UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS - RIO CLARO LILIAN SILVA DE LUCAS DE SOUZA QUAL O PAPEL DA MÍDIA NA APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA DE EDUCAÇAO FUNDAMENTAL I, EM IDADE DE ALFABETIZAÇAO: ELA FORMA, INFORMA, DIFICULTA, DIVERTE OU DESEDUCA? . Rio Claro 2009 LICENCIATURA EM PEDAGOGIA LILIAN SILVA DE LUCAS DE SOUZA QUAL O PAPEL DA MÍDIA NA APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA DE EDUCAÇAO FUNDAMENTAL I, EM IDADE DE ALFABETIZAÇAO: ELA FORMA, INFORMA, DIFICULTA, DIVERTE OU DESEDUCA? Orientadora: Professora Dra. Célia Reina Rossi Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - Campus de Rio Claro, como parte dos requisitos para obtenção do grau de Licenciatura em Pedagogia. Rio Claro 2009 Dedico este trabalho a todas as crianças, pais e professores que, de uma maneira ou outra, me inspiraram. Agradecimentos Agradeço de coração: Ao meu Deus e Senhor que me concedeu essa dádiva tão maravilhosa de cursar nesta universidade. Sou grata a Ele por tudo que realizou na minha vida, por tudo que está realizando e por tudo que irá realizar. Obrigada Senhor! A minha orientadora professora Célia Regina Rossi pelas sugestões de leitura e correção do meu trabalho. Aos meus queridos pais, Maria das Graças e Malaquias, que amo muito, pelo incentivo e apoio que sempre me ofereceram antes e durante todo o curso. Amo vocês. As minhas irmãs: Naara e Graciana que sempre estiveram ao meu lado. A Grá em especial pela ajuda extraordinária no trabalho, e por ter me presenteando com o notebook que foi extremamente útil. As minhas queridas amigas e companheiras de “facul”: Aninha, Cinthya, Juliana, Luciane e Marina. Companheiras fiéis de trabalhos, estudos e “bafões”, esses quatro anos não seria tão maravilhosos sem vocês, amigas queridas, que vou levar para sempre em meu coração, obrigada por tudo meninas! Ao meu esposo amado que tanto me ajudou, me apoiou e me agüentou nos momentos de stress. Amo você e obrigada por estar ao meu lado. RESUMO Este trabalho de conclusão de curso tem como objetivo analisar a mídia televisiva, no que diz respeito a seus interesses e programações, levando em consideração a conseqüente relação conflituosa entre esta e as crianças brasileiras, uma vez que a mídia não oferece programas de qualidade que respeitem a diversidade cultural. O trabalho analisa os conteúdos dos programas oferecidos pela mídia e compara-os com o que se propõem a Convenção da ONU realizada em 1989 Sobre os Diretos da Criança, no que diz respeito a mídia em geral. A partir de base teórica busca refletir sobre o impacto das mensagens dos programas de televisão na mente da criança e consequentemente afetando seu desenvolvimento cognitivo, moral e emocional. Sendo que percorrendo esse caminho de análise, procura-se mostrar uma possível reflexão e mudança através da educação para mídia e participação na mesma, envolvendo pais, professores, as políticas públicas e as próprias crianças. Palavras-chave: Mídia, mídia televisiva, crianças, direito da criança, educação para a mídia e participação. Sumário INTRODUÇÃO.................................................................................6 METODOLOGIA..............................................................................7 CAPITULO I: Mídia..........................................................................8 1. O Que é Mídia.........................................................................8 2. História no Brasil: 2.1 Rádio.....................................................................................8 2.2 TV..........................................................................................9 2.3 Internet..................................................................................10 CAPITULO II: A Mídia e a Criança.................................................12 CAPITULO III: A Televisão e a Criança.........................................17 CAPITULO IV: Mídia, Criança e Educação....................................22 CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................29 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................31 6 INTRODUÇÃO: O trabalho a seguir busca mostrar a mídia televisiva atuante em nosso país atualmente, com um olhar voltado para as crianças e o desrespeito que estas sofrem frente aos programas televisivos que não buscam o desenvolvimento geral destas, isto é, o desenvolvimento cognitivo, moral e emocional de cada criança, e não respeitando suas diversas culturas. Em seus capítulos o trabalho procura mostrar que as crianças passam cada vez mais tempo na frente da televisão vendo programas que não supre suas necessidades reais, e que a mídia televisiva está muito distante de sanar esse problema que é proporcionar informação adequada, educação complementar e desenvolvimento. O capitulo I revela a origem da palavra mídia e o seu significado, buscando passar também um pouco da historia das mídias: rádio, internet e televisão, que são as mídias mais atuantes na vida das crianças no momento atual. No capitulo II mostra a relação decadente entre criança e mídia, uma relação nada benéfica, uma vez que a mídia não está preparada para atender o publico infantil nem se preocupa em apresentar programas de real qualidade. Mostra também os Direitos da Criança apresentados na Convenção que a ONU realizou em 1989. Já no capitulo III apresenta-se a relação turbulenta entre a televisão e a criança, o despreparo dessa mídia e também dos pais e educadores que não proporcionam uma mediação entre os programas televisivos e as crianças. O último capitulo, isto é, capitulo IV, procura com desvelo mostrar um caminho através da educação de melhorar a relação conflituosa entre mídia e criança, tentando revelar que há possibilidade de mudanças para o beneficio das crianças que tem um contato profundo com a televisão. Sendo esse caminho a educação para mídia, participação das crianças na mídia, e apoio das políticas públicas nesta questão. Este trabalho apresenta suas considerações finais e não uma conclusão, pois para tal, seria necessário muito mais tempo de pesquisa. O que se buscou realmente não foi conclusão precisa, mas um assunto pertinente que pudesse proporcionar questionamentos e reflexão. 7 METODOLOGIA O presente trabalho busca analisar referências bibliográficas, e a partir delas estabelecer uma discussão sobre a relação entre a mídia televisiva e a educação da criança, sendo estas a formal ou informal, ou seja, a educação escolar ou familiar. O método utilizado neste trabalho é o indutivo, pois a questão colocada neste trabalho parte de uma experiência da realidade, que é a forte influência que a mídia televisiva exerce sobre a população de nosso país, e coloca também as constatações gerais, alicerçadas em referências bibliográficas, que mostra o quanto essa influência pode ser nociva à educação das crianças. A pesquisa se fundamenta em uma revisão e análise bibliográfica, tendo por objetivo explanar as histórias das mídias mais populares no Brasil, ressaltar a relação da criança com a mídia mais abrangente, que é a televisiva, e então mostrar as faces dessa relação no que diz respeito à educação e desenvolvimento geral das crianças, também busca através de suas considerações finais apontar caminhos para aperfeiçoar uma educação para mídia. 8 CAPITULO I 1. MÍDIA 1.1 O que é mídia? 1 A palavra mídia vem do latim media que significa meios. Este vocabulário foi importado para o nosso idioma através do inglês. O termo mídia foi criado a partir do aportuguesamento da palavra inglesa “media”, sendo que em 1968 formou-se o Grupo de Mídia São Paulo. Logo também toda imprensa no Brasil passou a se referir aos meios de comunicação como mídia e hoje com a popularização da informática, o termo é usado para se referir também aos discos, CDs e DVDs. Podemos distinguir vários tipos de mídia tanto a mídia capturada como, por exemplo, vídeo, áudio e fotografia, quanto mídia sintetizada, texto, gráfico e animação. Mídia é um termo utilizado para se referir a comunicação, que se apresenta através de vários significados como: meios e/ou veículos de comunicação e comunicação de massa. A mídia é utilizada principalmente na área da publicidade para anúncios diversos, mas também para a divulgação de informação, informes e entretenimento. 2. HISTÓRIA NO BRASIL 2.1 Rádio.2 A primeira transmissão radiofônica no Brasil aconteceu no dia 7 de setembro de 1922, por meio de uma instalação de uma estação de 500 W, no Rio de Janeiro pela Westinghouse Electric e a Companhia Telefônica Brasileira. Essa transmissão foi inaugurada com um discurso do presidente Epitácio Pessoa, seguida de transmissões de músicas líricas, conferências e concertos, sendo que na época havia apenas 80 aparelhos de rádio distribuído na cidade. 1 . Informação pesquisada na internet. Disponível em: . Acesso em: 10 de jul. de 2009. 2 . Informação pesquisada na internet. Disponível em: . Acesso em: 10 de jul. de 2009. 9 Foi somente em 1956 que houve a criação do transmissor o que possibilitou a fabricação de rádios menores e conseqüentemente portáteis. Três anos depois se inicia a transmissão de noticias jornalística ao vivo, com reportagens de rua e entrevistas fora da emissora. Em 1962 aconteceu a primeira transmissão via satélite, em 1966 surge o som estéreo e em 1970 surgiram as emissoras primogênitas no que diz respeito à freqüência modulada (FM). Segundo o IBGE em 1997 o porcentual de aparelhos de rádio nos lares brasileiros chegou a 90,3%. No ano de 2000 começa a ter destaque as rádios virtuais pela internet e em 2009, ano da realização deste trabalho, a rádio comemora 87 anos de transmissão pelo Brasil. 2.2 TV.3 A primeira rede de televisão no Brasil, a TV Tupi no Canal 3, foi inaugurada em 18 de setembro de 1950 em São Paulo por Francisco de Assis Chateubriand, o então proprietário da empresa de comunicação “Diário Associados”. O inicio da TV no Brasil teve caráter experimental, marcado por improvisos ao vivo, pois não existia o videotape. Na época o aparelho de televisão tinha um alto custo, pois esta era uma mercadoria importada, e adquirida apenas por poucas famílias. A emissora TV Tupi também foi a primeira a produzir e exibir um telejornal no Brasil intitulado “Imagens do Dia”, que foi ao ar no dia 19 de setembro de 1950. Logo, em 1952 e 1953, outros canais foram surgindo como a TV Paulista no Canal 5 e a TV Record no canal 7. Mas foi somente em 1960 que houve uma evolução técnica, surge então o videotape que permitia que os erros de gravação fossem previamente corrigidos para depois ir ao ar. Foi em 1965, mais precisamente em 26 de abril que entrou no ar a emissora TV Globo do Rio de Janeiro, que mais tarde se tornaria apenas Rede Globo. 3 . Informação pesquisada na internet. Disponível em: . Acesso em: 13 de jul. de 2009. 10 Na década de 60 a televisão a cores chega ao Brasil, mas devido ao alto custo do aparelho colorido, as transmissões a cores só se efetivaram na década seguinte, pecisamente em 1972 no dia 31 de março. Nesta mesma década a Rede Globo assumiu a liderança no Brasil no que diz respeito ao negócio televisivo, exibindo um gama de programações como telenovelas, jornais, filmes e seriados americanos, essa rede, transformou-se então, na principal fonte de programação que alcançaria milhares de brasileiros, formando opiniões, ditando costumes e tendências, exercendo grande influência na opinião publica até os dias atuais, algo que merece reflexão critica. Foi então que em 1981 surgem outras emissoras de televisão como a SBT e Rede Manchete, tendo em 1990 o início da disputa entre as três grandes emissoras (Globo, SBT e Manchete), por maior número de audiência, sendo que a Rede Manchete encerrou seu trabalho em 1999 dando lugar a atual Rede TV. As emissoras primogênitas de TV por assinatura chegaram ao Brasil em 1991, dominadas pelos grupos Abril e Globo, apresentando um crescimento lento nos primeiros 15 anos. A partir de 1994 com a implantação do plano real e conseqüentemente a economia ascendente, as camadas populares adquiriam aparelhos televisores com maior facilidade, mudando totalmente o perfil do telespectador e das programações da TV aberta, estas passaram a ter conteúdo erótico, sensacionalista e de exaltação da violência, banalizando completamente os conteúdos programáticos da mídia televisiva. 2.3 Internet.4 A internet surgiu na década de 60, no período da guerra fria, por meio de pesquisas militares, pois acreditava-se que qualquer ferramenta ou inovação poderia contribuir para a disputa liderada pelos dois blocos políticos antagônicos como os Estados Unidos e a União Soviética, sendo que estes dois sabiam da necessidade que tinham dos meios de comunicação. 4 . Informação pesquisada na internet. Disponível em: . Acesso em: 12 de jul.de 2009. 11 Porém a internet só chegou ao Brasil em 1988 e as redes ligavam apenas universidades brasileiras a instituições americanas. Foi somente a partir de 1997 que a internet alcançou nova fase no Brasil, tendo um aumento de acesso necessitando de infra-estrutura para alcançar mais velocidade e segurança, conseqüentemente requerendo mais investimentos em tecnologia. Segundo pesquisa feita pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas, a base instalada no Brasil de computadores chega a 40 milhões e em 2008 o comercio eletrônico no país movimentou 114 bilhões de dólares. Já o número de pessoas que se utilizam da internet, segundo a pesquisa da Ibope/NetRatings, chega a 18 milhões, a pesquisa também aponta que o tempo médio desse uso é de 22 horas e 26 minutos maior que outros países com França, Estados Unidos, Austrália e Japão. Nos capítulos a seguir buscaremos analisar a influência das mensagens da mídia televisiva em crianças, suas conseqüências e possíveis soluções. Capítulo II A mídia e a Criança. 12 A televisão teve sua inserção nos lares brasileiros na década de cinqüenta, sendo que a idéia de sua missão era levar uma ampla gama de informação, cultura e entretenimento. Porém essa visão foi distorcida em função do bom nome do beneficio comercial, com isso se revelou a aparição nociva dos conteúdos programáticos tanto na mídia televisiva quanto internet, radio, revistas e jornais. Todos esses conteúdos que certamente influenciam grande números de pessoas, acarretam também conseqüências físicas, psíquicos e sociais. Como coloca Soifer (1992) a intenção que se formara primeiramente em relação à televisão, era a respeito da universalização, isto é a aproximação dos povos por meio da união da imagem e palavra. Por outro lado ao unir a imagem à palavra, a televisão prometia a ampla difusão da informação e, com ela, a concretização da esperança de uma sólida e cabal aproximação entre os povos e diversas civilizações. (SOIFER, 1992, p. 9). Porém, toda essa idéia apregoada de disseminação da cultura e informação foi quase que totalmente deturpada, quando se observa que a televisão exerce total poder de atrair a atenção. Podemos observar que em todo estabelecimento, seja ele residencial ou comercial, existe a presença de um aparelho televisor ligado atraindo a atenção de milhares de pessoas. Nota-se então o constante funcionamento da televisão o que provoca a dispersão e muitas vezes a falta de diálogo ou um monólogo acrítico que gira em torno das questões colocadas pelos programas. Se voltando mais uma vez para a questão familiar, o diálogo que deveria ocorrer na hora da refeição ou em outros momentos é terminantemente substituído pela exigência do silêncio ou por desentendimentos ocorridos devido a escolha do programa a ser assistido. É comum que adultos dispensem horas de seu dia contemplando diversos programas televisivos e que também, como aponta Soifer (1992), as crianças tornam-se audiência passivas dessa atividade, sendo que a maioria das programações é nutrida de temas voltados a violência e pornografia, porém pais e educadores não se dão conta de que esse elemento tecnológico pode provocar fortes influências na formação da personalidade infantil. É importante frisar também que a televisão exerce hoje na sociedade, papéis diferentes daqueles que se propunha. Atualmente a TV serve como “babá eletrônica”, sendo esse um hábito muito comum entre os pais que colocam crianças desde seus primeiros meses em 13 frente ao aparelho com o objetivo de tranqüilizar o bebe, outro papel é o de companhia, pois a televisão é ligada para dar a sensação de que há mais alguém no recinto. É necessário, porém estarmos interados com dados oferecido em relação a mídia e sua dimensão, para refletirmos se é realmente benéfico, retirar a atenção da crianças de certas atividades que proporcione desenvolvimento físico e mental, para dedicá-las a programas de TV. Segundo dados apresentados pelo Ibope o aparelho de televisão está em pelo menos 92% dos lares em todo Brasil, sendo que este aparelho pode estar na sala, na cozinha, no quarto ou em todos esses cômodos ao mesmo tempo em somente uma casa, como dito antes, o aparelho de TV é um móvel doméstico e social, pois se encontra presente em casas, bares, comércio, consultórios, isto é, lugares públicos populares ao alcance de todas as pessoas inclusive crianças. Em relação à criança, o que se trata esse trabalho, essas passam em média 3,5 horas de seus dias assistindo programações desta determinada mídia. Segundo a Unesco, esse tempo é pelo menos 50% maior que o tempo dedicado a outras tarefas como escola, brincadeiras, lição de casa e afazeres domésticos. Levando em consideração que a maioria das crianças é educada pela mídia televisiva, como os conteúdos das programações se tornam referência na família e que o aparelho está sempre a disposição da criança, é necessário que se exija programas de qualidades levando em consideração a ética. Porém segundo Ulla e Feilitzen (2000) os conteúdos da mídia se baseiam em violência e pornografia e que a grande preocupação é a influência que os mesmos podem exercer sobre a criança. É de extrema importância ressaltar os dados apresentados pela Unesco que mostram o quanto o uso da mídia televisiva está cada vez mais individualizado, tornando cada vez mais difícil que os adultos sirvam de modelos ou acompanhem e discutam o que é assistido pelas crianças, isto é, não existe um acompanhamento do que as crianças assistem nem está presente um diálogo crítico sobre o que é visto. É interessante observar que os dados apresentam que mais da metade da população mundial é composta por jovens com menos de 29 anos, e as crianças 14 compõem 24% da população de países desenvolvidos e 40% de países em desenvolvimento, porém se observa que não existem programas de TV relevantes para essa faixa etária. A ONU em 1989 realizou a Convenção Sobre os Direitos da Criança e no artigo 17 coloca que a criança tem o direito a informação e acesso as fontes, apontando também a necessidade de “encorajar o desenvolvimento de orientações apropriadas para proteger a criança de informações e materiais prejudiciais a seu bem estar”, porém para que isso aconteça é necessário que o Estado incentive o desenvolvimento de orientações de modo a proteger a criança de mídia que lhe seja prejudicial, levando em consideração o direito de a criança ser informada e não invadida. O Estado tem por obrigação promover alternativas positivas, acesso verdadeiro, o mais importante é oferecer proteção contra abusos e se utilizar de medidas corretivas para evitar os efeitos das forças de mercado que violam os maiores interesses da criança (ULLA e FEILITZEN, 2000 p. 33). No artigo 13 desta mesma convenção, se apresenta a liberdade de expressão, porém combatendo a violência e no artigo 18 se coloca o papel dos pais e dos tutores legais em criar e formar a criança, mas em contra partida o que se vê nos programas de televisão em diferentes horários é conteúdo explicito de violência tanto na ficção quanto jornalístico, violência implícita e/ou simbólica como discriminação social, étnica e sexual, e também orientações culturais, visões de mundo, crenças, distribuição de valores e imagens frequentemente estereotipadas. Quanto aos pais, tutores e educadores, na maioria das vezes, não existe um adulto para intermediar e/ou explicar os conteúdos assistidos, não existe, nas escolas especificamente, uma educação voltada para mídia com o objetivo de ensinar a criança a aprender a lidar com a mídia de modo a refletir e a vê-la de modo crítico. Quanto aos conteúdos nocivos na mídia é interessante ressaltar que cerca de 52% das crianças e jovens no Brasil tem na televisão a diversão e entretenimento, sendo esses compostos por jogos, filmes e programas de entretenimento de acesso fácil com um conteúdo abastecido de pornografia, sexo, violência gratuita, exaltação da delinqüência. Conseqüentemente a violência é um instrumento de entretenimento usado com mais freqüência, lembrando que não é somente a violência física, mas também a social, étnica e sexual. 15 A violência social está também na própria distribuição da programação infantil que é feita irregularmente, pois os canais especiais de “nicho” como: DISNEY, FOX e NATIONAL GEOGRAPHIC, são canais considerados infantis e educativos, pertencem à rede de canais por assinatura que apenas algumas crianças têm acesso. É notável a exclusão social nesse aspecto, apenas poucas crianças tem acesso a programas de qualidade, o que aponta a pouca cooperação internacional para países com o mínimo de recursos. Verifica-se então que a crescente apologia a violência alcançou as famílias, por meio da mídia televisiva e conseqüentemente se alastrou pela sociedade tendo na escola um aumento considerável de manifestações violentas como, por exemplo, agressões físicas e verbais de alunos para professores, alunos para alunos, pais para professores e etc. segundo Belotti (1998) soma-se toda essa questão de violência mais a dificuldade do professor estabelecer a ordem na sala de aula, trabalhar os conteúdos e a metodologia tradicional, que tem como material de apoio apenas lousa, giz e saliva, se exclui outros tipos de recursos mais interessantes: “Soma-se a tudo isso, a metodologia tradicional (do giz, lousa e saliva) que exclui qualquer outro recurso de comunicação como rádio, gravador, TV, vídeo etc., que poderiam envolver os alunos e otimizar a aula”. (BELOTTI, 1998, p. xi). Quanto à comunicação, a televisão revolucionou esse fenômeno, pois simplificou a comunicação em uma mensagem que é transmitida de um emissor a um receptor, que passivamente recebe a mensagem e não possui meios de interagir, é nesse momento que confere a mídia transmitir além da informação sobre o mundo, mas também seu modo de interpretar e passar seus significado. Sem a interação nesta comunicação de apenas uma via (emissor – receptor) o diálogo entre pessoas se comprometeu, pois ninguém está habituado a falar e a ouvir, mas somente falar ou somente ouvir. No entanto a comunicação exerce um papel educativo importante e Belotti (1998) afirma que se transforma em uma segunda escola. Quanto a comunicação é importante levar em considerarão que nos dias atuais as crianças se relacionam muito mais com a mídia do que com seus pais ou seus pares. Arnaldo (2002) também faz uma colocação sobre a familiaridade que as crianças têm com a mídia, pois elas conhecem muito mais tais aparelhos e seus 16 programas do que seus pais e fazem isso de forma mais eficaz que os próprios adultos e muitas vezes sem a intervenção em forma de auxilio dos mesmos. Os pais da geração de hoje não aceitam que seus filhos estão mais familiarizados com a mídia do que eles próprios, que as crianças conhecem mais toda a programação da TV do que seus pais (por causa de seus “zappings” aleatórios, noturnos, pela TV). Elas até mesmo operam melhor o computador dos seus pais, que ainda fazem uso das contas feitas a lápis no papel, e procuram endereços e números de telefone em um pequeno caderno caído aos pedaços. (ARNALDO, 2002, p. 439). Apesar de todo esse avanço e capacidades das crianças em lidar com as mídias operantes atualmente, é necessário se constituir orientações voltada para mídia, sendo que essa orientação deveria ser direcionada, a pais, educadores e crianças, para se constituir mentes críticas frente às mensagens enviadas pelas diversas mídias principalmente a televisão que é o aparelho presente na maioria dos lares e de facílimo acesso das crianças. É importante que pais e educadores conheçam as mídias e sobre elas, para usá-las de forma a complementar a educação tanto formal quanto informal, aprendendo a usar a televisão para a manifestação da autonomia, do pensamento critico de cada criança em desenvolvimento e não para torna-lás alienadas e com pensamentos limitados. O próximo capitulo irá tratar sobre a relação ente a televisão, seus programas e os conteúdos destes, e a criança, as conseqüências da mensagem desta mídia na mente infantil em desenvolvimento. CAPITULO III A Televisão e a Criança. 17 Como já colocado anteriormente neste trabalho, a televisão é o meio de comunicação de massa mais presente na vida dos brasileiros e consequentemente é a mídia que mais forma a opinião a pública neste país, sendo então de grande influência na vida de crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos. O trabalho, porém tem como finalidade, focar a influência deste meio de comunicação em crianças em idade escolar fundamental. Este capítulo busca, baseado em autores, fundamentar o argumento de que a televisão exerce grande preponderância na mente infantil e que essa determinada mídia, não é tão essencial para a vida infantil ao contrário do que a maioria dos adultos pensam. Soifer (1992) coloca que psicologicamente todo espetáculo, isto é, programa de televisão, apresentação de circo ou teatro, exige do individuo uma atenção visual e auditiva veemente, fazendo com que outros sentidos sejam encobertos. A autora expressa que o mecanismo psíquico chamado de identificação projetiva leva a pessoa a sentir e pensar como o personagem do espetáculo e até mesmo sentir que de fato é o personagem. “A identificação projetiva [...] Constitui na projeção de parte de nós mesmos sobre o outro, razão pela qual o outro é visto como idêntico a nós [...]” (SOIFER, 1992, p. 17). Concomitantemente a essas sensações ocorre o fenômeno catarse, que é o processo que dá vazão as emoções contidas, reprimidas. Juntas, a identificação projetiva e a catarse proporcionam efeitos parecidos com os sonhos (de quando estamos dormindo), pois as tensões do inconsciente são descarregadas obtendo um alivio psíquico. É bem certo que podemos afirmar que existe uma grande diferença entre o descanso do sono e assistir aos programas de televisão, pois ao dormir as funções vitais do corpo diminuem possibilitando o descanso físico e mental. Já quando se assiste algum programa de televisão por muitas horas o que se obtém é a imobilização forçada e a regressão. Outra diferença entre o ato de dormir e sonhar, com a ação de assistir programações, é que quando dormimos precisamos, como Freud (1996) aponta, fechar nossos canais sensoriais, isto é, os olhos, e necessitamos também de silêncio para que nosso sistema auditivo também descanse. Consequentemente o choque que as mensagens televisivas, constituídas de sons e imagens, produzem na mente humana acontece devido a intensa 18 identificação projetiva e regressão, processos esses característico dos sonhos, mas que não trazem benefícios similares, muito pelo contrário, traz diversos prejuízos como a imobilização forçada, cenas assustadoras ou impróprias e poluição auditiva. Todos esses prejuízos citados, geralmente acarretam conseqüências graves à mente da criança que não consegue muitas vezes dar conta de processar em sua memória as rápidas seqüências de imagens e também interpretar e separar o real e a fantasia. Outras conseqüências sérias também são acarretadas devido: A) longo período que as crianças permanecem frente a televisão, B) ao fato de assistirem programações impróprias para a idade ou C) até mesmo assistirem cenas próprias para crianças mas sem a interação com um adulto que o leve a compreender ou a questionar o que foi visto, seja um desenho ou um comercial. Quanto ao primeiro tópico podemos colocar que em muitos casos crianças são entregues a famosa babá eletrônica (televisão) por horas, sem dedicar sua atenção em outros fins com: esporte, estudos, brinquedos e interação com seus pares. Isto acontece porque o aparelho de televisão dentro de casa possibilita o fácil acesso a qualquer hora, mantendo o mesmo ligado durante o dia e até mesmo até tarde da noite. Crianças em idade escolar passam a dormir extremamente tarde da noite assistindo juntos aos seus pais ou sozinhos, programas destinado ao público adulto. Segundo Soifer (1992) crianças durante a primeira infância precisam de 9 a 10 horas de sono em média, para que estas tenham quantidades de horas suficientes para um real descanso e que durante o dia elas possam ter mais disposição para as diversas atividades. Pikunas (1979) também adverte que muitas horas dedicadas à televisão, prejudica a atenção das crianças na escola causando nelas muita irritabilidade. Assistir a longos programas de televisão à noite contribui para a falta de atenção na escola; a longo prazo, produz a “síndrome da criança cansada”, que também é marcada por alta irritabilidade, pouco apetite e outros efeitos prejudiciais menos óbvios. (PIKUNAS, 1979, p. 73). Dispensar horas de atenção sendo mero receptor das mensagens televisivas impede que as crianças dediquem algum tempo para brincar, os brinquedos fazem 19 parte da aprendizagem da criança. É manuseando brinquedos e criando situações com eles que a criança desenvolve a consciência entre fantasia e realidade, como coloca Soifer (1992) que o brinquedo permite que a criança desenvolva diversas funções intelectuais. O brinquedo aparece dentro da tendência á aprendizagem como um intermediário entre a fantasia e a realidade: constitui uma atividade que a criança sabe que responde a fantasias, mas à qual, não obstante, vai incorporando elementos da realidade, enquanto exercita suas aptidões psicomotoras e sua destreza física. Além disso, permite-lhe desenvolver as diferentes funções intelectuais, isto é, a atenção, a concentração, a memória, a criação e a recriação. Forja, dessa forma, sua capacidade lógica, que inclui a indagação, o processo de passar pela prova da realidade e aceitar o erro e a relação entre causa e efeito. Implica também numa forma de comunicação, já que a criança transmite pelo ato de brincar suas fantasias e pensamentos aos outros, ao mesmo tempo em que aprende a compartilhar os objetos e a realizar tarefas em conjunto. É, portanto, essencial para o desenvolvimento intelectual da criança. (SOIFER, 1992, p. 22). Podemos então perceber o quão importante é para a criança em desenvolvimento, brincar e interagir com seus pares através dos brinquedos e brincadeiras ao contrário de dedicar sua atenção aos programas de televisão. Outra coisa importante é incentivar a criança a praticar algum exercício físico, da sua vontade, é claro, seja esse esporte (futebol, natação, vôlei e etc.) ou dança (balé, capoeira, jazz e etc.). Sabemos que muitas famílias não têm condições financeiras para garantir que seus filhos tenham acesso a algumas dessas atividades citadas acima, mas podem permitir e ajudar seus filhos a se exercitarem de outras maneiras, como brincadeiras que há muito não se brincam mais como: pular corda, amarelinha, pique-esconde, pega-pega e etc., brincadeiras essas que também ajudam a criança exercitar seu corpo, sua interação com seus pares, sua comunicação, sua criatividade e personalidade. É interessante lembrar que quando a criança passa muito tempo assistindo televisão, esta faz com que ela não se mobilize, pois suas atenções tanto visuais quanto auditiva estão concentradas no aparelho, fazendo com que sua capacidade de pensar seja bloqueada, ficando também condicionada a uma atitude de submissão e apatia, devido a falta de interação entre a criança e o aparelho de televisão. 20 Pensando no segundo tópico referente aos programas impróprios para a idade que as crianças assistem, podemos apontar a violência gratuita, pornografia e cenas de filmes que está na categoria terror, todos esses, quando assistidos por uma criança, passam a ser incorporados no seu inconsciente que ainda não tem maturidade suficiente para separar o real da fantasia. Segundo escreveu Soifer (1992) a criança precisa que as imagens das pessoas e dos objetos sejam constantes e continuas para gravá-las em sua memória, pois as crianças aprendem muitas vezes por meio da imitação, e as imagens televisivas, principalmente as impróprias para suas idades, acabam sendo confusas e assustadoras impossibilitando a organização intelectual das imagens e a própria organização de si próprias. Outro ponto muito importante é a fantasia dos programas vesus a realidade da vida, nos filmes em que os super-heróis sobem em paredes, pulam de prédios de muitos andares, batem ou até matam o adversário, sendo este de grande maldade, as crianças ficam aterrorizadas com as cenas ou as incorporam querendo ser o herói ou o vilão, sem conseguir separar a fantasia do que foi visto da realidade em que vivemos. Cenas que banalizam a vida subjugando-a a morte levam a mensagem de que matar é normal, crianças que estão em fase de desenvolvimento de sua personalidade e que assistem a esses tipos de episódios, geralmente apresentam características daninhas como ser desrespeitosas, maliciosas ou medrosas, desenvolvendo diversas síndromes como síndrome do pânico e terror noturno. Já Pikunas (1979) alerta para o fato de que a observação por muito tempo de cenas violentas, torna o individuo insensível aos sentimentos do semelhante: “A observação diária de sangue e sofrimento dessensibiliza as crianças e, por isso, suas reações empáticas à dor e ao sofrimento dos outros ficam embotadas”. (PIKUNAS, 1979, p. 73). Focando no terceiro tópico em que a criança assiste programas que supostamente condizem com sua faixa etária, podemos concordar que muitos desenhos animados, filmes e seriados que acreditamos corresponder a idade da criança e assistidos pelas mesmas, se observados mais profundamente, podemos perceber que muitos são programas importados de outra cultura principalmente norte-americana, que revelam costumes e maneira de comunicação diferente de nossa cultura brasileira. Outro ponto importante é que muitos desenhos animados apresentam questões como: pobreza de diálogo, situações diferentes de nossa 21 realidade e personagens com aparência dócil e inocente, mas que revelam atitudes maldosas (pica-pau, Tom e Jerry, Pato Donald e etc.), isto é, dão golpes, provocam quedas e explosões, preparam armadilhas, caem de grandes alturas e não morrem e etc. Tudo isso a criança assiste e não conta com a interação de um adulto para lhe explicar que nada daquilo pode realmente acontecer, sem que ocorram sérios acidentes ou até mesmo mortes. A morte passa a ser banalizada, naturalizada, e mostra o irracional como racional, como cair de uma grande altura e não morrer. Como constata Soifer (1992) muitas são as ocorrências em que crianças se machucam gravemente ou até mesmo chegam a morrer tentando imitar seus “super- heróis”. Devemos registrar também que é freqüente receber nos hospitais crianças com fraturas em conseqüência de atos imprudentes com que pretendiam imitar seus personagens. Em alguns países é impressionante o número de fraturas, atos de agressão contra outros e acidentes fatais que tem como causa esse desejo de imitação. (SOIFER, 1992, p. 26). Todo cuidado, em relação às mensagens fantasiosas apregoadas pelos programas de televisão e o modo como as crianças as recebem e as compreende, é ínfimo, pois o correto não é proibir o acesso aos conteúdos televisivos, mas saber o que realmente as crianças devem e podem assistir, porém é necessário fazer isto não somente através de uma ótica adulta, mas também, ouvir a opinião dos próprios telespectadores, isto é, as crianças. O capitulo a seguir tratará desta questão, do ouvir e olhar com que a criança pensa a respeito do que vê na TV, e um caminho com objetivo de melhorar a relação criança e mídia através da educação. Capitulo IV Mídia, Criança e Educação. A convenção da ONU sobre os Direitos da Criança, aponta que toda criança terá direito a liberdade de expressão para receber, procurar e compartilhar 22 informações ou idéias (artigo 13), as crianças também terão o direito de ter acesso às informações, especialmente as que promovam o bem-estar social, espiritual, moral e assegure sua saúde física e mental (artigo 17). O que podemos perceber é que esta convenção aponta os direitos das crianças não só em relação à mídia, mas também a sociedade em geral quando coloca que o Estado deve garantir que as crianças tenham liberdade para expressar seu ponto de vista, e de ter a oportunidade de ser ouvida (artigo 12). Também no artigo 17 encontramos que as informações buscadas pelas crianças devem objetivar seu bem-estar em todas as áreas, e que para isso acontecer o Estado deve encorajar as diversas mídias de massa a produzir programações e disseminar informações apropriadas às crianças, que atendam a necessidade de todas as crianças de diversas culturas, buscando o benefício social, cultural e que não sejam nocivos para o desenvolvimento das mesmas. Podemos observar que a mídia atualmente, principalmente a televisiva, está totalmente distante do que realmente se propõem na Convenção da ONU sobre os Direitos da Criança, o que se percebe é que a mídia ganha um espaço cada vez maior na sociedade, pois ela oferece comunicação pública e vastos programas de entretenimento, e segundo Feilitzen (2002), formando desta maneira, a opinião pública, uma arma tão poderosa da disseminação de idéias e opiniões, poderia servir então para ampliar a democracia plena e reforçar a cidadania: E como a mídia ganha um papel cada vez maior na sociedade, é por meio dela que boa parte da discussão e da comunicação pública acontece, é por meio dela que obtemos muitas de nossas idéias e a mídia deveria ser, portanto, um instrumento importante para a democracia. (FEILITZEN, 2002, p. 25). Porém na maioria das programações desta mídia nem sempre encontramos esses requisitos, especialmente em programas infantis ou os que se colocam “voltados” para as crianças. Acredita-se que a Convenção da ONU Sobre os Direitos da Criança não se materializou ainda em nosso país, pois em primeiro lugar: não existem ainda programações que realmente atendam as reais necessidades das crianças, segundo lugar: não existe por parte das políticas públicas, a devida proteção das crianças em detrimento dos conteúdos nocivos a elas, muito menos incentivos do Estado para a criação de programas educativos de qualidade, voltados para essa 23 categoria, terceiro lugar: não ocorre em nosso país uma educação voltada para a mídia que alcance a todos: alunos, pais, professores e os próprios produtores da mídia, que tenha como objetivo criar condições de programações mais favoráveis às crianças e que torne visível o pensamento crítico em relação as suas mensagens, quarto e último lugar: em decorrência de não ter essa educação para mídia, não ocorre também de maneira legitimada a participação das crianças na mídia e nem são ouvidas quando se expressam, ou melhor, não são encorajadas a se expressarem quanto mais participarem da mídia televisiva com suas opiniões. Considerando as pesquisas que mostram que as crianças passam maior tempo assistindo televisão em detrimento de outras atividades e que esse público é vulnerável as mensagens transmitidas por essa mídia, crê-se então que este assunto merece uma atenção especial. Quanto às programações para o público infantil, nem sempre esses atendem a necessidade real da criança, não visam o bom desenvolvimento tanto cognitivo quanto da personalidade das mesmas. Como já colocado anteriormente, os programas geralmente são importados de outros paises de cultura diferente da nossa diversificada cultura brasileira, e suas mensagens não são tão inocentes quanto parecem, muito pelo contrário, trazem um conteúdo violento e irreal. Pode-se destacar também a maneira como a imagem da criança é apresentada na televisão, segundo Feilitzen (2002) são imagens formuladas por adultos e do modo como esses enxergam as crianças, “Quando as crianças aparecem, as imagens são aquelas porque grupos de adultos vêem ou querem ver as crianças daquela forma” (FEILITZEN, 2002, p. 26). Na maioria das vezes, de modo sensacionalista (nos noticiários) ou modelos padrões (comerciais): criança branca, rica, inocente e comportada, ou crianças desobedientes (reality Show) que devem ser educadas, como novamente aponta Feilitzen (2002) mostra então o quanto as crianças são invisíveis à mídia, pois não são ouvidas ou vistas da maneira que merecem e necessitam. A ênfase excessiva de crianças em contextos violentos e de crimes nos noticiários e a ênfase excessiva de crianças boas inocentes nos anúncios indicam que as construções infantis tendem a ser ainda mais distorcidas na mídia puramente comercial. (FEILITZEN, 2002, p. 26). 24 Acredita-se então que as programações voltadas para o publico infantil, deve conter temas do interesse dessa categoria e apropriadas para a mesma, porém ao voltar o olhar para a mídia operante atualmente vemos que o único interesse que predomina, é o interesse da mídia privada, que objetiva o lucro e o sucesso dos produtos do mercado através da indústria de propaganda, conseqüentemente formando opiniões, difundindo padrão de vida, hábitos consumistas e segmento de pensamento acrítico. Já o poder público está distante desta questão, pois não vemos políticas que se materializem na prática de incentivar a produção de programas educativos com qualidade, como coloca Feilitzen (2002) “A Responsabilidade de pais e políticos também é grande e várias organizações desempenham um papel enorme na contribuição para uma melhor situação das crianças”. (FEILITZEN, 2002, p. 20). Os pais também são passivos as mensagens da mídia e por vezes tem as mentes cauterizadas em relação o quanto essas mensagens podem ser maléficas aos seus filhos. As crianças também vêem e ouvem, principalmente dos 8-9 anos em diante, a maioria dos tipos de programas de adultos, bem como certos noticiários, tarde da noite. As crianças também gostam de novelas e de programas de ação, entre outras razões, porque os consideram excitantes e acham que assim conseguem penetrar e entender os problemas morais e sociais do mundo adulto. (FEILITZEN, 2002, p. 24). Consequentemente os pais não protegem seus filhos disso e nem interagem com eles, quando permitem que esses tenham acesso aos programas considerados para adultos. Dando-se conta dessas falhas podemos afirmar que a crianças precisam de proteção, mas essa proteção é muito diferente de censura e diferente também de não deixar participar ou de ter acesso, segundo aponta Feilitzen (2002) a proteção não pode ser usada erroneamente: “Se a proteção significa impedir a criança de participar, ela pode ser usada de uma forma errada”. (FEILITZEN, 2002, p.28). Para que isso não ocorra é necessário que haja alguns caminhos a percorrer, e que todos esses visualizem o mesmo objetivo final, que aponta a autora, um ambiente de mídia favorável para o desenvolvimento das crianças. 25 O primeiro caminho a ser percorrido, para que aconteça uma mídia de qualidade para as crianças, seria obter uma educação voltada para a mídia, porém a mesma deveria alcançar as políticas públicas, os produtores de mídia, os professores, os pais e principalmente as crianças. Essa educação, como coloca Feilitzen (2002), teria que se tornar uma parte muito importante na democracia brasileira, para que todos participem da mídia, tenham um pensamento crítico sobre ela e compreendam que as mensagens divulgadas pela mesma têm um objetivo especifico, como aponta Feilitzen (2002) neste argumento: Fundamentando a educação para a mídia no processo pelo qual o conhecimento é motivado e construído, os alunos obtêm capacidade crítica. Pensamento crítico significa, por exemplo, capacidade para distinguir a fantasia da realidade, compreensão de que as mensagens da mídia são construções com fins específicos, compreensão do papel econômico, político, social e cultural da mídia nas comunidades locais/global, compreensão dos direitos democráticos, negociação e resistência, identidade cultural e cidadania do seu grupo, bem como dos outros. (FEILITZEN, 2002, p. 29). Educação para a mídia seria também fundamentada no conhecimento, nos interesses próprios das crianças, buscando sanar as curiosidades a partir do modo como elas compreendem a mídia e seus conteúdos programáticos. O trabalho do professor nesta educação seria trabalhar lado-a-lado aos alunos buscando sempre diminuir as distâncias entre o mundo infantil e o mundo adulto, no que diz respeito à mídia televisiva, para que o primeiro se beneficie quando compreendido pelo segundo, como afirma Feilitzen (2002): Portanto educação para mídia deve emanar dos interesses de mídia do aluno e não do professor, do gosto, criatividade e capacidade de participação do aluno e da forma como o aluno compreende a mídia e o mundo. (FEILITZEN, 2002, p. 29). Outro principio desta educação é o pensamento crítico, como já colocado anteriormente, a educação para mídia além de abranger a todos, deve também ser para uma compreensão crítica do individuo e da sociedade, isso seria possível através da produção das próprias crianças, pois como reforça Feilitzen (2002), o pensamento crítico não envolve somente a criticidade da compreensão dos programas, mas também na capacidade do produzir. Acredita-se que o diálogo, a pesquisa e a produção contribuem para ocorrer mais diálogo, reflexão e ação: 26 Alguns dizem que a produção é um meio estético para expressão, e um instrumento para a comunicação. Outros ressaltam que a produção resulta em um ciclo de ação, reflexão e diálogo, no qual os alunos, através de suas próprias escolas e praticas, parcialmente aprendem como a indústria da mídia trabalha e como suas mensagens e gêneros são formados. (FEILITZEN, 2002, p. 30). Ainda segundo Feilitzen (2002), essa educação deve ser para todas as mídias, não só a impressa ou a televisiva, mas todas, para que haja uma compreensão de todas essas, para resultar em democracia e análise do interesse dos governos, indústrias e dos donos da própria mídia: [...] a educação para a mídia deve envolver a participação tanto da nova tecnologia quanto da mídia tradicional de cada país, para poder resultar em maior democracia [...] a educação para a mídia não deve apenas analisar os interesses de governos e industrias domésticas na mídia, mas também deve dar atenção aos donos da mídia global. (FEILITZEN, 2002, p.31). A educação para a mídia deve focar também a participação das crianças na mídia, todas elas têm direito ao acesso e o direito de se expressar, mas somente por meio de uma educação emancipadora e crítica é que as crianças terão base suficiente para tal desprendimento. Essa educação tem seus meios e também um fim, pois não é somente educar para mídia, mas educar também para o exercício de uma democracia plena, é neste contexto que mais uma vez Feilitzen (2002) coloca: [...] as crianças e todos nós temos direito ao acesso democrático a informação, a sermos ouvidos e a nos expressarmos sobre assuntos que nos afetam, a educação para a mídia não significa apenas se ocupar com a mídia... O diálogo criativo e critico a reflexão, a participação e a ação fazem parte de um processo de aprendizagem e pratica que dará a todos os grupos e indivíduos da sociedade o direito de se expressar, de se desenvolver e de se libertar, independentemente da idade, gênero, condições sócio-economicas, cultura, língua e religião. (FEILITZEN, 2002, p. 30). Faz-se urgente uma educação para a mídia, que envolva a todos e todos os tipos de mídia, uma educação que valorize a democracia e consequentemente a liberdade de expressão das crianças. A partir dessa educação é necessário que ocorra a participação veemente das crianças na mídia, para que elas próprias digam o que é de seus interesses, isto é, programas, assuntos, horários, visando a qualidade dos conteúdos da mídia, como segundo Carmona (2002) aponta, programas que combinem criatividade, entretenimento e educação: “Programas que combinem criatividade, educação e entretenimento e que respeitem a inteligência 27 das crianças são desafiadores e, consequentemente agradáveis.” (CARMONA, 2002, p. 333). É preciso que os pais e educadores também participem da mídia buscando o bem estar das crianças. É exatamente por essa razão que a educação para a mídia deve alcançá-los também. Quanto às políticas públicas e a própria mídia, esses são os principais entraves, para que, uma educação voltada para a mídia se concretize, pois segundo Feilitzen (2002) existe infelizmente a falta de vontade por parte do governo, de subsidiar e de oferecer suporte econômico para a realização dessa educação. A própria mídia também não deseja com ardor essa educação, principalmente porque essa educação tem o objetivo de criar o pensamento crítico e a liberdade de expressão. A mídia justifica que programas que englobem as qualidades citadas mais acima, não se encaixam na rede de programações: Um outro fator que ode estar atrapalhando a educação para a mídia é a própria mídia. Isso pode manifestar, por exemplo, na dificuldade em reproduzir materiais audiovisuais para o uso em sala de aula, assim como em conseguir isenção dos direitos autorais de tais materiais, especialmente se os objetivos da educação para a mídia forem ensinar aos alunos a pensar criticamente sobre a mídia e a participar de forma democrática... A mídia não acredita que tais programas se encaixem na programação, não acha que o público esteja interessado no programas feito pelas crianças e assim por diante. Portanto, essa pode ser uma razão mais para as crianças estarem sub-representadas na mídia. (FEILITZEN, 2002, p. 32). Acredita-se que uma das razões pela qual, educadores e crianças devem buscar uma educação para a mídia e conseqüentemente a sua participação nela, reivindicando o apoio do governo para investir em tal realização, seja que a escola, com sua educação tradicional, se dispõem de poucos recursos para competir atenção com a mídia televisiva e as novas tecnologias. Porém não se pode esperar boa vontade, é necessário que a educação para mídia seja um campo de luta para a democracia e que rejeitar a mídia não é o caminho mais indicado, por isso, é necessário que se faça uso da mídia para complementar a educação formal e informal. Há caminhos que podem ser percorridos para que alcancemos uma mídia de qualidade para nossas crianças, caminhos que buscam uma mídia mais interativa e que se preocupe com a formação cognitiva, da personalidade, da criatividade, da moral, da ética dos nossos futuros cidadãos democráticos. Porém podemos ter uma 28 visão disso tudo de utopia, mas precisamos da utopia para caminhar em direção ao melhor, sem visualizar a utopia no horizonte não podemos de maneira nenhuma caminhar para ela e conseqüentemente sair do lugar e melhorar. Podemos afirmar que esses caminhos, utópicos ou não, são uma maneira de alcançar o que se deseja: mídia de qualidade e democrática para todas as crianças. Considerações finais Esta pesquisa buscou apontar caminhos que a mídia desvela aos olhos das crianças, não levando em consideração o desenvolvimento e a cultura destas. 29 Procurou também mostrar que nem sempre essa mídia é fundamental para a criança, com conteúdos que priorizam violência, pornografia, consumo e exaltação de atitudes sem escrúpulos, ela pode trazer conseqüências nada benéficas à mente das crianças e consequentemente ao seu desenvolvimento: cognitivo, moral e emocional. Porém não sendo o descarte dessa mídia uma opção desejável e nem possível, é, porém apresentado caminhos que tem por objetivo a interação entre mídia, educação e criança. São caminhos que abrangem pais, educadores, crianças, o governo e até a própria mídia. Essas opções como: educação para mídia, participação das crianças na mídia e investimentos, visam uma melhor qualidade de mídia, o cumprimento da convenção da ONU Sobre o Direito da Criança e o exercício pleno da democracia. É claro que essa educação precisa de grande mobilização, e como toda mobilização, gera uma grande mudança nas políticas públicas e na própria mídia. Mas também seria um espaço para a afirmação de uma democracia. Os pais e alguns educadores têm pensado muito pouco a respeito do quanto as crianças são influenciadas pelas mensagens da mídia e o quanto isso repercute no desenvolvimento delas e em seu desempenho escolar. As políticas de educação pública ainda pensam muito pouco nos malefícios que a mídia proporciona a criança e quando se pensa sobre o assunto, não existe mobilização para mudar o quadro, existem muitas barreiras. Esta pesquisa pretende desencadear uma provocação, para que os educadores estejam atentos a essa questão e busquem reagir com ações que a principio vão apresentar características invisíveis e inoperantes, mas que funcionarão lentamente, como sementes lançadas em boa terra. A educação para a mídia não vai ser necessariamente financiada pelo governo (devido aos poucos incentivos dessa área), mas tem a autonomia de acontecer dentro de cada sala de aula e contar com algum canal educativo, como por exemplo, a TV Cultura que segundo Carmona (2002) conta com programas educativos para crianças e adolescentes. Mais de 32% da população está na faixa de 0 aos 14 anos. No Brasil, a TV Cultura tem mostrado sua capacidade de atrais uma grande 30 proporção dessa faixa etária, oferecendo programas de qualidade tanto para as crianças quanto para adolescentes – programas que estão obtendo altos níveis de audiência, fato que foi rapidamente reconhecido pela televisão comercial. (CARMONA, 2002, p. 333). Isso nos faz acreditar que é possível sim pensar em uma mídia de qualidade, para as crianças e também para adolescentes, jovens e adultos. O exemplo da TV Cultura pode ser seguido por outras emissoras, se assim exigido pelo poder público que tem força de luta. Por causa da escola feita, podemos afirmar que a programação caminhou lado a lado com os princípios da cidadania e, durante seus trinta anos de história, a TV Cultura nunca esteve tão próxima do público como quando tomou essa orientação decisiva e estratégica. Foi quando pensou nos indivíduos em processo de desenvolvimento – crianças e adolescentes cujas personalidades estavam se formando – e quando pensou sobre a influência da TV na educação desta geração específica que o canal obteve seu grande apelo e aprovação dentro da comunidade. Bons programas para as crianças e sobre as crianças se tornou um princípio fundamental e foi sempre visto como obrigatório, mesmo no departamento de jornalismo do canal. (CARMONA, 2002, p. 333). Referências Bibliográficas: CARLSSON, Ulla.; FEILITZEN, Cecília V. A Criança e a Violência na Mídia. São Paulo: Cortez, 2000. 31 SOIFER, Raquel. A Criança e a TV uma Visão Psicanalítica. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991. BELOTTI, A. M. A. A Violência na TV e a Criança: Uma Analise com Criança de Terceira Série do Ensino Fundamental. Dissertação de Mestrado. Bauru: Unesp, 1998. FREUD, Sigmund. A Interpretação do Sonhos (I) (1900). Volume IV. Rio de Janeiro: Imago, 1996. PIKUNAS, Justin. Desenvolvimento Humano uma Ciência Emergente. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1979. CARLSSON, Ulla.; FEILITZEN, Cecília V. A Criança e a Mídia : Imagem, Educação e Participação. São Paulo: Cortez, 2002. Conteúdos Pesquisados na Internet: O que é Mídia. Disponível em: . Acesso em: 10 de Julho de 2009. Historia do Rádio. Disponível em: . Acesso em: 10 de Julho de 2009. Historia da TV no Brasil. Disponível em: . Acesso em 13 de Julho de 2009. História da Internet. Disponível em: . Acesso em: 12 de Julho de 2009. 32 ASSINATURAS: _____________________________________________ Profa. Dra. Célia Regina Rossi Orientadora ___________________________________________________ Lilian Silva de Lucas de Souza orientanda Rio Claro 16 de Outubro de 2009. CAPA FOLHA DE ROSTO FICHA CATALOGRÁFICA DEDICATÓRIA AGRADECIMENTOS RESUMO SUMÁRIO INTRODUÇÃO: METODOLOGIA CAPITULO I. MÍDIA CAPÍTULO II. A mídia e a Criança. CAPITULO III. A Televisão e a Criança. CAPÍTULO IV. Mídia, Criança e Educação. CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS