VALKÍRIA LUÍSA BORSA PIROLI ADUBAÇÃO SULFATADA E BORATADA DE COBERTURA EM CULTIVARES DE MANDIOCA DE MESA Botucatu 2022 VALKÍRIA LUÍSA BORSA PIROLI ADUBAÇÃO SULFATADA E BORATADA DE COBERTURA EM CULTIVARES DE MANDIOCA DE MESA Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp, Campus Botucatu, para obtenção do título de Mestre em Agronomia (Agricultura) Orientador: Adalton Mazetti Fernandes Botucatu 2022 Sistema de geração automática de fichas catalográficas da Unesp. Biblioteca da Faculdade de Ciências Agronômicas, Botucatu. Dados fornecidos pelo autor(a). Essa ficha não pode ser modificada. P671a Piroli, Valkíria Luísa Borsa Adubação sulfatada e boratada de cobertura em cultivares de mandioca de mesa / Valkíria Luísa Borsa Piroli. -- Botucatu, 2022 105 p. : tabs. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista (Unesp), Faculdade de Ciências Agronômicas, Botucatu Orientador: Adalton Mazetti Fernandes 1. Cultivares de mandioca. 2. Adubação. 3. Produtividade. I. Título. Aos meus pais Edson Luís Piroli e Adriana Borsa Ao Sasuke Hashimitsu AGRADECIMENTOS Agradeço a Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP, campus Botucatu, ao Programa de Pós-Graduação em Agronomia: Agricultura e ao Centro de Raízes e Amidos Tropicais – CERAT. Agradeço as políticas públicas educacionais que possibilitaram minha educação desde a graduação. Ao meu querido orientador desta jornada Adalton Mazetti Fernandes, por me guiar durante este caminho, não poupando esforços, nem tempo para que este trabalho fosse concluído. Agradeço a todo conhecimento transmitido, pela paciência e pelos momentos de descontração. Deixo aqui o meu muito obrigada. Também agradeço a todos os demais professores da pós-graduação que contribuíram para meu crescimento profissional. Ao meu orientador da graduação, Lucas da Silva Domingues, sendo ele fundamental para a minha chegada até aqui. A todos os funcionários do CERAT que colaboraram para a conclusão deste trabalho. Ao Elder, por estar junto em todos os momentos, auxiliando, não medindo esforços para que eu tivesse todo o necessário. Ao Luíz, por sempre estar presente, auxiliando nas análises e também não medindo esforços para que tudo fosse possível. Agradeço a todos os demais funcionários que foram tão importantes para este trabalho, Débora, Danilo, Juliana. Aos colegas desta jornada, que estiveram sempre ao meu lado, durante todo o processo, Ricardo, Rudieli, Póliton, Jason e Fabrício. Serei eternamente grata a todos vocês, saibam que foram parte dos pilares desta dissertação. Agradeço a Cooperativa Agroindustrial de Ubirajara, e toda a equipe por cederem o espaço, a área, e gentilmente fornecerem o que fosse necessário para o trabalho ser executado. Ao pesquisador Marco Antonio Sedrez Rangel e toda equipe de desenvolvimento dos materiais genéticos da EMBRAPA que cederam as ramas das cultivares em estudo (BRS 399 e BRS 396). Agradeço eternamente a minha especial amiga, Mónica Córdoba Figueroa, por ter sido a melhor pessoa a cruzar meu caminho em Botucatu. Saiba que foi fundamental para a execução deste trabalho, desde os momentos de descontração até os conselhos que levarei para a vida. Agradeço também ao meu companheiro, Guilherme Isawa Faria, pelos cafés-da- manhã, pelos momentos alegres, pelas tristezas compartilhadas e pela nossa vida. Agradeço ao nosso filho de quatro patas que sempre alegrou nossas vidas, marcando profundamente mesmo com uma curta estadia conosco. Juntamente, agradeço a Kali e Kiara, pelo amor incondicional. À minha família por me permitir, incentivar, dar forças e me animar durante esse caminho. Aos conselhos que me deram e por terem acreditado em mim. Vocês serão sempre minha base e meu motivo de maior orgulho e força para seguir em frente. Victória Helena Borsa Piroli e Vinícius Adriano Borsa Piroli, vocês são os melhores irmãos que alguém poderia pedir, agradeço por suas vidas. A todos os demais que indiretamente deram seu contributo para a concretização deste trabalho, o meu muito obrigada. O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001 RESUMO A mandioca (Manihot esculenta Crantz) tem em suas raízes grande acúmulo de amido e é utilizada como alimentação humana. No Brasil, a produtividade da cultura é baixa, podendo ser maior com uso de tecnificação em relação a novas cultivares e manejo da adubação. O objetivo deste estudo foi avaliar o desempenho agronômico e a qualidade das raízes tuberosas de cinco cultivares de mandioca de mesa submetidas a adubação sulfatada ou boratada de cobertura em condições de solo arenoso. Foram instalados dois experimentos de campo em julho de 2020, ambos em delineamento blocos casualizados (DBC) em esquema fatorial 5x3, composto por cinco cultivares de mandioca de mesa [IAC 576-70 (padrão), BRS 399, BRS 396, Palito e Precoce] e três níveis de adubação sulfatada (0, 22 e 44 kg ha-1) ou boratada (0, 1, 2 kg ha-1) de cobertura. Os experimentos foram conduzidos na cidade de Ubirajara, SP, em propriedade particular pertencente a Cooperativa Agroindustrial de Ubirajara (CAU). A mandioca foi colhida com 12 meses de ciclo (junho de 2021). Os resultados obtidos no experimento com enxofre (S) indicaram que a adubação sulfatada de cobertura não aumentou os teores de S na folha diagnóstica da mandioca cultivada em solo arenoso com baixa-média disponibilidade inicial de S. A cultivar IAC 576-70 não respondeu positivamente à adubação sulfatada de cobertura. A aplicação de 22 kg ha-1 de S em cobertura aumentou a produtividade total e comercial das cultivares Palito e Precoce, mas nas cultivares BRS 399 e BRS 396 as produtividades aumentaram até os 44 kg ha-1 S. As maiores produtividades comercias ocorreram na cultivar BRS 399 com a dose de 44 kg ha-1 S e na cultivar Palito com a dose de 22 kg ha-1 S. A adubação sulfatada não interferiu na qualidade das raízes da mandioca e as raízes de todas as cultivares cozinharam num período de 20-24 minutos. Para o experimento com adubação boratada, concluiu-se que os teores de B na folha diagnóstica da mandioca aumentaram com a adubação boratada de cobertura. As cultivares BRS 396 e Precoce não responderam a adubação boratada em termos de produtividade total. A aplicação de 2 kg ha-1 de B aumentou a produtividade total das cultivares BRS 399 e IAC 576-70, mas na cultivar Palito a dose ótima de B foi de 1 kg ha-1. Apesar da adubação boratada de cobertura ter aumentado em 2,6 min o tempo de cozimento das raízes, todas elas cozinharam em menos de 24 min e o fornecimento de B não interferiu nos outros parâmetros de qualidade das raízes. Palavras-chave: Manihot esculenta; produtividade de raízes; diagnose nutricional; cozimento; processamento. ABSTRACT Cassava’s roots have great amount of starch and it is used as staple food. In Brazil, the cassava crop productivity is low, but can be improved with technification uses, like new cultivars and fertilization management. The aim for this study was to evaluate the agronomic behavior and tuberous root quality from five table cassava’s cultivars, placed on sulfur or borate cover fertilization in sandy soil conditions. Two field trials were installed in July of 2020, both in randomized block design, with factorial scheme 5x3, being five table’s cassava cultivars [IAC 576-70 (standard), BRS 399, BRS 396, Palito and Precoce] and three cover content of sulfate fertilization (0, 22 e 44 kg ha-1) or borate (0, 1, 2 kg ha-1). Both trials were placed in Ubirajara’s city, SP, in a private farm from Agroindustrial Cooperative from Ubirajara (CAU). Cassava was harvest with 12 months growing season (June from 2021). The results from sulfur (S) trial show that the sulfur fertilization did not increase the content of S in the diagnostic leave from cassava cultivated under sandy soil with low-medium initial S availability. IAC 576-70 cultivar didn’t positively respond to cover sulfur fertilization. Cover application of 22 kg ha-1 of S increased Palito and Precoce cultivar’s total and commercial productivity, but BRS 399 and BRS 396 cultivars increased total and commercial productivity until 44 kg ha-1 S. Greatest commercial productivity was from BRS 399 cultivar, with the dose, 44 kg ha-1 S, and in Palito cultivar with 22 kg ha-1 S dose. Sulfur fertilization didn’t interfered in cassava’s root quality, and all the cultivars ’s roots cooked in the time of 20 to 24 minutes. In Borate fertilization trials, the B content in diagnostic leave increased with cover borate fertilization. BRS 396 and Precoce cultivars didn’t respond to borate fertilization in terms of total productivity. The application of 2 kg ha-1 B increase the total productivity from BRS 399 and IAC 576-70 cultivars, but in Palito cultivar, the best doses was 1 kg ha-1. Although the cover borate fertilization increased the cooking time in 2,6 min, all the roots cooked in under 24 min, and the B supply didn’t interfere on other root quality parameters. Key words: Manihot esculenta; tuberous root productivity; nutritional diagnosis; cooking time; processing LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Precipitação pluvial (barras), temperaturas máximas (linhas grossas) e mínimas (linhas finas) na área experiumental durante o período de condução dos experimentos em Ubirajara-SP. Os momentos do plantio, emergência, adubação de cobertura, coleta de folhas diagnósticas e colheita estão indicados na Figura. ....................................................... 33 Figura 2 – Peso fresco das raízes antes (a) e após (b) a lavagem + descascamento, e rendimento de processamento (c) de raízes de cinco cultivares de mandioca ................................................................................................ 64 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Características químicas do solo nas profundidades de 0-20 e 20- 40 cm antes do plantio da mandioca ........................................................ 36 Tabela 2 - Teores de macro (g kg-1) e micronutrientes (mg kg-1) na folha diagnose de cinco cultivares de mandioca submetidas à adubação sulfatada ................................................................................................... 43 Tabela 3 - Desdobramento da interação cultivar x nível de S para o teor de B na folha diagnose da mandioca ................................................................ 45 Tabela 4 - Número de hastes, altura e população de plantas de cinco cultivares de mandioca submetidas à adubação sulfatada ....................... 46 Tabela 5 - Componentes da produção e produtividade de raízes tuberosas de cinco cultivares de mandioca submetidas à adubação sulfatada ............. 48 Tabela 6 - Desdobramento da interação cultivar x nível de S para a produtividade total e comercial ................................................................. 49 Tabela 7 - Acúmulo de matéria seca (MS) na parte aérea, cepas, raízes tuberosas, planta inteira e índice de colheita (IC) de cinco cultivares de mandioca submetidas à adubação sulfatada....................... 51 Tabela 8 - Desdobramento da interação cultivar x nível de S para o acúmulo de MS nas cepas, raízes tuberosas e planta inteira ................................. 52 Tabela 9 - Teores de S (g kg-1) na parte aérea, cepas e raízes tuberosas de cinco cultivares de mandioca submetidas à adubação sulfatada ............ 54 Tabela 10 - Desdobramento da interação cultivar x nível de S para os teores de S na parte aérea e cepas .................................................................. 55 Tabela 11 - Acúmulo de S (kg ha-1) na parte aérea, cepas, raízes tuberosas e na planta inteira de cinco cultivares de mandioca submetidas à adubação sulfatada ............................................................................... 56 Tabela 12 - Desdobramento da interação cultivar x nível de S para o acúmulo de S na cepa ......................................................................................... 57 Tabela 13 - Eficiência de uso de S para a produtividade de raízes frescas (EUS- PRF), para a produção de MS de raízes tuberosas (EUS- PMSRT) e para a produção de MS da planta (EUS-PMSPL) de cinco cultivares de mandioca submetidas à adubação sulfatada ........... 58 Tabela 14 - Teores de MS, amido e proteína, tempo de cozimento (TC), textura das raízes antes e após o cozimento de cinco cultivares de mandioca submetidas à adubação sulfatada .................................... 60 Tabela 15 - Rendimento de produto processado para as produtividades total (RPP- PT) e comercial (RPP-PC) de raízes de cinco cultivares de mandioca submetidas à adubação sulfatada ......................................................... 65 Tabela 16 - Desdobramento da interação cultivar x nível de S para Rendimento de produto processado para as produtividades total (RPP-PT) e comercial (RPP-PC) ............................................................................................... 66 Tabela 17 - Teores de macro (g kg-1) e micronutrientes (mg kg-1) na folha diagnose de cinco cultivares de mandioca submetidas à adubação boratada ...... 68 Tabela 18 - Desdobramento da interação cultivar x nível de B para o teor de Mn na folha diagnose da mandioca .................................................................. 70 Tabela 19 - Número de hastes, altura e população de plantas de cinco cultivares de mandioca submetidas à adubação boratada ......................................... 71 Tabela 20 - Componentes da produtividade e produtividade de raízes tuberosas de cinco cultivares de mandioca submetidas à adubação boratada ........... 73 Tabela 21 - Desdobramento da interação cultivar x nível de B para a produtividade comercial. .............................................................................................. 74 Tabela 22 - Acúmulo de matéria seca (MS) na parte aérea, cepas, raízes tuberosas, planta inteira e índice de colheita (IC) de cinco cultivares de mandioca submetidas à adubação boratada .......................................................... 76 Tabela 23 - Desdobramento da interação cultivar x nível de B para o acúmulo de MS na parte aérea, cepas, raízes tuberosas e planta inteira ....................... 77 Tabela 24 - Teores de B (mg kg-1) na parte aérea, cepas e raízes tuberosas de cinco cultivares de mandioca submetidas à adubação boratada ............ 79 Tabela 25 - Desdobramento da interação cultivar x nível de B para os teores de B na parte aérea, cepas e raízes tuberosas. .................................................. 80 Tabela 26 - Acúmulo de B (g ha-1) na parte aérea, cepas, raízes tuberosas e na planta inteira de cinco cultivares de mandioca submetidas à adubação boratada ................................................................................................. 81 Tabela 27 - Desdobramento da interação cultivar x nível de B para os acúmulos de B na parte aérea, cepas, raízes tuberosas e na planta inteira .................. 82 Tabela 28 - Eficiência de uso de B para a produtividade de raízes frescas (EUB- PRF), para a produção de MS de raízes tuberosas (EUB-PMSRT) e para a produção de MS da planta (EUB-PMSPL) de cinco cultivares de mandioca submetidas à adubação boratada ......................................... 84 Tabela 29 - Desdobramento da interação cultivar x nível de B para eficiência de uso do B para a produção de MS de raízes tuberosas (EUB-PMSRT) e para a produção de MS da planta (EUB-PMSPL). ............................................ 85 Tabela 30 - Teores de MS, amido e proteína, tempo de cozimento (TC), textura das raízes antes e após o cozimento de cinco cultivares de mandioca submetidas à adubação boratada .......................................................... 86 Tabela 31 - Rendimento de produto processado para as produtividades total (RPP- PT) e comercial (RPP-PC) de raízes de cinco cultivares de mandioca submetidas à adubação boratada.......................................................... 91 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 21 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ......................................................................... 23 2.1 CULTURA DA MANDIOCA ........................................................................... 23 2.2 CULTIVARES DE MANDIOCA DE MESA ..................................................... 24 2.3 DEMANDA NUTRICIONAL NA CULTURA DA MANDIOCA ......................... 26 2.3.1 Enxofre na planta .......................................................................................... 27 2.3.2 Boro na planta ............................................................................................... 29 2.4 ENXOFRE E BORO NO SOLO ..................................................................... 31 3 MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................. 33 3.1 LOCALIZAÇÃO E CARACTERÍSTICAS DA ÁREA ....................................... 33 3.2 CULTIVARES ................................................................................................ 34 3.3 DELINEAMENTO EXPERIMENTAL E TRATAMENTOS .............................. 34 3.4 INSTALAÇÃO E CONDUÇÃO DOS EXPERIMENTOS ................................ 35 3.5 AVALIAÇÕES ............................................................................................... 37 3.5.1 Diagnose foliar .............................................................................................. 37 3.5.2 Número de hastes, altura e população final de plantas ................................. 38 3.5.3 Número, comprimento, diâmetro, peso médio e produtividade de raízes tuberosas 38 3.5.4 Acúmulo de MS na parte aérea, cepas e raízes tuberosas e na planta inteira e índice de colheita 38 3.5.5 Teor, acúmulo, exportação e eficiência de uso de S e B ............................... 39 3.5.6 Tempo de cozimento das raízes tuberosas e textura crua e cozida .............. 40 3.5.7 Teor de matéria seca (MS), amido e proteína nas raízes tuberosas ............. 40 3.5.8 Rendimento operacional e de produto processado ....................................... 40 3.6 ANÁLISE ESTATÍSTICA ............................................................................... 41 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................... 42 4.1 EXPERIMENTO COM ADUBAÇÃO SULFATADA ........................................ 42 4.1.1 Diagnose foliar .............................................................................................. 42 4.1.2 Avaliações fitotécnicas .................................................................................. 45 4.1.2.1 Número de hastes, altura e população final de plantas ................................. 45 4.1.2.2 Número, comprimento, diâmetro, peso médio e produtividade de raízes tuberosas 47 4.1.2.3 Acúmulo de MS na parte aérea, cepas, raízes tuberosas, na planta inteira e índice de colheita 50 4.1.4 Teor, acúmulo e eficiência de S .................................................................... 53 4.1.5 Avaliações de qualidade de raiz e rendimento operacional ........................... 59 4.1.5.1 Teor de matéria seca, amido, proteína, tempo de cozimento, textura crua e cozida de raízes 59 4.1.5.2 Rendimento de processamento e de produto processado ............................. 63 4.2 EXPERIMENTO COM ADUBAÇÃO BORATADA .......................................... 67 4.2.1 Diagnose foliar ............................................................................................... 67 4.2.2 Avaliações fitotécnicas ................................................................................... 70 4.2.2.1 Número de hastes, altura e população final de plantas ................................. 70 4.2.2.2 Número, comprimento, diâmetro, peso médio e produtividade de raízes tuberosas 72 4.2.2.3 Acúmulo de MS na parte aérea, cepas, raízes tuberosas, na planta inteira e índice de colheita 75 4.2.4 Teor, acúmulo e eficiência de uso do nutriente de B ..................................... 78 4.2.5 Avaliações de qualidade de raiz e rendimento operacional ........................... 86 4.2.5.1 Teor de matéria seca, amido, proteína, tempo de cozimento, textura crua e cozida de raízes 86 4.2.5.2 Rendimento de processamento e de produto processado ............................. 89 5 CONCLUSÃO .............................................................................................. 92 REFERÊNCIAS ........................................................................................... 93 21 1 INTRODUÇÃO A mandioca (Manihot esculenta Crantz) tem como centro de origem a América do Sul. Suas raízes apresentam grande acúmulo de amido e servem tanto para alimentação humana quanto animal, sendo uma importante fonte de carboidratos nos países em desenvolvimento. No Brasil, a produtividade média da mandioca ainda é baixa, e a produção nacional pouco evoluiu neste século, diferente do que ocorreu em alguns países Asiáticos e Africanos (FAOSTAT, 2022). O cultivo de mandioca no Brasil é realizado visando atender a demanda do mercado para comercialização in natura, ou mandioca de mesa, bem como para a produção de farinha e fécula, em que se cultiva as chamadas mandiocas de indústria. Na mandioca de mesa a colheita é feita durante um ciclo menor de cultivo (8 a 14 meses), e o formato das raízes é um fator importante para a comercialização. No estado de São Paulo a cultivar mais plantada é a IAC 576-70, porém esta cultivar é antiga e foi lançada na década de 70 (LEONEL; FERNANDES; FRANCO, 2015). No entanto, ainda é o material considerado referência em termos de produtividade e qualidade, e ainda é utilizado pelos produtores rurais apesar de novos lançamentos já existirem. Algumas novas cultivares de mandioca de mesa foram lançadas pela EMBRAPA, tais como BRS 399 e BRS 396, as quais possuem características promissoras em termos de produtividade e qualidade de raízes. Além das cultivares desenvolvidas pelos Centros de Pesquisa e Universidades, há também uma área de cultivo considerável com variedades locais selecionadas pelos próprios agricultores. Independente da cultivar, as exigências do mercado em termos de produtividade e qualidade das raízes vem crescendo e por isso a tecnificação do cultivo se torna necessária, especialmente em relação ao manejo da adubação. Há uma crença popular de que a mandioca pode ser cultivada em solos marginais, ácidos e com baixa disponibilidade de nutrientes. No entanto, nessas condições a produtividade da mandioca é muito baixa, porque trata-se de uma cultura que absorve e exporta grandes quantidades de nutrientes do solo. O enxofre (S) não é o macronutriente mais absorvido pela cultura da mandioca, mas trata-se de um nutriente essencial para o desenvolvimento da planta uma vez que ele atua na síntese e na composição de proteínas e na maioria das vezes este elemento não é incluído na fertilização da cultura. A deficiência de S 22 causa redução no porte da planta e suas folhas apresentam amarelecimento. Novos tecidos podem apresentar deficiência e deformidades e as plantas terão baixo teor de aminoácidos importantes como cistina e metionina, diminuindo o seu valor nutricional. Quanto aos micronutrientes, a maioria dos estudos indicam que a mandioca é exigente em zinco (Zn), mas o boro (B) também é um micronutriente importante para as plantas, porque possui uma relação com a integridade das paredes celulares e é responsável pela lignificação das mesmas (KIRKBY; RÖMHELD, 2007). A deficiência de B dificulta a formação de novos tecidos, uma vez que ele faz parte da divisão celular, e na sua deficiência as plantas tornam-se mais frágeis e quebradiças, comprometendo a formação de raízes. Contudo, são poucos os estudos que avaliaram a resposta da mandioca a adubação sulfatada e boratada. No entanto, como a mandioca tradicionalmente é cultivada em solos arenosos e com baixa Capacidade de Troca de Cátions (CTC), a perda desses nutrientes por lixiviação pode ocorrer e comprometer a produtividade da mandioca. Dessa forma, buscou verificar se a adubação sulfatada ou boratada de cobertura influenciam nos componentes de produção, produtividade e nos parâmetros de qualidade de raízes de mandioca. Com isso, o objetivo deste estudo foi avaliar o desempenho agronômico e a qualidade das raízes tuberosas de cinco cultivares de mandioca de mesa submetidas à adubação sulfatada e boratada de cobertura em condições de solo arenoso. 23 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Cultura da mandioca A mandioca (Manihot esculenta Cranz) é a sexta cultura em termos de importância, mundial ficando atrás apenas do trigo, milho, arroz, batata e cevada (LEBOT, 2009), sendo considerada a principal fonte de carboidratos para milhões de pessoas nos países em desenvolvimento. As cultivares de mandioca podem ser classificadas como de mesa ou de indústria. As mandiocas de mesa possuem menores teores de ácido cianídrico (HCN) em suas raízes e são destinadas ao mercado de comercialização in natura (OLIVEIRA et al., 2012). Os autores citados apontam que as mandiocas destinadas para uso industrial têm maiores teores de HCN nas raízes, passam por processamento e são utilizadas para produção de fécula ou farinha. Raízes de mandioca com menos de 50 mg kg-1 de HCN (raiz fresca) são consideradas “mandiocas mansas” (mandioca de mesa) e raízes de mandioca com mais de 100 mg kg-1 de HCN (raiz fresca) são consideradas “mandiocas bravas” (mandioca de indústria) e podem ser consumidas somente após passar por processamento (COURSEY, 1973). A cultura da mandioca tem como centro de origem a América do Sul, mas atualmente ela é cultivada em inúmeros países tropicais ao redor do mundo. Isso ocorreu porque a mandioca se adapta bem a solos de áreas marginais e também por possuir grande flexibilidade no ciclo de cultivo, podendo permanecer no campo por até 36 meses (LEBOT, 2009). Com isso, a produção mundial de mandioca aumentou consideravelmente passando de 176 milhões de toneladas em 2000 para 302 milhões de toneladas em 2020 (FAOSTAT, 2022). Em termos de evolução da produção, a mandioca ficou atrás apenas do milho, mas apresentou uma taxa de crescimento global de mais de 50% desde o início do século (VILPOUX; GUILHERME; CEREDA, 2017). As maiores produções de mandioca estão concentradas nos continentes Africano, cujo maior produtor é a Nigéria; no continente Asiático, em que a Tailândia é o maior país produtor; e na América do Sul que tem o Brasil como sendo o responsável pela grande maioria da produção de raízes (LEBOT, 2009; FAO, 2018). 24 O continente Africano apresentou uma expansão na produção de mandioca desde 1965 quando a produção africana passou de 35 milhões de toneladas para aproximadamente 128 milhões de toneladas em 2020 (FAOSTAT, 2022). Na Ásia, a produção era de 21 milhões de toneladas em 1965 e atingiu 80 milhões de toneladas em 2020 (FAOSTAT, 2022). No entanto, essa expansão não ocorreu na América do Sul e a produção Sul-Americana nos últimos 4 anos foi similar à da década de 1965, variando entre 25 e 30 milhões de toneladas (FAOSTAT, 2022). Neste cenário, o Brasil ainda é o maior produtor das Américas sendo responsável por aproximadamente 70% de toda a mandioca produzida neste continente (FAOSTAT, 2022). Em 2019, a produção brasileira de mandioca foi de aproximadamente 20 milhões de toneladas e o estado de São Paulo foi o maior produtor da região Sudeste, com a produção de 1 milhão de toneladas (IBGE, 2019), demonstrando assim, a importância deste estado brasileiro no cenário de produção. 2.2 Cultivares de mandioca de mesa O possível centro de origem da cultura da mandioca é o Brasil, e por causa disso, já foram catalogados mais de 3 mil acessos distintos (OTSUBO; MERCANTE, MARTINS, 2002). Os autores ainda citam que no mundo há mais de 8.500 acessos, sendo que destes 7.500 estão na América Latina. Isso representa uma diversidade genética a ser explorada, com grande oportunidade para o Brasil na área de melhoramento e desenvolvimento de novas cultivares. No entanto, atualmente poucos são os programas voltados ao desenvolvimento de novas cultivares. No estado de São Paulo a maioria das cultivares plantadas são antigas, como é o caso da cultivar IAC 576-70, desenvolvida na década de 1970 (LEONEL; FERNANDES; FRANCO, 2015). Nos últimos anos a EMBRAPA desenvolveu e lançou algumas cultivares com potencial produtivo promissor, como é o caso das cultivares BRS 399 e BRS 396. Ambas são cultivares de mesa e que possuem características desejáveis tanto para o produtor quanto para o consumidor final. De acordo com Fialho e Vieira (2013), a seleção de cultivares deve ao máximo possuir características desejáveis pelo produtor e também pelo consumidor final, além de serem seguras e com baixo teor de ácido cianídrico. Devem ser altamente produtivas, possuir resistência a pragas e patógenos, uma arquitetura 25 favorável a mecanização, raízes com pedúnculo curto visando facilitar a separação das mesmas, serem ao máximo lisas, possuírem boa distribuição, uniformidade e tamanho comercial, além de alta durabilidade. Também é importante para o consumidor final que o cozimento seja rápido e que as raízes tenham sabor e coloração agradáveis. Dentre tantos requisitos se torna necessário o lançamento de novas cultivares afim de acompanhar as exigências de mercado para a cultura se manter competitiva e viável ao produtor. Com isso, estudos ainda são necessários sobre a resposta de cultivares em relação à sua capacidade de desempenho agrícola exigido pelos produtores, assim como exigências sensoriais do consumidor final no caso da mandioca de mesa. Essas demandas específicas são regionalizadas, e no caso do estado de São Paulo, o padrão se torna a cultivar IAC 576-70 (MEZETTE et al., 2009). Apesar de ser uma cultivar antiga os estudos aprofundados sobre as características citadas ainda são poucos. Oliveira e Moraes (2009), em estudo com a cultivar IAC 576-70, observaram que a cultura apresenta melhor resposta produtiva tanto para o produtor quanto para o consumidor final (medida através do descascamento da entre casca) entre o 9º e o 10º mês, sendo que sua produtividade final nessa fase variou de 40 a 50 t ha-1. Mendonça et al. (2020), também estudaram a cultivar IAC 576-70 em Minas Gerais e observaram produtividade inferior, de 30 t ha-1, no entanto o tempo de cozimento ficou abaixo dos 30 minutos. Apesar do bom desempenho produtivo e de cozimento, a cultivar IAC 576-70, no entanto, não apresenta qualidade nutricional satisfatória ao ser comparada com outras cultivares já lançadas. Fuhrmann et al. (2019), comparando a cultivar IAC 576- 70 com clones, observaram que o teor de carotenoides chegava a ser 50% menor. O teor de carotenoides também é uma exigência de mercado na atualidade, uma vez que são fundamentais para aumentar a qualidade nutricional das raízes, por ser o precursor da vitamina A (VILPOUX; GUILHERME; CEREDA, 2017). Dessa maneira, os programas de melhoramento genético na cultura da mandioca buscam selecionar materiais genéticos com essa característica desejável (MEZETTE et al., 2009). As cultivares BRS 399 e 396 já foram lançadas com a preocupação de terem teor de carotenoides maiores, sendo que a BRS 396 apresentou 11,53 μg g-1 (EMBRAPA, 2015). A cultivar BRS 399 apresentou boa produção de raízes em 26 pesquisa conduzida por Mendonça et al. (2020), sendo superior às demais cultivares avaliadas, além de ter apresentado bom tempo de cozimento. As cultivares BRS 399 e 396 também apresentaram bom desempenho no campo e alta aceitabilidade por parte dos produtores da região do Distrito Federal (VIEIRA et al., 2018). 2.3 Demanda nutricional na cultura da mandioca A cultura da mandioca é considerada por alguns autores como sendo esgotante e degradadora do solo, o que não é uma verdade absoluta. De acordo com Howeler (2002), as quantidades de alguns nutrientes, como nitrogênio (N) e fósforo (P), extraídas pela mandioca são, na verdade, menores do que àquelas extraídas por culturas como o milho por exemplo. No entanto, a mandioca é uma cultura bem adaptada para crescer em condições de solos marginais, ácidos e em condições de disponibilidade muito baixa de nutrientes no solo (HOWELER, 1991). Essa capacidade da mandioca crescer em solos marginais está relacionada com o fato de ser um cultivo de ciclo longo e não apresentar picos de demanda de nutrientes tão acentuados como ocorre em outras culturas de ciclo curto (CONCEIÇÃO, 1987). A absorção de nutrientes pela planta de mandioca tende a ser muito variável e ela aumenta com o incremento no nível de produtividade, sendo o contrário também verdadeiro (HOWELER, 2002). Estudos feitos nas condições brasileiras indicam que para a produção de uma tonelada de raízes tuberosas a cultura da mandioca absorve em torno de 4,8-7,6 kg de N, 0,4-0,8 kg de P, 3,7-4,8 kg de K, 2,8-4,0 kg de Ca, 0,9- 1,1 kg de Mg, 0,3-0,6 kg de S (LORENZI; GALLO; MALAVOLTA, 1981), 1,1-7,7 g de Cu, 58-76 g de Fe, 10,3-13,7 g de Mn e 8,3-12,7 g de Zn (FERNANDES et al., 2017; SILVA; TREVIZAM, 2015). Já em termos de exportação de nutrientes, cada tonelada de raízes remove do solo aproximadamente 1,8-2,4 kg de N, 0,2-0,3 kg de P, 1,6-1,8 kg de K, 0,6-0,7 kg de Ca, 0,3-0,4 kg de Mg, 0,1 kg de S (LORENZI; GALLO; MALAVOLTA, 1981), 0,9-4,0 g de Cu, 32-48 g de Fe, 1,9-2,7 g de Mn e 4,6-6,0 g de Zn (SILVA; TREVIZAM, 2015; FERNANDES et al., 2017). Os nutrientes mais extraídos e exportados pela cultura da mandioca são o K e o N (LORENZI; GALLO; MALAVOLTA, 1981), e a deficiência de cada um deles pode afetar negativamente a produtividade de raízes. 27 2.3.1 Enxofre na planta O enxofre (S) é um elemento indispensável para as plantas, considerado um macronutriente importante. Para Haneklaus et al. (2007), este é o elemento com uso mínimo que proporciona a máxima produção e qualidade. O elemento é vital para o metabolismo das plantas, faz parte da composição de proteínas, enzimas e vitaminas (HAWKESFORD, 2007). Por compor proteínas, o S é o constituinte básico de alguns aminoácidos, como a cistina, a qual é convertida em metionina, sendo importante para os seres humanos. A absorção e assimilação de S e N pelas plantas é fortemente dependente e interrelacionada e cita-se que a proporção adequada de N:S na planta é de 20:1 (HANEKLAUS et al., 2007). Os indícios de deficiência de S são representados basicamente pela redução interna das taxas de S, porém também é observado um aumento do N, assim como nitratos e aminas, como consequência do desbalanço N:S (BIMBRAW, 2008). A síntese da cistina é importante por ser a responsável por relacionar e balancear o fluxo das vias de assimilação do N e S (WARRILOW; HAWKESFORD, 1998). Como o S é um elemento imóvel nas plantas os sintomas são primeiro vistos nas folhas jovens; no entanto, um diagnóstico visual de deficiência pode ser complexo, já que os sintomas não são específicos (HANEKLAUS et al., 2007). Na mandioca a deficiência de S caracteriza-se por uma clorose ou amarelecimento uniforme das folhas (LOZANO et al., 1983). Contudo, os autores apontam que esses sintomas não se restringem aos tecidos novos, sendo observado à campo carência de S nas porções inferiores e medianas da planta. Em plantas de Canola, Malhi (2005) afirma que as folhas jovens apresentam amarelecimento, deformidade e encarquilhamento e os caules uma coloração púrpurea. Haneklaus et al. (2007) afirmam que, além de reduzir a produção e a qualidade nutricional de algumas culturas, a falta de S também afeta a saúde das plantas e a eficiência do uso do N. A dose de 150 kg S ha-1 proporcionou máxima eficiência do uso do N, aumentando em até 40% a sua absorção pela cultura da canola (SCHNUG, HANEKLAUS, MURPHY, 1993). Dessa forma, o uso da adubação sulfatada em conjunto com a nitrogenada é capaz de proporcionar máximo benefício para as culturas. 28 Mais de 95% do S encontrado no solo está ligado à matéria orgânica, sendo que outras fontes naturais de S incluem os dejetos de animais, a água e a atmosfera (LOPES, 1998; VITTI; LIMA; CICARONE, 2006). As fontes minerais de S que normalmente são usadas na agricultura compreendem o sulfato de amônio, o S elementar (S2), S combinado com micronutrientes, sulfato de potássio e gesso agrícola (PATEL; KADIVALA; PATEL, 2019). A escolha da fonte dependerá do local, disponibilidade dos nutrientes e também da cultura. Em espécies oleaginosas, nas quais o maior interesse é a produção do óleo, o S é um elemento muito importante, já que favorece a qualidade destes produtos (PATEL; KADIVALA; PATEL, 2019). Os autores supracitados mencionam que neste tipo de cultura, a qualidade e a produção são levadas em conta. O S favorece tanto na formação dos órgãos de armazenamento, quanto na síntese do óleo. Em amendoim (Arachis hypogea L.), a aplicação de 40 kg ha-1 de S aumentou em 6% o teor de óleo dos grãos em comparação ao controle que não recebeu S. O uso do S também resultou em maior número de vagens, altura de planta e nódulos nas raízes (NAIKNAWARE; PAWAR; MURUMKAR, 2015). No trigo, a produção e a qualidade de pão fabricado, são influenciados pela adubação sulfatada, pois a massa se torna mais dura e menos elástica sem o nutriente (HAGEL, 2005). O S é importante nas cadeias peptídicas e estabiliza as estruturas das proteínas para a formação do pão (HANEKLAUS et al., 2007). Järvan et al. (2017), estudando durante cinco anos a influência do S na cultura do trigo, observaram aumento do índice de glúten com a adubação sulfatada, além de aumento da produtividade de grãos em 18%. O glúten é importante na massa por promover volume e aeração e a falta de S nas plantas de trigo reduz esse volume (HANEKLAUS et al., 2007). Em culturas tuberosas o elemento também é importante por melhorar a qualidade do tubérculo. Eppendorfer e Eggum (1994) estudaram a cultura da batata em vasos e observaram que a falta de S reduziu o conteúdo de amido e aumentou as taxas de nitrato nos tubérculos. Sharma et al. (2011) verificaram em quatro variedades de batata que a aplicação de 45 kg ha-1 de S proporcionou a máxima produtividade de tubérculos, cujo aumento foi relacionado a uma melhor distribuição de fotoassimilados nas plantas. Na batata doce, por exemplo, a produtividade de raízes comerciais é maior quando se utiliza sulfato de amônio ao invés de ureia (ALVES et al., 2009). Em 29 beterraba, a adubação combinada de N e S aumentou a matéria seca e fresca das raízes tuberosas (OLIVEIRA et al., 2017b). Na mandioca o S está entre os cinco elementos mais absorvidos e acumulados nas raízes (HOWELER, 2002). As plantas com falta de S podem apresentar sintomas como redução da altura e amarelecimento das folhas, sendo mais observada essas situações em solos lixiviados (CONCEIÇÃO, 1987). Quando adubada corretamente, o acúmulo de S nos tecidos da planta de mandioca pode aumentar em até 5 kg ha-1, sendo que a maior parte do S se acumulada nos tecidos aéreos da planta (HOWELER, 2002). A demanda da mandioca por S pode variar, porém recomenda-se aplicar entre 10 a 20 kg ha-1 de S na cultura (CRASWELL; ASHER; SULLIVAN, 1996). A fonte de S pode não alterar a produtividade da mandioca, porém estudos realizados por Howeler (2002) mostraram que o sulfato de potássio se mostrou mais eficaz para aumentar a produtividade da cultura. A aplicação de sulfato de potássio (K2SO4), que fornece aproximadamente 18% de S (VITTI; LIMA; CICARONE, 2006), também aumentou características como peso, comprimento e diâmetro de raízes de mandioca em estudo realizado por Ali e Abd- Elkader (2014). Panitnok et al. (2013) estudaram os efeitos das aplicações foliares combinadas de S e outros nutrientes na cultura da mandioca e verificaram que a aplicação foliar de S+Mg aumentou o número de raízes por planta, enquanto a aplicação de S+Zn+Mg aumentou o peso fresco dos caules da planta. Contudo, estes autores apontam para variação nas respostas entre as cultivares. 2.3.2 Boro na planta O boro (B) é essencial para as plantas, e desempenha uma série de funções, sendo considerado um elemento multifuncional (WIMMER et al., 2019). Uma série de desordens podem ser causadas pela deficiência de boro, muito relacionado ao transporte e distribuição do mesmo (GUPTA, 2007). O B é essencial para o alongamento e crescimento das raízes porque ele atua no alongamento e divisão celular exercendo uma função estrutural (GUPTA; SOLANKI, 2013; SALEEM et al., 2011; KIRKBY; RÖMHELD, 2007; GUPTA, 2007). Gupta e Solanki (2013), também afirmam que o B é importante para estrutura e função da parede celular. Além disso, o B apresenta uma relação direta com o conteúdo de açúcar e seu transporte na planta (GUPTA, 2007). Uma série de outros relatos sobre a importância do B para 30 proteínas, aminoácidos, hormônios e formação de flores e produção de sementes também são descritos (GUPTA, 2007; GUPTA; SOLANKI, 2013; SALEEM et al., 2011). Kaisher et al. (2010), em estudo com feijão moyashi (Vigna radiata L. Wilczek) observaram que adubação de 5 kg ha-1 de B proporcionou aumento do conteúdo de proteína nas plantas. Na cultura da soja, Yamagishi e Yamamoto (2012), observaram que a falta de B em plantas cultivadas em vasos causou baixo teor de matéria seca e número de nódulos, comprometendo assim a produtividade das plantas. Em girassol, o B influencia não apenas na fecundação dos capítulos, o que promove aumento do número de grãos, mas também no conteúdo de óleo dos mesmos (ALVES et al., 2020). Estes autores apontam que ocorre grande flutuação varietal, sendo algumas cultivares mais sensíveis à deficiência de B do que outras. No girassol, a demanda por B durante o início do estágio reprodutivo é alta, pois o B influencia diretamente na viabilidade do pólen e no crescimento do tubo polínico (KRUDNAK; WONPRASAID; MACHIKOWA, 2013). Estes autores observaram que a dose de 9,4 kg ha-1 de B foi a mais eficiente em garantir a viabilidade polínica em duas cultivares de girassol. Nas culturas tuberosas, em que os tubérculos e raízes tuberosas são as partes comercialmente mais importantes, o B também desempenha papel importante. Na beterraba, a falta do elemento pode causar distúrbio conhecido como “mal do coração”, comprometendo a qualidade da raiz (GUPTA, 2007). Na batata- doce, pode ocorrer o aparecimento de pontos pretos no interior do tubérculo ou o rachamento dos mesmos (BYJU; NEDUNCHEZHIYAN; NASKAR, 2007; GUPTA, 2007). Na cultura da batata, o B influencia na produção, formato e coloração de tubérculos (LENKA; DAS, 2019) e a aplicação de B em conjunto com Zn pode aumentar o acúmulo de proteína nos tubérculos, além de aumentar a produtividade final (SARKER et al., 2020). Na mandioca a deficiência de B se manifesta principalmente nas zonas de crescimento e nas raízes (LOZANO et al., 1983). Segundo os autores, as plantas de mandioca com deficiência do elemento serão de porte menor, apresentarão folhas pequenas e com pecíolo curto. Podendo ainda as raízes laterais não se desenvolverem e o ápice radicular morrer. Os autores ainda distinguem a deficiência de B a partir de pontos necróticos nos caules e pecíolos que podem exsudar uma 31 substância gomosa e evoluir para uma necrose na região. Contudo, segundo Howeler (2002) para a mandioca os micronutrientes, de maneira geral, não causam grande influência sobre a produtividade quando a cultura se encontra bem suprida com macronutrientes. Em contradição, Silva et al. (2014) relata que os micronutrientes aumentam a produtividade da cultura da mandioca, podendo promover bons resultados. Segundo Howeler (2002) a mandioca é resistente a baixa disponibilidade de B no solo, a qual não afeta a produtividade da cultura. Conceição (1987) aponta que doses baixas, de 1 a 2 kg ha-1 de B já são suficientes para suprir a demanda. Os níveis ótimos de concentração de B nas folhas são de 23 µg g-1 (LEBOT, 2009). Porém, poucos são os estudos com o uso de B na cultura da mandioca, mesmo sabendo que este nutriente é importante para o desenvolvimento de folhas e ápices foliares (JOHN et al., 2016) e para a síntese de carboidratos e a produção de tubérculos (LENKA; DAS, 2019). 2.4 Enxofre e Boro no solo O S é absorvido pelas plantas na forma de sulfato (SO4-), enquanto que o B é na forma de ácido bórico ou borato (H3BO3), mas também em complexos com Ca ou ligados a compostos orgânicos solúveis (SUNIL et al., 2017; DECHEN et al., 2018; VITTI et al., 2018). Tanto o S quanto o B são facilmente encontrados na matéria orgânica do solo, dessa forma, solos lixiviados, muito arenosos e com baixo teor de matéria orgânica podem apresentar deficiência dos elementos (FUENTES-LARA et al., 2019; JORDAN; ENSMINGER, 1959). Aproximadamente 95% do S encontra-se na matéria orgânica do solo, dessa maneira o revolvimento do solo e a retirada constante das plantas, acaba por favorecer a degradação da matéria orgânica e dessa maneira, a redução dos estoques de S no solo (FUENTES-LARA et al., 2019; VITTI; OTTO; SAVIETO, 2015). Assim, a incorporação de fontes sulfatadas é recomendada para suprir essa demanda. No entanto, a principal maneira de repor o elemento no solo é através de forma inorgânica, sulfatos, porém, nesta forma o S é facilmente lixiviado e também adsorvido pelos coloides do solo, dependendo sua dessorção do pH, menor o pH maior será a adsorção do elemento (FUENTES-LARA et al., 2019; JORDAN; ENSMINGER, 1959). Em solos tropicais, que são mais intemperizados, é mais 32 comum observar baixas quantias de S no perfil explorado pelas raízes, por causa da mobilidade do elemento no perfil (VITTI; OTTO; SAVIETO, 2015). O S, assim como o N, passa por processos de decomposição, muito afetados pelos microrganismos do solo (SUNIL et al., 2017). Os processos responsáveis pelas transformações do elemento são mineralização, imobilização e oxidação (SUNIL et al., 2017). O processo de oxirredução do elemento é representado pela oxidação do sulfeto (encontrado em solos mal drenados) ou S elementar em sulfato, ocorrendo com a redução do pH do solo e a redução do sulfato em sulfeto com a elevação do pH do solo (VITTI et al., 2018). Os autores ressaltam que o processo de oxidação é dependente de microrganismos, e estes, dependem da temperatura e umidade do solo. Ainda citam que a mineralização do S, assim como a do N, também será dependente da relação C:S, sendo formado o sulfato, somente quando o teor de S na Matéria Orgânica (MO) exceder a necessidade alimentar dos microrganismos do solo. O B é encontrado em minerais silicatados, adsorvido pelos argilominerais, e na MO (DECHEN et al., 2018). A disponibilidade do elemento é dependente de vários fatores, como por exemplo o pH, sendo reduzida sua disponibilidade quando acima de 6,5 (SUNIL et al., 2017). O B é um elemento que percola no solo, especialmente em solos tropicais e ácidos. Assim como o S, o B também pode lixiviar com facilidade para zonas além do alcance das raízes, e isso ocorre porque o B é um elemento solúvel em água. Por ser solúvel, o B pode apresentar deficiência em solos arenosos de regiões tropicais chuvosas ou sob irrigação constante (GUPTA; SOLANKI, 2013). Solos com aplicações de calcário excessivo, também tendem a percolar e apresentar deficiência (GOLDBERG, 1997). O baixo teor de MO no solo também pode resultar em deficiência de B, já que esta fração orgânica libera o elemento para a solução do solo (DEAR; WEIR, 2004). Diferente dos demais elementos, o B possui um ciclo no solo simples, e sua disponibilidade depende da reação de adsorção (GOLDBERG, 1997). A rocha de formação também afeta o nível de B no solo, por isso solos arenosos tendem a apresentar deficiência desse micronutriente (GOLDBERG, 1997). 33 3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1 Caracterização e localização dos experimentos Foram conduzidos dois experimentos no período de julho de 2020 a junho de 2021, sendo um experimento com adubação sulfatada e outro com adubação boratada de cobertura. Em cada experimento foram avaliadas as cultivares IAC 576- 70 (padrão), BRS 396, BRS 399, Palito e Precoce. Os experimentos foram conduzidos no município de Ubirajara, SP (22° 30' 30.6" S 49° 39' 44.9" W), localizada em propriedade particular pertencente a Cooperativa Agroindustrial de Ubirajara (CAU). Segundo a classificação de Koppen o clima da região é do tipo Cfa. O solo tem predomínio de Argissolo Vermelho- Amarelo ou Vermelho, com textura arenosa/média e relevo suave (ROSSI, 2017). As temperaturas máximas e mínimas e a precipitação pluvial ocorridas durante a condução da pesquisa estão apresentadas na Figura 1. Figura 1 – Precipitação pluvial (barras), temperaturas máximas (linhas grossas) e mínimas (linhas finas) na área experimental durante o período de condução dos experimentos em Ubirajara-SP. Os momentos do plantio, emergência, adubação de cobertura, coleta de folhas diagnósticas e colheita estão indicados na Figura 100 90 80 50 Plantio Emergência Adubação de cobertura Colheita 45 Diagnose foliar 40 70 35 60 30 50 25 40 20 30 15 20 10 10 5 0 J J A S O N D 2020 J F M 0 A M J 2021 P re c ip it a ç ã o p lu v ia l (m m ) T e m p e ra tu ra ( °C ) 34 3.2 Cultivares As cultivares utilizadas foram IAC 576-70, BRS 399, BRS 396, Precoce e Palito, sendo as duas últimas cultivares locais, e amplamente cultivadas pelos agricultores. A cultivar “Precoce” apresenta ciclo precoce, plantas de porte baixo, com ramificação compacta e alta produtividade de raízes. A cultivar Palito apresenta baixo número de hastes por planta (cerca de uma) e porte alto, o que facilita a colheita de ramas e o plantio mecanizado. A cultivar IAC 576-70 é antiga, porém com alto padrão culinário e aceitabilidade, devido à alta produtividade e ao baixo tempo de cozimento de suas raízes. Sua colheita pode ser a partir do 9º mês, e sua expectativa de produtividade é de mais que 22 t ha-1. Possui polpa amarelada, alto teor de carotenos e película marrom. Apesar de seu principal destino ser o consumo in natura, também pode ser utilizada para produção de fécula, já que possui alto teor de matéria seca (IAC, 2021). A cultivar BRS 396, lançada em 2015 pela EMBRAPA, permite a colheita a partir do 7º mês após o plantio, possui a coloração da polpa amarelada e alto teor de carotenoide, importante precursor da vitamina A, bom tempo de cozimento e características favoráveis ao consumo, como ausência de fibras. Possui boa produtividade (entre 25 e 40 t ha-1), facilidade de colheita e tolerância média a bacteriose e resistência ao superalongamento (EMBRAPA, 2015). A cultivar BRS 399, lançada em 2015 pela EMBRAPA, apresenta precocidade, possibilitando a colheita a partir dos sete meses, polpa com coloração amarelada e bom tempo de cozimento. Também apresenta arquitetura de planta mais favorável a colheita e produtividade média a alta (entre 17 e 57 t ha-1), possui polpa amarelada, alto teor de carotenoides e película marrom. A cultivar também apresenta resistência às principais doenças que acometem a cultura, tais como bacteriose e superalongamento (EMBRAPA, 2014). 3.3 Delineamento experimental e tratamentos Os experimentos foram conduzidos em delineamento blocos casualizados (DBC) em esquema fatorial 5 x 3, com quatro repetições. Nos dois experimentos, o fator A foi representado pelas cultivares de mandioca de mesa (IAC 576-70, BRS 396, BRS 399, Palito e Precoce), e o fator B foi representado pelos níveis de S ou de 35 B. No experimento com S, os níveis foram 0, 22 e 44 kg ha-1 de S, enquanto no experimento com B os níveis foram 0, 1 e 2 kg ha-1 de B. Cada parcela possuía quatro linhas de 4 m de comprimento. No total foram 60 parcelas por experimento. As plantas foram espaçadas de 1,1 m entre linha e 0,75 m entre plantas. 3.4 Instalação e condução dos experimentos A área experimental havia sido cultivada com mandioca na safra anterior. Em junho de 2020, antes da implantação da cultura, foi coletado solo da área experimental nas profundidades de 0-20 e 20-40 cm para análise química. O solo foi peneirado (peneira de 2 mm), seco ao ar (terra fina seca ao ar) e em seguida submetido as análises químicas (pH, M.O., P, S, K, Ca, Mg, H+Al, CTC, V%, B, Cu, Fe, Mn, Zn) de acordo com a metodologia proposta por Raij et al. (2001). A área não recebeu calagem devido a saturação por bases estar dentro da faixa indicada para a cultura da mandioca, que é de 50% (Tabela 1) (LORENZI et al., 1997). Os teores de S nas camadas de 0-20 e 20-40 eram considerados baixos (<4 mg dm- 3) e médios (5-10 mg dm-3), respectivamente; enquanto os teores de B eram baixos (<0,20 mg dm-3) nas duas camadas (RAIJ et al., 1997). O solo dos experimentos foi preparado de forma convencional com as seguintes operações: uma gradagem aradora, uma aração com arado de disco (± 20 cm de profundidade) e uma gradagem leve. Em ambos os experimentos, a adubação de base foi realizada com 264 kg ha-1 do formulado 4-30-10 + 7% de Ca + 3% de S. Dessa forma, aplicou-se na adubação de plantio 11 kg ha-1 de N, 79 kg ha- 1 P2O5, 26 kg ha-1 K2O, 18 kg ha-1 Ca e 8 kg ha-1 S. 36 Tabela 1 - Características químicas do solo nas profundidades de 0-20 e 20-40 cm antes do plantio da mandioca Características da análise de solo Profundidade (cm) 0-20 20-40 pH (CaCl2) 4,9 4,6 MO (g dm-3) 11 10 P (mg dm-3) 5 3 S (mg dm-3) 3 6 K (mmolc dm-3) 1,03 0,64 Ca (mmolc dm-3) 10,5 5,5 Mg (mmolc dm-3) 7,5 3,5 CTC (mmolc dm-3) 32 24 V (%) 57 37 B (mg dm-³) 0,15 0,2 Cu (mg dm-³) 0,3 0,3 Fe (mg dm-³) 11 5,5 Mn (mg dm-³) 8,1 6,5 Zn (mg dm-³) 1,1 0,3 O plantio foi realizado de forma mecanizada no dia 10 de julho de 2020 com plantadora-adubadora de mandioca, modelo Bazuca II da marca Planticenter®. Foram utilizadas ramas retiradas do terço médio de plantas sadias com aproximadamente 12 meses de idade. A profundidade de plantio aproximada foi de 10 cm, no espaçamento de 1,1 m entre linhas e 0,75 entre plantas sendo cada parcela constituída por quatro linhas e 4 m de comprimento. A emergência da cultura ocorreu em 26 de agosto de 2020, aos 47 dias após o plantio (DAP). Em 15 de outubro de 2020, aos 98 DAP, foi realizada as adubações de cobertura com os nutrientes em estudo (S e B) e os demais nutrientes. No experimento com S, foi utilizada como fonte o sulfato de amônio (22% de S e 20% N). Em todos os tratamentos foram aplicados 40 kg ha-1 de N. Porém, como a fonte de S continha N, na dose zero de S, todo o N (40 kg ha-1 de N) foi fornecido na forma de nitrato de amônio (32% de N). Na dose com 22 kg ha-1 de S, metade do N foi fornecido como sulfato de amônio (20 kg ha-1 de N) e metade como nitrato de amônio (20 kg ha-1 de N), enquanto na maior dose de S (44 kg ha-1) todo o N foi suprido como sulfato de amônio (40 kg ha-1 de N). Além disso, todas as parcelas receberam a aplicação de 60 kg ha-1 de K2O (cloreto de potássio, 60% de K2O), 1,0 kg ha-1 de B (ácido bórico, 17% de B) e 2,0 kg ha-1 de Zn (sulfato de zinco, 20% de 37 Zn e 16% de S). Assim, as adubações de base e cobertura forneceram no total: 51 kg ha-1 de N, 79 kg ha-1 de P2O5, 86 kg ha-1 de K2O, 18 kg ha-1 de Ca, 8 kg ha-1 de S (no plantio), 1 kg ha-1 de B, 2 kg ha-1 de Zn e as diferentes doses de S em cobertura. No experimento com B, foi utilizado como fonte o ácido bórico (17% de B). Todas as parcelas também receberam a aplicação de 40 kg ha-1 de N e 44 kg ha-1 de S (sulfato de amônio, 20% de N e 22% de S), 60 kg ha-1 de K2O (cloreto de potássio, 60% K2O) e 2 kg ha-1 de Zn (sulfato de zinco, 20% de Zn e 16% de S). As quantidades totais de nutrientes aplicadas (plantio + cobertura) foram: 51 kg ha-1 de N, 79 kg ha-1 de P2O5, 86 kg ha-1 de K2O, 18 kg ha-1 de Ca, 52 kg ha-1 de S, 2 kg ha-1 de Zn, e as doses de B em cobertura. Em ambos experimentos a adubação de cobertura foi realizada aplicando os fertilizantes na superfície do solo e aproximadamente a 10 cm da base das plantas. Para essa operação, foi calculada e pesada as quantidades de fertilizantes contendo micronutrientes por tratamento e adicionou-se areia lavada e seca em estufa ao volume pesado. Em seguida, a mistura foi homogeneizada, e mediante pesagem, preparou-se saquinhos plásticos contendo uma mistura (formulado) com as quantidades de cada fertilizante a ser aplicada por 4 m de linha de cada parcela. A mistura foi homogeneizada nos saquinhos por agitação antes de ser aplicada em cada parcela no campo. O controle fitossanitário e o controle de plantas daninhas foram realizados de acordo com as recomendações para a cultura na região e critérios adotados pelo produtor. A colheita da mandioca foi realizada no dia 17 de junho de 2021 (11,4 meses após o plantio; 295 dias após a emergência). 3.5 Avaliações 3.5.1 Diagnose foliar Em 14 de novembro de 2020, aos 82 dias após emergência (DAE) foram realizadas amostragens das folhas retirando-se o limbo da folha mais jovem totalmente expandida (LORENZI et al., 1997), de 20 folhas de cada unidade experimental de ambos os experimentos para a determinação dos teores de N, P, K, Ca, Mg, S, B, Cu, Fe, Mn e Zn de acordo com metodologia proposta por Malavolta, Vitti e Oliveira (1997). 38 3.5.2 Número de hastes, altura e população final de plantas No dia da colheita foi determinado o número de hastes e a altura de plantas em duas (02) plantas da área útil de cada parcela. O número de hastes por planta foi determinado mediante contagem e a altura das plantas foi quantificada com o auxílio de uma trena (fita graduada) a partir da superfície do solo até o ponto mais alto da planta. A população final de plantas foi obtida a partir da contagem de número de plantas em 4 m de comprimento das duas linhas centrais de cada unidade experimental. 3.5.3 Número, comprimento, diâmetro, peso médio e produtividade de raízes tuberosas Na colheita, foram removidas as plantas presentes nos 3 m centrais da área útil de duas linhas de cada parcela (± 8 plantas). As plantas foram divididas em parte aérea, cepas e raízes. Em duas plantas de cada parcela foram determinados o comprimento e o diâmetro médio das raízes tuberosas. O comprimento médio das raízes foi determinado com auxílio de uma régua graduada e o diâmetro médio foi determinado com paquímetro digital (150 mm MTX) na região do terço médio das raízes. Em seguida, as raízes de todas as plantas foram contadas e classificadas em comercial (definiu-se como raízes comerciais aquelas maiores que 40 mm e sem defeitos comerciais, por não haver uma padronização definida) e não comercial. Posteriormente, as raízes foram pesadas e o seu peso médio calculado dividindo-se o peso total pelo número total de raízes de cada parcela. A produtividade total e comercial de raízes foi calculada multiplicando-se o peso obtido por planta pela população final de plantas. 3.5.4 Acúmulo de matéria seca (MS) na parte aérea, cepas e raízes tuberosas e na planta inteira e índice de colheita Após a colheita e separação das partes das plantas (parte aérea, cepas e raízes tuberosas) (item 3.5.3.), todas as partes das plantas da área útil das parcelas foram pesadas separadamente (peso fresco). Em seguida, amostras representativas de cada parte das plantas foram separadas e secas em estufa com circulação forçada de ar à 65 °C por 96 h. Após secas, as amostras foram novamente pesadas (peso seco) e o acúmulo de matéria seca (MS) nas partes da planta calculado 39 considerando o acúmulo de MS por planta e a população final de plantas. O acúmulo de MS na planta inteira foi obtido pela soma das quantidades de MS acumuladas em todas as partes da planta. O índice de colheita (IC) foi calculado utilizando a equação proposta por Sagrilo et al. (2002), em que: (1) MSRA: é a quantidade de MS acumulada nas raízes tuberosas (t ha-1); MSPL: é a quantidade de MS acumulada na planta inteira (t ha-1). 3.5.5 Teor, acúmulo, exportação e eficiência de uso de S e B As amostras secas obtidas no item 3.5.4. foram moídas em moinho de aço inox e as amostras dos experimentos com S e B avaliadas quanto aos teores de S e B, respectivamente (MALAVOLTA; VITTI; OLIVEIRA, 1997). As quantidades de S e B acumuladas em cada parte da planta foram calculadas considerando os teores nas partes da planta e as quantidades de MS acumuladas. As quantidades de S e B extraídas pela mandioca foram obtidas pela soma das quantidades acumuladas em cada parte da planta, enquanto a exportação de S e B foi considerada como a quantidade acumulada nas raízes tuberosas. As eficiências de uso de S (EUS) e de B (EUB) foram calculadas de acordo a metodologia adotada por Fernandes e Soratto (2013): a) eficiência de uso de B ou S para a produtividade de raízes tuberosas frescas Essa eficiência foi calculada através da relação: produtividade total de raízes frescas/quantidade total de S ou B absorvida pela planta. b) eficiência de uso de B ou S para a produção de MS da planta Essa eficiência foi calculada através da relação: quantidade total de MS produzida pela planta/quantidade total de S ou B absorvida pela planta. c) eficiência de uso de B ou S para a produção de MS de raízes tuberosas Essa eficiência foi calculada através da relação: quantidade total de MS de raiz tuberosa produzida /quantidade total de S ou B absorvida pela planta. 40 3.5.6 Tempo de cozimento das raízes tuberosas e textura crua e cozida O tempo de cozimento (TC) das raízes foi determinado utilizando-se cilindros com aproximadamente 6 cm de comprimento retirado da parte mediana de três raízes comerciais de cada parcela, as quais foram descascadas e imersas em 1.000 ml de água em ebulição. O ponto ideal de cozimento foi obtido com a utilização de um garfo de aço inoxidável, considerando o limite máximo para cozimento o tempo de 30 minutos (LORENZI, 1994). As mesmas amostras utilizadas para determinar o tempo de cozimento, antes e depois de cozidas foram submetidas ao teste de firmeza com uso de texturômetro (TA.XT Plus Texture Analyser) com ponta de prova SMS P/2N e velocidade de penetração de 2,5 mm s-1. A leitura foi expressa em força Newton (N). 3.5.7 Teor de matéria seca (MS), amido e proteína nas raízes tuberosas Para a determinação dos teores de MS, as amostras das raízes foram lavadas, desintegradas, pesadas (peso fresco) e desidratas em estufa com circulação forçada de ar a 65 ºC até peso constante. Posteriormente, as amostras foram pesadas para se obter o teor de MS, e em seguida, foram moídas. O teor de amido foi determinado nas amostras secas a partir de metodologia de Somogy- Nelson (SOMOGY, 1945), sendo lidos em espectrofotômetro a 535 nm. O teor de proteína foi determinado na matéria seca através do N total por metodologia micro Kjeldahl com a utilização de fator de 6,25 para conversão do N em proteína bruta. De posse dos dados os teores de amido e proteína foram convertidos para teores na matéria fresca. 3.5.8 Rendimento operacional e de produto processado Essa avaliação foi realizada apenas para avaliar possíveis diferenças entre as cultivares, ou seja, sem considerar os tratamentos de adubação de cobertura. Para isso, foram colhidas 10 caixas de raízes tuberosas de aproximadamente 28 kg de cada cultivar juntando-se amostras de raízes das quatro repetições. As caixas foram pesadas com as raízes (raízes sujas), e posteriormente, as raízes foram lavadas em lavador descascador (raízes lavadas) e descascadas manualmente. A retirada da entrecasca das raízes (descascamento) foi feita adotando-se os critérios da Cooperativa, no qual o descasque é manual utilizando facas sem ponta, através de 41 um serviço terceirizado por famílias locais. Em seguida, as raízes descascadas (polpa) foram novamente pesadas e com a diferença entre os pesos das raízes sujas, lavadas e descascadas, calculou-se o rendimento de processamento para cada cultivar de mandioca. O rendimento de produto processado foi calculado para cada cultivar considerando o rendimento de processamento e as produtividades total e comercial. Com isso, obteve-se o rendimento de produto processado a partir de todas as raízes (produtividade total) e a partir de raízes com diâmetro maior que 40 mm (produtividade comercial). 3.6 Análise estatística Os dados foram submetidos a análise de variância separadamente por experimento, utilizando-se o software estatístico SISVAR (FERREIRA, 2010). As médias dos tratamentos com adubação de S ou B em cobertura foram separadas pelo teste LSD (p≤0,05). Para a avaliação de rendimento operacional, como juntou- se as repetições de cada cultivar, não foi realizada a análise estatística 42 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Experimento com adubação sulfatada 4.1.1 Diagnose foliar A diagnose foliar é realizada entre os 3 a 4 meses após o plantio devido ao requerimento máximo que a cultura tem nessa fase do crescimento, variando, no entanto com o tecido avaliado (HOWELER; CADAVID,1983). No presente estudo os macronutrientes não apresentaram interferência do fator nível de S, havendo apenas efeito principal do fator cultivar para os teores foliares de P, K, Ca e Mg (Tabela 2). O N não foi afetado por nenhum dos fatores estudados, porém os valores desse nutriente encontram-se adequados (LORENZI et al., 1997). Os menores teores de P foram verificados nas cultivares da EMBRAPA, BRS 399 e BRS 396, com 3,6 e 3,5 g kg-1 respectivamente. No entanto, ambos são considerados adequados para a cultura, sendo as referências entre 2,5 a 5,0 g kg-1 para Oliveira (2004) e 2,0 a 5,0 g kg-1 para Lorenzi et al. (1997). Os teores de K encontram-se entre 14,4 e 15,8 g kg-1, sendo a única variedade com diferença do teor de K a BRS 399. Para Lorenzi et al. (1997) e também Oliveira (2004), os valores são considerados adequados, por estarem entre 10 a 20 g kg-1. Foram observadas nas cultivares da EMBRAPA os maiores teores de Ca e Mg para os dois elementos. No entanto, o teor de Ca está abaixo do ideal para a cultura, que é de 5 a 15 g kg-1 para Lorenzi et al. (1997). Dessa maneira, o não suprimento adequado da demanda pelo elemento pode causar consequências para a cultura por ser importante para inúmeros processos. O Ca está entre os cinco nutrientes mais extraídos pela mandioca e, segundo Cadavid (2012), para uma produção de 15 t ha- 1, a planta extrai 20,4 kg ha-1 de Ca com as raízes. A falta desse nutriente pode reduzir o crescimento das plantas e as folhas mais jovens são deformadas, comprometendo a fotossíntese (CADAVID, 2012). O teor de Mg na cultivar Precoce é mais baixo, com 2,8 g kg-1, mas ainda está de acordo com Lorenzi et al. (1997), com valores de referência entre 2 e 5 g kg-1. 43 Tabela 2 - Teores de macro (g kg-1) e micronutrientes (mg kg-1) na folha diagnose de cinco cultivares de mandioca submetidas à adubação sulfatada. Tratamentos N P K Ca Mg S Cultivar BRS 399 54,0 a 3,6 b 15,8 a 4,0 a 3,2 a 2,1 a BRS 396 55,5 a 3,5 b 14,4 b 4,2 a 3,1 ab 2,5 a Palito 53,0 a 4,0 a 14,6 b 2,9 b 3,0 ab 2,2 a Precoce 55,0 a 4,0 a 15,0 b 2,3 b 2,8 c 2,2 a IAC 576-70 56,3 a 3,9 a 14,6 b 2,5 b 3,0 bc 2,3 a Níveis de S Baixo 54,4 a 3,8 a 14,8 a 3,2 a 3,0 a 2,2 a Médio 55,5 a 3,8 a 14,8 a 3,1 a 3,0 a 2,3 a Alto 54,4 a 3,8 a 15,1 a 3,2 a 3,1 a 2,3 a ANOVA (P>F) Probabilidade de F Cultivar (C) ns <0,0001 0,0002 <0,0001 0,0074 ns Níveis de S (S) ns ns ns ns ns ns C x S ns ns ns ns ns ns Tratamentos B Cu Fe Mn Zn Cultivar BRS 399 57,2 a 8,5 a 98,2 b 332,0 b 78,2 b BRS 396 54,1 a 8,3 a 108,5 a 391,5 a 87,8 a Palito 46,8 ab 9,0 a 102,6 ab 193,6 c 79,6 ab Precoce 37,9 b 8,4 a 99,6 b 190,2 c 56,0 c IAC 576-70 49,7 a 7,6 a 96,7 b 184,4 c 76,2 b Níveis de S Baixo 32,6 c 8,2 a 100,8 a 262,3 a 76,9 a Médio 47,2 b 8,5 a 100,9 a 265,8 a 75,1 a Alto 67,6 a 8,4 a 101,7 a 246,9 a 74,6 a ANOVA (P>F) Probabilidade de F Cultivar (C) 0,015 ns 0,0039 <0,0001 <0,0001 Níveis de S (S) <0,0001 ns ns ns ns C x S 0,022 ns ns ns ns Médias seguidas de letras iguais na coluna não diferem entre si pelo teste LSD a 5% de probabilidade. O S não foi afetado pelas cultivares ou pelos níveis de S aplicados, porém, é observado que os teores ficaram todos entre 2,1 e 2,5 g kg-1, valores esses abaixo dos propostos por Lorenzi et al. (1997) e também Oliveira (2004), que são de 3-4 g kg- 1. Vale destacar que o fertilizante utilizado no plantio forneceu 8 kg ha-1 de S e que a adubação sulfatada de cobertura foi realizada aos 51 DAE, ou seja, um mês antes da coleta das folhas diagnósticas (82 DAE). Portanto, este estudo mostrou que mesmo fornecendo 52 kg ha-1 de S (8 kg no plantio + 44 kg em cobertura) os teores 44 foliares deste nutriente ficaram abaixo da faixa considerada como adequada para a cultura (LORENZI et al., 1997; OLIVEIRA, 2004). Baixos teores de S causam consequências para as plantas, especialmente para a cultura da mandioca, que é muito consumida por suas características nutricionais e valor biológico. O S é responsável pela síntese de proteínas, cistina e metionina além de ser o precursor de vitaminas, como por exemplo, a vitamina A (COLEMAN, 1966). Deficiências do nutriente são visualizadas no campo como as do N, sendo comum inclusive observar falta de ambos em conjunto. Esses dois nutrientes possuem sinergismo e se conectam através da união das rotas metabólicas (SILVA; TREVIZAM, 2015). Por isso, a falta de um irá interferir na do outro, e com isso é possível que o N possa a vir apresentar deficiência, caso o S não apresente um teor adequado. A relação de N:S nos tecidos vegetais é de maneira geral de 10:1, mas pode variar entre espécies vegetais (REIN; SOUSA, 2004). Seguindo essa taxa, o valor de S no atual experimento está bem abaixo do adequado. O S é absorvido pelas plantas maioritariamente pela forma de sulfato. No Brasil, o S nos solos encontra-se em grande parte na forma orgânica, dessa maneira, não prontamente absorvível pelas plantas (REIN; SOUSA, 2004). Por isso, a adubação com o elemento é recomendada. Em relação aos micronutrientes, apenas o teor de Cu não apresentou efeito dos tratamentos estudados (Tabela 2), estando esse dentro dos valores adequados de 5 – 25 mg kg-1 (LORENZI et al., 1997). Houve efeito do fator cultivar para os teores de Fe, Mn e Zn. Os teores de Fe e Zn encontram-se dentro do adequado para a diagnose foliar segundo o mesmo autor. No entanto, o teor de Mn está acima do limite para a cultura de 25 a 100 mg kg-1, sendo no caso das cultivares da EMBRAPA mais que o dobro do recomendado. O teor de B apresentou interação dos fatores estudados (Tabela 2). O teor foliar de B no nível baixo de S não diferiu entre as cultivares (Tabela 3). No nível médio de S as cultivares Precoce e IAC 576-70 apresentaram os menores teores foliares de B, mas no nível alto de S a cultivar BRS 399 apresentou teores foliares de B maiores do que nas cultivares BRS 396, Palito e Precoce. A adubação sulfatada não alterou os teores foliares de B da cultivar Precoce, mas nas outras cultivares a adubação sulfatada aumentou o teor foliar de B. A cultivar BRS 399 apresentou o maior teor de B no nível alto de S, sendo considerado tóxico (HOWELER, 1996). Os valores referências para esse nutriente estão entre 15 a 50 45 mg kg-1 (LORENZI et al., 1997). Dessa forma, não só a cultivar BRS 399 apresenta teores acima dos valores recomendados, mas também as cultivares BRS 396 e Palito quando aplicado um nível médio e alto de S e a IAC 576-70 quando em nível alto de S. O excesso de B na planta pode causar pontos necróticos nas pontas das folhas, conforme Cadavid (2012). Porém, esses sintomas fitotóxicos não foram observados em nenhuma cultivar. O B e o S, no entanto, quando aplicados em conjunto, trouxeram benefícios para a cultura da batata (SINGH et al., 2018). Os autores observaram aumento na clorofila e, consequentemente, na atividade fotossintética das plantas. O B sozinho não é capaz de promover aumentos de produtividades, desempenhando um papel complementar (KLIKOCKA, 2020). No entanto quando aplicado juntamente com o S, aumentam o teor de B nas partes da planta e também na produtividade e teor de amido (SINGH et al., 2018; KLIKOCKA, 2020). Tabela 3 - Desdobramento da interação cultivar x nível de S para o teor de B na folha diagnose da mandioca. Cultivar Nível de S Baixo Médio Alto BRS 399 38,4 aB 47,1 abcB 86,3 aA BRS 396 35,4 aB 68,0 aA 64,8 bcA Palito 28,1 aB 53,1 abA 59,4 cA Precoce 34,6 aA 32,3 cA 46,7 cA IAC 57670 26,5 aB 41,6 bcB 81,0 abA Médias seguidas de letras minúsculas na coluna e maiúsculas na linha não diferem entre si pelo teste LSD a 5% de probabilidade. 4.1.2 Avaliações fitotécnicas 4.1.2.1 Número de hastes, altura e população final de plantas O número de hastes, a altura de plantas e também a população de plantas não apresentaram interação cultivar x níveis de S, havendo apenas efeito principal de cultivar (Tabela 4). Para Kaisher et al. (2010), em feijão moyashi (Vigna radiata L. Wilczek) o S influenciou o número de hastes por planta até a dose de 30 kg ha-1. 46 A maior altura de plantas foi vista para a cultivar Palito, com 3,8 m, enquanto que a Precoce, foi a mais baixa, 2,3 m, não diferindo da cultivar BRS 396, que apresentou 2,5 m (Tabela 4). Para Zeb e Jan (2021), na cultura do gergelim, o S, até a dose de 40 kg ha-1 aumentou a altura das plantas. Já para a mandioca, Ngongi, Howeler e Macdonald (1976), comparando aplicação de cloreto de potássio e sulfato de potássio, perceberam que o segundo também promoveu aumento na altura das plantas. Porém, não se manteve nos dois locais testados, demonstrando que o ambiente também pode influenciar nessa característica. Tabela 4 - Número de hastes, altura e população de plantas de cinco cultivares de mandioca submetidas à adubação sulfatada. Tratamentos Hastes por planta Altura de plantas População final de plantas (no.) (m) (plantas ha-1) Cultivar BRS 399 1,9 b 3,0 b 9091 c BRS 396 1,7 bc 2,5 c 8144 e Palito 1,3 d 3,8 a 10700 a Precoce 2,4 a 2,3 c 10608 b IAC 576-70 1,6 cd 3,0 b 8775 d Níveis de S Baixo 1,7 a 2,8 a 9464 a Médio 1,9 a 3,0 a 9460 a Alto 1,7 a 2,9 a 9470 a ANOVA (P>F) Probabilidade de F Cultivar (C) <0,0001 <0,0001 <0,0001 Níveis de S (S) ns ns ns C x S ns ns ns Médias seguidas de letras iguais na coluna não diferem entre si pelo teste LSD a 5% de probabilidade. A população final de plantas foi afetada apenas pelas cultivares (Tabela 4). Todas apresentaram valores de população de plantas abaixo do esperado, que era de aproximadamente 12.121 plantas ha-1. Entretanto, os valores obtidos estão na média de população de plantas utilizadas de 5 a 10 mil plantas ha-1 (COCK, 1985; SILVA et al., 2013). A cultivar BRS 396 apresentou 33% menos plantas que o esperado, enquanto que a IAC 576-70 apresentou população de plantas 28% abaixo do esperado. Uma baixa população de plantas em mandioca de mesa, além de possuir maiores chances de serem infestadas com plantas competidoras, também 47 possuirão menor acúmulo de matéria seca total, afetando diretamente o rendimento (COCK, 1985). 4.1.2.2 Número, comprimento, diâmetro, peso médio e produtividade de raízes tuberosas Dentre os componentes que afetam a produtividade da cultura da mandioca, apenas o peso médio foi influenciado pela interação dos fatores estudados (Tabela 5). O número de raízes não foi influenciado pela interação, apenas a cultivar interferiu nesta variável. Neste experimento, o número de raízes ficou entre 7,9 para a cultivar Precoce, e 11,5 na cultivar IAC 576-70. Em média a mandioca pode produzir de 9 a 14 raízes por planta (COCK et al., 1979). No entanto, para os autores um grande número de raízes não é considerado sinônimo de boa produtividade, já que as raízes podem ser mais leves, e consequentemente, serão menos produtivas. Andrade et al. (2014) em três cultivares diferentes observaram peso de raízes maior que o presente estudo. Possivelmente por terem um número de raízes entre três e cinco. Os autores também observaram que as cultivares com maior número de raízes apresentavam menor diâmetro, corroborando com o presente estudo. Oliveira et al. (2017), com aplicação de N em doses altas de até, 330 kg ha-1 observaram um número de raízes de 8 a 8,6, sendo esses, adequados para a cultura. Os autores apontam que número e o comprimento das raízes não definirão produtividade na cultura da mandioca, uma vez que esses parâmetros podem ser compensados em diâmetro. O diâmetro das raízes não foi afetado pelos fatores estudados, apenas o comprimento apresentou efeito das cultivares, sendo a Palito com raízes mais compridas. A cultivar BRS 399 juntamente com a BRS 396 são as menos compridas, mas são as mais pesadas. Figueiredo et al. (2014), encontrou uma correlação de 60% entre matéria fresca de raiz e diâmetro sendo esses os principais determinantes para a produtividade. Com a cultivar IAC 576-70, os autores obtiveram um comprimento médio de 35 cm e entre 45 e 50 mm de diâmetro. Neste estudo, o comprimento das cultivares ficou abaixo, com média de 26 cm, assim como o diâmetro que apresentou valores entre 39,3 mm e 40,9 mm. 48 Tabela 5 - Componentes da produção e produtividade de raízes tuberosas de cinco cultivares de mandioca submetidas à adubação sulfatada. Raízes tuberosas Produtividade de Tratamentos Número Comprimento Diâmetro Peso médio raízes Total Comercial (no. pl-1) (cm) (mm) (g) (t ha-1) (t ha-1) Cultivar BRS 399 10,6 a 22,5 b 39,3 a 324,6 a 28,3 ab 24,7 ab BRS 396 10,4 ab 25,6 b 40,0 a 340,4 a 25,2 bc 22,3 bc Palito 11,2 a 30,0 a 40,9 a 249,7 b 28,9 a 26,1 a Precoce 7,9 b 26,4 ab 39,5 a 267,6 b 20,9 d 19,3 c IAC 576-70 11,5 a 26,2 ab 39,6 a 247,3 b 22,5 cd 19,7 c Níveis de S Baixo 9,3 a 25,4 a 39,8 a 277,6 a 22,6 b 19,9 b Médio 10,6 a 26,9 a 39,4 a 296,4 a 25,8 a 23,3 a Alto 11,0 a 26,2 a 40,3 a 283,8 a 27,0 a 24,1 a ANOVA (P>F) Probabilidade de F Cultivar (C) 0,04 0,012 ns <0,0001 0,0001 0,0002 Níveis de S (S) ns ns ns ns 0,0074 0,0032 C x S ns ns ns 0,0006 0,0005 0,0003 Médias seguidas probabilidade. de letras iguais na coluna não diferem entre si pelo teste LSD a 5% de O S na forma de sulfato de amônio (mesma fonte usada neste experimento) aumentou o número de tubérculos de batata-doce quando utilizada a dose de 80 kg ha-1 (ALVES et al., 2009). Por também conter N na composição dessa fonte de nutriente, os componentes e a produtividade final são influenciados também pelo N. Esse nutriente, possui importância para a formação da parte aérea, desenvolvimento foliar e quando em doses adequadas pode aumentar a produtividade das plantas (HOWELER, 2002). Na batata, Klikocka (2020) relatou que 50 kg ha-1 de S resultaram em 27 t ha-1 de tubérculos, duas toneladas a mais que o controle. No presente estudo a produtividade total de mandioca também aumentou com a aplicação de S, passando de 22,6 t ha-1 para 27,0 t ha-1. O peso médio de raízes e as produtividades total e comercial foram influenciados pela interação dos fatores estudados (Tabela 5). O peso médio das raízes não aumentou com aplicação das doses de S para a cultivar BRS 399 (Tabela 6). Porém, o nível médio resultou em pior desempenho nesta cultivar, sendo o alto e o baixo com os efeitos mais expressivos para essa variável. As cultivares Precoce e IAC 576-70 não obtiveram resposta a aplicação de S em relação ao peso médio das 49 raízes. Já a cultivar Palito, a maior dose aplicada resultou no pior desempenho da cultivar, sendo o nível médio e o baixo iguais. A cultivar BRS 396, aumentou o peso de raízes com a aplicação do nível médio de S, em 44%. Singh et al. (2018) observaram em tubérculos de batata incremento de peso de tubérculos com aplicação de S. As batatas tratadas com S na base pesavam 141 g a mais que o controle não tratado. Tabela 6 - Desdobramento da interação cultivar x nível de S para o peso médio, produtividade total e comercial Cultivar Nível de S Baixo Médio Alto Peso médio (g) BRS 399 387,3 aA 264,7 bB 321,8 abB BRS 396 272,0 bB 392,1 aA 357,3 aA Palito 237,2 bAB 289,0 bA 222,9 cB Precoce 268,2 bA 270,5 bA 264,1 bcA IAC 57670 223,4 bA 265,7 bA 252,9 cA Produtividade total (t ha-1) BRS 399 25,3 aB 23,3 bB 36,4 aA BRS 396 21,7 abB 22,5 bB 31,5 abA Palito 26,5 aB 33,1 aA 27,0 bcAB Precoce 18,8 bB 25,1 bA 19,0 dAB IAC 57670 20,9 abA 25,3 bA 21,3 cdA Produtividade comercial (t ha-1) BRS 399 22,0 abB 21,2 bB 30,9 aA BRS 396 17,4 bB 19,9 bB 29,5 aA Palito 25,1 aAB 29,6 aA 23,7 bB Precoce 17,1 bB 23,5 bA 17,4 cB IAC 57670 18,0 bA 22,1 bA 19,1 bcA Médias seguidas de letras minúsculas na coluna e maiúsculas na linha não diferem entre si pelo teste LSD a 5% de probabilidade. A produtividade total foi aumentada nas cultivares BRS 396 e BRS 399 quando aplicado o nível alto de S (Tabela 6). O fornecimento do nível médio de S aumentou a produtividade total das cultivares Palito e Precoce. Em contrapartida, na cultivar IAC 576-70 a adubação sulfatada não alterou significativamente a produtividade total de raízes. No nível baixo de S, a menor produtividade total ocorreu na cultivar Precoce, enquanto no nível médio de S a cultivar mais produtiva foi a Pailto. No nível alto de S a produtividade total das cultivares BRS 399 e BRS 396 foi maior do que nas outras cultivares. O K2SO4 na cultura da mandioca aumentou a produtividade das raízes de 10 para 14 t ha-1 quando aplicado cinco parcelas do fertilizante (ALI; ABD-ELKADER, 2014). Na batata, o K2SO4 também 50 contribuiu para aumentar a produtividade de tubérculos de 24,6 t ha-1 para 63,6 t ha-1 (MOHAMED et al., 2020). Porém, no presente estudo nem todas as cultivares de mandioca responderam a adubação sulfatada. A produtividade comercial é representada apenas pelas raízes maiores que 40 mm visando o comércio in natura. A adubação sulfatada aumentou a produtividade comercial das cultivares da EMBRAPA (BRS 399 e BRS 396) até o maior nível de S, mas na cultivar Precoce houve aumento na produtividade comercial apenas até o nível médio de S (Tabela 6). As cultivares Palito e IAC 576- 70 não responderam a adubação sulfatada em termos de produtividade comercial. No nível médio de S a cultivar Palito foi a que apresentou maior produtividade comercial. Porém, no nível alto de S as cultivares BRS 399 e BRS 396 foram as que apresentaram as maiores produtividades comerciais. Porém, vale destacar que a produtividade comercial não engloba o ramo de processamento da mandioca. A CAU não exige raízes com diâmetro pré- determinado, já que a empresa realiza o descascamento e a pré-cocção das mesmas, tornando-as uma massa para serem vendidas na forma de chips ou toletes. 4.1.2.3 Acúmulo de MS na parte aérea, cepas, raízes tuberosas, na planta inteira e índice de colheita Houve efeito de interação dos níveis de S com as cultivares para o acúmulo de MS nas cepas, raízes e planta inteira (Tabela 7). Já para a MS da parte aérea e o IC as diferenças foram apenas para as cultivares. Na parte aérea a cultivar com maior acúmulo é a BRS 399 com 9,2 t ha-1 de MS. Por haver maior MS nessa parte da planta, essa cultivar apresenta o menor IC (0,44). A cultivar Palito apresentou o maior IC (0,65), uma vez que acumulou mais MS nas raízes (11,2 t ha-1). 51 Tabela 7 - Acúmulo de matéria seca (MS) na parte aérea, cepas, raízes tuberosas, planta inteira e índice de colheita (IC) de cinco cultivares de mandioca submetidas à adubação sulfatada. Acúmulo de MS (t ha-1) Tratamentos Parte aérea Cepas Raízes tuberosas Planta inteira IC Cultivar BRS 399 9,2 a 0,8 bc 10,1 ab 20,1 a 0,44 c BRS 396 5,3 c 0,7 c 9,3 b 15,3 b 0,60 ab Palito 4,6 c 1,0 a 11,2 a 16,8 b 0,65 a Precoce 5,5 bc 0,9 ab 9,0 b 15,4 b 0,60 ab IAC 576-70 6,7 b 0,8 b 9,0 b 16,5 b 0,53 bc Níveis de S Baixo 6,0 a 0,7 b 8,7 b 15,4 b 0,55 a Médio 6,4 a 0,9 a 10,0 a 17,4 a 0,56 a Alto 6,3 a 0,9 a 10,4 a 17,7 a 0,57 a ANOVA (P>F) Probabilidade de F Cultivar (C) <0,0001 0,0006 0,05 0,0001 0,0018 Níveis de S (S) ns <0,0001 0,0319 0,0098 ns C x S ns 0,0042 0,0079 0,0103 ns Médias seguidas de letras iguais na coluna não diferem entre si pelo teste LSD a 5% de probabilidade. A MS distribuída nas diferentes partes da planta é relacionada ao IC (EL- SHARKAWY; TAFUR, 2010). Os autores relatam que a redução da MS na parte aérea de cultivares mais baixas não diminui o teor de MS das raízes, e como resultado, essas apresentam maior IC. Apesar da cultivar Palito não ser considerada baixa (Tabela 4), esta possui habito de crescimento apical, logo é comum que esta apresente apenas uma haste e não engalhe. O menor IC é visto na cultivar BRS 399, a qual possui a maior massa seca na parte aérea. Algumas cultivares, como possivelmente a BRS 399, possuem habito de crescimento de ramos terminais, e por isso gastam muita energia no crescimento da parte aérea até os 10 meses (EL- SHARKAWY; TAFUR, 2010). A parte aérea (folhas e hastes) possui preferência na assimilação dos carboidratos e somente quando em excesso são transferidos para as raízes (COCK et al., 1979). Essas características, no entanto, não indicam que a cultivar irá produzir menos, apenas que sua energia será alocada primeiro para os galhos, fazendo com que seu ciclo seja mais tardio (EL-SHARKAWY; TAFUR, 2010). O acúmulo de MS nas cepas teve um incremento nas cultivares BRS 396 e 399 à medida que o nível de S fornecido aumentou até a maior dose (Tabela 8). O 52 maior acúmulo de MS nas cepas foi observado na cultivar Palito no nível médio de S, com 1,35 t ha-1. Nas raízes o padrão segue o da MS na cepa, sendo as cultivares da EMBRAPA com maiores incrementos de MS nessa parte quando utilizado um nível alto de S. A cultivar Palito obteve seu melhor desempenho com um nível médio de S, produzindo 12,9 t ha-1 de MS nas raízes. Da mesma maneira é observado maior acúmulo de MS nas raízes da cultivar Palito no nível médio de S, concluindo que a dose de 22 kg ha-1 de S é benéfica para a MS e também para a produtividade (Tabela 6) nessa cultivar. O acúmulo de MS na planta inteira foi maior na cultivar BRS 399 em um alto nível de S, produzindo 23 t ha-1. Tabela 8 - Desdobramento da interação cultivar x nível de S para o acúmulo de MS nas cepas, raízes tuberosas e planta inteira. Cultivar Nível de S Baixo Médio Alto MS de cepas (t ha-1) BRS 399 0,6 abB 0,8 bcAB 0,9 aA BRS 396 0,5 bB 0,6 cB 0,9 aA Palito 0,8 aB 1,35 aA 0,9 aB Precoce 0,7 abB 1,0 bA 1,0 aA IAC 57670 0,8 aA 0,8 bcA 0,8 aA MS Raízes tuberosas (t ha-1) BRS 399 9,0 aB 8,1 bB 13,2 aA BRS 396 7,5 aB 8,4 bB 12,1 aA Palito 10,3 aA 12,9 aA 10,4 abA Precoce 8,0 aA 10,7 abA 8,2 bA IAC 57670 8,5 aA 10,1 abA 8,3 bA MS da planta inteira (t ha-1) BRS 399 19,2 aB 18,1 aB 23,0 aA BRS 396 13,4 bB 14,2 bB 18,2 bA Palito 15,9 abB 19,5 aA 15,0 bB Precoce 13,2 bB 17,9 aA 15,1 bAB IAC 57670 15,2 bA 17,3 abA 17,0 bA Médias seguidas de letras minúsculas na coluna e maiúsculas na linha não diferem entre si pelo teste LSD a 5% de probabilidade. Segundo Conceição (1987), o acúmulo de MS nas raízes é o mais importante componente que diz respeito a produtividade, por ser o principal interesse de acúmulo de fotoassimilados na planta. Figueiredo et al. (2014) encontraram valores de acúmulo de MS nessa parte da planta entre 12 e 14 t ha-1. Enesi et al. (2022) ao estudar três cultivares de mandioca, observaram que os acúmulos de MS diferiram entre cultivares, apresentando aos 9 meses de colheita, 5,5, 5,8 e 6,8 t ha-1. Todos 53 os valores encontrados no presente estudo foram superiores aos dos autores supracitados, podendo estar relacionado ao uso de adubação com S, a fonte utilizada ou ser característica varietal. Sharma et al. (2011), na cultura da batata observaram incremento no teor de MS nos tubérculos até a dose de 45 kg ha-1 de S. Os autores atribuem esse aumento ao fato de o nutriente fazer parte da síntese de proteínas e amido por isso tende a aumentar o acúmulo de carboidratos. 4.1.4 Teor, acúmulo e eficiência de S Houve interação dos fatores estudados para o teor de S na parte aérea e nas cepas, enquanto que nas raízes é visto apenas efeito principal de cultivar e níveis de S (Tabela 9). Nas raízes, as cultivares Palito e IAC 576-70 foram as com maiores teores do elemento analisado; a Precoce com menor teor e as demais não apresentaram diferenças entre si (Tabela 9). Já para os níveis de S, o fornecimento dos níveis médio e o alto de S elevaram os teores de S nas raízes, porém sem diferenciarem entre si. Burns et al. (2012), para 14 cultivares de mandioca cultivadas em Moçambique, relataram teor de S nas raízes entre 0,2 e 0,5 g kg-1, valores estes, próximos aos encontrados no presente estudo. Marchim et al. (2020), na cultivar de mandioca Japonesinha, com aplicação de Mn mais S na base, também observaram teores de S na raiz semelhantes aos encontrados no atual estudo para o nível baixo de S. 54 Tabela 9 - Teores de S em MS (g kg-1) na parte aérea, cepas e raízes tuberosas de cinco cultivares de mandioca submetidas à adubação sulfatada. Tratamentos Parte aérea Cepa Raiz Cultivar BRS 399 2,0 b 0,62 e 0,18 bc BRS 396 1,7 b 0,80 d 0,19 bc Palito 2,8 a 1,10 b 0,22 a Precoce 2,1 b 1,24 a 0,16 c IAC 576-70 2,9 a 0,94 c 0,21 ab Níveis de S Baixo 1,8 c 0,71 b 0,1 b Médio 2,4 b 1,00 a 0,2 a Alto 2,8 a 1,10 a 0,2 a ANOVA (P>F) Probabilidade de F Cultivar (C) <0,0001 <0,0001 0,0013 Níveis de S (S) <0,0001 <0,0001 0,0001 C x S 0,0077 0,0053 ns Médias seguidas de letras iguais na coluna não diferem entre si pelo teste LSD a 5% de probabilidade. Na parte aérea, é possível verificar que apenas a cultivar IAC 576-70 não apresentou aumento do teor de S conforme aumentou o nível de fornecimento de S (Tabela 10). As cultivares Palito e Precoce em nível médio e alto de fornecimento de S não apresentaram diferença entre as duas doses de S aplicadas. Burns et al. (2012) verificaram teores de S em folhas de mandioca entre 2,9 e 5,7 g kg-1, ou seja, valores próximos aos do presente estudo. Segundo Howeler e Cadavid (1983), a concentração de S nas folhas é maior do que nos caules e maior que nas raízes. Porém, Cadavid (2012) refere que após 12 meses de cultivo, a concentração do elemento é maior nos caules do que nas folhas. Ambos autores concordam sobre a concentração de S nas raízes ser menor, podendo esse ser um motivo de não haver efeito dos níveis de S nessa parte da planta no presente estudo. Howeler e Cadavid (1983), ainda ressaltam que o comportamento do elemento não varia muito ao longo do ciclo de cultivo, sendo as maiores concentrações de S nas folhas mais velhas e mesmo no final de 12 meses, as raízes não apresentam incremento do teor do elemento. Em estudo com a cultura do trigo Hrivna, Kotkova e Buresova (2015), em estágios diferentes da cultura, relataram uma queda no teor de S, na planta inteira com aplicação do nutriente em dois anos seguidos de cultivo. Em folhas da cultura 55 da batata, Moinuddin e Umar (2004) observaram um aumento do teor do S à medida que se aumentou a dose do elemento. Tabela 10 - Desdobramento da interação cultivar x nível de S para os teores de S em MS na parte aérea e cepas. Cultivar Nível de S Baixo Médio Alto Parte aérea (g kg-1) BRS 399 1,4 bB 1,9 bcB 2,9 bcA BRS 396 1,3 bB 1,5 cB 2,4 cdA Palito 1,8 bB 3,2 aA 3,5 aA Precoce 1,7 bB 2,4 bA 2,1 dAB IAC 57670 2,6 aA 3,1 aA 3,1 abA Cepas (g kg-1) BRS 399 0,42 bB 0,68 cA 0,75 dA BRS 396 0,74 aA 0,75 cA 0,89 cdA Palito 0,75 aB 1,36 aA 1,10 bA Precoce 0,90 aC 1,25 aB 1,60 aA IAC 57670 0,77 aB 1,00 bAB 1,10 bcA Médias seguidas de letras minúsculas na coluna e maiúsculas na linha não diferem entre si pelo teste LSD a 5% de probabilidade. Para as cepas, o teor de S também aumentou conforme o nível de S aplicado, exceto na cultivar BRS 396 (Tabela 10). A cultivar Precoce foi a que concentrou o maior teor de S no nível mais alto aplicado, sendo que neste mesmo nível para a parte aérea, o valor foi menor. É provável, que a dose de 22 kg ha-1 de S faça com que as cultivares apresentem maior teor do elemento em diferentes partes da planta. A mandioca também pode apresentar uma partição de fotoassimilados, e possivelmente de nutrientes, não balanceada caso apresente mudanças na fertilidade do solo (EL- SHARKAWY, 2004). O acúmulo de S em todas as partes da planta foi influenciado pelos fatores principais, sendo vista interação dos fatores apenas para as cepas (Tabela 11). Na parte aérea, as cultivares BRS 399 e IAC 576-70 acumularam mais S do que as demais, enquanto que nas raízes a exportação mais significativa foi pela cultivar Palito. A cultivar Precoce foi a que menos retirou S pelas raízes, com 1,4 kg ha-1. O acúmulo na planta inteira, representa o quanto foi retirado do elemento do solo com a planta, podendo esse ser retornado para o local, através das camadas de folhas que permanecem, ou não. As cultivares IAC 576-70 e BRS 399 foram as que absorveram as maiores quantidades de S do local de cultivo, com valores de 22,5 kg 56 ha-1 e 21,3 kg ha-1, respectivamente. A adubação sulfatada promoveu um aumento no acúmulo de S em todas as partes da planta, à medida que aumentou o nível de S aplicado. Sendo máximo o acúmulo no nível alto de aplicação do S, aumento em mais de 60% na planta inteira. Tabela 11 - Acúmulo de S (kg ha-1) na parte aérea, cepas, raízes tuberosas e na planta inteira de cinco cultivares de mandioca submetidas à adubação sulfatada. Tratamentos Parte aérea Cepas Raízes tuberosas Planta inteira Cultivar BRS 399 19,0 a 0,5 c 1,9 b 21,3 a BRS 396 8,9 b 0,5 c 1,7 bc 11,2 c Palito 12,8 b 1,1 a 2,5 a 16,5 b Precoce 11,7 b 1,2 a 1,4 c 14,4 bc IAC 576-70 19,8 a 0,8 b 1,9 b 22,5 a Níveis de S Baixo 10,5 b 0,5 b 1,4 b 12,4 b Médio 15,1 a 1,0 a 2,0 a 18,1 a Alto 17,7 a 1,0 a 2,2 a 21,0 a ANOVA (P>F) Probabilidade de F Cultivar (C) <0,0001 <0,0001 <0,0001 <0,0001 Níveis de S (S) 0,0004 <0,0001 <0,0001 <0,0001 C x S ns 0,0001 ns ns Médias seguidas de letras iguais na coluna não diferem entre si pelo teste LSD a 5% de probabilidade. O S está entre os macronutrientes importantes para as plantas e, inclusive para a mandioca (CADAVID, 2012). O nutriente é absorvido pela planta durante todo o ciclo de cultivo, sendo acumulado de maneira crescente pelas folhas até os quatro meses, e então passando a acumular mais nos caules (HOWELER; CADAVID 1983). Cadavid (2012) relata que há diferenças entre as quantidades extraídas do nutriente por cultivar, sendo de 32 para 51 kg ha-1 pela planta toda em dois clones de mandioca. Janket et al (2021), testando um clone e duas cultivares de mandioca também observaram diferença entre a absorção do S pelas plantas. Os autores ainda estudaram duas épocas de plantio (entre abril e junho e outubro a novembro), apresentando a primeira época maiores acúmulos do nutriente. 57 Se considerar uma tonelada de produção de raízes a cultura irá exportar 0,36 kg t-1 de S (LEONEL; FERNANDES; FRANCO, 2015). Para esse mesmo valor de produção, a planta inteira irá retirar do solo 42 kg ha-1 do nutriente (CADAVID, 2012). Janket et al (2021) observaram que aos nove MAP as cultivares e o clone estudados apresentaram maior taxa de absorção de S, ficando entre 25,8% e 31,7% de S absorvido pelas raízes. Srek, Hejcman e Kunzová et al. (2010), na cultura da batata, verificaram exportação pelos tubérculos entre 3 a 7 kg ha-1. O comportamento do acúmulo de S nas cepas conforme aplicação de S (Tabela 12), é similar ao encontrado no teor de S (Tabela 10). A cultivar BRS 399 foi a que menos acumulou o nutriente nesta parte da planta seguida da BRS 396 (Tabela 11). A cultivar Palito, na dose de aplicação de 22 kg ha-1, apresentou o maior acúmulo de S, sendo esse o maior valor entre as cultivares. Tabela 12 - Desdobramento da interação cultivar x nível de S para o acúmulo de S na cepa. Cultivar Nível de S Baixo Médio Alto Cepas (kg ha-1) BRS 399 0,2 bB 0,5 cAB 0,7 bA BRS 396 0,4 abB 0,5 cAB 0,8 bA Palito 0,6 aC 1,8 aA 1,0 bB Precoce 0,6 aC 1,3 bB 1,6 aA IAC 57670 0,6 aA 0,8 cA 0,9 bA Médias seguidas de letras minúsculas na coluna e maiúsculas na linha não diferem entre si pelo teste LSD a 5% de probabilidade. A formação da cepa ocorre devido a maneira como a planta é propagada, através das maniva-sementes. Essa parte é responsável por nutrir a planta no início do ciclo e sua tendência é reduzir os teores de nutrientes e carboidratos, uma vez que esses são fornecidos para as novas raízes e caules formados (ALVES, 2002). De