UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA "JÚLIO DE MESQUITA FILHO" Campus de São Paulo MARIA CLARA PERRUT DE GODOI Os efeitos de cantar em grupo e um panorama geral das pesquisas brasileiras sobre os efeitos neurológicos e motivacionais do Canto Coral São Paulo 2022 1 Maria Clara Perrut de Godoi Os efeitos de cantar em grupo e um panorama geral das pesquisas brasileiras sobre os efeitos neurológicos e motivacionais do Canto Coral Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto de Artes da Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho – UNESP, como requisito básico para a conclusão do Curso de Bacharelado em Regência Coral. Orientador: Prof. Dr. Paulo C. Moura São Paulo 2022 2 3 Maria Clara Perrut de Godoi Os efeitos de cantar em grupo e um panorama geral das pesquisas brasileiras sobre os efeitos neurológicos e motivacionais do Canto Coral Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto de Artes da Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho – UNESP, como requisito básico para a conclusão do Curso de Bacharelado em Regência Coral. Dissertação aprovada em: ___/___/___ Banca Examinadora _______________________________________ Prof. Dr. Paulo C. Moura _______________________________________ Prof. Dr. Wladimir Farto Contesini de Mattos 4 AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus, pois sem Ele eu não teria chegado até aqui. À minha família, por serem meus apoiadores e minha base em tudo. A meus pais que me incentivaram e despertaram em mim a vontade de fazer música e ter ela como profissão. À minha irmã Cloe pelas longas conversas sobre como viver da arte e os vários conselhos dados com muito carinho nos piores e melhores momentos. Ao meu orientador Dr. Paulo Celso Moura que é meu professor há anos, muito antes do vínculo com a universidade, que se dispôs a acompanhar esse processo de perto, compartilhando experiências e guiando este trabalho da melhor forma com todo zelo e carinho. Aos incríveis professores do Instituto de Artes da Unesp, pois me colocaram em inúmeras situações de aprendizagem como as aulas, palestras, “workshops” e apresentações, que geraram ânimo e entusiasmo durante todos esses anos de graduação, fazendo o que podiam, e o que não podiam, para dar o melhor deles para seus alunos. 5 RESUMO Este trabalho é uma pesquisa bibliográfica sobre canto coral e os efeitos benéficos para quem participa dessa atividade. O objetivo geral é conhecer quais trabalhos acadêmicos que existem sobre canto coral e a intersecção com estudos científicos feitos no Brasil. Foi levantada uma bibliografia nacional que chegasse mais perto dessa proposta para entender os efeitos causados nos participantes. Além de conter um panorama geral sobre o mesmo tema pesquisado em trabalhos internacionais que abordam esse assunto. A pesquisa não se limitou às datas, justamente para compreendermos que: nas referências pesquisadas não foi mencionado nenhum malefício desta prática, apenas melhoras, tanto das funções cerebrais, quanto do comportamento social de seus participantes. Palavras-chave: Canto coral; canto coral e saúde mental; benefícios do canto em grupo; canto coral e neurociência. 6 ABSTRACT This work is based on a bibliographic research on choral singing and its favorable effects for those who join this activity. The general purpose of this paper is to find out about which academic works in Brazil actually bring forth a study on choral singing in a more científic perspective. Our research gathered a national bibliography in order to have a better understanding of the effects on the participants. In addition, some international work was also used in order to give a broader idea on this matter. This research is not limited to date so we observe the following: within the referred references the choral singing activity does not bring any harmful effects on its participants, on the contrary, there is improvement of brain function and social behavior. Keywords: Choral singing; choral singing and mental health; benefits of group singing; choral singing and neuroscience. 7 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABEM Associação Brasileira de Educação Musical ANPPOM Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Música BDTD Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações FACCAT Faculdades Integradas de Taquara GDS Godelieve Denys-Struyf LUME Repositório Digital da UFRGS MUSIMED Acervo de partituras e livros da América Latina SciELO Scientific Electronic Library Online UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul UNESP Universidade Estadual Paulista https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/122536/000969127.pdf;sequence=1 https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/122536/000969127.pdf;sequence=1 8 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ………………………….……………………………………….. 8 2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS …………………………………….. 9 3. PESQUISAS BRASILEIRAS …………………………………………………... 10 3.1. Levantamento Bibliográfico ……………………………….……...……. 13 3.2. Revisão de Literatura ……………………………………………………. 14 3.3. Música e Neurofisiologia ………………………………………………… 21 4. PESQUISAS INTERNACIONAIS ……………………………………………… 22 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ……………………………………………………. 26 6. BIBLIOGRAFIA ……………………………………………………………….…. 29 9 1. INTRODUÇÃO O interesse em saúde mental tem crescido de maneira significativa nos últimos anos, a saúde, a satisfação pessoal, a qualidade de vida, são assuntos recorrentes. Assuntos como a capacidade de se socializar estão sendo cada vez mais discutidos. Sabemos que o desenvolvimento social de uma pessoa pode ser melhorado através de atividades que não estejam, necessariamente, vinculadas a programas psicoterapêuticos. Dentro de uma comunidade existe uma gama imensa de possibilidades de grupos sociais, ou seja, pessoas com hábitos em comum que ao estarem juntos, praticando esse hábito, podem vivenciar o desenvolvimento de emoções, afeições, pensamentos críticos, assim desenvolvendo uma habilidade social. O fazer musical é uma ferramenta de comunicação e expressão, a música potencializa a expressividade emocional promovendo relações interpessoais e relações com vínculos mais saudáveis. O canto coral aproxima e estreita essas relações entre os participantes, além de desenvolver a musicalidade e o autocontrole. Este trabalho é resultado do levantamento de vários textos, em especial textos brasileiros, em português e outros, sobre canto coral e saúde, assim objetivando garantir uma maior acessibilidade a informações em nossa própria língua. Dentro dessa procura de textos foi observada a falta de repertório científico em nosso idioma, bem como a falta de análises técnicas quanto ao comportamento relativo às mudanças na atividade cerebral das pessoas quando cantam juntas; na verdade existem muito mais pesquisas internacionais sobre o funcionamento do nosso cérebro do que pesquisas nacionais, o efeito do canto coral no cérebro e corpo humano, já são medidos pelos resultados daquelas pesquisas feitas com a utilização de dispositivos tecnológicos, ressonância magnética, exames neurais e etc, trazendo abordagens técnicas sobre o efeito de cantar junto. No entanto, as pesquisas realizadas em nosso país abordam mais sobre as emoções e em situações vividas pelas pessoas, são resultados obtidos de análises comportamentais das pessoas que tiveram esse acesso ao canto coral e a música. Na primeira parte do trabalho veremos um panorama geral sobre as pesquisas brasileiras relacionadas ao canto coral e a saúde mental, canto coral e a memória, canto coral e o bem-estar e canto coral e a cognição. 10 Inicialmente foi feita uma pesquisa no repertório nacional sobre canto coral e seus efeitos neurológicos, mas, os resultados encontrados foram de trabalhos ligados a questões psicológicas como o bem-estar e a motivação que existe ao cantar em grupo. A partir dos resultados desses trabalhos foi feita uma revisão bibliográfica sobre os textos em português que não são traduções e que mais explicam sobre os benefícios da prática coral. Ao final veremos pesquisas internacionais que falam sobre o efeito da música, a partir do canto coral, em nosso cérebro, o porque cantar é benéfico neurologicamente e como nosso cérebro se comporta em contato com essa atividade. Toda a pesquisa foi baseada a partir de trabalhos que incluíam o canto coral como campo de estudo e não somente a música, pois muito se pesquisa sobre o resultado da música no cérebro de forma geral, mas, pouco se diz sobre esses resultados quando estamos diretamente fazendo música junto com outras pessoas e utilizando nosso corpo como instrumento. 2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A elaboração e fundamentação desse trabalho foi feita a partir de pesquisas relacionadas ao canto coral e o efeito benéfico para seus participantes, à princípio buscamos informações sobre a relação do canto coral com a neurologia, para descobrir especificamente onde acontece esse bem estar em nosso cérebro. Ao especificar esse tipo de procura nos deparamos somente com os trabalhos internacionais e traduzidos, não encontramos pesquisas brasileiras. Dessa forma, a partir das relações inicialmente encontradas, foram incluídas outras palavras-chave para buscar quais trabalhos foram feitos no Brasil que tem relação com os benefícios do canto coral, como: canto coral e saúde, canto coral e bem-estar, canto coral como prática saudável, canto coral e motivação, canto coral e cognição musical, canto coral e memória. Este trabalho contou com a busca realizada em dez bases de dados: Google acadêmico, Scielo, PubMed, ANPPOM, Revista da ABEM, MusiMed, BDTD, Revista ComCiência, repositório institucional UNESP, LUME. Pesquisando dentro do limite de tempo de 1974 a 2021, nos seguintes idiomas: português e inglês. https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/122536/000969127.pdf;sequence=1 11 3. PESQUISAS BRASILEIRAS Fazendo uma pesquisa rápida no Google a partir de termos como canto coral e saúde, canto coral e bem-estar, canto coral e memória, encontramos sites, blogs e vídeos falando sobre os benefícios do canto coral, em sua maioria seus autores são pessoas que escreveram baseando-se em trabalhos internacionais. Porém, ao realizarmos uma pesquisa de caráter científico não se encontra nenhuma citação de trabalhos brasileiros falando sobre esses efeitos neurofisiológicos do canto coral, estas pesquisas tiveram base em dados, exames e análises feitas - a busca foi direcionada para trabalhos internacionais, principalmente países de língua inglesa. Com isso, o acesso às informações sobre os benefícios neurológicos do canto coral se torna basicamente um privilégio, sendo possível somente para pessoas que tem uma base da língua inglesa ou acesso a uma tradução de maneira rápida. Os trabalhos encontrados feitos por brasileiros sobre os efeitos do canto coral, em sua maioria, são uma forma de pesquisa qualitativa, que de uma maneira geral acabam se aprofundando em opiniões, ideias e atitudes como as motivações dos indivíduos participantes dessas atividades; e/ou quantitativa, que por sua vez encaram as coisas de um ponto de vista estatístico, pesquisas estas feitas em forma de entrevistas, questionando os participantes sobre sua prática musical e sua vivência dentro de um grupo coral. Assim, estas pesquisas estão muito mais propensas a se referir às esferas psicológicas e sociológicas, analisando a forma como as pessoas se sentem depois de um encontro com o grupo coral, o por que desse sentimento e o por que querem continuar em um grupo com diversidades que estão lá pela atividade musical. O canto coral é a atividade de cantar em grupo e tradicionalmente de forma estritamente presencial e síncrona, pois os coralistas e os regentes precisam interagir, se ver e se escutar com uma qualidade e precisão muito altas, uma rapidez quase que instantânea de execução e audição em conjunto. (Gonçalves, 2021) Esses encontros que necessitam de interação não acontecem sem uma causa, existe uma motivação para as pessoas quererem fazer parte, despender seu tempo 12 para ir a um lugar cantar e ensaiar com outras pessoas, isto exige uma disciplina que muitos estão dispostos a cumprir. As pesquisas brasileiras sobre canto coral são feitas a partir da opinião destas pessoas. Entrevistas e questionários são a base dos trabalhos que temos nacionalmente, resultados de perguntas e respostas dadas, bem como, pela vivência e pela experiência dos entrevistados, não por indicadores no âmbito da neurociência com vista a neurofisiologia - e sim da ciência psicológica que não se dá por fatos analisados cientificamente, mas por fatos experimentados por pessoas em um momento específico, em um ambiente adequado que resultou naquele tipo de sensação para aquela pessoa. No Brasil encontramos, na maioria dos grupos, um viés amador de pouco ou de nenhum conhecimento sobre música. O canto coral faz parte do cotidiano dessas pessoas que saem de suas casas para se encontrarem e ensaiar um repertório visando uma apresentação que demonstra o que foi estudado ao longo de um certo período de tempo, isso requer um tempo significativo no meio da semana para participar dessa atividade. A prática do canto coral no Brasil costuma ser conduzida tanto por profissionais capacitados, como por leigos interessados e dedicados (Komosinski, 2009, p.14). Dentro da visão sobre o contexto educacional no Brasil, sabemos o quanto a educação é frágil, o quanto a música e as artes são esquecidas no campo das matérias em sala de aula, mas, é um fenômeno social a existência de tantos grupos corais amadores que fazem o trabalho musical se baseando na memória dos participantes como parte do ensaio, neles o fazer musical é imitativo e o tipo de ensino é o “de ouvido”. Para participar destes grupos empíricos de canto coral, se demanda tempo, paciência, perseverança, recursos, interesses, entre outros fatores, para aprender música. É possível que esse tipo de ensino por método de repetição ao que se ouve seja o mais rápido e eficaz, fazendo com que esse grande interesse por leigos de estarem em um coral sejam esses: estar com pessoas, compartilhar experiências, aprender algo novo e utilizarem-se de um instrumento próprio e sem custo - a voz. Em uma pesquisa de mestrado do autor João Luís Komosinski (2009), pesquisador brasileiro, é destacada a psicologia cognitiva da música reunindo vários autores que dissertam sobre o assunto. Ele comenta que dentro da área da psicologia cognitiva podem ser estudados diversos assuntos como percepção, atenção e coordenação motora. Um comentário muito interessante na página 24 do seu trabalho: Canto Coral e Cognição Musical, diz que 13 “Apesar de no Brasil ainda se constituírem praticamente em um trabalho de vanguarda, as pesquisas da psicologia cognitiva da música realizadas em diversos outros países já originam novos e importantes entendimentos sobre o mecanismo de atuação da memória humana...”, Ou seja, a falta de repertório científico em nosso país é notória, fazendo com que recorramos a pesquisas de línguas estrangeiras para conhecer mais sobre o assunto, dificultando a evolução dos grupos corais amadores para um caminho profissionalizante. Contudo seu trabalho nos diz muito sobre o funcionamento do cérebro em relação à memória musical, principalmente na voz, tendo como exemplo quando ele comenta que tudo se origina de uma imagem sonora mental; por exemplo, um pianista ao tocar seu instrumento, lembra os sons que ele emite e a correta posição dos dedos em determinadas teclas, já o cantor lembra do próprio som que precisa ser emitido o que faz com que uma série de comandos neurológicos ativem os músculos respiratórios, orofaciais e laríngeos responsáveis pelo canto. "O canto e a emissão vocal dependem da formação de uma imagem sonora mental daquilo que se almeja cantar'' (Komosinski, 2009). Podemos dizer então que o cantar não é meramente emitir um som, ou seja, para se emitir um som vocal existe uma organização cerebral para que esse som seja emitido de maneira ordenada, deve se ter a predefinição do que almeja emitir, bem como a ativação dos músculos responsáveis pela respiração com a emissão da voz. Uma organização tão precisa sobre seu corpo que quando conseguimos ajustar adequadamente para cantar o sentimento é de superação, que gera autoestima e autoconfiança a partir dessa experiência. O querer cantar e os fatores sociais e motivacionais são os mais estudados pelos pesquisadores brasileiros, esta motivação é um fator quase predominante tanto para músicos quanto para não músicos participarem de um grupo coral. Discussões sobre as habilidades sociais de uma pessoa, sobre como o seu comportamento pode 14 sofrer mudanças ao participar de um grupo com o mesmo propósito, como a música cantada é entendida emocionalmente de individuo para individuo e qual a força social que motiva o funcionamento desse grupo, são alguns dos tópicos mais explorados quando se fala em canto coral. O produto de uma música são os sons musicais, que diferente das palavras, não se referem a nenhum outro objeto concreto ou abstrato (Andrade, 2004). Distinguir sons é uma capacidade complicadíssima, pois envolve muitos fatores neurais e corticais para alcançar o entendimento do que se ouve. Estudos feitos com intuito de entender a fundo como essa informação chega ao nosso cérebro de forma física não são encontrados em base de dados nacionais. Verificamos muito mais um âmbito social nesse tipo de estudo, as pesquisas enfocam questões ligadas à dimensão psicológica e de interação social que serão apresentados na continuidade deste trabalho, pesquisas estas importantes para o entendimento da complexidade e amplitude dos desdobramentos que advêm da prática coral. No entanto, como visto, não há massa crítica de trabalhos que se dirijam à dimensão neurofisiológica dessa mesma prática, por isso, veremos um levantamento bibliográfico de pesquisas nacionais que mais interligam o canto coral com ser benéfico ao corpo e ao cérebro. 3.1. Levantamento Bibliográfico Um levantamento de artigos e textos relacionados ao tema da pesquisa a partir da palavra-chave canto coral, tanto na área da música quanto nas áreas da saúde, psicologia, neurologia e sociologia. Foram pesquisados somente trabalhos de brasileiros, um recorte feito para textos em português para sabermos o que temos de repertório nacional sobre o canto coral e os efeitos que causa nos coralistas. Foram localizados variados trabalhos, os escolhidos para a revisão de literatura foram dez, publicados em periódicos, repositórios e base de pesquisas online; oito foram publicados na área de música, um na área de psicologia e um na área da saúde; publicados entre 2007 e 2021. 3.2. Revisão de Literatura 15 A partir do levantamento bibliográfico selecionamos para revisão de literatura os seguintes artigos: 1. Carminatti, Juliana da Silva; Silva Krug, Jefferson. A prática de canto coral e o desenvolvimento de habilidades sociais. Pensamento Psicológico, vol. 7, no. 14, p.81-96. 2010. Este artigo deriva de um projeto de investigação conduzido na FACCAT. Neste artigo os autores propõem um estudo qualitativo e quantitativo em adolescentes de uma escola para ver se existem diferenças de habilidades sociais entre praticantes e não praticantes da atividade de canto coral e comparam a opinião deles. A pesquisa se estende em torno de conhecer a opinião dos participantes da atividade coral sobre o desenvolvimento individual, a habilidade de enfrentamento de situações sociais por eles vivenciadas, auto exposição, desenvoltura social, bem como se esses fatores geraram alguma repercussão para o desenvolvimento das habilidades sociais deles, ainda averiguar se há divergência dessas habilidades em adolescentes que não participam dessas atividades, se discutindo a relevância dessa temática para o campo da psicologia social comunitária. A discussão foi feita através da categoria de ‘sentimentos vivenciados’, desenvolvimento de habilidades’ e ‘situações oportunizadas a partir da prática’, onde se levantou um apontamento indicando que os participantes consideravam a atividade do canto coral como um grupo, ou seja, como parte de suas vidas, um ambiente importante, de relevância, de reflexão e não como simplesmente de pessoas reunidas. 2. OLIVEIRA, André Rodrigues Costa de. O canto coral e suas influências socioculturais. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Instituto de Artes, 2016. Neste trabalho de conclusão de curso (TCC) com revisão bibliográfica e um estudo de caso sobre as influências socioculturais do canto coral, foram feitas atividades com um grupo coral e a pergunta base que guiou a pesquisa foi: Como a atividade do canto coral pode beneficiar seus participantes e contribuir para sua vida? Foi discutido o fato de o canto coral ser uma atividade socializadora e questionado quais são seus benefícios nas relações interpessoais. O ambiente de 16 ensaio vai muito além de um espaço reservado para as pessoas cantarem, é um lugar onde se cria relações, as pessoas passam tempo juntas, onde amizades se estabelecem e os indivíduos contribuem para o cumprir um objetivo em comum dentro de uma prática musical. Além de estabelecer um papel fundamental do regente em meio ao processo desse coro, tanto educacional como pessoal, o regente é uma referência musical além de ser contribuidor para as relações interpessoais do grupo. O autor, pesquisando as referências brasileiras que existem sobre o canto coral, mostra que a maior parte dessa literatura se enfoca nas questões relacionadas às técnicas de canto e regência e não nas relações interpessoais geradas pelo canto coral. Entretanto, em outros resultados desta mesma pesquisa chega à conclusão de que o canto coral gera um elevado grau de inclusão social e melhoria de vida, como por exemplo: uma atividade coral com idosos trouxe uma inclusão social para eles, pois essa prática gerou relacionamentos com pessoas novas, tirando eles do isolamento social causado pela idade avançada, minimizando a sensação de solidão pois proporciona momentos de alegria. 3. AMATO, Rita de Cássia Fucci; AMATO NETO, João. A motivação no canto coral: perspectivas para a gestão de recursos humanos em música. Revista da ABEM. 2009. Neste artigo foi feita uma pesquisa e coleta de dados com 19 estudantes de música para saber o fator motivacional dos coralistas. A motivação é um estado psicológico no qual o indivíduo tem disposição para realizar uma ação. Foi abordado o papel do regente do coro que vai além do trabalho musical, muito mais do que um técnico responsável pela produção musical do coro, ele deve promover a integração interpessoal, visando a igualdade na transmissão de novos conhecimentos, além da construção do conhecimento e atitudes de liderança baseada na habilidade de inspirar. A pesquisa revelou que o processo motivacional na prática coral é considerado uma habilidade, um fator importante dentro da regência coral, bem como existe uma importância essencial na valorização dos conhecimentos prévios dos coralistas, como ouvir as opiniões, saber reconhecer defeitos, qualidades e estimular a criatividade. 17 4. SCHMELING, Agnes; TEIXEIRA, Lúcia Helena. Motivações e aprendizagens no Canto Coral. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2016. Uma reflexão feita por duas alunas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul que aborda o processo de ensino e aprendizagem presente na atividade de canto coral. Na experiência à frente de dois coros, um juvenil e outro feminino adulto, foi destacado que no trabalho do canto coral o processo de aprendizagem está diretamente relacionado com a identificação dos cantores com aquilo que realizam. Para o grupo juvenil a motivação era fazer algo novo como cantar em outros lugares. Para o grupo feminino adulto era um repertório que elas gostassem, independente da dificuldade. 5. SOUSA, Simone S. Corpo sonoro: educação somática e canto coral.  Anais da VII Semana de Educação Musical. Passaredo: voz na educação musical. 2020. Este artigo faz parte de uma pesquisa de doutorado que se propõe a discutir a proposta de uma educação somática para a preparação vocal de coralistas. Envolver o corpo do cantor, a emissão, a articulação e movimentos, trazendo a aprendizagem da preparação vocal trabalhando a partir do corpo. Foi analisada uma série de métodos como: antiginástica, método Bertazzo e método GDS. Comparando o resultado, concluiu que não se trata de controle, mas de libertação e consciência, não o movimento em si, mas a maneira como é realizado. Uma preparação que pensasse na voz a partir do corpo também levou à educação somática, que é um campo teórico-prático pedagógico quanto à movimentação do corpo para o cuidado da saúde e exercício das faculdades cognitivas e afetivas. 6. ZANETTINI, Angélica; SOUZA, Jeane Barros de; FRANCESCHI, Vanilla Eloá; FINGER, Denise;  GOMES, Angela; SANTOS, Marinez Soster dos. Quem canta seus males espanta: um relato de experiência sobre o uso da música como ferramenta de atuação na promoção da saúde da criança. Revista Mineira de Enfermagem (REME). 2015. https://pesquisa.bvsalud.org/portal/?lang=pt&q=au:%22Zanettini,%20Ang%C3%A9lica%22 https://pesquisa.bvsalud.org/portal/?lang=pt&q=au:%22Souza,%20Jeane%20Barros%20de%22 https://pesquisa.bvsalud.org/portal/?lang=pt&q=au:%22Franceschi,%20Vanilla%20Elo%C3%A1%22 https://pesquisa.bvsalud.org/portal/?lang=pt&q=au:%22Finger,%20Denise%22 https://pesquisa.bvsalud.org/portal/?lang=pt&q=au:%22Gomes,%20Angela%22 https://pesquisa.bvsalud.org/portal/?lang=pt&q=au:%22Santos,%20Marinez%20Soster%20dos%22 18 Este artigo é um relato de experiência sobre um projeto de extensão feito por graduandas em enfermagem visando a saúde da criança através da música e ações educativas. Foi feito um trabalho de canto coral com as crianças, visando o encontro delas e o conhecimento de novos lugares e experiências com público. Abordaram a dificuldade de achar literaturas sobre o assunto música como ferramenta na promoção da saúde na área da enfermagem, e como é difícil a integração entre a comunidade universitária e a comunidade escolar. A música beneficia tanto as crianças quanto os profissionais, pois houveram situações de compartilhamento, apoio, troca de informações que geraram um desenvolvimento técnico, científico com ações interdisciplinares trazendo um olhar mais amplo e crítico em relação a promoção da saúde. 7. AMATO, Rita Fucci. O canto coral como prática sócio-cultural e educativo- musical. Revista Eletrônica da Associação Nacional de Pesquisa e Pós- graduação em Música (ANPPOM). 2007. Este artigo tem como objetivo apresentar o canto coral como um grupo de aprendizagem musical, desenvolvimento vocal e inclusão social. Nos mostra reflexões sobre as vertentes educacionais e socioculturais do canto coral, juntamente com o desenvolvimento interpessoal. Destaca a participação do regente como tendo um papel motivador, fazendo a integração dos coralistas onde se constitui uma relevante manifestação educativo- musical. Coloca em destaque os dois diferentes tipos de motivação, os dois citados no artigo de Antonio Maximiano (introdução à administração, 2004) o primeiro Herzberg, diz que a motivação é um processo contínuo sendo diferente para cada indivíduo e o segundo sendo Maslow, que diz que a motivação ocorre a partir do cumprimento de necessidades básicas do indivíduo. Nos mostra que nas práticas corais, nos corais que possuem cantores sem um ensino musical prévio, o coro tem a função de ensino musical, trabalhando a consciência respiratória, auditiva, inteligência vocal, prática de interpretação, recursos audiovisuais, apresentação de pesquisas e debates. Assim, a performance vocal em grupo é o resultado desse trabalho total de um grupo educativo-musical. O regente embasa sua atuação como educador e agente social e aí torna possível, a partir de https://www.anppom.com.br/ 19 uma formação social, o desenvolver diversas perspectivas sobre o trabalho técnico de educação musical em coros. 8. KOHLRAUSCH, Daniela Barzotti. Prática coral e motivação: o ambiente coral na percepção do corista. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Artes. Programa de Pós-Graduação em Música. 2015. Uma dissertação de mestrado que teve como objetivo fazer um trabalho visando a investigação da motivação para participar da atividade coral de extensão universitária. Foram feitas perguntas para saber o motivo dos indivíduos quererem ou não participar desse tipo de atividade, o que os levou a procurar um coro e qual a influência que esse ambiente coral teve na vida deles. Foram feitas entrevistas a coristas e ex-coristas com uma abordagem qualitativa analisando as questões pela teoria da autodeterminação, revelando que muitas vezes a procura por esse tipo de atividade não tem relação com o contexto vocal e sim por uma motivação de necessidades psicológicas básicas que podem influenciar na motivação para continuar a atividade. Cantar em grupo cria uma interdependência entre as pessoas, que foge ao controle do indivíduo, palavras que a autora usou para apresentar o regente como mediador desse fazer musical auxiliando no senso de pertencimento dessas pessoas e na internalização do comportamento, já que os coristas executam as tarefas do coro, como o aquecimento, visando objetivos pessoais. Comentou que o canto coral pode ser um ambiente muito controlador com o regente, ou uma equipe que comanda, dirige, escolhe as pessoas, repertório, datas, não que seja uma regra, nem que seja ruim, mas, há modos de comandar e dirigir que podem apoiar a individualidade, acompanhado com o sentimento de pertencimento. Os coristas se sentem engajados quando tem suas necessidades sociais supridas, o que os motiva a permanecer na atividade coral. 9. KOMOSINSKI, João Luís. Canto coral e cognição musical: as práticas brasileiras e suas articulações com a memória. Dissertação (mestrado). Universidade Federal do Paraná (UFPR), Programa de Pós-graduação em Música. Curitiba, 2009. https://lume.ufrgs.br/discover?filtertype=author&filter_relational_operator=equals&filter=Kohlrausch,%20Daniela%20Barzotti 20 Uma dissertação de mestrado que traz uma revisão teórica sobre o funcionamento cognitivo da memória humana. Procurou-se saber em qual das três etapas (codificação, armazenamento e recuperação) acontece o aprendizado de repertório por cantores de canto coral. Achados sobre o seu tema de pesquisa internacionalmente podem auxiliar na atividade coral brasileira, pois é corriqueiramente esquecido o fato de que a grande parte dos trabalhos corais brasileiros não dominam as técnicas de solfejo e partitura. Embora que cantar uma melodia seja possível apenas na dependência da internalização das relações intervalares e tonais que são geradas entre as notas e das relações de proporção entre as durações destas notas. Komosinski comenta sobre os três autores dos mais difundidos livros de regência coral publicados no Brasil e observa que em toda essa literatura não houve a preocupação com a investigação sobre a atuação do mecanismo cognitivo da memória em articulação com o cantar dos coros. Definindo o seu trabalho de mestrado como um recurso teórico que poderá colaborar com a ampliação de novas técnicas que auxiliam a atuação do regente e dos cantores brasileiros. Comentou que a repetição mental é um processo eficiente na construção de uma memória a longo prazo, no contexto do canto coletivo essa afirmação é uma valiosa contribuição na prática do canto através da memorização. A repetição de uma informação melódica na memória de curto prazo pode ser de grande valia para o canto coral amador, como executar passagens musicais mentalmente. No capítulo 2 ele faz uma proposta teórica se baseando nos textos do capítulo 1 e na sua experiência profissional atuando como regente de coral. Introduz os tipos de memória como memória muscular, auditiva, nominal, visual, rítmica, analítica, emotiva e semântica, que são codificadas dentre esses diferentes tipos para o fazer musical. Ele conclui que por mais que falemos sobre o funcionamento da memória humana e existam textos para basear essa pesquisa, essa é uma área ainda não totalmente compreendida pela ciência. A comunidade científica reconhece que a descrição exata sobre os processos mentais é difícil de um dia ser realizada. 10. GONÇALVES, Felipe Sardinha. Canto coral em meio ao distanciamento físico em SP. Universidade Estadual Paulista (Unesp), 2021. 21 Este é um dos trabalhos de conclusão de curso, um dos mais recentes e que fala sobre o canto coral. Escrito e pesquisado em meio a pandemia da COVID-191, com o objetivo de estudar os diferentes impactos e aspectos da realidade coral paulistana antes e durante o distanciamento social. Através de um questionário online foi possível ter informações sobre o trabalho dos grupos e dos regentes corais em São Paulo, saber quais continuaram de forma remota, quais foram suas atividades, as mudanças, expectativas e os motivos pelos quais continuaram ou pararam de se encontrar. A pesquisa bibliográfica internacional que o autor baseou foi em canto coral e tecnologia digital, relatos de experiências com coros virtuais onde os participantes fizeram vídeos em suas próprias casas de forma colaborativa, escolhendo as músicas, fazendo gravações, edições e tudo de forma online. Nacionalmente apontou um depoimento feito pela Prof.ª Drª. Maria José Chevitarese, que contou sobre sua experiência com o coro virtual, durante a pandemia, onde faziam encontros remotos utilizando métodos de ensaios por áudios guias pré preparados e adequados para cada naipe, juntamente encontros periódicos de forma online que tinha a preocupação de abordar o tema da obra, estrutura, concepção entendida, características e esclarecimentos de dúvidas. Ao final ela pontua que ficou feliz com o desempenho do coro e que ela teve um feedback positivo sobre a musicalidade e o emocional dos participantes. Após alguns encontros, Chevitarese comentou que os coralistas que apresentavam dificuldade para cantar sozinhos ficaram mais confiantes junto com o aprimoramento pessoal e diz que esse processo revelou uma emoção positiva, principalmente ao verem o resultado de seu trabalho em forma de vídeo. 3.3 Música e Neurofisiologia Como se pode observar, os trabalhos brasileiros apresentam algumas características em comum, falam sobre expectativas, emoções, motivações, sentimento de coletividade, entre outras coisas que fazem o ambiente coral ser uma 1 A COVID-19 é o acrônimo em inglês de CO rona VI rus D isease (doença do coronavírus), 19 se refere ao ano de 2019, pois os primeiros casos foram divulgados oficialmente em dezembro de 2019. Em 11 de março de 2020, a Organização Mundial de Saúde (OMS) elevou o estado de contaminação à pandemia. 22 troca de experiências. Esses estudos são importantes pois fazem uma coleta de dados com números e porcentagens que marcam as várias vivências e opiniões diferentes. Com esses dados podemos observar que as principais características de cantar em coro, como é o estar em comunidade, dividir funções, ser um agente importante dentro do grupo, são pontos comuns e normais para quem já participa de um grupo a mais tempo ou não, mas, que fica relevante e faz total diferença quando se é questionado sobre essa vivência. Embora esses estudos sejam importantes, há uma lacuna em relação a questões neurofisiológicas ligadas às práticas corais. Existem pesquisas brasileiras sobre música com um olhar neurocientífico que fazem menções de trabalhos internacionais discutindo a neuroplasticidade do cérebro resultante do treino musical e a memória musical ligada ao afeto. Grandes nomes da pesquisa na área científica e musical no Brasil focam nessa relação da neurociência com a música, contudo sabemos que a música é um termo amplo, podendo abranger pesquisas sobre ouvir música, aprender a teoria musical, tocar um instrumento, cantar sozinho, cantar acompanhado de outra(s) voz(es) ou de outro(s) instrumento(s). Agora, quando fazemos uma relação específica de como funciona a neurofisiologia ao cantar em um coral vemos uma falta de especificidade nos resultados da pesquisa. 4. PESQUISAS INTERNACIONAIS Descobertas feitas por neurocientistas estão em progresso até hoje para entender o funcionamento do nosso cérebro. Para entendermos melhor os efeitos do canto coral em nosso sistema neural são necessários saber como que o mesmo se comporta ao entrar em contato com qualquer tipo de fazer musical, sendo necessário o entendimento sobre a fisiologia desse órgão e o que os estudos de neurofisiologia falam sobre a relação entre a capacidade cerebral e o cantar em coral. Tania de Jong (2013), cantora e fundadora da Creativity Australia, comentou em sua apresentação para o TEDxMelbourne, que os seres humanos possuem atributos como amor, bondade, compaixão, determinação e vivemos em um mundo onde é necessário processar e analisar informações o tempo todo. Assim, torna-se extremamente importante estimular esses atributos, que são operados no lado direito do cérebro. http://www.creativityaustralia.org.au/%22%20/t%20%22_blank http://www.creativityaustralia.org.au/%22%20/t%20%22_blank 23 O lado direito é responsável pela nossa intuição, imaginação e nossas funções criativas. A vida acontece quando nosso potencial criativo está desbloqueado, quando nosso afeto uns com os outros é exercido, quando saímos do normal para exercitar nossa criatividade. (Jong, 2013, tradução nossa). O significado de criatividade, segundo o Dicionário Escolar da Língua Portuguesa, é definido como inventividade, inteligência e talento, natos ou adquiridos, para criar, inventar e inovar. Jong (2013) explica que cantar nos estimula a ter esse lado criativo e a neurociência comprova que quando cantamos, nossos neurotransmissores se ligam de um modo diferente e novo, estimulando o lobo temporal direito do cérebro, liberando endorfina2, que nos faz mais inteligentes, saudáveis, felizes e criativos e quando cantamos com outras pessoas o efeito é amplificado. Além dessa liberação, investigações indicam que músicos possuem características encefálicas, estruturais e funcionais, que não são encontradas em não- músicos. Para explicar melhor a afirmação acima, Collins (2014) constatou que os lados do nosso cérebro são semelhantes, direito e esquerdo, o que muda é a forma como cada lado processa a informação, ambos se regeneram continuamente. Fountain (2020), diz que no lado esquerdo temos a lógica, análise, sequenciamento e pensamento linear, onde pensamos em matemática, fatos e pensamentos em palavras. O lado direito, por sua vez, é onde temos o visual, criatividade e intuição, onde acontece a imaginação, artes, ritmo, não verbal, visualização de sentimentos e devaneios. Pesquisas feitas afirmam que não temos um lado dominante, apenas usamos cada lado de acordo com a atividade exercida (Fountain, 2020). Com isso, é possível dizer que é comum passar muito tempo usando apenas um lado do cérebro, por conta da rotina, trabalho, exigências da vida diária, podendo gerar um desequilíbrio pois ambos precisam ser acionados e usados no dia a dia, a sobrecarga de um só lado não nos faz bem e a música é esse facilitador para ambos os lados trabalharem ao 2 A endorfina é um neuro-hormônio, ou seja, uma substância natural, produzida pela glândula hipófise, presente no cérebro. Ela inibe a irritação e o estresse, contribuindo para a sensação de satisfação e de felicidade. 24 mesmo tempo. A música facilita a troca o equilíbrio entre os hemisférios, mas além da música apenas escutada existe uma diferença na maneira em que percebemos essa escuta. Nós escutamos a música, que é um conjunto de sons organizados de alguma forma. Um som ao atingir o tímpano, parte membrana fina que separa a orelha externa da orelha média, desencadeia uma complexa cascata de eventos mecânicos, químicos e neurais que resulta na percepção (Peretz, 2005, tradução nossa). Um sistema estéreo emite vibrações que viajam pelo ar e de alguma forma entram no canal auditivo. Essas vibrações fazem cócegas no tímpano e são transmitidas em um sinal elétrico que viaja pelo nervo auditivo até o tronco cerebral, onde é remontado em algo que percebemos como música (Johns Hopkins Medicine (org.), 2022, tradução nossa). Essas afirmações nos comprovam que o processamento da música é um mecanismo cerebral complexo, no entanto nosso cérebro é capaz de compreender e de perceber, já que prestar atenção aos detalhes nos faz aprender. Quando percebemos uma música acontece a percepção musical (quando um som atinge o tímpano e percorre um caminho até chegar ao córtex). Contudo o processamento da música é parecido com um problema computacional a ser resolvido, os dados recebidos devem ser analisados em várias dimensões, reconhecidos e executados (Peretz, 2005, tradução nossa). Uma pesquisa feita por Bever e Chiarello (1974), estudou a lateralidade do cérebro e pontuou evidências clínicas e experimentais que sugerem que o hemisfério esquerdo do cérebro é especializado para atividade da fala, na organização analítica, no processamento proposicional e serial das informações recebidas, já o hemisfério direito é especializado para muitas funções não linguísticas, é adaptado para associações diretas entre estímulos e respostas, também respondendo as relações aposicionais e holísticas. Apenas compreendendo essa diferença citada acima podemos dizer que o fazer musical se encaixa nos dois lados do nosso cérebro. Na música existe a rítmica, 25 lógica, matemática, relações de dobro e metade, mas também é melodia, sons, movimento, abstrato, lembranças. No estudo sobre canto coral e estado emocional feito por Kreutz, Bongard, Rohrmann, Hodapp, Grebe (2004), foi pesquisado os efeitos psicofisiológicos do canto coral e da audição de música coral, quando cantaram houve um aumento do humor positivo, enquanto somente ouvir não gerou nenhuma mudança significativa no humor positivo. Esses resultados apoiam a hipótese de que o canto coral influencia emoções positivas e mostraram que o canto tem influência nos estados emocionais subjetivos. O canto coral é uma atividade conhecida por melhorar o humor e induzir sentimentos de proximidade social. Claydon (2018), em seu blog publicado pela CBC, comenta os estudos feitos pelo psicólogo e neurocientista Daniel Levitin que analisou as mudanças na atividade cerebral das pessoas ao cantarem juntas, que comentou sobre o canto em grupo ser uma característica humana que, de geração em geração, tornou-se uma tradição para muitas culturas e comunidades. Pesquisas neurológicas que sugerem que nosso cérebro libera um hormônio chamado ocitocina3 quando cantamos com outras pessoas (Claydon 2018, apud Levitin). A neurobiologia diz que a ocitocina pode ser responsável pelos efeitos sociais da música (Keeler, 2015). O que sugere que, o contato que as pessoas têm com a música exerce uma influência nos estímulos neurológicos ligados ao sistema nervoso que libera hormônios influenciando nosso bem estar. Mas, sustenta o trabalho do pesquisador que não podemos confundir o bem estar causado pela ocitocina com o estado de alegria que a música é capaz de trazer aos nossos sentimentos, por exemplo, uma música que chamamos de triste, pode ter um aspecto mais melancólico, com um sentimento de tristeza, o que não invalida o efeito da ocitocina. O som é caracterizado como uma onda sonora mecânica percebida pela audição devido suas características musicais, timbre (amplitude), altura (frequência) e intensidade. Um estudo feito por Carrer (2008), mostrou que indivíduos ficavam mais confortáveis com frequências baixas pois traziam um efeito tranquilizador e leve, ao contrário, com músicas estimulantes levaram a um estado de alerta e um efeito 3 A ocitocina é um neuropeptídeo que são substâncias químicas produzidas e liberadas pelas células cerebrais. Em humanos, as funções da ocitocina foram inicialmente identificadas com comportamentos maternos, como vínculo mãe-bebê, amamentação e contrações uterinas. Descobertas mais recentes revelam a ocitocina nas relações sociais e emocionais humanas. Onde a síntese de ocitocina é mais concentrada, coordena os sinais do cérebro em resposta ao estresse, medeia o comportamento social e regula o estresse e a ansiedade. (Keeler, 2015, p. 5, tradução nossa). 26 excitante. Mas, em geral buscamos uma música agitada ou calma dependendo da situação emocional que estamos, ou seja, se estamos tristes a tendência é de ouvir uma música triste ou de frequência baixa, o que não nos faz mais tristes, como também, ouvir uma música feliz não nos faz mais felizes. Cantar em coral expõe a pessoa a vários estilos musicais e a faz se sentir bem, entretanto o bom sentimento não tenha ligação somente com o estilo que é cantado, mas, com o fato de estar fazendo uma atividade em grupo e estar introduzida em um ambiente musical, não apenas escutando, mas também executando e percebendo o ambiente a sua volta. Existe uma memória afetiva quando recordamos de alguma música que nos marcou ou de um estilo musical que era sempre tocado. Participar de um grupo que executa, trabalha músicas vocais conhecidas, faz com que a ponte entre os lados cerebrais seja fortificada, liberando os hormônios de prazer, o que gera o bem estar físico e psicológico. Desde muito tempo a música é utilizada na área da saúde tanto para promover o bem-estar físico quanto psicológico e as pessoas costumam relatar um sentimento muito positivo ao cantarem juntas. Emoções positivas aumentaram depois de cantar (Kreutz, Bongard, Rohrmann, Hodapp, Grebe. 2004. Tradução nossa). De maneira geral, é muito difícil comentar sobre canto coral e a música não ligando isso às emoções, somos seres afetuosos que expressam sentimentos e emoções, precisamos estar bem em algum lugar para nos sentir parte. Cantar em coral vai muito além de responder com atitudes pré programadas, com técnicas, vai muito além do que apenas ouvir uma música. É uma explosão de acontecimentos neurais que ocorrem quando cantamos juntos, a música, por si só, faz nosso lado racional e emocional trabalhar ao mesmo tempo, além de ter o poder de trazer memórias e lembranças. Estar em grupo aciona o aspecto social do ser humano, onde gostamos de estar perto, de sentir, de superar expectativas, de aprender e compartilhar o que o grupo tem em comum: a voz. 27 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante da pesquisa realizada, foi possível ampliar o conhecimento acerca dos benefícios do canto coral. O objetivo geral foi compreender a relação do canto coral com os efeitos que a prática de cantar em grupo causa no cérebro dos participantes. O interesse para o resultado deste trabalho partiu do questionamento sobre a parte científica e neurológica desses efeitos de cantar em grupo. Durante toda a minha prática como coralista e estudante de regência coral muito se falou, e fala, sobre o prazer de fazer música juntos, sobre como as pessoas enxergam a prática de cantar como algo que faz bem. Sabendo disso, procurei saber sobre como a música relacionada com o canto em grupo pode alterar funções cerebrais para fazer alguém mais alegre e me deparei com pesquisas internacionais sobre o assunto, sobre música e neurologia, canto coral e o cérebro, mudanças das funções neurais. Esse tema, embora muito importante e presente em bibliografia internacional, ainda não é tão discutido e nem tão difundido no Brasil, a maior parte da nossa literatura é focada em questões relacionadas às técnicas de canto e regência e relações intersubjetivas, entendendo o coral como uma atividade de interação social, carecendo ainda de reflexões mais aprofundadas. Sendo assim, a pesquisa foi afunilada somente para textos brasileiros, em português, sobre o assunto. A procura ocorreu tanto na área da música quanto da medicina e psicologia. Os textos que possuímos no Brasil são majoritariamente resultados feitos de trabalhos em forma de entrevista, sobre sentimento, emoções, discussões sobre as habilidades sociais a cerca de um cantor de coro e sua relação com essa prática, não sendo um exame feito cientificamente ou algum estudo neurológico sobre os benefícios do canto coral. É importante dizer que as pesquisas comentadas não devem ser tidas como únicas e exclusivas para esse assunto, mas sim foram escolhidas as mais relevantes e que mais se encaixam no tema proposto, principalmente nos trabalhos nacionais, pois existem muitos trabalhos não postados de forma online e disponíveis ao público. Levando-se em consideração esses aspectos, a última parte do trabalho nos mostra um resumo dos dados analisados de pesquisas internacionais, discorrendo sobre o que é esse bem estar visto de maneira científica, quais camadas do cérebro são expostas ao entrar em contato com a música e como isso se relaciona com a música cantada em grupo. 28 Por fim, espera-se que este trabalho possa contribuir para diminuir a carência de trabalhos científicos e neurológicos ligados ao campo do canto coral e a importância dessa prática para a vida de seus participantes. Com este trabalho e os diversos trabalhos aqui analisados, concluímos pela importância e a necessidade de incentivo às atividades de canto coral. Ressaltando que em nosso país existem normas, regras legais, que garantem o acesso às artes, no caso desse meu trabalho específico relacionado ao canto coral. Ficou comprovado, apesar de algumas deficiências científicas, notadamente nacionais, que estas atividades de canto coral melhoram muito a pessoa no aspecto de qualidade de vida, tanto neurológico, psicológico e social. 29 6. BIBLIOGRAFIA AMATO, Rita de Cássia Fucci; AMATO NETO, João. A motivação no canto coral: perspectivas para a gestão de recursos humanos em música. Revista da ABEM. 2014. Disponível em: . AMATO, Rita Fucci. O Canto Coral como prática sócio-cultural e educativo- musical. Revista Eletrônica da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Música (ANPPOM). Opus, Goiânia, v. 13, n. 1, p. 75-96. 2007. ISSN 1517-7017. Disponível em: . ANDRADE, Paulo Estêvão. Uma abordagem evolucionária e neurocientífica da música.  Neurociências, p. 21-33, 2004. Disponível em: . CARMINATTI, Juliana da Silva; KRUG, Jefferson Silva. A prática de canto coral e o desenvolvimento de habilidades sociais. Pensamiento Psicológico, v. 7, n. 14, p. 81–96, 2010. Disponível em: . 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