UNESP UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Faculdade de Ciências Campus de Bauru – SP SÍLVIA REGINA CASSAN BONOME VANZELLI APTIDÃO FÍSICA, BURNOUT E HUMOR EM PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA DE ESCOLAS PÚBLICAS BAURU – SP 2020 SÍLVIA REGINA CASSAN BONOME VANZELLI APTIDÃO FÍSICA, BURNOUT E HUMOR EM PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA DE ESCOLAS PÚBLICAS Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Educação Física em Rede Nacional – ProEF da Universidade Estadual Paulista – UNESP, como requisito parcial para a obtenção do Título de Mestre em Educação Física – Área de Concentração em Educação Física Escolar. Orientador: Prof. Dr. Carlos Eduardo Lopes Verardi BAURU – SP 2020 Bonome-Vanzelli, Sílvia Regina Cassan. Aptidão física, Burnout e Humor em professores de Educação Física de escolas púbicas / Sílvia Regina Cassan Bonome Vanzelli, 2020 86 f. : il. Orientador: Carlos Eduardo Lopes Verardi Dissertação (Mestrado)–Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências, Bauru, 2020 1. Burnout. 2. Professores de Educação Física. 3. Estados de Humor. 4. Aptidão Física. I. Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências. II. Título. SILVIA REGINA CASSAN BONOME VANZELLI APTIDÃO FÍSICA, BURNOUT E HUMOR EM PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA DE ESCOLAS PÚBLICAS Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Educação Física em Rede Nacional – ProEF da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Polo Bauru, como requisito parcial para a obtenção do Título de Mestre em Educação Física Escolar. Orientador: Prof. Dr. Carlos Eduardo Lopes Verardi Data da defesa: 29/05/2020 MEMBROS COMPONENTES DA BANCA EXAMINADORA: Presidente e Orientador: Prof. Doutor Carlos Eduardo Lopes Verardi Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus de Bauru Membro Titular: Prof. Dr. Willer Soares Maffei Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus de Bauru Membro Titular: Prof.ª Dr.ª Adriana Campos Meiado Universidade Nove de Julho (Bauru) e Faculdades Integradas de Jaú Local: Universidade Estadual Paulista Faculdade de Ciências UNESP – Campus de Bauru AGRADECIMENTOS A Terra girou, girou... E ao passo que girava, os encontros se davam... ... no dia a dia com minha família, que em todo momento esteve a meu lado, e entendeu as ansiedades e as angústias de todo o processo. Muito obrigada mãe, marido, meus sogros e Sarah pela serenidade com que levaram esses dois anos. ... em todo o processo com os professores do curso. Gratidão às professoras Andresa, Dagmar e Luciene e aos professores Márcio, Milton, Rubens e Willer hoje e sempre pela prontidão, abertura para os ensinamentos, trocas, amizade e carinho que tiveram com seus 16 desbravadores. ... com a coordenação, equipe técnica do PROEF e da CAPES/PROEB – Programa de Educação Básica pelo oferecimento do Programa de Pós-Graduação em Educação Física em Rede Nacional – ProEF. Muito obrigada pela luta e resiliência para que o curso acontecesse. ... com o meu querido Orientador Professor Carlos Verardi. Muito Obrigada por me aceitar e fazer com que esse programa tivesse sentido. ... com a querida amiga Mayra Grava, pois com o giro do mundo nos encontramos novamente em outro contexto de trabalho. Nesse encontro percebo que as sementes plantadas um dia nos fazem colher grandes amizades no decorrer do tempo. ... com a banca examinadora que me mostrou a importância de criar laços e poder contar com pessoas queridas. Gratidão pelas contribuições professora Adriana e mais uma vez ao professor Willer. ... com nosso grupo de estudos, em especial ao Anderson e Igor. Gratidão por estarmos juntos nessa caminhada. ... com meus alunos. Obrigada por estarem sempre abertos a me receber, pensar o dia a dia da escola só me fez perceber o quanto nós precisamos uns dos outros. ... com meus colegas professores, coordenação e direção da escola. Obrigada pela paciência, carinho e companheirismo durante os dias de correria. Com vocês, tudo se tornou mais fáceis de acontecer. .... com meus colegas queridos de profissão. Com vocês e para vocês pude realizar essa pesquisa. As subidas e descidas no banco foram a maior expressão de coleguismo e solidariedade profissional que pude receber. Gratidão mais que especial! ...de maneira mágica com os 16 desbravadores. Os últimos serão sempre os primeiros a ficarem em meu coração. Nossas trocas e experiências significativas, nossos debates acalorados com muita propriedade sobre a realidade. Meu mais que obrigada por estarmos juntos nessa caminhada. Estava escrito que iríamos nos encontrar. Tenho certeza! “Que a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balanças nem barômetros etc. Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós” (BARROS, 2006, p. 10) BONOME-VANZELLI, Sílvia Regina Cassan. Aptidão Física, Burnout e Humor em Professores de Educação Física de Escolas Públicas. 2020. 86 f. Dissertação (Mestrado Profissional em Educação Física em Rede Nacional) – UNESP, Faculdade de Ciências, Bauru, 2020. RESUMO É notório que os estágios extremos de estresse podem levar à Síndrome de Burnout. O comportamento sedentário está associado a maiores riscos das causas de doenças crônicas físicas e mentais. Para combater esta realidade, é importante que as pessoas aumentem o nível de aptidão física. Estudos que associam a Síndrome de Burnout, Estados de Humor e aptidão física são ainda escassos, principalmente entre os professores. Participaram do estudo 97 professores de Educação Física de redes públicas, sendo 42 mulheres e 55 homens. Objetivou-se avaliar e analisar os níveis de Síndrome de Burnout, Estados de Humor e Aptidão Física em Professores de Educação Física de Escolas Públicas. Os instrumentos utilizados foram o Inventário Sociodemográfico, Avaliação Antropométrica, Teste Submáximo do Banco de MCardle, Inventário Maslach de Burnout e Escala de Humor de Brunel (BRUMS). Os dados foram coletados de março a dezembro de 2019 e para análise, foram efetuados cálculos de estatística descritiva. Para a comparação entre os sexos, usou-se o teste não paramétrico de Mann-Whitney e o teste Kruskal-Wallis para comparar os grupos sem (G0b), com 1 (G1B), e com 2 ou 3 (G2/3B) critérios para Burnout. A esses dados foi considerado o nível de significância de 5% (p≤0,05). Análise foi realizada através do programa SPSS versão 24. Concluiu-se que 55,66% da amostra apresentou um, dois ou três critérios de Burnout, enquanto 44,32% não apresentaram a Síndrome. Homens e mulheres mostraram-se com índices moderados para o Burnout. Apresentarem perfis de iceberg para os Estados de Humor, porém, as mulheres indicaram maior Tensão, Depressão e Fadiga e menor Vigor em relação aos homens. A aptidão física mostrou-se decrescente entre os três grupos de Burnout, sendo mais alta G0B, demonstrando que a Síndrome de Burnout está negativamente relacionada aos níveis de aptidão física ideais à saúde dos professores. Foram encontrados valores crescentes das seis variáveis de humor entre os 3 três grupos representados pelo Burnout, portanto, indivíduos que apresentarem Perfis de Iceberg invertidos e baixa aptidão física estão mais sujeitos a altos níveis de Burnout. As escolas devem apresentar programas com propostas de atividade/exercício físico no próprio ambiente de trabalho com o intuito de prevenir e manter a saúde e qualidade de vida de seus professores. Palavras-chave: Burnout. Professores de Educação Física. Estados de Humor. Aptidão Física. BONOME-VANZELLI, Sílvia Regina Cassan. Physical fitness, Burnout, and Mood states in Physical Education Teachers from Public Schools. 2020. 86 f. Dissertation (Master in School Physical Education) – UNESP, Faculty of Sciences, Bauru, 2020. ABSTRACT It is notorious that extreme stages of stress can get a lead to Burnout Syndrome. Sedentary behavior is usually associated to a lot of risks of the causes of chronic physical illness and mental illness. To avoid this reality, it is important who people increase their physical fitness’ level. It’s still scarce any Studies that connect Burnout Syndrome, States of Mood and physical fitness, especially among teachers. 97 Physical Education teachers from public schools participated in the study, 42 women and 55 men. The objective was to evaluate and analyze the levels of Burnout Syndrome, States of Mood and Physical Fitness in Physical Education Teachers from Public Schools. The instruments used were the Sociodemographic Inventory, Anthropometric Assessment, MCardle Bank Submaximal Test, Maslach Burnout Inventory and Brunel's Humor Scale (BRUMS). Data were collected from March to December 2019 and for analysis descriptive statistics were performed. For the comparison between the sexes, the Mann-Whitney non-parametric test and the Kruskal-Wallis test were used to compare groups without (G0b), with 1 (G1B), and with 2 or 3 (G2 / 3B) criteria for Burnout. For these data, a significance level of 5% (p≤0,05) was considered. Analysis was performed using the SPSS version 24 program. It was concluded that 55,66% of the sample had one, two or three Burnout criteria, while 44,32% did not have the Syndrome. Men and women showed moderate rates for Burnout. Both presenting iceberg profiles for Mood States, however, women indicated more Tension, Depression and Fatigue and less Vigor in relation to men. The Physical Fitness was showed to be decreasing among the three Burnout groups, with a higher G0B, demonstrating that the Burnout Syndrome is negatively related to the ideal physical fitness levels for teacher´s health. Increasing values of the six mood variables were found among the 3 groups represented by Burnout, therefore, individuals who have inverted Iceberg Profiles and low physical fitness, are more subject to high levels of Burnout. Schools must present programs with proposals for physical activity/exercise in the work environment with the intention of prevent and maintain the health and quality of life of their teachers. Keywords: Burnout. Physical Education Teachers. Mood States. Physical Fitness. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Perfil de Iceberg e Perfil de Iceberg invertido com alterações nos estados de humor proposto por Morgan (1987). ..................................................................... 34 Figura 2 – Diagrama de fluxo de seleção dos professores participantes segundo as diretrizes STROBE .................................................................................................... 50 Figura 3 – Comparação pairwise entre os Grupos de Burnout.................................. 61 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Comparação entre medianas e teste de Mann-Whitney referentes aos professores do sexo feminino e masculino e a caracterização do Perfil de Iceberg e alterações nos estados de humor. ............................................................................ 58 Gráfico 2 – Comparação dos Estados de Humor entre os Grupos Sem critérios para Burnout (G0B), com um critério para Burnout (G1B) e com dois ou três critérios para Burnout (G2/3B). ....................................................................................................... 68 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Resumo das principais diferenças entre o auxílio-doença comum e o auxílio acidentário ..................................................................................................... 26 Quadro 2 – Variáveis dos Estados de Humor ............................................................ 33 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Características Descritivas da Amostra Total (n=97) .............................. 53 Tabela 2 – Comparação entre os sexos a partir do teste Mann-Whitney para as variáveis de Burnout Exaustão Emocional, Despersonalização e Realização Profissional. ............................................................................................................... 55 Tabela 3 – Comparação entre os sexos a partir do teste Mann-Whitney para as variáveis VO2máx, IMC, Anos de Profissão e Horas Trabalhadas por semana. ....... 56 Tabela 4 – Comparação entre os sexos a partir do teste Mann-Whitney para as variáveis dos Estados de Humor. .............................................................................. 58 Tabela 5 – Comparação entre os 3 grupos com critérios para Burnout a partir do teste Kruskal-Wallis para as variáveis Exaustão Emocional, Despersonalização e Realização Profissional. ............................................................................................ 61 Tabela 6 – Comparação entre os 3 Grupos com critérios para Burnout a partir do teste Kruskal-Wallis para as variáveis Vo2máx, IMC, Anos de Profissão, Horas de Trabalho por semana e Horas de Atividade Física por Semana. .............................. 63 Tabela 7 – Comparação entre os 3 grupos com critérios para Burnout a partir do teste Kruskal-Wallis para as variáveis dos Estados de Humor................................ 677 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 15 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA................................................................................. 20 2.1 Síndrome de Burnout, Estados de Humor e Carreira Docente ......................... 20 2.1.1 Síndrome de Burnout ...................................................................................... 21 2.1.2 Estados de Humor .......................................................................................... 32 2.2 Aptidão Física, Síndrome de Burnout e Estados de Humor .............................. 37 3 OBJETIVOS .......................................................................................................... 44 3.1 Objetivos Gerais ............................................................................................... 44 3.2 Objetivos Específicos ........................................................................................ 44 4 MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................... 45 4.1 Amostra ............................................................................................................ 45 4.2 Aspectos Éticos da Pesquisa ............................................................................ 45 4.3 Instrumentos ..................................................................................................... 45 4.3.1 Inventário Sociodemográfico .......................................................................... 45 4.3.2 Avaliação Antropométrica ............................................................................... 46 4.3.3 Teste Submáximo do Banco ........................................................................... 46 4.3.4 Inventário Maslach de Burnout ....................................................................... 47 4.3.5 Escala de Humor de Brunel (BRUMS) ............................................................ 48 4.4 Procedimentos .................................................................................................. 48 5 ANÁLISE DE DADOS .......................................................................................... 51 6 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................ 52 6.1 Avaliação e Análise dos Níveis de Burnout, Estados de Humor e Aptidão Física em Professores de Educação Física de Escolas Públicas. ....................................... 52 6.2 Comparação dos Níveis de Burnout, Estados de Humor e Aptidão Física entre os Sexos Feminino e Masculino. ............................................................................... 54 6.3 Comparação dos níveis de Aptidão Física entre os Grupos Sem Burnout, com um critério para Burnout e com dois ou três critérios para Burnout ........................... 60 6.4 Comparação do Perfil de Humor entre os Grupos Sem Burnout, com um critério para Burnout e com dois ou três critérios para Burnout. ........................................... 66 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 70 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 72 ANEXOS ................................................................................................................... 82 ANEXO A – Inventário Maslach de Burnout .............................................................. 82 ANEXO B – Escala de Humor de Brunel (BRUMS) .................................................. 83 APÊNDICES ............................................................................................................. 84 APÊNDICE A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ................................. 84 APÊNDICE B – Inventário Sociodemográfico ........................................................... 86 15 1 INTRODUÇÃO Atualmente, a Qualidade de Vida pode ser afetada pelos principais fatores de risco à saúde, no caso, o uso do tabaco, a poluição do ar, dieta inadequada, uso nocivo do álcool e o sedentarismo (WHO, 2018, tradução nossa). A American College of Sports Medicine (2018) constatou que mais de 50% do dia de um adulto é preenchido por comportamento sedentário, com atividade entre assistir à televisão e ficar no computador ou dispositivos eletrônicos. O comportamento sedentário, portanto, está associado a maiores riscos a todas as causas de doenças crônicas como doenças cardíacas, diabetes, câncer e transtornos mentais, tais quais, a ansiedade e a depressão. Para combater esta realidade e também o sedentarismo, é importante que as pessoas aumentem o nível de aptidão física, mantendo sua saúde física com energia para atividades de lazer e evitando a fadiga (ACSM, 2018, tradução nossa). Tendo em vista que mais da metade da população mundial não realiza atividade física regular (ACSM, 2018, tradução nossa), o estímulo à vida ativa deve ser mais efetivo com políticas públicas capazes de alcançar toda esta parcela humana. Neste sentido, muitos são os fatores capazes de afastar ou aproximar as pessoas da atividade física, dentre eles os sociais, os ambientais, como a acessibilidade, a própria história pessoal do indivíduo em relação à atividade física, o apoio social para a vida ativa e o emprego que possui grande influência como o tipo de ocupação, do total de horas trabalhadas por semana, de horas extras realizadas, sendo trabalho fixo diurno, por turnos e trabalhos em tempo integral (CHOI, 2017, tradução nossa). O trabalho e as condições relacionadas a ele no mundo contemporâneo trouxeram altos níveis de estresse, gerando doenças crônicas, as quais afetam física e psiquicamente o sujeito influenciando em sua Qualidade de Vida. Assim, a Organização Mundial de Saúde considera o estresse como uma epidemia global com característica multicausal. Fatores estressores e depressivos ocasionados pelo trabalho podem levar a comorbidades como o aparecimento de doenças mentais e cardiovasculares (WHO, 2009, tradução nossa). O estresse no trabalho influencia significativamente as respostas desadaptadas em relação à saúde e ao estado de saúde é determinado por múltiplos fatores, incluindo a hereditariedade, ambiente, antecedentes iniciais e influências socioeconômicas. Tais respostas podem levar a 16 consequências comportamentais como o tabagismo, distúrbios do sono e abuso de substâncias, consequências fisiológicas tais quais doenças coronarianas, a exemplo da hipertensão, e psicológicas como a alienação, o esgotamento e os sintomas depressivos (SCHABRACQ et al., 2003, tradução nossa). Soratto e Olivier-Hecker (1999), ao compararem a escola brasileira com empresas de médio e grande porte, identificam-na como uma das piores empresas para se trabalhar por apresentar além da baixa remuneração, a falta de plano de carreira, relações burocratizadas e a grande precariedade na infraestrutura. Ainda no Brasil, Assunção e Abreu (2019) reafirmam essas dificuldades com a infraestrutura como um fator estressor relevante e colocam também os graves problemas com a indisciplina dos alunos em sala de aula. Nos Estados Unidos, um estudo qualitativo em escolas públicas da Califórnia apontou que os professores relacionam seu estresse com a falta de recursos, mais uma vez pela carga excessiva de trabalho e gerenciamento do comportamento dos alunos, além da prestação de contas e da desorganização escolar (SHERNOFF et al., 2011, tradução nossa). Na Itália, além de alguns fatores já colocados, o estudo também indica o baixo apoio social em relação à profissão docente (BORELLI et al., 2014, tradução nossa), item esse também refletido por Codo e Vásquez-Menezes (1999) em escolas brasileiras. Um estudo alemão indica que os problemas de saúde mental em docentes ocorrem por estressores internos e externos ao professor, sendo difícil a conquista de mudanças, principalmente em relação aos estressores externos relacionados à escola (ESKIC et al., 2019, tradução nossa). Percebe-se, portanto, que o estresse e os altos índices de transtornos psicológicos em professores não se restringem ao Brasil, como relatado em um estudo chinês, trata-se de um fenômeno universal já que o professor precisa gerir comportamentos dos alunos, lidar com funcionários e gestores escolares e aguentar a carga pesada de trabalho que a profissão exige (TSANG et al., 2013, tradução nossa). Estágios extremos de estresse podem levar à Síndrome de Burnout, que por sua vez, é uma síndrome psicológica de estresse e esgotamento no trabalho com três dimensões, a Exaustão Emocional, a Despersonalização e redução da Realização Profissional (LEITER; MASLACH; FRAME, 2015, tradução nossa). Todos os professores podem ser afetados pela Síndrome de Burnout inclusive o profissional de Educação Física. Além disso, esses professores podem ser afetados pelo humor negativo, considerado como um fator de risco para doenças 17 crônicas, principalmente em transtornos mentais. Neste sentido, a atividade física promove a qualidade de vida, levando a sensações de bem-estar, já que atua significativamente no estado de humor, o qual representa a saúde psicológica da pessoa, associando-se à satisfação e à felicidade (MIRANDA; MELLO; ANTUNES, 2011). Cada vez mais, nota-se os efeitos positivos que a aptidão física pode exercer na prevenção do esgotamento (CARRARO et al., 2010, tradução nossa). Estes dados indicam que os transtornos mentais e comportamentais, como a Síndrome de Burnout e os Estados de Humor, representam não apenas uma dificuldade pessoal para o sujeito individualmente, mas também um sério problema de saúde pública, dado aos altos custos humanos e financeiros, já que funcionários afetados pela doença oneram as empresas. É importante identificar o estresse crônico em seus estágios iniciais e evitar o esgotamento totalmente desenvolvido (BUDEN et al., 2016, tradução nossa). Portanto, a Síndrome de Burnout foi reconhecida como um grave problema de saúde pública, atualmente relacionada a doenças laborais, fato que prova a importância de estudos que investiguem sua prevalência em diferentes profissões (GUEDES, 2016) inclusive entre professores de Educação Física, que por serem formados em ambientes de atividade física e saúde, podem ter fatores de estilo de vida como o exercício físico, por exemplo, que os protegem dos sintomas de estresse (GIACOBBI JR, 2009, tradução nossa). O presente estudo, portanto, no segundo tópico apresenta uma revisão bibliográfica sobre Síndrome de Burnout, Estados de Humor, Aptidão Física e a Carreira Docente do Professor de Educação Física, definindo esses conceitos e como o estresse pode afetar esses profissionais. Estudos que associem a Síndrome de Burnout, Estados de Humor e Aptidão Física são ainda escassos, principalmente entre professores. Assim, o tema em questão foi escolhido pela percepção observada na estrutura física e organizacional das escolas públicas, principalmente ao analisar os fatores estressores que acometem esse contexto e que, de sobremaneira, podem afetar consideravelmente os professores. O terceiro tópico traz os objetivos do trabalho de avaliar e analisar os níveis de Síndrome de Burnout, Estados de Humor, bem como de Aptidão Física em Professores de Educação Física de Escolas Públicas. Em seguida, no quarto tópico, indica-se a metodologia, com a apresentação da amostra final de 97 professores de Educação Física de escolas públicas, os 18 aspectos éticos da pesquisa, instrumentos e procedimentos utilizados. Para tanto, é importante justificar que utiliza-se, na presente pesquisa, um método objetivo de avaliação da aptidão física, por meio do Banco de MCardle (2010), o qual quantifica o consumo de oxigênio de cada participante, e pouco se faz presente em pesquisas desse tipo, já que seus autores geralmente optam, por exemplo, pelos questionários como o IPAQ (Questionário Internacional de Atividade Física) e outros questionários parecidos que podem comprometer a fidedignidade dos resultados a partir do uso de critérios subjetivos (BRETLAND; THORSTEINSSON, 2015, tradução nossa; CARRARO et al., 2010, tradução nossa; CARSON et al., 2010, tradução nossa; LINDWUALL et al., 2014; MIKKELSEN et al., 2017, tradução nossa; NAUGLE et al., 2013; PELLETIER et al., 2017, tradução nossa; SANE et al., 2012, tradução nossa; YUJIANG, 2011, tradução nossa). De acordo com os níveis de corte do consumo de oxigênio entre homens e mulheres, faz-se importante uma análise mais apurada com a divisão entre sexos, o que muitas vezes passa despercebido pela maneira como os questionários são realizados, pois os sujeitos podem apresentar altos índices de atividade física, mas não realizá-las de acordo com a intensidade necessária aos critérios apontados à saúde. A análise por separação entre os sexos mostra-se importante também devido, atualmente, a sua reduzida realização de estudos dessa maneira e porque o acometimento do Burnout parece ser diferente entre mulheres e homens, tendo em vista que mulheres podem apresentar mais responsabilidades domésticas, além do trabalho (NAUGLE et al., 2013, tradução nossa). Quanto ao que concerne os Estados de Humor, percebem-se muitos estudos que o utilizam para a detecção do humor no contexto esportivo, porém vem sendo bastante utilizado em outros cenários, por estabelecer uma avaliação rápida, principalmente pelo humor se tratar de um constructo que se modifica de acordo com o momento de vida do indivíduo avaliado (LANE; TERRY, 2000, tradução nossa). Como já mencionado, o humor pode influenciar, também, nos índices de Burnout, e, portanto, a utilização da Escala de Humor se faz importante como parte da avaliação e do critério de prevenção a um estado mais avançado para a Síndrome (KOCH et al., 2009, tradução nossa). Concomitantemente, pretende-se com o trabalho, levar aos professores um referencial teórico capaz de priorizar a reflexão sobre a Síndrome de Burnout e as alterações nos Estados de Humor, enquanto problemas mentais que possam afetá- 19 los ao longo da carreira profissional. A partir dessa reflexão, poderão, assim, buscar hábitos mais saudáveis afetando consequentemente de maneira positiva a prática docente (CARRARO et al., 2017, tradução nossa) já que sujeitos mais ativos podem ter na atividade física uma estratégia de enfrentamento dos fatores estressores que a escola oferece (GIACOBBI JR et al., 2009, tradução nossa). Enquanto hipóteses desse trabalho, acredita-se que a Síndrome de Burnout está negativamente relacionada aos níveis de aptidão física ideais à saúde. Mesmo com estudos que apoiam essa afirmativa, ainda são poucas as pesquisas de qualidade que esclarecem tal questão (NACZENSKI, 2017, tradução nossa). Portanto, melhores avaliações da prática de atividade física dos professores e melhor percepção da condição física deveriam estar associadas a pontuações mais baixas no Burnout. A segunda hipótese é de que indivíduos que apresentarem Perfis de Iceberg invertidos e baixa aptidão física, estão mais sujeitos a altos níveis de Burnout. Rohlfs (2006) apresenta a escala BRUMS como um instrumento para detectar precocemente a síndrome de excesso de treinamento, indicando, portanto, a possibilidade de utilização da escala para a detecção do estresse, ou seja, do Burnout. Assim, o tópico cinco, apresenta a análise dos dados coletados, a partir de análises estatísticas (descritiva, Mann Whitney e Kruskall-Wallis); enquanto que os capítulos cinco e seis trazem, respectivamente, os resultados e a discussão a partir da identificação e do confronto dos referenciais bibliográficos encontrados sobre o tema e a conclusão da pesquisa. 20 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Síndrome de Burnout, Estados de Humor e Carreira Docente Tratar de estresse no trabalho e de questões que possam levar o trabalhador ao adoecimento nos remete também à necessidade de se falar da saúde e da qualidade de vida dessas pessoas. A Constituição da Organização Mundial da Saúde propôs, em 1946, que “Saúde é o estado do mais completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de enfermidade” (WHO, 2002, tradução nossa), constituindo-se esse um conceito bastante complexo que sofreu mudanças significativas ao longo dos anos, assim como o conceito de Qualidade de Vida (QV). Qualidade de Vida vem sendo modificado por diferentes abordagens. A abordagem socioeconômica analisa a QV a partir de indicadores sociais como nível de formação, renda e tipo de residência, por exemplo. A abordagem psicológica, por sua vez, traz a QV como uma questão subjetiva, envolvendo temas sobre felicidade, motivação e satisfação pessoal. O enfoque médico volta-se para as condições de saúde e do bom funcionamento do corpo, sobre as avaliações subjetivas dos pacientes em relação a seu estado de saúde e a capacidade plena de vida (PEREIRA; TEIXEIRA; SANTOS, 2012). Porém, o conceito mais utilizado, atualmente, baseia-se na abordagem holística que tem como característica analisar o indivíduo de maneira integral, considerando todos os pontos que possam influenciar em sua vida (WHO, 1998, tradução nossa), dentro dessa visão, a Organização Mundial de Saúde, portanto, define Qualidade de Vida como: A percepção do indivíduo sobre sua posição na vida no contexto cultural e o sistema de valores em que vive e com relação a seus objetivos, expectativas, normas e preocupações. É um conceito extenso e complexo que abrange saúde física, status psicológico, nível de independência, relações sociais, crenças pessoais e a relação com as características marcantes do ambiente (WHO, 1998, p. 28, tradução nossa). Traz, portanto, critérios a partir da subjetividade da pessoa diante de seu contexto cultural, social e ambiental visto que o atendimento das necessidades em saúde aos pacientes tornou-se mais importante, dando maior visibilidade à percepção de cada indivíduo frente à sua vida em geral (WHO, 1998, tradução 21 nossa). A OMS identifica, ainda, seis áreas com aspectos fundamentais à Qualidade de Vida em todas as culturas: “a física, a psicológica, de independência, das relações sociais, do ambiente e das crenças pessoais/ espirituais” (WHO, 1998, p. 28, tradução nossa). Neste sentido, os problemas apontados a seguir como o Burnout, o Humor e baixos níveis de aptidão física podem afetar consideravelmente a saúde e QV das pessoas. 2.1.1 Síndrome de Burnout A Síndrome de Burnout vem sendo estudada há mais de 40 anos. Antes do início das pesquisas, havia relatos de seus sintomas até mesmo em livros de ficção, deixando claro os incômodos e as dificuldades das pessoas em seu contexto de trabalho. Essa Síndrome, portanto, possui um processo histórico conceitual bastante interessante descrita por Maslach (2017, tradução nossa) em duas fases. A fase pioneira tem início nos Estados Unidos, em 1974, através do psiquiatra e psicanalista alemão Herbert J. Freundenberg. Com uma origem pragmática, ou seja, a partir de observações e acontecimentos da prática clínica na instituição de saúde em que trabalhava e não a partir de compreensões acadêmicas, foi percebido que o problema era bastante comum. Freudenberg via que seus voluntários apresentavam um esgotamento gradual, com perda de motivação acompanhada de muitos sintomas mentais e físicos, ele, então, utilizou a palavra “esgotamento” para o fenômeno, termo este muito utilizado na época para o abuso crônico de drogas. Na mesma época, Christina Maslach, psicóloga social, estava preocupada com a desumanização, isolamento e o comportamento profissional. Advogados que lidavam com casos de pobreza no setor jurídico descreviam à psicóloga comportamentos parecidos, os quais denominavam “Burnout”, de onde nasceu a expressão para o conceito (MASLACH, 2017, tradução nossa). A partir dos anos 70, foram considerados os fatores econômicos, sociais e históricos característicos do Burnout. Com o crescimento das indústrias, em busca da realização profissional e gratificação por seu trabalho, o trabalhador americano se tornou alguém com maiores expectativas de realização, mas não sabia lidar com as frustrações. Muitos problemas surgiram com a burocratização do trabalho, levando a uma grande demanda de profissionais altamente especializados, com autonomia e 22 ideais de realização. Os jovens profissionais passaram a ter expectativas irreais sobre o trabalho, as quais se chocavam com a dura e verdadeira realidade rotineira nas empresas. Diante disso, a partir de 1970 a 1975, surgiram muitos estudos sobre Burnout, principalmente nas áreas da educação e da saúde que apresentavam contextos de trabalho com relacionamento direto entre provedor e destinatário, característica importante da Síndrome. Por ser tratado pelo meio profissional e não acadêmico, o conceito se tornou banalizado, ou seja, Burnout era indicativo de muitos problemas, inclusive pessoais, sendo descartada por se tratar de um modismo de época. Portanto, a doença seguiu um caminho contrário, ao invés de ter início a partir de teorias científicas, surgiu pelas situações complexas e reais das organizações (MASLACH, 2017, tradução nossa). A segunda fase do conceito – fase empírica – teve um maior reconhecimento científico a partir dos anos 80. Nesta, foram publicados livros e artigos escritos de maneira mais precisa e metodológica com modelos delineados a partir de evidência corroborativa. Com a ampla aceitação do Inventário Maslach de Burnout (MBI), e a Medida de Tédio de Pines e Aronson (TM) de 1988, medidas padronizadas surgiram para estudar o fenômeno. Após os anos 80, o fenômeno se expandiu, passando a ser estudado em outros países de língua inglesa como Canadá e Grã-Bretanha. Nesses países, os modelos de medição foram utilizados, ignorando-se toda a fase pioneira. Com o MBI, a Burnout passou a ser considerada uma Síndrome Multidimensional por apresentar as três dimensões: Exaustão Emocional, Despersonalização e redução da Realização Profissional (MASLACH, 2017, tradução nossa). Identifica-se a Exaustão Emocional (EE) quando há desistência afetiva diante do trabalho por conta do nível elevado de problemas, esgotamento físico e mental; há a Despersonalização (DE) ao desenvolver-se sentimentos e atitudes negativas aos clientes – “coisificação da relação”, ou seja, trabalhador se torna frio e impessoal em relação às pessoas a quem presta o serviço e; a baixa Realização Profissional (RP) que surge pela falta de envolvimento pessoal no trabalho, com insatisfação, dificuldades nas habilidades e realização do trabalho, pensa-se até no abandono da carreira (LEITER; MASLACH; FRAME, 2015, tradução nossa). Maslach e Jackson (2017, p. 14, tradução nossa) conceituam Burnout como “uma síndrome de exaustão emocional, despersonalização e redução da realização pessoal que pode ocorrer entre indivíduos que exercem algum tipo de trabalho com 23 pessoas”. Outras definições foram formuladas e mesmo com suas diferenças há um consenso em cinco características entre os autores, a primeira é sobre a predominância em sintomas disfóricos como esgotamento mental ou emocional, fadiga e depressão; em segundo, há uma maior ênfase em sintomas mentais e comportamentais do que nos físicos, apesar de queixas físicas atípicas; em terceiro, os sintomas se relacionam exclusivamente ao trabalho; em quarto os sintomas se manifestam em pessoas “normais” que não apresentavam psicopatologias anteriormente; por fim, a diminuição da eficácia e desempenho no trabalho ocorrem devido a atitudes e comportamentos negativos (MASLACH, 2017, tradução nossa). Critérios diagnósticos subjetivos e objetivos para a Síndrome de Burnout foram apontados por Bibeau et al. (1989, tradução nossa). Os subjetivos tratam da baixa autoestima com o sentimento de incompetência profissional, sem que apresentem identificação de doença orgânica, os pacientes demonstram sintomas físicos de angústia, tornam-se mais irritados, negativos e com baixa concentração. Dentre os critérios objetivos, há a diminuição no desempenho do trabalho geralmente observado por todos os envolvidos com o sujeito com Burnout, sejam clientes, supervisores ou colegas. Algo importante a mencionar é que o critério diagnóstico para o Burnout deve ser diferenciado, com uma ampla avaliação, mostrando que não se trata de incompetência profissional, já que apresentava bom desempenho no trabalho por período significativo e depois passou a declinar. Outro ponto são as psicopatologias que não ocorriam, mas depois de um tempo passaram a se apresentar e, por fim, não deve-se confundir os sintomas do Burnout com os ocasionados por problemas relacionados à família ou fora do contexto de trabalho, daí a necessidade de um levantamento aprofundado do médico para um diagnóstico efetivo (MASLACH, 2017, tradução nossa). As pesquisas sobre Burnout se estenderam a outros grupos como policiais, agentes penitenciários, guardas prisionais, bibliotecários, ao mundo dos negócios, nos esportes, em ativismo político e até nas famílias, porém, concentrou-se mais em questões do trabalho, levando em conta a satisfação, cargas de trabalho, estresse, absenteísmo, expectativas de emprego, relações entre pessoas, com os clientes, tipo de posição e tempo no cargo e políticas da empresa. Além destes, fatores pessoais como sexo, idade e estado civil também foram estudados, além de aspectos da personalidade como controle e vigor no trabalho, saúde pessoal, apoio social em casa, valores pessoais e comprometimento (MASLACH, 2017, tradução 24 nossa). O Burnout, portanto, esteve em pesquisas, em muitas disciplinas acadêmicas e profissionais desde a sua descoberta, inspirando o desenvolvimento de construções teóricas e métodos práticos para aliviar a síndrome (MASLACH, 2016, tradução nossa). As dimensões do Burnout não são alcançadas individualmente, daí sua teoria multidimensional, ou seja, elas se entrelaçam com uma afetando a outra, podendo agravar sintomas e situações cotidianas do trabalho (MASLACH, 2017, tradução nossa). Desta forma, a exaustão emocional que ocorre pela sobrecarga no trabalho, por exemplo em um professor, pode levá-lo a ter menor autoconfiança. Com uma percepção negativa para suas capacidades, há a diminuição na realização pessoal, reduzindo a qualidade do ensino e afastamento dos alunos, levando à despersonalização, com as três dimensões afetadas, chega-se então, ao grau final da síndrome (BIANCHI; SCHONFELD, 2016, tradução nossa). Assim, o Burnout trata de um fenômeno psicossocial que ocorre pelo estresse crônico no ambiente do trabalho (DALCIN; CARLOTTO, 2018) que foi reconhecida no Brasil pela Previdência Social a partir de 1999. O Ministério da Saúde, em sua Portaria n.º 1.339 de 18 de novembro de 1999, apresenta, de acordo com o Grupo V da CID-10, uma lista de Transtornos Mentais e do Comportamento relacionados com o trabalho (Lista B – anexo II), dentre eles está a “Sensação de Estar Acabado (Síndrome de Burn-out), Síndrome do Esgotamento Profissional (Z73.0)”. Ela ainda especifica, enquanto agentes etiológicos ou fatores de risco de natureza ocupacional, o “ritmo de trabalho penoso (Z56.3) e outras dificuldades físicas e mentais relacionadas com o trabalho (Z56.6)” (BRASIL, 1999). Apesar de estar presente na CID-10, a Burnout ainda não é declarada como um transtorno psiquiátrico e esse diagnóstico proporcionaria um reconhecimento oficial como problema pessoal legítimo, mas enquanto não é reconhecida, seu laudo diagnóstico deve tratar do estágio final de um longo processo de adoecimento (MASLACH, 2017). Nesse caso, em 28 de maio de 2019, a Organização Mundial da Saúde declarou que a Síndrome de Burnout será incluída como um fenômeno ocupacional na próxima revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-11) de forma mais detalhada que na versão anterior fazendo parte de “Fatores que influenciam o estado de saúde ou o contato com os serviços de saúde”. Esta nova revisão entrará em vigor em 2022 (WHO, 2019, tradução nossa). 25 Assim, no Brasil, o profissional que apresentar diagnóstico da Síndrome de Burnout possui assegurado por lei seu afastamento não como licença saúde, mas como acidente de trabalho, cabendo ao empregador adotar as medidas necessárias de segurança ao trabalhador, como mostra o artigo 19 da lei n.º 8.213/1991 e seu inciso 1.º a seguir: Art. 19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço de empresa ou de empregador doméstico ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho. § 1.º A empresa é responsável pela adoção e uso das medidas coletivas e individuais de proteção e segurança da saúde do trabalhador (BRASIL, 1991, p. 14809). Por acidente de trabalho e o dia do acidente para esse caso, a mesma lei, ainda, compreende que: Art. 20. seguintes entidades mórbidas: I - doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social; II - doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I. § 2.º Em caso excepcional, constatando-se que a doença não incluída na relação prevista nos incisos I e II deste artigo resultou das condições especiais em que o trabalho é executado e com ele se relaciona diretamente, a Previdência Social deve considerá-la acidente do trabalho. Art. 23. Considera-se como dia do acidente, ao caso de doença profissional ou do trabalho, a data do início da incapacidade laborativa para o exercício da atividade habitual, ou o dia da segregação compulsória, ou o dia em que for realizado o diagnóstico, valendo para este efeito o que ocorrer primeiro (BRASIL, 1991, p. 14809). Inicialmente, o trabalhador adoecido entra pela Previdência com Auxílio- Doença, B31 (auxílio doença comum, com período de carência), recebendo um CID Securitário com um dos sintomas da Síndrome como depressão ou ansiedade, por exemplo. Após diagnóstico completo de Burnout dado pelo médico, o trabalhador terá conversão de B31 a B91 como acidente do trabalho ou doença ocupacional. Quando é dada entrada ao código B91 da Previdência pelo médico assistente é realizada a CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho), tornando-se um caso notificado no Sistema do INSS – Instituto Nacional do Seguro Social (BRASIL, 2013). 26 A CAT deve ser efetivada pelo empregador como prevista pelo artigo 22 da lei n.º 8.213/1991, a seguir: Art. 22. A empresa ou o empregador doméstico deverão comunicar o acidente do trabalho à Previdência Social até o primeiro dia útil seguinte ao da ocorrência e, em caso de morte, de imediato, à autoridade competente, sob pena de multa variável entre o limite mínimo e o limite máximo do salário de contribuição, sucessivamente aumentada nas reincidências, aplicada e cobrada pela Previdência Social. (“Caput” do artigo com redação dada pela Lei Complementar n.º 150, de 1/6/2015) (BRASIL, 1991, p. 14809). No caso do pedido B91, não há período mínimo de carência. Após o retorno do afastamento é garantido ao securitário, estabilidade de um ano como previsto na Resolução n.º 1.236/2004 (BRASIL, 2013). No quadro a seguir estão as principais diferenças entre o auxílio-doença comum e o acidentário: Quadro 1 – Resumo das principais diferenças entre o auxílio-doença comum e o auxílio acidentário Tipo Categoria do trabalhador Quando pedir o benefício ao INSS Carência (tempo trabalhado exigido) Estabilidade no Emprego FGTS durante recebimento do Auxílio- doença Comum Segurado empregado (urbano/rural) Após 15 dias de afastamento (podendo ser 15 dias intercalados dentro do prazo de 60 dias) 12 meses – exceto para doenças específicas Não há Empresa não é obrigada a depositar Segurado Empregado Doméstico, Trabalhador Avulso, Contribuinte individual, Facultativo, Segurado Especial No momento em que se incapacitar Acidentário Somente o empregado vinculado à uma empresa Deverá estar afastado do trabalho há pelo menos 15 dias (podendo ser 15 dias intercalados dentro do prazo de 60 dias) Isento Por período de 12 meses após retorno ao trabalho Empresa é obrigada a depositar Fonte: https://www.inss.gov.br/beneficios/auxilio-doenca/auxilio-doenca-comum-ou-acidente-de- trabalho/ http://www2.camara.leg.br/legin/fed/leicom/2015/leicomplementar-150-1-junho-2015-780907-publicacaooriginal-147120-pl.html http://www2.camara.leg.br/legin/fed/leicom/2015/leicomplementar-150-1-junho-2015-780907-publicacaooriginal-147120-pl.html https://www.inss.gov.br/beneficios/auxilio-doenca/auxilio-doenca-comum-ou-acidente-de-trabalho/ https://www.inss.gov.br/beneficios/auxilio-doenca/auxilio-doenca-comum-ou-acidente-de-trabalho/ 27 O artigo 21-A da lei n.º 8.213/1991 prevê sobre a perícia médica: Art. 21-A. A perícia médica do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) considerará caracterizada a natureza acidentária da incapacidade quando constatar ocorrência de nexo técnico epidemiológico entre o trabalho e o agravo, decorrente da relação entre a atividade da empresa ou do empregado doméstico e a entidade mórbida motivadora da incapacidade elencada na Classificação Internacional de Doenças (CID), em conformidade com o que dispuser o regulamento. (“Caput” do artigo acrescido pela Lei n.º 11.430, de 26/12/2006 e com redação dada pela Lei Complementar n.º 150, de 1/6/2015). § 1.º A perícia médica do INSS deixará de aplicar o disposto neste artigo quando demonstrada a inexistência do nexo de que trata o caput deste artigo. (Parágrafo acrescido pela Lei n.º 11.430, de 26/12/2006). § 2.º A empresa ou o empregador doméstico poderão requerer a não aplicação do nexo técnico epidemiológico, de cuja decisão caberá recurso, com efeito suspensivo, da empresa, do empregador doméstico ou do segurado ao Conselho de Recursos da Previdência Social. (Parágrafo acrescido pela Lei n.º 11.430, de 26/12/2006 e com redação dada pela Lei Complementar n.º 150, de 1/6/2015) (BRASIL, 1991, p. 14809). Nesse sentido, em 2006 foi criado o Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário (NTEP) para a caracterização do acidente do trabalho, permitindo assim ao médico perito do INSS vincular o problema de saúde à atividade profissional do securitário. Essa lei, portanto, trouxe garantias em relação às doenças ocupacionais clássicas e às que apresentavam novos riscos, como por exemplo, as psicossociais, no caso, os transtornos mentais (BRASIL, 2013). A Síndrome de Burnout é causada por cargas excessivas de trabalho, principalmente em atividades laborais que apresentam problemas inerentes às relações, por isso afeta profissões que lidam diretamente com pessoas como é o caso da medicina, enfermagem e a do professor. Um estudo norueguês realizado com 4.965 participantes de oito grupos de profissionais diferentes dentre eles 580 advogados, 676 médicos, 681 enfermeiros, 676 professores, 679 ministros de igreja, 579 motoristas de ônibus, 505 publicitários e 589 técnicos da informação, identificou que os maiores níveis de Burnout está primeiramente na profissão docente seguidos por profissionais de publicidade, motoristas de ônibus, médicos e ministros de igreja, tanto para homens quanto para mulheres (INNSTRAND et al., 2011, tradução nossa). Na profissão docente encontram-se presentes inúmeros estressores ocupacionais que causam no educador um desequilíbrio entre as demandas do trabalho e sua percepção de capacidade em realizá-las ou não. Além destes, existem também os estressores psicossociais, seja por conta do contexto http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2006/lei-11430-26-dezembro-2006-548739-norma-pl.html http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2006/lei-11430-26-dezembro-2006-548739-norma-pl.html http://www2.camara.leg.br/legin/fed/leicom/2015/leicomplementar-150-1-junho-2015-780907-publicacaooriginal-147120-pl.html http://www2.camara.leg.br/legin/fed/leicom/2015/leicomplementar-150-1-junho-2015-780907-publicacaooriginal-147120-pl.html http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2006/lei-11430-26-dezembro-2006-548739-publicacaooriginal-63945-pl.html http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2006/lei-11430-26-dezembro-2006-548739-publicacaooriginal-63945-pl.html http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2006/lei-11430-26-dezembro-2006-548739-norma-pl.html http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2006/lei-11430-26-dezembro-2006-548739-norma-pl.html http://www2.camara.leg.br/legin/fed/leicom/2015/leicomplementar-150-1-junho-2015-780907-publicacaooriginal-147120-pl.html http://www2.camara.leg.br/legin/fed/leicom/2015/leicomplementar-150-1-junho-2015-780907-publicacaooriginal-147120-pl.html 28 institucional e social que a escola apresenta, como também, pelas inúmeras funções do professor (CARLOTTO; CÂMARA, 2017). De acordo com Saviani (2003, p. 13), “o trabalho educativo é o ato de produzir, direta e intencionalmente em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens”. Percebe-se, portanto, a grande responsabilidade assumida pelo professor de transmitir o conhecimento produzido pela humanidade, sendo determinante para o desenvolvimento social. Mas a sociedade atual estabelece uma contradição ao trabalho docente, pois deixa de lado o ensino cultural e científico para dar primazia à adaptação às novas tecnologias, com foco na eficiência, produtividade e racionalidade. Com essa dualidade, surgem cada vez mais dificuldades para o trabalho do professor, que além da atividade de ensinar os conteúdos escolares, possui outros encargos como “estimular o potencial de aprendizagem dos alunos, ensiná-los a conviver em sociedade, cobrir as lacunas da instituição escolar, garantir a articulação entre escola e comunidade, e buscar, por conta própria, sua requalificação profissional” (TOSTES et al., 2018, p. 89). Diante de tantas dificuldades, a saúde do professor pode acabar se comprometendo, tornando-se uma das categorias mais sujeitas ao sofrimento mental. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) coloca como a segunda categoria mais comprometida em doenças ocupacionais (CARLOTTO, 2010; TOSTES et al., 2018). Esta realidade se justifica, também, pela necessidade de se criar um professor flexível, esvaziando o trabalho docente de significados (TOSTES et al., 2018). Porém, um estudo realizado sobre as condições de trabalho de 52.000 educadores de escolas públicas apontou para um nível de estresse crônico, com sentimento extremo de esgotamento emocional por conta do desgaste diário no relacionamento com seus alunos. Esse mesmo estudo aponta que 48% da amostra apresentava indicação de Burnout em ao menos uma das três dimensões da Síndrome (VASQUES-MENEZES; RAMOS, 1999). Neste sentido, independentemente do contexto em que os professores atuam, as taxas para as dimensões da síndrome geralmente são altas, caracterizando esta categoria profissional como vulnerável à Burnout (SILVA; BOLSONI-SILVA; LOUREIRO, 2018). No trabalho, as necessidades da pessoa devem ser levadas em conta, visto que os indicadores positivos a elas se relacionam ao bem-estar físico, mental e à 29 saúde somática. Caso não sejam alcançadas, com o passar do tempo, podem levar à Síndrome de Burnout e outros transtornos como a ansiedade e a depressão. Assim, a adaptação da pessoa em seu ambiente de trabalho pauta-se em dois fatores, o primeiro trata do ajuste da demanda do ambiente de trabalho e a capacidade/habilidades que a pessoa tem para suas responsabilidades e o outro leva às necessidades do próprio colaborador e o que o ambiente de trabalho tem a lhe oferecer. Nesse sentido, será que um professor possui habilidades e capacidade para lidar com as demandas de seu ambiente de trabalho, a escola? Suas necessidades e vontades condizem com o que a escola tem a lhe oferecer? Caso essas questões sejam alcançadas positivamente, provavelmente esse professor está realizado em seu ambiente de trabalho e, consequentemente, os ajustes destas necessidades se relacionam a indicadores positivos de bem-estar físico e mental (BRANDSTÄTTER; JOB; SCHULZE, 2016, tradução nossa). Além de alcançar a saúde dos próprios professores, o Burnout afeta seu trabalho em sala de aula, uma vez que o estresse no professor reduz o nível no atendimento aos discentes (GIACOBBI JR, 2009, tradução nossa) provocando insatisfação, baixo comprometimento e desempenho dos alunos, pois o docente passa a utilizar táticas grosseiras como pressão e autoritarismo durante as aulas (CARRARO et al., 2010, tradução nossa). As mulheres são as mais afetadas pela síndrome de Burnout. Alguns estudos justificam isso, pois, além do estresse laboral, possuem características sociais que as fazem atuar também em casa com a família, sobrecarregando-as com maiores responsabilidades que os homens (MORAES; CALAIS; VERARDI, 2019, tradução nossa; NAUGLE, 2013, tradução nossa; SOUZA et al., 2014; STIER-JARMER et al., 2017, tradução nossa). Ainda sobre os entraves para o trabalho dos professores, um estudo com 2569 professores noruegueses do Ensino Fundamental e Médio apontou que a pressão do uso do tempo, como realizar trabalhos da escola em casa, falta de tempo para descanso e recuperação, muitas reuniões e grande burocratização da documentação e da parte administrativa, bem como problemas com a disciplina e comportamento disruptivo dos alunos foram fatores preditivos de exaustão emocional e, consequentemente, do desejo de deixar a profissão docente (SKAALVIK; SKAALVIK, 2011, tradução nossa). As estimativas de Burnout em relação à docência em Educação Física não são favoráveis. Por se tratar de uma profissão estressante caracterizada por altos 30 níveis de Burnout, pode acarretar problemas mentais e físicos. A Educação Física apresenta, ainda, mais um agravante, no caso, o baixo status social da própria profissão, pois esta não possui importância tanto entre o corpo docente, gestão e funcionários da escola, como entre alunos, comunidade escolar (BARTHOLOMEW et al., 2014, tradução nossa; CEZAR-VAZ et al., 2015, tradução nossa; RUFINO, 2017; VAN DEN BERGHE et al., 2013, tradução nossa) e no ambiente de sala de aula, tornando-a frustrante. Neste caso, a pressão no trabalho e as variáveis de frustração, principalmente na necessidade de autonomia são fortes indicadores ao esgotamento e Burnout (BARTHOLOMEW et al., 2014, tradução nossa). A motivação é também uma forte agravante à Síndrome de Burnout, ou seja, professores pouco motivados mostram-se mais esgotados emocionalmente que os motivados, como mostrou estudo com 93 professores de educação física (VAN DEN BERGHE et al., 2013, tradução nossa). A revisão sistemática de Nascimento et al. (2019) buscou analisar textos sobre a satisfação no trabalho de professores de educação física que atuam na educação básica. Uma conclusão importante colocada é que os docentes se encontram satisfeitos com a avaliação global do trabalho, tanto em relevância social, leis e normas, progressão na carreira e autonomia, porém descontentes sobre a remuneração e condições de trabalho. A análise quantitativa sobre a atuação do professor de Educação Física, colocada por Rufino (2017), traz como principais barreiras para o trabalho a análise do plano de carreira, com cargas elevadas de trabalho e baixa remuneração; a falta de infraestrutura (materiais e locais adequados à prática profissional); as barreiras do currículo imposto quando os professores pouco participam da organização deste currículo, tendo que ao mesmo tempo ser protagonistas dele e a falta de reconhecimento social. Assim, estes são parte dos problemas apontados por professores na educação brasileira, sendo fatores que elevam os níveis da Síndrome de Burnout entre os docentes (TOSTES et al., 2018). Ainda sobre a satisfação no trabalho de professores de Educação Física, Castillo et al. (2017, tradução nossa) ao identificarem questões sobre a paixão pelo ensino, perceberam que quando utilizada a paixão obsessiva, a qual resulta de uma internalização controlada da atividade na identidade da pessoa, os indivíduos não estavam completamente no controle da atividade, elevando aos indicadores de Burnout, ou seja, quando os professores sentiam paixão harmoniosa (HP) para o 31 trabalho, relatavam menos cansaço emocional, já com a paixão obsessiva (OP), eles relatavam estarem emocionalmente exaustos, portanto, ao sentirem-se no controle de suas funções, apresentavam níveis mais baixos para o Burnout. Uma pesquisa com 357 professores de Educação Física sobre a frustração em relação às necessidades psicológicas básicas (NPB), no caso, a necessidade de autonomia, de competência e de relações sociais e como estas podem influenciar para a aquisição da Síndrome de Burnout encontrou-se que a frustração sobre a necessidade de competência garante a desmotivação, a exaustão emocional e a despersonalização, não apresentando, portanto, motivação intrínseca e a eficácia profissional. A frustração de autonomia, por sua vez, prevê positivamente a exaustão emocional e negativamente a eficácia profissional (SÁNCHEZ-OLIVA et al., 2014, tradução nossa). Ao verificar a presença da Síndrome de Burnout entre 94 professores de Educação Física de escolas municipais de Pelotas identificou-se que 60,6% estavam com alta exaustão emocional; 22,3% com alta despersonalização; 34% com baixa realização profissional. Dentre eles, 8,5% sinalizaram a Síndrome. Indicando a necessidade de atenção dos gestores para a prática de políticas públicas na prevenção de doenças em professores (SINOTT et al., 2014). Outro estudo que buscou investigar a Síndrome em professores de Educação Física de várias áreas de atuação inclusive a da escola, indicou a presença de Burnout em 10,2% da amostra selecionada de 588 professores, ou seja, apresentam a Síndrome um em cada dez professores participantes (GUEDES; GASPAR, 2016). Em Sergipe, foram avaliados 164 professores de Educação Física de escolas públicas sobre o nível da Síndrome de Burnout, encontrou-se um nível moderado de Burnout na amostra, com maiores índices de Exaustão Emocional e Despersonalização. Profissionais acima de trinta anos de carreira possuíram maiores níveis de Despersonalização (SILVA et al., 2017, tradução nossa). Ao buscar maior retorno financeiro, os professores acabam não tendo tempo para eles mesmos, pois trabalham uma grande quantidade de horas, deixando de lado o lazer, o tempo com a família e as atividades físicas (SILVA; LEONIDIO; FREITAS, 2015) e percebe-se, com isso, um esquecimento de sua própria qualidade de vida, principalmente com atividades físicas. 32 2.1.2 Estados de Humor O grau elevado de estresse descrito no Burnout se manifesta pela fadiga, estresse, tensão e ansiedade, ou seja, são estados de humor capazes de alterar até mesmo o julgamento sobre a autoeficácia, ou seja, a capacidade de realizar determinada tarefa (IAOCHITE, 2014). O estresse excessivo pode levar, também, às alterações de humor (FORATTINI, 2015). Dalgalarrondo define o humor ou estado de ânimo como “o tônus afetivo do indivíduo” (2019, p. 155). Ele coloca essa expressão para caracterizar o humor como um estado emocional do momento em que a pessoa se encontra, aumentando ou reduzindo o impacto das percepções que se tem em determinada vivência. O humor pode ser caracterizado mais a fundo a partir de três itens: Estabilidade, por sua consistência durante um dia; pela Reatividade, quando há a mudança em resposta a eventos ou acontecimentos externos e pela Duração, com a persistência do humor por dias, semanas, ou até por anos, como nos casos da depressão, por exemplo, (BALDAÇARA et al., 2018) mostrando a importância da avaliação dos estados de humor, tendo em vista a evolução para transtornos de humor. Os estados de humor são relativamente duradouros, podem durar horas ou dias, estados mentais que não são desencadeados por um estímulo específico não têm correlatos neurofisiológicos observáveis ou mensuráveis e não são controláveis. Já as emoções, são desencadeadas por um estímulo específico e relativamente curtas (duram segundos ou minutos), estão associadas a mudanças neurofisiológicas mensuráveis e podem ser controladas (THOM et al., 2019, tradução nossa). Os estudos e as escalas de avaliações sobre os Estados de Humor têm início com McNair, Lorr e Droppleman que desenvolveram a escala Multidimensional de autorrelato, POMS (Profile Of Moods State – Perfil dos Estados de Humor) ao analisar a resposta ao tratamento farmacológico e psicoterapêutico em pacientes psiquiátricos, identificando comportamentos e emoções que se modificavam antes e depois das sessões e medicações (SEARIGHT; MONTONE, 2017, tradução nossa). Essa escala passou a ser bastante utilizada no contexto esportivo, com uma versão unipolar, em estudos que relacionavam humor-desempenho. Durante os anos de 1970 e 1980, Morgan et al. (1987, tradução nossa) realizaram estudos para avaliar o perfil de humor e, consequentemente, o desempenho de atletas de remo, atletismo, 33 natação e lutas. Morgan declarou que se tratava do “teste dos campeões”, pois acreditava que o desempenho de sucesso do atleta deveria ser classificado em relação ao Perfil de Iceberg para as seis dimensões, tensão, depressão, irritação, vigor, fadiga e confusão, como mostra o Quadro 1 com essas variáveis e suas contextualizações. Quadro 2 – Variáveis dos Estados de Humor Variáveis do Humor Definições Emoções Tensão Estado de tensão musculoesquelético e preocupação. em pânico, ansioso, preocupado, nervoso Depressão Estado emocional de desânimo, infelicidade. deprimido, desanimado, infeliz Raiva Estado de hostilidade, relativamente aos outros. irritado, amargo, zangado, mal- humorado; Vigor Estado de energia, vigor físico. vivo, enérgico, ativo, em alerta Fadiga Estado de cansaço, baixa energia. desgastado, exausto, sonolento, cansado; Confusão Estado de atordoamento, instabilidade nas emoções. confuso, incerto Fonte: Adaptado de Rohlfs, et al. (2008), Brandt, et al. (2010, tradução nossa), Brandt, et al. (2016, tradução nossa). Tratava-se, portanto, do “teste dos campeões” porque perceberam que atletas de elite alcançavam resultados inferiores à média da população normal nos fatores negativos (tensão, depressão, irritação, fadiga e confusão) e, por outro lado, resultados maiores no vigor psíquico (MORGAN, 1987, tradução nossa). Compreende-se o Perfil de Iceberg, pelas dimensões negativas posicionadas abaixo da “superfície” (linha da água) onde está a média da população normal. Seu único fator positivo (vigor) encontra-se acima da média normal como mostra a Figura 2. De acordo com Morgan (1987, tradução nossa), os atletas que alcançassem este perfil se enquadravam nos padrões de saúde mental positiva, já aqueles que não se enquadravam, apresentavam um Perfil de Iceberg invertido, ou seja, indicavam saúde mental negativa. 34 Figura 1 – Perfil de Iceberg e Perfil de Iceberg invertido com alterações nos estados de humor proposto por Morgan (1987). Fonte: Adaptada de Morgan (1987, tradução nossa). Em contrapartida, a ideia de que seria o “teste dos campeões” não se sustentou, pois acredita-se que o Perfil de Iceberg pode variar tanto entre os tipos de modalidades, como entre grupos homogêneos de atletas, ou seja, níveis altos de raiva se associam a bons desempenhos em competidores de caratê e corridas, por exemplo (TERRY, 1995, tradução nossa). Logo, o humor deve ser considerado como um constructo que flutua por conta de fatores situacionais e pessoais (personalidade, volume de treinamento, etc.) no momento em que é realizada a avaliação (LANE; TERRY, 2000, tradução nossa; PARKINSON, et al., 1996, tradução nossa). Deste modo, acredita-se que o POMS, a partir dessas considerações, possui validade efetiva em atletas como também para outras populações, em outros contextos. No contexto clínico, por exemplo, a partir da introdução de exercícios de meditação (mindfulness) dentro de 6 meses para pacientes com câncer percebeu-se pela escala, uma grande mudança para estados positivos de humor nesses pacientes (MATCHIM; ARMER, 2007, tradução nossa). Patterson et al. (2006, tradução nossa), colocam também a importância de se associar o POMS (escala de depressão) como medida de rastreamento, ou instrumento de triagem para pacientes com HIV que apresentavam depressão, pois esta escala obteve a mesma consistência que o Inventário Clínico de Depressão Beck ao serem comparados no 35 estudo. Ainda, os estados de humor parecem influenciar significativamente os níveis da Síndrome de Burnout, como indicam Koch et al. (2009, tradução nossa). Não se trata, portanto, de um diagnóstico, mas parte integrante dos muitos instrumentos a serem considerados diante de uma avaliação individual mais completa. A partir de estudos com populações compostas por adultos e adolescentes, surgiu a Escala de Humor de Brunel, em 2003. Terry, Lane e Fogarty adaptaram a versão unipolar mais curta de POMS, capaz de avaliar os atletas rapidamente antes e após os treinos ou competições (LANE, 2007, tradução nossa). No Brasil, foi posteriormente adaptada e validada por Rohlfs (2008) admitindo seus 24 itens que avaliam as mesmas seis dimensões. De acordo com Brandt et al. (2016, tradução nossa), há relação positiva entre estados de humor e saúde mental, quando investigada a consistência da escala de BRUMS entre uma população aparentemente ativa e saudável, identificou-se uma consistência interna adequada a todas as dimensões, apontando também, suporte de validade à diferentes populações. No contexto esportivo, atletas com excesso de treino mostram-se em fadiga constante, com humor alterado, contusões, infecções, queda de resistência imunológica e redução do desempenho atlético (ROHLFS, 2008). Observou-se entre 37 corredores de rua amadores, a influência positiva no estado de humor ao analisar antes e pós corrida, principalmente para tensão, vigor, fadiga e confusão, essa avaliação com a escala, demonstrou o quão importante é a avaliação dos fatores psicológicos antes de competir, a fim de encontrar soluções de enfrentamento para reduzir o estresse, pois a competição traz cargas psíquicas e comportamentais que podem comprometer o desempenho do participante (MELO et al., 2018). Entre um grupo africano de atletas de resistência, identificados com overtraining (OTS) e outros sem (NOTS), observou-se diferenças significativas em cinco dimensões dos estados de humor, com exceção da tensão, que foi igual aos dois grupos. Demonstrando que o estresse excessivo também no esporte, pode gerar problemas significativos na saúde dos atletas (GRANT et al., 2012, tradução nossa). Fora do contexto esportivo, o estudo de Patterson et al. (2006, tradução nossa), que avalia a depressão em pacientes com HIV, foi capaz de identificar o Transtorno Depressivo Maior nesses pacientes, obtendo nessa escala, uma maneira eficaz para uma primeira triagem. Em estudo com professores de educação física de academias identificou-se que 32% dos profissionais apresentaram Perfil de Iceberg 36 invertido, demonstrando estressores psicossociais relacionados ao trabalho/vida moderna (VIANA et al., 2018, tradução nossa). Em estudo com 3 grupos (n = 2,364, n = 2,303, n = 1,865) de pessoas de idades, etnias e níveis de estudo variados, identificou que 11% da população geral apresentou perfil inverso de iceberg, esse resultado é suficiente para justificar investigações de em outros ambientes além do esporte (PARSONS-SMITH; TERRY; MACHIN, 2017, tradução nossa). Pelas características inerentes à profissão, o professor torna-se vulnerável a elevados níveis de estresse, alterações no estado de humor e consequentemente a Síndrome de Burnout (DANTAS et al., 2010). Alterações no estado de humor, principalmente apresentando altos níveis de tensão, raiva e depressão, poderão aumentar a probabilidade de distúrbios mentais e físicos, tendo como consequência a diminuição da capacidade de trabalho. O humor negativo hostil é um fator de predisposição para muitas doenças crônico- degenerativas (MORGAN, 1987, tradução nossa; YOUNG, 2007, tradução nossa). Quanto mais negativo for o humor, principalmente apresentando altos níveis de tensão e raiva, maior poderá ser a severidade da diminuição da capacidade física e mental disponível. Quando o vigor físico é mais elevado em comparação às outras variáveis que compõem o humor (tensão, depressão, raiva, fadiga e confusão) esse estado é denominado Perfil de Iceberg, cujo perfil é próximo daquele considerado ideal. Um perfil oposto ao de Iceberg, ou seja, baixo nível de vigor e elevados estados de humor negativos como fadiga, raiva, depressão, tensão e confusão, é considerado um estado de humor deprimido (BRANDT, et al., 2010, tradução nossa). Estudos têm indicado mudanças psicológicas induzidas pelo exercício físico (BALCHIN, 2016, tradução nossa; DINAS; KOUTEDAKIS; FOURIS, 2011, tradução nossa; YANG; KO; ROH, 2018, tradução nossa), mais especificamente na relação ao humor positivo e bem-estar. Parece existir uma interação simultânea de mecanismos psicológicos e fisiológicos que contribui para as mudanças de aspectos relacionados à saúde mental como o humor e bem-estar (MIRANDA, et al., 2011). Lane e Lovejoy (2001, tradução nossa) sugerem o exercício físico como uma estratégia eficaz para melhora do humor entre participantes que relatam sintomas de humor deprimido. Existe evidência que o exercício físico tem efeitos benéficos sobre 37 sintomas de depressão que são comparáveis aos dos tratamentos antidepressivos (DINAS; KOUTEDAKIS; FOURIS, 2011, tradução nossa). Logo, ao relacionar Estados de Humor com o trabalho docente e à própria Síndrome de Burnout, percebe-se maior indicação para o humor positivo, pois o professor necessita de habilidades como ser caloroso e acolhedor, com senso de responsabilidade e com notável bom humor, recurso este, considerado como importante para o processo ensino-aprendizagem (LEAL-SOTO et al., 2014, tradução nossa). Assim, o humor positivo relaciona-se à realização pessoal e, por outro lado, o humor negativo conecta-se a queixas orgânicas como o próprio Burnout e pode ser preditor de despersonalização (KOCH et al., 2009, tradução nossa). O impacto do humor pode ser mediado por lembranças de experiências armazenadas na memória do sujeito, portanto, o estado de humor positivo é de suma importância à autoeficácia do professor, do contrário, pode ter uma forma de ativação capaz de levar o professor a não conseguir desempenhar seu papel, gerando sintomas contrários aos que se espera como sudorese excessiva, mãos trêmulas e rosto vermelho, por exemplo (IAOCHITE, 2014). Assim, percebe-se que os níveis de estresse no trabalho afetam significativamente os professores e geram dificuldades nos âmbitos mental e emocional, levando à perda da qualidade de vida. Nesse sentido, são necessárias estratégias que previnam e reduzam os níveis de estresse e, consequentemente, a aquisição da Síndrome de Burnout e problemas nos Estados de Humor dos sujeitos. Assim, a seguir, identifica-se o potencial de altos níveis de aptidão física para a prevenção dos transtornos mentais descritos. 2.2 Aptidão Física, Síndrome de Burnout e Estados de Humor A busca por uma vida mais saudável é pauta de muitas discussões ao redor do mundo. Em uma sociedade do consumo, onde o trabalho possui extremo valor, é dada prioridade a hábitos de entretenimento geralmente mais sedentários, como é o caso da televisão, vídeo games, computadores, celulares, internet e, portanto, as pessoas acabam deixando de lado muitas vezes hábitos saudáveis como se 38 exercitar, perdendo foco na aptidão física, algo potencialmente importante para melhorias no dia a dia de cada um. Para compreender o conceito de Aptidão Física, é importante entender os conceitos de atividade física e exercício físico, no intuito de mostrar às pessoas que ambos têm valor para a busca de aptidão física e, consequentemente, da saúde e qualidade de vida, expressas anteriormente. Faz-se, portanto, a adoção da expressão atividade/exercício físico como também propostos por Pelletier et al. (2017, tradução nossa). A Atividade Física é “todo e qualquer movimento corporal produzido pela contração dos músculos esqueléticos que resulta em aumento substancial nas necessidades calóricas sobre o gasto energético de repouso”. Portanto, com as muitas possibilidades que o mundo moderno nos dá em relação ao movimento, todos podem realizar atividades físicas com liberdade e autonomia. Já o Exercício Físico é um “tipo de Atividade Física que consiste em movimentos corporais planejados, estruturados e repetitivos, realizados para melhorar e/ou manter um ou mais componentes da Aptidão Física” (ACSM, 2018, p. 2, tradução nossa). Nesse caso, quando possível, a orientação profissional pode ser uma boa opção para sistematizar a atividade física na busca de potencializar os objetivos do treinamento e, consequentemente, conquistar mudanças significativas no que tange a esses objetivos como melhoria na aptidão cardiorrespiratória, aquisição de massa muscular, maior flexibilidade e equilíbrio, emagrecimento, dentre outros. Assim, ambas as formas levam ao sujeito à manutenção da saúde e à qualidade de vida. Para tanto, utiliza-se nesse trabalho, o conceito de Aptidão Física estipulado também pela American College of Sports Medicine (2018, p. 2), que é definida, como a “capacidade de realizar tarefas diárias como vigor e vigilância, sem fadiga excessiva, e com ampla energia para desfrutar de atividades de lazer e enfrentar emergências imprevistas”, sendo a Aptidão Física considerada em dois âmbitos, com componentes relacionados à saúde como resistência cardiorrespiratória, composição corporal, flexibilidade, força e resistência muscular ou relacionados à habilidade, tais quais, a agilidade, a coordenação motora, o equilíbrio, o poder (capacidade de realizar um trabalho), o tempo de reação e a velocidade (ACSM, 2018, p. 2, tradução nossa). Assim, sobre a manutenção da Aptidão Física, a American College of Sports Medicine coloca ainda que adultos mais ativos possuem menor taxa de mortalidade 39 por doenças crônicas como as cardíacas, diabetes e a depressão. Nesse sentido, para manter a saúde e diminuir a probabilidade de doenças crônicas, recomenda-se a todos os adultos, entre 18 e 65 anos, no mínimo 30 minutos de atividade física moderada em cinco dias ou mais por semana, ou no mínimo 20 minutos de atividade aeróbica vigorosa em 03 dias ou mais por semana. Pode haver combinações entre atividades moderadas e vigorosas, atendendo esta recomendação. Além disso, é prevista a necessidade de atividades que mantenham ou aumentem a força e resistência muscular ao menos 2 dias na semana (ACSM, 2018, tradução nossa). A Organização Mundial da Saúde, por sua vez, indica que para uma melhor manutenção da saúde, adultos com idades de 18 a 64 anos pratiquem atividade física aeróbica de intensidade moderada por pelo menos 150 minutos por semana, ou 75 minutos de atividade aeróbica vigorosa por semana, ou ainda, uma combinação das duas propostas (WHO, 2010, tradução nossa). Assim, relacionada aos males de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) está a inatividade física. Pessoas pouco ativas têm de 20% a 30% mais chances de apresentar causas de DCNT. Cerca de 3,2 milhões de pessoas morrem a cada ano pela insuficiência de atividade física. A Atividade Física regular reduz a incidência de doenças, dentre elas também, os transtornos mentais (MALTA; MORAIS NETO; SILVA 2011). Ao realizar a prática de atividade física recomendada, obtêm-se benefícios como melhorias na função cardiovascular e respiratória, redução dos fatores de risco de doenças cardiovasculares, função física aprimorada e vida independente em indivíduos mais velhos, sentimentos melhorados de bem-estar, melhor desempenho no trabalho, em atividades recreativas e esportivas, redução do risco de quedas e lesões por quedas em indivíduos mais velhos, prevenção ou mitigação de limitações funcionais em idosos, terapia eficaz para muitas doenças crônicas, melhorias nas funções cognitivas e também redução da ocorrência de transtornos mentais como ansiedade e depressão (ACSM, 2018, tradução nossa). O efeito da Atividade Física, enquanto benefício para o enfrentamento da Síndrome de Burnout e saúde mental nas mais variadas áreas de atuação ocupacional, é indicado em muitos estudos (HATCH et al., 2018, tradução nossa; LINDWALL et al., 2014, tradução nossa; MORAES; CALAIS; VERARDI, 2019, tradução nossa; STIER-JARMER et al., 2016, tradução nossa). Acredita-se, portanto, que a Síndrome de Burnout é um mal que pode ser combatido também por meio de atividades físicas que levem à aptidão física. Em estudo sobre Demandas 40 de Autocontrole (Self-Control Demands – SCDs), concluiu-se que a aptidão física é de extrema importância enquanto recurso pessoal para diminuir a influência adversa de SCDs em vários indicadores de tensão psicológica como os sintomas de Burnout e necessidades de recuperação (SCHMIDT et al., 2016). O Burnout pode ser forte antecedente de transtornos depressivos, neste sentido, foi realizado um estudo piloto com uma amostra homogênea de 12 homens que apresentavam altos níveis de Burnout no Maslach Burnout Inventary e não tinham se exercitado regularmente por pelo menos doze meses antes da intervenção do exercício. Eram não fumantes, com baixos níveis de comorbidades físicas e mentais, não estavam recebendo farmacoterapia ou psicoterapia no momento do estudo. O treinamento físico ocorreu em um ambiente natural (centro de fitness privado com opção de ergômetro) sob circunstâncias controladas (supervisionado por instrutores de exercícios experientes), desta forma, todos os participantes cumpriram os requisitos de exercício (17,5 kcal/kg de peso corporal por semana, entre 60-75% da frequência cardíaca máxima em 12 semanas). Como resposta ao treinamento, percebeu-se uma redução significativa no estresse dos sujeitos, isso porque o exercício possui uma eficácia comparável a antidepressivos e terapia. Além disso, o treinamento pode ter melhorado o sono e a recuperação, resultando na diminuição do esgotamento emocional, ao mesmo tempo, o contato próximo com os instrutores de exercícios e a promoção de recursos pessoais e sociais podem ter contribuído para a redução da despersonalização devido ao aumento do apoio social (GERBER et al., 2013b, tradução nossa). Entre as capacidades alcançadas pela aptidão física está a aptidão cardiovascular, a qual está associada à diminuição dos sintomas do Burnout e a uma melhor capacidade de lidar com o estresse, isso acontece, pois a aptidão cardiorrespiratória pode ser mediada por fatores biológicos como a função imunológica e a fisiologia do sono e por fatores comportamentais e influências psicossociais. Neste sentido, sujeitos com melhores condições cardiorrespiratórias tendem a praticar mais atividade física no lazer, aumentando o apoio social, apresentam melhor qualidade no sono e mentalidade cognitiva mais favoráveis como o otimismo e a autoeficácia (GERBER et al., 2013a, tradução nossa). A revisão sistemática de Naczenski et al. (2017, tradução nossa) aponta poucos estudos de alta qualidade entre atividade física e Burnout. Dentre esses estudos, identificou-se que se engajar em atividade física por uma ou duas vezes 41 por semana durante quatro a dezoito semanas tem efeitos promissores na redução de sintomas do Burnout. Embora entenda-se que essa redução é possível, não se sabe qual atividade e quanto de intensidade é mais eficaz para tanto. Infelizmente a dificuldade em se engajar em atividades físicas encontra-se em empregados mais exaustos. A maioria dos estudos que fazem a relação de atividade física e Burnout, descrevem o exercício aeróbico como eficaz, porém, exercícios de força e flexibilidade como ioga, treinamento de resistência e pilates também são capazes de reduzir os sintomas do Burnout, assim como os da depressão (NACZENSKI et al., 2017, tradução nossa). O comportamento de professores em relação à saúde é bastante preocupante, mais de 1/3 dos professores pesquisados por Wirth et al. (2016, tradução nossa) relataram distúrbios musculoesqueléticos ou transtorno mental. Para o índice de padrões alimentares, 46% dos professores/assistentes de Jardim de Infância tinham padrões desfavoráveis. Em comparação a enfermeiros, os professores possuem 2,9 vezes mais chances de sofrerem de transtornos mentais (WIRTH et al., 2016, tradução nossa). Diante dessa preocupante realidade, a revisão sistemática de Ferreira et al. (2016) sobre a Síndrome de Burnout e atividade física em professores, constatou que os níveis de atividade física desses docentes foram considerados muito baixos. Em relação à atividade física e Burnout, percebeu-se que os índices da síndrome eram menores quando a intensidade, frequência e duração dos exercícios eram maiores, o mesmo ocorreu para o absenteísmo e a exaustão emocional, assim, professores fisicamente ativos são menos propensos ao Burnout. Portanto, para contribuir com a prevenção de problemas de saúde (físicos e mentais) dos professores, a atividade física pode servir como estratégia eficaz, de baixo custo, acessível, com bons resultados e de manutenção prolongada para as instituições de ensino. Em pesquisa com 92 professores universitários da área da saúde, observou- se um alto nível de estresse entre eles (52% da amostra), principalmente em mulheres. Entre os professores universitários percebeu-se que a maior parte realizava atividade física frequente, estando o estresse relacionado àqueles que não realizavam (SOUZA et al., 2014). Outro estudo com 978 professores de ensino fundamental e médio, constatou que 71,9% dos professores apresentaram atividade física insuficiente, sendo que as mulheres tiveram maiores índices da falta de 42 atividade física que homens, esta realidade se repetiu também naqueles com dores crônicas, com pior estado de saúde e IMC alto. Acredita-se que essa realidade ocorre, pois, o trabalho docente dificulta a prática de atividade física no tempo livre. Se comparados com professores de outras áreas, os professores de Educação Física apresentaram maior nível de atividade fora do tempo de trabalho, porém, dentre os 85 pesquisados, mais da metade indicaram índices abaixo dos 150 minutos/ semana (DIAS et al., 2017). Uma pesquisa com 1681 professores da rede pública estadual do Estado de São Paulo concluiu que 46,3% dos professores apresentaram níveis baixos de atividade física, podendo variar segundo idade, sexo e região. Apenas 11% tiveram níveis altos de atividade física, enquanto 42,7% estavam em nível moderado (BRITO et al., 2012). Em estudo que relaciona o nível de aptidão física (VO2) com o estresse no trabalho (Burnout) em professores e médicos, Moraes, Calais, Verardi (2019, tradução nossa) separaram os participantes em dois grupos, um de risco e outro de baixo risco. Na amostra, 18% possuíam elevados níveis de Despersonalização (DE) e Exaustão Emocional (EE), baixos níveis de Realização Profissional (RP) e inatividade física. Aos que não apresentaram altos índices de Burnout, percebeu-se melhor aptidão física. Para tanto, os autores concluíram que a prática de exercícios físicos quando de acordo com as recomendações à saúde servem como estratégia eficiente para a diminuição de sintomas e para reverter o quadro da doença em categorias com grandes cargas de trabalho. Encontrou-se um estudo que relacione a aptidão física do professor de Educação Física com a Síndrome de Burnout, seus resultados ressaltam a importância da aptidão física dos professores e os efeitos positivos que pode exercer na prevenção do esgotamento dos mesmos, além disso, a autopercepção de boa condição física pode ser desejável para que o docente lide com ou evite sintomas de Burnout, particularmente se a realização pessoal for reduzida (CARRARO et al., 2010, tradução nossa). Assim, conclui-se que a realização de atividades físicas frequentes parece estar positivamente ligada à melhora sobre os sintomas de Burnout e estado de humor. Deste modo, as organizações que desejam reduzi-lo de forma proativa podem fazê-lo incentivando seus funcionários a ter acesso a programas de exercícios regulares (BRETLAND; THORSTEINSSON, 2015, tradução nossa). 43 O estudo de Gerber et al. (2013b, tradução nossa) fornece suporte empírico apontando que o exercício de intensidade moderada geralmente melhora os estados de humor dos participantes com altos escores de Burnout com uma mudança acentuada em direção a um Perfil de Iceberg. Desta forma, com o controle da Síndrome de Burnout, há também a diminuição de estados de humor negativos (GERBER et al., 2013b, tradução nossa). Tendo em vista que a atividade física é fator decisivo para melhoras dos sintomas de ansiedade e depressão, considera-se também as melhorias nos estados de humor (ACSM, 2018, tradução nossa). Em estudo sobre os benefícios dos exercícios físicos em relação aos transtornos de humor, concluiu-se que durante um período de 12 semanas de exercícios aeróbicos houve ganhos à autoestima e aos níveis de energia, diminuindo o pessimismo. Os sintomas de humor melhoraram, incluindo estresse, depressão e ansiedade, com melhorias também na capacidade psicossocial, pois a oportunidade de se conectar com o grupo impactou positivamente no apoio social percebido (sentimento de amizade) elevando assim, os resultados de humor (KEATING, 2018, tradução nossa). Em outro estudo, o exercício aeróbico de intensidade moderada reduziu o humor raivoso entre homens com níveis elevados de raiva e suavizou o aumento da raiva quando induzido pela visualização de imagens. Para o humor ansioso ocorreu o mesmo quadro, o que justifica que os exercícios podem servir para a prevenção dos estados negativos de humor. A redução dos sentimentos de raiva após o exercício é significativa de acordo com dados negativos de saúde pública em relação aos níveis do estado de raiva (THOM et al., 2019, tradução nossa). É consenso a relação positiva entre estados de humor e saúde mental (BRANDT, 2016, tradução nossa; INDRA et al., 2018, tradução nossa; MELO, 2018). O nível de estados de humor positivo entre os homens mostra-se maior que entre mulheres, indicando a vulnerabilidade das mulheres para a síndrome do excesso de treinamento. Analisar as mudanças no estado de humor pode ser indicador na percepção do excesso de treinamento, ou seja, do estresse (INDRA et al., 2018, tradução nossa). 44 3 OBJETIVOS 3.1 Objetivos Gerais Avaliar e analisar os níveis de Síndrome de Burnout, Estados de Humor, bem como de Aptidão Física em Professores de Educação Física de Escolas Públicas. 3.2 Objetivos Específicos • Comparar os níveis de Síndrome de Burnout, Estados de Humor e Aptidão Física entre os professores dos sexos feminino e masculino; • Comparar os níveis de Aptidão Física entre os Grupos Sem Burnout com um critério para Burnout e com dois critérios para Burnout; • Comparar o Perfil de Humor entre os Grupos Sem Burnout com um critério para Burnout e com dois critérios para Burnout. 45 4 MATERIAIS E MÉTODOS O presente trabalho trata-se de um estudo observacional, analítico e transversal, no qual foi realizada uma amostragem não probabilística, intencional ou de conveniência. 4.1 Amostra Participaram do estudo 97 professores de Educação Física pertencentes às redes públicas municipais e estadual do Estado de São Paulo, com idade média de 38,47±8,62 anos, sendo 42 participantes do sexo feminino (37,73±8,69 anos de idade) e 55 participantes do sexo masculino (39,03±8,60 anos de idade). 4.2 Aspectos Éticos da Pesquisa O projeto de pesquisa foi encaminhado e aprovado inicialmente pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual Paulista – UNESP (N.° do Parecer: 1.311.894), atendendo à Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde. Os participantes receberam informações sobre os objetivos, duração e procedimentos adotados, bem como o devido sigilo das informações fornecidas, mesmo se a pesquisa for apresentada em eventos públicos da área. Posteriormente, ao lerem e assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE (Apêndice A), foram informados sobre as condições para o ingresso na pesquisa. Desta forma, o preenchimento do TCLE foi condição inicial para a participação na pesquisa. 4.3 Instrumentos 4.3.1 Inventário Sociodemográfico Este instrumento teve o objetivo de caracterizar os participantes da pesquisa (Apêndice B), incluindo itens como idade, sexo, quantidade de horas trabalhadas semanalmente, tabagismo, doenças crônicas, entre outros. 46 4.3.2 Avaliação Antropométrica Antes do teste, foi realizada a pesagem em balança digital da marca CAMRY EF741-180kg-21 e feita a medição da estatura dos participantes com um estadiômetro portátil da marca Cescorf. Para maior segurança dos participantes, foi aferida a pressão arterial, evitando problemas relacionados ao exercício em caso de hipertensão ou hipotensão. Na busca de maiores informações sobre os determinantes de saúde, foram avaliadas as variáveis antropométricas de peso e estatura para determinar o Índice de Massa Corporal (IMC), conforme sugerido pela Organização Mundial de Saúde (WHO, 2000, tradução nossa). Foi utilizada a seguinte equação: IMC= Peso (Kg) / Estatura² (m) De acordo com a Organização Mundial de Saúde (WHO, 2000, tradução nossa), foram classificados como Baixo Peso os indivíduos que apresentaram resultados do IMC menores que 18,5 kg/m². Peso Normal para 18,5 kg/m² até 24,9 kg/m²; Sobrepeso para resultados ≥25 kg/m²; Obesidade Grau I de 30 kg/m² a 34,9 kg/m²; Obesidade Grau II para 35 kg/m² a 39,9 kg/m² e Obesidade Grau III para valores maiores ou iguais a 40 kg/m². 4.3.3 Teste Submáximo do Banco Esse teste foi proposto por McArdle et al. (2010) e preconizado pelo Queens College que quantificou o volume máximo de oxigênio (VO2 máx.) em mL.kg.min.-1. Inicialmente, o teste foi utilizado para predizer a capacidade cardiorrespiratória de estudantes universitários, realizado nas arquibancadas dos ginásios das universidades a fim de testar, ao mesmo tempo, um grande número de estudantes. Para a fidedignidade dos dados foi utilizado um relógio monitor cardíaco com cinta da marca Oregon Scientific HR102. Ao término do teste, o avaliado foi orientado a permanecer em pé para que fosse aferida a frequência cardíaca, que neste caso, foi medida no quinto segundo após o fim do teste. De posse dos dados, a seguinte equação foi utilizada para predizer o consumo máximo de oxigênio (VO2 máx.): 47 HOMENS – VO2 máx. (mL/Kg/min) = 111,33 – (0,42 x F.C. Final1) MULHERES – VO2 máx. (mL/Kg/min) = 65,81 – (0,1847 x F.C. Final) Após os procedimentos citados e explicados acima, os avaliados foram classificados quanto a capacidade aeróbia submáxima de acordo com o sexo e a idade. Ao mesmo tempo, a Capacidade Cardiorrespiratória foi reclassificada para verificar a associação do VO2 máx. mL/Kg/min-1 com os Níveis de Atividade Física. Aqui, adotou-se como ponto de corte o VO2 máx. de 44,01 mL.Kg.min ̄¹ para Homens e 33,01 mL.Kg.min ̄¹ para Mulheres. Os valores inferiores a estes foram considerados como Não-Recomendados à Saúde. Os pontos de corte para o VO2 máx. foram determinados de acordo com a faixa etária dos avaliados, conforme proposto no estudo Cureton e Warren (1990, tradução nossa) que adotaram estes mesmos pontos de corte já que são considerados adequados à saúde. 4.3.4 Inventário Maslach de Burnout A escala Maslach Burnout Inventory-MBI (MASLAC; JACKSON, 1981, tradução nossa) para avaliar a Síndrome de Burnout, utilizou-se de um questionário estruturado e autoaplicável que possui 22 questões as quais identificam as dimensões da síndrome, sendo de 1 a 9 questões relacionadas ao nível de exaustão emocional; de 10 a 17 à realização profissional dos indivíduos; e 18 a 22 à despersonalização. A pontuação dos itens pesquisados adotou escala do tipo Likert, a qual varia de zero a seis, sendo 0 nunca e 6 todos os dias. Os fatores determinantes da vulnerabilidade à Síndrome de Burnout apontam que os níveis de Exaustão Emocional (0-15=Baixo, 16-25=Médio, 26-54=Alto) e Despersonalização (0-2 Baixo, 3-8 Médio e 9-30 Alto) devem estar elevados e os de Realização Profissional (0-33=Baixo, 34-42=Médio, 43-48=Alto) reduzidos. Os pontos são calculados pela somatória final de cada item do inventário tanto para cada dimensão como para o escore total bruto (Maslach, 1998; Maslach; Schaufeli; Leiter, 2001, tradução nossa). 1 Frequência cardíaca de esforço obtida no final do teste. 48 4.3.5 Escala de Humor de Brunel (BRUMS) Desenvolvida para permitir uma rápida mensuração do estado de humor em populações compostas por adultos e adolescentes (TERRY; LANE; FOGARTY, 2003, tradução nossa). Adaptada do Profile of Mood States – POMS (MCNAIR; LORR; DROPPLEMAN, 1971, tradução nossa), validado para o português por Rohlfs et al. (2008), com valores de consistência interna (alfa de Cronbach) superiores a 0,70 para todos os construtos da escala, BRUMS contém 24 indicadores simples de humor, tais como as sensações de raiva, disposição, nervosismo e insatisfação que são perceptíveis pelo indivíduo que está sendo avaliado. Os avaliados respondem como se situam em relação às tais sensações, de acordo com a escala de 5 pontos (de 0 = nada a 4 = extremamente). Com a soma das respostas referentes a cada construto, obtêm-se um escore que varia de 0 a 16 para cada estado de humor. A forma colocada na pergunta é “Como você se sente agora”, embora outras formas, a saber: “Como você tem se sentido nesta última semana, inclusive hoje”, ou “Como você normalmente se sente” possam ser usadas. São avaliados seis estados subjetivos e transitórios de humor: Tensão (T), Depressão (D), Raiva (R), Vigor (V), Fadiga (F) e Confusão Mental (C). Os fatores T, D, R, F e C são considerados fatores negativos e o Vigor classificado como fator positivo. O Distúrbio Total de Humor (DTH) é dado pela seguinte fórmula: DTH = (T+D+R+F+C) – V + 100 (Morgan et al., 1987, tradução nossa). O perfil de humor com alto valor de vigor e baixos valores para as outras variáveis são denominadas “Perfil de Iceberg” que representa uma saúde mental positiva (MORGAN et al., 1987, tradução nossa). 4.4 Procedimentos A coleta de dados foi realizada no período de março a dezembro de 2019. Os professores foram convidados individualmente ou por meio das redes de ensino em que atuam. As avaliações foram agendadas individualmente ou em horários de trabalho de planejamento coletivo (HTPC/ ATPC). 49 Para fazer parte da pesquisa, os participantes deveriam ser professores com formação em Educação Física e vinculados às redes públicas municipais e/ou estadual de ensino pertencentes ao Estado de São Paulo. O teste físico (Submáximo do Banco) consiste em subir e descer um banco de 41,3 centímetros de altura,