RESSALVA Atendendo solicitação da autora, o texto completo desta tese será disponibilizado somente a partir de 29/09/2020 Câmpus de São José do Rio Preto Michelle Aranda Facchin Identidades femininas em Mia Couto: representações de uma certa mulher africana São José do Rio Preto 2019 Michelle Aranda Facchin Identidades femininas em Mia Couto: representações de uma certa mulher africana Tese apresentada como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Letras, junto ao Programa de Pós-Graduação em Letras, do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Câmpus de São José do Rio Preto. Orientadora: Flávia Nascimento Falleiros São José do Rio Preto 2019 Michelle Aranda Facchin Identidades femininas em Mia Couto: representações de uma certa mulher africana Tese apresentada como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Letras, junto ao Programa de Pós-Graduação em Letras, do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Câmpus de São José do Rio Preto. Comissão Examinadora Profª. Drª. Flávia Nascimento Falleiros UNESP – São J. do Rio Preto (Ibilce) Orientadora Profª. Drª. Maria Suzana Moreira do Carmo UFU - Universidade Federal de Uberlândia Membro Titular Prof. Dr. Ulisses Infante UNESP – São J. do Rio Preto (Ibilce) Membro Titular Profª. Drª. Cláudia Maria Ceneviva Nigro UNESP – São J. do Rio Preto (Ibilce) Membro Titular Profª. Drª. Renata Soares Junqueira UNESP – Araraquara Membro Titular São José do Rio Preto 29 de março de 2019 AGRADECIMENTOS À minha orientadora, Flávia Nascimento Falleiros, pelas correções, pelo carinho, prestigioso apoio e, acima de tudo, pelo exemplo de ética, profissionalismo e profundo conhecimento. A todos os membros da banca de qualificação, meu sincero agradecimento por terem colaborado com este trabalho. Os apontamentos foram fundamentais para o enriquecimento desta pesquisa: À Maria Suzana do Carmo, pela atenção, pelas várias indicações de leitura, e pelo profundo conhecimento sobre o conteúdo deste trabalho. À Cláudia Nigro, por invocar um olhar feminista ao texto. Aos membros titulares Cláudia Ceneviva Nigro, Maria Suzana Moreira do Carmo, Renata Soares Junqueira e Ulisses Infante, por estarem presentes na banca de defesa. Aos membros suplentes Fabiana Carelli, Jorge Valentim e Lúcia Granja, por aceitarem o convite. A todos que direta ou indiretamente ajudaram no processo de construção do meu Ser. Total agradecimento por existir e pela força de resistir perante todas as lutas até aqui travadas, dentre elas, a de ser mulher. Os homens não olham as mulheres que acabaram de amar porque têm medo. Têm medo do que podem encontrar no fundo dos olhos delas. (COUTO, 2009d, p. 142) RESUMO Este trabalho de pesquisa surgiu com o objetivo de compreender o processo de representação das identidades femininas nas coletâneas de contos de Mia Couto, considerando-se o texto literário como materialidade em que a ética e a estética se aliam na configuração de realidades possíveis do universo feminino moçambicano. Os contos fazem referências a cidades, a nomes de origem bantu e a outros aspectos culturais de Moçambique, para a criação de um mundo ficcional sob a perspectiva das mulheres. Os textos suscitam reflexões ácidas, por meio de “nós” ideológicos instaurados dialeticamente. Dois pilares coabitam no corpus: a submissão e a coação feminina denunciada em suas múltiplas formas e a reação e resistência das personagens rumo à elaboração de realidades mais igualitárias. Para a realização deste estudo, baseamo-nos em uma bibliografia específica dos Estudos Literários, posta em diálogo com a Psicanálise, a Antropologia, a História das Religiões, a Filosofia, dentre outras áreas importantes para a reflexão aqui apresentada. Os resultados obtidos demonstram que as narrativas analisadas, em que pesem algumas de suas contradições, podem ser compreendidas como elaborações significativas que apontam para possíveis rupturas e para a resistência frente a universos os quais rebaixam e anulam o feminino. Palavras-chave: Mia Couto; Representação literária; Resistência; Feminino. ABSTRACT This essay was written with the objective of comprehending the representation process of feminine identities in Mia Couto’s collections of short stories, considering the literary text as materiality in which ethics and aesthetics work together to create possible realities in the Mozambican feminine universe. The stories make references to cities, bantu names and other cultural aspects of Mozambique, participating in the construction of fictional worlds viewed through women’s perspectives. The texts encourage acidulous reflections, due to the ideological “knots” insured by a dialectic process. Two pillars are the basis of the corpus: the submission of women, as victims of the coactions reported in their multiple ways and the resistance of characters to elaborate more egalitarian realities. This research was conducted, based on specific Literary studies, in dialogue with Psychoanalysis, Anthropology, History of Religions, Philosophy, and other important fields for the proposed study. The results demonstrate that these short stories, in spite of some of their contradictions, may be considered as significant elaborations, providing possible ruptures and means of resistance against universes that lower and annulate the feminine. Keywords: Mia Couto; Literary representation; Resistance; Feminine. RÉSUMÉ Ce travail de recherche vise à comprendre le processus de représentation des identités féminines dans un certain nombre de contes de Mia Couto, considérés, en tant que textes littéraires, comme une matérialité dans laquelle éthique et esthétique s’associent dans la configuration de réalités possibles de l'univers féminin. Ces contes font allusion à des villes, à des noms d'origine bantoue et à d'autres aspects culturels du Mozambique afin de créer un monde fictif du point de vue des femmes. Ces textes contiennent des réflexions acides qui expriment des « nœuds » idéologiquement établis. Deux piliers cohabitent dans ce corpus: la soumission et la coercition féminine dénoncées sous leurs multiples formes et la réaction et la résistance des personnages qui visent à l'élaboration de réalités plus égalitaires. Pour mener à bien cette étude, nous nous sommes appuyées sur une bibliographie spécifique des Études Littéraires, mise en dialogue avec la Psychanalyse, l’Anthropologie, l’Histoire des religions, la Philosophie, parmi d'autres domaines importants pour notre réflexion. Les résultats obtenus démontrent que les récits analysés, malgré leurs contradictions, peuvent être compris, dans leur ensemble, comme une élaboration significative qui suggèreune éventuelle rupture et une résistance contre un univers qui dégrade et annule le féminin. Mots-clés: Mia Couto; Représentation Littéraire; Résistance; Féminin. SUMÁRIO INTRODUÇÃO p. 10 SOBRE O MÉTODO p. 12 CAPÍTULO I 1.1 Uma certa mulher africana? 1.2 Literatura e representação p. 19 p. 19 p. 26 CAPÍTULO II- NARRATIVA, IDEOLOGIA E RESISTÊNCIA p. 33 CAPÍTULO III 3.1 Vazio e nulidade 3.1.1 Os negros olhos de Vivalma 3.1.2 O cesto 3.1.3 Amor à última vista 3.1.4 Rosalinda, a nenhuma 3.1.5 Meia culpa, meia própria culpa 3.1.6 A despedideira 3.1.7 Os amores de Alminha 3.1.8 O baralho erótico 3.1.9 Na tal noite 3.1.10 A saia almarrotada 3.1.11 As cartas 3.1.12 A confissão de Tãobela 3.2 Vias possíveis menos desiguais 3.2.1 Ofélia e a eternidade 3.2.2 Dois corações, uma caligrafia 3.2.3 Lenda de Namarói 3.2.4 O caçador de ausências 3.2.5 O indiano dos ovos de ouro 3.2.6 A viagem da cozinheira lagrimosa 3.2.7 Maria Pedra no cruzar dos caminhos 3.2.8 O perfume 3.3 Espectros do macho destronado 3.3.1 Mulher de mim p. 42 p. 44 p. 44 p. 47 p. 50 p. 53 p. 57 p. 61 p. 64 p. 67 p. 69 p. 73 p. 78 p. 80 p. 82 p. 83 p. 87 p. 90 p. 94 p. 99 p. 104 p. 107 p. 110 p. 113 p. 113 3.3.2 O pescador cego 3.3.3 Entre a missa e as misses 3.3.4 Joãotónio, no enquanto 3.3.5 Os olhos fechados do diabo do advogado 3.3.6 Saíde, o Lata de Água 3.4 Morte como libertação 3.4.1 Afinal, Carlota Gentina não chegou de voar? 3.4.2 Os olhos dos mortos 3.4.3 Na berma de nenhuma estrada 3.4.4 Na terceira pessoa 3.4.5 A menina de futuro torcido CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS p. 116 p. 119 p. 124 p. 126 p. 128 p. 131 p. 132 p. 138 p. 141 p. 144 p. 146 p. 150 p. 153 10 INTRODUÇÃO De modo geral, é possível afirmar que os contos de Mia Couto tratam de temas comuns ao universo moçambicano, tais como as tradições ancestrais, o modo de ver animista, o racismo, as práticas familiares, em contextos híbridos nos quais os traços ideológicos colonialistas aparecem como parte da formação de Moçambique. Preocupamo-nos, em especial, com os aspectos da literatura miacoutiana ligados às personagens femininas, por meio da habilidade do autor em representar identidades, seja pelo trabalho empreendido no foco narrativo, sob uma perspectiva predominantemente feminina, assim como também das temáticas e os problemas sociais enfrentados pela mulher. Recortamos a vasta produção do escritor moçambicano, com o objetivo de estudarmos as personagens femininas e suas configurações no texto literário, campo no qual as relações entre os gêneros são questionadas e as mulheres, supostamente sufocadas pela cultura imperialista e patriarcal, são reformuladas no sentido de romperem os paradigmas e os estereótipos da africana considerada “sem poder, ignorante, pobre, sem escolaridade, de visão limitada, doméstica, submissa à família, vitimizada.”1 (MOHANTY apud TAGLIACOZZI, 2007, p. 347, tradução nossa). A tendência em abordar temáticas relacionadas às margens é comum na escrita de Mia Couto, vinculada a uma preocupação com os africanos e também com aqueles grupos duplamente marginalizados dentro do continente colonizado, como Fonseca e Cury afirmam: Da margem, criando condições enunciativas para a voz daqueles “da margem” – os africanos, mas também os que na África são marginalizados -, Mia Couto produz uma escrita expandida que consegue abrigar as falas de outros espaços marginalizados do mundo (FONSECA; CURY, 2008, p. 16). Com base nessa perspectiva, esta tese é fruto do estudo das coletâneas de contos do autor, tendo como objetivo identificar a figuração da mulher moçambicana nos contextos patriarcais e as formas de resistência empreendidas na narrativa, cujo espaço serve de reorientação do olhar crítico 1“powerless, ignorant, poor, uneducated, tradition-bound, domestic, family-oriented, victimized.” (MOHANTY apud TAGLIACOZZI, 2007, p. 347) 11 do leitor sobre o feminino. Listamos, em ordem de publicação, as coletâneas estudadas e os trinta e um contos escolhidos para compor as análises propostas neste trabalho: Vozes anoitecidas (1986) - “Afinal, Carlota Gentina não chegou de voar?”; “Saíde, o lata de água”; “A menina de futuro torcido”. Cada homem é uma raça (1990) – “O pescador cego”; “Mulher de mim”; “Rosalinda, a nenhuma”. Cronicando (1991) – “Entre a missa e as misses”. Estórias abensonhadas (1994) – “O perfume”; “Joãotónio, no enquanto”; “Os olhos fechados do diabo do advogado”; “Lenda de Namarói”. Contos do nascer da terra (1997) – “A viagem da cozinheira lagrimosa”; “O indiano dos ovos de ouro”; “O baralho erótico”; “Os negros olhos de Vivalma”. Na berma de nenhuma estrada (1999) – “Ofélia e a eternidade”; “Amor à última vista”; “Na berma de nenhuma estrada”; “Na terceira pessoa”; “As cartas”; “Dois corações, uma caligrafia”; “Os amores de Alminha”; “A confissão de Tãobela”. O fio das missangas (2003) – “O caçador de ausências”; “Maria Pedra no cruzar dos caminhos”; “Os olhos dos mortos”; “A despedideira”; “Na tal noite”; “Meia culpa, meia própria culpa”; “A saia almarrotada”; “O cesto”. No capítulo intitulado “Sobre o Método”, apresentamos as orientações metodológicas para o desenvolvimento desta pesquisa, assim como os aspectos que caracterizam os contos analisados e sua relação com o conceito de resistência. No capítulo 1, é apresentado o panorama da mulher em África e a relação com as marcas históricas atuantes na representação de personagens femininas na sociedade patriarcal, sob o viés da diversidade cultural e do hibridismo. Também nesse mesmo capítulo, falamos sobre a representação como processo de desconstrução dos estereótipos da mulher moçambicana e 12 apresentamos a importância dos contos miacoutianos no estabelecimento de caminhos para se pensar os sentidos possíveis e as complexidades das relações entre os gêneros. No capítulo 2, intitulado “Narrativa, ideologia e resistência”, são aprofundados os conceitos de ideologia e resistência da narrativa, ligando- os aos aspectos que caracterizam os textos de Mia Couto. No último capítulo, constam as análises das narrativas, seguindo a organização apresentada no capítulo “Sobre o método”, a fim de comprovar os pontos ressaltados sobre a representação da mulher como processo de resistência à ideologia patriarcal. SOBRE O MÉTODO Nosso caminho investigativo não se preocupou em seguir exclusivamente uma teoria literária, mas em manter o diálogo entre consonantes áreas do saber, que julgamos importantes para complementar, enriquecer e validar este estudo, com o objetivo central de compreender o texto literário como forma de resistência ideológica. Nossas análises pautam-se nos contos de Mia Couto em que aparecem as tensões características de uma literatura na qual coexistem ideologias tradicionais patriarcais e discursos contraideológicos, sendo as narrativas em questão espaços de reformulação das identidades femininas sob a dominação masculina. Os textos analisados enfocam personagens mulheres e as narrações são realizadas como meios de resistência e de mudança, em que há um reposicionamento frente aos discursos insistentes na inferioridade da mulher em relação ao homem. Podemos dizer que essa literatura opera uma espécie de “negatividade”, porque nela percebemos um trabalho ideológico de questionamento em relação às práticas patriarcais representadas. Para Alfredo Bosi, a “negatividade” de uma narrativa está no fato de nela encontrarmos: “um complexo de sentimentos de desconforto e percepções críticas resistentes às convenções estabelecidas.” (BOSI, 2002, p. 30). As narrativas escolhidas para o desenvolvimento deste estudo são aquelas em que há uma tensão ideológica sobre o papel submisso das mulheres, apresentando formas de resistência a ele. Há personagens femininas a demonstrarem as desigualdades pelas quais passam, assim como outros elementos narrativos capazes de romper alguns 13 padrões sociais, tais como: o casamento, a violência familiar, a discriminação, o cárcere psicológico, a solidão, dentre outros. Baseando-nos em Bosi (2002), consideramos “tensão” como um “dado de realidade social e íntimo que engendra a diferença, a oposição e o aberto contraste”. (BOSI, 2002, p. 39). Para o crítico brasileiro, a literatura é um “campo minado de tensões”, construído por uma relação complexa, na qual funcionam valores contrários (“valores” e “antivalores”), podendo ocorrer a convivência entre eles ou o domínio e a sobreposição de um ao outro. Abdala Junior (2017) considera a tensão e os conflitos como parte de um processo inerente à arte literária chamada por ele de “engajada”, cujo poder está na capacidade de problematizar os fatos e valores de acordo com a abertura semântica proporcionada pelo campo literário, em um processo criativo rumo às rupturas de padrões e estereótipos, aos novos olhares e às inovações na forma. Baseamo-nos, portanto, nas narrativas que apresentam resistência ao patriarcalismo, por meio de um trabalho no foco narrativo, no modo como as situações são descritas, na construção das personagens, sob um olhar de denúncia das atrocidades possíveis no cotidiano feminino – podendo ser considerado dentro do que Bosi (2002) chama de resistência como “processo constitutivo de uma escrita”, um modo de escrever que divulga antivalores. Esses textos são formas de denunciar a realidade feminina moçambicana diante de situações desiguais, repletas de valores antipatriarcais. A voz enunciativa dos contos analisados ora assume uma dimensão simbólica patriarcal, reiterando a figura feminina submissa, ora a substitui por um feminino agente e questionador, abrindo em ambos os casos possibilidades de reflexão e reformulação da realidade ali representada. Portanto, a resistência é tratada por essas duas vertentes: 1. Uma urgência temática antipatriarcal, explorando os limites entre os gêneros; 2. Uma manifestação estética que suscita reflexões e diferentes modos de olhar a representação das mulheres moçambicanas no contexto patriarcal, seja pelo trabalho especial do foco narrativo, seja pelo tipo de narrador, pela utilização de uma estética animista, dentre outros aspectos. Nos contos de Mia Couto, a representação da mulher não é fixa nos binômios de homem dominador e mulher dominada, uma vez que expõe um universo feminino multi-identitário, atrelado à tensão ideológica existente entre a 14 condição de submissão extrema da mulher e a sua libertação das situações de coerção. Essa mundividência2 feminina é configurada por um conjunto de textos nos quais a variedade de identidades cria uma espécie de oposição entre valores e antivalores, erguendo-se como questionamento e reformulação das desigualdades ligadas a construções histórico-culturais da mulher moçambicana. Estudamos as identidades femininas de Mia Couto com base no pressuposto de que o conceito de identidade não é homogêneo, e, por isso, deve ser considerado, como afirma Ana Margarida Fonseca (2010, p. 238), “um construto dinâmico, em permanente redefinição e reconstrução.” A literatura de Mia Couto, em especial, caracteriza-se, segundo a mesma autora, pelo hibridismo, em que convivem distintas vozes e tradições (FONSECA, 2010, p. 240). Em um de seus textos de opinião, Mia Couto (2009b) menciona que a identidade do africano no contexto pós-independência não se prende aos valores ancestrais tradicionais, sendo, pois, importante considerar as influências dos portugueses e outros povos na formação dos africanos. Outro fator comentado pelo escritor refere-se às classificações binárias, excludentes entre si, buscando um teor essencialmente africano, sendo que o contexto pós-independência não comporta identidades fixas, dotadas de “pureza ancestral”. Desse modo, podemos refletir sobre a representação feminina pelo mesmo viés, ou seja, como algo aberto a uma mundividência complexa. De acordo com essa visão, a literatura miacoutiana expõe a pluralidade, apresentando identidades das quais exala a urgência da reformulação constante, considerando-se a literatura como espaço de tensões3. Não pretendemos apontar essencialismos de uma certa cultura africana, posto que não os há, muito menos dos discursos pós-coloniais, mas sobretudo buscamos demonstrar a forma de representação da mulher miacoutiana em um complexo jogo de simbolismos, que caminham não a um ideal de moçambicanidade ou africanidade, mas a uma diversidade característica da 2 Mundividência feminina é um termo ao qual tivemos acesso por meio da leitura de Maria Armandina Maia (2007). Significa o universo feminino representado na literatura, tendo por base a variedade de nuances que coabitam o processo de representação de identidades, de crenças e de valores. Tal conceito considera a permanência de ideologias já em pauta, como a criação de novas formas de ver o universo feminino pela literatura. 3 Tensão, segundo Alfredo Bosi, “é o dado de realidade social e íntimo que engendra a diferença, a oposição e o aberto contraste.” (2002, p. 39). Para Abdala Junior (2017), a tensão é própria do processo dialético de questionamento e reelaboração simbólica da realidade em áreas de conflito. 15 mulher em contextos patriarcais4 e antipatriarcais do Moçambique pós- independência, representado nos textos analisados. Preocupamo-nos, portanto, com a significação da mulher moçambicana, atentando-nos principalmente para o processo de representação ligado às questões históricas e ideológicas em torno do feminino e para a importância da literatura como expressão das relações de poder que constroem os gêneros, pois estamos de acordo com Butler (2003, p. 24), quando ela menciona que o gênero é construído culturalmente, fazendo parte do processo de representação5, por meio do qual podemos identificar questões político-ideológicas, a serem confirmadas ou distorcidas. A estudiosa trabalha a questão da mulher como uma formação discursiva na qual são operadas práticas de exclusão por sujeitos e estruturas de poder presentes nas representações dos campos político e cultural. Para Butler, devemos considerar o patriarcalismo como uma variante cultural, com as particularidades raciais, étnicas, de classe, características de determinada identidade, povo ou nação. Para Regina Navarro Lins, patriarcado é “uma organização social baseada no poder do pai, e a descendência e o parentesco seguem a linha masculina. As mulheres são consideradas inferiores aos homens e, por conseguinte, subordinadas à sua dominação.” (LINS, 2007, p. 42). De acordo com Schneider: Um dos aspectos problemáticos das organizações de gênero do sistema patriarcal reside em sua organização assimétrica. O sujeito masculino é sempre definido a partir de uma posição central, de maneira mais positiva e independente do que o feminino [...]. Como consequência disso, as mulheres tradicionalmente defrontaram-se com representações do feminino construídas a partir do olhar masculino. (SCHNEIDER, 2000, p. 119-120) Os contos analisados neste trabalho são dotados de um trabalho de representação substancial, abordando uma diversidade de possibilidades para pensarmos sobre o papel das mulheres. Desse modo, nossa pesquisa atenta-se para a representação das personagens femininas, apontando caminhos de 4 Segundo Marilena Chauí, patriarcal é aquilo tudo que é baseado na autoridade do Pai (chefe de família, chefe de secção, chefe de escola, chefe de hospital, etc.) “É um poder que legitima a submissão das mulheres aos homens tanto pela afirmação da inferioridade feminina (fraqueza física e intelectual) quanto pela divisão de papéis sociais a partir de atividades sexuais (feminilidade como sinônimo de maternidade e domesticidade)”. (CHAUÍ, 1980, p. 43) 5 Em seu estudo sobre os gêneros, Butler apresenta o conceito de representação como “a função normativa de uma linguagem que revelaria ou distorceria o que é tido como verdadeiro sobre a categoria das mulheres.” (2003, p. 18) 16 resistência possíveis diante das diferenças e desigualdades enfrentadas nos contextos patriarcais. As mulheres miacoutianas ultrapassam os limites estereotípicos, empreendendo formas de resistência e um olhar de revisitação dos papéis sociais tradicionalmente construídos pela dominação masculina. A obra de Mia Couto, em geral, não apresenta uma militância político- ideológica panfletária sobre o feminino, no entanto, a sua literatura materializa os fatores sociais e externos por meio do recorte representativo das mulheres moçambicanas, com um enfoque às diversidades de comportamentos e modos de pensar as possibilidades de resistência nos contextos patriarcais. Pensando na formulação ideológica do feminino nos contos analisados, podemos afirmar que não há neles uma unilateralidade ideológica, mas há sim, em sua maioria, uma convivência entre ideologia e contraideologia, revelando os maus-tratos sofridos pelas mulheres e outras complexidades do vasto universo moçambicano, que nos permitem considerar a escrita miacoutiana uma literatura engajada, no sentido exposto pelo estudioso Abdala Junior, segundo o qual a literatura engajada “dinamiza-se” como um “campo incompleto e em contínua transformação.” (ABDALA JUNIOR, 2017, p.50). O escritor engajado, portanto, procura desautomatizar o senso comum literário, procurando situar-se em perspectivas sociais que coexistem na sociedade e se tornam aspectos internos da obra literária. Nossa pesquisa demonstra que Mia Couto é um escritor engajado neste sentido, por pautar-se em um método dialético no qual as tensões de diferentes realidades e visões são postas à mostra pela diegese, testando os limites da representação, com base na construção de valores problematizados pela forma como o feminino é simbolizado. Concluímos que a resistência miacoutiana está ligada à arte de narrar histórias de uma perspectiva crítica e reflexiva da qual emerge a necessidade de mudança ora diante de situações-limites em que os homens são colocados em posição superior às mulheres, prejudicando-as, ora diante de mulheres que desvalidam a desigualdade entre os gêneros, agindo de maneira independente, demonstrando ser possível reconstruir uma imagem feminina capaz de lidar com a submissão imposta pelo machismo. A diversidade de identidades, vieses e olhares que as personagens e as tramas de Mia Couto promovem erguem-se a favor do que Abdala Junior (2017) chama de rupturas dos padrões paradigmáticos das textualidades culturais, atualizando, dessa forma, o material 17 discursivo presente sobre a mulher na sociedade patriarcal moçambicana pós- independência, caracterizada pelo hibridismo e mestiçagem.6 De acordo com o estudo realizado por Lourenço Rosário: É difícil de afirmar com segurança se os padrões etno-culturais por que se regem os habitantes do Baixo Zambeze correspondem a uma apropriação, ou a uma assimilação, ou a uma situação de relativa aculturação ou se não se tratará de simples resíduos de valores que se misturaram com os valores autóctones. Considerando como autóctones os grupos bantos que se fixaram no vale antes da vinda de todos os outros grupos não bantus. (ROSÁRIO, 1989, p. 25 grifos do autor) O trecho supracitado demonstra o hibridismo de Moçambique, caracterizado pela diversidade de traços culturais dos povos que ali habitaram durante as invasões e o processo de colonização. No caso dos contos de Mia Couto, observamos serem eles criações que ultrapassam o padrão ideológico de determinada época, porque se baseiam nessa diversidade presente em Moçambique. Como já anteriormente aqui exposto, a postura do escritor engajado não necessariamente envolve uma prática militante e defensora do ideal de nação; antes se utiliza da escrita como fonte de materialização de conflitos sociais, existenciais e formadora de novos comportamentos, mantendo- se sempre atenta aos fatores e possibilidades que se manifestam na práxis humana. A resistência é obra da intuição e da memória na lírica pura, ou, na outra ponta, é obra da consciência crítica feita sátira social. Em ambas a resistência dá-se menos por força de uma vontade tensa e rígida, determinada a vencer as trampas da ideologia, do que por uma abertura ao mundo da vida inerente à faculdade rara da atenção às coisas e aos homens que nos rodeiam [...]. A arte, de todo modo, não deve ser obrigada a provar as suas razões, mas a revelar situações em que se mostrem e falem por si mesmos o bem e o mal, a verdade e a mentira, o belo e o feio, a liberdade e a opressão. (BOSI, 2010, p. 176) Pelo que apresentamos no excerto mencionado, o papel da literatura no que se refere à resistência ideológica se liga ao enriquecimento do texto, pelos diálogos e conflitos, expressando as diferentes nuances da realidade social e 6 Moçambique passou por um processo de colonização. Em consequência disso, no período pós-independência, encontramos diversas culturas e valores agregados durante o processo de conquista dos portugueses, e que se mantém no país como marca histórica. Atualmente, Moçambique é híbrida em termos de religião, línguas (embora a língua portuguesa seja a oficial, há vários dialetos e línguas locais), dentre outros aspectos culturais. 18 deixando a cargo do leitor o trabalho de construção e interpretação que envolve a reformulação de padrões e estereótipos, os quais influenciarão nas condutas e na vida humana, conforme comprovamos também nas palavras de Antônio Candido: Paradoxos, portanto, de todo lado, mostrando o conflito entre a ideia convencional de uma literatura que eleva e edifica (segundo os padrões oficiais) e a sua poderosa força indiscriminada de iniciação na vida, com uma variada complexidade nem sempre desejada pelos educadores. Ela não corrompe nem edifica, portanto; mas, trazendo livremente em si o que chamamos o bem e o que chamamos o mal, humaniza em sentido profundo, porque faz viver. (CANDIDO, 1999, p. 85) Portanto, a literatura não é expressão exclusiva da ideologia dominante, como também não se elabora pela prática consciente do escritor engajado ao intento contraideológico, porque muitas vezes o social e o ideológico se amalgamam a estruturas inconscientes e se manifestam de forma aleatória, a serviço da criação artística, elaborada pelo trabalho do autor, e não predominantemente submissa aos desejos e intenções do mesmo, pois a obra sempre está aberta a outros significados além daqueles pensados nos limites daquele que escreve. Se pensarmos dessa forma, entendemos a obra de Mia Couto como espaço onde convivem ideologias, valores conflituosos, estruturados por um trabalho textual, servindo também a questões ideológicas que não necessariamente nasceram da intenção e da vontade do indivíduo, mas estão instauradas na materialidade discursiva, cujo valor e abertura depende de atualizações ocasionadas no processo de recepção da obra e de todas as questões culturais envolvidas na literatura. 150 CONSIDERAÇÕES FINAIS Por meio de nosso estudo, comprovamos haver conflitos e tensões, elementos atuantes na construção da resistência ideológica nos contos miacoutianos. Os antivalores divulgados nos textos analisados contrapõem-se ao patriarcalismo e às práticas que comumente rebaixam, excluem e rechaçam a mulher na sociedade moçambicana. Moçambique tem uma diversidade de línguas, culturas, um hibridismo entre as práticas matrilineares e patrilineares oriundas da interação entre os povos que influenciaram na história do país. Nos contos de Mia Couto, há referências a lugares em Moçambique, tais como Muchatazina, Mutarara, Espungabera, Maputo, Quissimusse, assim como a utilização de provérbios moçambicanos e o uso de vocabulário e nomes africanos, como: mulala, xipefo, nóii, Nurima, Mazembe, dentre outros. Como consequência do processo de hibridação, há também nomes de origem portuguesa, indiana e palavras características de um discurso imperialista, como por exemplo: “pôr-se em modos de ser tropa” (no conto “Joãotónio no enquanto”). Há nos contos analisados a questão mencionada por Mia Couto em seu ensaio: “o meu país é um território de muitas nações. O idioma português é uma língua de uma dessas nações – um território cultural inventado por negros urbanizados, mestiços, indianos e brancos.” (COUTO, 2011, p. 177) A figura feminina é enfatizada em todos os textos escolhidos para este estudo, sendo todos eles voltados para a temática da desigualdade ou não entre os gêneros e a marginalização ou não do feminino, submetido a situações diversas. Os textos revelam identidades femininas atreladas a um universo ficcional facilitador da igualdade, resistência e desconstrução dos tradicionalismos que reiteram a submissão da mulher. O que todas as narrativas estudadas revelam é o poder da escrita, tendo como perspectiva o olhar feminino, a expor possibilidades para romper com os paradigmas patriarcais. O pressuposto de que toda narrativa tem sua contranarrativa se comprova neste trabalho, por este demonstrar muitas histórias nas quais há um trabalho textual contra a condição subalterna da mulher. Por meio da escrita, a voz feminina escapa do confinamento que a sociedade, historicamente, tem-lhe imposto pelo padrão do casamento 151 arranjado ou não, da violência familiar, da discriminação contra as viúvas e solteiras e a anulação em vários outros sentidos. As narrativas são testemunhas e tradutoras do universo feminino em Moçambique, tornando-se veículo de ruptura dos limites que confinam a figura feminina nas margens, realidade ficcional cabível a outros femininos presentes em outras culturas, o que demonstra a universalidade das coletâneas. As histórias de Mia Couto constroem-se por meio de uma perspectiva crítica e reflexiva como um caminho para mudanças porque, em vez de reafirmarem a mulher na condição de submissão e sofrimento, elas despertam outras possibilidades de atuação feminina nos universos representados. A resistência temática é explorada na expressão do texto, que se utiliza do foco narrativo e dos percursos textuais para desbancar o discurso machista, abrindo possibilidades para a reformulação do olhar sobre o feminino. Há uma trama ideológica nos contos a denunciar o rebaixamento das mulheres moçambicanas, sugerindo a elas realidades diferentes, seja pela saída de casa, pela vingança contra a traição e a violência praticadas pelos homens, ou pela assunção de papéis mais participativos e críticos diante da realidade que as rodeiam. As narrativas analisadas partem do sistema ideológico patriarcal, pendendo para a denúncia e/ou reformulação do mesmo, pelo trabalho textual focado na estruturação de realidades de valorização e respeito ao feminino. Os contos suscitam reflexões ácidas desse nó ideológico instaurado dialeticamente, por meio de dois pilares que coabitam os textos: a submissão e a coação feminina denunciada em suas múltiplas formas e a reação e resistência da mulher rumo à elaboração de novas realidades mais igualitárias. As instâncias ideológicas dos textos se referem ao modo como a mulher é reificada e rebaixada na sociedade, deixando transparecer a urgência de mudanças no comportamento, as crenças e hábitos ligados ao casamento, ao posicionamento no casamento e na sociedade. Este trabalho comprova a materialidade narrativa miacoutiana como espaço de resistência ideológica, com base em um processo dialético contraideológico, na denúncia da situação da mulher na sociedade moçambicana. A estética de resistência presente nos contos possibilita a construção de um arquivo cultural sobre as complexidades das relações entre os gêneros, principalmente como parte de um processo de trocas simbólicas, envolvendo a representação de diferentes identidades femininas, desvelando, 152 assim, caminhos de oposição e sustentação de novos saberes sobre o país em questão. A mulher moçambicana é representada como um mosaico de identidades e papéis, desmitificando o exotismo e os estereótipos a ela ligados pelo imaginário ocidental. 153 REFERÊNCIAS ABDALA JUNIOR, Benjamin. Literatura, história e política. 3. ed. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2017. AGAMBEN, Giorgio. O que é o contemporâneo? e outros ensaios. Trad. Vinícius Nicastro Honesko. Chapecó: Argos, 2009. ALBUQUERQUE JR, Durval Muniz de. Máquina de fazer machos: gênero e práticas culturais, desafio para o encontro das diferenças. 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