“ ESTUDO DA EFICIÊNCIA DAS ONDAS DE ULTRA-SOM EM RELAÇÃO AO HIPOCLORITO DE SÓDIO E À FILTRAÇÃO ADSORÇÃO NA ELIMINAÇÃO DE MICRORGANISMOS EM ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA” ANTONIO ROBERTO CRYSTAL BELLO Dissertação apresentada ao Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus de Rio Claro para obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas ( Área de Microbiologia Aplicada ) Rio Claro Estado de São Paulo - Brasil janeiro / 2003 “ESTUDO DA EFICIÊNCIA DAS ONDAS DE ULTRA-SOM EM RELAÇÃO AO HIPOCLORITO DE SÓDIO E À FILTRAÇÃO ADSORÇÃO NA ELIMINAÇÃO DE MICRORGANISMOS EM ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA ” ANTONIO ROBERTO CRYSTAL BELLO Orientador: Profa. Dra. DEJANIRA FRANCESCHI DE ANGELIS Co-Orientador: Prof. Dr. ROBERTO NAVES DOMINGOS Dissertação apresentada ao Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus de Rio Claro para obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas ( Área de Microbiologia Aplicada ) Rio Claro Estado de São Paulo - Brasil janeiro / 2003 I DEDICATÓRIA À minha esposa Sônia Raquel aos meus filhos Robson e Thômas pelo incentivo e compreensão; aos meus pais Antonio (in memorian) e Maria Ruth pelo amor que me dedicaram. II AGRADECIMENTOS À DEUS que me guiou nos caminhos dando força e esperança para alcançar meu objetivo. À Profa. Dra. Dejanira Franceschi de Angelis pela orientação, amizade, apoio, incentivo e conhecimentos os quais foram muito importantes para a realização desse estudo. Ao Prof. Dr. Roberto Naves Domingos, pela co-orientação, amizade, apoio, incentivo e conhecimentos que foram muito importantes para a realização desse estudo. Ao CEA - Centro de Estudos Ambientais, UNESP - Campus de Rio Claro(SP), no qual realizou-se todos os ensaios desse estudo. Aos Profs. Drs. Samia Maria T. Tornisielo,Carlos Renato Corso, Jonas Contiero, José Carlos Marconato, Eleonora C. Carmona, Edério D. Bidoia, Antonio C. Simões Pião, Sandra Mara M. Franchetti, Pedro Oliva Neto, Ana Paula da Arruda V. Kataoka, Angeles Marensa, pelos conhecimentos transmitidos no decorrer do curso. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq / CT Hidro Brasil, pelo apoio dado na realização desse estudo. Às funcionárias Eleni Nadai Malagutti e Francisca Mattioli Gonçalves; do Centro de Estudos Ambientais (CEA) da UNESP –Campus de Rio Claro(SP), pelo apoio dado durante a execução dos experimentos. Ao Sr. Paulo R. Busato, diretor da Bunker Equipamentos para Laboratórios – Piracicaba(SP), pelo apoio e assistência técnica referente ao aparelho de ultra-som . III Ao DAAE- Departamento Autônomo de Água e Esgoto de Rio Claro (SP), pelo auxílio e colaboração na obtenção de água bruta da Floresta Estadual Navarro de Andrade. À todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização desse estudo. O meu muito obrigado Antonio Roberto Crystal Bello IV ÍNDICE Página 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 1 2 OBJETIVOS ................................................................................................ 5 3 REVISÃO DE LITERATURA .................................................................... 7 3.1 Conceitos e Aplicações do ultra-som ........................................................... 7 3.2 Processos de cloração .................................................................................. 14 3.3 Processos de filtração / adsorção ................................................................. 18 3.4 Processos de coagulação, floculação, decantação e desinfecção .............. 24 3.5 Controle de qualidade e doenças transmissíveis pela água....................... 28 4 MATERIAL E MÉTODO ......................................................................... 37 4.1 Material ....................................................................................................... 37 4.1.1 Água Bruta ................................................................................................. 37 4.1.2 Equipamentos ............................................................................................ 37 4.1.3 Reagentes e Meios de Cultura .................................................................. 39 4.1.4 Vidraria e outros materiais de uso geral de laboratório ........................... 40 4.1.5 Materiais de filtração ................................................................................ 40 4.2 Método ...................................................................................................... 41 4.2.1 Coleta de Água Bruta .................................................................................. 41 4.2.2 Operação da Estação Compacta de Tratamento de Água ........................... 42 4.2.3 Determinação da vazão da ETA ................................................................ 43 4.2.4 Parâmetros químicos, físico-químicos e bacteriológicos analisados........ 43 4.2.5 Desinfecção com solução de hipoclorito de sódio ...................................... 43 4.2.6 Desinfecção com ultra-som ......................................................................... 44 4.2.7 Retenção de microrganismos pela filtração/adsorção ................................. 44 4.2.8 Definição dos processos empregados ......................................................... 45 4.2.9 Métodos analíticos aplicados ..................................................................... 47 4.2.10 Preparo de soluções e meios de cultura ..................................................... 47 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................... 49 V 5.1 Análises químicas, físico-químicas e bacteriológicas ................................ 49 5.2 Avaliação da água bruta da Represa Florestal Estadual Navarro de Andrade Rio Claro(SP) ............................................................................. 50 5.3 Avaliação dos Processos A, B e C – 1ª coleta ........................................... 51 5.3.1 Avaliação do Processo A – 1ª coleta ........................................................ 52 5.3.2 Avaliação do Processo B – 1ª coleta ........................................................ 53 5.3.3 Avaliação do Processo C – 1ª coleta ........................................................ 54 5.4 Avaliação dos Processos A, B e C – 2ª coleta ........................................... 55 5.4.1 Avaliação do Processo A – 2ª coleta ........................................................ 56 5.4.2 Avaliação do Processo B – 2ª coleta ........................................................ 58 5.4.3 Avaliação do Processo C – 2ª coleta ........................................................ 58 5.5 Avaliação dos Processos A, D e E - 3ª coleta ........................................... 59 5.5.1 Avaliação do Processo A – 3ª coleta ........................................................ 60 5.5.2 Avaliação do Processo D – 3ª coleta ........................................................ 62 5.5.3 Avaliação do Processo E – 3ª coleta ........................................................ 63 5.6 Avaliação dos Processos F, G e H - 4ª coleta .......................................... 64 5.6.1 Avaliação do Processo F – 4ª coleta ........................................................ 65 5.6.2 Avaliação do Processo G – 4ª coleta ........................................................ 67 5.6.3 Avaliação do Processo H – 4ª coleta ........................................................ 68 5.7 Avaliação dos Processos F, G e H - 5ª coleta .......................................... 68 5.7.1 Avaliação do Processo F – 5ª coleta ........................................................ 69 5.7.2 Avaliação do Processo G – 5ª coleta ........................................................ 71 5.7.3 Avaliação do Processo H – 5ª coleta ........................................................ 72 5.8 Comparação dos Processos empregados na ETA-CB para eliminação de microrganismos ........................................................................................... 72 5.9 Avaliação dos Processos empregados na ETA-CB em relação à Portaria n.º 1469/00 do Ministério da Saúde ............................................................ 73 6 CONCLUSÕES .......................................................................................... 75 7 RESUMO ................................................................................................... 78 8 SUMMARY ............................................................................................... 80 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................... 82 10 APÊNDICE ................................................................................................ 89 VI ÍNDICE DE FIGURAS Página Figura 1 - Mini Estação compacta de Tratamento de Água (ETA-CB), aparelho de ultra-som utilizado nos ensaios e o pHmetro utilizado para controle contínuo do pH de coagulação ............................................................... 38 Figura 2 - Ponto de captação de água de Abastecimento da ETA I – DAAE, no lago do Floresta Estadual Navarro de Andrade , município de Rio Claro (SP) .............................................................................................. 41 Figura 3 - Estação compacta CB (ETA-CB) mostrando a aplicação de produtos químicos na caixa de entrada de água bruta e pHmetro para controle do pH de coagulação .............................................................................. 42 Figura 4 - Diagrama indicando a forma de processamento dos experimentos na ETA-CB ................................................................................................. 46 VII ÍNDICE DE TABELAS Página Tabela 1 . Porcentagem de diminuição de células de Saccharomyces cerevisiae submetidas à ação do ultra-som de 20 KHz ........................................... 11 Tabela 2 . Valores da concentração ×××× do tempo (CT) de diferentes desinfectantes para inativação de microrganismos ........................................................ 32 Tabela 3 . Quantificação de bactérias da água bruta no lago da Floresta Estadual Navarro de Andrade ................................................................................ 35 Tabela 4 . As doenças mais comuns, de transmissão hídrica ................................. 36 Tabela 5 . Diagrama das condições experimentais A,B,C,D,E,F,G,H dos ensaios utilizando a ETA-CB para tratamento da água do Ribeirão Claro ......... 45 Tabela 6 . Quantificação de alguns parâmetros físicos, químicos e bacteriológicos da água bruta do Ribeirão Claro, após tratamento mediante os processos A, B e C aplicados na ETA-CB ................ ........ 51 Tabela 7 . Diminuição percentual de alguns parâmetros da qualidade da água bruta coletada 10/12/01- 1ª coleta , após tratamento com aplicação dos processos A , B e C na ETA-CB ............................................................ 53 Tabela 8 . Quantificação de alguns parâmetros físicos, químicos e bacteriológicos da água bruta do Ribeirão Claro, após tratamento mediante aplicação dos processos A,B e C na ETA-CB – coleta 07/01/02 ........................ 56 Tabela 9 . Diminuição percentual de alguns parâmetros da qualidade da água bruta coletada 07/01/02- 2ª coleta, após aplicação dos processos A, B e C na ETA-CB ................................................................................................... 57 Tabela 10 . Quantificação de alguns parâmetros físicos, químicos e bacteriológicos da água bruta do Ribeirão Claro, após tratamento mediante aplicação dos processos A, D e E viabilizados na ETA-CB – coleta 05/03/02 ....... 60 Tabela 11 . Diminuição percentual de alguns parâmetros da qualidade da água bruta coletada 05/03/02- 3ª coleta, após aplicação dos processos A, D e E na ETA-CB ................................................................................... 61 VIII Tabela 12 . Quantificação de alguns parâmetros físicos, químicos e bacteriológicos da água bruta do Ribeirão Claro, após tratamento mediante processos F, G e H na ETA-CB – coleta 19/03/02 ............................................... 65 Tabela 13 . Diminuição percentual de alguns parâmetros da qualidade da água bruta coletada 19/03/02- 4ª coleta, após aplicação dos processos F, G e H na ETA-CB ......................................................................................... 66 Tabela 14 . Quantificação de alguns parâmetros físicos, químicos e bacteriológicos da água bruta do Ribeirão Claro, após tratamento mediante aplicação dos processos F, G e H na ETA-CB – coleta 07/05/02 ................................................................................................... 69 Tabela 15 . Diminuição percentual de alguns parâmetros da qualidade da água bruta coletada 07/05/02- 5ª coleta, após aplicação dos processos F, G e H na ETA-CB .......................................................................................... 70 IX APÊNDICE Página Tabela 1 . Quantificação dos valores médios (x) e respectivos desvios padrão (s) do pH na água bruta e na água dos processos definidos como A,B,C,D,E,F,G e H realizados na ETA-CB .......................................... 90 Tabela 2 . Quantificação em (PtCo) dos valores médios (x) e respectivos desvios padrão (s) da cor aparente na água bruta e na água dos processos definidos como A,B,C,D,E,F,G e H realizados na ETA-CB ................. 91 Tabela 3 . Quantificação em unidades nefelométricas de Turbidez (NTU) dos valores médios (x) e respectivos desvios padrão (s) da turbidez na água bruta e na água dos processos definidos como A,B,C,D,E,F,G e H realizados na ETA-CB ............................................................................. 92 Tabela 4 . Quantificação em mg/L dos valores médios (x) e respectivos desvios padrão (s) dos sólidos totais dissolvidos na água bruta e na água dos processos definidos como A,B,C,D,E,F,G e H realizados na ETA-CB.. 93 Tabela 5 . Quantificação em µS/cm dos valores médios (x) e respectivos desvios padrão (s) da condutividade elétrica na água bruta e na água dos processos definidos como A,B,C,D,E,F,G e H realizados na ETA-CB .. 94 Tabela 6 . Quantificação em 0/00 dos valores médios (x) e respectivos desvios padrão (s) da salinidade na água bruta e na água dos processos definidos como A,B,C,D,E,F,G e H realizados na ETA-CB .................. 95 Tabela 7 . Quantificação em Graus Celsius (°C ) dos valores médios (x) e respectivos desvios padrão (s) da temperatura na água bruta e na água dos processos definidos como A,B,C,D,E, F,G e H realizados na ETA-CB ................................................................................................... 96 Tabela 8 . Quantificação em mg/L dos valores médios (x) e respectivos desvios padrão (s) do ferro na água bruta e na água dos processos definidos como A,B,C,D,E,F,G e H realizados na ETA-CB .................................. 97 Tabela 9 . Quantificação em mg/L dos valores médios (x) e respectivos desvios padrão (s) dos sólidos suspensos na água bruta e na água dos processos definidos como A,B,C,D,E,F,G e H realizados na ETA-CB .................. 98 X Tabela 10 . Quantificação em mg/L Cl2 dos valores médios (x) e respectivos desvios padrão (s) do cloro livre residual na água bruta e na água dos processos definidos como A,B,C,D,E,F,G e H realizados na ETA-CB .................. 99 Tabela 11 . Quantificação dos números mais prováveis (NMP) /100mL dos valores médios (x) e respectivos desvios padrão (s) dos coliformes totais na água bruta e na água dos processos definidos como A,B,C,D,E,F,G e H realizados na ETA-CB .......................................................................... 100 Tabela 12 . Quantificação em número mais provável (NMP) /100mL dos valores médios (x) e respectivos desvios padrão (s) dos coliformes fecais Escherichia coli na água bruta e na água dos processos definidos como A,B,C,D,E,F,G e H realizados na ETA-CB ............................................ 101 Tabela 13 . Quantificação em unidades formadoras de colônias (UFC)/mL dos valores médios (x) e respectivos desvios padrão (s) de bactérias heterotróficas na água bruta e na água dos processos definidos como A,B,C,D,E,F,G e H realizados na ETA-CB ............................................ 102 Tabela 14 . Diminuição percentual de bactérias coliformes totais, coliformes fecais Escherichia coli e heterotróficas para os diferentes processos empregados no tratamento da água bruta da represa da Floresta Estadual Navarro de Andrade – Estação de captação DAAE Rio Claro–SP realizados na ETA-CB ..................................................... 103 Tabela 16 . Tabela 15 . Valores médios das análises nos diferentes processos de tratamento da água bruta do Ribeirão Claro – Rio Claro(SP), realizados na ETA-CB.. 104 Tabela 15 . Tabela 16 . Alguns parâmetros e indicadores de qualidade e quantidade das águas – 1999, local Rio Corumbataí, ponte próxima à usinas Tamandupá na localidade de Recreio (SP), código do local DOSPO5 535 CRUM 02500, classe 2 UGRHI Piracicaba/Capivari/Jundiaí ........ 105 1 INTRODUÇÃO A coagulação é um processo de formação de coágulos mediante a reação de coagulante em contato com a água. O objetivo da coagulação e floculação é transformar as impurezas (dentre as quais, suspensão fina em estado coloidal ou em solução, bactérias e protozoários) em partículas maiores denominadas de flocos para que possam ser removidas por sedimentação, flotação e/ou filtração. A coagulação ótima ocorre em função das características físico-químicas da água bruta. Os fatores que determinam uma coagulação eficiente são : pH , tipo de coagulante, vazão da água bruta, vazão da aplicação/mistura do coagulante e água bruta, temperatura da água e potencial zeta. Os principais coagulantes empregados são: sulfato de alumínio, sulfato ferroso, sulfato ferroso clorado, sulfato férrico, cloreto férrico, policloreto de alumínio e outros. A escolha do coagulante é em função do custo, da quantidade aplicada, do fator ambiental, da faixa de pH e da facilidade de trabalho. As metas principais do processo de coagulação/floculação são: � diminuir o potencial zeta; � fornecer energia ao meio para que a agitação propicie maior contato entre os flocos; � introduzir ao meio, compostos floculantes que auxiliem a formação de aglomerados de partículas. A floculação é um processo pelo qual as partículas em estado de equilíbrio eletrostáticamente instável no seio da massa líquida são forçadas a se movimentarem, a fim de que sejam atraídas entre si formando flocos que com a continuidade da agitação 2 tendem a aderir uns aos outros tornando-se mais densos, para posterior decantação. Existem dois tipos de sistemas de floculação: � sistema hidráulico � sistema mecânico No processo de decantação, partículas em suspensão e partículas em estado coloidal sendo mais pesadas que a água, tenderão a precipitar no decantador com certa velocidade. Partículas grandes precipitam inicialmente com movimento acelerado e partículas pequenas no regime de deposição atingem equilíbrio e apresentam rapidamente velocidade constante. Os principais tipos de decantadores são: decantador de escoamento horizontal e decantador de escoamento vertical. A etapa de filtração consiste na remoção de partículas suspensas, coloides e microrganismos presentes na água que escoa através do meio poroso. Os filtros possuem características próprias do meio filtrante, que pode ser composto de camadas de areia ou carvão ativado-areia, terra diatomácea. Na filtração ocorrem fenômenos devido às ações químicas, físicas, biológicas, bioquímicas e que estão na dependência de muitos parâmetros tais como natureza química, porosidade e granulometria. O processo de adsorção envolve a substância a ser adsorvida (adsorbato) e a superfície do adsorvente, como por exemplo, quando sólidos fragmentados são colocados em solução colorida observa-se que a intensidade da coloração é diminuída. A substância colorida é adsorvida sobre a superfície do adsorvente. A intensidade do efeito depende: da temperatura, da natureza e subdivisão do adsorvente, do adsorbato e da concentração da substância adsorvida. Se entre o adsorbato e a superfície do adsorvente agirem apenas forças de Van der Waals, a adsorção é chamada física ou de Van der Waals. Quando as moléculas adsorvidas reagem quimicamente com a superfície o fenômeno é denominado de adsorção química, a qual é observada somente em uma camada sobre a superfície do adsorvente. Como na adsorção química ligações são rompidas e formadas, o calor de adsorção é da mesma ordem dos calores de ligação química. O processo de desinfecção da água bruta é fundamental para a eliminação de microrganismos presentes na água e pode ser feito por substâncias químicas, tais como, hipoclorito de sódio (NaClO), cloro gasoso (Cl2 ), hipoclorito de cálcio (Ca(ClO)2.2H2O), dióxido de cloro ( ClO2 ) cal clorada ( CaO. Cl2 ), ozônio ( O3 ) e quaternários de amônio, 3 ou por processos físicos, tais como: ultra-som, irradiação ultravioleta e eletrólise. A filtração / adsorção também consiste num processo de eliminação de microrganismos, pois retém os mesmos deixando a água de saída da Estação de Tratamento de Água (ETA) com quantidade inferior ao da água bruta. No caso da solução de hipoclorito de sódio (NaClO ), largamente utilizado em ETAs, forma em solução aquosa o ácido hipocloroso e o íons hipoclorito que tem ação desinfectante agindo sobre os microrganismos em geral. O hipoclorito de sódio também atua sobre Escherichia coli que é um bacilo gram negativo, aeróbio facultativo utilizada na legislação de saúde pública como indicador biológico de contaminação. O custo da desinfecção com NaClO comparativamente não é alto, porém, dependendo da composição química da água bruta, pode reagir formando compostos clorados como os trihalometanos (THM) que em altas concentrações são prejudiciais à saúde humana. O ultra-som (US) consiste de uma onda mecânica longitudinal não audível, com freqüência acima de 20.000Hz onde a energia é transmitida pelas vibrações das moléculas do meio no qual a onda está se propagando. Este meio irradiado oscila harmonicamente com a freqüência do gerador ultra-sônico comprimindo e expandindo. Os efeitos térmicos e não térmicos do US prevalecerão de acordo com o regime de pulso contínuo ou pulsado aplicado. A ação do US em meio biológico atribuiu-se os efeitos benéficos ou deletérios a quatro mecanismos físicos: efeito térmico, a cavitação, as formas de radiação e o micro- fluxo acústico. A cavitação pode resultar em fenômenos elétricos e químicos e em destruição mecânica, quando neste último as cavidades se colapsam ou quando as bolhas de gás crescem até ficarem suficientemente grandes para vibrarem em ressonância com as ondas sonoras. A cavitação gerada pelo US produz intensas ondas de choque , aumentos instantâneos de temperatura e pressão e efeitos químicos no meio, que são gerados pelo colapso das cavidades ou microbolhas. A porcentagem de morte e alterações nas estruturas moleculares aumentam com o tempo de duração de exposição ao US, e com o nível de intensidade gerado pelo US. As propriedades biofísicas da cavitação podem ser consideradas como um dos principais mecanismos que afetam a atividade germicida do US em meio líquido. 4 Outro efeito do US na área biológica, é devido às forças de radiação, que podem deslocar, distorcer e/ou reorientar partículas intercelulares e células em relação a suas configurações normais. Nesse caso, o efeito está associado à grandes tensões hidrodinâmicas suficientes para causarem danos às células e macrocélulas em suspensão. 2 OBJETIVOS � Estudar comparativamente a eficiência das ondas de ultra som, do hipoclorito de sódio e do processo de filtração/adsorção, na remoção ou destruição de bactérias presentes na água. � Projetar e montar a Estação Piloto de Tratamento de Água. Esta planta deverá compor um projeto compacto e será confeccionada em material acrílico conforme protótipo projetado pela CB Consultoria e Treinamento S/C Ltda. � Estudar e avaliar a eficiência de diferentes processos de desinfecção na Estação Piloto de Tratamento de Água mediante a contagem de coliformes totais, coliformes fecais e bactérias heterotróficas, além de avaliar pH, turbidez, cor aparente, condutividade elétrica, sólidos totais dissolvidos, ferro solúvel, cloro livre residual, e outros. � Propor métodos alternativos de desinfecção no tratamento de água em função da qualidade da água bruta. � Estudar as fases dos processos de coagulação, floculação hidráulica (chicanas e meio granular), decantação e filtração no tratamento de água. 6 � Avaliar as interferências dos produtos químicos utilizados no tratamento de água em relação ao pH de coagulação e a formação de flocos com arraste de sólidos suspensos, partículas, microrganismos e outros. 3 REVISÃO DA LITERATURA 3.1 Conceitos e aplicações do ultra-som Segundo Okuno et al.(1986), a atenuação de uma onda ultra-sônica obedece a lei exponencial I=I0 e – 2 α x onde I= intensidade do ultra-som após atravessar a espessura x de um material com coeficiente de atenuação α; I0 = intensidade inicial do ultra-som; e = base dos logaritmos naturais . Conforme a referência de Willians (1990), são vastas as aplicações de ondas de ultra som, que vão desde homogeneização de substâncias, rompimento de células, extração de produtos fitoquímicos, esterilização de equipamentos, localização de mineral, emulsificação, até degradação de massa molar e fonoforese (ação do ultra-som para facilitar a penetração de agentes farmacologicamente ativos através da pele). Experiências realizadas por Scherba et al. (1991), mostraram a eficiência da ação germicida da energia ultra-sônica, a uma freqüência de 26.000Hz aplicada em suspensões aquosas de bactérias. Segundo Fontana (1996), o efeito do ultra-som na área biológica, pode ocorrer devido ao poder da alta potência de radiação, que podem deslocar, distorcer e/ou reorientar partículas intercelulares ou mesmo células com relação a suas configurações normais. Tais efeitos estão associados a grandes tensões hidrodinâmicas suficientes para causar danos às 8 células e macrocélulas suspensas. Além disso o US desenvolve o processo biofísico da cavitação que vem sendo considerado como um dos principais mecanismos que afetam a atividade germicida em meio líquido. Segundo Guirro (1999), a cavitação gerada pelo US pode induzir fenômenos elétricos e químicos e destruição mecânica. Isto acontece quando neste último as cavidades se colapsam ou quando as bolhas de gás crescem, até ficarem suficientemente grandes para vibrar em ressonância com as ondas sonoras. A cavitação produz intensas ondas de choque, aumentos instantâneos de temperatura e pressão, e efeitos químicos no meio, que são gerados pelo colapso das cavidades ou microbolhas. A pesquisadora verificou em seus experimentos que células de Escherichia coli BH 100, irradiadas com ondas de US revelaram no plaqueamento diminuição do número de colônias na freqüência de 1MHz, nos tempos de irradiação de 5 e 15 minutos. Para a freqüência de 3MHz houve incremento das colônias, nos mesmos tempos. Os ensaios indicam que na relação número de colônias em função do tempo considerando 5 e 15 minutos, houve maior inibição no tempo de 15 minutos. Nos experimentos em que a pesquisadora associou o US com a tetraciclina em função do tempo de 5 e 15 minutos, houve diminuição do número de colônias no tempo de 5 minutos e inibição total do crescimento no tempo de 15 minutos. Os autores Barbosa & Serra (1992), citam que no final dos anos 70, o interesse pela sonoquímica ressurgiu devido em grande parte, aos resultados provenientes de tentativas de se entender o fenômeno. O efeito das ondas ultra-sônicas começou a ser observado em sistemas homogêneos não aquosos. Nesta época, as pesquisas começaram a serem orientadas para sistemas heterogêneos. Em sistemas heterogêneos, numa interface sólido-líquido, o US pode dirigir-se para a superfície originando uma erosão localizada, responsável pela fadiga na extremidade do transdutor. Com o aumento do emprego do US, foram constatados fenômenos tais como rompimento de células vivas, dispersão de tecidos biológicos e limpeza de superfícies. Além disso, no processo de cavitação gerado por ondas de US pode haver formação de dois tipos de bolhas: � Bolhas de cavitação estáveis, que oscilam periodicamente no meio e possuem tempo de vida longa de alguns ciclos. Seu volume cresce por penetração de 9 gás dissolvido no meio quando na fase de descompressão. Se atingirem uma dimensão crítica podem tornar-se transitórias; � Bolhas de cavitação transitórias possuem tempo de vida curto de poucos ciclos. Seu volume cresce por penetração do gás dissolvido na fase de descompressão, quando alcançam uma dimensão crítica. São as responsáveis pela cavitação. No momento da implosão das bolhas há formação de ondas de choque e na fase final esperam-se no centro da bolha, temperatura e pressão muito elevadas da ordem de aproximadamente 10.000K e 1000 atm. Na referência de Lin & Zhang (2000), o ultra-som com alta potência é um meio tradicional de várias aplicações e que durante décadas passadas sendo utilizado na indústria eletrônica e outros diferentes campos. Cada vez mais tem-se dado atenção a algumas aplicações como limpeza ultra-sônica, soldagem ultra-sônica de plásticos, avaliação da qualidade de metais fundidos, assim como para novas aplicações do ultra-som alta potência, como química de ultra-som e terapia ultra-sônica. No caso da energia de aplicação do ultra-som de alta potência, as características de vibração do transdutor usado são essenciais para modelo e segurança de trabalho do sistema vibracional. A medida das características vibracionais do transdutor é importante para avaliação da sua performance, assim como do processo prático do transdutor utilizado. As características da alta potência do transdutor inclui o sistema fechado acústico, a eficiência electro-acústica, a elevação da temperatura do deslocamento da distribuição vibracional, e outros fatores. Como essas características do transdutor sob as condições de alta potência afetam a performance do transdutor e do efeito do processo ultra-sônico, um trabalho mais acentuado tem sido feito para análise e melhoria do modelo do sistema vibracional. Na avaliação do transdutor com alta potência ultra-sônica a potência acústica e a eficiência eletro-acústica são dois importantes parâmetros de performance. Um método chamado de alta freqüência medidor-watt, proposto por pesquisadores japoneses tem sido usado para a medida do transdutor sob alta potência. Para a medida do transdutor usando este método, acredita-se que, embora o método possa ser usado para medir as características para alta potência há três desvantagens que necessitam ser avaliadas. Primeira, neste método, dois idênticos transdutores devem ser usados para obter a perda de 10 potência dielétrica. Segunda, na ordem de obter o mecanismo de perda de potência, a relação entre o mecanismo de perda de potência e a velocidade de vibração devem ser determinadas. Terceira, a relação entre a perda de potência dielétrica e a voltagem terminal devem ser medidas para obter-se a perda de potência dielétrica. Considerando esses fatores, o método consome tempo e trabalho e devido a isto não tem sido largamente utilizado como aplicação prática. Neste raciocínio, uma melhoria no método baseado na alta freqüência medidor-watt tem se tornado cada vez mais evidente. Neste método a medida das perdas dielétrica e mecânica não são necessárias. Portanto, isto simplifica o tempo de trabalho tornando-se conveniente à aplicação prática. Este método pode ser usado nas medições do transdutor sob a condição de alta potência e em casos práticos, tais como, limpeza ultra-sônica, processos líquidos ultra-sônico e outras aplicações. Segundo Phull et al.(1997), a destruição ou inativação de microrganismos por aplicação de ondas ultra-sônicas foi estudada e os resultados obtidos nos ensaios mostraram que o US pode ser utilizado com eficácia na desinfecção de águas. O processo de US pode ser aplicado em associação com cloro o que promove uma diminuição acentuada no número de bactérias presentes na água, além de diminuir significativamente a quantidade de cloro necessária para a desinfecção. Neste estudo, os pesquisadores concluíram que aumentando o poder do US aumenta a destruição das células bacterianas e que as ondas do ultra-som de alta freqüência são mais eficazes do que as de baixa freqüência com relação ao processo de desinfecção de água. Na referência de Tomasin (2001), o US de 20 KHz quando aplicado em condições controladas de laboratório mostra diminuição da viabilidade celular de Saccharomyces cerevisae (tabela 1). A eficiência do US aumenta com o tempo de exposição aos efeitos das ondas acústicas e da cavitação sobre as células. Segundo a autora o US pode ser utilizado como um método para controle da viabilidade de microrganismos em resíduos aquosos e sanitização de águas contaminadas. 11 Tabela 1. Porcentagem de diminuição de células de Saccharomyces cerevisae submetidas à ação do ultra-som de 20 KHz (Fonte: Tomasin,2001) Tempo de Sonicação (min) n.º total de células/mL (107 ) Porcentagem de diminuição 0 7,65 0% 4 5,30 31% 8 4,90 36% 12 4,05 47% 16 3,90 49% 20 3,85 50% Segundo Margulis (2002), a causa da eletrificação local está relacionada com a fragmentação das bolhas decorrente do processo de cavitação e também pela própria deformação das mesmas. A ruptura das bolhas na cavitação está relacionada com a tensão superficial, vibração das bolhas, força de Stokes e forças eletrostáticas. O problema das cargas não compensadas na superfície das bolhas deformadas pela cavitação é apresentado numa nova visão: a deformação radial é devida à rotação parabólica /deformação axial e à cavidade hiperbólica de rotação. A explanação dos efeitos físicos e físico-químicos da cavitação é proposta em função da teoria elétrica e em particular da eletrificação local da cavitação de bolhas. A teoria da eletrificação local é uma teoria simples que correlaciona a maioria dos fatos experimentais da cavitação. Em estudos feitos com aplicação de US na preparação e preservação de produtos cosméticos emulsionáveis, Campanha (2001) ressaltou que US é um excelente agente biocida. O tratamento do cosmético contaminado com o fungo Aspergillus flavus com ondas ultra-sônicas mostrou-se eficiente levando-se em consideração a diminuição do número de microrganismos presentes após irradiação. Foram estudadas amostras de cosméticos contaminadas com o fungo e irradiadas em equipamento gerador de US nos tempos de 12, 16 e 20 minutos, mostrando que a diminuição é maior em função do aumento do tempo de irradiação. 12 Ragaini et al. (2001), investigaram a cinética da degradação do 2-cloro fenol na água usando diferentes técnicas, sendo empregadas separadamente ou simultaneamente: irradiação por luz (315 - 400 nm), sonicação, fotocatálise com diferentes tipos de TiO2 e fotocatálise com sonicação. A influência do volume de reação e das diferentes misturas gasosas, contendo Ar e O2, assim como O2 / O3, foi também investigado. Finalmente, uma comparação energética entre essas diferentes técnicas foi avaliada enfocando a aplicação industrial em algumas delas. Domingos (1998), descreveu os efeitos biológicos do US ainda que não completamente esclarecidos estão associados ao efeito da cavitação. A cavitação é a formação de cavidades ou bolhas no meio líquido contendo quantidades variáveis de gás, vapor ou ambos. A cavitação é devido à atividade oscilatória e à alta compressão de corpos semelhantes a bolhas. Essas bolhas são transformadas através de energia transferida pelo campo acústico incidente. As bolhas podem ser formadas porque a pressão negativa no tecido durante a rarefação pode fazer com que os gases dissolvidos ou capturados se juntem e formem as bolhas. No caso de células biológicas ou macromoléculas em suspensão aquosa, o US pode alterá-las estrutural ou funcionalmente através da cavitação. Outro fenômeno citado pelo autor é que no colapso das bolhas há liberação de energia que pode romper as ligações moleculares provocando a produção de radicais livres H e OH altamente reativos e, como conseqüência, causar mudanças químicas. Vários estudos tem surgido tentando esclarecer a formação dos radicais livres entre outros durante o processo de cavitação. Os radicais são formados por descargas elétricas nos vapores de água das cavidades ou por dissociação térmica devido a compressão adiabática e colapso das bolhas . Segundo Bier (1982), a fragmentação mecânica que constitui na destruição da célula bacteriana pela trituração com abrasivos em alta rotação, por congelamento e degelo repetidos, pela agitação prolongada da cultura seca em moinhos de bola, constituem excelentes métodos para se extraírem substâncias das células bacterianas, porém, tais métodos em geral não são suficientes para destruir totalmente a cultura. Usando-se vibrações sônicas (de cerca de 9000 ciclos por segundo) ou câmaras de alta pressão, consegue-se desintegrar completamente as bactérias. 13 Mason (2000), citou que se conhece há muitos anos a importância da energia ultra-sônica, demonstrada pelo seu grande potencial na extensa variedade de aplicações em processos industriais. Alguns desses processos são conhecidos por muitos anos e continuam sendo importantes nas aplicações comerciais, como por exemplo, na soldagem e limpeza de plásticos. Outro exemplo, a perfuração ultra-sônica apesar de ter grande potencial ainda foi pouco utilizada. Atualmente o potencial do uso do ultra-som na industria é enorme no entanto, muitas ainda apresentam resistência em adotá-lo. Outra possibilidade de emprego do US, segundo Chemat et al. (2001), é quanto à remoção das substâncias húmicas da água bruta antes da cloração, pelo processo convencional de coagulação e filtração usando sulfato de alumínio. Aplicações de alta intensidade de radiação ultra-sônica em conjunto com agentes oxidantes comerciais como H2O2 tem sido estudado como alternativa para a remoção de substâncias húmicas. A sono- oxidação e sono-degradação de substâncias húmicas naturais e sintéticas tem sido avaliadas em função da medida do carbono orgânico total (TOC) e da absorbância medida no espectrofotômetro (UV-VIS) no comprimento de onda na faixa de ultravioleta. Foi observado que em aproximadamente 60 min de radiação ultra-sônica o TOC diminui 50% enquanto que a degradação dos ácidos húmicos é completa. Conforme citou Dezhkunov (2002), a influência da temperatura na intensidade da sonoluminescência (SL) é diferente dependendo da intensidade ultra-sônica. Para intensidade ultra-sônicas não muito maiores do que a cavitação, a intensidade SL aumenta com a temperatura. Para intensidade ultra-sônicas consideravelmente maiores a cavitação, a intensidade SL diminui com o aumento da temperatura. Para intensidade ultra-sônicas intermediárias, a intensidade SL tem o seguinte desempenho: a atividade da cavitação primeiramente aumenta com a temperatura, alcança um máximo e depois decresce com o aumento da temperatura. No estudo da influência da temperatura do líquido em relação à cavitação foi empregado irradiação ultra-sônica com módulo contínuo e pulsado, para freqüências de 880 e 21,9 KHz. 14 3.2 Processos de cloração Como descreveu Witt (1993), muitas das enfermidades estão relacionadas com água contaminada, como por exemplo, cólera (Vibrio chlolerae), febre tifóide e paratifoíde (Salmonella typhi, Salmonella paratyphi A,B,C ), disenteria bacilar (Shigella sp) disenteria amebiana (Entamoeba histolytica), hepatite infecciosa (vírus da hepatiteA), diarréias ( Salmonella sp, Escherichia coli, parasitas e vírus). Existem também outras enfermidades causadas pela água poluída, apesar de não se apresentarem em grande escala, podem ter significado especial. Doenças como: a ascaridíase e a criptosporidiose, leptospirose , cistercercose e esquistossomose também podem ser veiculadas pela água. Devido a importância da água como via de transmissão de enfermidades, a sua desinfecção para abastecimento público constitui uma das medidas mais efetivas para controlar a incidência de tais doenças. A razão fundamental da desinfecção da água é diminuir o risco da infecção das enfermidades por ela transmitidas mediante a destruição ou inativação dos diversos organismos patogênicos que potencialmente podem estar aí presentes. Existem várias substâncias químicas que são utilizadas para desinfectar a água potável, como hipoclorito de sódio, hipoclorito de cálcio, iodo elementar, cal clorada, cloro gasoso. O cloro é um dos desinfectantes mais efetivos para a água potável, sendo também um dos de menor custo. Na água com baixa turbidez e pH menor que 8, ele é muito eficaz contra as bactérias relacionadas com as enfermidades transmitidas pela água. Contudo sua eficácia é pequena contra alguns vírus e cistos de protozoários, especialmente quando é aplicado na temperatura e tempo de contato normais dos processos de cloração da água. Além disso, os microrganismos aderidos a partículas ficam protegidos e é possível que não sejam afetados pela ação do cloro. Outro fato é que a água pode ter uma demanda de cloro necessária para oxidação da matéria orgânica, antes do que este possa destruir os microrganismos. Este fato pode induzir o aparecimento de sabor de cloro, o que não é garantia de que a desinfecção foi adequada. Manfrini et al.(1977), citaram que o hipoclorito de sódio apresenta-se em solução de 12 a 15 % de cloro ativo. A solução é razoavelmente instável e se decompõe 15 rapidamente, tendo maior estabilidade quando o pH está próximo a 11 e quando não apresenta cátions de metais pesados. O hipoclorito de sódio é produzido pela combinação do cloro com soda cáustica e seu armazenamento deve ser feito em ausência de luz e temperaturas inferiores à 30 °C pois acima desta decompõe-se rapidamente. Além disso apresenta facilidade para aplicações como por exemplo, na desinfecção da água a partir da solução original. Segundo Rossin (1977), o cloro e alguns compostos clorados tem poder desinfetante e suas ações dependem: � da concentração ( quanto maior, mais efetiva sua ação); � espécie química ativa ( ácido hipocloroso ou íon hipoclorito ou cloroaminas); � tempo de contato (quanto maior o tempo de contato mais efetiva a ação); � pH (que influi na dissociação do ácido hipocloroso); � tipo de microrganismo a ser destruído (alguns são resistentes à ação do cloro ou compostos clorados); � turbidez (organismos envoltos por determinados materiais que dão turbidez à água poderão proteger-se contra a ação do desinfectante); � grau de homogeneização do desinfectante e a água. Di Bernardo (1993), também atribuiu à desinfecção o principal objetivo da cloração quando a água a ser tratada não recebeu qualquer forma de poluição. No entanto em águas poluídas a cloração pode ser empregada com o objetivo adicional, aproveitando- se da ação oxidante do cloro. Na água o cloro age de duas formas principais: � desinfectante para destruir ou inativar os microrganismos patogênicos, algas e bactérias de vida livre, especialmente as ferro- redutoras do gênero Crenothrix; � oxidante de compostos orgânicos e inorgânicos presentes na água. Likins et al.(1994), relataram que quando a desinfecção é realizada com cloro livre, a seguinte equação geral pode ser escrita sobre a formação de trihalometanos(THM) e outros subprodutos halogenados originários da desinfecção (SPD) quando há presença de matéria orgânica natural (MON) e brometos: HOCl + Br - + MON → THMs + SPDs 16 Segundo Di Bernardo (1995), os principais subprodutos da desinfecção identificados na água tratada são: � Trihalometanos(THMs): clorofórmio,bromodiclorometano, dibromoclorometano, bromofórmio. � Ácidos haloacéticos (AHAs): ácido monocloroacético, ácido dicloroacético, ácido tricloroacético, ácido monobromoacético, ácido dibromoacético, ácido tribromoacético, ácido bromocloroacético, ácido bromodicloroacético, ácido dibromocloroacético. � Haloacetonitrilas (HANs): dicloroacetonitrila, tricloroacetonitrila, dibromoacetonitrila, tribromoacetonitrila, bromocloroacetonitrila. � Haletos cianogênicos (HC): cloreto cianogênico, brometo cianogênico. � Halopicrinas (HP): cloropicrina, bromopicrina. � Haloacetonas (HA): 1,1-dicloropropanona; 1,1,1-tricloropropanona; 1,1-dicloro-2- butanona; 3,3-dicloro-2-butanona; 1,1,1-tricloro-2-butanona. � Haloaldeídos (HAD): dicloroacetaldeído, tricloroacetaldeído. � Halofenóis (HF): 2-clorofenos; 2,4-diclorofenol; 2,4,6-triclorofenol. � MX [3-cloro-4-(diclorometil) -5-hidroxi-2(5H)-furanona]. A matéria orgânica natural é a principal precursora com a qual os halogênios regem para formar os subprodutos. Na ausência de brometos, somente os subprodutos clorados da desinfecção (SPD) são formados, enquanto na presença destes, o ácido hipocloroso os oxida rapidamente à ácido hipobromoso (HBrO), o qual, juntamente com o residual de ácido hipocloroso, formam os compostos que possuem cloro e bromo. Os principais fatores que influenciam a formação de SPD são: pH, tempo de contato, 17 temperatura e concentração da matéria orgânica natural, dosagem de cloro aplicada, residual de cloro livre e concentração de brometos. Ritchter (1998), descreveu que a desinfecção tem por finalidade a destruição principalmente dos microrganismos patogênicos presentes na água, entretanto deve-se distinguir a diferença entre desinfeccção e esterilização. Esterilizar significa destruir todas as formas de vida, enquanto que a desinfecção é a destruição total ou parte de um grupo de organismos que podem ser patogênicos. Os vírus de hepatite e da poliomielite, por exemplo, não são completamente destruídos ou inativados pelas técnicas usuais de desinfecção . A desinfecção é necessária, porque não é possível assegurar a remoção total dos microrganismos por processos físico- químicos usualmente utilizados no tratamento da água. Entre os agentes químicos que propiciam a desinfecção o mais utilizado na água contaminada é o cloro, devido às seguintes razões: � está disponível na forma gasosa ou sólida (hipoclorito); � tem baixo custo; � sua aplicação é simples; � tem alta solubilidade em água (7,0 g/l ,a 20°C); � deixa um residual em solução cuja concentração é facilmente determinada; � é capaz de destruir a maioria dos microrganismos patogênicos. O cloro apresenta algumas desvantagens, porquanto é um gás venenoso e corrosivo, requerendo cuidadoso manejo e pode causar problemas de sabor e odor, particularmente na presença de fenoís. Segundo Condie (1990), a água de abastecimento público tem sido mundialmente desinfectada para prevenir a transmissão de doenças de veiculação hídrica. Embora o cloro tenha sido usado nos Estados Unidos como o desinfectante primário, a segurança de seu uso foi questionado quando descobriu-se que a cloração da água pode resultar na formação de trihalometanos(THM). Na água pura, o cloro reage para formar ácido hipocloroso (HClO). Com o aumento do pH, HClO dissocia-se formando o íon hipoclorito ( ClO- ). Pesquisas dos efeitos toxicológicos do Cl2, HClO e ClO- tem sido relatadas pelas investigações de vários subprodutos da cloração, tais como, cloraminas e THMs. Dois 18 tipos de subprodutos da desinfecção podem ser claramente distinguidos, o primeiro resulta da reação de material orgânico presente na água (ácidos húmicos e fúlvicos) com o desinfectante, o segundo é resultante da reação do residual do desinfectante com nutrientes do tracto gastrointestinal. Muitos dos subprodutos identificados tem demonstrado possuírem propriedades mutagênicas e/ou carcinogênicas. 3.3 Processos de filtração /adsorção O pesquisador Leme (1990), referenciou que a filtração é uma operação de separação de matéria em suspensão que existe na água a qual se processa quando esta é fluida em um meio poroso que pode ser areia, antracito, terra diatomácea ou uma malha finamente tecida. Na purificação da água a importância sanitária da filtração é muito grande, tendo em vista a sua influência na descontaminação. As unidades de tratamento onde se processa a filtração denominam-se filtros e podem ser classificados nos seguintes tipos: � de acordo com o tipo de material do meio filtrante (areia, carvão ou antracito, carvão-areia, terra diatomácea); � de acordo com a disposição do material do meio filtrante no leito (camadas superiores de areia com granulometrias diferentes, camadas superpostas de areia e carvão com granulometrias diferentes, camadas de areia–carvão e pedregulho com granulometrias diferentes). � de acordo com o sentido do escoamento da água (escoamento descendente , escoamento ascendente e escoamento bi-flow ); � de acordo com a taxa ou velocidade de filtração (lentos, rápidos, de taxas elevadas); � de acordo com a pressão existente (de pressão ou com a superfície sob pressão, de gravidade ou com a superfície livre). 19 Manfrini (1977), relatou que no tratamento de água emprega-se carvão granular disposto em leitos ou carvão em pó. No primeiro caso, sua granulometria pode ser idêntica a usada em filtros, ou seja, as partículas devem ter diâmetro entre 1,68mm e 2,38mm. No segundo caso, o produto deve ser tão fino quanto possível, ou seja, as partículas devem ter diâmetro menor ou igual a 0,074mm. O carvão ativado é produzido pela carbonização de madeira e de outros produtos vegetais, em condições controladas de oxigenação de modo que elimina o máximo de produtos orgânicos que tendem a se volatilizar na temperatura de carbonização com uma produção mínima de cinzas. Forma-se desse modo, um material com porosidade elevada e em conseqüência com grande poder de adsorção. Noll (1992), descreveu que a adsorção é um fenômeno de superfície que pode ser definida como aumento na concentração das partículas que compõem a superfície ou interface entre duas fases. Num sólido ou líquido, átomos da superfície são sujeitos à forças desequilibradas de atração. Na discussão de fundamentos da adsorção é essencial abordar sobre adsorção física, que envolve somente forças intermoleculares fracas e adsorção química que envolve essencialmente a formação de um vínculo químico entre a molécula do adsorbato e a superfície do adsorvente. Adsorção física pode ser distinguida da adsorção química de acordo com um ou mais critérios que se seguem: � A adsorção física não envolve compartilhamento ou transferência de elétrons e isto sempre mantém a individualidade das espécies. As interações são inteiramente irreversíveis. A desorção ocorre para determinada temperatura, embora o processo possa ser lento devido aos efeitos de difusão. Por outro lado a adsorção química envolve reação química e é irreversível. � Adsorção física ocorre de forma localizada e as moléculas quando adsorvidas quimicamente são fixadas em locais específicos. � Calor de adsorção física é pequeno comparado com o da adsorção química, entretanto, o calor de adsorção não é usualmente um parâmetro definido. Em adsorventes de poros estreitos o calor de adsorção física pode chegar a ser 20 superior a 20 Kcal/mol, enquanto que o calor de adsorção química varia de 20 Kcal/mol a 100 Kcal/mol. � A adsorção química envolve a transferência de elétrons, havendo reação química entre o adsorbato e a superfície sólida do adsorvente. Devido a reação química, esta freqüentemente ocorre, com alta temperatura e é usualmente associada a energia de ativação. Vianna (1997), mencionou que dentre os processos de tratamento de água,nos filtros lentos há predominantemente ações biológicas, enquanto que em filtros rápidos há predominantemente ações físicas, químicas e físico-químicas. A filtração numa estação clássica de tratamento de água, as partículas em suspensão que não foram retidas na decantação e os microrganismos que a elas estiverem associados. Do ponto de vista da análise hidráulica o desempenho básico dos filtros, pode ser avaliada segundo uma das seguintes concepções (ou, em alguns casos, associando-se algumas delas): baixa taxa de filtração (filtros lentos) alta taxa de filtração (filtros rápidos) Camadas simples Camadas múltiplas (areia e antracito) Filtração de fluxo ascendente baixa taxa de filtração (filtros lentos ascendentes) alta taxa filtração (filtros rápidos ascendentes ou clarificadores de contato, filtros russos) Filtração de fluxo descendente 21 Basicamente, os filtros são constituídos de um leito filtrante formado por uma ou mais camadas de material granular, instalada(s) sobre um sistema drenante denominado “fundo falso”. Entretanto, é no leito filtrante que de fato ocorrerá a filtração propriamente dita da água em tratamento. Os materiais utilizados nos filtros das estações de tratamento de água são granulares com especificações adequadas. Normalmente utiliza-se: areia nos filtros lentos e antracito e areia nos filtros rápidos. Areia: pode ser obtida nos rios ou lagos ou mesmo em praias de água salgada, deverá ser limpa, sem barro ou matéria orgânica e não conter mais de 1% de partículas laminares ou micáceas. A massa específica da areia é da ordem de 2,6 gramas por centímetro cúbico. Antracito: é um tipo de carvão mineral (portanto de origem fóssil), apresenta cor negra podendo ter aspecto brilhante. O carvão é pobre em substâncias voláteis e sua massa específica é da ordem de 1,4 a 1,6 gramas por centímetro cúbico, sendo inferior à da areia. Isto faz com que o antracito possa ser utilizado em filtros rápidos de camada dupla sobre a areia, sem se misturar. Nesse caso toda vez que o filtro for lavado, o antracito subirá mais que a areia; terminada a lavagem, ocorrerá a estratificação a areia ficará por baixo e o antracito por cima. A diferença de pesos específicos faz com que o antracito possa ser especificado com grãos maiores que a areia: mesmo assim a areia ficará por baixo e o antracito na parte superior. Nunes (2001), estudou a adsorsão em carvão ativado e outras substâncias adsorventes. O autor verificou que existem materiais que agem como adsorventes, fixando em sua superfície outras substâncias que produzem sabor, odor e matéria orgânica dissolvida. Entre as substâncias adsorventes cita a turfa, cinza, areia, carvão vegetal, casca de extração do tanino, flocos de hidróxido férrico, permutadores iônicos granulados (usado na remoção de detergentes não biodegradáveis ), carvão ativado, etc. O carvão ativado é um bom adsorvente, devida a sua elevada área superficial, com vantagem de ser regenerado, ou seja, é possível reativar seu poder de adsorção. Além de remover as substâncias citadas acima, remove também a cor (característica física, devido à existência de matéria dissolvida), fenóis (50 Kg de carbono para cada 5 a 12 Kg de fenóis), nutrientes (fosfatos, nitratos), sólidos em suspensão, matéria orgânica não biodegradável, etc. Os processos de remoção de sabor e odor são utilizados no tratamento de água potável. 22 Na remoção de matéria orgânica dissolvida, além da adsorção há também a fixação de microrganismos, em que o carvão serve de suporte para o desenvolvimento e adaptação. No caso de tratamento físico-químico por coagulação-floculação em que a eficiência de remoção de substrato não atinge valores satisfatórios como nos sistemas biológicos é possível obter um tratamento completo combinando-se um sistema de carvão ativado à jusante. O mesmo procedimento pode ser utilizado para efluente tratado de sistemas biológicos objetivando obter um clarificado de melhor qualidade. O tempo de contato no leito de carvão é de 15 a 40 minutos sendo anteriormente filtrado. O leito deve ser periodicamente lavado para desobstrução. Cleasby (1999), comentou que nos Estados Unidos, doenças causadas por Giardia lamblia e Cryptosporidium parvum com alta resistência a desinfecção, tem gerado numerosos estudos focados no processo de filtração envolvendo a coagulação, mas também em investigações da eficácia de filtração lenta em areia. Resumindo, estudam-se opções de remoção de microrganismos patogênicos incluindo filtração rápida, filtração lenta de areia e filtração com membrana. O processo mais utilizado entretanto, é a coagulação e filtração rápida, incluindo as etapas de floculação e sedimentação (tratamento convencional) ou filtração direta. Entretanto, para uma efetiva remoção de microrganismos é requerido cuidadoso controle de coagulação química e operação dos filtros para se obter água filtrada com baixa turbidez. Baseado em planta piloto e em estudos completos a remoção de microrganismos pode ser maximizada seguindo: � turbidez da água filtrada deve ser menor ou igual a 0,10 Unidades Nefelométricas de Turbidez (NTU); � a duração da turbidez alta no início do processo de filtração deve ser minimizada (menor do que 1 hora); � se a turbidez da água filtrada exceder 0,2 NTU deve ser considerada turbidez limite, sinalizando que é necessário lavar o filtro. Segundo Prosab (1999), a filtração é um processo imprescindível para a produção contínua e segura de água potável podendo ser rápida ou lenta dependendo da taxa de filtração. Usualmente, os filtros rápidos funcionam com taxas de filtração entre 150 a 600 metros/dia enquanto filtros lentos operam com taxas geralmente inferiores a 6metros/dia 23 embora na literatura existam indicações de taxas superiores. Para o uso eficiente da filtração rápida é necessário o pré-tratamento da água bruta com coagulação química, podendo ou não haver a floculação e decantação ou flotação dependendo da qualidade da água a ser tratada. Como na filtração lenta não é utilizada a coagulação química, a água a ser filtrada deve possuir características apropriadas pois caso contrário o processo torna-se ineficaz. Por isso, na atualidade, a filtração lenta tem sido precedida por unidades de tratamento geralmente constituídas por pré-filtros de pedregulho. A água bruta proveniente de corpos d’água superficiais geralmente contém areia fina, silte, argila e algumas vezes matéria orgânica natural e algas. Organismos tais como protozoários, bactérias e vírus podem estar presentes e representar riscos à saúde pública, razão pela qual sua inativação deve ser prioridade em qualquer sistema de tratamento. Quando não se emprega a coagulação química, a filtração lenta e a cloração são os principais processos de tratamento capazes de assegurar a produção de água com qualidade para ser usada pelo ser humano. Macedo (2000), descreveu que a filtração consiste em fazer a água atravessar uma camada de material poroso que em função do diâmetro dos poros haverá remoção das partículas em suspensão, diminuição da carga bacteriana e alguns componentes químicos são alterados. O processo de filtração baseia-se em quatro ações: � filtração mecânica; � sedimentação e adsorção; � efeitos elétricos; � alterações biológicas. O filtro rápido por gravidade é formado de uma camada de areia e pode possuir uma outra camada de maior granulometria e menos denso como o antracito, que é colocado sobre a areia permitindo taxas de filtração ainda maiores. Os filtros rápidos são lavados contra corrente, ou seja, por inversão de fluxo com uma vazão capaz de assegurar a expansão adequada para o meio filtrante. Expansões acima 50% são indesejáveis porque reduzem o processo de atrito entre os grãos e permitem a perda do material filtrante, na prática consideram-se como ideal expansões de material filtrante que variam de 25 a 50% sendo o valor mais comum de 40% . 24 Noll (1992), referenciou que o carbono ativado tem estrutura do tipo que tem microcristais somente em poucas camadas espessas e com tamanho menor que 100 Å. Devido as imperfeições estruturais do carbono ativado, resultam em muitas possibilidades da área externa do carbono reagir com o adsorbato. Entretanto, o principal responsável pela propriedade característica de adsorção do carvão ativado, são seus poros. Mais de 99% dos “sítios” ativos de adsorção no carvão ativado, são localizados no interior das partículas. Os macroporos tem diâmetro entre 30 a 10.000 Å enquanto que os microporos apresentam diâmetros na faixa de 10 a 30 Å. O carvão ativado tem curva de isoterma de adsorção do tipo côncava (ou isoterma de Langmuir). Este tipo de isoterma é característico de microporos de sólidos com superfícies externas pequenas, sendo a adsorção em função mais do volume dos microporos do que da área superficial interna. 3.4 Processos de coagulação, floculação, decantação e desinfecção Leme (1990), assegurou que a desinfecção é um processo de purificação cuja finalidade é destruir bactérias patogênicas e outros microrganismos que podem infectar o homem quando consumir água contaminada. Estes microrganismos também podem ser removidos ou destruídos pelos seguintes processos de tratamento de água: � por mais de uma ação física (coagulação–floculação, sedimentação e filtração); � por morte natural como ocorre em água armazenada por determinado período, antes ou após o tratamento; � por ação da radiação ultravioleta, de origem solar ou artificial; � por ação de produtos químicos introduzidos na água para fins diferentes da desinfecção; � por meio de agentes químicos desinfectantes que podem ser oxidantes como cloro, cromo, iôdo, prata e ozônio. A desinfecção que se ocupa quase que totalmente com a destruição de organismos celulares como bactérias, protozoários e vírus, trata principalmente da eliminação das bactérias normalmente por meio da ação do cloro. A eficiência da desinfecção está relacionada com: � espécie, concentração, condição e capacidade de resistência dos microrganismos a serem destruídos; 25 � tipo e concentração do desinfectante existente na água de que resultam o tipo e concentração dos elementos provenientes da reação do desinfectante com a água . � características químicas e temperatura da água. Partículas coloidais, substâncias húmicas e microrganismos em geral, conforme citou Di Bernardo (1993), apresentam carga negativa na água impedindo aproximação das mesmas. Para isso, faz-se necessário alterar a força iônica do meio e isto é feito pela adição de sais de alumínio ou de ferro ou polímeros sintéticos caracterizando o fenômeno de coagulação. A coagulação é resultado de quatro mecanismos distintos: � compressão da camada difusa; � adsorção e neutralização; � varredura; � adsorção e formação de ponte. Dependendo da qualidade da água bruta, a coagulação pode ser realizada com um sal de alumínio ou de ferro e utilizando-se polímeros como auxiliares de coagulação, floculação ou de filtração. Às vezes, um polímero catiônico pode ser o coagulante primário e um sal de alumínio ou de ferro o auxiliar de coagulação, o que está estritamente relacionado com a qualidade da água bruta e em especial, o pH e a alcalinidade. Em função do número e da distribuição de tamanho das partículas presentes na água bruta pode ou não ser necessária a floculação, cujas características como gradiente de velocidade e tempo de agitação geralmente diferem daquelas comumente empregadas na floculação da água que é submetida à decantação. Por envolver diversas variáveis de projeto e de operação e depender demais da qualidade da água bruta, a viabilização e otimização de um sistema de filtração direta descendente requer quase sempre, a realização de pesquisas experimentais para a obtenção de parâmetros de projeto e operação para diferentes épocas do ano tendo em vista a variação acentuada de qualidade da água bruta em épocas chuvosas e de estiagem. Observa-se também que dependendo da qualidade da água, especialmente quando a cor verdadeira for muito elevada em relação à turbidez, ou quando houver possibilidade de ocorrência de florescimentos algais no manancial, a flotação pode ser empregada com sucesso em lugar da decantação. Em muitos casos, com a degradação da 26 qualidade da água dos recursos hídricos resultante de lançamento de águas residuárias industriais ou sanitárias tratadas ou não, torna-se necessária a adsorção em carvão ativado, oxidação com permanganato de potássio ou pré-desinfecção com ozônio, dióxido de cloro, radiação ultravioleta juntamente com peróxido de hidrogênio, como preconiza Di Bernardo (1995). Haas (1999), descreveu que o processo de desinfecção tem como principal objetivo a diminuição significativa do número de microrganismos patogênicos. Outros processos tais como filtração, coagulação-floculação-sedimentação podem também diminuir os microrganismos na água, porém isto geralmente não é seu objetivo principal. O conceito da desinfecção está relacionado à bactérias que agem como agentes causadores de doenças. Aerill, em 1832, citado por Haas já propunha desinfecção com cloro em resíduos como meio profilático para evitar epidemias. O benefício profilático da desinfecção da água é evidenciado com a resposta a respectiva redução do tifo e da cólera. Enquanto progressos significativos estão sendo feitos no controle de doenças pela desinfecção, novos agentes infectantes são reconhecidos tais como vírus, bactérias ou micobactérias e protozoários. Por exemplo, a hepatite doença causada por meio da água com a desinfecção inadequada ou ausência desta tem trazido sérias preocupações em relação a saúde humana. Novos agentes virais são continuamente encontrados na água sendo capazes de transmitir doenças. O regime de desinfecção praticado nos Estados Unidos tem sido aplicado pela AWWA (American Water Works Association), desde 1980. Estudos do Comitê de Desinfecção relatam o uso do cloro ou hipoclorito com sua desinfecção química primária, além do complemento da desinfecção com amônia, ou dióxido de cloro ou ozônio. Outros estudos foram concebidos para a remoção e inativação de resistentes microrganismos patogênicos, tais como, Giardia lamblia e Cryptosporidium parvum. Para estes protozoários outros meios de desinfecção passam a ser boas opções em relação a tradicional desinfecção com cloro e estão ganhando popularidade. O dióxido de cloro tem sido usado largamente como agente branqueador na manufatura de polpa e papel. Apesar de estudos de investigação do uso de dióxido de cloro como oxidante e desinfectante sua aplicação no tratamento de água e efluentes tem sido lenta. Desde 1977, oitenta e quatro estações de tratamento de água nos Estados 27 Unidos foram identificadas com o uso do dióxido de cloro embora somente uma utiliza-o como desinfectante primário. Na Europa, dióxido de cloro tem sido usado como oxidante ou desinfectante em quase 500 Estações de Tratamento de Água. O ozônio teve sua primeira aplicação como desinfectante em 1893, em Oudshoorn, Países Baixos. Em 1906, na cidade de Nice na França, foi instalado o processo de ozonização para tratamento de água. Esta Estação representa a instalação de ozonização mais antiga em operação contínua. Nos Estados Unidos, ozônio foi primeiramente empregado para controle de odor e sabor em 1906, no Park de Reserva Jerone em New York. Em 1987, cinco Estações de Tratamentos de água passaram a usar a oxidação primária com ozônio para controle de odor e sabor ou remoção de percursor de trihalometanos. O efeito biológico da radiação ultravioleta (UV) tem sido conhecido desde tempos antigos, onde esta radiação é responsabilizada pela diminuição microbiológica devido incidência da luz solar. Ultravioleta tem sido aceita para tratamento de água potável para o abastecimento humano porém historicamente com pouco entusiasmo, isto porque este não deixa residual de aplicação. Em tratamento de efluentes, ao contrário, mais de 600 Estações de tratamento nos Estados Unidos usam o UV como desinfectante. Outros agentes podem ser usados para efeito de inativação de microrganismos, entre eles o calor, metais (prata, cobre), álcalis ou ácidos, surfactantes, permanganato e irradiação transmitida por elétrons. Calor é útil somente em “água fervida” e não é econômico. Em meio alcalino ou ácido pode-se obter alguma inativação microbiológica mas não é suficiente como um único desinfectante. Permanganato de potássio tem sido empregado para realizar alguns efeitos de desinfecção, entretanto a sua atuação não está bem caracterizada. A desinfecção, segundo Daniel (2001), constitui a etapa do tratamento cuja função principal consiste na inativação dos microrganismos patogênicos realizada por intermédio de agentes físicos e/ou químicos. Ainda que nas demais etapas da potabilização haja diminuição no número de microrganismos agregados às partículas coloidais tal intento não consiste no objetivo principal dos demais processos e operações unitárias usuais no tratamento das águas de abastecimento. 28 Essa assertiva assume relevância na comparação entre as dimensões médias dos flocos, afluentes às unidades filtrantes e dos diversos tipos de microrganismos geralmente encontrados nas águas naturais. Enquanto os primeiros apresentam dimensões variando de 0,002 a 0,004 mm (2 a 4µm), para as bactérias dos gêneros Salmonella e Coliformes as variações são de 0,5 a 2,0µm e para vírus, de 0,025 a 0,1 µm. Neste contexto, o desempenho das unidades potabilizadoras, embora favoreça a remoção dos cistos de Giardia lamblia cujas dimensões variam de 10 a 14 µm, nas etapas procedentes à desinfecção tem interferência menor com os cistos de Cryptosporidium parvum (4 a 6µm de diâmetro). Desta forma, é facilmente compreensível a relação intrínseca do desenvolvimento do processo de desinfecção com a referida evolução da microbiologia e o fato de que esta etapa da potabilização deve ser considerada indispensável e prioritária sempre que a água estiver contaminada. A ação dos desinfetantes sobre os microrganismos pode se dar sob três mecanismos: � destruição ou danificação da organização estrutural da célula – atuando sobre os constituintes da parede celular, membrana citoplasmática ou ainda ao nível do citoplasma e núcleo; � interferência no nível energético do metabolismo; � interferência na biossíntese e crescimento devido à combinação de vários mecanismos como a síntese de proteínas, pelos ácidos nucleícos, inibição de enzimas e coenzimas. No tratamento de água, os dois tipos de mecanismos preponderantes de desinfecção são a oxidação, com posterior ruptura da parede celular, e a difusão no interior das células, com conseqüentes interferências nas atividades celulares. 3.5 Controle de qualidade e doenças transmissíveis pela água Di Bernardo (1993), afirmou que do ponto de vista epidemiológico a água desempenha papel importante na transmissão de doenças como cólera, febre tifóide, febres paratifoídes, disenteria bacilar, amebíase, giardíase e esquistossomose. Os coliformes tem sido utilizados como indicadores de poluição recente de fezes e, evidentemente, de 29 contaminação. Quando há ocorrência de coliformes totais ou fecais nas águas destinadas ao consumo humano, devem ser tomados cuidados especiais com a escolha da tecnologia de tratamento por haver relação íntima entre turbidez e o número de coliformes. Em geral quanto menor a turbidez da água filtrada menor o número de coliformes. No processo de filtração são removidas quase em sua totalidade as partículas coloidais, suspensas e microrganismos em geral, de forma que a desinfecção final seja efetiva. Pelczar (1996), descreveu que o termo microrganismos indicadores refere-se a um tipo de microrganismo cuja presença na água é evidenciada de que ela está poluída com material fecal de origem humana ou de outros animais de sangue quente. Este tipo de poluição indica que qualquer microrganismo patogênico que ocorre no trato intestinal desses animais podem também estar presente. Algumas das características importantes de um organismo indicador são: � estar presente em águas poluídas e ausentes em águas não poluídas; � estar presente na água quando os microrganismos patogênicos estão presentes; � o número de microrganismos indicadores está correlacionado com o índice de poluição; � sobrevive melhor e por mais tempo na água de que os microrganismos patogênicos; � apresenta propriedades uniformes e estáveis; � geralmente é inofensivo a homem e a outros animais; � está presente em maior número do que os patogênicos; � é facilmente evidenciado por técnicas laboratoriais padronizadas. Escherichia coli é o organismo utilizado nos Estados Unidos pois satisfaz as exigências de um indicador ideal de poluição. Outras bactérias tem sido sugeridas e algumas vezes utilizadas como indicadores de poluição, entre elas, Streptococcus faecalis e Clostridium perfringens, ambas são habitantes normais de intestino grosso do homem e de outros animais. As bactérias do grupo coliforme são caracterizadas como bacilos Gram negativos não esporulados, facultativos, que fermentam a lactose com produção de ácido e gás em um período de 48 horas a 35°C. A Escherichia coli é um habitante normal do trato intestinal de humanos e outros animais de sangue quente e assim, é considerada um tipo fecal de 30 coliforme. Outros membros do grupo coliforme, por exemplo, Enterobacter aerogenes, são encontrados no solo, na água, nos cereais e também no trato intestinal humano e de outros animais e são considerados coliformes não fecais. Os coliformes tem várias características em comum com espécies do gênero Salmonella e Shigella, as quais são patogênicas. Entretanto, a principal diferença bioquímica é que os coliformes fermentam a lactose com produção de ácido e gás; Salmonella sp e Shigella sp não fermentam a lactose. Portanto, a fermentação da lactose é a reação-chave no procedimento laboratorial para determinar a potabilidade da água. Na referência da CETESB (2000), a poluição das águas tem como origem diversas fontes, dentre as quais se destacam: � efluentes domésticos; � efluentes industriais; � carga difusa urbana e agrícola. A Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB), órgão responsável pelo controle de poluição no Estado de São Paulo, faz uso de 43 parâmetros para a determinação da qualidade de água (físicos, químicos, hidrobiológicos, microbiológicos e ecotoxicológicos) considerando os mais representativos. Os parâmetros da qualidade da água são: � parâmetros físicos: temperatura da água e do ar, série de resíduos (filtráveis e não filtráveis), absorbância no ultravioleta, turbidez e coloração da água; � parâmetros químicos: pH, Oxigênio Dissolvido, Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO5,20), Demanda Química de Oxigênio (DQO), carbono orgânico, potencial de formação de trihalometanos, série de nitrogênio (Kjeldahl , amoniacal, nitrato e nitrito) fosfato total, ortofosfato solúvel, condutividade específica, surfactantes, cloreto, fenoís, ferro total, manganês, alumínio, bário, cádmio, chumbo, cobre, cromo total, níquel, mercúrio e zinco; � parâmetros microbiológicos: coliforme fecal, Giardia sp, Crysptosporidium sp, Clostridium perfringens e estreptococos fecais; 31 � parâmetros hidrobiológicos: clorofila – a; � parâmetros ecotoxicológicos: teste de toxicidade crônica à Ceridophnia dubia, teste de Ames para avaliação de mutagenicidade e sistema Microtox . Conforme citou Di Bernardo (1995), segundo a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (USEPA) para que seja assegurada a qualidade microbiológica da água tratada é necessária a sua desinfecção, de modo que ocorra inativação superior a 99,9% de cistos de Giardia lamblia e de 99,9% de vírus e que seja detectado residual do desinfectante em pelo menos 95% das amostras coletadas no sistema de distribuição, embora na atualidade seja sabido que cistos de Cryptosporidium parvum sejam mais resistentes que aqueles microrganismos. Tem sido empregado o parâmetro CT em que C é a concentração (mg/L) do desinfectante que permanece em contato com água por um período de tempo T (min) para que sejam alcançados determinados graus de inativação de microrganismos. Por exemplo, o valor de CT para cloroaminas é da ordem de duas vezes o correspondente ao cloro livre. Na tabela 2 são apresentados diferentes valores de CT de diferentes desinfectantes requeridos para inativação de E.coli, polivírus 1, rotavírus, cistos de Giardia lamblia, Giardia muris e Cryptosporidium parvum. Observa-se que o ozônio é mais eficiente que os demais desinfectantes, inativando 99% de todos os microrganismos listados para valores baixos de CT. As cloroaminas apresentam eficiência menor que os demais enquanto que o cloro livre e o dióxido de cloro tem eficiências semelhantes na inativação de polivírus. O cloro livre é mais efetivo que o dióxido de cloro na inativação de rotavírus e E.coli enquanto o dióxido de cloro é mais eficiente que o cloro livre em inativar cistos de Giardia lamblia e Giardia muris. 32 Tabela 2 . Valores de concentração ×××× tempo (CT) de diferentes desinfectantes para inativação de microrganismos (Fonte: Di Bernardo,1995) Microrganismos Cloro livre (pH = 6 a 7 ) Cloroamina ( pH = 8 a 9 ) Dióxido de cloro ( pH = 6 a 7 ) Ozônio ( pH = 6 a 7 ) E. coli 0,034 a 0,050 95 a 180 0,4 a 0,75 0,02 Poliovírus 1 1,1 a 2,5 768 a 3740 0,2 a 6,7 0,1 a 0,2 Rotavírus 0,01 a 0,05 3806 a 6476 0,2 a 2,1 0,006 a 0,06 Cisto de Giardia lamblia 47 a 150 2200 a 26 ª 0,5 a 0,6 Cisto de Giardia muris 30 a 630 1400 7,2 a 18,5 1,8 a 2,0 Cryptosporidium parvum 7200 b 7200 c 78 c 5 a 10 d a = inativação de 99,9 % ( pH de 6 a 9 ) b = inativação de 99,0 % ( pH = 7 e temperatura 25°C ) c = inativação de 90,0 % ( pH = 7 e temperatura 25 °C ) d = inativação de 99,0 % ( pH = 7 e temperatura 25°C ) Viana (1997), descreveu que a análise bacteriológica da água procura em última análise, determinar a presença de material fecal em condições de trazer consigo microrganismos patogênicos. Essa determinação tem sido feita através da análise dos organismos coliformes que são eliminados diariamente em grande número do trato intestinal dos animais de sangue quente (entre eles o homem). Daí o fato de se efetuar análises para a determinação de coliformes totais e fecais. A presença de coliformes fecais na água indica a possibilidade de contaminação por fezes humanas embora não se 33 comprove. Por esse motivo, diz-se que os coliformes são indicadores de contaminação. Evidentemente, constatar a presença desses organismos e a partir daí, supor que a amostra está contaminada por organismos patogênicos constitui tarefa mais fácil que a de realizar todos os ensaios, específicos para cada tipo de organismo capaz de infectar o ser humano. Ressalta-se que os coliformes, por si só, não são patogênicos quando presentes nas concentrações usuais no ser humano. Mas sua presença na água indica a possibilidade da presença de organismos patogênicos. Os ensaios destinados a detecção dos coliformes tem evoluído. Da técnica dos tubos múltiplos, a partir da qual entra-se numa tabela probabilística o número mais provável (NMP) de coliformes, passou-se para a técnica das membranas filtrantes e substratos cromogênicos. Modernamente, técnicas do tipo presença/ausência vem sendo desenvolvidas e comercializadas. Recentemente, outros indicadores (também biológicos) vem sendo testados, tais como, os estreptococos fecais. Interessantes indicadores e a ocorrência real de organismos vem sendo apresentados, mas os coliformes (totais e fecais) ainda constituem a melhor fonte de informação para o profissional da área de saneamento. Conforme citou a CETESB (1996), a água contém uma série de microrganismos, alguns naturais do ecossistema aquático e outros organismos de trânsito provenientes do solo, do ar e dos despejos industriais e domésticos. Os processos de tratamento não tem por finalidade produzir água estéril, mas torná-la livre de patógenos e segura para o consumo humano. Portanto, é possível detectar-se a presença de microrganismos em águas de abastecimento, a maioria dos quais faz parte da flora normal desses sistemas. O controle dessa população bacteriana é de fundamental importância, visto que densidades elevadas de microrganismos na água podem determinar a deterioração de sua qualidade com desenvolvimento de odores e sabores desagradáveis e produção de biofilmes. Além desse problema, densidade bacteriana elevada pode apresentar risco à saúde dos consumidores pois embora a maioria das bactérias da flora normal da água não seja considerada patogênica algumas delas podem atuar como patógenos oportunistas. Outro aspecto importante é a influência inibidora de alguns microrganismos, os quais, quando presentes em números elevados podem impedir a detecção de coliformes seja devido à produção de fatores de inibição, seja por um desenvolvimento mais intenso, sobrepujando uma menor população de coliformes. Neste sentido, estudos comparativos demostram que embora haja 34 uma relação direta entre a freqüência de detecção de coliformes e a densidade bacteriana até níveis de 500 bactérias/mL, quando a população bacteriana excede a 1000/mL a freqüência de detecção de coliformes decresce. Em relação a este aspecto tem sido evidenciado a ação inibidora de Pseudomonas, Micrococcus, Flavobacterium, Proteus, Bacillus, Actinomyces e leveduras. A CETESB(2000), a partir de um estudo realizado em 1970 pela “National Sanitation Foudation” dos Estados Unidos, adaptou e desenvolveu o Índice de Qualidade das Águas – IQA. O índice IQA, incorpora 9 parâmetros, que são considerados relevantes para a avaliação da qualidade das águas, tendo como determinante principal a utilização das mesmas para abastecimento público. Os parâmetros são: coliformes fecais, pH, DBO5,20, nitrogênio total, fósforo total, temperatura, turbidez, resíduo total e oxigênio dissolvido. Pode-se então determinar a qualidade das águas brutas que indicada pelo IQA numa escala de 0 a 100 é classificada para abastecimento público, segundo a gradação a seguir: Qualidade Ótima .....................79 < IQA < 100 Qualidade Boa .........................51 < IQA < 79 Qualidade Regular ....................36 < IQA < 51 Qualidade Ruim .......................19 < IQA < 36 Qualidade Péssima ...................IQA < 19 Peçanha (1993), verificou que a água bruta na Estação de captação de água do Departamento Autônomo de Água e Esgoto de Rio Claro (DAAE) localizada na Floresta Estadual Navarro de Andrade , no município de Rio Claro (SP) pode ser considerada muito boa quanto a média de contagem de coliformes fecais E. coli sendo desta forma classe 2 (Resolução n.º 20, de 1986, do Conama), ou seja, destinada ao abastecimento após tratamento convencional, destinada à irrigação de espécies vegetais que se desenvolvem rente ao solo, à recreação de contato primário, à proteção das comunidades aquáticas. Os valores da variação e da média das contagens de bactérias heterotróficas em unidades formadoras de colonias/100 mL de água e número provável (NMP) dos coliformes totais e coliformes fecais E. coli, estão descritos na tabela 3. 35 Tabela 3. Quantificação de bactéria da água bruta no lago da Floresta Estadual Navarro de Andrade (Fonte: Peçanha,1993) Microrganismo Variação Média Bactéria Heterotróficas 4,7 x 103 a 4,9 x 106 UFC/100mL 1,4 x 105 UFC/100mL Coliformes Totais 4,9 x 102 a 9,2 x 104 UFC/100mL 6,9 x 103 UFC/100mL Coliformes Fecais E.coli UFC/100mL 8,0 x 101 a 2,3 x 103UFC/100mL 3,7 x 102 UFC/100mL Ritcher (1998), descreveu que entre as impurezas nas águas incluem-se os organismos presentes que conforme a sua natureza, tem grande significado para os sistemas de abastecimento de água. Alguns desses organismos como certas bactérias, vírus e protozoários, são patogênicos, podendo provocar doenças e ser a causa de epidemias. Outros organismos como algumas algas, são responsáveis pela ocorrência de sabor, odor desagradáveis, ou por distúrbios em filtros e em outras partes do sistema de abastecimento. As características biológicas das águas são determinadas através de exames bacteriológicos e hidrobiológicos, entre os primeiros se destaca a pesquisa do número de coliformes, contagem do número total de bactérias heterotróficas. Segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 80% de todas as doenças se alastram nos países em desenvolvimento são provenientes da água de má qualidade. Além desses males, existem ainda os casos que podem ocorrer em conseqüência da presença na água de substâncias tóxicas ou nociva. Mais de 40 enfermidades podem ser transmitidas direta ou indiretamente, seja por contato com águas poluídas ou por falta de higiene ou ainda devido a vetores que vivem no meio aquático, conforme mostra a Tabela 4. 36 Tabela 4 . As doenças mais comuns, de transmissão hídrica (Fonte: Ritcher,1998) AGENTE CAUSADOR DOENÇA Salmonela tifoíde Febre tifoíde Salmonelas paratifoídes Febres paratifoídes Bacilo disentérico Disenteria bacilar Entamoeba histolítica Disenteria amebiana Vibrião colérico Cólera Enterovírus , E.coli Diarréia Vírus tipo A Hepatite infecciosa Giardia lamblia Giardíase Cohn (1999), verificou que os principais microrganismos indicadores e indicadores físicos da qualidade da água são coliformes totais, coliformes fecais E.coli, bactérias heterotróficas, Clostridium perfringens, contagem de partículas e turbidez. A concentração de partículas especialmente na seleção de faixas de tamanho, tem sido discutido como um possível indicador da qualidade da água e da eficiência do tratamento. A contagem de partículas pode ser utilizada para estimativa da eficiência de remoção de Giardia sp e Crysptosporodium sp na água filtrada. Também a turbidez, é uma medida não específica da quantidade de partículas na água (por exemplo, argila, sedimentos finos de matéria orgânica e inorgânica e microrganismos). Turbidez tem sido usada por muitas décadas como um indicador da qualidade da água potável assim como um indicador da eficiência do processo de coagulação e filtração. Com a adequada remoção da turbidez remove-se os microrganismos da água que agregam-se em partículas conhecidas como flocos. Alta turbidez pode diminuir a eficiência da desinfecção, consequentemente, maior demanda de desinfectante. As partículas/flocos podem também adsorver substâncias tóxicas presentes na água além de proteger os microrganismos da desinfecção pela adsorção ou revestimento dele. 4. MATERIAL E MÉTODO 4.1 - Material 4.1.1 - Água bruta � Água bruta do Rio Ribeirão Claro, Estação de Captação de Água, ETA I - Departamento Autônomo de Água e Esgoto de Rio Claro (DAAE), localizada na Floresta Estadual Navarro de Andrade, município de Rio Claro (SP). 4.1.2 Equipamentos � Mini estação compacta de tratamento de água (ETA-CB ), segundo projeto da CB Consultoria e Treinamento S/C Ltda. (Figura 1 ) 38 Figura 1 – Mini Estação Compacta de Tratamento de Água(ETA-CB), o aparelho de ultra- som utilizado nos ensaios e o pH-metro utilizado para controle contínuo do pH de coagulação. 39 � Aparelho de ultra-som Sonic of Materials Vibra Cell – Model VCX 600 transdutor de cerâmica piezoelétrica sintética. Guia de onda com diâmetro 20 mm e comprimento útil de 50 mm. Freqüência: 20 KHz, 600 W, voltagem 230V, Amperagem:10 A; � Bomba submersa RIO –180 Aqua Pump; � Termômetro de mercúrio Incoterm; � Bomba de vácuo Tecnal, modêlo TE-058; � Medidor de condutividade elétrica e sólidos totais dissolvidos Hach – modelo CO150; � Balança analítica Mettler Toledo AB204; � Espectrofotômetro Hach DR2000; � Spectroline Model CM-10, cabine de análise fluorescente Espectronics Corporation; � Incubadora de Demanda Bioquímica de Oxigênio (BOD) MA 415, marca Marconi; � Estufa marca Fanem, modelo 315 SE; � pHmetro Tecnal, modelo TC2; � Selador de cartela Quanti-Tray Sealer; � Agitador magnético Fanem modelo 257; � Contador de colônias CP600, marca Phoenix Equipamentos; � Autoclave marca Fanem; � Cronômetro; � Vibrador e peneiras granulométricas marcas Bertel e Granutest; 4.1.3 Reagentes e meios de cultura Os reagentes e meios de cultura empregados apresentavam qualidade analítica. � Solução de cloreto férrico 1% m/v � Solução de hidróxido de sódio 1% m/v � Solução de hipoclorito de sódio 1% de cloro ativo v/v � Reagentes recomendados pelas Normas Técnicas de análise de água, descritos por Clesceri(1998) � Reagentes da Hach para análise de ferro e cloro livre residual 40 � Reativos Colilert para determinação de coliformes totais e coliformes fecais E.coli � Água tamponada de diluição Solução estoque A: 34,0g de fosfato monopotássico (KH2PO4); 1000 mL água destilada. Solução estoque B: 81,1g de cloreto de magnésio (MgCL2.6H2O); 1000mL água destilada. Preparo : 1,25 mL solução estoque A; 5,0 mL solução estoque B e 1000 mL água destilada. � Meio de cultura Ágar triptona glicose extrato de levedura Plate Count Ágar, segundo Difco (1984). 4.1.4 Vidraria e outros materiais de uso geral de laboratório � Vidraria de laboratório � Reservatório plástico para água bruta (40 litros). � Cartela para contagem de bactérias Quanti-Tray 2000 Idexx. � Sacos de coleta de 100 mL, contendo pastilha de tiossulfato de sódio. � Papel de filtro Filter Papers ∅125 mm, n.º5 filtração lenta, marca Whatman � Frascos de coleta esterilizados para análise microbiológica. 4.1.5 Material de filtração � Carvão ativado granulado Massa total = 260 gramas, sendo: 2,3g , ∅ = 5,66mm 151,5g , ∅ = 3,36mm 85,0g , ∅ = 2,38mm 21,2g , ∅ = 0,50mm � Areia grossa, média e fina Massa total = 1940 gramas, sendo: 180,6g , ∅ = 3,36mm 208,9g , ∅ = 2,38mm 837,9g , ∅ = 0,50mm 41 252,4g , ∅ = 0,297mm 180,2g , ∅ = 0,210mm 260,7g , ∅ = 0,105mm 15,1g , ∅ = 0,074mm 4,1g , ∅ = 0,053mm � Pedregulho → Massa total = 580 gramas, com granulometria 5,66mm < ∅<30mm 4.2 Método 4.2.1 Coleta de Água Bruta A água bruta foi coletada e transferida para bombonas de PVC com capacidade para 20 litros, sendo a água coletada na margem da represa da Floresta Estadual Navarro de Andrade – Rio Claro (SP) ou diretamente da bomba de água da Estação de Captação de água. (Figura 2) Para cada ensaio foram coletados 80 litros de água bruta. Figura 2 - Ponto de captação de água de abastecimento da ETA I-DAAE, no lago da Floresta Estadual Navarro de Andrade, município de Rio Claro - SP. 42 4 .2.2 – Operação da Estação Compacta de Tratamento de Água A água bruta é bombeada do reservatório mediante a uma bomba submersa, para a caixa de entrada e com auxílio de funis de separação são adicionados solução de coagulante (FeCL31% e solução alcalinizante (NaOH 1%). O sistema de floculação empregado na ETA Compacta foi de chicana e meio granular. Para controle contínuo do pH de coagulação colocou-se o eletrodo do pHmetro na chicana do sistema de floculação. A água floculada entra no decantador saindo o sobrenadante por três canaletas receptoras que deságuam no filtro rápido formado por camada de carvão ativado, areia fina, areia média, areia grossa e pedregulhos(Figura 3 ). O meio filtrante periodicamente foi lavado com água de torneira com fluxo ascendente, ou seja, em contra-corrente a operação normal. Figura 3 - Estação compacta CB (ETA-CB) mostrando a aplicação de produtos químicos na caixa de entrada de água bruta e pHmetro para controle do pH de coagulação. 43 4.2.3 Determinação da vazão da ETA Para a determinação da vazão da ETA (mini estação compacta para tratamento de água - CB ), utilizou-se uma proveta de 500mL e um cronômetro. Após ligar a bomba de água submersa do reservatório de água bruta, transferiu-se a água de saída para a proveta, sendo acionado o cronômetro simultaneamente, após 1 minuto foi feita a leitura em mL na proveta. A vazão de água bruta na ETA-CB ficou entre 200 a 230 mL/min. 4.2.4 Parâmetros químicos, físico-químicos e bacteriológicos analisados Para cada ensaio foram feitas três repetições sendo calculados a média aritmética (x) e estimativa do desvio padrão (s). Os parâmetros de Controle de Qualidade foram os seguintes: � vazão da ETA ( mL/min); � pH; � cor aparente( Pt Co); � turbidez (NTU); � condutividade elétrica (µS/cm); � salinidade ( 0/00 ); � temperatura ( °C ); � sólidos totais dissolvidos (mg/L); � ferro ( mg/L Fe ); � cloro livre residual ( mg/L Cl2 ); � sólidos suspensos (mg/L); � coliformes totais (NMP/100 mL); � coliformes fecais E. coli (NMP/100 mL); � bactérias heterotróficas ( UFC/ mL ) . 4.2.5 Desinfecção com solução de hipoclorito de sódio A água bruta passando em fluxo contínuo na ETA compacta r