© 2014 WCCA April 20 - 23, 2014, Vila Real, PORTUGAL VII World Congress on Communication and Arts 140 OS VITRAIS EM FORMA DE ROSÁCEAS DA CATEDRAL DE NOTRE DAME DE PARIS Maria Antonia Benutti 1 , Andressa Bernardo da Silva 2 1 Maria Antonia Benutti, Professora Doutora - Faculdade de Arquitetura Artes e Comunicação – UNESP – Universidade Estadual Paulista, Av. Luiz Edmundo Carrijo Coube, 14-01, 17043-00, Bauru, SP, Brazil, mariabenutti@faac.unesp.br 2 Andressa Bernado da Silva – Graduanda – Artes Visuais - Faculdade de Arquitetura Artes e Comunicação – UNESP – Universidade Estadual Paulista, Av. Luiz Edmundo Carrijo Coube, 14-01, 17043-00, Bauru, SP, Brazil, andressa_art@hotmail.com Abstract  The paper presents a historical explanation of the Notre Dame de Paris, studying the symbols and the elements of each of its major rose windows. Analyzes the stained glass in the form of rose windows from the point of view of their meanings, functions, symbols used in their divisions and plays its geometric construction. Index Terms  rose windows, gothic, Notre Dame de Paris. INTRODUÇÃO A apropriação de símbolos pagãos pela igreja católica é histórica. No período gótico os construtores das catedrais se apropriam da forma circular da mandala, símbolo muito antigo encontrado nas mais remotas inscrições e grafismos da humanidade, como um elemento marcante dessas construções, denominando-a rosácea e atribuindo-lhe novos significados. Segundo Gozzoli [1] “A sua forma circular, dividida em finos raios de pedra semelhantes aos de uma roda, tinha, para o cristão da época, um significado duplamente simbólico: alude, simultaneamente, ao sol, símbolo de Cristo, e à rosa, símbolo de Maria.” Nas catedrais, a rosácea se apresenta com a função de ornamento da arquitetura e como símbolo sagrado. Agrega um material que já vinha sendo utilizado pela igreja, o vitral, junção de vidros coloridos com formatos definidos, com a função tanto sinestésica como instrutiva, onde, as pessoas ignorantes poderiam ler através do olhar, aprendendo aquilo que não conseguiam ler nos livros, e o recurso que mais cumpriu esse papel, foram os vitrais, pela sua beleza e luz, que sensibiliza e emociona, e que são ingredientes fundamentais para instruir alguém, indo além da razão para atingir a emoção [2]. A CATEDRAL DE NOTRE DAME DE PARIS A Catedral de Notre-Dame de Paris é uma das mais antigas catedrais francesas em estilo gótico, sua construção iniciou- se no ano de 1163, e concluiu em 1345. Com 127,50 m de comprimento, e altura de 32,50m sob as abóbadas, tem a capacidade de acolher 9 mil pessoas. Dedicada a Maria, Mãe de Jesus Cristo, de onde provém o nome Notre Dame – Nossa Senhora, situa-se na praça Parvis, na pequena ilha Île de la Cité em Paris, França, rodeada pelas águas do Rio Sena. A substituição das paredes dos transeptos por paredes de vidro, ocorreu em 1250, por Jean de Chelles, mestre construtor do período, livre da influência das cargas, pode abrir nas paredes grandes orifícios de vidro estruturados apenas por dois pilares. Sua perfeição e habilidade no trabalho, no desenvolvimento da geometria e supervisionando o corte das pedras, fez com que a moldura suportasse 117 metros quadrados de vidros por mais de 700 anos. Há registros de que no mesmo local da catedral, ter havido um templo dedicado a Júpiter, e com o surgimento do cristianismo, séculos mais tarde, foi erguida neste local uma basílica em estilo romanesco. A literatura influencia a história da catedral, através do famoso romance de Vitor Hugo, o Corcunda de Notre Dame, lançado em 1831, o que fez ressurgir o interesse popular pela Catedral e sua arquitetura gótica, e com isso iniciar-se um movimento pela reforma e preservação da Catedral, executada em 1845 e 1865. A fachada ocidental da Catedral possui a proporção do traçado do segmento áureo, vistas nas medidas: 41m de largura, 43m de altura até a base das torres e, 63m até o alto das torres. Dividida em 3 retângulos, sendo o retângulo da base um quadrado duplo que estabelece a proporção áurea com o lado menor do retângulo do meio e este com o retângulo seguinte [3]. A planta é demarcada pela formação em cruz romana orientada a ocidente, de eixo longitudinal acentuado, e não é perceptível pelo exterior do edifício, visto os braços do transepto não excederem a largura da fachada. A cruz está “embebida” no edifício, envolta por um duplo deambulatório, ou charola, que circula o coro na cabeceira (a este) e se prolonga paralelamente à nave, dando lugar, assim, a quatro colaterais (ou naves laterais). O portal sul do transepto consagrado a Santa Ana, data do século XII, sua construção ocorreu entre 1210 e 1220, devido a ter sido bastante maltratada após a Revolução Francesa, teve de ser restaurada no séc XIX, o que deu o aspecto que apresenta atualmente. Na catedral de Notre Dame existem três Rosáceas ou vitrais que iluminam todo o transepto, as rosáceas Norte, Sul e Oeste, suas composições baseiam-se no número 8 e seus múltiplos, simbolizando o Universo, a Terra e os sete © 2014 WCCA April 20 - 23, 2014, Vila Real, PORTUGAL VII World Congress on Communication and Arts 141 Planetas. Essa iluminação, oriunda dos vitrais, que inunda a catedral, e vai se tornando mais intensa conforme se aproxima do altar, simboliza a jornada dos fiéis em direção à luz. ANÁLISE DAS PARTICULARIDADES DAS ROSÁCEAS DA CATEDRAL Rosácea Oeste A Rosácea Oeste (Figura 1), localizada na fachada de maior impacto, tem 9,60m de diâmetro, foi executada em 1225, apresenta seus traços e composição em grande afinidade com a fachada da Catedral de Saint Denis, que deriva do românico normando, apresentando uma ordem de traçado coerente e de construção racional que busca reduzir seus elementos ao essencial, se integrando como um todo. FIGURA. 1 ROSÁCEA OESTE (HTTP://HVINTEUM.WORDPRESS.COM/2013/04/11/A- ROSACEA/) Baseada no número 3 que simboliza a trindade, esta rosácea apresenta a divisão em 12, que se subdividem em 24 nas suas extremidades (Figura 2). Possui elementos circulares distribuídos em 3 circunferências concêntricas, além de um círculo central que apresenta a virgem com o Menino Jesus, rodeado por 12 lunações. Entre este círculo central e a circunferência seguinte contendo os elementos, há um círculo de elementos decorados com arabescos florais entrelaçados que formam as pétalas que circundam o centro. Na circunferência seguinte, com divisão em 12 partes, temos as imagens dos doze profetas inseridos em quadrifólios. Essas formas são traçadas à partir de 4 circunferências que têm o mesmo raio e cujos centros estão inscritos nos vértices de um quadrado. A segunda circunferência de elementos se subdivide em 24 partes iguais, que apresentam, dentro de círculos, as narrativas bíblicas. Na última circunferência de elementos estão representados 24 cavaleiros com escudos e lanças que apontam para o centro, inscritos em quadrifólios. FIGURA. 2 ROSÁCEA OESTE – CONSTRUÇÃO GEOMÉTRICA Rosácea Sul A Rosácea Sul foi um presente do rei São Luis, projetada por Jean de Chella e Pierre de Montreuil. Construída em 1260 como contraponto para a janela da Rosácea Norte, que teve sua construção em 1250, ambas com 12,90 metros de diâmetro, e uma altura total de cerca de 19 metros. Dedicada ao Novo Testamento (Figura 3). FIGURA. 3 ROSÁCEA SUL (HTTP://MARIFATITA.BLOGSPOT.COM.BR/2010_10_01_ARCHIVE.HTML) © 2014 WCCA April 20 - 23, 2014, Vila Real, PORTUGAL VII World Congress on Communication and Arts 142 Esta rosácea foi danificada muitas vezes ao longo dos séculos. Nos anos em 1725 e 1727, foi restaurada por Guillaume Brice, sob supervisão do Boffrand, mas devido a um incêndio em 1830, foi necessário reconstruí-la novamente. Trabalho que se iniciou em 1830 por Viollet-le- Duc, apesar de todos os cuidados para não alterar a estrutura da rosácea, houve alteração na ordem dos medalhões e os doze apóstolos, que originalmente faziam parte do primeiro círculo, estão agora distribuídos entre os dois círculos, entre outras figuras. FIGURA. 4 ROSÁCEA SUL – CONSTRUÇÃO GEOMÉTRICA Esta rosácea apresenta 84 painéis dispostos em 4 circunferências, a primeira tem 12 medalhões e a segunda 24. Uma terceira circunferência é composta por 12 quadrifólios intercalados por 12 círculos, e a quarta circunferência tem 24 trilobes (formas geométricas com 3 circunferências de mesmo raios com os centros inscritos em um triângulo eqüilátero). A construção desta janela se baseia no número simbólico 4, e seus múltiplos, 12 e 24 (Figura 4). Nas quatro circunferências observam-se os Santos e Mártires, que tradicionalmente são homenageados na França, bem como as virgens prudentes. Observa-se cerca de 20 anjos, localizados no quarto círculo, estes carregam uma vela, duas coroas e um incensário, Nas terceira e quarta circunferências mostram-se cenas do antigo e do Novo Testamento, apresentando algumas narrativas como, a fuga para o Egito, a cura de um paralítico, Julgamento de Salomão, a Anunciação dentre outras. E por último na terceira e parte da quarta circunferências, aparecem nove cenas da vida de são Mateus. O medalhão central da rosácea, originalmente retratava Deus em majestade, Viollet-le-Duc decidiu retratar o Cristo do Apocalipse, com uma espada que saindo de sua boca, simbolizando sua palavra. Rosácea Norte A rosácea Norte se localiza no centro da fachada, próximo a galeria da Virgem, medindo 9,60 m de diâmetro, foi criada em 1225. Apresenta ao centro a Virgem com o Menino Jesus, circundada por 8 lunações com flores de lis. Na primeira circunferência de elementos, circundando o centro aparece uma faixa vermelha com formas florais, e mais externamente os 16 profetas. Na segunda circunferência de elementos, internamente aparecem 32 trilobes, e externamente apresentam-se 32 reis e antepassados de Cristo. Na última circunferência envoltos em trilobes, 32 patriarcas e grão-sacerdotes de Israel para coroar o conjunto. Todos os elementos que circundam o centro estão envoltos por arabescos geométricos (Figura 5). FIGURA. 5 ROSÁCEA NORTE (HTTP://HVINTEUM.WORDPRESS.COM/2013/04/11/A- ROSACEA/) A construção geométrica (Figura 6) é feita com base no 8 e suas subdivisões de 16 e 32, é a que apresenta a maior quantidade de elementos, e se assemelha em sua construção e disposição de elementos com a rosácea Sul, no entanto é a mais complexa das três, mesmo assim não deixa de transmitir unidade e harmonia a todos que a contemplam. © 2014 WCCA April 20 - 23, 2014, Vila Real, PORTUGAL VII World Congress on Communication and Arts 143 FIGURA. 6 ROSÁCEA NORTE – CONSTRUÇÃO GEOMÉTRICA CARACTERÍSTICAS EM COMUM DAS TRÊS ROSÁCEAS As rosáceas Oeste, Norte, e Sul da Catedral de Notre Dame de Paris, possuem uma correspondência na base das suas divisões e nos elementos simbólicos. A base da sua divisão é em 4, 8 e 12, que se subdividem em seus múltiplos. A rosácea Oeste é a que mais se assemelha às de Chartes pela divisão em 12, o agrupamento e constituição dos seus elementos, assim como a coloração. As três apresentam seus elementos distribuídos em 3 circunferências concêntricas. A rosácea Norte apresenta divisão da circunferência em 16 partes, com uma subdivisão de 32, é a mais complexa e a que possui maior quantidade de elementos. Embora esta seja a única que não possui os 12 profetas representados, em todas aparecem os elementos de narrativas bíblicas, anjos e imagens do Velho e Novo Testamento. CONSIDERAÇÕES FINAIS O período em que as Catedrais Góticas foram construídas, meados do século XII e meados do século XIII, foi um momento em que a maior parte das catedrais eram dedicadas à Notre Dame, apresentando a Virgem em glória que encarnaria a própria igreja romana, onde Maria é a personagem central do universo religioso e cultural desse período medieval. Estruturalmente as rosáceas de Paris trazem em si a função de rosáceas como vitrais, sendo este um meio que representa simbolicamente a divindade manifesta e iluminando o espírito do observador, trazem também a função instrutiva das narrativas bíblicas por meio dos signos sagrados representados. Devido a isto, as rosáceas apresentam simbologia e elementos semelhantes, como as narrativas bíblicas, a imagem de Maria, a flor de lis, os profetas, dentre outros. A construção arquitetônica desse período buscava expressar um novo ideal de humanismo e uma nova teologia, sendo assim carregam a mentalidade e intenção religiosa e política da época. Os estudos geométricos das rosáceas demonstram a utilização, por parte de seus construtores dos elementos místicos da geometria sagrada. A construção geométrica das rosáceas, envolta no simbolismo da mandala, é construída pela divisão da circunferência em partes iguais, em números repletos de simbolismo e seus elementos dispostos simetricamente em relação a um centro para onde todas as narrativas se comunicam, este em sua maior parte traz Maria e o menino Jesus. Apesar de suas particularidades há uma harmonia e uma ligação que fazem destas rosáceas um esplendor de cores, formas e sensações, que proporcionam ao espectador um encontro com a divindade. REFERENCES [1] GOZZOLI, M.C. “Como reconhecer a arte Gótica”, São Paulo: Martins Fontes Editora Ltda., 1986. [2] CONCEIÇÃO, H. R. da. “O que dizem os vitrais? Sua comunicação nos espaços sagrados da Sainte Chapelle e da Catedral de Notre-Dame de Chartres”, Bauru: EDUSC, 2000. [3] BENUTTI, M. A. “A Geometria das Catedrais Góticas e Neogóticas”, In: Simpósio Nacional de Geometria Descritiva e Desenho Técnico e IX International Conference on Graphics Engineering for Arts and Design, 2011, Rio de Janeiro: UFRJ, Escola de Belas Artes, 2011.