UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
"JÚLIO DE MESQUITA FILHO"
CAMPUS DE SÃO JOÃO DA BOA VISTA
FELIPE TEODORO MENDES
SIMULAÇÃO TERMO-ELÉTRICA DE CUBESAT
São João da Boa Vista
2024
Felipe Teodoro Mendes
SIMULAÇÃO TERMO-ELÉTRICA DE CUBESAT
Trabalho de Graduação apresentado ao Conselho
de Curso de Graduação em Engenharia Aeronáu-
tica do Campus de São João da Boa Vista, Univer-
sidade Estadual Paulista, como parte dos requisitos
para obtenção do diploma de Graduação em Enge-
nharia Aeronáutica .
Orientador: Profº Dr. Edemar Morsch Filho
São João da Boa Vista
2024
M538s
Mendes, Felipe Teodoro
SIMULAÇÃO TERMO-ELÉTRICA DE CUBESAT / Felipe
Teodoro Mendes. -- São João da Boa Vista, 2024
57 p. : il., tabs., fotos
Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado - Engenharia
Aeronáutica) - Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade
de Engenharia, São João da Boa Vista
Orientador: Edemar Morsch Filho
1. Engenharia aeroespacial. 2. Calor Transmissão. 3. Radiação
solar. 4. Satélites artificiais. 5. Baterias de litio. I. Título.
Sistema de geração automática de fichas catalográficas da Unesp. Biblioteca da Universidade
Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Engenharia, São João da Boa Vista. Dados fornecidos
pelo autor(a).
Essa ficha não pode ser modificada.
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
FACULDADE DE ENGENHARIA - CÂMPUS DE SÃO JOÃO DA BOA VISTA
GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA AERONÁUTICA
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
SIMULAÇÃO TERMO-ELÉTRICA DE CUBESAT
Aluno: Felipe Teodoro Mendes
Orientador: Prof. Dr. Edemar Morsch Filho
Banca Examinadora:
- Edemar Morsch Filho (Orientador)
- Caio Fernando Rodrigues dos Santos (Examinador)
- Kleber Vieira de Paiva (Examinador)
A ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no prontuário do
aluno (Processo nº 283/2023)
São João da Boa Vista, 05 de julho de 2024
Aos meus pais, que abdicaram de seus sonhos para que pudessem me ver realizando os meus.
AGRADECIMENTOS
À minha mãe, Solange Teodoro, que sempre me incentiva a buscar meus objetivos e me acompa-
nha durante todas as fases de minha jornada. Ao meu pai, Americo Mendes, por todos os valores e
ensinamentos transmitidos durante minha vida, me inspiro diariamente no senhor. Agradeço-os por
criarem os meios para que eu pudesse vivenciar a graduação longe de casa, em uma universidade
pública.
Ao meu irmão de quatro patas, Bruce, por completar a minha vida e a de nossos pais com o mais
puro e honesto amor. Você é, e sempre será, o nosso bom garoto.
Aos meus avós, Creuza Teodoro e Antonio Teodoro, obrigado pela recepção carinhosa e cheia de
amor todas as vezes que retorno para Santos. O lar de vocês continua sendo um porto seguro para
mim.
Às minhas tias, Simone Teodoro e Soraya Teodoro, obrigado por preencherem minha vida com
muito afeto e celebrarem a cada nova conquista alcançada por mim.
Aos meus tios, Marcus Vinicius e Sergio Suzano, que sempre me apoiaram e se mostraram dis-
postos a ajudar no que fosse necessário.
Aos meus primos, Gabriel Teodoro e Mateus Teodoro, obrigado por todas as aventuras e brinca-
deiras. Contem comigo para o que precisarem.
Às minhas amigas de infância de Santos, Laura Lamouche e Giovanna Ávila, agradeço por sempre
celebrarem minhas conquistas e por melhorarem as noites dos meus finais de semana. Vocês são parte
essencial de quem estou me tornando.
Aos meus amigos de Presidente Prudente, Guilherme Godoi, Lucas Azevedo e Gabriel Santos,
agradeço pela amizade de vocês ao longo dos mais de 10 anos e por tornarem as noites de pandemia
mais agradáveis. Vocês são a prova de que videogames são muito mais do que apenas jogos.
Aos meus amigos da universidade, Filipe Valentim, Lucas Tazitu e Vinícius Altarni, obrigado por
todos os bons momentos vividos durante os anos de faculdade e por fazerem a rotina universitária
mais leve e com boas risadas.
Ao meu orientador, Prof°. Dr. Edemar Morsch Filho, por toda a paciência e acolhimento durante
o desenvolvimento deste trabalho. Sou extremamente grato por todo o conhecimento compartilhado
e tempo disponibilizado para encontrar soluções para as dificuldades enfrentadas. Por meio da frase
de Albert Einstein, "A tarefa essencial do professor é despertar a alegria de trabalhar e de conhecer",
posso dizer que me sinto privilegiado por tê-lo como professor e amigo.
Ao Prof°. Dr. Julian A. A. Diaz, pelo incentivo para realizar minha primeira iniciação científica e
por me orientar ao longo de 2 anos de pesquisa na área de materiais.
À Profª. Dra. Leandra Isabel de Abreu, pela orientação na minha iniciação científica voltada para
o desenvolvimento de um novo projeto aeronáutico.
Ao Prof°. Dr. Laio Oriel Seman, da UFSC pela indicação para a bolsa CNPq, que foi fundamental
para a conclusão deste projeto.
Por fim, ao CNPq, pela bolsa de iniciação científica.
"Não estragues o que tens desejando o que não tens; lembra-te de que o que agora tens esteve entre
as coisas que apenas esperavas."
(Epicuro)
RESUMO
O uso de Cubesats para missões espaciais tem se tornado cada vez mais comum graças a versatilidade
e baixo custo associado, fazendo com que sejam amplamente utilizados em projetos de universidades
ao redor de todo o mundo. Entretanto, o gerenciamento térmico de CubeSats em órbita precisa ser
avaliado com cautela, em virtude de possuírem áreas externas de tamanho reduzido, que limita a sua
capacidade de absorver e emitir calor. Além disso, as suas dimensões pequenas restringem a produção
de energia elétrica por parte dos painéis fotovoltaicos e devem ser levadas em consideração no desen-
volvimento do projeto. Dessa forma, o presente trabalho buscou avaliar a capacidade de geração de
energia elétrica e as temperaturas experienciadas por um CubeSat durante toda sua trajetória ao redor
da Terra, analisando seu comportamento para diferentes condições de atitudes, órbitas, absortividades
e emissividades. Por meio de análises em CFD no ANSYS CFX, foi possível obter os resultados de
temperatura para os múltiplos cenários, além de seu impacto na geração de energia do satélite, onde
é possível verificar a influência de diferentes parâmetros no campo de temperatura e energia gerada.
De maneira geral, quanto maior a razão entre a absortividade e emissividade das superfícies exter-
nas, mais elevadas serão as temperaturas observadas, sendo este cenário prejudicial para a geração de
energia, principalmente quando o painel fotovoltaico opera sob uma tensão próxima ao do circuito
aberto da célula solar. As análises também consideram a geração interna de calor pelas baterias do
CubeSat, onde observou-se a sua temperatura resultante em função da corrente utilizada.
Palavras-Chave: simulação; cubesat; transferência de calor; painel fotovoltaico; bateria
ABSTRACT
The use of CubeSats for space missions has become increasingly common thanks to their versatility
and low cost, making them widely used in university projects around the world. However, the thermal
management of CubeSats in orbit needs to be evaluated with caution, as they have small external areas,
which limits their ability to absorb and emit heat. In addition, their small size restricts the production
of eletricity by photovoltaic panels and must be taken into account during the development phase of
the satellite. In this context, this research sought to evaluate the capacity to generate electricity and
the temperatures experienced by a CubeSat throughout its trajectory around the Earth, analyzing its
behavior for different conditions of attitudes, orbits, absorptivities and emissivities. Through CFD
analysis in ANSYS CFX, it was possible to obtain temperatures results for multiples scenarios, as
well as their impact on satellite’s energy generation, where it is possible to verify the influence of
different parameters on the temperature field and the energy generated. Generally speaking, higher
the ratio between the absorptivity and emissivity of the external surfaces, higher were the temperatures
observed. This scenario is detrimental to energy generation, especially when the photovoltaic panel
operates under a voltage close to the open circuit voltage of the cell. The analysis also take into
account the internal heat generation by the batteries of the CubeSat, where it is possible to observe
the resulting temperatures as a function of the electrical current applied.
Keywords: simulation; cubesat; heat transfer; photovoltaic panel; battery
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 Exemplos de satélites . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
Figura 2 Estatística dos lançamentos de nanossatélites até o ano de 2023 . . . . . . . . . 19
Figura 3 Satélite Jupiter 3 da Hughes lançado pela SpaceX em 2023 . . . . . . . . . . . 20
Figura 4 Tamanhos de CubeSats . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
Figura 5 FloripaSat-I em processo de integração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Figura 6 Histórico de satélites lançados até 2023 e previsões até 2027 . . . . . . . . . . 22
Figura 7 Subsistemas dos satélites . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
Figura 8 Sistemas de alimentação de nanossatélites . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Figura 9 Potência para diferentes fluxos de radiação e temperaturas, em função da tensão 24
Figura 10 Transferência de calor em satélites . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Figura 11 Ilustração do funcionamento de um tubo de calor . . . . . . . . . . . . . . . . 26
Figura 12 Ilustração de um tubo de calor com condutância variável (VCHP) . . . . . . . . 26
Figura 13 Dados de temperaturas reais para CubeSats em órbita . . . . . . . . . . . . . . 29
Figura 14 GOLDS-UFSC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
Figura 15 Principais partes do CubeSat . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
Figura 16 Comportamento da radiação incidente em uma superfície . . . . . . . . . . . . 33
Figura 17 Circuito equivalente da célula solar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
Figura 18 Órbitas avaliadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
Figura 19 Atitudes avaliadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
Figura 20 Radiação térmica total . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
Figura 21 Radiação solar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
Figura 22 Temperatura dos painéis fotovoltaicos e bateria para α = 0,3, ϵ = 0,3 e I = 0 A . 42
Figura 23 Gradiente de temperatura dos painéis fotovoltaicos . . . . . . . . . . . . . . . 44
Figura 24 Temperatura dos painéis fotovoltaicos e bateria, órbita com eclipse e atitude Nadir 44
Figura 25 Gradiente de temperatura dos painéis fotovoltaicos para diferentes α e ϵ . . . . 45
Figura 26 Gradiente de temperatura para diferentes partes do CubeSat . . . . . . . . . . . 46
Figura 27 Potências geradas pelos painéis fotovoltaicos para α = 0,3, ϵ = 0,3 e VPV = 2,3V 47
Figura 28 Potências para diferentes absortividades e emissividades, com VPV = 2,3V . . . 48
Figura 29 Geração de energia em cada painel fotovoltaico, para α= 0,7, ϵ = 0,3 e VPV=2,3 V 48
Figura 30 Curva característica do painel fotovoltaico utilizado . . . . . . . . . . . . . . . 49
Figura 31 Potências geradas pelos painéis fotovoltaicos para diferentes tensões VPV . . . 49
Figura 32 Potências totais geradas pelo CubeSat 2U ao longo de uma órbita, para α/ϵ =
0,3/0,3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
Figura 33 Gráfico de On/Off da bateria e SoC ao longo da órbita . . . . . . . . . . . . . . 51
Figura 34 Temperatura da bateria para correntes variadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Classificação de satélites de acordo com sua massa . . . . . . . . . . . . . . . . 18
Tabela 2 – Limites operacionais de temperatura dos componentes . . . . . . . . . . . . . . . 27
Tabela 3 – Teste de independência de malha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
Tabela 4 – Propriedade dos materiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
Tabela 5 – Constantes das equações para o modelo do painel fotovoltaico . . . . . . . . . . . 37
Tabela 6 – Temperaturas extremas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
Tabela 7 – Temperaturas extremas para diferentes valores de absortividade e emissividade . . 45
Tabela 8 – Potências totais geradas para os diferentes cenários avaliados . . . . . . . . . . . 50
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CFD Computational Fluid Dynamics
COPUOS Committee on the Peaceful Uses of Outer Space
EPS Electrical Power System
ESA European Space Agency
FDM Finite Difference Method
FEM Finite Element Method
FVM Finite Volume Method
GPS Global Positioning System
ICBM Intercontinental Ballistic Missile
INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
ITA Instituto Tecnológico de Aeronáutica
LEO Low Earth Orbit
NASA National Aeronautics and Space Administration
PCB Printed Circuit Boards
UFABC Universidade Federal do ABC
UFMG Universidade Federal de Minas Gerais
UFSC Universidade Federal de Santa Catarina
UFSM Universidade Federal de Santa Maria
UnB Universidade de Brasília
URSS União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
VCHP Variable Conductances Heat Pipes
LISTA DE SÍMBOLOS
a Coeficiente de albedo [-]
A Área [m2]
AS at→S ol Área do satélite exposta e projetada na direção do Sol [m2]
AS at→Terra Área do satélite exposta e projetada na direção da Terra [m2]
cp Calor específico à pressão constante [J/kg.K]
f Termo que modela a reflexão dos raios solares pela superfície terrestre [-]
I Corrente de carga e descarga [A]
IDI Corrente de saturação inversa do diodo [A]
Iph Corrente de fonte [A]
IPV Corrente da célula solar [A]
IRP Corrente do resistor em paralelo [A]
IS Corrente de saturação [A]
ISC Corrente de curto circuito [A]
k Condutividade térmica [W/m.K]
k̄ Constante de Boltzmann [m2kg/s2K1]
P Potência [W]
P*total Potência total do CubeSat 1U [W]
Ptotal Potência total do CubeSat 2U [W]
q Carga do elétron [C]
q̇ Termo fonte [W/m3]
q̇b Taxa de geração de calor da bateria [W/m3]
Q
′′
0 Fluxo de radiação solar de referência [W/m2]
Qalb Taxa de radiação de albedo absorvida pelo painel solar [W]
Qc Capacidade nominal da bateria [Ah]
QIR Taxa de calor por radiação infravermelha [W]
QS Fluxo de radiação emitida pelo Sol [W/m2]
QS at→Esp Fluxo de calor do satélite para o espaço [W/m2]
QSol Taxa de radiação solar absorvida pelo painel solar [W]
QTerra Fluxo de calor emitido pela superfície terrestre [W/m2]
Q
′′
x Fluxo de calor na direção x [W/m2]
R Resistência da bateria [Ω]
Rp Resistor em paralelo [Ω]
RS Resistor em série [Ω]
SoC State of Charge [%]
SoCin Valor inicial da carga [%]
t Tempo [s]
T Temperatura [°C]
T0 Temperatura de referência [°C]
TEsp Temperatura do espaço no vácuo [°C]
VPV Tensão do painel fotovoltaico [V]
Vq Tensão do silício cristalino [V]
VOC Tensão de circuito aberto [V]
Vb Volume da bateria [m3]
∂UO/∂T Coeficiente térmico de entropia [mV/K]
α Absortividade [-]
ϵ Emissividade [-]
ζ Termo para indicar se o satélite se encontra ou não na região do eclipse [-]
η Fator de idealidade do diodo [-]
ρ Densidade [kg/m3]
σ Constante de Stefan-Boltzmann [W/m2K4]
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.1 Contexto histórico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.2 Motivação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.3 Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.4 Estrutura do texto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.1 Falhas em nanossatélites . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.2 O padrão CubeSat . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.2.1 Os nanossatélites em números . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.3 Electrical Power System - EPS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.4 Controle Térmico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.4.1 Trabalhos relacionados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
3 METODOLOGIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
3.1 Geometria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
3.1.1 Software e parâmetros da malha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
3.2 Transferência de calor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
3.2.1 Condução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
3.2.2 Radiação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
3.3 Condições de contorno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
3.3.1 Fluxo Solar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
3.3.2 Albedo Terrestre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
3.3.3 Radiação infravermelha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
3.3.4 Emissão de radiação no espaço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.4 Material . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.5 Critério de convergência e parâmetros da simulação . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.6 Geração de energia pelo painel fotovoltaico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.7 Bateria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
3.8 Estudos de caso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
4 RESULTADOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
4.1 Temperatura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
4.2 Potências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
4.3 Baterias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
5 CONCLUSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
5.1 Ideias para trabalhos futuros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
15
1 INTRODUÇÃO
De modo a aumentar a segurança nas condições de operação dos satélites em órbita, a busca pela
melhor otimização e disposição dos componentes eletrônicos em seu interior, visando extrair a maior
potência pelos painéis fotovoltaicos sem prejudicar as temperaturas de operação dos componentes,
corresponde à um ramo muito estudado, uma vez que no ambiente espacial, as temperaturas experi-
enciadas pelos satélites podem ser extremas e correspondem à um dos principais fatores de falhas em
nanossatélites.
Devido à pequena área disponível nos nanossatélites, é necessário buscar meios que garantam a
capacidade de geração de energia elétrica, usualmente através de células fotovoltaicas, sem que haja
um aumento significativo nas temperaturas do satélite.
1.1 CONTEXTO HISTÓRICO
A corrida espacial foi responsável pelo grande investimento em pesquisa e desenvolvimento de
novas tecnologias em diversos setores, tendo seu início marcado pelo lançamento do primeiro satélite
artificial da Terra, o Sputnik I, pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), no ano de
1957, através de uma versão modificada do primeiro míssil balístico intercontinental (ICBM), R-7
Semyorka. O êxito na missão do satélite soviético em emitir simples ondas de rádio do espaço, por
meio de suas 4 antenas e que pudessem ser captadas por todos aqui na Terra, fez com que o então
presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Dwight D. Eisenhower, anunciasse em 1958 o
lançamento do primeiro satélite americano, o Explorer 1, além de propor ao Congresso americano a
criação da Agência Espacial Nacional, NASA (FIGINI, 2020).
A busca pela hegemonia global e do espaço sideral entre as superpotências da época fez com
que, no ano de 1959, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas criasse o Comitê das
Nações Unidas para o Uso Pacífico do Espaço Exterior (COPUOS), com o objetivo de regulamentar
as atividades civis para uso pacífico do espaço exterior, desenvolvendo programas e incentivando
pesquisas para descoberta de novas informações sobre o espaço ultraterrestre (BORGES, 2021).
No entanto, os avanços promovidos pela corrida armamentista resultaram na produção e lança-
mento de diversos satélites com o intuito de espionagem e vantagem militar estratégica. Contudo, os
impactos tecnológicos causados pela corrida espacial fulguram até os dias de hoje no cotidiano das
pessoas, por meio do uso de computadores, internet, telescópios e GPS (PEREIRA, 2022).
Após o pouso do homem na Lua e o respectivo colapso da URSS, a verba destinada aos programas
aeroespaciais foi reduzida, uma vez que os custos elevados para lançamento de veículos espaciais e
satélites não eram mais justificáveis (SCHOENI et al., 1996). Dessa forma, houve a necessidade de
buscar meios economicamente viáveis e de maior confiabilidade para posicionar dispositivos em ór-
bita. Sendo assim, na década de 1990, foram iniciadas as discussões sobre a construção de nanossaté-
lites como uma solução para o problema do baixo orçamento e aumento de conhecimento prático dos
alunos das universidades (CENTRO DE GESTÃO E ESTUDOS ESTRATÉGICOS - CGEE, 2018).
16
O primeiro lançamento de CubeSat, que é uma categoria vista dentro dos nanossatélites, ocorreu
em 30 de junho de 2003, colocando em órbita nanossatélites dinamarqueses, japoneses, canadenses e
norte-americanos. O primeiro uso de um CubeSat para missão científica surgiu através do Centro de
Pesquisa Ames, da NASA. Em 2006, o grupo Biological CubeSat, lançou o GeneSat-1 para condução
de experimentos biológicos no espaço e o sucesso da missão acarretou em grande aceitação da ideia
de nanossatélites e CubeSats por parte da comunidade científica e da NASA (FOUNDATION, 2022).
Para exemplificar, a Figura 1 ilustra alguns satélites, com sua massa e ano, onde observa-se a
significativa miniaturização que já se alcançou em missões satelitais. Vale salientar que o tamanho
e massa dos satélites são consequência da missão a ser executada, sendo que ainda hoje satélites de
grande porte continuam sendo desenvolvidos, porém estes em menor quantidade do que os de menor
porte.
Figura 1 – Exemplos de satélites
(a) SCD-1 - 115 kg - 1993 (INPE, 2013) (b) CBERS 4 - 2080 kg - 2014 (INPE, 2014)
(c) Jason-3 - 525 kg - 2016 (NASA, 2016)
(d) VCUB-1 - 12 kg - 2023 (VISIONA, 2023)
Fonte: Elaborado pelo autor.
1.2 MOTIVAÇÃO
Os estudantes de engenharia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) estão desenvol-
vendo um novo satélite nos padrões CubeSat, tamanho 2U (tamanho de 200 mm × 100 mm × 100
mm e massa de 2 kg) para ser lançado em órbita, chamado GOLDS-UFSC, cuja missão é educacional
e tem como objetivo envolver os alunos em todos os processos de projeto e operação de um satélite
(SPACELAB, 2024). Desta forma, para que a missão atinja todos os seus objetivos, faz-se necessário
uma série de ensaios no que se refere ao subsistema de energia EPS (Electrical Power System), que é
composto, entre outros componentes, pelos painéis fotovoltaicos e bateria, assim como do subsistema
de controle térmico. Portanto, análises referentes à sua capacidade de geração de energia e níveis
17
de temperatura são fundamentais para minimizar a ocorrência de falhas em órbita e garantir uma
performance adequada do satélite.
Uma ferramenta útil nesse sentido é a análise em CFD, que permite determinar campos de tem-
peratura transientes em diversas partes do satélite e, consequentemente, auxiliar no dimensionamento
do subsistema de controle térmico do satélite. Por meio dessas análises também é possível arquitetar
outros subsistemas do satélite, como por exemplo o EPS, pois os níveis de temperatura influenciam
na eficiência de um painel fotovoltaico, assim como no ciclo de vida de um painel e também de uma
bateria. Vale salientar que testes experimentais em satélites são difíceis de serem executados com
as condições encontradas em órbita, que incluem simultaneamente o vácuo quase perfeito, condi-
ção de microgravidade, baixas temperaturas e elevadas radiações. Portanto simulações em CFD são
fundamentais para auxiliar no desenvolvimento de uma missão.
1.3 OBJETIVOS
Diante do exposto anteriormente, o principal objetivo deste trabalho é simular numericamente a
transferência de calor em um CubeSat, e o seu impacto na geração de energia pelos painéis fotovol-
taicos. Além disso, os objetivos específicos são:
• Obter o campo de temperatura no CubeSat para típicos cenários encontrados em órbita;
• Modelar e estimar a geração de energia produzida pelas células fotovoltaicas;
• Investigar o impacto da emissividade e absortividade de radiação térmica e na potência elétrica
gerada;
• Avaliar o comportamento térmico da bateria sob diferentes condições de uso.
1.4 ESTRUTURA DO TEXTO
Este trabalho apresenta, em seu Capítulo 2, a Revisão Bibliográfica, onde consta uma análise geral
sobre o processo de democratização do acesso ao espaço, além das vantagens acadêmicas e econômi-
cas do desenvolvimento e lançamento de nanossatélites em universidades, e trabalhos similares que
já foram desenvolvidos por outros autores. Na seção de Metodologia (Capítulo 3), são tratados os
tópicos relacionados com a geometria, as condições de contorno para o problema térmico, os mo-
delos termo-elétricos dos painéis fotovoltaicos e bateria, finalizando com os estudos de caso deste
trabalho. No Capítulo 4 são apresentados os resultados, que incluem principalmente os campos de
temperatura e limites extremos observados em diferentes cenários de órbita, atitude e propriedades
superficiais de radiação, assim como a geração de energia transiente para os painéis fotovoltaicos e
a temperatura da bateria para diferentes correntes elétricas de descarga. Por fim, no Capítulo 5, as
principais conclusões do trabalho e sugestões para trabalhos futuros serão descritas.
18
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Este capítulo apresenta uma visão geral sobre a história do desenvolvimento do padrão dos Cube-
Sats e suas variações, além de comentar brevemente sobre os satélites elaborados por universidades
brasileiras. O capítulo também demonstra o crescimento dos lançamentos de nanossatélites com o
decorrer dos anos e parte dos desafios encontrados durante as fases de projeto. Por fim, é feita uma
discussão geral sobre outros trabalhos relacionados à análises termo-elétricas de CubeSats.
2.1 FALHAS EM NANOSSATÉLITES
Antes de apresentar dados a respeito de falhas, é importante esclarecer que os satélites podem ser
categorizados de acordo com sua massa, conforme a Tabela 1.
Tabela 1 – Classificação de satélites de acordo com sua massa
Classificação Massa
Femto-satellite 0,01-0,1 kg
Pico-satellite 0,1-1 kg
Nano-satellite 1-10 kg
Micro-satellite 10-100 kg
Mini-satellite 100-500 kg
Medium-satellite 500-1000 kg
Large-satellite > 1000 kg
Fonte: Adaptado de Van et al. (2020).
Ainda que o satélite seja de pequeno porte, como os nanossatélites, este também possui dezenas
de circuitos com diversos microprocessadores, sendo estes responsáveis pelo controle de atitude,
telemetria, sistemas propulsivos, temperatura, energia, entre outros. O mau funcionamento de algum
destes sistemas pode ser responsável por uma falha parcial ou completa da missão. Enquanto a falha
completa da missão compreende à problemas técnicos que inviabilizam o satélite de completar o
mínimo de sua missão, as falhas parciais correspondem à problemas que afetam a operação planejada
para o satélite como falhas de componentes ou redução no tempo de vida em órbita.
De acordo com Jacklin (2019), em seu estudo sobre a taxa de falhas em satélites de pequeno porte,
até o ano de 2016, 41,3% de todos os satélites desta categoria enfrentaram falhas totais ou parciais,
sendo 6,1% destas falhas causadas por falhas no veículo de lançamento, 11% corresponde a falhas
parciais do nanossatélite e os 24,2% restantes representam as falhas totais da missão espacial.
A Figura 2 ilustra uma outra estatística de todos os lançamentos de nanossatélites realizados até
2023, onde observa-se que com o aumento do número de satélites lançados, as falhas consequente-
mente também aumentaram, embora estas não ocorram na mesma proporção.
Nesse sentido, vale salientar que o aumento da complexidade nos requisitos das missões espaciais
modernas também resultaram em novos desafios para a operação, manutenção e longevidade das mis-
sões utilizando satélites. Assim, a utilização de nanossatélites torna o problema ainda mais desafiador,
por exemplo em virtude da sua limitação de massa, volume e área externa disponível para alocação
19
Figura 2 – Estatística dos lançamentos de nanossatélites até o ano de 2023
Fonte: KULU (2024).
dos painéis fotovoltaicos que geram energia, dissipar calor e integrar diferentes subsistemas que se-
riam usuais para os grandes satélites é de extrema complexidade para os pequenos satélites (JUNIOR,
2017; SEBASTIAN; BABY, 2018). Vale salientar também que as condições de operação resultantes
dos nanossatélites acabam sendo influenciadas por essas limitações, como por exemplo a geração de
energia pelo efeito fotovoltaico, uma vez que este fenômeno é menos eficiente sob temperaturas mais
altas (DEHBONEI; LEE; NEHRIR, 2009).
Portanto, a realização de ensaios em bancadas e análises, antes do lançamento, são extremamente
importantes para a redução de eventuais riscos que possam inviabilizar a concretização da missão
espacial. Dessa forma, é fundamental para o sucesso das missões a realização de diversas simula-
ções em CFD (Computational Fluid Dynamics) visando dimensionar subsistemas e verificar o seu
funcionamento, assim como auxiliar na obtenção do comportamento adequado enquanto estiver em
órbita.
2.2 O PADRÃO CUBESAT
Desde a democratização do espaço pelo Comitê das Nações Unidas para o Uso Pacífico do Espaço
Exterior (COPUOS) em 1959, diversos avanços tecnológicos no setor aeroespacial foram realizados,
tornando possível colocar satélites cada vez maiores e de maiores massas em órbita, como o maior
satélite artificial de comunicação construído até o momento em que este trabalho foi escrito, o Jupiter
3, pesando mais de 9.000 kg, em Julho de 2023 (SPACEX, 2023). A Figura 3 mostra o satélite
geoestacionário em fase de montagem.
20
Figura 3 – Satélite Jupiter 3 da Hughes lançado pela SpaceX em 2023
Fonte: Hughes (2023).
A construção e operação de um satélite deste porte exige um orçamento significativo e vários
anos de desenvolvimento, sendo inviável para diversos países. Visando tornar o espaço ainda mais
acessível, Jordi Puig-Suari e Bob Twiggs, professores da California Polytechnic State University e
Stanford University, respectivamente, propõem em 1999 a criação de um satélite padronizado de pe-
queno porte e com baixo custo de fabricação, com o intuito de proporcionar à alunos de graduação
e pós-graduação a oportunidade de participarem diretamente de todas as fases de desenvolvimento
de um satélite, desde a sua concepção até sua operação no espaço e posterior descarte. Este modelo
padronizado de satélite foi intitulado de CubeSat (CENTRO DE GESTÃO E ESTUDOS ESTRATÉ-
GICOS - CGEE, 2018).
Os CubeSats correspondem à um padrão de satélite, cujo formato deve ser cúbico, com dimensão
de 100 mm × 100 mm × 100 mm para a unidade (1U) e massa de até 1,33 kg (CALPOLY, 2022).
A padronização do seu formato e o compartilhamento de informações dos projetos de CubeSats pro-
porcionam diversas vantagens, como a compatibilidade entre projetos e a possibilidade da utilização
de componentes eletrônicos comerciais, reduzindo o preço de fabricação. Além disso, o comparti-
lhamento de veículos lançadores por vários CubeSats faz com que os preços de lançamentos sejam
extremamente baixos quando comparados aos satélites lançados individualmente. No entanto, há
também outros tamanhos de CubeSats, conforme Figura 4, sendo estas variações baseadas no padrão
1U.
Figura 4 – Tamanhos de CubeSats
Fonte: NASA (2024).
Dentre as universidades brasileiras que já desenvolveram CubeSats, a Universidade Federal de
Santa Maria (UFSM) é a pioneira com o NanosatC-BR1, feito em parceria com o Instituto Nacional
21
de Pesquisas Espaciais (INPE), sendo lançado e colocado em órbita no ano de 2014 com o objetivo
de monitorar, em tempo real, os distúrbios observados na magnetosfera terrestre sobre o território
brasileiro e seus efeitos nas grandes regiões da Anomalia Magnética do Atlântico Sul e do Eletrojato
da Ionosfera Equatorial (COSTA, 2008). Diversas outras universidades do Brasil já se interessaram no
conceito de CubeSats e criaram os seus próprios nanossátelites, dentre eles o AESP-14 e o ITASAT-1,
ambos desenvolvidos pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) em parceria com o INPE, o
SERPENS, feito pela Universidade de Brasília (UnB) e auxiliado pela Universidade Federal do ABC
(UFABC), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e UFSM, o UbatubaSat, feito pela escola
pública da cidade litorânea de Ubatuba, em São Paulo, em parceria com o INPE, e o FloripaSat-I
(Figura 5), feito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e lançado no ano de 2019,
possuindo como missão principal a demonstração tecnológica e validação em órbita de subsistemas
(AEB, 2020).
Figura 5 – FloripaSat-I em processo de integração
Fonte: SpaceLab (2020).
2.2.1 Os nanossatélites em números
De acordo com Paikowsky (2017), o ecossistema aeroespacial foi por muito tempo uma atividade
controlada somente por estatais, como a NASA (National Aeronautics and Space Administration) e
ESA (European Space Agency). Entretanto, de acordo com o autor, as atividades espaciais globais
passaram por severas mudanças na última década, causadas pelo aumento do envolvimento da in-
dústria privada no setor. Dentre estas principais mudanças está o desenvolvimento de produtos em
menor tempo e com custos menores, além da ideologia do New Space, responsável por impulsionar
a oferta de serviços que não faziam parte do antigo ecossistema, como viagens espaciais comerciais,
foguetes reutilizáveis, serviços in-orbit e constelações de nanossatélites. Neste contexto, projetos de
exploração espacial acabaram por alavancar o crescimento de indústrias privadas do setor, como a
SpaceX, por volta do ano de 2010 (SANTOS, 2021). Dessa forma, na contramão do uso de satélites
cada vez maiores, a nova vertente de pequenos satélites começou a ganhar visibilidade e interesse por
pesquisadores e empresas do mundo todo.
Analisando a Figura 6 é possível comprovar que, à partir de 2014, as empresas do setor pri-
vado correspondem as organizações que mais realizam lançamentos anuais de nanossatélites. Além
disso, também é possível notar que as universidades, onde os CubeSats são amplamente utilizados,
22
encontram-se logo após o setor privado em número de lançamentos, validando portanto, a efetividade
da metodologia de nanossatélites de baixo custo e da revolução tecnológica causada pelo New Space,
democratizando o acesso ao espaço para pesquisadores e estudantes de diversos países.
Figura 6 – Histórico de satélites lançados até 2023 e previsões até 2027
Fonte: KULU (2024).
Independente do tamanho do satélite, em geral todos eles são formados por um conjunto de sub-
sistemas, conforme Figura 7. Cada um desses subsistemas possui uma função dentro da missão, sendo
aqui apenas destacado o Electrical Power System (EPS) e o Controle Térmico.
Figura 7 – Subsistemas dos satélites
Fonte: Elaborado pelo autor.
O objetivo do EPS é gerar, armazenar, regular e distribuir, a energia elétrica que o satélite neces-
sita para completar os requisitos da missão. Ele é dividido em fontes de energia primária e secundária,
representadas pelos painéis solares e bateria, respectivamente. Os painéis solares correspondem ao ar-
ranjo de dezenas de células solares individuais, sendo capazes de gerar de alguns watts até dezenas de
23
quilowatts. Já as baterias são utilizadas para o sistema secundário de geração de energia, fornecendo-
a em períodos em que o sistema primário não se encontra disponível, como nas fases de eclipse.
Dessa forma, as baterias fornecem energia durante a ausência de incidência solar no satélite e são
recarregadas durante o período em que há incidência (CAPPELLETTI; BATTISTINI; MALPHRUS,
2020).
O objetivo do controle térmico é o de garantir a operação dos equipamentos eletrônicos e mecâ-
nicos dentro dos limites operacionais de temperatura, de forma eficiente e confiável. Determinados
equipamentos usados nos satélites são mais eficientes quando operam em temperaturas próximas da
temperatura ambiente na Terra. Em geral, equipamentos eletrônicos no espaço precisam ser mantidos
em uma faixa de temperatura entre -15°C e +50°C, enquanto que as baterias devem estar entre 0°C e
+20°C (FORTESCUE; SWINERD; STARK, 2011).
Este trabalho tem como foco principal a geração de energia e os níveis de temperatura encontrados
em órbita, principalmente nos painéis fotovoltaicos e bateria. As próximas seções apresentam mais
detalhes sobre esses temas.
2.3 ELECTRICAL POWER SYSTEM - EPS
Como mencionado anteriormente, o Painel Fovoltaico (PV) e a bateria recarregável são dois com-
ponentes amplamente encontrados em projetos de satélite. Apenas para exemplificar, a Figura 8
apresenta um modelo de painel fotovoltaico e bateria de íon-lítio comumente vistos em CubeSats 1U.
Figura 8 – Sistemas de alimentação de nanossatélites
(a) NanoPower BP4 (b) Painel solar P110
Fonte: GOMSPACE (2024).
De fato, o painel fotovoltaico, usualmente também chamado de painel solar, é o dispositivo mais
utilizado no fornecimento de energia elétrica em satélites artificiais que orbitam a Terra. Esta tecno-
logia é capaz de absorver a energia emitida pelo Sol na forma de radiação e convertê-la em energia
elétrica por meio do fenômeno fotovoltaico, que ocorre quando ondas eletromagnéticas de diferentes
comprimentos de onda incidem sobre uma placa de materiais semicondutores (AMARANTE et al.,
2019; CARRACE et al., 2022). O silício e germânio estão entre os materiais mais utilizados na cons-
trução de uma célula fotovoltaica, e estas são molduradas em uma espécie de sanduíche com outros
materiais, como alumínio, vidro, encapsulante E.V.A, material de base, entre outros.
24
Contudo, além dos materiais utilizados na construção de um painel solar, a geração de energia
pelo efeito fotovoltaico também depende da magnitude da irradiância e temperatura das células, con-
forme Figura 9, onde a potência gerada é mostrada para diferentes fluxos de radiação e temperaturas.
Basicamente, um baixo nível de irradiância resulta em uma baixa geração de energia, enquanto que
uma elevada temperatura também reduz a capacidade de produzir energia. Portanto, a extração da má-
xima eficiência dos módulos fotovoltaicos é uma tarefa complexa, que depende de uma combinação
adequada de ambos os parâmetros.
Figura 9 – Potência para diferentes fluxos de radiação e temperaturas, em função da tensão
(a) Potência para diferentes temperaturas (b) Potência para diferentes radiações
Fonte: Slongo et al. (2020).
Nesse sentido, se o satélite está em uma região sem incidência da luz do Sol, ou seja, em uma
posição de eclipse onde a Terra está entre o Sol e o satélite, bloqueando a radiação solar, as baterias
são as únicas fontes de energia para alimentar os subsistemas do satélite, e devem fornecer ener-
gia até que sejam carregadas novamente. Relevante mencionar que o dimensionamento da bateria
é uma tarefa importante no desenvolvimento de uma missão satelital porque o número de ciclos de
carga e descarga, assim como a profundidade de descarga e temperatura afetam o seu tempo de vida
(AMARANTE et al., 2019).
Além disso, a capacidade de geração de calor e sua respectiva dissipação, é uma tarefa extrema-
mente complexa ao se trabalhar com CubeSats, devido às suas restrições de tamanho e suas limitações
de massa. A pequena área externa disponível acaba por ser majoritariamente ocupada por painéis fo-
tovoltaicos, visando a extração da maior quantidade de energia elétrica possível. Contudo, o aumento
da temperatura dos painéis solares afeta diretamente na eficiência da capacidade de geração elétrica e
na operação dos componentes eletrônicos dentro da faixa segura, que é estabelecida pelo fabricante.
Importante ressaltar que a eficiência atual de geração de um painel fotovoltaico é relativamente baixa,
próximo de 30 %.
Outra questão que também dificulta a obtenção de energia elétrica pelo efeito fotovoltaico é a
atitude do satélite, que refere-se ao seu apontamento e rotação. Ainda que o satélite não esteja sob o
eclipse da Terra, determinadas superfícies externas podem não estar expostas na direção do Sol, ou
até mesmo podem estar sombreadas por outras partes do próprio satélite. Nesses casos, a capacidade
de gerar energia pelo efeito fotovoltaico é limitada pelos painéis projetados na direção do Sol, sendo
prejudicada quando os raios solares não atingem a superfície sob um ângulo normal.
25
2.4 CONTROLE TÉRMICO
Para a melhor compreensão do comportamento térmico do nanossatélite quando este se encontra
em órbita, deve-se estudar a influência da temperatura e como é realizada a transferência de calor
nestas condições.
De acordo com Spacecraft Thermal Control Handbook, de Gilmore (2002), o controle térmico
corresponde ao sistema responsável por manter os equipamentos operando dentro dos limites térmicos
do projeto. Conforme o mesmo autor, os principais meios de transferência de calor em órbita incluem,
a irradiação por raios solares diretos, irradiação pela reflexão dos raios solares pela Terra (Albedo) e
a irradiação infravermelha emitida pela Terra, que estão ilustrados na Figura 10.
Figura 10 – Transferência de calor em satélites
Fonte: Abdelkhalek et al. (2019).
Para o gerenciamento térmico de satélites há duas possibilidades: controle passivo ou controle
ativo, sendo que apenas no segundo há o consumo de energia elétrica em sua operação. O controle
térmico passivo pode ser feito por meio de acabamentos superficiais obtidos por meio de pinturas,
onde esta em geral consiste em aumentar a emissividade. Outra solução viável é o uso de tubos
de calor (heat pipe), dispositivos que realizam a transferência de calor na forma de calor latente de
vaporização, utilizando um fluido de trabalho que circula por uma estrutura porosa, sendo a sua prin-
cipal vantagem a alta taxa de transporte de calor em baixos gradientes de temperatura, como visto
na Figura 11. Por fim, outro método é a utilização de Materiais de Mudança de Fase (Phase Change
Material - PCM), que auxiliam em situações onde o aumento de capacidade térmica é requerido,
como na minimização dos gradientes de temperatura durante eclipses e dissipação de alta potência.
Funcionam absorvendo ou liberando calor latente durante as mudanças de fase sólido-líquido (FOR-
TESCUE; SWINERD; STARK, 2011).
O controle térmico ativo também é uma alternativa para solucionar os requisitos térmicos dos
nanossatélites. O uso de aquecedores controlados por termostatos auxilia em não permitir que as
temperaturas ultrapassem os limites mínimos de temperatura do equipamento ou subsistema. Podem
ser feitos na forma de resistores compactos montados em placas de metal, cabos coaxiais de metal
ou folhas adesivas. Além desse método, o uso de tubos e diodos de condutância variável (VCHPs),
26
Figura 11 – Ilustração do funcionamento de um tubo de calor
Fonte: Fortescue, Swinerd e Stark (2011).
correspondem a variações do tubo de calor, onde um gás não condensável, em geral o nitrogênio,
é usado para bloquear progressivamente a seção do condensador em função da temperatura do eva-
porador, como visto na Figura 12. Existem também os circuitos fechados de líquidos, amplamente
utilizados em automóveis, onde o líquido de arrefecimento é bombeado entre as várias fontes de calor
e sumidouros, através de uma bomba centrífuga e seu controle é feito por válvulas.
Figura 12 – Ilustração de um tubo de calor com condutância variável (VCHP)
Fonte: Fortescue, Swinerd e Stark (2011).
Para desenvolver o controle térmico de um satélite, uma etapa fundamental consiste em estimar
a transferência de calor que ele terá em órbita. Para isso, no estágio de desenvolvimento inicial de
projetos de CubeSats, a abordagem por formulações analíticas fornece resultados gerais, com bas-
tante agilidade e baixo custo. Contudo, com o avanço para fases mais avançadas do projeto, se fazem
necessárias abordagens com resultados mais precisos e próximos com os esperados durante a sua
operação. Por esse motivo, simulações numéricas são amplamente utilizadas para compreender o
comportamento de nanossatélites, sendo capazes de gerar resultados com elevada acurácia e níveis de
detalhamento (Morsch Filho; SEMAN; Paulo Nicolau, 2021). Dentre os métodos numéricos disponí-
veis e mais utilizados para estes problemas, existe o Método das Diferenças Finitas (Finite Difference
Method - FDM), Método dos Elementos Finitos (Finite Element Method - FEM) e Método dos Volu-
mes Finitos (Finite Volume Method - FVM).
2.4.1 Trabalhos relacionados
Em decorrência desta popularização dos CubeSats na última década, novos trabalhos e pesquisas
começaram a ser desenvolvidas no âmbito de análises e simulações termo-elétricas, em diversas uni-
versidades ao redor do mundo. O trabalho de Corpino et al. (2015), mostra que o controle térmico
passivo é mais que suficiente para manter os componentes eletrônicos de uso aeroespacial dentro de
seus valores operacionais recomendados, como os vistos na Tabela 2. Para chegar nessa conclusão,
27
os autores implementaram simulações térmicas no MATLAB utilizando FEM, onde foram avaliadas
as condições de temperaturas para múltiplas órbitas e seus extremos.
Tabela 2 – Limites operacionais de temperatura dos componentes
Componentes Tmin [ºC] Tmax [ºC]
Eletrônicos (PCB) -40 +85
Bateria (carga) 0 +45
Bateria (descarga) -40 +60
Estrutura -40 +85
Células Solares -100 +100
Fonte: Adaptado de Bulut e Sozbir (2015).
Bulut e Sozbir (2015), analisaram computacionalmente nanossatélites operando em altitudes entre
500 km e 2000 km, considerando um sistema de controle térmico passivo, também obtendo resultados
satisfatórios para todos os componentes eletrônicos, com exceção da bateria. Os autores empregaram
um modelo nodal baseado na conservação da energia. O trabalho ainda mostrou que as temperaturas
dos painéis fotovoltaicos, são extremamente sensíveis ao tipo de material utilizado no revestimento
superficial dos painéis. Contudo, assim como Corpino et al. (2015), os autores ressaltam que para
condições de temperaturas negativas extremas, o uso de aquecedores para as baterias é recomendado
para garantir a operacionalidade em todas as condições durante a órbita, principalmente na fase de
eclipse.
Os estudos elaborados por Reiss et al. (2012) e Richmond (2010) também simulam CubeSats
em órbita, sendo que estes autores empregam resistências equivalentes para a modelagem do com-
portamento térmico. Para o primeiro trabalho, o autor comparou os resultados obtidos pelo uso de
resistências equivalentes com uma análise feita no software ESATAN-TMS, obtendo a mesma distri-
buição de temperaturas para ambas as análises. Para o segundo estudo, uma ferramenta de software foi
desenvolvida a partir da técnica de resistências equivalentes, tendo foco nas modelagem do compor-
tamento térmico de pequenos satélites, sendo usado para avaliar o desempenho do satélite CASTOR,
da Agência Espacial Canadense, obtendo uma diferença inferior a 5% nas temperaturas superficiais
do satélite.
Análises térmicas também foram realizadas para estimar o desempenho do nanossatélite, desen-
volvido por alunos da Universidade do Texas. Neste projeto os participantes realizaram ensaios expe-
rimentais de ciclo térmico e análises térmicas, sendo que o ciclo térmico foi realizado na Câmara-N
no Centro Espacial Johnson, para os cenários de frio e calor extremo, enquanto que as análises tér-
micas foram realizadas utilizando o Método dos Elementos Finitos (DIAZ-AGUADO et al., 2006).
Dentre os resultados, houveram picos de temperaturas que foram similares entre o modelo e os dados
dos ensaios experimentais, sendo empregado o uso de manta térmica para auxiliar na manutenção
do equilíbrio térmico do satélite na condição de frio extremo, mas que não foi capaz de evitar o
superaquecimento da bateria na condição de calor extremo.
Através de um modelo térmico desenvolvido no Matlab, os autores Lyon, Sellers e Underwood
(2002) conseguiram em seu trabalho avaliar e verificar o cumprimento dos requisitos estabelecidos
para a missão do programa do Falconsat-2, em 2001. Através da ferramenta desenvolvida no Si-
mulink, foi possível escolher a abordagem para o controle térmico, a partir da compilação de um
28
histórico de entradas de fluxos externos para o satélite em uma órbita, utilizando-as posteriormente
para análises de comportamento térmico do satélite em órbita, por meio do Método de Diferenças
Finitas. Ao final do trabalho foi escolhida a abordagem de controle térmico passivo com uso de alu-
mínio e fita Kapton nas faces das estruturas externas, uma vez que este se demonstra capaz de manter
os componentes operantes dentro das especificações desejadas de temperatura para o projeto.
O trabalho de Morsch Filho, Seman e Paulo Nicolau (2021) é voltado para a simulação térmica
transiente de um CubeSat 1U, onde a transferência de calor por condução e radiação (externa e in-
terna) é resolvida por meio do FVM. Para resolver a radiação interna no CubeSat, o método Gebhart
e um modelo de obstrução foram implementados, sendo que três condições para a emissividade in-
terna foram testadas. Os resultados mostram um impacto significativo da transferência interna de
calor por radiação no campo de temperatura de todo o satélite, sendo que comparações com um mo-
delo nodal mais simples apresentaram boa concordância, ainda que este último não considere efeitos
tridimensionais.
Lançar um satélite e obter os seus dados de temperatura em órbita é uma tarefa complexa, pois
todo o seu desenvolvimento deve levar em consideração a captura e envio desse tipo de informação.
Além disso, realizar testes em laboratório com condições similares observados em órbita exige uma
infraestrutura sofisticada. Portanto, a fim de auxiliar na discussão dos resultados a serem obtidos
por meio desse trabalho, a Figura 13 mostra o comportamento das temperaturas experienciadas por
nanossatélites em órbita. Ainda que não se tenha as informações da órbita, dos materiais empregados,
do apontamento do satélite e das condições de operação desses satélites, analisando a figura mais
detalhadamente é possível perceber que existe a ocorrência de um padrão oscilatório em todos os
casos, que provavelmente deve ser em decorrência do eclipse da Terra, com duração aproximada de
35 minutos para o eclipse e um tempo total de órbita de 90 minutos. Como será confirmado mais à
frente, as menores temperaturas obtidas ocorrem no período de eclipse, devido a ausência de radiação
solar atingindo as superfícies do CubeSat.
Para o CubeSat CP3, lançado em abril de 2007, com órbita heliossíncrona e orbitando à uma al-
titude de 700 km, é possível observar uma maior compressão das temperaturas no ano inicial (Figura
13a) do que para as amostras obtidas no ano seguinte (Figura 13b), sendo verificado um aumento
aproximado de até 30 K após 12 meses. Um comportamento similar é visualizado para o nanos-
satélite SwissCube, que apresentou um aumento médio de 15 K após 15 meses de operação. Estes
dados referem-se às temperaturas nos painéis fotovoltaicos. Já a Figura 13e e Figura 13f mostram
a temperatura no interior dos satélites, onde um padrão oscilatório também existe, porém de menor
amplitude.
29
Figura 13 – Dados de temperaturas reais para CubeSats em órbita
(a) External parts of CP3: June 2007 (b) External parts of CP3: June 2008
(c) External parts of SwissCube: December 2009 (d) External parts of SwissCube: December 2011
(e) Internal parts of SwissCube (f) Internal parts of Zacube
Fonte: Adaptado de Filho (2021).
30
3 METODOLOGIA
Neste capítulo são descritas as principais partes do domínio virtual, assim como os modelos e
hipóteses que foram adotadas na formulação do problema numérico. O equacionamento a ser apre-
sentado buscará estimar as temperaturas em órbita para um CubeSat 2U, assim como a sua geração
de energia e comportamento da bateria.
3.1 GEOMETRIA
O problema a ser resolvido é baseado na geometria do CubeSat 2U chamado GOLDS-UFSC,
que está apresentado na Figura 14. Este CubeSat encontra-se em desenvolvimento no SpaceLab
() e possui previsão de lançamento para 2025.
Figura 14 – GOLDS-UFSC
(a) Externo (b) Interno
Fonte: SpaceLab (2024).
À partir deste modelo foi criada a geometria a ser utilizada nas simulações deste trabalho, que
está ilustrada na Figura 15, sendo esta composta por 2 estruturas principais em alumínio (cinza),
cada uma com 100 mm × 100 mm × 100 mm. Internamente, possui quatro cantos para fixação de
Printed Circuit Boards (PCBs) junto à estrutura por meio de parafusos, sendo estas representativas
dos diferentes subsistemas elétricos e eletrônicos do nanossatélite. O nanossatélite possui quatro
PCBs (verde) para cada andar U, com 80 mm × 80mm × 2 mm cada. No centro de uma PCB de
cada unidade do CubeSat há uma bateria, representada pelo componente em azul escuro. Além disso,
de modo a minimizar problemas oriundos da radiação encontrada em órbita sobre os componentes
eletrônicos, há blindagens feitas em alumínio (amarelo) para cada uma das faces do satélite, cada
uma com 100 mm × 100 mm × 3 mm. Por fim, os painéis fotovoltaicos (azul claro) são anexados na
https://spacelab.ufsc.br/en/home/
31
face exterior de cada uma das blindagens, e visam transformar a radiação solar incidente em energia
elétrica para alimentar os diversos subsistemas do nanossatélite.
Figura 15 – Principais partes do CubeSat
(a) Disposição das partes (b) Estrutura
(c) Componentes internos (d) Painéis fotovoltaicos (CubeSat fechado)
Fonte: Elaborado pelo autor.
3.1.1 Software e parâmetros da malha
O software utilizado para as simulações de transferência de calor, visando a obtenção das curvas
de temperatura ao longo de uma órbita completa, foi o Ansys CFX 2022 R2, cuja unidade da UNESP
possui a licença. Este software baseia-se no Método dos Volumes Finitos (FVM), sendo que foram
adotados volumes hexaédricos.
Um teste de independência de malha foi executado para verificar a convergência da simulação.
Foram criadas três malhas, com um total de 72.366, 214.153 e 522.089 células. A fim de verificar a
influência da malha nos resultados, foi monitorado a temperatura no painel +X e +Y em uma condição
de fluxo prescrito sobre as faces. Os resultados obtidos por meio dessa análise estão na Tabela 3.
Tabela 3 – Teste de independência de malha
Malha N° de células Temperatura em +X [°C] Temperatura em +Y [°C]
1 72.366 7.23 6.53
2 214.153 8.12 6.72
3 522.089 8.20 6.77
Fonte: Elaborado pelo autor.
32
Como resultado do teste de independência de malha, decidiu-se realizar os estudos de caso dessa
pesquisa com a Malha 2, pois apresenta a melhor relação entre custo computacional e acurácia entre
as malhas avaliadas.
3.2 TRANSFERÊNCIA DE CALOR
A fim de simular a transferência de calor no CubeSat em órbita, um balanço de energia será em-
pregado, considerando as hipóteses de regime transiente, propriedades materiais constantes e vácuo
perfeito, conforme Equação 1:
ρcp
∂T
∂t
= k∇2T + q̇ (1)
onde ρ é a densidade [kg/m3], cp é o calor específico à pressão constante [J/kg.K], T é a temperatura
[K], t é o tempo [s], k é a condutividade térmica [W/m.K] e q̇ é o termo fonte.
Neste trabalho, a transferência de calor que ocorre no CubeSat envolve apenas os modos de trans-
ferência por condução e radiação. Contudo, a troca interna de calor por radiação será ignorada pois
este fenômeno requer cálculos de obstruções e reflexões, o que requer uma formulação mais sofisti-
cada.
3.2.1 Condução
De acordo com Cengel (2011), a definição para a transferência de calor por condução é a transfe-
rência da energia de partículas mais energéticas de uma substância para partículas menos energéticas
como resultado da interação entre as partículas. Desta forma, temos que a equação para o fluxo de
calor em parede plana é dada pela Equação 2:
Q
′′
x = −k
dT
dx
(2)
onde Q representa uma taxa de calor [W], o super-escrito ′′ representa o fluxo daquela propriedade
[W/m2] e x a direção.
3.2.2 Radiação
A radiação térmica é um processo de transferência de calor que ocorre por meio de ondas ele-
tromagnéticas, sendo realizada por todos os corpos que apresentam temperatura superior ao zero
absoluto (Portal de Laboratórios Virtuais de Processos Químicos, 2015). Toda a energia radiante emi-
tida na faixa de comprimentos de onda de 0,1 a 100 µm do espectro eletromagnético é considerado
como radiação térmica, ou seja, afeta diretamente a temperatura do corpo.
De acordo com a Lei de Stefan-Boltzmann, a radiação que um corpo emite é regida pela Equação
3 (CENGEL, 2011):
Q = ϵσAT 4 (3)
33
sendo ϵ a emissividade [-], σ = 5,67 × 10−8 W/m2K4 a constante de Stefan-Boltzmann, A a área e a
T a temperatura da superfície emissora.
A emissividade de um corpo negro (ideal) é a máxima, uma vez que sua emissividade é unitária,
porém esta é uma idealização e corpos reais sempre terão uma emissividade inferior ao do corpo
negro.
Contudo, corpos reais não conseguem absorver ou emitir toda a radiação incidente sobre eles,
sendo que a Figura 16 mostra como a radiação pode ser refletida (ρ), absorvida (α) e transmitida (τ).
Figura 16 – Comportamento da radiação incidente em uma superfície
Fonte: Cengel (2011).
A fim de simplificar as análises, este trabalho assume que todas as superfícies externas do CubeSat
são opacas, cinzas (radiação independe do comprimento de onda) e difusas (radiação independe da
direção). Entre as superfícies internas não será computado trocas de calor por radiação.
3.3 CONDIÇÕES DE CONTORNO
As condições de contorno envolvidos na troca de calor do CubeSat são baseadas em quatro formas,
conforme visto na Figura 10: absorção do fluxo solar, albedo e infravermelho, além da sua própria
emissão. Cada um destes termos serão descritos nas próximas seções e são baseados no trabalho de
Filho (2021).
Vale salientar que a maior parte dos CubeSats lançados operam em órbita baixa (LEO - Low
Earth Orbit), principalmente entre 350-700 km de altitude (POLAT; VIRGILI-LLOP; ROMANO,
2016), tornando outras formas de troca de calor desprezíveis (radiação de outros planetas, estrelas...).
A razão para a escolha desta faixa de altitude se dá por uma série de fatores, como regulamentos de
detritos no espaço que não permitem que dispositivos ultrapassem o tempo de 25 anos em órbita, além
dos objetivos definidos para a missão do satélite, onde para órbitas inferiores a 450 km o tempo da
missão pode ser muito curto em função da perda gradual de altitude por conta do arrasto atmosférico
(LAHRICHI, 2017).
34
3.3.1 Fluxo Solar
Uma hipótese adotada para este trabalho foi considerar que os raios solares que atingem as super-
fícies do CubeSat e a Terra são paralelos devido à grande distância entre o Sol e a Terra. Portanto, a
taxa de calor proveniente do Sol e que efetivamente é absorvida pelo CubeSat é regida pela Equação
4:
QS ol = αQsAS at→S olζ (4)
sendo α a absortividade da superfície do nanossatélite [-], Qs o fluxo de radiação solar de 1365 W/m2
(GILMORE, 2002), AS at→S ol a área exposta e projetada na direção do Sol [m2] e ζ é o termo usado
para indicar se o satélite se encontra dentro ou fora da região sombreada (eclipse) da Terra [-].
3.3.2 Albedo Terrestre
O albedo terrestre é o efeito causado pela reflexão dos fótons oriundos do Sol que se chocam com
a superfície e atmosfera terrestre, influenciando também na radiação que chega até as superfícies do
satélite (GILMORE, 2002). A Equação 5 fornece a expressão utilizada para estimar esta radiação:
Qalb = aαQsAS at→Terra f (5)
onde a é o valor do coeficiente de albedo [-], AS at→Terra é a área do satélite exposta e projetada na
direção da Terra [m2] e f é um termo que modela a reflexão dos raios solares pela superfície terrestre
de forma especular. O termo f da equação do modelo do albedo é diretamente dependente da posição
angular do CubeSat, tendo sua intensidade máxima nas proximidades da linha do equador e regiões
que recebem irradiação solar na direção de zênite.
Estimar o valor exato para o coeficiente de albedo é extremamente difícil, uma vez que este é
influenciado por múltiplos fatores como tipo de solo e vegetação, além de nuvens impactarem na
magnitude do coeficiente. Desta forma, de acordo com o trabalho de Yıldız (2018), o valor médio
encontrado para o coeficiente de albedo é de 30%.
3.3.3 Radiação infravermelha
A Terra emite parte da radiação recebida em direção ao espaço na forma de raios infravermelhos
devido a temperatura da superfície estar acima da temperatura do zero absoluto, sendo este fenômeno
conhecido como radiação infravermelha da Terra (ATAR; AKTAş; SöZBIR, 2022). Em média a
temperatura da superfície terrestre está 255 K acima do zero absoluto, gerando um fluxo de calor
de aproximadamente QTerra = 237 W/m2 para esta temperatura (GILMORE, 2002). A Equação 6
modela o calor gerado por essa fonte:
QIR = αQTerraAS at→Terra (6)
Os modelos empregados para estimar a projeção de cada lado do CubeSat em direção à Terra
(AS at→Terra) e o Sol (AS at→S ol), assim como o cálculo envolvendo a ocorrência de eclipse (ζ) e a
35
reflexão dos raios solares ( f ) não serão discutidos neste trabalho, mas podem ser consultados em
Filho (2021).
3.3.4 Emissão de radiação no espaço
A diferença de temperatura entre o satélite em órbita e o seu entorno (vácuo) faz com que o
CubeSat transfira calor por radiação para o espaço. A temperatura do espaço profundo é de aproxi-
madamente 2,7 K, enquanto que a do satélite varia de acordo com suas características, conforme as
condições de contorno descritas anteriormente. Para este trabalho, todas as perdas de calor por meio
das superfícies do satélite foram calculadas pela Equação 7:
QS at→Esp = ϵAσ
(
T 4
S at −T 4
Esp
)
(7)
sendo TS at a temperatura da superfície do CubeSat e TEsp a temperatura do espaço no vácuo.
3.4 MATERIAL
As propriedades materiais empregadas na simulação térmica estão listadas na Tabela 4.
Tabela 4 – Propriedade dos materiais
Componente Material k [W/mK] CP [J/kgK] ρ [kg/m3]
Estrutura Alumínio 140 948 2810
PCB RF4 1.03 1103 2325
Bateria Lítio 21 933 2122
Blindagem Alumínio 140 948 2810
Painel solar RF4 1.03 1103 2325
Fonte: Adaptado de Filho (2021).
Os valores empregados para as absortividades e emissividades das superfícies serão discutidos
mais à frente, junto à definição dos estudos de casos.
3.5 CRITÉRIO DE CONVERGÊNCIA E PARÂMETROS DA SIMULAÇÃO
Como critério de convergência foi adotado como resíduo RMS o valor máximo 1×10−4 e erros no
balanço inferiores a 0,01%. Como passo de tempo utilizado nas simulações foi de 20 segundos, sendo
que o critério de convergência adotado foi de periodicidade nas curvas de temperatura, extraindo as
temperaturas observadas na última órbita. Um método de segunda ordem foi adotado para os termos
transientes, e um método de alta resolução para os demais termos.
3.6 GERAÇÃO DE ENERGIA PELO PAINEL FOTOVOLTAICO
A fim de estimar a potência gerada ao longo da órbita pelos painéis fotovoltaicos, a Figura 17
ilustra o modelo elétrico para um painel, onde observa-se que há um diodo de junção PN em paralelo
com uma corrente de fonte Iph e um resistor de bypass Rp, e em série com um resistor RS , em virtude
dos contatos metálicos com o semicondutor (MARTINEZ et al., 2021).
36
Figura 17 – Circuito equivalente da célula solar
Fonte: Martinez et al. (2021).
Realizando a soma das correntes Iph (gerada pelo efeito fotovoltaico), IDI (corrente de saturação
inversa do diodo), IRp (corrente do resistor) e IPV (corrente da célula solar) tem-se a Equação 8:
IPV = Iph− IDI − IRp (8)
Esta equação fornece a corrente gerada em uma célula solar para cada instante de tempo, sendo
omitida a indicação de dependência com o tempo na escrita das equações.
A Equação 9 fornece a corrente fotogerada pelo efeito fotovoltaico, sendo calculada em função da
corrente de curto circuito, IS C [A], para uma determinada radiação solar Q′′S ol e temperatura da célula
solar T .
Iph = IS C
Q′′S ol
Q′′0
[1+∆IS C(T −T0)] (9)
onde Q′′0 e T0 são a radiação solar e a temperatura de referência para qual IS C foi obtida e ∆IS C [A/K]
é o coeficiente da variação IS C com a temperatura.
A Equação 10 fornece a corrente do diodo:
IDI = IS exp
[
−q(VPV + IPVRS )
ηk̄T
−1
]
(10)
sendo IS a corrente de saturação, q a carga do elétron, VPV a tensão do painel fovotoltaico, η o fator
de idealidade do diodo e k̄ a constante de Boltzmann. O equacionamento usado por Xin, Wang e Xi
(2023) para o cálculo da corrente de saturação dos diodos é empregado, conforme Equação 11:
IS =
IS C(T0)
expqVOC(T0)
ηk̄T0
−1
(
T
T0
) 3
η
exp
qVq
ηk̄
(
1
T −
1
T0
) (11)
onde Vq é a tensão do silício cristalino e VOC é a tensão de circuito aberto.
Substituindo estes termos na Equação 8, tem-se a seguinte expressão para a corrente IPV do painel
fotovoltaico:
IPV = IS C
Q′′S ol
Q′′0
[1+∆IS C(T −T0)]− IS exp
[
−q(VPV + IPVRS )
ηk̄T
−1
]
−
VPV + IPVRS
Rp
(12)
37
Esta equação será resolvida pelo método iterativo de Newton-Raphson para cada instante de
tempo, sendo os principais dados de entrada o fluxo de radiação solar Q′′S ol e temperatura da cé-
lula T . Multiplicando a corrente do painel fotovoltaico IPV pela tensão à qual ele está acoplado VPV
obtém-se a potência P gerada em cada instante.
Os demais parâmetros do modelo de geração de energia pelo painel fotovoltaico são constantes e
estão elencados na Tabela 5.
Tabela 5 – Constantes das equações para o modelo do painel fotovoltaico
Constante Valor
η 3,25
k̄ 1,3806 ×10−23 m2 kg /s2 K
Vq 1,12 eV
q 1,602 ×10−19 C
IS C 0,41 A
VOC 2,564 V
RS 0,2242 Ω
∆IS C 0,07
RP 1×108 Ω
RS 0,2242 Ω
Q0 1000 W/m2
T0 298 K
Fonte: Adaptado de Martinez et al. (2021).
38
3.7 BATERIA
Visando compreender o comportamento termo-elétrico de baterias tipicamente utilizadas em pro-
jetos de CubeSat, o modelo proposto Bernardi, Pawlikowski e Newman (1985) foi implementado.
Vale salientar que nas análises o comportamento elétrico da bateria não interfere no modelo elétrico
do painel fotovoltaico, vice-versa.
A taxa de geração de calor da bateria, q̇b [W/m3], é dada por:
q̇b =
I
Vb
[
IR+T
∂UO
∂T
]
(13)
onde Vb é o volume da bateria [m3], I a corrente de carga e descarga [A], R é a sua resistência [Ω], T
é a temperatura da bateria e ∂UO/∂T é o coeficiente térmico de entropia.
De acordo com Lai et al. (2019), coeficiente térmico de entropia, na unidade de milivolts, pode
ser obtido por:
∂UO
∂T
= −0.355+2.154×S oC−2.869×S oC2+1.028×S oC3 (14)
onde SoC (State of Charge) indica o quanto de capacidade de carga ainda existe na bateria, sendo o
valor máximo 1 (bateria cheia) e o mínimo 0 (bateria vazia).
A equação geral para o SoC é dada por:
S oC = S oCin−
It
Qc
(15)
onde S oCin é o valor inicial da carga [-], Qc é a capacidade nominal da bateria [Ah] e t é o tempo [s].
Para completar o modelo, de acordo com Xin, Wang e Xi (2023), a resistência elétrica de uma
bateria não é constante, variando de acordo com a sua temperatura e seu estado de carga (S oC),
podendo ser calculada, em mΩ, de acordo com a seguinte expressão:
R =
992×S oC6−3406×S oC5+4667×S oC4−3263×S oC3+1225×S oC2−233×S oC+48,T = 60◦C
1559×S oC6−5374×S oC5+7367×S oC4−5121×S oC3+1898×S oC2−355×S oC+58,T = 50◦C
1559×S oC6−5365×S oC5+7378×S oC4−5181×S oC3+1962×S oC2−382×S oC+66,T = 40◦C
2989×S oC6−10480×S oC5+14700×S oC4−10514×S oC3+4036×S oC2−793×S oC+107,T = 30◦C
4301×S oC6−15496×S oC5+22391×S oC4−16531×S oC3+6559×S oC2−1334×S oC+166,T = 20◦C
(16)
Neste trabalho é assumido que a capacidade da bateria (Qc) é de 2 Ah e o estado da carga inicial
(S oCin) é 1, ou seja, a bateria sempre está inicialmente completamente carregada.
Embora os demais componentes eletrônicos de um satélite também gerem calor durante sua ope-
ração, eles serão desconsiderados neste trabalho.
3.8 ESTUDOS DE CASO
Em termos de órbita, duas configurações serão avaliadas: com e sem eclipse, conforme ilustrado
na Figura 18. A posição do Sol para cada caso é normal à imagem, portanto a Figura 18a consiste em
39
uma configuração onde o CubeSat percorre uma órbita em que há momentos onde a Terra permanece
entre o Sol e o CubeSat, causando o seu sombreamento (com eclipse), enquanto na Figura 18b o
CubeSat nunca fica atrás da Terra (sem eclipse). A fim de avaliar cenários representativos de CubeSat,
a órbita possui 506 km de altitude, é circular e tem inclinação de 90◦.
Figura 18 – Órbitas avaliadas
(a) Com eclipse (b) Sem eclipse
Fonte: Elaborado pelo autor.
Para cada órbita serão avaliadas duas condições de atitude, ou seja, de apontamento e rotação do
CubeSat, que aqui serão denominadas Nadir e Máxima Projeção. Para o cenário Nadir, o CubeSat
aponta constantemente uma de suas faces para o centro da Terra, enquanto o caso de Máxima Projeção
consiste em uma configuração onde o CubeSat mantém três de suas faces constantemente projetadas
em direção ao Sol, sob o mesmo ângulo, conforme ilustrado na Figura 19.
Figura 19 – Atitudes avaliadas
(a) Nadir (b) Máxima projeção
Fonte: Adaptado de Filho et al. (2020).
O emprego das configurações descritas acima resultam em diferentes cenários de radiação tér-
mica, que são utilizados como condição de contorno nas simulações térmicas do CubeSat, conforme
40
Figura 20. Estas imagens ilustram a radiação térmica total (radiação solar, albedo e infravermelho)
sobre cada lado do CubeSat, ao longo do tempo, onde percebe-se que há uma significativa variação
entre os casos, dependendo da escolha de órbita e atitude.
Figura 20 – Radiação térmica total
(a) Órbita com eclipse - atitude Nadir (b) Órbita sem eclipse - atitude Nadir
(c) Órbita com eclipse - atitude Máxima Projeção (d) Órbita sem eclipse - atitude Máxima Projeção
Fonte: Elaborado pelo autor.
Além disso, a parcela de radiação solar resultante destes cenários também é empregada para as
simulações de geração de energia, sendo esta apresentada na Figura 21. Comparando a Figura 20 e
Figura 21 percebe-se que a radiação solar é a principal fonte de calor agindo sobre as superfícies do
CubeSat.
41
Figura 21 – Radiação solar
(a) Órbita com eclipse - atitude Nadir (b) Órbita sem eclipse - atitude Nadir
(c) Órbita com eclipse - atitude Máxima Projeção (d) Órbita sem eclipse - atitude Máxima Projeção
Fonte: Elaborado pelo autor.
42
4 RESULTADOS
Este capítulo discute os resultados das temperaturas para os painéis fotovoltaicos e bateria obtidos
por meio das simulações, para os quatro diferentes cenários de atitudes e órbitas. Em seguida, são
comentadas as potências geradas pelos painéis fotovoltaicos ao longo de uma órbita para os cenários
discutidos previamente e para variadas combinações de absortividade, emissividade e tensão do painel
fotovoltaico, de modo a verificar seu impacto nas temperaturas do satélite. Finalmente, são aborda-
dos os parâmetros térmicos da bateria para os cenários com ocorrência de eclipse e para diferentes
correntes circulando pela bateria.
4.1 TEMPERATURA
A Figura 22 mostra a temperatura no centro de cada painel e da bateria do CubeSat ao longo de
uma órbita completa, para variadas condições de atitudes e órbitas. Embora o CubeSat seja 2U, com
dez painéis fotovoltaicos e duas baterias, os resultados indicaram que as temperaturas de um mesmo
lado são muito próximas e, portanto, optou-se por mostrar apenas um painel de cada lado. Para as
baterias, as temperaturas também são muito próximas e portanto somente uma será mostrada. Em
todos os casos da Figura 22 tem-se uma absortividade (α) e emissividade (ϵ) de 0,3 para ambos, além
de uma corrente (I) nula passando pela bateria.
Figura 22 – Temperatura dos painéis fotovoltaicos e bateria para α = 0,3, ϵ = 0,3 e I = 0 A
(a) Órbita com eclipse - atitude Nadir (b) Órbita sem eclipse - atitude Nadir
(c) Órbita com eclipse - atitude Máxima Projeção (d) Órbita sem eclipse - atitude Máxima Projeção
Fonte: Elaborado pelo autor.
Analisando o comportamento das curvas da Figura 22, nota-se que as temperaturas mais baixas
de operação ocorrem para o cenário de Nadir com eclipse, enquanto que as maiores temperaturas
43
de operação são para a atitude de Máxima Projeção sem eclipse. Este comportamento resulta das
magnitudes para os fluxos totais de radiação térmica sobre o CubeSat observados na Figura 20, pois
embora o pico de radiação térmica seja maior para a atitude Nadir, o caso Máxima Projeção possui
mais superfícies voltadas ao sol simultaneamente. Para todos os casos observados, a temperatura da
bateria é praticamente constante ao longo da órbita, sendo aproximadamente um valor intermediário
entre os extremos absolutos de temperatura dos painéis fotovoltaicos. Este comportamento pode ser
explicado pela inércia térmica das baterias aliado ao fato de que as cargas térmicas sobre elas são
menos intensas, justamente por estarem localizadas no interior do CubeSat. Vale salientar que os
fluxos térmicos de radiação incidem somente sobre as faces externas do CubeSat, ou seja, apenas
nos painéis fotovoltaicos, enquanto que internamente a modelagem do problema assume uma troca
nula por radiação. Dessa forma, as temperaturas das baterias resultam apenas da troca de calor por
condução, que chega até elas através da estrutura interna do CubeSat, e pela sua geração interna de
calor quando houver a passagem de uma corrente.
Os casos sem eclipse apresentam níveis de temperatura mais elevados quando comparados aos
casos com eclipse, sendo este um resultado esperado porque durante todo o tempo em que o CubeSat
está sob a sombra da terra ele deixa de receber a radiação térmica do tipo solar e de albedo, que são
as mais significativas, respectivamente. Inclusive, as temperaturas mais baixas estão associadas ao
último instante em que o satélite está sob a sombra terrestre. Além disso, observa-se que os casos
avaliados na Figura 22 indicam que as maiores variações de temperatura ao longo de uma órbita
ocorrem para a atitude Nadir, sendo este resultado explicado em virtude das maiores variações no
fluxo de radiação total para este caso, conforme Figura 20.
A Tabela 6 destaca as temperaturas máximas e mínimas obtidas para cada uma das condições
de atitude e órbita analisadas até aqui, onde é possível verificar que as maiores temperaturas são
obtidas para o cenário de Máxima Projeção sem ocorrência de eclipse, sendo a temperatura máxima
de aproximadamente 29°C, enquanto a mínima é de -15°C para o caso com eclipse atitude Nadir.
Tabela 6 – Temperaturas extremas
Painel fotovoltaico Bateria
Caso Tmax [°C] Tmin [°C] Tmax [°C] Tmin [°C]
Nadir com eclipse -3,05 -14,30 -8,75 -9,36
Nadir sem eclipse 6,88 3,56 4,89 4,83
Máxima projeção c/ eclipse 15,30 1,62 8,78 8,01
Máxima projeção s/ eclipse 28,85 27,90 27,85 27,90
Fonte: Elaborado pelo autor.
Quando observadas as maiores diferenças entre temperatura máxima e mínima de todos os painéis
que envolvem o CubeSat, para cada instante de tempo, tem-se a Figura 23. É possível perceber que
as maiores variações de temperaturas ocorrem para o cenário Nadir sem eclipse, tendo uma média de
aproximadamente 2°C entre o painel mais quente e o mais frio. Além disso, é possível verificar que a
variação de temperatura para a condição de Máxima Projeção sem ocorrência de eclipse é constante,
sendo que ao longo de toda órbita o painel mais quente está 1ºC acima do mais frio. Esses baixos
gradientes de temperatura podem ser explicados pela elevada condutividade térmica da estrutura e
das blindagens que estão sob os painéis fotovoltaicos, ambas feitas de alumínio. Os instantes que
44
resultam nos menores gradientes ocorrem quando o CubeSat entra na sombra terrestre, ocasião em
que as cargas térmicas incidentes são menores e, consequentemente, os campos de temperatura mais
homogêneos.
Figura 23 – Gradiente de temperatura dos painéis fotovoltaicos
Fonte: Elaborado pelo autor.
De modo a comparar o impacto da absortividade e emissividade dos painéis fotovoltaicos na sua
temperatura, também foram realizadas simulações para quatro diferentes condições destes parâme-
tros. O cenário escolhido para ser analisado foi o Nadir com eclipse por conta do satélite apresentar
um comportamento mais dinâmico para os fluxos de radiação incidentes. Os resultados dessa análise
consideram que não há nenhuma corrente passando pela bateria (I=0 A) e estão na Figura 24.
Figura 24 – Temperatura dos painéis fotovoltaicos e bateria, órbita com eclipse e atitude Nadir
(a) α = 0,3 e ϵ = 0,3 (b) α = 0,3 e ϵ = 0,7
(c) α = 0,7 e ϵ = 0,3 (d) α = 0,7 e ϵ = 0,7
Fonte: Elaborado pelo autor.
É possível notar, como já esperado, que a absortividade e emissividade apresentam uma relação
direta com a temperatura alcançada pelos painéis fotovoltaicos do satélite. Os casos mais extremos
45
são encontrados nas condições em que os valores entre as constantes diferem. Os resultados indicam
que uma baixa razão para α/ϵ, ou seja, quanto menor a absortividade e maior a emissividade, tem-
se uma menor temperatura atingida pelos painéis, como observado na Figura 24b. Por outro lado,
quanto maior a absortividade do painel e menor a emissividade, ou seja, uma elevada razão de α/ϵ,
mais quente o painel estará, conforme Figura 24c. Contudo, ainda que se use uma razão fixa para α/ϵ,
pode-se ter diferentes respostas, conforme observado nas Figuras 24a e 24d, onde ambas as razões
são unitárias, mas o valor individual dos termos dessa razão são distintos entre os casos. Nos casos
em que isso ocorre, a razão que empregar os maiores valores para α e ϵ resultarão em temperaturas
máximas e mínimas mais distintas entre si.
De acordo com a Tabela 7, as temperaturas mais quentes são obtidas para a condição de maior
absortividade e menor emissividade, ou seja, quando o satélite apresenta alta capacidade de absorver
calor, contudo não consegue emiti-lo. Por outro lado, para o cenário onde a emissividade é superior
à absortividade, o satélite acaba por apresentar uma facilidade maior em perder calor com o meio,
justificando assim as baixas temperaturas observadas.
Tabela 7 – Temperaturas extremas para diferentes valores de absortividade e emissividade
Painel fotovoltaico Bateria
Caso Tmax [°C] Tmin [°C] Tmax [°C] Tmin [°C]
α/ϵ = 0,3/0,3 -3,05 -14,30 -8,75 -9,36
α/ϵ = 0,3/0,7 -53,40 -64,60 -59,10 -59,70
α/ϵ = 0,7/0,3 67,09 41,27 53,49 52,16
α/ϵ = 0,7/0,7 4,63 -21,00 -8,87 -10,2
Fonte: Elaborado pelo autor.
Para estas configurações testadas, as máximas diferenças de temperatura encontradas entre todos
painéis fotovoltaicos, em cada instante de tempo, podem ser visualizadas na Figura 25. Interessante
notar que os gradientes são praticamente iguais para as razões α/ϵ=0,7/0,7 e α/ϵ=0,7/0,3, assim
como para α/ϵ=0,3/0,3 e α/ϵ=0,3/0,7. Por meio destes resultados percebe-se que as curvas para os
gradientes são iguais entre os casos em que se têm a mesma absortividade, ainda que as emissivida-
des sejam distintas. A Figura 25 também indica que os maiores gradientes ocorrem sob as maiores
absortividades, sendo muito baixo quando se está sob o eclipse da Terra.
Figura 25 – Gradiente de temperatura dos painéis fotovoltaicos para diferentes α e ϵ
Fonte: Elaborado pelo autor.
46
Diante do exposto, os resultados vistos na Figura 22 e Figura 24 para diferentes atitudes, órbitas
e propriedades superficiais, como absortividade e emissividade, indicam que o campo de temperatura
de um satélite é fortemente impactado por estes parâmetros e devem ser levados em consideração no
desenvolvimento do subsistema de gerenciamento térmico do satélite.
Apenas para ilustrar, a Figura 26 apresenta o campo de temperatura nas principais partes do Cu-
beSat para o último instante de tempo na órbita, na condição Nadir, com eclipse e α/ϵ = 0,7/0,3. Os
gradientes externos se originam principalmente por conta das condições de contorno distintas em cada
lado, enquanto que internamente é resultado das propriedades materiais entre as diferentes partes.
Figura 26 – Gradiente de temperatura para diferentes partes do CubeSat
(a) Disposição das partes (b) Estrutura
(c) Componentes internos (d) Painéis fotovoltaicos (CubeSat fechado)
Fonte: Elaborado pelo autor.
4.2 POTÊNCIAS
Os resultados referentes às simulações envolvendo a geração de energia pelos painéis fotovoltaicos
do CubeSat são descritos nessa seção. Conforme visto no equacionamento da corrente do painel
solar (Equação 12), este parâmetro depende da radiação solar incidente, da temperatura do painel
fotovoltaico e da tensão associada ao painel fotovoltaico.
A Figura 27 ilustra a potência associada à um painel fotovoltaico de cada lado do satélite, assim
como a potência total associada à este conjunto, que aqui será denominada de P∗total. A fim de facilitar
a visualização dos resultados, vale salientar que nesta figura não se considera que os lados maiores
do CubeSat 2U teriam o dobro de células fotovoltaicas. Os resultados da Figura 27 são válidos para
47
as atitudes de Nadir e Máxima Projeção, para ambos os casos com e sem eclipse, considerando que a
tensão do painel fotovoltaico é de 2,30 V. Estes resultados são válidos para a configuração de α = 0,3
e ϵ = 0,3, com corrente da bateria nula.
Figura 27 – Potências geradas pelos painéis fotovoltaicos para α = 0,3, ϵ = 0,3 e VPV = 2,3V
(a) Órbita com eclipse - atitude Nadir (b) Órbita sem eclipse - atitude Nadir
(c) Órbita com eclipse - atitude Máxima Projeção (d) Órbita sem eclipse - atitude Máxima Projeção
Fonte: Elaborado pelo autor.
Como se observa, uma órbita com eclipse é uma condição crítica para o CubeSat, pois ela cor-
responde à vários minutos sem geração de energia e baixas temperaturas (Figura 22). O gráfico para
a radiação solar visto na Figura 21 corrobora os resultados da Figura 27, visto que a maior potência
gerada está associada ao caso cuja atitude resulta em faces mais diretamente expostas ao Sol, aqui
chamadas de Máxima Projeção.
Em virtude da geometria de um CubeSat, no máximo haverá apenas três lados voltados ao Sol
podendo gerar energia, contudo isso também depende da combinação de órbita, atitude e temperatura.
Por exemplo, a Figura 27a mostra que os lados Z+ e Z- não geram nenhuma potência, uma vez que
neste tipo de cenário estes lados não recebem nenhuma radiação solar (Figura 21) durante todo o
período de órbita. Por outro lado, o cenário da Figura 27b mostra a mesma atitude Nadir, porém sem
a ocorrência de eclipse, onde nota-se que os lados X- e X+ não geram mais energia. Além disso, é
possível perceber que, para ambos casos de atitude Nadir, os instantes que fornecem a maior potência
gerada ocorrem nas intersecções das curvas entre dois painéis, sendo em nenhum momento observado
mais de três painéis gerando energia simultaneamente.
Quando os resultados para a atitude de Máxima Projeção são avaliados, o cenário é diferente,
pois neste caso tem-se três lados gerando energia ao mesmo tempo e no mesmo nível. Isso ocorre
porque esta configuração está associada à uma exposição constante de três superfícies diretamente
para o Sol. Como observado na Figura 27c e 27d, embora individualmente os painéis não chegam
no mesmo patamar de geração de energia quando comparado ao caso Nadir, na soma total se alcança
48
valores mais elevados. Ainda que não seja possível ver com clareza, os lados X-, Y- e Z+ estão
gerando energia igualmente, em aproximadamente 0,71 W. O comportamento observado na Figura
27c é semelhante ao da Figura 27d, contudo, exceto que na ocorrência do eclipse entre 1740 e 3900
segundos nenhum dos painéis é capaz de fornecer energia, que é representado pelo comportamento
de degrau no gráfico.
De modo a analisar o efeito de variadas condições de absortividades e emissividades, a potência
gerada para as quatro condições comentadas previamente neste trabalho também foram obtidas e estão
ilustradas na Figura 28. Exceto pelo caso com α = 0,7 e ϵ = 0,3, todos os demais casos apresentam
praticamente o mesmo comportamento (magnitude e simetria).
Figura 28 – Potências para diferentes absortividades e emissividades, com VPV = 2,3V
Fonte: Elaborado pelo autor.
Para explicar o comportamento distinto do caso α/ϵ = 0,7/0,3, tem-se a combinação de uma
série de motivos. Ao observar a Figura 21a, no instante de 1400 s já há radiação chegando no painel
X-, portanto ele, em princípio, teria condições de gerar energia. Contudo, ao observar a Figura 29
percebe-se que este painel começa a gerar somente à partir de 1520 s, quando a radiação solar já
atinge um nível 181 W/m2.
Figura 29 – Geração de energia em cada painel fotovoltaico, para α = 0,7, ϵ = 0,3 e VPV=2,3 V
Fonte: Elaborado pelo autor.
Ao observar o nível de temperatura do painel X- na Figura 24c, no momento em que ele começa a
gerar energia, sua temperatura é de aproximadamente 63°C. Ao plotar a curva característica do painel
fotovoltaico empregado neste trabalho para esta temperatura, porém com uma radiação solar de 180
W/m2 (1 W/m2 abaixo do nível visto em 1520 s), tem-se a Figura 30.
49
Figura 30 – Curva característica do painel fotovoltaico utilizado
Fonte: Elaborado pelo autor.
Esta curva de potência em função da tensão do painel fotovoltaico demonstra que, para a combi-
nação anterior, a tensão de circuito aberto (VOC da Equação 11) é em torno de 2,25 V, sendo este um
valor abaixo da tensão VPV = 2,30 V empregada para gerar os dados da Figura 28, portanto o painel
é incapaz de gerar energia para essa condição, mesmo que exista radiação solar incidente sobre ele.
Por outro lado, para o mesmo instante de 1520 s, o painel Y- também tem aproximadamente a mesma
temperatura de 63°C, porém a radiação solar incidente sobre ele é de 1350 W/m2, e esta combina-
ção resulta em uma tensão de circuito aberto de 2,44 V, que está acima dos 2,30 V empregados na
simulação, ou seja, este painel consegue gerar energia.
Esta combinação de radiação solar e temperatura que ocorre em cada lado do CubeSat, aliada à
tensão VPV empregada, também explica a assimetria observada na potência. Verificando a radiação
nos lados Y- e Y+ da Figura 21a, percebe-se que elas são espelhadas, sendo que o lado Y- recebe
antes do eclipse, enquanto o lado Y+ apenas a recebe após o eclipse. Contudo, a temperatura de
todo o CubeSat ao sair do eclipse é menor do que antes dele entrar, resultando em uma geração mais
eficiente em Y+ do que em Y-.
A Figura 31 ilustra a influência da tensão VPV aplicada nos dois cenários extremos de temperatu-
ras, obtidos com α/ϵ = 0,3/0,7 (caso frio) e α/ϵ = 0,7/0,3 (caso quente), indicando que a tensão do
painel fotovoltaico impacta diretamente na geração de energia. Contudo, o valor exato que promo-
veria a máxima geração não é constante para um CubeSat em órbita, pois este parâmetro também é
influenciado pela radiação solar e temperatura do painel, sendo ambas dinâmicas ao longo da órbita.
Figura 31 – Potências geradas pelos painéis fotovoltaicos para diferentes tensões VPV
(a) α = 0,3, ϵ = 0,7 (b) α = 0,7, ϵ = 0,3
Fonte: Elaborado pelo autor.
50
Por fim, a Figura 32 demonstra as potências totais geradas pelo CubeSat 2U para as 4 condições
estudadas neste trabalho, considerando que os lados X e Y têm o dobro de tamanho, ou seja, o do
dobro de painéis, do que o lado Z. Pode-se notar que a atitude de Máxima Projeção sem eclipse
representa a condição de maior potência gerada em média durante toda uma órbita, gerando aproxi-
madamente 3,55 W para todos os instantes. Entretanto, a atitude de Máxima Projeção com ocorrência
do eclipse, apresenta os maiores valores de potência, sendo de 3,68 W, com exceção do período de
eclipse onde a potência gerada é nula. Já para os cenários Nadir, com a ocorrência de eclipse, ocorrem
picos de energia sendo gerados a cada 680 s que atingem 3,65 W, enquanto que os valores mínimos
fora do eclipse são de 2,58 W. Para o Nadir sem eclipse, os valores de máximo e mínimo são 2,87 W
e 1,29 W, respectivamente.
Figura 32 – Potências totais geradas pelo CubeSat 2U ao longo de uma órbita, para α/ϵ = 0,3/0,3
Fonte: Elaborado pelo autor.
A Tabela 8 fornece os valores das potências totais obtidas ao longo de uma órbita completa, para
cada cenário avaliado, onde verifica-se que o caso com Máxima projeção sem eclipse apresenta a
maior capacidade de gerar energia, seguido do caso Nadir sem eclipse.
Tabela 8 – Potências totais geradas para os diferentes cenários avaliados
Cenário Potência total [W]
Com eclipse Nadir 11393
Sem eclipse Nadir 13907
Com eclipse Máxima Projeção 13034
Sem eclipse Máxima Projeção 20110
Fonte: Elaborado pelo autor.
4.3 BATERIAS
Para discutir os resultados térmicos referentes à bateria, primeiramente é necessário ilustrar o
seu funcionamento. Neste trabalho considerou-se que a bateria seria utilizada somente nos instantes
em que o CubeSat encontrava-se sob o eclipse da Terra, portanto os cenários sem eclipse não são
abordados aqui, e nenhuma avaliação relacionada ao seu carregamento foi executada. Para ilustrar
a análise, apenas o cenário de atitude Nadir com eclipse será discutido para diferentes correntes
passando pela bateria. A ocorrência destas correntes em CubeSats não foi avaliada, sendo apenas
utilizadas para demonstrar a abrangência das simulações deste trabalho.
51
A Figura 33 mostra a relação de funcionamento da bateria e o comportamento do SoC (Equação
15), sendo que, até o instante de início do eclipse, o SoC para as 3 correntes, permanece no seu
valor máximo de 100% e a bateria permanece desligada. Após o início do eclipse no instante 1740
s, a bateria é ligada, sendo este comportamento representada pela função degrau ascendente da linha
vermelha, enquanto o SoC está representado pela cor azul para 0 A, verde para 1,25 A e roxo para
2,50 A. É possível visualizar uma reta descendente do SoC durante as fases do eclipse, demonstrando
a redução da carga armazenada na bateria, que atinge o valor mínimo de 63% e 28% para I = 1,25 A
e I = 2,50 A, respectivamente. Após o término do eclipse no instante de 3900 s, a bateria é desligada,
ilustrada pelo retorno da linha vermelha para o valor 0, enquanto o SoC retornaria gradativamente para
o estado de 100% ao acumular o excedente de energia gerado pelos painéis fotovoltaicos, embora essa
situação não foi abordada neste trabalho.
Figura 33 – Gráfico de On/Off da bateria e SoC ao longo da órbita
Fonte: Elaborado pelo autor.
Analisando a Figura 34, pode-se comprovar um comportamento já esperado, que consiste em
maiores valores de temperatura quando se usa correntes mais elevadas. Este comportamento pode
ser visualizado em ambos os cenários de parâmetros de absortividade e emissividade, sendo que
a temperatura para maior corrente na Figura 34a é em média 40% superior ao caso sem nenhuma
corrente, resultando em um aumento de aproximadamente 30°C. Para a Figura 34b, que corresponde
ao cenário mais quente, a temperatura da bateria para uma corrente constante de 2,5 A é 27% superior
à de 1,25 A e 35% para o caso sem nenhuma corrente.
Estes resultados indicam que a análise térmica de uma bateria em CubeSat deve levar em consi-
deração a corrente passando por ela, sendo necessário conhecer a magnitude ao longo do tempo.
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Figura 34 – Temperatura da bateria para correntes variadas
(a) α = 0,3 e ϵ = 0,7 (b) α = 0,7 e ϵ = 0,3
Fonte: Elaborado pelo autor.
53
5 CONCLUSÃO
A partir de todos os resultados obtidos através das simulações computacionais para as variadas
atitudes, órbitas e parâmetros eletrônicos e físicos do nanossatélite, pôde-se perceber que estes são
responsáveis por gerar um impacto significativo no modo de operação do satélite, principalmente tér-
mico e elétrico. Desta forma, o correto dimensionamento dos componentes, materiais e subsistemas
de gerenciamento térmico e elétrico a serem utilizados é de extrema importância para que o satélite
seja capaz de cumprir sua missão. Além disso, foi possível, verificar que a bateria representa o maior
potencial de risco dos componentes eletrônicos, uma vez que quando exposta à condições de frio e
calor extremo, ultrapassa as especificações térmicas determinadas pelos fabricantes. Os resultados
indicaram que os parâmetros superficiais como absortividade e emissividade impactam diretamente
na temperatura do CubeSat, e promovem patamares bem distintos, dependendo da sua combinação.
Além de ser necessário simular as temperaturas para projetar o subsistema de controle térmico e
evitar condições não recomendadas pelo fabricante, os resultados obtidos mostraram também que a
capacidade de geração pelo efeito fotovoltaico deve levar em consideração os níveis de temperatura
envolvidos, e não somente a radiação solar. Dependendo da tensão associada ao painel fotovoltaico,
tem-se diferentes níveis de sensibilidade do painel com a temperatura, sendo necessário considerar
ambos nas simulações envolvendo energia. Por fim, as simulações envolvendo a bateria também
reforçam a necessidade da área térmica e elétrica serem integradas e resolvidas em um único modelo
para estimar o seu comportamento.
5.1 IDEIAS PARA TRABALHOS FUTUROS
Diante do que foi desenvolvido e discutido ao longo deste trabalho, as seguintes sugestões são
colocadas como trabalhos futuros:
• Construção de um simulador solar para avaliar o comportamento térmico e elétrico do CubeSat
2U em laboratório;
• Inserir a transferência de calor interna por radiação;
• Avaliar a geração de energia com variações de tensão no painel solar tipicamente encontradas
ao longo da órbita;
• Avaliar a temperatura da bateria com correntes tipicamente encontradas ao longo da execução
de tarefas em órbita;
• Estimar o impacto da temperatura no ciclo de vida da bateria.
54
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