UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Instituto de Geociências e Ciências Exatas Campus de Rio Claro IVAN CLAUDIO GUEDES ANÁLISE MORFOTECTÔNICA DO PLANALTO OCIDENTAL PAULISTA, AO SUL DO RIO TIETÊ: indicadores de deformações neotectônicas na fisiografia da paisagem. Rio Claro - SP 2014 (Volume 1) UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Instituto de Geociências e Ciências Exatas Campus de Rio Claro IVAN CLAUDIO GUEDES ANÁLISE MORFOTECTÔNICA DO PLANALTO OCIDENTAL PAULISTA, AO SUL DO RIO TIETÊ: indicadores de deformações neotectônicas na fisiografia da paisagem. . Tese de Doutorado apresentada ao Instituto de Geociências e Ciências Exatas do Câmpus de Rio Claro, da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Geologia Regional. Orientador: Prof. Dr. Norberto Morales Co-orientador: Prof. Dr. Mario Lincoln De Carlos Etchebehere Rio Claro – SP 2014 Comissão Examinadora Prof. Dr. NORBERTO MORALES – Orientador IGCE/UNESP/Rio Claro (SP) Prof. Dr. ANTONIO ROBERTO SAAD Universidade Guarulhos/Guarulhos (SP) Prof. Dr. ARCHIMEDES PEREZ FILHO IG/UNICAMP/Campinas (SP) Profa. Dra. CENIRA MARIA LUPINACCI DA CUNHA IGCE/UNESP/Rio Claro (SP) Prof. Dr. CLAUZIONOR LIMA DA SILVA ICE/UFAM/Manaus (AM) IVAN CLAUDIO GUEDES ALUNO Rio Claro, SP 27 de Março de 2014. Resultado: Aprovado Àqueles que me acompanharam nos melhores e piores momentos, dedico este trabalho. Gabriel, Enzo e Sayara, este trabalho é para vocês. AGRADECIMENTOS Primeiramente, e não poderia ser diferente, à Deus pelas provas postas a minha frente, que muito contribuíram com a minha evolução. Agradeço à minha família pelo constante incentivo aos meus estudos, sobretudo ao meu pai Vitor Guedes e à minha mãe Thereza Rodrigues Guedes (in memoriam) pela educação que me fora dada. Agradeço ao Prof. Dr. Norberto Morales pelo caloroso acolhimento nesta instituição e pela orientação, bem como ao Prof. Dr. Mario Lincoln De Carlos Etchebehere que me conduziu desde os primeiros passos na graduação, até literalmente ao doutorado. Ao Prof. Dr. Antonio Roberto Saad, que também me acompanhou desde a graduação, pelo grande incentivo aos meus estudos e pelas valiosas contribuições com este trabalho. Aos amigos do Laboratório de Sensoriamento Remoto da Universidade Guarulhos, Prof. Dr. Antonio Manoel dos Santos, Prof. Dr. Marcio Roberto Magalhães de Andrade ao meu irmão de graduação Prof. Ms. William de Queiroz e à grande amiga Profa. Ms. Sandra Emi Sato, pelos auxílios prestados e pelo incentivo dado a este trabalho. Ao laboratório de Geociências, sobretudo ao Biólogo Ms. Fabio Casado, pela inestimável ajuda, auxílio e conselhos que muito contribuíram para este trabalho. Ao Instituto Geológico de São Paulo, nas pessoas do Geól. Dr. Antonio Luiz Teixeira, da bibliotecária Arlete Alves Ferreira e da Sra. Maria Helena Silva de Jesus, do núcleo de publicações e divulgação, pela disponibilização de materiais para os estudos empregados. Aos amigos Luiz Fernando dos Santos e Daniela Rocha Porto pelos esclarecimentos sobre seus trabalhos empreendidos no Pontal do Paranapanema e no Rio Aguapeí. Aos alunos do ensino médio que compõem a equipe de estudos de Neotectônica (PIBIC-EM – UnG-CNPq) da E.E. Bom Pastor II (Caique da Silva Rocha [in memoriam], Alan de Carlos Lira Lemes, Ana Caroline da Silva Santos, Ranniery Marcelo Santos Macedo e Luiz Gustavo da Silva) e àqueles que tornaram esse projeto possível: Prof. Dr. Mario L. C. Etchebehere, Regiane Souza, Profa. Ms. Rosana Cintia de Moraes e Profa. Dilma Feliciano da Silva. Aos amigos da E.E. Bom Pastor II, pelo constante incentivo e pelas palavras de apoio, bem como aos amigos, alunos, professores e companheiros da administração que me acompanharam durante todo este tempo. Às amigas Profa. Ms. Leide de Andrade Victorino, minha eterna professora, que me deu o prazer de trabalhar ao seu lado no curso de Pedagogia e Profa. Ms. Tatiana de Jesus Pitta por todo o tempo que passamos discutindo e projetando nossos sonhos. Não poderia deixar de agradecer aos amigos e companheiros da pós- graduação Valdecir Galvão e Daniel Nery dos Santos pelas longas discussões, elaboração de projetos e companheirismo durante nossos estudos para obtenção dos créditos. Também não poderia deixar de agradecer ao Sr. Nelson Zumpano pelo caloroso acolhimento em seu lar enquanto estávamos cursando os créditos. Ao meu filho Gabriel Salviano de Moraes que com muita paciência e compreensão, acompanhou os estágios da elaboração dessa tese, sem cobrar a minha presença nos momentos de diversão, ao Enzo Fevereiro que, igualmente ao Gabriel se furtou de vários momentos de lazer ao meu lado e à Sayara Fernanda de Moraes Guedes que acabara de chegar ao mundo e já se deparou com as dificuldades da vida acadêmica de seu pai. À Rosana Cíntia de Moraes, pelo constante incentivo nos projetos decorridos durante este tempo. À Claudia Guarino pelos colóquios afora. À Fabiana Lopes, companheira de lutas, pela ajuda no decorrer deste trabalho. À Jamilly Brandão pela inestimável revisão no abstract. À Andréa Porto Luiz pelo constante apoio e incentivo. Ao Filipe de Sousa pelo constante apoio e incentivo e ao eterno irmão e companheiro de luta em prol de uma educação de qualidade, Omar de Camargo, meus sinceros agradecimentos. Aos amigos e companheiros que se furtaram da minha presença por muito tempo nas reuniões sociais (churrascos e pizzadas): Irají Oliveira Romeiro, Alexandre Escanuela, Cilene Escanuela, e em especial ao meu amigo, companheiro e irmão Fernando Jordão Romeiro pelas inestimáveis ajudas e incentivos, muito obrigado pela compreensão. À Rosangela Vacello pelo sempre pronto atendimento às necessidades e ao carinho com que trata os alunos da pós-graduação no IGCE e ao Conselho do Programa de Pós-Graduação, representado pelo Prof. Dr. Antenor Zanardo que compreenderam as dificuldades que tive ao longo deste trajeto. Aos caríssimos Prof. Dr. Archimedes Perez Filho, Profa. Dra. Cenira Maria Lupinacci da Cunha e Prof. Dr. Clauzionor Lima da Silva pelas valiosas contribuições para este trabalho, meu muito obrigado. Por fim, e não menos importante à Giselle Brandão Fevereiro, minha eterna companheira nos momentos fáceis e difíceis, meu muito obrigado por todo apoio, ajuda, incentivo e luta. Minha companheira madrugada adentro colaborando na confecção deste trabalho e nas atividades em campo, meus sinceros agradecimentos a todos. “Quando você conseguir superar problemas graves, não se detenha na lembrança dos momentos difíceis, mas na alegria de haver atravessado mais essa prova em sua vida”. Chico Xavier RESUMO O Planalto Ocidental Paulista apresenta um grave quadro de erosões aceleradas, decorrente da ocupação desenfreada e do uso intensivo do solo, aliados à fragilidade natural do terreno. Almeja-se na presente tese avaliar a hipótese de que fatores tectônicos têm controlado parte das alterações na paisagem e contribuído para o agravamento dos processos erosivos que se refletem em assoreamento dos canais de drenagens e na abertura de ravinas e voçorocas, bem como sua influência na configuração do relevo, nesta parte do território paulista. Entende-se que as bacias hidrográficas e a conformação das drenagens que compõem a área de estudos refletem blocos estruturais controlados por atividade tectônica e que sofrem processos de esforços intraplaca, resultando em deformações na morfometria fluvial e na incidência de processos erosivos e deposicionais. A análise do quadro neotectônico foi realizada mediante a aplicação de informações fluviomorfométricas, dados geológicos e geomorfológicos, sendo os estudos sobre os perfis longitudinais das drenagens, a aplicação dos índices “RDE – Relação Declividade vs. Extensão” e a identificação de nickpoint as principais ferramentas empregadas. Não obstante, também se aplicou à área de estudos a análise dos lineamentos das drenagens e do relevo, em que foi possível verificar as principais direções das feições e inferir os blocos estruturais, e o registro de informações paleossísmicas, a partir da identificação de estruturas de liquefação. O Planalto Ocidental Paulista assenta-se sobre rochas cretáceas dos grupos Caiuá e Bauru e sedimentos cenozoicos. Entende-se que a evolução da paisagem, no Quaternário, nesta parte do território paulista, tem sido fortemente influenciada pelas deformações impostas pelas forças sísmicas, onde o soerguimento de um bloco morfoestrutural leva à remoção de cobertura pedogênicas, gerando solos rasos, e a subsidência de um bloco adjacente propicia, além da manutenção do regolito, o acúmulo de mantos aluvionares ou coluvionares alimentados de áreas-fonte adjacentes, situadas nos blocos morfoestruturais ascendentes. Acredita-se que o melhor entendimento desse quadro possa contribuir para contenção de erosões aceleradas e a prevenção aos riscos que esses podem trazer às áreas ocupadas pelas atividades antrópicas. Palavras-chave: Flúviomorfometria; Neotectônica; Perfil longitudinal de drenagem; Relação Declividade Extensão; Planalto Ocidental Paulista; Morfogênese. ABSTRACT The Western Plateau of São Paulo presents a grievous framework of accelerated erosion, arising from the unbridled occupation and soil intensive use combined with the natural fragility of the terrain. The aim of this thesis is to evaluate the hypothesis that tectonic factors have controlled part of alterations in the landscape and have contributed to the worsening of the erosion processes that are reflected in siltation of drainage channels and the opening of ravines and gullies as well as its influence on settings of relief in this part of São Paulo’s territory. It is understood that the watersheds and the conformation of drainages which compound the study area reflect structural blocks controlled by tectonic activity and suffer processes of intraplate efforts, resulting in deformation of the fluvial morphometry and incidence of erosive and depositional processes. The analysis of neotectonic frame was performed by the application of fluvial morphometric information and geological and geomorphological data. The studies are about the longitudinal profiles of the drainages, the application of SGI “Stream-Gradient Index (slope x length)” and the nickpoint identification of the main tools employed. Nevertheless, the lineament analysis of drainages and relief were also applied to the area of study, wherein was possible to check the directions of structures and to infer the structural blocks, and record of paleoseismics information, from the identification of liquefaction structures. The Western Plateau of São Paulo is seated on Cretaceous rocks of the Bauru and Caiuá groups and Cenozoic sediments. It is understood that the landscape evolution, in the Quaternary, in this part of São Paulo territory, has been tightly influenced by deformations imposed by seismic forces, where the rising of a morphostructural block leads to removal of pedogenic coverage, generating shallow soils, and subsistence of an adjacent block which provides, in addition to the maintenance of the regolith, the accumulation of alluvium or colluvium mantles fed by adjacent areas-source , located in the ascendant morphostructural blocks. It is believed that a better understanding of this frame may contribute to the containment of accelerated erosion and prevention of the risks that they can bring to areas occupied by anthropogenic activities. Keywords: Fluvial morphometry; Neotectonic; Longitudinal profile of drainage; Stream-Gradient Index; Western Plateau of São Paulo; Morphogenesis. LISTA DE FIGURAS Figura 1. Localização da área de estudo. ................................................................. 24 Figura 2. Distribuição das culturas de laranja e café no Estado de São Paulo. Fonte: Théry (2006). ............................................................................................................. 25 Figura 3. Produção de Cana-de-Açúcar no Estado de São Paulo. Fonte: Théry (2006). ....................................................................................................................... 25 Figura 4. Participação dos Setores da Economia no PIB Municipal. Fonte: Théry (2006). ....................................................................................................................... 26 Figura 5. Classificação do clima no Estado de São Paulo pelo sistema de Köeppen, conforme Setzer (1996, extraído e modificado de MARTINELLI, 2010). ................... 28 Figura 6. Classificação climática baseada em Köeppen para o Estado de São Paulo. Extraído e modificado de Miranda et al. (2012). ........................................................ 28 Figura 7. Quadro erosivo da bacia hidrográfica do rio Santo Anastácio a partir do levantamento quantitativo de erosões por km2. Modificado de Guedes (2008). ........ 29 Figura 8. Base cartográfica elaborada a partir da digitalização das cartas topográficas em escala 1:50.000 editadas pelo IBGE. .............................................. 32 Figura 9. Exemplo de medição de trecho de uma drenagem utilizando o Software ArcGis 10.0. ............................................................................................................... 33 Figura 10. Perfil longitudinal da drenagem 8 na bacia do rio Santo Anastácio. A linha preta representa o perfil do canal e a linha vermelha a linha de menor ajuste. Observa-se o afastamento menor do que 10 m representando um curso em estado de equilibro. Fonte: Guedes (2008). .......................................................................... 35 Figura 11. Perfil longitudinal do rio Santo Anastácio. Observa-se afastamento maior que 10 m, em relação à linha de melhor ajuste entre os km 15 e 30 (em estado de soerguimento) e nos 10 km restantes da drenagem (em estado de subsidência). Extraído de Guedes (2008). ...................................................................................... 35 Figura 12. Perfil longitudinal do córrego do Barro Preto, região do Pontal do Paranapanema. Extraído de Guedes et al. (2010). ................................................... 36 Figura 13. Esquema simplificado da evolução de nickpoint. ..................................... 37 Figura 14. Exemplo de perfil longitudinal de drenagem apresentando "quebras" com concavidade para cima e para baixo. ........................................................................ 37 Figura 15. Índice RDE conforme Etchebehere (2000). .............................................. 38 Figura 16. Aplicação do índice RDE no Rib. do Futuro, bacia do Rio do Peixe. O gráfico apresenta duas anomalias de 2ª ordem associadas às formações Marília e Adamantina. Extraído de Etchebehere (2000). ......................................................... 39 Figura 17. Índice de RDE aplicado no Cór. Santa Luzia, bacia do rio Santo Anastácio. O gráfico apresenta a drenagem praticamente anômala em todos os seus segmentos Extraído de Guedes (2008). .................................................................... 40 Figura 18. Aplicação do Índice de RDE no Rib. Da Fartura (Rio Tietê). A linha vermelha indica os valores de RDEs com identificação de anomalias de 2ª (> 2 < 10) e 1ª (> 10) ordem na sua foz. .................................................................................... 40 Figura 19. Histograma dos lineamentos da drenagem e do relevo da área de estudo com intervalo de 22°5' em 22°5'. ............................................................................... 42 Figura 20. Roseta de frequência dos lineamentos da área de estudo. ..................... 43 Figura 21. Roseta de comprimento acumulado dos lineamentos extraídos. ............. 43 Figura 22. Histograma de frequência acumulada, em quilômetros, dos lineamentos extraídos.................................................................................................................... 43 Figura 23 Divisão Geomorfológica do Estado de São Paulo. (ALMEIDA, 1964). ...... 50 Figura 24. Seção geológica-geomorfológica (SE-NW) esquematizada do Estado de São Paulo. Fonte: Modificado de IPT (1981)............................................................. 50 Figura 25. Planaltos no Planalto Ocidental Paulista. Fonte: Modificado de Etchebehere, Saad e Fulfaro (2007). ........................................................................ 52 Figura 26. Divisão Geomorfológica do Estado de São Paulo conforme Ross e Moroz (1997). ....................................................................................................................... 55 Figura 27. Distribuição das Unidades Geológicas no Planalto Ocidental Paulista segundo IPT (1981). .................................................................................................. 57 Figura 28. Mapa simplificado com a ocorrência dos derrames vulcânicos da Formação Serra Geral. Fonte: Baseado e modificado de Machado et al. (2009)...... 62 Figura 29. Curvas de isovalores gerados a partir dos dados de RDE. Extraído de Guedes (2008). ......................................................................................................... 86 Figura 30. Bacia do Rio do Peixe com a localização dos pontos de anomalias morfométricas de RDE. Extraído de Etchebehere (2000). ........................................ 88 Figura 31. Bacia do Rio Aguapeí com a localização da interpretação dos perfis longitudinais das drenagens e do índice RDEs. Extraído de Porto et al. (2013). ...... 89 Figura 32. Bloco-diagrama mostrando os principais tipos de estruturas de liquefação, baseado em observações de campo na região do Tocuyo, Venezuela, que foi afetada por sismos de magnitudes 5,7 e 5 em abril e maio de 1989, (AUDEMARD; DE SANTIS, 1991). ................................................................................................... 92 Figura 33. Esquema relativo as estruturas de liquefação identificada na bacia do Rio Santo Anastácio (GUEDES, 2008; GUEDES et al., 2009). ....................................... 93 Figura 34. Identificação dos pontos com estruturas de liquefação indicados por Etchebehere (2000), na bacia do Rio do Peixe e Guedes (2008), na bacia do rio Santo Anastácio. ....................................................................................................... 96 Figura 35. Localização dos pontos de campo na bacia do Rio Tietê, conforme quadro 3. ............................................................................................................................. 102 Figura 36. Mapa das anomalias fluviomorfométricas no trecho Tietê-Jacaré. As numerações correspondem ao Quadro 9. ............................................................... 106 Figura 37. Mapa de anomalias fluviomorfométricas no trecho Tietê-Batalha. ......... 112 Figura 38. Interpretação dos perfis longitudinais das drenagens do Baixo-Tietê. ... 119 Figura 39. Identificação das anomalias fluviomorfométricas na bacia do rio Aguapeí. ................................................................................................................................ 123 Figura 40. Perfil longitudinal do rio Aguapei. Modificado de Porto et al. (2013). ..... 124 Figura 41. Gráfico de RDEs. e perfil longitudinal da drenagem 63 da bacia do rio Aguapeí. Extraído de Porto et al. (2013). ................................................................ 124 Figura 42. Anomalias fluviomorfométricas na bacia do Rio do Peixe. Modificado de Etchebehere (2000). ................................................................................................ 129 Figura 43. Interpretação da bacia do rio Santo Anastácio em imagem SRTM. Extraído de Guedes (2008). .................................................................................... 132 Figura 44. Anomalias fluviomorfométricas na bacia do rio Santo Anastácio. Modificado de Guedes (2008). ................................................................................ 133 Figura 45. Perfil longitudinal do rio Santo Anastácio e índice de sinuosidade do canal. Extraído de Guedes et al. (2009). ................................................................. 134 Figura 46. Perfis longitudinais das drenagens 34, 40, 42 e 52 do Pontal do Paranapanema. ....................................................................................................... 136 Figura 47. Anomalias fluviomorfométricas no Pontal do Paranapanema. ............... 137 Figura 48. Mapa integrado de informações morfotectônicas no Ponta do Paranapanema. Extraído de Santos, Guedes e Etchebehere (2011). .................... 138 Figura 49. Perfil morfológico entre os pontos 30 e 34 no Pontal do Paranapanema. ................................................................................................................................ 141 Figura 50. Detalhe de abertura de ravinas e voçorocas em trecho selecionado do bloco em ascensão no Médio Paranapanema. Coordenadas do Ponto: 50º18’24”W x 22º24’45”S. Imagem Map Link Imagens ©. ............................................................. 146 Figura 51. Evolução temporal de uma erosão entre 2002 e 2006. Coordenadas do ponto: 50º18’24”W x 22º24’45”S. Imagem Map Link Imagens ©. ............................ 146 Figura 52. Identificação das anomalias fluviomorfométricas no médio vale do Paranapanema. ....................................................................................................... 150 Figura 53. Perfil longitudinal do rio Turvo. ............................................................... 153 Figura 54. Alinhamento de nickpoint em trechos em soerguimento entre as drenagens 9, 11 e 13 na bacia do rio Turvo. ........................................................... 155 Figura 55. Anomalias fluviomorfométricas na bacia do rio Turvo. ........................... 156 Figura 56. Perfil longitudinal do rio Pardo. .............................................................. 160 Figura 57. Identificação das anomalias fluviomorfométricas na bacia do rio Pardo. ................................................................................................................................ 161 LISTA DE QUADROS Quadro 1. Compilação das medições das drenagens na área de estudo. ................ 31 Quadro 2. Identificação dos pontos levantados em atividades de campo na região de Presidente Prudente-SP entre 28/04/2012 e 01/05/2012. ......................................... 45 Quadro 3. Identificação dos pontos levantados em atividades da campo na região da bacia do Rio Tietê-Jacaré, entre os dias 26/10/2013 e 27/10/2013. ......................... 46 Quadro 4. Identificação dos pontos levantados em atividades de campo entre os dias 16/11/2013 e 20/11/2013. ......................................................................................... 48 Quadro 5. Compilação das características geomorfológicas e geológicas do Planalto Ocidental Paulista conforme entendimento de Ross e Moroz (1997). ....................... 53 Quadro 6. Tabela do tempo geológico com a síntese da morfogênese e a cronologia relativa do Planalto Ocidental e Depressão Periférica. (ROSS; MOROZ, 1997. Modificado). ............................................................................................................... 53 Quadro 7. Coluna estratigráfica simplificada do Planalto Ocidental Paulista. Fonte: Baseado em Etchebehere, Saad e Fulfaro (2007); Etcheberehe, Casado e Morales (2011). ....................................................................................................................... 59 Quadro 8. Localização dos afloramentos das Formações Serra Geral, (Geossolo) Santo Anastácio e Adamantina e os tipos de fósseis identificados. Fonte: Baseado em Agostinho (2009). ................................................................................................ 69 Quadro 9. Drenagens analisadas no trecho Tietê-Jacaré e seus respectivos índices de RDEt. .................................................................................................................. 107 Quadro 10. Drenagens analisadas no trecho Tietê-Batalha e seus respectivos índices de RDEt. ..................................................................................................... 114 Quadro 11. Drenagens analisadas no trecho Baixo-Tietê e seus respectivos índices de RDEt. .................................................................................................................. 121 Quadro 12. Identificação das drenagens da bacia do rio Aguapeí e seus respectivos valores de RDEt. ..................................................................................................... 126 Quadro 13. Identificação das drenagens da bacia do Rio do Peixe e seus respectivos índices de RDEt. ..................................................................................................... 131 Quadro 14. Identificação das drenagens da bacia do rio Santo Anastácio e seus respectivos índices de RDEt. .................................................................................. 134 Quadro 15. Identificação das drenagens no Pontal do Paranapanema e seus respectivos índices de RDEt. .................................................................................. 143 Quadro 16. Identificação das drenagens no médio vale do Paranapanema e seus respectivos índices de RDEt. .................................................................................. 151 Quadro 17. Identificação das drenagens na bacia do rio Turvo e seus respectivos índices de RDEt. ..................................................................................................... 155 Quadro 18. Identificação das drenagens da bacia do rio Pardo e seus respectivos índices de RDEt. ..................................................................................................... 160 LISTA DE FOTOS Foto 1. Séries de estratificações cruzadas acanaladas da Formação Pirambóia. A e B. Afloramentos da rodovia SP191, trecho entre Ipeúna e Charqueada. C, rodovia SP280, km 167. D, Areeiro CRS, rodovia SP225, km 74. Fonte: Extraído de Gesicki (2007). ....................................................................................................................... 60 Foto 2. Arenitos finos do sistema eólico seco Botucatu. (A) Estratificações cruzadas de médio a grande porte (B) pegadas fósseis - Pedreira São Pedro, Araraquara, SP; (C), km 12,7 da Rodovia SP 287, entre Sarutaí e Piraju, SP; (D), afloramento da rodovia SP253, nas imediações de São Simão, SP. Fonte: Extraído de Gesicki (2007). ....................................................................................................................... 61 Foto 3. Arenitos arroxeados, com estratificações cruzadas de grande porte, pertencentes à Formação Rio Paraná (Gr. Caiuá), recobertos por colúvios arenosos amarronzados. Coordenadas do ponto: 52º3’8”W x 21°57'2"S. Extraído de Guedes (2008). ....................................................................................................................... 63 Foto 4. Intensa bioturbação em arenito pertencente ao Geossolo Santo Anastácio, também afetado por processos lateríticos sob a forma de halos de Liesegang. Coordenadas do ponto: 52º3’83”W x 21º57’32”S. Extraído de Guedes (2008). ........ 64 Foto 5. Exposição de lamitos da Formação Araçatuba. A cava objetivou a explotação de material mais rico em carbonato. Coordenadas do ponto: 51º31’17”W x 22º11’1”S. Extraído de Guedes (2008)...................................................................... 66 Foto 6. Lamitos arenosos cinza-acastanhados da Formação Araçatuba. Notar tênues superfícies de sigmóides (mergulho para a esquerda). Coordenadas do ponto: 51º29’53”W x 22º6’24”S. Extraído de Guedes (2008). .............................................. 66 Foto 7. Gretas de contração rico em carbonato em banco de 0,6 m de espessura da Formação Araçatuba. Coordenadas do ponto: 51º31’17”W x 22º11’1”S. Extraído de Guedes (2008). ......................................................................................................... 67 Foto 8. Fóssil em lamito da Formação Araçatuba. Trata-se, provavelmente, de um quelônio, depreendendo-se, pela disposição dos remanescentes ósseos, ser um caso de biocenose. Coordenadas do ponto: 51º31’17”W x 22º11’1”S. Extraído de Guedes (2008). ......................................................................................................... 67 Foto 9. Arenitos com estratificações cruzadas acanaladas da Formação Adamantina, indicando paleocorrente no rumo oeste. Coordenadas UTM do ponto: 51º24’42”W x 22º10’22”S. Extraído de Guedes (2008). ................................................................... 68 Foto 10. Ripples e tubos de vermos em arenito muito fino-fino da Formação Adamantina. Coordenadas do ponto: 51º23’18”W x 22º9’3”S. Extraído de Guedes (2008). ....................................................................................................................... 68 Foto 11. Detalhamento do ponto 10b com afloramento da Fm. Adamantina exibindo fósseis de crocodilomorfianos e coprólitos. Fonte: Extraído de Agostinho (2009). ... 70 Foto 12. Vista lateral de crânio e mandíbula coletados no ponto 10 (Bauruschus pachecoi ?). Fonte: Extraído de Agostinho 2009. ...................................................... 70 Foto 13. Arenitos carbonatados da Formação Marília, com destaque para o padrão de bancos com espessuras decimétricas a métricas. As porções mais claras apresentam-se mais ricas em nódulos e cimento carbonáticos. Coordenadas do ponto: J45. 50º01'00"W x 22º17'43"S. ....................................................................... 71 Foto 14. Depósito arenoso maciço, friável, de natureza colúvio-eluvionar na bacia do rio Santo Anastácio. Coord.: 51º43’50”W x 22º5’10”S. Fonte: Extraído de Guedes (2008). ....................................................................................................................... 73 Foto 15. Depósitos colúvio-aluvionares dissecados por abaixamento do talvegue. Datação no topo do pacote indicou a idade de 16.000 anos A.P. Coordenadas do ponto: 51º33’22”W x 22º5’18”S. Fonte: Extraído de Guedes (2008). ........................ 74 Foto 16. Estruturas de liquefação em sedimentos aluviais e colúvlio-aluvionares na bacia do rio Santo Anastácio (GUEDES, 2008; GUEDES et al., 2009). .................... 94 Foto 17. Dique de areia visto em planta, também alojado em fácies argilosas de terraço neopleistocênico do Rio do Peixe (ETCHEBEHERE; SAAD, 2002).............. 95 Foto 18. Areias esbranquiçadas (produto de liquefação) em depósito aluvial. Coordenadas: 50º6’92”W x 22º13’25”S. Extraído de Bezerra (2008). ....................... 95 Foto 19. Arenitos conglomeráticos da Formação Pirambóia com estratificação cruzada, grãos mal selecionados, grosseiros, e pequenos seixos subarrendodados. Coordenadas do ponto: J22. 48º15’16”W x 22º12’09”S. ........................................... 98 Foto 20. Arenitos bimodais, grossos e conglomeráticos com coloração cinza- avermelhado da Fm. Botucatu. Coordenadas do ponto: J6. 48º24’26”W x 22º02’28”S. .................................................................................................................................. 99 Foto 21. Basaltos da Fm. Serra Geral fraturados. Coordenadas do ponto: J6. 48º24'46"W x 22º02’28”S. ....................................................................................... 100 Foto 22. Basaltos da Fm. Serra Geral em material alterado com laminação paralela ao topo. Coordenadas do ponto: J20. 48º05'08"W x 22º03'39"S. .......................... 101 Foto 23. Tomada da paisagem a partir de colinas médias em que se observa ao fundo morros residuais. Coordenadas do ponto: J7. 48º37'43"W x 21º56'00"S. ..... 105 Foto 24. Erosão na cabeceira da drenagem 83g apresentando solo vermelho escuro no topo, e basaltos na base. Coordenadas: J29. 49º03’50”W x 22º29’42”. ............. 105 Foto 25. Pacote de solo espesso em escavações com mais de 2 m de profundidade, abaixo do nível da rodovia. Coordenadas: S20. 49°47'11"W x 21°25’34”S. ............ 108 Foto 26. Lamitos da Fm. Araçatuba. Coordenadas do ponto: S8. 49°37'27"W x 22°59'34". ................................................................................................................ 115 Foto 27. Arenitos da Fm. Adamantina de trato fluvial, com estratificação cruzada. Coordenadas do ponto: S1. 49°39'40"W x 20°46'22"S. .......................................... 116 Foto 28. Intenso processo de assoreamento sobre drenagem 41a. Coordenadas do ponto: S13. 50°02'24" x 21°25'28". ......................................................................... 116 Foto 29. Depósitos fluviais em planície de inundação assoreada. Coordenadas do ponto: S2. 49°46'42"W x 20°44'44"S. ...................................................................... 117 Foto 30. Intenso processo erosivo provocado por pisoteio de gado, nas cabeceiras do córrego São Pedro (afluente do 34d a). Ponto P24, coordenadas: 51°50'74"W x 22°13'14"S............................................................................................................... 139 Foto 31. Bloco solapado na planície do córrego São Pedro. Ponto P24, coordenadas: 51°50'74"W x 22°13'14"S. ................................................................ 140 Foto 32. Feições de erosão em sulcos próximos à cabeceira da drenagem 40. Coordenadas do ponto: P11. 51º38’54”W x 22º23’28”S. ......................................... 141 Foto 33. Interflúvio relativo ao ponto P34 com ondulações médias em área de pasto. Coordenadas do ponto: 51º38’17”W x 22º12’38”S. ................................................. 141 Foto 34. Córrego Água da Grota Funda (afluente da drenagem 52), intensamente assoreado e tomado pela vegetação. Ponto J58, coordenadas: 51°28’27”W x 22°34’05”S. ............................................................................................................. 142 Foto 35. Topo de colina ampla com caimento para o sul em área intensamente ocupada para pasto. Ponto J38, Coordenadas: 50º18’50”W x 22º21’50”S. ............ 144 Foto 36. Trechos de feições de erosões lineares com aberturas ravinas e voçorocas em área de pasto na cabeceira do ribeirão São José (5f). Ponto J43, coordenadas: 50º06’30”W x 22º26’32”S. ....................................................................................... 145 Foto 37. Terraço fluvial marcado pela dissecação em suas encostas em relevo de colina ampla. Ponto J63, coordenadas: 51°17’07”W x 22°19’32”S. ........................ 147 Foto 38. Erosões lineares provocando a abertura de ravinas. Ponto J35, coordenadas: 50º29’19”W x 22º30’22”S. ................................................................. 147 Foto 39. Vale amplo com morros inclinados com caimento para o sul (sentido rio Paranapanema). Ponto J65, coordenadas: 50º57’43”W x 22º37’58”S. ................... 148 Foto 40. Obras para contenção de enxurrada em área ocupada pelo plantio de cana. Ponto J34, coordenadas: 49°49'03"W x 22°58'48"S. .............................................. 158 SUMÁRIO (Volume 1) 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 21 1.1 Objetivo ............................................................................................................... 22 1.1.1 Objetivos específicos........................................................................................ 22 1.2 Localização da área e caracterização geral ........................................................ 23 2 MÉTODOS E PROCEDIMENTOS ......................................................................... 30 2.1 Análise da literatura ............................................................................................. 30 2.2 Base cartográfica e imagem ................................................................................ 30 2.3 Estudos morfométricos da rede de drenagem ..................................................... 31 2.4 Análise de lineamentos do relevo e da drenagem ............................................... 33 2.5 Integração de dados ............................................................................................ 44 2.6 Observações de campo....................................................................................... 44 2.7 Organização da Tese .......................................................................................... 48 3. GEOMORFOLOGIA .............................................................................................. 49 3.1 Planalto Ocidental ............................................................................................... 51 3 GEOLOGIA ............................................................................................................ 56 3.1 Coluna estratigráfica adotada no presente estudo. ............................................. 58 3.1.1 Grupo São Bento .............................................................................................. 58 3.1.2 Bacia Caiuá ...................................................................................................... 62 3.1.3 Bacia Bauru ...................................................................................................... 64 3.1.3 Depósitos Cenozoicos ...................................................................................... 71 4 REVISÃO LITERÁRIA ............................................................................................ 75 4.1 Neotectônica ....................................................................................................... 75 4.2 Neotectônica no Planalto Ocidental Paulista ....................................................... 77 4.3 Parâmetros fluviomorfométricos .......................................................................... 78 4.4 Perfis longitudinais das drenagens ...................................................................... 81 4.5 Relação Declividade e Extensão (índice RDE) ................................................... 83 4.6 Registros paleossísmicos .................................................................................... 90 5. ANÁLISE DAS BACIAS NA REGIÃO DE ESTUDO. ............................................. 97 5.1 Bacia do Rio Tietê ............................................................................................... 97 5.1.1 Tietê-Jacaré ................................................................................................... 103 5.1.2 Tietê-Batalha .................................................................................................. 108 5.2 Bacia do Rio Aguapeí ........................................................................................ 121 5.3 Bacia do Rio do Peixe ....................................................................................... 126 5.4 Bacia do rio Santo Anastácio ............................................................................ 131 5.5 Pontal do Paranapanema .................................................................................. 135 5.6 Médio Paranapanema ....................................................................................... 144 5.7 Bacia do Rio Turvo ............................................................................................ 151 5.8 Bacia do Rio Pardo ........................................................................................... 157 6. CONCLUSÃO ...................................................................................................... 162 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 168 SUMÁRIO (Volume 2) ENCARTE A: SEQUÊNCIA DOS PERFIS LONGITUDINAIS DO TRECHO TIETÊ- JACARÉ. ................................................................................................................. 181 ENCARTE B: SEQUÊNCIA DOS PERFIS LONGITUDINAIS DO TRECHO TIETÊ- BATALHA. ............................................................................................................... 195 ENCARTE C: SEQUÊNCIA DOS PERFIS LONGITUDINAIS DO TRECHO DO BAIXO-TIETÊ. ......................................................................................................... 215 ENCARTE D: SEQUÊNCIA DOS PERFIS LONGITUDINAIS DO MÉDIO PARANAPANEMA. ................................................................................................. 237 ENCARTE E: SEQUÊNCIA DOS PERFIS LONGITUDINAIS DA BACIA DO RIO TURVO. ................................................................................................................... 249 ENCARTE F: SEQUÊNCIA DOS PERFIS LONGITUDINAIS DA BACIA DO RIO PARDO.................................................................................................................... 261 APÊNDICE A: ESBOÇO GEOLÓGICO DA ÁREA DE ESTUDO ............................ 270 APÊNCIDE B: MAPA DE ANOMALIAS FLUVIOMORFOMÉTRICAS ..................... 271 APÊNDICE C: CURVAS DE ISOVALORES DE RDET ........................................... 272 APÊNDICE D: ALINHAMENTO DE NICKPOINT .................................................... 273 APÊNDICE E: IMAGEM SRTM COM LINEAMENTOS DA DRENAGEM E DO RELEVO E COM SOLOS ESPESSOS. .................................................................. 274 APÊNDICE F: PROPOSTA DE DELIMITAÇÃO DOS BLOCOS MORFOTECTÔNICOS PARA O PLANALTO OCIDENTLA PAULISTA .................. 275 21 1. INTRODUÇÃO O Planalto Ocidental Paulista ocupa uma área de quase 50% do território paulista, compreendendo aproximadamente 126 mil km2 (IPT, 1981), e engloba rochas sedimentares e ígneas cretáceas e coberturas cenozoicas. A ocupação desta área, desde o início do século XX, foi impulsionada por conta do ciclo cafeeiro neste Estado. A ocupação sem planejamento e sem conhecimento geotécnico que a região sofreu deu origem a intensos processos erosivos resultando em assoreamento generalizado em grande parte desse território. A degradação ambiental que ocorre no oeste paulista é fruto do grande desmatamento, aliado à suscetibilidade natural à erosão dos terrenos sedimentares. Não obstante, entende-se que a presente área de estudo também sofre de alterações neotectônicas, o que, em determinadas situações de desnivelamentos e modificação dos níveis de base locais, vem agravar o quadro de erosões (ETCHEBEHERE, 2000; GUEDES 2008). Sobre os processos neotectônicos, destacam-se, na literatura os trabalhos de Hasui (1990), Saadi (1993), Riccomini (1997), Saad (1997), Borges et al. (1998), Costa et al. (1998), Facincani et al. (1990), Mioto (1993), Contijo (1999), Hasui et al. (1998), Morales et al. (1998), Hasui et al. (1999a; b), Etchebehere (2000), Facincani, Morales e Borges (2001), Etchebehere et al. (2004a), Guedes et al. (2006), Guedes (2008), Guedes et al. (2008), Guedes et al. (2009a; b), Santos, Guedes e Etchebehere (2011), Porto et al. (2013), que buscaram compreender a atuação da neotectônica na conformação fisiográfica da paisagem. Destaca-se, também, o reconhecimento de estruturas indicadoras de sismos de magnitude superior a 5,5 através de dados paleossísmicos e de interpretações de parâmetros morfométricos de drenagens, na bacia do Rio do Peixe (ETCHEBEHERE, 2000; ETCHEBEHERE; SAAD, 2002) e na vizinha bacia do rio Santo Anastácio (GUEDES, 2008; GUEDES et al., 2008; GUEDES et al., 2009a). O presente trabalho almeja avaliar a hipótese de que os fatores neotectônicos podem representar um dos condicionantes fundamentais na configuração da fisiografia dos relevos nesta porção do território paulista. Espera-se que este trabalho possa colaborar com o entendimento da dinâmica superficial nesta porção do território paulista, contribuindo com o planejamento regional no que diz respeito 22 ao uso e ocupação do solo, podendo indicar, inclusive, trechos com maior suscetibilidade de atuação tectônica moderna. 1.1 Objetivo A presente tese tem como objetivo colaborar com o entendimento da atuação da neotectônica como condicionante do relevo nesta porção do território paulista, bem como apresentar seu quadro morfotectônico, a partir da análise das bacias hidrográficas. 1.1.1 Objetivos específicos Como objetivos específicos desse trabalho, listam-se: � Compilar e analisar as informações sísmicas e paleossísmicas referente ao Planalto Ocidental Paulista, ao sul da bacia do Rio Tietê; � Analisar os quadros: estrutural e flúviomorfométricos da área de estudo e cotejá-los com as demais informações, dentro do propósito maior desta pesquisa; � Diagnosticar a área de estudo quanto a sua fragilidade em termos tectônicos, em especial dos processos de erosão acelerada e de assoreamento dos canais fluviais, gerando modelos de “tectonic landforms”. � Cotejar as informações coletadas e elaborar mapas temáticos para análise regional, a distribuição das evidências sísmicas e a relação destas com os dados fluviomorfométricos: o Mapa das anomalias fluviomorfométricas. o Mapa de alinhamentos de nickpoints para detecção de prováveis falhas. o Mapa dos lineamentos estruturais e compartimentações morfotectônicas. 23 1.2 Localização da área e caracterização geral A área de estudo compreende as bacias hidrográficas ao sul da bacia do Rio Tietê, abarcando inclusive esta, no Planalto Ocidental Paulista que se estende por uma área com aproximadamente 88 mil km2 ocupando quase a metade do território paulista. É circunscrito pelos rios Tietê, ao norte, Paraná, ao oeste e Paranapanema, ao sul e seu limite oriental delimitado pelas Cuestas Basálticas. Possui uma densa malha rodoviária interligando as principais cidades que fazem parte desta área, tais como: Araçatuba, Araraquara, Osvaldo Cruz, Marília, Presidente Prudente, Assis, dentre outras (FIGURA 1). A história da ocupação do oeste paulista deu-se pela expansão cafeeira durante o início do século XX. Com a ressaca internacional de 1929 e a industrialização da economia, o café perdeu sua importância econômica, sendo substituído por outras culturas como algodão, amendoim, cana, citrus e pela pecuária bovina de corte em criação extensiva. Monbeig (1984) afirmou que a “frente pioneira” culminou em um movimento colonizador ocupando o oeste paulista e provocando mudanças na exploração dos solos. O processo de ocupação pela retirada sistemática da vegetação e as práticas agrícolas intensivas resultaram em diversos impactos negativos sobre o ambiente, tais como a aceleração dos processos erosivos, poluição dos cursos d´água por rejeitos orgânicos, perda da qualidade do ar pelas queimadas, perda da capacidade reprodutiva do solo, redução dos nichos ecológicos, perda de solo e assoreamento da rede de drenagem. Como resultado a área produtiva também sofre redução e, consequentemente, houve a desvalorização da propriedade (FUJIHARA, 2002). Atualmente a economia da região é baseada praticamente nos setores primário e agroterciário. Destaca-se o cultivo de culturas permanentes tais como laranja e café e temporário como a cana-de-açúcar. Também é grande a criação de rebanho bovino e aves, produção de leite e ovos (FIGURAS 2, 3 e 4). 24 Fi gu ra 1 . L oc al iz aç ão d a ár ea d e es tu do . 25 Figura 2. Distribuição das culturas de laranja e café no Estado de São Paulo. Fonte: Théry (2006). Figura 3. Produção de Cana-de-Açúcar no Estado de São Paulo. Fonte: Théry (2006). 26 Figura 4. Participação dos Setores da Economia no PIB Municipal. Fonte: Théry (2006). No que se refere aos condicionantes climáticos, segundo Martinelli (2010), uma zona de transição climática corta o Oeste Paulista e reflete o confronto dinâmico entre os sistemas atmosféricos inter e extratropicais. Pela classificação climática de Köeppen, o Estado de São Paulo compreende sete tipos climáticos. Sua classificação é baseada em dados mensais pluviométricos e termométricos, a maioria dos climas correspondentes ao Estado é referente ao clima úmido. Segundo Miranda et al. (2012), a parte central do Estado é classificada como Cwa, caracterizado pela temperatura do mês mais quente superior a 22ºC, pelo clima tropical de altitude, com chuvas no verão e seca no inverno. Algumas áreas do Estado, onde a temperatura média do mês mais quente é inferior a 22ºC e durante pelo menos quatro meses é superior a 10ºC é classificado pelo tipo Cwb. O nordeste do Estado possui temperaturas mais quentes, pertencendo ao tipo Aw, sendo tropical chuvoso com inverno seco e o mês mais frio com temperatura média superior a 18ºC. Em alguns pontos isolados, com clima tropical chuvoso, o inverno seco com precipitação inferior a 60 mm é classificado pelo clima do tipo Am. Ao sul 27 do Estado postam-se faixas de clima tropical, com verão quente, com ausência de estação seca no inverno (tipo Cf), e temperatura média do mês mais frio entre 18ºC e -3ºC (mesotérmico). Nas regiões serranas, tais como as serras do Mar e da Mantiqueira, encontram-se verão ameno e chuvoso com clima do tipo Cfb. Por fim, a faixa litorânea é classificada como Af, com características do clima tropical chuvoso, sem estação seca. Abaixo, as figuras 5 e 6 comparam a distribuição dos tipos climáticos no Estado de São Paulo, conforme a figura 5, interpretação de Setzer (1966, extraído de MARTINELLI, 2010) e figura 6, extraída de Miranda et al. (2012). A comparação entre as figuras 5 e 6 permite obter uma visão geral dos tipos climáticos no Estado de São Paulo. Ainda que haja divergências quanto a sua localização e distribuição, no âmbito do Planalto Ocidental Paulista, predominam climas quentes e úmidos (Aw e Cwa) com períodos de chuvas moderadas (2,8 a 7,6 mm/h) e pesadas (> 7,6 mm/h) o que contribui para agravamento do quadro erosivo. A literatura conferida sobre a caracterização climática da região do Planalto Ocidental Paulista permite concluir que esta zona de transição climática apresenta variações no comportamento do clima, sendo influenciada pela dinâmica atmosférica que alinha sistemas polares e de interior continental (STEIN, 1999). A soma de fatores apresentados acima, tais como a desastrada ocupação antrópica e as variações de temperatura, aliadas à pluviosidade e às tipologias geológica e pedológica, contribuem para que a região ocidental paulista tenha uma enorme expressão no seu quadro erosivo, com a formação de extensas voçorocas (Cf. STEIN, 1999; CRUZ, 2001; OLIVEIRA; BRANNSTROM, 2004; GUEDES, 2008). A partir dos estudos de Stein (1999), Guedes (2008) apresentou um quadro estatístico das voçorocas identificadas na bacia hidrográfica do rio Santo Anastácio. Tais estudos contribuíram com o entendimento da fragilidade do solo associada aos processos tectônicos na área (FIGURA 7). 28 Figura 5. Classificação do clima no Estado de São Paulo pelo sistema de Köeppen, conforme Setzer (1996, extraído e modificado de MARTINELLI, 2010). Figura 6. Classificação climática baseada em Köeppen para o Estado de São Paulo. Extraído e modificado de Miranda et al. (2012). 29 Fi gu ra 7 . Q ua dr o er os iv o da b ac ia h id ro gr áf ic a do ri o S an to A na st ác io a p ar tir d o le va nt am en to q ua nt ita tiv o de e ro sõ es p or k m 2 . M od ifi ca do d e G ue de s (2 00 8) . 30 2 MÉTODOS E PROCEDIMENTOS Para a elaboração deste trabalho, seguiram-se as seguintes etapas: 2.1 Análise da literatura Realizada durante todo o desenvolvimento da tese, a revisão da literatura compreendeu os trabalhos em que o assunto era relativo à área de estudos e aqueles relativos aos métodos de investigação geológica pertinentes a este trabalho. 2.2 Base cartográfica e imagem O Planalto Ocidental Paulista é coberto por levantamento topográficos plani- altimétricos em escala 1:50.000 editadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e pelo Instituto Geológico de São Paulo. As cartas foram digitalizadas através de scanner e georreferenciadas. A figura 8 apresenta o mapa de drenagem da área, com a locação das bacias hidrográficas. As bacias do Rio do Peixe (3), do rio Santo Anastácio (4), as drenagens do Pontal do Paranapanema (5) e do Rio Aguapeí (2) foram concluídas em outros estudos, conforme é descrito adiante. A bacia do Rio Tietê (1a; 1b e 1c) foi inicialmente estudada em nível de projetos de Iniciação Científica para o Ensino Médio (PIBIC-EM) e revisada para este trabalho, as bacias do Médio Paranapanema (6), Turvo (7) e Pardo (8) foram levantados, por este autor, para compilar todos os dados em uma análise regional. As atividades de geoprocessamento que se sucederam foram realizadas pelo Software ArcGIS 10.0 (Environmental Systems Research Institute – ESRI). O software é utilizado para aplicações SIG, em formato vetorial, permitindo o armazenamento de dados espaciais, geração de mapas temáticos e a quantificação de dados em uma série de funções analíticas. Também se utilizou os modelos SRTM (Missão Suttle de Radar Topográfico), organizados no formato de 1º por 1º e identificados pelas informações de latitude e longitude. Foram utilizadas as imagens S21W052, S22W048, S22W049, S22W050, S22W051, S22W052, S22W053, S23W048, S23W049, S23W050, S24W049, S24W050, S23W051, S23W052, S23W053 e S23W054. As elevações são representadas em metros sem casas 31 decimais e referenciadas para o Datum Vertical SWG-85 EGM96. As imagens foram manuseadas no Software Global Mapper® versão10, onde foram extraídos os lineamentos das drenagens e do relevo, e identificadas as áreas com solo espesso. 2.3 Estudos morfométricos da rede de drenagem Conforme descrito acima, utilizou-se as folhas topográficas em escala 1:50.000 e digitalizadas, nas quais as linhas azuis representam os cursos d’água e a equidistância entre as curvas de nível é de 20 m. Os procedimentos para análise dos estudos morfométricos são detalhados adiante, configurando uma das principais ferramentas empregadas neste trabalho. A diferença entre este trabalho e os demais trabalhos apresentados ao longo da revisão bibliográfica é que a utilização do Software ArcGIS 10.0 para calcular as redes de drenagem, trouxera maior precisão nos cálculos, uma vez que as medidas entre segmentos das drenagens, para curvas de nível nas cartas 1:50.000, possuem erros milimétricos mas que resultam em perdas métricas. Não raro, os valores entre as curvas de nível pode alcançar ordem de 1:10.000 ou 1:5.000, melhorando a visualização entre os segmentos das drenagens (FIGURA 9). O Quadro 1 apresenta as bacias pertencentes a este trabalho, bem como a autoria daqueles que realizaram suas medições. Nº da bacia Bacia Quantidade de drenagens Autor 1a Baixo-Tietê 85 Rocha e Guedes (2011), Rocha e Guedes (2013) e revisão para este trabalho. 1b Tietê-Batalha 77 Santos e Guedes (2011), Silva e Guedes (2013), Macedo e Guedes (2013) e revisão para este trabalho. 1c Tietê-Jacaré 56 Lemes e Etchebehere (2011), Lemes, Etchebehere e Guedes (2012) e revisão para este trabalho. 2 Aguapeí 92 Porto et al. (2013) 3 Rio do Peixe 66 Etchebehere (2000) 4 Rio Santo Anastácio 25 Guedes (2006), Guedes (2008) 5 Pontal do Paranapanema 82 Guedes et al. (2010), Santos, Guedes e Etchebehere (2011), revisão para este trabalho. 6 Médio Paranapanema 46 Este trabalho 7 Rio Turvo 38 Santos, Itri e Etchebehere (2004), Itri, Santos e Etchebehere (2004), revisão para este trabalho. 8 Rio Pardo 38 Este trabalho. Total 605 Quadro 1. Compilação das medições das drenagens na área de estudo. 32 Fi gu ra 8 . B as e ca rto gr áf ic a el ab or ad a a pa rti r d a di gi ta liz aç ão d as c ar ta s to po gr áf ic as e m e sc al a 1: 50 .0 00 e di ta da s pe lo IB G E . 33 Figura 9. Exemplo de medição de trecho de uma drenagem utilizando o Software ArcGis 10.0. O estudo dos perfis longitudinais das drenagens foi realizado a partir do levantamento cartográfico das drenagens acima de 8 km de extensão, nos quais os cursos d’água são mostrados como linhas azuis e a equidistância entre as curvas de nível é de 20 m. A partir deste levantamento, foi medido cada seguimento da drenagem e plotado em uma planilha de Excel. Em seguida, utilizou-se o software Grapher 10© para confeccionar os gráficos correspondentes. Este método utilizado baseia-se na compreensão de que os cursos d’água estão em busca de um ponto de equilíbrio e que a alteração no seu nível de base levará a drenagem a procurar um novo ajuste, buscando um novo ponto de equilíbrio, seja erodindo o seu próprio leito, seja por agradação. Para determinar os pontos de trechos anômalos (em desequilíbrio) nos perfis longitudinais de cursos d’água, plotam-se a curva de melhor ajuste (best fit line) no conjunto de pares ordenados “altitude x distância da cabeceira”. Quanto maior o afastamento da drenagem em relação à curva, maior o seu nível de desajuste que pode-se mostrar acima da linha (o que indica área em soerguimento) ou abaixo (que se mostram em subsidência), que podem inclusive ser quantificados, conforme Volkov et al. (1967) que aplicaram na plataforma russa. 34 É importante salientar que a escolha desse indicativo é arbitrária, uma vez que é possível escolher critérios mais flexíveis, como 5 m, por exemplo. Contudo, McKeown et al. (1988) ressaltam que existe a margem de erro do cálculo dos parâmetros fluviomorfométricos em função da precisão da base cartográfica. Ainda que a utilização das ferramentas de geoprocessamento para geração das curvas de nível, tais como Global Mapper e o ArcMap, tal margem de erro foi mantida, uma vez que mesmo as imagens de satélite e as cartas digitalizadas podem conter erros. Adicionalmente, é possível incluir rodapé geológico permitindo comparar os trechos anômalos (em subsidência ou em ascensão) e os pontos de nickpoint com o substrato. As figuras 10 e 11 apresentam dois exemplos extraídos da bacia do rio Santo Anastácio. A primeira apresenta-se em equilíbrio, ou seja, a drenagem não se afasta mais de 10 m em relação à best fit line, observa-se que no ponto de contato entre as formações Adamantina e Geossolo Santo Anastácio há uma quebra no perfil, sendo descartado a hipótese de nickpoint por atuação tectônica. O segundo perfil apresenta dois trechos anômalos, e dois pontos de nickpoint (aproximadamente entre 50 km e 120 km), independentemente da mudança no substrato. A figura 12, Córrego Barro Preto, no Pontal do Paranapanema, apresenta seus trechos anômalos destacados, os quais exibem os afastamentos acima e abaixo da linha de melhor ajuste. O perfil exibe um trecho com nickpoint no quilômetro 8, onde a mudança da litologia não interfere na mudança do nível de base da drenagem. Corroborando com os demais métodos fluviomorfométricos, o emprego da identificação de nickpoint tem sido utilizado para agregar dados aos estudos das deformações crustais expressos pelos cursos d’água. Crosby e Whipple (2006) aplicaram a identificação de nickpoint (Knickpoint) na bacia do Waipoa River na Nova Zelandia, Ferreira, Gomes e Antón (2010) aplicaram a técnica na bacia do Rio Douro (Portugal), Etchebehere, Casado e Morales (2011) no Rio Corumbataí, no estado de São Paulo e Silva, Etchebehere, Saad e Franco-Magalhães (2012) na bacia hidrográfica do Alto Rio Jaguari (SP-MG). 35 Figura 10. Perfil longitudinal da drenagem 8 na bacia do rio Santo Anastácio. A linha preta representa o perfil do canal e a linha vermelha a linha de menor ajuste. Observa-se o afastamento menor do que 10 m representando um curso em estado de equilibro. Fonte: Guedes (2008). Figura 11. Perfil longitudinal do rio Santo Anastácio. Observa-se afastamento maior que 10 m, em relação à linha de melhor ajuste entre os km 15 e 30 (em estado de soerguimento) e nos 10 km restantes da drenagem (em estado de subsidência). Extraído de Guedes (2008). 36 Figura 12. Perfil longitudinal do córrego do Barro Preto, região do Pontal do Paranapanema. Extraído de Guedes et al. (2010). Para o alinhamento dos trechos de nickpoints, foram desconsiderados os alinhamentos de uma mesma drenagem, por se entender que as prováveis falhas geradoras de nickpoint vão configurar-se em uma conformidade perpendicular e/ou transversal às curvas de nível (FIGURA 13). Os pontos foram plotados em um mapa de escala 1:500.000, a partir da interpretação dos perfis longitudinais das drenagens, considerando qualquer ponto de “quebra” no perfil (FIGURA 14). Os pontos foram separados em “quebras para cima”, plotados com a simbologia de um triângulo em vermelho e, “quebras para baixo” com a mesma simbologia em preto. Os traços gerados no mapa expressam alinhamentos de 3 ou 4 nickpoints, uma vez que o controle dessas feições por falhas não devem abarcar áreas muito extensas. Ainda que não se tenha um levantamento estatístico das direções dos alinhamentos, e ainda que cada bacia possua a sua dinâmica, é possível verificar que há traços predominantes ESE-WNW que acompanham a direção das calhas dos Rios Tietê, Aguapeí, Peixe e Santo Anastácio, já na região do Paranapanema predominam os traços E-W. A interpretação desta técnica por segmento de bacia será realizada adiante. 37 Figura 13. Esquema simplificado da evolução de nickpoint. Figura 14. Exemplo de perfil longitudinal de drenagem apresentando "quebras" com concavidade para cima e para baixo. 38 Os índices Relação Declividade Vs. Extensão (RDE) referem-se à declividade de um curso d’água, ou de determinados trechos da drenagem, normalizada pela extensão total do curso, ou pela distância entre o referido trecho e a nascente. Conforme Etchebehere (2000), o calculo de RDE dar-se conforme a figura 15. Figura 15. Índice RDE conforme Etchebehere (2000). Entende-se que Δh é a diferença altimétrica entre dois pontos extremos de um segmento de drenagem; Δl corresponde ao comprimento da projeção horizontal da extensão do segmento considerado (i.e., Δh/Δl constitui o gradiente hidráulico da drenagem nesse trecho); e L refere-se ao comprimento do curso d’água entre o ponto inferior do segmento considerado e a nascente. Adicionalmente, pode-se calcular o índice RDE para toda a extensão da drenagem (RDEtotal ou RDEt), multiplicando-se a amplitude altimétrica total (diferença topográfica entre as cotas da nascente e da foz) e o logaritmo natural de toda a extensão do curso d’água (em metros), tal como sugerido por McKeown et al. (1988). As figuras 16, 17 e 18, apresentam alguns exemplos de aplicações dos índices de RDEsegmento e os gráficos gerados. As figuras apresentam o substrato geológico, incluído no rodapé do gráfico para que a análise dos índices possa ser melhor interpretada de acordo com a estratigrafia. Os gráficos de RDEsegmento são gerados a partir da medição das drenagens, conforme explicado anteriormente. Os dados são plotados em planilhas eletrônicas para que se façam os cálculos de cada segmento de RDE. 39 Primeiramente se obtém o valor de RDEtotal, onde calcula-se a diferença entre a cota da cabeceira e a cota da foz, dividido pelo logaritmo natural da extensão e dividido por mil. Adiante, calcula-se a diferença entre a cota superior e a cota inferior do trecho, dividido pelo comprimento do trecho e multiplicado pela extensão, que vai gerar o índice RDE (num). Por fim é dividido o valor obtido pelo RDE (num) pelo RDEtotal, chegando ao valor de RDEsegmento. A proposta de Seeber & Gornitz (1983), diz que valores de RDEsegmento acima de 2 são anomalias de 2ª ordem, e índices acima de 10, anomalias de 1ª ordem. Após gerar os gráficos, os índices anômalos são plotados em cartas para que se possam localizar os trechos que contem anomalias de RDEs. Figura 16. Aplicação do índice RDE no Rib. do Futuro, bacia do Rio do Peixe. O gráfico apresenta duas anomalias de 2ª ordem associadas às formações Marília e Adamantina. Extraído de Etchebehere (2000). 40 Figura 17. Índice de RDE aplicado no Cór. Santa Luzia, bacia do rio Santo Anastácio. O gráfico apresenta a drenagem praticamente anômala em todos os seus segmentos Extraído de Guedes (2008). Figura 18. Aplicação do Índice de RDE no Rib. Da Fartura (Rio Tietê). A linha vermelha indica os valores de RDEs com identificação de anomalias de 2ª (> 2 < 10) e 1ª (> 10) ordem na sua foz. 41 2.4 Análise de lineamentos do relevo e da drenagem Lineamento de drenagens e do relevo, via interpretação de imagens SRTM (Shuttle Radar Topography Mission), tem sido empregadas para identificar falhas e análises geomorfológicas para identificar deformações causadas por tectonismo, em diferentes contextos geológicos. Entende-se por lineamento os traços como feições lineares topográficas ou tonais no terreno ou em imagens e mapas, que podem representar zonas de fraqueza estrutural (SABINS Jr., 1978). Os lineamentos extraídos constituem segmentos retilíneos hectométricos a quilométricos que, conforme Etchebehere, Saad e Casado (2005), devem refletir descontinuidades de alto ângulo de mergulho. Tais feições são caracterizadas como fraturas do maciço rochoso e são observadas em imagens de satélite ou por mapas planialtimétricos, mostrando segmentos retilíneos de drenagens ou do relevo. Os lineamentos traçados na área de estudo aqui empregados tratam-se de trechos retilíneos de drenagem, que podem refletir o encaixe dos cursos d’água em descontinuidades estruturais (feixes de fraturas, contatos, falhas etc). Os lineamentos referentes às cristas lineares de relevo podem representar escarpas de falhas ou mesmo zonas de cimentação mais resistente em feixes de fraturas. Aponta-se a aplicação deste método na região amazônica (COSTA et al., 1996), ao sul do Planalto de Shillong, Bangladesh-Índia (BISWAS; GRASEMANN, 2005), bacia do Rio Peixe-SP (ETCHEBEHERE; SAAD; CASADO, 2005), sudeste do Rio Grande do Sul (ANDRADES FILHO; GUASSELLI, SUERTEGARAY, 2008), bacia do Rio Santo Anastácio (SANTONI, 2008), soleira de Arujá-SP (MACIEL, 2009), entre outros. A análise do lineamento estrutural das drenagens e do relevo foi realizada a partir da interpretação das imagens SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) pelo Software Global Mapper® versão 10. As imagens interpretadas foram geradas a partir do modelo Gradient Shader em que a visualização da topografia se dá através do sombreamento em escala de cor cinza, variando de acordo com a diferença altimétrica de 174 m (mais claro) até 1.182 (mais escuro). As elevações são representadas em metros sem casas decimais e referenciadas para o Datum Vertical WGS85. A direção da luz sobre a imagem é de inclinação 45 e azimute 45º. A 42 imagem analisada procedeu-se em escala de 1:500.000 evidenciando os grandes lineamentos da drenagem e do relevo. Em seguida os lineamentos foram agrupados de acordo com o seu direcionamento variando em agrupamentos de 22º5’ em 22º5’, contabilizados e demonstrados através da confecção de roseta de frequência. O emprego dessa técnica é apresentado no Apêndice E, em que foi gerada uma imagem SRTM em escala 1:500.000 do Planalto Ocidental Paulista e traçados os lineamentos das drenagens e do relevo. Nesta imagem é possível verificar as famílias de lineamentos nos diversos contextos do Planalto Ocidental Paulista. Foram identificados 2.118 lineamentos e agrupados em direções que variam de 22º5’ em 22º5’. Em seguida foi confeccionado um histograma dos lineamentos (FIGURA 19) e uma Roseta de frequência (FIGURA 20). Adiante também se confeccionou uma roseta de comprimento acumulado (FIGURA 21) e o histograma correspondente (FIGURA 22). Figura 19. Histograma dos lineamentos da drenagem e do relevo da área de estudo com intervalo de 22°5' em 22°5'. 43 Figura 20. Roseta de frequência dos lineamentos da área de estudo. Figura 21. Roseta de comprimento acumulado dos lineamentos extraídos. Figura 22. Histograma de frequência acumulada, em quilômetros, dos lineamentos extraídos. 44 2.5 Integração de dados Concluída a revisão literária, as medições das drenagens e a elaboração dos gráficos, iniciou-se a interpretação em cada bacia. Após a analise individual, foram plotados, em mapa 1:500.000, as anomalias fluviomorfométricas e os índices de anomalia de RDE (APÊNDICE B), o mapa de isovalores de RDEtotal (APÊNDICE C), os pontos de nickpoint (APÊNDICE D), e um mapa SRTM apresentando os principais lineamentos da drenagem e do relevo, áreas com solos espessos e aluviões (APÊNDICE E). Por fim, os mapas gerados foram sobrepostos e foi adicionado as falhas reconhecidas pela CPRM (PEIXOTO, 2010), realizando a interpretação das áreas em estado de soerguimento e subsidência de toda área de estudo que é apresentado no Apêndice F. 2.6 Observações de campo A preparação para as atividades em campo foram realizadas mediante a interpretação dos dados, a partir da confecção das cartas de anomalias fluviomorfométricas, do mapa de lineamentos e solo espesso, e da plotagem das indicações de nickpoint. Levaram-se em consideração as áreas de subsidência e as cabeceiras das drenagens. Procurou-se observar a morfologia da paisagem, os terraços fluviais e a litologia. Através da análise das imagens orbitais, os pontos de interesse para investigação foram compilados em um quadro e descritos. É preciso ressaltar que grande parte dos pontos plotados não pode ser verificados, uma vez que as imagens de satélite de 2006, obtidas pelo Google Earth©, e do GPS utilizado, não correspondiam com o que se encontrou em campo. Em virtude da instalação de diversas usinas de etanol, as estradas vicinais foram modificadas, dificultando o planejamento do trajeto. Empreenderam-se três campanhas para as atividades em campo. A primeira ocorreu entre os dias 28/04/2012 e 01/05/2012 perfazendo as cidades de Presidente Prudente, Presidente Venceslau, Teodoro Sampaio e Estrela do Norte, totalizando uma área de aproximadamente 6.000 km2. Nesta área procurou-se compreender melhor a região denominada Planalto das Lagoas, realizando o levantamento das áreas com solos espessos e a morfologia local (Quadro 2). 45 Ponto Longitude (W) Latitude (S) Altitude (m.s.n.m.) Obs. P1 51º27’33” 22º11’41” 379 Superfície plana com leves ondulações. P2 51º27’64” 22º11’48” 373 Superfície plana nas proximidades da borda do Planalto das Lagoas. P3 51º27’30” 22º11’16” 409 Tomada da paisagem. P4 51º27’08” 22º11’00” 409 Tomada da paisagem. P5 51º26’52” 22º10’42” 363 Drenagem sobre Fm. Adamantina. P6 51º25’97” 22º11’48” 429 Fm. Adamantina P7 51º27’44” 22º14’20” 391 Paisagem com pontos alagados P8 51º28’42” 22º12’45” 418 Paisagem com pontos alagados P9 51º28’15” 22º11’88” 343 Contato entre Fm. Adamantina e Fm. Araçatuba. P10 51º31’02” 22º16’77” 474 Regolitos espessos. P11 51º38’54” 22º23’28” 340 Tomada da paisagem. P12 51º59’10” 22º31’64” 323 Tomada da paisagem. P13 51º54’40” 22º29’11” 309 Pacote de solo espesso. P14 51º57’64” 22º27’16” 429 Área de pasto. P15 52º00’19” 22º25’72” 275 Área alagada. P16 51º46’97” 22º06’98” 370 Topo do vale. P17 51º49’38” 22º06’22” 318 Espraiamento de areia em terraço fluvial. P18 51º50’35” 22º06’03” 367 Superfície aplainada. P19 51º51’30” 22º06’29” 394 Área de solo espesso e arenoso. P20 51º44’09” 22º05’38” 335 Pacote de solo espesso. P21 51º44’69” 22º05’98” 329 Superfície plana e alagada com espraiamento de areia. P22 51º47’62” 22º08’75” 410 Tomada da paisagem. P23 51º50’06” 22º12’45” 374 Área de pasto com lagoas. P24 51º50’47” 22º13’14” 350 Terraços fluvial dissecado sobre Geos. Santo Anastácio. P25 51º57’90” 22º16’88” 370 Solo espesso. P26 51º50’98” 22º27’67” 369 Borda sul do Planalto das Lagoas. P27 51º49’54” 22º16’78” 326 Fundo de vale com terraços fluviais. P28 51º43’83” 22º14’99” 329 Terraço fluvial. P29 51º43’49” 22º14’60” 368 Tomada da paisagem. P30 51º39’86” 22º16’86” 397 Solo espesso. P31 51º39’32” 22º15’95” 344 Solo espesso. P32 51º39’32” 22º15’59” 380 Pacote de solo espesso. P33 51º39’38” 22º14’95” 338 Pacote de solo espesso. P34 51º38’17” 22º12’38” 425 Tomada da paisagem. Quadro 2. Identificação dos pontos levantados em atividades de campo na região de Presidente Prudente-SP entre 28/04/2012 e 01/05/2012. A segunda campanha em campo realizou-se entre os dias 26/10/2013 e 27/10/2013 na região da bacia do Rio Tietê-Jacaré. Em campo, buscou-se o contato entre as formações basais, a compreensão do relevo local e a identificação das áreas de solo espesso. Foram plotados 23 pontos (Quadro 3) e descritos, conforme se seguem nos capítulos pertinentes. 46 Ponto Longitude (W) Latitude (S) Altitude (m.s.n.m.) Obs. S1 49º39’40” 20º46’22” 473 Fm. Adamantina. S2 49º46’42” 20º44’44” 449 Depósito de terraço. S3 49º51’06” 20º43’04” 531 Fm. Adamantina. S4 50º03’33” 20º43’12” 479 Tomada da paisagem. S5 50º03’35” 20º53’25” 445 Tomada da paisagem. S6 49º59’54” 20º51’13” 477 Drenagem assoreada. S7 49º48’19” 20º46’24” 502 Solo exposto. S8 49º37’27” 20º59’34” 464 Fm. Araçatuba. S9 49º42’51” 21º04’05” 427 Área de brejo. S10 49º53’46” 21º09’47” 434 Drenagem sobre arenito cinza. S11 50º05’48” 21º18’04” 391 Drenagem assoreada. S12 50º03’23” 21º25’04” 407 Solo exposto (laranja claro). S13 50º02’24” 21º25’28” 392 Drenagem assoreada. S14 49º54’35” 21º25’07” 408 Superfície de aplainamento. S15 49º31’34” 21º56’23” 510 Pacote de solo espesso. S16 49º41’02” 21º06’24” 421 Fm. Adamantina. S17 49º45’40” 21º15’31” 424 Solo espesso. S18 49º46’40” 21º’16’40” 412 Fm. Araçatuba. S19 49º47’33” 21º21’27” 407 Solo espesso. S20 49º47’11” 21º25’34” 434 Escavação na beira da Rod. Com pacotes de solo espesso. S21 49º46’58” 21º33’20” 437 Solo espesso. S22 49º47’01” 21º34’20” 432 Solo espesso. S23 49º38’41” 21º47’51” 481 Solo espesso. Quadro 3. Identificação dos pontos levantados em atividades da campo na região da bacia do Rio Tietê-Jacaré, entre os dias 26/10/2013 e 27/10/2013. A terceira campanha de campo ocorreu entre os dias 16/11/2013 a 20/11/2013. Este campo teve como objetivo reconhecer as áreas de solo espesso identificadas a partir da elaboração do mapa SRTM de lineamentos e solos espessos (APÊNDICE E). Este campo deu-se em três etapas. O primeiro entre as proximidades das cidades de Bariri, Ibitinga e Itápolis, até Brotas, nas proximidades da cabeceira da bacia do Rio Tietê-Jacaré, onde se fez o reconhecimento da geologia e da geomorfologia local. A segunda área, na região de Bauru, onde se visitou a cabeceira nordeste da bacia do Rio Turvo, e a terceira em que se empreendeu maiores esforços para compreender a região que divide o Pontal do Paranapanema do médio Paranapanema (QUADRO 4). Ponto Longitude (W) Latitude (S) Altitude (m.s.n.m.) Obs. J1 48º31’40” 22º13’41” 574 Solo espesso com cascalho. J2 48º31’10” 22º12’51” 588 Fm. Itaquerí. J3 48º31’28” 22º08’06” 585 Drenagem sobre Fm. Itaquerí. J4 48º31’35” 22º08’04” 593 Terraço fluvial. J5 48º30’16” 22º06’58” 590 Tomada da paisagem. J6 48º24’46” 22º02’28” 517 Contato entre Fm. Serra Geral e 47 Fm. Botucatu. J7 48º37’43” 21º56’00” 462 Tomada da paisagem. J8 48º39’51” 21º54’40” 464 Drenagem sobre Fm. Serra Geral. J9 48º41’25” 21º54’13” 464 Drenagem sobre depósitos de areia. J10 48º48’29” 21º48’42” 425 Planície de inundação. J11 48º50’50” 21º17’16” 496 Drenagens assoreadas. J12 48º50’24” 21º48’13” 453 Fm. Serra Geral. J13 48º49’48” 21º49’25” 412 Planície de inundação do Rio Jacaré-Guaçu. J14 48º37’15” 22º11’55” 529 Contato entre Fm. Serra Geral e Fm.Botucatu. J15 48º26’19” 22º07’25” 588 Fm. Serra Geral. J16 48º26’05” 22º07’23” 587 Morros com afloramento de basaltos. J17 48º24’25” 22º07’56” 575 Depósitos de enxurradas. J18 48º17’28” 22º06’41” 713 Seixos entre camadas de solo. J19 48º11’34” 22º05’32” 730 Fm. Itaquerí. J20 48º05’08” 22º03’39” 595 Fm. Itaquerí. J21 48º10’52” 22º12’38” 597 Planície de inundação. J22 48º15’16” 22º12’09” 538 Fm. Pirambóia. J23 48º15’09” 22º12’37” 479 Fm. Pirambóia. J24 48º15’04” 22º12’40” 472 Fm. Pirambóia. J25 49º00’07” 22º29’41” 602 Terraço fluvial. J26 49º00’26” 22º30’39” 634 Solo espesso arenoso. J27 49º01’07” 22º28’52” 657 Fm. Marília. J28 49º03’48” 22º31’09” 682 Fm. Mariília. J29 49º03’50” 22º29’42” 699 Cabeceira de drenagem com intenso processo erosivo e afloramento da Fm. Marília. J30 49º03’55” 22º30’07” 666 Fm. Marília. J31 49º04’05” 22º30’22” 640 Fm. Marília. J32 49º06’18” 22º32’08” 620 Tomada da paisagem. J33 49º11’58” 22º32’59” 522 Drenagem sobre área de solo espesso. J34 49º49’03” 22º58’48” 469 Obras para contenção de erosão. J35 50º29’19” 22º30’22” 430 Processos erosivos. J36 50º33’13” 22º30’42” 440 Contato entre Fm. Serra Geral e Fm. Adamantina. J37 50º19’48” 22º21’27” 588 Erosão linear. J38 50º18’50” 22º21’30” 572 Área de pasto. J39 50º16’53” 22º22’10” 467 Erosão laminar. J40 50º15’59” 22º22’12” 588 Fm. Adamantina. J41 50º13’34” 22º24’33” 657 Fm. Adamantina em terreno dissecado. J42 50º09’08” 22º26’08” 640 Fm. Marília. J43 50º06’30” 22º26’32” 616 Formação de ravinas. J44 50º02’44” 22º24’13” 440 Fm. Marília. J45 50º01’00” 22º17’54” 488 Fm. Marília. J46 50º00’46” 22º17’43” 527 Fm. Marília J47 49º57’13” 22º13’51” 633 Tomada da paisagem. J48 49º54’21” 22º18’01” 543 Contenção de desmoronamento em afloramentos da Fm. Marília. J49 50º05’55” 22º37’16” 556 Área de pasto. J50 51º20’50” 22º15’34” 510 Solo espesso. J51 51º21’43” 22º16’43” 509 Erosões em área de pasto. J52 51º24’44” 22º18’35” 424 Área de pasto dissecada. J53 51º25’10” 22º18’55” 393 Terraço fluvial. 48 J54 51º26’04” 22º19’08” 414 Pontos de erosão e afloramento da Fm. Adamantina. J55 51º29’30” 22º24’42” 426 Cultivo de cana em planícies. J56 51º31’08” 22º24’38” 434 Erosão em área com construções para contenção de erosão. J57 51º32’02” 22º30’43” 429 Planície de inundação assoreada. J58 51º28’07” 22º34’05” 357 Drenagem intensamente assoreada. J59 51º23’20” 22º37’59” 338 Drenagem assoreada. J60 51º21’50” 22º35’32” 358 Drenagem assoreada. J61 51º21’47” 22º34’17” 392 Erosões em planície. J62 51º17’50” 22º22’43” 393 Encosta dissecada J63 51º17’07” 22º19’32” 396 Trechos com erosão e espraiamento de areia em depósitos fluviais. J64 51º03’40” 22º37’46” 457 Drenagem assoreada. J65 50º57’43” 22º37’58” 360 Vista do Ribeirão Bonito. Quadro 4. Identificação dos pontos levantados em atividades de campo entre os dias 16/11/2013 e 20/11/2013. 2.7 Organização da Tese Para facilitar a leitura e a análise dos dados levantados ao longo desta pesquisa, esta tese foi organizada em dois volumes. O primeiro volume apresenta a revisão bibliográfica discutindo os principais conceitos empregados, os métodos e as técnicas pesquisadas, bem como a apresentação de situações análogas em outras partes do território. Ainda no primeiro volume é apresentado e discutido os resultados obtidos a partir das pesquisas em escritório e em campo. O segundo volume apresenta seis encartes e seis apêndices. Os encartes são perfis longitudinais das drenagens confeccionados para esta tese, em que o leitor poderá comparar o que foi escrito sobre as drenagens mensuradas com os gráficos sem precisar ficar buscando em outras páginas, e os apêndices são os mapas gerados em escala 1:500.000 que poderão ser retirados e abertos sobre uma superfície para serem analisados. 49 3. GEOMORFOLOGIA A primeira tentativa de dividir em compartimentos geomorfológicos o território paulista foi apresentada por Luís Flores de Morais Rêgo em 1932, definindo em seu esboço os principais aspectos geomorfológicos do Estado de São Paulo: Serra do Mar e suas ramificações, Serra do Paranapiacaba e suas ramificações, Divisor Tietê- Paraiba, Serra da Mantiqueira, Cuestas devonianas incipientes, Cuestas da série Passa Dois, Escarpa da série de São Bento, Planura litorânea, Vale do rio Ribeira de Iguape, Terras altas de São Paulo, Vale do Paraíba, Topografia da parte inferior do sistema de Santa Catarina e Planalto Ocidental (MORAIS REGO, 1946). Em seguida, Pierre Deffontaines, em 1935, apresentou sua contribuição com uma nova divisão, não acompanhada em carta, distinguindo o Litoral em dois setores, o Alto da Serra, o Vale do Médio Paraíba, a região de Campos do Jordão, a Mantiqueira, as Serras Graníticas do Norte, a Zona Cristalina à volta de São Paulo, a Depressão Permiana e a Zona dos Arenitos e Derrames Basálticos do centro e oeste do Estado (DEFFONTAINES, 1945). Monbeig (1949) elaborou uma nova divisão do relevo paulista mantendo as três divisões reconhecidas por Morais Rêgo e Deffontaines (Litoral, Depressão Periférica e Planalto Ocidental) e designou o Planalto Atlântico agrupando os relevos das áreas cristalinas criando uma quarta região fisiográfica. Os estudos sobre o Estado de São Paulo continuaram com os trabalhos de Ab’Saber e Bernardes (1958), que reelaboraram os trabalhos anteriores, subdividindo o Planalto Atlântico e o Litoral e várias zonas morfológicas (cf. ROSS; MOROZ, 1997). Em seguida, Almeida (1964) apresentou sua proposta, adotada neste trabalho com as inferências de IPT (1981) e Ross e Moroz (1997) que se seguiram. Almeida (1964) adverte sobre a disposição paisagística condicionante do relevo paulista para que se tenha tomado tal característica como se faz nos dias atuais. Primeiramente faz referência à posição geotectônica do Estado, alongando- se sobre “um escudo cristalino pré-cambriano, banhado pelo oceano, para o interior da grande bacia sedimentar do Paraná” (ALMEIDA, 1964). Seguem-se as análises dos movimentos ascensionais proporcionando a erosão e o afloramento de suas estruturas, recomendações estas que foram levadas em conta para delimitação das zonas de divisão geomorfológica a que se propuseram diversos pesquisadores. 50 Segundo este autor, a divisão geomorfológica que compreende esta área é apresentada na figura 23 e a sua seção geológica-geomorfológica na figura 24. Figura 23 Divisão Geomorfológica do Estado de São Paulo. (ALMEIDA, 1964). Figura 24. Seção geológica-geomorfológica (SE-NW) esquematizada do Estado de São Paulo. Fonte: Modificado de IPT (1981). 51 3.1 Planalto Ocidental A província do Planalto Ocidental se estende a noroeste das Cuestas Basálticas compreendendo aproximadamente uma área de 126.000 km2 , cerca de 50% do território paulista. Suas maiores altitudes alcançam aproximadamente 1.000m na divisa com as Cuestas Basálticas, chegando a 247 metros no Rio Paraná, junto à foz do Rio Paranapanema. De modo geral, no entendimento de Almeida (1964), se apresenta como uma sucessão de campos ondulados, de relevo suavizado e “muito favorável às atividades agrícolas e ao traçado das vias de comunicação”. Para Almeida (1964), a geologia aflorante da área é relativamente simples, sendo constituída, na sua quase totalidade, por sedimentos detríticos na sua maior parte arenosa, de espessura aproximada de 300 m, que foram chamados de Grupo Bauru. Deste, o autor apresenta a Formação Itaqueri, com arenitos com cimento argiloso e silicoso, arcósios, siltitos, folhelhos e conglomerados de origem fluvial e a Formação Marília, com arenitos impregnados de carbonato de cálcio. Na bacia do Rio Paranapanema, mas não somente nela, a erosão fez aflorar o substrato basáltico do Grupo Bauru; o autor chama a atenção para as manchas locais, isoladas, de basalto, atribuindo-as às deformações diastróficas como falhas e adernamentos que seriam a explicação para presença de rápidos declives e cachoeiras. Na maior parte do Planalto Ocidental, o relevo é uniforme e “monótono”, apresentando extensos espigões de perfis convexos e cimos ondulados, com terminações laterais lobadas com baixas e amplas colinas em direção aos vales dos principais rios que deságuam no rio Paraná (ALMEIDA, 1964). Apresentam-se como levemente ondulados, com predomínio de colinas e morrotes. Dentre este relevo, destacam-se, e fazem exceção, os platôs residuais denominados de Planalto de Marília, Planalto de Monte Alto e Planalto de Catanduva (FIGURA 25), formados por erosão diferencial destacando os maciços rochosos de forte cimentação carbonática (IPT, 1981). 52 Figura 25. Planaltos no Planalto Ocidental Paulista. Fonte: Modificado de Etchebehere, Saad e Fulfaro (2007). Suas drenagens são formadas, na maior parte, por rios consequentes, dentro dos limites do planalto. Outras drenagens são tributárias dos três grandes rios que correm pelo território paulista (Grande, Tietê e Paranapanema). Os principais cursos d’água possuem forte orientação NW e são paralelas, apresentando evidências de capturas em vários locais (IPT, 1981). Ross e Moroz (1997), diante das feições geomorfológicas, delimitaram seis unidades morfoesculturais: Planalto Centro Ocidental; Patamares Estruturais de Ribeirão Preto; Planaltos Residuais de Franca/Batatais; Planalto Residual de São Carlos; Planalto Residual de Botucatu e Planalto Residual de Marília. Para que se possa compreender melhor as características morfoesculturais propostas pelos autores, seguem-se os quadros 5 e 6, bem como a figura 26. 53 Quadro 5. Compilação das características geomorfológicas e geológicas do Planalto Ocidental Paulista conforme entendimento de Ross e Moroz (1997). UNIDADE MORFOESCULTURAL CARACTERÍSTICAS DO RELEVO OUTRAS INFORMAÇÕES PLANALTO CENTRO OCIDENTAL Relevos denudacionais modelados em colinas amplas e baixas com topos convexos e topos aplanados ou tabulares. Arenitos com lentes de siltitos e argilitos com solos tipo Latossolo Vermelho-amarelo e Podzólico Vermelho-amarelo. Os principais rios são o Paraná, o Grande, o Rio Tietê, o Aguapeí, o do Peixe e o Paranapanema. PATAMARES ESTRUTURAIS DE RIBEIRÃO PRETO Relevos denudacionais formados por colinas amplas e baixas com topos tabulares. Basaltos e solos do tipo Latossolo Roxo. Os principais rios desta área são: Mogi- Guaçu e Pardo. PLANALTOS RESIDUAIS DE FRANCA/BATATAIS Relevos denudacionais com modelado de colinas de topos aplanados ou tabulares com vales entalhados. É um centro dispersor das drenagens. Arenitos e lentes de siltitos e conglomerados desenvolvendo os solos do tipo Latossolo Vermelho-amarelo PLANALTO RESIDUAL DE SÃO CARLOS Relevos denudacionais formados por colinas de topos convexos e tabulares. Depósitos arenosos e argilosos e os solos do tipo Latossolo Vermelho-escuro. PLANALTO RESIDUAL DE BOTUCATU Relevos denudacionais constituindo-se em colinas com topos amplos convexos e tabulares. Arenitos e lâminas de argilito e siltitos desenvolvendo solos do tipo Latossolos Vermelho- escuro. PLANALTO RESIDUAL DE MARÍLIA Relevos denudacionais de colinas com topos aplanados convexos e tabulares. Arenitos e lâminas de argilito e siltito com solos do tipo Latossolo Vermelho-escuro. Quadro 6. Tabela do tempo geológico com a síntese da morfogênese e a cronologia relativa do Planalto Ocidental e Depressão Periférica. (ROSS; MOROZ, 1997. Modificado). ERA PERÍODO Morfoestrutura da Bacia do Paraná CENOZÓICA Quaternário � Holoceno – Última fase úmida com aprofundamento dos vales, dissecação geral do relevo e formação das planícies fluviais e planícies marinhas. � Depósitos marinhos litorâneos – Planície marinha. � Processos de dissecação generalizada com entalhamento dos vales pela ação química e mecânica das águas. � Pleistoceno – Continuidade dos processos erosivos com alternância de climas secos e úmidos com esculturação da Depressão Periférica, Planalto Ocidental com maior ressaldo dos Planaltos Residuais (Franca- Batatais, São Carlos, Marília e Botucatu) Neógeno / Paleógeno � Longo período de processos erosivos comandados por alternância de climas secos (áridos e semi-áridos) e úmidos, rebaixamento e esculturação da Depressão Periférica, do Planalto Ocidental e pondo em ressalto os Planaltos Residuais de Franca- 54 Batatais, São Carlos, Marília e Botucatu. � Cessada as fases de sedimentação no Cretáceo, os processos erosivos são ativados nas bordas e interior da Bacia em concomitância com o processo de soerguimento da América do Sul. � Continuação do processo de soerguimento (epirogênese) ao longo do Cenozoico. MESOZOICO Diversas fases com diferentes ambientes de sedimentação formando a Bacia Sedimentar do Paraná. Cretáceo Jurássico � Ocorrência de derrames vulcânicos básicos e intrusões básicas relacionadas com a reativação Wealdeniana (mobilização tectônica das placas). � Reativação Wealdeniana com início do processo de soerguimento da Plataforma Sul-americana, relacionada com a mobilização tectônica das placas. PALEOZOICO 55 Fi gu ra 2 6. D iv is ão G eo m or fo ló gi ca d o E st ad o de S ão P au lo c on fo rm e R os s e M or oz (1 99 7) . 56 3 GEOLOGIA Este capítulo tratará especificamente do contexto geológico que abarca o Planalto Ocidental Paulista, objeto de estudo da tese apresentada. Para isto, enquanto fundamentação teórica, empreendeu-se às análises e às interpretações de Soares et al. (1980), Fulfaro e Perinotto (1996), Fernandes (1998), Etchebehere et al. (2004b) e Etchebehere, Saad e Fulfaro (2007). O contexto geológico desta área pode ser subdividido em quatro grandes conjuntos, a saber: 1. Não aflorantes: constituídos por rochas sedimentares e ígneas com idades entre Ordoviciano e Cretáceo Superior, com mais de 5.000 m de espessura na porção central da Bacia do Paraná e que inclui a área de estudo no Planalto Ocidental Paulista; 2. Aflorantes: a. Rochas relacionadas à Formação Serra Geral: com idade estimada em 132,4 Ma (cf. RENNE et al., 1992), formadas por derrames de basaltos e intrusões sob a forma de diques e sills de diabásio; b. Cobertura sedimentar pós-Serra Geral: englobando os grupos Caiuá e Bauru e; 3. Coberturas sedimentares cenozóicas: representadas por aluviões atuais e subatuais, depósitos de terraço, mantos coluvionares, leques aluviais, formações superficiais em remanescentes pedimentares e depósitos tecnogênicos. Também pertence a esta idade a Formação Itaqueri, ocorrida na forma de leques aluviais com presença de canais anastomosados, associados a depósitos de corrida de lama e depósitos grosseiros de fluxo de detritos, sob um regime climático árido e semi-árido. A Figura 27 apresenta a distribuição dessas unidades na região do Planalto Ocidental Paulista, conforme o entendimento de IPT (1981). Adiante, o Apêndice A apresenta com melhor nível de detalhe a distribuição das formações em escala 1:500.000. 57 Fi gu ra 2 7. D is tri bu iç ão d as U ni da de s G eo ló gi ca s no P la na lto O ci de nt al P au lis ta s eg un do IP T (1 98 1) . 58 3.1 Coluna estratigráfica adotada no presente estudo. Mediante a revisão bibliográfica disponível e adotando os trabalhos atuais, apresenta-se abaixo (QUADRO 7), a descrição dos principais aspectos geológicos da presente área de estudo. Sua disposição espacial encontra-se representada no Apêndice A. Esta tese adota como cobertura os arenitos das Formações Pirambóia e Botucatu e os derrames de basalto da Formação Serra Geral (Grupo São Bento). As coberturas pós-basaltos da Bacia Sedimentar do Paraná são compreendidas em duas grandes bacias: Caiuá e Bauru (FULFARO; PERINOTTO, 1996). Entende-se que a bacia Caiuá é composta pelas formações Rio Paraná, Goio-erê (Grupo Caiuá) e pelo Geossolo Santo Anastácio, enquanto que a bacia Bauru compreende as formações Araçatuba, Adamantina e Marília (APÊNDICE A), na porção nordeste da área de estudo aflora a Formação Itaqueri (Cretáceo Superior ou Terciário) e por fim os depósitos cenozoicos que recobrem grande parte da paisagem. 3.1.1 Grupo São Bento O Grupo São Bento tem idade mesozóica subdividido em três formações, a saber: Formação Pirambóia, Formação Botucatu e Formação Serra Geral. Para Etchebehere, Saad e Fulfaro (2007), a primeira formação é compreendida em fácies eólicas e fluviais, enquanto que a segunda é formada por sistema de dunas eólicas sendo recobertos por lavas basálticas da terceira formação. A respeito das formações Pirambóia e Botucatu, diversos trabalhos tem sido elaborados no sentido de entendê-las adequadamente, do ponto de vista estratigráfico (ASSINE; PIRANHA; CARNEIRO, 2004; ETCHEBEHERE; SAAD; FULFARO, 2007; GESICK, 2007; ALMEIDA; ASSINE; CARNEIRO, 2012). Gesick (2007) afirma que essas unidades constituem uma faixa de direção aproximada NNE-SSW, com largura variável de 4 km, no sudoeste do estado próximo ao limite com o Paraná, até aproximadamente 130 km, no centro-leste paulista. Apresentam espessuras em superfície de no máximo 270 e 150 m, respectivamente, e em subsuperfície, no poço de Araçatuba (2-AR-01-SP), em conjunto, é de 437 m. 59 Quadro 7. Coluna estratigráfica simplificada do Planalto Ocidental Paulista. Fonte: Baseado em Etchebehere, Saad e Fulfaro (2007); Etcheberehe, Casado e Morales (2011). A Formação Pirambóia é caracterizada por predomínio de processos eólicos, e subordinadamente fluvio-aluviais, postando-se em depósito de dunas, interdunas e lençóis de areia (Sandsheets). Caetano-Chang (1997) descreve quatro associações de fácies principais, a saber: dunas, interdunas, lençóis de areia e canas fluviais efêmeros (wadi). Wu e Caetano-Chang (1992) descrevem os arenitos da Formação Pirambóia em subarcóseos, mineralogicamente maturos e textualmente submaturos 60 a maturos. Concentra alta a moderada porcentagem de minerais metaestáveis (estaurolita, granada, epídoto e mica). A proposta de Giannini (2001) apud Gesick (2007) é a de que o sistema úmido Pirambóia seja caracterizado, da base para o topo, por fácies de lençóis de areia em planície de marés, fácies de campo de dunas costeiro inferior, com planícies interdunas alagadas, fácies de campo de dunas costeiro superior, com planícies interdunas raramente inundados, e fácies de planície aluvial, com desenvolvimento de rios entrelaçados e dunas. Para o autor, a umidade na Formação Pirambóia deu-se em decorrência do nível freático elevado, provavelmente em virtude da proximidade à costa do sistema marinho Passa Dois. Giannini (op cit.) apud Gesick (op cit.) afirma que as fácies de planície aluvial são caracterizadas por depósitos rudáceos integrando o desfecho do sistema deposicional eólico úmido. Os arenitos conglomeráticos com estratificações cruzadas acanaladas representariam o desenvolvimento de rios entrelaçados, distais a sistema de leques aluviais, durante fase de acentuada atividade tectônica na bacia. A Foto 1 mostra arenitos com estratificações cruzadas com mais de 10º de inclinação, compondo séries de espessura decimétrica a métrica e extensão decamétrica. Foto 1. Séries de estratificações cruzadas acanaladas da Formação Pirambóia. A e B. Afloramentos da rodovia SP191, trecho entre Ipeúna e Charqueada. C, rodovia SP280, km 167. D, Areeiro CRS, rodovia SP225, km 74. Fonte: Extraído de Gesicki (2007). 61 Wu e Caetano-Chang (1992) descrevem os arenitos da Formação Botucatu apresentando dominantemente quartzo-arenitos e subordinadamente subarcóseos, mineralogicamente supermaturos e textualmente maturos a supermaturos com alta porcentagem de minerais opacos (magnetita e ilmenita). Etchebehere, Saad e Fulfaro (2007) afirmam que a Formação Botucatu seria formada por um grande sistema de dunas eólicas, constituindo-se, na atualidade, no “Aquífero Guarani”. Para Gesick (2007) tal ambiente é caracterizado como um ambiente seco. O sistema eólico Botucatu é constituído por fácies de arenitos finos a muito finos com laminação milimétrica, dispostos em séries de estratificações cruzadas de geometria lenticular, com espessura média de 3 m e extensão decamétrica. Para Giannini (2001) apud Gesick (2007), a estratificação, marcada por lentes de fluxo granular relativamente delgadas (menos de 3 cm), seria representativa do avanço de dunas e draas em campo de dunas seco. O sistema eólico seco Botucatu é caracterizado pelas seguintes fácies: arenito fino com estratificação cruzada de alto ângulo de mergulho: os arenitos desta fácies são de granulação tipicamente fina, com laminação milimétrica bem marcada por segregação granular, dispostos em séries, de espessura métrica (de 3 a 5 m), extensão decamétrica e geometria lenticular ou acanalada, de estratificações cruzadas tangenciais na base. Esta fácie é característica do sistema eólico seco Botucatu, representando avanço de dunas em campo de dunas seco (FOTO 2). Foto 2. Arenitos finos do sistema eólico seco Botucatu. (A) Estratificações cruzadas de médio a grande porte (B) pegadas fósseis - Pedreira São Pedro, Araraquara, SP; (C), km 12,7 da Rodovia SP 287, entre Sarutaí e Piraju, SP; (D), afloramento da rodovia