tabela 3. Comparação entre os grupos de maior e menor VO2pico para os índices da análise simbólica. Período de exercício vs. repouso inicial. Índices Grupo Protocolo Momentos P valor (η²P) M1 M2 M3 M4 0V Menor VO2pico PC 26,2±16,4 36,4±13,7 39,5±11,9 33,9±15,8 Mmt: 0 (0,259) Int: 0,830 (0,027) Gp: 0,438 (0,049) PH 25,6±15,2 41,7±9,9 38,6±14,1 36,8±16,8 Maior VO2pico PC 17,9±13,3 37,0±16,7 34,1±16,1 33,5±12,0 PH 21,5±12,2 40,4±12,5 40,3±12,0 36,0±13,5 1V Menor VO2pico PC 44,5±6,3 41,4±6,9 39,6±6,2 40,3±6,4 Mmt: 0 (0,307) Int: 0,655 (0,040) Gp: 0,729 (0,024) PH 45,2±4,0 39,5±5,3 39,2±7,4 36,7±5,3 Maior VO2pico PC 47,4±6,0 40,7±8,4 39,6±6,5 38,7±5,4 PH 47,2±4,5 39,4±5,7 37,3±6,4 37,9±5,1 2LV Menor VO2pico PC 10,5±6,0 2,1±1,8 1,6±1,6 2,25±2,5 Mmt: 0 (0,687) Int: 0,389 (0,055) Gp: 0,143 (0,095) PH 10,4±5,4 1,5±1,4 1,7±1,4 2,5±3,2 Maior VO2pico PC 14,3±6,1 2,7±2,7 2,8±2,4 2,0±1,7 PH 12,4±6,1 1,6±1,6 1,4±1,7 2,2±2,0 2ULV Menor VO2pico PC 18,9±13,4 20,1±7,2 19,3±6,0 23,3±9,2 Mmt: 0,002 (0,113) Int: 0,900 (0,019) Gp: 0,674 (0,028) PH 18,7±12,8 17,2±5,8 20,5±7,6 24,0±9,4 Maior VO2pico PC 20,4±9,8 19,6±8,6 23,5±9,5 25,8±7,7 PH 19,0±10,1 18,6±8,4 21,1±7,5 24,0±11,1 Média ± desvio padrão. Valores em negrito: diferença significante (p < 0,05) entre os momentos de exercício e o repouso (ANOVA de duas vias para medidas repetidas seguida do pós-teste de Bonferroni). Legenda: PC = protocolo controle; PH = protocolo hidratação; VO2pico = consumo pico de oxiênio; M1 = 5 minutos finais do repouso; M2 = 25° ao 30°min de exercício; M3 = 55° ao 60°min de exercício; M4 = 85° ao 90°min de exercício; η²P = eta-squared parcial; Mmt = momentos; Int = interação; Gp = grupos. As tabelas 4 e 5 a seguir evidenciam os resultados obtidos durante a análise do período recuperativo. Todos os índices avaliados apresentaram efeito de momentos (p < 0,05), e para os índices REC, SampEn, DFA-total, Alfa-1, 0V e 2LV foi verificado efeito na interação momento vs. protocolo (p < 0,05). Apenas os índices 0V e 1V apresentaram efeito entre grupos (p < 0,05). 75 Para os índices REC e SampEn dos grupos de maior e menor VO2pico do PH foi observado uma recuperação a partir de M6 e para o DET nesses mesmos grupos e protocolo a recuperação ocorreu a partir de M5. No PC para os índices REC e DET a recuperação também ocorreu a partir de M6, contudo, apresentaram também diferenças significantes em comparação ao repouso inicial para M9 e M10. Para SampEn o mesmo padrão foi observado nos grupos de menor e maior VO2pico do PC. Em relação ao DFA-total e o Alfa-1, observa-se que o PH acelerou a recuperação em ambos os grupos em relação ao PC (p < 0,05), com maior intensidade no grupo de maior VO2pico. Já para o Alfa-2 não foram observadas alterações significantes entre os momentos de exercício e o repouso (p > 0,05). Quanto a análise simbólica, no grupo com maior VO2pico todos os índices se recuperaram mais rapidamente no PH (p < 0,05), o que foi também observado para os índices 1V e 2 LV no grupo com menor VO2pico. Para o índice 0V, no grupo de menor VO2pico, a recuperação foi mais rápida no PC (a partir de M6) do que no PH (a partir de M7), porém no PC foi observado diferenças significantes em comparação ao repouso inicial ainda em M9 e M10. Já para o índice 2ULV ambos os protocolos e grupos se recuperaram a partir de M5, com exceção do grupo de maior VO2pico do PC, que se recuperou somente a partir de M7. No entanto, no PC, o grupo de menor VO2pico voltou a apresentar diferença siginificativa em comparação ao repouso em M10, e o grupo de maior VO2pico em M9. 76 Tabela 4. Comparação entre os grupos de maior e menor VO2pico para os índices obtidos pelo plot de recorrência e pela análise de flutuações depuradas de tendência. Período de repouso inicial vs. recuperação. Legenda: Média ± desvio padrão. Valores em negrito: diferença significante (p < 0,05) entre os momentos de exercício e o repouso (ANOVA de duas vias para medidas repetidas seguida do pós-teste de Bonferroni). Legenda: PC = protocolo controle; PH = protocolo hidratação; M1 = 5 minutos finais do repouso; M5 = 0° ao 5°min de recuperação; M6 = 5° ao 10°min de recuperação; M7 = 15° ao 20°min de recuperação; M8 = 25°ao 30°min de recuperação; M9 = 40° ao 45°min de recuperação; M10 = 55° ao 60°min de recuperação; η²P = eta-squared parcial; Mmt = momentos; Int = interação; Gp = grupos. Índices Grupo Protocolo Momentos P valor M1 M5 M6 M7 M8 M9 M10 REC Menor VO2pico PC 30,2±8,5 47,1±4,7 43,3±7,5 36,6±10,8 34,8±9,2 39,8±8,2 39,2±7,4 Mmt: 0 (0,430) Int: 0,045 (0,085) Gp: 0,650 (0,030) PH 30,3±8,0 45,0±7,2 39,0±10,9 38,8±10,2 34,7±9,5 35,8±10,5 35,9±10,7 Maior VO2pico PC 27,3±7,1 46,3±6,7 39,8±8,8 36,8±12,1 34,0±10,4 37,1±7,8 39,1±6,7 PH 29,8±9,7 46,1±3,0 41,3±5,0 37,9±8,8 32,8±7,8 32,3±7,5 29,8±8,6 DET Menor VO2pico PC 97,7±1,7 99,8±0,2 99,3±1,2 98,6±1,9 98,6±1,4 99,2±1,0 99,3±0,8 Mmt: 0 (0,326) Int: 0,333 (0,059) Gp: 0,698 (0,026) PH 97,8±1,8 99,5±0,5 98,8±1,3 98,9±1,2 98,4±1,4 98,6±1,5 98,5±1,6 Maior VO2pico PC 97,3±1,3 99,6±0,5 99,2±0,8 98,6±1,6 98,4±1,1 98,9±0,8 99,2±0,8 PH 97,7±2,0 99,7±0,2 99,2±0,7 98,8±0,8 97,9±1,4 98,4±1,1 98,3±1,3 SampEn Menor VO2pico PC 1,5±0,4 0,7±0,3 1,0±0,3 1,2±0,5 1,2±0,5 1,0±0,4 1,0±0,3 Mmt: 0 (0,480) Int: 0,005 (0,114) Gp: 0,113 (0,098) PH 1,5±0,4 0,8±0,4 1,1±0,4 1,2±0,4 1,2±0,4 1,2±0,4 1,3±0,4 Maior VO2pico PC 1,6±0,2 0,8±0,3 1,1±0,3 1,2±0,4 1,3±0,3 1,2±0,3 1,1±0,3 PH 1,6±0,3 0,8±0,3 1,1±0,3 1,3±0,3 1,5±0,2 1,5±0,3 1,5±0,3 DFA- total Menor VO2pico PC 0,9±0,2 1,1±0,1 1,1±0,2 1,0±0,1 1,0±0,1 1,0±0,2 1,0±0,1 Mmt: 0 (0,278) Int: 0,029 (0,093) Gp: 0,132 (0,098) PH 0,9±0,1 1,1±0,2 0,9±0,2 1,0±0,2 0,9±0,2 1,0±0,2 1,0±0,1 Maior VO2pico PC 0,8±0,2 1,0±0,1 1,0±0,2 1,0±0,2 0,9±0,2 1,0±0,2 1,0±0,1 PH 0,9±0,2 1,1±0,1 1,0±0,1 0,9±0,1 0,8±0,1 0,9±0,1 0,9±0,2 Alfa-1 Menor VO2pico PC 1,0±0,2 1,3±0,2 1,2±0,2 1,2±0,3 1,1±0,2 1,2±0,2 1,3±0,2 Mmt: 0 (0,309) Int: 0,014 (0,110) Gp: 0,178 (0,086) PH 1,0±0,2 1,2±0,2 1,2±0,2 1,1±0,2 1,1±0,3 1,1±0,2 1,1±0,2 Maior VO2pico PC 0,9±0,2 1,2±0,2 1,2±0,2 1,1±0,2 1,1±0,2 1,2±0,2 1,2±0,2 PH 0,9±0,2 1,2±0,2 1,1±0,2 1,0±0,2 1,0±0,2 1,0±0,2 1,0±0,2 Alfa-2 Menor VO2pico PC 0,9±0,2 1,1±0,2 1,0±0,2 1,0±0,1 0,9±0,1 1,0±0,2 1,0±0,1 PH 0,9±0,2 1,0±0,2 0,9±0,2 1,0±0,1 0,9±0,2 0,9±0,2 0,9±0,1 Mmt: 0 (0,163) Int: 0,240 (0,064) Gp: 0,372 (0,056) Maior VO2pico PC 0,9±0,1 1,0±0,2 1,0±0,1 1,0±0,2 0,9±0,2 0,9±0,2 1,0±0,1 PH 0,9±0,2 1,0±0,1 0,9±0,1 0,9±0,2 0,8±0,1 0,9±0,1 0,8±0,2 77 Tabela 5. Comparação entre os grupos de maior e menor VO2pico para os índices da análise simbólica. Período de repouso inicial vs. recuperação. Legenda: Média ± desvio padrão. Valores em negrito: diferença significante (p < 0,05) entre os momentos de exercício e o repouso (ANOVA de duas vias para medidas repetidas seguida do pós-teste de Bonferroni). Legenda: PC = protocolo controle; PH = protocolo hidratação; M1 = 5 minutos finais do repouso; M5 = 0° ao 5°min de recuperação; M6 = 5° ao 10°min de recuperação; M7 = 15° ao 20°min de recuperação; M8 = 25°ao 30°min de recuperação; M9 = 40° ao 45°min de recuperação; M10 = 55° ao 60°min de recuperação; η²P = eta-squared parcial; Mmt = momentos; Int = interação; Gp = grupos. Índices Grupo Protocolo Momentos P valor M1 M5 M6 M7 M8 M9 M10 0V Menor VO2pico PC 26,2±16,4 55,6±12,5 48,4±14,8 40,2±20,4 37,9±17,2 46,2±17,8 47,0±14,2 Mmt: 0 (0,433) Int: 0,023 (0,097) Gp: 0,05 (0,131) PH 25,6±15,2 45,7±19,1 38,5±19,1 38,7±18,1 31,6±17,6 36,2±17,8 35,5±18,9 Maior VO2pico PC 17,9±13,3 50,7±13,6 40,8±15,0 39,2±20,5 31,0±17,2 36,9±17,0 42,7±14,2 PH 21,5±12,2 43,2±10,8 37,4±13,4 29,4±9,2 23,2±11,7 25,8±12,9 24,8±14,9 1V Menor VO2pico PC 44,5±6,3 35,3±8,2 38,6±6,7 40,9±8,8 43,3±6,0 39,4±7,8 41,3±6,1 Mmt: 0 (0,176) Int: 0,409 (0,055) Gp: 0,004 (0,1219) PH 45,2±4,0 38,8±10,7 41,4±8,0 42,0±7,0 43,1±6,0 43,0±4,7 42,6±5,0 Maior VO2pico PC 47,4±6,0 38,9±7,8 43,5±6,9 41,0±6,9 45,7±4,8 44,7±7,1 42,3±6,0 PH 47,2±4,5 43,2±5,5 44,6±5,3 48,2±2,9 47,2±4,3 48,5±4,3 46,4±3,4 2LV Menor VO2pico PC 10,5±6,0 2,4±2,2 4,1±4,4 8,1±7,2 7,9±6,2 6,3±6,1 5,4±4,5 Mmt: 0 (0,314) Int: 0,007 (0,111) Gp: 0,107 (0,106) PH 10,4±5,4 5,3±4,5 8,1±6,2 8,0±7,0 11,2±8,5 7,9±6,8 7,8±6,6 Maior VO2pico PC 14,3±6,1 3,6±3,6 6,2±5,2 8,7±7,7 11,4±8,4 8,0±5,3 6,2±4,5 PH 12,4±6,1 4,5±3,4 7,5±5,6 9,9±4,4 15,0±7,9 11,5±5,7 14,1±7,5 2ULV Menor VO2pico PC 18,9±13,4 6,7±3,3 8,9±5,9 10,9±10,5 10,9±8,3 8,2±5,8 6,9±4,5 Mmt: 0 (0,285) Int: 0,350 (0,058) Gp: 0,382 (0,055) PH 18,7±12,8 10,2±7,5 12,0±8,7 11,4±8,1 14,2±9,1 12,5±10,4 14,1±13,3 Maior VO2pico PC 20,4±9,8 6,8±4,6 9,5±6,2 11,1±10,8 12,2±8,1 10,5±6,8 8,9±5,3 PH 19,0±10,1 9,0±4,0 10,5±4,7 12,5±4,0 17,9±11,8 14,2±6,4 14,6±7,3 78 DISCUSSÃO Os resultados do nosso estudo demonstraram pouco efeito da capacidade cardiorrespiratória sobre a dinâmica não linear da FC durante o exercício, contudo no período de recuperação, principalmente no PH, observou-se um retorno mais rápido aos valores basais no grupo com maiores valores de VO2pico. Ainda, o protocolo de hidratação proposto por este estudo foi capaz de beneficiar também a recuperação de indivíduos com menor capacidade cardiorrespiratória. Pelo nosso conhecimento, este é primeiro estudo que analisou os efeitos da capacidade cardiorrespiratória associada a hidratação sobre a dinâmica não linear da FC em exercício e recuperação em indivíduos jovens e saudáveis. O procedimento experimental proposto promoveu uma hipohidratação dos voluntários a partir de uma perda de aproximadamente 2% de massa corporal27. Já a estratégia de hidratação empregada foi capaz de impedir essa perda e beneficiar a recuperação, acelerando esse processo, independentemente do nível de capacidade cardiorrespiratória. Ainda, a reposição hídrica realizada de maneira individualizada a partir da diferença de peso corporal foi benéfica para o sistema cardiovascular, uma vez que a ingestão em excesso de líquidos também pode prejudicar sua função. Diferenças significantes entre os grupos para as variáveis peso, VO2pico e FCrepouso foram encontradas. O grupo de maior VO2pico apresentou menores valores para peso e FCrepouso, já os valores para VO2pico foram mais altos (p < 0,05). Esses achados corroboram com a literatura que aponta o aumento na FC de repouso como um indicador para baixa capacidade de exercício28, ao passo que indivíduos com maior capacidade apresentam um sistema cardiovascular mais adaptável, tornando possível um melhor desempenho durante a prática29. 79