Universidade Estadual “Júlio de Mesquita Filho” Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas Programa de Pós-Graduação em Biof́ısica Molecular Departamento de F́ısica Estudo de Sistema Molecular Confinado Fabŕıcio Ramos Silva Orientador: Prof. Dr. Elso Drigo Filho Dissertação apresentada para obtenção do t́ıtulo de Mestre em Biof́ısica Molecular, área de Biof́ısica Molecular junto ao Programa de Pós-Graduação em Biof́ısica Molecular do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da Universidade Estadual “Júlio de Mesquita Filho”, Campus de São José do Rio Preto. São José do Rio Preto - SP Março/2010 FABRÍCIO RAMOS SILVA Estudo de Sistema Molecular Confinado Dissertação apresentada para obtenção do t́ıtulo de Mestre em Biof́ısica Molecular, área de Biof́ısica Molecular junto ao Programa de Pós-Graduação em Biof́ısica Molecular do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da Universidade Estadual “Júlio de Mesquita Filho”, Campus de São José do Rio Preto. BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. Elso Drigo Filho Professor Doutor UNESP - São José do Rio Preto Orientador Prof. Dr. Frederico Vasconcellos Prudente Professor Doutor Universidade Federal da Bahia Prof a. Dr a. Regina Maria Ricotta Professora Doutora Faculdade de Tecnologia de São Paulo São José do Rio Preto, 5 de Fevereiro de 2010 Dedico este trabalho à minha maravilhosa esposa Michele. “Uma grande vitória só é conquistada travando uma grande batalha...” Agradecimentos Tenho inúmeras pessoas a agradecer por este trabalho. Entretanto, especialmente, gostaria de agradecer a algumas pessoas que tiveram participação direta. À Deus, que me proporciona o sopro de vida a cada dia. À minha mãe Versilei. Sempre me incentivou, apoiou e me deu todo o aux́ılio financeiro que necessitava. À Michele, minha esposa e grande incentivadora. Ao meu tio Lafaiete. Que muitas vezes foi muito mais que um tio e se transformou no “pai” que eu não tive. Ao pastor e irmão Rodrigo Barbom, pela revisão e correção do “abstract”. Ao Prof. Dr. Celso Jorge Villas-Bôas (UFSCar), pela orientação do meu trabalho de iniciação cient́ıfica e sua amizade, a qual guardarei com carinho pelo resto dos meus dias. Aos amigos do Departamento de F́ısica do IBILCE: Franciele, Gabriel, Gisele Baldissera, Karina, Marcelo, Natália Favaro, Nayara e Rafael, pelos constantes momentos de aprendizagem e descontração. Ao Prof. Dr. Elso Drigo Filho, por toda a orientação deste trabalho e pelo incentivo nestes dois longos anos. Muito obrigado pela confiança! E por fim, à FAPESP por todo o suporte financeiro desta pesquisa. i Resumo Este trabalho apresenta autovalores de energia para o potencial de Lennard-Jones (12,6) (um tipo de potencial de força central) e para o ı́on molecular H+ 2 , ambos confinados em cavidades esféricas e eĺıpticas, respectivamente. Esses sistemas também foram estudados sem confinamento. Os resultados foram obtidos através da associação entre o Método Variacional e a Mecânica Quântica Supersimétrica, cabendo a supersimetria determinar as funções de onda variacionais. A “Aproximação de Born-Oppenheimer” é utilizada para simplificar o problema molecular, proporcionando a sua separação em duas partes: uma eletrônica e outra nuclear. Os resultados obtidos para a dinâmica eletrônica da molécula apresentaram um valor de confinamento onde o sistema é mais estável. Por fim, são discutidas posśıveis aplicações para sistemas envolvendo śıtios ativos de protéınas. Palavras-chave: Potencial de Lennard-Jones (12,6); Íon molecular H+ 2 ; Método Variacional; Mecânica Quântica Supersimétrica; Confinamento; Śıtio ativo de protéınas. ii Abstract This work presents the energy eigenvalues for the Lennard-Jones (12,6) potential (a type of central force potential) and molecular ion H+ 2 , both confined in spherical and eliptical cavities, respectivelly. Those systems were also studied without confinement. The results were obtained through the Variational Method and Supersymmetric Quantum Mechanics association, allowing the supersymmetry determine the variational wave functions. The “Born-Oppenheimer aproximation”is utilized to simplify the molecular problem, providing its separation in two parts: one electronic and other nuclear. The obtained results to the electronic dynamics of molecule presented a confinement value where the system is more stable. Finally, possible applications for systems involving protein active site are discussed. Keywords: Lennard-Jones (12,6) potential; Molecular ionH+ 2 ; Variational Method; Supersymmetric Quantum Mechanics; Confinement; Protein active site. iii Sumário Agradecimentos i Resumo ii Abstract iii Lista de Figuras vi Lista de Tabelas vii 1 Introdução 1 2 Métodos Teóricos 3 2.1 Método Variacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 2.2 Mecânica Quântica Supersimétrica: Método de Fatorização da Equação de Schrödinger . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 2.2.1 Potencial de Lennard-Jones (12,6) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 3 Sistemas Quânticos Confinados 11 3.1 Métodos para Confinar Sistemas Quânticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 3.2 Adaptação ao Formalismo Supersimétrico para a Descrição de Sistemas Quânticos Confinados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 3.2.1 Potencial de Lennard-Jones (12,6) Confinado . . . . . . . . . . . . . 13 4 Sistemas Quânticos Moleculares 18 4.1 Íon Molecular H+ 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 4.2 Íon Molecular H+ 2 Confinado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 4.2.1 Movimento Eletrônico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 iv v 4.2.2 Movimento Nuclear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 5 Conclusão 31 Referências Bibliográficas 33 A Constantes F́ısicas e Fatores de Conversão 35 B Aproximação de Born-Oppenheimer 36 C Energia Eletrônica para o Íon Molecular H+ 2 39 D Cálculo das Integrais j, k e S 42 Lista de Figuras 2.1 Comparação gráfica entre os potenciais aproximado (2.19), representado através da curva preta, e original (2.17), representado através da curva vermelha. Os parâmtros utilizados nesse caso são λ = 100, A = B = 10, l = 0 e α = 3, 61. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 3.1 Comparação gráfica entre os potenciais aproximado (3.3), representado através da curva preta, e original (2.17), representado através da curva vermelha. Os parâmetros utilizados nesse caso são λ = 100, A = B = 10, X = 2, l = 0 e α = 4, 81. . . . . . . . . . . . . . . . . 17 4.1 Representação espacial do ı́on molecular H+ 2 . Os núcleos são denotados por 1 e 2, o elétron é representado por e, as coordenadas eletrônicas são representadas por r e as coordenadas nucleares por R. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 4.2 Simetria axial do ı́on molecular H+ 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 4.3 Energia Eletrônica versus Parâmetro de Confinamento (Re). . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 4.4 Sistema de coordenadas, relativas e do centro de massa, referente ao ı́on molecular H+ 2 . . 26 4.5 Sistema de coordenadas esféricas relativas ao centro de massa, referente ao ı́on molecular H+ 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 4.6 Energia Vibracional versus Raio de Confinamento. Os parâmetros referentes a molécula H+ 2 são De = 2, 79 eV , a = 1, 29 1/Å e Re = 1, 06 Å. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 4.7 Distância Internuclear versus Raio de Confinamento. Os parâmetros referentes a molécula H+ 2 são De = 2, 79 eV , a = 1, 29 1/Å e Re = 1, 06 Å. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 vi Lista de Tabelas 2.1 Resultados numéricos referentes ao autovalor de energia do estado fundamental (l = 0) do potencial de Lennard-Jones (12,6) para diferentes valores de λ. . . . . . . . . . . . . . . . 9 2.2 Resultados numéricos referentes ao autovalor de energia do potencial de Lennard-Jones (12,6) para λ = 10000 fixo e quatro valores distintos de l. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 3.1 Resultados numéricos referentes ao autovalor de energia do potencial de Lennard-Jones (12,6) confinado para λ = 100. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 3.2 Resultados numéricos referentes ao autovalor de energia do potencial de Lennard-Jones (12,6) confinado para λ = 10000. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 A.1 Algumas constantes f́ısicas importantes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 A.2 Algumas conversões de comprimento e energia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 vii Caṕıtulo 1 Introdução Sistemas confinados têm sido estudados devido a sua importância tanto do ponto de vista acadêmico como do ponto de vista tecnológico (vide, por exemplo, a Ref. [1]). Estudos relacionados aos ńıveis de energia de sistemas dessa natureza têm sido posśıveis através de métodos aproximativos. Em geral, os sistemas analisados até o momento representam part́ıculas sujeitas a um potencial de força central, onde o potencial Lennard-Jones (12,6) serve como exemplo. Logo, o próximo passo nessa linha de estudo é a análise de sistemas mais complexos, como moléculas, tema no qual já é posśıvel encontrar trabalhos publicados [2]. Por outro lado, sistemas biológicos exibem comportamentos que sugerem a existên- cia de confinamento, sendo particularmente sugestivo no estudo do śıtio ativo de protéınas. O śıtio ativo é associado a uma região espećıfica da macromolécula e pode ser considerado isolado do restante da protéına. Dados obtidos no Protein Data Bank permitem identificar uma cavidade, cujo o raio é da ordem de alguns angstroms, onde moléculas espećıficas são armadilhadas. Um exemplo clássico desse tipo de situação envolve a molécula de oxigênio e a hemoglobina. Um sistema modelo inicial para estudar moléculas diatômicas armadilhadas no śıtio ativo de protéınas pode ser feito tomando uma molécula confinada em uma cavidade, com a geometria variando entre eĺıptica e esférica. Assim como o átomo de hidrogênio pode ser o ponto de partida para a compreensão de átomos multieletrônicos, o ı́on molecular H+ 2 , o qual será estudado neste trabalho, serve como ponto de partida para o estudo de moléculas mais complexas em regime de confinamento. Neste trabalho é realizado um estudo das propriedades dinâmicas do ı́on molecular CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO 2 H+ 2 no estado fundamental. Como o elétron é muito menos massivo em comparação aos núcleos, é razoável pensar que para uma pequena perturbação na configuração nuclear a nuvem eletrônica reorganiza-se instantaneamente. Esta é a idéia central da “Aproximação de Bohr-Oppenheimer”[3], a qual permitirá o desacoplamento entre as dinâmicas eletrônica (onde os núcleos encontram-se fixos) e nuclear (onde considera-se um potencial efetivo, solução da dinâmica eletrônica, sob qual os núcleos vibram). O movimento nuclear trata- se de um problema de dois corpos, e entretanto em havendo espaço (sistema livre ou cavidade muito grande) é posśıvel reduzir o problema de dois corpos em um problema de um único corpo de massa reduzida μ que contém informações a respeito dos movimentos vibracionais e rotacionais intŕınsecos à molécula. Por outro lado, para o movimento eletrônico, admitindo-se os núcleos fixos o problema do ı́on molécular H+ 2 , que trata- se de um problema de três corpos, reduz-se ao problema de um único corpo. Devido a complexibilidade existente na solução do problema molecular, o Método Variacional [4, 5] é utilizado no decorrer deste trabalho para proporcionar resultados referentes aos ńıveis de energia molecular. Entretanto, apesar de sua relativa simplicidade, funções de onda adequadas devem ser determinadas para que bons resultados sejam obtidos, cabendo este papel à Mecânica Quântica Supersimetrica [6]. O presentre trabalho está dividido da seguinte maneira. No caṕıtulo 2, são abor- dados os aspectos teóricos (Método Variacional e Mecânica Quântica Supersimétrica) que serão utilizados para descrever sistema quânticos livres. Em contrapartida, no caṕıtulo 3, sistemas quânticos confinados serão abordados. Como exemplo, um sistema quântico sob influência do potencial de Lennard-Jones (12,6) é analisado sem/com confinamento através do formalismo abordados nos caṕıtulos 2 e 3. O caṕıtulo 4 é reservado para a descrição do ı́on molecular H+ 2 , onde resultados referentes as dinâmicas eletrônica (sem/com confi- namento) e nuclear (apenas com confinamento) são mostrados. A conclusão do trabalho é colocada no caṕıtulo 5. Caṕıtulo 2 Métodos Teóricos O formalismo supersimétrico, durante os últimos anos, vem sendo amplamente utilizado no contexto da Mecânica Quântica [6, 7] e, em particular, ele tem sido usado para resolver a equação de Schrödinger. Neste sentido, a supersimetria pode ser entendida como uma generalização do Método de Fatorização [7]. Em problemas quânticos analiticamente solúveis, as autofunções e autovalores podem ser determinados através do uso da superál- gebra. Em contrapartida, quando o sistema quântico sob estudo não apresenta solução anaĺıtica/exata, a superálgebra também se mostra útil em abordagens aproximadas, como por exemplo, o Método Variacional [4, 5]. O Método Variacional tem sido amplamente explorado como método aproximativo para a determinação de autovalores de energia para estados fundamentais e excitados de sistemas quânticos. A abordagem tradicional deste método consiste em encontrar uma função de onda, chamada função teste, para ser utilizada na obtenção do autovalor de energia do sistema quântico estudado. Entretanto, determinar uma função de onda adequada não é um trabalho simples, e um caminho para obter tal função é através do formalismo da supersimetria. O formalismo resultante da junção entre o Método Variacional e a Mecânica Quân- tica Supersimétrica tem sido usado com sucesso tanto na análise de problemas quânticos exatamente solúveis através da equação de Schrödinger quanto para aqueles cujo a solução anaĺıtica/exata não pode ser encontrada [8, 9]. O presente caṕıtulo é dividido em duas seções. Na seção 2.1 o Método Variacional é apresentado e caracterizado, enquanto na seção 2.2 o formalismo da Mecânica Quântica Supersimétrica é abordado. Como exemplo, na subseção 2.2.1 um sistema quântico sob CAPÍTULO 2. MÉTODOS TEÓRICOS 4 influência do potencial de Lennard-Jones (12,6) é estudado através da associação da su- persimetria com o Método Variacional [9]. 2.1 Método Variacional Afim de desenvolver o Método Variacional [4, 5], vamos considerar um sistema quântico tridimensionadal não-relativ́ıstico composto por uma part́ıcula de massam e sob influência de um potencial de força central V (r). Esse sistema pode ser descrito pela equação radial de Schrödinger independente do tempo [4, 5]: − h̄2 2m ( 2 r d dr + d2 dr2 ) Ψ(r) + Veff (r)Ψ(r) = EΨ(r), (2.1) onde é admitido que Ψ(r) seria a função de onda que descreve o sistema e E o autovalor de energia. O potencial efetivo, Veff (r), é definido como a soma entre o potencial original V (r) e o termo de barreira de potencial usual proporcional a l(l+1) r2 , onde l representa o número quântico do momento angular. O problema consiste em determinar a melhor forma para a expressão da função de onda. Uma maneira de determinar esta forma é considerar a função de onda normalizada e expandi-la em uma série de autofunções φE(r) relativas ao operador Hamiltoniano que descreve o sistema, ou seja: Ψ(r) = ∑ E AEφE(r), (2.2) onde AE está relacionado a probabilidade de ocorrência do autoestado φE(r). Calculando o valor esperado do operador Hamiltoniano fazendo uso da Eq. (2.2), temos: 〈Ĥ〉 = ∫ R3 Ψ ∗(r)ĤΨ(r) d3r = ∑ E ∑ E′ A∗EAE′ ∫ R3 φ ∗ E(r)ĤφE′(r) d3r. (2.3) Lembrando que φE(r) é uma autofunção do operador Hamiltoniano, ela deve satis- fazer a equação de Schrödinger independente do tempo (expressa por ĤφE(r) = EφE(r)). Logo, substituindo este resultado na Eq. (2.3), obtemos: 〈Ĥ〉 =∑ E ∑ E′ A∗EAE′E ′ ∫ R3 φ ∗ E(r)φE′(r) d3r. (2.4) A condição de ortonormalidade indica que para E �= E ′ temos ∫ R3 φ∗ E(r)φE′(r) d3r = 0 e para a igualdade E = E ′ temos ∫ R3 φ∗ E(r)φE′(r) d3r = 1. Então, a Eq. (2.4) se reduz a: 〈Ĥ〉 =∑ E |AE|2E. (2.5) CAPÍTULO 2. MÉTODOS TEÓRICOS 5 Substituindo cada autovalor E em (2.5) pelo autovalor de energia do estado fun- damental E0, podemos estabelecer a seguinte desigualdade: ∑ E |AE|2E ≥ ∑ E |AE|2E0 = E0, (2.6) sendo ∑ E |AE|2 = 1, pois assume-se a função de onda normalizada. Levando em conta a Eq. (2.6), chegamos a seguinte equação: ∫ R3 Ψ ∗(r)ĤΨ(r) d3r ≥ E0. (2.7) Analisando o resultado obtido, podemos concluir que se uma função de onda qualquer for usada para calcular o autovalor de energia, o resultado sempre será um limite superior da energia exata. Essa conclusão é a essência do Método Variacional. Vale ressaltar que se a função de onda não for normalizada, a Eq. (2.7) toma a seguinte forma: ∫ R3 Ψ∗(r)ĤΨ(r) d3r∫ R3 |Ψ(r)|2 d3r ≥ E0. (2.8) Como foi mencionado anteriormente, é preciso encontrar uma função de onda adequada, chamada de função teste, para se obter um valor de energia próximo a energia exata. Quanto melhor for a função teste, menor será a diferença entre o resultado encon- trado e o valor real. Uma maneira para se obter uma função teste apropriada é através do formalismo da Mecânica Quântica Supersimétrica, a qual será discutida na seção 2.2. Para melhorar a eficiência do método, a função teste é geralmente escrita em termos de um conjunto de parâmetros {α}, chamados parâmetros variacionais, os quais permitem minimizar o valor de energia obtido e aproximá-lo ainda mais do valor exato. Embora o Método Variacional tenha sido utilizado amplamente para a determi- nação de autovalores de energia para o estado fundamental, não existe nenhuma restrição formal ao seu uso para determinar autovalores de energia de estado excitados. 2.2 Mecânica Quântica Supersimétrica: Método de Fatorização da Equação de Schrödinger Um método de solução da equação de Schrödinger pode ser introduzido reescrevendo-a em uma forma fatorada (assumindo, por simplicidade, h̄ = 2m = 1):( − d dr + w(r) )( d dr + w(r) ) ψ(r) = 0, (2.9) CAPÍTULO 2. MÉTODOS TEÓRICOS 6 que, após seu desenvolvimento, resulta em: −d 2ψ(r) dr2 + [w2(r)− w′(r)]ψ(r) = 0, (2.10) sendo w(r) chamado superpotencial e Ψ(r) = ψ(r) r , simplificação que elimina a derivada de primeira ordem na Eq. (2.1), possibilitando a comparação com a Eq. (2.10). A comparação entre a Eq. (2.10) e a equação de Schrödinger (2.1), resulta em uma equação de Riccati: w2(r)− w′(r) = Veff (r)− E. (2.11) Para determinar a função de onda basta analisar a Eq. (2.9) e observar que ela é aplicada primeiramente ao termo ( d dr + w(r) ) . Conseqüentemente, para manter-se a igualdade, é suficiente que a condição ( d dr + w(r) ) ψ(r) = 0 seja satisfeita, ou seja: dψ(r) dr + w(r)ψ(r) = 0, (2.12) onde a solução desta equação diferencial de primeira ordem é: ψ(r) ∝ exp ( − ∫ w(r) dr ) . (2.13) O uso do formalismo supersimétrico no estudo de problemas tridimensionais per- mite identificar várias funções teste para o problema tratado. De imediato, é posśıvel obter uma função de onda para cada valor do número quântico do momento angular. É importante ressaltar que o problema em se determinar a função de onda iniciou-se de uma equação diferencial de segunda ordem e transformou-se em uma equação diferencial de primeira ordem, que é mais simples de resolver. Assim, quando a equação de Riccati é resolvida, obtém-se uma função de onda para o problema tratado. Infelizmente, a solução em termos de funções elementares só é posśıvel para um número muito restrito de potenciais. Entretanto, mesmo sem obter a solução exata é posśıvel procurar uma solução aproximada, waprox(r), para o superpotencial [10]. Essa solução gera uma função de onda, através da Eq. (2.13), que deve fornecer uma função teste apropriada para o Método Variacional. Uma vantagem adicional obtida por essa abordagem, se comparada à abordagem usual da determinação direta da função de onda, é a possibilidade de comparação en- tre o potencial original, Veff (r), e o potencial aproximado, Vaprox(r), obtido através do CAPÍTULO 2. MÉTODOS TEÓRICOS 7 superpotencial usado [8, 9]. O potencial aproximado, a menos de uma constante aditiva, é: Vaprox(r) = w2 aprox(r)− w′aprox(r). (2.14) O formalismo matemático descrito fornece um caminho para a descrição, com boa aproximação, de qualquer sistema quântico não-confinado e cujo a solução anaĺıtica/exata via equação de Schrödinger não é posśıvel de ser obtida. A seguir, como exemplo de aplicação do formalismo, é tratado um sistema quântico constituido de uma part́ıcula sob influência do potencial de Lennard-Jones (12,6) [9]. 2.2.1 Potencial de Lennard-Jones (12,6) Antes de nos atentarmos para a resolução do problema, é importante salientar que a escolha de um sistema quântico interagindo através do potencial de Lennard-Jones (12,6) não foi ao acaso. Aplicações para tal potencial são bastante variadas, sendo mais conhecida a que envolve o tratamento de vibrações moleculares em moléculas diatômicas como oxigênio e hidrogênio. O potencial de Lennard-Jones (12,6) pode ser escrito da seguinte forma [11]: V (r) = De [( re r )12 − 2 ( re r )6 ] , (2.15) onde re é a distância internuclear de equiĺıbrio e De é conhecida por energia de dissociação e representa a energia potencial de interação entre os átomos na posição r = re. Com um pouco de manipulação algébrica (definindo a função de onda como φ(r) r e efetuando a transformação de coordenadas x = r re ) é posśıvel reescrever a equação radial de Schrödinger, para o potencial estudado (2.15), da seguinte forma: −d 2φ(x) dx2 + λ [( 1 x )12 − 2 ( 1 x )6 ] φ(x) + l(l + 1) x2 φ(x) = εφ(x), (2.16) onde o termo l(l+1) x2 corresponde ao termo de barreira potencial, λ = 2mDer2e h̄2 e ε = 2mEr2e h̄2 . Logo, o operador Hamiltoniano para o potencial de Lennard-Jones (12,6) é dado por: Ĥ = − d2 dx2 + Veff (x), (2.17) onde Veff (x) = λ [( 1 x )12 − 2 ( 1 x )6] + l(l+1) x2 . A solução anaĺıtica/exata da equação de Schrödinger para este tipo de potencial não pode ser determinada. Entretanto, pode-se obter uma solução aproximada através CAPÍTULO 2. MÉTODOS TEÓRICOS 8 de um superpotencial que forneça um potencial aproximado similar ao potencial original, Veff (x), e consequentemente uma função teste apropriada para o Método Variacional [4, 5]. O superpotencial utilizado, sugerido na Ref. [9], é: w(x) = −B x6 + A− α x , (2.18) sendo A e B constantes e α definido como parâmetro variacional. A sugestão do superpotencial (2.18) pode ser entendida percebendo que, com tal estrutura, termos proporcionais a x−12 e x−6 aparecem no potencial aproximado. Logo, o potencial aproximado obtido através do superpotencial utilizado é: Vap(x) = A2 − 2Aα x + α(α− 1) x2 − 2AB x6 + 2B(α− 3) x7 + B2 x12 . (2.19) A função teste, obtida através da Eq. (2.13), é: φα(x) ∝ exp [ − B 5x5 − Ax+ α ln x ] . (2.20) Comparando os termos proporcionais a x−12 e x−6 nos potenciais aproximado e original, Eqs. (2.19) e (2.17), é posśıvel vincular os valores das constantes A e B. Neste caso, tem-se que A = B = √ λ. Assim, a energia variacional é obtida através da minimiza- ção do valor esperado do operador Hamiltoniano com relação ao parâmetro variacional. A expressão da energia para o sistema, a ser minimizada, é dada por: ε = ∫∞ 0 φ∗α(x) ( − d2 dx2 + λ x12 − 2λ x6 + l(l+1) x2 ) φα(x) dx∫∞ 0 |φα(x)|2 dx . (2.21) Os resultados da minimização são mostrados nas Tabelas 2.1 e 2.2. Na Tabela 2.1 são apresentados resultados para l = 0 considerando quatro valores distintos para λ, enquanto na Tabela 2.2 são mostrados valores considerando λ = 10000 fixo e variando os valores de l. Para dar segurança aos resultados e conseqüentemente ao formalismo adotado, é feita uma comparação dos resultados com relação aos valores obtidos através da expansão 1/N modificada [11] e do Método WKBJ [12]. Portanto, analisando o valor encontrado para λ = 100 e l = 0, os resultados obtidos para os autovalores de energia através dos Métodos Variacional, WKBJ e expansão 1/N modificada são −0, 500554, −0, 500973 e −0, 498653, respectivamente. Logo, devido o erro no autovalor de energia ser menor que 0, 1% em relação aos resultados obtidos através dos Métodos WKBJ e expansão 1/N CAPÍTULO 2. MÉTODOS TEÓRICOS 9 Tabela 2.1: Resultados numéricos referentes ao autovalor de energia do estado fundamental (l = 0) do potencial de Lennard-Jones (12,6) para diferentes valores de λ. λ α A = B ε λ 100 3,61 10 -0,500554 900 3,53 30 -0,811508 2500 3,52 50 -0,884164 10000 3,51 100 -0,941046 Tabela 2.2: Resultados numéricos referentes ao autovalor de energia do potencial de Lennard-Jones (12,6) para λ = 10000 fixo e quatro valores distintos de l. l α A = B ε λ 5 3,56 100 -0,938091 10 3,70 100 -0,930215 15 3,92 100 -0,917425 20 4,24 100 -0,899732 modificada, podemos concluir que a função teste utilizada é adequada para a descrição do problema. A comparação gráfica entre os potenciais, aproximado e original, mostra uma semelhança entre as curvas e reforça a adequação do superpotencial usado e, por extensão da função teste utilizada. Um exemplo desta comparação é mostrado na Fig. (2.1). CAPÍTULO 2. MÉTODOS TEÓRICOS 10 Figura 2.1: Comparação gráfica entre os potenciais aproximado (2.19), representado através da curva preta, e original (2.17), representado através da curva vermelha. Os parâmtros utilizados nesse caso são λ = 100, A = B = 10, l = 0 e α = 3, 61. Caṕıtulo 3 Sistemas Quânticos Confinados No escopo da Mecânica Quântica, o problema de uma part́ıcula presa em um poço de po- tencial ilustra talvez o mais simples e conhecido sistema quântico confinado, evidenciando a diferença existente entre as propriedades f́ısicas de uma part́ıcula livre em relação a uma outra cujo movimento é restrito a uma determinada região do espaço. Assim, o estudo de sistemas confinados tem sido útil para a descrição de diversos processos f́ısicos. Um apanhado cronológico desse tipo de sistema pode ser encontrado, por exemplo, na Ref. [13]. O artigo clássico de Fock (1928) [14] sobre confinamento através de um campo magnético uniforme é provavelmente o primeiro trabalho publicado sobre o assunto. Dez anos mais tarde, proposto por Sommerfeld e Welker [15], a descrição de um átomo de hidrogênio confinado no centro de uma gaiola esférica proporciona um modelo para vários estudos sobre o confinamento de átomos, entre os quais podemos destacar o importante trabalho de Schrödinger [16] que apresenta um modelo anaĺıticamente solúvel do átomo de hidrogênio confiando em um potencial tipo-cotangente. Nos anos 60, o desenvolvimento teórico de sistemas de muitos elétrons estimulou trabalhos considerando vários tipos de confinamento, onde podemos destacar o trabalho efetuado por Kestner e Sinanoğlu (1962) [17]. Em resumo, os autores projetam um sistema exatamente solúvel que descreve a interação de dois elétrons através de forças coulombianas (dois elétrons confinados através de um potencial de oscilados harmônico). O desenvolvimento de novas técnicas experimentais proporcionou estudos teóricos intensivos com respeito a sistemas quânticos confinados, e um bom texto a respeito desses estudos, efetuados até o ano de 1996, pode ser encontrado em um trabalho de revisão sob CAPÍTULO 3. SISTEMAS QUÂNTICOS CONFINADOS 12 autoria de Jaskólski [18]. Estudos mais recentes podem ser encontrados na Ref. [19]. O presente caṕıtulo é dividido em duas seções. A seção 3.1 trata posśıveis métodos para a inserção de confinamento em sistemas quânticos, enquanto a seção 3.2 é reservada para discutir as adaptações a serem feitas no formalismo supersimétrico para o tratamento de sistemas quânticos confinados. Para exemplificar, na subseção 3.2.1, um sistema quântico confinado sob influência do potencial de Lennard-Jones (12,6) é estudado através da associação da supersimetria com o Método Variacional [20]. 3.1 Métodos para Confinar Sistemas Quânticos Existem várias formas para inserir confinamento em sistemas quânticos [21], dentre as quais podemos destacar duas: impor condições de contorno sobre a função de onda que descreve o sistema ou inserir um termo confinante diretamente no potencial sob qual o sistema interage. Impor confinamento mediante a condições de contorno na função de onda, em poucas palavras, significa que a função de onda deve se anular sobre a superf́ıcie de confinamento, ou seja: Ψ(Rc) = 0, onde Rc corresponde aos vetores posição que indicam a superf́ıcie de confinamento. Essa condição assegura naturalmente que a função de onda é quadraticamente integrável, pois desde que ela seja cont́ınua, a integração é realizada apenas sobre uma região limitada no espaço. Em contrapartida, para confinar um sistema quântico diretamente pelo potencial, um potencial modelo que simule confinamento deve ser somado juntamente ao potencial de interação do sistema. Geralmente, os potenciais harmônicos e de barreira infinita são utilizados como potenciais modelo para confinar um dado sistema quântico, onde diferenças devem ser consideradas mediante a utilização de um ou outro. De maneira simplificada, considerar o potencial harmônico como confinante confere, além de posśıveis interações do sistema com a superf́ıcie de confinamento, uma dificuldade em se determinar valores exatos para o raio de confinamento. Entretanto, considerar o potencial de barreira infinita impossibilita interações do sistema com a superf́ıcie de CAPÍTULO 3. SISTEMAS QUÂNTICOS CONFINADOS 13 confinamento, além de proporcionar um valor bem determinado para o raio de confina- mento. Neste trabalho o confinamento é inserido diretamente no potencial de interação através de um potencial de barreira infinita, como poderá ser observado na seção a seguir. 3.2 Adaptação ao Formalismo Supersimétrico para a Descrição de Sistemas Quânticos Confinados Para incluir o confinamento algumas adaptações devem ser consideradas no formalismo descrito na seção 2.2. Uma adaptação, sugerida na Ref. [22], consiste em adicionar um termo no superpotencial referente ao sistema não-confinado. Esse termo é Constante R−r , sendo R o raio de confinamento. Esse termo adicional cria, no potencial original, uma barreira infinita quando r → R, o que é responsável pelo armadilhamento do sistema. Esse procedimento foi usado com sucesso para o confinamento dos potenciais de Coulomb [23] e de Hulthén [24]. É importante lembrar que os resultados para o caso não-confinado devem ser obtidos quando se toma o limite R→∞. O termo constante, no numerador do termo de armadilhamento, representa um parâmetro variacional extra ao problema. Porém, seguindo a proposta sugerida por Varshni [24], definamos o termo constante no numerador como sendo igual a unidade. Tal aproximação pode ser feita devido os resultados, considerando-se o termo constante como um parâmetro variacional extra ou como a unidade, não apresentarem grande discrepância. Assim, seguindo esse procedimento, o superpotencial para o sistema confinado, wconf (r), é escrito como sendo a soma entre o superpotencial sem confinamento, wnconf (r), e o termo de armadilhamento: wconf (r) = wnconf (r) + 1 R− r . (3.1) 3.2.1 Potencial de Lennard-Jones (12,6) Confinado O sistema quântico sob influência do potencial de Lennard-Jones (12,6) não-confinado, foi estudado na subseção 2.1.1. Logo, para confinar o sistema em uma cavidade esférica de raio R basta inserir o termo de barreira infinita no superpotencial referente ao sistema CAPÍTULO 3. SISTEMAS QUÂNTICOS CONFINADOS 14 não-confinado (2.18): wconf (x) = −B x6 + A− α x + 1 X − x , (3.2) onde A e B são constantes, α é o parâmetro variacional e X = R re . Novamente podemos obter um potencial aproximado através da Eq. (2.14): Vaprox(x) = A2 − 2Aα x + α(α− 1) x2 − 2AB x6 + 2B(α− 3) x7 + B2 x12 + 2 X − x ( A− α x − B x6 ) . (3.3) De acordo com a Eq. (2.13), utilizando o superpotencial para o sistema confinado, Eq. (3.2), a função teste obtida para o uso no Método Variacional é: φα(x) ∝ exp [ − B 5x5 − Ax+ α ln x+ ln(X − x) ] . (3.4) Os parâmetros A e B novamente são fixados comparando-se os termos propor- cionais a x−12 e x−6 do potencial original em relação ao potencial aproximado, Eqs. (2.17) e (3.3) respectivamente. Essa comparação fornece novamente A = B = √ λ. Diferentemente do sistema não-confinado, a expressão da energia a ser minimizada possui uma restrição em seus limites de integração. Tal restrição resulta do fato de o sistema em estudo ser confinado a uma certa região do espaço. Logo, a expressão a ser minimizada é: εconf = ∫X 0 φ∗α(x) ( − d2 dx2 + λ x12 − 2λ x6 + l(l+1) x2 ) φα(x) dx∫X 0 |φα(x)|2 dx . (3.5) CAPÍTULO 3. SISTEMAS QUÂNTICOS CONFINADOS 15 Autovalores de energia para λ = 100 e λ = 10000, para três valores distintos do número quântico do momento angular l, estão expostos nas Tabelas 3.1 e 3.2, respectiva- mente. Tabela 3.1: Resultados numéricos referentes ao autovalor de energia do potencial de Lennard-Jones (12,6) confinado para λ = 100. X = R re l α εconf λ 1 0 2,87 2,223775 1 1 2,88 2,248579 1 2 2,89 2,298181 2 0 4,81 -0,498685 2 1 4,86 -0,481834 2 2 4,96 -0,448239 4 0 3,99 -0,500327 4 1 4,03 -0,483545 4 2 4,14 -0,450090 6 0 3,83 -0,500442 6 1 3,88 -0,483666 6 2 3,98 -0,450224 10 0 3,73 -0,500499 10 1 3,78 -0,483726 10 2 3,88 -0,450292 CAPÍTULO 3. SISTEMAS QUÂNTICOS CONFINADOS 16 Analisando os resultados das Tabelas 3.1 e 3.2, é posśıvel notar que a energia cresce quando o raio de confinamento diminui. Isso pode ser entendido como sendo um resultado direto do efeito, cada vez mais importante, do confinamento. Para o valor de R = re(X = 1) e λ = 100, o confinamento distorce de tal forma o sistema que as autoener- gias adquirem valores positivos, ou seja, nesse caso o poço do potencial de Lennard-Jones tem um peso menor que o confinamento. Outro aspecto importante a ser ressaltado é a consistência f́ısica dos resultados, uma vez que os resultados obtidos se aproximam dos autovalores obtidos para o sistema sem confinamento (Tabela 2.1) a proporção que o raio de confinamento aumenta. Tabela 3.2: Resultados numéricos referentes ao autovalor de energia do potencial de Lennard-Jones (12,6) confinado para λ = 10000. X = R re l α εconf λ 1 0 3,05 -0,77926485 1 1 3,05 -0,77904763 1 2 3,06 -0,77861321 2 0 4,53 -0,94104478 2 1 4,53 -0,94084780 2 2 4,54 -0,94045384 4 0 3,85 -0,94104560 4 1 3,85 -0,94084863 4 2 3,86 -0,94045468 6 0 3,71 -0,94104568 6 1 3,71 -0,94084870 6 2 3,72 -0,94045475 10 0 3,62 -0,94104572 10 1 3,62 -0,94084874 10 2 3,63 -0,94045479 CAPÍTULO 3. SISTEMAS QUÂNTICOS CONFINADOS 17 A comparação gráfica entre os potenciais (aproximado e original), uma vez que existe uma semelhança entre as curvas, reforça a adequação teórica feita no superpotencial para confinar o sistema. Um exemplo desta comparação é mostrado na Fig. (3.1). Figura 3.1: Comparação gráfica entre os potenciais aproximado (3.3), representado através da curva preta, e original (2.17), representado através da curva vermelha. Os parâmetros utilizados nesse caso são λ = 100, A = B = 10, X = 2, l = 0 e α = 4, 81. Caṕıtulo 4 Sistemas Quânticos Moleculares A hipótese sobre a estrutura molecular, ou seja, de que as moléculas são formadas a partir de átomos interagindo através de forças interatômicas, foi um dos maiores avanços realizados pelos qúımicos no século XIX e ińıcio do século XX, e constitui até os dias atuais a base fundamental para a compreensão de sistemas moleculares [25, 26]. Entretanto, sem o desenvolvimento da teoria quântica não seria posśıvel responder questões relacionadas à estrutura da matéria. As aplicações mais importantes da teoria quântica foram com respeito as estruturas atômica e molecular (moléculas simples), desenvolvidas entre as décadas de 20 e 30 [27, 28]. Nesse contexto, os estudos mecânico-quânticos do átomo de hidrogênio e da molécula de hidrogênio ionizada foram determinantes para a compreensão posterior de átomos multieletrônicos e teorias modernas da estrutura molecular, respectivamente. Com o intuito de simular o śıtio ativo de protéınas através de um sistema molecular confinado será adotada como molécula de estudo o ı́on molecularH+ 2 , a qual será analisada em regime de confinamento. Entretanto, a molécula não-confinada também será abordada para familiarizar-mos com o problema. Mesmo o ı́on molecular H+ 2 sendo o mais simples existente na natureza, a obtenção do seu autovalor de energia é restrito apenas ao movimento eletrônico considerando-se a “Aproximação de Born-Oppenheimer”[3] e a “Teoria do Orbital Molecular”[5] (molécula não-confinada). Ao confinar a molécula, o formalismo supersimétrico aliado ao Método Variacional será utilizado para obter os autovalores de energia eletrônica e vibracional. O presente caṕıtulo é dividido em duas seções. A seção 4.1 apresenta o ı́on a ser estudado (H+ 2 ), assim como a descrição do problema sem confinamento (parte eletrônica). CAPÍTULO 4. SISTEMAS QUÂNTICOS MOLECULARES 19 O tratamento do ı́on molecular H+ 2 em regime confinado, partes eletrônica e nuclear, é reservada para a seção 4.2. 4.1 Íon Molecular H+ 2 O ı́on H+ 2 foi detectado pela primeira vez por J. J. Thomson em seus experimentos com tubos de raios catódicos [29]. A molécula em questão é composta por um elétron e dois prótons que interagem eletricamente entre si através de forças coulombianas. A Figura 4.1 representa o sistema de coordenadas molecular em questão. Figura 4.1: Representação espacial do ı́on molecular H+ 2 . Os núcleos são denotados por 1 e 2, o elétron é representado por e, as coordenadas eletrônicas são representadas por r e as coordenadas nucleares por R. Para determinar o espectro de energia de uma molécula é necessário definir seu operador Hamiltoniano, o qual é responsável pela dinâmica do sistema. No caso do ı́on molecular H+ 2 , em unidades atômicas, temos: Ĥ = −1 2 ∇2 e − 1 2m1 ∇2 1 − 1 2m2 ∇2 2 − 1 re1 − 1 re2 + 1 R21 , (4.1) sendo m1,2 a massa dos prótons 1 e 2, respectivamente. Vale ressaltar que no sistema de coordenada atômica a massa do elétron (me), a constante de Planck dividida por 2π (h̄) e a carga elementar assumem valores unitários. Algumas constantes f́ısicas e fatores deconversão relevantes ao trabalho estão listadas no Apêndice A. A equação de Schrödinger independente do tempo para a molécula H+ 2 é represen- CAPÍTULO 4. SISTEMAS QUÂNTICOS MOLECULARES 20 tada através da seguinte equação de autovalor: ĤΨe,n = EΨe,n, (4.2) onde Ψe,n = Ψe,n({r} , {R}) é a função de onda molecular, E corresponde a energia total da molécula, {r} representa o conjunto de coordenadas eletrônicas e {R} o conjunto de coordenadas nucleares. A equação de Schrödinger para o ı́on molecular H+ 2 (4.2), mesmo sendo para a molécula diatômica mais simples, não é anaĺıticamente solúvel. Logo, faz-se necessária uma aproximação que permita a separação entre a parte eletrônica (onde considera-se ambos os núcleos parados) e a parte nuclear (onde considera-se um potencial eletrônico para simular as vibrações nucleares). Isso pode ser feito levando-se em consideração o fato dos núcleos atômicos serem muito mais massivos em comparação ao elétron (um próton tem massa aproximadamente 1836 vezes superior a massa do elétron). Então, para uma pequena perturbação na configuração nuclear, é razoável pensarmos em uma reorganiza- ção instantânea da nuvem eletrônica. Esta situação é conhecida como “Aproximação de Born-Oppenheimer”[3] (vide Apêndice B). Utilizando-se a“Aproximação de Born-Oppenheimer”, a Eq. (4.2) pode ser reescrita em duas partes: ĤeΨe({r} ; {R}) = V ({R})Ψe({r} ; {R}) (4.3) ĤnΨn({R}) = EΨn({R}), (4.4) onde Ψe({r} ; {R}) corresponde a função de onda eletrônica, Ψn({R}) a função de onda nuclear e V ({R}) = V (R21) corresponde a energia eletrônica para uma determinada configuração nuclear, além do potencial efetivo ao qual os núcleos estão submetidos. A função de onda eletrônica é explicitamente dependente das coordenadas eletrôni- cas e parametricamente das coordenadas nucleares. Portanto, a Eq. (4.3) deve ser resolvida para alguns valores de distância internuclear obtendo-se um conjunto finito de energias eletrônicas e, a partir da interpolação destes valores, a função V (R21) é gerada. O operador Hamiltoniano eletrônico, referente a Eq. (4.3), é dado por: Ĥe = −1 2 ∇2 e − 1 re1 − 1 re2 + 1 R21 , (4.5) CAPÍTULO 4. SISTEMAS QUÂNTICOS MOLECULARES 21 enquanto a Eq. (4.4) descreve o movimento nuclear, cujo operador Hamiltoniano nuclear é: Ĥn = − 1 2m1 ∇2 1 − 1 2m2 ∇2 2 + V (R21). (4.6) O interese, a priori, é a análise da equação que descreve o movimento eletrônico, deixando o movimento nuclear para a próxima seção. Logo, o caminho usual para resolver problemas de estrutura eletrônica molecular é escrever a função de onda Ψe({r} ; {R}) como combinação linear dos orbitais atômicos referente aos átomos da molécula. Esse procedimento é conhecido por “Teoria do Orbital Molecular”[5] e seu desenvolvimento veio da suposição de que as moléculas são constitúıdas por átomos, sendo razoável pensar que a distribuição de carga eletrônica em uma molécula pode ser representada, em média, como a soma de distribuições eletrônicas atômicas. Utilizando-se a“Teoria do Orbital Molecular”, definiremos a função de onda (orbital molecular) como a combinação linear de dois orbitais hidrogenóides 1s (já normalizados), ou seja: Ψe({r} ; {R}) = N (ψ1 ± ψ2) , (4.7) sendo N a constante de normalização do orbital molecular e ψ1,2 = 1√ πa30 exp ( − re1,e2 a0 ) , onde a0 é o raio de Bohr (vide Apêndice A). O sinal +(−) indica orbital molecular ligante(anti-ligante). Neste trabalho é considerado somente o orbital ligante, por este proporcionar uma maior estabilidade à ligação qúımica e, conseqüentemente, a molécula. Logo, podemos desconsiderar o sinal negativo na Eq. (4.7) referente ao orbital anti-ligante. A expressão do valor esperado do Hamiltoniano, referente a parte eletrônica da molécula, é dada por: 〈Ĥe〉 = ∫ R3 Ψ∗e({r} ; {R})ĤeΨe({r} ; {R}) d3r∫ R3 |Ψe({r} ; {R})|2 d3r , (4.8) que após um pouco de manipulação algérica (vide Apêndice C) resulta em: 〈Ĥe〉 = EH1s + 1 R21 − j + k 1 + S , (4.9) onde EH1s corresponde ao autovalor de energia referente ao orbital hidrogenóide 1s, j = ∫ R3 ψ2 1 re2 d3r = ∫ R3 ψ2 2 re1 d3r, k = ∫ R3 ψ1ψ2 re1 d3r = ∫ R3 ψ2ψ1 re2 d3r e S = ∫ R3 ψ1ψ2 d 3r =∫ R3 ψ2ψ1 d 3r (integral de Overlap). CAPÍTULO 4. SISTEMAS QUÂNTICOS MOLECULARES 22 As integrais j, k e S podem ser calculadas analiticamente. Entretanto, para solucioná-las devemos adotar um sistema de coordenadas apropriado, isto é, que leve em consideração a simetria da molécula. O problema de um elétron em uma molécula diatômica possui simetria axial, conforme mostrado na Figura 4.2. A origem deste sistema de coordenadas está sob o eixo internuclear, entre os núcleos. O eixo de simetria axial z coincide com o eixo internuclear e ϕ é caracterizado como o ângulo de rotação do elétron em torno do eixo de simetria axial. Figura 4.2: Simetria axial do ı́on molecular H+ 2 . Considerando a simetria do problema, para resolvê-lo é preciso fazer uso do sistema de coordenadas eĺıptico, o qual é definido a partir das relações [5]: ζ = re1 + re2 R21 ; η = re1 − re2 R21 ;ϕ = ϕ, (4.10) sendo re1, re2, R21 as mesmas variáveis definidas na Figura 4.1 e ϕ o ângulo azimutal. O elemento de volume neste sistema de coordenadas é dado por: d3r = R3 21 8 ( ζ2 − η2 ) dζdηdϕ, (4.11) sendo os limites de integração para as variáveis são 1 ≤ ζ ≤ ∞, −1 ≤ η ≤ 1 e 0 ≤ ϕ ≤ 2π. A seguir estão as soluções anaĺıticas das integrais j, k e S (Vide Apêndice D), juntamente com seus valores numéricos em unidades atômicas: j = 1 R21 − ( 1 R21 + 1 a0 ) exp ( −2R21 a0 ) ≈ 0, 4730 (4.12) k = ( 1 a0 + R21 a20 ) exp ( −R21 a0 ) ≈ 0, 4067 (4.13) S = [ 1 + R21 a0 + 1 3 ( R21 a0 )2 ] exp ( −R21 a0 ) ≈ 0, 5872. (4.14) CAPÍTULO 4. SISTEMAS QUÂNTICOS MOLECULARES 23 onde R21 = 1, 9972 bohr ≈ 1, 06 Å para a molécula H+ 2 e a0 = 1 bohr. Finalmente, conhecendo-se os valores numéricos para as integrais j, k e S e sabendo que, para o estado fundamental, EH1s = −0, 5 hartree , é posśıvel obter aproximadamente o autovalor de energia eletrônica do estado fundamental através da Eq. 4.9, o qual é aproximadamente −0, 5536 hartree. 4.2 Íon Molecular H+ 2 Confinado 4.2.1 Movimento Eletrônico Como discutido na seção 4.1, a equação de onda referente a parte eletrônica, em unidades atômicas, é dada por: ( −1 2 ∇2 e − 1 re1 − 1 re2 + 1 R21 ) Ψe({r} ; {R}) = V (R21)Ψe({r} ; {R}). (4.15) O procedimento utilizado para o tratamento do movimento eletrônico confinado é análogo ao empregado na seção 4.1. Logo, coordenadas eĺıpticas deverão ser novamente utilizadas, onde o parâmetro confinante será o semi-eixo maior, Re (relacionado com a coordenada ξ), do sistema de coordenadas eĺıptico. Com respeito a função teste molecular, definida como combinação linear de orbitais atômicos, o formalismo da Mecânica Quântica Supersimétrica é utilizado. Assim, seguindo a proposta feita na seção 3.2, o superpotencial para o orbital hidrogenóide 1s confinado em uma cavidade esférica pode ser sugerido como: wH1s = − l r + 1 R− r + α, (4.16) onde α é definido como parâmetro variacional, R corresponde ao raio de confinamento e l é o número quântico do momento angular. Utilizando a Eq. (2.13), a função teste para o orbital atômico hidrogenóide no estado fundamental é (neste caso l = 0): ψα(r) ∝ (R− r) exp(−αr). (4.17) Utilizando-se a “Teoria do Orbital Molecular”, a função de onda molecular é escrita como a combinação linear de dois orbitais hidrogenóides 1s confinados: Ψe({r} ; {R}) = N [M1(R− re1) exp(−αre1) +M2(R− re2) exp(−αre2)] , (4.18) CAPÍTULO 4. SISTEMAS QUÂNTICOS MOLECULARES 24 onde M1,2 é a constante de normalização do orbital hidrogenóide 1, 2, e N é a constante de normalização do orbital molecular. Utilizando coordenadas eĺıpticas confocais (4.10), podemos reescrever a função de onda molecular (4.18) da seguinte forma: Ψe(ξ, η, ϕ; {R}) = N (Φ1 + Φ2) , (4.19) onde Φ1 = M1[Re− 1 2R21(ξ+η)] exp[− 1 2αR21(ξ+η)] e Φ2 = M2[Re− 1 2R21(ξ−η)] exp[− 1 2αR21(ξ−η)]. A equação de Schrödinger referente a dinâmica eletrônica, escrita em termos das coordenadas eĺıpticas confocais, pode ser separada em três equações diferenciais distintas, ou seja, uma para cada coordenada eĺıptica (ξ, η, ϕ) [30]. A equação onde é inserido o confinamento do sistema é referente a coordenada ξ. Logo, para que o confinamento seja caracterizado, a solução da equação diferencial em ξ deve anular-se em ξ = ξ0. Assim, ξ0 é definido como a razão entre o semi-eixo maior do sistema de coordenadas eĺıptico, Re, e a metade da distância entre os núcleos, D = R21 2 [30], ou seja: ξ0 = Re D . (4.20) Como feito na seção anterior, teremos que resolver novamente as integrais j, k, e S, além da integral de energia para o estado fundamental do orbital hidrogenóide 1s (EH1s) em uma cavidade eĺıptica. Entretanto, inserindo-se confinamento no sistema tais integrais não mais podem ser resolvidas anaĺıticamente, sendo necessário obtê-las numéricamente. Os resultados numéricos, referente ao autovalor de energia eletrônica da molécula (estado fundamental), foram obtidos através da Eq. (4.9). As integrais j, k e S, e a in- tegral correspondente ao autovalor de energia do orbital hidrogenóide 1s são calculadas numéricamente para valores distintos do parâmetro de confinamento Re. Assim, tais re- sultados são utilizados para traçar um gráfico relacionando energia eletrônica e parâmetro de confinamento (Figura 4.3). Analisando o gráfico podemos observar que o sistema é mais estável quando sub- metido a confinamento deRe ≈ 2, 5 Å, e não quando o sistema está livre, como imaginou-se inicialmente. CAPÍTULO 4. SISTEMAS QUÂNTICOS MOLECULARES 25 Figura 4.3: Energia Eletrônica versus Parâmetro de Confinamento (Re). 4.2.2 Movimento Nuclear Como obtido da seção 4.1, a equação de Schrödinger referente a parte nuclear, em unidades atômicas, é dada por: [ − 1 2m1 ∇2 1 − 1 2m2 ∇2 2 + V (R21) ] Ψn({R}) = EΨn({R}). (4.21) A Eq. (4.21) é uma equação diferencial parcial de segunda ordem, e sua solução anaĺıtica é uma tarefa árdua. Entretanto, podemos facilitar sua solução escolhendo um sistema de coordenadas apropriado como indicado na Figura 4.4. Tranformando o problema dos dois núcleos em um problema que consiste de um único corpo, tal problema pode ser tratado utilizando-se coordenadas relativas R21 = R2 −R1, e coordenadas do centro de massa do sistema RCM = m1R1+m2R2 m1+m2 . Utilizando as coordenadas listadas acima, podemos reescrever o operador Hamil- toniano nuclear, Eq. (4.21), como: Ĥn = − 1 2M ∇2 RCM − 1 2μ ∇2 R21 + V (R21), (4.22) CAPÍTULO 4. SISTEMAS QUÂNTICOS MOLECULARES 26 Figura 4.4: Sistema de coordenadas, relativas e do centro de massa, referente ao ı́on molecular H+ 2 . onde μ é a massa reduzida da molécula e M = m1 +m2. Reescrevendo a função de onda nuclear como Ψn({R}) = χ(RCM)ρ(R21), aplicando na Eq. (4.21) já com o novo operador Hamiltoniano (4.22) e utilizando o Método de Separação de Variáveis [31], obtemos duas novas equações. A primeira é: − 1 2M ∇2 RCM χ(RCM) = Etransχ(RCM), (4.23) onde Etrans refere-se a energia translacional da molécula. A segunda equação é dada por:[ − 1 2μ ∇2 R21 + V (R21) ] ρ(R21) = Eintρ(R21), (4.24) onde Eint corresponde as energias rotacional e vibracional da molécula. Vale ressaltar que a energia total E é a soma entre Etrans e Eint. A Eq. (4.23) é análoga a equação de uma part́ıcula livre de massa M ou uma part́ıcula na caixa quando o sistema está confinado, nesses casos as soluções são conheci- das [4, 5]. Como o movimento translacional não contém informações sobre propriedades intŕınsecas da molécula, sua análise não é relevante para o trabalho. Diferentemente da Eq. (4.23), a Eq. (4.24) deve ser resolvida e os resultados analisados. Como o potencial é esféricamente simétrico, convém utilizar coordenadas esféricas (R, θ, ϕ) para resolver o problema (Figura 4.5). Portanto, reescrevendo a Eq. (4.24) utilizando coordenadas esféricas têm-se [31]: − 1 2μ [ 1 R2 ∂ ∂R ( R2 ∂ ∂R ) − Λ2 R ] ρ(R, θ, ϕ) + V (R)ρ(R, θ, ϕ) = Eintρ(R, θ, ϕ), (4.25) CAPÍTULO 4. SISTEMAS QUÂNTICOS MOLECULARES 27 Figura 4.5: Sistema de coordenadas esféricas relativas ao centro de massa, referente ao ı́on molecular H+ 2 . onde Λ2 = − 1 sin θ ∂ ∂θ ( sin θ ∂ ∂θ ) − 1 sin2 θ ∂2 ∂ϕ2 . A Eq. (4.25) também pode ser separada, utilizando-se o Método de Separação de Variáveis, em duas equações diferenciais distintas escrevendo ρ(R, θ, ϕ) = Γ(R)Y (θ, ϕ). Logo, obtemos: − 1 2μ [ 1 R2 d dR ( R2 d dR ) − l(l + 1) R2 ] Γ(R) + V (R)Γ(R) = EintΓ(R). (4.26) [ 1 sin θ ∂ ∂θ ( sin θ ∂ ∂θ ) + 1 sin2 θ ∂2 ∂ϕ2 ] Y (θ, ϕ) + l(l + 1)Y (θ, ϕ) = 0, (4.27) onde l é o número quântico do momento angular e Y (θ, ϕ) são os harmônicos esféricos. A equação angular não será analisada, pois independe do potencial de força central utilizado e sua solução é sempre a mesma [4, 5]. A energia rotacional, associada aos harmônicos esféricos, pode ser determinada considerando-se os núcleos à uma distância de equiĺıbrio (Req) como um rotor ŕıgido. A energia rotacional da molécula nesse caso é expressa como [4, 5]: Erot = 1 2μ l(l + 1) R2 eq , (4.28) onde o v́ınculo existente na energia é Eint = Erot +Evib, sendo Evib a energia vibracional. Substituindo o v́ınculo na Eq. (4.26), temos a equação diferencial referente ao movimento vibracional: − 1 2μ 1 R2 d dR ( R2 d dR ) Γ(R) + V (R)Γ(R) = EvibΓ(R). (4.29) CAPÍTULO 4. SISTEMAS QUÂNTICOS MOLECULARES 28 Fazendo a mudança de variável Γ(R) = Ω(R) R na Eq. (4.29), podemos reescrevê-la como: − 1 2μ d2Ω(R) dR2 + V (R)Ω(R) = EvibΩ(R). (4.30) Para determinar as autofunções e as autoenergias referentes a Eq. (4.30), é necessário primeiramente definir a função V (R) que representa o potencial eletrônico no qual os nú- cleos vibram. O potencial usado para esse fim é o potencial de Morse [28], que tem sido usado com sucesso para descrever o movimento vibracional em moléculas diatômicas: V (R) = De {exp[−2a(R−Re)]− 2 exp[−a(R−Re)]} , (4.31) onde De é a energia de dissociação, Re a distância internuclear de equiĺıbrio e a uma constante relacionada com os parâmetros moleculares. Substituindo a função de Morse podemos reescrever a Eq. (4.30) em termos de uma nova variável x: −d 2Ω(x) dx2 + λ2 {exp[−2(x− xe)]− 2 exp[−(x− xe)]}Ω(x) = εvibΩ(x), (4.32) onde x = aR e as constantes são xe = aRe, λ 2 = 2μDe a2 e εvib = 2μEvib a2 . A Eq. (4.32) pode ser analisada usando o formalismo apresentado no caṕıtulo 3 (seção 3.2) a fim de se obter a energia vibracional do sistema. Para obter uma função teste para o problema, utilizemos o superpotencial proposto por Drigo Filho e Ricotta [8] para o sistema livre: wnconf (x) = −λ exp[−(x− xe)]− 1 x + α, (4.33) onde α é o parâmetro variacional. Utilizando o Ansatz proposto pela Eq. (3.1), obtemos o superpotencial para o sistema confinado em uma cavidade esférica: wconf (x) = −λ exp[−(x− xe)]− 1 x + α + 1 X − x , (4.34) onde X = aRc, sendo Rc o raio de confinamento. Logo, utilizando a Eq. (2.13), a função teste obtida através do superpotencial para o sistema confinado é: Ωα(x) ∝ x(X − x) exp {−λ exp[−(x− xe)]− α} . (4.35) A energia vibracional é obtida através da minimização do valor experado da energia com relação ao parâmetro variacional α de acordo com o Método Variacional. Assim, a CAPÍTULO 4. SISTEMAS QUÂNTICOS MOLECULARES 29 equação a ser minimizada é: εvib = ∫X 0 Ωα(x) { − d2 dx2 + λ2 {exp[−2(x− xe)]− 2 exp[−(x− xe)]} } Ωα(x) dx∫X 0 Ω2 α(x) dx . (4.36) Analisando os resultados obtidos através da solução numérica da Eq. (4.36) para valores distintos do raio de confinamento X, o comportamento confinante é observado, ou seja, o autovalor de energia do sistema aumenta a medida que o raio de confinamento diminui. Tal comportamento pode ser observado no gráfico da Figura 4.6. Figura 4.6: Energia Vibracional versus Raio de Confinamento. Os parâmetros referentes a molécula H+ 2 são De = 2, 79 eV , a = 1, 29 1/Å e Re = 1, 06 Å. Outra análise importante a ser feita é com respeito a influência do confinamento na distância internuclear. Para tanto, é preciso calcular numéricamente o valor esperado da distância entre os núcleos considerando-se valores distintos do raio de confinamento. Logo, a equação a ser resolvida é: 〈x〉 = ∫X 0 xΩ2 α(x) dx∫X 0 Ω2 α(x) dx . (4.37) Utilizando-se os resultados numéricos obtidos através da solução da Eq. (4.37) para diversos valores do raio de confinamento, podemos relacionar a distância internuclear e o raio de confinamento. A relação existente entre ambos pode ser observado no gráfico da Figura 4.7. CAPÍTULO 4. SISTEMAS QUÂNTICOS MOLECULARES 30 Figura 4.7: Distância Internuclear versus Raio de Confinamento. Os parâmetros referentes a molécula H+ 2 são De = 2, 79 eV , a = 1, 29 1/Å e Re = 1, 06 Å. Caṕıtulo 5 Conclusão Autovalores de energia para o potencial de Lennard-Jones (12,6) e para o ı́on molecu- lar H+ 2 foram determinados para o estado fundamental. Ambos os sistemas (potencial de Lennard-Jones e ı́on molecular H+ 2 ) também foram confinados em cavidades cujo a geometria variou entre esférica e eĺıptica, também proporcionando resultados referentes aos autovalores de energia. Considerando-se o confinamento, algumas propriedades ser observadas. Especificamente para o potencial de Lennard-Jones (12,6), os autovalores de energia crescem a medida que o raio de confinamento diminui e tendem a se igualar aos autovalores obtidos para o sistema não-confinado [9] no limite em que o raio de con- finamento assume valores grandes (Tabelas 3.1 e 3.2). Parte desses resultados podem ser encontrados na Ref. [20]. Para o ı́on molecular H+ 2 , o espectro eletrônico indica a existência de uma região de maior estabilidade indenpendente do espectro vibracional. Entende-se por estabilidade quando o sistema possui o menor valor de energia, isto pode ser percebido na região onde o raio de confinamento proporciona uma energia menor para o sistema. A Figura 4.3 indica uma maior estabilidade da parte eletrônica da molécula para um parâmetro de confinamento da ordem de Re ≈ 2, 5 Å. O Método Variacional aliado à Mecânica Quântica Supersimétrica se mostrou útil para o estudo de sistemas que não possuem solução anaĺıtica/exata através da equação de Schrödinger, como são os casos do potencial de Lennard-Jones (12,6) e do ı́on molecular H+ 2 . A superálgebra forneceu elementos para determinar funções de onda adequadas para ser utilizada no Método Variacional. Assumir o orbital molecular como a combinação linear de dois orbitais atômicos hidrogenóides 1s [5] permitiu a obtenção do autovalor de energia eletrônica do estado CAPÍTULO 5. CONCLUSÃO 32 fundamental do ı́on molecular H+ 2 . Para a molécula não-confinada, o valor determinado foi de aproximadamente −0, 5536 hartree. O erro obtido neste caso é aproximadamente 8,2% em relação aos valores encontrados numéricamente por simulação de monte carlo [32], o qual é de −0, 602634 hartree. Por outro lado, utilizando-se o Método Variacional com a função de onda inspirada pela superálgebra, o autovalor de energia eletrônica referente a molécula confinada se aproxima do valor obtido anaĺıticamente para o caso sem confinamento, ou seja, considerando-se parâmetros de confinamento grandes (tipicamente maiores que 8 Å). Neste caso, o valor encontrado foi −0, 5628 hartree, ou seja, um valor mais consistente com as Refs. [32]. Em sistemas biológicos, o śıtio ativo em uma protéına é semelhante a uma cavidade, isolando o composto em seu interior do meio circundante. De acordo com a Ref. [33], o volume médio das cavidades, que constituem śıtios ativos em protéınas, varia entre 100 Å3 - 1000 Å3. Assumido-se uma geometria esférica para a cavidade encontra-se um raio mı́nimo de aproximadamente de 2, 88 Å, caso em que a cavidade tenha volume igual a 100 Å3. Assim, devido apresentarem a mesma ordem de grandeza em seus parâmetros de confinamento (lembremos que o ı́on molecular H+ 2 possui maior estabilidade em Re ≈ 2, 5 Å), isso pode ser um indicativo de que o śıtio ativo, nessas condições, confere uma maior estabilidade a uma molécula diatômica quando esta se encontra confinada em seu interior. O presente trabalho abre perspectivas para vários estudos. Uma dessas perspec- tivas é a análise da molécula de oxigênio confinada buscando compreender melhor os mecanismos ligados ao śıtio ativos em protéınas. Tal molécula se mostra adequada de- vido sua importância biológica, uma vez que esta é caracterizada como um composto t́ıpico transportado pela hemoglobina. Outra possibilidade de estudo envolve a variação de geometria da cavidade confinante, que é um fator importante no mecanismo de confi- namento. Referências Bibliográficas [1] S. Y. Ren, Solid State Comn. 102, 479 (1997). [2] S. Mateos-Cortés, E. Ley-Koo and S. A. Cruz, Int. J. Quantum Chem. 86, 376 (2002). [3] M. Born and R. Oppenheimer, Ann. Phys. 84, 457 (1927). [4] L. I. Schiff, Quantum Mechanics (McGraw-Hill, New York, 1968), Third Edition. [5] I. N. Levine, Quantum Chemistry (Prentice Hall, New Jersey, 1991). [6] F. Cooper, A. Khare and U. Sukhatme, Supersymmetry in Quantum Mecanics (World Scientific, Singapore, 2001). [7] G. Junker, Supersymmetric Methods in Quantum and Statistical Physics (Springer, Berlin, 1996). [8] E. Drigo Filho and R. M. Ricotta, Phys. Lett. A269, 269 (2000). [9] G. R. P. Borges and E. 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Tabela A.1: Algumas constantes f́ısicas importantes. Constante Śımbolo Valor Numérico (SI) Carga Elementar e 1, 602177· 10−19 C Permissividade do Vácuo ε0 8, 8541878· 10−12 C2 N ·m2 Massa de Repouso do Elétron me 9, 10939· 10−31 kg Massa de Repouso do Próton mp 1, 672623· 10−27 kg Constante de Planck h 6, 62608· 10−34 J · s Raio de Bohr a0 5, 291772· 10−11 m Tabela A.2: Algumas conversões de comprimento e energia. Comprimento Energia 1 bohr 1 hartree 5, 291772· 10−11 m 4, 35975· 10−18 J 0, 5291772 Å 27, 2114 eV Apêndice B Aproximação de Born-Oppenheimer Resolver o problema molecular consiste em encontrar a solução da equação de Schrödinger independente do tempo que representa tal problema: ĤΨe,n({r} , {R}) = EΨe,n({r} , {R}), (B.1) onde a função de onda Ψe,n({r} , {R}) depende explicitamente de todas as coordenadadas eletrônicas {r} e nucleares {R}, E corresponde a energia total da molécula e o operador Hamiltoniano Ĥ está definido pela Eq. (4.1). Entretanto, como já foi discutido no caṕıtulo 4, resolver a Eq. (B.1) é praticamente imposśıvel sem o uso de alguma aproximação. Assim, como o elétron é muito menos massivo em comparação com os núcleos, ele pode se mover mais rapidamente. Então, para uma pequena perturbação na configuração nuclear é razoável assumir em uma reor- ganização instantânea da nuvem eletrônica. Essa é a idéia central da “Aproximação de Born-Oppenheimer”[3]. Logo, podemos escrever a função de onda total da molécula (B.1) na seguinte forma: Ψe,n({r} , {R}) = Ψe({r} ; {R})Ψn({R}), (B.2) onde Ψn({R}) descreve a dinâmica dos núcleos e Ψe({r} ; {R}) representa a função de onda eletrônica, a qual depende expĺıcitamente das coordenadas eletrônicas {r} e para- metricamente das coordenadas nucleares {R}. Substituindo-se a Eq. (B.2) e o operador Hamiltoniano da molécula (4.1) na Eq. (B.1), temos:( −1 2 ∇2 e − 1 2m1 ∇2 1 − 1 2m2 ∇2 2 − 1 re1 − 1 re2 + 1 R21 ) Ψe({r} ; {R})Ψn({R}) = EΨe({r} ; {R})Ψn({R}), (B.3) APÊNDICE B. APROXIMAÇÃO DE BORN-OPPENHEIMER 37 onde ∇2 1,2[Ψe({r} ; {R})Ψn({R})] = Ψe∇2 1,2Ψn + 2∇1,2Ψe∇1,2Ψn +Ψn∇2 1,2Ψe é uma pro- priedade encontrada em diversos livros texto de f́ısica matemática, por exemplo a Ref. [31] (para não deixar o texto carregado, a partir de agora adotaremos Ψe({r} ; {R}) = Ψe e Ψn({R}) = Ψn). O termo∇1,2Ψe∇1,2Ψn é responsável pelo acoplamento entre as dinâmicas eletrônica e nuclear, sendo justamente onde se encontra a dificuldade para a solução da Eq. (B.3). Entretanto, como já discutimos no ı́nicio deste apêndice, a função de onda eletrônica se ajusta quasi-estaticamente ao movimento nuclear, sendo também a razão pela qual a “Aproximação de Born-Oppenheimer” também é conhecida como “Aproximação Adia- bática”. Portanto, é razoável considerar ∇1,2Ψe ≈ 0 e ∇2 1,2Ψe ≈ 0 e, conseqüêntemente obter: ∇2 1,2[Ψe({r} ; {R})Ψn({R})] = Ψe∇2 1,2Ψn. (B.4) Substituindo a Eq. (B.4) em (B.3), temos: − 1 2m1 Ψe∇2 1Ψn − 1 2m2 Ψe∇2 2Ψn + ( −1 2 ∇2 e − 1 re1 − 1 re2 + 1 R21 ) ΨeΨn = EΨeΨn. (B.5) Dividindo a Eq. (B.5) por Ψe,n({r} , {R}), temos: − 1 2m1 ∇2 1Ψn Ψn − 1 2m2 ∇2 2Ψn Ψn − 1 2 ∇2 eΨe Ψe − 1 re1 − 1 re2 + 1 R21 = E. (B.6) Reagrupando a Eq. (B.6), temos: − 1 2m1 ∇2 1Ψn Ψn − 1 2m2 ∇2 2Ψn Ψn − E = 1 2 ∇2 eΨe Ψe + 1 re1 + 1 re2 − 1 R21 . (B.7) Quando fixamos o valor das coordenadas nucleares ambos os lados da Eq. (B.7) tornam-se iguais a uma constante em termos da coordenada relativa ao valor fixado, a qual é −V (R21). Assim, a Eq. (B.7) pode ser separada em duas: 1 2 ∇2 eΨe Ψe + 1 re1 + 1 re2 − 1 R21 = −V (R21). (B.8) − 1 2m1 ∇2 1Ψn Ψn − 1 2m2 ∇2 2Ψn Ψn − E = −V (R21) (B.9) A Eq. (B.8) pode ser reescrita como: ( −1 2 ∇2 e − 1 re1 − 1 re2 + 1 R21 ) Ψe = V (R21)Ψe, (B.10) sendo que Ĥe = −1 2 ∇2 e − 1 re1 − 1 re2 + 1 R21 é o operador Hamiltoniano eletrônico. APÊNDICE B. APROXIMAÇÃO DE BORN-OPPENHEIMER 38 A Eq. (B.10) corresponde a equação de Schrödinger eletrônica, onde o operador Hamiltoniano eletrônico Ĥe descreve o movimento do elétron sob um campo médio gerado pelos núcleos fixos. V (R21) corresponde a energia eletrônica da molécula referente a uma configuração nuclear fixa. Como já foi mencionado anteriormente, a função de onda eletrônica Ψe depende explicitamente das coordenadas eletrônica e parametricamente das coordenadas nucleares. Isto significa que a Eq. (B.6) deve ser primeiramente resolvida para vários valores das coordenandas nucleares obtendo-se um conjunto finito de energias eletrônicas e, a partir da interpolação destes resultados, a função V (R21) é constrúıda. Prosseguindo, a Eq. (B.9) pode ser reescrita como: { − 1 2m1 ∇2 1 − 1 2m2 ∇2 2 + V (R21) } Ψn = EΨn, (B.11) sendo que Ĥn = − 1 2m1 ∇2 1 − 1 2m2 ∇2 2 + V (R21) é o operador Hamiltoniano nuclear. A Eq. (B.11) representa a equação de Schrödinger nuclear. Sua solução descreve as vibrações, rotações e translações moleculares. O operador Hamiltoniano nuclear Ĥn descreve o movimento dos núcleos sob um potencial efetivo V (R21). Apêndice C Energia Eletrônica para o Íon Molecular H+ 2 O valor esperado do operador Hamiltoniano eletrônico referente ao ı́on molecular H+ 2 é expresso por: 〈Ĥe〉 = ∫ R3 Ψ∗e({r} ; {R})ĤeΨe({r} ; {R}) d3r∫ R3 |Ψe({r} ; {R})|2 d3r , (C.1) onde a função de onda eletrônica, definida de acordo com a“Teoria do Orbital Molecular”[5], é Ψe({r} ; {R}) = N (ψ1 ± ψ2) e o operador Hamiltoniano eletrônico definido, em unidades atômicas, como Ĥe = −1 2 ∇2 e − 1 re1 − 1 re2 + 1 R21 . Inicialmente, calculemos a integral referente a normalização da função de onda eletrônica, a qual se encontra no denominador da Eq. (C.1) e deve ser igual a unidade: ∫ R3 |Ψe({r} ; {R})|2 d3r = N2 (∫ R3 ψ2 1 d 3r + ∫ R3 ψ1ψ2 d 3r + ∫ R3 ψ2ψ1 d 3r + ∫ R3 ψ2 2 d 3r ) = 1, como os orbitais atômicos ψ1 e ψ2 já estão normalizados, as integrais ∫ R3 ψ2 1 d 3r e ∫ R3 ψ2 2 d 3r possuem valores unitários, e devido a simetria do sistema, as integrais ∫ R3 ψ1ψ2 d 3r e∫ R3 ψ2ψ1 d 3r são iguais e são denominadas integrais de Overlap, ou seja, medem o quanto uma função está sobreposta a outra. Portanto, após um pouco de manipulação algébrica, a constante de normalização do orbital molecular é: N = 1√ 2 + 2S , (C.2) onde S representa a integral de Overlap. Desenvolvendo a integração referente ao numerador da Eq. (C.1), temos: APÊNDICE C. ENERGIA ELETRÔNICA PARA O ÍON MOLECULAR H+ 2 40 ∫ R3 Ψ∗e({r} ; {R})ĤeΨe({r} ; {R}) d3r =∫ R3 N (ψ1 ± ψ2) [ −1 2 ∇2 e − 1 re1 − 1 re2 + 1 R21 ] N (ψ1 ± ψ2) d 3r, onde podemos separar a integração resultante em duas considerando o termo de repulsão nuclear separadamente. Logo, temos: ∫ R3 N (ψ1 ± ψ2) [ −1 2 ∇2 e − 1 re1 − 1 re2 + 1 R21 ] N (ψ1 ± ψ2) d 3r =∫ R3 N (ψ1 ± ψ2) [ −1 2 ∇2 e − 1 re1 − 1 re2 ] N (ψ1 ± ψ2) d 3r + ∫ R3 N2(ψ1±ψ2) 2 R21 d3r. A integração referente a repulsão nuclear (∫ R3 N2(ψ1±ψ2) 2 R21 d3r ) , devido o termo 1 R21 ser constante para uma configuração nuclear fixa, resulta na integral de normalização da função de onda eletrônica cujo valor é 1. Assim, podemos observar que o termo de repulsão nuclear corresponde nada mais que um deslocamento no autovalor de energia eletrônica da molécula. Desenvolvendo o termo restante efetuando operações distributivas, temos: ∫ R3 N (ψ1 ± ψ2) [ −1 2 ∇2 e − 1 re1 − 1 re2 ] N (ψ1 ± ψ2) d 3r = N2 {∫ R3 ψ1 [ −1 2 ∇2 e − 1 re1 ] ψ1 d 3r + ∫ R3 ψ2 [ −1 2 ∇2 e − 1 re2 ] ψ2 d 3r } + N2 {∫ R3 ψ1 [ −1 2 ∇2 e − 1 re2 ] ψ2 d 3r + ∫ R3 ψ2 [ −1 2 ∇2 e − 1 re1 ] ψ1 d 3r } − N2 ∫ R3 ψ2 1 re2 d3r −N2 ∫ R3 ψ2 2 re1 d3r −N2 ∫ R3 ψ1ψ2 re1 d3r −N2 ∫ R3 ψ2ψ1 re2 d3r. Algumas considerações devem ser feitas com relação as integrais obtidas através da operação distributiva efetuada acima. As integrais ∫ R3 ψ1,2 [ −1 2 ∇2 e − 1 re1,e2 ] ψ1,2 d 3r correspondem ao valor esperado da energia do orbital 1s do átomo de hidrogênio, e por- tanto, as representaremos por E1s. Entretanto, a integral ∫ R3 ψ1 [ −1 2 ∇2 e − 1 re2 ] ψ2 d 3r, de acordo com a equação de autovalor ĤH1sψ2 = E1sψ2, pode ser escrita como ∫ R3 ψ1E1sψ2 d 3r = E1s ∫ R3 ψ1ψ2 d 3r = E1sS, onde S é a integral de Overlap. Analogamente, a inte- gral ∫ R3 ψ2 [ −1 2 ∇2 e − 1 re1 ] ψ1 d 3r pode ser escrita como E1sS. As integrais ∫ R3 ψ2 1 re2 d3r e∫ R3 ψ2 2 re1 d3r são consideradas iguais devido a simetria do problema e serão denominadas integrais j. E, pela mesma razão, as integrais ∫ R3 ψ1ψ2 re1 d3r e ∫ R3 ψ2ψ1 re2 d3r são consideradas iguais e serão denominadas por integrais k. Finalmente, após todas as considerações feitas, a integral do numerador é: ∫ R3 Ψ ∗ e({r} ; {R})ĤeΨe({r} ; {R}) d3r = N2 [2E1s + 2E1sS − 2(j + k)] + 1 R21 , (C.3) APÊNDICE C. ENERGIA ELETRÔNICA PARA O ÍON MOLECULAR H+ 2 41 onde, substituindo a Eq. (C.2), finalmente obtemos a expressão referente ao valor esperado do operador Hamiltoniano eletrônico (autoenergia eletrônica) para o ı́on molecular H+ 2 : 〈Ĥe〉 = E1s + 1 R21 − j + k 1 + S . (C.4) Apêndice D Cálculo das Integrais j, k e S O objetivo deste apêndice é resolver analiticamente, para o ı́on molecular H+ 2 , as integrais j, k e S. Como já foi discutido no capitulo 4, a função de onda eletrônica foi definida como combinação linear dos orbitais atômicos da molécula, os quais foram definidos da seguinte forma: ψ1,2 = 1√ πa30 exp ( −re1,e2 a0 ) , (D.1) sendo os ı́ndices 1 e 2 referentes aos orbitais atômicos dos núcleos 1 e 2, respectivamente. Vale ressaltar que a0 corresponde ao raio de Bohr (Vide seu valor numérico no apêndice A). O sistema de coordenadas a ser utilizado devido a geometria da molécula é o eĺıptico confocal, o qual é definido a partir das relações contidas na Eq. (4.10). Logo, podemos resolver as integrais j, k e S sem maiores problemas. A primeira integral a ser resolvida será a de Overlap, sendo definida como: S = ∫ R3 ψ1ψ2 d 3r = 1 πa30 ∫ R3 exp [ −(re1 + re2) a0 ] d3r. (D.2) Reescrevendo a integral de Overlap (D.2) em função das coordenadas eĺıpticas confocais, temos: S = 1 πa30 ∫ 2π 0 ∫ 1 −1 ∫ ∞ 1 exp ( −R21ζ a0 ) R3 21 8 ( ζ2 − η2 ) dζdηdϕ. (D.3) A integral em ϕ vale 2π, e as duas restantes são dependentes entre si. Logo, resolvamos primeiro a integral em η (integração de polinômio) e posteriormente a integral em ζ (integração por partes): S = R3 21 4a30 ∫ ∞ 1 exp ( −R21ζ a0 ) [∫ 1 −1 ( ζ2 − η2 ) dη ] dζ. (D.4) APÊNDICE D. CÁLCULO DAS INTEGRAIS J, K E S 43 A solução da integral em η é: ∫ 1 −1 ( ζ2 − η2 ) dη = 2ζ2 − 2 3 . (D.5) Assim, a integral em ζ é: ∫ ∞ 1 exp ( −R21ζ a0 ) ( 2ζ2 − 2 3 ) dζ, (D.6) cujo a solução, integrando por partes, é: ∫ ∞ 1 exp ( −R21ζ a0 ) ( 2ζ2 − 2 3 ) dζ = [ 2a30 ( 1 a20R21 + 2 a0R2 21 + 2 R3 21 ) − 2 3 a0 R21 ] exp ( −R21 a0 ) . (D.7) Substituindo a Eq. D.7 na Eq. D.4 temos o valor anaĺıtico da integral de Overlap, o qual é: S = [ 1 + R21 a0 + 1 3 ( R21 a0 )2 ] exp ( −R21 a0 ) . (D.8) Para resolver a integral k o procedimento é análogo ao utilizado na solução da integral de Overlap. Logo, antes de resolvê-la, definamos a integral k: k = ∫ R3 ψ1ψ2 re1 d3r = 1 πa30 ∫ R3 exp [ − (re1+re2) a0 ] re1 d3r. (D.9) Reescrevendo a integral k (D.9) em função das coordenadas eĺıpticas confocais, temos: k = 1 πa30 ∫ 2π 0 ∫ 1 −1 ∫ ∞ 1 exp ( −R21ζ a0 ) R21 2 (ζ + η) R3 21 8 ( ζ2 − η2 ) dζdηdϕ, (D.10) onde a coordenada eletrônica relativa ao núcleo 1 é escrita, em termos das coordenadas eĺıpticas confocais, como re1 = R21 2 (ζ + η). Analogamente a resolução da integral de Overlap, a integral em ϕ vale 2π e as duas restantes são dependentes entre si. Logo, resolvamos primeiro a integral em η (integração de polinômio) e posteriormente a integral em ζ (integração por partes): k = R2 21 2a30 ∫ ∞ 1 exp ( −R21ζ a0 ) [∫ 1 −1 (ζ − η) dη ] dζ. (D.11) A solução da integral em η é: ∫ 1 −1 (ζ − η) dη = 2ζ. (D.12) Assim, a integral em ζ é: ∫ ∞ 1 exp ( −R21ζ a0 ) 2ζdζ, (D.13) APÊNDICE D. CÁLCULO DAS INTEGRAIS J, K E S 44 cujo a solução, integrando por partes, é: ∫ ∞ 1 exp ( −R21ζ a0 ) 2ζdζ = [ 2 ( a0 R21 )2 + 2a0 R21 ] exp ( −R21 a0 ) . (D.14) Substituindo a Eq. D.14 na Eq. D.11 temos o valor anaĺıtico da integral k, o qual é: k = ( 1 a0 + R21 a20 ) exp ( −R21 a0 ) . (D.15) Por fim resolvamos a integral j, a qual é definida como: j = ∫ R3 ψ2 1 re2 d3r = 1 πa30 ∫ R3 exp [ −2 re1 a0 ] re2 d3r. (D.16) Para reescrever a integral j (D.16) em coordenadas eĺıpticas confocais temos que definir a coordenadas eletrônica relativa ao núcleo 2 em termos das coordenadas eĺıpticas confocais, a qual é re2 = R21 2 (ζ − η). Portanto: j = 1 πa30 ∫ 2π 0 ∫ 1 −1 ∫ ∞ 1 exp [ −R21(ζ+η) a0 ] R21 2 (ζ − η) R3 21 8 ( ζ2 − η2 ) dζdηdϕ. (D.17) Analogamente as duas integrais resolvidas anteriormente (S e j), a integral em ϕ vale 2π e as duas restantes são dependentes entre si. Logo, resolvamos primeiro a integral em ζ e posteriormente a integral em η (ambas utilizando integração por partes): j = R2 21 2a30 ∫ 1 −1 exp ( −R21η a0 ) [∫ ∞ 1 exp ( −R21ζ a0 ) (ζ + η) dζ ] dη. (D.18) A solução da integral em ζ é: ∫ ∞ 1 exp ( −R21ζ a0 ) (ζ + η) dζ = [ a0 R21 (η + 1) + ( a0 R21 )2 ] exp ( −R21 a0 ) . (D.19) Assim, a integral em η é: ∫ 1 −1 exp ( −R21η a0 ) [ a0 R21 (η + 1) + ( a0 R21 )2 ] exp ( −R21 a0 ) dη, (D.20) cujo a solução é: ∫ 1 −1 exp ( −R21η a0 ) [ a0 R21 (η + 1) + ( a0 R21 )2] exp ( −R21 a0 ) dη = 2 ( a0 R21 )2 [ a0 R21 − ( 1 + a0 R21 ) exp ( −2R21 a0 )] . (D.21) Substituindo a Eq. D.21 na Eq. D.18 temos o valor anaĺıtico da integral j, o qual é: j = 1 R21 − ( 1 R21 + 1 a0 ) exp ( −2R21 a0 ) . (D.22) FOLHA DE ROSTO COMISSÃO EXAMINADORA DEDICATÓRIA AGRADECIMENTOS RESUMO ABSTRACT SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS, TABELAS LISTA DE TABELAS 1 INTRODUÇÃO 2. MÉTODOS TEÓRICOS 2.1 Método Variacional 2.2 Mecânica quântica supersimétrica: 3. SISTEMAS QUÂNTICOS CONFINADOS 3.1 Métodos para Confinar Sistemas Quânticos 3.2 Adaptação ao Formalismo Supersimétrico para a Descrição de Sistemas Quânticos Confinados 4. SISTEMAS QUÂNTICOS MOLECULARES 4.1 Íon Molecular H+2 4.2 Íon Molecular H+2 Confinado 5. CONCLUSÃO REFERÊNCIAS E BIBLIOGRAFIA APÊNDICES