Juan Sambudio de Paula
Relatório de Estágio Curricular Obrigatório
Botucatu – São Paulo
2022
Instituto de Biociências de Botucatu
Juan Sambudio de Paula
Relatório de Estágio Curricular Obrigatório
Relatório de Estágio Curricular Obrigatório, como
parte do Trabalho de Conclusão de Curso de
Graduação apresentado ao Instituto de
Biociências de Botucatu, da Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”,
campus de Botucatu, para obtenção do grau de
Bacharel em Ciências Biológicas.
Prof. Dr. Percilia Cardoso Giaquinto
Botucatu – São Paulo
2022
Sistema de geração automática de fichas catalográficas da Unesp.
Biblioteca do Instituto de Biociências, Botucatu. Dados fornecidos pelo
autor(a).
Essa ficha não pode ser modificada.
P324r
Paula, Juan Sambudio de
Relatório de estágio curricular obrigatório / Juan
Sambudio de Paula. -- Botucatu, 2022
57 p. : fotos
Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado -
Ciências Biológicas) - Universidade Estadual
Paulista (Unesp), Instituto de Biociências, Botucatu
Orientadora: Percilia Cardoso Giaquinto
1. Vida selvagem Conservação. 2. Zoologia. 3.
Animais Comportamento. I. Título.
ENCAMINHAMENTO
Encaminhamos o presente Relatório de Estágio Curricular Obrigatório para
que a Comissão de Estágios Curriculares tome as providências cabíveis.
Juan Sambudio de Paula
Prof. Dr. Percilia Cardoso Giaquinto
Botucatu – São Paulo
Março / 2022
RESUMO
O estágio curricular obrigatório é uma etapa de extrema importância para o
aprimoramento dos conhecimentos teóricos e práticos adquiridos ao longo da
graduação. O presente relatório descreve as atividades desenvolvidas pelo graduando
Juan Sambudio de Paula, do curso de Ciências Biológicas pelo Instituto de Biociências
da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus de Botucatu, São
Paulo, sob orientação do Profª. Dr.ª Percilia Cardoso Giaquinto. O estágio teve como
objetivo aprimorar os aprendizados teóricos e a aptidão prática nas áreas de manejo e
conservação de fauna, sendo que sua realização ocorreu em cinco centros de
conservação diferentes por um período de 960 horas. O primeiro foi realizado no
ZooPomerode Bioparque na cidade de Pomerode/SC, os demais foram realizados em
cidades do estado de São Paulo sendo eles o Zoológico Municipal de Guarulhos, a até
então Fundação Parque Zoológico de São Paulo, o Zoológico Municipal de Bauru e o
Parque Zoológico Municipal Quinzinho de Barros em Sorocaba. As atividades
envolveram manejo, limpeza, manutenção, nutrição, clínica, bem-estar, educação
ambiental entre outras, com o enfoque sempre nos cuidados de animais selvagens.
ABSTRACT
The mandatory curricular internship is of extreme importance to the better
understanding of theoretical and practical knowledge acquired during the study years.
This report describes the activities developed by Juan Sambudio de Paula, graduate of
biology by the Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho”, Botucatu city campus, São Paulo, under the guidance of Profª. Dr.ª
Percilia Cardoso Giaquinto. The internship goal was to improve the theoretical
learnings and practical aptitudes in the field of conservation and management of
wildlife, the internship took place in five different conservation centers through a period
of 960 hours. The first internship took place in ZooPomerode Bioparque in the town of
Pomerode/SC, the remaining internships were fulfilled in cities of the state of São
Paulo, them being the Zoológico Municipal de Guarulhos, the Fundação Parque
Zoológico de São Paulo, the Zoológico Municipal de Bauru and the Parque Zoológico
Municipal Quinzinho de Barros in Sorocaba city. The activities performed involved
management of fauna, cleaning, maintenance, nutrition, clinic, well-being,
environmental education and others always focusing in the care of the present wildlife.
AGRADECIMENTOS
A meus pais Daiane e Wilson, e meus avós Milton e Ivone, agradeço com
amor, respeito e reverência por me apoiarem em todas as minhas decisões dentro
e fora da graduação, sempre me incentivando a lutar pelos meus sonhos e
sempre acreditando que eu era capaz.
À minha melhor amiga Amanda por estar ao meu lado, mesmo quando
distante, nos últimos dez anos. Também agradeço aqueles que dividiram o
mesmo teto que eu, Gabriel, Pedro e Igor que por muitas vezes me ajudaram seja
no âmbito acadêmico ou pessoal.
Aos companheiros de sala, meus amigos e colegas que ajudaram a
construir maravilhosos anos de estudo, em especial a Beatriz, Jennyfer, Lurian,
Renata, Felipe e Guilherme. A todas as saídas de campo e viagens técnicas que
ficarão marcadas para toda a minha vida.
As equipes profissionais de biólogos, veterinários, tratadores entre muitos
outros que me guiaram nesse período de estágio me ajudando a ter cada vez
mais certeza que esse é o caminho que quero traça. Aos estagiários que
trabalharam ao meu lado todos os dias, resolvendo conflitos e trocando risadas
A minha orientadora Prof. Dra. Percilia Giaquinto por me dar a
oportunidade de desenvolver não somente um projeto como também de dar os
passos iniciais a minha jornada dentro do estudo comportamental e de bem-estar
animal. Aos meus professores da graduação que auxiliaram no dia a dia, e a
graduação que se mostrou presente resolvendo todas as intercorrências que tive.
7
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 9
2. DESENVOLVIMENTO .................................................................................. 10
2.1. ZOOPOMERODE BIOPARQUE................................................... 10
2.1.1. História & Estrutura ............................................................ 10
2.1.2. Atividades desenvolvidas ................................................... 11
2.1.2.1. Limpeza & Alimentação ......................................... 11
2.1.2.2. Manutenção & Ambientação ................................. 12
2.1.2.3. Condicionamento animal ....................................... 13
2.1.2.4. Educação ambiental ............................................... 13
2.1.2.5. Cozinha ................................................................... 14
2.1.2.6. Home office ............................................................ 14
2.2. ZOOLÓGICO MUNICIPAL DE GUARULHOS ............................ 15
2.2.1. História & Estrutura ............................................................ 15
2.2.2. Atividades desenvolvidas ................................................... 16
2.2.2.1. Limpeza & Alimentação ......................................... 16
2.2.2.2. Cozinha ................................................................... 17
2.2.2.3. Clínica & Medicação .............................................. 18
2.2.2.4. Laboratório & Necrópsias ..................................... 18
2.2.2.5. Manutenção & Ambientação ................................. 19
2.2.2.6. Solturas .................................................................. 20
2.2.2.7. Enriquecimento ambiental .................................... 20
2.2.2.8. Condicionamento animal ......................................22
2.2.2.9. Apresentação final ................................................. 22
2.3. PARQUE ZOOLÓGICO DE SÃO PAULO ................................... 22
2.3.1. História & Estrutura ............................................................ 22
2.3.2. Atividades desenvolvidas (P.E.C.A.) ..................................25
2.3.2.1. Coleta de material .................................................. 25
2.3.2.2. Enriquecimento ambiental .................................... 25
2.3.2.3. Condicionamento animal ....................................... 28
2.3.2.4. Manutenção ............................................................ 31
8
2.3.3. Atividades desenvolvidas (Mamíferos) ..............................31
2.3.3.1. Limpeza & Alimentação ......................................... 31
2.3.3.2. Salão ....................................................................... 32
2.3.3.3. Setor Extra, Gatário, Micário & Creche ................ 33
2.3.3.4. Enriquecimento & Condicionamento animal ....... 35
2.3.3.5. Solturas .................................................................. 37
2.3.3.6. Fechamentos .......................................................... 37
2.4. PARQUE ZOOLÓGICO MUNICIPAL DE BAURU ............................. 37
2.4.1. História & Estrutura ............................................................ 37
2.4.2. Atividades desenvolvidas ................................................... 39
2.4.2.1. Limpeza & Alimentação ......................................... 39
2.4.2.2. Manutenção & Ambientação ................................. 39
2.4.2.3. Setor de Medicina Veterinária ............................... 40
2.4.2.4. Meliponário ............................................................. 41
2.4.2.5. Enriquecimento ambiental .................................... 42
2.4.2.6. Condicionamento animal ....................................... 44
2.4.2.7. Educação ambiental ...............................................45
2.5. PARQUE ZOOLÓGICO MUNICIPAL “QUINZINHO DE BARROS” ... 47
2.5.1. História & Estrutura ............................................................ 47
2.5.2. Atividades desenvolvidas ................................................... 49
2.5.2.1. Limpeza & Alimentação ......................................... 49
2.5.2.2. Setor de Medicina Veterinária ............................... 51
2.5.2.3. Aproximação & Observação ................................. 52
2.5.2.4. Enriquecimento ambiental .................................... 53
2.5.2.5. Condicionamento animal ....................................... 55
2.5.2.6. Solturas .................................................................. 55
2.5.2.7. Apresentação final ................................................. 56
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 56
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 57
9
1. INTRODUÇÃO
O período de estágio curricular, embora não exclusivamente mandatório
para a modalidade de bacharelado em ciências biológicas, é um momento único
na jornada de um futuro profissional da área, é uma época que pode vir a agregar
muitos conhecimentos teóricos e experiências práticas, como também estimular
conhecimentos prévios adquiridos nos anos de formação e os colocarem em
atividade, como também possibilitar que o aluno entre em contato direto com
profissionais atuantes, sejam esses biólogos ou profissionais de áreas
intimamente relacionadas, tais como como veterinários e zootecnistas.
Devido à área de interesse ser a de conservação, com foco na fauna
silvestre brasileira, os locais de interesse para o desenvolvimento dos estágios
foram parques zoológicos, que por vezes também atuavam como CETAS. Os
locais escolhidos foram o ZooPomerode BioParque, localizada em Pomerode,
Santa Catarina; o Zoológico Municipal de Guarulhos; o Parque Zoológico de São
Paulo; o Parque Zoológico Municipal de Bauru; o Parque Zoológico Municipal
“Quinzinho de Barros”, sendo as últimas quatro localizadas no estado de São
Paulo. O estágio fora realizado em seis setores diferentes em cinco instituições
distintas.
O objetivo geral dos estágios foi absorver toda uma gama de
conhecimentos práticos em diferentes áreas relacionadas a ciências biológicas,
especificamente a biologia voltada à conservação ex situ de espécies animais
silvestres como também exóticas, desde a administração de uma instituição de
conservação vinculada ao governo até as técnicas mais práticas de manejo, bem
como as individualidades e particularidades das espécies estudadas.
Espécimes animais sob cuidados humanos por vezes tendem a
desenvolver comportamentos que fogem dos comumente presentes em seus
habitats de origem, essas diferenças comportamentais podem vir a se tornar
danosas dependendo da frequência e intensidade. Técnicas de enriquecimento
comportamental e ambiental tem como objetivo disponibilizar para animais cativos
meios de alterar sua rotina e o ambiente em que se encontram e assim promover
uma possível melhoria na qualidade de vida desses indivíduos. Em todas as
10
instituições a intenção de trabalhar com o comportamento e bem-estar animal
estava presente e foi o ponto de convergência entre elas.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1. Zoo Pomerode BioParque
2.1.1. História & Estrutura
O Zoo Pomerode BioParque foi fundado por Hermann Weege, um político
de família influente em Santa Catarina em 1932, no início o zoológico se
estabeleceu como uma entidade privada e após mudanças estruturais em 1977
se tornou uma fundação com fins não lucrativos. Atualmente toda a arrecadação
monetária com ingressos é revertida para manter a instituição ativa, seus animais
em melhores condições de bem estar e também manter o alto padrão das
estruturas do parque. O zoológico preza por técnicas sustentáveis incluindo
painéis de energia solar nos estacionamentos, com o intuito de diminuir o
consumo por fontes externas.
Figura 1: Entrada do ZooPomerode BioParque associada ao estacionamento (fonte: acervo
pessoal).
Atualmente o zoológico é o maior do estado de Santa Catarina possuindo
35.000 m² de área construída e dispõe de mais 85.000 m² destinadas a futuras
ampliações, possui um plantel de cerca de 1.000 animais separados em 240
espécies divididas em mamíferos, aves e répteis. Os animais se encontram em
11
cerca de 60 recintos diferentes incluindo um recinto de imersão que possibilita
uma interação mais direta dos visitantes com os animais.
Além da infraestrutura disponível ao público, tais como sanitários, auditório,
restaurante, loja de presentes e cinema 7D, o zoológico possui dois prédios
administrativos, contendo neles um setor veterinário, cozinha para funcionários,
um setor de nutrição e alimentação, um setor para educação ambiental e um setor
de biologia. Diferente de outras instituições, o zoológico de Pomerode não possui
uma grande área extra onde animais excedentes ou em tratamento se encontram
fora da vista do público, sua área extra é reduzida e comporta poucos indivíduos,
comumente aves e pequenos primatas.
Figura 2: Mapa do ZooPomerode indicando a localização dos animais e estruturas
adicionais do parque (fonte: site oficial ZooPomerode).
2.1.2. Atividades desenvolvidas
2.1.2.1. Limpeza & Alimentação
Uma das atividades realizadas foi o acompanhamento da equipe de tratadores
durante suas funções cotidianas, sendo essas a limpeza de recintos, lavagem de
tanques, descarte e reposição da alimentação. Participei dessas atividades por
12
um curto período e nele realizei a limpeza do recinto das emas e tamanduás, de
diversos recintos de serpentes, do recinto dos pinguins, do recinto das elefantes-
asiáticas e do recinto dos ursos-pardos. Durante a limpeza de tais recintos fui
instruído a observar o espaço em busca de sinais de tentativa de fuga como
buracos em cercas, escavações da terra, como também checar a integridade dos
tanques e acompanhar o estado do animal quando presente, observando se seu
comportamento se apresenta dentro da normalidade esperada.
2.1.2.2. Manutenção & Ambientação
Nas primeiras semanas do estágio, a atividade mais comum era o
acompanhamento do biólogo responsável do dia nas diversas tarefas do
zoológico, muitas vezes a manutenção das estruturas do parque era realizada em
conjunto com outros membros da equipe como jardineiros, eletricistas e ajudantes
gerais. Conserto de grades, troca de placas informativas, recepção de caminhões
com alimentação, carga e descarga de material, recepção de outros profissionais
como médicos veterinários e a equipe administrativa, contenção e manejo de
animais que se encontravam em locais indevidos, acompanhamento da equipe de
dedetização, entre outras, foram as tarefas feitas em acompanhamento do biólogo
responsável.
A ambientação de recintos era uma atividade constante dentro do parque,
sempre visando melhorias no espaço do animal que proporcionassem
comportamentos naturais, dentre as realizadas estão inclusas o recinto dos
furões-pequenos que recebeu um grande conjunto de plantas, uma árvore e
troncos ocos, diversos recintos das serpentes que estavam carentes de flora, e o
recinto de um cachorro-do-mato idoso que recebeu rochas decorativas, troncos e
árvores, como também uma melhoria em sua toca.
Durante o mês de abril é realizado um festival na cidade chamado de
Osterfest, em preparo a esse evento, o zoológico inteiro fora decorado com
árvores cortadas, desfolhadas e enfeitadas com ovos coloridos, esse serviço foi
realizado por mim e outra estagiária.
13
2.1.2.3. Condicionamento animal
O Zoo Pomerode é uma instituição que preza muito por seus valores,
sendo um desses a medicina preventiva, uma das técnicas de medicina
preventiva utilizada é o condicionamento animal operante, essa prática não só
auxilia em procedimentos veterinários como na coleta de material biológico e
tratamento podológico, como também facilita a vida dos profissionais de limpeza.
Nessa prática de treino comportamental, o animal é submetido a comandos e
quando realizados corretamente recebe uma recompensa, essa pode ser na
forma de uma parte da dieta do animal, como frutas ou carnes preferidas pelo
indivíduo, pode ser também através de reforço positivo com elogios ou carinho.
No zoológico o condicionamento era realizado tanto pelo veterinário responsável,
como pelos biólogos e pelos estagiários, dependendo da espécie e individuo.
Acompanhei o condicionamento das elefantes-asiáticas, onde após receber
o comando, elas colocavam a pata no suporte e era realizada a limpeza e
desgaste da sola dos pés. Também existiam comandos para coleta de sangue
pela orelha e comandos de abertura de boca para checagem de mucosas. Um
condicionamento que pude participar ativamente foi a dos hipopótamos-comuns,
após o posicionamento dos indivíduos, os comandos de abertura de boca eram
feitos, assim o animal se dispunha a abrir a boca e permanecer com ela aberta
enquanto era realizado a observação dos dentes, mucosa e língua do animal, e
então, após o comando, o animal recebia a recompensa em forma de alimentação
e comentários positivos, essa técnica facilita, além da checagem do estado bucal,
o corte das presas caso o animal tenha um crescimento anormal dessas.
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Figura 3a: Oferta das recompensas a uma elefantes-asiática (Elephas maximus) após a
conclusão do treino de condicionamento animal operante. Figura 3b: Comando “boca”
sendo realizado por estagiário no condicionamento de uma das hipopótamos-comum
(Hippopotamus amphibius) com o intuito de checar mucosas e estado das presas (Fonte:
acervo pessoal).
2.1.2.4. Educação ambiental
No Zoo Pomerode o estágio é dividido em três modalidades: veterinária,
biologia geral e educação ambiental, mesmo tendo ficado na modalidade biologia
geral, ainda tive a oportunidade de trabalhar um pouco com educação ambiental
através das apresentações realizadas durante os procedimentos dos
condicionamentos animais. Enquanto o condicionamento era realizado, um dos
estagiários permanecia em frente ao recinto explicando a prática realizada e sua
importância, como também curiosidades e a história do animal aos visitantes,
conectando o visitante aos animais e a rotina do zoológico.
Outra prática educacional elaborada eram as monitorias em pontos
específicos do parque, como por exemplo, em frente ao setor das serpentes, ali
eram tiradas dúvidas e dadas informações sobre a origem e características
daqueles animais.
2.1.2.5. Nutrição
A B
15
Um breve período do estágio foi passado na cozinha de preparos do setor
de nutrição, lá eram realizadas as pesagens e preparações de toda a alimentação
dos animais do parque. O espaço é comandado por dois profissionais
zootecnistas que alteravam a dieta conforme as necessidades de cada espécie.
Nesse espaço o serviço era apenas coleta de itens alimentares, realização dos
cortes específicos necessários para cada grupo animal e a entrega dessa
alimentação aos tratadores.
2.1.2.6. Home office
Durante os últimos dez dias do mês de março deu-se o início do
fechamento do comércio e os primeiros sinais de isolamento social devido à
gravidade que a epidemia de COVID-19 mostrava. Nesse período, os
responsáveis pelo estágio decidiram quais estagiários deveriam permanecer em
suas moradias realizando serviços online. Assim, fora elaborada uma apostila de
práticas do estagiário para que os que viessem a estagiar na instituição
pudessem se guiar, nela continha a história do zoológico, como também uma
cartilha do cuidador com práticas de interação com os funcionários e visitantes e
também dúvidas frequentes a serem respondidas. Após a entrega desse projeto,
conclui meu período de estágio no Zoo Pomerode.
2.2. Zoológico Municipal de Guarulhos
2.2.1. História & Estrutura
Criado em 1981 o Zoológico de Guarulhos é uma instituição pública com a
finalidade de conservar a fauna, com um enfoque na fauna brasileira, essa
compondo 91% do plantel presente atualmente no zoológico, além de também
funcionar como um CETAS (Centro de Triagem de Animais Silvestres), tratando e
reabilitando animais da região. A instituição possui cerca de 500 animais divididos
em aproximadamente 100 espécies de mamíferos, aves e alguns répteis,
dispostos em 59 recintos de exposição, setor extra e quarentenário, que abrigam
os animais residentes, animais recém-chegados e em tratamento. Há no local
clínica veterinária e área de manejo, com salas de atendimento, laboratório, sala
de cirurgia, área de internação e sala de necropsia, e também um setor de
alimentação e biotério para produção de alimentos vivos, grilos, tenébrios e
16
baratas. Os visitantes também podem visitar o Museu de Ciências Naturais do
parque.
Figura 4: Entrada do Zoológico de Guarulhos (fonte: acervo pessoal).
2.2.2. Atividades desenvolvidas
2.2.2.1. Limpeza & Alimentação
A limpeza e alimentação são realizadas acompanhando os tratadores,
muitas vezes permanecendo no recinto com o animal preso no cambiamento,
fazendo então a coleta de fezes e restos de alimentação, lavagem de tanques, e
sobras de enriquecimentos ambientais antigos. Após a limpeza dos cochos de
alimentação é trazida e ofertada a dieta ao animal. Em meu período de estágio
pude realizar a limpeza do recinto dos lobos-guará, catetos, suçuaranas, leões,
diversos rapinantes e psitacídeos, tucanos e mutuns, araras e antas.
17
Figura 5: corredor interno do setor das aves onde parte do serviço de limpeza e
alimentação fora realizado (fonte: acervo pessoal).
2.2.2.2. Cozinha
Em alguns dias da semana a prática consistia em auxíliar a equipe de
nutrição na cozinha dos animais, realizando as pesagens, cortes e preparações
da primeira dieta do dia dos animais. Todos os produtos eram controlados devido
a verba exata destinada a alimentação, assim, alimentos mais caros como carnes
eram sempre medidos com exatidão.
Figura 6: Setor de nutrição onde todas as alimentações e distribuídas são produzidas
(fonte: acervo pessoal).
18
A B
2.2.2.3. Clínica & Medicação
Dentre a rotina de serviço diária dos estagiários, a presença na clínica era
a atividade mais constante, nela eram realizadas diferentes tarefas iniciando-se
pela abertura das janelas e remoção dos cobertores das gaiolas, a limpeza
dessas, troca de jornais e então a realização da contenção de diversos animais
para medicação. Nesse período, fiz a contenção de aves como papagaios-
verdadeiros, maitaca-verde, rapinantes diversos, garças, maracanã-nobre,
pomba-asa-branca, coruja-orelhuda, coruja-do-mato, ema, quero-quero e
passeriformes. Mamíferos que contive foram gato-do-mato, gato-mourisco, sauá,
gambá-de-orelha-branca, bugio-ruivo, sagui-da-serra-escuro. Répteis foram
contidos apenas jabotis-piranga e salamantas. Medicações tópicas e orais eram
permitidas de serem administradas por mim, apenas as medicações injetáveis
eram exclusividade das estagiárias da veterinária.
Figura 7a: Clínica veterinária onde os animais passando por tratamentos permanecem
internados. Figura 7b: Contenção física e química de uma ema (Rhea americana) para
medicação (fonte: acervo pessoal).
A clínica também possuía um filhote de bugio-ruivo que necessitava de
cuidados diretos, tais como alimentação por mamadeira e tempo ao ar-livre.
Diversos animais possuíam rotinas de alimentação própria, como o bem-te-vi e o
suiriri, que eram alimentados com tenébrios oferecidos com uma pinça várias
vezes ao dia.
2.2.2.4. Laboratório & Necrópsias
19
O local possui um laboratório onde exames como esfregaços sanguíneos e
exames coproparasitológicos eram realizados rotineiramente, as responsáveis
pelo zoológico sempre buscavam fazer análises das fezes para as análises de
possíveis parasitas que prejudicariam a saúde e o bem estar dos animais.
Figura 8: Laboratório de análises clínicas (fonte: acervo pessoal).
Necrópsias também eram realizadas no setor, não somente pelas
veterinárias responsáveis como também por graduandos e pós-graduandos de
medicina veterinária das faculdades da região que desenvolvem projetos com
animais recebidos que vieram a óbito. Pudemos acompanhar e auxiliar em tais
procedimentos.
2.2.2.5. Manutenção & Ambientação
Durante o estágio realizei auxílios em consertos necessários em certos
recintos, tais como a porta do recinto dos quatis e a grade do cambiamento da
onça-pintada. A limpeza de limo de paredes através de lavadoras de alta pressão
também fora realizada no recinto dos quatis.
A ambientação de recintos também foi parte integral do estágio, a primeira
atividade realizada no zoológico foi a ambientação do recinto extra dos bugios-
ruivos com redes de mangueira, um balanço de pneu e grande troncos e árvores.
Ambientações foram realizadas nos recintos dos gatos-mourisco, animais de
comportamento arborícolas que necessitavam de troncos pelo recinto para agir
20
como pontes e poleiros, assim como uma toca nova. Novos poleiros eram
adicionados constantemente nos recintos das aves, assim como a remoção de
poleiros e troncos velhos.
Figura 9a & 9b: Ambientação do recinto os bugios-ruivos (Alouatta guariba clamitans) com
troncos, redes e balnaços (fonte: acervo pessoal).
2.2.2.6. Solturas
Sendo o Zoológico de Guarulhos classificado como um CETAS esse
possuía animais provenientes de captura, acidentes, tráfico, entre outros. Após a
devida recuperação, esses animais eram soltos, muitas vezes dentro do próprio
parque, como no caso de aves, devida a área com mata anexada ao parque.
Realizei a soltura de algumas aves como um periquito-do-encontro-amarelo, um
sabiá-poca e um sabiá-laranjeira.
2.2.2.7. Enriquecimento ambiental
O programa de enriquecimento ambiental do Zoológico de Guarulhos se dá
através da integração dos estagiários presentes com a veterinária responsável e a
equipe de tratadores, realizando reuniões semanais onde eram propostos os
possíveis enriquecimentos a serem elaborados e introduzidos durante a semana,
todos são registrados em uma agenda contendo enriquecimentos passados e os
animais que receberam tais estímulos.
A B
21
Figura 10a: Enriquecimento sensorial e físico na forma de uma diluição de canela e melaço
em água colocada em um tronco oco para o tamanduá-bandeira (Mymercophaga tridactyla).
Figura 10b: Enriquecimento físico e alimentar para a onça-pintada (Panthera onca) na forma
de parte da dieta do animal colocada em um tubo industrial de papelão e espalhada pelo
recinto. Figura 10c: Enriquecimento físico e alimentar para furões-pequenos (Galictis cuja),
labirinto de rolinhos de papelão com tenébrios. Figura 10d: Enriquecimento cognitivo e
alimentar para araras-azuis-grande (Anodorhynchus hyacinthinus) na forma de varal de
frutas presas em rolinhos de papelão (fonte: acervo pessoal).
A B
C D
22
No período de um mês foram realizados treze enriquecimentos diferentes
para cerca de 30 espécies. Os enriquecimentos manufaturados e aplicados foram
caixas de forrageio, caixas surpresa com estímulo sensorial, tubos com carne,
redes de descanso, labirinto de rolinhos de papelão com tenébrios, varal de tubos
entre outros.
2.2.2.8. Condicionamento animal
O condicionamento animal operante feito no zoológico de Guarulhos era
realizado por uma das veterinárias responsáveis, comandos simples de
direcionamento eram utilizados e no período em que estagiei na organização
pude acompanhar o treino dos lobos-guarás, suçuaranas, leões e onça-pintada.
Pude observar tanto animais já treinados que respondiam rapidamente aos
comandos, como animais que estavam no período de aproximação com o
material e início do processo de condicionamento.
2.2.2.9. Apresentação final
Para finalizar o estágio foi realizada uma apresentação, sendo o tema
escolhido pelo estagiário, tive a oportunidade então de focar em minha área de
estudos e realizei uma apresentação sobre bem estar animal, apresentando todos
os enriquecimentos ambientais desenvolvidos e elaborados no mês, seus
resultados imediatos e a importância desses na vida cotidiana dos animais sob
cuidados humanos. Após congratulações e agradecimentos, conclui esse estágio.
2.3. PARQUE ZOOLÓGICO DE SÃO PAULO
2.3.1. História & Estrutura
Criado em 1957 pelo então governador Jânio Quadros, o Zoológico de São
Paulo quando inaugurado um ano depois, possuía 445 animais dentre eles
9 cervos; 2 onças pintadas e 1 preta; 3 jaguatiricas; dois gatos do mato; 1 urso;
23 papagaios; 3 ararinhas-azuis. Os primeiros animais de origem exótica, como
por exemplo, leões, ursos e elefantes, foram adquiridos de circos particulares e os
animais da fauna silvestre brasileira, como é o caso das onças e galos da serra.
Foi a primeira instituição brasileira a propor e participar de forma efetiva em
múltiplos programas de recuperação de espécies brasileiras seriamente
https://pt.wikipedia.org/wiki/Cervos
https://pt.wikipedia.org/wiki/On%C3%A7a_pintada
https://pt.wikipedia.org/wiki/On%C3%A7a-preta
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jaguatirica
https://pt.wikipedia.org/wiki/Gato_do_mato
https://pt.wikipedia.org/wiki/Urso
https://pt.wikipedia.org/wiki/Papagaio
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ararinha-azul
https://pt.wikipedia.org/wiki/Le%C3%A3o
https://pt.wikipedia.org/wiki/Elefante
23
ameaçadas de extinção, exemplo do mico-leão, pequenos felídeos neotropicais e
araras-de-lear, muitos desses programas ainda permanecem em vigor.
Atualmente, o zoológico é o quarto maior do mundo e é considerado o maior e o
quinto melhor jardim zoológico da América Latina, de acordo com sites de viagem,
possui 1.500 animais divididos entre mamíferos, aves, répteis, anfíbios e
invertebrados.
Figura 11: Entrada do Parque Zool[ogico de São Paulo (fonte: Jornal de SP Zona Sul).
Devido ao grande espaço da instituição, 824.529 m² de Mata Atlântica e áreas
adicionais, esta é dividida em muitos setores como setor dos mamíferos, setor
das aves, setor dos répteis, D.E.D. (Divisão de Educação e Difusão), P.E.C.A.
(Programa de Enriquecimento e Condicionamento Animal), setor de meio
ambiente, setor de nutrição, setor de medicina veterinária, laboratório de
pesquisas, entre muitos outros. O zoológico possui contato direto com outras
estruturas relacionadas, como o espaço Zoo Safári e o Jardim Botânico, como
também ao CRAS-PET, um centro de recuperação animal localizado no Parque
Ecológico do Tietê, todas essas instituições mantém uma relação de integração
de serviços e pesquisas.
O zoológico ainda conta com lanchonetes, múltiplos quiosques de
alimentação, estacionamento para até 2.000 veículos, loja de fotos, loja de
lembranças e souvenires, sanitários e fraldários, área para piqueniques, espaço
24
A B
para eventos, enfermaria com ambulância, passeio motorizado guiado e visitas
noturnas.
O Zoo de São Paulo preza pela conservação das espécies brasileiras e já
desenvolveu e desenvolve diversos projetos em conjunto com outras instituições
de pesquisa, como o Instituto Butantan, o Instituto Biológico de São Paulo e
o Instituto Adolfo Lutz, assim como convênios firmados com Universidades, tais
como a Universidade de São Paulo, Universidade Estadual "Júlio de Mesquita
Filho" -UNESP, Universidade Federal de Campina Grande (PB), Universidade
Estadual de Londrina (PR) e a Universidade Federal de Santa Maria (RS). Além
de possuir programas de qualificação profissional para as áreas de ciências
biológicas, medicina veterinária e zootecnia.
Em meu período de estágio passei por dois setores, sendo esses o
P.E.C.A. (Programa de Enriquecimento e Condicionamento Animal), setor
responsável pela produção de todos os enriquecimentos aplicados aos animais do
parque como também ao condicionamento desses, onde pude aprofundar meus
conhecimentos na produção de enriquecimentos ambientais e qualidade de vida
animal, e o Setor de Mamíferos, setor responsável pelo grupo animal com maior
número e os quais necessitam cuidados e tratamentos muito específicos, onde
pude acompanhar a rotina de serviço direta com os animais e as nuances das
funcionalidades internas de uma instituição como um jardim zoológico.
Figura 12a: Entrada do Setor de Mamíferos. Figura 12b: Entrada do P.E.C.A. (fonte: acervo
pessoal).
https://pt.wikipedia.org/wiki/Instituto_Butantan
https://pt.wikipedia.org/wiki/Instituto_Adolfo_Lutz
https://pt.wikipedia.org/wiki/Universidade_de_S%C3%A3o_Paulo
https://pt.wikipedia.org/wiki/UNESP
https://pt.wikipedia.org/wiki/Universidade_Federal_de_Campina_Grande
https://pt.wikipedia.org/wiki/Universidade_Estadual_de_Londrina
https://pt.wikipedia.org/wiki/Universidade_Estadual_de_Londrina
https://pt.wikipedia.org/wiki/Universidade_Federal_de_Santa_Maria
25
2.3.2. Atividades desenvolvidas (P.E.C.A.)
2.3.2.1. Coleta de material
No P.E.C.A. parte fundamental do serviço é a coleta de materiais, sejam
esses orgânicos ou não orgânicos, para a produção de enriquecimentos, tais
como busca e coleta de folhas de bananeira, folhas de palmeira, capim, cipós,
galhos ramificados, troncos, bagas e folhas verdes ou secas, todos esses
materiais estão presentes nas áreas de mata dentro das instalações do zoológico.
Também, providenciar blocos de feno e alfafa, caixas de papelão, caixas de luva,
cordas, mangueiras, fitas, cordas de sisal, bolas, apetrechos e brinquedos
animais, tijolos, arames, pneus, garrafas, entre muitos outros materiais faz parte
da rotina do setor.
Figura 13: Grupo de estagiários realizando a coleta de materiais para uso na produção dos
enriquecimentos (fonte: acervo pessoal).
2.3.2.2. Enriquecimento ambiental
Após a coleta desses diversos materiais é então realizada a confecção dos
enriquecimentos, o setor possui três técnicos operacionais e um tratador que
realizam juntamente dos estagiários uma produção em massa de enriquecimentos
diariamente, trançando folhas, furando tijolos, cortando arames, parafusando
madeiras, entre outras muitas atividades. Todos os dias vários setores, não
apenas do zoológico como do Zoo Safári e da Fazenda são atendidos pelo
26
P.E.C.A., assim como os setores extras, não visíveis ao público, e todos os
grupos animais recebem alguma forma de enriquecimento durante a semana,
grandes felinos, predadores e primatas costumam receber mais vezes devido a
maior demanda de estímulo que esses animais necessitam em cativeiro para
manter uma boa qualidade de vida.
Os enriquecimentos elaborados são diferentes para cada animal, podendo
ser enriquecimentos físicos como bolas para ursos e tigres, balanços de cordas e
pneus para primatas, poleiros interativos de tijolo e troncos para psitacídeos;
enriquecimentos alimentares: dieta ofertada de forma diferente ou em locais
diferentes, alimentos presos em galhos de bambu, ou melancias e abóboras ocas
com dieta dentro; enriquecimentos sensoriais usando odores como trilhas de
cheiro, caixas com temperos e chás, além do uso de sons como a vocalização da
mesma espécie ou de uma espécie relacionada como presa antes da
alimentação, estimulando assim o comportamento de caça; comportamentos
sociais como atividades que demandam interação do grupo para obtenção da
recompensa e o uso de espelhos; enriquecimentos cognitivos que demandam que
o animal busque modos de obter a recompensa, abrindo brinquedos interativos ou
usando galhos para obter a recompensa dentro de bambus ocos. Todos os
enriquecimentos mencionados acima foram elaborados em maior ou menor grau
para uma ou diversas espécies dentro do parque, por dia, mais de cinquenta
enriquecimentos diferentes eram produzidos e distribuídos entre os setores do
zoológico e instalações anexas ou relacionadas.
27
Figura 14a: Enriquecimento alimentar com folhagem para as girafas (Giraffa
camelopardalis). Figura 14b: Produção de uma rede de mangueira de bombeiro pelos
estagiários (fonte: acervo pessoal).
Além da produção dos enriquecimentos, outra tarefa atribuída era a
observação da interação de determinados animais com certos itens do
enriquecimento e a anotação dos comportamentos realizados para fichamento,
mantendo assim um registro do quão útil ou interessante ao animal foi a atividade
em um primeiro momento.
Devido à setorização do Zoológico de São Paulo, a interação com os
demais setores é sempre necessária e fundamental, dependendo do
enriquecimento proposto, os tratadores eram requisitados para realizar a
introdução ou remoção, além do acompanhamento diário. A relação de serviço
com a equipe de tratadores também se mostrou essencial para o P.E.C.A., por
acompanharem o animal todos os dias, esses profissionais conhecem com mais
detalhes os comportamentos e particularidades de cada indivíduo, podendo
informar ao setor quando uma atividade se mostra incapaz de manter o interesse
do animal ou causa algum desconforto ao mesmo.
A B
28
Figura 15: Produção do enriquecimento físico poleiro/balanço para diversos psitacídeos
(fonte: acervo pessoal).
2.3.2.3. Condicionamento animal
O condicionamento animal é outra atividade realizada pelo setor P.E.C.A.,
onde o setor novamente disponibiliza esse treino comportamental para diversos
grupos animais diferentes. Cada indivíduo responde de maneira própria e o
treinador deve se adaptar ao que melhor funciona com cada animal. No Zoológico
de São Paulo um dos tigres-siberianos-branco não responde bem ao treino
quando a recompensa ofertada é carne de porco, assim, para os treinos desse
individuo é sempre necessário levar carne vermelha.
29
Figura 16a: Condicionamento operante animal da hipopótamo-comum (Hippopotamus
amphibius) Sininho através do comando “pata” para checagem do estado podológico do
animal. Figura 16b: Condicionamento animal operante, comando “boca”, com treino de
placa para futuros procedimentos de radiografia na hipopótamo-comum Colônia (fonte:
acervo pessoal).
Devido a mudanças internas no funcionamento do zoológico infelizmente
não pude acompanhar o condicionamento em todo seu potencial, porém tive a
oportunidade de acompanhar condicionamentos únicos que nunca antes imaginei
serem capazes de serem obtidos, como o treinamento de tartarugas-gigantes-de-
Aldabra, grandes quelônios que respondiam ao ver o objeto alvo, até mesmo se
posicionando sobre a balança e ficando imóveis para a coleta de sangue para
A
B
30
exames. Também acompanhei o condicionamento de grandes vertebrados como
as elefantes-asiáticas que passavam por um condicionamento voltado ao
tratamento podológico múltiplas vezes na semana e coleta de material biológico,
atendendo a comandos de posicionamento, os rinocerontes-brancos também
recebiam comandos de posicionamento e de realização do spray de
medicamento, para que o animal se acostumasse com o som repentino da lata
sendo pressionada, com esses animais também era realizada um treino para que
o animal acostumasse com a aplicação de vacinas. O treino dos hipopótamos era
um condicionamento que visava acostumar o animal com uma placa de metal,
para a realização de futuros exames de raio x, como também comandos de
posicionamento para checagem de patas e abertura da boca para checagem e
desgaste de presa.
Figura 17: Etapa de recompensa do condicionamento animal da Hangun, um dos elefantes-
asiáticos (Elephas maximus) do Zoológico de SP (fonte: acervo pessoal).
Outros animais que pude acompanhar o treino de condicionamento animal
operante foram os leões, tigres-siberianos, onça-pintada, serval, jaguatirica,
chimpanzés, muriqui-do-sul e urubus-rei, sendo o treino dos primatas realizado
pelo setor de mamíferos e não pelo P.E.C.A.. No P.E.C.A. pude observar a
importância dessa prática na vida cotidiana do zoológico, facilitando não somente
31
o serviço da equipe de biólogos e veterinários como também auxiliando o tratador
a reconhecer melhor o animal com que trabalha e seus comportamentos, houve
dias em que antes mesmo do animal se aproximar, o tratador já sabia que ele não
responderia ao treino naquele momento. Também há de se considerar o ganho na
qualidade de vida dos animais com as práticas de medicina preventiva.
2.3.2.4. Manutenção
A manutenção e organização das instalações do setor eram parte do
serviço elaborado, agrupando os materiais coletados, limpando e descartando
restos de materiais inviáveis, guardando caixas e mangueiras, revisando o
inventário, tudo para que o setor funcionasse o mais eficientemente possível.
2.3.3. Atividades desenvolvidas (Mamíferos)
2.3.3.1. Limpeza & Alimentação
No Setor de Mamíferos o acompanhamento da equipe de tratadores no
serviço de limpeza era rotineiro, cada dia acompanhando um grupo animal
diferente, o trabalho incluía limpeza do recinto, lavagem de tanques, lavagem e
reposição da água dos cochos, limpeza de cambiamentos, distribuição da dieta e
remoção de sobras. Em meu período de estágio pude acompanhar a limpeza do
recinto das girafas, elefantes-asiáticas, dos rinocerontes-branco, leões, lontras,
hipopótamos, chimpanzés, orangotango, leão-marinho, preguiças, quatis,
queixadas, tamanduás-bandeira e tamanduá-mirim, cachorros-do-mato,
raposinhas-do-campo, veados-catingueiros, urso-de-óculos, warthogs,
dromedário, onça-pintada, suricatas, macacos-barrigudos e micos.
32
Figura 18: Limpeza do recinto dos chimpanzés (Pan troglodytes) com uso obrigatório de
EPIs para evitar contaminação (fonte: acervo pessoal).
Cada recinto possuía suas peculiaridades como a alimentação das girafas
tendo que ser içada até o alto do cambiamento ou anexada às grades, ou quais
travas devem ser abertas para a saída dos rinocerontes, cada tratador também
possuía seu próprio sistema e preferências de como realizar o serviço, pude
assim acompanhar diferentes modos de realizar as tarefas. A equipe de
tratadores sempre animada proporcionava um ambiente agradável e descontraído
mesmo com a carga de serviço braçal sendo mais intensa.
2.3.3.2. Salão
O salão do Setor de Mamíferos é uma sala onde se encontram grande
parte do equipamento usado no setor como caixas de transporte, luvas de raspa,
coletes, perneiras, mamadeiras, potes, cordas e outros objetos necessários ao dia
a dia do serviço. Neste salão se encontravam alguns animais que necessitavam
de atendimento direto ou acompanhamento, dentre eles uma sagui-de-tufos-
pretos que fora eletrocutada e agora vive com sequelas, tais como dificuldade de
33
locomoção e convulsões, além dela, os únicos residentes temporários do salão
eram filhotes de gambá-de-orelha-branca que chegaram muito dependentes e
foram alimentados com mamadeira pelos estagiários e funcionários até a idade de
soltura.
No salão são preparadas as alimentações dos animais ali presentes, como
também é feita a distribuição dos medicamentos dos animais do zoológico todo.
Relatórios e a atualização da agenda de procedimentos, caderno que contém
todos os procedimentos feitos nos animais do setor, eram preenchidos nesse
espaço. Como também foi criado placas informativas contendo o nome do animal,
seu nome científico, seu número de cadastro e de microchip, essas placas foram
colocadas nas portas de todos os recintos do parque incluindo áreas extras,
gatário, micário e creche.
2.3.3.3. Setor Extra, Gatário, Micário & Creche
O Setor de Mamíferos é responsável por estruturas anexas que abrigam
animais que por algum motivo não se encontram na exposição, seja por fazerem
parte de algum programa de reprodução, como as espécies de micos presentes,
ou por serem animais idosos ou comprometidos que não se adaptaram bem a
vida em exposição, ou apenas por serem excedentes não tendo espaço nos
recintos para mais indivíduos da mesma espécie.
Essas áreas anexas são o setor extra dos mamíferos, local que abriga
vários tamanduás-mirim, uma preguiça-real, quatro grupos distintos de suricatas,
uma irara, um cachorro-do-mato, alguns pequenos felinos e múltiplos macacos-
prego; o micário que possui três espécies de micos, o mico-leão-dourado, o mico-
leão-preto e o mico-leão-de-cara-dourada; o gatário que possui gatos-do-mato-
pequeno, gatos-do-mato-grande, gatos-mouriscos e gatos-palheiro, esse último
sendo encontrado no Brasil somente no Zoológico de SP; e por fim a creche,
espaço que inicialmente abrigava filhotes, majoritariamente de primatas, e hoje
funciona como espaço adicional para onde os primatas das ilhas são direcionados
quando o volume de água do lago do parque é reduzido e apresenta um risco de
fuga dos animais, lá residem macacos-prego-de-peito-amarelo, macacos-caiarara,
macacos-prego-galego, o único bugio-ruivo do zoológico, um macaco-da-noite e
34
duas juparás, sendo que uma delas chamada Dolores é possivelmente o jupará
mais velho sob cuidados humanos já registrado, com 46 anos de idade.
Figura 19: Alimentação com insetos das suricatas (Suricata suricata) do setor extra (fonte:
acervo pessoal).
No cotidiano do setor essas áreas são atendidas duas vezes ao dia pelos
estagiários, ambas para entrega das medicações, checagem de cadeados e
observações gerais do estado dos animais e também a entrega de recompensas.
Com a observação diária é possível rapidamente se acostumar com as
características de cada indivíduo, há animais que gostam da atenção e já
esperam esse encontro diário, enquanto outros, como a maioria dos pequenos
felinos, é arisca e apenas observa de longe. Poucas vezes também fora realizado
o auxílio ao tratador para a limpeza das áreas, tendo sido realizada apenas no
setor extra e na creche.
35
Figura 20a: Peludinho, macho de macaco-prego-galego (Sapajus flavius) recebendo
medicação em um bolinho de ração com melaço. Figura 20b: Juvenil macho de gato-
mourisco (Herpailurus yagouaroundi) presente no gatário (fonte: acervo pessoal).
Dentre as áreas atendidas o micário possui certas peculiaridades, todo dia
é realizada a coleta das sobras para pesagem, como esses animais participam de
programas de reprodução e conservação sua dieta e peso são controlados ao
máximo, exames de coproparasitológicos são realizados com frequência e todo
dia é ofertado á eles, com o auxilio de pinça, insetos, tenébrios ou baratas, com o
intuito de observar o indivíduo de perto em busca de falhas de pelo, machucados
ou outras sinais de enfermidade quando esse se aproxima da grade para pegar a
recompensa.
2.3.3.4. Enriquecimento & Condicionamento animal
A parte do Setor de Mamíferos nos enriquecimentos ambientais é a de
introdução e acompanhamento desses, após a produção e entrega deles pelo
P.E.C.A., um trabalho conjunto que muitas vezes necessita do auxílio não só dos
biólogos dos setores, como dos tratadores.
O condicionamento animal operante já é muitas vezes realizado
exclusivamente pelos tratadores após o treinamento desses pela equipe do
P.E.C.A., animais como os rinocerontes-branco atendem todos os comandos do
36
A
B
tratador mesmo esse estando sozinho ou acompanhado apenas dos estagiários.
Essa relação de proximidade do tratador com o animal é de extrema importância,
sendo que muitas vezes o animal só se aproxima de pessoas em que ele esta
acostumado. Outros animais demandam uma equipe mais completa para seus
treinos e tratamentos, como é o caso das elefantes-asiáticas que precisam de
uma equipe englobando biólogos, tratadores, médicos veterinários e estagiários
todos os dias para que o treino seja efetivo.
Figura 21a: Condicionamento animal operante do leão-marino-sul-americano (Otaria
flavescens) Puiú para checagem do estado das nadadeiras e aplicação de medicação
oftalmológica. Figura 21b: Condicionamento animal com treino de deslocamento com a
dromedário (Camelus dromedarius) Jade (fonte: acervo pessoal).
37
No mês em que realizei o estágio o grande foco era o treino de
deslocamento do dromedário com o intuito de mover o animal do setor extra da
planície para o recinto de exposição, infelizmente a primeira tentativa foi mal
sucedida e o treino continuava ocorrendo quando deixei a instituição.
2.3.3.5. Solturas
Como o Zoológico de São Paulo não funciona efetivamente como um
CETAS ou CRAS poucos são os casos de animais de vida livre que necessitam
de tratamento e eventualmente soltura, porém quando necessário essas solturas
eram efetuadas em matas adjacentes ao zoológico e ao jardim botânico. Como
um bugio-preto jovem que se desgarrou de um dos grupos que vivem nas copas
das árvores entre o jardim botânico e o jardim zoológico e após checagem foi
devolvido à natureza, um tatu-galinha que fora encontrado na pista próxima
também foi retornado a natureza depois de passar pelo setor da medicina
veterinária, e os gambá-de-orelha-branca que se encontravam no salão foram aos
poucos sendo liberados passando a noite com a gaiola aberta e assim realizando
sua própria soltura.
2.3.3.6. Fechamentos
Uma das práticas executadas no zoológico é o fechamento dos animais
após o término do horário de funcionamento do parque, nesse procedimento, os
tratadores e biólogos realizam funções como medicação, colocar a última
alimentação do dia para os animais que comem nesse período, o trancamento
dos animais em suas respectivas áreas de cambiamento e a checagem de todos
os cadeados. Apenas algumas espécies são fechadas nesse período para evitar
possíveis acidentes, comumente são espécies de alto risco, os fechamentos são
divididos em quatro áreas elas são: grandes felinos; pequenos felinos, queixadas
e leão-marinho; chimpanzés e orangotango, e grandes vertebrados como as
girafas e as zebras.
2.4. PARQUE ZOOLÓGICO MUNICIPAL DE BAURU
2.4.1. História & Estrutura
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O Zoológico de Bauru foi inaugurado em 24 de agosto de 1980, pelo
prefeito atuante Osvaldo Sbeghen, na área da recém-adquirida Fazenda Vargem
Limpa, no intuito de proteger a área de cerrado de posseiros. Criado dentro do
Parque Ecológico Municipal e ao lado do Jardim Botânico o zoológico possuía
pouco mais de 100 animais de 32 espécies em sua área de 50.000 m², hoje
possui um plantel de cerca de 700 animais divididos em 150 espécies de
mamíferos, aves, répteis e peixes, e recebe cerca de 15 mil visitas mensais entre
excursões escolares e o público em geral.
O espaço possui disponível aos visitantes estacionamento, sanitários,
fraldário, loja de lembranças, área para piquenique e lanchonete, além das áreas
restritas como cozinha, biotério, administração, armazém, setor de biologia e
educação ambiental, setor de medicina veterinária, dois setores extra, câmara
fria, serralheria e área de almoço para funcionários.
Figura 22: Entrada do Zoo Bauru (fonte: internet).
O Parque Zoológico Municipal de Bauru preza pela conservação das espécies,
principalmente das presentes na fauna brasileira, também oferece suporte
veterinário e nutricional para os animais de vida livre, realizando a reabilitação e
soltura de indivíduos encontrados em situação de risco na região, tem um foco
grande no desenvolvimento da educação ambiental e da pesquisa científica, além
de se tornar um dos maiores atrativos turísticos da região. Em 2013 foi o primeiro
39
zoológico no Brasil a conseguir sucesso na reprodução, sob cuidados humanos,
do pinguim-de-magalhães.
Figura 23: Corredor de entrada do zoológico, a direita recintos dos pequenos primatas
brasileiros, a esquerda recintos dos psitacídeos (fonte: acervo pessoal).
2.4.2. Atividades desenvolvidas
2.4.2.1. Limpeza & Alimentação
No período de estágio uma das atividades relativas ao manejo foi o
acompanhamento da equipe de tratadores nos procedimentos básicos de limpeza
e alimentação dos animais, nesse estão inclusos os recintos da casa de répteis,
dos cangurus-vermelho, psitacídeos e ranfastídeos, dos pinguins-de-magalhães,
o corujal e o recinto da anta.
2.4.2.2. Manutenção & Ambientação
No manejo também foi realizada a constante manutenção das estruturas do
parque como a troca de placas informativas, reposição de grades e estruturas
danificadas, transporte de material e assistência às biólogas responsáveis. A
observação de animais recém-adicionados a recintos também era uma das
tarefas efetuadas, em meu período pude ver a aproximação bem sucedida de um
tucano-de-bico-verde recém-chegado com o residente do recinto, como também
pude observar e agir quando os animais residentes não aceitam a aproximação,
como foi o caso dos tamanduás-mirim que necessitaram de intervenção para
40
separá-los, e do casal de marianinha-de-cabeça-amarela que perseguiu e atacou
a nova integrante do recinto.
Figura 24a: Ambientação do recinto da jaguatirica (Leopardus pardalis) com a instalação de
uma escada de mangueira de bombeiro (fonte: acervo pessoal). Figura 24b: Ambientação e
revitalização do recinto da tartaruga-mordedora (Chelydra serpentina) através de novas
plantas, vasos, troncos, mangueira e areia (fonte: acervo pessoal).
Ambientações também foram realizadas, adicionando estruturas que
propiciassem inovações nos ambientes dos animais, muitas vezes essas sendo
enriquecimentos físicos, como arranhadores de corda de sisal nos pilares do
recinto das suçuaranas ou troncos e vegetação no recinto das suricatas. Foram
feitos também o plantio de duas mudas de árvores nativas nas instalações do
parque.
2.4.2.3. Setor de Medicina Veterinária
Pouco tempo foi passado no Setor de Medicina Veterinária, nele foi feito o
acompanhamento dos veterinários responsáveis em suas atividades, desde
auxílio em contenção animal para exames até nas rondas pelo parque para
medicação animal. Limpeza, contenção e alimentação dos animais que passam
por tratamento e residem no setor extra da veterinária foram as atividades mais
executadas, como também a recepção de animais apreendidos pela polícia
ambiental, sejam provenientes de acidentes ou tráfico.
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Figura 25: Posicionamento para realização de exames em um cágado-de-barbicha
(Phrynops groffroanus) (fonte: acervo pessoal).
2.4.2.4. Meliponário
O Zoológico de Bauru possui dois meliponários, estruturas contendo caixas
com colmeias de abelhas nativas sem ferrão do gênero Melipona, essa estrutura
é de ótima ajuda ao meio ambiente, com essas abelhas há um aumento na
polinização das plantas da região causando um impacto positivo no ecossistema.
As abelhas não apresentam grande risco devido à ausência do ferrão e são de
manejo relativamente fácil, necessitando apenas de cuidados iniciais para a
formação das colmeias e depois apenas manutenção, caso haja algum problema
na caixa como invasores e patógenos. No espaço eram criadas mais de dez
espécies diferentes de abelhas em cerca de vinte caixas, incluindo a menor
espécie de abelha do mundo a lambe-olhos. Fazíamos a limpeza das caixas,
retirada de discos de ovos para formação de novas colmeias, manejo das caixas
fracas com adição de mel e cera, e controle de uma espécie de mosca danosa às
colmeias, os forídeos.
42
Figura 26a: Colocação de discos de ovos de Melipona sp. em uma nova caixa para
produção de novas colmeias. Figura 26b: Abertura das caixas-mãe para checagem do
estado da colmeia (fonte: acervo pessoal).
2.4.2.5. Enriquecimento ambiental
O enriquecimento ambiental no Zoológico de Bauru era mais restrito, pois
não permitia o uso da dieta dos animais como material para enriquecimento
alimentar, assim os enriquecimentos produzidos nesse período eram em sua
grande maioria enriquecimentos físicos ou sensoriais.
A B
A B
43
Figura 27a: Caixas pintadas para uso em enriquecimentos temáticos de natal. Figura 27b:
Enriquecimento temático de folhas de malvavisco sendo distribuídas para lhamas (Lama
glama) em caixas temáticas (fonte: acervo pessoal).
Figura 28a: Escada de mangueira de bombeiro instalada no recinto da jaguatirica
(Leopardus pardalis). Figura 28b: Brinquedo de mangueira de bombeiro, corda de sisal e
corrente para as onças-pintadas (Panthera onca) (fonte: acervo pessoal).
Caixas de feno com tempero para os grandes felinos, trilhas de cheiro para
os tamanduás, arranhadores para as suçuaranas, pontes de mangueira para os
pequenos felinos e para os ouriços-cacheiros, redes de mangueira para os
macacos-aranha-de-cara-vermelha, montes de folha com frutas e cera de abelha
para os primatas africanos foram algumas das ferramentas ofertadas aos animais
do parque, além de enriquecimentos temáticos condizentes com a época de
festividades como caixas surpresas em cores natalinas para os primatas
brasileiros e para os grandes felinos, guirlandas de folhas e flores de malvavisco
para os primatas africanos e para a anta e meias vermelhas com frutas e feno
para o sagui-da-cara-suja foram introduzidos aos recintos durante as últimas
semanas do ano. Durante essa época uma equipe jornalística de um canal
regional veio até o zoológico especificamente para realizar uma matéria sobre a
importância dos enriquecimentos, na entrevista a diretora do zoológico e também
zootecnista explicou a relevância desses procedimentos para a vida animal sob
cuidados humanos.
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2.4.2.6. Condicionamento animal
Infelizmente o zoológico possuía uma carência quanto aos procedimentos
de condicionamento animal, porém no período em que estagiei uma médica
veterinária especializada em comportamento e condicionamento animal foi
convidada a passar cerca de duas semanas habituando não somente vários
animais do parque como também uma equipe de tratadores.
Figura 29a: Primeiro contato de um macaco-aranha-de-testa-branca (Ateles marginatus)
com o bastão de condicionamento animal. Figura 29b: Recompensa em formato de reforço
positivo com carinho na anta (Tapirus terrestres) Amora após resultados positivos no treino
de agulha para futuras aplicações de vacina e medicação (fonte: acervo pessoal).
Assim pude acompanhar os passos iniciais de um condicionamento animal
operante, a aproximação do animal com os materiais de treino e as primeiras
respostas a comandos, nesse intervalo acompanhei o condicionamento do
mandril, iraras, tigre-siberiano, macacos-aranha-de-testa-branca, anta, cangurus-
vermelho, lobo-guará e pinguins-de-magalhães. Observei e pude realizar alguns
45
comandos com a anta e com as iraras, e percebi quão rápido e positivo pode ser
o processo de condicionamento.
2.4.2.7. Educação ambiental
Uma das áreas mais fortes dentro do Zoológico de Bauru são os
programas de educação ambiental e sensibilização da população, em sua história
o parque já realizou uma grande quantidade de projetos, muitos com
colaborações com veículos midiáticos ou instituições de pesquisa, em minha
estadia na instituição estavam ativos projetos como o Curso de Férias, que
seleciona crianças de diversas idades para realizar múltiplas atividades
educativas nos bastidores do zoológico, e que durante a pandemia foi realizado
remotamente via atividades online; o Bicho do Mês, placas e QR Codes com
dicas espalhadas pelo parque que levam até o animal escolhido como
representante do mês; e Eu Curto Sagui: Ele lá, eu aqui! uma iniciativa de
conscientização dos perigos que o contato com as espécies de sagui presentes
no zoológico podem ter tanto para humanos, quanto para os animais.
Rotineiramente o zoológico recebe visitas agendadas de escolas de
municípios próximos e cidades distantes do interior do estado de SP, essas visitas
sempre recebem uma apresentação sobre a história do zoológico, o histórico de
seus animais e porquê esses se encontram sob cuidados humanos, evidenciando
as causas negativas que levam animais a viverem no parque, como queimadas,
atropelamentos, desmatamento e tráfico. A conscientização para a ação do
homem sobre os ecossistemas é um dos focos como também a desmistificação
dos preconceitos quanto ao papel dos zoológicos na atualidade. As visitações
podem ser também guiadas por uma das biólogas responsáveis acompanhada
dos estagiários, nessa dinâmica são feitos comentários relativos a características
e hábitos dos animais conforme o trajeto do parque é percorrido, sempre com o
enfoque em expor práticas que podem melhorar o convívio do homem com a
natureza, como também quebrar prejulgamentos e crenças populares, por
exemplo, a de que corujas são animais que trazem azar ou atraem a morte.
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Figura 30: Bancada de exposição de material biológico (fonte: acervo pessoal).
Diversos grupos são atendidos, empresas, faculdades, grupos seniores, escolas
de educação especial para pessoas com deficiências, além do público geral. São
realizadas bancas de exposição com material biológico de animais que viveram
ou vivem no zoológico como crânios, ovos, peles e penas em pontos específicos
do parque, nela são elaborados conceitos como o papel da cadeia trófica e dos
hábitos alimentares através da exposição do crânio de presas e predadores, na
apresentação realizada dois dos crânios mostrados são respectivamente o de
uma onça-pintada, o do maior carnívoro brasileiro e também o de uma anta, o
maior herbívoro brasileiro, sempre evidenciado que nenhum material ali presente
foi retirado a força e nenhum animal foi ferido no processo.
Outros tópicos trabalhados nas bancas são o de ossos pneumáticos em
aves, a diferença da termorregulação em mamíferos e répteis, as peculiaridades
das aves gigantes, como é realizada a alimentação de alguns indivíduos como é o
caso dos tamanduás, entre outros. Após um breve período de adaptação as
bancas de exposição foram deixadas sob minha responsabilidade e pude aos
poucos compreender a importância de adaptar o discurso realizado dependendo
da faixa etária presente, como transmitir a mensagem da maneira mais adequada
e útil ao visitante sempre respeitando as limitações de cada grupo ouvinte.
47
Figura 31a: Explicação das diferentes dentições no mundo animal durante apresentação.
Figura 31b: Apresentação de uma troca de pele de serpente a uma sala de alunos (fonte:
acervo pessoal).
Rondas eram realizadas pelo parque para checagem dos recintos e
de seus residentes, como também monitorar a presença dos visitantes tirando
dúvidas e dando assistência quando necessário. A última atividade desenvolvida
no estágio foi à produção de pequenos textos informativos a serem postados nas
redes sociais oficiais da instituição, criei um texto informativo sobre os danos
causados em árvores por escarificação e pichação de visitantes, como também
elaborei uma atividade sobre lobos-guará.
2.5. PARQUE ZOOLÓGICO MUNICIPAL “QUINZINHO DE BARROS”
2.5.1. História & Estrutura
Antes da fundação do Parque Zoológico Municipal “Quinzinho de Barros” a
cidade de Sorocaba contava com um espaço de lazer chamado Jardim dos
Bichos, uma área precária inaugurada em 1916 que continha alguns espécimes
da fauna brasileira encontrados na região como jacarés, bichos-preguiça, veados,
macacos, serpentes e aves. Esse espaço veio a fechar em 1930 e após diversas
mudanças e aquisições em 1968 foi construído propriamente uma instituição de
conservação.
48
O parque possui uma área de 128.339 metros quadrados, onde 17.500
metros quadrados são ocupados pelo lago e 38.700 por mata secundária, onde
habitam diversos animais, como grupos de bugios, bichos preguiça, saguis,
cutias, gambás, garças e serpentes. O parque possui estruturas como um
redondel de grandes felinos, um setor de psitacídeos completo com mais de 25
espécies, um serpentário composto por invertebrados, anuros, serpentes e
lagartos, o micário mais completo e diversificado do estado de São Paulo, um
grande lago com quatro ilhas artificiais com primatas, além de diversos espécimes
nativos e exóticos.
Além dos recintos o parque contém espaços disponíveis para os visitantes:
uma lanchonete, diversos banheiros, uma biblioteca, arquibancada para
apresentações, museu e áreas para piquenique, também existem áreas restritas a
visitação como um galpão e barracão, setor veterinário, creche e maternidade,
dois setores extra onde permanecem animais excedentes ou em tratamento e
alojamento para estagiários.
Figura 32: Entrada do zoológico de Sorocaba (fonte: acervo pessoal).
Hoje o zoológico possui cerca 1.000 animais de mais de 250 espécies
incluindo invertebrados, anfíbios, répteis, aves e mamíferos, é visitado
anualmente por 600 mil pessoas e recebe cerca de 90.000 alunos de escolas
públicas e particulares de mais de 80 cidades. Com profissionais de alta
qualidade é classificado pelo IBAMA na categoria A, a mais elevada na
classificação desse tipo de instituição, tem diversos projetos de conservação e é
parte integral e fundamental do município de Sorocaba.
49
Figura 33a: Visão do lago presente no parque e suas ilhas artificiais com primatas. Figura
33b: Biblioteca e área de reuniões da equipe técnica (fonte: acervo pessoal).
2.5.2. Atividades desenvolvidas
2.5.2.1. Limpeza & Alimentação
Na disposição dos serviços atribuídos aos estagiários uma das atividades
recorrentes era o acompanhamento da equipe de tratadores em suas tarefas
diárias, por cerca de uma semana e meia era possível acompanhar cada dia um
tratador novo. Nesse período realizei a limpeza dos setores Cerrado, que incluía
os tamanduás-bandeira, raposinhas-do-campo, cachorros-do-mato, lobos-guará,
jabutis-piranga, veados-catingueiro e cutias; do setor Grandes Felinos/Elefante
com tigres-de-bengala, onça-pintada, suçuarana, jaguatirica e elefante asiático;
setor dos Primatas, com chimpanzés, babuínos, mandril, lêmures-de-cauda-
anelada, macacos-caiarara, cuxiú, muriqui-do-sul, duas espécies de bugio e
macacos-aranha; setor do Urso/Ariranha com ursos-de-óculos, ariranha e lontras;
setor dos Cracídeos/Corujas/Pelicanos com diversas espécies de mutuns,
jacucacas, cujubis, corujas-orelhudas, suindaras, mocho-dos-banhados, jacurutu,
murucututu e murucututu-de-barriga-amarela, gavião-pernilongo, falcão-relógio,
gavião-carrapateiro, gavião-carijó, pelicanos-rosa, atobás, grou-coroado, múltiplas
espécies de anatídeos, tigres-d ’agua, cágado-de-barbicha e tartarugas-da-
A
B
50
Amazônia; setor de Psitacídeos/Ranfastídeos muito completo possuindo não só
mais de 25 espécies de psitacídeos como papagaios, tiribas, araras e aves
exóticas, mas também três espécies de tucanos e um calau; setor das Ratitas
incluindo emas, avestruz, emu e casuar, ali também se encontram alguns
pelicaniformes como os arapapás e as garças-vaqueiras, há também um filhote
de anta albina, única no Brasil.
A
Figura 34a: Corredor interno do setor dos pequenos felinos. Figura 34b: Alimentação dos
jabutis-piranga (Chelonoids carbonaria) (fonte: acervo pessoal).
Além da limpeza de cochos, recintos e cambiamentos era feita também a
alimentação desses animais com as dietas enviadas pelo setor da nutrição, por
B
51
vezes a dieta era disposta de maneira diferenciada como no caso dos lobos-guará
que tinham as frutas de sua dieta presas em videiras na parede do recinto,
estimulando comportamentos de busca.
2.5.2.2. Setor de Medicina Veterinária
Durante uma semana o estágio foi realizado no setor de Medicina
Veterinária, lá parte da rotina era a limpeza das gaiolas dos animais presentes no
ambulatório e creche, como também entrega da alimentação e pesagem dos
animais. O cuidado dos filhotes, especialmente das maritacas era a tarefa
principal, era realizada a pesagem, troca de ninhos, preparo de papa e
alimentação por sonda em cerca de 30 filhotes dessa espécie. A instituição
funciona não oficialmente como CETAS, recebendo animais encontrados pela
população local, corpo de bombeiros ou polícia ambiental, nesse processo era
necessária a recepção desses animais, contenção, análise do estado do indivíduo
e medicação quando necessário tudo acompanhando a equipe técnica de
médicos veterinários. Além das maritacas alguns dos animais atendidos foram
uma cutia amputada, um carcará com asa fraturada, urutaus e um bacurau que
sofreram colisões, um tucano-de-bico-verde com uma fratura no bico, diversas
corujinhas-do-mato, tigres-d ’água, um jabuti com má formação de carapaça,
filhotes de bem-te-vi, andorinhão, beija-flor, grous-coroado e marreca-caneleira.
52
Figura 35a: Alimentação por sonda em filhotes de maritaca (Psittacara leucophthalmus).
Figura 35b: Bacurau (Nyctidromus albicollis) em cima de urutau (Nyctibius griseus) ambos
em tratamento após colisões. Figura 35c: Filhotes de maritaca (P. leucophthalmus) à espera
de alimentação (fonte: acervo pessoal).
2.5.2.3. Aproximação & Observação
Um dos procedimentos recorrentes no zoológico é a aproximação de novos
indivíduos em recintos que já possuem residentes, assim otimizando o espaço e
permitindo que animais que não podem ser reintegrados na natureza tenham uma
área maior para viverem nos recintos feitos para a espécie. Esse processo não é
sempre fácil, devido a dominância e territorialidade que os animais residentes
demonstram sobre o seu espaço podem ocorrer brigas entre os animais, assim
então uma das funções dos estagiários é a de observar a aproximação desses
indivíduos e ficar preparado para intervir ou acionar os responsáveis que possam
intervir e assim evitar acidentes. Em meu período de estágio foram aproximados
dois casais de araras-azuis em uma área, como também três animais diferentes,
A B
C
53
B A
um mutum-do-norte, uma jacucaca e um pavão-azul no recinto coletivo de
imersão chamado Aviário. Infelizmente os casais de araras-azuis não haviam se
adaptado e agora passavam por um processo de rodízio entre o recinto na
exposição e o recinto no extra.
2.5.2.4. Enriquecimento ambiental
No programa de estágio do zoológico de Sorocaba os estagiários da
biologia são responsáveis por duas semanas de produção e introdução de
enriquecimentos ambientais para os animais do plantel e do setor extra, esses
enriquecimentos são determinados pelos biólogos responsáveis que então
orientam os estagiários sobre como fazê-los assim como receber novas ideias.
Devido a setorização da instituição por vezes houveram conflitos quanto a
produção ou entrega dessas ferramentas, seja por desencontro com o tratador
responsável, por falta de comunicação que ocasionava na soltura dos animais de
seus cambiamentos para os recintos antes que a colocação do objeto fosse feita
ou por ausência do alimento que seria usado no enriquecimento naquele dia,
porém em sua grande maioria todos foram realizados mesmo quando necessária
a modificação do material.
54
A B
Figura 36a: Enriquecimento físico e sensorial para pequenos felinos com penas de aves
silvestres amarradas em uma corda de sisal e borrifadas com essência de erva-de-gato.
Figura 36b: Babuínos-sagrados (Papio anubis) interagindo com o enriquecimento alimentar
na forma da dieta dos mesmos colocada em galões com galhos e folhas de malvavisco
(fonte: acervo pessoal).
Os primatas tinham certa prioridade dentro do planejamento de
enriquecimentos, os chimpanzés por exemplo receberam objetos mais de uma
vez na semana, sejam revistas para folear e rasgar, à galões com parte da dieta,
esse último tendo sido realizado para outros animais como os lêmures-de-cauda-
anelada e os babuínos-sagrados; Montes de folhas secas com grãos para os
mutuns e jacucacas, varal de frutas para araras, carne enrolada em palha de
milho para as harpias e o condor, dieta espalhada pelo recinto para os rapinantes,
entre outras foram algumas atividades produzidas para as aves. Aos mamíferos
eram usadas múltiplas ferramentas como cocos verde, caixas e bolas com parte
da dieta para os ursos-de-óculos, lobos-guará, raposinhas-do-campo e cachorros-
do-mato, caixas com terra e minhoca para os quatis e suricatas. Para estímulos
sensoriais foram utilizados mel e canela em troncos para as iraras, fezes de
veado-catingueiro espalhadas pelos recintos dos grandes felinos e também caixas
de leite cortadas com palha usada dos ratos do biotério para algumas serpentes.
Figura 37a: Chimpanzés (Pan troglodytes) interagindo com o enriquecimento alimentar.
Figura 37b: Jabuti-piranga (Chelonoids carbonaria) comendo o enriquecimento alimentar
varal de folhas (fonte: acervo pessoal).
55
As atividades feitas durante o mês em sua grande maioria se seguiam por
um período de observação, onde era avaliado se o animal teve interesse pelo
enriquecimento proposto e quais comportamentos esse indivíduo veio a realizar.
2.5.2.5. Condicionamento animal
O condicionamento animal embora presente nas atividades da equipe
técnica não foi acompanhado com profundidade com exceção em dois momentos:
o condicionamento rotineiro do urso-de-óculos macho chamado Pepito, e a
aplicação diária de insulina no mandril fêmea Mel. Além desses indivíduos
animais como os hipopótamos e o elefante-asiático também possuem algum grau
de condicionamento.
2.5.2.6. Solturas
Como o zoológico muitas vezes acaba servindo de maneira não oficial
como um CETAS muitos animais são entregues aos cuidados da equipe técnica,
e após recuperados necessitam ser soltos em áreas protegidas e
regulamentadas, em meu período de estágio pude acompanhar uma soltura em
um parque ecológico da cidade, lá foram soltas quatorze corujinhas-do-mato, três
periquitos-rico e um carcará, mesmo com o grande número de indivíduos sendo
soltos não houveram complicações.
Figura 38: Soltura de corujinhas-do-mato (Megascops choliba) pela residente veterinária do
zoológico em uma área de preservação (fonte: acervo pessoal).
56
2.5.2.7. Apresentação final
A instituição exige que os estagiários realizem uma apresentação final na
última semana, o tema é livre e escolhido pelo estagiário, no meu caso decidi
seguir na linha do comportamento e bem-estar animal, assim fiz uma
apresentação falando sobre a base e história do uso do enriquecimento ambiental
como ferramenta para aumento na qualidade de vida dos animais cativos, assim
como seus tipos, aplicações, implicações positivas aos animais, aos tratadores e
a instituição em si. Recebi comentários positivos e elogios pela apresentação
como também levantei pontos que geraram discussões produtivas.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estágio curricular foi realizado em quatro instituições que trabalham com a
manutenção de animais silvestres, sendo: um centro de recuperação de animais
silvestres, uma organização sem fins lucrativos que mantem primatas brasileiros,
uma instituição sem fins lucrativos que em parceria a uma empresa privada
realiza o monitoramento de um trecho do litoral brasileiro e recupera animais
marinhos e, um dos maiores zoológicos brasileiros, cuja gestão é pública. A partir
dessas experiências tão diferentes, mas que se comunicam em temas que tocam
a recuperação, a manutenção e conservação das espécies da fauna brasileira, foi
possível atingir os objetivos gerais e específicos do estágio: de proporcionar o
aprimoramento dos conhecimentos obtidos ao longo da graduação e promover
uma capacitação teórico-prática quanto profissional de biologia de animais
silvestres, assim como desenvolver um pensamento crítico quanto as políticas
públicas e ambientais aplicadas no Brasil relacionadas à preservação da fauna.
O trabalho realizado em centros de recuperação, mantenedores de fauna (os
chamados “santuários”) e zoológicos são de extrema importância para a
conservação das espécies, uma vez que são responsáveis não apenas pela
manutenção e reabilitação do animal, mas também por atuarem como instituições
com potencial para educar a sociedade e desenvolver pesquisas científicas que
ajudam a entender mais sobre a fauna silvestre e sua interação com o meio.
Ao acompanhar como é feita a gestão de diferentes instituições e como são
distribuídas as tarefas, pude perceber as problemáticas que envolvem a
57
conservação no país, desde a urgente necessidade de desenvolver uma
consciência ambiental na população através de atividades de educação ambiental
que realmente envolvam crianças e adultos na temática, introduzindo a
importância da preservação do meio ambiente no dia-a-dia do cidadão; até a
necessidade de incentivos governamentais às instituições e aplicação de leis
eficazes quanto as atividades antrópicas que causam a perda da biodiversidade
da fauna e flora brasileira. E além disso, a importância de profissionais
capacitados e bem habilitados atuando como fiscalizadores, educadores
ambientais, gestores, cuidadores, pesquisadores, etc., que atuem eticamente em
prol do bem-estar dos animais cativos e daqueles de vida livre.
Tendo em vista os impactos da ação humana sobre a perda de biodiversidade no
mundo, causando cada vez mais acidentes e fragmentação de habitats e, também
que o tráfico de animais silvestres existe, por que há uma demanda social por
esses indivíduos, faz-se necessária a existência de locais que realizem atividades
de educação ambiental para conscientizar a população acerca de suas atividades
e instituições que mantenham e conservem a diversidade da fauna brasileira. E,
para isso, é preciso que estes locais trabalhem juntos, em parceria, para garantir
que as espécies se perpetuem na natureza, dentro de suas populações e que,
aqueles animais que necessitem de atendimento, tenham a oportunidade de
receber os cuidados necessários para retornar à natureza, respeitando sua
história natural, seu papel ecossistêmico e garantindo o bem-estar de toda a
população de indivíduos. Assim como, em casos onde esse retorno não é
possível, devem garantir ao animal uma qualidade de vida pautada em valores
éticos e respeitando suas características biológicas, proporcionando ao indivíduo
um bem-estar que permita que o mesmo prospere em cativeiro. Vale ressaltar
também que, o trabalho dessas instituições ex situ é de extrema importância para
a conservação in situ, uma vez que através de um conhecimento aprofundado
acerca de uma espécie e de suas relações com o meio em que esta inserida, é
possível estabelecer estratégias, planos e projetos para a conservação das
populações em vida livre, assim como avaliar os impactos da sociedade sobre a
biodiversidade da fauna brasileira.
58
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Acesso em: 12/08/2021
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SOROCABA, Prefeitura de. < https://www.sorocaba.sp.gov.br/zoologico/> Acesso
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