UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS
CÂMPUS DE JABOTICABAL
PITAYA: PROPAGAÇÃO E CRESCIMENTO DE PLANTAS
Ítalo Herbert Lucena Cavalcante
Engenheiro Agrônomo
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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS
CÂMPUS DE JABOTICABAL
PITAYA: PROPAGAÇÃO E CRESCIMENTO DE PLANTAS
Ítalo Herbert Lucena Cavalcante
Orientador: Prof. Dr. Antonio Baldo Geraldo Martins
Tese apresentada à Faculdade de Ciências Agrárias e
Veterinárias – UNESP, Campus de Jaboticabal, como
parte das exigências para a obtenção do título de
Doutor em Agronomia (Produção Vegetal).
Jaboticabal – SP
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Cavalcante, Ítalo Herbert Lucena
C376p Pitaya: propagação e crescimento de plantas / Ítalo Herbert
Lucena Cavalcante. – – Jaboticabal, 2008
vii, 94 f. : il. ; 28 cm
Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de
Ciências Agrárias e Veterinárias, 2008
Orientador: Antonio Baldo Geraldo Martins
Banca examinadora: Aparecida Conceição Boliani, João Alexio
Scarpare Filho, Carlos Ruggiero, João Carlos de Oliveira
Bibliografia
1. Hylocereus undatus. 2. Pitaya - raízes adventícias. 3. Pitaya -
sombreamento. I. Título. II. Jaboticabal-Faculdade de Ciências
Agrárias e Veterinárias.
CDU 634.775
Ficha catalográfica elaborada pela Seção Técnica de Aquisição e Tratamento da Informação –
Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação - UNESP, Câmpus de Jaboticabal.
DADOS CURRICULARES DO AUTOR
ÍTALO HERBERT LUCENA CAVALCANTE – nascido em 28 de Setembro de
1979, em Campina Grande – Paraíba. Cursou o segundo grau no Colégio ‘Questão de
Inteligência’ na cidade de João Pessoa-PB onde recebeu o prêmio ‘Honra ao Mérito’
pelo brilhante desempenho acadêmico no ano de 1997. Ingressou no curso de
Agronomia em 1999 na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), onde foi bolsista de
Iniciação Científica do CNPq de Julho de 1999 a Agosto de 2003, desenvolvendo
trabalhos diversos na área de fruticultura e solos. Obteve o título de Engenheiro
Agrônomo em 2003, recebendo o prêmio honorífico “Jaime Coelho de Morais” pelo
melhor desempenho acadêmico entre os formandos de Agronomia e Zootecnia. É autor
e co-autor de várias publicações científicas dentre artigos (47, em seis países), resumos
(37), boletins técnico-científicos (5), capítulos de livros (4) e livros (2). Em 2004
ingressou no curso de Mestrado em Agronomia (Produção Vegetal) pela Faculdade de
Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Campus de
Jaboticabal. Em 2005 ingressou no Doutorado em Agronomia (Produção Vegetal) pela
mesma Instituição. A partir de 2007 passou a fazer parte da comissão editorial da
Revista de Biologia e Ciências da Terra (Qualis “A”). Atualmente é professor efetivo na
área de fruticultura do curso de Agronomia da Universidade Federal do Piauí, Campus
de Bom Jesus.
DEDICO
Essa tese é dedicada a duas pessoas muito importantes em minha vida.
Dedico ao professor Lourival Ferreira Cavalcante, meu primeiro e eterno mestre,
que me iniciou no meio científico, me fez entender com ética e moral que o
conhecimento e a decência constituem a base para a construção de um pesquisador
cidadão, consciente de que o objetivo de sua pesquisa não é apenas o resultado da
análise de variância, mas também a amplitude social que o trabalho pode alcançar. Tive
a oportunidade e o privilégio de ser mais cobrado, mais vigiado, trabalhar mais, acordar
mais cedo e aprender mais, seja no campo, no computador ou na mesa do almoço
onde meu pai e professor demonstrava que acreditar na existência do bem e do mal,
ajudar sem esperar nada em troca, não trabalhar mais do que deve nem menos do que
precisa faz do pesquisador alguém mais humano sem desviar do foco principal da vida:
ser feliz. Ao senhor meu pai, colega de trabalho, eterno orientador, irmão e, antes de
qualquer coisa, meu melhor amigo, essa singela homenagem!
Dedico também à minha cúmplice, companheira de trabalho e esposa Márkilla
Zunete Beckmann-Cavalcante, uma colega de pós-graduação que consquistou meu
respeito e amizade e se tornou, com seu jeito meigo e tranquilo, alguém fundamental
em minha vida. Devo agradecer não apenas pela ajuda nos trabalhos e na própria tese,
mas pelo amor com que me aconselha sempre a seguir o melhor caminho, pela
maneira como cuida de tudo com cuidado e presteza me dispensando das
preocupações do dia-a-dia, sem isso a realização dos trabalhos teria sido muito mais
difícil. Pelos sucessos e tropeços que tivemos e soubemos contorná-los, pela fé em
Deus, pelo exemplo de integridade e respeito que representa, dedico à você minha
“galeguinha” e eterno amor, esse sonho esperado durante nove anos!
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
A Deus, sem o qual nada teria sentido.
A minha família...
Aos meus queridos pais, Lourival e Lúcia, exemplos de vida, amor, união,
cumplicidade e confiança, que sempre me deram o suporte necessário para ultrapassar
os obstáculos da vida. - Mainha, muito obrigado!
Ao meus avós maternos Irene e Jorge (in memorian) e paternos Maria (in
memorian) e Luiz (in memorian). Em especial agradeço a vovô Luiz, apesar da curta
convivência ainda enquanto criança, sempre senti sua presença ao meu lado nos
momentos mais difíceis.
As minhas queridas irmãs, Cybelli, Kézia e Calliandra que sempre estiveram do
meu lado, mesmo em espírito devido à distância que nos separou durante o curso.
A minha nova família, Adílio, Ilaine, Josiéle e Mariéle que me receberam como
um novo membro sem distinção.
Muito obrigado.
AGRADECIMENTOS
À UNESP-FCAV, pela excelência do ensino em fruticultura e oportunidade de
cursar o doutorado em Agronomia/Produção Vegetal.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela
concessão da bolsa de estudo durante o curso de doutorado.
Ao Departamento de Biologia Aplicada à Agropecuária por ceder toda a infra-
estrutura necessária para realização das análises de raízes.
À Universidade Federal do Piauí pela liberação necessária para o término do
doutorado.
Ao Prof Dr Yosef Mizrahi da Ben Gurion University (Israel) pelas bibliografias e
informações quanto à coleta de material para análise.
À Seção de Pós-Graduação, pela pronta atenção sempre dispensada.
Aos professores....
Prof. Dr. Antonio Balo Geraldo Martins, meu orienador desde 2004, que me
ensinou não apenas lições acadêmicas, mas com simplicidade e humildade soube
despertar meu interesse em aprender e buscar sempre o melhor, acima de qualquer
coisa. Agradeço imensamente ao mestre que me acolheu, confiou e soube cobrar da
forma correta, no momento certo e se tornou não apenas um orientador, mas um
exemplo de competência, conhecimento, honestidade e amor à profissão. À você
“Toninho” muito obrigado.
Prof. Raimundo Falcão Neto, pela prestativa ajuda na instalação do experimento
de campo em Bom Jesus, PI.
A todos os meus professores, que nesse curso de doutorado aucxiliaram na
construção do ensino, muito obrigado nesta jornada.
E a vocês...
... colegas de curso pela convivência pacífica, sempre agradável e ajuda
prestada em especial à minha colega de trabalho e amiga Inez Vilar de Morais Oliveira
pelas discussões profissionais diárias, pelas conversas que lembravam nossa saudosa
terra paraibana.
... os funcionários da UNESP-FCAV, em especial à secretária Nádia, sempre
muito dedicada; ao Bedin do ripado de fruticultura; ao Wagner e Sidnéia da Produção
Vegetal; Sônia da Biologia;
... à todos, que de alguma forma contribuíram pela realização deste trabalho,
meu sincero agradecimento.
i
SUMÁRIO
Página
LISTA DE TABELAS ......................................................................................... iii
LISTA DE FIGURAS ......................................................................................... iv
RESUMO ........................................................................................................... vi
SUMMARY ........................................................................................................ vii
CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS ................................................... 8
1.1. REVISÃO DE LITERATURA ...................................................................... 9
1.1.1. Aspectos gerais da pitaya .............................................................. 9
1.1.2. Anatomia radicular de estacas ...................................................... 12
1.1.3. Juvenilidade .................................................................................... 14
1.1.4. Intensidade luminosa para a pitaya .............................................. 15
1.1.5. Adubação orgânica e nutrição mineral da pitaya ....................... 18
1.2. REFERÊNCIAS ………………………………………………………………… 20
CAPÍTULO 2 – JUVENILIDADE NA PROPAGAÇÃO DA PITAYA
VERMELHA POR ESTAQUIA .......................................................................... 30
RESUMO ................................................................................................................. 30
INTRODUÇÃO ............................................................................................. 31
MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................ 32
RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................... 34
CONCLUSÕES ....................................................................................................... 40
REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 40
CAPÍTULO 3 – ANATOMIA RADICULAR EM ESTACAS DE PITAYA ........... 44
RESUMO ................................................................................................................. 44
INTRODUÇÃO ............................................................................................. 45
MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................ 46
RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................... 47
ii
CONCLUSÕES ....................................................................................................... 51
REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 51
CAPÍTULO 4 – ADUBAÇÃO ORGÂNICA E INTENSIDADE LUMINOSA NO
CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E ESTADO NUTRICIONAL DA
PITAYA .............................................................................................................. 55
RESUMO ................................................................................................................. 55
INTRODUÇÃO ............................................................................................. 56
MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................ 58
RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................... 62
CONCLUSÕES ....................................................................................................... 87
REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 86
iii
LISTA DE TABELAS
Página
CAPÍTULO 4 – ................................................................................................. 55
Tabela 1. Características químicas do esterco bovino e do solo antes da
implantação do experimento no perfil de 0-20cm de profundidade 60
Tabela 2 Resumo das análises de variância referentes aos incrementos
percentuais de altura de estaca (ALT), crescimento do ramo
secundário (CRS) e diâmetro do caule (DC) da pitaya em função de
adubação orgânica e percentual de sombra ........................................... 62
Tabela 3. Resumo das análises de variância referentes às concentrações de
macronutrientes na parte aérea de plantas de pitaya ao final do
experimento em função da adubação orgânica (AO) ............................ 76
Tabela 4. Resumo das análises de variância referentes as concentrações de
micronutrientes e sódio na parte aérea de plantas de pitaya ao final do
experimento em função da adubação orgânica (AO) ............................ 84
iv
LISTA DE FIGURAS
Página
CAPÍTULO 2 – ................................................................................................. 30
Figura 1. Porção do dossel de onde as estacas foram oriundas: superior
(ES), mediana (EM) e inferior (EI) ................................................... 33
Figura 2. Percentagem de estacas enraizadas (A) e de estacas vivas (B) de
pitaya em função da porção do dossel de coleta das estacas ........ 35
Figura 3. Comprimento (A) e diâmetro (B) de raízes de pitaya em função da
porção do dossel de coleta das estacas .......................................... 37
Figura 4. Massa seca (A), área (B) e densidade (C) de raízes de pitaya em
função da porção do dossel de coleta das estacas ......................... 39
CAPÍTULO 3 – ................................................................................................. 44
Figura 1. Cortes transversais de estacas de pitaya enraizadas. A e B = ápice
de desenvolvimento do primórdio radicular; C e D = base de
desenvolvimento do primórdio radicular; E = detalhe aproximado
da origem da raiz adventícia ............................................................ 48
Figura 2. Cortes transversais de estacas de Gomphrena macrocephala ....... 49
CAPÍTULO 4 – ................................................................................................. 55
Figura 1. Intensidade luminosa no local do experimento. Bom Jesus/PI,
2007 ............................................................................................... 58
Figura 2. Incrementos percentuais semanais de altura de estaca (AE, A),
comprimento do ramo secundário (CRS, B) e diâmetro do caule
(DC, C) da pitaya em função do percentual de sombrite usado no
cultivo ............................................................................................... 64
Figura 3. Massa seca de parte aérea (A; C.V. = 31,82 e DP = 13,68) e de
raízes (B; C.V. = 32,56 e DP = 1,53) e massa fresca da parte
aérea (C; C.V. = 31,81 e DP = 116,39) de pitaya em função do
percentual do sombrite usado no cultivo. CV = coeficiente de
variação; DP = desvio padrão; barras indicacam erro padrão da
média ............................................................................................... 68
Figura 4. Incrementos percentuais semanais de altura de estaca (AE, A),
comprimento do ramo secundário (CRS, B) e diâmetro do caule
(DC, C) da pitaya em função da adubação orgânica ...................... 70
v
Figura 5. Incrementos percentuais do início para o final do experimento
referentes a altura de estaca (A), diâmetro do caule (B) e
comprimento do ramo secundário (C) da pitaya em função da
adubação orgânica .........................................................................
71
Figura 6. Massa seca de parte aérea (A) e de raízes (B) e massa fresca da
parte aérea (C) da pitaya em função da adubação orgânica ......... 74
Figura 7. Concentrações de nitrogênio (A), fósforo (B), potássio (C), cálcio
(D), magnésio (E) e enxofre (F) no tecido vegetal da pitaya em
função da adubação orgânica ........................................................ 78
Figura 8. Concentrações de boro (A), zinco (B), ferro (C) e sódio (D) no
tecido vegetal da pitaya em função da adubação orgânica ............ 82
vi
PITAYA: PROPAGAÇÃO E CRESCIMENTO DE PLANTAS
RESUMO – Dentre as frutíferas exóticas, a pitaya vermelha (Hylocereus
undatus) apresenta potencial como opção para diversificação da fruticultura nacional e
incremento de renda no campo. Os cultivos com essa frutífera no Brasil ainda são
poucos e há necessidade de informações locais com a finalidade de subsidiar
potenciais produtores. Neste sentido, o presente trabalho teve por objetivo: i) identificar
a co-existência dos estágios juvenil e adulto e o efeito na propagação da pitaya por
estaquia; ii) estudar anatomicamente as raízes adventícias de estacas de pitaya; iii)
avaliar o desenvolvimento e o estado nutricional da pitaya em função da intensidade
luminosa e adubação orgânica. No primeiro estudo, a posição de coleta da estaca
exerceu efeito quantitativo na formação de raízes da pitaya, as estacas juvenis
apresentaram 35% mais estacas com raízes que estacas adultas, permitindo concluir
que os estágios juvenil e adulto co-existem no dossel da pitaya. No segundo estudo,
observou-se que as raízes adventícias em estacas de pitaya originam-se no periciclo,
não ocorre formação de raízes a partir de calos e não há a formação de calos em
estacas de pitaya. A partir do terceiro estudo infere-se que no cultivo da pitaya é
necessária cobertura contra a incidência direta dos raios solares, onde a tela de
propileno com 50% ou 75% de luminosidade podem ser usados, os níveis de esterco
influenciaram significativamente as concentrações de N, P, K e Na, a concentração no
tecido vegetal do N, P, K, S, B, Zn e Na foram incrementadas com o aumento do nível
de esterco fornecido à planta e o fornecimento de 20 L.cova-1 de esterco bovino pode
ser adotado como quantitativo no preparo de covas de pitaya.
Palavras-chave: Hylocereus undatus, estágio juvenil, estágio adulto, raízes
adventícias, estaquia, sombreamento, esterco bovino.
vii
PITAYA: PROPAGATION AND PLANT GROWTH
SUMMARY – Among the exotic fruitful species, pitaya (Hylocereus undatus)
presents potential as an option for diversification of Brazilian fruit culture and incomes
enhancement in land. This fruitful is little cultivated in Brazil and local information is need
to inform potential farmers. In this way, the present work had as objective: i) to identify
the co-existence of juvenile and adult stages and it’s effects on cutting propagation of
pitaya; ii) to study anatomically the adventitious roots of pitaya cuttings; iii) to evaluate
the development and nutritional status of pitaya as a function of light intensity and
organic fertilization. In the first study, the position from which the cutting is taken had an
quantitative effect on root formation of pitaya, juvenile cuttings presented 35% more
cuttings with roots than adult cuttings, allowing it concludes that juvenile and adult
stages co-exist in pitaya canopy. In the second study it was observed that the
adventitious roots of pitaya cuttings initiate at the pericycle, there is no root formation
from callus and there is no callus formation on pitaya cuttings. From the third study it
infers that in pitaya cultivation a covering against light rays is need, where a shade
degree of 50% or 75% can be used, the organic manure levels influenced significantly
the concentrations of N, P, K and Na, the stem concentration of N, P, K, S, B, Zn and Na
were enhanced with organic fertilizer level increasing and the 20 L/plant level can be
adopted as quantitative for cave preparation for pitaya cultivation.
Key words: Hylocereus undatus, juvenile stage, adult stage, adventitious roots, cutting,
shading, bovine manure.
8
CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS
O Brasil é o terceiro maior podutor de frutas com 41.909.365t, atrás apenas de
China e Índia (FAO, 2007). Ao comparar-se os dados da produção brasileira de 2002
para 2006 observa-se um crescimento de 23%, demonstrando que a fruticultura é uma
atividade em expansão (BUAINAIN & BATALHA, 2007).
As frutíferas mais cultivadas no Brasil ainda são as tradicionais como laranjeira,
bananeira, coqueiro, abacaxizeiro, mamoeiro, videira, mangueira e maracujazeira,
embora as espécies não convencionais tenham apresentado incremento tanto em área
plantada como em comercialização dos produtos (IBGE, 2007). É relevante observar
que o consumo de frutas, juntamente com as exportações, aumentaram nos últimos
anos despertando o interesse do consumidor brasileiro e estrangeiro por frutas não
convencionais, destacando-se que em 2004, essas frutas responderam por 8,4% do
volume comercializado, correspondendo a 9,5% do valor comercializado, dados que
evidenciam a relevância e potencial para o Brasil.
Dentre as espécies não convencionais no Brasil algumas merecem destaque
como o mangostão (Garcinia mangostana), rambutan (Nephelium lappaceum), dovyalis
(Dovyais sp), mangostão amarelo (Garcinia xanthochymus Hook) (CAVALCANTE &
MARTINS, 2005; CAVALCANTE et al., 2006a; SEGEREN, 2006). A pitaya (Hylocereus
undatus) também se insere nesse contexto, como uma das principais alternativas para
diversificação da propriedade rural e aumento de renda do produtor. Apesar do elevado
custo de implantação do pomar, os preços cotados para a pitaya têm sido um atrativo
para potenciais produtores, especialmente no mercado internacional, onde a fruta pode
atingir US$ 22,00/kg nos EUA e � 19,90/kg na Alemanha, embora no Brasil o valor
máximo de R$ 80,00 também seja um atrativo.
Os trabalhos desenvolvidos no Brasil com a pitaya ainda são incipientes
destacando-se os estudos de SILVA (2005), BASTOS et al. (2006) e ANDRADE et al.
(2007) sobre a propagação seminífera e vegetativa; CAVALCANTE et al. (2006b) e
CAVALCANTE et al. (2007) sobre a salinidade da água de irrigação no crescimento e
desenvolvimento inicial. Portanto, há necessidade de estudos ainda básicos dentre os
9
quais fisiologia, anatomia radicular, adubação e nutrição mineral que se encontram
contemplados no presente trabalho.
Mediante o potencial da pitaya para a fruticultura não convencional brasileira e a
necessidade de disponibilizar informações científicas e técnicas aos produtores, o
presente trabalho objetivou:
i) identificar a co-existência dos estágios juvenil e adulto e o efeito na
propagação da pitaya por estaquia;
ii) estudar anatomicamente as raízes adventícias de estacas de pitaya;
iii) avaliar o desenvolvimento e o estado nutricional da pitaya em função de
intensidade luminosa e adubação orgânica.
1.1. REVISÃO DE LITERATURA
1.1.1. Aspectos gerais da pitaya
Nos últimos anos, várias espécies de cactos têm ganhado importância quanto ao
potencial como fonte de alimento (RUSSELL & FELKER, 1987; MIZRAHI et al., 1997),
dentre elas destaca-se a pitaya, a cactácea frutífera mais cultivada do mundo.
Atualmente é cultivada comercialmente visando a produção do fruto na Austrália,
Camboja, Colômbia, Equador, Guatemala, Indonésia, Israel, Japão, Nova Zelândia,
Nicarágua, México, Peru Filipinas, Espanha, Taiwan, Tailândia, Estados Unidos, Vietnã
(NERD & MIZRAHI, 1997) e Brasil.
A pitaya (Hylocereus undatus) ocorre espontaneamente em ambientes
sombreados de florestas tropicais no México, Índia, Vietnã e Américas Central e do Sul
(BARTHLOTT & HUNT, 1993; INTA, 1994). É uma espécie que apresenta vários nomes
vulgares como pitahaya, red pitaya, strawberry pear e pitaya na América Latina; night
blooming e queen of the night na América do Norte e red dragon fruit e dragon fruit na
Ásia.
10
Em seu habitat natural apresenta-se predominantemente como espécie de
metabolismo CAM (metabolismo ácido das crassulácaeas), embora cactáceas sob
condições de sombreamento tenham a capacidade de efetuar CAM cíclico (ORTIZ et
al., 1999), obtendo o máximo de absorção de CO2 durante a noite quando são
observadas as menores temperaturas.
As sementes são obovadas, negras, de 2-3 mm de largura, em grande
quantidade e com elevada capacidade de germinação (HERNÁNDEZ, 2000). O sistema
radicular é superficial, fasciculado e pode assimilar baixos teores de nutrientes do solo
(Le BELLEC et al., 2006).
A planta é perene, trepadeira, com caule classificado morfologicamente como
cladódio, na forma triangular, suculento e com espinhos de 2 a 4cm de comprimento
(CANTO, 1993). Dos cladódios são originadas numerosas raízes adventícias que
contribuem na absorção de nutrientes e na fixação da planta à estrutura, mas não têm
ação parasítica (HERNÁNDEZ, 2000).
As flores são hermafroditas, grandes (aproximadamente 30cm de diâmetro),
aromáticas e brancas (BARBEAU, 1990); os botões florais são formados pouco antes
da ântese apresentando um rápido desenvolvimento, em torno de três semanas em
Israel (NERD et al., 2002) e seis no Equador (PEREIRA, 1991); são notumas e abrem
uma única vez. A pitaya é uma espécie que possui picos de florada no verão,
registrando-se de 2 a 3 picos em Israel e nos Estados Unidos (MERTEN, 2003); a polpa
dos frutos é formada a partir do desenvolvimento do ovário e a casca a partir do
receptáculo que circunda o ovário (MIZRAHI & NERD, 1999).
A pitaya apresenta um período de florescimento médio durante o ano relacionado
à região de cultivo, isto porque é uma espécie dependente do fotoperíodo,
caracterizando-se como de dias longos (LUDERS, 2004), destacando-se que nas
condições de Jaboticabal ocorre nos meses de dezembro e janeiro (dados não
publicados). Na literatura internacional registram-se como agentes polinizadores da
pitaya as abelhas (Aphis milifera), determinadas espécies de morcegos e coleópteros
(Bombus sp). No Brasil até o presente momento apenas foram verificadas abelhas e
mariposas.
11
O fruto é uma baga indeiscente caracterizada por apresentar formato globoso a
elipsóide, com 10 a 12cm de diâmetro (HERNÁNDEZ, 2000), polpa branca, casca
vermelha e massa variando de 60 a 160g (PIMIENTA-BARRIOS & TOMAS-VEGA,
1993), embora CANTO (1993) apresente valores médios de 400g/fruto. O fruto possui
auréolas dispostas em aproximadamente cinco séries de espirais, glabras e com
escama basal fotiácea (HERNÁNDEZ, 2000). Em pós-colheita são classificados como
não climatéricos (não apresentam maturação contínua após a retirada da planta), são
sensíveis ao chilling (ZEE et al., 2004) e podem ser colhidos aos 30 (trinta) dias após o
pegamento, embora quando a colheita é feita mais tardia (aproximadamente 50 dias
após o pegamento) os frutos têm maior teor de sólidos solúveis e possivelmente
tamanho maior, visto que este cresce até ser colhido (CHANG & YEN, 1997). Frutos
frescos apresentam, em geral, baixos valores de acidez total (2,4 a 3,4%), sólidos
solúveis entre 7,1 e 10,7ºBrix, conteúdos minerais relativamente altos de potássio,
magnésio e cálcio, mas por outro lado possuem valores surpreendentemente baixos
(menos de 11 mg.L-1 de vitamina C), visto que outras cactáceas como exemplo a
Opuntia strigil possui conteúdo de vitamina C compatível à laranja.
A produtividade média da pitaya é variável de acordo com as condições edafo-
climáticas, técnicas de cultivo e idade do pomar, podendo variar de 10 a 30 t.ha-1 (Le
BELLEC et al., 2006). VAILLANT et al. (2005) afirmaram que na Nicarágua, cultivos
bem conduzidos podem produzir até 26 t.ha-1, e após cinco anos apresentam
produtividade de 12 t.ha-1.
Quanto à pós-colheita, a pitaya é um fruto tropical que sob condições de
ambiente se deteriora com relativa facilidade e por consequência a vida útil pós-colheita
é curto, aproximadamente 6 a 8 dias sob condições naturais (NERD & MIZRAHI, 1999).
MAGAÑA et al. (2006) concluíram que a temperatura de armazenamento e o tempo
influenciam os processos fisiológicos da pitaya incrementando a vida útil dos frutos,
especialmente sob temperatura de 8ºC, que resultou em melhor qualidade de frutos.
A propagação pode ser realizada por via seminífera ou vegetativa, destacando-
se a estaquia, enxertia e micropropagação. Apesar das sementes apresentarem rápida
e elevada taxa de germinação, as plantas propagadas por esse método apresentam
12
variabilidade genética, crescimento inical lento e requerem maior período de tempo para
início de produção (HERNÁNDEZ, 2000), fatores que tornam as sementes uma forma
economicamente inviável (SILVA, 2005). Com fins econômicos, a estaquia destaca-se
por apresentar elevado percentual de estacas enraizadas e de sobrevivência (LÓPEZ-
GÓMES et al., 2000; ANDRADE et al., 2007), precocidade de produção e possibiliade
de formar grande número de mudas a partir de uma única matriz com as características
desejáveis sendo preservadas. Adicionalmente a produção de mudas da pitaya também
pode ser feita por micropropagação (MOHAMED-YASEEN, 2002; EL OBEIDY, 2006).
Durante a última década a pitaya recebeu maior atenção devido seu potencial
como nova frutífera exótica, tornando-se objeto de estudo em muitos países (NERD &
MIZRAHI, 1997).
1.1.2. Anatomia radicular de estacas
A base anatômica que torna possível a propagação assexual pelo processo de
estaquia compreende as caractarísticas de totipotência e desdiferenciação que ocorrem
em extremidades de raízes, calos, ápices de ramos, regiões lesadas, etc., constituindo-
se processos básicos de crescimento vegetativo normal, mas não há homogeneidade
nesse processo dentre as espécies, determinando que algumas apresentam facilidade
e outras dificuldade na emissão de raízes em estacas (HUSEN & PAL, 2006).
As raízes formadas em estacas são denominadas adventícias, isto é, raízes que
se originam na parte aérea que desempenham papel importante na propagação
vegetativa de plantas e têm origem endógena, formando-se, de uma forma geral, nas
proximidades dos tecidos vasculares (região do periciclo) e crescendo entre os tecidos
localizados ao redor do ponto de origem (APPEZZATO-DA-GLÓRIA & CARMELLO-
GUERREIRO, 2006).
Mais especificamente, HARTMANN et al. (2002) afirmaram que a origem das
raízes adventícias em estacas ocorre no tecido jovem do floema secundário, dos
tecidos vasculares, do câmbio ou dos calos produzidos na base das estacas. Nesse
sentido há a necessidade de determinação da origem das raízes adventícias da pitaya e
13
as raízes adventícias não surgem apenas na base, mas também no corpo da estaca
que se encontra sombreado sem a prévia formação de calos, como reportam
HERNÁNDEZ (2000) e Le BELLEC et al. (2006).
ONO & RODRIGUES (1996) sugerem a existência de duas fases distintas no
processo de iniciação das raízes: a de formação do meristema radicular e a fase do
crescimento e alongamento radicular. Os mesmos autores dividem o processo de
enraizamento em quatro estágios: desdiferenciação ou meristematização; iniciação da
divisão celular, formando células organizadas que formam as raízes iniciais;
diferenciação do primórdio radicular e crescimento e emergência das raízes.
A capacidade de emissão de raízes em estacas caulinares de frutíferas parece
estar relacionada com a estrutura anatômica do floema primário (BEAKBANE, 1961),
porque plantas de difícil enraizamento apresentam alto grau de esclerificação e,
aparentemente a diferença entre variedades de fácil ou difícil enraizamento é
inversamente relacionada com a continuidade da camada de esclerênquima (ONO &
RODRIGUES, 1996).
MAYER et al. (2006) concluíram que a baixa capacidade de enraizamento de
Vittis sp. pode estar relacionada às características anatômicas próprias da planta em
estudo, dentre as quais citam-se disposição das fibras no floema secundário,
permanência das fibras do floema primário, raios estreitos e elementos de vaso de
menor diâmetro.
FAHN (1982) concluiu que algumas estacas de fácil enraizamento apresentaram
raios vasculares largos, e espécies de raios vasculares estreitos enraizam com
dificuldade.
Em estacas caulinares de café, antes da emissão de raízes há a formação de
calos pela divisão das células do câmbio e do floema, o que também pode ocorrer a
partir de células do periciclo, córtex e medula (ONO & RODRIGUES, 1996).
14
1.1.3. Juvenilidade
Algumas espécies apresentam simultaneamente as fases juvenil, intermediária e
adulta na copa. Para TAIZ & ZEIGER (1998) a sequência cronológica das três distintas
fases de desenvolvimento (juvenil, adulta vegetativa e adulta reprodutiva) resulta num
gradiente espacial de juvenilidade ao longo do dossel da planta denominado cone de
juvenilidade. Para algumas espécies como maçã, oliveira e eucalipto, as diferenças em
determinadas características morfológicas como tamanho da folha tornam mais fácil a
distinção entre as fases adulta (superior) e juvenil (inferior). O maracujazeiro também
apresenta modificação morfológica como indicativo de mudança de fase, observando-se
que a folha passa de lobada para trilobada (RUGGIERO & OLIVEIRA, 1998). Para a
pitaya não foram encontradas informações na literatura nacional e internacional sobre a
presença ou não do cone de juvenilidade.
Deve-se ressaltar que não há indicadores generalizados para todas as espécies
que possibilitem afirmar se o material é juvenil ou adulto (MEIER-DINKEL &
KLEINSCHMIT, 1990), embora exista evidência de que a transição entre as fases de
desenvolvimento seja geneticamente regulada (BATTEY & TOOKE, 2002).
As formas juvenil e adulta podem ser separadas de uma mesma planta na
formação de mudas a partir da estaquia (DAVIS et al., 1988).
A mudança de fase de juvenil para adulto pode ser lenta e é característica
própria de cada espécie. Entretanto, há alternativas que podem acelerar ou suprimir a
fase juvenil de determinada espécie, como observado por LEWANDOWSKI &
ZURAWICZ (2000) que enxertaram garfos de macieiras com dois anos de idade em
porta-enxertos maduros e observaram 30% de florescimento no segundo ano e 40% no
terceiro enquanto as não enxertadas não floresceram no período de avaliação.
A juvenilidade é um dos fatores importantes que devem ser levados em
consideração na propagação vegetativa, visto que há influência desse fenômeno sobre
a propagação assexuada (HAAPALA, 2004). A idade de uma planta propagada
vegetativamente é dependente da idade ontogenética da parte da planta matriz da qual
o propágulo foi extraído, ou seja, se o propágulo for retirado de uma parte juvenil da
15
planta, a nova progênie deverá inicialmente expressar a fase juvenil (HARTMANN et al.,
2002), por esse motivo a idade ontogenética é de grande importância na propagação
vegetativa.
No processo de propagação por estaquia, observa-se que estacas retiradas
durante a fase juvenil ou de parte do dossel da planta em estado juvenil têm maior
potencial de enraizamento que aquelas oriundas de ramos adultos (PALANISAMY &
KUMAR, 1997; BHUSAL et al., 2001; BHUSAL et al., 2003; KIBBLER et al., 2004).
DAVIS et al. (1988) argumentam que a condição fisiológica determina a formação de
raízes adventícias e não a idade cronológica da planta. KIBBLER et al. (2004)
concluíram que o sucesso de enraizamento entre materiais de partes juvenis e adultas
pode determinar a mudança de fase e a co-existência dos estadios juvenil e adulto
numa mesma planta. Essa diferença pode estar associada à maior presença de
inibidores (citocininas, ácido abscísico e giberelinas) em ramos adultos em detrimento
de promotores (auxinas, etileno e carboidratos) em ramos juvenis.
Assim, RAVIV et al. (1986) isolaram e identificaram quatro promotores de
enraizamento com acetileno (dentre os quais 1, 2, 4-trihyroxy-n-hepta-deca-16yn é o
mais ativo) que se acumularam mais rapidamente na base de estacas juvenis se
comparadas às estacas adultas do abacateiro; GIROUARD (1967) observou que os
processos anatômicos de enraizamento são diferentes em ambos os tipos de estacas
(adulta e juvenil) e BHUSAL et al. (2003) concluíram que há necessidade de investigar
quais os mecanismos fisiológicos e bioquímicos podem estar envolvidos no processo de
maturação que reduz a capacidade de enraizamento de ramos ou plantas adultas.
1.1.4. Intensidade luminosa para a pitaya
A radiação solar é um elemento fundamental para todos os processos físicos e
biológicos que ocorrem na biosfera, sendo utilizada pelas plantas de diversas maneiras
de acordo com intensidade, qualidade, direção de incidência, duração, etc e exerce
efeitos biológicos classificados como fotoenergéticos e fotoestimulantes (PASCALE &
DAMARIO, 2004).
16
A pitaya é encontrada expontaneamente em florestas tropicais da América em
condições de sub-bosque, o que leva a crer que quando cultivada comercialmente faz-
se necessária a instalação de um sistema de proteção contra a incidência direta dos
raios solares sobre a planta. Entretanto, ROBLES et al. (2000) afirmaram que no
México apenas os ramos de Stenocereus sp. que se encontram sob total exposição
direta à luz solar produzem frutos, o que também é reportado para a Guatemala.
Por outro lado, em Israel MIZRAHI & NERD (1999) observaram que o dossel da
pitaya sofre queimaduras e pode chegar a morte quando cultivadas sem proteção em
função da intensidade de radiação, isso porque densidades de fluxo de fótons não
fotossintéticas podem atingir 2200 �mol fótons m-2.s-1 e as cactáceas epífitas (dentre as
quais se insere a pitaya) requerem uma radiação fotossinteticamente ativa baixa com
cerca de 200 �mol fótons m-2.s-1, nível que promove nessas plantas menor proporção
entre clorofila e concentração de pigmentos. RAVEH et al. (1996) afirmaram que para
ótimo desenvolvimento, a pitaya deve ser plantada protegida, recebendo de 30 a 60%
da luminosidade total dependendo das condições locais. Adicionalmente, para MIZRAHI
& NERD (1999) os níveis de sombreamento a serem empregados (expressos em
percentual do total de luz solar emitida) são dependentes das temperaturas locais e
variam de 20% em áreas com verões moderadamente quentes a 60% em áreas sob
elevadas temperaturas.
Em trabalho sobre o gênero Hylocereus, RAVEH et al. (1993) observaram que o
sombreamento tem efeito significativo no crescimento das plantas e na produção de
frutos, observando-se que sob 30% de intensidade luminosa o rendimento obtido no
segundo ano de cultivo foi de 16 t.ha-1.
A experiência com o cultivo da pitaya vermelha em Israel demonstra que essa
espécie é sensível à elevadas intensidades luminosas (RAVEH et al., 1993).
De fato, é pertinente destacar que há variabilidade genética por ser esta uma
espécie de polinização aberta, o que possibilita a segregação genética, portanto pode
ser esperado que a pitaya apresente diferentes adaptações ao ambiente e práticas de
manejo devem ser planejadas de acordo. Adicionalmente, algumas espécies dos
gêneros Hylocereus e Stenocereus são conhecidas por pitaya, portanto é de se esperar
17
resultados diferenciados visto que os gêneros têm exigências e tolerâncias distintas
quanto à luz. Entretanto, há na literatura científica poucos trabalhos que estudam a
ecofisiologia e manejo da pitaya em condições de campo, destacando-se RAVEH et al.
(1998) e NERD et al. (2002), ambos para as condições de Israel.
Fator diretamente relacionado com a intensidade luminosa, a temperatura
também exerce efeito intenso sobre o crescimento e desenvolvimento das plantas
cultivadas, visto que em regiões tropicais o incremento de radiação solar tem relação
direta com a temperatura do ar. MIZRAHI & NERD (1999) em estudo realizado em
Israel observaram que injúras causadas pelo frio são frequentes quando a temperatura
é inferior a 4ºC, embora quando a temperatura se eleve a recuperação seja rápida.
NERD et al. (2002) concluíram que áreas onde a temperatura do ar é superior à faixa
de 34-38ºC devem ser evitadas para o cultivo da pitaya porque o florescimento pode ser
significativamente reduzido, conforme também encontrado por MIZRAHI & NERD
(1999) ao concluírem que uma temperatura média de 39ºC reduz de 15 a 20% a
produção de flores de Hylocereus undatus.
A taxa fotossintética é incrementada com a intensidade luminosa até certo ponto,
conhecido como ponto de saturação luminosa (varia de 25.000 a 120.000 lux de acordo
com a espécie) a partir do qual começa a diminuir (PASCALE & DAMARIO, 2004), fato
que determina a necessidade de estudos locais e individualizados para cada espécie,
especialmente para aquelas com elevada diversidade genética, para as quais
possivelmente a sensibilidade também será diferenciada.
Portanto, o conhecimento das relações entre florescimento e condições
ambientais é de considerável importância para uma produção regular de frutos durante
o ano, considerando-se a sensibilidade da planta a altas densidades de fluxo luminoso
(RAVEH et al., 1998), o que torna necessário em muitos casos, incluindo nas condições
do Estado de São Paulo, de sistema de sombreamento para que ocorra floração e
frutificaçäo satisfatórias da pitaya.
18
1.1.5. Adubação orgânica e nutrição mineral da pitaya
No cultivo da pitaya, como em muitos outros, há o problema de se fornecer um
quantitativo correto de fertilizantes que possa conduzir a planta à máxima produção,
inclusive ao longo dos anos. São aplicadas doses empíricas baseadas na experiência
dos cultivos ou se utilizam níveis recomendados para outros países com sistemas
ecológicos diferentes da região produtora brasileira, que se encontra atualmente no
Estado de São Paulo.
De acordo com MARSCHNER (2005) e MALAVOLTA (2006) para uma correta
recomendação de fertilizantes é fundamental o conhecimento da dinâmica nutricional da
planta, o qual é função da velocidade de crescimento vegetal e da ecofisiologia cultural,
portanto, não se recomenda extrapolar resultados obtidos em outros sistemas
ecológicos.
Mediante esse fato alguns trabalhos têm sido realizados com o objetivo de definir
doses de adubação mineral a exemplo de GALEANO & SILVA (2006) na Nicarágua,
TURCIOS & MIRANDA (1998) e HERNÁNDEZ (2000) no México, WEISS et al. (1994) e
MIZRAHI & NERD (1999) em Israel, INFANTE (1996) na Colômbia e LUDERS (2004)
na Austrália. Por outro lado, a literatura quanto à recomendação de produtos orgânicos
(seja compostos orgânicos, biofertilizantes, etc) ainda é escassa destacando-se os
trabalhos de NATIVIDAD (1995) no México, THOMSON (2002) nos Estados Unidos,
ZEE et al. (2004) em Taiwan, GARCÍA & MONCADA (2005) na Nicarágua e NEGRI
(2006) na Costa Rica. Adicionalmente, ainda não se encontram no Brasil trabalhos
envolvendo estudos de adubação (mineral ou orgânica) ou nutrição mineral da pitaya, o
que demonstra a necessidade de estudos com essas finalidades que possam subsidiar
os atuais e potenciais produtores de pitaya, visto que a cultura encontra-se em
expansão no país, com novos cultivos sendo instalados além do Estado de São Paulo,
em Minas Gerais e Bahia.
Apesar da maioria dos trabalhos encontrados na literatura serem focados na
adubação mineral, o sistema radicular da pitaya é superficial e pode absorver
rapidamente pequenos teores de nutrientes no solo (Le BELLEC et al., 2006) o que
19
contribui para a formação de cultivos orgânicos já que a utilização de compostos
orgânicos e estercos de origem animal têm sido usados na California com grande
sucesso, insclusive sem suplementação mineral (THOMSON, 2002). Quantitativamente,
para as condições de solo de Taiwan, ZEE et al. (2004) recomendaram o fornecimento
de 9 L.planta-1 de esterco de bovinos jovens a cada quatro meses de cultivo iniciando
em abril e suplemento com fertilizante mineral; NEGRI et al. (2006) indicaram como
ideal a aplicação de 10 L de esterco bovino no momento de preparo das covas.
O solo adequado para o cultivo comercial da pitaya deve apresentar um
percentual de matéria orgânica considerado alto (7%) com a finalidade de manter a
umidade, temperatura e características texturais e químicas do solo (GUZMÁN, 1994) o
que justifica o fornecimento de produtos orgânicos ao solo. Dentre os benefícios
trazidos pela adubação orgânica ao solo estão a melhoria das propriedades químicas,
por meio do fornecimento de nutrientes, aumento da capacidade de troca catiônica
(CTC), formação de complexos e aumento do poder tampão; nas propriedades físicas,
o aumento na estabilidade de agregados e melhoria na estrutura do solo que se traduz
em melhor aeração, permeabilidade, retenção de água e resistência à erosão; e ainda,
a biologia do solo pelo aumento da atividade biológica (MEEK et al., 1982).
Os principais elementos demandados pela pitaya e que devem ser fornecidos via
fertilização são nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K) (HERNÁNDEZ, 2000). O
nitrogênio estimula a emissão de raízes e brotos mais vigorosos, sendo mais requerido
pela planta durante o crescimento vegetativo até o pré-florescimento da pitaya
(LUDERS, 2004); o potássio promove aumento do diâmetro do caule da pitaya (INTA,
2002), sendo um dos elementos mais requeridos especialmente por exercer as funções
de translocação de carboidratos e regulação de abertura e fechamento de estômatos
(MARSCHNER, 2005); o fósforo é um elemento que apresenta maior demanda pela
pitaya no início da formação dos frutos. Dentre os micronutrientes deve-se destacar
para a pitaya o boro, com fundamental função no pegamento, tamanho e massa dos
frutos, conforme concluiu INFANTE (1996).
Em estudo com doses crescentes de nitrogênio, fósforo e micronutrientes no
cultivo da pitaya, TURCIOS & MIRANDA (1998) concluíram que a maior produção de
20
frutos foi obtida com aplicações de nitrogênio e potássio; a alternativa de aplicação
simultânea de potássio e micronutrientes deve ser mais estudada e, finalmente, a pitaya
apresentou resposta econômica significativa à aplicação de nitrogênio e fósforo. Estas
conclusões concordam com as de GUZMÁN (1994) ao afirmar que o cultivo da pitaya
responde significativamente às aplicações de nitrogênio e fósforo.
NOBEL & PIMIENTA-BARRIOS (1995) avaliaram o estado nutricional de
Selenicereus queretaroensis, também conhecida na Colômbia como pitaya, e
observaram que os relativamente baixos conteúdos dos micronutrientes ferro e
manganês, bem como o extremamente baixo conteúdo de nitrogênio são consistentes
com os também baixos valores de absorção de CO2, quando comparados com culturas
de metabolismo ácido das crassuláceas (CAM) sob cultivo tecnificado.
MERTEN (2003) destacou que muito pouco foi publicado com relação à
adubação e nutrição mineral dessa espécie, o que ainda persiste nos dias atuais. O
mesmo autor destaca que doses padronizadas deverão ser trabalhadas para
incremento de florescimento e produção de frutos.
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30
CAPÍTULO 2 – JUVENILIDADE NA PROPAGAÇÃO DA PITAYA VERMELHA POR
ESTAQUIA
RESUMO – A pitaya (Hylocereus undatus) é uma frutífera não convencional ainda
pouco conhecida no Brasil que precisa de estudos básicos principalmente quanto aos
aspectos fisiológicos, incluindo juvenilidade, enfatizando a co-exitência de estágios
juvenil e adulto na mesma planta. Nesse sentido, um experimento foi realizado com
quatro tratamentos e cinco repetições em delineamento inteiramente casualizado,
sendo cada tratamento representado pela porção do dossel onde as estacas foram
coletadas (superior, intermediária e inferior e estacas oriundas de plantas jovens).
Foram registradas as variáveis: estacas com raízes (%), estacas vivas (%), densidade
(mm.ml-1), diâmetro (mm), área (mm2), comprimento (mm) e massa seca de raízes (g).
Os resultados foram submetidos à análise de variância, teste de Tukey a 1% de
probabilidade e correlação simples. Os resultados indicaram que a posição de coleta da
estaca exerceu efeito quantitativo na formação de raízes da pitaya. Estacas juvenis
apresentaram 35% mais estacas com raízes que estacas adultas. As variáveis
densidade, área, comprimento e massa seca de raízes dependeram da juvenilidade,
sendo registrados os maiores resultados para estacas juvenis, independentemente da
variável. Os estágios juvenil e adulto co-existem no dossel da pitaya.
Palavras-chave: Hylocereus undatus, cone de juvenilidade, enraizamento.
31
INTRODUÇÃO
A pitaya (Hylocereus undatus) é uma frutífera cactácea trepadeira nativa das
florestas tropicais do México e Américas Central e do Sul (MIZRAHI et al., 1997;
HERNÁNDEZ, 2000) considerada uma nova e promissora frutífera (Le BELLEC et al.,
2006) para o Brasil, apesar de já ocupar um nicho de mercado na Europa (IMBERT,
2001) e Estados Unidos (MERTEN, 2003).
No Brasil a pitaya é ainda pouco conhecida, o interesse do consumidor é ainda
recente e, consequentemente, conhecimento mais detalhado sobre a pitaya é
necessário em relação a informações básicas como genética, fisiologia, nutrição
mineral, qualidade tecnológica e propagação, incluindo estudos de juvenilidade.
A propagação da pitaya por estaquia é o mais comum, simples e preferível
método, devido promover reprodução fiel da variedade e frutificação precoce [menos de
um ano, segundo HERNÁNDEZ (2000)]. No Brasil, BASTOS et al. (2006) e ANDRADE
et al. (2007) estudaram a propagação da pitaya vermelha por estaquia. Adicionalmente,
a pitaya pode também ser propagada por sementes, destacando-se que a viabilidade
da semente é alta e a germinação rápida, apesar das novas plântulas apresentarem
período juvenil mais longo e variação genética, afetando negativamente a produção e
qualidade de frutos; a micropropagação pode também ser usada como proposto por
MOHAMED-YASSEEN (2002) e DREW & AZIMI (2002).
Na propagação vegetativa (como exemplo a estaquia) a idade ontogenética
(juvenil ou adulto) é importante porque tanto gemas como estacas quando removidas
da planta mãe, perpetuam a idade ontogenética na nova planta (HARTMANN et al.,
2002). Neste sentido, DAVIS et al. (1988) reportam que os estágios juvenil ou adulto
podem apresentar-se separadamente ou co-existir na mesma planta e podem ser
identificados através da estaquia, o que demonstra a relevância de estudos objetivando
identificar a idade ontogenética e sua influência na propagação vegetativa,
especialmente em espécies não convencionais, como a pitaya no Brasil.
32
Aparentemente a pitaya é uma espécie homoblástica, isto é, há pouca
modificação na anatomia vegetal na transição da fase juvenil para adulta (HARTMANN
et al., 2002).
Assim, o objetivo do presente trabalho foi identificar a co-existênia de estágios
juvenil e adulto e o efeito desses na propagação da pitaya vermelha por estaquia.
MATERIAL E MÉTODOS
Caracterização da área experimental e material para propagação
O experimento foi conduzido no período de maio a julho de 2007 com estacas de
pitaya vermelha (Hylocereus undatus) coletadas de plantas pertencentes ao Banco
Ativo de Germoplasma da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV),
Universidade Estadual Paulista (UNESP), Jaboticabal. As matrizes de pitaya vermelha,
para os tratamentos referentes à posição da estaca na planta, apresentavam 1,5 ano de
idade no período de coleta das estacas, foram propagadas a partir de estacas retiradas
da região superior da copa, plantadas em espaçamento de 3m entre linhas e 2m entre
plantas, tutoradas em moirões com hastes de madeira acopladas ao ápice interligados
com seis fios de arame liso para sustentação das plantas à 1,6m de altura, cultivadas
sob 50% de luminosidade e irrigadas pelo sistema de microaspersão. As plantas jovens
foram propagadas por sementes a apresentavam 1,0 ano de idade e também cultivadas
sob 50% de luminosidade
O clima local é classificado como Cwa com precipitação média de 1400mm/ano e
temperaturas médias entre 18,5 e 25ºC.
As estacas de pitaya (aproximadamente 25cm de comprimento) imediatamente
após coletadas tiveram a base imersa em solução com fungicida Captan®, foram
plantadas em sacos de polietileno preto (15cm de diâmetro x 20cm de altura)
preenchidos com substrato comumente usado na formação de mudas na proporção
3:3:1 de solo(latossolo vermelho):areia peneirada:esterco bovino, mantidos sob 50% de
luminosidade e diariamente irrigados (uma vez ao dia) com água de boa qualidade (pH
33
6,8 e condutividade elétrica 0,3 dS.m-1) conforme CAVALCANTE & CAVALCANTE
(2006), pelo sistema localizado de microaspersão. Aproximadamente 15cm da estaca
ficou exposta à atmosfera. Não foi usada auxina exógena (AIB), conforme estudo prévio
de ANDRADE et al. (2007).
Tratamentos e delineamento experimental
Um delineamento inteiramente casualizado foi adotado e quatro tratamentos
foram usados, com cinco repetições de 10 (dez) estacas cada, num total de 200
estacas. Cada tratamento foi representado pela porção do dossel de origem das
estacas (como se pode observar na Figura 1), e identificadas como superior (ES),
mediana (EM) e inferior (EI); estacas de plantas jovens também foram estudadas (EJ).
Figura 1. Porção do dossel de onde as estacas foram retiradas: superior (ES), mediana (EM) e
inferior (EI).
Variáveis registradas e análises estatísticas
As estacas foram removidas do substrato seis semanas após o plantio e as
raízes adventícias (em média) foram analizadas pelas seguintes variáveis: i) número de
ES
EM
EI
34
estacas com raízes; ii) número de estacas vivas; iii) densidade de raízes (mm.ml-1); iv)
diâmetro de raízes (mm); v) área de raízes (mm2); vi) comprimento de raízes (mm) e vii)
massa seca de raízes (g). De posse dos resultados das variáveis i e ii, foram calculados
os percentuais de estacas com raízes e de estacas vivas. Para determinação das
variáveis iii-vii, as raízes adventícias foram conduzidas ao laboratório de Biologia
Aplicada à Agropecuária da FCAV/UNESP, lavadas em água corrente, separado 1g e
acondicionado em álcool metílico a 20% para conservação em geladeira.
Posteriormente foi realizada a coloração das raízes pela imersão em solução de azul de
metileno 0,5% durante 5 minutos, distribuídas em bandeja de vidro contendo água para
digitalização em scanner no modo TIFF 5.0 e as leituras obtidas no software “Delta-T
Scan”, conforme recomendações de KIRCHHOF & PENDAR (1993).
Realizou-se análise de variância (ANAVA), comparação de médias usando o
teste de Scott-Knott e análise de correlação simples entre as variáveis dependentes
(FERREIRA, 2000). Todas as análises foram realizadas no programa SAS (SAS, 2000)
considerando significativo para P<0,01.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Apesar da ausência de significância estatística, a percentagem de estacas com
raízes apresentou grande amplitude de 44,38 a 68,16% (Figura 2A). O maior resultado
foi registrado para as estacas juvenis, enquanto o menor para estacas adultas com uma
diferença de aproximadamente 35% que é representativa num processo de progação
por estaquia. A partir dos resultados, pode-se inferir que a habilidade de emitir raízes
adventícias em estacas foi reduzido com a maturidade da planta, portanto em
concordância com ANSARI et al. (1995), os quais reportaram que o enraizamento de
estacas de Dalbergia sissoo variou com a posição da estaca na planta e está
correlacionado com a existência de gradiente de juvenilidade do dossel. Por outro lado,
KIBBLER et al. (2004) em trabalho similar com Backhousia citriodora não observaram
35
diferença no enraizamento entre estacas coletadas na base ou na porção superior do
dossel.
68,16 a
49,12 a
44,38 a
56,94 a
0
10
20
30
40
50
60
70
80
EI EM ES EJ
Posição das estacas no dossel
E
st
ac
as
c
om
ra
íz
es
(%
)
(A)
94 a
98 a
94 a
84 a
0
20
40
60
80
100
120
EI EM ES EJ
Posição das estacas no dossel
E
st
ac
as
v
iv
as
(%
)
(B)
Figura 2. Percentagem de estacas com raízes (A) e de estacas vivas (B) de pitaya em função
da porção do dossel de coleta das estacas.
Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott a 1%
de probabilidade. [C.V.(A)= 39,98; C.V.(B)= 9,52; C.V.=Coeficiente de variação].
Símbolos representam o erro padrão. Porção de coleta da estaca: Superior (ES),
mediana (EM), inferior (EI) e planta jovem (EJ).
Em estudo sobre a influência da juvenilidade no enraizamento de estacas do
porta-enxerto de laranja Poncirus trifoliata, BHUSAL et al. (2003) verificaram que o
percentual de estacas com raízes de estacas juvenis foi estatisticamente superior às
adultas, sendo registrada uma média 76,7% maior nas estacas juvenis.
Quando comparados aos resultados de enraizamento de BASTOS et al. (2006)
e ANDRADE et al. (2007) ambos em trabalhos sobre estaquia da pitaya, observa-se
que as médias do estudo em apreço são inferiores, independentemente do tratamento.
O declínio no percentual de estacas com raízes adultas pode estar associado à
presença de inibidores de enraizamento como citocininas, ácido abscísico e giberelina,
enquanto os promotores (auxinas, etileno e carboidratos) são observados em estacas
juvenis. Estudos demonstram que o potencial de iniciação radicular pode estar
relacionado à síntese ou atuação do etileno. RAVIV et al. (1986) isolaram e
36
identificaram quatro promotores de enraizamento com acetileno (1, 2, 4 - trihyroxy-n-
hepta-deca-16yn é a mais ativa) que se acumulam mais rápido nas bases de estacas
juvenis de abacate durante o processo de enraizamento. No mesmo sentido,
GIROUARD (1967) observou que os processos anatômicos da iniciação radicular são,
em parte, diferentes em estacas juvenis e adultas.
Para a percentagem de estacas vivas (Figura 2B), o menor percentual (84%) foi
registrado para estacas oriundas de plantas jovens e diferenças estatísticas não foram
observadas entre as porções do dossel onde as estacas foram coletadas,
demonstrando que a juvenilidade não teve efeito significativo na sobrevivência das
estacas. Em complemento, nenhuma correlação entre o percentual de estacas com
raízes e o percentual de estacas vivas foi registrada, como também reportam
MALDONADO et al. (2005) e FRANCO et al. (2007). O elevado percentual de estacas
vivas evidencia as adequadas condições nas quais o experimento foi realizado em
relação à planta matriz, ambiente e técnicas adotadas, conforme proposto por
HARTMANN et al. (2002) de uma forma geral.
O comprimento radicular foi drastica e significativamente influenciado pela
porção da planta de retirada das estacas, como pode ser observado na Figura 3A.
Estacas juvenis promoveram as raízes mais longas, quase 87% maiores que as
maduras, evidenciando a juvenilidade no dossel da planta de pitaya, previamente
observada para outras espécies por HARTMANN et al. (2002) que configuraram esse
fenômeno como “cone de juvenilidade”, ou seja, as plantas sujeitam-se às fases juvenil,
intermediária e adulta de desenvolvimento em vários graus em diferentes partes da
planta em gradiente a partir da base para o topo.
37
647,44 a
141,3 b
106,06 b 82,25 b
0
100
200
300
400
500
600
700
800
EI EM ES EJ
Posição das estacas no dossel
C
om
pr
im
en
to
d
e
ra
íz
es
(m
m
)
(A)
1,68 a
1,52 a
1,25 a
0,94 a
0.0
0.2
0.4
0.6
0.8
1.0
1.2
1.4
1.6
1.8
2.0
EI EM ES EJ
Posição das estacas no dossel
D
iâ
m
et
ro
d
e
ra
íz
es
(m
m
)
(B) (B)
Figura 3. Comprimento (A) e diâmetro (B) de raízes de pitaya em função da porção do dossel
de coleta das estacas.
Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 1% de
probabilidade. [C.V.(A)= 117,35; C.V.(B)= 41,71; C.V.= Coeficiente de variação].
Símbolos representam o erro padrão. Porção de coleta da estaca: Superior (ES),
mediana (EM), inferior (EI) e planta jovem (EJ).
O comprimento radicular foi positiva e altamente correlacionado com a massa
seca de raízes (r=0,96, significativo ao nível de 1%), conforme parâmetro definido por
FERREIRA (2000). Por outro lado, o diâmetro radicular não se correlacionou
significativamente com quaisquer variáveis, confirmando que o comprimento radicular
foi mais afetado pela juvenilidade em relação ao diâmetro das raízes.
Como também observado para a percentagem de estacas com raízes, o
diâmetro radicular não foi estatisticamente influenciado pela juvenilidade da planta,
apesar da quantitativa redução de aproximadamente 25,59% no diâmetro radicular ter
sido registrada das estacas oriundas de plantas jovens para as juvenis (Figura 3B).
Os resultados de massa seca (Figura 4A), área (Figura 4B) e densidade (Figura
4C) de raízes dependeram da idade ontogenética da porção onde foram coletadas as
estacas. Seguindo a mesma tendência do comprimento (Figura 3A) e diâmetro (Figura
3B) de raízes, estacas da base da planta de pitaya apresentaram médias
significativamente superiores registrando-se aumento aproximado de 93, 91 e 93% para
38
massa seca, área e densidade de raízes, respectivamente. Esses resultados
evidenciam que a juvenilidade afetou a iniciação radicular e o crescimento e
desenvolvimento inicial da raiz. Adicionalmente, estacas coletadas durante a fase
juvenil da maioria das espécies, naturalmente apresentam maior potencial de
enraizamento em relação àquelas da fase adulta (BHUSAL et al., 2003; HAAPALA,
2004).
39
0,338 a
0,143 b
0,043 b
0,024 b
0.00
0.05
0.10
0.15
0.20
0.25
0.30
0.35
0.40
EI EM ES EJ
Posição das estacas no dossel
M
as
sa
s
ec
a
de
ra
íz
es
(g
)
(A)
1104,31 a
256,98 b
202,20 b
96,84 b
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
EI EM ES EJ
Posição das estacas no dossel
Á
re
a
de
ra
íz
es
(m
m2 )
(B)
0,09564 a
0,04057 b
0,01229 b
0,0068 b
0.00
0.02
0.04
0.06
0.08
0.10
0.12
EI EM ES EJ
Posição das estacas no dossel
D
en
si
da
de
d
e
ra
íz
es
(m
m
/m
l)
(C)
Figura 4. Massa seca (A), área (B) e densidade (C) de raízes de pitaya em função da porção do
dossel de coleta das estacas.
Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 1% de
probabilidade. [C.V.(A)= 114,24; C.V.(B)= 121,61; C.V.(C)= 114,22; C.V.= Coeficiente de
variação]. Símbolos representam o erro padrão. Porção de coleta da estaca: Superior
(ES), mediana (EM), inferior (EI) e planta jovem (EJ).
DAVIS et al. (1988) concluíram que há uma perda ontogenética da capacidade
de formar raízes adventícias, mas o gradiente é variável de acordo com a espécie,
40
demonstrando a importância de estudos específicos à respeito de cada espécie,
especialmente para aquelas pouco estudadas no Brasil, como a pitaya.
Significativo inclusive é o fato das estacas de plantas jovens também
propagadas por estaquia terem apresentado o segundo maior percentual de estacas
com raízes, apesar dessa sequência não ter sido observada para outras variáveis,
demonstrando que houve uma diferença do efeito da planta quanto à iniciação radicular
e o crescimento e desenvolvimento inicial de raízes.
CONCLUSÕES
Os resultados do presente trabalho permitem concluir que:
- As fases juvenil e adulta co-existem no dossel da pitaya;
- A juvenilidade é um importante fator na formação e na qualidade de raízes em
estacas de pitaya.
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44
CAPÍTULO 3 – ANATOMIA RADICULAR EM ESTACAS DE PITAYA
RESUMO – A pitaya (Hylocereus undatus) é uma cactácea frutífera e ornamental de
sub-bosque originária de florestas úmidas da América tropical ainda pouco estudada no
Brasil, tanto de forma geral como especificamente no que se refere a anatomia radicular
em estacas de pitaya uma vez que as informações nesse aspecto são bastante
incipientes e escassas na literatura científica. Desta forma, o presente trabalho teve por
objetivo estudar anatomicamente as raízes adventícias de estacas de pitaya, buscando
identificar o tecido de origem destas. As estacas utilizadas foram procedentes do Banco
Ativo de Germoplasma do Departamento de Produção Vegetal da Faculdade de
Ciências Agrárias e Veterinárias – UNESP, Campus de Jaboticabal-SP e analisadas
anatomicamente por cortes histológicos transversais. As raízes adventícias em estacas
de pitaya originam-se no periciclo. Não há a formação de calos em estacas de pitaya.
Palavras-chave: Estaquia, raízes adventícias, iniciação radicular.
45
INTRODUÇÃO
A pitaya vermelha pertencente à família Cactaceae e ao gênero Hylocereus, o qual
inclui várias espécies frutíferas (MOHAMED-YASSEEN et al., 1995), apresenta vários
nomes vulgares em inglês: queen of the night, night-blooming cereus, dragon fruit e
espanhol: pitahaya e pitaya, sendo ainda pouco conhecida no Brasil.
Trata-se de uma espécie (Hylocereus undatus) com elevado potencial para
desenvolvimento agrícola (MOHAMED-YASSEEN, 2002), especialmente em áreas
onde a disponibilidade hídrica e solar seja abundante, cuja propagação
economicamente viável é realizada por estaquia, visto que as sementes, apesar de
apresentarem elevada taxa de germinação e em curto período de tempo, promovem
lento crescimento inicial e início de produção tardia (HERNÁNDEZ, 2000; ANDRADE et
al., 2007). Estudos sobre a propagação vegetativa da pitaya por estaquia têm sido
desenvolvidos e revelado resultados animadores, mas, por outro lado, deve-se ressaltar
que esse método apresenta como ponto crítico o início do desenvolvimento de um
sistema radicular funcional (MAYER et al., 2006) e as informações quanto à anatomia
radicular em estacas de pitaya ainda são bastante incipientes e escassas na literatura
científica.
A origem de raízes adventícias em estacas de plantas com crescimento
secundário pode ocorrer a partir do tecido jovem do floema secundário, dos raios
vasculares, do câmbio ou dos calos produzidos na base das estacas (HARTMANN et
al., 2002). Para BEAKBANE (1961), a estrutura anatômica do floema primário influencia
a capacidade de formação de raízes em estacas caulinares de frutíferas e,
adicionalmente, as plantas de difícil enraizamento são caracterizadas por apresentar
alto grau de esclerificação, revelando que a diferença entre variedades de fácil ou difícil
enraizamento pode estar inversamente relacionada à continuidade da camada de
esclerênquima, como também observaram ONO & RODRIGUES (1996).
No Brasil, são pouco frequentes os trabalhos anatômicos e morfológicos
desenvolvidos sobre a família Cacataceae destacando-se os de SOFFIATTI &
ANGYALOSSY (2003) e ARRUDA et al. (2005).
46
Estudos anatômicos sobre a propagação ou regeneração da pitaya são
necessários devido à escassez de informação na literatura especializada e ao grande
interesse nesta espécie para a formação de pomares nacionais, motivando o presente
trabalho que objetivou estudar anatomicamente as raízes adventícias de estacas de
pitaya buscando identificar o tecido de origem destas.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido, no período de maio a agosto de 2006, na Faculdade
de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV), da Universidade Estadual Paulista
(UNESP), Campus de Jaboticabal, com estacas oriundas da região superior de plantas
pertencentes ao Banco Ativo de Germoplasma de Fruticultura do Departamento de
Produção Vegetal, com aproximadamente 18 meses de idade, propagadas
vegetativamente pelo processo de estaquia, tutoradas em moirõers de 1,6m de altura,
irrigadas pelo sistema de aspersão convencional e cultivadas sob 50% de luminosidade.
As matrizes de pitaya vermelha apresentavam 1,5 ano de idade no período de
coleta das estacas, foram propagadas por estaquia, plantadas em espaçamento de 3m
entre linhas e 2m entre plantas, tutoradas em moirões com hastes de madeira
acopladas ao ápice interligados com seis fios de arame liso para sustentação das
plantas à 1,6m de altura e cultivadas sob 50% de luminosidade.
Para obtenção do material vegetal, estacas de pitaya vermelha (Hylocereus
undatus), foram coletadas na parte superior das plantas. Imediatamente após a coleta,
as estacas (aproximadamente 25cm de comprimento) tiveram a base imersa em
solução com fungicida Captan®, foram plantadas em sacos de polietileno preto (15cm
de diâmetro x 20cm de altura) preenchidos com substrato comumente usado na
formação de mudas na proporção 3:3:1 de solo(latossolo vermelho):areia
peneirada:esterco bovino, mantidos sob 50% de luminosidade e diariamente irrigadas
(uma vez ao dia) com água de boa qualidade (pH 6,8 e condutividade elétrica 0,3 dS.m-
1), pelo sistema localizado de microaspersão. Aproximadamente 15cm da estaca ficou
47
exposta à atmosfera. Não foi usada auxina exógena (AIB), conforme estudo prévio de
ANDRADE et al. (2007).
Aos 42 dias após a remoção da planta matriz, 10 estacas foram retiradas do
substrato, lavadas em água corrente até a retirada completa do substrato e conduzidas
ao laboratório de Morfologia Vegetal do Departamento de Biologia Aplicada à
Agropecuária da FCAV/UNESP para realização das observações anatômicas da
inserção das raízes adventícias na estaca caulinar, realizadas por registro fotográfico
em microscópico ótico e estereomicroscópio.
As amostras permaneceram por uma semana em solução fixadora em FAA
(formalina-aceto-álcool, composta por 90 mL de etanol 95%, 5 mL de ácido acético
glacial e 5mL de formaldeído 37%), de acordo com metodologia indicada por
JOHANSEN (1940), em seguida foram desidratadas em série gradual de álcool etílico,
diafanizadas em xilol, incrustadas e emblocadas em parafina seguindo processo de
preparação de lâminas histológicas permanentes, de acordo com JOHANSEN (1940) e
KRAUS & ARDUIN (1997), sendo também parte do Protocolo do Laboratório de
Anatomia e Morfologia Vegetal/FCAV/UNESP. As amostras de tecidos foram
fotomicrografadas em microscópio ótico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Figura 1 apresenta cortes histológicos transversais de estacas de pitaya
indicando a origem e formação de raízes adventícias dessa espécie. A pitaya apresenta
potencial para ser propagada de forma economicamente viável pelo processo de
estaquia devido ao elevado percentual de estacas com raízes registradas por autores
como SILVA (2005), BASTOS et al. (2006) e ANDRADE et al. (2007), o que pode ser
atribuído também ao fato dessa espécie não apresentar uma camada de esclerênquima
contínua que constitui uma barreira à emergência das raízes adventícias, conforme se
pode observar nessa figura.
48
Figura 1. Cortes transversais de estacas de pitaya enraizadas. (A) e (B) = ápice de
desenvolvimento do primórdio radicular; (C) e (D) = base de desenvolvimento do
primórdio radicular; (E) = detalhe aproximado da origem da raiz adventícia.
(E)
(A) (B)
(C) (D)
49
Ao analisar a Figura 1 é possível observar o desenvolvimento de um primórdio de
raiz adventícia de pitaya a partir do periciclo em direção à epiderme, mas ainda
passando pelo córtex. APPEZZATO-DA-GLÓRIA & CARMELLO-GUERREIRO (2006) e
PAOLILLO & ZOBEL (2002) em estudos anatômicos realizados respectivamente com
Gomphrena macrocephala e dicotiledôneas de uma forma geral também registraram o
periciclo como sendo a origem da raiz adventícia (Figura 2).
Figura 2. Cortes transversais de estacas de Gomphrena macrocephala.
Fonte: A = APPEZZATO-DA-GLÓRIA & CARMELLO-GUERREIRO (2006)
B = PAOLILLO & ZOBEL (2002)
Por outro lado, PACHECO et al. (1998) trabalhando com a videira muscanídea
observaram que as raízes adventícias originam-se nas proximidades da zona cambial
nas regiões nodais e internodais dos ramos; BLAZICH & HEUSER (1979) para o feijão,
(A)
(B)
50
tomate e abóbora identificaram o parênquima do floema e MANCUSO (1998) para a
Crassula sp. concluíram que a epiderme é o ponto inicial de formação dessas raízes.
Em estudo sobre anatomia de órgãos vegetativos de cactáceas, ARRRUDA et al.
(2005) observaram que apenas raízes adventícias surgem da base do hipocótilo,
constituindo um sistema radicular fasciculado. O sistema de revestimento apresenta,
em estrutura primária, a epiderme unisseriada de onde partem pêlos unicelulares. Na
região cortical, as células apresentam contorno arredondado e estão limitadas
internamente pela endoderme. Em estrutura secundária, o sistema de revestimento é
composto pela periderme, cujas células das camadas externas apresentam paredes
lignificadas.
Para HARTMANN et al. (2002), as raízes adventícias de espécies herbáceas
geralmente se originam entre os vasos condutores de seiva, próximo ao câmbio
vascular, mas as células envolvidas no local de origem podem variar significativamente
de acordo com a espécie e técnica de propagação, determinando a necessidade de
estudos específicos.
Como indicado da Figura 1, verifica-se que não ocorre a formação prévia de
calos (maçiço celular indiferenciado) para posterior emissão das raízes adventícias o
que é comum ocorrer em espécies frutíferas como goiaba e uva, de acrodo com
HARTMANN et al. (2002). Adicionalmente, TETSUMURA et al. (2001) avaliando a
antomia de raízes em estacas de caqui concluíram que a iniciação de raízes
adventícias é facilmente identificada como sendo nos calos, estes diferenciados a partir
do câmbio vascular.
A regeneração das raízes adventícias a partir de estacas vegetais,
semelhantemente à apresentada na Figura 1 é possível mediante a duas características
particulares das células vegetais: totipotência e desdiferenciação. A totipotência
permite, por exemplo, que uma célula do parênquima da raiz divida-se e produza uma
gema adventícia e a desdiferenciação é a capacidade de células adultas voltarem à
condição meristemática e desenvolver um novo ponto de crescimento (TAIZ & ZEIGER,
1998).
51
PAOLILLO & ZOBEL (2002) sugerem que a formação de raízes adventícias
refletem as respostas dos potenciais tecidos meristemáticos em indutores endógenos e
ambientais que são aplicados às raízes no crescimento secundário, ou seja, além do
tempo de vida no qual um periciclo está disponível para fornecer respostas apropriadas.
As comparações entre espécies quanto à origem das raízes adventícias em
partes vegetativas, principalmente em estacas visando a propagação vegetativa é
pertinente apenas quando ambos os experimentos foram submetidos às mesmas
condições e com espécies de mesma classificação cotiledonar (mono ou dicotiledônea).
KRISANTINI et al. (2006) afirmam que os tratamentos como estiolamento e aplicação
exógena de auxinas podem interferir na origem das raízes e as raízes adventícias das
monocotiledôneas (RUDALL, 1991; RODRIGUES & ESTELITA, 2002) originam-se na
sua maioria de um meristema periférico ao cilindro vascular denominado “meristema de
espessamento primário” ou MEP.
CONCLUSÕES
Pelo presente trabalho, conclui-se:
- As raízes adventícias em estacas de pitaya originam-se no periciclo;
- Não há formação de calos em estacas de pitaya.
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55
CAPÍTULO 4 – ADUBAÇÃO ORGÂNICA E INTENSIDADE LUMINOSA NO
CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E ESTADO NUTRICIONAL DA PITAYA
RESUMO - A pitaya é uma cactácea de sub-bosque originária de florestas tropicais do
México e das Américas Central e do Sul pouco estudada no Brasil principalmente
quanto à intensidade luminosa, adubação e nutrição mineral, necessitando de
informações nessas áreas para dar condições de expansão à cultura. Nesse sentido,
realizou-se um experimento objetivando avaliar o crescimento e desenvolvimento
iniciais e o estado nutricional da pitaya em função da intensidade luminosa e adubação
orgânica. O delineamento experimental adotado foi em blocos casualizados, com
tratamentos distribuídos em esquema fatorial 5 x 3, referentes respectivamente aos
níveis de adubação orgânica (0, 5, 10, 20 e 30 L.cova-1) e aos percentuais da tela de
propileno utilizado como cobertura (0, 50 e 75% de sombreamento), com quatro
repetições. Foram avaliadas semanalmente o diâmetro de cladódio, a altura de estacas
e o comprimento do ramo secundário e ao final do experimento, massa fresca da parte
aérea e massa seca de raiz e parte aérea bem como as concentrações dos elementos
N, P, K, Ca, Mg, S, Cu, Fe, Mn, Zn, B e Na. Para as variáveis mensuradas
semanalmente foram calculados os respectivos incrementos percentuais semanais. No
cultivo da pitaya é necessário o uso de cobertura contra a incidência direta dos raios
solares, onde as estruras com 50% ou 75% de luminosidade podem ser usados. Os
níveis de esterco influenciaram significativamente as concentrações de N, P, K e Na. A
concentração no tecido vegetal do N, P, K, S, B, Zn e Na foram incrementadas com o
aumento do nível de esterco fornecido à cova de plantio. O fornecimento de 20 L.cova-1
de esterco bovino pode ser adotado como quantitativo no preparo de covas de pitaya
nas condições de clima e solo onde foi executado o experimento.
Palavras-chave: Hylocereus undatus, esterco bovino, sombreamento, nutrição mineral.
56
INTRODUÇÃO
Cactácea epífita, perene e suculenta, a pitaya apresenta caule triangular, com
espinhos e classificado morfologicamente como cladódio de onde partem numerosas
raízes adventícias que permitem o crescimento da planta sobre árvores e pedras em
ambientes sombreados de florestas tropicais da América (CANTO, 1993). O fruto tem
sido consumido há gerações no México, Vietnã, Colômbia e Nicarágua (ROBLES et al.,
2000) e recebeu durante a década de 90 maior atenção devido seu potencial como
nova frutifera não convencional, tornando-se objeto de estudo principalmente quanto ao
aspecto fisiológico em Israel, Estados Unidos e Austrália (NERD & MIZRAHI, 1997).
A pitaya atualmente é pouco estudada no Brasil com trabalhos básicos e
específicos, determinando a necessidade de estudos que possam ter referência,
preferencialmente, a aspectos práticos e informar ao potencial produtor as tecnologias
que devem ser aplicadas para cultivos nas condições brasileiras, visto que a cultura
apresenta-se em expansão, fato que justifica estudos sobre temas como tolerância à
luminosidade e necessidade de adubação orgânica.
Sensível à elevadas intensidades luminosas (ZEE et al., 2004), a pitaya vermelha
necessita de proteção contra incidência direta dos raios solares em regiões onde esse
tipo de característrica é observada. Nesse sentido, estudos preliminares foram
realizados em Israel (RAVEH et al., 1993; RAVEH et al., 1998; MIZRAHI & NERD,
1999) comprovando que a necessidade de cobertura é dependente das condições
lo