UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Instituto de Geociências e Ciências Exatas “MÉTODOS DA ELETRORRESISTIVIDADE E POLARIZAÇÃO INDUZIDA APLICADOS NOS ESTUDOS DA CAPTAÇÃO E CONTAMINAÇÃO DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS: UMA ABORDAGEM METODOLÓGICA E PRÁTICA” Antonio Celso de Oliveira Braga Tese apresentada ao concurso público para obtenção do título de Livre-Docente na disciplina “Métodos Geoelétricos Aplicados à Hidrogeologia” do Programa de Pós-Graduação em Geociências e Meio Ambiente do Instituto de Geociências e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista. Rio Claro, 2006 Braga, A.C.O. i ÍNDICE CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................ 1 1.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS....................................................................................... 1 1.2. JUSTIFICATIVAS E OBJETIVOS............................................................................... 2 1.3. METODOLOGIA DA PESQUISA ............................................................................... 3 CAPÍTULO 2. GEOFÍSICA APLICADA E A HIDROGEOLOGIA .................................. 4 2.1. GEOFÍSICA APLICADA............................................................................................. 4 2.2. HIDROGEOLOGIA ..................................................................................................... 8 CAPÍTULO 3. PRINCIPAIS MÉTODOS GEOELÉTRICOS E TÉCNICAS DE CAMPO ............................................................................................................................................. 14 3.1. CLASSIFICAÇÃO DOS MÉTODOS GEOELÉTRICOS............................................. 14 3.2. MÉTODO DA ELETRORRESISTIVIDADE .............................................................. 17 3.3. MÉTODO DA POLARIZAÇÃO INDUZIDA ............................................................. 24 3.4. TÉCNICAS DE CAMPO DOS MÉTODOS GEOELÉTRICOS.................................... 28 3.4.1. Sondagem Elétrica Vertical - SEV ...................................................................... 29 3.4.2. Caminhamento Elétrico - CE............................................................................... 38 3.5. PARÂMETROS E FUNÇÕES DE DAR ZARROUK .................................................. 41 CAPÍTULO 4. METODOLOGIA GEOELÉTRICA APLICADA NA HIDROGEOLOGIA ............................................................................................................................................. 47 4.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS..................................................................................... 47 4.2. METODOLOGIA GEOELÉTRICA ADEQUADA...................................................... 47 4.2.1. Objetivos Gerais e Geologia Local ...................................................................... 49 4.2.2. Objetivos Específicos e Critérios de Análises ..................................................... 51 4.3. PROGRAMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DOS ENSAIOS GEOELÉTRICOS ...... 53 4.3.1. Sondagem Elétrica Vertical - Schlumberger ........................................................ 53 4.3.2. Caminhamento Elétrico – Dipolo-Dipolo ............................................................ 67 CAPÍTULO 5. MÉTODOS GEOELÉTRICOS NA CAPTAÇÃO DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS............................................................................................................... 69 5.1. ROCHAS SEDIMENTARES...................................................................................... 69 5.1.1. Aqüíferos Granulares .......................................................................................... 70 5.1.2. Aqüíferos Cársticos............................................................................................. 77 5.1.3. Estimativa de Parâmetros Hidráulicos ................................................................. 78 5.2. ROCHAS CRISTALINAS.......................................................................................... 81 5.2.1. Aqüíferos Fraturados........................................................................................... 82 Braga, A.C.O. ii 5.2.2. Rochas Basálticas e Diabásios............................................................................. 86 CAPÍTULO 6. MÉTODOS GEOELÉTRICOS NOS ESTUDOS DA CONTAMINAÇÃO DE SOLOS, ROCHAS E ÁGUAS SUBTERRÂNEAS ....................................................... 88 6.1. ROCHAS SEDIMENTARES...................................................................................... 88 6.1.1. Mapa Potenciométrico......................................................................................... 89 6.1.2. Identificação e Delimitação de Plumas de Contaminação .................................... 91 6.1.3. Aplicação dos Parâmetros de Dar Zarrouk......................................................... 102 6.2. ROCHAS CRISTALINAS........................................................................................ 109 6.2.1. Identificação e Delimitação de Plumas de Contaminação .................................. 110 CAPÍTULO 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................... 113 7.1. MÉTODOS GEOELÉTRICOS APLICADOS NA HIDROGEOLOGIA..................... 113 7.1.1. Considerações Metodológicas ........................................................................... 113 7.1.2. Tratamento dos Dados e Produtos Obtidos ........................................................ 114 7.2. CONCLUSÕES........................................................................................................ 116 BIBLIOGRAFIAS REFERENCIADAS E CONSULTADAS .......................................... 117 Braga, A.C.O. 1 “MÉTODOS DA ELETRORRESISTIVIDADE E POLARIZAÇÃO INDUZIDA APLICADOS NOS ESTUDOS DA CAPTAÇÃO E CONTAMINAÇÃO DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS: UMA ABORDAGEM METODOLÓGICA E PRÁTICA” CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO 1.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS A Geofísica, cujas metodologias ao longo dos anos têm sido aperfeiçoadas e adaptadas em função da solicitação crescente nos mais variados campos de atuação, tem nas questões relacionadas às águas subterrâneas, um papel de extrema importância, tanto em estudos visando à captação para abastecimento, como estudando e solucionando problemas decorrentes de contaminações através de fontes variadas. Tradicionalmente empregados nos estudos hidrogeológicos, os métodos geoelétricos, apresentaram uma evolução na obtenção e tratamento dos dados, tanto na parte instrumental, como no desenvolvimento de softwares visando à inversão dos dados de campo para obtenção de modelos mais precisos e confiáveis. Inicialmente esses métodos tiveram como objetivos maiores, a identificação de camadas promissoras para captação de águas subterrâneas, visando o abastecimento de um modo geral. Hoje em dia, além desses objetivos, e considerando a crescente contaminação em subsuperfície através dos mais variados tipos de contaminantes, atuam em investigações, relativamente rasas, procurando identificar e mapear contaminantes em solos, rochas e águas subterrâneas, envolvendo as fases de: (1) investigações preventivas, na caracterização da geologia, identificando áreas vulneráveis a contaminantes, e, (2) investigações confirmatórias, remediação e monitoramento, estudando as possíveis alterações no meio geológico, frente aos contaminantes. A introdução de alguns tipos principais de contaminantes no subsolo, altera significativamente os valores naturais dos principais parâmetros geoelétricos dos materiais geológicos, dos quais os métodos geoelétricos se utilizam (por exemplo, a resistividade elétrica e cargabilidade). Levantamentos pela eletrorresistividade, efetuados em refinarias de combustíveis, procurando delimitar plumas de contaminação de derivados de hidrocarbonetos através de vazamentos de gasolina e óleo diesel, obtém excelentes resultados, podendo estimar inclusive a variação temporal das contaminações. Braga, A.C.O. 2 Outra questão a ser levantada, diz respeito a pouca utilização, em nosso país, dos parâmetros de Dar Zarrouk. Tais parâmetros têm se revelado de extrema utilidade, contribuindo, em algumas situações, de maneira decisiva na definição dos objetivos propostos. São parâmetros simples de serem utilizados, não envolvendo acréscimos nos custos e prazos finais de uma campanha. De um modo geral, os métodos geoelétricos apresentam ainda, uma particularidade em relação a outros métodos geofísicos, ou seja, englobam vários métodos, técnicas de campo e uma infinidade de arranjos possíveis de serem utilizados. Dessa maneira podem ser adaptados em função da área a ser estudada. Entretanto, existem destaques dentro dessa vasta metodologia, que devem ser priorizados em relação às demais 1.2. JUSTIFICATIVAS E OBJETIVOS A utilização inadequada de técnicas geofísicas e/ou arranjos de campo, em função da geologia e dos objetivos que se propõem alcançar em um determinado projeto, pode levar a erros graves na definição final do modelo geoelétrico da área estudada. Portanto a escolha da metodologia geofísica, constitui o primeiro passo para o sucesso ou fracasso da campanha como um todo. Vários casos comprovados de resultados incorretos obtidos por levantamentos geoelétricos, atribuídos à “ineficiência da Geofísica”, foram resultados do emprego de técnicas inadequadas em função dos objetivos esperados e da geologia local. Portanto, a programação correta de uma campanha geofísica não é simples nem deve ser “automática”. Ressalta-se também, que poucos autores e trabalhos técnicos utilizam os parâmetros de Dar Zarrouk nas definições dos modelos geoelétricos finais. Constata-se, que quando são utilizados, em alguns casos, o são de maneira incorreta. O emprego adequado de tais parâmetros pode ser decisivo em várias situações, contribuindo no entendimento do modelo geral da área estudada. Considerando o exposto anteriormente, a pesquisa tem como objetivos gerais à aplicação dos métodos geoelétricos na hidrogeologia, visando: (1) estudos para captação de águas subterrâneas para abastecimento em geral; e, (2) estudos das contaminações de solos, rochas e águas subterrâneas, envolvendo as fases de investigação preventiva, confirmatória, remediação e monitoramento. Como objetivos específicos, através da aplicação dos métodos da eletrorresistividade e polarização induzida, utilizando-se das técnicas de campo da sondagem elétrica vertical – arranjo Schlumberger e caminhamento elétrico – arranjo dipolo-dipolo, e dos parâmetros de Braga, A.C.O. 3 Dar Zarrouk, tem-se uma discussão e proposição metodológica e prática, em função da geologia local, sobre os produtos obtidos por essa metodologia, tais como: caracterização geológica na identificação de aqüíferos promissores e investigação de áreas contaminadas e/ou sujeitas à contaminação. 1.3. METODOLOGIA DA PESQUISA A seqüência metodológica adotada na presente pesquisa é apresentada na Figura I-01. Após o estabelecimento do tema da pesquisa com justificativas e objetivos, tem-se uma conceituação teórica básica da Geofísica Aplicada e Hidrogeologia, com destaque na utilização dos métodos geoelétricos – eletrorresistividade e polarização induzida, técnicas de campo da sondagem elétrica vertical (SEV) e caminhamento elétrico (CE) e parâmetros de Dar Zarrouk (DZ). A seguir discutem-se as aplicações dessa metodologia na Hidrogeologia, considerando as atuações nos estudos visando à captação de águas subterrâneas e envolvendo contaminações dos materiais geológicos em subsuperfície, em função da geologia local, definindo a(s) metodologia(s) adequada(s). Dessa maneira conclui-se sobre a interpretação dos dados e produtos resultantes considerando o tema proposto, e casos históricos de aplicação. GEOFÍSICA APLICADA HIDROGEOLOGIA TEMA DA PESQUISA Justificativas e Objetivos Classificação dos Métodos Geoelétricos Métodos Geoelétricos Aplicações na Hidrogeologia Captação de Águas Subterrâneas Contaminação de Solos, Rochas e Águas Subterrâneas Metodologia, Programação e Desenvolvimento Considerações Finais e Conclusões Técnicas de Campo • SEV – Schlumberger • CE – Dipolo-Dipolo Métodos Geoelétricos • Eletrorresistividade • Polarização Induzida Parâmetros de Dar Zarrouk • Resistência Transversal • Condutância Longitudinal Investigação preventiva, confirmatória, remediação, e monitoramento Abastecimento, irrigação, industrial, lazer, etc. Geologia • Rochas Sedimentares • Rochas Cristalinas Figura I-01 - Fluxograma metodológico da pesquisa. Braga, A.C.O. 4 CAPÍTULO 2. GEOFÍSICA APLICADA E A HIDROGEOLOGIA 2.1. GEOFÍSICA APLICADA A origem da Geofísica Aplicada data de muitos anos atrás, sendo baseada em um conjunto de técnicas físicas e matemáticas, cujo início e desenvolvimento foi relacionado à exploração do subsolo, procurando localizar e estudar estruturas favoráveis à acumulação de substâncias úteis para a sociedade humana, tais como, petróleo, águas subterrâneas, minerais, etc.. A aplicação da Geofísica em estudos ambientais, envolvendo a contaminação de solos e rochas e as águas subterrâneas, através de contaminantes inorgânicos e orgânicos, tais como os resultantes de resíduos de aterros sanitários e/ou vazamentos de combustíveis, tem sido freqüente e despertado a atenção de pesquisadores. Geofísica pode ser definida, como: “a ciência que se ocupa do estudo das estruturas do interior da Terra e da localização nesta, de corpos delimitados pelos contrastes de alguma de suas propriedades físicas com as do meio circundante, usando medidas tomadas na sua superfície, interior de furos de sondagens e levantamentos aéreos” (modificado de Orellana, 1972). É uma ciência que apresenta uma íntima relação com a Física e a Geologia, procurando resolver, a partir da Física, problemas colocados em termos geológicos. Tanto o geofísico como o geólogo, estudam a parte sólida da Terra, e apesar de utilizarem instrumentos de trabalho diferentes, seus objetivos convergem em uma mesma direção. É importante destacar a necessidade do geólogo na programação dos trabalhos geofísicos, pois o conhecimento deste profissional contribui para a definição das metodologias geofísicas adequadas e também suas modalidades de aplicação, bem como na formulação do modelo final interpretado. Os principais fenômenos físicos que ocorrem no interior da Terra (Figura II-01), nos quais a Geofísica se baseia, estão ligados ao: campo magnético terrestre; fluxo geotérmico; propagação de ondas sísmicas; gravidade; campos elétricos e eletromagnéticos; correntes telúricas, e; radioatividade. Em função do parâmetro físico estudado, a Geofísica pode ser dividida em quatro grupos de destaque, que podem ser denominados de métodos maiores: gravimétrico, magnetométrico, geoelétricos e sísmicos. Os métodos da gravimetria e magnetometria, são de campo natural, estudando as perturbações que determinadas estruturas ou corpos produzem sobre campos preexistentes. Os métodos geoelétricos (exceção do potencial espontâneo e magnetotelúrico) e os sísmicos são Braga, A.C.O. 5 artificiais, ou seja, o campo físico a ser estudado é criado por meio de equipamentos apropriados. Os fundamentos teóricos desses métodos geofísicos baseiam-se na determinação de propriedades físicas que caracterizam os diferentes tipos de materiais que se encontram no ambiente geológico, e nos contrastes que estas propriedades podem apresentar. Ressalta-se o fato de que uma eventual intervenção do homem neste ambiente pode gerar mudanças nos vários campos físicos e nas suas propriedades. Gravimetria Paleomagne- tismo Radiometria Geotermia Sismologia Sísmicos Magnetome- tria Geoelétricos MÉTODOS GEOFÍSICOS Gravimetria Paleomagne- tismo Radiometria Geotermia Sismologia Sísmicos Magnetome- tria Geoelétricos MÉTODOS GEOFÍSICOS Figura II-01 - Principais métodos geofísicos. Várias definições podem ser encontradas na literatura para definir os campos de atuação da Geofísica, tais como, Geofísica Básica ou Geofísica da Terra Sólida: ...área da Geofísica que estuda a estrutura, composição e evolução da Terra em grande escala, envolvendo as camadas mais profundas do planeta, sua origem e evolução. Normalmente estes estudos visam aprofundar os conhecimentos sobre o planeta, e são desenvolvidos nas grandes Universidades e centros de pesquisa, assumindo assim um caráter tipicamente acadêmico...; e ainda Geofísica Aplicada: ...área da Geofísica que lida com a busca de minerais, petróleo, água subterrânea ou auxilia grandes obras de engenharia civil, determinando parâmetros geofísicos e estruturais...*1. Ainda existem algumas tais como, Geofísica Pura: investiga as propriedades físicas da Terra e sua constituição interna a partir de fenômenos físicos ligados a ela; e, Geofísica Aplicada: estuda as ocorrências ou estruturas geológicas, relativamente pequenas, localizadas na crosta terrestre ∗2. Em outra definição, têm-se as divisões de Geofísica da Terra Sólida e Geofísica de Exploração: ...Tectônica de placa, o estudo da estrutura interior da terra, e tais áreas relacionadas como processos globais e regionais são coletivamente conhecidas como Geofísica da Terra Sólida. A subdisciplina conhecida como Geofísica de Exploração, envolve *1 http://www.iag.usp.br/siae98/geofisica/geofisica.htm, acessado: 11/04/2005. ∗2 http://www.igc.usp.br/geologia/geofisica_aplicada.php, acessado: 26/07/2005 Braga, A.C.O. 6 o uso de teoria geofísica e instrumentação, para localizar petróleo e outras fontes minerais. Diferentemente da Geofísica da Terra Sólida, a Geofísica de Exploração, geralmente se concentra em achar heterogeneidades laterais em uma parte relativamente pequena da crosta da terra...∗3 Entretanto, mesmo estudos em “grande” (sic) escala , acadêmicos ou envolvendo a constituição interna da Terra, podem ser aplicados a alguma atividade, por exemplo, Geologia do Petróleo. A separação de atividades em função do tipo de campo utilizado (natural ou artificial), resolução e profundidade de investigação, parece não ser a mais adequada, resultando em sobreposições. A Figura II-02, define portanto, as principais atividades da Geofísica, de um modo geral. GEOFÍSICA GEOFÍSICA BÁSICA GEOFÍSICA APLICADA Hidrogeologia Geologia Ambiental Engenharia Civil Prospecção Mineral Geologia do Petróleo Geologia Básica Arqueologia Domínio Teórico - Desenvolvimento de softwares e instrumentação geofísica. - Estudos teóricos de fenômenos físicos. Domínio Prático - Investigação de situações ou estruturas existentes nos meios geológicos – partes rasas ou profundas da Terra. Principais Áreas de Atuação da Geofísica Aplicada Terremotos/Sismos (1) Geofísica Básica: cujas atividades envolvem o desenvolvimento de softwares e instrumentação geofísica, e estudos sobre os fenômenos físicos que ela utiliza, limitando na teoria, sua área de atuação – Domínio Teórico; e, (2) Geofísica Aplicada: cujas atividades envolvem a aplicação da teoria e instrumentação geofísica, na investigação de situações ou estruturas existentes nos meios geológicos (partes rasas ou profundas da Terra), visando, a exploração de águas subterrâneas, minerais, petróleo; auxiliar obras de engenharia civil; identificar a contaminação de solos, rochas e águas subterrâneas; etc. – Domínio Prático. Figura II-02 – Geofísica Aplicada – principais áreas de atuação. A interface entre essas duas atividades nem sempre é clara, podendo haver uma sobreposição, como por exemplo, o desenvolvimento de um instrumental geofísico com finalidade específica para uma área de atuação, por exemplo, Hidrogeologia. A bibliografia disponível sobre Geofísica Aplicada é vasta, com inúmeros trabalhos desenvolvidos para os mais variados fins. Vários métodos geofísicos têm sido utilizados em estudos aplicados à Hidrogeologia, Geologia Ambiental, Prospecção Mineral, Geologia de Engenharia, etc.. Destacam-se as possibilidades da Geofísica Aplicada, no controle das alterações provocadas pelo homem no meio ambiente geológico, a qual seria baseada nas ∗3 http://seg.org/you-geo/definition.shtml - acessado: 26/07/2005 Braga, A.C.O. 7 investigações das deformações dos campos físicos e propriedades da litosfera, sob impacto das atividades do homem. As observações geofísicas, de forma geral, não afetam o ambiente geológico, podendo ser, se necessário, executadas várias vezes em uma mesma área. Nos levantamentos geofísicos de campo, não deve ser descartada “a priori” a possibilidade de se efetuarem algumas perfurações por sondagens mecânicas. Estas sondagens, ainda que, normalmente, mais onerosas que os métodos geofísicos, fornecem dados seguros e exatos sobre o subsolo, os quais servem para auxiliar na interpretação geofísica, ajustando o modelo inicial. Entretanto, em função dos custos elevados de uma perfuração, é preferível e mais adequado cobrir uma determinada área, com levantamentos geofísicos, e programar as sondagens mecânicas em função desses resultados. Deve-se lembrar que, os resultados da Geofísica não devem ser encarados como definitivos, mas sim, como dados complementares para o geólogo responsável decidir qual é o melhor caminho a ser seguido para solucionar os problemas expostos. Outra consideração que pode ser destacada, diz respeito ao fato de que, com freqüência, se recorre aos métodos geofísicos somente quando as perfurações fracassam, devido, por exemplo, às complexidades geológicas locais. Nestes casos, investigações que poderiam ser realizadas economicamente por métodos geofísicos, com cobertura contínua e espacial da área, aliados a perfurações de apoio, resultam muito onerosas e com prazos inadequados. Em vários trabalhos desenvolvidos, por exemplo, na locação de poços tubulares profundos, visando à captação de água subterrânea, comprovou-se esta realidade, sendo a Geofísica Aplicada solicitada após perfurações sem sucesso. Merece destaque ainda, o fato que diz respeito aos cuidados que se deve ter na escolha da metodologia geofísica adequada. Em nosso país, cujas condições geológicas e geotécnicas são diferentes dos países europeus e norte-americanos, têm-se espessas camadas de solo e material alterado, portanto, os métodos e equipamentos geofísicos devem ser escolhidos considerando nossas condições. Entre os principais métodos geofísicos, os métodos geoelétricos, com suas diversidades de modalidades, são muito utilizados no mundo inteiro, atuando nas mais variadas áreas de conhecimento. Esta atuação abrange desde levantamentos puramente acadêmicos, até levantamentos procurando atender solicitações mais práticas e de interesse imediato da população, tais como: na Geologia de Engenharia, Prospecção Mineral, Hidrogeologia, Geologia Ambiental, etc.. Neste Grupo, destacam-se os métodos da eletrorresistividade, Braga, A.C.O. 8 polarização induzida e radar de penetração no solo, como sendo os mais utilizados e importantes. 2.2. HIDROGEOLOGIA A água existente na natureza faz parte de um sistema circulatório conhecido como o ciclo hidrológico (Figura II-03). Conceitualmente, o ciclo hidrológico pode ser definido como sendo uma sucessão de fases percorridas pela água ao passar da atmosfera ao solo e vice- versa: evaporação do solo, do mar e das águas continentais; condensação para formar as nuvens; precipitação; acumulação no solo ou nas massas de água, escoamento direto ou retardado para o mar e re-evaporação. Da precipitação então, a água: (a) retorna à atmosfera: evaporação das superfícies das águas e do solo ou transpiração das plantas (Evapotranspiração); (b) regressa aos oceanos sob a forma de escoamento superficial ou "Run- off" (sobre a superfície do solo); e, (c) penetra no subsolo: infiltração. Figura II-03 – Ciclo hidrológico. A Hidrogeologia é o ramo da geologia que trata da água subterrânea e, especialmente, de sua ocorrência. Pode ser definida como o estudo da origem, distribuição, escoamento e avaliação dos recursos hídricos subterrâneos, envolvendo o estudo das recargas, reservas totais, volumes explotáveis e suas condições de explotação e a proteção das águas subterrâneas. Os materiais geológicos na subsuperfície podem ser divididos, esquematicamente, em duas partes principais: zona não saturada e zona saturada (Figura II- 04). A zona não saturada pode ser subdividida em: (1) zona de evapotranspiração, onde se tem a umidade retida pelas plantas e a evaporação; (2) zona de retenção, onde se tem muito pouca água; e, (3) zona capilar, com a umidade próxima da saturação. Água subterrânea é a massa da água contida, Zo na n ão sa tu ra da - ae ra çã o nível freático (NA) Zona saturada zona de evapotranspiração umidade do solo zona de retenção - poros praticamente não saturados zona capilar Braga, A.C.O. unesp 1. Aquece os solos e as águas 2. Água aquecida, evapora evapotranspiraçãoevapotranspiração 2. Água aquecida, evapora evapotranspiraçãoevapotranspiração 3. Vapor de água - condensação 4. Água líquida - chuva precipitaçãoprecipitação 4. Água líquida - chuva precipitaçãoprecipitação escoamento escoamento superficialsuperficial infiltraçãoinfiltração Braga, A.C.O. 9 principalmente, na zona saturada. O limite de separação entre estas duas zonas principais é conhecido como nível d’água subterrânea ou nível freático (NA). Figura II-04 – Distribuição das águas no solo. A crosta terrestre é um vasto reservatório subterrâneo constituído de rochas com numerosos interstícios ou vazios, que variam em formas e dimensões (de cavernas a muito pequenas). Geralmente, os interstícios são interligados, permitindo o deslocamento das águas infiltradas. Quando não são interligados, impede a circulação da água. A água subterrânea, quando presente, ocorre em extensas áreas. Se esta ocorrência coincide com áreas de demanda, não há necessidade de sistemas de distribuição, pois o aqüífero pode ser acessado diretamente por poços. O crescimento da demanda é atendido com a perfuração de mais poços, respeitando a capacidade do aqüífero prospectado. Os custos de implementação de poços profundos, geralmente, são inferiores aos sistemas superficiais, pois não envolvem custos com indenizações, barragens, adutoras e estações de tratamento; a captação de águas subterrâneas, independe de períodos de estiagens prolongados para recarga, não esta sujeita ao intenso processo de evapotranspiração e não provoca impacto ambiental como, por exemplo, inundações de grandes áreas. Entretanto, a avaliação final, em termos de atendimento à demanda requerida e custos da implantação das obras de captação, será efetuada em função das relações oferta/demanda obtidas através de estudos envolvendo, tanto a disponibilidade hídrica superficial quanto a disponibilidade hídrica das águas subterrâneas. Os estudos hidrogeológicos têm a finalidade de estabelecer o conhecimento de numerosos dados para a estimativa dos recursos hídricos subterrâneos, de forma racional de explotação e conservação. Referem-se às estruturas hidrogeológicas; características hidrogeológicas da rocha armazenadora; fatores que condicionam o movimento das águas subterrâneas; características físico-químicas das águas subterrâneas; características técnicas e econômicas das obras de captação; balanço; e, reservas e recursos. A partir destes dados, é possível estabelecer normas de explotação, proteção e conservação dos recursos das águas subterrâneas. Os materiais geológicos naturais, podem ser classificados em quatro grupos, de acordo com a menor ou maior facilidade de armazenar e liberar as águas subterrâneas: a. Aqüíferos: materiais porosos, saturados, que armazenam água e permitem sua circulação, são verdadeiros reservatórios de águas subterrâneas. São constituídos por solos, sedimentos Braga, A.C.O. 10 e rochas sedimentares com porosidade granular, maciços rochosos com porosidade de fraturas e rochas com porosidade cárstica. b. Aqüicludes: materiais porosos, saturados, que armazenam água mas permitem a circulação apenas de forma muito lenta, com velocidades insuficientes a proporcionar um abastecimento apreciável a um poço ou a uma fonte. São essencialmente argilosos, onde a água está firmemente fixada em poros de pequenas dimensões por pressões moleculares e tensões superficiais. c. Aqüitardos: materiais porosos que, apesar de armazenarem água, permitem a circulação da água com velocidade muito reduzida, em comparação a um aqüífero. São constituídos de argilas siltosas ou arenosas. d. Aqüífugos: materiais impermeáveis, com baixíssimo grau de porosidade, sem interstícios interconectados, incapazes, portanto, de absorver ou transmitir água. São constituídos por rochas duras, cristalinas, metamórficas e vulcânicas, sem fraturamento ou alteração. A quantidade ou volume de água subterrânea que se pode dispor em uma determinada área, depende das características hidrogeológicas dos aqüíferos e da capacidade de infiltração ou recarga. Os principais tipos de aqüíferos, são denominados de: • Aqüíferos Livres: as águas neles contidas estão como se estivessem em um reservatório ao ar livre (submetidas, apenas, à pressão atmosférica); e, • Aqüíferos Confinados: as águas neles contidas se encontram entre camadas impermeáveis, sob pressão superior à atmosférica. Em função das características principais dos materiais geológicos que o compõe os aqüíferos e forma como as águas são armazenadas, podem-se destacar os tipos: Rochas Aqüíferos Descrição Granulares Compostos por materiais granulares (solos, rochas sedimentares, etc.), em que a água ocorre ocupando os espaços intergranulares. Sedimentares Cársticos Compostos por rochas duras ou materiais granulares, em que a água ocorre ocupando os espaços vazios formados pela dissolução do material original. Cristalinas Fraturados Compostos por rochas compactas, em que a água ocorre ocupando fissuras, fendas ou fraturas dessa rocha. Alguns parâmetros na Hidrogeologia, são de fundamental importância na caracterização dos aqüíferos. Dentre esses, pode-se citar a condutividade hidráulica e a transmissividade. A condutividade hidráulica ou coeficiente de permeabilidade (K), pode ser definido, como uma propriedade de um meio poroso combinada à do fluido escoando-se nesse meio saturado e que determina a relação, chamada lei de Darcy, entre a descarga específica e o gradiente hidráulico que a origina (ANA, 2001). O termo K, possui dimensão de uma Braga, A.C.O. 11 velocidade (m/s). Essa propriedade, considera as características do meio, incluindo: porosidade; tamanho, distribuição, forma e arranjo das partículas; e, as características do fluido que esta escoando (viscosidade e massa específica). A transmissividade (T) é um parâmetro importante nos estudos visando à captação de águas subterrâneas, permite avaliar, a capacidade de transmissão dessas águas, pelo meio geológico, através de toda sua espessura saturada. Pode ser determinada pelo produto da condutividade hidráulica da formação, por sua espessura: T = K . E (m2/s). Quanto ao movimento, as águas subterrâneas, de um modo geral, escoam lentamente no subsolo, com velocidade relativamente pequena devido ao atrito nas paredes dos capilares e dos poros. Numa areia a água movimenta-se com a velocidade de cerca de 1 m/dia; e nas argilas o movimento é praticamente nulo. Nas rochas muito fraturadas a velocidade pode ser muito rápida. As águas que circulam os meios naturais (considerada um fluido perfeito, com viscosidade nula e em fluxo permanente)  apresentam energia total (h) conforme a equação: (m) 2 V γ pzh 2 p a g ++= II-01 onde: h = carga de energia total em cada ponto do meio; z = carga de elevação – referência a um datum; v2/2g = carga de velocidade; p/γa = carga de pressão; v = velocidade de percolação intersticial; e, γa = peso específico da água. Como pode ser observado na Figura II-05, em cada ponto de um meio saturado (fluido em equilíbrio) existe uma pressão na água (aqüífero livre = pressão atmosférica, aqüífero confinado = p/γa). Poço Nível freático Nível piezométrico Plano de Referência - Datum A B confinadom ei o im pe rm eá ve l m eio perm eável saturado livre Bz BhAh Az a Ap γ Figura II-05 – Potencial hidráulico em meio saturado. Porém, nos fluxos em meios porosos, o termo que representa a carga de velocidade (v2/2g) é muito pequeno, podendo ser desprezado na equação II-01. Se os pontos A e B estão associados a um plano de referência (z) – nível do mar (cota), a carga de energia total ou nível piezométrico (h) corresponde ao potencial hidráulico, e é dado por: (m) γ pzh a A AA += II-02 (m) zh BB = II-03 Braga, A.C.O. 12 aqüíferos confinados aqüíferos livres As diferenças de potencial hidráulico (perda de carga) resultantes do gradiente hidráulico, são indispensáveis para o escoamento através de um meio poroso. Só existe movimento das águas subterrâneas quando ocorrem variações no potencial hidráulico (Figura II-06). O fluxo se dá dos pontos de maior para os de menor potencial hidráulico (não no sentido das menores pressões hidrostáticas). As águas podem escoar de zonas da baixa pressão para zonas de alta pressão – se a diferença do potencial hidráulico for favorável. Perda de Carga - hL h1h1 h2h2 L Gradiente Hidráulico fluxo       + γ −      + γ = 2 2 1 1 L z p z p h L h L hhi L21 = − = P1 P2 γ pzh a 1 11 += γ pzh a 2 22 += Braga, A.C.O. unesp Figura II-06 – Fluxo d’água subterrâneo. Portanto, em um determinado meio, conhecendo-se o nível piezométrico em vários pontos podem-se traçar mapas de isopotencial hidráulico, os quais são denominados de Mapas Piezométricos ou Mapas Potenciométricos. A confecção desses mapas permite estabelecer o padrão do fluxo subterrâneo, expressando, o comportamento geral do escoamento subterrâneo, evidenciado pelas redes de fluxo, que possibilitam a determinação do sentido e da direção do fluxo. Através desses mapas (Figura II-07), é possível determinar os limites de uma bacia hidrogeológica, os quais são as extremidades laterais de uma determinada área, a partir das quais os fluxos subterrâneos não mais se direcionam para o interior. Se ao longo destes eixos os fluxos são divergentes, ou seja, apresentam a mesma direção mas sentidos opostos, estes correspondem ao divisor de águas subterrâneas. divisor lim ite linhas de isovalor da cota do NA linhas de fluxo das águas subterrâneas 590 Figura II-07 – Mapa potenciométrico. Braga, A.C.O. 13 Esses mapas permitem ainda, definir os gradientes hidráulicos, onde os limites e divisores da bacia hidrogeológica são eixos, ao longo dos quais, as cargas hidráulicas são máximas, relativamente às áreas adjacentes, e se relacionam, normalmente, às áreas de recarga, ou seja, são porções do terreno onde ocorre a alimentação do aqüífero pela infiltração das águas de superfície. Áreas de menor carga hidráulica correspondem às áreas de descarga, para as quais convergem as linhas de fluxo. Estas áreas podem estar associadas aos elementos de drenagem superficial (rios, fontes, lagos, etc.), ou a elementos de drenagem artificial ou profunda dos maciços (drenos em obras civis, escavações subterrâneas, cavernas em calcário, etc.). Os mapas de fluxo das águas subterrâneas, são de extrema importância em estudos ambientais, envolvendo fases pré e pós-empreendimento, tais como locais com aterros, tanques de combustível, refinarias, etc., indicando zonas de concentração, direção e sentido de eventuais plumas de contaminação. Esses mapas auxiliam a locação de poços de monitoramento e/ou coleta do contaminante. Cabe ressaltar que, só tem sentido a confecção dos mapas potenciométricos, quando os aqüíferos são sedimentares – livres ou confinados, e não quando são fraturados. A Hidrogeologia tem como suas principais aplicações os estudos das características de solos e rochas, envolvendo o fluxo de fluidos em meios porosos, visando, principalmente, a captação de água subterrânea para as mais variadas finalidades. Uma de suas atuações importantes, hoje em dia, diz respeito aos estudos envolvendo a contaminação de solos, rochas e águas subterrâneas, onde contaminantes, resultantes de aterros, vazamentos de combustíveis, etc, tem degradado e comprometido suas qualidades. Portanto, nesse trabalho as aplicações dos métodos geoelétricos em estudos hidrogeológicos, deverão contemplar a: 1- Captação de água subterrânea: para abastecimento público, doméstico, industrial, agricultura, lazer, etc.; e, 2- Estudos ambientais: para diagnóstico e monitoramento de solos, rochas e águas subterrâneas frente a contaminantes. Uma outra atuação da Hidrogeologia que cabe ser destacada, envolve a execução de obras civis e mineiras, sistemas de culturas agrícolas, instalação de equipamentos públicos e privados, etc., onde , por exemplo, é necessário o rebaixamento do lençol freático para a execução das obras. Braga, A.C.O. 14 CAPÍTULO 3. PRINCIPAIS MÉTODOS GEOELÉTRICOS E TÉCNICAS DE CAMPO 3.1. CLASSIFICAÇÃO DOS MÉTODOS GEOELÉTRICOS Uma questão importante quando se discute, não só os métodos geoelétricos, mas a Geofísica como um todo, diz respeito à identificação de suas várias modalidades existentes. É comum, encontrar profissionais ligados a esta área, ou até mesmo, os que dela se utilizam como uma ferramenta de apoio, apresentarem certas confusões sobre as denominações das modalidades em uso. Os termos métodos, técnicas e arranjos, são utilizados algumas vezes de maneira inadequada, trazendo, principalmente ao usuário leigo sobre o assunto, dificuldades no entendimento da Geofísica como aplicação. Como citado anteriormente, os métodos geoelétricos aplicados possuem inúmeras modalidades de uso, contribuindo para aumentar essas confusões. Em várias oportunidades, pode-se comprovar na prática, essa situação, onde o usuário da Geofísica, solicitava determinada técnica de campo inadequada aos objetivos propostos, quando na realidade, estava-se pensando no método. Mesmo, alguns geofísicos experientes, quando solicitam a utilização do método da eletrorresistividade, por exemplo, estão “pensando”, no emprego da técnica da sondagem elétrica vertical, ou vice-versa. Como exemplo, pode-se citar Cetesb (1999), no Capítulo 4 na determinação de pluma inorgânica na água subterrânea (íons e sais dissolvidos), tem-se: ...Para a determinação desses contrastes de condutividade, o método eletromagnético indutivo é mais indicado que a eletrorresistividade, principalmente pela rapidez de execução do levantamento e pela precisão na determinação de variações laterais... Esta clara, na afirmação citada que os autores devem se referir às técnicas de campo e não aos métodos. Ressalta-se porém que, o método da eletrorresistividade, desenvolvido pela técnica do caminhamento elétrico – arranjo dipolo-dipolo, permitindo estudar uma faixa vertical e lateral em subsuperfície, é bem mais rápido e preciso que o levantamento eletromagnético, no qual, normalmente a profundidade de investigação é rasa. Algumas obras da literatura internacional, procuram apresentar uma classificação para os métodos geoelétricos, tentando normalizar estas denominações. Iakubovskii & Liajov (1980), apresentam uma classificação baseada em características, tais como: sistema de excitação e medição do campo elétrico (Tabela III-01). Braga, A.C.O. 15 Tabela III-01. Classificação dos métodos geoelétricos - Iakubovskii & Liajov (1980). A. Métodos de Campo Constante (freqüência 0) A-1. Método do campo natural A-2. Método da resistividade – caminhamento e sondagem elétrica A-3. Método de carga A-4. Método de linhas equipotenciais A-5. Método de relação de potenciais B. Métodos de Campo Variáveis de Baixa Freqüência e não estacionários (freqüência 10-2 a 104 Hz) B-1. Métodos do potencial induzido B-2. Método do campo magnetotelúrico (sondagem e caminhamento magnetotelúrico) B-3. Sondagem eletromagnética de freqüência B-4. Sondagem do campo em processo de formação (tempo do processo de formação 100 a 102 s) B-5. Métodos indutivos de baixa freqüência (variantes terrestre, aérea e de poço) B-6. Método dos processos transitórios (tempo do processo de formação 10-3 a 10-2 s) C. Métodos de Campo Variáveis - Freqüências Radiofônicas (105 a 107 Hz) C-1. Métodos de radiografia C-2. Caminhamento com ondas radiofônicas C-3. Método rádio comparativo Ainda segundo os autores referidos, em função da natureza dos campos eletromagnéticos investigados, se diferenciam os métodos de campo natural e métodos de campo artificial. O segundo grupo é mais numeroso, o que está relacionado com a diversidade dos métodos de excitação do campo. Em relação com a situação da fonte do campo e dos pontos de observação, se diferenciariam em: superficiais, profundos, marinhos e aéreos. Orellana (1972), apresenta uma classificação (Tabela III-02), também baseada no campo eletromagnético criado: natural ou artificial, acrescentando outro critério, relacionado à atribuição em subsuperfície, da informação obtida, ou seja, na vertical a partir de um ponto, variando com a profundidade ou, então, ao longo de um perfil na superfície do terreno com profundidades aproximadamente constantes (respectivamente, sondagens e caminhamentos). Este autor referido, também considera se o campo eletromagnético é constante (corrente contínua) ou varia com o tempo (métodos de campo variável). Tabela III-02. Classificação dos métodos geoelétricos – Orellana (1972). A. Métodos de Campo Natural A-1. Método do potencial espontâneo A-2. Método de correntes telúricas A-3. Método magneto-telúrico (sondagens e caminhamentos) A-4. Método AFMAG B-1. Métodos de Campo Constante B-1-1. Método das linhas equipotenciais e do corpo carregado (mise-a-la- masse) B-1-2. Sondagens Elétricas (simétricas, dipolares, etc.) B-1-3. Caminhamentos elétricos (várias modalidades) B-2. Métodos de Campo Variável B-2-1. Sondagens de freqüência B-2-2. Sondagens por estabelecimento de campo (transitórios) B-2-3. Caminhamentos eletromagnéticos (métodos de inclinação de campo, Turam, Slingram, etc.) B-2-4. Método “Radio-Kip” B-2-5. Método de radiografia hertziana B. Métodos de Campo Artificial B-3. Método da Polarização Induzida Braga, A.C.O. 16 Entretanto, essas classificações propostas ainda não são as mais adequadas, podendo apresentar certas confusões para o usuário leigo, misturando parâmetros físicos medidos com procedimentos de campo. Uma classificação proposta para os métodos geoelétricos, é baseada apenas em três critérios: métodos geoelétricos, técnicas de investigação e arranjos de desenvolvimento de campo. Essa classificação, procura revelar os métodos geoelétricos para qualquer tipo de usuário, tornando simples o entendimento de suas várias modalidades existentes, e conseqüentemente, seus empregos adequados em função dos objetivos e geologia a serem estudadas. Método nos leva a identificar as características dos diferentes materiais, pelas quais alcançamos determinado fim ou objetivos, pode-se considerar uma forma de se chegar à natureza de um determinado problema, quer seja para estudá-lo, quer seja para explicá-lo. Os diferentes materiais geológicos apresentam, determinadas propriedades físicas características, as quais definem os métodos geofísicos. Portanto, considera-se como método geoelétrico, aquele decorrente do parâmetro físico obtido, através de equipamentos apropriados. O método visa levar a uma caracterização e identificação dos diferentes materiais geológicos, procurando atingir os objetivos da pesquisa. O método geoelétrico, se faz acompanhar das técnicas de campo, que são o suporte prático de desenvolvimento, são os instrumentos que o auxiliam para que se possa chegar a um determinado resultado. Para se estudar as variações do(s) parâmetro(s) físico(s) obtido(s) dos materiais geológicos, tanto no campo como em laboratório, podem-se assumir três formas práticas de investigação: (a) investigações das variações do(s) parâmetro(s) físico(s) em profundidade, a partir de um ponto fixo na superfície do terreno (sondagens); (b) investigações laterais a partir de pontos não fixos na superfície do terreno, com uma ou mais profundidades constantes (caminhamentos); e, (c) investigações no interior de furos de sondagens mecânicas (perfilagens). Para o desenvolvimento das técnicas de campo, diferentes procedimentos de campo podem ser adotados, levando ao mesmo fim. Esses procedimentos referem-se à disposição dos acessórios (eletrodos) necessários para a execução das técnicas, e são denominados de arranjos de campo, os quais, apresentam uma grande variedade de opções. Esses critérios, na prática, revelam-se de fácil entendimento e utilização, tornando claro o tipo de levantamento geofísico empregado. Portanto, em função do exposto, apresenta-se uma proposição para a classificação dos métodos geoelétricos aplicados, a qual pode ser Braga, A.C.O. 17 definida conforme a Figura III-01. A Figura III-02, apresenta um detalhamento da classificação proposta. MÉTODO GEOELÉTRICO Tipo de investigação dos parâmetros físicos Parâmetro físico obtido (variável) Procedimento de desenvolvimento das técnicas TÉCNICA DE INVESTIGAÇÃO ARRANJO DE DESENVOLVIMENTO • caracteriza e identifica os materiais geológicos • suporte prático de auxílio, para se atingir os objetivos • disposição dos acessórios – eletrodos, para execução das técnicas Figura III-01 - Classificação dos métodos geoelétricos - geral. Eletrorresistividade Polarização Induzida Potencial Espontâneo Eletromagnético - Domínio do tempo Radar de Penetração no Solo Sondagem Elétrica Vertical - SEV Sondagem Elétrica Dipolar - SED Sondagem Eletro- magnética - TDEM Caminhamento Elétrico - CE Caminhamento Eletromagnético - CEM Schlumberger; Wenner. Axial; Equatorial; Azimutal. Dipolo-Dipolo; Polo- Dipolo; Polo-Polo; Gradiente; Schlumberger; Wenner. Perfilagem Elétrica - PERF Caminhamento Common Offset Common Mid Point - CMP Wide Angle Reflection and Refraction - WARR Resistividade (ρ) Cargabilidade (M) Potencial Natural (V) Permissividade Dielétrica (ε) So nd ag en s Paralelo; Perpendicular; Broadside; Endfire; Polarização cruzada. Vertical loop; Horizontal loop - Slingam; Turam. Eletromagnético - Domínio da freqüência Loop Central. Sondagem Eletro- magnética - SEM Resistividade (ρ) Condutividade (σ) MÉTODOS TÉCNICAS ARRANJOS (principais) Parâmetros físicos - Variáveis G al vâ ni co s In du tiv os Dipolo magnético e horizontal. Figura III-02 – Classificação dos métodos geoelétricos - detalhamento. 3.2. MÉTODO DA ELETRORRESISTIVIDADE Pertencente ao grupo dos métodos geoelétricos, a eletrorresistividade – ER, é um método geofísico cujo princípio está baseado na determinação da resistividade elétrica dos materiais que, juntamente com a constante dielétrica e a permeabilidade magnética, expressam fundamentalmente as propriedades eletromagnéticas dos solos e rochas. Os diferentes tipos de materiais existentes no ambiente geológico, apresentam como uma de suas propriedades fundamentais o parâmetro físico resistividade elétrica, o qual reflete algumas de suas características servindo para caracterizar seus estados, em termos de Braga, A.C.O. 18 alteração, fraturamento, saturação, etc., e até identificá-los litologicamente, sem necessidade de escavações físicas. Da Lei de Ohm∗, define-se que a relação entre a resistividade (ρ) e a resistência (R) de um condutor homogêneo, de forma cilíndrica ou prismática (Figura III-03), é dada pela equação: S L R ρ= (ohms) III-01 ACircuito I Cilindro condutor L SR Figura III-03 - Relação resistividade e resistência. onde, L é o comprimento e S a seção transversal do condutor. A magnitude ρ é um coeficiente que depende da natureza e do estado físico do corpo considerado e recebe o nome de resistividade. Deste modo pode-se definir a resistividade elétrica deste corpo como sendo: L S R=ρ (ohm.m) III-02 Portanto, a dimensão da resistividade é o produto de uma resistência elétrica por uma longitude; em função disto, a unidade de resistividade no sistema SI será ohm.m. De maneira simplista, a resistividade pode ser definida como sendo uma medida da dificuldade que a corrente elétrica encontra na sua passagem em um determinado material, e isto está ligado aos mecanismos pelos quais a corrente elétrica se propaga. Na Terra, ou qualquer corpo tri-dimensional, a corrente elétrica não flui por um único caminho, como no caso do condutor da Figura III-03. Considerando uma bateria conectada ao solo (Figura III-04), através de cabos e eletrodos, por dois pontos distantes um do outro, a Terra, que não é um isolante perfeito, conduz a corrente elétrica gerada pela bateria. Neste estágio, assume-se que a resistividade do solo é uniforme. A r linha de corrente linha de equipotencia l superfície do terreno Figura III-04 – Potencial no semi- espaço. Aplicando a Equação III-01 no semi-espaço, tem-se: r.2π r . 2π r . R 2 ρρ == , substituindo em V = R . I (Lei de Ohm), resulta em: r2 I V π ρ = III-03 Braga, A.C.O. 19 Portanto, considerando o subsolo com uma resistividade constante, pode-se determinar sua resistividade: I Vr 2π=ρ III-04 onde: V = potencial, I = corrente, ρ = resistividade, e r = distância entre o eletrodo de corrente e o ponto no qual o potencial é medido. Ao se conectar um cabo condutor de uma bateria a um eletrodo de corrente (Figura III- 05), pode-se medir o valor da intensidade de corrente – I; e, conectando um voltímetro a dois eletrodos, um localizado próximo ao de corrente e outro mais afastado (distância r), pode-se medir a diferença de potencial (∆V), entre estes dois locais. V A r linha de equipotencia l linha de corrente superfície do terreno Figura III-05 – Diferença de potencial no campo. Ocorre que na prática, este procedimento não é usual, devido a grande distância entre os dois eletrodos de corrente. Portanto, devem-se reduzir as distâncias entre os quatros eletrodos. Então, a configuração usual, consiste em se utilizar quatro eletrodos (AMNB), mantidos conforme a Figura III-06. A V Braga, A.C.O. unespA M N B O linha de corrente linha de equipotencial Figura III-06 – Configuração tetraeletródica usual de campo. Em geral, os arranjos de campo dos métodos geoelétricos principais, constam de quatro eletrodos cravados na superfície do terreno. Um par de eletrodos serve para introduzir a corrente elétrica no subsolo (AB), enquanto que, o outro par, é utilizado para medir a diferença de potencial que se estabelece entre eles (MN), como resultante da passagem desta corrente. ∗ Lei de Ohm: em um cilindro condutor, a corrente (I) é proporcional a voltagem (V) – V = R . I Braga, A.C.O. 20 A determinação do potencial resultante deste campo elétrico criado, pode ser demonstrado da seguinte maneira: conforme esquema apresentado na Figura III-06, a corrente elétrica de intensidade I é introduzida no subsolo por meio dos eletrodos A e B e o potencial V gerado, é medido por meio dos eletrodos denominados de M e N. Ao supor que o meio investigado é homogêneo e isotrópico e tomar a Equação III-03, tem-se que o potencial no eletrodo M e N, respectivamente, será dado por:       −= BM 1 AM 1 2 IVM π ρ III-05       −= BN 1 AN 1 2 IVN π ρ III-06 A diferença de potencial medida no equipamento para determinada posição dos eletrodos MN, será: ∆VMN = VM – VN, assim:       +−−=∆ BN 1 AN 1 BM 1 AM 1 2 IVMN π ρ III-07 Pode-se então, calcular o valor da resistividade ρ do meio investigado mediante as seguintes equações: I ∆VK.=ρ III-08 onde, 1 BN 1 AN 1 BM 1 AM 1.2K −       +−−π= III-09 Portanto, o uso do método da eletrorresistividade no campo, é baseado na capacidade do equipamento em introduzir uma corrente elétrica no subsolo a diferentes profundidades de investigação, e calcular as resistividades dos materiais geológicos a estas várias profundidades. Ao utilizar o mesmo arranjo de eletrodos para efetuar medições sobre um meio homogêneo (Figura III-07a), a diferença de potencial observada ∆V será diferente da registrada sobre um meio heterogêneo (Figura III-07b), pois o campo elétrico deverá sofrer modificações em função desta heterogeneidade dos materiais geológicos. Meio homogêneo Meio heterogêneo ρ1 ρ2 ρ1 Braga, A.C.O. unesp(a) (b) A M Braga, A.C.O. unesp N B A M N B Figura III-07 – Resistividade em meios homogêneos (a) e heterogêneos (b). Como na prática o subsolo não pode ser considerado um meio homogêneo, a quantia medida representa uma média ponderada de todas as resistividades verdadeiras em um volume Braga, A.C.O. 21 de material em subsuperfície relativamente grande. Portanto ao efetuar as medições pertinentes obtém-se uma resistividade aparente (ρa), a qual é uma variável que expressa os resultados das medições de alguns dos métodos geoelétricos, e é a que se toma como base para a interpretação final. As dimensões da resistividade aparente, em virtude de sua definição, são as mesmas que para a resistividade, e sua unidade será também ohm.m. Em solos e rochas os mecanismos pelos quais a corrente elétrica se propaga, são caracterizados pela sua condutividade σ, que numericamente pode ser expressa como o inverso da resistividade, portanto: 1 ρ σ = (siemens/m) III-10 Esses mecanismos de propagação das correntes elétricas podem ser do tipo condutividade eletrônica ou iônica. A classificação destes tipos de condutividade pode ser sintetizada da seguinte maneira: Condutividad e eletrônica metais e semicondutores: • deve-se ao transporte de elétrons na matriz da rocha, sendo a sua resistividade governada pelo modo de agregação dos minerais e o grau de impurezas. Condutividad e iônica eletrólitos sólidos (dielétricos) e eletrólitos líquidos: • deve-se ao deslocamento dos íons existentes nas águas contidas nos poros de uma massa de solo, sedimentos inconsolidados ou fissuras das rochas. Este tipo de mecanismo é o que interessa na Hidrogeologia. A resistividade das rochas que possuem condutividade iônica é função decrescente da quantidade de água, da natureza dos sais dissolvidos e da porosidade total comunicante∗. Praticamente, todas as rochas possuem poros em proporção maior ou menor, os quais podem estar ocupados, totais ou parcialmente, por eletrólitos sendo que, em conjunto, elas se comportam como condutores iônicos, de resistividades muito variáveis. Segundo Iakubovskii & Liajov (1980), uma rocha condutora de corrente elétrica pode ser considerada como sendo um agregado com estrutura de minerais sólidos, líquidos e gases, na qual sua resistividade é influenciada pelos seguintes fatores: 1) resistividade dos minerais que formam a parte sólida da rocha; 2) resistividade dos líquidos e gases que preenchem seus poros; 3) umidade e porosidade da rocha; 4) textura da rocha e a forma e distribuição de seus poros; 5) processos que ocorrem no contato dos líquidos contidos nos poros e a estrutura mineral, tais como: processo de adsorsão de íons na superfície do esqueleto mineral, diminuindo a resistividade total destas rochas. ∗ Segundo Orellana (1972), a água contida em poros isolados tem pouca importância. Braga, A.C.O. 22 Portanto, a resistividade das rochas, depende de vários fatores para que se possa atribuir um só valor para um determinado tipo litológico. Rochas de mesma natureza, podem apresentar suas resistividades influenciadas pelas condições locais de: conteúdo em água; condutividade da água; e, tamanho dos grãos, porosidade, metamorfismo, efeitos tectônicos, etc. Um mesmo tipo litológico pode apresentar, então, uma ampla gama de variação nos valores de resistividade. Como relata Sumner (1976), individualmente, os minerais são razoavelmente consistentes em suas características elétricas, mas num agregado, como ocorre na natureza, a variação total de suas resistividades é muito maior. A Figura III-08, apresenta as variações típicas, nos valores de resistividade para sedimentos não saturados e saturados, e rochas. 10 100 1000 10000 100000 20 30 50 200 300 500 2000 3000 5000 20000 30000 50000 R es is tiv id ad e (o hm .m ) Sedimentos Rochas ígneasmeta- mórficas basalto e/ou diabásio anidritacalcáriomargaarenitoargilitoarenosoareno- argiloso argilo- arenoso argilosonão saturado Figura III-08 – Faixas de variações nos valores de resistividade – solos/sedimentos e rochas. Para se efetuar uma correlação adequada com a geologia, em uma determinada área de estudo, é fundamental a localização geográfica e o entendimento da geologia local em termos estratigráficos. Entretanto, para a interpretação dos dados do método da eletrorresistividade, alguns critérios para efetuar a associação resistividade/litologia, podem ser observados e seguidos: 1. em uma área estudada, as margens de variação são bem mais reduzidas e em geral podem identificar as rochas em função das resistividades; Braga, A.C.O. 23 2. a partir de dados coletados previamente (SEV´s paramétricas, perfilagens elétricas, mapeamento geológico, perfis geológicos de poços confiáveis, etc.), o modelo final pode ser determinado. Como demonstrado por diversos autores, as resistividades das águas que saturam os materiais no subsolo, podem apresentar uma variação muito ampla, mas de baixos valores. Na maioria dos casos, estas soluções aquosas contêm diversos sais minerais dissolvidos, sendo um dos principais o cloreto de sódio (NaCl). A resistividade das águas é inversamente proporcional à concentração destes sais dissolvidos. A quantidade e classe, desses sais minerais, dependem da natureza das rochas nas quais as águas tenham percolado em seu fluxo superficial ou subterrâneo. Como a maioria das rochas existentes na natureza é constituída por minerais, tais como, o quartzo, os silicatos, a calcita, etc., os quais são considerados praticamente isolantes em termos de propagação da corrente elétrica, estas rochas seriam mal condutoras de eletricidade, sendo consideradas, portanto, no seu todo, praticamente isolantes. Em alguns casos, as rochas com quantidade apreciável de alguns minerais semicondutores, tais como, pirita, pirrotita, magnetita, etc., poderiam ser consideradas condutoras. Entretanto, praticamente todas as rochas possuem poros em quantidades variáveis, os quais podem estar preenchidos por eletrólitos. Estas rochas, comportam-se como condutoras iônicas, pois a corrente elétrica flui praticamente através do eletrólito de saturação, pois a estrutura mineral, como dito anteriormente, conduz mal a corrente elétrica. A relação entre a resistividade global das rochas e a do eletrólito que preenche seus poros, pode ser determinada através do coeficiente F - Fator de Formação, através de: F = ρr / ρa , onde, ρr é a resistividade média da rocha (matriz e poros incluídos) e ρa a resistividade da solução de saturação dos poros. O fator de formação é um coeficiente importante nos estudos da resistividade do subsolo, podendo determinar, a partir de levantamentos geofísicos por eletrorresistividade, uma estimativa bastante próxima do real, das porosidades de diferentes formações geológicas. Os trabalhos de Griffiths (1976), Kelly (1977a e 1977b), Niwas & Singhal (1981), Worthington (1976) e Orellana (1972), discutem a utilização da resistividade na determinação da porosidade e permeabilidade das rochas. Como se discutiu até agora, pode-se deduzir que as resistividades das rochas dependem, realmente, de inúmeros fatores e podem apresentar uma ampla gama de variação. Portanto, na interpretação dos dados de resistividades dos materiais no subsolo, obtidas a partir da superfície do terreno, é fundamental, tanto a experiência do intérprete como o conhecimento Braga, A.C.O. 24 geológico da área estudada, não podendo realizar esta associação (parâmetro físico- geológico) de forma puramente automática. As resistividades dos solos, quando saturados, seguem os padrões descritos anteriormente, identificando e caracterizando os diferentes tipos de materiais geológicos localizados em subsuperfície. Entretanto, quando os solos encontram-se secos, porção localizada acima do nível d'água, seus valores são considerados atípicos, apresentando uma ampla faixa de variação (por exemplo, 100 a 10.000 ohm.m) não identificando os materiais em subsuperfície em termos litológicos. As variações das resistividades, neste caso, refletem apenas as pequenas variações de saturação existentes. 3.3. MÉTODO DA POLARIZAÇÃO INDUZIDA O método da polarização induzida – IP, teve sua origem por volta de 1920, quando o pesquisador Conrad Schlumberger, ao realizar trabalhos geofísicos com os métodos geoelétricos próximos de jazimentos de sulfetos, observou que, quando a corrente elétrica introduzida no subsolo era interrompida, o campo elétrico criado não desaparecia bruscamente, mas sim de uma maneira lenta (Orellana, 1974). Esta polarização induzida ou residual, também denominada de sobretensão, não teve sua importância considerada por Schlumberger, talvez não acreditando em sua utilidade prática. Na obra de Sumner (1976), considerada uma das principais publicações referentes a esta metodologia geofísica, é citado, historicamente, como sendo Schlumberger, o primeiro que descreveu conclusivamente a "resposta IP". Em estudos hidrogeológicos, Börner et al (1996), procuraram estimar a permeabilidade hidráulica de um aqüífero, a partir da polarização induzida, citando que as propriedades elétricas e hidráulicas de um material geológico são governadas pela geometria do espaço- poro e pela relação das microestruturas do espaço poroso. Conforme observado por pesquisadores, desde o início do século passado, na teoria, a resposta da polarização induzida é uma quantidade, com dimensões, muito reduzida, sendo na prática medida tal como uma variação de voltagem em função do tempo ou freqüência, denominados, respectivamente, de IP-Domínio do Tempo (usado na presente pesquisa) e IP- Domínio da Freqüência. No IP - Domínio do tempo, ao se aplicar, por intermédio de eletrodos de corrente denominados convencionalmente de A e B, cravados na superfície do terreno, uma diferença de potencial ∆V primária ao solo, é provocada conseqüentemente uma polarização do mesmo. Braga, A.C.O. 25 Esta diferença de potencial primária (∆Vp) não se estabelece e nem se anula instantaneamente quando a corrente é emitida e cortada em pulsos sucessivos. Ela varia com o tempo na forma de uma curva ∆VIP = f(t). Esta curva, liga a assíntota ∆Vp em regime estacionário com a assíntota zero após o corte da corrente (Figura III-09). ∆Vp t0 t1 t0 t1 t2 t3 t4 t +∆Vp −∆Vp envio repouso envio repouso forma da onda da voltagem primária transmitida forma da onda da voltagem secundária ou curva de descarga IP ∆Vip (t) Vs (t0) M1 M2 M3 Figura III-09 - Curva de descarga IP- Domínio do Tempo. A amplitude de um valor ∆VIP (t) está diretamente ligada à maior ou menor capacidade que os terrenos têm de se polarizarem, constituindo-se, portanto, na base do método. Esta capacidade de polarização constitui a susceptibilidade IP dos materiais da terra. Analogamente, pode-se descrever o fenômeno da polarização induzida, como se o solo contivesse pequenos condensadores, que se carregariam durante a emissão de corrente, descarregando-se após o corte. A curva ∆VIP = f(t) poderia ser chamada então de curva de descarga IP. Os fenômenos físico-químicos que poderiam explicar a polarização induzida são muito complexos, sendo que a maior parte dos autores concordam em distinguir duas origens possíveis para a polarização induzida: a) Polarização Metálica ou Eletrônica: na superfície limite de um corpo ou partícula metálica submetido à uma corrente elétrica, têm-se uma passagem da condução iônica para a eletrônica, e vice-versa. Isto resulta no fato de que em duas superfícies opostas do corpo sejam produzidas concentrações de íons, os quais não cederam suas cargas ao corpo, ou seja, não tomaram elétrons do corpo nem cederam a ele. Ao se cortar essa corrente, a distribuição dos íons se modifica e volta a seu estado inicial levando, para isto, um certo tempo, durante o qual existe uma polarização no corpo, atribuída aos efeitos observados (Figura III-10). Figura III-10 - Sobretensão de uma partícula metálica submergida em um eletrólito (Orellana, 1974). +++++++++ ---------- - + + + + ++ + - - - - -- + + + + - - - - + + - + condução iônica condução eletrônica condução iônica sentido da corrente Braga, A.C.O. unesp Braga, A.C.O. 26 Este fenômeno pode ser utilizado, na prática, na prospecção de minerais metálicos condutores (condutibilidade eletrônica), os quais não precisam apresentar uma boa continuidade elétrica. O fenômeno IP é tão mais intenso quanto menor a continuidade elétrica entre os grãos minerais. As mineralizações finamente disseminadas em uma rocha fornecem respostas muito intensas e isto constitui a grande vantagem da polarização induzida com relação aos outros métodos geoelétricos, tais como, eletrorresistividade e eletromagnético. b) Polarização de Membrana: este fenômeno ocorre em rochas carentes de substâncias metálicas, e é devido a uma diferença de mobilidade entre os ânions e cátions, produzida pela presença de minerais de argila (Figura III-11). Figura III-11 - Polarização de membrana. (a) meio poroso antes da aplicação de um campo elétrico. (b) meio poroso após a aplicação de um campo elétrico (Ward, 1990). - - - -- - - - - - - -- - - - - - - - - - - - -+ + + + + + + + + + + + + ++ + ++ + + + + - - - -- - - - - - - -- - - - + + +- ++- + + + + + ++ - - - - -+ + + + + + + + + + +- + caminho do poro nuvem catiônica eletrólito com cargas normais partículas de argila com carga negativa zona de concentração de íons zona de deficiência de íons ânions bloqueados passagem de cátions (a) (b) Braga, A.C.O. unesp Tais minerais se carregam negativamente, atraindo uma "nuvem catiônica" que permite a passagem dos portadores positivos mas não dos negativos, exercendo o efeito de uma membrana. Assim, são produzidos gradientes de concentração, que levam um tempo a desaparecer depois de suprimida a tensão exterior, e que originam, portanto, uma sobretensão residual. Sumi (1965), relata que a polarização induzida em minerais e rochas não metálicas seria causada principalmente pelo potencial de membrana, que aparece, se no eletrólito, contido nos poros dos materiais, a corrente elétrica circula através de uma membrana semipermeável (minerais de argila existentes na natureza). Isto ocorreria devido ao fato de que esta membrana seria permeável somente para cátions. Segundo Sumi (op.cit.), os minerais polieletrolíticos reagiriam com os eletrólitos de tal maneira que a troca de íons na solução ocorreria entre eles mesmos. Minerais de argila possuiriam a propriedade de conservar certos ânions e cátions durante a troca, atuando portanto, como membranas semipermeáveis. Esta polarização da membrana atuaria também após o corte do campo elétrico aplicado, até que a concentração de equilíbrio fosse novamente obtida. Braga, A.C.O. 27 Vacquier et al. (1957), em seus estudos sobre a aplicabilidade da polarização induzida em aqüíferos, chegaram a algumas conclusões interessantes, quais sejam: (1) em arenitos ou aluviões saturados com água, a polarização induzida aparece quando as superfícies da areia ou cascalho são parcialmente revestidas com uma película de argila; (2) areia quartzosa pura, saturada com água, não mostra quase nenhum efeito IP; (3) a magnitude da polarização induzida depende da resistividade da solução, da quantidade e espécie de argila, e do cátion que satura a argila; e, (4) geralmente, a polarizabilidade diminui com a diminuição da resistividade, então camadas de argilas e águas salgadas dão pequenos efeitos IP. Para o entendimento das variações da resistividade e cargabilidade com a litologia dos materiais, pode-se utilizar o trabalho de Draskovits et al. (1990) - Figura III-12. Esses autores, após uma correlação geológica-geoelétrica, obtida através das técnicas de campo, da sondagem elétrica vertical e perfilagem elétrica IP-Resistividade, apresentaram as seguintes conclusões: (1) a resposta IP, em camadas com misturas de areias e argilas, é bem maior que a resposta em camadas argilosas puras; (2) argilas puras, apresentam baixa resistividade e baixa polarização; (3) camadas arenosas, apresentam alta resistividade e cargabilidade intermediária; e, (4) camadas siltosas, apresentam alta polarização e resistividade intermediária. 0 20 40 60 80 100 RESISTIVIDADE APARENTE (ohm.m) 0 2 4 6 8 10 C AR G AB IL ID AD E AP AR EN TE (% ) SILTES AREIAS FINAS AREIAS GROSSAS E CASCALHO ARGILAS Figura III-12 – Resistividade, cargabilidade e a litologia, (Draskovits et al., 1990). Existem na literatura, diversas proposições de parâmetros para expressar as observações da polarização induzida. No IP-Domínio do Tempo, a curva de descarga ∆VIP = f(t) é o objeto de estudo. Na Figura III-09, mostrada anteriormente, tem-se a forma da onda primária transmitida e a curva de descarga IP. A curva de descarga pode ser estudada em sua totalidade ou apenas amostrada em alguns intervalos de tempo. O parâmetro medido em IP (Tempo) é chamado de cargabilidade (M) e pode ser expressa em % ou mV/V (Equação III-11), ou ainda ms, dependendo do equipamento utilizado. Braga, A.C.O. 28 P IP ∆V 1000∆V M × = (mV/V) III-11 Como ocorre no método da eletrorresistividade, se as medidas da polarização induzida são efetuadas sobre um terreno cujo subsolo é homogêneo, qualquer das magnitudes definidas acima podem ser utilizadas como medida de sua polarização verdadeira. Na prática, como o meio pode ser considerado heterogêneo, o parâmetro resultante das medidas, no IP-Domínio do Tempo, é denominado de cargabilidade aparente (Ma). 3.4. TÉCNICAS DE CAMPO DOS MÉTODOS GEOELÉTRICOS Como apresentado no sub-item 3.1., as técnicas de ensaios geofísicos dos métodos geoelétricos, podem ser de três tipos principais: caminhamentos, perfilagens e sondagens. A diferença básica entre essas técnicas, está no procedimento de campo para se obter o parâmetro físico a ser estudado, ou seja, na disposição dos eletrodos na superfície do terreno ou interior de furos de sondagens e a maneira de desenvolvimento dos trabalhos para se obter os dados de campo, ligada aos objetivos da pesquisa e geologia da área. Esses três tipos de técnicas de prospecção pelos métodos geoelétricos amplamente utilizados, são ilustradas e definidos a seguir. A técnica do caminhamento elétrico – CE, aplica-se principalmente, em situações cujos objetivos das pesquisas visam determinar descontinuidades laterais dos materiais geológicos em subsuperfície, tais como: diques e "sills", contatos geológicos, fraturamentos e/ou falhamentos, corpos mineralizados, etc.. Investigação lateral A M N B Investigações laterais das variações de parâmetros geoelétricos, a uma ou mais profundidades fixas, efetuadas na superfície do terreno. Esta técnica pode ser empregada também em estudos ambientais, como determinar a posição do lençol freático e a direção do fluxo d’água subterrâneo (menor precisão que as SEV’s), e mapear a plumas de contaminação no subsolo. Braga, A.C.O. 29 A perfilagem elétrica – PERF, é uma técnica utilizada e desenvolvida no interior de furos de sondagens mecânicas. Seus objetivos principais são os de estudar as variações de parâmetros físicos in situ. É aplicada na hidrogeologia e na prospecção de petróleo, como por exemplo, na determinação de níveis arenosos/argilosos, permeabilidades, etc. Investigação “in situ” BB MM NN A Investigações laterais e em profundidade das variações de parâmetros geoelétricos, efetuadas no interior de furos de sondagens mecânicas. A sondagem elétrica - SE, é empregada em situações cujos objetivos sejam investigar em profundidade os diferentes tipos e situações geológicas, determinando suas espessuras e resistividades e/ou cargabilidades, a partir de um ponto fixo na superfície de terreno. A M N B Investigação em profundidade Investigações das variações de parâmetros geoelétricos com a profundidade, efetuadas na superfície do terreno a partir de um ponto fixo. Para se obter uma maior performance dessa técnica, as investigações devem ser efetuadas, preferencialmente, em terrenos compostos por camadas lateralmente homogêneas em relação ao parâmetro físico estudado, e limitadas por planos paralelos à superfície do terreno - meio estratificado. As sondagens elétricas podem ser simétricas ou dipolares. As simétricas são denominadas de sondagens elétricas verticais - SEV, enquanto que as dipolares, são denominadas de sondagens elétricas dipolares – SED (Orellana, 1972). Além de apresentar excelentes resultados, a SEV é uma das mais utilizadas no mundo inteiro, envolvendo estudos rasos aplicados à Geologia de Engenharia, Ambiental, Hidrogeologia, etc., como, pode ser utilizada também, para estudos profundos de cunho acadêmico ou aplicados à Geologia de Petróleo. Essas técnicas de investigação do subsolo, apresentam maneiras de disposição dos eletrodos na superfície do terreno - arranjos de campo - variando em função dos objetivos do trabalho e de situações gerais de campo, tais como, topografia, ruídos artificiais indesejáveis, urbanização, etc. 3.4.1. Sondagem Elétrica Vertical - SEV A técnica da sondagem elétrica consiste em uma sucessão de medidas de um parâmetro geoelétrico (resistividades e/ou cargabilidades aparentes), efetuadas, a partir da superfície do Braga, A.C.O. 30 terreno, mantendo-se uma separação crescente entre os eletrodos de emissão de corrente e recepção de potencial. Quando os eletrodos são alinhados na superfície do terreno de maneira simétrica, ou assimétrica com um eletrodo no “infinito”, e durante a sucessão de medidas, a direção do arranjo e o centro do dipolo de recepção de potencial permanecem fixos, tem-se a sondagem elétrica vertical. Existem dois tipos principais de arranjos de campo para o desenvolvimento da técnica da SEV: Schlumberger e Wenner (Figura III-13). Enquanto que o primeiro, é utilizado na maioria dos países europeus, principalmente, França e Rússia e no Brasil, o segundo tipo é utilizado mais no Canadá, Estados Unidos e Inglaterra. Braga, A.C.O. unesp (a) Schlumberger A M Braga, A.C.O. unesp N B A M N B a L L O a: fixo L: crescente O a a a (b) Wenner a: crescente MN ≤ AB/5 Figura III-13 - Arranjo de campo Schlumberger - SEV. Apesar das diferenças entre estes dois tipos de arranjo, serem pequenas, o Schlumberger pode ser considerado superior, tanto em praticidade como em qualidade dos resultados (Tabela III-03), e é o adotado na maioria dos trabalhos desenvolvidos em nosso país. Tabela III-03. Diferenças práticas entre os arranjos Schlumberger e Wenner. Schlumberger Wenner - Mais prático no campo, é necessário o deslocamento de apenas dois eletrodos (AB); - As leituras estão menos sujeitas às interferências produzidas por ruídos indesejáveis; e, - Menos susceptível a erros interpretativos em terrenos não homogêneos. - Menos prático no campo, é necessário o deslocamento dos quatro eletrodos (AMNB); - As leituras estão mais sujeitas às interferências produzidas por ruídos indesejáveis; - Mais susceptível a erros interpretativos devido a heterogeneidades laterais; e, - Ideal para medidas da resistividade e/ou resistência do solo para fins, por exemplo, de aterramento. Arranjo Schlumberger A idéia básica deste arranjo (Figura III-13/a), é fazer com que à distância a que separa os eletrodos M e N se mantenha fixa e tenda a zero em relação à distância crescente de L Braga, A.C.O. 31 (entre AO e OB). O modelo geoelétrico final obtido, através da interpretação dos dados, é atribuído ao ponto central do arranjo. As leituras, neste tipo de arranjo, estão menos sujeitas às variações laterais no parâmetro físico medido, irregularidades na superfície topográfica e ruídos produzidos por fontes artificiais. Com isto as leituras de campo apresentam maior precisão, resultando numa interpretação mais próxima da realidade e coerente com os princípios gerais que norteiam a técnica da SEV. Segundo Orellana (1972), o erro produzido por esse tipo de arranjo, que se reflete nos dados de campo, em função dos ajustes necessários nas equações gerais básicas, pode ser considerado insignificante, não se traduzindo em desvantagem. Nas medições de campo, pode-se adotar a norma sugerida pelo autor referido quanto à relação entre os eletrodos: MN ≤ AB/5; então, para MN = a e AB = 2L, demonstrou-se que para esta relação o erro nas leituras de campo seria de aproximadamente 4%. No desenvolvimento de uma SEV – arranjo Schlumberger, ao introduzir, no subsolo, a corrente elétrica (I) por meio dos eletrodos A e B, resulta que entre os eletrodos M e N mede- se a diferença de potencial (∆V) criada. As medidas obtidas são utilizadas para o cálculo da resistividade aparente, utilizando-se as equações: I ∆VK.a =ρ (ohm.m); III-12 ( ) MN AN.AM π.K = III-13 onde, K é um fator geométrico que depende do espaçamento AMNB utilizado. Durante o corte da corrente elétrica, o equipamento analisa e fornece o valor da cargabilidade aparente. Ao aumentar-se à distância entre os eletrodos de corrente AB, o volume total da subsuperfície incluída na medida também aumenta, permitindo alcançar camadas cada vez mais profundas. Os resultados sucessivos estarão, portanto, estritamente ligados com as variações da resistividade e/ou cargabilidade com a profundidade. A utilização de curvas logarítmicas, para representação e interpretação dos dados de campo, se dá por que, nestes tipos de curvas, as variações das estruturas geoelétricas representativas são realçadas, e, principalmente, reduzem os cálculos teóricos para o traçado das curvas-modelos, usadas na interpretação (Iakubovskii & Liajov, 1980; Kunetz, 1966; e, Orellana, 1972). Braga, A.C.O. 32 Os dados geoelétricos, assim obtidos, em cada SEV, são representados por meio de uma curva bilogarítmica em função dos espaçamentos adotados entre os eletrodos correspondentes - AB/2 (Figura III-14). As interpretações das curvas de campo das SEV’s, devem ser efetuadas considerando os fundamentos que regem a aplicação desta técnica, cuja utilização se dá em áreas nas quais a distribuição do parâmetro físico no subsolo corresponde, com razoável aproximação, ao modelo dos meios estratificados. 1 10 1002 4 6 8 20 40 60 80 Espaçamento AB/2 (m) 1 10 100 2 4 6 8 20 40 60 80 R es is tiv id ad e Ap ar en te (o hm .m ) Figura III-14 – Plotagem dos dados - SEV. A finalidade da interpretação de uma SEV é, portanto, (1) determinar a distribuição espacial dos parâmetros físicos no subsolo, partindo dos dados das curvas de campo observados na superfície do terreno, e (2) buscar o significado geológico de tais parâmetros. Ambas as etapas não são de fácil execução, sendo que a primeira se baseia em leis físico- matemáticas, e a segunda depende fundamentalmente de correlações entre os dados físicos e geológicos, envolvendo muito a experiência do intérprete. Os vários processos existentes na literatura para se cumprir a primeira etapa citada anteriormente, são denominados de processamento dos dados de campo, já que a "interpretação" inclui, também, a correlação entre os resultados de diferentes SEV’s e a associação com a geologia das camadas geoelétricas e suas estruturas. O modelo geoelétrico processado das SEV’s, pode ser obtido por softwares adequados para computadores, tais como: IX1D versões 2 e 3 (Interpex Limited-USA), IPI2Win versão 3 – Resistivity sounding interpretation (Moscow State University). Esses softwares, além de apresentarem maior rapidez no processamento, trouxeram uma maior precisão nos modelos geoelétricos finais. A Figura III-15, ilustra as etapas necessárias na interpretação de uma SEV, onde após a obtenção das curvas de campo e suavização dos dados, tem-se: Braga, A.C.O. 33 • etapa-1, análise da morfologia das curvas de campo, procurando identificar as camadas geoelétricas existentes, definindo um modelo de tipo de curvas. Esta etapa é efetuada analisando-se todas as SEV's em conjunto; • etapa-2, processamento dos dados das curvas, em função do modelo do item anterior, utilizando-se de curvas preexistentes e/ou programas computacionais, obtendo as resistividades/cargabilidades e espessuras reais das camadas geoelétricas; INTERPRETAÇÃO SEV Curvas de Campo 1. Análise Morfológica 3. Associação com a Geologia 2. Processamento dos Dados de Campo 4. Modelo Geoelétrico Inicial 5. Modelo Geoelétrico Final Figura III-15 – Etapas na interpretação - SEV. • etapa-3, associação com a geologia, envolvendo uma correlação dos modelos obtidos entre as SEV’s e a geologia local, estabelecendo um modelo geoelétrico inicial (etapa-4); se necessário, deve-se voltar a novo processamento dos dados de campo, procurando o melhor ajuste do modelo inicial com a geologia; e, finalmente, • etapa-5, estabelecimento do modelo geoelétrico final (Figura III-16). 10 1 20 30 40 50 60 2 3 4 5 6 7 8 9 P ro fu nd id ad e (m ) 1.5m 5.5m 22.0m 42.0m 400 650 3200 180 20 9.5 3.6 11.0 4.5 17.4 1 10 100 1000 2 4 6 8 20 40 60 80 200 400 600800 Espaçamento AB/2 (m) 1 10 100 1000 10000 2 4 6 8 20 40 60 80 200 400 600 800 2000 4000 6000 8000 ρ a (o hm .m ) e M a (m V/ V) res IP Curva de Campo Obs.: nível geoelétrico descrito em termos de predominância do material geológico. SEV - ER/IP Modelo Geoelétrico NA sedimentos arenosos aqüífero livre sedimentos superficiais não saturados sedimentos argilosos IP ER modelo geoelétrico Figura III-16 – Interpretação de uma SEV-ER/IP – modelo geoelétrico final. Braga, A.C.O. 34 A análise morfológica, constitui-se em uma das etapas mais importante da interpretação das SEV´s. É, nesta análise, que o intérprete define, de maneira qualitativa, o modelo geoelétrico da área estudada. Ela deve ser efetuada de maneira visual, com todas as SEV´s em conjunto, procurando identificar as camadas geoelétricas e seus comportamentos em termos espaciais ao longo da área estudada, considerando, sempre, a geologia local. Uma questão importante nas análises morfológicas das SEV’s, diz respeito às variações das resistividades em subsuperfície, correspondendo às distribuições verticais das resistividades e/ou cargabilidades dentro de um volume determinado do subsolo. Estas variações podem ser classificadas segundo seu número de camadas geoelétricas, isto é: de uma (difícil na prática), duas, três, quatro camadas, etc. Em função do número de camadas identificadas e das variações de resistividades, as colunas geoelétricas podem ser dos tipos: • duas camadas - a) ascendente: ρ1<ρ 2; b) descendente: ρ1>ρ2; • três camadas - a) K: ρ1<ρ2>ρ3; b) H: ρ1>ρ2<ρ3; c) A: ρ1<ρ2<ρ3; e, d) Q: ρ1>ρ2>ρ3; • quatro camadas - a) KH: ρ1<ρ2>ρ3<ρ4; b) QH: ρ1>ρ2>ρ3<ρ4; etc. As etapas anteriores, relacionadas à interpretação dos dados de uma SEV, são importantes de serem destacadas, pois a definição do modelo final não é um simples ajuste das curvas de campo com modelos teóricos, efetuados, principalmente, por meio de programas existentes para computadores, sem levar em consideração uma análise dos dados com a geologia da área. A interpretação puramente automática pode levar a erros graves na definição do modelo geoelétrico, resultando em uma descrença da técnica e até em prejuízos financeiros para os usuários. Na prática, já se comprovou inúmeros casos ocorridos em que, a interpretação efetuada de maneira inadequada, levou a resultados incompatíveis com a geologia da área; normalmente, atribuindo à ineficiência da técnica. Cabe destacar as metodologias de processamento dos dados de campo antes do advento dos softwares existentes hoje em dia. Essas metodologias, apesar de trabalhosas e menos precisas, são extremamente didáticas e devem ser utilizadas pelos geofísicos interpretes iniciantes. Nessa linha tem-se o método da superposição, adotado pelos geofísicos franceses da escola Schlumberger, o qual consiste basicamente na comparação da curva de campo com curvas teóricas de catálogos existentes, até encontrar uma que coincida perfeitamente com a de campo. Uma limitação desta metodologia diz respeito ao fato de que, apesar da utilização de escalas logarítmicas reduzirem os parâmetros da seção, a quantidade de casos possíveis leva à Braga, A.C.O. 35 necessidade de uma derivação deste método para outro denominado de método do ponto auxiliar (Koefoed, 1979a), entre os quais destaca-se o método de Ebert. Segundo o autor referido, basicamente, o método de Ebert consiste em reduzir artificialmente o número de camadas da curva de campo, substituindo as duas primeiras por uma só equivalente a elas e assim sucessivamente, o que permite aplicar o método da superposição com uma coleção de curvas teóricas de duas ou três camadas para seções geoelétricas de várias camadas. Zohdy (1965), apresenta uma relação importante entre o método do ponto auxiliar com os parâmetros de Dar Zarrouk, ilustrada graficamente, mostrando a utilidade destes parâmetros na interpretação das curvas de SEV. Considerações sobre a utilização desses métodos de interpretação e uma coleção de curvas teóricas podem ser encontradas nas obras de Orellana & Mooney (1966), Compagnie Générale de Géophysique (1963) e Rijkswaterstaat (1969). Entretanto, em qualquer método utilizado na interpretação das SEV’s, uma das dificuldades que o intérprete dos dados encontra, diz respeito à ambigüidade na obtenção do modelo final, uma vez que as curvas de campo podem admitir muitas soluções. Entre estas, o intérprete têm que escolher, dentro das margens de variações possíveis, aquele conjunto de soluções que tenham maior probabilidade de representar a seqüência geológica real da área. Nessa ambigüidade, dois efeitos são muito importantes e fundamentais na interpretação das SEV’s: (1) Supressão de Camadas: uma camada relativamente delgada, em relação à sua profundidade de ocorrência, cuja resistividade é intermediária entre às das camadas que a delimitam, pode influir muito pouco na curva de campo, tornando- se difícil sua visualização. 1 10 100 2 4 6 8 20 40 60 80 Espaçamento AB/2 (m) 100 1000 10000 200 400 600 800 2000 4000 6000 8000 R es is tiv id ad e Ap ar en te (o hm .m ) SEV-01 SEV-02 SEV-03 100 600 80 5000 SEV-03 SEV-02 100 600 75 5000 SEV-01 100 600 85 5000 camada de visualização difícil na curva de campo da SEV-01 Modelo Geoelétrico Braga, A.C.O. 36 (2) Equivalência: baseado no fato de que diferentes seções geoelétricas podem corresponder a curvas de campo iguais ou muito semelhantes entre si, resultantes das relações entre as espessuras e resistividades das camadas existentes. 1 10 100 2 4 6 8 20 40 60 80 Espaçamento AB/2 (m) 10 100 1000 20 40 60 80 200 400 600 800 R es is tiv id ad e Ap ar en te (o hm .m ) ρ1 = 100 E1 = 1,9 ρ2 = 10 E2 = 7,8 ρ3 = 9.000 ρ1 = 97 E1 = 2,2 ρ2 = 4 E2 = 2,4 ρ3 = 11.000 Modelo 1 Modelo 2 Koefoed (1979a), Kunetz (1966), Queiroz & Rijo (1995), Orellana (1972) e Souza & Rijo (1995), discutem de forma detalhada esses efeitos mencionados, mostrando suas conseqüências teóricas e práticas. Rigoti & Crossley (1987), apresentam um estudo procurando reduzir essa ambigüidade na interpretação geofísica usando vários parâmetros simultâneos na interpretação, tais como resistividade-DC, cargabilidade domínio-tempo e dados magnetotelúricos. Cabe destacar, que ao utilizar os dados de resistividade e cargabilidade em conjunto, têm-se enormes vantagens sobre apenas a resistividade, pois no subsolo, podem ocorrer camadas com respostas "IP" que não necessariamente correspondam a camadas de resistividade, podendo ser identificadas. Entretanto, para reduzir as ambigüidades, são fundamentais, a qualidade dos dados de campo, o conhecimento geológico da área estudada, a familiaridade do intérprete com os princípios teóricos básicos do método e técnica utilizados, bem como sua experiência. Deve- se ressaltar que, em ensaios geofísicos pela técnica da sondagem elétrica vertical, é importante, tanto na interpretação dos dados obtidos, como na redução das ambigüidades do modelo geoelétrico final, a execução de algumas SEV's de calibração, tal como ensaios executados junto a furos de sondagens mecânicas que contenham descrições geológicas confiáveis, visando obter uma perfeita modelagem dos dados de campo com os dados geológicos. Cabe ressaltar ainda que, o modelo geoelétrico final reflete variações do parâmetro físico obtido com a profundidade, a partir de investigações efetuadas na superfície do terreno, de forma indireta, estando sujeito a imprecisões de acordo com a teoria da Braga, A.C.O. 37 metodologia geofísica desenvolvida. Segundo Orellana (1972), o erro do modelo final, em condições normais de trabalho, pode ser tomado como 10%. Como referência, podem-se destacar alguns trabalhos pioneiros que discutem os métodos interpretativos de uma SEV e suas ambigüidades, quais sejam: Bhattacharya & Patra (1968), Kunetz & Rocroi (1970), Mooney & Wetzel (1956), Oldenburg & Li (1994), Seara & Conaway (1980) e Zohdy (1968 e 1974). As SEV’s – ER/Schlumberger, apresentam como vantagens principais, a característica de permitir um recobrimento de extensas áreas, de maneira rápida, precisão satisfatória, custos relativamente reduzidos e de efetuar investigações rasas até profundas, a partir da superfície do terreno, sem alterar as condições e estados naturais dos materiais em superfície e subsuperfície, o que pode ocorrer com as perfurações de poços tubulares. Em relação a outros métodos geofísicos, outra vantagem da SEV, diz respeito a sua pouca sensibilidade a “ruídos” provocados, por exemplo, por instalações elétricas, cabos de alta tensão, etc., pois a gama de leitura dos potenciais primários gerados, normalmente são superiores a esses ruídos. Ressaltam-se, principalmente, trabalhos efetuados no interior de refinarias de combustíveis, onde o elevado nível de “ruídos”, inviabiliza a maioria dos métodos/técnica geofísicos; sendo a SEV-ER, perfeitamente capaz de ser executada. O que já não ocorre com o método da polarização induzida. Outros métodos/técnicas geofísicos podem apresentar limitações nas profundidades de investigação. Tais limitações práticas podem ser do tipo: camadas resistivas (refrator) – sísmica de refração ou camadas muito condutivas – GPR; as quais podem limitar as investigações dessas metodologias. Isso já não ocorre na SEV-ER, onde, independentemente da seqüência estratigráfica, pode alcançar grandes profundidades. Cabe ressaltar ainda, que normalmente os custos dos equipamentos geofísicos de eletrorresistividade - eletrorresistivímetros, são considerados os mais baixos no mercado, possibilitando mais facilmente suas aquisições. Como limitações impostas a essa metodologia, podem-se destacar os efeitos produzidos nos dados de campo por situações, tais como: presença de tubulações; cabos de alta tensão; vazios no solo resultante de formigueiros, cupins ou erosões internas; fugas de corrente no circuito AB; etc.; os quais podem ser significativos se localizados próximos dos eletrodos de potenciais MN. Outra limitação prática das SEV’s, diz respeito aos espaços disponíveis para o desenvolvimento do arranjo AB, onde, dependendo dos locais de ensaios, não se permite atingir um espaçamento necessário conforme os objetivos programados. Braga, A.C.O. 38 Na etapa de processamento dos dados, podem-se destacar, principalmente, os fenômenos da ambigüidade (destacados anteriormente) e a precisão e qualidade dos softwares utilizados. A disponibilidade de dados geológicos dos locais estudados, são fatores de extrema importância. Entretanto, as limitações citadas podem ser minimizadas e/ou eliminadas desde de que todos os cuidados recomendados na execução das SEV’s sejam observados e seguidos com rigor. 3.4.2. Caminhamento Elétrico - CE A técnica do caminhamento elétrico (CE) se baseia na análise e interpretação de um parâmetro geoelétrico (resistividade e/ou cargabilidade), obtido a partir de medidas efetuadas na superfície do terreno, investigando, ao longo de uma seção, sua variação na horizontal, a uma ou mais profundidades determinadas. Os resultados obtidos se relacionam entre si através de mapas (a uma ou mais profundidades determinadas), ou de seções (com várias profundidades de investigação - vários níveis de investigação). No desenvolvimento desta técnica, existem vários tipos de arranjo possíveis de serem utilizados, tais como: dipolo-dipolo, polo-dipolo, gradiente, Schlumberger, Wenner, etc.. Na presente pesquisa, discute-se o arranjo dipolo-dipolo. Arranjo Dipolo-Dipolo No desenvolvimento desse arranjo de campo, podem-se utilizar simultaneamente vários dipolos de recepção (MN) dispostos ao longo da linha a ser levantada (Figura III-17). Cada dipolo MN corresponde a um nível de investigação, podendo, dependendo do caráter do trabalho, estudar as variações horizontais de um parâmetro geoelétrico ao longo de um perfil com um ou mais dipolos, atingindo várias profundidades de investigações. Nesse tipo de arranjo a profundidade teórica atingida em cada nível investigado, é tomada, segundo alguns autores, como sendo Z = R/2 (metros), onde R é a distância entre os centros dos dipolos considerados (AB e MN). Entretanto, na prática, essa relação é mais real se for tomada como sendo aproximadamente R/4. Braga, A.C.O. 39 45 o45 o 45 o45 o) ( n1 n2 n3 n4 n5 V V V V V M1 N1 M2 N2 M3 N3 M4 N4 M5 N5A B Braga, A.C.O. unesp Sentido do caminhamento Z = R / 2 Linhas de corrente Linhas de equipotencial x xnx R A ● ● ● ● ● x = espaçamento dos dipolos R = espaçamento entre os centros dos dipolos considerados n = níveis teóricos de investigação Z = profundidade teórica investigada Figura III-17 – Arranjo de campo Dipolo-Dipolo - CE. O ensaio é desenvolvido ao longo de perfis previamente estaqueados, com espaçamento (x) constante, em função das profundidades de investigações requeridas, pois tanto o espaçamento entre os dipolos como os números de dipolos utilizados regulam as profundidades de investigações atingidas. Após a disposição do arranjo no terreno, e obterem- se as leituras pertinentes, todo o arranjo é deslocado para a estaca seguinte e efetuadas as leituras correspondentes, continuando este procedimento até final do perfil a ser levantado. O sistema de plotagem dos parâmetros geoelétricos obtidos, é efetuado considerando como ponto de atribuição das leituras, uma projeção de 45o a partir dos centros dos dipolos AB e MN, até atingir-se o ponto médio entre os centros destes dipolos. Após a plotagem de todos os parâmetros geoelétricos obtidos em um perfil levantado, tem-se uma pseudo-seção de resistividade ou cargabilidade aparente. No método da eletrorresistividade, o parâmetro obtido – resistividade aparente - é determinado a partir da Equação III-08, onde, o coeficiente geométrico K, nesse caso, é dado por: 2n 1 1n 2 n 1 1G com ,G x . 2K + + + − == π III-14 sendo, portanto: K = fator geométrico que depende da disposição dos eletrodos ABMN na superfície do terreno, x = espaçamento dos dipolos AB e MN adotado e n = nível de investigação correspondente. Como na SEV, durante o corte da corrente elétrica, o equipamento analisa e fornece o valor da cargabilidade aparente – método da polarização induzida. A interpretação desses dados pode ser efetuada tanto em perfis como em mapas, sendo entretanto, mais usual, efetuar-se primeiramente uma interpretação dos perfis individualmente e posteriormente em conjunto podendo, representar e ilustrar os resultados dessa interpretação Braga, A.C.O. 40 através de mapas de isovalores. A Figura III-18, ilustra as etapas necessárias na interpretação de um CE, onde após a obtenção dos dados de campo e plotagem das pseudo-seções, tem-se: • etapa-1, análise qualitativa das variações do parâmetro físico obtido, considerando-se o sistema de plotagem de 45o graus e a posição dos dipolos – podendo-se definir o modelo qualitativo final; • etapa-2, processamento dos dados, através de programas computacionais, obtendo as resistividades e/ou cargabilidades e espessuras reais das camadas geoelétricas – 2D; INTERPRETAÇÃO CE Pseudo-Seções 1. Análise Qualitativa 3. Associação com a Geologia 2. Proces