GABRIEL PEREIRA CONFORTO TÉRMICO EM SALA DE AULA NO CURSINHO POPULAR PRÉ-VESTIBULAR “IDEAL” EM PRESIDENTE PRUDENTE/SP Presidente Prudente 2021 GABRIEL PEREIRA CONFORTO TÉRMICO EM SALA DE AULA NO CURSINHO POPULAR PRÉ VESTIBULAR “IDEAL” EM PRESIDENTE PRUDENTE/SP Monografia apresentada ao Departamento de Geografia da Faculdade de Ciências e Tecnologia Júlio de Mesquita Filho – UNESP de Presidente Prudente, para obtenção do título de bacharel em Geografia. Orientadora: Margarete Cristiane da Costa Trindade Amorim PRESIDENTE PRUDENTE 2021 GABRIEL PEREIRA CONFORTO TÉRMICO EM SALA DE AULA NO CURSINHO POPULAR PRÉ VESTIBULAR “IDEAL” EM PRESIDENTE PRUDENTE/SP Monografia aprovada como requisito para obtenção do grau de bacharel em Geografia, pela Faculdade de Ciência e Tecnologia Júlio de Mesquita Filho – UNESP de Presidente Prudente, pela seguinte banca examinadora: Profª. Drª. Margarete Cristiane da Costa Trindade Amorim Departamento de Geografia FCT/UNESP Drª. Danielle Cardozo Frasca Teixeira Departamento de Geografia FCT/UNESP Gustavo Henrique Pereira da Silva Mestre em Geografia pelo Departamento de Geografia FCT/UNESP Presidente Prudente, 10 de março de 2021 P436c Pereira, Gabriel Conforto Térmico em sala de aula no Cursinho Popular Pré-Vestibular "Ideal" em Presidente Prudente / Gabriel Pereira. -- Presidente Prudente, 2021 96 p. : il., tabs., fotos, mapas Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado - Geografia) - Universidade Estadual Paulista (Unesp), Faculdade de Ciências e Tecnologia, Presidente Prudente Orientadora: Margarete Cristiane da Costa Trindade Amorim 1. Conforto Térmico. 2. Microclima. 3. Sala de aula. 4. Geografia. I. Título. Sistema de geração automática de fichas catalográficas da Unesp. Biblioteca da Faculdade de Ciências e Tecnologia, Presidente Prudente. Dados fornecidos pelo autor(a). Essa ficha não pode ser modificada. AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer, antes de mais nada, a Deus, pela saúde física e psicológica que me permitiu desenvolver este trabalho. Agradeço imensamente a minha orientadora Prof. Dra. Margarete Cristiane da Costa Trindade Amorim, que além de uma excelente profissional, é uma pessoa maravilhosa, que mesmo nos momentos mais difíceis de sua vida, não mediu esforços para atender e orientar este e tantos outros trabalhos. Não é à toa que é chamada de “mãe” pelos alunos do curso de Geografia. Muito obrigado. Agradeço a meus país, Miguel e Rosimeire, que me apoiaram de todas as formas para que eu pudesse chegar até aqui, me dando a oportunidade que eles não tiveram. Sou muito privilegiado de ter vocês. Agradeço a minhas irmãs, Shirley e Juliana, que também sempre me apoiaram. Lembro de vocês me levanto e buscando na escola, além de serem responsáveis por pelos meus primeiros passos de alfabetização, quando me ensinavam brincando de “escolinha”. Agradeço a meus sobrinhos, Rafael e Isabela, meus “companheirinhos” responsáveis por momentos felizes. Agradeço a meu cunhado Lucas, que me ajudou com alguns softwares. Agradeço a todo o pessoal do Gaia (Grupo de Pesquisa Interações na Superfície Terrestre, Água e Atmosfera), que sempre se mostraram prontos a ajudar. Em especial, agradeço ao Gustavo Henrique Pereira da Silva e a Janaina Lopes Moreira, por participarem da qualificação no início deste trabalho, cedendo dicas e orientações valiosas; e a Isabeli Azevedo, por várias vezes termos conversado sobre o tema da pesquisa, trocando dicas, informações e bibliografias. Agradeço a todos os professores e coordenadores com que tive a honra de trabalhar no Cursinho Ideal, a destacar Dablys Boaventura, Eduardo Chagas, Juliane Deltrejo, Debora Benitez, Thomé Atalla, Vitor Partite, Ana Maria Pacetti, Vinicius Otalora, Eric Candido e tantos outros. Também não posso deixar de agradecer todos os alunos que tive a honra de lecionar. Muitos passei a encontrar frequentemente pelo campus da universidade, outros se tornaram verdadeiros amigos. Mas agradeço sobretudo, a todos aqueles que tiraram um tempinho do seu dia para responder o questionário utilizado neste trabalho. Agradeço a todo o pessoal dos grupos de pesquisa CEGeT (Centro de Estudos de Geografia do Trabalho) e NEAPO (Núcleo de estudos de agroecologia do Pontal do Paranapanema). Foram estes grupos de pesquisas que me introduziram na pesquisa cientifica em meus primeiros anos de curso. Um agradecimento especial ao Cacá (Carlos Feliciano), meu primeiro orientador; ao Lucas Campesino, grande amigo que me “arrastou” para o grupo; a Maria Martins, que me ajudou muito com as burocracias da ciência e da produção cientifica; além de vários outros companheiros, como Gustavo Negrão, Ian Damasceno, Diógenes Rabello, Sidney Leal, Daniel Cantarutti, Antônio Thomaz Junior, Cássia Piva, João Lucas (que foi meu aluno no cursinho e depois trabalhou comigo no grupo), além de outros. Gostaria também de agradecer alguns professores e professoras que marcaram minha trajetória como aluno do ensino básico. Obrigado Jussara, Edméia, Cecília, Thaís, Mário, Alan e tantos outros. Por fim, agradeço também a todos os amigos que fizeram com que esta fase de graduação se tornasse um pouquinho mais leve. Entre eles, agradeço aos amigos do Marxter United (time que fundamos em referência ao Manchester United, para disputar os InterGeos e Lutas de Classes): Lucas Campesino, Lucas Araújo, Lucas (Aranha) de Britto, Guilherme Franco, Leandro Lima, Marcelo Bispo, João Turino, Victor Cordeiro, Claudio Dziura, Yuri de Lira, Ian Damasceno, Bruno Pereira e Lucas Salviano. Além de outros grandes amigos, como Matheus Galindo, Thiago Barranceira, Fernanda Vieira, etc. São tantos amigos que seria impossível listar todos aqui. A todos que acabaram ficando de fora desta lista, sintam-se também agradecidos. Muito obrigado a todos. RESUMO Os seres humanos, quando expostos a sensação de desconforto térmico, ativam mecanismos termorreguladores. Este processo representa gasto extra de energia e consequentemente redução do desempenho para trabalho, inclusive trabalho relacionado ao processo Ensino-Aprendizagem, portanto, este tema representa ampla relevância para se pensar a qualidade da educação. A partir de uma metodologia baseada no Sistema Clima Urbano de Monteiro (1976), na Análise Rítmica de Monteiro (1971) do mês de outubro de 2020, no registro das condições termo- hidrométricas do interior das salas de aulas e do ambiente externo através de miniestações automáticas, da aplicação do Índice de Conforto Térmico de Thom (1959), e na análise da resposta de questionário online aplicado a professores e alunos do Cursinho, buscou-se analisar se há desconforto térmico e seus efeitos. O Cursinho Popular Pré-Vestibular Ideal, recorte deste estudo, é um projeto de ampla relevância social, que atende jovens historicamente desprivilegiados, auxiliando-os a ingressarem em universidades, possibilitando uma futura ascensão social a diversas famílias. O Cursinho, está localizado em Presidente Prudente, cidade de porte médio, no oeste do estado de São Paulo, de latitude 22º 07’ 04’ Sul, e longitude 51º 22’ 57’’ Oeste. Os resultados demostraram que há frequente desconforto térmico para calor nas salas de aulas, repercutindo negativamente nas atividades desenvolvidas. Palavras-chave: Conforto térmico. Sala de aula. Presidente Prudente. Geografia. RESUMEN Los seres humanos, cuando expuestos a la sensación de malestar térmico, activan mecanismos termorreguladores. Este proceso representa un gasto extra de energía y consecuentemente una reducción en el desempeño para el trabajo, incluido el trabajo relacionado con el proceso de Enseñanza-Aprendizaje, por lo que este tema representa una amplia relevancia para pensar en la calidad de la educación. Por través de una metodología basada en lo Sistema Clima Urbano de Monteiro (1976), en la Análisis Rítmica de Monteiro (1971) de octubre de 2020, en el registro de condiciones térmicas y de humedad en las clases y el ambiente externo a través de estaciones automáticas portátiles, a partir de la aplicación del Índice de Bienestar Térmico de Thom (1959), y en el análisis de las respuestas a un cuestionario em linea aplicado a profesores y alumnos del curso popular preparatorio para la selectividad universitaria, se buscó analizar si existe malestar térmico y sus efectos. El Curso popular preparatorio para la selectividad universitaria “Ideal”, sitio de este estudio, es un proyecto de amplia relevancia social, que atiende a jóvenes históricamente desfavorecidos, ayudándoles a ingresar a las universidades, posibilitando una futura ascensión social para varias familias. El Curso está ubicado en Presidente Prudente, una ciudad de tamaño mediano en el oeste del estado de São Paulo, en la latitud 22º 07 ’04’ Sur y la longitud 51º 22 ’57’ ’Oeste. Los resultados mostraron que hay frecuentes situaciones de malestar térmico por calor en las clases, incidiendo negativamente en las actividades desarrolladas. Palabras Claves: Bienestar térmico. Clase. Presidente Prudente. Geografía. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Localização do Cursinho Ideal em Presidente Prudente/SP. .................... 36 Figura 2 - Mapa de Localização de Presidente Prudente/SP .................................... 38 Figura 3 - Mapa de Classes Altimetrias do relevo do município de Presidente Prudente/SP .............................................................................................................. 40 Figura 4 - Massas de ar na América do Sul. ............................................................. 42 Figura 5 - Instalação de miniestação automática em sala de aula ............................ 53 Figura 6 - Localização da instalação das miniestações automáticas no ambiente interno e externo ....................................................................................................... 54 Figura 7 - Aspectos da sala de aula: janelas. ............................................................ 62 Figura 8 - Aspectos da sala de aula: tijolos vazados. ................................................ 62 Figura 9 - Aspectos da arquitetura da sala de aula. .................................................. 62 Figura 10 - Croqui da localização do Cursinho Ideal, no Núcleo Morumbi da FCT/Unesp de Presidente Prudente. ........................................................................ 63 Figura 11 - Carta Solar com Edifício. ........................................................................ 64 Figura 12 – Carta Solar com transferidor .................................................................. 64 Figura 13 - Gráfico de Análise Rítmica referente ao mês de outubro de 2020, em Presidente Prudente/SP. ........................................................................................... 66 Figura 14 – Gráfico referente pergunta 1 do questionário ......................................... 73 Figura 15 - Gráfico referente pergunta 2 do questionário .......................................... 73 Figura 16 - Gráfico referente pergunta 3 do questionário .......................................... 73 Figura 17 - Gráfico referente pergunta 4 do questionário .......................................... 75 Figura 18 - Gráfico referente pergunta 5 do questionário .......................................... 75 Figura 19 - Gráfico referente pergunta 6 do questionário. ......................................... 76 Figura 20 - Gráfico referente pergunta 7 do questionário .......................................... 76 Figura 21 – Gráfico referente pergunta 8 do questionário ......................................... 76 Figura 22 - Gráfico referente pergunta 9 do questionário .......................................... 77 Figura 23 - Gráfico referente pergunta 10 do questionário. ....................................... 78 Figura 24 - Gráfico referente pergunta 11 do questionário. ....................................... 79 Figura 25 - Gráfico referente pergunta 12 do questionário. ....................................... 80 Figura 26 - Gráfico referente pergunta 13 do questionário ........................................ 81 file:///D:/TCC/CORREÇÕES_TG_Confoto%20térmico%20IDEAL_Gabriel%20Pereira.docx%23_Toc68000493 file:///D:/TCC/CORREÇÕES_TG_Confoto%20térmico%20IDEAL_Gabriel%20Pereira.docx%23_Toc68000496 file:///D:/TCC/CORREÇÕES_TG_Confoto%20térmico%20IDEAL_Gabriel%20Pereira.docx%23_Toc68000499 Figura 27 - Gráfico referente pergunta 14 do questionário. ....................................... 82 Figura 28 - Gráfico referente pergunta 15 do questionário. ....................................... 83 Figura 29 - Nuvem de palavras a partir da contribuição dos participantes do questionário. .............................................................................................................. 84 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Municípios atendidos e número de alunos por município no ano de 2019 (Cursinho Ideal) ......................................................................................................... 30 Tabela 2 - Número de aprovações de alunos no período de 2016 a 2018. ............... 31 Tabela 3 - Número total de inscrições para o processo seletivo do Cursinho Popular Pré-Vestibular Ideal no período de 2017 a 2019. ...................................................... 32 Tabela 4 - Normais Climatológicas (1981 - 2010) - Presidente Prudente/SP ............ 44 Tabela 5 - Temperatura superficial dos materiais para condições climáticas determinadas pela ASTM E 1980-98 ........................................................................ 58 Tabela 6 - Valores de Coeficiente de Absorção da Radiação Solar (α), específico de pintura. ...................................................................................................................... 60 Tabela 7. Temperatura Efetiva (THOM, 1959) no ambiente externo de Presidente/SP em outubro de 2020. ................................................................................................. 69 Tabela 8. Temperatura Efetiva no interior das salas de aulas do Cursinho Ideal em Presidente Prudente/SP, em outubro de 2020 .......................................................... 69 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 10 2. OBJETIVOS .......................................................................................................... 19 2.1. Objetivos Gerais ...................................................................................... 19 2.2. Objetivos Específicos .............................................................................. 19 3. CONFORTO TÉRMICO ........................................................................................ 20 3.1. Breve histórico dos estudos de clima urbano e conforto térmico ...... 20 3.2. Conforto térmico e arquitetura escolar .................................................. 23 3.3. Processos térmicos envolvendo o organismo humano ....................... 25 3.4. Definições de conforto térmico .............................................................. 28 4. CURSINHO POPULAR PRÉ-VESTIBULAR IDEAL ............................................. 29 4.1. História e relevância do Cursinho Ideal ................................................. 29 4.2. Dificuldades no Cursinho Ideal .............................................................. 33 4.3. Funcionamento, localização e espaço físico ......................................... 35 5. CARACTERIZAÇÃO DE PRESIDENTE PRUDENTE .......................................... 38 5.1. Características Gerais do Município ...................................................... 38 5.2. Características Climáticas do Município ............................................... 40 6. PROCEDIMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS....................................... 44 6.1. Sistemas Clima Urbano (S.C.U) .............................................................. 45 6.2. Escala de Análise ..................................................................................... 46 6.3. Breve análise arquitetônica .................................................................... 48 6.4. Análise Rítmica ........................................................................................ 49 6.5. Índice de Conforto Térmico .................................................................... 51 6.6. Aferição da temperatura e umidade do ar em sala de aula e em ambiente externo ............................................................................................................. 52 6.7. Elaboração do Questionário ................................................................... 55 7. RESULTADOS ...................................................................................................... 57 7.1. Breve análise arquitetônica .................................................................... 57 7.2. Análise rítmica do mês de outubro de 2020 .......................................... 65 7.3. Registro da temperatura e umidade relativa do ar no interior da sala de aula e no ambiente externo ............................................................................ 68 7.4. Análise das respostas do questionário sobre o conforto/desconforto térmico ............................................................................................................. 72 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 85 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 89 10. ANEXOS ............................................................................................................. 92 APRESENTAÇÃO O ímpeto por estudar este tema, isto é, conforto térmico em sala de aula no Cursinho Popular Pré-Vestibular “Ideal”, nasceu sobretudo a partir de minha experiência pessoal/profissional como professor/monitor de História Geral do projeto em questão. Durante quatro anos, frequentei o espaço e senti na pele os efeitos das condições termo-hidrométricas do ambiente no corpo humano e no desenvolvimento das atividades, entendendo, portanto, a relevância do assunto. Como trata-se de um trabalho em que o pesquisador possui consideráveis relações com o objeto e recorde de estudo, naturalmente em alguns momentos do texto, acabo por adotar brevemente a linguagem pessoal para descrever experiências e percepções empíricas, sem comprometer, no entanto, os resultados e a ética da pesquisa. 14 1. INTRODUÇÃO Nos primórdios da humanidade, os seres humanos dependiam da natureza na sua forma mais natural, isto é, sem grandes modificações no ambiente. Os seres humanos extraiam da natureza recursos fundamentais para sua sobrevivência, e estavam à mercê de condições geográficas e do próprio ritmo da natureza. Constantemente, eram obrigados a migrarem em busca de novos recursos, já que não eram capazes de repor os extraídos e nem controlar sua (re)produção. A domesticação de animais e plantas representou um avanço técnico fundamental. Ela foi capaz de fixar os seres humanos em um determinado espaço terrestre por longos períodos. Santos (2004) aponta que os seres humanos estavam, a partir deste momento, modificando a natureza e impondo suas leis. Estes avanços técnicos juntamente com a fixação do ser humano em um dado espaço terrestre, possibilitou maior disponibilidade de alimentos e consequentemente, agrupamentos humanos cada vez mais numerosos. A vida em sociedade aflorava, e com ela a necessidade de organização. Neste contexto, irá surgir o Estado. Sua função primordial, neste momento, era dividir o trabalho e controlar a distribuição de alimentos. Isto porque, conforme a técnica avançava, e consequentemente sua produtividade, mais indivíduos da sociedade estavam desobrigados de produzir o próprio alimento, podendo se dedicar a outras funções, como segurança, papeis administrativos, religiosos e astronômicos, por exemplo (SPÓSITO, 1988). Ao longo do tempo, as funções burocráticas, administrativas, artesanais, comerciais, entre outras, foram se concentrando em um dado espaço. Podemos atribuir a este processo de concentração de funções e de indivíduos desobrigados de produzir alimento, ao nascimento da cidade e a sua paulatina distinção entre meio urbano e rural. Spósito (1988, p. 18), enfatiza, no entanto, que as cidades da Antiguidade, “embora fossem resultado do social e do político enquanto processo, as primeiras cidades tiveram suas localizações determinadas pelas condições naturais (...)". Isto significa que, por mais que a técnica da produção de alimentos estivesse em desenvolvimento, os seres humanos ainda não eram capazes de modificar condições geográficas como solos, clima, disponibilidade de água entre outros elementos 15 naturais, e, portanto, buscavam se localizar próximos a locais naturalmente favoráveis. O apogeu da cidade da antiguidade ocorreu durante o Império Romano. Com a queda deste, e o início do período conhecido como Idade Média, as cidades passaram pelo intenso processo de desarticulação, desagregação e êxodo urbano, que marcou a Europa Medieval. As cidades vão voltar a ganhar ampla relevância neste continente, séculos depois, com a ascensão da burguesia e do modo de produção capitalista. Este processo ficou conhecido como Renascimento Comercial e Urbano e foi responsável por ascender à Cidade Moderna, como ficou conhecida, concentrando pessoas e funções (SPÓSITO, 1988). As Revoluções Industriais, dos séculos XVIII e XIX, na Inglaterra, foram fundamentais para chegarmos na cidade que conhecemos hoje. Com elas, houve um acelerado processo de êxodo rural e urbanização de forma desordenada, vinculado a uma intensa modificação da natureza através da técnica humana, capaz de alterar o meio, de forma inimaginável décadas antes e provocando intensos impactos sociais e ambientais (SPÓSITO, 1988). No Brasil, este processo de urbanização mais acentuado, aconteceu principalmente a partir da década de 1950, devido a revolução técnica e científica, marcada pela entrada de uma nova lógica capitalista industrial no país. A cidade passou a ser vista como lugar de oportunidade, incentivando o êxodo rural, e o crescimento ainda mais desordenado das cidades (SANTOS, 1991). As cidades brasileiras, no entanto, não possuíam infraestrutura necessária para absorver todo o afluxo de pessoas e atividades, gerando graves problemas de ordem social e ambiental. Falta de moradias, moradias precárias e inadequadas, falta de abastecimento de água e de saneamento básico, transporte inadequado ou inexistente, problemas relacionados ao destino final do lixo e esgoto, ocupação de áreas de risco e áreas insalubres, são alguns dos problemas sociais e ambientais que, segundo Vicente (2001, p. 11), foram enfrentados na época e estão ainda hoje em pauta no Brasil. Com base em Santos (1991), Viana (2013, p.21), escreve que: A sociedade atual escolheu como morada a cidade e nela a vida e as condições ambientais tem se desenvolvido de maneira imprópria. Nesse sentido, as cidades podem ser entendidas como organizações 16 excelentemente humanas, nas quais o homem atua com toda a sua plenitude, transformando a natureza em prol de suas necessidades Vicente (2001, p. 11) irá dizer que “a cidade tornou-se a expressão máxima da ação antrópica no espaço”. No mesmo sentido, Monteiro (1976, p.54), escreveu: (...) seja pela implosão demográfica, seja pela explosão de atividades, os espaços urbanos passaram a assumir a responsabilidade do impacto máximo da atuação humana sobre a organização da superfície terrestre e na deterioração do ambiente. Este impacto de atuação humana na superfície terrestre, não se restringe ao solo ou a água, mas atinge e altera também a atmosfera urbana. Essa alteração da atmosfera urbana acontece como consequência de uma série de fatores, como por exemplo, a poluição do ar, a geração própria de calor nas cidades, a mudança na dinâmica dos ventos devido às edificações, a impermeabilização do solo, a canalização de rios e córregos, e a considerável redução da cobertura vegetal arbórea. A atmosfera urbana, passou a apresentar consideráveis diferenças em relação a atmosfera rural, teoricamente menos modificada. Portanto, as condições atmosféricas nesta parcela do espaço terrestre e seus estudos serão denominados de clima urbano (MONTEIRO, 1976). Os estudos de clima urbano podem apresentar diferentes vertentes e objetivos. No Brasil, atualmente, os mais comuns são estudos relacionados ao impacto da precipitação no ambiente urbano, ondas de calor, ilhas de calor, clima e saúde, conforto térmico, entre outros, que de modo geral, visam melhorar a saúde e conforto das pessoas no ambiente urbano. Os citadinos, isto é, as pessoas que vivem nas cidades, passam a maior parte do seu tempo e de suas vidas, dentro de ambientes fechados. Ou seja, ambientes internos de edificações como casa, trabalho e escola. Portanto, quando pensamos em conforto (térmico ou não) humano no ambiente urbano, inevitavelmente entramos em discussões relacionadas a edificações e, consequente, a arquitetura. Segundo Viana (2013, p. 21), historicamente “As edificações têm como finalidade abrigar as pessoas das intempéries climáticas (a chuva, o vento, o calor, o 17 frio) e proporcionar conforto a seus habitantes”. A autora aponta ainda que “Muitas estruturas urbanas já foram construídas através do tempo, levando em consideração o clima local” (p. 21). Esta preocupação de adequar as edificações ao clima local historicamente busca melhorar o conforto humano nos ambientes, com grande destaque a busca pelo conforto térmico. O desconforto térmico humano, pode trazer sérios prejuízos à saúde fisiológica e psicológica dos indivíduos. Entre seus principais efeitos, temos uma considerável redução da produtividade humana na realização de suas atividades, incluindo não só atividades físicas, mas também atividades intelectuais como o processo de Ensino-Aprendizagem (FROTA; SCHIFFER, 2003). Deste modo, o estudo do conforto térmico em ambientes escolares, assume caráter primordial na busca pela melhoria da educação. Não basta, em um ambiente educacional as carteiras, a lousa e os professores, por melhores que sejam. Se os alunos, e até mesmo os professores, não estiverem saudáveis e minimamente confortáveis, a realização de suas atividades serão consideravelmente prejudicadas. Alterações no humor, desconcentração, inquietação e sonolência, são alguns dos sintomas adversos resultantes do desconforto térmico, prejudiciais no processo Ensino-Aprendizagem. A partir de uma metodologia baseada na proposta teórica Sistema Clima Urbano (S.C.U) de Monteiro (1976), na análise rítmica do mês de outubro de 2020 em Presidente Prudente, no registro das condições de temperatura e umidade relativa do ar no interior das salas de aulas e no ambiente externo, na aplicação do Índice de Temperatura Efetiva de Thom (1959), e na participação dos alunos e professores por meio de questionário online, buscou-se reconhecer situações de desconforto térmico e seus efeitos nas salas de aulas do Cursinho Popular Pré-Vestibular Ideal, localizado na cidade de Presidente Prudente/SP. Podemos considerar como hipótese principal deste estudo, portanto, que há desconforto térmico, sobretudo para calor no interior das salas de aulas do Cursinho Popular Pré-Vestibular Ideal. A segunda hipótese, é que o desconforto térmico tem impactos negativamente no processo ensino-aprendizagem. Além destas duas hipóteses principais, temos uma terceira hipótese: a de que o edifício na qual está inserido o cursinho, apresenta uma arquitetura inadequada para o clima local e consequentemente inadequada para a função educacional. 18 Para demostrar o estudo proposto, este trabalho foi estruturado da seguinte maneira: objetivos, questões relacionadas ao conforto térmico, apresentação da relevância, dificuldades, espaço e funcionamento do Cursinho Popular Pré-Vestibular Ideal, caracterização geográfica de Presidente Prudente/SP, procedimentos metodológicos, resultados, e finalmente as considerações finais. 19 2. OBJETIVOS 2.1. Objetivos Gerais Identificar possíveis registros de conforto e/ou desconforto térmico no interior das salas de aula do Cursinho Popular Pré-Vestibular Ideal, bem como analisar os impactos da condição térmica com o desempenho das atividades desenvolvidas no processo ensino-aprendizagem para professores e alunos. 2.2. Objetivos Específicos ▪ Comparar o ambiente externo e interno com base no índice de Temperatura Efetiva de Thom (1959). ▪ Compreender a percepção dos estudantes e professores a respeito da qualidade térmica da sala de aula, e a relação com o desempenho nas atividades desenvolvidas; ▪ Analisar arquitetura do prédio conforme os elementos do microclima; ▪ Avaliar e propor medidas mitigatórias, caso seja constatado eventual estresse térmico. 20 3. CONFORTO TÉRMICO As preocupações a respeito do conforto humano em ambientes construídos e alterados, estão ganhando cada vez mais destaque nas últimas décadas. O conforto ambiental, como são chamados esses estudos, visam melhorar a sensação de conforto humano e consequentemente sua saúde e produtividade em ambientes construídos, otimizando recursos, como energéticos, por exemplo, através de um planejamento racional das edificações e até mesmo das cidades como um todo. Segundo Frota e Schiffer (2003), o conforto ambiental, considera a interação de 3 fatores importantes para o conforto humano: o conforto lumínico, o conforto acústico, e o conforto térmico. Neste estudo, entretanto, como o próprio título sugere, iremos nos concentrar em questões relacionadas ao conforto térmico. 3.1. Breve histórico dos estudos de clima urbano e conforto térmico O primeiro estudo com relação a atmosfera no ambiente urbano foi realizado por Evelyn, na cidade de Londres, em 1661, portanto, antes mesmo da primeira Revolução Industrial (GÓMEZ, 1993). As Revoluções Industriais, que ocorreram entre os séculos XVIII e XIX, na Europa, foram responsáveis por modificar consideravelmente as cidades. Entre as mudanças estavam: a reorganização do espaço urbano, um aumento expressivo no êxodo rural e da demografia urbana, além da poluição e a consequente alteração da atmosfera urbana. De lá para cá, o estudo do clima urbano passou a ganhar mais importância por dois motivos básico: a significativa diferença entre a atmosfera urbana e rural, além dos estudos estarem voltados muitas vezes ao conforto de vidas humanas cada vez mais agrupadas nas cidades. Já em meados do século XVIII, devido as aglomerações crescentes de pessoas nas cidades, surgiram preocupações maiores em relação as condições de higiene e conforto humano nos ambientes urbanos. A higiene era importante para evitar proliferações de bactérias, fungos e vírus que pudessem causar epidemias e prejudicar o bem-estar humano. Ainda em meados do mesmo século, o conforto humano adquiriu a conotação de bem-estar termofisiológico, ou seja, sendo enfatizada a importância térmica para o conforto humano (VICENTI, 2001). 21 Em 1916, presidida por Winslow, a Comissão Americana de Ventilação, desenvolveu os primeiros estudos a respeito da influência das condições térmicas e higrométricas (umidade), no rendimento do trabalho. Seu principal objetivo, era possibilitar maior rendimento do trabalho físico operário, além de compreender o comportamento do corpo humano em caso de guerras, por exemplo, em que indivíduos se deslocavam para regiões com climas diferentes (FROTA; SCHIFFER, 2003). Em 1818, em Londres (cidade precursora e por muito tempo a capital da Industria no mundo), o químico Howard, realizou um estudo sobre a contaminação do ar, e acabou identificando uma elevação térmica de 2,2ºC entre a atmosfera urbana e atmosfera circunvizinha a malha urbana. Estava provado que a poluição advinda da queima do carvão nas indústrias, impactava termicamente no ambiente urbano (OKE, 1981 apud VIANA, 2013). Em 1927, em Viena, Schmidt utilizou veículos a motor para coletar dados térmicos em um trajeto urbano, possibilitando traçar perfis e elaborar o primeiro mapa de temperatura urbana (GÓMEZ, 1993). Kratz, em 1937, atribuiu ao balanço de radiação diferenciada, a gênese das temperaturas urbanas mais elevadas durante a noite em relação ao campo, o que pode ser visto como o ponta pé para os estudos de ilha de calor (GÓMEZ, 1993). Viana (2013), aponta que, após a Segunda Guerra Mundial, intensificou-se os estudos relacionados a atmosfera urbana. Segundo a autora, isso se deve ao crescimento das áreas metropolitanas, e a consequente contaminação do ar pela poluição. Talvez pudéssemos acrescentar a isso, a maior disponibilidade de tecnologias, como computadores e Sistemas de Posicionamento Global (GPS’s), por exemplo, além de outras ferramentas de pesquisa cada vez mais acessíveis. Em 1963, Olgyay, descreveu dois métodos de investigação em relação aos efeitos do clima sobre o organismo humano. Um a respeito dos efeitos negativos do clima, como o estresse, dor, doenças e até a morte; enquanto, o outro, procura interpretar a produtividade, energia e saúde física e mental do ser humano. Além disso, este autor foi o primeiro a desenvolver um gráfico com valores de temperatura em um eixo, e umidade relativa do ar em outro eixo, delimitando uma zona de conforto térmico (VIANA, 2013). 22 Em 1965, graças a Chandler, Londres passou a ser a primeira cidade do mundo a ter seu clima intraurbano detalhadamente estudado. Este foi um estudo de grande relevância para a climatologia urbana, influenciando, inclusive, a multiplicação deste tipo de estudo, sobretudo na Europa e na América do Norte, incentivados pela Organização Mundial de Meteorologia (OMM) (VIANA, 2013). Oke, (1978), obteve reconhecimento internacional, ao definir duas ordens de grandeza para o clima urbano: urban boundary layer (camada limite urbana); urban canopy layer (dossel urbano) (VIANA, 2013). Landsberg (1981), deixou sua contribuição relevante ao estabelecer uma síntese para a compreensão do clima urbano. Segundo o autor, a cidade modifica o clima urbano através de modificações na superfície, na ventilação, umidade e até nas precipitações. A cidade ainda produz um aumento de calor, e altera a composição química da atmosfera, sendo este último fator, o de maior influência no clima urbano (VIANA, 2013). Viana (2013), aponta um notório enfoque na poluição, e na estrutura vertical que estes trabalhos realizados em climas temperados possuíam, evidenciando um foco muito mais meteorológico do que geográfico. Atributos como a morfologia, arborização, rugosidades e clima local, foram pouco considerados. Os estudos sobre as cidades de climas tropicais são mais recentes. No entanto, tendem a associar a cidade ao seu contexto geoecológico e geourbano de maneira mais explicita. Nestes trabalhos, relevo, vegetação, hidrografia e outros fatores tem sido evidenciados na análise do clima urbano, destacando o caráter geográfico dos mesmos (VIANA, 2013). No Brasil, tivemos vários e importantíssimos trabalhos neste sentido, cujo precursor foi Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, que em 1976, formalizou uma teoria para estudar o clima urbano através de uma perspectiva teórica inovadora capaz de atingir tanto fatos amplos e complexos, como simples e restritos. Ao formalizar o Sistema Clima Urbano (S.C.U.), sua teoria, o autor definiu três subsistemas: físico-químico, hidrometeórico e termodinâmico. Discutiremos mais sobre esta teoria adiante no capítulo 6.1. 23 A partir de Monteiro, 1976, se multiplicaram os estudos de climatologia urbana, sobretudo no Brasil, com destaque para estudos de “ilha de calor” e conforto térmico. Na própria cidade de Presidente Prudente, vários trabalhos nesse sentido foram desenvolvidos. Amorim (2000) analisou o clima urbano da cidade; Vicente (2001) realizou um estudo de conforto térmico em Presidente Prudente a partir do índice de temperatura efetiva de Thom (1959); Ikefuti (2009) estudou o conforto térmico em bairros de Presidente Prudente com diferentes padrões constritivos e Viana (2013), que estudou o conforto térmico em 10 escolas estaduais da cidade de Presidente Prudente; entre vários outros trabalhos. 3.2. Conforto térmico e arquitetura escolar Quando falamos de conforto térmico, ou mesmo conforto ambiental de maneira mais ampla, entramos em campo muito explorado não só pela Geografia, mas também Arquitetura. Frota e Schiffer (2003), por exemplo, desenvolveram um manual de conforto térmico, que explora desde o conceito, reações humanas, e elementos geográficos do clima, até questões construtivas e técnicas. Cunha (2006), e Mascaró e Mascaró (2009), estudaram o conforto humano em ambientes construídos através da arquitetura Bioclimática. Por arquitetura Bioclimática, podemos entender: A arquitetura Bioclimática trabalha o desenho arquitetônico da edificação a partir do lugar, do clima, das orientações e da insolação, visando, deste modo, melhoras nas condições do habitat antes de se recorrer a técnicas de climatização artificial. Desta forma, basta considerar onde o sol nasce, onde se põe e as suas inclinações incidentes em cada época do ano, que ganhos climáticos (conforto térmico) serão incorporados nas edificações (VIANA, 2013, p. 36). Ou seja, essa perspectiva, dialoga diretamente com o conforto humano, sua saúde e bem-estar em ambientes construídos, através de uma concepção ligada ao desenvolvimento sustentável. Isto porque busca ao máximo aproveitar os recursos naturais favoráveis, e minimizar os efeitos naturais desfavoráveis através do planejamento e de adequações a arquitetura de dado edifício. 24 Mascaró e Mascaró (2009) ainda destacam a questão da qualidade da ambiência urbana, como sendo fruto da inter-relação entre cidade e ambiente construído, na qual a arquitetura deve contribuir para a melhoria do conforto humano: A arquitetura, ao se situar na cidade, a mostra como sendo marco de sua própria razão de ser. Mas, ao mesmo tempo, esta inter-relação cria o ambiente projetado da cidade, ao qual a arquitetura deveria contribuir a melhorar. A ambiência urbana é consequência desta inter-relação. O clima urbano e seus microclimas não se explicam nem são compreendidos sem a intermediação da arquitetura que forma recintos urbanos, cujo sentido está em seu entorno (MASCARÓ; MASCARÓ, 2009, p. 9). Em relação ao conforto térmico ou mesmo ambiental, em edificações escolares, a literatura nacional demonstra condições de conforto abaixo das desejadas. Viana (2013), aponta que nos estudos produzidos, até o momento, predominam temperaturas elevadas e ventilação inadequada nestes ambientes. Ferreira e Melo (2006), apontam que o objetivo principal, de toda a história da construção escolar, foi sempre a ampliação de vagas, deixando a qualidade das edificações em segundo plano. Nogueira et al. (2005), por sua vez, criticou a forma como as edificações escolares são produzidas em todo o país a partir de projetos arquitetônicos e sistemas construtivos mais ou menos padronizados, moldados, sem levar em conta a área e o clima local. Essa falta de planejamento arquitetônico leva a construção de ambientes educacionais desconfortáveis ou de baixa eficiência energética natural, longe dos pressupostos da arquitetura Bioclimática. Viana (2013, p. 67), aponta que “Uma boa qualidade do ensino não só depende da capacitação dos professores, mas também das condições físicas das salas de aulas”. Coutinho Filho et al. (2007, p. 5 e 6) afirma que: (...) o excesso de calor dificulta a concentração, causa inquietação e afeta o desempenho dos mesmos. A umidade pode provocar sonolência e aumento de suor. Tais fatores, nem sempre diagnosticados, podem causar estresse e, depois de maior permanência, causar doenças mais complexas. Se as trocas de calor entre o organismo humano e o meio ambiente forem prejudicadas pode-se chegar ao ponto de ocorrer um estresse térmico. 25 Em síntese, tendo em vista que o desconforto térmico pode reduzir a produtividade dos seres humanos, logo, um ambiente escolar desconfortável, reduzirá a produtividade de professores e alunos e prejudicará a qualidade do ensino. Portanto, torna-se necessário um planejamento arquitetônico e geográfico na construção de edificações escolares, a fim de garantir conforto humano, e consequentemente, melhorar o processo ensino-aprendizagem. 3.3. Processos térmicos envolvendo o organismo humano Os seres humanos são animais homeotérmicos, ou seja, possuem a capacidade e mesmo a necessidade de manter a temperatura corporal sensivelmente constante. Em questão de sobrevivência, o limite inferior de temperatura corporal está na casa dos 32ºC, enquanto o limite superior na casa dos 42ºC. No entanto, esses limites já representariam sérios problemas a saúde. Em condições saudáveis, o limite de temperatura corporal é bem mais estreito, e fica entre 36,1ºC e 37,2ºC (FROTA; SCHIFFER, 2003). A manutenção sensivelmente constante da temperatura corporal em ambientes com condições térmicas, higrométricas, e de ventilação tão distintas ao redor do globo, ou mesmo em estações, dias, ambientes distintos, só é possível graças aos mecanismos de termorregulação (FROTA; SCHIFFER, 2003). A termorregulação é responsável pela redução de ganhos, ou aumento de perdas de energia térmica, em caso de desconforto para o calor; ou retenção de calor diminuindo as perdas para o ambiente, e aumento de combustão interna para gerar mais energia em caso de desconforto para o frio. Apesar de ser um mecanismo natural, a termorregulação representa esforço e gasto de energia corporal extra, podendo reduzir a produtividade humana para outras atividades, sejam físicas ou psicológicas, além de provocar catabolismo, isto é, sensação de fadiga corporal (FROTA; SCHIFFER, 2003). Como já citado anteriormente, os primeiros estudos de conforto térmico surgiram justamente para avaliar a produtividade de trabalhadores operários. Frota e Schiffer (2003), apontam que a elevação de temperatura de 20ºC para 24ºC, pode diminuir o rendimento do trabalho físico em 15%; o rendimento cai 28% em um ambiente de 30ºC de temperatura, com umidade relativa do ar em 80%; observações 26 em minas inglesas apontaram que em situação de Temperatura Efetiva em 27ºC, o mineiro rende 41% menos do que em relação a Temperatura Efetiva de 19ºC. Frota e Schiffer (2003), chegam a comparar o corpo humano com uma máquina. Segundo as autoras, reações químicas internas provocadas pela interação das substâncias ingeridas através dos alimentos, sobretudo o carbono, combinado com o oxigênio extraído do ar pela respiração, são responsáveis por produzir a energia térmica do organismo humano. Esse processo, segundo as autoras, é denominado de metabolismo. O organismo, através do metabolismo, adquire energia. Cerca de 20% dessa energia é transformada em potencialidade de trabalho. Então, termodinamicamente falando, a “máquina humana” tem um rendimento muito baixo. A parcela restante, cerca de 80%, se transforma em calor, que deve ser dissipado para que o organismo seja mantido em equilíbrio (FROTA; SCHIFFER, 2003, p.19). Durante o processo de termorregulação, o corpo humano esboça reações naturais. Em uma condição de desconforto ao frio, o sistema nervoso simpático, busca reduzir perdas e aumentar combustão interna. Diante destas circunstâncias, o corpo reage por meio da vasoconstrição, arrepio e tiritar, buscando atingir maior resistência térmica da pele (FROTA; SCHIFFER, 2003). Por outro lado, diante ao desconforto ao calor, o organismo humano reage através da vasodilatação e da exsudação, buscando perder calor através de trocas mais intensas entre o corpo e o ambiente. Além disso, há a redução da combustão interna, através do sistema glandular endócrino (FROTA; SCHIFFER, 2003). Essa troca de calor entre o corpo humano e o ambiente, pode envolver trocas secas ou trocas úmidas. O calor dissipado ao ambiente através de trocas secas como condução, convecção e radiação, é denominado de calor sensível. Já o calor dissipado ao ambiente envolvendo trocas úmidas como a evaporação, é denominado de calor latente (FROTA; SCHIFFER, 2003). Ambas as formas de troca de calor entre corpo e ambiente, envolvem a pele, o principal órgão termorregulador do corpo humano. A temperatura deste órgão controla dois mecanismos termorreguladores: o fluxo sanguíneo e a transpiração ativa. No entanto, a vestimenta constitui uma barreira para trocas térmicas e higrométricas. Ela pode aquecer, manter umidade corporal e dar sensação de frescor, 27 diminuir o ganho de temperatura em relação a exposição solar direta, reduzir impactos oriundos do vento e ainda reduzir a sensibilidade corporal variações térmicas (FROTA; SCHIFFER, 2003). A indumentária adequada para cada condição termo-hidrométrica é fundamental para garantir conforto, ou ao menos, minimizar o desconforto térmico. No entanto, a vestimenta não é a única variável de conforto térmico humano. Acrescenta- se a ela, a idade, biótipo, sexo, hábitos alimentares, saúde e aclimatação dos indivíduos. Com relação à idade, geralmente pessoas idosas preferem ambientes mais aquecidos em relação a jovens. O biotipo interfere na sensação de conforto térmico, devido a relação entre volume e superfície corporal, além da gordura corporal, que pode funcionar como um isolante térmico. Em ralação ao sexo, homens possuem metabolismo superior ao metabolismo feminino, consequentemente produzem mais calor; por conta disto, homens geralmente sentem mais desconforto para calor. Os hábitos alimentares também interferem na sensação de conforto térmico devido a alterações provocadas no metabolismo. A aclimatação, refere-se basicamente a adaptação dos indivíduos em um dado contexto climático; o tempo longo de exposição dos indivíduos a determinado contexto climático, pode gerar alterações em seu metabolismo (VIANA, 2003). Temos por fim, outra variável muito importante: a atividade desenvolvida. Segundo Frota e Schiffer (2003), ao efetuar trabalho mecânico, os músculos se contraem produzindo calor. Esse calor produzido varia em função do tipo ou intensidade de trabalho ou atividade desenvolvida, podendo variar de aproximadamente 140 W em uma atividade de trabalho sentado, até 1200 W, em uma atividade que requer máximo esforço corporal. A partir destas variáveis apresentadas, sobretudo questões corporais e de aclimatação individual, fica nítido o caráter subjetivo do conforto térmico. Este caráter subjetivo, torna o conforto térmico, um conceito relativamente complexo. A seguir veremos algumas definições para este conceito. 28 3.4. Definições de conforto térmico Com base nas reações corporais diante de sensações de desconforto térmico, Frota e Schiffer (2003, p. 20) dizem que “o organismo humano experimenta sensação de conforto térmico quando perde para o ambiente, sem recorrer a nenhum mecanismo de termorregulação, o calor produzido pelo metabolismo compatível com sua atividade”. Existem várias definições para o que chamamos de Conforto Térmico. Para ASHRAE1 (1981) seria o “estado mental que expressa satisfação com o ambiente térmico que envolve a pessoa”. Segundo a ABNT (1998, p.9) conforto térmico seria “a satisfação psicofisiológica de um indivíduo com as condições térmicas do ambiente”. Para Vecchia (1997, p.40) “(...) há conforto térmico quando, para uma atividade sedentária e uma dada indumentária, os sistemas termo-reguladores não precisam intervir na adequação do equilíbrio ou do balanço térmico do organismo”. Vecchia (1997), bem como Frota e Schiffer (2003), apresentam como ponto central da condição de conforto térmico humano a não necessidade de intervenção dos sistemas termo-reguladores do organismo humano. No entanto, na definição de Vecchia (1997), lembra-se de citar não só a atividade desenvolvida, mas também a indumentária, portanto, esta última definição pode ser considerada a mais completa, e será a definição adotada neste trabalho. 1 American Society of Heating Refrigeration and Air condicitioning 29 4. CURSINHO POPULAR PRÉ-VESTIBULAR IDEAL 4.1. História e relevância do Cursinho Ideal O Cursinho Popular Pré-Vestibular Ideal é um projeto de extensão que nasceu com o objetivo de democratizar o acesso à educação e a universidade. Fundado por estudantes da Unesp de Presidente Prudente em 1998, já atendeu milhares de alunos de escolas públicas e de baixa renda, permitindo o acesso, e a formação universitária a centenas de jovens e adultos de Presidente Prudente e região. Sua contribuição à sociedade é incalculável, e sua relevância inegável. A própria UNESP (2011), elaborou um catálogo dos cursinhos populares do estado, vinculados a universidade em questão. Neste catálogo, é apresentado um breve histórico sobre o Cursinho Ideal: A busca pela maior democratização do Ensino Superior sempre foi o objetivo do Movimento Estudantil na UNESP da Faculdade de Ciências e Tecnologias, em Presidente Prudente. No ano de 1998 o Diretório Acadêmico “3 de Maio” deu um passo fundamental nessa importante reivindicação, criando o “Cursinho Ideal”, com sua primeira turma em 1999. No ano seguinte, a Direção da UNESP-FCT aderiu ao projeto, dando a ele um caráter de Projeto de Extensão Universitária, iniciando assim, um trabalho árduo e promissor na inclusão de alunos na Universidade, oriundos da rede pública de Presidente Prudente e Região, além da formação de cidadãos críticos e atuantes (UNESP, 2011, p. 81). Segundo Deslandes e Arantes (2017, p. 179) “a extensão universitária é considerada um dos pilares do Ensino Superior no Brasil, que fomenta não só a formação social e humanística, mas também a transformação social”. Rocha (2007, p. 27), seguindo a mesma linha, escreve: A relação da universidade com a comunidade se fortalece pela Extensão Universitária, ao proporcionar diálogo entre as partes e a possibilidade de desenvolver ações sócio-educativas que priorizam a superação das condições de desigualdade e exclusão ainda existentes. E, na medida em que socializa e disponibiliza seu conhecimento, tem a oportunidade de exercer e efetivar o compromisso com a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos Boaventura et al. (2019a), afirmam que o Cursinho Ideal, é um dos maiores Projetos de Extensão Universitária da Unesp, afinal, segundo eles, este projeto atende aproximadamente 550 alunos anualmente, representando possibilidade de 30 intervenção direta e transformação social para muitos estudantes de Presidente Prudente e região. Boaventura et al. (2019b, p. 5 e 6) escrevem: O Curso Pré-Vestibular IDEAL como causa social é um Projeto de Extensão universitária que visa romper com os muros entre a sociedade e os campi das universidades, mas sobretudo, como um projeto que transforma vidas, famílias. Ao auxiliar no processo de formação destes alunos, estes por sua vez, apresentarão melhores condições de inserção no mercado de trabalho a partir de uma maior qualificação profissional. Uma população jovem com maior instrução educacional apresenta melhores condições de trabalho quando inseridas no mercado, e assim contribui para o desenvolvimento local e regional, visto que o Curso Pré-Vestibular IDEAL atende cidades adjuntas ao município de Presidente Prudente. A abrangência dessa contribuição para o desenvolvimento local e regional pode ser demostrada. Segundo levantamento realizado por Boaventura et al. (2019a), apenas no primeiro semestre de 2019, o Cursinho Ideal atendeu alunos de 28 municípios diferentes, que podem ser analisados a partir da tabela 1. Tabela 1 - Municípios atendidos e número de alunos por município no ano de 2019 (Cursinho Ideal) Fonte: (BOAVENTURA et al. 2019a) 31 Demostrada sua abrangência e relevância espacial, cabe demostrar, sobretudo, seus resultados. Boaventura et al. (2019a), realizaram um levantamento do número de aprovações dos alunos do Cursinho Ideal em vestibulares nos anos de 2016 a 2018. Esses dados foram transformados na tabela 2. Tabela 2 - Número de aprovações de alunos no período de 2016 a 2018. Fonte: (BOAVENTURA et al. 2019a) Observa-se na tabela 2 que, o Cursinho Ideal, se mostra consideravelmente efetivo, contribuindo não só com a realização de sonhos, que para muitos o acesso à universidade representa, mas também, possivelmente, com a qualificação profissional e a melhoria da qualidade de vida familiar, e o desenvolvimento local e regional a dezenas de pessoas anualmente. Boaventura et al. (2019a), ressalta ainda, que os números de aprovações apresentados podem ser ainda maiores, uma vez que, em não raras vezes, não ocorre a total devolutiva dos alunos aprovados, já que dependemos da resposta de um questionário online para obtenção destes dados. Os autores ainda apontam que “dentro deste contexto, o aluno egresso pode inclusive ingressar no ensino superior em anos posteriores ao qual o mesmo participou das atividades desenvolvidas junto ao Curso Pré-Vestibular IDEAL” (BOAVENTURA et al. 2019a, p. 5) Cabe ainda destacar mais alguns dados referentes a demanda pelo Cursinho Popular na região. É comum o projeto receber mais de mil inscrições todos os anos, inclusive, em alguns anos ultrapassando consideravelmente este patamar, como foi o caso de 2017 por exemplo, que ao longo do ano, recebeu mais de duas mil inscrições. Observe na tabela 3. 32 Tabela 3 - Número total de inscrições para o processo seletivo do Cursinho Popular Pré-Vestibular Ideal no período de 2017 a 2019. Fonte: Dados Internos do Cursinho Ideal. Org: Autor. É importante destacar, que além das aulas, o Cursinho Ideal disponibiliza biblioteca e sala de estudos, sem falar da realização de atividades como monitorias, feira de profissões, viagens pedagógicas (quando se consegue recursos), realização de confraternizações (como a festa junina, por exemplo), atividades esportivas entre outras atividades. Ou seja, além do acesso à educação e a possibilidade de ingresso em uma universidade, o Cursinho proporciona acesso cultural, a lazer e interação social, que são importantes a saúde mental destes alunos e alunas que passam por essa fase de intensa pressão e ansiedade. Por fim, é importante destacar também que, mesmo se tratando de um cursinho pré-vestibular, onde geralmente a relevância é medida por resultados, a educação não pode e não se restringe a uma educação produtivista, como escreve Singer (1995). Mas sempre devemos lembrar do caráter popular do projeto, e, portanto, lembrar da importância de uma educação civil-democrática, que segundo Singer (1995, p. 1): (...) encara a educação em geral e a escolar em particular como processo de formação cidadã, tendo em vista o exercício de direitos e obrigações típicos da democracia. Essa visão da educação centra-se no educando e em particular no educando das classes desprivilegiadas ou não-proprietárias. O grande propósito da educação seria proporcionar ao filho das classes trabalhadoras a consciência, portanto a motivação (além de instrumentos intelectuais), que lhe permita o engajamento em movimentos coletivos visando tornar a sociedade mais livre e igualitária. É óbvio que a educação escolar também deveria cumprir muitos outros propósitos, que poderiam ser resumidos na habilitação do indivíduo a se inserir de forma adequada na vida adulta: profissional, familiar, esportiva, artística, etc. ANOS 2017 2018 2019 Extensivo 1126 1306 868 Semi-extensivo 908 669 583 Pedido de Reingresso 93 74 38 33 Aproximadamente nesta mesma linha, Nascimento descreve a importância dos cursos pré-vestibulares para além do ingresso na universidade, que por si só, já teria grande relevância social, no entanto, ele descreve essa atuação civil democrática: Podemos dizer que as preocupações e práticas além do ensino para o vestibular indicam a compreensão de que as desigualdades sociais e raciais na educação, em geral, e no ensino superior, em particular, são mais que falta de preparo para o vestibular. De fato, na história brasileira as desigualdades têm no processo de formação da sociedade e na discriminação importantes elementos elucidativos. E, apesar das dificuldades da época presente, o trabalho desses cursos pré-vestibulares indica, também, a insistência dos setores populares da sociedade em acreditar que há razões para prosseguir lutando por cidadania, por igualdade racial e social, pelo respeito à diferença e à diversidade, por uma outra sociedade e pela vida (NASCIMENTO, 2002, p. 47). Esse é o real compromisso do Cursinho Ideal, insistir nos setores populares da sociedade, lutando por cidadania, respeito, diversidade, a partir da compreensão das desigualdades sociais, que envolvem, entre outras coisas, renda e acesso. O Cursinho Ideal é esse projeto de tentativa, dentro dos limites relativamente pequenos, de melhoria do mundo que vivemos através da educação e das pessoas. 4.2. Dificuldades no Cursinho Ideal Mesmo diante da relevância que oferece a Presidente Prudente e região, o projeto sofre com diversas dificuldades. Entre elas, a mais latente é a redução drástica dos recursos financeiros repassados ao Cursinho os últimos anos. Como projeto de extensão devidamente reconhecido pela FCT / UNESP, e vinculado a PROEX (Pró-reitoria de extensão universitária), é papel destas entidades arcar com a permanência e manutenção do projeto. Infelizmente, nos últimos anos, há uma tendência de sucateamento sob uma perspectiva neoliberal que incentiva, inclusive, com sistema de pontuação dos cursinhos, a buscarmos por parcerias público-privadas. Assim, o poder público vem se eximindo de suas obrigações e responsabilidades básicas. 34 O efeito mais visível desse processo de sucateamento, é sem dúvidas, a quantidade de bolsas de estudo que são disponibilizadas para os cursinhos. O Cursinho Ideal, que no passado já chegou contar com 27 bolsas de estudos que viabilizavam o trabalho de professores/monitores, coordenadores e secretários. No ano de 2019, chegou ao ponto mais crítico de sua questão financeira com apenas 8 bolsas de estudos pagas pela Proex, para 21 pessoas que se dedicavam ao projeto. O sucateamento não foi só no Cursinho Ideal de Presidente Prudente. Este sucateamento aconteceu em todos os cursinhos populares vinculados a Unesp e Proex do estado de São Paulo. Inclusive, em 2020, foi noticiado a triste notícia de que um dos cursinhos populares do estado havia encerrado suas atividades. Mostra-se, portanto, o caráter fundamental destas bolsas de estudos, já que são elas que viabilizam o funcionamento do projeto. No próprio Cursinho Ideal, ótimos professores, e até coordenadores, devido à falta de recursos e consequentemente remuneração, já foram obrigados a abandonarem o projeto afim procurar outras formas de se manterem economicamente. Ainda sobre a questão de recursos, ou melhor, a falta deles, tem impactado em outras atividades, como por exemplo, as viagens pedagógicas. A viagem pedagógica, é o que permite uma experiência de campo, empírica e integradora; é nela que os conhecimentos muitas vezes aprendidos de forma dicotômica em disciplinas específicas como geografia, história, biologia, química, física, se integram e se relacionam de forma única e dialética, ampliando o conhecimento e a visão do estudante. Em outros momentos, era possível realizar viagens longas, como Ilha Anchieta, Angra dos Reis, São Thomé das Letras, entre outras, que permitiam experiências únicas com o acúmulo dos mais variados conhecimentos. Com a queda drástica nos recursos, por alguns anos, as viagens pedagógicas chegaram a ser canceladas (2016 e 2017). Nos últimos dois anos (2018 e 2019), com arrecadação de recursos dos próprios alunos através de rifas, foi possível a realização de visita ao Parque Estadual do Morro de Diabo, localizado no Município de Teodoro Sampaio, a cerca de 120 km de Presidente Prudente, sendo realizada em um único dia. Por mais que estas viagens tenham seu caráter pedagógico, claramente representa um retrocesso, sobretudo se pensarmos que foram os próprios alunos que pagaram por ela. 35 Outra dificuldade que encontramos no Cursinho Ideal, é justamente a questão do (des)conforto térmico no interior de suas salas de aula, o problema de pesquisa deste trabalho. Cabe citar, inclusive, que em certa ocasião, justamente em um dia de temperaturas bastante elevadas e consequente desconforto térmico para calor, uma aluna que frequentava a aula passou mal e chegou a desmaiar na sala de aula, gerando transtorno e dano moral a estudante, que envergonhada, vários dias sem frequentar as aulas. É fato que a estudante já contava com certas vulnerabilidades de saúde, no entanto, tudo indica que o estresse térmico foi um gatilho para deflagração do ocorrido, demostrando a relevância deste estudo, e a necessidade de pesquisar e discuti-lo apartir de metodologia cientifica 4.3. Funcionamento, localização e espaço físico Atualmente, o Cursinho Popular Pré-Vestibular Ideal, conta com 23 trabalhadores, sendo: 20 professores, 3 coordenadoras discentes (uma das coordenadoras é coordenadora e professora) e 1 coordenador docente. Como demostrado anteriormente, a demanda pelo Cursinho é consideravelmente grande. Infelizmente não há possibilidade de atender todos os interessados. Os alunos que participam do Cursinho Ideal, são selecionados através de um processo seletivo que leva em consideração uma prova de 60 questões de nível médio, além da análise de aspectos socioeconômicos, tais como: renda familiar, número de integrantes na família, nível de instrução dos pais, auto declaração de cor da pele, entre outros fatores. Esta análise socioeconômica é fundamental para afirmar o caráter popular do projeto, e assim, permitir o acesso a pessoas historicamente desprivilegiadas, garantindo o mínimo de justiça social e equidade. O cursinho Ideal, anualmente realiza dois processos seletivos. Isto porque o projeto oferece duas modalidades de cursos: o Extensivo, isto é, um ano letivo completo, geralmente de março a dezembro; e o Semi-Extensivo, que por sua vez, representa o ingresso de alunos apenas no segundo semestre, geralmente de agosto a dezembro, constituindo este último, um curso mais curto e resumido. No final do ano letivo, os alunos que não lograram o êxito desejado, podem solicitar reingresso para o próximo ano sem a necessidade de passar por novo processo seletivo. 36 O projeto trabalha em dois períodos: vespertino e noturno. O período vespertino, estende-se das 14h00 às 18h20, que correspondem a 4 aulas diárias de uma hora cada, e um intervalo de 20 minutos. No período noturno o tempo é menor e as aulas, portanto, estendem-se das 19h00 às 22h30, sendo divididas entre 4 aulas de 50 minutos e um intervalo de 10 minutos. Estas aulas noturnas, abrem a possibilidade de muitos trabalhadores participarem do projeto. O Cursinho está localizado no Campus do Núcleo Morumbi da FCT Unesp de Presidente Prudente (Figura 1). Sua localização na Av. Cyro Bueno, no Jardim Cinquentenário, pode ser considerada relativamente favorável dentro da dinâmica da cidade de Presidente Prudente; afinal, situa-se nas proximidades de hospitais, um shopping, uma universidade privada e do próprio campus principal da Unesp, assim, constituindo uma área de considerável fluxo, com linhas de transporte público que dão acesso a diversas áreas da cidade, e facilitam inclusive a rota de transportes públicos de outros municípios. Figura 1 - Localização do Cursinho Ideal em Presidente Prudente/SP. Fonte: Google Earth Pro. Org: Autor, 2021. O Núcleo Morumbi da FCT/Unesp de Presidente Prudente, é ocupado não só pelo Cursinho Ideal, mas também por atividades de pesquisa, museu arqueológico, atividade de extensão de fisioterapia, aula de línguas, entre outras atividades. 37 O Cursinho Ideal conta com apenas 3 salas do prédio, localizadas no piso superior da ala esquerda. Duas destas salas (sala 7 e 8), são utilizadas como salas de aulas, e são equipadas com mesa, cadeiras, caixa de som, projetor e persianas. A terceira sala do Cursinho (sala 9), é utilizada como sala da Coordenação, sala de estudos e biblioteca. No capítulo 6.1 deste trabalho, são apresentadas fotografias do espaço e um croqui, na qual, será possível observar a disposição do Núcleo Morumbi, do edifício, a localização das salas de aulas e a sala da coordenação. 38 5. CARACTERIZAÇÃO DE PRESIDENTE PRUDENTE Considerando que o Cursinho Ideal está localizado em Presidente Prudente, como apontado no capítulo anterior, antes de analisarmos pontualmente o conforto térmico em suas salas de aulas, é primordial termos noções das características geográficas, sobretudo climáticas, na qual o município está inserido. O exposto neste capitulo, será fundamental para compreendermos as características do tempo atmosférico e posteriormente compará-lo com os registros de temperatura e umidade realizados nesta pesquisa. 5.1. Características Gerais do Município Presidente Prudente localiza-se no oeste do estado de São Paulo, a 22º 07‟ 04“ de latitude Sul e 51º 22‟ 57” de longitude Oeste (figura 2). Atualmente estima- se a população de 230.371 pessoas e a densidade demográfica de 368,89 hab/km² (IBGE, 2020), sendo uma cidade de porte médio. Figura 2 - Mapa de Localização de Presidente Prudente/SP Fonte: IBGE. Org.: Cardoso (2012). Disponível em: Acesso: 08 de out. de 2020. about:blank about:blank 39 O município localiza-se no Planalto Ocidental Paulista, na continuidade do reverso das Cuestas Basálticas a leste. O relevo do município, é formado basicamente por colinas médias, amplas, morrotes alongados e espigões. As colinas amplas estão presentes no norte do município, as colinas médias na extremidade sul, e os morrotes e espigões, predominantes em cerca de 80% do território prudentino. A altitude média do município é de 472 metros acima do nível do mar (AMORIM, 2000). A geomorfologia de Presidente Prudente, está diretamente relacionada com o surgimento e a história da cidade. Isto porque, a cidade foi fundada no início do século XX, em virtude da expansão da linha férrea em direção ao interior, que por sua vez, buscava expandir áreas para o cultivo do café. O trajeto mais barato para se construir as linhas férreas, evitando assim pontes e túneis, era a construção acompanhando os espigões do relevo. Assim, Presidente Prudente nasce no divisor de águas entre as bacias do Rio Paranapanema, e Rio do Peixe. Essa ligação com a linha férrea foi tão marcante, que a região ficou conhecida como Alta Sorocabana, nome da ferrovia. Isto explica, por exemplo, o motivo pelo qual o núcleo urbano do município estar localizado consideravelmente ao sul (Figura 3). Além disso, o relevo também influenciou na própria expansão da cidade: o lado Oeste da linha, com relevo menos acidentado se expandiu consideravelmente, em relação ao Leste da linha, de relevo mais acidentado (AMORIM, 2000). 40 Figura 3 - Mapa de Classes Altimetrias do relevo do município de Presidente Prudente/SP Fonte: NUNES (2017), disponível em: http://portaldoprofessor.fct.unesp.br:9000/topico/meio-fisicobiotico/. Acesso 29 de nov. de 2020. 5.2. Características Climáticas do Município Do ponto de vista climático, a região de Presidente Prudente, pode ser considerada uma região consideravelmente complexa, devido a atuação da maioria dos sistemas atmosféricos presentes na América do Sul. Entre eles, podemos destacar as seguintes massas de ar: Tropical Atlântica (Ta), Tropical Atlântica about:blank 41 Continentalizada (Tac), Equatorial Continental (Ec), Tropical Continental (Tc), Polar Atlântica (Pa) e Polar Atlântica Tropicalizada (Pt) (AMORIM, 2000). A massa Tropical Atlântica, atua na região durante todo o ano, sendo a predominante na região. Segundo Amorim (2000, p. 49): A Ta atua durante o ano todo, atravessando a região em correntes de leste-noroeste, trazendo estabilidade de tempo no inverno, em decorrência de subsidência superior nesta célula de alta pressão dinâmica e instabilidade na parte inferior no verão, devido ao aquecimento basal que origina células convectivas e precipitações locais no interior e precipitação orográfica na vertente Atlântica. A massa Tropical Atlântica Continentalizada, por sua vez, “caracteriza-se por ser uma fácies da Ta, devido às modificações que esta sofre ao avançar pelo continente. Como resultado tem-se temperatura mais elevada, umidade relativa baixa e pressões em ligeiro declínio” (BARRIOS; SANT´ANNA NETO, 1996). As massas Equatoriais Continentais e Tropicais Continentais, segundo Amorim (2000), surgem respectivamente na planície Amazônica e na planície do Chaco. Ambas participam significativamente no verão em correntes de noroeste. A primeira (Ec), é responsável pelo aumento da umidade, das precipitações e da temperatura, enquanto a segunda (Tc), atua apenas no aquecimento, por ser uma massa de ar mais seca. A massa Polar Atlântica, que origina-se no anticiclone migratório, segundo Amorim (2000, p. 50) “(...) desloca-se em direção sul-sudeste – noroeste e produz o avanço dos sistemas frontais que atingem a região durante o ano todo”. Este sistema frontal produzido pelo deslocamento da Pa sobre a região, é denominado de Frente Polar Atlântica (FPA). Essa frente de instabilidade, ocorre pelo choque de massas de ar com características diferentes, sendo a Pa uma massa de ar fria, enquanto as demais massas de ar que atuam na região, (Ta, Tc, Ec), correspondem a massas de ar quentes. Esta instabilidade é mais vigorosa no inverno, no entanto, é importante para a precipitação na região durante o ano inteiro. Na figura 4, é possível observar algumas massas de ar que atuam na região de Presidente Prudente (AMORIM, 2000). 42 Figura 4 - Massas de ar na América do Sul. Fonte: Monteiro, 1973, p. 17. Apud: Amorim, 2000, p. 51 Além desses sistemas, a região ainda recebe influência do Complexo Convectivo de Mesoescala (CCM), do El Niño, da La Niña, e da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS). O CCM está ligado a fortes processos convectivos e aglomerados de nuvens com desenvolvimento vertical. O El Niño e a La Niña, que consistem respectivamente no aquecimento e no esfriamento anormal das águas do Pacífico, representam uma variabilidade climática que em nível mundial, interferem na temperatura e no ritmo de chuvas. Na região de Presidente Prudente, o El Niño costuma elevar a temperatura e alterar o ritmo de chuvas de forma incerta, enquanto a La Niña tem pouca probabilidade de interferir, embora no verão possa significar uma queda de temperatura. Por fim, a ZCAS, ocorre em decorrência do encontro de ar quente e úmido da Amazônia e do Atlântico Sul, resultando em grandes volumes de 43 chuvas, que muitas vezes, chegam a provocar alagamentos em pontos da cidade (BEREZUK, 2007). Amorim (2000), escreve sobre o que considera alternância dos sistemas tropicais e polares: A região de Presidente Prudente, por estar no extremo oeste paulista, torna-se um campo de alternância dos sistemas tropicais e polares, mas dominado por massas de ar Tropical marítima. Entretanto, a participação da FPA na gênese das chuvas é significativa, ficando a região sujeita a frequentes invasões e perturbações frontais, mesmo na primavera e no verão, quando as chuvas são mais frequentes e intensas (AMORIM, 2000, p. 51). Portanto, segundo Barrios e Sant’Anna Neto (1996), podemos entender que há uma oscilação no ritmo atmosférico da região em decorrência de ondas de aquecimento que chegam as altas temperaturas, somadas a invasões de massas de ar polar que causam queda de temperatura, tornando a região sujeita até mesmo a geadas esporádicas. Além disso, há atuação de massas úmidas e frentes de instabilidades somadas a sistemas estabilizadores de tempo que provocam diminuição das chuvas e a ocorrência de períodos ligeiramente mais secos, sobretudo no outono e no inverno. Sant’Anna Neto e Tommaselli (2009) apontam que Presidente Prudente está localizado sob um típico regime de clima tropical, mas reforçam essa alternância dos tipos de tempo. Segundo eles, temos um período mais quente e chuvoso entre outubro e março, e outro mais estável e ameno entre abril e setembro, com precipitação anual, em média, de 1300mm. Segundo o Boletim Climatológico (1996), 73% desta precipitação ocorre entre outubro e março, restando apenas 23% da precipitação anual, para os meses de abril a setembro. A temperatura média anual da cidade é de 23,4ºC. Essa média chega a atingir 26ºC se considerarmos apenas o verão, e 20ºC se considerarmos apenas o inverno. No entanto há uma grande oscilação, que, em média, chega a 27ºC e 28ºC, com extremos acima de 38ºC e com mínimas por volta de 16ºC e 18ºC. No entanto, de modo geral, o que prevalece são dias quentes, com máximas diárias acima dos 30ºC. Esses dias com temperatura acima de 30ºC ultrapassaram 200 dias ao ano nas últimas décadas (SANT’ANNA NETO; TOMMASELLI, 2009). 44 Viana (2013, p. 90), aponta que “a cidade é conhecida por suas altas temperaturas que, em algumas ocasiões, ultrapassam a sensação térmica de 40º C, principalmente nos meses de verão”. Na tabela 4, podemos observar boa parte do ritmo climático anual médio do município discutido até aqui, a partir das Normais Climatológicas de 1981 até 2010. Tabela 4 - Normais Climatológicas (1981 - 2010) - Presidente Prudente/SP Fonte: Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). Estação A707 – Presidente Prudente-SP. Disponível em: https://portal.inmet.gov.br/normais. Acesso em: 15 de março de 2021. Org.: Autor, 2021. É possível observar, por exemplo, os meses mais quentes e menos quentes, os valores extremos, ou mesmo as médias das máximas e das mínimas em contraposição com as médias. É possível observar ainda, os meses mais úmidos e chuvosos (de outubro a março), e os meses menos úmidos e chuvosos (de abril a setembro), 6. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Neste capitulo serão expostos e discutidos, os caminhos para atingir os resultados da pesquisa. Primeiro será discutido o Sistema Clima Urbano de Monteiro (1971), perspectiva teórica que orientou este trabalho, na sequência a discussão se voltará para a escala espacial de análise, seguindo com breve análise arquitetônica, análise rítmica, índice de conforto térmico, registros de temperatura e umidade relativa Precipitação (mm) média das max. max. absoluta média média das min. min. absoluta max. absoluta média mim. Absoluta média do acumulado Janeiro 31,00 37,10 25,70 21,70 16,30 96,8 72,6 40,5 232,5 Fevereiro 31,00 35,80 25,60 21,70 16,10 95,8 73,2 42 172,2 Março 30,80 36,10 25,40 21,20 9,50 96,5 70,1 41,3 138,3 Abril 29,60 36,00 24,00 19,50 6,00 94,5 66,3 43,3 73,0 Maio 26,30 32,90 20,70 16,50 4,90 97,8 68,1 42,3 82,6 Junho 25,70 32,00 19,70 15,40 1,80 97,8 66,1 32,5 48,3 Julho 26,10 33,50 19,70 14,90 -0,10 97,5 59,3 30 39,7 Agosto 28,20 36,20 21,50 16,20 0,10 96,8 53,6 20,8 42,7 Setembro 28,90 38,80 22,50 17,30 5,50 98,3 58,2 18 84,2 Outubro 30,50 38,40 24,50 19,40 10,40 100 61,9 25 121,0 Novembro 30,50 38,40 25,20 20,30 10,50 97,3 63,6 30,3 129,6 Dezembro 30,90 39,20 25,60 21,20 14,80 95,5 69,3 34,3 175,6 ANO 29,10 39,20 23,30 18,80 -0,10 100 65,2 18 1339,7 Normais climatológicas (1981 - 2010) - Presidente Prudente/SP Mês Umidade Relativa do Ar (%)Temperatura (ºC) https://portal.inmet.gov.br/normais 45 do ar no ambiente interno e externo, e por fim elaboração do questionário, gráficos e nuvem de palavras. 6.1. Sistema Clima Urbano (S.C.U) Este trabalho teve como principal referencial teórico-metodológico a teoria Sistema Clima Urbano de Monteiro (1976). Este autor, trabalhou o clima urbano através de uma perspectiva dinâmica e integrada, e não apenas meteorológica. Por perspectiva dinâmica, podemos entender uma visão Sorreana, no qual, devemos entender os eventos climáticos a partir do ritmo de estados atmosféricos e da sucessão habitual dos tipos de tempo. Por perspectiva integrada, podemos entender uma perspectiva que está atenta as interações entre os seres humanos, a cidade, a produção do espaço urbano, e os eventos naturais (temperatFura, pressão, umidade, precipitação, ventos, insolação, nebulosidade), em relações dialéticas sob uma mesma atmosfera. Segundo Monteiro (2003), “(...) O clima urbano é um sistema que abrange o clima de um dado espaço terrestre e sua urbanização” (p.19), e, portanto, o S.C.U., “(...) não pode ser definido pela simples superposição ou adição de suas partes (compartimentação ecológica, morfológica ou funcional urbana), mas por meio da íntima conexão entre elas” (p.23). O S.C.U de Monteiro (1976), apresenta o que o próprio autor chama de consistência. Essa consistência do S.C.U., permite que esta teoria seja aplicada desde fatos e escalas mais amplas e complexas, até fatos e escalas mais restritas e simples, enquadrando-se em diferentes graus de complexidade em qualquer cidade do globo terrestre. O empirismo, segundo Monteiro (1976), é uma metodologia importante no S.C.U., assim como o modelismo. Por empirismo, o autor entende que “(...) a moldura teórica escolhida deve ser suscetível e mesmo orientada a observação empírica. Exige-se esse atributo como meio de teste, de verificação ou refutação” (MONTEIRO, 2003, p.18). E, por modelismo, entende que “O clima urbano, para desenvolvimento de pesquisa e aperfeiçoamento continuado, necessita tanto de mapeamento quanto de diagramação” (MONTEIRO, 2003, p.18), assim deixando contribuições para outros 46 pesquisadores que possam se utilizar dos resultados, gerando o que o autor chama de pragmatismo do S.C.U. Monteiro (1976), propôs a análise do clima urbano através de 3 subsistemas, elaborados “ (...) através dos canais de percepção humana, pois que, o homem deve constituir sempre o referencial dos problemas e valores dos fatos geográficos” (p.23). Esses subsistemas são: Termodinâmico, Físico-químico e Hidrometeórico. O subsistema Físico-químico, corresponde ao canal de percepção humana em relação a qualidade do ar na atmosfera urbana. Segundo Monteiro (1976), a poluição do ar é seu principal produto, que acontece por responsabilidade humana, podendo criar uma série de problemas respiratórios, sanitários, oftalmológicos, entre outros. O subsistema Hidrometeórico, corresponde ao canal de percepção do impacto meteórico na superfície urbana, tanto hídrico (chuvas, neve, nevoeiro), como mecânico (tornados) e elétricos (tempestades). Segundo Monteiro (1976), seus principais produtos são os ataques a integridade urbana, podendo gerar problemas de circulação, comunicação e serviços. O subsistema Termodinâmico, corresponde ao canal de percepção do conforto térmico humano. Está diretamente relacionado a temperatura, umidade, radiação e ventos no espaço urbano. Segundo Monteiro (1976), esse canal apresenta correlações disciplinares com a Bioclimatologia, com a Arquitetura e com o Urbanismo, sendo de responsabilidade tanto natural como humana, podendo gerar efeitos diretos como desconforto térmico e redução do desempenho humano. É sob o subsistema termodinâmico que se estrutura esse trabalho. 6.2. Escala de Análise Segundo Monteiro (2003), é primordial em qualquer estudo geográfico a definição da escala espacial de análise. A respeito da importância das escalas geográficas, Sant’Anna Neto (2013, p.75) escreve: As escalas do clima não devem ser entendidas apenas como dimensões espaciais ou temporais, nas quais os elementos climáticos se manifestam, mas, sim, como processos dinâmicos dotados de atributos altamente sensíveis ao ritmo, variações e alterações de todas 47 as forças terrestres, atmosféricas e cósmicas que, de alguma forma, exercem ou provocam qualquer tipo de interferência no sistema climático. Incluem-se aqui, também, as interferências de origem antrópica e socioespacial. Neste sentido, Monteiro (1976) propõe a classificação do espaço geográfico em três escalas de análise: zonal, regional e local, sendo este último subdividido em outras três classificações: mesoclimas, topoclimas e microclimas. Na escala Zonal, segundo Sant’Anna Neto (2013), os principais sistemas que afetam os elementos do clima são: as latitudes, os grandes traçados do relevo, e a distribuição dos oceanos e continentes. Segundo o mesmo autor, nesta escala identifica-se sobretudo os grandes sistemas de circulação atmosférica planetária, os centros de pressão e generalizações a respeito dos grandes biomas e regiões oceânicas. Na escala Regional, segundo Sant’Anna Neto (2013), não só os mecanismos físicos e naturais, como altitude, proximidade do mar, orientação do relevo, interferem em sua dinâmica, mas também elementos antrópicos podem atuar, como por exemplo, o desmatamento, agricultura latifundiária, grandes áreas metropolitanas, entre outros fatores. Segundo o mesmo autor, “(...) o que determina a escala regional não é sua dimensão espacial, mas a magnitude das interferências dos fatores geográficos atuantes” (p. 85), podendo assim, a escala regional apresentar desde macrorregiões de milhões de km², até microrregiões de centenas de km². A escala local, segundo Sant’Anna Neto (2013), também chamada de conjunto de escalas inferiores, apresenta uma complexidade maior, pois “ (...) quanto menor a ordem de grandeza escalar (...) maior é o conjunto de elementos, fatores dinâmicos e processos envolvidos” (2013, p. 86). Esta, como já citado, apresenta uma subdivisão entre mesoclimas, topoclimas e microclimas. Mesoclimas, segundo Sant’Anna Neto (2013), correspondem a unidades da superfície terrestre na ordem de dezenas de km², o que nos espaços urbanos, corresponde a cidades de grande e médio porte. Nesta escala, há a influência crescente da rugosidade do relevo, existência de corpos d’água, vegetação entre outros fatores. 48 Topoclimas, segundo Sant’Anna Neto (2013), correspondem a unidades de milhares e centenas de metros², o que nos espaços urbanos correspondem a cidades de médio e pequeno porte, zonas, bairros e aglomerações. Nesta escala, densidade de construções, proximidade e caracterização de corpos d'água e áreas verdes tem interferência cada vez maior, sendo, portanto, já imprescindível, análises relacionadas a Arquitetura e Urbanismo, além de contribuições da Bioclimatologia. Finalmente, o microclima, que é a escala espacial de abordagem deste trabalho, segundo Sant’Anna Neto (2013), corresponde a unidades da superfície terrestre na ordem de no máximo dezenas de metros, o que nos espaços urbanos, corresponde a quarteirões, terrenos, edificações, ou mesmo o interior de ambientes construídos, como é o caso das salas de aula do Cursinho Ideal. Nesta escala, segundo o mesmo autor, “Os aspectos mais gerais da dinâmica atmosférica são minimizados enquanto as paisagens (...) apresentam maior destaque ” (2013, p. 88). No microclima, a radiação solar, o movimento aparente do sol, a exposição de vertentes, a arborização e áreas verdes, as propriedades físicas dos materiais construtivos e até mesmo as cores das construções, entre outros fatores, interferem diretamente nas respostas térmicas e, portanto, na percepção humana quanto ao canal termodinâmico. O papel da Arquitetura e da Bioclimatologia nesta escala é ainda mais imprescindível (SANT’ANNA NETO 2013). Sant’Anna Neto (2013, p.89), nos aponta que “A dimensão temporal dos microclimas deve ser observada considerando períodos, horários e diários”, e, portanto, “somente a análise rítmica (Monteiro, 1971) é adequada para compor as unidades de tempo cronológico, como estratégia para identificar os sistemas atmosféricos” (SANT’ANNA NETO, 2013, p.89). 6.3. Breve análise arquitetônica O que neste trabalho chamou-se de breve análise arquitetônica, consiste basicamente na análise dos materiais construtivos e consequentemente nas suas respostas térmicas, bem como uma breve análise da arborização do entorno, insolação e sombreamento. Para realizar esta análise, foi fundamental, bases bibliográficas, com destaque para o Manual do Conforto Térmico, de Frota e Schiffer (2003), além de 49 análises de campo no edifício em questão. Essa metodologia permitiu comparar o que teoricamente seria mais adequado em termos arquitetônicos para esta edificação, com a realidade presente e já construída. Além disto, visando compreender o movimento aparente do sol, insolação e sombreamento diante da orientação das salas de aulas e do edifício, foi elaborado um croqui com auxílio do Google Earth Pro2, e cartas solares com o auxílio do programa Sol-Ar3. Em uma destas cartas solares, foi utilizado o programa Corel Draw x7, para elaborar um croqui do edifício, Photoshop4 para inserção do edifício na carta. 6.4. Análise Rítmica Conforme aponta Sant’Anna Neto (2013), cada escala espacial, apresenta uma escala temporal mais adequada para a observação dos fenômenos geográficos. Segundo esse mesmo autor, como já vimos, a escala temporal mais adequada para a escala espacial do microclima, é a escala diária, ou até mesmo a escala horária, sendo fundamental a análise rítmica. Monteiro (1971), aponta que, nas mais variadas regiões, há sensíveis irregularidades no ritmo climático, repercutindo sensivelmente nas atividades humanas. Segundo ele, há uma “agressividade do ritmo climático” (p. 2), e, portanto, o autor sugere “enfatizar a necessidade de considerar os extremos em confronto com as abstrações médias” (p. 2), buscando assim, a explicação do ritmo climático, através da sucessão habitual dos tipos de tempos. O autor sintetiza: “O conceito de “ritmo”, expressão da sucessão dos estados atmosféricos, conduz, implicitamente, ao conceito de “habitual” pois que há variações e desvios que geram diferentes graus de distorções até atingir padrões “extremos”” (MONTEIRO, 1971, p.4). Essa sucessão habitual dos tipos de tempo, segundo Monteiro (1971), só é possível observar de modo rico e detalhado, levando em conta todos os elementos, concomitantes e dinâmicos da atmosfera, a partir da escala diária. Ele ainda aponta 2 Google Earth Pro. Disponível em: https://www.google.com.br/earth/download/gep/agree.html 3 Sol-Ar: Propriedade: Laboratório de eficiência energética em edificações (labEEE). Disponível em: https://labeee.ufsc.br/downloads/softwares/analysis-sol-ar 4 Adobe Photoshop CC 2014. https://labeee.ufsc.br/downloads/softwares/analysis-sol-ar 50 que, “em muitos trabalhos a necessidade de aprimoramento (...) tem levado o desdobramento a escala horária” (MONTEIRO, 1971, p. 9). Admitimos, pois, como válida a conclusão de que o ritmo climático só poderá ser compreendido através da representação concomitante dos elementos fundamentais do clima em unidades de tempo cronológico pelo menos diárias, compatíveis com a representação da circulação atmosférica regional, geradora de estados atmosféricos que se sucedem e constituem o fenômeno do ritmo. (MONTEIRO, 1971, p. 9 grifos do autor). Esta representação concomitante e continua dos elementos fundamentais do clima, é demostrada através da elaboração do gráfico de análise rítmica, proposto pelo próprio Monteiro (1971). Neste gráfico, são inseridas informações dos elementos fundamentais do clima tais como: temperatura mínima, máxima e média, precipitação atmosférica, umidade relativa do ar mínima, média e máxima, pressão atmosférica, direção e velocidade do vento, nebulosidade, e o sistema atmosférico atuante. Neste trabalho, para elaboração do gráfico de análise rítmica, contou-se com dados de diferentes órgãos. Os dados referentes a temperatura do ar, umidade relativa do ar, pressão atmosférica, precipitação e velocidade do vento foram obtidos através do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET)5. Os dados referentes a direção do vento, foram obtidos pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB)6. Além disso, para identificação dos sistemas atmosféricos atuantes, foram utilizadas Cartas Sinóticas da Marinha do Brasil7, bem como imagens do satélite GOES, canal 16, obtidas através do Centro de Previsões de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC/INPE)8. Tanto as Cartas Sinóticas como as imagens do satélite GOES, foram baixadas diariamente durante o mês de outubro, às 12h00 UTC, o que corresponde às 09h00 pelo horário de Brasília. Além da identificação dos sistemas atmosféricos atuantes, o horário das 09h00 (horário de Brasília), também é utilizado como parâmetro para a pressão atmosférica e velocidade do vento. A temperatura e umidade relativa do ar, também 5 Estação automática A707, latitude: 22.12 Sul, longitude: -51.41, altitude: 431,92 metros. Disponível em: https://portal.inmet.gov.br/ 6 https://cetesb.sp.gov.br/ 7 https://www.marinha.mil.br/chm/ 8 http://satelite.cptec.inpe.br/home/index.jsp 51 apresentam no gráfico, linhas específicas para esse horário, por mais que também apresentem as mínimas e as máximas diárias. Já a direção do vento, leva em consideração a direção predominante do dia, e a precipitação, o total de precipitação acumulada nas 24 horas. É possível observar o gráfico de análise rítmica, bem como a análise do mesmo, no capitulo 7.2 deste trabalho. 6.5. Índice de Conforto Térmico Existem diversos índices de conforto térmico, isso porque, cada um deles é desenvolvido para uma realidade termo-hidrométrica e de aclimatação diferente, levando com consideração aspectos também diferentes, como atividade desenvolvida e indumentária, por exemplo. Logo, cada um destes índices apresentará naturalmente divergências no que consideram como zona de conforto e zona de desconforto térmico, bem como a equação para chegar a esse resultado. Portanto, segundo Frota e Schiffer (2003), é conveniente na escolha e aplicação de um ou outro índice, uma análise prévia das condições ambientais locais, bem como da atividade desenvolvida pelos indivíduos. Com base na análise de alguns índices, e na bibliografia disponível sobre o assunto, foi escolhido o índice de Thom (1959). Segundo Viana (2013), este índice tem sido utilizado em pesquisas no ambiente tropical, e vem sendo validado com resultados satisfatórios, como nos trabalhos de Lourenço et al. (1997), Vicenti (2001), Silva (2009), Ikefuti (2009). Podemos citar, inclusive, o próprio trabalho desenvolvido pela autora Viana (2013), que trabalha o Conforto Térmico nas Escolas Estaduais de Presidente Prudente. Este índice (THOM, 1959), estima a Temperatura Efetiva, obtida a partir de uma equação envolvendo temperatura do bulbo seco e temperatura do bulbo úmido, (equação 1). Entende-se TE= Temperatura Efetiva, Ts= Temperatura do bulbo seco e Tu= Temperatura do bulbo úmido. Equação 1 – Temperatura Efetiva (THOM, 1959). 𝑇𝐸 = 0,4 (𝑇𝑠 + 𝑇𝑢) + 4,8 52 A zona de conforto para Thom (1959), como base nessa equação, encontra-se entre 18,9º C e 25,6º C de Temperatura Efetiva. Qualquer valor de Temperatura Efetiva abaixo, ou acima dessa zona, classifica-se como estresse térmico, para frio ou para calor respectivamente, e, quanto maior a distância desta zona de conforto, consequentemente maior o desconforto. 6.6. Registro da temperatura e umidade relativa do ar em sala de aula, e em ambiente externo Para mensurar os valores reais de temperatura e umidade relativa do ar no interior das salas de aulas do Cursinho Popular Pré-vestibular Ideal, bem como no ambiente externo para efeito de comparação, foram instaladas miniestações automáticas9, durante todo o mês de outubro de 2020. O mês de outubro foi escolhido para a instalação da miniestação, com base no trabalho de Viana (2013), que, ao estudar o conforto térmico nas escolas estaduais de Presidente Prudente, optou pela instalação das miniestações durante o outono e a primavera, períodos letivos em que geralmente os alunos estão em sala de aula. No entanto, nesta pesquisa, a instalação foi realizada apenas em um mês, isso é, outubro, início da primavera, em função do tempo hábil para execução do trabalho. Outubro, pareceu um mês interessante para realização do registro, afinal, geralmente trata-se de um de transição climática. Como já mencionado anteriormente, o Cursinho Ideal conta com apenas duas salas de aulas (sala 7 e 8) no prédio do Núcleo Morumbi, da FCT/Unesp de Presidente Prudente. As duas salas apresentam os mesmos materiais construtivos, e estão posicionadas uma ao lado da outra no mesmo corredor, e com a mesma orientação das janelas. Portanto, a instalação da miniestação automática em apenas uma das salas de aulas, apresenta resultados válidos e representativos para as duas salas. A sala 7 foi escolhida por estar ao fim do corredor, mais distante da escada de acesso, e, portanto, com menor probabilidade de o equipamento ser visto por alguém 9 Miniestações automáticas: Data Logger: termo-higrômetro U23-002, marca: HOBO abrigo: tipo RS30020– HOBO 53 que transitasse pelo corredor, assim aumentando a segurança do equipamento e da pesquisa. No interior da sala de aula do Cursinho Ideal, a miniestação, foi acoplada a uma espécie de tripé (cabideiro mancebo de madeira), e mantida a uma altura de aproximadamente 170 cm do piso. Houve ainda a preocupação de instalá-la no centro da sala de aula, de modo a não incidir raios solares diretos no equipamento. As janelas foram mantidas abertas, e as persianas fechadas, simulando o ambiente que geralmente encontramos, sobretudo no período vespertino. As luzes foram mantidas apagadas para evitar o consumo desnecessário de energia elétrica, afinal, as salas estavam vazias em função da pandemia de covid-19 que obrigou a suspensão das aulas presenciais (figura 5). Figura 5 - Instalação de miniestação automática em sala de aula Fonte: Autor, 2020. Registros realizados com equipamentos diferentes podem apresentar pequenas divergências de resultados. Pensando nisso, para realizar a comparação das condições térmicas e higrométricas entre o ambiente interno da sala de aula em relação ao ambiente externo, de forma mais satisfatória possível, outra miniestação foi instalada em um ambiente externo. 54 A segunda miniestação automática, foi instalada no ambiente externo no Jardim Santa Helena de Presidente Prudente. Trata-se de um bairro residencial densamente construido, localizado aproximadamente a 2,5 km de distância do Cursinho Ideal, próximo a avenidas importantes da cidade, shopping, um clube de classe média alta, além de vários pontos de comercio e serviços. O equipamento foi instalado a aproximadamente 2 metros do solo, exposto a elementos do clima como sol, e chuva, e próximo a residências (inclusive no quintal de uma), em uma área de predomínio de impermeabilização do solo. Observe a localização da instalação dos equipamentos na figura 6. Figura 6 - Localização da instalação das miniestações automáticas no ambiente interno e externo Fonte: Google Earth Pro. Org. Autor, 2021. As miniestações automáticas utilizadas, foram programadas para registrar as informações de temperatura e umidade relativa do ar, em um intervalo de aproximadamente 10 minutos, e, a cada 60 minutos, ela registrar a média do horário. 55 Esses dados foram transferidos ao computador no termino dos registros, e utilizados para a elaboração de tabelas através da plataforma Excel 201310. Foram produzidas tabelas completas referentes aos valores reais registrados (disponível em anexo), e tabelas de formatação condicional com classificações coropléticas, após a aplicação do Índice de Temperatura Efetiva (THOM, 1959). Estas últimas, serão apresentadas e analisadas no capitulo 7.3 deste trabalho. 6.7. Elaboração do Questionário, gráficos e nuvem de palavras. Considerando o caráter subjetivo do conforto térmico humano, julgou-se relevante não se ater somente aos registros e aplicação do Índice de Temperatura Efetiva, por mais que essas metodologias tenham se mostrado satisfatórias. Para tanto, os próprios alunos e professores que frequentaram as salas de aulas do Cursinho Ideal, pudessem deixar suas contribuições, e o único meio viável de fazê-lo respeitando o distanciamento em função da pandemia de covid-19 e ainda assim atingindo o maior número de pessoas, era através da formulação de um questionário online. O questionário foi elaborado através da plataforma Formulários Google11, e buscou identificar o perfil do participante (aluno ou professor, sexo biológico e faixa etária), a indumentária média utilizada ao frequentar as aulas, e principalmente a percepção térmica que esses participantes têm da sala de aula, as consequências sentidas e suas opiniões a respeito de possíveis melhorias no ambiente para melhorar o conforto térmico. Para tanto, foram elaboradas 16 questões, sendo algumas de múltipla escola, algumas de caixa de seleção (permite selecionar mais de uma alternativa), e por fim, na última, uma caixa de texto onde os participantes poderiam deixar contribuições por escrito. Esse formulário foi elaborado com base nas leituras de Frota