UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS – RIO CLARO unesp PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO HUMANO E TECNOLOGIAS ( TECNOLOGIAS NAS DINÂMICAS CORPORAIS) BASE DE DADOS ONLINE NA DISSEMINAÇÃO SOBRE LAZER DE IDOSOS ANA PAULA EVARISTO GUIZARDE TEODORO Dissertação apresentada ao Instituto de Biociências do Câmpus de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Humano e Tecnologias. Dezembro - 2011 Ana Paula Evaristo Guizarde Teodoro Base de dados online na disseminação sobre lazer de idosos Orientadora: Profa. Dra. Gisele Maria Schwartz Rio Claro – SP 2011 Dissertação apresentada ao Instituto de Biociências do Campus de Rio Claro - SP, Universidade Estadual Paulista, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Humano e Tecnologias. Teodoro, Ana Paula Evaristo Guizarde Base de dados online na disseminação sobre lazer de idosos / Ana Paula Evaristo Guizarde Teodoro. - Rio Claro : [s.n.], 2011 138 f. : il., figs., gráfs., quadros Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências de Rio Claro Orientador: Gisele Maria Schwartz 1. Tecnologia – Aspectos sociais. 2. Inclusão digital. 3. Usabilidade de site. I. Título. 303.483 T314b Ficha Catalográfica elaborada pela STATI - Biblioteca da UNESP Campus de Rio Claro/SP Ana Paula Evaristo Guizarde Teodoro Base de dados online na disseminação sobre lazer de idosos Comissão Examinadora: ______________________________________ Profa. Dra. Gisele Maria Schwartz - Orientadora ____________________________________ Profa. Dra. Jossett Campagna ____________________________________ Profa. Dr. Afonso Antonio Machado Rio Claro, 09 de Dezembro de 2011. Dissertação apresentada ao Instituto de Biociências do Campus de Rio Claro - SP, Universidade Estadual Paulista, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Humano e Tecnologias. Dedico este trabalho ao Mestre Durvalino Ferreira Holanda, por todos ensinamentos e pela oportunidade que tive, ao vivenciar momentos maravilhosos a seu lado. AGRADECIMENTOS Nesta fase, gostaria de deixar registrado meus sinceros agradecimentos... A Deus – Criador do Céu e da Terra... Ao Mestre Durvalino Ferreira Holanda... À Família Verdadeira... A meu esposo Hugo Alexandre Teodoro... por ter suportado minha ausência física e, principalmente, compreendido o quanto tudo isso é importante para mim. Agradeço a Deus todos os dias por ter conhecido a melhor pessoa do mundo... VOCÊ... Te amo. À minha professora orientadora Dra. Gisele Maria Schwartz... pela compreensão, pela paciência e pelos desafios cada vez mais complexos que me foram colocados na realização deste trabalho, pelo estímulo e exigência crescente para o meu desenvolvimento acadêmico e profissional. Aos amigos verdadeiros... Ao LEL – Laboratório de Estudos do Lazer, especialmente, Cristiane, Danielle, Danilo, Giselle, Juliana, Leonardo, Murilo, Norma, Priscila e Viviane... pelo prazer da convivência, pela solidariedade e amizade compartilhadas em todo esse tempo. Aos professores Dr. Afonso e Dra. Jossett... agradeço as ricas sugestões a este trabalho, assim como, o incentivo para continuar seguindo com este sonho. A todos que direta ou indiretamente contribuíram com meu trabalho. A todos, o meu profundo agradecimento... Muito obrigada. “A maneira de tornar boas as pessoas é reconhecer o bem nelas” Paramahansa Yogananda. RESUMO O processo evolutivo da internet tem ampliado a adesão humana ao ambiente virtual, o que levou a comunidade científica a investir esforços para compreender melhor os aspectos inerentes à qualidade dessa interação. No âmbito das pesquisas envolvendo a temática do lazer virtual, bem pouco se tem debruçado atenção sobre a qualidade das informações específicas veiculadas, principalmente, em relação ao público idoso, instigando a atenção deste estudo. Este estudo, de natureza qualitativa, teve como objetivo a produção de uma base de dados, por intermédio de links contendo informações a respeito dos conteúdos culturais do lazer, neste caso, para a população idosa, além da elaboração e aplicação do Inventário de Avaliação de Usabilidade de Sites sobre Lazer (IAUSLA-21+). Esse instrumento foi dividido em duas partes, sendo a primeira referente à caracterização da amostra e a segunda composta por uma escala do tipo Likert, graduada em 5 pontos. O instrumento foi aplicado após vivências inclusivas no site, com uma amostra intencional de 60 sujeitos, de ambos os sexos, acima de 60 anos, familiarizados com o uso de computador e que se dispuseram a participar do estudo, pertencentes a programas de inclusão digital da cidade de Rio Claro-SP e São Paulo-SP. Os dados provenientes da aplicação dos instrumentos foram analisados de forma descritiva, por meio da utilização da Técnica de Análise de Conteúdo Temática e ilustrados numericamente, de modo percentual. Em relação ao layout, informação e operacionalização, os resultados reiteram que a base de dados construída atendeu aos objetivos do estudo, indicando boa usabilidade, porém, atualizações deverão ser realizadas sempre que necessário. Sugere-se que novas possibilidades referentes ao campo do lazer virtual sejam oferecidas aos idosos, no sentido de ampliar as perspectivas de vivências frente às novas tecnologias. Palavras-chave: Lazer, Idoso, Tecnologia, Base de dados, Usabilidade. ABSTRACT The evolutionary process of the Internet has expanded the membership to human virtual environment, which led the scientific community to make efforts to better understand the intrinsic qualities of this interaction. In the context of research involving the theme of virtual entertainment, little attention has been addressing the quality of information on specific vehicles, particularly in relation to senior public, arousing the attention of this study. Therefore, this qualitative study aimed to produce a database, through links to information about the cultural content of leisure in this case for the elderly, and the development and implementation of the Usability Evaluation of Recreation Sites Inventory (IAUSLA-21 +). The instrument was divided into two parts, the first referring to the characterization of the sample, and the second consisting of a Likert type scale, graduated in 5 points. The instrument was administered to an intentional sample of 60 subjects of both sexes over 60 years, familiar with computer use and that were willing to participate in the study, belonging to the Digital Inclusion Programs, at Rio Claro-SP and Sao Paulo-SP cities. Data from the application of the instruments were descriptively analyzed through the use of Thematic Content Analysis Technique and numerically illustrated by percentage. The results indicated that the built database met the objectives of the study, indicating good usability, but updates should be held whenever necessary. Therefore, it is suggested that new possibilities could be offered to the elderly, including those relating to leisure field, to broaden the perspectives of experiences facing the new technologies. Keywords: Leisure, Elderly, Technology, Database, Usability. SUMÁRIO Página 1 ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO .................................................................... 11 2 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12 3 REVISÕES SISTEMATIZADAS ............................................................................. 15 3.1 Fundamentação teórica ...................................................................................... 15 3.2 Revisão de literatura – Artigo 1 .......................................................................... 31 4 OBJETIVOS ........................................................................................................... 55 5 MÉTODO ................................................................................................................ 56 5.1 Natureza do estudo ............................................................................................. 56 5.2 Instrumento ......................................................................................................... 57 5.3 Sujeitos ............................................................................................................... 57 5.4 Procedimentos .................................................................................................... 58 5.5 Análise dos resultados ........................................................................................ 61 6 RESULTADOS ....................................................................................................... 62 6.1 Resultados da primeira elaboração do site ........................................................ 62 6.2 Resultados – Artigo 2 ......................................................................................... 66 6.3 Resultados da reestruturação do site ................................................................. 87 7 CONCLUSÃO......................................................................................................... 92 REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 95 APÊNDICES ..............................................................................................................105 APÊNDICE A – Instrumento para caracterização da amostra .................................105 APÊNDICE B - Instrumento para avaliar a usabilidade de sites sobre lazer ...........107 APÊNDICE C – Palavras-chave utilizadas no site Google de acordo com cada conteúdo cultural do lazer .........................................................................................109 APÊNDICE D – Quadros referentes aos sites escolhidos para a composição da base de dados ....................................................................................................................112 APÊNDICE E – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ................................134 ANEXOS ...................................................................................................................... 43 ANEXO A – Comprovante de submissão de artigo ao Periódico Científico Interface- comunicação, saúde, educação ................................................................................136 ANEXO B – Aprovação do Comitê Ética e Pesquisa com Seres Humanos ............137 ANEXO C – Comprovante de submissão de artigo ao Periódico Científico ETD – Educação Temática Digital .......................................................................................138 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Página 1. FIGURA 1. Primeira versão da página inicial do site conteúdos culturais do lazer para idosos ................................................................................................................. 63 2. FIGURA 2. Primeira versão da página referente ao conteúdo cultural do lazer físico-esportivo.......................................................................................................... 64 3. FIGURA 3. Primeira versão da página referente ao calendário esportivo e eventos ....................... ............................................................................................................. 65 4. FIGURA 4. Última versão da página inicial do site conteúdos culturais do lazer para idosos ................................................................................................................. 88 5. FIGURA 5. Página inicial ampliada do site conteúdos culturais do lazer para idosos .........................................................................................................................89 6. FIGURA 6. Última versão da página referente ao conteúdo cultural do lazer físico- esportivo ......................................................................................................................90 7. FIGURA 7. Última versão da página referente ao calendário esportivo e eventos..... ...................................................................................................................91 11 1 ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO A presente dissertação está apresentada em tópicos, sendo dividida em: introdução, revisões sistematizadas, objetivos, método, resultados e conclusão. As revisões sistematizadas foram desenvolvidas por meio de uma fundamentação teórica geral sobre a temática estudada, sendo transformada em um artigo submetido em periódico científico. O método aponta, de forma geral, os principais procedimentos para a realização da pesquisa. Os resultados foram divididos em preliminares e finais. Uma parte dos resultados da pesquisa foi divulgada por meio de um artigo submetido em periódico científico. A dissertação é composta por dois artigos no total, os quais foram submetidos a diferentes periódicos. A conclusão baseia-se em toda a pesquisa, com os principais resultados obtidos. Esta organização está ilustrada a seguir: Introdução Dissertação Revisões sistematizadas Objetivos Método Resultados Conclusão Fundamentação teórica geral (PARA QUALIFICAÇÃO) Revisão de literatura – Artigo 1 - Inclusão digital de idosos: interfaces com a aquisição de conhecimentos sobre saúde, educação e lazer (PARA DEFESA) Resultados - Artigo 2 – Usabilidade de site sobre lazer para idosos (PARA DEFESA) Resultados da primeira elaboração do site (PARA DEFESA) Resultados da reestruturação do site (PARA DEFESA) 12 2 INTRODUÇÃO O acesso às tecnologias, na atualidade, vem aumentando, principalmente em virtude das transformações e inovações ocorridas no período pós-industrial. A cada dia, criam-se novos aparelhos, desde celulares com internet, até televisores digitais. No âmbito do lazer, esses recursos acabam potencializando e diversificando as possibilidades de vivências significativas, perpassando os interesses físicoesportivos, manuais, intelectuais, artísticos e sociais do lazer, apontados por Dumazedier (1979) e, também, os turísticos, acrescentados por Camargo (1992) e o interesse virtual, proposto por Schwartz (2003). O fortalecimento do interesse virtual pode ser decorrente dessa crescente demanda sobre o mercado tecnológico. Os equipamentos ficam cada vez mais sofisticados, os games ganham personagens quase reais e, por meio do acesso à internet, já é realidade a união das atividades em um só ambiente, pois, no computador, é possível assistir filmes, ouvir músicas, conversar em tempo real com outras pessoas, ler jornais, estudar, entre outras manifestações relativas aos campos do trabalho e do lazer. Grande parte dos recursos tecnológicos utilizados até um tempo atrás era destinada às tarefas relativas ao trabalho, hoje, o computador, por exemplo, pode ser um meio para divertimento, representando um sinônimo de comunicação, de entretenimento e de interação humana. As atividades que envolvem virtualidade e que possuem as características voltadas às ciências da informação e novas tecnologias estão, comumente, associadas aos jovens, pois, muitos nasceram nesta era do grande desenvolvimento digital e facilmente se adéquam às mudanças, o que difere da população idosa, pelo fato de que, para acompanhar os avanços da informática, um grande desafio acaba sendo enfrentado. De acordo com a World Health Organization (WHO, 2010), nos países desenvolvidos, os idosos são caracterizados por indivíduos acima de 65 anos. Ainda segundo a WHO, no Brasil, os indivíduos com mais de 60 anos já são classificados como idosos e nos países do continente africano, por exemplo, já são considerados indivíduos idosos pessoas acima de 50 anos. A classificação relacionada às faixas etárias pode ser encontrada de inúmeras formas, gerando algumas divergências, 13 porém, essas classificações dependem, muitas vezes, do nível de desenvolvimento de uma nação, sendo diferentes de país para país. Para realização de simples tarefas do cotidiano, há uma necessidade de pessoas idosas estarem também ligadas à perspectiva de uso da informática, da robótica ou da microeletrônica, seja pela utilização de caixas eletrônicos bancários, eletrodomésticos ou para o simples uso do controle remoto do televisor, cujas facilidades estão acompanhadas, geralmente, de tecnologia. Sendo assim, como inserir a população idosa nesse contexto? Como incentivar a prática de atividades relativas ao lazer virtual entre idosos? Como trabalhar os conteúdos culturais do lazer entre idosos, utilizando esses recursos tecnológicos? Esses questionamentos tornam-se cada vez mais presentes, na medida em que aumenta a população idosa no mundo, ampliando os interesses e a própria necessidade de inserção dessa população no ambiente virtual. Nos últimos anos, houve um crescimento significativo de pessoas idosas (MATSUDO, 2001). Está cada vez mais marcante, na maioria das sociedades do mundo e, em especial, nas mais desenvolvidas, o aumento do número de idosos. Muitos idosos adotam estratégias para obter melhor qualidade de vida, seja por meio de uma alimentação mais saudável, da realização de exames periódicos, da ampliação das redes de relacionamento social, da prática de atividades físicas, enfim, uma série de ações preventivas, as quais podem promover maior qualidade à longevidade alcançada. Para Gonçalves e Vilarta (2004), o acesso ao lazer é um componente fundamental da qualidade de vida de uma população, além de ser um direito constitucional. Sendo assim, como ampliar as opções de lazer dessa população idosa, incluindo as inúmeras possibilidades enriquecedoras das vivências no ambiente virtual? Essa perspectiva de ação supera a ideia simplista de ser mais um incentivo ao sedentarismo, por deixar os idosos na frente de um computador o dia todo, mas, tem o intuito de propiciar uma complementação às suas opções de lazer diária, buscando, inclusive, informações capazes de fazê-los ocupar o tempo disponível de maneira saudável, socialmente adequada e virtualmente atualizada. A inserção de pessoas idosas em programas destinados à inclusão digital pode contribuir para a aquisição de novos conhecimentos, melhorando os aspectos relativos à auto-estima, favorecendo, ainda, as relações sociais, para esta população. A quantidade de programas voltados para a inclusão digital de idosos 14 está crescendo, mas, ainda é considerada pequena, ao se comparar com o número de idosos no mundo, e isso acontece, inclusive, devido à falta de iniciativas de políticas públicas, ou mesmo, por uma baixa demanda dos próprios idosos. O idoso, muitas vezes, sente vergonha de procurar cursos ou programas específicos de informática, pelo fato de não ter acompanhado de perto a evolução tecnológica, o que vem favorecer a exclusão digital deste público. Segundo Kachar (2003), vem ocorrendo um aumento de usuários do computador entre a população idosa e a tendência é que isto se acentue, porém, nem todos têm ainda acesso aos conhecimentos técnicos necessários para serem engajados. Programas voltados para a inclusão digital entre idosos começam a ser divulgados, bem como, websites na internet voltados para o desenvolvimento social e cultural dessa população. Entretanto, bem poucos websites, ainda, se preocupam em propiciar ferramentas facilitadas de acesso ao ambiente virtual, com adequado nível de informação. Sendo assim, qual a possibilidade de as ferramentas tecnológicas utilizadas no ambiente virtual ampliarem o conhecimento e a perspectiva do lazer pró-ativo de idosos? Com base nesses questionamentos apontados, torna-se importante a elaboração de uma base de dados sobre lazer de idosos, salientando a necessidade de expansão de oportunidades para o lazer desse segmento. Esta base de dados foi criada e disponibilizada no site do LEL - Laboratório de Estudos do Lazer da UNESP de Rio Claro-SP, por intermédio de links contendo informações a respeito dos conteúdos culturais do lazer, neste caso, para a população idosa. A partir dessa iniciativa, foi elaborado e aplicado um instrumento, no sentido de avaliar a satisfação dos idosos com a usabilidade desse site. 15 3 REVISÕES SISTEMATIZADAS 3.1. Fundamentação teórica O aumento do número de idosos no mundo tem contribuído diretamente para a configuração de novos avanços tecnológicos direcionados para este público. Esta evolução se faz perceber, por exemplo, na fabricação de novos fármacos, ou mesmo, no que diz respeito aos inúmeros avanços nos setores de diagnóstico e tratamento de algumas doenças. Com a expectativa de vida da população aumentando, cresce, também, a preocupação com a adoção de novas estratégias para garantir a promoção da qualidade de vida. De acordo com o último Censo realizado no Brasil (IBGE, 2011), a taxa de representatividade do número de idosos vem crescendo, enquanto a faixa etária de 0 a 25 anos configura-se menor, quando comparada com os dados do Censo realizado no ano de 2000. Os idosos representavam 4,8% da população em 1991, e, em 2010, passaram para 7,4% (IBGE, 2011). O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2011) publicou, recentemente, que as regiões sul e sudeste do Brasil foram as que tiveram o maior aumento no número de pessoas com 65 anos ou mais, representando 8,1% da população, nessas regiões. Pesquisas de Ramos, Veras e Kalache (1987), com dados mais antigos, já evidenciavam, no crescimento da população brasileira, o destacado declínio, tanto da mortalidade, como da natalidade, como consequência principal para a ocorrência deste aumento no número de idosos. As terminologias utilizadas para caracterizar as pessoas acima de 60 anos são bastante variadas, sendo encontrados diversos termos como: terceira idade, melhor idade, entre outros. Tendo em vista a necessidade de sistematização de um único termo para ser utilizado no desenvolvimento deste estudo, tomou-se por base a designação utilizada pela WHO (WHO, 2010) para a qual, são caracterizados idosos os indivíduos a partir de 60 anos, embora se tenham mantidos os outros termos, quando estes foram originalmente citados em outros estudos utilizados ao longo do texto. As informações disponíveis no que concerne ao indivíduo idoso, em artigos, reportagens, livros, entre outros, geralmente, enfatizam o envelhecimento em sentido amplo (SPIRDUSO, 1995; PAPALÉO NETO, 1996; VERAS, 2002); as 16 alterações fisiológicas que ocorrem com o passar do tempo (ROGERS; EVANS, 1993; LEXELL, 1997); e algumas acentuam a temática qualidade de vida (FARQUHAR, 1995; BUCHNER, 1997; NERI, 2009). Outros estudos publicados fomentam o incentivo de ações para a importância do envelhecimento ativo (BOWLING, BRAZIER, 1995; OKUMA, 1998; MAZO; LOPES, BENEDETTI, 2009); a aptidão física e funcional do idoso (RIKLI; JONES, 2000; MATSUDO, 2010); a alimentação saudável (STEELE, 1998; BUTTRISS, 1999) e aspectos relacionados à longevidade (PAFFENBARGER et al., 1986). Porém, poucos estudos, ainda, focalizam a atenção sobre as ações em políticas públicas específicas para o indivíduo idoso. A promoção da saúde, bem como, o incentivo a ações preventivas no combate às doenças de idosos, já se apresentam como aspectos aventados em algumas políticas públicas, como a criação do Conselho Nacional dos Direitos do Idoso (BRASIL, 2002) e a aprovação da Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (BRASIL, 2006), para conseguir atender a esta crescente demanda. Outras iniciativas, como as do ACSM - American College of Sports Medicine (ACSM, 2011), uma organização em medicina esportiva e ciência do exercício, têm fornecido importantes contribuições para os estudos envolvendo a faixa etária idosa, assim como, as do AHA - American Heart Association (AHA, 2011), que divulga artigos e orienta inúmeras pessoas sobre as doenças cardiovasculares e como evitá-las. No Brasil, o CELAFISCS – Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul (CELAFISCS, 2011) é um importante órgão, o qual difunde a prevenção da obesidade, estimula a prática regular de atividade física para população em geral, e promove muitos estudos longitudinais focalizando o público idoso. No entanto, as questões relativas à qualidade de vida das pessoas estão além do que se refere às doenças, a exercícios físicos e alimentação saudável, pois, o direito a transporte eficiente, à educação continuada, ao trabalho e ao lazer são também fatores que podem influenciar diretamente a qualidade existencial das pessoas, inclusive a do indivíduo idoso, merecendo atenção constante e premente. Venturi (2007), preocupado com essas questões sobre acessibilidade de idosos em diferentes âmbitos, publicou um artigo constando alguns dados de uma pesquisa intitulada Idosos no Brasil – vivências, desafios e expectativas na terceira idade, realizada pela Fundação Perseu Abramo, por intermédio do Núcleo de Opinião Pública – NOP, em parceria com o Serviço Social do Comércio – SESC. 17 Este estudo foi desenvolvido em 234 municípios brasileiros, revelando que 35% da população estudada declararam encontrar dificuldades em andar nas ruas e calçadas e 11%, em shoppings, repartições públicas, bancos, entre outras. Essa pesquisa retrata os problemas gerados pela falta de acessibilidade ao idoso no Brasil, além de destacar que, um quarto da população de idosos usuários de transporte público, sentia dificuldades semelhantes. No que tange à educação, nesta mesma pesquisa, 89% dos idosos não passaram do ensino fundamental e demonstraram interesse em voltar a estudar. Com relação ao trabalho, os idosos representam 22% da população economicamente ativa do Brasil, mas, ficou evidenciado que a maioria, não recebeu qualquer preparo para a fase de transição da vida profissionalmente ativa para a aposentadoria. As preferências de atividades vivenciadas no contexto do lazer relatadas pelos idosos, referiam-se à assistir televisão, ouvir rádio, ler e cuidar de animais, mesmo assim, comprovou-se a vontade de viajar e realizar passeios, caso pudessem (VENTURI, 2007). Isto reforça a amplitude que deve ser dada ao conceito de qualidade de vida, incluindo o contexto do lazer, nas ações em políticas públicas. Para Macedo e Rosa (2007), atualmente, os indivíduos idosos não vivem apenas para contemplar a vida de modo pacífico, pois eles têm, na medida do possível, ocupado espaços significativos na sociedade, como consumidores potenciais, ou mesmo, profissionalmente, permanecendo ainda ativos. Isto requer ressignificações e novas condutas, no sentido de se valorizar suas experiências, fato este que se distancia, ainda, da atual realidade para a maioria, com falta de oportunidades, opções e acessibilidade aos direitos garantidos. Ao se focalizar o âmbito específico do lazer, tema de interesse central neste estudo, tem-se que este pode representar um importante elemento na perspectiva de melhoria da qualidade de vida, decorrente de suas características hedonistas e de possibilidade de promoção do desenvolvimento nos níveis pessoal e social. Diversos estudiosos (LONDON; CRANDALL; SEALS, 1977; SHALL, 1984; LLOYD; AULD, 2002) já têm se debruçado a compreender as nuances relacionadas à importância do lazer no âmbito da qualidade de vida na atualidade, entretanto, os estudos direcionados à associação entre as temáticas lazer e idosos ainda são escassos, necessitando maior atenção neste sentido. As reflexões e os primórdios dos estudos sobre o fenômeno cultural relativo ao lazer foram bastante difundidos no Brasil, com a presença do sociólogo Joffre 18 Dumazedier, o qual incentivou diversos outros estudiosos brasileiros, com suas ideias a este respeito. Para Dumazedier (1999) o tempo destinado ao lazer é cada vez menos vivido, em função da desvalorização que ainda paira sobre o lazer em relação ao trabalho. Entretanto, quando se leva em consideração o indivíduo idoso, essa questão do tempo disponível fica ainda mais complexa, uma vez que o vínculo com o trabalho, geralmente, já foi desfeito. No tempo disponível, geralmente se tem a possibilidade de optar por atividades práticas ou contemplativas (MARCELLINO, 2002), para além das obrigações sociais e de trabalho. Isto reforça a importância de se voltar a atenção aos aspectos das possibilidades qualitativas de usufruto desse tempo. A complexidade ainda se intensifica, quando se focalizam outros elementos constituintes e característicos do lazer além da questão do tempo, como evidencia Gomes (2008). Segundo Gomes (2008), a compreensão sobre lazer como fenômeno cultural, entre os pesquisadores da atualidade, mesmo com diferentes conceituações, parece envolver quatro elementos, os quais refletem as condições materiais e simbólicas de uma sociedade, que são: o tempo, o espaço/lugar, as manifestações culturais e a atitude. A conscientização acerca da abrangência do lazer em seus interesses culturais, a saber: físico-esportivos, manuais, intelectuais, artísticos, sociais, turísticos e virtuais pode contribuir para ampliar a gama de opções de ocupação do tempo disponível entre idosos, beneficiando, consequentemente, a qualidade de vida dos mesmos. Com base nesses argumentos, Marinho e Bruhns (2006) reforçam a importância de se procurar forças políticas, econômicas e sociais, capazes de contribuir na criação e no fornecimento de condições para que o lazer possa existir de fato, não apenas de direito, e ser desfrutado. As autoras ainda evidenciam que é necessário recuperar a essência do significado do que se denomina lazer, aspecto que permite o descanso, divertimento e desenvolvimento (MARCELLINO, 1995; DUMAZEDIER, 2004), nos níveis pessoais ou sociais. O importante estudo de Campagna (2009) focalizando essas temáticas referentes ao lazer e aos idosos demonstrou que, os participantes da pesquisa consideraram as experiências no âmbito do lazer como oportunidades educativas. Nesse estudo também se destacou, que, na grande parte das atividades diárias desses idosos, estavam embutidos quase todos os interesses culturais do lazer, com 19 menor prevalência do turístico e do virtual, não baseada em desinteresse desta população, mas, justamente, por falta de oportunidades para estas vivências. Esse estudo ainda reforçou a ideia de como experiências no campo do lazer podem contribuir para o processo de cidadania desses idosos, bem como, a importância que se deve dar à educação para e pelo lazer. A oportunidade de vivências significativas no lazer para indivíduos idosos deve ser repensada pelas políticas públicas e isto se torna um grande desafio (CAMPAGNA, 2009), devendo- se pensar, inclusive, na ampliação de oportunidades para o lazer para esta população. A pesquisa realizada por Reis e Soares (2006) também contribuiu para reforçar a ideia de que todos os conteúdos culturais do lazer, na vida de idosos, são relevantes, além de disseminar que o lazer é direito de todos, portanto, que deve se estabelecer políticas sociais que atendam a esta demanda. Alves Junior (2009), a este respeito, salienta a Lei 8.842, sobre o direito do idoso, bem como, o Estatuto do Idoso, que registra o direto ao lazer e reforça a importância de propostas socioeducativas ligadas à promoção da saúde desse segmento etário, evidenciando o quanto o lazer pode contribuir para o envelhecimento saudável. Entre os conteúdos culturais do lazer menos favorecidos, no que tange aos direitos do cidadão idoso, encontra-se o virtual, o qual se baseia na perspectiva de usufruto das tecnologias virtuais para se conseguir acesso a informações, sociabilidade e entretenimento, no contexto do lazer. Com os avanços tecnológicos ocorridos nestes últimos séculos e com a implementação da era digital, as crianças dominam, desde muito cedo, a utilização de controles remotos, mouses ou teclados de computador, sendo que as oportunidades frente às novas tecnologias e à informatização conduzem para um mundo contemporâneo, inclusive no que tange ao contexto do lazer. O lazer virtual, talvez, seja o menos explorado pela população idosa, principalmente, pelo fato de os idosos não terem sido treinados desde cedo para o uso das novas tecnologias e não terem acompanhado de perto, com contato direto, essa evolução tecnológica, dificultando, assim, sua inclusão neste contexto, seja por iniciativa própria, ou ficando dependentes de políticas públicas mais eficientes. O lazer virtual pode ser vivenciado nas perspectivas de divertimento, descanso e desenvolvimento pessoal e social para as pessoas. Conquanto apresente inúmeras vantagens e possibilidades de vivências, este não deve se 20 tornar um único modo de usufruto do lazer, mas, deve ser interligado às demais opções inseridas nos outros conteúdos culturais do lazer (CAPI; GAIA, 2008). Por uma série de fatores, entre eles a falta de oportunidade, o distanciamento das opções de uso e, mesmo, por elementos estigmatizantes, os idosos, não raro, costumam ser automaticamente excluídos do contexto tecnológico, seja por falta de confiança própria, por aspectos econômicos referentes à baixa renda dos idosos, como também, por valores sociais discriminatórios incutidos, a respeito da inutilidade relativa a esta fase do desenvolvimento humano, a exemplo de muitos que associam o idoso a pessoas improdutivas, dependentes, excluindo-os automaticamente, reiterando preconceitos de fragilidade e debilidade. Ao contrário de fragilidade, debilidade, muitos idosos são capazes de produzir, de interagir, de amar. Okuma (1997) por meio de sua tese descreveu que a velhice deve ser um momento da vida para se viver intensamente e prazerosamente, necessitando acabar com os conceitos estereotipados sobre o que é envelhecer. Segundo De Gáspari e Schwartz (2005) os idosos enfrentam crises de identidade nesta fase do desenvolvimento humano, na transição da vida adulta para a velhice, e a baixa auto-estima pode afetar os relacionamentos sociais e os vínculos afetivos desta população. Isto revigora mais um motivo para que se amplie a disseminação sobre as opções de atividades do contexto do lazer para os idosos. No envelhecimento, as pessoas muitas vezes se encontram afastadas do trabalho e, em decorrência disto, são também minimizadas as condições de relacionamentos interpessoais, o que pode facilitar o isolamento. Para Farah et al. (2009), em muitas situações utilizando a internet, a interação intergeracional pode ser vivenciada, como por exemplo, compartilhar momentos com os netos de maneira virtual, favorecendo aos idosos, inclusive, a recuperação de emoções de sua infância. As redes sociais podem potencializar vínculos, construir novas formas de relacionamentos, novos laços de afeto (FARAH, 2009), sendo de extrema valia incentivar as ações de inclusão digital nesta fase do desenvolvimento. Bem poucas iniciativas estão em curso, no que tange à ampliar o conhecimento, assim como, a própria oportunidade de vivências no campo do lazer virtual para os indivíduos idosos, cujo incentivo é ainda bastante precário. Sendo assim, toda e qualquer iniciativa voltada à inclusão de idosos no campo de vivência do lazer e, particularmente, no que concerne à inclusão digital, deve ser estimulada. 21 A evolução tecnológica é uma tendência mundial e seus avanços atingem diferentes grupos etários, pois, a diversidade do que é oferecido no mercado, acaba influenciando todas as áreas da sociedade contemporânea. A informática é uma das tecnologias que está em constante transformação, principalmente, pela necessidade de atualização, seja pelo setor de trabalho, cada vez mais competitivo, ou mesmo, no setor de divertimento, sendo que, suas contribuições, geralmente, conduzem à expansão de oportunidades. Os microcomputadores e os meios de comunicação passam por inúmeras inovações e a velocidade com que essas alterações ocorrem é maior a cada dia. Com a generalização dos microcomputadores e dos meios de comunicação surge, também, uma série de novas alternativas de entretenimento virtual, com reflexos na indústria cultural. Assim como o entretenimento virtual cresceu substancialmente nos últimos anos, o ambiente virtual tem sido muito explorado, principalmente, como fonte de informações para o trabalho e o estudo. A concepção de ambiente, por se caracterizar como local onde se vive e se convive, compreendendo as relações existentes entre indivíduos engloba, agora, inclusive o virtual e todas as possibilidades ali presentes. Esse ambiente é composto por diversos recursos de tecnologia, que permitem, entre outras possibilidades, a de ampliar as perspectivas de interação social, especialmente com a criação da rede Internet. Porém, ao mesmo tempo em que a internet tem se tornado uma ferramenta indispensável, útil na ampliação do conhecimento, pode, inclusive, subsidiar a criminalidade. A dificuldade de controle sobre o acesso às informações na internet, por exemplo, pode ser um agravante, quando se trata do aumento no número de crimes ligados a roubos de senhas bancárias, clonagens de cartões de crédito e e-mails pessoais desenvolvidos no ambiente virtual. Sendo assim, é premente a necessidade de se ampliarem as reflexões sobre estes temas, no sentido de auxiliar para que estes recursos denotem o usufruto com qualidade sobre as inúmeras vantagens a eles associadas. O ambiente virtual, gerado pelas novas tecnologias da informação e comunicação (LÉVY, 1996), pode ser utilizado para o bem e para o mal, dependendo de outros fatores que não apenas os tecnológicos. Esse ambiente abriga ferramentas sociais importantes, garantindo maior interação entre as pessoas, mas, também, pode ser um ambiente hostil, perigoso e inseguro. De posse 22 do conhecimento básico de informática, muitos podem se tornar exploradores deste ambiente, seguindo ou não, princípios éticos, por isso, a acessibilidade indiscriminada e incontrolada constitui-se numa preocupação mundial. Na mesma velocidade com que os crimes na internet acontecem, também, surgem novos antivírus, programas que bloqueiam e-mails suspeitos, sendo, softwares, principalmente para garantir a segurança de empresas. Além de toda tecnologia para evitar crimes na rede, equipamentos sofisticados com alta tecnologia são fabricados diariamente, podendo ser observado no dia-a-dia, seja pela quantidade de games disponíveis, Global Positioning System (GPS), celulares, notebooks, ou mesmo, pelo crescimento do número de blogs, sites, comunidades na internet, entre outras modalidades da atualidade. Entretanto, a mídia, na maioria das vezes, faz parecer que essa tecnologia, principalmente referente à informática, é destinada a jovens, pois, quando se fala em tecnologia, automaticamente, se pensa em pessoas mais novas, parecendo haver menor preocupação, quando se associa tecnologia ao indivíduo idoso. Estudos relacionando às novas tecnologias e à qualidade de vida de idosos vêm sendo timidamente realizados (PANGBOURNE; ADITJANDRA; NELSON, 2010), evidenciando a importância da inclusão desses indivíduos no meio digital, ou mesmo, como o processo de envelhecimento pode obter benefícios com as novas tecnologias da informação (MCLEAN, 2011). A internet, também, pode oferecer vasta informação para esta população, contribuindo, de certa maneira, para que outros grupos da sociedade valorizem os idosos. Mesmo sabendo-se o quanto as iniciativas para a inclusão digital de idosos são relevantes, o número de projetos oferecendo oportunidade de inclusão digital de idosos é, ainda, bastante reduzido, quando comparado ao número crescente de idosos no mundo. Em um estudo realizado por Verona et al.(2006), sobre a percepção do idoso em relação à internet, os autores observaram que os idosos participantes da pesquisa, mesmo tendo medo e certa resistência quanto ao uso do computador, demonstraram interesse em aprender a usar a internet. Muitos idosos consideram que a internet é ameaçadora, mas, a grande maioria que a usufrui, a vê como uma forma de manter a independência (TATNALL; LEPA, 2003). Por isso, apoio e incentivo deve ser dado, principalmente para que os idosos superem os estereótipos de complexidade que são gerados, quando se trata do uso de computador e internet 23 nesta etapa do desenvolvimento humano (BAKAEV; PONOMAREV; PROKHOROVA, 2008). Uma pesquisa que analisou dois portais específicos para idosos na internet, do Brasil e da Espanha, constatou que os idosos que faziam uso destes portais não eram passivos, suas participações se davam de maneira lúdica, informal e pontual (DE SOUSA, 2009). Nesse mesmo estudo, os principais motivos para que os idosos utilizassem os portais foram os relacionados às informações sobre poesias, receitas culinárias, histórias de amor, crônicas e as amizades. Outro estudo (MACHADO, 2007), também sobre esta temática, revelou que as ferramentas mais utilizadas por idosos que fazem parte de projetos de inclusão digital foram o uso do e-mail, os sites de busca e as principais dificuldades foram às relacionadas a abrir anexo de e-mail, salvá-lo, ou, simplesmente, anexar arquivos no e-mail. Machado e Sousa (2006) desenvolveram uma pesquisa com idosos participantes de projetos de inclusão digital, para identificar os principais objetivos na busca pela internet por parte destes idosos. Foi notado que o fascínio em se utilizar a internet se deu, por conta da possibilidade de trocar informações com os parentes, como fotos e mensagens, e, principalmente, com os netos, que moravam distantes, bem como, os assuntos e as informações que estão disponibilizadas nesta rede. O interesse de idosos pelo uso da internet parece ser, predominantemente, de caráter social e familiar. Este interesse é decorrente do fato de que a rede pode representar um canal para ligá-los às pessoas queridas, conforme evidenciam Tezza e Bonia (2010). Já para Vieira e Santarosa (2009), refletindo sobre os motivos que levam os idosos à procura de cursos e oficinas de informática, esses autores salientam que estes podem ser separados em quatro interesses básicos, sendo, a necessidade de crescimento pessoal, a necessidade de interação com o outro, familiar e social, a possibilidade de satisfação pessoal e a necessidade utilitária. Outra pesquisa envolvendo idosos de programas de inclusão digital, realizada por Vieira e Santarosa (2009), demonstrou que os interesses associados ao uso da internet e do computador por parte desses idosos se referia, principalmente, à inclusão social, avivando o sentimento de pertencimento à sociedade, além da perspectiva de diminuição da solidão, após o uso da internet. Os idosos buscam, de certa forma, informações na internet um pouco mais pontuais do que as dos jovens, tendo em vista que as relações do idoso com a rede estão ligadas, conforme esses 24 autores apregoam, especialmente às interações sociais e questões relativas ao meio ambiente (TATNALL; LEPA, 2003). Os idosos que fazem parte de cursos de informática, geralmente, compreendem a importância da internet nos dias de hoje, principalmente pela quantidade de informações e facilidades encontradas para a vida diária, demonstrando, conforme o estudo de Garcia (2001), que a internet pode ser um meio de estimular a criatividade de idosos. Utilizando a internet, idosos são incentivados a serem produtivos intelectualmente, podendo ser reinseridos na sociedade (SOUZA et al., 2006), mas há uma necessidade de que as aulas destinadas para este público sejam especiais, sendo que os professores devem ser criativos, além de pacientes. Os professores acabam aprendendo com o aluno idoso, seja no envolvimento nas aulas, ou no quanto as experiências em lidar com este público podem ser significativas (NAUMANEN; TUKIAINEN, 2007). De Sales, Xavier e Bayer (2003), após realizarem uma oficina digital com idosos por meio do uso de metáforas e dinâmicas para melhorar a interação humano-tecnologia, relataram que os idosos evoluíram em relação ao controle e domínio do mouse, demonstrando interesse em continuar a oficina, concluindo que, a utilização desta metodologia foi eficaz para os idosos participantes da pesquisa, principalmente no que se refere ao domínio mecânico de algumas ferramentas computacionais e de funcionamento da internet. Em uma pesquisa realizada em Hong Kong, na China, ficou evidenciado que a internet pode auxiliar na aprendizagem de idosos, principalmente no que se refere ao uso do computador, demonstrando ser uma alternativa eficaz neste sentido (LAM; LEE, 2005). O uso da internet e do computador por parte de idosos tem demonstrado melhorias no bem-estar e na função cognitiva, contribuindo para uma maior independência (SHAPIRA; BARAK; GAL, 2007). A inclusão digital, se realizada por meio de oficinas pedagógicas, torna-se uma necessidade atual para educação continuada de idosos, para a inserção destes na cultura contemporânea, podendo vir a influenciar nas capacidades cognitivas desses idosos (LUZZI, 2006). Ainda associando internet e idosos, Wehmeyer e Sousa (2006) avaliaram se era possível os idosos aprenderem um novo idioma, no caso, a língua espanhola, por meio da internet. Neste último estudo, verificou-se que os idosos necessitam de maior tempo para dominar os recursos tecnológicos, tais como, o mouse, o teclado, os ícones e, mais tempo também, para aprender e concluir tarefas, mas, não estão 25 impedidos de dominar outra língua, sendo perfeitamente capazes disto. Entre as principais estratégias para se incentivar a inclusão digital encontram-se as ações que incentivem atitudes positivas em relação à internet, com uma abordagem que facilite a aprendizagem, para que, assim, os idosos possam progredir (HILL; BEYNON-DAVIES; WILLIAMS, 2008). Outros exemplos de atividades que poderão ser vivenciadas por idosos na internet, é a busca de informações para a manutenção da saúde, conhecendo sobre medicamentos e suas indicações, ou, simplesmente, a realização de cursos online, compras e a possibilidade de ocupar o tempo disponível, com jogos e outro estímulos. Com base no usufruto de toda essa gama de atividades, é importante se estimular a inserção de idosos no ambiente virtual, ampliando-se inclusive, as opções de lazer para esta população, além da possibilidade de ampliarem seus conhecimentos, inclusive na culminância de usufruir esse conhecimento para seu próprio bem-estar (MIRANDA; FARIAS, 2009). A internet para o idoso pode ser considerada uma excelente atividade do contexto do lazer, pois, previne o isolamento social e estimula a atividade cerebral. Os espaços destinados aos projetos de inclusão digital, também, acabam representando um local de vivência de sociabilidade no lazer, cabendo assim, reflexões sobre novas estratégias para ampliação do número de ações envolvendo as novas tecnologias e os idosos (DA SILVA, 2009). O fato concreto é que os idosos, após a aposentadoria, não param de se desenvolver, de aprender, não deixam de existir. Sendo assim, além de políticas públicas eficientes, a sociedade precisa receber esse idoso com toda sua potencialidade, fazendo com que as vivências no ambiente virtual representem um espaço democrático e mais acessível. A internet, como fonte inesgotável de conhecimento, pode ser mais um espaço para que essas pessoas venham a adquirir novas experiências (PESSOA; VIEIRA; CAVALCANTI, 2008), posicionando-se como protagonistas, atores na formação da sociedade atual. A participação ativa de idosos na sociedade pode ser, ainda, fonte de grandes discussões, entretanto, as novas tecnologias são, indiscutivelmente, importantes ferramentas para a inclusão social desta população. Quando se focaliza a inclusão digital, há que se levar em conta, inclusive, os fatores de exclusão. A exclusão digital, muitas vezes, está associada à baixa renda dos idosos, principalmente pelo fato destes não terem condições para a compra de 26 equipamentos, como o computador, além da grande dificuldade em lidar com as novas tecnologias. Portanto, a exclusão socioeconômica pode desencadear a exclusão digital e os poucos investimentos em políticas públicas para inclusão digital de idosos, podem reforçar este processo (GOLDMAN, 2009). A exclusão digital também acaba sendo facilitada pelo número ainda reduzido de população mundial que possui acesso à internet, sendo que, muitos desses que já acessam não possuem banda larga (JONES, 2010). Mesmo sendo ainda em número reduzido, quando comparadas aos investimentos para a população mais jovem, algumas iniciativas políticas já se fazem presentes, em se tratando de inclusão digital de idosos, como o Programa Acessa SP (2011). Esse programa visa a oferecer à população do Estado de São Paulo o acesso às Novas Tecnologias da Informação e Comunicação – TIC’s, em especial, a internet banda larga gratuita, para qualquer faixa etária. Dentro do Programa Acessa SP (2011) existem 382 projetos específicos para o público idoso, como por exemplo, o Projeto Navega Melhor Idade, da cidade de Ourinhos-SP, que oferece gratuitamente cursos de informática básica e acesso à internet para idosos. Além destes, há também o Programa Geração III, oferecido pela Secretaria de Ciência e Tecnologia do Distrito Federal, o qual já existe há dez anos e, também, conforme dados do site Clica Brasília (2009), já ensinou 2.300 pessoas acima de 60 anos a utilizar a internet, enviar e-mails e realizar cálculos simples no computador. Outros exemplos de ações já em curso são os projetos vinculados às Universidades Abertas à Terceira Idade (UNATI) de todo o país, nas quais, pode-se observar iniciativas de incentivo à inclusão digital entre idosos em várias unidades de ensino, no território nacional, como, por exemplo, a UNATI da Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Marília-SP (VIDOTTI et al., 2009), que ensina, não só a introdução à informática, mas, inclusive, o acesso à internet, destacando a navegação em portais, repositórios e buscadores da web. Geralmente, os projetos de inclusão digital para idosos, no Brasil, são divulgados em sites, embora, também já sejam encontrados alguns artigos de nível científico a este respeito, os quais vêm sendo esparsamente publicados em periódicos, ampliando a difusão sobre esta temática. A confecção de livros pode ser mais um agente multiplicador quando se trata da divulgação sobre inclusão digital de idosos, como o caso de Kachar (2003), a qual publicou sua tese de doutorado em 27 um livro intitulado “Terceira idade e informática”, servindo de base e estímulo para o surgimento de mais estudos. Goldman (2009) também estuda a inclusão digital entre idosos, principalmente apresentando sua contribuição nos estudos “Envelhecimento e novas tecnologias”, em 2003, e “Envelhecimento e exclusão digital”, projeto com duração de 2003 a 2005, realizado na Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio Janeiro (UFRJ), com o apoio da Fundação Carlos Chagas. Estas publicações favorecem a propagação sobre a importância de ações políticas e programas de inclusão digital para idosos. Segundo Terra, Schneider e Schwanke (2008) os idosos que dominam as novas tecnologias são capazes de produzir mais intelectualmente, desenvolvendo suas funções intelectuais superiores, sendo que os projetos voltados para inclusão digital de idosos, além de ampliarem possibilidades nas relações sociais dos envolvidos, podem se tornar vetores da transformação social, melhorando a qualidade de vida dos sujeitos envolvidos. Por meio da inclusão digital, o idoso pode ser instigado a buscar novas informações, possibilitando o aguçamento do desenvolvimento do senso crítico, para que, assim, possa saber como selecionar e utilizar essas informações em seu cotidiano. O aumento do número de informações contidas na internet, ou mesmo, sites voltados para a população idosa tem favorecido os programas existentes de inclusão digital, e, até mesmo, aqueles que aprenderam a utilizar o computador com o auxílio do filho, do neto ou de amigos, acabam por usufruir os benefícios que a rede proporciona. O que pouco se tem dado importância é na qualidade com que essas informações estão sendo disponibilizadas na web. Em se tratando de interação ser humano-máquina, pessoas idosas costumam possuir algumas limitações, como, por exemplo, a diminuição da visão e a dificuldade em coordenar os movimentos (DEL REY, 2009) e a grande maioria dos sites, mesmo que contenha temas voltados para idosos, não possui boa legibilidade para todas as pessoas, merecendo também a atenção neste estudo. As interfaces desenvolvidas para websites deveriam possibilitar o acesso por parte de qualquer pessoa, seja ela, idosa ou criança, porém, nem sempre isso acontece. Estudos evidenciam que ainda é preciso ampliar o número de pesquisas sobre usabilidade de sites, para que, assim, se possam melhorar os serviços oferecidos (SANTOS; MOREIRA, 2006). 28 O crescimento de usuários da internet contribuiu, de certa maneira, para que o termo usabilidade ganhasse força no mundo acadêmico, devido às características envolvendo sua dimensão, como, a qualidade da relação entre o sistema e o usuário. A usabilidade, de acordo com a International Organization for Standardization - ISO 9241-11, citado por Cybis, Betiol e Faust (2007), envolve as características de quanto um sistema de interação é eficiente, eficaz e agradável ao usuário. De acordo com Ferreira e Leite (2003) a usabilidade compreende também, a capacidade de um sistema ser rápido na interação e na aprendizagem por parte dos usuários. A adesão ao ambiente virtual pode, muitas vezes, representar o quanto aquilo satisfaz o indivíduo, e isto, reflete diretamente na aceitação daquele site, por exemplo, por parte dos usuários. A insatisfação de usuários pode refletir na decisão de não se utilizar mais um determinado sistema (SANTOS; MAIA, 2005). Portanto, a melhoria dos sistemas de informação tornou-se um desafio, na medida em que se cobra a qualidade do que é veiculado. Frequentemente, o processo de interação acaba sendo prejudicado pela quantidade de erros evidenciados na elaboração de sites, seja pela falta de objetividade, ou mesmo, pelo tempo que os indivíduos levam para dominar a ferramenta (TRAVIS, 2008). Um bom site deve oferecer interação, ser natural e atraente ao usuário (FILARDI; TRAINA, 2008), bem como, garantir comunicação transparente entre usuário e sistema (FERREIRA; CHAUVEL; DA SILVEIRA, 2006). As interfaces elaboradas e disponibilizadas para idosos devem propiciar melhor acesso às informações, suprindo suas necessidades e limitações (DE MACEDO; PEREIRA, 2009). A dificuldade na tarefa de se criar um e-mail, dependendo do sistema, pode representar um motivo para que idosos iniciantes desistam facilmente de aprender, levando em consideração o número de questões a serem preenchidas nos formulários, a quantidade de erros, a insegurança, as dúvidas não esclarecidas, entre outros. Barbosa, Cheiran e Vieira (2008) avaliaram as dificuldades encontradas por idosos na criação de e-mails e verificaram que, dos três sites de criação de e-mails analisados, apenas um apresentou-se adequado às pessoas idosas. Em outro estudo realizado por Vechiato e Vidotti (2007), com idosos que frequentemente utilizavam a internet, os autores destacaram que os sites voltados para esta população devem trazer uma linguagem mais simples e que as bibliotecas online, 29 geralmente, não são atrativas, além de muitos ícones de busca nos sites não estarem situados na home page, ou mesmo, serem difíceis de se utilizar. A usabilidade, de acordo com Nielsen (1994) pode ser avaliada pelos problemas encontrados entre usuários e interfaces, por meio de métodos fáceis e informais. A usabilidade passou a ser utilizada para se medir a qualidade dessas interfaces (PADILHA, 2004) e os instrumentos se proliferaram no mundo científico, destacando-se o Questionnare for User Interaction Satisfaction (QUIS), como um dos instrumentos existentes para verificação do nível de satisfação subjetiva de usuários de um sistema computacional, entre os mais encontrados e disponibilizados, na atualidade. O QUIS foi criado por uma equipe multidisciplinar de pesquisadores da Human-Computer Interaction Lab (HCIL) da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos e contém um questionário demográfico e uma medida de satisfação, juntamente com seis escalas, distribuídas em nove fatores: tela, terminologia, feedback do sistema, fatores de aprendizagem, capacidades do sistema, manuais técnicos, tutoriais on-line, multimídia e a instalação por teleconferência do software (HARPER; SLAUGHTER; NORMAN, 1997). Para cada fator avaliado do QUIS, são apresentadas afirmativas, onde a escala deverá ser assinalada, sendo numericamente distribuída de 1 a 9, sendo que o número 1 equivale a “confuso” e 9 a “claro”. Embora o QUIS seja um questionário validado e disponível em vários idiomas, inclusive em português, pessoas idosas, ou mesmo, indivíduos que não necessariamente compreendam ou estudam tecnicamente a informática, podem sentir dificuldades para respondê-lo, principalmente pelos termos técnicos nele envolvidos. Para determinar se um site corresponde ao objetivo proposto, ou mesmo, se atende ao público a que se destina, um instrumento que avalia a usabilidade deverá contemplar em suas perguntas, os fatores associados à perspectiva a ser investigada, como por exemplo, se um site oferece suporte em relação às dúvidas, se possui um layout adequado, sistemas de informação e operacionalização em constante atualização. Certamente, esses fatores contribuem para o sucesso da interação humano-tecnologia. As questões envolvidas em um instrumento de usabilidade, ao serem formuladas, deverão estar de acordo com o nível de entendimento por parte de quem responderá ao instrumento e o grau de dificuldade com os termos técnicos, 30 equiparados com o perfil da população escolhida. Em casos específicos de sites que disseminam informações sobre lazer, o mesmo deverá ocorrer, ou seja, o questionário deverá obedecer aos mesmos critérios, sendo adaptadas as questões, as finalidades a que se espera para o público a quem se destina. Sendo assim, um serviço, para ser considerado utilizável, necessita ser útil, eficiente, satisfatório e acessível (RUBIN; CHISNELL, 2008), portanto, avaliar a usabilidade permite identificar se um site possui essas características. A avaliação da usabilidade de sites já é frequentemente pesquisada cientificamente, mas, a avaliação da usabilidade de sites voltados para a população idosa é pouco evidenciada nos estudos. Com base no exposto, torna-se necessário ampliar as relações no que concerne às tecnologias e o lazer virtual para esse público, para que se possam promover maneiras de facilitar o acesso às informações, ou mesmo, permitir manifestações mais efetivas do exercício da cidadania nos tempos atuais, tão globalizado e informatizado. Sendo assim, sugere-se que novos estudos sejam realizados sobre a temática apresentada e um maior número de possibilidades seja oferecido às pessoas idosas, no sentido de ampliar as perspectivas de experiências frente às novas tecnologias. 31 3.2. Revisão de Literatura – Artigo 1 Para complementar a fundamentação teórica, o presente artigo foi submetido ao periódico científico Interface – comunicação, saúde, educação, conforme o comprovante de submissão no ANEXO A. O artigo segue as normas técnicas do periódico, mantendo a versão original submetida. Inclusão digital de idosos: interfaces com a aquisição de conhecimentos sobre saúde, educação e lazer La inclusión digital de las personas mayores: las interfaces con la adquisición de conocimientos sobre la salud, la educación y el ocio Digital inclusion of older people: interfaces with the acquisition of knowledge about health, education and leisure Ana Paula Evaristo Guizarde Teodoro Gisele Maria Schwartz RESUMO Com a crescente evolução tecnológica e com o fortalecimento da internet, as informações tornaram-se mais acessíveis, inclusive no que tange às opções para aquisição de novos conhecimentos, nos contextos da saúde, educação e de entretenimento, no âmbito do lazer. Entretanto, pouco, ainda, se tem tomado em reflexão, na literatura científica, essas transformações e suas relações com o público idoso. Não se têm claras as ressonâncias das estratégias utilizadas para inclusão digital de idosos, seus reais benefícios no contexto da qualidade de vida e efetiva contribuição para atender esse público, o qual ainda se encontra alijado desse processo. Este estudo, de natureza qualitativa, foi desenvolvido por intermédio de revisão de literatura e teve como objetivo investigar as diferentes abordagens relativas às temáticas envolvendo a inclusão digital de idosos e suas interfaces com a aquisição de novos conhecimentos sobre saúde, educação e lazer. Palavras-chave: educação; inclusão digital de idosos; lazer 32 ABSTRACT With the increasing technological developments and the strengthening of the Internet, information became more accessible, including those related to options to acquire new knowledge on health, education and entertainment in leisure contexts. However few studies in scientific literature had already taken into consideration these transformations and their relationships with elderly. The resonances of the strategies used for digital inclusion of elderly are not clear, and even its real benefits and effective contribution in the context of elderly life quality, which are still driven out of this process. This qualitative was developed through literature review and aimed at investigating the different approaches to issues involving digital inclusion of elderly and their interfaces with the acquisition of new knowledge on health, education and leisure. Keywords: education, digital inclusion of elderly, leisure RESUMEN Con el creciente desarrollo tecnológico y el fortalecimiento de la Internet, la información se hizo más accesible, incluidas las relacionadas con las opciones para adquirir nuevos conocimientos sobre la salud, la educación y el entretenimiento en contextos de ocio. Sin embargo, pocos estudios en la literatura científica ya habían tomado en cuenta estas transformaciones y sus relaciones con los ancianos. Las resonancias de las estrategias utilizadas para la inclusión digital de personas mayores no están claras, e incluso sus beneficios reales y una contribución efectiva en el contexto de la calidad de vida de los ancianos, que siguen alejados de este proceso. Este estudio cualitativo desarrollado a través de revisión de la literatura objetivo investigar los diferentes enfoques de cuestiones relacionadas con la inclusión digital de personas ancianas y sus interfaces con la adquisición de nuevos conocimientos sobre la salud, la educación y el ocio. Palabras clave: educación, inclusión digital, anciano, ocio Introdução Com o avanço das inovações tecnológicas, os equipamentos ficam cada vez mais sofisticados e hoje, inúmeras tarefas do âmbito do trabalho, do estudo ou mesmo, das atividades da vida diária utilizam algum tipo de tecnologia. Para realização de simples tarefas do cotidiano, há, quase sempre, a necessidade de as pessoas estarem envolvidas com a perspectiva de uso da informática, da robótica ou 33 da microeletrônica, seja pela utilização de caixas eletrônicos bancários, eletrodomésticos, ou para o simples uso do controle remoto de um televisor. Os jovens, geralmente, acompanham estas transformações com facilidade, pois, desde muito cedo, convivem com as novas tecnologias, o que difere da população idosa, pelo fato de que, para acompanhar os avanços da informática, um grande desafio acaba sendo enfrentado. Todavia, há que se levar em consideração que, nos últimos anos, houve um crescimento significativo no número de pessoas idosas, ampliando-se assim, os desafios a serem enfrentados. Alguns destes desafios giram em torno da necessidade de se atentar para que essa população não seja alijada desses processos evolutivos, garantindo-se a inclusão social e até digital a esta população. Com isto, poderiam ser afetados os níveis de aquisição de conhecimento, de possibilidades de educação continuada, de assistência médica e saúde, de participação em programas destinados à prevenção de doenças e novos motivos para a prática regular de exercícios físicos, com vista à qualidade de vida. No que concerne à inclusão digital de idosos, foco deste estudo, a quantidade de programas sociais voltados para este fim está crescendo, entretanto, ainda é considerada pequena, ao se comparar com o número de idosos no mundo. Essa defasagem acontece, inclusive, devido à falta de iniciativas de políticas públicas, ou mesmo, por uma baixa demanda dos próprios idosos. Para Paixão et al. (2011) deve-se existir uma política pública capaz de colocar em prática a democratização em relação ao acesso à internet, ampliando-se os espaços gratuitos de acesso, afim de incentivar a utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação no cotidiano sociocultural e sociotécnico da população envolvida. O idoso, não raro, sente medo ou vergonha de procurar cursos ou programas específicos de informática, ou mesmo, de continuação de seu processo educativo com base na 34 oferta recente de educação à distância via computador, pelo fato de não ter tido a possibilidade de acompanhar de perto a evolução tecnológica, o que vem favorecer a exclusão digital deste público. Alguns estudos, na literatura científica, como os de Kachar (2003), da Silva (2007) e Pequeno (2010) já estão apontando aspectos relativos à necessidade de estímulo ao uso de tecnologias no processo educacional ao longo da vida e aos valores da inclusão digital de idosos. Entretanto, não se têm claras, ainda, as diferentes estratégias adotadas e abordadas para contribuir na agilização desses processos de mudanças sociais para o idoso, principalmente em relação aos reais benefícios desses programas de inclusão digital de idosos, o que instigou o desenvolvimento deste estudo. Sendo assim, o objetivo do estudo foi investigar as diferentes abordagens relativas às temáticas envolvendo a inclusão digital de idosos e suas interfaces com a aquisição de novos conhecimentos sobre saúde, educação e lazer. Inclusão digital de idosos e suas interfaces com a aquisição de novos conhecimentos As temáticas desenvolvidas nos estudos acadêmicos sobre inclusão digital de idosos e suas diferentes interfaces apresentam-se de forma diversificada na literatura científica, evidenciando a complexidade envolvendo a gestão dessas informações. Diversos estudos como os de (Luzzi, 2006; Machado, 2007; Terra, Schneider, Schwanke, 2008, Vieira, Santarosa, 2009; Silva et al., 2010, Lindôso et al. 2011), já salientam as vantagens e, até mesmo, os desafios envolvendo o indivíduo idoso e o ambiente virtual. 35 O uso das tecnologias da informação ocasionou uma revolução no âmbito social, já que, não somente os jovens tiveram que se adequar às mudanças a elas associadas, mas, inclusive, as pessoas idosas começaram a se interessar mais pelos benefícios advindos da utilização destas tecnologias, mesmo que ainda sejam desprestigiados quando o assunto é inclusão digital de idosos. As Tecnologias da Informação e Comunicação foram disseminadas no Brasil em meados dos anos 90, período em que o país estava sofrendo constantes transformações tecnológicas (De Matos, Chagas, 2008) e as discussões sobre educação para a informação eram cada vez mais evidenciadas. A construção de diretrizes para o estabelecimento de programas que auxiliassem a população na sociedade da informação resultou, em 2000, na publicação do Livro Verde da Sociedade da Informação, promovido pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (BRASIL, 2000). Com isso, o discurso em relação à inclusão digital se difundiu, estabelecendo suas ações, não exclusivamente ao uso de computadores e da internet, mas também, na capacidade em utilizar as mídias em favor de objetivos ou necessidades individuais ou comunitárias (Silva et al. 2005). Mesmo sendo divulgada e apoiada pelos diversos setores da sociedade, como o político, o privado e o não-governamental, a inclusão digital ainda enfrenta desafios, como a dificuldade de acesso e adaptação ao computador por parte da maioria da população (Silvino, Abrahão, 2003), especialmente no que se refere ao indivíduo idoso. A internet, mesmo sendo uma ferramenta importante no processo de inclusão, conta, ainda, com um número reduzido de pessoas que possui acesso a essa rede, favorecendo a configuração da exclusão digital. 36 Algumas iniciativas no âmbito das Políticas Públicas estão sendo desenvolvidas para minimizar essas lacunas, como o Programa Acessa SP (2011). Esse programa visa oferecer à população do Estado de São Paulo o acesso às novas tecnologias da informação e comunicação. Especialmente, a internet banda larga gratuita, pode ser um exemplo de ação que favorece a inclusão digital. Porém, mesmo assim, o número de projetos como este no Brasil ainda é pequeno, quando comparado ao número da população existente em território nacional. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2009), em 2005, 20,9% da população brasileira, de dez anos ou mais de idade, acessaram a internet pelo menos uma vez, por meio de um computador e, em 2008, houve um aumento, passando para 34,8%. Entretanto, em se tratando de idosos, este número de pessoas que têm condição de acesso acaba sendo ainda menor. O público idoso certamente enfrenta inúmeras barreiras, tanto psíquicas, quanto sociais, econômicas e técnicas, para acesso a algumas formas de tecnologias, o que tem instigado estudiosos de diversas áreas do conhecimento (Wehmeyer, Sousa, 2006; Vidotti et al., 2009; Tezza, Bonia, 2010), no sentido de implementar estratégias capazes de superar os desafios para inclusão social e, até mesmo, digital, da população idosa. O idoso não pode ser excluído do contexto das tecnologias da informação e comunicação, visto a importância destas, para a qualidade de vida das pessoas, por isso, o acesso a tais recursos deve ser facilitado (Da Silva, 2007). Os idosos, mesmo não tendo acompanhado esta evolução tecnológica, no que concerne à utilização do computador, podem, por intermédio dos programas de inclusão digital, ser inseridos neste contexto, sendo beneficiados pela educação continuada e pela valorização pessoal e social que tais iniciativas tendem a propiciar 37 durante suas práticas. Os programas de inclusão digital para idosos comumente direcionam suas atividades para a utilização da internet, permitindo maior atualização nas diferentes áreas do conhecimento (Verona et al., 2006). Mesmo assumindo que a internet pode ser prejudicial em alguns casos, como a clonagem de senhas bancárias, as invasões de perfis por hackers, a identidade de criminosos podendo ser ocultada, ainda assim, os benefícios tornam-se superiores, quando levadas em conta as inúmeras possibilidades de desenvolvimento de potencialidades dos sujeitos envolvidos (Kachar, 2003; Terra, Schneider, Schwanke, 2008). Em relação às vantagens provenientes do processo de inclusão digital de idosos, os autores salientam aspectos como a emancipação, a perspectiva de aprimoramento das relações intergeracionais, a autonomia e, inclusive, na efetiva participação na construção da cidadania (Silva et al., 2010; Lodovici, Mercadante, 2010; Pereira, Neves, 2011; Roda, 2011). Para Passerino, Bez e Pasqualotti (2006) e Da Silva (2007), com a possibilidade de serem incluídos no mundo virtual, os idosos se sentem reconhecidos como protagonistas na sociedade em que vivem. Entre as vantagens apontadas na literatura sobre a inclusão digital de idosos, encontram-se valorizadas aquelas referentes à possibilidade de aquisição de novos conhecimentos, especialmente nos âmbitos da saúde, da educação e do lazer, elementos centrais nas reflexões contidas neste estudo. O processo de evolução tecnológica tem realçado a perspectiva de ampliação de divulgação de informações, sobretudo evidenciando alguns campos de estudo, como a saúde, a medicina e áreas afins. A criação de novos fármacos, a disseminação do comportamento preventivo, a evolução no tratamento de certas doenças e, inclusive, a sofisticação de 38 equipamentos na área da saúde, vêm auxiliando positivamente na melhoria dos aspectos relevantes da qualidade de vida da população mundial, graças às crescentes transformações tecnológicas ocorridas neste último século, especialmente, com a criação da rede internet. No que concerne aos aspectos relacionados à possibilidade de aquisição de conhecimento sobre saúde utilizando os recursos tecnológicos, sobretudo, a internet, entre os principais assuntos tratados nos estudos encontram-se aqueles referentes à qualidade de vida, fatores associados à saúde nos âmbitos social, emocional e funcional. O estudo de Farah et al. (2009), envolvendo idosos de programas de inclusão digital das cidades de São Paulo e Brasília, demonstrou que o uso do computador e da internet pode promover a sociabilidade e melhor qualidade de vida aos participantes, por meio de uma aprendizagem em ambiente virtual autêntica e com orientação adequada. Pereira e Neves (2011) realizaram um estudo com um grupo de idosos participantes de um programa de inclusão digital, aplicando um questionário inicial, que envolvia os aspectos demográficos, avaliação da qualidade de vida, familiarização com o computador e as expectativas em relação ao curso, assim como, a análise da aprendizagem e de alguns aspectos subjetivos. Os dados demonstraram que os idosos participantes do estudo diminuíram a solidão, aumentaram a comunicação entre familiares e amigos e o acesso às informações, e, consequentemente, melhoraram a qualidade de vida (Pereira, Neves, 2011). O contexto social dos idosos acaba sendo beneficiado, seja pela convivência em grupo, nos projetos de inclusão digital ou mesmo, pela possibilidade de interagir, pela internet, com outras pessoas. Os interesses para este tipo de atividade são intensos e estas são comumente as mais procuradas pelos idosos, muitas vezes, no intuito de diminuir a solidão (Vieira, Santarosa, 2009). Além da possibilidade de 39 interagir com os entes que se encontram distantes, os idosos se relacionam com outras pessoas de maneira virtual, não somente com familiares, ampliando sua rede de relacionamentos, fazendo novas amizades. O uso da internet por idosos que utilizam o comércio eletrônico para compras online, serviços bancários e o pagamento de contas, conforme o estudo de Tatnall e Lepa (2003) pode propiciar, além da possibilidade de interação social, a manutenção da independência. No estudo de Kamal e Patil (2004), o uso do computador e da internet por idosos permitiu aliviar o isolamento social e os aspectos emocionais negativos, agregando qualidade e valor à vida, principalmente pela utilização de encontros eletrônicos, estimulando a solidariedade e a comunicação entre os idosos. Já no estudo de Pessoa, Vieira e Cavalcante (2008), os autores destacaram que a internet pode ser uma importante aliada para inclusão digital de idosos, tendo em vista que proporciona maior interatividade do idoso com as novas tecnologias, podendo-se ampliar as trocas de experiências, tornando-os mais independentes e ampliando o contato com outros idosos. Estudos vêm evidenciando que projetos de inclusão digital para idosos contribuem também, para a melhoria da auto-estima (De Oliveira et al., 2010), além da obtenção de benefícios relativos às facilidades para a vida diária e estimulo à criatividade (Garcia, 2001). Para Da Silveira et al. (2010), por meio de atividades ligadas às tecnologias da informação e comunicação, os idosos podem ter a oportunidade de se atualizarem culturalmente, permitindo diferentes interações, seja com pessoas ou grupos, e isso contribui para a auto-estima e a auto-realização. Mesmo com todos os benefícios apontados, há ainda, um longo caminho a ser percorrido na superação de obstáculos impeditivos do acesso às tecnologias, principalmente porque lidar com as novas tecnologias e com o computador, para 40 muitos idosos, exige a superação de alguns desafios, como o medo e a insegurança. Após uma pesquisa realizada por Bacha et al. (2009), com 700 idosos da cidade de São Paulo, os autores destacaram que a atitude de idosos frente às tecnologias em geral, está atrelada a três fatores: o medo, a cautela e a audácia, sendo o medo relacionado com os possíveis impactos para a vida, a cautela em saber esperar o momento certo, por exemplo, para comprar ou executar tarefas online e a audácia pela busca de novidades. Embora o medo também seja evidenciado em estudos relacionando idosos e as novas tecnologias, como os de Verona et al. (2006), nos quais os pesquisadores avaliaram as dificuldades encontradas por idosos na relação com a internet, destacou-se que, mesmo que de início os idosos tivessem demonstrado medo e resistência, eles se interessaram em aprender. O medo inicial acaba fazendo parte de um processo que, na maioria dos casos, pode vir a diminuir, ou mesmo se dissipar, mediante a repetição da experiência satisfatória. Os benefícios funcionais envolvendo idosos e as tecnologias comumente estão associados a melhorias da coordenação motora em relação ao domínio do mouse e os aspectos cognitivos. No estudo de De Sales, Xavier e Bayer (2003), após realizarem uma oficina digital com idosos, por meio do uso de metáforas e dinâmicas para melhorar a interação humano-tecnologia, os estudiosos relataram que os idosos evoluíram em relação ao controle e domínio do mouse, demonstrando interesse em continuar a oficina. O estudo conclui que a utilização desta metodologia foi eficaz para os idosos participantes da pesquisa, principalmente no que se refere ao domínio mecânico de algumas ferramentas computacionais e de funcionamento da internet. 41 Estudos como os de Shapira, Barak e Gal (2007), De Miranda e Farias (2009), Ordonez, Yassuda e Cachioni (2011), também relatam a importância da inclusão digital de idosos para melhorar os aspectos ligados à função cognitiva, particularmente, os domínios de linguagem e memória. Esses estudos evidenciam a perspectiva de se propiciar estímulos às atividades cerebrais, beneficiando a qualidade de vida dos envolvidos neste tipo de atividade. Além da área da saúde, as vantagens da inclusão digital de idosos salientam elementos aliados à perspectiva educacional e do processo ensino-aprendizagem. Entre os temas mais evidenciados nos estudos salientam-se aqueles referentes à educação nos âmbitos formal, não-formal, continuada, à distância, ou, inclusive, reflexões acerca das tecnologias como recursos didáticos para atingir o público idoso. A inclusão digital pode ser uma ferramenta utilizada para a educação formal e não-formal de idosos, mas, as estratégias de ensino para idosos necessitam ser diferenciadas. O processo de ensino e de aprendizagem, neste caso, requer integração entre a teoria e a prática, despertando maior interesse, sendo facilitado pela elaboração de material didático que atenda às necessidades deste público em questão, para assim, obter êxito durante todo o processo (De Sales et al., 2007). Os projetos de inclusão digital que tendem a envolver os idosos na construção das aulas, ou mesmo, na troca de experiências entre professor e aluno, acabam obtendo resultados mais significativos. Um exemplo disto é o programa de inclusão digital da Universidade Aberta à Terceira Idade (UNATI) da Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Marília-SP, o qual incentiva seus idosos na constante atualização do repositório digital, permitindo o desenvolvimento de competências, o 42 compartilhamento do conhecimento e a interação social (Ferreira, Vechiatto, Vidotti, 2008). No estudo de Wehmeyer e Souza (2006) verificou-se que os idosos necessitam de maior tempo para dominar os recursos tecnológicos, mas, não estão impedidos de aprender outro idioma, no caso, a língua espanhola, por meio da internet. Os reflexos positivos deste envolvimento estão focalizados no aumento das possibilidades de aprendizagem por meio das tecnologias. A estratégia de utilização de um idoso ensinando outro idoso, como multiplicadores do conhecimento básico em informática, também, é um exemplo de metodologia que vem sendo adotada em projetos de inclusão digital, reforçando as interações aluno-aluno (De Sales, Guarezi, Fialho, 2007). Algumas ações utilizadas durante as aulas em grupo nos centros de inclusão digital facilitam o convívio social entre idosos, como por exemplo, a disposição das cadeiras e mesas em círculo, que auxiliam ainda mais no processo de aprendizagem, como notado no estudo de Araujo et al. (2004). Da Silveira (2010) destacou a importância da inclusão digital na educação continuada de idosos, evidenciando a necessidade de se ampliar esse tipo de oportunidade, como estratégica metodológica educacional a ser adotada por parte das políticas públicas. Os cursos de Educação à Distância começam a ser oferecidos, utilizando como ferramenta as Tecnologias da Informação e Comunicação, podendo ser mais um recurso para a população idosa. De acordo com Paulo e Tijiboy (2005), por meio de cursos de introdução à informática para idosos, no contexto da Educação à Distância, é possível reintegrá- los na sociedade, permitindo que acompanhem a evolução, mesmo que distantes. As experiências obtidas durante as aulas de inclusão digital constituem em 43 possibilidades para uma aprendizagem contínua, oferecendo suporte para a produção intelectual, a reconstrução do conhecimento e a comunicação (Nunes, 2006). Algumas interfaces, como os chats, fóruns, vídeo-conferência, também, facilitam o compartilhamento do conhecimento no ambiente virtual (Lacerda et al., 2010). Outros exemplos, citados por Barcelos, Passerino e Behar (2010), são as redes sociais e as comunidades, que podem representar importantes recursos de apoio para a formação continuada. No ambiente virtual as possibilidades de aprendizagem se ampliam, principalmente em relação à educação não-formal. Pesquisar na internet, muitas vezes não requer habilidades, tendo em vista os inúmeros recursos disponíveis, como os sites de busca. No estudo de Dos Santos (2009), o autor destacou a importância das wikis no ambiente virtual contribuindo na educação não-formal de jovens, o que poderia ser interessante, também, para o indivíduo idoso. Ainda referente ao ambiente virtual, o desenvolvimento da criatividade e o compartilhamento de novos conhecimentos do indivíduo idoso (Losso, Cristiano, 2011) constituem-se em elementos importantes para essa fase do desenvolvimento humano. Porém, as características e peculiaridades deste ambiente podem desencadear muitos outros benefícios, como por exemplo, os referentes ao entretenimento (Marques, Leite, 2006). Para idosos pertencentes a programas de inclusão digital que exploram a internet e as novas tecnologias, certamente, as experiências resultantes de tais práticas ultrapassam a área educativa, ampliando-se para o contexto do lazer e para a qualidade de vida dos envolvidos. Os idosos buscam o domínio do computador, mas, suas expectativas ultrapassam esse objetivo, eles necessitam se apropriar, se 44 sentirem parte da sociedade na qual estão inseridos (Passerino, Bez, Pasqualotti, 2006) e, em muitos casos, os projetos de inclusão digital possibilitam esta realização. Nas iniciativas que já estão em curso, no que tange ao estímulo à inclusão digital de idosos, torna-se importante perceber as principais estratégias utilizadas para que estas favoreçam experiências significativas, tanto no âmbito da aquisição de conhecimentos, quanto no do entretenimento, focalizando-se especificamente o lazer. O lazer caracteriza-se como um fenômeno, cujo conjunto de atividades e ocupações, pode atingir expectativas de divertimento, descanso e desenvolvimento (Marcellino, 1995; Dumazedier, 2004), possibilitando oportunidades de vivências, muitas vezes, significativas. Com o avanço das tecnologias e o envolvimento cada vez maior de pessoas com o ambiente virtual, e, principalmente, com o acesso mais facilitado à internet, aumentou-se a gama de atividades do contexto do lazer oferecidas, levando-se em consideração, agora, o ambiente virtual (Schwartz, 2003). A diversidade envolvendo as atividades no ambiente virtual é grande, principalmente quando se faz referência ao entretenimento. A internet permite unir inúmeras atividades em um mesmo local, como a música, a televisão, o e-mail, o telefone, entre outras. Essa perspectiva de ação supera a ideia simplista de ser mais um incentivo ao sedentarismo associado ao fato de os idosos permanecerem à frente de um computador. Mas, tem o intuito de propiciar uma complementação às opções de lazer diárias, muitas vezes empobrecidas pela falta de conhecimento específico, buscando, inclusive, informações capazes de fazê-los ocupar o tempo disponível de maneira saudável, socialmente adequada e virtualmente atualizada. 45 Em um estudo de Pereira e Neves (2011), destacou que as Tecnologias da Informação e Comunicação podem representar uma ferramenta importante para a ressignificação do lazer de idosos, ocupando o tempo disponível dos mesmos, sendo a utilização do computador por parte dos idosos, uma alternativa viável para o entretenimento e combate ao isolamento. No estudo de De Schutter (2010), explorando os jogos online para idosos, houve destaque para os jogos de desafios como os mais utilizados e os jogos que permitem a interação social, evidenciados como os prediletos por parte dos participantes da pesquisa. Em outro estudo sobre a temática (Nimrod, 2010) foi evidenciado que os jogos online contribuem positivamente para o bem-estar de idosos e que os assuntos relacionados à diversão são os mais procurados online pelas comunidades de idosos. Para De Miranda e Farias (2009), a internet pode se tornar uma ferramenta útil para os idosos, tanto em se tratando da divulgação de informações sobre saúde e qualidade de vida, além de que, o tempo gasto com a internet é visto pelos idosos, conforme esses autores apregoam, como um tempo destinado às atividades do contexto do lazer. Pensando nesta perspectiva de evolução dos interesses no campo do lazer, Schwartz (2003) propôs a inserção do conteúdo virtual do lazer, em virtude da grande adesão às práticas do contexto virtual decorrentes dos avanços tecnológicos. Schwartz (2003) prestou sua contribuição para ampliação dos conteúdos culturais do lazer, primeiramente, apontados por Dumazedier (1979) em manuais, intelectuais, artísticos, fisico-esportivos e sociais, seguido por Camargo (1992), com a inserção do conteúdo turístico do lazer, para atender aos interesses sociais neste campo. No ambiente virtual, utilizando a internet, é possível unir todos os conteúdos 46 culturais do lazer, permitindo ao indivíduo idoso, inúmeras possibilidades de vivências. O ambiente virtual está associado ao campo do lazer, pois, possibilita inter- relações e vivências emocionais (Schwartz, Campagna, 2006), sendo um elemento importante, na contemporaneidade, onde o distanciamento de pessoas é maior em virtude dos compromissos diários. Quando associado a idosos, o lazer virtual para além das inter-relações, pode representar o pleno exercício da cidadania. Contudo, ainda que já existam algumas vantagens apontadas na literatura sobre a inclusão digital de idosos envolvendo a aquisição de conhecimento sobre a saúde, a educação e o lazer, novas pesquisas necessitam ser realizadas. Os objetivos dos projetos de inclusão digital de idosos devem ser ampliados, com o intuito de se aprimorar as estratégias para difusão destas oportunidades entre os idosos e vencer as barreiras também existentes, quando o assunto é referente à perspectiva de inclusão digital de idosos. Considerações Finais As mudanças ocorridas no período pós-industrial frente às novas tecnologias e o aumento do número da população idosa certamente vêm contribuindo para a ampliação dos estudos com a temática inclusão digital de idosos. O livre acesso às informações é um direito de todos e, para o idoso, não é diferente. A inclusão digital pode contribuir para o desenvolvimento pessoal e social de idosos, favorecendo a qualidade de vida desta população, conforme apontado nos estudos anteriormente citados. 47 Os programas ligados à inclusão digital de idosos ainda necessitam de apoio por parte de Políticas Públicas, para que, assim, possam ser ampliados, pois, os programas já existentes, já demonstram resultados importantes, relacionado aos aspectos da possibilidade de aquisição do conhecimento, da interação social e da melhoria da auto-estima. Entretanto, muito, ainda, é necessário ser feito, para que se atinja a perspectiva de ampliar as possibilidades de educação continuada para os idosos. As estratégias adotadas durante as aulas de inclusão digital podem garantir o sucesso ou insucesso dos resultados com os idosos. Geralmente, o sucesso de um programa de inclusão digital de idosos se deve a uma boa articulação, mantendo a participação ativa dos sujeitos envolvidos. Certamente, esses programas tendem a atingir resultados mais satisfatórios, principalmente, se o professor estimular a criatividade, o trabalho coletivo e as experiências que o próprio idoso traz consigo. Porém, para tanto, há que se investir mais na formação dos profissionais atuantes, no sentido de ampliar as capacitações para lidar com este público. A internet pode ser uma estratégia pedagógica durante as aulas de inclusão digital, muitas vezes, tornando-se uma aliada para conquista dos objetivos traçados, levando em conta as inúmeras atividades do contexto do lazer que podem ser vivenciadas durante sua utilização. Entretanto, de nada adiantam os centros oferecendo estas oportunidades, se não houver uma política maior, de apoio, incentivo e disseminação sobre essas vantagens, além de se estender essas vantagens a todos os idosos. Mesmo com o avanço nos estudos envolvendo a temática inclusão digital de idosos, ainda há uma necessidade de ampliação de foco sobre este tema, principalmente envolvendo os aspectos de desenvolvimento de sites adaptados para 48 utilização de indivíduos idosos. Essas ferramentas tecnológicas necessitam ampliar a preocupação com a qualidade com que as informações são inseridas na web, sobretudo, destacando-se assuntos referentes à interação idoso-máquina. Uma das temáticas importantes para futuros estudos diz respeito, à ergonomia necessária para a utilização de recursos tecnológicos, o que ainda se encontra defasado, quando o assunto é o idoso. Pesquisas referentes às dinâmicas adotadas nas aulas de inclusão digital merecem também maior atenção de pesquisadores, principalmente no que diz respeito às estratégias pedagógicas a serem adotadas. Inclusive no que concerne às atividades lúdicas inseridas no contexto da aprendizagem de idosos nos programas de inclusão digital, estas são pouco difundidas no meio acadêmico, necessitando, assim, novas abordagens a este respeito por parte de estudiosos da temática. Os idosos, como elementos ativos integrantes da sociedade devem ser estimulados quanto ao envolvimento com as novas tecnologias da informação e comunicação. Portanto, este trabalho reforça a necessidade de mais estudos que aprofundem a temática, sugerindo que novas possibilidades sejam oferecidas às pessoas nesta fase do desenvolvimento humano referente à velhice, no sentido de ampliar as perspectivas de experiências com interfaces nos campos da saúde, educação continuada e do lazer, frente às novas tecnologias. Referências ARAUJO, E. P. et al. Diretrizes para o ensino de informática para os idosos visando cidadania, inclusão digital e social: projeto EIC integrar UFPR. 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