UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS CÂMPUS DE JABOTICABAL CARACTERIZAÇÃO DE UNIDADES PRODUTORAS DE LEITE NA ÁREA DE ABRANGÊNCIA DO ESCRITÓRIO DE DESENVOLVIMENTO RURAL DE JABOTICABAL - SP André Dias Lopes Zootecnista JABOTICABAL – SÃO PAULO – BRASIL 2007 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS CÂMPUS DE JABOTICABAL CARACTERIZAÇÃO DE UNIDADES PRODUTORAS DE LEITE NA ÁREA DE ABRANGÊNCIA DO ESCRITÓRIO DE DESENVOLVIMENTO RURAL DE JABOTICABAL - SP André Dias Lopes Orientador: Prof. Dr. Mauro Dal Secco de Oliveira Co-orientadora: Profa. Dra. Maria Imaculada Fonseca Dissertação de mestrado apresentada à Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – Unesp, Campus de Jaboticabal, como parte das exigências para a obtenção do título de Mestre em Zootecnia. JABOTICABAL – SÂO PAULO – BRASIL Junho de 2007 iii DADOS CURRICULARES DO AUTOR ANDRÉ DIAS LOPES - nascido em Itápolis/SP, em 18 de março de 1979, filho de Octacílio Sebastião Lopes e Elena Aparecida Dias Lopes. Graduou-se em Zootecnia pela Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – UNESP, Jaboticabal, em Junho de 2002. Foi Trainee na empresa Scot Consultoria em Bebedouro/SP até agosto de 2002, quando ingressou como professor de práticas agrícolas e zootécnicas na Escola Agropecuária “Dr Ulisses Guimarães” no município de Itápolis/SP, onde lecionou até 2005. Em março de 2005 iniciou o curso de pós-graduação em Zootecnia pela FCAV de Jaboticabal, obtendo o título de mestre em maio de 2007. iv “O bom não é ser importante, mas sim, o importante é ser bom.” “Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com freqüência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar.” William Shakespeare v Dedico Aos meus pais, Octacílio Sebastião Lopes e Elena Aparecida Dias Lopes, minhas fortalezas, meu maior apoio, meu maior exemplo. vi AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar, a Deus, pois pude presenciar várias vezes sua ação em minha vida; À Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Campus de Jaboticabal-SP; À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), pelo auxílio financeiro; A CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, pela bolsa concedida; Ao meu orientador, o professor Dr. Mauro Dal Secco de Oliveria pela compreensão, incentivo, apoio e amizade. A minha co-orientadora e amiga, professora Dra. Maria Imaculada Fonseca, por me acalmar nos momentos difíceis e pela prontidão em ajudar. A pesquisadora Dra. Maria Lúcia Pereira Lima, por ter participado da banca de defesa, dando sugestões valiosíssimas no trabalho. Ao professor Dr. Samir Issa Samara, pelo carinho, respeito e valiosas sugestões, na defesa do projeto, na qualificação e na defesa da dissertação. Ao professor Dr. Ricardo Andrade Reis, sou grato, pelas suas colocações na defesa do projeto. Ao professor Dr. José Gilberto de Souza, pelas informações, dicas e sugestões levantadas na qualificação. Ao professor Dr. Antônio Sérgio Ferraudo, pelas contribuições na parte estatística de análise multivariadas. Ao professor de administração César Loddi, pelo carinho e auxílio. À minha família e a minha namorada Luciana pelo amor, compreensão e infindável dedicação em todos os momentos; Aos produtores de gado leiteiro que aceitaram participar deste trabalho, dando contribuições valiosíssimas para esta pesquisa. vii Ao funcionário público de Guariba, Dema, pelo carinho, respeito e ajuda incansável, na visita as propriedades. Aos membros da República Boi Banguelo, pela nova acolhida, respeito e carinho. Aos meus amigos pós-graduandos, em especial a turminha do gado leiteiro, Juliana, Diego e Felipe, os quais nunca vou esquecer. A todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram para a concretização deste trabalho, desde um sorriso amigo a uma palavra de incentivo. Muito Obrigado viii SUMÁRIO Página RESUMO......................................................................................................................xi SUMMARY...................................................................................................................xii CAPÍTULO 1 - CONSIDERAÇÕES GERAIS ...............................................................01 1.1 – A importância da captação de informações dentro do sistema agroindustrial do leite ............................................................................................................................01 1.1.1 - Oportunidades e desafios para a cadeia produtiva do leite ....................01 1.1.2 - O efeito canavieiro no Escritório de Desenvolvimento Rural (EDR) de Jaboticabal/SP...........................................................................................................04 1.1.3 - Situação da pecuária leiteira no Escritório de Desenvolvimento Rural (EDR) de Jaboticabal/SP..............................................................................................05 1.2 – Referencial teórico metodológico .....................................................................06 1.2.1 - O uso da análise multivariada e seu emprego na atividade agropecuária .....................................................................................................................................07 1.2.2 - Análise de componentes principais ........................................................08 1.2.3 - Análise de agrupamento (clusters).........................................................10 CAPÍTULO 2 – CARACTERIZAÇÃO PRODUTIVA DA PECUÁRIA LEITEIRA NA ÁREA DO ESCRITÓRIO DE DESENVOLVIMENTO RURAL DE JABOTICABAL/SP............13 2.1 – Introdução ........................................................................................................13 2.2 - Material e Métodos............................................................................................14 2.3 - Resultados e Discussão....................................................................................14 2.4 – Conclusões.......................................................................................................18 CAPÍTULO 3 – CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS DAS PROPRIEDADES DE BAIXA ESCALA LEITEIRA OBSERVADAS NA ÁREA DE ABRANGÊNCIA DO ESCRITÓRIO DE DESENVOLVIMENTO RURAL DE JABOTICABAL/SP .........................................19 ix 3.1 – Introdução ........................................................................................................19 3.2 - Material e Métodos............................................................................................22 3.3 - Resultados e Discussão ....................................................................................24 3.4 – Conclusões.......................................................................................................35 CAPÍTULO 4 – CARACTERÍSTICAS SÓCIO-PRODUTIVAS E DE COMERCIALIZAÇÃO EM PEQUENAS UNIDADES PRODUTORAS DE LEITE, LOCALIZADAS NA ÁREA DO ESCRITÓRIO DE DESENVOLVIMENTO RURAL DE JABOTICABAL/SP .......................................................................................................36 4.1 – Introdução ........................................................................................................36 4.1.1 - Necessidade de levantamento de variáveis sócio-produtivas e de comercialização............................................................................................................36 4.1.2.1 - A instrução normativa 51/2002 e suas implicações................................38 4.1.2.2 - O mercado informal................................................................................39 4.2 - Material e Métodos............................................................................................41 4.3 - Resultados e Discussão....................................................................................43 4.3.1 – Características sócio-produtivas...............................................................43 4.3.2 – Características de comercialização ..........................................................46 4.4 – Conclusões.......................................................................................................51 CAPÍTULO 5 – A NECESSIDADE DE IDENTIFICAÇÃO DE PROCESSOS “BENCHMARKS” ENTRE AS PEQUENAS UNIDADES PRODUTORAS DE LEITE ...52 5.1 – Introdução ........................................................................................................52 5.1.1 - A importância das informações na tomada de decisões ...........................54 5.1.2 – Metodologia de “benchmarking” ...............................................................56 5.1.2.1 – Planejamento do projeto “benchmarking”..............................................56 5.1.2.2 – Análise dos dados “benchmark” ............................................................56 5.1.2.3 – Integração dos resultados .....................................................................57 5.1.2.4 – Ação ......................................................................................................57 5.1.2.5 – Maturidade ............................................................................................57 x 5.2 - Material e Métodos............................................................................................58 5.3 - Resultados e Discussão....................................................................................60 5.4 – Conclusões.......................................................................................................68 CAPÍTULO 6 – IMPLICAÇÕES....................................................................................69 REFERÊNCIAS............................................................................................................72 APÊNDICE...................................................................................................................80 xi CARACTERIZAÇÃO DE UNIDADES PRODUTORAS DE LEITE NA ÁREA DE ABRANGÊNCIA DO ESCRITÓRIO DE DESENVOLVIMENTO RURAL DE JABOTICABAL – SP RESUMO – O trabalho foi desenvolvido com dados de um levantamento em pequenas unidades produtoras de leite na área do Escritório de Desenvolvimento Rural de Jaboticabal – SP, com o uso de um questionário semi-estruturado e de observações do pesquisador, com o objetivo de caracterizar o perfil destas propriedades analisando a relação entre as variáveis abordadas, de acordo com aspectos técnicos, sócio- produtivos e de comercialização, e com isto, possibilitar a identificação de procedimentos ou práticas “benchmarking”, ou seja, tidos como referenciais. Com o uso da análise de agrupamentos e de componentes principais, foi possível selecionar as principais variáveis envolvidas na diferenciação dos sistemas produtivos, e agrupar as unidades produtoras de acordo com suas similaridades, o que permitiu identificar as que apresentaram algum ponto destoante das demais. Pelos resultados observados, ficou evidente a possibilidade de identificação de práticas, processos e procedimentos mais eficientes, mesmo entre propriedade de baixa escala de produção. Não houve uma unidade produtora que se destacou na maioria dos quesitos avaliados, mas sim, em alguns aspectos específicos, de acordo com as suas particularidades. Palavras-Chave: agrupamento, comercialização, componentes principais, produtor de leite xii CHARACTERIZATION OF MILK PRODUCERS’ UNITS IN THE AREA OF ABRANGENCIA OF THE OFFICE OF AGRICULTURAL DEVELOPMENT OF JABOTICABAL - SP SUMMARY - The work was developed through a data-collecting, collected from small milk producers units located in the area next to the Office of Agricultural Development of Jaboticabal - SP, using of a semi-structuralized questionary and researcher’s observation, with the objective to characterize the profile of these properties analyzing the relation between the observable variable, in accordance with aspects technical, social-productive and of commercialization, and to make possible the identification of practical or procedures “benchmarking”, that is, had as reference. With the use of the analysis of groupings and main components, it was possible to select the main variable involved in the productive systems’ differentiation, and grouping the producing units in accordance with its similarities and to identify the ones that had presented some dissonant point of other. Analyzing the results, it was evident the possibility of identification of more efficient practical, processes and procedures, even low scale production dairy farm’s. It had not a producing unit that it has came off at the majority of the evaluated questions, but in some specific aspects, in accordance with its particularity. Keywords: grouping, commercialization, main components, milk producer CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS 1.1 – A importância da captação de informações dentro do sistema agroindustrial do leite As informações geradas a partir de dados confiáveis e relacionadas ao sistema produtivo leiteiro, em suas unidades de produção, aliadas as suas particularidades regionais e às exigências comuns de mercado, fornecem um valioso instrumento de ação direcional com base em referenciais lógicos. Estas informações devem ser utilizadas na tomada de decisões, de acordo com a similaridade dos grupos envolvidos e de acordo com as principais variáveis relacionadas à produtividade e lucratividade. As unidades produtoras de leite (UPL), sobretudo as pequenas, precisam de uma base comparativa que respeite as suas características (vantagens e dificuldades), assim como, arraigadas às peculiaridades da região e do momento em que está inserida. Portanto, torna-se de extrema importância a caracterização da região em estudo, assim como, buscar a identificação das principais variáveis relacionadas ao sistema produtivo adotado, facilitando a observação de grupos de acordo com suas similaridades, podendo assim, estabelecer possíveis tendências e identificar unidades produtoras de leite com processos mais eficientes, capazes de serem difundidos. 1.1.1 - Oportunidades e desafios para a cadeia produtiva do leite A crescente produção de leite nos últimos anos no Brasil, como pode ser constatado pelos dados disponíveis no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE(2006), está associada principalmente a ganhos de produtividade nas unidades produtoras, forçada pelo mercado mais exigente em qualidade e que imprime 2 margens de lucro por litro, muito pequenas, necessitando aumento da escala de produção e redução de custos para viabilizar o sistema que força uma readequação dinâmica no sistema produtivo. Segundo dados do ANUALPEC (2006), nas últimas duas décadas a produção de leite no Brasil cresceu vertiginosamente, atingindo a marca de 25 bilhões de litros em 2005. A produção atual atende o consumo e produz excedente para exportação, gerando superávit na balança comercial. A presença do leite brasileiro no mercado internacional gera novas perspectivas na cadeia do leite, enquanto o produtor continua a almejar a recuperação da renda. A Instrução Normativa n.º 51 (IN 51), tem sido um dos assuntos mais discutidos entre os produtores de leite nestes últimos tempos. Mobilizando técnicos, produtores e indústrias, a IN. 51 abrange a cadeia produtiva, desde a vaca até o laticínio, definindo parâmetros mínimos de qualidade. São parâmetros mundialmente aceitos, por isso a IN 51 é vista com bons olhos pela indústria exportadora de lácteos. O meio técnico também aprova o conteúdo da instrução normativa, da mesma forma que o produtor especializado, pois a maior parte das exigências já está implantada nas fazendas. No entanto, torna-se imprescindível, ações de auxílio aos que não conseguiram se adaptar as novas exigências, no sentido de evitar a exclusão destes produtores, que pode ocasionar sérios problemas sociais, como a migração para cidade, desemprego, e inchaço do sistema urbano. Em algumas regiões o leite ainda é pago com diferencial, somente por volume entregue, ou seja, quanto mais o produtor entregar, mais receberá por litro, já que há uma redução nos custos administrativos e de logística do comprador. Mas nas regiões que abrigam as maiores bacias leiteiras, o pagamento por volume vem recebendo um adicional relativo à qualidade, com bonificações a itens como teor de proteína, gordura e extrato seco total, além de prêmios por menor contagem bacteriana total (CBT) e menor contagem de células somáticas (CCS). Em contrapartida, aumenta a punição aos produtores de leite de má qualidade, sendo que o produto que não atinge os parâmetros mínimos impostos pelas indústrias 3 tem seu preço reduzido em razão de descontos, o que tende a acelerar os processos de marginalização e exclusão destes produtores. Portanto, vale a pena ressaltar a importância de políticas públicas voltadas à manutenção, aumento de eficiência e competitividade das unidades produtoras de leite espalhadas por todo o território nacional, no sentido de viabilizar a produção de acordo com as exigências do mercado (interno e externo), além de dar condições de adequação e profissionalização dos grandes aos pequenos produtores, buscando diminuir a marginalização e a informalidade neste setor. O atual cenário submete o produtor a margens de lucro cada vez menores, levando-o a ampliar a escala de produção e a modernizar-se para reduzir custos que logo se transformarão em redução de preços. Ou seja, para sobreviver, os produtores têm que crescer, além de reduzir o custo (ALVIM & MARTINS, 2004). Ainda segundo estes autores, além de melhorar a eficiência produtiva, medidas governamentais devem ser tomadas, no sentido de viabilizar o aumento da produção nacional, como vencer as barreiras tarifárias e não-tarifárias impostas por alguns países importadores, desestimular as importações de produtos que sofrem subsídios, incentivar o aumento de qualidade da matéria prima, melhorar os serviços de fiscalização, disponibilizar crédito de fácil acesso, desoneração da carga tributário dos produtos lácteos, fortalecer o associativismo e promover o consumo de lácteos. ALEIXO (2003) destacou que o setor leiteiro, desde sua gênese até o período atual, nunca esteve inserido em um programa político preocupado com seu efetivo desenvolvimento, principalmente quando se trata de implementação de políticas de cunho social, bem como a manutenção de pequenos e médios produtores. No que tange a pesquisas relacionadas à cadeia produtiva do leite, torna-se cada vez mais visível a necessidade de que os conhecimentos gerados e desenvolvidos, cheguem ao produtor, de forma clara e aplicável. A sociedade pode e deve exigir que os organismos que geram a tecnologia sejam mais responsáveis pelos produtos e processos que desenvolvem, por intermédio de uma rede de suporte que até o momento inexiste (NOVO & CAMARGO, 2004). 4 Portanto é evidente a responsabilidade dos governantes, órgãos de pesquisa e difusão de tecnologias e técnicos, na capacitação e profissionalização do produtor, de maneira dinâmica, assim como o desenvolvimento de políticas públicas voltadas ao setor, que não sejam apenas punitivas, mas sim subsidiárias de crescimento e rentabilidade as unidades produtoras de leite. A cadeia produtiva do leite está altamente relacionada à geração de empregos, renda e tributos, desde que adquire insumos e serviços no setor de produção primária, até o momento da industrialização e comercialização (MARTINS, 2005). Aliado a todos estes desafios e oportunidades, deve-se estabelecer regras claras para que o Brasil possa ter um instrumento legal eficiente na defesa sanitária animal e combata a atividade informal, como relatado por RUBENS (2005), de forma não apenas punitiva, mas oferecendo oportunidades aos produtores mais marginalizados. 1.1.2 - O efeito canavieiro na região do escritório de desenvolvimento rural (EDR) de Jaboticabal/SP. As correntes transformações que vem ocorrendo no perfil das propriedades agrícolas no estado de São Paulo, sobretudo nas regiões onde o valor das terras é elevado, como no EDR de Jaboticabal (formado pelos municípios de Borborema, Cândido Rodrigues, Dobrada, Fernando Prestes, Guariba, Ibitinga, Itápolis, Jaboticabal, Monte Alto, Santa Ernestina, Taiaçú, Taiúva, Taquaritinga e Vista Alegre do Alto) forçam um redirecionamento produtivo e tecnológico dos produtores, no sentido de manterem-se em atividades com maior rentabilidade. A indústria canavieira, bem mais capitalizada e organizada do que outros setores agropecuários (ALVES, 2003), engloba dia a dia uma fatia maior das terras, ditando as regras em que antigos produtores passam a ser simples locatários de suas terras. Neste contexto, fica difícil para os proprietários, muitas vezes descapitalizados e com dificuldades na adoção de tecnologias e gestão, competirem com o “dinheiro fácil” 5 que representa o arrendamento, o que leva cada vez mais a concretização da monocultura canavieira nestas regiões. Evidentemente a produção de álcool e açúcar é de grande importância na geração de divisas para o país e se consolida como matriz energética para o mercado doméstico e mundial, mas a ilusão de ser a cana-de-açúcar a melhor alternativa para o produtor rural, deve ser revista. A diversificação de produtos deve ser incentivada por políticas públicas, no sentido de viabilizar a manutenção de empregos no campo, a produção de alimentos de primeira necessidade e alternativos, o fortalecimento da economia e distribuição de renda dos municípios como um todo. Para isto, é necessário que as culturas e criações exploradas, assim como a cana-de-açúcar, também sejam geridas como uma empresa, direcionada a indústria e ao interesse do consumidor final. Neste sentido, os produtores devem ser estimulados na adoção de novas tecnologias, além da capacitação gerencial de suas propriedades e atividades, aumentando sua eficiência e rentabilidade com a atividade desenvolvida, ao invés de simplesmente seguir a tendência. 1.1.3 - Situação da pecuária leiteira na região do Escritório de Desenvolvimento Rural (EDR) de Jaboticabal/SP. A regional agrícola de Jaboticabal, certamente não é considerada um grande expoente em produção leiteira do estado. No entanto, devido à capacidade deste setor em gerar empregos diretos e indiretos, manutenção de famílias nas propriedades rurais e utilização de áreas de difícil mecanização, esta alternativa merece mais atenção dos órgãos públicos no sentido de viabilizar, capacitar e inserir as unidades produtoras de leite (UPL) no mercado formal. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geográfica e Estatística – IBGE (2005) a produção de leite no EDR de Jaboticabal (composta de 14 municípios sendo eles: 6 Borborema, Cândido Rodrigues, Dobrada, Fernando Prestes, Guariba, Ibitinga, Itápolis, Jaboticabal, Monte Alto, Santa Ernestina,Taiaçú, Taiúva, Taquaritinga,Vista Alegre do Alto) foi de 17.814 mil litros ano, com um rebanho de 14.420 vacas ordenhadas, o que representou uma produção média de 1.235 litros por vaca ordenhada no ano, que mesmo baixa, estava acima da média nacional (1.190,97 litros/vaca ordenhada/ano) e do estado de São Paulo (1.065,52 litros/vaca ordenhada/ano), neste período. A tradição familiar, o uso de áreas impróprias para mecanização, à manutenção do caseiro na propriedade, e até mesmo, como principal fonte de renda, são fatores que contribuem para a continuidade da atividade leiteira nas propriedades. 1.2 – Referencial teórico metodológico A caracterização da região em estudo, assim como a formação de grupos de unidades produtoras de leite, de acordo com suas similaridades e a obtenção das principais variáveis envolvidas dentre as observadas, como também a possível relação entre estas variáveis, podem ser obtidos com o uso da análise multivariada de dados, pelas técnicas de análise de agrupamento (cluster) e de componentes principais, utilizando o programa Statística versão 6.0 (STATSOFT, 2001). 1.2.1 - O uso da análise multivariada e seu emprego na atividade agropecuária De um modo geral a análise multivariada refere-se a todos os métodos estatísticos que simultaneamente analisam múltiplas medidas (variáveis) sobre cada indivíduo ou objeto sob investigação. As variáveis devem ser aleatórias e inter- relacionadas de maneira que seus diferentes efeitos não podem ser significativamente interpretados de forma separada. Os métodos multivariados tornam possível levantar questões específicas e precisas de considerável complexidade em um conjunto de dados transformando informação m-dimensional em tri ou bidimensional, pois a capacidade humana de identificação por reconhecimento visual só é possível até a 7 terceira dimensão. Na posse de uma enorme quantidade de informações a questão principal que surge é naturalmente como interpreta-las e, obedecendo à natureza multivaridada, como extrair informação relevante. As ferramentas constituídas pelas técnicas de análise multivariada de dados, sobretudo as análises, fatorial em componentes principais e por correspondências múltiplas, combinadas a análise de agrupamento (cluster), mostram, conforme afirma CARRER (2000), grande potencial para elucidação de problemas semelhantes aos investigados neste trabalho, tais como: caracterizar uma região de acordo com as similaridades produtivas da pecuária leiteira de seus municípios, bem como as diferenciações que afetam o desempenho das unidades produtoras de leite. Segundo GOMES & BARI (1996), trabalhando também com produtores de leite, a classificação dos mesmos, via separação por grupos através de análise multivariada, é uma ferramenta importante no estudo da tipificação de produtores de leite. SCHNEIDER & WAQUIL (2001) ao analisarem uma caracterização dos municípios gaúchos segundo os indicadores socioeconômicos, utilizando-se dados do censo agropecuário de 1995-1996 e da contagem populacional de 1996, conseguiram através das técnicas em questão, caracterizar cinco diferentes grupos homogêneos quanto as condições socioeconômicas dos proprietários rurais no estado. KAGEIAMA & SILVEIRA (1997) analisaram o processo de modernização da agricultura brasileira, baseado em variáveis que representavam aspectos tecnológicos, organizacionais e de produtividade. O momento de análise foi centrado em dados censitários de 1985, utilizando-se a análise de componentes principais. Neste processo quinze variáveis foram reduzidas a três fatores, representando diferentes níveis de desenvolvimento, que foram explicados de maneira mais sistêmica e simples, com perda de apenas 9,39% da variabilidade total. ALEIXO & SOUZA (2001), ao analisarem a cooperativa COONAI em Ribeirão Preto, num universo de pequenos agricultores, verificaram a formação de cinco grupos homogêneos de produtores, onde encontraram uma variabilidade muito grande de características entre os mesmos. 8 Neste sentido, observa-se por enquanto que as ferramentas obtidas pelas técnicas de análise multivariada de dados, neste caso a análise fatorial em componentes principais, combinada a análise de agrupamento (cluster), mostram-se com adequado potencial de uso para a elucidação dos problemas, relacionados a um grande número de variáveis. 1.2.2 – Análise de componentes principais Esta técnica consiste em identificar um número relativamente pequeno de fatores que podem ser usados para representar relações entre um conjunto de variáveis inter- relacionadas. Segundo GOMES & BARI (1996), a pressuposição básica da análise fatorial é de que existem certos fatores causais gerais que originam as correlações observadas entre as variáveis em estudo. Dado que muitas relações entre as variáveis são, na maior parte, devido aos mesmos fatores causais gerais, o número de fatores será quase sempre menor que o número de variáveis. A técnica busca reduzir o espaço de variáveis criando eixos ortogonais que são combinações lineares das variáveis originais denominados componentes principais. É medido o poder de cada variável no seu respectivo componente, o que permite diminuir a estrutura de variáveis originais numa nova estrutura menor que a inicial. As unidades amostrais (ou objetos) são distribuídos em gráficos bidimensionais ou tridimensionais onde os eixos ortogonais são os componentes principais. Segundo HOFFMANN (1992), a análise em componentes principais (ACP) é uma técnica estatística estreitamente associada com a análise fatorial, sendo que, em um conjunto de variáveis, os componentes principais são combinações lineares dessas variáveis construídas com o objetivo de explicar o máximo da variância das variáveis originais. Na análise de um problema é comum passar a utilizar apenas os primeiros componentes principais, aos quais corresponde, geralmente, grande parte da variância das variáveis. É claro que alguma informação é perdida quando substituímos os fatores 9 com um número relativamente grande de variáveis, com problemas de multicolineariedade, por um número relativamente pequeno de variáveis (componentes principais) não correlacionadas (HOFFMANN, 1992). Portanto, a análise de componentes principais (ACP) é executada com o objetivo de simplificar a descrição de um conjunto de variáveis interrelacionadas. Tanto na análise de agrupamentos como na análise de componentes principais as variáveis não são discriminadas como independentes ou dependentes como na análise de regressão. Todas são tratadas como variáveis. A técnica pode ser entendida como um método de transformação das variáveis originais em novas variáveis não correlacionadas. Cada componente principal é uma combinação linear das variáveis originais. Uma medida da quantidade de informação explicada por cada componente principal é a sua variância. Por esta razão os componentes principais são ordenados em ordem decrescente da sua variância, ou seja, o componente principal que contém mais informação é o primeiro, sendo o último àquele com menos informação. Admitindo-se que há L observações para n variáveis, no espaço L-dimensional das observações as n variáveis correspondem a n vetores. Um grupo de variáveis, fortemente, correlacionadas entre si corresponde a um feixe de vetores. Os feixes são detectados com a utilização da análise em componentes principais. Se houver um número substancial de variáveis formando um desses feixes, deverá ser obtido um fator altamente correlacionado com as variáveis que formam o feixe (HOFFMANN, 1992). A partir do conjunto inicial de variáveis utilizado em cada análise, pode ser obtido um conjunto de novas variáveis (fatores), proveniente das combinações lineares das variáveis originais. Essas combinações lineares constituem os novos vetores associados aos eixos fatoriais. Com dois eixos fatoriais obtém-se um plano, onde podem ser lidas as projeções dos pontos. Assim, com o uso dos fatores (eixos fatoriais), pode-se interpretar o problema em estudo, de uma forma mais simples, comparando-se com o número de variáveis originais (KAGEYAMA & SILVEIRA, 1997). Os componentes principais são não correlacionados o que é interessante, pois um pesquisador estando com um problema envolvendo variáveis originais de complexo 10 interrelacionamento, pode analisar um conjunto menor de variáveis não correlacionadas que são os componentes principais. Num conjunto grande de variáveis, nem todas tem quantidade de informação relevante, podendo através da ACP selecionar aquelas que mais possuem informações relevantes. A análise de componentes principais é considerada uma técnica estatística exploratória, utilizada na tentativa de compreender o interrelacionamento entre as variáveis originais. 1.2.3 - Análise de agrupamento (clusters) A análise de agrupamentos é uma técnica que permite classificar (indivíduos ou objetos) em subgrupos excludentes, em que se pretende de uma forma geral maximizar a homogeneidade de objetos ou indivíduos dentro de grupos e maximizar a heterogeneidade entre os grupos. A representação dos grupos é feita num gráfico com uma estrutura de árvore denominado dendrograma (SNEATH & SOKAL, 1973). Um conceito fundamental a ser observado na aplicação das técnicas de agrupamento é a escolha adequada de um critério de medida que defina a distância entre dois objetos ou indivíduos ou que identifique quanto eles são similares. Esta medida normalmente é chamada de coeficiente de parecença (CARRER, 2000). Do ponto de vista técnico, esse coeficiente poderá ser dividido em duas categorias: medidas de similaridade e medidas de dissimilaridade. Na primeira, quanto maiores às distâncias observadas, mais similares serão os indivíduos, ocorrendo o contrário com a segunda medida, ou seja, quanto maiores as medidas observadas, menos similares serão os indivíduos. O coeficiente de correlação é um exemplo da primeira, e distância euclidiana, da segunda (BUSSAB et al., 1990). Conhecendo-se a árvore de classificação é fácil deduzir participações em um número maior ou menor de classes. Assim, obtendo-se os grupos de indivíduos (empresas agrícolas), será possível verificar os parâmetros que evidenciam as 11 características homogêneas das empresas dentro de um grupo e também as principais diferenças entre grupos. Para tal análise, utilizam-se como dados básicos os valores das coordenadas dos indivíduos nos eixos fatoriais (JUDEZ, 1988). Com a utilização da técnica hierárquica, os indivíduos são classificados obtendo-se uma “árvore” de classificação (dendrograma), através de uma agregação de indivíduos e posteriormente de grupos de indivíduos. Após a obtenção dos resultados gráficos, a análise da “árvore” contendo as observações servirá de base para a definição do número de grupos a serem retidos. Ao se escolher um nível elevado de “corte”, obtém-se um número de grupos pequeno, ocorrendo o inverso se o nível de corte for mais baixo. Segundo BUSSAB et al (1990), o nível de corte do dendrograma deverá ser realizado analisando-o de forma a buscar alterações significativas dos níveis de similaridade entre as sucessivas fusões obtidas. Portanto, o exame da árvore induz ao privilégio de certas partições julgadas boas e à rejeição de outras. Uma regra sugerida, para se obter boas partições é “cortar os ramos mais longos” (VOLLE, 1993). Conhecendo-se a árvore de classificação é fácil deduzir participações em um número maior ou menor de classes (BOUROCHE & SAPORTA, 1981). De acordo com ALEIXO (2000), obtendo-se os grupos de indivíduos (propriedade rural), será possível verificar os parâmetros que evidenciam as características homogêneas dentro de um grupo e também as principais diferenças entre grupos. Sendo assim, os cortes para as análises são realizados com o objetivo de se obter um número de grupos relativamente homogêneos, diferenciando-se uns dos outros. O método de comparação de grupo permite planejar um sistema de produção melhor do que o existente, não chegando, porém, a permitir que se encontre a combinação ótima para o conjunto de fatores disponíveis. Este método é aplicável, por exemplo, a regiões relativamente limitadas e tem por finalidade generalizar as técnicas 12 de cultivo e administração já usadas nas propriedades que, nessa região, obtém os melhores resultados econômicos (HOFFMANN et al, 1981). Segundo ZIBORDI (1998), o método da análise de grupo apresenta uma série de vantagens, tais como: ● Trata-se de um método simples e pouco oneroso; ● É um método compreensível para o agricultor, o que constitui um fator muito importante de aceitação, pois agrega os produtores por similaridade de manejo e condição produtiva; ● Permite um bom conhecimento da região agrícola onde é praticado; ● Sugere novas orientações técnicas realistas e eficazes, já que os valores assumidos pelos “elementos chaves” (“normas chaves”) provêm de uma experiência concreta. Portanto, neste trabalho o objetivo central foi a caracterização da região em estudo e da relação entre variáveis no perfil de pequenas unidades produtoras de leite, selecionando variáveis com o auxílio da análise de componentes principais e agrupando as propriedades de acordo com suas similaridades, com a técnica da análise de agrupamentos, facilitando a observação da relação entre variáveis, assim como possibilitando identificar possíveis procedimentos ou práticas de destaque. 13 CAPÍTULO 2 – CARACTERIZAÇÃO PRODUTIVA DA PECUÁRIA LEITEIRA NA ÁREA DO ESCRITÓRIO DE DESENVOLVIMENTO RURAL DE JABOTICABAL/SP 2.1 - Introdução O escritório de desenvolvimento rural (EDR) de Jaboticabal/SP é formado por 14 municípios, sendo eles: Borborema, Cândido Rodrigues, Dobrada, Fernando Prestes, Guariba, Ibitinga, Itápolis, Jaboticabal, Monte Alto, Santa Ernestina, Taiaçú, Taiúva, Taquaritinga, Vista Alegre do Alto, totalizando uma área de 5.016 Km2. Esta região é caracterizada pela sua expressiva produção agrícola, principalmente ligada à citricultura e cana-de-açúcar, sendo que esta última vem a cada ano ganhando mais espaço, como pode ser observado pelos dados disponíveis no site da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral - CATI (2006). No entanto, muitos produtores desta região continuam ativos na pecuária leiteira, seja por motivos de tradição familiar, ocupação de mão de obra disponível na propriedade (caseiros), uso de áreas desfavoráveis para outras culturas, alternativa para diversificação na produção e complementação da renda, como pode ser constatado neste trabalho. Sendo assim, a pecuária leiteira apresenta importância, não apenas do ponto de vista econômico, mas principalmente social, ajudando na manutenção de empregos no campo e na produção de alimentos. Segundo FONSECA & CARVALHO (1997), trabalhando com produtores dos municípios de Jaboticabal, Taiúva e Monte Alto, constatou-se que as tecnologias não estão sendo adotadas de forma eficiente, levando a crer que não são condizentes com a estrutura socioeconômica desses produtores. Neste sentido, ações de desenvolvimento e profissionalização com o uso de tecnologias apropriadas e acessíveis aos produtores, devem ser feitas, com uma boa compreensão das características regionais. O objetivo do presente trabalho é fazer uma primeira abordagem de variáveis relacionadas à produtividade e concentração leiteira nos municípios pertencentes à 14 região, auxiliará no agrupamento destes, de acordo com suas similaridades, apresentando uma visão geral da distribuição e classificação o que servirá de base para futuros estudos. 2.2 - Material e Métodos: Os dados para análise foram coletados do sistema digital do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2005), produção da pecuária municipal e da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral – CATI (2006), pelas informações do Lupa (levantamento das unidades de produção agropecuárias), sendo então obtidas as seguintes variáveis: número de vacas ordenhadas e produção de leite em mil litros por ano, e a partir destes valores foi também obtido o de produção por vaca ordenhada ao ano (litros/vaca ordenhada/ano), área de pasto total (soma das áreas ocupadas com capim braquiária, napier, colonião, gramas, jaraguá, e outras gramíneas e leguminosas usadas em pastagens, não exclusivamente com bovinos), os de concentração de vacas ordenhadas por hectare de pasto total (vacas ordenhadas/hectare) e produção de leite por hectare de pasto total (litros de leite/hectare). Com estes dados foi realizada a análise de agrupamento (conforme o item 1.2.3 da pág. 10) dos municípios pertencentes à EDR de Jaboticabal, classificando estes em grupos mais homogêneos, representados num gráfico com estrutura de árvore denominado dendrograma (SNEATH & SOKAL, 1973). 2.3 - Resultados e Discussão Os dados utilizados neste trabalho podem ser observados na Tabela 1, onde estão representados os 14 municípios pertencentes ao escritório de desenvolvimento rural de Jaboticabal/SP e os valores das variáveis abordadas. . 15 Tabela 1 – Produção e concentração leiteira das propriedades localizadas na região do Escritório de Desenvolvimento Rural de Jaboticabal/SP MUNICÍPIO Vacas Ordenhadas Produção de Leite (1000 L) L/VO/ANO área pasto (ha) Vacas Ord/ha L/ha BORBOREMA 2.520 2.271 901 20.791,4 0,12 109 CÂNDIDO RODRIGUES 200 210 1.050 910,9 0,22 231 DOBRADA 70 80 1.143 321,2 0,22 249 FERNANDO PRESTES 300 400 1.333 2.623,4 0,11 152 GUARIBA 110 118 1.073 667,1 0,16 177 IBITINGA 4.480 3.900 871 27.229,3 0,16 143 ITÁPOLIS 1.550 1.398 902 27.498,8 0,06 51 JABOTICABAL 1.500 2.180 1.453 3.292,0 0,46 662 MONTE ALTO 1.500 2.450 1.633 5.954,7 0,25 411 SANTA ERNESTINA 90 90 1.000 271,8 0,33 331 TAIAÇU 810 2.661 3.285 1.306,8 0,62 2.036 TAIÚVA 590 646 1.095 619,4 0,95 1.043 TAQUARITINGA 600 1.300 2.167 4.572,0 0,13 284 VISTA ALEGRE DO ALTO 100 110 1.100 628,2 0,16 175 EDR - Jaboticabal 14.420 17.814 1.235 96.687,0 0,15 184 Fonte: IBGE, Produção da pecuária municipal 2005 e CATI, Levantamento das unidades de produção agropecuária (2006) (adaptado). Sendo: L/VO/ano = litros produzidos por vaca ordenhada no ano; Área de pasto = (soma das espécies braquiária, napier, colonião, gramas, jaraguá, outras gramíneas e outras leguminosas usadas em pastagem); Vacas Ord/ha = número de vacas ordenhadas por hectare de pasto; L/ha = litros produzidos por hectare de pasto no ano. 16 S A N T A E R N E S T IN A F E R N A N D O P R E S T E S V IS T A A L E G R E D O A L T O G U A R IB A D O B R A D A C Â N D ID O R O D R IG U E S T A IÚ V A T A IA Ç U T A Q U A R IT IN G A M O N T E A L T O JA B O T IC A B A L IB IT IN G A IT Á P O L IS B O R B O R E M A 0 2 4 6 8 10 12 Li nk ag e D is ta nc e Devido à dificuldade de visualizar as similaridades dos municípios em relação ao total das variáveis, de forma a facilitar a classificação em grupos, foi realizado a análise de agrupamentos. Por esta análise, foi possível visualizar a formação de quatro grupos (considerando o corte no ponto cinco), através do dendrograma, construído pelo método de Ward (WARD, 1963), demonstrado na Figura 1. Figura 1: Agrupamento dos municípios localizados no escritório de desenvolvimento rural de Jaboticabal/SP de acordo com as variáveis abordadas na Tabela 1. Apontados os grupos, a construção de uma tabela com as suas respectivas médias, facilita a visualização de suas características frente as variáveis abordadas, sendo observados na Tabela 2. G1 G2 G3 G4 17 Tabela 2 – Grupos formados e seus respectivos valores nas variáveis observadas Grupos Vacas Ordenhadas Produção de Leite (1000 L) L/VO/ANO área pasto (ha) Vacas Ord/ha L/ha G1 870 1.008 1.158,62 5.422,6 0,16 185,89 G2 1.400 3.307 2.362,14 1.926,2 0,73 1.716,85 G3 3.600 5.930 1.647,22 13.818,7 0,26 429,13 G4 8.550 7.569 885,26 75.519,5 0,11 100,22 Sendo: L/VO/ano = litros produzidos no ano por vaca ordenhada; Área de pasto = (soma das espécies braquiária, napier, colonião, gramas, jaraguá, outras gramíneas e outras leguminosas usadas em pastagem); Vacas Ord/ha = vacas ordenhadas por hectare de pasto, L/ha = litros produzidos no ano por hectare de pasto. O grupo 1 formado por seis municípios: Santa Ernestina, Fernando Prestes, Vista Alegre do Alto, Guariba, Dobrada e Cândido Rodrigues, foi o que apresentou menor relevância nas características leiteiras, ou seja, municípios onde a atividade leiteira demonstrou tendência a pequeno impacto econômico e social, pelo pequeno número de vacas ordenhadas (870 divididas entre os seis municípios) e baixa produção de leite (1.008 mil litros/ 6 municípios), o que resultou em uma pequena produção de leite em relação à área total de pasto (185,89 litros/ha), o que indica que mesmo nas áreas de pasto, as criações desenvolvidas, provavelmente não estão relacionadas a atividade leiteira. O grupo 2 foi formado por dois municípios, sendo eles: Taiúva e Taiaçú, que apresentaram maior concentração de vacas ordenhadas e de produção de leite por hectare de pasto total (0,76 e 1.716,85 respectivamente), além da maior produção por vaca ordenhada no ano (2.632,14 litros) em relação aos demais grupos. Este fato indicou que a pecuária leiteira apresentou maior importância econômica e social nestes municípios, além de possivelmente possuir sistemas de produção mais intensivos. O grupo 3 formado pelos municípios de Taquaritinga, Monte Alto e Jaboticabal, apresenta características intermediárias entre os grupos 2 e 4. O grupo 4 foi formado por três municípios: Ibitinga, Itápolis e Borborema, ambos com grandes áreas de pastagens (75.519,5 ha), porém, com o menor valor de produção de leite por vaca ordenhada no ano (885,26 litros), de vacas ordenhas por hectare de 18 pasto total (0,11 VO/ha) e de produção de leite por hectare de pasto total (100,22 litros/ha). Estes dados, indicam a baixa eficiência produtiva dos rebanhos leiteiros, além de outras atividades de criação nas áreas de pasto, que não a leiteira. A análise de agrupamentos, representada pelo dendrograma (Figura 1), foi fundamental na determinação destes grupos e na facilidade para visualizá-los, sendo então mais fácil discutir a tabela 1, referente aos dados e variáveis utilizadas. 2.4 - Conclusões Pela caracterização da pecuária leiteira na área de abrangência do Escritório de Desenvolvimento Rural de Jaboticabal, foi possível observar a formação de quatro grupos de municípios. O grupo 1(Santa Ernestina, Fernando Prestes, Vista Alegre do Alto, Guariba, Dobrada e Cândido Rodrigues) foi formado por municípios de baixa aptidão leiteira. O grupo 2 (Taiúva e Taiaçú) se destacou, com valores que podem indicar sistemas mais intensivos de produção, assim como utilização de tecnologias mais eficientes. O grupo 3 (Taquaritinga, Monte Alto e Jaboticabal) apresentou características intermediárias entre o 2 e o 4. O grupo 4 (Ibitinga, Itápolis e Borborema) apresentou as maiores áreas de pastagem e rebanhos leiteiros, porém pouco eficientes ou subutilizadas para a produção de leite. Os municípios pertencentes ao grupo 2 demonstraram oferecer vantagens para os laticínios, pela facilidade de captação de leite em função da maior concentração de vacas ordenhadas e de produção por hectare. 19 CAPÍTULO 3 – CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS DAS PROPRIEDADES DE BAIXA ESCALA LEITEIRA OBSERVADAS NA ÁREA DE ABRANGÊNCIA DO ESCRITÓRIO DE DESENVOLVIMENTO RURAL (EDR) DE JABOTICABAL-SP. 3.1 - Introdução: A análise do sistema produtivo das unidades produtoras de leite (UPL) é de vital importância para comparar e relacionar as diversas propriedades, assim como, suas interações com outros fatores envolvidos na atividade. São inúmeras as variáveis que podem influenciar no sistema produtivo, ocasionando conseqüências positivas ou negativas. Sendo assim, a diminuição do número de variáveis a serem analisadas, sem diminuir muito o grau de esclarecimento das ocorrências, torna-se de fundamental importância na facilitação de tomada de decisões, assim como no entendimento de suas correlações. Alguns parâmetros quantitativos e qualitativos, referentes à propriedade, a produção e a utilização da mão de obra, podem gerar informações importantes no direcionamento de ações. Portanto, a obtenção de dados com relativa facilidade e rapidez, pode auxiliar técnicos e produtores no planejamento e estabelecimento de prioridades, focando nas principais restrições do sistema. Esta agilidade é fator de grande interesse, sobretudo quando se trabalha com pequenas unidades produtoras de leite, onde geralmente os dados são escassos e a resistência a mudanças é fortemente influenciada pelo tradicionalismo e receio. Alguns dados relacionados às características da propriedade e do modo de agir dos proprietários e funcionários, assim como dados de produtividade, auxiliam na identificação de grupos, servindo como uma análise exploratória, o que indica possíveis maneiras de atuação, mais eficazes e disponíveis para os grupos em questão. 20 Vários aspectos técnicos devem ser considerados na caracterização do sistema produtivo, dentre estes, apresentam grande importância e relativa facilidade de visualização os referentes à produtividade, alimentação, sazonalidade, escala de produção, sanidade e qualidade, padrão genético e assistência técnica. Além destes, o gerenciamento e o controle financeiro (custos), são de primordial importância. No entanto, muitas vezes, estes dados existem precariamente e raramente são disponibilizados pelos produtores. No caso da produtividade, por exemplo, este fator demonstra o efeito de vários outros correlacionados e seus baixos índices demonstram problemas de ineficiência que precisam ser solucionados. Segundo NOVAES (1997), o baixo potencial genético dos animais, aliado à carência da dieta alimentar e ao inadequado controle sanitário do rebanho, tem resultado em uma produção bastante pulverizada no país. FONSECA (1992) considera que o baixo nível de produtividade deve-se, principalmente, à pequena utilização das tecnologias disponíveis e que, para maior desenvolvimento da pecuária leiteira, é necessário investir em transferência, adaptação e geração contínua de tecnologia, com o objetivo de oferecer alternativas para aumentar a eficiência da atividade. Segundo ALEIXO (2003), as condições que envolvem os produtores caracterizam agricultores que subutilizam a estrutura existente. Tem a informação sobre a tecnologia, mas não tem acesso à efetiva formação técnica, para posterior adoção, caso haja real necessidade. Um dos fatores de extrema importância a ser considerado é a alimentação, ponto primordial na criação, devido ao seu grande impacto na produção e no custo. De acordo com SAMPAIO (2004), a redução dos custos com alimentação, sem acarretar sub ou supernutrição dos animais, está na base do sucesso econômico da exploração leiteira. Isto porque, a alimentação do rebanho representa aproximadamente 50% dos custos de produção (ALVIM et al., 2001). Portanto, este é um dos fatores primordiais que deve ser altamente controlado, tanto em relação a custos, como em atender corretamente as exigências de cada animal de acordo com a sua categoria e produção. 21 Outra variável problemática no sistema produtivo se refere à sazonalidade de produção, que trás incômodos tanto aos produtores como às indústrias de beneficiamento. As variações climáticas (secas/chuvas) ao longo do ano vão influenciar a disponibilidade de alimentação para o rebanho, principalmente em propriedades que não possuem um adequado planejamento, refletindo em oscilações na produção. A sazonalidade, que caracteriza a produção de leite no estado e no país, acaba prejudicando tanto o produtor rural quanto a indústria (MENEGAZ, 2005). A escala de produção também influencia na manutenção ou encerramento da atividade leiteira de muitas propriedades, sendo um dos maiores problemas das pequenas UPL. De acordo com MENEGAZ (2005) a baixa escala de produção das unidades produtoras impede a redução dos custos de produção, ocasionando a obtenção de baixas margens de lucro e, como conseqüência, limitando a capacidade de investimento no setor. Além deste fator, a baixa escala inviabiliza em muitos casos algumas linhas do leite, pela grande distância para captação em relação ao baixo volume, sendo então, estes produtores desprezados por muitas indústrias e laticínios. No tocante a sanidade e qualidade, a falta de condições higiênicas durante o processo produtivo pode ocasionar prejuízos tanto à sanidade do rebanho como à qualidade do leite (KRUG, 2001). Para CASTRO & PADULA (1998), os problemas relacionados com a qualidade do leite têm origem na unidade produtora, seja devido à precariedade das instalações e dos equipamentos utilizados na ordenha e no armazenamento da matéria-prima, seja aos descuidos com a higiene. Adequando-se a todos os demais fatores, o padrão genético dos animais é ponto crucial na eficiência do sistema produtivo leiteiro. Considerando a diversidade de ecossistemas que existe no Brasil, é necessário o desenvolvimento de programas de melhoramento genético, os quais devem priorizar a oferta de genótipos que apresentem melhor adaptabilidade às diferentes condições agroclimáticas do país (ALVIM et al., 2001). O produtor deve definir seu objetivo na 22 produção de leite, sem ficar arraigado a sistemas tradicionalistas de criação de bezerros e com animais de aptidão desfavorável a produção preconizada. Como o sistema produtivo é dinâmico e competitivo, a manutenção do negócio leite, necessita de constante aprimoramento, sendo que, a assistência técnica de qualidade é essencial para o sucesso do empreendimento. ALEIXO (2003) relatou que o conhecimento e o auxílio técnico é o maior problema dentro da pecuária leiteira no Brasil, nesse sentido, o capital, do ponto de vista de investimento, não se faz preponderante no sentido inicial de melhoria dentro do processo produtivo. Para dar suporte técnico ao sistema produtivo é essencial a atuação de profissionais preparados e capacitados, que tenham facilidade na transferência de novas técnicas. De acordo com FARIA (2001) é fundamental que o trabalho realizado pela assistência técnica passe a contemplar múltiplas funções como, por exemplo, aquelas referentes ao planejamento, à organização, a execução e ao controle das atividades desempenhadas pelo setor produtivo, necessitando uma maior atenção a formação da mão de obra envolvida. O objetivo foi conhecer as variáveis relacionadas a estes fatores, buscando compreender o perfil das unidades produtoras de leite, o que possibilita a adoção das tecnologias necessárias de acordo com o tipo de sistema adotado pelo proprietário. 3.2 - Material e Métodos No presente estudo, foram coletados dados de 16 pequenas unidades produtoras de leite (UPL) identificadas de P1 a P16 , sendo 6 no município de Itápolis, 7 de Ibitinga, 1 de Taquaritinga e 2 de Guariba, sendo que todos estão localizados na área do Escritório de Desenvolvimento Rural de Jaboticabal/SP. Neste trabalho não foi possível estabelecer a proporcionalidade de UPL observadas em relação ao total da região com as mesmas características, em virtude da inexistência de tal referencial nos 23 órgãos competentes, como as casas da agricultura e sindicatos. Além deste fator, como se tratam de pequenas UPL que na maioria das vezes atuam sem vínculo com cooperativas ou empresas, o cadastro e acesso a estas propriedades torna-se muito difícil, o que resultou no baixo número de UPL observadas. Esta região caracteriza-se pelo predomínio canavieiro e de citricultura, onde a produção leiteira, geralmente, não é a atividade principal, mas tem importância na complementação da renda familiar e na manutenção de empregos fixos na zona rural, como pode ser observado pelos dados de explorações vegetais e animais disponibilizados pela Coordenadoria de Assistência Técnica Integral - CATI (2006). As UPL foram selecionadas de acordo com a facilidade de contato com os produtores e a aceitação dos mesmos, além de que, todas apresentaram uma produção de leite/dia inferior a 300 litros, estando esta atividade, entre as três principais fontes de renda da propriedade. Este trabalho não teve a pretensão de retratar o que acontece com o comportamento das propriedades leiteiras da região em estudo, mas sim, das variáveis dentro do grupo envolvido. Os dados referentes às UPL foram obtidos por meio de observação e questionários semi-estruturados aplicados na propriedade, entre ultimo semestre de 2005 e no ano de 2006, sempre com o mesmo pesquisador, buscando reduzir problemas de interpretação nos itens questionados. As variáveis envolvidas neste estudo foram: V1 - Área total V2 - Área utilizada para pecuária leiteira V3 - Porcentagem da área total da propriedade utilizada na pecuária leiteira V4 - Colocação da atividade leiteira em relação a sua importância na propriedade. V5 - Distância (Km) da propriedade até a cidade V6 - Sazonalidade de produção (diferença % entre os meses de chuvas e de seca). V7 - Escala de produção (litros por dia, mais comumente produzido ao longo do ano) V8 - Produtividade (litros por hectare ao ano) V9 - Produção (total de litros produzidos ao ano / número total de vacas do rebanho) 24 V10 - Porcentagem de vacas em lactação V11 - Vacas em lactação por hectare V12 - Horas de mão de obra trabalhada por dia na atividade leiteira V13 - Número de pessoas envolvidas na atividade leiteira V14 - Eficiência humana (litros de leite produzidos ao dia / número de horas trabalhadas na atividade leiteira). V15 - Tipo de mão de obra (Familiar ou Contratada) V16 - Realização de adubação de pastagem V17 - Critério para adubar a pastagem V18 - Critério para fornecer ração V19 - Vacinações realizadas (aftosa e brucelose) V20 - Cuidados na aquisição de animais V21 - Raça leiteira predominante V22 - Tipo de assistência técnica mais utilizada Após a coleta destes dados, devido ao grande número de variáveis, foi realizada a análise de componentes principais, para reduzir o número de variáveis, a um conjunto menor de fatores independentes, de tal forma, que esses fatores pudessem explicar, de forma simples e reduzida as variáveis originais, sendo então, novamente aplicado a análise de componentes principais e de agrupamentos (conforme itens 1.2.2 e 1.2.3 das páginas 08 e 10, respectivamente) considerando apenas as variáveis de maior importância na classificação de grupos. 3.3 - Resultados e Discussão Dentre as 16 pequenas UPL estudadas na regional agrícola de Jaboticabal (6 em Itápolis, 7 em Ibitinga, 1 em Taquaritinga, 2 em Guariba), pode-se observar uma grande variação no tamanho total das propriedades, sendo a menor e a maior de 7,26 e 685,66 25 hectares respectivamente, indicando que baixas produções não são exclusivas de pequenas propriedades. Evidenciou-se que quanto maior a área total da propriedade, menor a porcentagem da área utilizada na pecuária leiteira, assim como, menor a importância desta, na renda total da propriedade. Todas as pequenas UPL apresentaram alta variação sazonal, com queda na produção nos meses de seca (média = -36,58%; ± -10 % a -75%). As pequenas unidades produtoras de leite apresentaram escala média de produção de 104,69 litros/dia (± 35 a 220). Estes valores que indicam uma grande variação na produção ao longo do ano, e a baixa produção por dia, caracterizam as propriedades de baixa escala leiteira, o que resulta em um dos maiores problemas enfrentados para se manterem no mercado. No entanto, BRESSAN (1998), destaca que se as unidades de pequena produção se unirem, estruturando cooperativas de crédito ou organizarem-se em torno de cooperativas de produção com nichos próprios de mercado, conseguirão obter uma economia de escala, principalmente em função da redução de custos na fazenda, do que relacionada com o volume de leite produzido, conseguindo mais leite por hectare de terra utilizada e mais leite por homem ocupado na produção. A produtividade leiteira em média foi de 2.746,87 litros/ha/ano (± 780 a 7.280) e a produção anual em litros de leite em relação ao total de vacas do rebanho foi de 1.154,02 (± 606 a 1.820), valores que indicam a baixíssima produtividade do rebanho, que pode ser visualizado se considerarmos uma situação hipotética, porém perfeitamente viável, com uma vaca de produção média de 10 litros diários e lactação de 10 meses, o que resultaria a produção de 3.000 litros de leite por lactação, ainda, se considerarmos a presença de 2 a 3 vacas em lactação por hectare, como foi apontado como ideal para as condições do estado de São Paulo por Gomes (1997), obteremos a produtividade de 6.000 a 9.000 litros de leite por hectare ao ano. Segundo BENEDETI (2002), a característica mais marcante da maioria dos produtores e ou extratores de leite do Brasil é a baixa produtividade dos fatores de produção, como a baixa produtividade da terra (inferior a 700 Kg de leite/ha/ano), da 26 mão de obra (inferior a 100 Kg de leite/dia/homem) de do capital (inferior a 1.000 Kg de leite/vaca/lactação). No tocante a porcentagem de vacas em lactação, em média apenas 58,4% (± 26,5 a 100) das vacas estava em produção, sendo que a propriedade P8, com 100% das vacas em lactação apresentou estes valores em virtude de ter adquirido a poucos meses todos os animais em lactação. Este dado é alarmante, se considerarmos que o ideal é em torno de 83%, o que significa intervalo entre partos de 12 meses e duração das lactações de 10 meses, como destaca CAMPOS & LIZIEIRE (1993). A baixa porcentagem de vacas em lactação pode estar relacionada a diversos fatores, entre eles pode-se destacar a baixa persistência de lactação de raças menos especializadas para a produção de leite (predomínio de raças zebuínas), problemas reprodutivos ocasionados por deficiências sanitárias, de manejo e de alimentação, além do descarte ineficiente de vacas de baixo potencial genético ou improdutivas. As porcentagens de vacas no rebanho e de vacas em lactação e a capacidade de suporte estabelecem um índice importante na definição da capacidade produtiva do sistema, isto é, a quantidade de vacas em lactação por hectare (FARIA & SILVA, 1996). Neste trabalho, no tocante a vacas em lactação por hectare, as propriedades apresentaram média de 1,39 (± 0,26 a 3,5), sendo que o baixo valor foi mais influenciado pela baixa porcentagem de vacas em lactação do que pela concentração de animais. No que se refere à eficiência da utilização de mão de obra, tempo dedicado à atividade e número de pessoas envolvidas, pode-se constatar que em média: - o número de pessoas envolvidas foi de 2,33 (± 1 a 5). - a soma das horas de trabalho na atividade leiteira de todos os envolvidos foi de 9,34 (± 3 a 17,5). - a eficiência relacionada a litros produzidos por hora trabalhada foi de 12,55 (± 5 a 37,50). Estes valores indicam que mesmo nas pequenas UPL, a atividade mantém um alto número de pessoas envolvidas (geralmente maior que dois), que geralmente trabalham apenas pequena parte do tempo na atividade leiteira (média de 4,7 horas), 27 dando atenção especial a outras atividades (principalmente ligados à citricultura ou cana-de-açúcar). No entanto, ocorre uma grande variação na eficiência de utilização desta mão de obra na produção de leite, como pode ser constatado se for considerado o valor bruto pela venda do leite, a R$0,40 o litro (preço médio pago pelos pequenos laticínios da região), o arrecadado em uma propriedade com eficiência de 5 litros por hora de trabalho será de R$2,00, enquanto na propriedade com eficiência de 37,50 litros por hora de trabalho resultará em R$15,00. A mão de obra utilizada é familiar (56%) e/ou contratada permanente (44%), não sendo observado casos de contratos temporários, mesmo em épocas de maior necessidade. Quanto à adubação de pastagem, das 16 UPL, 12 proprietários afirmaram que adubam a pastagem, no entanto, apenas 3 fazem adubação com base na análise do solo, sendo que a maioria usa sobras de outras culturas, ou segue apenas recomendações de amigos ou vizinhos. A alimentação é basicamente o pasto, sendo que 3 propriedades não fornecem qualquer tipo de ração no cocho, e das que fornecem apenas 5 utilizam o critério de produção de leite para estabelecer a quantidade de ração a ser fornecida. A vacinação foi outro ponto de grande preocupação, já que apenas 9 das UPL (56%) realizam todas as vacinações preconizadas para a região (febre aftosa e brucelose), sendo que, das que não utilizam, alguns produtores demonstraram completo desinteresse pelo assunto, afirmando que o seu gado apresentava ótima saúde. Para aquisição de novos animais no rebanho, apenas 4 UPL (25%) afirmaram exigir o exame comprovando a sanidade do animal, as demais, priorizam comprar de vendedor conhecido e pelo preço. Quanto ao padrão genético o predomínio é o gado girolando, sendo que apenas 3 propriedades apresentaram o gado holandês como principal raça do rebanho e 1 o cruzado pardo suíço e holandês. 28 Das 16 propriedades, 6 nunca receberam qualquer tipo de assistência técnica, 5 já receberam ou recebem assistência técnica pública, 3 de médicos veterinários e 2 de técnicos ligados a empresas comerciais, sendo que nenhuma delas recebe assistência com uma freqüência pré-estabelecida. Utilizando a técnica de análise fatorial de componentes principais foi possível reduzir o número inicial de variáveis relacionadas ao sistema produtivo (22 variáveis) a um número bem menor (9 variáveis), sendo considerado apenas as que tiveram coeficientes de correlação acima de ± 0,6, como pode ser visto na Tabela 1. Tabela 1. Coeficientes de correlação das variáveis com os dois primeiros componentes, considerando a amostra total. Variáveis Componente Principal 1 Componente Principal 2 Área Total -0,875273 -0,068988 Área utilizada pecuária leiteira -0,749071 -0,297489 % da área total com pecuária leiteira 0,476202 -0,357306 Colocação da pecuária leiteira -0,763084 0,023718 Distância da propriedade a cidade -0,137860 0,778054 Variação sazonal 0,237290 0,252337 Escala -0,521827 0,222636 Produtividade (litros/hectare/ano) 0,475374 0,783432 Produção (litros/vaca total/ano) 0,481317 0,345223 % vacas em lactação 0,773030 0,117449 Vacas lactação por hectare 0,524835 0,686525 Horas de mão de obra trabalhada na atividade no dia -0,182562 0,265481 Número pessoas envolvidas -0,430876 0,268011 Litros por hora trabalhada -0,629020 -0,027849 Tipo de mão de obra 0,509376 -0,226950 Adubação do pasto 0,454804 -0,586890 Critério para adubar 0,198749 -0,436374 Critério para fornecimento de ração -0,362114 -0,011807 Vacinação 0,661492 -0,082682 Cuidados para comprar animais. -0,461665 0,364971 Raças -0,586352 0,002817 Tipo assistência técnica 0,211958 -0,400345 Variância Explicada (%) 27,75 14,49 Variância Acumulada (%) 27,75 42,24 29 As variáveis selecionadas permitem uma maior facilidade na distinção entre propriedades de acordo com suas características, como demonstrado na tabela 2. Tabela 2. Características das UPL observadas de acordo com as 9 variáveis selecionadas com o uso da análise de componentes principais. UPL Área total (ha) Área útil na pec. leite Coloc. da pec. leite Distância (Km) da prop. até a cidade Realização da vacinação obrigatória Produtividade (L/ha/ano) % de vacas em lactação Vacas em lactação por hectare Eficiência humana (litros por hora trab.) P1 484 41,0 3 9 Sim 884,72 50,0 0,49 5,71 P2 63 7,0 2 20 Não 4.512,40 64,0 1,86 10,00 P3 7 6,0 1 1 Não 2.406,61 58,0 1,65 5,00 P4 15 4,5 2 8 Sim 5.662,22 40,0 1,77 5,83 P5 41 12,0 2 13 Sim 1.052,89 60,0 0,50 11,60 P6 13 7,0 2 3 Não 2.506,89 55,5 1,37 6,25 P7 29 28,0 1 3 Não 1.880,16 55,3 0,73 11,11 P8 5 4,5 1 3 Não 3.235,55 100,0 1,77 13,33 P9 48 19,0 3 12 Sim 1.880,16 66,6 2,07 16,66 P10 170 9,6 2 15 Sim 2.632,23 50,0 2,06 7,78 P11 53 36,0 1 2 Não 1.604,41 66,6 0,83 10,00 P12 14 6,0 1 23 Não 7.280,00 75,0 3,50 15,00 P13 686 70,5 3 10 Sim 780,00 26,5 0,26 37,50 P14 105 95,5 2 7 Sim 827,27 40,0 0,29 18,33 P15 14 13,5 1 13 Sim 2.506,88 64,3 1,25 10,00 P16 36 17,0 2 13 Sim 4.297,52 60,0 1,79 16,66 Sendo: UPL = unidade produtora de leite; ha = hectares; pec. = pecuária; prop. = propriedade; L = litros; trab. = trabalhada. Na Figura 1 está representado a disposição destas 9 variáveis no gráfico gerado pela análise dos componentes principais. 30 Projeção das variáveis no fator plano (1x 2) A. tot. A. util. leite coloc. da pec. leite dist. da prop. produtiv. % V. lact. V. lact. ha L. hora trab. não vac. -1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 Fator 1 : 47,61% -1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 F at or 2 : 20 ,9 1% Figura 1: Coordenadas das variáveis associadas ao fator 1 e 2. Sendo: A. tot. = área total da propriedade, A.util. leite = área utilizada para pecuária leiteira, L. hora trab. = litros de leite produzidos em relação a cada hora da somatória das horas trabalhadas de todos os envolvidos na atividade, coloc. da pec. Leite = colocação da pecuária de leite em ordem de importância entre as demais atividades desenvolvidas na propriedade, dist. da prop. = distância da propriedade até a cidade (Km), V. lact. ha = vacas em lactação por hectare, produtiv. = produtividade, % V. lact. = porcentagem de vacas em lactação, não vac. = não realiza as vacinações obrigatórias. Pela projeção das variáveis observada na Figura 1, é possível sugerir algumas relações que podem indicar os principais fatores de distinção entre os sistemas produtivos envolvidos. A variável da produtividade está fortemente relacionada à concentração de vacas em lactação por hectare, como já era esperado, no entanto, como foi destacado, a baixa porcentagem de vacas em lactação nas propriedades observadas é um ponto crucial que deve ser melhorado pelos produtores e técnicos envolvidos, através de seleção e descarte de animais com maior rigor. 31 Outro fato de fácil visualização refere-se a tamanho da propriedade, colocação da pecuária leiteira, eficiência de utilização da mão de obra (litros por hora trabalhada), vacinação e porcentagem de vacas em lactação, sugerindo que nas maiores propriedades (dentre as de baixa produção), geralmente a pecuária leiteira apresentou uma menor importância, ficando entre a 2° e 3° colocada entre as outras atividades desenvolvidas, mas a hora trabalhada pela mão de obra foi usada com mais eficiência, assim como os cuidados com vacinação foram mais rigorosos, no entanto a relação entre vacas em lactação e total de vacas no rebanho tendeu a ser menor do que em propriedades menores. Estas observações evidenciaram que as maiores propriedades preferencialmente trabalham com outras atividades, mais lucrativas no momento, como a cana-de-açúcar e a citricultura, mantendo a atividade leiteira apenas em áreas impróprias a agricultura ou por tradição familiar, com pouca motivação em melhorar o sistema produtivo, o que se reflete na baixa porcentagem de vacas em lactação, no entanto, devido a melhores condições financeiras destes produtores e geralmente mais informações das necessidades sanitárias, previnem mais eficientemente o seu rebanho com vacinas, assim como, devido a uma maior cobrança sobre os funcionários que tem outras funções além de cuidar do gado leiteiro, alcançam maior eficiência em litros produzidos por hora de trabalho, como é o caso da UPL P13, que apresentou a maior produção de litros de leite por hora trabalhada na atividade leiteira, com a marca de 37,5 litros. Outro fato interessante de ser observado foi de que a variável distância (km) da propriedade até a cidade, demonstrar tendência de relacionar-se positivamente com a maior produtividade, ou seja, propriedades mais afastadas do local de venda acabam forçando mais a melhorar os índices de produtividade, possivelmente para viabilizar os custos com o transporte. Portanto, considerando a disposição das variáveis, o posicionamento das propriedades de acordo com suas características fica evidente na Figura 2, onde as 16 UPL estão alocadas. 32 P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9P10 P11 P12 P13 P14 P15 P16 -10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 Fator 1: 47,61% -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 F a to r 2 : 2 0 ,9 1 % Figura 2: Coordenadas das 16 UPL estudadas segundo as variáveis selecionadas. Para facilitar a observação de grupos de acordo com suas similaridades, dentre as variáveis selecionadas, foi aplicada a análise de agrupamentos, sendo montado um dendrograma, demonstrado na Figura 3, agrupando as UPL em quatro grupos, que podem ser observados pelo corte do eixo vertical, pela linha horizontal logo acima da distancia de ligação (Linkage Distance) número 4. Na Tabela 3 são apresentadas às médias das variáveis dentro de cada grupo, facilitando a observação de possíveis relações entre variáveis. 33 Distância Euclidiana Método de Ward's P8 P11 P7 P6 P3 P15 P5 P9 P16 P10 P4 P12 P2 P13 P14 P1 0 2 4 6 8 10 12 G1 G2 G3 G4 Figura 3. Dendrograma obtido pelo método de Ward’s, demonstrando o agrupamento das UPL da amostra em 4 grupos. Tabela 3. Média das variáveis selecionadas em seus respectivos grupos de UPL. Grupos Á. Tot. (ha) Á. util. leite Coloc. da pec. leite Dist. da prop. (Km) Vac. Obrig. Produtiv. (L/ha/ano) % V. lact. V. lact. ha Efic. humana (litros por hora trab.) G1 21,4 16,3 1,2 2,4 Não 2.326,72 67,12 1,27 9,14 G2 54,0 12,6 2,0 12,3 Sim 3.005,32 56,82 1,57 11,42 G3 38,5 6,5 1,5 21,5 Não 5.896,20 69,50 2,68 12,50 G4 425,0 69,0 2,7 8,6 Sim 830,66 38,83 0,34 20,51 Sendo: A. tot. = área total da propriedade; A.util. leite = área utilizada para pecuária leiteira; Coloc. da pec. leite = colocação da pecuária de leite em ordem de importância entre as demais atividades desenvolvidas na propriedade; Dist. da prop. = distância da propriedade até a cidade (Km); Vac. Obrig. = realização das vacinações obrigatórias; produtiv. = produtividade em litros por hectare por ano; % V. lact. = porcentagem de vacas em lactação; V. lact. ha = vacas em lactação por hectare; Efic. humana = litros de leite produzidos em relação a cada hora da somatória das horas trabalhadas de todos os envolvidos na atividade. 34 O grupo 1 (G1), formado por 5 UPL (P8, P11, P7, P6 e P3) são propriedades pequenas (21,4 ha), que praticamente não realizam vacinação, e estão localizadas bem próximas a cidade (2,4 km); apresentam baixo valor de produtividade (2.326,72 L/ha/ano), e a pior eficiência de utilização da mão de obra (9,14 litros de leite por hora trabalhada na atividade) dentre as observadas. O grupo 2 (G2) composto por 6 UPL (P15, P5, P9, P16, P10, P4) é formado por proprietários mais conscientes quanto a necessidade de vacinação; as propriedades são mais distantes da cidade (12,3 km) se comparado ao grupo 1, e os índices de produtividade (3.005,32 L/ha/ano) e de eficiência de utilização de mão de obra (11,42 litros de leite por hora trabalhada na atividade) também são superiores ao grupo que o precede. O grupo 3 (G3) foi formado por 2 UPL (P2 e P12), que teve como característica principal a melhor produtividade (5.826,20 L/ha/ano e o maior distanciamento da cidade (21,5 km), acompanhado da maior porcentagem de vacas em lactação (69,5 %). O grupo 4 (G4), formado por 3 UPL (P13, P14, P1), são propriedades de maior tamanho (425 ha), com outras atividades prioritárias (principalmente citricultura e cana- de-açúcar), onde a produção de leite apresentou características “extrativistas e oportunistas”, já que é mantida apenas para aproveitar determinadas áreas impróprias para a agricultrua e/ou faz parte de criação de gado para corte com uso de touros para este fim, o que explica a pior produtividade (830,66 L/ha/ano). Quanto à eficiência da mão de obra, ocorreram algumas disparidades, como é o caso das UPL P1 e P13, sendo que na primeira foi observado um dos piores índices (5,71 litros por hora trabalhada), devido principalmente ao grande número de pessoas envolvidas (5) para uma pequena produção diária (100 litros), enquanto na segunda, embora apresentasse um dos piores índices de produtividade (780 litros/ha/ano), demonstrou melhor eficiência de utilização da mão de obra (37,5 litros por hora trabalhada), possivelmente em razão de que os dois funcionários envolvidos dedicassem apenas duas horas por dia, para os cuidados nesta atividade, priorizando os demais afazeres da propriedade. A baixa produção obtida por vaca ordenhada é característica da região de abrangência da EDR de Jaboticabal, como foi demonstrado no Capítulo 2 deste 35 trabalho, onde a média regional foi de 1.235 litros por vaca ordenhada no ano de 2005, sendo que o município de Taiaçú, foi o que apresentou o maior valor (3.285 litros/vaca ordenhada) e Ibitinga o menor (871 litros/vaca ordenhada). 3.4 - Conclusões: Pela caracterização das unidades produtoras de leite observadas, pode-se observar que nas menores, geralmente a atividade leiteira tem maior grau de importância, mas com deficiências sanitárias e de uso da mão de obra, mais acentuadas. As maiores produtividades ficaram relacionadas com as propriedades mais distantes da cidade, enquanto as maiores áreas apresentaram as piores, mas com melhor eficiência do uso da mão de obra. Estes fatos indicam a necessidade de ações direcionadas de acordo com as individualidades de cada propriedade, que podem ser facilitadas pelo agrupamento de acordo com suas similaridades. Devido ao pequeno número de unidades produtoras de leite observadas, existe a necessidade do desenvolvimento de outros trabalhos envolvendo mais propriedades e continuidade no elo entre pesquisadores e produtores. 36 CAPÍTULO 4 – CARACTERÍSTICAS SÓCIO-PRODUTIVAS E DE COMERCIALIZAÇÃO EM PEQUENAS UNIDADES PRODUTORAS DE LEITE, LOCALIZADAS NA ÁREA DO ESCRITÓRIO DE DESENVOLVIMENTO RURAL DE JABOTICABAL/SP 4.1 - Introdução 4.1.1 - Necessidade de levantamento das variáveis sócio-produtivas e de comercialização A pecuária leiteira representa um importante papel no setor agropecuário brasileiro, tanto no que se refere à produção de alimentos, como também na geração de empregos, fixação do homem ao campo e fortalecimento econômico. Considerando que o sucesso na atividade leiteira está condicionado a um grande número de fatores, envolvendo variáveis dentro e fora da porteira, a administração da empresa rural, independentemente de seu porte, não pode mais ser feita de maneira amadora, o que indica que não basta trabalhar exaustivamente nas atividades do dia a dia, se as decisões não forem tomadas com um referencial lógico e planejadas, de acordo com informações geradas na propriedade e no mercado. Assim sendo, é fundamental que os agricultores possam dispor de ferramentas gerenciais adequadas às especificidades dos seus sistemas produtivos e de suas culturas empresariais (QUEIROZ & BATALHA, 2003). Sobretudo, nas pequenas unidades produtoras de leite, a eficiência administrativa, gerada por um bom planejamento, organização, coleta de dados e na tomada de decisões é uma forma de aumentar a rentabilidade, sem a necessidade de grandes investimentos. Outro ponto chave para o sucesso de qualquer empreendimento produtivo é a comercialização, ou seja, atender as necessidades e exigências do mercado, satisfazer e fidelizar o cliente, padronizar e ter constância na entrega do produto, produzir a baixo 37 custo para ter preços competitivos, analisar as oscilações do mercado, adequar-se as normas de qualidade e sanidade, agregar valor a produtos diferenciados, entre outros fatores, são primordiais para quem almeja sucesso na atividade que conduz. Segundo HOFFMANN (1976), comercialização é o conjunto das operações ou funções realizadas no processo de levar os bens e serviços desde o produtor primário até o consumidor final. Portanto, é vital o perfeito conhecimento dos canais de distribuição. ROSEMBLOOM (1999) define o canal de distribuição como o caminho seguido pelo produto desde sua concepção até o consumidor final. Sendo assim, a produção e comercialização do leite merecem especial atenção, por ser um produto delicado e altamente perecível, tendo suas características físicas, químicas e biológicas facilmente alteradas pela ação de microrganismos e pela manipulação a que é submetido, além de poder tornar-se um veículo de doenças caso não haja um conjunto de ações preventivas antes do seu consumo (DÜRR, 2004). Portanto, as preocupações relacionadas à comercialização começam bem antes da venda do produto, tomando medidas sanitárias, higiênicas e nutricionais que garantam a boa qualidade do leite produzido. A cadeia produtiva do leite está passando por uma grande transformação nos últimos anos, gerando uma reorganização da agroindústria leiteira, que por conseqüência leva a uma reestruturação das empresas rurais, para que continuem fornecendo a matéria prima que o mercado exige. Para que o produtor obtenha sucesso no seu sistema produtivo é fundamental que tenha conhecimento do mercado consumidor, assim como esteja inserido em um sistema de comercialização eficaz, legítimo e que lhe permita remunerar todos os seus recursos de produção. Fatores ligados à comercialização também podem ser determinantes na decisão do produtor, na escolha entre a formalidade ou a informalidade na colocação dos seus produtos. Segundo BANKUTI, et al. (2003) o baixo nível de escolaridade e a idade do chefe de família (variáveis sociais), bem como a escala de produção, podem constituir- 38 se em barreiras à entrada no mercado formal, ou mesmo a substituição da atividade leiteira por outra qualquer. Entretanto, existem outras razões econômicas, tais como o preço obtido no mercado informal e falta de mecanismos institucionais que induzam a adequação ao mercado formal. Além destes, existem consumidores que preferem comprar diretamente dos produtores, seja devido à possibilidade de adquirir o produto a um valor mais baixo, seja por acreditar que está comprando um produto de melhor qualidade. De acordo com NOGUEIRA FILHO, et al. (2001), tendo em vista a tendência crescente dos laticínios efetuarem pagamentos diferenciados, levando em consideração a qualidade, a regularidade e a quantidade do leite entregue pelos produtores induzirá a especialização da pecuária leiteira, no entanto, o desconhecimento demonstrado pela maioria dos fornecedores pode tornar-se um obstáculo a sua permanência no mercado formal. 4.1.2.1 – A Instrução Normativa 51/2002 e suas implicações O Plano Nacional da Qualidade do Leite (PNQL), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), tem por objetivo implementar medidas para melhorar a qualidade do leite no país. A publicação da instrução normativa 51/2002 foi a proposta que mais gerou discussão e polêmica, por definir regulamentos técnicos para a produção, identidade e qualidade de diversos tipos de leite, bem como as condições para sua refrigeração na propriedade rural e transporte do leite a granel até a indústria. Os novos regulamentos estabelecem limites para características como temperatura de refrigeração e contagem microbiana total, as quais são afetados diretamente pelo tipo de equipamento utilizado na exploração leiteira. Contudo, apesar de a tecnologia mais adequada para atingir os níveis de qualidade do leite estabelecidos, incluir a ordenha mecanizada e a refrigeração em tanques de expansão, esses equipamentos não garantem a qualidade, tampouco são banidas pela nova legislação as tecnologias alternativas, como a ordenha manual ou os tanques de 39 refrigeração por imersão. O princípio proposto é justamente o de julgar a qualidade a partir do produto, não a partir da infra-estrutura da unidade produtora (DÜRR, 2004). Várias reivindicações de grupos de pequenos produtores foram atendidas, no sentido de dar maior flexibilidade a IN 51, evitando um impacto maior sobre a sobrevivência destas pequenas unidades de produção, tais como: - Aumento do prazo para implantação das normas; - Fixação do limite máximo de temperatura do leite de 7ºC em três horas após o final da ordenha e 10 ºC na entrega do leite no posto ou laticínio ao invés de 4ºC e 7ºC inicialmente proposto; - Utilização irrestrita de tanques comunitários de refrigeração e tanques de imersão; - Uso de pasteurização lenta nos âmbitos de inspeção municipal e estadual; - Continuidade do fornecimento do leite em latões, desde que seja entregue na unidade processadora até duas horas após a ordenha; - Redução nas análises laboratoriais propostas. No entanto, muitas discussões conflitantes ainda surgem a este respeito, de um lado produtores maiores e técnicos, que já trabalham a um bom tempo dentro destas normas de qualidade e que exigem a extinção de quem não se adequou, por outro lado, milhares de pequenos produtores que não se adequaram às exigências e estão deixando a atividade ou partindo de vez para o mercado informal. 4.1.2.2 – O mercado Informal A informalidade no Brasil é elevada e envolve problemas de ordens econômica e social. No caso do setor lácteo, assim como outros setores de alimentos, a necessidade de controle da informalidade deve ocorrer também devido a questões de segurança do alimento. Na cadeia produtiva do leite no Brasil, deve-se ressaltar que apesar das recentes mudanças ocorridas (re-estruturação industrial, aumento do consumo, 40 aumento das exportações, mudanças das exigências legais, dentre outras), os problemas de informalidade não foram solucionados. A fiscalização ainda é falha e a informalidade do leite no país é elevada (FARINA et al, 2001). Segundo BANKUTI, et al. (2003), o processo de abertura comercial e sobrevalorização da moeda brasileira na década de 90 geraram fortes incentivos à entrada de empresas estrangeiras e a importação de leite e derivados no país. Tais empresas adotaram estratégias de fusões e aquisições de empresas e/ou cooperativas laticinistas nacionais. Em busca da redução dos custos de captação e melhoria da qualidade do leite, estas empresas passaram a exigir de seus fornecedores a utilização do tanque de expansão e elevarem a quantidade mínima de fornecimento. Diante destas novas exigências, principalmente em função dos investimentos necessários (aquisição do tanque de expansão, aumento da produtividade do rebanho e/ou número de animais e maior controle da qualidade do leite na propriedade), a atividade tornou-se inviável para um grande número de pequenos e médios produtores de leite no país. Em função destas variações que vem ocorrendo no mercado lácteo, fica difícil evitar que grande número de produtores continue ou passem a atuar na informalidade. De acordo com dados do ANUALPEC (2006) a estimativa de atuação do mercado formal em 2005 foi de 65%, ou seja, 35% de todo leite produzido é destinado ao autoconsumo ou ao mercado informal. A manutenção da informalidade no mercado lácteo pode levar a sérios problemas sócio-econômicos, com conseqüência a saúde, a arrecadação fiscal, ao aumento dos gastos públicos com tratamento de pessoas doentes em função de alimentos contaminados, ao mesmo tempo em que, muitas vezes acaba sendo a única alternativa para a conservação da atividade e do trabalho em algumas propriedades. Sendo assim, técnicos, agentes da fiscalização, órgãos de extensão e pesquisa e programas governamentais devem atuar juntos, no sentido de viabilizar que as pequenas UPL passem a agir como uma empresa, dentro da legalidade e capitalizando o produtor. 41 O objetivo foi traçar o perfil sócio produtivo e da comercialização e desenvolver sua compreensão, dando atenção especial ao mercado de atuação, os motivos que levam a comercializar da maneira atual, a observação de contratos, associações ou recebimento de diferencial por qualidade, assim como as adequações as normas preconizadas pela IN 51, nas pequenas unidades produtoras de leite (UPL), que pode auxiliar na identificação de fatores correlacionados, que exercem grande influência na maneira de agir destas UPL, assim como na viabilidade de implantação de tecnologias compatíveis com a realidade regional e produtiva das propriedades leiteiras. 4.2 - Material e Métodos No presente estudo, foram coletados dados de 16 pequenas UPL localizadas na área do Escritório de Desenvolvimento Rural (EDR) de Jaboticabal - SP, mais precisamente nos municípios de Itápolis, Taquaritinga, Guariba e Ibitinga. Esta região caracteriza-se pelo predomínio canavieiro e de citricultura, onde a produção leiteira, geralmente, não é a atividade principal, mas tem importância na complementação da renda familiar e na manutenção de empregos fixos na zona rural, como pode ser observado pelos dados de explorações vegetais e animais disponibilizados pela Coordenadoria de Assistência Técnica Integral - CATI (2006). As UPL foram selecionadas de acordo com a facilidade de contato com os produtores e a aceitação dos mesmos, além de que, todas apresentaram uma produção de leite/dia inferior a 300 litros, estando esta atividade, entre as três principais fontes de renda da propriedade. Além das pequenas UPL, também foi caracterizada uma grande UPL localizada no município de Taiaçú, que serviu como comparativo do perfil sócio produtivo. Este trabalho não teve a pretensão de retratar o que acontece com o comportamento das propriedades leiteiras da região em estudo, mas sim, das variáveis dentro do grupo envolvido. Sendo assim, este estudo fornece subsídios auxiliares para tomada de decisões em pequenas unidades produtoras de leite, relacionando o seu 42 perfil sócio produtivo e de comercialização. Os dados referentes às UPL foram obtidos por meio de observação e questionários semi-estruturados aplicados na propriedade, sempre com o mesmo pesquisador, buscando reduzir problemas de interpretação nos itens questionados. Na coleta de dados foram abordados aspectos sócio-produtivos e de comercialização básicos, com perguntas simples, de modo a facilitar a compreensão do entrevistado. Os dados sócio-produtivos observados neste trabalho foram principalmente os relacionados a objetivos, metas, organização, controles e mudanças que estão ocorrendo no sistema produtivo, de maneira a facilitar a compreensão de alguns aspectos da administração nestas propriedades. Do ponto de vista da comercialização foram abordadas as variáveis relacionadas à exigência do mercado consumidor, tipo de mercado em que atua (formal, formal e informal, informal), motivo por atuar neste mercado, forma como comercializa o leite (leite, derivados, ambos), valor recebido por litro (R$/L), recebimento de diferencial por qualidade, existência de contrato de venda, local onde o leite é armazenado após a ordenha, veículo utilizado para o transporte, conhecimento da IN. 51, se a propriedade possui tanque de resfriamento, se o produtor atua ou já atuou em associações. Desta forma buscou-se a caracterização das propriedades em relação às adequações impostas pelo mercado e a sua possível sustentação na atividade e inserção mercadológica. Após a entrevista foi entregue aos produtores um cartão de contato do pesquisador, com nome, telefone e e-mail, além de outras visitas subseqüentes, para que quem tivesse interesse em assistência técnica gratuita ao longo do ano, entrasse em contato, sendo assim possível um real julgamento de interesse dos produtores. Após tabulados todos os dados, estes foram analisados, utilizando a análise fatorial em componentes principais e posterior análise de agrupamento (cluster), como relatado no item 1.2.2 na pág. 08 e 1.2.3 na pág. 10, facilitando a visualização das principais variáveis envolvidas, assim como na formação de grupos de maior 43 similaridade nos aspectos abordados. Para estas análises foi utilizado o programa Statística versão 6.0. 4.3 - Resultados e Discussão 4.3.1 - Características sócio-produtivas: As pequenas UPL envolvidas apresentaram escala de produção variando de 35 a 220 litros ao dia (média de 105,9 litros/dia). Os resultados relacionados ao perfil sócio produtivo, podem ser observados na Tabela 1, onde estão dispostas as pequenas UPL de acordo com as respostas obtidas, e também foi demonstrado o perfil de uma grande UPL (média de 6.000 litros/dia), como comparativo, onde o X demonstra sua posição. Tabela 1 – Perfil sócio-produtivo das unidades produtoras de leite abordadas 1 Objetivos do produtor em relação à produção de leite Pequenas UPL % Grande UPL Aumentar 7 44 X Diminuir 2 12 Manter 7 44 Feito para atingir os objetivos Pequenas UPL % Grande UPL Nada 6 38 Aumentar rebanho 2 13 X Venda de animais 1 6 Melhorar alimentação 4 25 Diminuir uso de ração 1 6 Selecionar os melhores animais 2 12 Como são definidos planos futuros Pequenas UPL % Grande UPL Preço do leite e do animal 12 76 Comparação com outros produtos agrícolas 2 12 Preço e análise de mercado 1 6 X Cálculo do custo de produção 1 6 Ações adotadas para diminuir custo Pequenas UPL % Grande UPL Melhorar o uso da pastagem 8 50 Diminuir concentrados 4 25 Aumentar o uso da cana de açúcar 1 6 nenhuma 3 19 X Como são definidas as funções Pequenas UPL % Grande UPL Afinidade 9 57 X 1 Continua... Sendo: X = resposta obtida na grande unidade produtora de leite (UPL) 44 Tabela 1 – Perfil sócio-produtivo das unidades produtoras de leite abordadas (continuação) Imposição 2 12 Disponibilidade de tempo 4 25 Necessidade 1 6 Como são identificados os animais Pequenas UPL % Grande UPL Reconhecidos pelo nome 16 100 Brincos 0 0 X Apresentam ficha individual dos animais Pequenas UPL % Grande UPL Sim 0 0 X Não 16 100 Animais separados em lotes de produção Pequenas UPL % Grande UPL Sim 1 6 X Não 15 94 Apresentam touro separado das fêmeas Pequenas UPL % Grande UPL Sim 2 12 X Não 14 88 Esta realizando mudanças na UPL Pequenas UPL % Grande UPL Sim 11 69 X Não 5 31 Finalidade das mudanças Pequenas UPL % Grande UPL Diminuir custo 1 9 Melhorar alimentação 6 55 Melhorar instalações 3 27 X Diminuir o rebanho 1 9 Fixação de metas Pequenas UPL % Grande UPL Sim 5 31 X Não 11 69 Realizam algum tipo de controle Pequenas UPL % Grande UPL Sim 7 44 X Não 9 56 Número de informações controladas Pequenas UPL % Grande UPL Dois 4 57 Três 1 14 Quatro 2 29 Cinco 0 0 X Utilizam os controles Pequenas UPL % Grande UPL Sim 3 43 X Às vezes 4 57 Onde registra os dados controlados Pequenas UPL % Grande UPL Caderneta ou caderno 5 71 Computador 2 29 X Porque não registra mais dados Pequenas UPL % Grande UPL Não acha importante 5 31 Falta de tempo 3 19 Não tem hábito 7 44 Falta de um modelo 1 6 X Fonte: dados de campo X = resposta obtida na grande unidade produtora de leite (UPL) 45 Como pode ser observado, a maioria das pequenas UPL abordadas (56%), não demonstraram interesse em aumentar a produção de leite, possivelmente, por já estarem limitadas em relação ao mercado, ou por estarem desestimuladas com a baixa remuneração alcançada. Este fato está de acordo com trabalho realizado por WAGNER (2004), em que o tipo de produtor tradicional, continuou estagnado na atividade, tanto no que diz respeito à infra-estrutura de produção, como em relação a produção de leite, não manifestando interesse em aumentar a produção. No entanto, ainda em relação aos dados apresentados na Tabela 1, pode-se constatar que a maioria dos produtores entrevistados (69%) está realizando alguma mudança no seu sistema produtivo, e a maior parte destes (55%), está relacionado ao manejo alimentar, que é o que mais influencia nos custos, sendo assim, como foi relatado por ALVES (2001), a inovação pode resultar em renda aumentada, em função de redução dos custos. No tocante a organização do rebanho, as pequenas unidades de produção foram muito similares, já que praticamente todas, identificam os animais apenas pelo nome, não possuem ficha individual dos animais, não fazem separação em lotes de produção e não mantém separado o touro das vacas. A grande maioria das pequenas UPL não apresentou metas de produção, e os controles, quando realizados, geralmente tratavam apenas de dados referentes à produção total diária de leite, data de nascimento de bezerros e de litros entregue ao laticínio, demonstrando ineficiência para uma boa gestão da propriedade. Estes fatos também foram evidenciados por NOGUEIRA FILHO, et al. (2001), trabalhando com produtores de leite no nordeste, onde observaram que os níveis de controles na pecuária leiteira regional foram muito baixos, mantendo uma coerência com a tradição e o caráter familiar dos empreendimentos. As principais razões pelas quais a coleta e registro de dados da atividade não são realizadas pelos produtores, neste trabalho, foi semelhante ao apontado por QUEIROZ & BATALHA (2003), ao trabalhar com produtores familiares de hortaliças na região de São Carlos, ou seja, “falta de tempo”, “não acha importante” e “falta de hábito”. 46 Das dezesseis pequenas UPL, apenas três manifestaram interesse em receber assistência técnica, sendo que em uma destas, o forte tradicionalismo do produtor, aliado ao desestímulo pela baixa remuneração pela venda do leite e conflitos na comercialização, resultaram em grande resistência em aceitar as recomendações sugeridas, o que dificultou o processo de difusão assistencial. As outras duas propriedades, após alguns meses de orientação e assistência, já apresentaram mudanças positivas de perfil, principalmente aumentando o número de dados controlados, como de produção leiteira, reprodutivos e de custos operacionais, melhorando o planejamento das atividades. Portanto, a maior parte das pequenas UPL observadas neste trabalho, caracterizou-se pela presença do produtor tradicional, segundo definição GEHLEN (2000), trata-se de um produtor consolidado, que se identifica como produtor tradicional, ou seja, sua produtividade está de acordo com o padrão tradicional na sua região. A produção de leite não é uma atividade estratégica dentro da propriedade, utilizando-se da força de trabalho secundária e apenas o tempo necessário, não sendo esta qualificada. Na organização sistêmica da propriedade, não prioriza a produção de leite, sendo que o reinvestimento dos rendimentos raramente se dá na atividade leiteira. No padrão tecnológico, as instalações e equipamentos, quando existem, são precários, os animais não são especializados, a alimentação não é balanceada e na maior parte do tempo precária. 4.3.2 – Características de comercialização Aplicando-se o método da análise fatorial em componentes principais foram analisados os dois primeiros fatores, apresentando 60,33% da variância explicada acumulada (Tabela 2). Utilizando esta técnica foi possível reduzir o número inicial de variáveis (12 variáveis) para nove, sendo considerado apenas as que tiveram coeficientes de correlação acima de ± 0,6, como pode ser visto na Tabela 2. 47 Tabel