UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA AVALIAÇÃO ANATÔMICA E TOMOGRÁFICA DAS ESTRUTURAS ABDOMINAIS DO Alouatta guariba clamitans (BUGIO-RUIVO – CABRERA, 1940) ROBERTA VALERIANO DOS SANTOS Botucatu – SP 2016 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA AVALIAÇÃO ANATÔMICA E TOMOGRÁFICA DAS ESTRUTURAS ABDOMINAIS DO Alouatta guariba clamitans (BUGIO-RUIVO – CABRERA, 1940) ROBERTA VALERIANO DOS SANTOS Tese apresentada junto ao Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia Animal para obtenção do título de Doutor. Orientador: Prof. Dr. Luiz Carlos Vulcano ii Nome do Autor: Roberta Valeriano dos Santos Título: AVALIAÇÃO ANATÔMICA E TOMOGRÁFICA DAS ESTRUTURAS ABDOMINAIS DO Alouatta guariba clamitans (BUGIO-RUIVO – CABRERA, 1940) COMISSÃO EXAMINADORA Prof. Dr. Luiz Carlos Vulcano Presidente e Orientador Departamento de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária Faculdade de Medicina Veterinária e Zooctenia – UNESP - Botucatu Prof. Dra. Sheila Canevese Rahal Membro Departamento de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – UNESP – Botucatu Prof. Dr. Carlos Roberto Teixeira Membro Departamento de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – UNESP – Botucatu Prof. Dr. Moacir Carretta Junior Membro Departamento de Medicina Veterinária Universidade de Vila Velha. Prof. Dra. Zara Bortolini Membro DEVET – Medicina Veterinária UNICENTRO - Guarapuava-PR. iii DEDICATÓRIA Dedico este trabalho à Deus, aos meus pais, Bráulio Roberto dos Santos e Carmem Lúcia Valeriano, e ao meu amado Felipe Carvalho Evangelista, pelo apoio, confiança, incentivo e amor incondicional. iv AGRADECIMENTOS A DEUS por sempre me mostrar o caminho e estar sempre ao meu lado nos momentos mais difíceis. À minha mãe Carmem Lúcia Valeriano, meu pai Bráulio Roberto dos Santos e meu irmão Paulo Vitor Valeriano dos Santos por todo o apoio dado durante esses anos, por compreender e aceitar os anos de distância, pela confiança, incentivo, por ajudarem na minha formação profissional, por me incentivar sempre adiante no caminho. Ao meu amor, Felipe Carvalho Evangelista, pelo carinho, amor, companheirismo, cumplicidade e todas as qualidades que um grande companheiro de vida deve ter. Você mudou minha vida e foi fundamental para todas nossas vitórias. Aos meus cães (filhos): Maria Eduarda, Brigite, Tico e Teco que me fazem sorrir e amar de uma forma única e privilegiada. A toda minha família (avós, tios e tias, primos e primas) que sempre me deram apoio, amor e compreensão. Ao meu orientador Professor Dr. Luiz Carlos Vulcano, pela oportunidade e confiança; por ter me dado à oportunidade de crescer profissionalmente, pelas palavras de carinho e por acreditar em mim. Ao Prof. Dr. Carlos Roberto Teixeira, pelos ensinamentos, churrascos, disponibilidade e sempre disposto a ajudar com muita paciência. A Zara Bortolini pela grande amizade e infinitas contribuições para este projeto, sem dúvida, você foi essencial para que eu pudesse desenvolver essa linda e ilustrada tese. Ao Ramiro Neves que compartilhou as atividades de pesquisa junto comigo, e me salvou por diversas vezes, o meu muito obrigado. Ao Professor Moacir Carretta Junior pelo auxílio anatômico imprescindível para realização desta tese. A todos os residentes e funcionários do CEMPAS, pelos ensinamentos, confiança e por toda ajuda. v Ao Setor de Diagnóstico por Imagem, professores, residentes e funcionários pelas contribuições nos experimentos e por dividir o conhecimento Ao serviço de fotografia da UNESP, Silvio Manuel, Silvio Júnior e Daniel Oliveira por ter tido paciência, disponibilidade, atenção e fazerem fotos maravilhosas. A todos os Professores, residentes e funcionários do Hospital Veterinário da FMVZ/UNESP-Botucatu, pela disposição em ajudar. Aos médicos veterinários responsáveis pelo Parque Zoológico Municipal Quinzinho de Barros, Sorocaba-SP e os responsáveis pelo Centro de Pesquisas Biológicas de Indail (CEPESB) por cederem os materiais biológicos utilizados no experimento e por sempre serem prestativos quando precisamos. Ao funcionário Mauri Raul, por ajudar com as peças anatômicas, sempre disponível e atencioso, muito obrigada pelas lindas peças. Ao Hospital Veterinário Cães e Gatos, pelo apoio logístico e disponibilidade de equipamentos. Em especial ao médico veterinário Francisco Junior e Dra. Camila Trevisan. Ao Parque Ecológico do Tietê e ao Zoológico Municipal de São Bernardo do Campo, pela parceria no trabalho e pelo lindo trabalho realizado. As minhas amigas do coração, Lívia Pasini de Souza, Natália Ferreira Sesoko, Zara Bortolini, Natalie Bertelis Merline e Ana Paula Bernardineli, por tornarem minha vida muito mais feliz, pelas inúmeras risadas, festas e aventuras e por fazer o tempo em Botucatu mais fácil. Aos meus amigos Murilo Charlier, André Cardoso, Emanuelle Sabino, Leonardo Kairalla, Luiz H. Mattos, Gabriel Monteiro, entre outros pela amizade, companheirismo e por diversas risadas. À Universidade Estadual Paulista, pela oportunidade de realização do doutorado. A todos os demais amigos e colegas, que direta ou indiretamente colaboraram para a realização e finalização de mais uma etapa em minha vida. À Capes pela bolsa de doutorado concedida, durante 6 meses do meu doutorado. Em especial, agradeço ao Dr. Marcos Vinicius Tranquilim (in Memoria) que tanto se dedicou ao trabalho com os Bugios. vi SUMÁRIO Página 1. CAPÍTULO 1 ....................................................................................................... 3 1.1 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVAS .............................................................................................................. 3 1.2 REVISÃO DA LITERATURA ........................................................................................................................... 5 1.2.1 Alouatta guariba clamitans ...................................................................... 5 1.2.2. Tomografia computadorizada ................................................................ 9 1.3 REFERÊNCIAS (NORMAS ABNT 6023) ........................................................................................... 11 2. CAPITULO 2 ..................................................................................................... 19 2.1 TRABALHO CIENTIFICO 1 .............................................................................................................. 19 3. CAPITULO 3 ..................................................................................................... 40 3.1 TRABALHO CIENTIFICO 2 .............................................................................................................. 40 4. ANEXOS ........................................................................................................... 76 4.1.TABELAS.......................................................................................................................................................... 76 TABELA 1 - Distribuição dos Alouatta guariba clamitans utilizados para a pesquisa segundo a faixa etária, sexo, origem e causa do óbito. .................. 76 TABELA 2 - Distribuição e identificação dos espécimes de Alouatta guariba clamitans, conforme numeração, idade, sexo, peso e o local de procedência. ....................................................................................................................... 76 4.2. FIGURAS ......................................................................................................................................................... 77 FIGURA 1 – Espécime de Alouatta guariba clamitans utilizando máscara de anestesia inalatória na sala de preparação anestésica, antes de ser encaminhado para o exame de tomografia computadorizada. ...................... 77 FIGURA 2 – Monitoramento anestésico de um exemplar de Alouatta guariba clamitans na mesa do tomógrafo 16 TSX-031A multislice Toshiba. .............. 77 FIGURA 3 - Espécime de Alouatta guariba clamitans posicionado em decúbito ventral para realização do exame de tomografia computadorizada. .............. 78 4.3. LISTA DE ABREVIAÇÕES E SÍMBOLOS .............................................................................................. 78 1 SANTOS, R.V. Avaliação anatômica e tomográfica das estruturas abdominais do Alouatta guariba clamitans (Bugio-Ruivo – Cabrera 1940). Botucatu, 2015. 79p. Tese (Doutorado) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Campus de Botucatu, Universidade Estadual Paulista. RESUMO O Alouatta guariba clamitans, também conhecido como Bugio Ruivo, é um primata do novo mundo com ampla distribuição na América do Sul. No Brasil, a espécie encontra-se em extinção em alguns Estados. No presente estudo foi utilizado um espécime macho de Alouatta guariba clamitans para dissecção anatômica, dois espécimes machos para confecção de pranchas anatômicas e 16 espécimes hígidos, 8 fêmeas e 8 machos, para realização de exames de tomografia computadorizada abdominal. Foi realizada a descrição anatômica e tomográfica das principais estruturas abdominais da espécie. Os bugios possuem o trato digestório ocupando a maior parte da cavidade abdominal, com ceco e cólon bastante desenvolvidos. As estruturas possuem grande mobilidade e deslocam de acordo com a quantidade de conteúdo gasoso no estômago, jejuno, ceco e cólon. As glândulas adrenais são relativamente grandes e de fácil identificação. Os rins são retroperitoniais, unipiramidais e com grande mobilidade, principalmente o direito. As características observadas foram compatíveis com animais ceco-cólicos fermentativos, que utilizam parte do requerimento energético baseado na fermentação. Os segmentos intestinais foram facilmente identificados por suas características marcantes. A tomografia computadorizada foi eficiente para descrever a anatomia dos animais, porém é importante considerar a grande variação topográfica ao utilizar este método de imagem. Palavras-chaves: tomografia computadorizada, abdome, primata, anatomia. 2 SANTOS, R.V. Anatomical and tomography evaluation of abdominal anatomy in Alouatta guariba clamitans (Brown Howler Monkey – Cabrera, 1940). Botucatu, 2015. - 79p. Tese (Doutorado) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Campus de Botucatu, Universidade Estadual Paulista. ABSTRACT The Alouatta guariba clamitans or Brown Howler Monkey is a primate of the New World with ample distribution in the South America. In Brazil, the species is extinct in some States. In the present study was used one specimen for anatomical dissection, two for anatomical plates and 16 healthy specimens, 8 females and 8 males, for computed tomography abdominal exams. The major of abdominal structures were described for the species. The digestive tract of Howler monkey occupied the main part of the abdominal cavity, with a large cecum and colon. Structures have a great mobility and can move into the abdome acoording the quantity gas into the stomach, jejunum, cecum and colon. Adrenal glands are relatively large and easy to identify. The kidneys are retroperitoneal, unipyramidal and with great mobility, especially the right kidney. The characteristics were compatible with caecol-colic fermentation animals that use part of the energy requirements based on fermentation. Intestinal segments were easily identified by specific characteristics. Computed tomography was efficient to describe the anatomy of animals; however, it is important to consider a wide variation of abdominal topographic structures. Key words: computed tomography, abdomen, primate, anatomy. 3 1. CAPÍTULO 1 1.1 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVAS O estudo de primatas não humanos vem se destacando nas últimas décadas, visto a proximidade filogenética com humanos. A similaridade na susceptibilidade a agentes infecciosos, assim como as respostas fisiológicas e desenvolvimento biológico semelhante, faz desses animais de extrema importância científica (BERNACKY et al., 2001). A ordem dos primatas é a primeira na escala zoológica por ser a mais evoluída, sendo que praticamente todos os primatas não humanos são encontrados em áreas tropicais ou subtropicais, próximos à linha equatorial (KINDLOVITS e KINDLOVITS, 2009). O Brasil tem catalogado cerca de 118 espécies de primatas, das quais 30% são consideradas endêmicas, distribuídos em cinco famílias e 19 gêneros, com cerca de mais 10 novas espécies registradas desde 1995 (PLAGIA et al., 2012). Dessa forma, o Brasil é considerado o detentor da maior diversidade de primatas não humanos do mundo, sendo que somente na Floresta Atlântica ocorrem 24 espécies, sendo 17 endêmicas (MENDES et al., 2003; PLAGIA et al., 2012). A diversidade morfológica, como variedades de tamanhos e formas, assim como comportamento e ecologia dos primatas são refletidos pelas diferenças de habitat, dieta, hábitos locomotores e organização social (BICCA-MARQUES et al., 2006). No Brasil, o bugio-ruivo, primata do gênero Alouatta, apresenta inúmeras diferenças fisiológicas, anatômicas e comportamentais de outros gêneros de primatas e encontra-se em risco de extinção em alguns Estados brasileiros (PEREIRA et al., 2002). Como a área de distribuição dos animais coincide com a região mais populosa do país, Sul e Sudeste, a ampla distribuição original do Bugio-Ruivo foi reduzida por poucas populações remanescentes que se encontram restritas em fragmentos florestais isolados (SANTOS et al., 1987; CHIARELLO e GALETTI, 1994; CROCKETT, 1998). Associada a fragmentação de habitat, por ser uma 4 espécie susceptível a febre amarela, o surto que ocorreu entre 2008-2009 ocasionou grande número de óbito desses animais no Estado do Rio Grande do Sul, com casos também no Paraná e São Paulo, o que agravou a grande redução populacional da espécie (ICMBio, 2016). Atualmente, o bugio-ruivo está incluso na Lista Oficial das Espécies da Fauna Brasileira ameaçadas de extinção, emitida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), além do Livro Vermelho de Fauna Ameaçada no Estado de São Paulo (BRESSAN et al., 2009; SÃO PAULO, 2009). O Instituto Chico Mendes (ICMBio) considera a espécie atualmente como vulnerável em âmbito nacional, porém a nível estadual é considerada como ameaçada no Estado de São Paulo, 2014 (ICMbio, 2016). Apesar da extensa quantidade de informações disponíveis sobre os primatas na literatura, principalmente sobre as espécies utilizadas como modelos humanos, em geral primatas do Velho Mundo (Ásia e África), ainda há necessidade de estudos em primatas endêmicos ou raros, principalmente os do Novo Mundo (América) (ANDRADE e OLIVEIRA, 2002; NUNES e CATÃO-DIAS, 2006). Além disso, considerando a acelerada ocupação e a destruição dos ambientes naturais ocasionando a fragmentação de habitat, associadas a surtos enzoóticos e ao comércio ilegal, algumas espécies de primatas do novo mundo entraram em risco e outras já se encontram ameaçadas de extinção, o que justifica e fomenta a importância de estudos nas diversas áreas de conhecimento dessas espécies (COSTA e TRANQUILIM, 2008; ICMBio, 2016). Dentre as áreas de grande crescimento na medicina veterinária, a área de diagnóstico por imagem vem se destacando visto sua notável evolução, principalmente decorrente do desenvolvimento tecnológico e a implementação das modalidades de exames como a tomografia computadorizada e ressonância magnética, o que abriu novas possibilidades de diagnóstico veterinário e estudos anatômicos (JUNGHANS, 2001). Nas últimas décadas, estudos anatômicos de diversas espécies de primatas associados a utilização do diagnóstico por imagem tem sido realizados e descritos 5 na literatura (BORTOLINI, 2013; VALVERDE e CHRISTE, 2005, RILLING e SELIGMAN, 2002, RILLING e INSEL, 1999). Estes estudos, em diferentes espécies, proporcionam informações que se somam e sobrepõe, o que constituem uma fonte de consulta e conhecimento para a comunidade científica, assim como na rotina de atendimento destes animais (BORTOLINI, 2013). No Brasil, a inclusão da tomografia computadorizada e da ressonância magnética em grandes centros e instituições de ensino, permitiu a execução de estudos imaginológicos em animais selvagens, inclusive em primatas (TRANQUILIM, 2012; BORTOLINI, 2013). No entanto, ainda há um limitado número de estudos realizados em espécies de Alouatta guariba clamitans (bugio- ruivo), voltadas para as áreas do diagnóstico por imagem, os quais apresentam relevância para estudos clínicos e centros de pesquisas. Dessa forma, no presente estudo foi descrita a anatomia topográfica e morfologia macroscópica das estruturas abdominais, além de correlacionar a anatomia topográfica e imaginológica por meio da tomografia computadorizada abdominal em animais do gênero Alouatta guariba clamitans, com intuito de fornecer informações relevantes que sirvam de subsídio para o estudo, preservação e proteção da espécie. 1.2 REVISÃO DA LITERATURA 1.2.1 Alouatta guariba clamitans Na escala zoológica, a ordem primata é classificada como a mais evoluída do reino animal e esta dividida em duas subordens, Prosimi e Anthropoidea, sendo a Prosimi mais primitiva evolutivamente (KINDLOVITS e KINDLOVITS, 2009). A subordem Anthropoidea é subdivida em duas infra-ordens: a Catarrhini (Primatas do velho mundo) e a Platyrrhini (Primatas do novo mundo) (MENDES et al., 2003). A infra-ordem Platyrrhini apresenta características anatômicas próprias que os diferenciam dos primatas do velho mundo, como septo nasal largo, abertura nasal voltada para o lado, focinho curto, polegar não totalmente oponível, além de 6 alguns grupos possuírem cauda preênsil (ANDRADE e OLIVEIRA, 2002; VERONA e PISSINATTI, 2006; KINDLOVITS e KINDLOVITS, 2009) Atualmente, os primatas são classificados em cinco famílias, 20 gêneros e com mais de 152 espécies e 204 subespécies, sendo o Brasil o maior detentor de espécies de primatas não humanos do mundo (MENDES et al., 2003; RYLANDS et al., 2012). Dentre os gêneros existentes, os Alouatta (Lacépède, 1799) apresentam a mais ampla distribuição do território mundial, sendo que no território brasileiro ocorrem seis das nove espécies conhecidas deste gênero, sendo elas: Alouatta belzebul (Linaeus, 1766), Alouatta caraya (Humboldt, 1812), Alouatta guariba (Humboldt, 1812), Alouatta nigerrima (Lonnberg, 1941), Alouatta sara (Elliot, 1910) e Alouatta seniculus (Linaeus, 1766) (BICCA-MARQUES et al., 2006; ICMbio, 2016). Os Bugio-ruivos ou macacos roncadores são primatas do novo mundo pertencentes à família dos Atelídeos do gênero Alouatta que exibem características como a cauda preênsil e um modo de vida arbóreo, e apresentam ampla distribuição em áreas tropicais e subtropicais na América Central e do Sul, se estendendo do sul do México ao Sul do Brasil (CORTÉS-ORTIS et al, 2003; GREGORIN, 2006; VALLE et al., 2010). Os Bugio-ruivos podem ser classificados como da subespécie Alouatta guariba clamitans ou Alouatta fusca clamitans (ANDRADE e OLIVEIRA, 2002; POUGH et al., 2008), ou ainda como espécie Alouatta guariba, anteriormente denominada A.fusca (E. Geoffroy, 1812), dividida em duas subespécies Alouatta guariba guariba (Humboldt, 1812) e Alouatta guariba clamitans (Cabrera, 1940) (RYLANDS e BRANDON-JONES, 1998; GREGORIN, 2006). Embora ocorram algumas controvérsias na literatura quanto à nomenclatura utilizada para esta espécie, a taxonomia adotada na região Sul é Alouatta guariba clamitans (Cabrera, 1940) (ICMBio, 2016). Independente da nomenclatura, ambos são conhecidos popularmente como bugio-ruivos, guaribas ou guaribas-roncadores (BORTOLINI, 2013). 7 A diversidade morfológica, comportamental e ecológica dos primatas é refletida pelas diferenças de habitat, dieta, hábitos locomotores e organização social (MUHLE e BICCA-MARQUES, 2008). Os bugio-ruivos são animais facilmente reconhecidos em seu habitat pela locomoção quadrúpede relativamente lenta, corpo robusto, longa pelagem, vasta barba ruiva mais volumosa na mandíbula e nos lados da face e, principalmente, pelas altas vocalizações territorialistas (MIRANDA e PASSOS, 2005; RYLANDS et al., 2012). Além disso, o Alouatta guariba clamitans apresenta como característica própria o dimorfismo sexual ou dicromatismo sexual, fenômeno raro entre os primatas, em que os filhotes de ambos os sexos nascem com pelagem de coloração semelhante à das fêmeas adultas, porém os machos mudam de cor ao longo do seu desenvolvimento. As fêmeas adultas de Alouatta guariba são marrons e os machos adultos se tornam avermelhados ao longo do tempo, devido a liberação de um pigmento por glândulas apócrinas (BICCA-MARQUES et al., 2006; TRANQUILIM, 2012). Devido a extrema capacidade de adaptação para se alimentar de alimentos de baixa energia, tais como folhas, o estilo de vida dos bugios difere radicalmente dos demais Atelídeos (ROSENBERGER, 1992). De modo geral, a dieta dos bugio-ruivos em seu habitat natural consiste predominantemente de folhas, além de frutos, sementes e raramente, flores (MILTON, 1986; MIRANDA e PASSOS, 2005; LIESENFELD, 2008). Dentre os primatas neotropicais, os bugios são os mais folívoros e utilizam parte do tempo na ingestão de folhas e longos períodos no processo de digestão (MILTON, 1993; MIRANDA e PASSOS, 2004). No entanto, estudos recentes avaliando as estratégias alimentares do bugio ruivo demonstraram a grande capacidade da espécie em se adaptar as sazonalidades ambientais e a disponibilidade de alimentos, principalmente de frutos, e concluíram que estes animais apresentam características frugíforas quando possível e folívoros quando necessário, variando bastante o tipo de alimentação de acordo com o local e a fragmentação de seu habitat (CHAVES e BICCAS-MARQUES, 2016). 8 Os estudos realizados por Milton (1978, 1981, 1984 e 1993) também descrevem a alimentação folívora dos bugios associadas a longos períodos de trânsito gastrointestinal, principalmente decorrentes da fermentação que ocorre no ceco e cólon desses animais, associadas a ingestão de frutos que manteriam seus níveis energéticos adequados. A diversidade de habitat e a extensa ocupação dos animais do gênero Alouatta contrastam com sua relativa uniformidade de dieta e hábitos alimentares. Geralmente, as variações na dieta são associadas apenas a diferentes graus de hábitos folívoros e frugívoros, de acordo com a simpatria que apresentam com outras espécies dependendo da localização do habitat (MELORO et al., 2014). Comparado ás espécies que são predominantemente frugívoras, os bugios que apresentam características também folívoras, utilizam a locomoção quadrúpede para economizar energia e cobrirem uma área diária pequena na busca pelo alimento (ROSENBERGER, 1992; STRIER, 1992). Segundo Borries e colaboradores (2011), animais de hábitos folívoros possuem baixa taxa metabólica, o que reduz o risco de óbito em períodos de escassez de alimentos sazonais e aumenta a expectativa de sobrevivência. O aparelho digestório ocupa a maior parte do abdome dos bugios e as principais diferenças específicas são dependentes das características e hábitos alimentares de cada espécie (HILL, 1962). Geralmente apresentam microbiota própria que realizam fermentação dos alimentos, o estômago é simples, sem presença de saculações e possuem o ceco e o cólon com maior superfície de contato do que a maioria dos primatas folívoros (MILTON et al., 1980). Embora os bugio-ruivos tenham características predominantemente arbóreas, devido à vasta destruição das matas, estes animais têm sido encontrados no solo ou em locais inapropriados, o que é indicativo de alterações em seu habitat ou escassez de alimentos (COSTA e TRANQUILIM, 2008; VALLE et al., 2010). A maior exposição desses animais de características lentas aumentou a frequência de atendimentos em centros de medicina e emergências veterinárias destinadas a animais selvagens, decorrentes principalmente de atropelamentos, 9 eletrocussão, traumas ou capturas (BORTOLINI, 2013). Dessa forma, ocorreu um aumento da necessidade de maiores informações a respeito da anatomia, fisiologia, hábitos e alimentação desses animais, o que fomenta a importância de estudos na área. 1.2.2. Tomografia computadorizada Desde 1970, a tomografia computadorizada (TC) tem revolucionado não só a área do diagnóstico por imagem, assim como vários campos da medicina humana. Comparada ao exame de raio-x, a TC apresenta contraste superior entre os tecidos, além de fornecer imagens em diversos planos e janelas que aumentaram sensivelmente a capacidade diagnóstica (OHLERTH e SCRARF, 2007). A tomografia computadorizada (TC) é considerada um método excelente para a avaliação das cavidades abdominal e pélvica, podendo fornecer mais detalhes referentes às alterações de densidade que um exame de ultrassonografia ou de radiografia convencional (FERREIRA et al., 1998). As principais vantagens da TC na avaliação das estruturas abdominais esta relacionada à obtenção de imagens seccionais, eliminando a perda de percepção de profundidade, e tornando a localização das estruturas mais precisas (TIDWELL, 2002). Além disso, o exame tomográfico possui uma grande rapidez de aquisição das imagens, é uma técnica não invasiva e com baixa relação operador dependente (HORTON et al., 2002). Devido ao valor único da contribuição de pesquisas em primatas para a medicina humana, existe um aumento crescente dos estudos, inclusive na área de diagnóstico por imagem, principalmente em primatas do velho mundo, como o macaco Reshus (Maccaca mullata) e, mais atualmente, em primatas do novo mundo, como os bugios (AURICCHIO,1995; RILLING e INSEL, 1999; RILLING e SELIGMAN, 2002; VALVERDE e CHRISTE, 2005; TRANQUILIM, 2012; BORTOLINI, 2013). 10 Segundo Shively e Clarkson (2009), a utilização de primatas é fundamental, sendo o modelo experimental mais adequado em estudos do sistema reprodutivo, cardiovascular, musculoesqueléticos, desenvolvimento do sistema nervoso, comportamento social e cognitivo, assim como obesidade e diabetes. No entanto, com o avançar dos estudos, muitas informações foram obtidas acerca da fragilidade em que se encontra a maioria das espécies (MARQUES, 2005). Considerando que o estudo da anatomia de primatas representa, cada vez mais, uma grande fonte de conhecimento e que a preservação da espécie é dependente deste conhecimento, as descrições anatômicas diretas, assim a abordagem comparativa com técnicas diagnósticas, estão focadas, não apenas para obtenção de dados acerca da constituição morfológica específica, como também servem como subsídio para comparação entre espécies semelhantes e preservação das mesmas (MARQUES, 2005). Na medicina veterinária, a anatomia tomografica abdominal de animais de companhia, como de cães e gatos, tem sido descrita e comparadas a peças anatômicas desde 1993, com grande riqueza de detalhes (SMALLWOOD e GEORDE, 1993). Na realização de estudos anatômicos associados à abordagem diagnóstica de primatas, as modalidades de diagnóstico por imagem vêm se destacando pelo avanço tecnológico e precisão das informações obtidas, embora no Brasil, a TC seja uma técnica relativamente nova na rotina da medicina de animais silvestres (SPAULDING e LOOMIS, 1999; JUNGHANNS, 2001; REDROBE, 2001; TRANQUILIM, 2012). Para se considerar qualquer método de diagnóstico por imagem eficiente e com satisfatório custo beneficio, é imprescindível o conhecimento detalhado da apresentação normal de cada órgão, assim como das alterações espécies- específicas passíveis de serem abordadas (FERREIRA et al., 1998; SMALLWOOD e GEORGE, 1992, SMALLWOOD e GEORGE II, 1993). Diante da escassez nos estudos realizados no Alouatta guariba clamitans (Bugio Ruivo) (CHAVES e BICCA-MARQUES, 2016), o qual é de grande relevância para as clínicas e centros de pesquisas especializados, e da crescente 11 disponibilidade do recurso da TC, os estudos na área se justificam visto que representam um fator relevante para a preservação e proteção da espécie. 1.3 REFERÊNCIAS (Normas ABNT 6023) ANDRADE, A.; PINTO, S.C.; OLIVEIRA, R.S. Animais de Laboratório: criação e experimentação. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2002. 388 p. AURICCHIO, P. Primatas do Brasil. São Paulo: Terra Brasilis, 1995. 168p. BERNACKY, B.J.; GIBSON, S.V.; KEELING, M.E.; ABEE, C.R. In: FOX, J.G., ANDERSON, L.C. Laboratory Animal Medicine. 2º ed. San Diego: Academic Press, 2001, p.757-772. BICCA-MARQUES, J.C. et al. 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[Gross and topography anatomy of brown howler monkey (Alouatta guariba clamitans, Cabrera, 1940.] Morfologia macroscópica e topografia anatômica das estruturas abdominais do Bugio-Ruivo (Alouatta guariba clamitans, Cabrera, 1940). Pesquisa Veterinária Brasileira 00(0):00-00. Departamento de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Júnior”, campus de Botucatu, Distrito de Rubião Júnior, s/n, SP 18.618-970, Brazil. E-mail: robertavaleriano@yahoo.com.br The aim of this study was to describe the macroscopic, morphological and topographic anatomy of the abdominal structures of a mature male Brown Howler Monkey (Alouatta guariba clamitans) through of an anatomical dissection. The digestive system occupied the major area of the abdominal cavity, especially the large intestine. The individual presented a caeco-colic fermentation characteristic with caecum liked a large and individual bag-shaped receptacle with ilium and colic. The ascending and transverse colon lies in right mesogastric and epigastric, respectively. The descending colon has a markedly smaller diameter than the others and presence of different sizes of taenia and haustros. The liver was a markedly lobed, composed by a large left lobe, quadrate lobe, right medial lobe , right lateral lobe, papillary process of caudate lobe and caudate process of caudate lobe. The gallbladder had an elongated aspect. The kidneys were unipyramidal and located in the retroperitoneo. The anatomical comparison with other primates of the Alouatta gender, or even of the atelideos family, was hampered by the lack of direct and specific anatomical studies, especially for the southern brown howler species. The information obtained provide a primary data base that contribute to the acknowledge and preservation of the specie. INDEX TERMS: New world monkey, neotropical primate, anatomical dissection, abdominal. 1 Recebido em:......... Aceito para publicação em:.................. 2 Departamento de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Unesp, campus de Botucatu, Distrito de Rubião Júnior, s/n, SP, 18618-970, Brasil* Autor para correpondência: robertavaleriano@yahoo.com.br 3 Departamento de Diagnostico por Imagem, DEVET, Unicentro, Rua Simeão Camargo Varela De Sá, Nº 03, Bairro Cascavel Guarapuava – Pr, 85040-080 4 Departamento de Anatomia Veterinaria, UVV, Rua Prof. Telmo de Souza Torres, n. 105 apto 404, Bairro Praia da Costa, 29101-295 5 Departamento de Anestesiologia e Cirurgia Veterinária, FMVZ, Unesp, campus de Botucatu, Distrito de Rubião Júnior, s/n, SP, 18618-970, Brasil. 6 Departamento de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Unesp, campus de Botucatu, Distrito de Rubião Júnior, s/n, SP, 18618-970 mailto:robertavaleriano@yahoo.com.br 21 RESUMO. O objetivo da presente estudo foi descrever a anatomia morfológica macroscópica e topográfica das estruturas abdominais de um espécime, macho, adulto, de Bugio-Ruivo (Alouatta guariba clamitans) por meio de dissecção anatômica. O aparelho digestório ocupou a maior extensão da cavidade abdominal, principalmente o intestino grosso. O espécime apresentou características de animais com fermentação ceco-cólica, sendo o ceco uma grande câmara bem individualizada com comunicação com íleo e o cólon. O cólon ascendente e o transverso ocuparam toda região mesogástrica direita e epigástrica, respectivamente. O colón descendente apresentou diâmetro acentuadamente menor do que os demais com presença de taenia e haustros de diferentes tamanhos. O fígado apresentava-se marcadamente lobado, composto por um lobo esquerdo grande, lobo quadrado, lobo direito porção medial, lobo direito porção lateral, lobo caudado processo papilar e lobo caudado processo caudado. A vesícula biliar apresentava aspecto alongado. Os rins eram unipiramidais e localizados retroperitoniais. A comparação anatômica com outros primatas do gênero Alouatta, ou mesmo da família dos atelídeos foi dificultada pela escassez de estudos anatômicos diretos e específicos, principalmente para a espécie Alouatta guariba clamitans. As informações obtidas fornecem base de dados primários que auxiliam no maior entendimento da espécie e para preservação da mesma. TERMOS DE INDEXAÇÃO: Macaco do novo mundo, primata neotropical, dissecção abdominal, abdominal. INTRODUÇÃO O Bugio-Ruivo (Alouatta guariba clamitans), primata da família do Atelídeos e do gênero Alouatta, apresenta ampla distribuição em áreas tropicais e subtropicais na América Central e do Sul, se estendendo do sul do México ao Sul do Brasil (Cortés-Ortis et al. 2003, Gregorin 2006, Valle et al. 2010). No Brasil, a espécie encontra-se classificada como vulnerável, chegando a ser considerada como em risco de extinção em alguns Estados brasileiros, como o Estado de São Paulo (Pereira et al. 2002, ICMBio 2016). Como característica da espécie, o Bugio-Ruivo possui um modo de vida primariamente arbóreo e se alimenta principalmente de folhas, além de frutos, sementes e raramente, de flores, possuindo extrema capacidade de adaptação em se alimentar com alimentos de baixa energia (Rosenberger 1992, Miranda & Passos 2005, Liesenfeld 2008). Estudos recentes avaliando as estratégias alimentares do Bugio-Ruivo demonstraram a grande capacidade da espécie em se adaptar as sazonalidades ambientais e a disponibilidade de alimentos, principalmente de frutos, e concluíram que estes animais apresentam dietas variáveis de acordo com a localização do habitat, porém apresentando características frugíforas quando possível e folívoras quando necessário (Chaves & Biccas-Marques 2016). São animais facilmente reconhecidos pela locomoção quadrúpede relativamente lenta, corpo robusto, longa pelagem, vasta barba ruiva mais volumosa na mandíbula e nos lados da face e, principalmente, pelas altas vocalizações territorialistas (Miranda & Passos 2005, Rylands et al. 2012). Além disso, o Alouatta guariba clamitans possui como importante característica o dimorfismo sexual em que as fêmeas adultas são marrons e os machos possuem a pelagem avermelhada (Bicca-Marques et al. 2006). Atualmente, como a área de distribuição dos animais coincide com a região mais populosa do país, Sul e Sudeste, a ampla distribuição original do Bugio-Ruivo foi reduzida por algumas populações remanescentes localizadas em fragmentos florestais isolados, o 22 que aumentou a proximidade dos animais com centros urbanos e contribuiu para aumento do número de atendimento desses animais em centros especializados (Santos et al. 1987, Chiarello & Galetti 1994, Crockett 1998, Costa & Tranquilim 2008, Bortolini 2013). Considerando que o estudo da anatomia de primatas representa, cada vez mais, uma grande fonte de conhecimento e que a preservação da espécie é dependente deste conhecimento, as descrições anatômicas diretas fornecem dados importantes da constituição morfológica específica e oferece subsídio para comparação entre espécies semelhantes e preservação das mesmas (Marques 2005). As descrições anatômicas dos bugios disponíveis na literatura são em geral de cunho comparativo entre gêneros ou famílias, com descrições anatômicas mais generalistas para o gênero Alouatta ou família dos atelídeos, apresentando escassas descrições espécies específicas (Hill 1962, Ankel-Simons 2007). No entanto, diversos autores correlacionam às características morfológicas especificas a características, como dietas e hábitos alimentares, principalmente relacionadas ao sistema digestório, enfatizando a importância de estudos espécie-específica (Hill 1962, Chivers & Hladik 1984, Lambert 1998, Ankel-Simons 2007). Diante do exposto, o objetivo da presente dissecção anatômica foi descrever a anatomia morfológica macroscópica e topográfica das estruturas abdominais de um espécime, macho, adulto, da espécie Alouatta guariba clamitans para fornecer dados e imagens que possam servir de base para estudos nas diversas áreas de conhecimento para a espécie. MATERIAIS E MÉTODOS Este trabalho atendeu aos requisitos da Comissão de Ética no uso de animais da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da UNESP, campus Botucatu, recebendo o protocolo número 164/2013 – CEUA e aprovação do Instituto Chico Mendes da Conservação da Biodiversidade – ICMBIO, por meio do Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade – SISBIO, processo 40520-1. Para a realização da descrição da anatomia abdominal foi utilizado um espécime, macho, adulto, da ordem dos primatas, gênero Alouatta, espécie guariba, subespécie clamitans (Bugio-Ruivo) submetido à dissecção anatômica do abdome. O animal foi recebido no Parque Zoológico Municipal Quinzinho de Barros, no município de Sorocaba, porém veio a óbito, após ataque de cão doméstico, e foi encaminhado sob resfriamento para Centro de Estudo, Manejo e Pesquisa em Animais Selvagens (CEMPAS) – UNESP - Botucatu – Brasil, onde foi realizada dissecção anatômica para estudo da morfologia macroscópica e a anatomia topográfica abdominal. Antes da dissecção anatômica foram injetados 60 mL de látex2 e 20 mL de formaldeído3 a 10% pela artéria carótida comum e femoral com auxílio de seringa e cateter de 20G para melhor definição dos vasos abdominais e fixação dos tecidos. A distribuição topográfica assim como os órgãos foram devidamente avaliados e posteriormente fotografados para descrição anatômica. Todas as fotos foram dispostas de forma que a região do crânio localiza-se do lado esquerdo ou superior, dependendo da posição da imagem e a região caudal (cauda) do lado direito ou inferior para facilitar a localização anatômica, por meio da padronização das imagens. A terminologia utilizada para descrição anatômica seguiu a Nomina Anatômica Veterinária Internacional, 5º edição, 2005. 2 Neoprene Liquid Dispersion 750. Latex DuPont. Proquimil Produtos Químicos LTDA. São Paulo – SP 3 Formol. Nitrogênius Produtos Químicos LTDA. Curitiba – PR. 23 RESULTADOS Descreveu-se a anatomia topográfica da abordagem abdominal pela região ventral, lateral esquerda e lateral direita; Na abordagem ventral do abdômen do bugio-ruivo, o intestino grosso, composto pelo cólon ascendente, transverso e descendente, e o ceco, ocupou a maior parte da cavidade abdominal, apresentando-se em contato com a parede abdominal direita se estendendo da região epigástrica a hipogástrica. O estômago localizou-se na região epigástrica medial e esquerda. As alças do jejuno encontraram-se dispostas na região mesogástrica e hipogástrica esquerda, devido á grande dilatação do cólon ascendente e ceco que ocupavam da região epigástrica a hipogástrica direita (Fig 1A). Na abordagem lateral esquerda foi possível verificar o lobo hepático esquerdo e o lobo quadrado em contato com a parede torácica e na face costocondral. O lobo hepático esquerdo se estendeu até próximo a região mesogástrica, provavelmente devido ao colón ascendente distendido que deslocava os lobos hepáticos para a esquerda em relação ao eixo sagital (Fig 1B). A extremidade da cauda do baço pode ser observada logo caudal ao lobo hepático esquerdo na região mesogástrica e encontrava-se em contato com a parede abdominal na face parietal (Fig 1B). O colón transverso apresentava-se distendido, projetando da região epigástrica direita para a esquerda em formato de “U”. O colón descendente se estendeu da região epigástrica esquerda até a região hipogástrica esquerda adjacente a parede torácica. O cólon descendente possuía menor diâmetro, e neste foi evidente a presença de taenia fibrosas e haustros (Fig 1B). As alças jejunais estavam dispostas na região mesogástrica medial tendendo para a esquerda visto o acentuado volume ocupado pelo ceco e se projetavam até próximo à região hipogástrica (Fig 1B). Na abordagem lateral direita, as principais estruturas observadas foram o cólon ascendente e transverso que se projetavam da região mesogástrica direita e adquiria uma flexura voltada para esquerda ao encontrar o fígado, denominada flexura hepática do cólon ascendente, e o ceco (Fig 1C). O cólon ascendente apresentava-se separado do ceco por meio de uma constrição bem marcada, denominada constrição ceco-cólica (Fig 1C). O ceco se encontrava disposto caudal na região hipogástrica direita tendendo a medial devido ao seu amplo volume. O corpo do estômago se localizava em contato com o cólon transverso na porção cranial e lateralmente a direita com o cólon ascendente Todo o peritônio, omento menor e maior e gordura intra-abdominal apresentavam uma coloração acentuadamente amarelo-alaranjada. O omento maior apresentava-se pouco evidente, não sendo descrito. A descrição anatômica topográfica e morfológica do aparelho digestório incluiu: estômago, intestino delgado, transição ileo-cecal e ceco-cólica, ceco, intestino grosso, fígado, hilo hepático, pâncreas e baço (Fig 2). Aparelho digestório: Estômago O estômago apresentava-se como uma câmara única disposto no epicôndrio com fundo e corpo de aspecto piriforme voltados para o lado esquerdo, sendo que o corpo se estendeu para a região medial e direita formando o antro pilórico em formato tubular. O estômago apresentava-se em contato com o cólon transverso, com presença de um ligamento gastrocólico. (Fig 2, Fig 3A) . Intestino Delgado: O duodeno apresentava formato de “U”, se projetava dorsalmente à direita a partir do piloro, a porção descendente do duodeno se manteve conectado ao cólon ascendente 24 por um ligamento duodeno-cólico, que se iniciava na região do antro pilórico do estômago e se entendia a porção inicial do duodeno (Fig 3A). Na porção inicial do duodeno, próximo a flexura que se formava no duodeno descendente, foi localizado a formação de um divertículo pequeno na parede duodenal, denominado divertículo duodenal. O jejuno localizado na região mesogástrica a hipogastrica medial tendendo a esquerda, manteve um diâmetro constante no seu curso e estava disposto na região livre do mesentério com cerca de 12 flexuras (Fig 3B). Transição ileo-cólica e ceco-cólica: O íleo se conectava direitamente ao cólon através da transição ileo-cólica, na região contrária a curvatura maior do ceco, demarcada por uma pequena prega ileo-cecal, que uniu a borda medial do ceco com a junção íleo-cólica (Fig 4B). O ceco se apresentava como uma grande câmara de fermentação com amplo diâmetro, moderadamente maior do que o cólon ascendente. A transição do ceco para o cólon era marcada por uma constrição importante de aspecto fibroso, denominada constrição ceco- cólica (Fig 4A). Intestino Grosso: Ceco: O ceco apresentava-se como uma câmara de aspecto oval, alongado, disposto na região mesogástrica direita e se estendendo até a região hipogástrica. Morfologicamente o ceco possuía um ápice arredondado como um fundo de saco cego, formando uma curvatura maior que entrava em contato com a parede abdominal direita (Fig 3B). Na região da curvatura menor se encontrava a transição ileo-cólica e aboralmente a constrição ceco-cólica (Fig 4A). Cólon ascendente, transverso e descendente: O intestino grosso foi a estrutura de maior volume do aparelho digestório, sendo que o cólon ascendente e transverso possuía o diâmetro acentuadamente maior do que do cólon descendentem, apresentou um formato de “U”, convexo, formando uma flexura hepática e uma flexura esplênica que delimitavam o cólon transverso. O cólon descendente apresentava menor diâmetro com presença de taenias bem evidentes na região externa contrária a inserção do mesentério (Fig 5A). Foram observados haustros que iniciavam de maior extensão, principalmente o segundo, seguido de vários menores com áreas de moderada redução do lúmen, que formavam dilatações e constrições seguidas de aspecto tortuoso, dando a porção inicial e medial do cólon descendente um aspecto sigmóide (Fig 1B). A porção final do cólon descendente se deslocava da região mesogástrica direita para porção medial da região hipogástrica, possuindo um diâmetro uniforme, sem uma área bem definida para a ampola retal (Fig 5B). Fígado: O fígado era marcadamente lobado com bordas minimamente onduladas e de lobulação macroscopicamente não evidente (Fig 6A). Composto por um lobo esquerdo grande, lobo quadrado, lobo direito porção medial, lobo direito porção lateral, lobo caudado processo papilar e lobo caudado processo caudado (Fig 6A, 6B e 7A). Na face visceral do fígado foi possível observar a grande extensão do lobo esquerdo, que encobria a maior parte do lobo quadrado. O lobo quadrado apresentava uma proeminência umbilical, evidente na região caudal do lobo, e a região medial, que fazia contato com a vesícula biliar (Fig 6A e 7A). O lobo hepático direito apresentava-se marcadamente dividido em porção lateral e medial, com uma base comum assim como para todos os lobos. A porção medial apresentava aspecto mais alongado, enquanto a porção lateral possuía diâmetro equiparado na longitudinal e transversal (Fig 6A). 25 A face parietal do lobo esquerdo se conectava ao lobo quadrado por uma porção do ligamento falciforme (Fig 7A). Todo o fígado encontrava-se parcialmente deslocado para a esquerda em relação ao eixo sagital do abdome devido ao grande volume do cólon ascendente e ceco, que ocupavam a maior parte do lado direito (Fig 1A). O processo caudado do lobo caudado encontrava-se mais caudal do que os demais e em conjunto com o lobo direito porção lateral formavam a impressão renal direita. Já o processo papilar do lobo caudado encontrava-se mais voltado para a o lado esquerdo e fazia contato íntimo com o colo da vesícula biliar (Fig 7A). O lobo caudado possuía menor volume quando comparado aos demais. Na vista parietal do fígado, onde o mesmo estabeleceu contato com o diafragma, foi possível verificar um ligamento filiforme que se projetava da região média do diafragma e conectava com o ápice da vesícula biliar e a região medial do lobo quadrado e lobo direito porção medial, denominado ligamento coronário (Fig 7B). O lobo quadrado em sua base também se conectava ao diafragma por meio do ligamento triangular esquerdo, e apresentava uma área de aderência uniforme e retilínea (Fig 7B). O omento menor apresentava um ligamento evidente denominado hepato-gástrico que se projetava da curvatura menor do estômago em direção ao fígado e inseria medialmente ao lobo caudado processo papilar próximo ao colo da vesícula biliar (Fig 8A). Vesícula Biliar A vesícula biliar apresentava formato alongado e encontrava-se mais evidente na face visceral do fígado em contato com lobo quadrado e lobo hepático direito em ambas as porções lateral e medial, superior e inferior, respectivamente (Fig 8B). A vesícula possuía um ápice arredondado, um corpo alongado e o colo vesical seguido pela formação do ducto comum de menor diâmetro que inseria no duodeno na papila maior (Fig 9A). Hilo Hepático O hilo hepático era composto pelos ramos das artérias hepáticas, veia porta e ducto comum. Vários linfonodos estavam distribuídos na entrada do hilo hepático, denominados linfonodos hepáticos e gástricos (Fig 9B). Pâncreas O pâncreas apresentava-se em formato de “U” acompanhando o duodeno e o corpo do estômago e pode ser dividido em corpo e lobo. O corpo do pâncreas acompanhava a parede da artéria e veia esplênica, terminando próximo ao hilo esplênico, e é irrigado pela artéria pancreática (Fig 10A e 14). Parte do órgão insinuava-se pelo omento menor e localiza-se próximo a curvatura menor do estômago. Baço O baço é composto por cabeça, corpo e cauda, localizava-se na região mesogástrica esquerda em contato com a curvatura maior do estômago (Fig 10B). Possuía o formato alongado, contornos regulares, textura discretamente ondulada, com bordas lisas e arredondadas. O aporte sanguíneo era proveniente da artéria esplênica que é um ramo da artéria celíaca, retornando por meio da veia esplênica. Rins e ureteres Os rins estavam localizados retroperitoniais, fazendo contato com o peritônio apenas na face ventral. O rim esquerdo situava-se mais caudal do que o rim direito anatomicamente. Ambos os rins possuíam formato de feijão com contornos da cápsula renal lisos sem evidências de lobulações, sendo o rim direito discretamente mais achatado do que o esquerdo (Fig 11A e 11B). Os hilos renais direito e esquerdo eram compostos pela artéria renal, veia renal e ureter direito e esquerdo, respectivamente (Fig 11A). 26 Os rins apresentavam-se unipiramidais com pelve renal bem formada discretamente irregular. A cortical era moderadamente fina e a medular mais espessa sendo facilmente identificada a transição cortico-medular (Fig 11C). Os ureteres projetavam-se a partir da pelve renal e seguiam no espaço retroperitoneal até a região do trígono vesical próximo ao colo da bexiga onde se inseriram cada um no seu respectivo lado (Fig 12A). Bexiga A bexiga encontrava-se discretamente repleta e possuía um formato ovalado, localizando-se na região abdominal inferior e na pelve. Na porção dorsal fazia contato com o colón descendente e ampola retal e na ventral com a parede abdominal (Fig 12A). A bexiga estava recoberta pelo peritônio tanto na porção abdominal como na região pélvica, porém possuía uma porção da parede mais espessa na região do trígono que se estendia para formar o ligamento vesico-pélvico que fixava a base da bexiga em sua localização anatômica (Fig 12B). Adrenais As glândulas adrenais apresentavam formato ovalado, sendo a direita localizada cranial a esquerda, assim como observado na anatomia dos rins (Fig 11A). Ambas as adrenais localizam-se retroperitoniais. A glândula adrenal direita localizava-se cranial ao rim direito, enquanto a esquerda estava situada craniomedial ao pólo cranial do rim esquerdo. A medular e a cortical da adrenal são bem distintas e apresentam uma definição cortico-medular bem marcada. Proporcionalmente a área ocupada pela medular e cortical era relativamente semelhante (Fig 13). Vasos abdominais Alguns vasos abdominais foram identificados com auxílio do látex e descritos separadamente, sendo estes a aorta abdominal, artérias: esplênica, celíaca, hepática, gástrica esquerda, pancreática e artéria mesentérica cranial. A aorta abdominal na porção superior dava origem primeiramente a artéria celíaca que emitia um ramo da artéria hepática e mantinha seu trajeto até se dividir em artéria gástrica esquerda e artéria esplênica. Da artéria esplênica se ramificava uma artéria pancreática que irrigava uma porção do pâncreas esquerdo (Fig 14). Após a artéria celíaca, a segunda ramificação originada da aorta abdominal foi a artéria mesentérica cranial que irrigava o mesojejuno (Fig 14). DISCUSSÃO O tamanho do trato gastrointestinal está diretamente ligado ao tamanho do animal e, principalmente a qualidade da dieta (Aiello et al. 1995 Lambert 1998, Chivers & Hladik 1980). Considerando o espécime avaliado e a descrição da literatura, o bugio-ruivo possui um trato gastrointestinal longo, com digestão lenta associada a alimentos de baixa energia, além do ceco e o cólon com maior superfície de contato do que a maioria dos primatas folívoros (Milton et al. 1980). A digestão lenta também pode estar relacionada a presença de fenóis nas folhas, que são produtos tóxicos e precisam ser eliminados (Janzen, 1978). O bugio-ruivo é classificado na literatura como predominantemente folívoros (Miranda & Passos 2005, Liesenfeld 2008). No entanto, outros autores propõem a alimentação desses animais como folívora e frugívora (Milton 1978, Milton 1981, Chaves & Bicca-Marques 2016). Animais de características folívoras possuem trato digestório longo com presença de câmara de fermentação, seja no estômago, ceco ou cólon (Chivers & Hladik 1980, Chivers & Hladik 1984). No presente estudo, foi possível verificar 27 que o ceco era um grande saco de fundo cego, funcionando com uma importante câmara de fermentação na espécie, assim como ocorre na maioria dos primatas (Milton et al, 1993). Além disso, tanto o cólon ascendente como descendente possuía grande dimensão quando comparado ao cólon descendente auxiliando na absorção dos nutrientes (Lambert 1998). O cólon ascendente sem evidencia macroscópica de presença de taenia e haustros indica pequena presença de musculatura, o que prolonga a presença do conteúdo no cólon (Milton 1980). A presente descrição morfológica do trato digestório também se assemelhou a descrição de Lambert (1998) adaptado de Stevens and Hume (1995), para Lagothrix lagotricka, espécie ceco-cólica fermentativa, com estômago simples e ceco e cólon grandes. O estômago apresentava características semelhantes à descrita por Ankel-Simons (2007) para primatas do gênero Alouatta tratando-se de uma câmara única de tamanho grande, que, segundo o autor, apresenta baixa eficiência digestiva quando comparado ao trato intestinal. O intestino grosso composto pelo cólon ascendente, transverso, descendente em conjunto com o ceco foram as estruturas de maior volume do aparelho digestório, com diâmetro acentuadamente maior do que o intestino delgado, ocupando a maior parte da cavidade abdominal e deslocando as demais estruturas. Isso corrobora com as características anatômicas de animais predominantemente folívoros, com características ceco-cólicas fermentativas e com as descrições anatômicas disponíveis a literatura para outras espécies de Alouatta (Hill 1962, Chivers & Hladik 1984, Lambert 1998, Ankel- Simons 2007). Segundo Ankel-Simons (2007), a morfologia macroscópica do intestino grosso é bastante variável entre os macacos do novo mundo. No entanto, as conformações em espiral e a distribuição circular das alças citadas pelo autor para outras espécies do novo mundo diferiram significativamente da observada neste estudo, que apresentou formato de "U", com ceco de grandes dimensões. O autor também cita a presença de um apêndice vermiforme no final do fundo de saco cego do ceco, comum para algumas espécies, que não foi verificado na dissecção. Conforme Lambert (1998) e Chivers e Hadlik (1980), a morfologia do trato digestório, em especial do ceco e do cólon ascendente, está relacionada a característica ceco-cólica fermentativa desta categoria de macacos, com melhor eficiência alimentar para compostos de maior digestibilidade. No entanto, para interpretar as características anatômicas do trato digestório, especialmente de espécies do gênero Alouatta, é importante interpretar a relação da dieta com as estratégias alimentares, assim como os hábitos desses animais (Milton 1978, Milton1984, Milton 1981). Segundo Milton (1993), o longo período de trânsito digestivo dos Alouatta, que pode chegar a 20 horas, associada a lenta fermentação ceco-cólica, esta diretamente relacionada a capacidade desses animais se alimentarem também de frutas regularmente e em grande quantidades, o que permite atingir níveis satisfatórios de energias, já que estas passam rapidamente pelo trato digestório. O estudo ultrassonográfico do trato digestório de 20 animais da espécie de Alouatta guariba clamitans evidenciou, assim como no presente estudo, a grande quantidade de conteúdo gasoso em estômago, ceco e cólon o que dificultou ou mesmo impediu a visibilização de outros segmentos como duodeno e jejuno, respectivamente (Souza 2013). Avaliando a distribuição topográfica na presente dissecção anatômica do duodeno e jejuno, justifica-se a dificuldade de acesso a essas estruturas por meio do exame ultrassonográfico. Neste estudo foi possível verificar que existe uma transição visual externa marcada do íleo para o cólon, e do ceco para o cólon, concordando parcialmente com da 28 descrição de Hill (1962) para A. guariba. De acordo com o autor, não há uma demarcação externa entre o ceco e o cólon ascendente. Todo trato digestório possuía características morfológicas bem demarcadas com constrições, haustros e morfologias próprias, o que permitiu a adequada identificação macroscópica das transições entre as estruturas. A coloração amarelo-alaranjada distribuída por todo peritônio e omento esta relacionada ao tipo de dieta folívoro e frugívoro, devido aos pigmentos dos alimentos ingeridos (Ankel-Simons 2007). Segundo Hill (1962), o omento menor de espécies do gênero Alouatta se divide em dois ligamentos denominados ligamento hepato-gástrico e ligamento duodeno-gástrico. O ligamento hepato-gástrico foi evidenciado e descrito no espécime estudado, porém o duodeno-gástrico não foi investigado e identificado. As descrições anatômicas do fígado, baço e pâncreas de primatas do novo mundo realizadas por Hill (1962) e Ankel-Simons (2007) citam de forma generalizada a grande variação entre os gêneros e espécie, principalmente quanto ao formato, disposição, lobulações e topografia, dependendo inclusive da anatomia dos órgãos adjacentes, dificultando a comparação dos achados deste estudo com dados na literatura. Zhang e colaboradores (2011) descrevem o formato do pâncreas em macacos da espécie Macaca mullata em forma de ¨J¨, seguindo do duodeno até a curvatura maior do estômago adjacente ao baço. A descrição é discretamente diferente da relatada neste estudo. A identificação dos lobos hepáticos na dissecção foi semelhante para humanos (Sobotta, 2000). Hill (1962) cita a presença da proeminência umbilical no lobo hepático quadrado de atelídeos, a qual também foi identificada na presente dissecção anatômica. O mesmo autor cita que a vesícula biliar apresenta formato oval e tamanho grande, sendo melhor visibilizada na vista visceral, diferindo apenas no formato do presente estudo que apresentou a vesícula alongada. Os principais vasos abdominais descritos a partir da aorta na região epigástrica e mesogástrica corroboraram com a descrição de Zhang e colaboradores (2011), assim como para humanos (Sobotta 2000). Fontenot e colaboradores (2004) descreveram a alta incidência de doenças renais em Alouatta caraya nos Estados Unidos, porém as descrições morfológicas do órgão foram principalmente microscópicas, sem descrições de padrões de normalidade renal. No presente estudo os rins foram descritos como retroperitoniais, com rim direito localizado cranial em relação ao esquerdo, o que corroborou com as descrições de Hill 1962 e Ford e colaboradores 1998, assim como a classificação renal como unipiramidal, sem presença de lobulações externas. As proporções entre a medular e cortical renal evidenciaram uma medular maior do que a cortical no espécime estudado, diferindo de espécies como Macaca mulatta que apresenta a medular fina (Ford et al 1998). As características morfológicas das adrenais corroboraram parcialmente com a descrição morfológica ultrassonográfica descrita por Souza e colaboradores (2014), que visibilizou cerca de 88% das glândulas esquerdas e 66% das glândulas diretas com formato ovalado, assim como na presente descrição, porém variou em formato semilunar em alguns indivíduos. Ainda segundo os autores, a diferenciação cortico-medular foi bastante restrita ultrassonograficamente, enquanto macroscopicamente, no presente estudo, foi evidente e distinta. CONCLUSÃO A morfologia do trato digestório do bugio-ruivo foi de macacos com característica de fermentação ceco-cólica, com intestino grosso ocupando grande parte do abdome, o 29 ceco como uma importante e desenvolvida câmara de fermentação e cólon bastante desenvolvido. Para as demais estruturas esta dissecção anatômica apresenta resultados com grande valor intrínseco por ser espécie-específica e extrínseco por servir de referência para comparação com outras espécies e auxiliar como fonte de conhecimento primário para outras áreas. Agradecimentos: Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico que financiou a bolsa de estudo. Ao Parque Zoológico Municipal Quinzinho de Barros que disponibilizou a espécime para estudo. Ao Serviço de Fotografia da UNESP, campus Botucatu. REFERÊNCIAS Aiello L.C., Wheeler P. 1995. The expensive tissue hypothesis: the brain and the digestive system in human and primate evolution. Cur. Anthrop. 36:199-221. Ankel-Simons F. 2007. 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Abordagem ventral (A), Abordagem lateral esquerda (B) e Abordagem lateral direita (C) do abdome de um espécime macho adulto de Alouatta guariba clamitans. 1 – Lobo hepático quadrado; 2 – Lobo hepático esquerdo; 3 – Lobo hepático direito porção medial; 4 – Cauda do baço; 5 – Porção medial do cólon descendente; 6 – Alças de jejuno; 7 – Cólon transverso; 8 – Corpo do estômago; 9 – Cólon ascendente; 10 – Constrição ceco- cólica; 11 – Ceco; 12 – Cólon descendente; 13 – Cólon descendente (taenia); 14 - Haustro; 15 – Omento maior; 16 – Cólon ascendente porção final Fig. 2. Abordagem ventral do aparelho digestório de um espécime macho adulto de Alouatta guariba clamitans. 1 – Lobo hepático quadrado; 2 – Cólon transverso; 3 – Taenia do cólon descendente; 4 – Artérias mesentéricas; 5 - Alças de jejuno; 6 – Aorta abdominal; 7 – Porção final de cólon descendente; 8 – Lobo hepático direito porção medial; 9 – Região de flexura hepática do Cólon ascendente; 10 – Corpo do estômago; 11 – Alça de jejuno; 12 – Ceco. Fig. 3. Aparelho digestório de um espécime macho adulto de Alouatta guariba clamitans (A) e (B). 1 – Lobo hepático direito porção medial; 2 – Antro pilórico; 3 – Duodeno; 4 – Ligamento duodenocólico; 5 – Cólon ascendente; 6 – Lobo hepático direito porção lateral; 7 – Divertículo duodenal; 8 – Jejuno; 9 – Ápice do ceco; 10 – Estômago. Fig. 4. Aparelho digestório de um espécime macho adulto de Alouatta guariba clamitans (A) e (B). 1 – Cólon ascendente; 2 – Ceco; 3 – Prega ileo-cecal; 4 - Transição ileo-cólica; 5 – íleo. 6 – Constrição ceco-cólica; 7 – Jejuno. Fig. 5. Aparelho digestório de um espécime macho adulto de Alouatta guariba clamitans. (A) e (B). 1 – Porção final do cólon transverso; 2 – Estômago; 3 – Cólon descendente; 4 – Ramo da veia mesentérica; 5 – Ramo da artéria mesentérica; 6 - Cólon descendente porção aboral; 7 – Artéria ilíaca interna direita; 8 – Linfonodo ilíaco; 9 – Bexiga. Fig. 6. Abordagem visceral (A) e Abordagem diafragmática (B) do fígado de um espécime macho adulto de Alouatta guariba clamitans. 1 – Lobo hepático esquerdo; 2 – Proeminência umbilical do lobo caudado; 3 – Lobo hepático caudado processo papilar; 4- Lobo hepático caudado processo caudado; 5 – Lobo hepático quadrado; 6 – Lobo hepático direito porção medial; 7 – Vesícula Biliar; 8 – Lobo hepático direito porção lateral. Fig. 7. Abordagem ventral (A) e Abordagem diafragmática (B) do fígado de um espécime macho adulto de Alouatta guariba clamitans. 1 – Lobo hepático quadrado; 2 – Ligamento falciforme; 3 – Proeminência umbilical do lobo caudado; 4 – Lobo hepático Esquerdo; 5 – Lobo hepático direito porção medial; 6 – Vesícula biliar; 7 – Lobo hepático direito porção lateral; 8 – Lobo hepático caudado processo papilar; 9 – Lobo hepático caudado processo caudado; 10 – Diafragma; 11 – Ligamento triangular esquerdo; 12 – Ligamento coronário. Fig. 8. Abordagem visceral do fígado de um espécime macho adulto de Alouatta guariba clamitans (A) e (B). 1 – Lobo hepático quadrado; 2 – Vesícula biliar; 3 – Lobo hepático 33 esquerdo; 4 – Ligamento duodeno-cólico; 5 – Cólon transverso; 6 – Lobo hepático caudado processo caudado; 7 – Lobo hepático caudado processo papilar; 8 – Ligamento hepato-gástrico do omento menor; 9 - Jejuno; 10 – Lobo hepático direito porção medial; 11 - Proeminência umbilical do Lobo hepático quadrado; 12 – Lobo hepático direito porção lateral. Fig. 9. Abordagem visceral do fígado de um espécime macho adulto de Alouatta guariba clamitans (A) e (B). 1 – Ducto comum; 2 – Vesícula Biliar; 3 – Lobo hepático direito porção lateral; 4 – Lobo hepático caudado processo papilar; B) Vista visceral do fígado de um espécime macho de Alouatta guariba clamitans. 1 – Lobo hepático esquerdo; 2 – Lobo hepático caudado processo papilar; 3 – Artéria Hepática; 4 – Corpo do Estômago; 5 – Vesícula Biliar; 6 – Lobo hepático caudado processo caudado; 7 - Ramo da artéria hepática; 8 – Artéria Hepática; 9 - Veia porta. Fig. 10. Abordagem visceral do pâncreas (A) e abordagem parietal do baço (B) de um espécime macho adulto de Alouatta guariba clamitans. 1 – Ligamento duodeno-cólico; 2 – Lobo hepático caudado; 3 – Omento menor; 4 – Fundo do estômago; 5 – Pâncreas; 6 – Rim esquerdo; 7 – Cauda do baço; 8 – Cabeça do baço; 9 – Corpo do Baço; 10 – Jejuno; 11 – Artéria Aorta abdominal; 12 – Artéria celíaca; 13 – Artéria esplênica; 14 – Artéria mesentérica cranial. Fig. 11. Abordagem ventral do aparelho urinário e glândulas adrenais de um espécime macho adulto de Alouatta guariba clamitans (A), (B) e (C). 1 – Glândula adrenal direita; 2 – Veia Cava caudal; 3 – Glândula adrenal esquerda; 4 – Rim esquerdo; 5 – Ureter esquerdo; 6 – Artéria ilíaca interna esquerda; 7 – Fossa renal; 8 – Rim direito; 9 – Ureter direito; 10 – Artéria ilíaca interna direita; 11 – Porção cranial da artéria aorta abdominal; 12 – Artéria celíaca; 13 - Artéria mesentérica cranial; 14 – Porção caudal da artéria abdominal caudal; 15 – Medular do rim esquerdo; 16 – Pelve do rim esquerdo; 17 – Córtex do rim esquerdo; 18 - Medular do rim direito; 19 – Pelve do rim direito; 20 – Córtex do rim direito. Fig. 12. Abordagem ventral (A) e abordagem dorsal (B) da bexiga de um espécime macho adulto de Alouatta guariba clamitans. 1 – Porção aboral de cólon descendente; 2 – Ureter esquerdo; 3 – Face ventral da bexiga; 4 – Ureter direito; 5 – Porção dorsal da bexiga; 6 – Porção espessa da parede vesical que dá origem ao ligamento vesico-pélvico; 7 – Pênis. Fig. 13. Abordagem ventral das adrenais de um espécime macho adulto de Alouatta guariba clamitans. 1 – Lobo hepático caudado processo papilar; 2 – Veia cava caudal; 3 – Medular da adrenal direita; 4 – Medular da adrenal esquerda; 5 – Rim esquerdo; 6 – Rim direito. Fig 14. Abordagem abdominal direita de um espécime macho adulto de Alouatta guariba clamitans. 1 – Lobo hepático quadrado; 2 – Artéria celíaca; 3 – Artéria hepática; 4 – Artéria gástrica esquerda; 5 – Artéria esplênica; 6 – Artéria pancreática; 7 – Pâncreas; 8 – Artéria aorta abdominal; 9 – Artéria mesentérica cranial; 10 – Rim direito. 34 Figuras Figura 1 Figura 2 35 Figura 3 Figura 4 Figura 5 36 Figura 6 Figura 7 Figura 8 37 Figura 9 Figura 10 38 Figura 11 Figura 12 39 Figura 13 Figura 14 40 3. CAPITULO 3 3.1 TRABALHO CIENTIFICO 2 Segundo a Revista: The Anatomical Record Link para as normas da revista: http://onlinelibrary.wiley.com/journal/10.1002/(ISSN)1932- 8494/homepage/ForAuthors.html Titulo: Tomografia Computadorizada e estudo de cortes anatômicos do abdome do Bugio-Ruivo (Alouatta guariba clamitans) Computed Tomography and Gross Anatomical Studies on the abdomen of Brown Howler Monkey (Alouatta guariba clamitans) 41 Tomografia Computadorizada e estudo de cortes anatômicos do abdome do Bugio-Ruivo (Alouatta guariba clamitans) Roberta Valeriano dos Santos Departamento de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Unesp, campus de Botucatu, Distrito de Rubião Júnior, s/n, SP, 18618-970, Brasil* Autor para correspondência: robertavaleriano@yahoo.com.br, 55-27- 999195266 Ramiro das Neves Dias Neto Departamento de Anestesiologia e Cirurgia Veterinária, FMVZ, UNESP, campus de Botucatu, Distrito de Rubião Júnior, s/n, SP, 18618-970, Brasil. Zara Bortolini Departamento de Diagnostico por Imagem, DEVET, Unicentro, Rua Simeão Camargo Varela De Sá, Nº 03, Bairro Cascavel Guarapuava – PR, 85040-080, Brasil. Carlos Roberto Teixeira Departamento de Anestesiologia e Cirurgia Veterinária, FMVZ, UNESP, campus de Botucatu, Distrito de Rubião Júnior, s/n, SP, 18618-970, Brasil. Camila Trevisan Pereira Veterinária autônoma. Maria Augusta Adami Pereira dos Santos Veterinária autônoma. Luiz Carlos Vulcano Departamento de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, UNESP, campus de Botucatu, Distrito de Rubião Júnior, s/n, SP, 18618-970, Brasil. mailto:robertavaleriano@yahoo.com.br 42 Resumo O Alouatta guariba clamitans, também conhecido como Bugio Ruivo, é um primata do novo mundo com ampla distribuição na América do Sul, com risco de extinção em algumas áreas. No presente estudo foram utilizados dois espécimes machos para confecção de pranchas anatômicas e 16 espécimes hígidos, oito fêmeas e oito machos, para realização de exames de tomografia computadorizada abdominal. Foi realizada a descrição anatômica e tomográfica das principais estruturas abdominais da espécie. O Bugio-Ruivo possui o trato digestório longo ocupando a maior parte da cavidade abdominal, com ceco e cólon bastante desenvolvidos. As estruturas possuem grande mobilidade e deslocam de acordo com a quantidade de conteúdo alimentar, fecal e, principalmente, gasoso no estômago, jejuno, ceco e cólon. As estruturas mais desenvolvidas são o ceco e o cólon ascendente devido ás características ceco-cólicas fermentativas que obtém parte do requerimento energético baseado na fermentação. As glândulas adrenais são relativamente grandes e de fácil identificação. Os rins são retroperitoniais, unipiramidais e com grande mobilidade, principalmente o direito. Os segmentos intestinais foram facilmente identificados por suas características marcantes. A tomografia computadorizada foi eficiente para descrever a anatomia dos animais, porém é importante considerar a grande variação topográfica ao utilizar este método de imagem para avaliação abdominal. Palavras- chaves: Platyrrhini, abdominal, anatomia, Atelidae. 43 Introdução O estudo anatômico por meio do auxílio da tomografia computadorizada é uma realidade na medicina veterinária, visto que a técnica já foi utilizada em descrições de animais domésticos (Smallwood et al., 1992; Smallwood et al., 1993; Asshauer e Sager, 1997; Samii et al., 1998), assim como de animais silvestres e selvagens (Jones et al., 2010; Zhang et al., 2011; Bonetelli et al., 2013; Cars et al., 2014; Mogicato et al., 2014), fornecendo informações importantes para o estudo, conhecimento e preservação de espécies. Há décadas os primatas não humanos são alvos de constantes estudos devido à proximidade filogenética e evolutiva com humanos (Ford et al. 1998; Bernacky et al. 2001, Andrade et al., 2002). No entanto, a maior parte dos estudos anatômicos são comparativos, destinados a macacos do velho mundo e alguns gêneros de macacos do novo mundo (Hill 1962; Chivers e Hladik, 1980; Ford et al. 1998; Andrade e Oliveira, 2002; Ankel-Simons, 2007). No caso dos atelídeos, primatas do novo mundo, do gênero Alouatta, existem estudos principalmente voltados para o entendimento dos hábitos, reprodução, ocupação e distribuição das espécies (Chiarello e Galetti, 1994; Crocket, 1998; Bicca-Marques et al., 2006; Gregorin, 2006; Chaves e Bicca- Marques, 2016), sendo raros os estudos anatômicos espécie-específicos, principalmente os destinados ao Alouatta guariba clamitans (Cabrera, 1940) (Chaves e Bicca-Marques, 2016). Esta espécie de macaco, também conhecida popularmente como Bugio- Ruivo ou macaco roncador (Andrade e Oliveira, 2002; Pough et al., 2008), são considerados atualmente como espécie pouco vulnerável, vulnerável ou mesmo ameaçada de extinção dependendo do órgão acessado (IUCN, 2016; ICMBio, 2016; Agostini et al., 2013; Mendes et al., 2010). A distribuição da espécie está restrita a fragmentos florestais isolados, e com a extensa ocupação e urbanização, frequentemente são atendidos em centros especializados, seja por causas traumáticas, choques elétricos, ou mesmo por apreensão (Bicca-Marques et al., 2006; Costa e Tranquilim, 2008). 44 Ademais, os bugios, incluindo o Bugio-Ruivo, também sofrem reduções populacionais visto que atuam no meio ambiente como espécie sentinela para doenças como a febre amarela, enfermidade importante para a medicina da conservação e para a saúde pública (Almeida et al., 2012; Tranquilim et al., 2013; August et al., 2015; Moreno et al., 2015). Contrastando com a importância do gênero Alouatta, existe uma escassez de estudos anatômicos espécies-específicas entre os bugios, assim como de métodos de diagnóstico por imagem, principalmente nos casos de Alouatta guariba clamitans. Dessa forma, este estudo tem por objetivo fornecer dados do aspecto tomográfico normal das estruturas abdominais desta espécie, base para estudos futuros e auxílio no atendimento desses animais. Materiais e Métodos O presente estudo atendeu aos requisitos do Comitê de Ética em Uso Animal (CEUA) da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), Universidade Estadual Paulista (UNESP), campus Botucatu, processo 164/2013 e do Instituto Chico Mendes da Conservação da Biodiversidade – ICMBIO, através do Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade – SISBIO, processo 40520-1. Pranchas anatômicas Foram utilizados dois espécimes machos, adultos, de Bugio-Ruivo (Alouatta guariba clamitans) para realização dos cortes anatômicos. Os animais foram a óbito, um devido à eletrocussão e o outro sem causa prévia definida. As peças foram mantidas sob congelamento e cortadas em pranchas anatômicas no plano axial e dorsal com espessuras de aproximadamente 1,5 cm. Tomografia computadorizada dos espécimes de Alouatta guariba clamitans Seleção dos animais Foram avaliados 16 primatas da espécie Alouatta guariba clamitans (bugio- ruivo), sendo oito machos e oito fêmeas, pesando entre 3,9-6,8 kg. A idade dos 45 animais estimada foi entre um a 12 anos. Foi realizada avaliação clínica e laboratorial comprovando a sanidade dos animais, para inclusão dos mesmos no estudo. Os animais foram provenientes de três instituições mantenedoras da fauna silvestre no Estado de São Paulo, Brasil: Centro de Estudo Medicina e Pesquisa de Animais Selvagens (CEMPAS), UNESP, campus Botucatu; Centro de Reabilitação de Animais Silvestres/Parque Ecológico do Tietê (CRAS/PET), São Paulo; e Zoológico do Município de São Bernardo do Campo (ZMSBC), São Bernardo do Campo. Em todas as instituições, a base da alimentação dos animais consistia de frutas, folhas, legumes, ração comercial de primatas e água ad libitum. Protocolo anestésico Os animais foram mantidos em jejum alimentar de 8 a 12 horas e hídrico de quatro horas, o protocolo anestésico utilizado foi cloridrato de cetamina em solução a 10% na dose de 7mg/kg associado ao midazolam na dose de 0,5mg/kg, por via intramuscular. Quando necessário, foi realizado suplementação anestésica inalatória com isofluorano, com o auxílio de máscara facial. Exame de Tomografia Computadorizada Os bugios foram posicionados e alinhados na mesa do tomógrafo, em decúbito ventral, com membros torácicos deslocados cranialmente e os membros pélvicos caudalmente, com a cauda seguindo o eixo anatômico da coluna (Fig. 1). A região avaliada incluiu desde a base do coração até as vértebras coccígeas, para garantir que toda cavidade abdominal e pélvica fosse incluída no exame. O aparelho utilizado foi o tomógrafo de 16 canais, da marca Activion 16 TSX-031A multislice Toshiba. As imagens foram obtidas em cortes axiais, utilizando cortes de dois milímetros, 100 mA e 120 kVp, com filtro Soft tissue standard para melhor qualidade das imagens e posteriormente reconstruídas em plano sagital e dorsal pelo programa ClearCanvas Workstation 2.0 SP1. Os 46 exames foram avaliados individualmente, sendo selecionadas as imagens que se repetiam e caracterizavam o padrão de normalidade. As variações observadas foram separadas e expostas posteriormente com objetivo de caracterizar as variações fisiológicas. A terminologia utilizada para descrição anatômica abdominal seguiu a Nomina Anatômica Veterinária Internacional, 5º edição, 2005. Resultados Todos os animais estavam hígidos no momento do exame, baseados no histórico, exame clínico e laboratorial. As estruturas abdominais dos animais foram avaliadas e pareadas, quando possível, nas pranchas anatômicas nos planos axial e dorsal e nos exames tomográficos no plano axial e reconstrução nos planos dorsal e sagital. Poucas regiões foram passíveis de serem pareadas nas pranchas anatômicas com o exame tomográfico no respectivo plano. Foi verificada uma grande diversidade na topografia dos órgãos nos exames tomográficos, de acordo com a quantidade de conteúdo gasoso em estômago, intestinos e ceco, que deslocavam as estruturas adjacentes. Os animais possuíam importantes variações na quantidade de conteúdo alimentar e, principalmente, de conteúdo gasoso no estômago, intestino delgado, colón ascendente e descendente e o ceco. Foi observado que 90% dos animais possuíam o estômago, colón ascendente e ceco distendidos por gás. A bexiga também variou topograficamente de intra-pélvica a abdominal de acordo com a repleção, deslocando as estruturas topográficas adjacentes como a porção final do cólon descendente, reto e o corpo do útero no caso de fêmeas. Foi observada grande quantidade de gordura intra-abdominal com densidade característica, hipodensa em relação aos órgãos estruturas, principalmente ao redor de estruturas como porção visceral do fígado, baço, rins, glândulas adrenais e grandes vasos, assim como na região ventral e lateral da região mesogástrica. Estes achados foram observados nos animais de ambos os 47 sexos, exceto em um macho jovem e em uma fêmea que apresentava grande distensão abdominal impossibilitando a avaliação da gordura intra-abdominal. As principais estruturas foram descritas do sentido cranial para caudal ou no sentido boral para aboral no caso do aparelho digestório. Porção final de esôfago O esôfago apresentava-se com uma estrutura oval no corte axial tomográfico, localizado dorsal a borda medial do pilar diafragmático esquerda, atravessando o diafragma até atingir a região do cárdi