1 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA – CAMPUS PRESIDENTE PRUDENTEFACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA – CAMPUS PRESIDENTE PRUDENTE JULIA SATI DA SILVA Orientador: Profº Dr. Evandro FiorinOrientador: Profº Dr. Evandro Fiorin Coorientador: Profº Dr. Fernando Sérgio Okimoto ENTRE O MINHOCÃO E O METRÔ: Containeres Urbanos no Bairro da Santa Cecília Presidente Prudente 2012 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA – CAMPUS PRESIDENTE PRUDENTEFACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA – CAMPUS PRESIDENTE PRUDENTE JULIA SATI DA SILVA Orientador: Profº Dr. Evandro Fiorin Coorientador: Profº Dr. Fernando Sérgio OkimotoCoorientador: Profº Dr. Fernando Sérgio Okimoto ENTRE O MINHOCÃO E O METRÔ: Containeres Urbanos no Bairro da Santa Cecília Monografia e Projeto do Trabalho Final de Graduação apresentado ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” para obtenção do grau de Arquiteto e Urbanista. Presidente Prudente 2012 Agradecimentos Dentre tantas coisas em minha vida pelas quais sou grata e que possuem envolvimento direto, ou não, neste trabalho, a primeira, – que se constitui meu alicerce e força em minha corrida da vida –,é a minha família. Agradeço ao meu pai, Manoel, aquele em quem busco eternamente me espelhar, pelos valores ensinados, a motivação sempre dada, a luta por tentar fazer com que nada nunca me faltasse, e acima de tudo, o investimento em minha formação, o que possibilitoununca me faltasse, e acima de tudo, o investimento em minha formação, o que possibilitou minha presente conquista. Agradeço à minha irmã, Débora, pela cumplicidade, inspiração e suporte em todos os momentos que precisei. Sou especialmente grata a meu orientador, mestre e referência, Evandro Fiorin, pela paciência, confiança em meu trabalho, pelo conhecimento transmitido, pelas palavras de incentivo e reconhecimento quando sucedi, e pelas advertências quando se fizeram necessárias. Da mesma forma, agradeço à meu coorientador, Fernando Okimoto, pela paciência e compreensão, pelas ideias e sabedoria compartilhadas, e pelo comprometimento e disposição sempre presentes. Agradeço à pessoas especiais, que estiveram presentes no desenvolvimento de meu trabalho e período da graduação, sempre provendo apoio e segurança: Márcio, Karen, Vinícius, Thaís, Flávia, Ana Lídia, Cristiane, Aninha e David.Vinícius, Thaís, Flávia, Ana Lídia, Cristiane, Aninha e David. 4 Resumo Tendo em vista a produção de espaços onde domínios público e privado mostram-se cada vez mais apartados, verifica-se a necessidade de se mesclar tais esferas ensejando melhor uso e apropriação do espaço da cidade. O Bairro da Santa Cecília, na região central do município de São Paulo, apresenta-se, assim como outros bairros da área central, degradado, e especialmente fragmentado em razão do Elevado Costa e Silva, o qual atravessa o bairro na metade. Logo, apresenta-se uma proposta de projeto no qual objetiva-se a ideia demetade. Logo, apresenta-se uma proposta de projeto no qual objetiva-se a ideia de multiplicidade em oposição à unidade, preceitos do sistema rizomático de Deleuze; isto é, uma solução aberta, voltada para o exterior, onde os diferentes espaços sejam conectados, e a paisagem reflita a cultura urbana da área. Assim, utiliza-se o que se denomina de contêineres urbanos: um espaço para os usuários do bairro, onde estes possam participar das causas sociais e criação da paisagem da cidade. Palavras-chave: contêineres urbanos, rizoma, espaço público, Elevado Costa e Silva Sumário INTRODUÇÃO CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA O COTIDIANO DO BAIRRO SANTA CECÍLIA O ELEVADO COSTA E SILVA (MINHOCÃO) O TERRENO 1 2 17 37 42O TERRENO CONTAINERES URBANOS NO BAIRRO SANTA CECÍLIA REFERÊNCIAS 42 49 57 Lista de Figuras Figura 1 - Cartão Postal do Largo Santa Cecília Figura 2 - Casa da Dona Veridiana em tempos remotos. Figura 3 - Casa da Dona Maria Angélica em tempos remotos Figura 4 - Bairro Higienópolis 4 6 7 9 Figura 5 - Edifício João Alfredo. Figura 6 - Piso térreo do Edifício João Alfredo. Figura 7 - Pavimento-tipo do Edifício João Alfredo. Figura 8 - Largo Santa Cecília em dia de semana Figura 9 - Botecos são comuns no bairro Santa Cecília. Figura 10 - Usos variados se misturam. 14 15 16 19 20 21Figura 10 - Usos variados se misturam. Figura 11 - Vendedora Ambulante de eletrônicos. Figura 12 - Idoso passeia pelo Largo Santa Cecília. Figura 13 - Vários mendigos dormem nas calçadas do bairro. Figura 14 - Mendigos vivem no bairro como seres invisíveis. Figura 15 - Usuário de droga pede esmola na estação de metrô. Figura 16 - – Carroceiro anda pela Av. São João. 21 23 24 26 27 28 29Figura 16 - – Carroceiro anda pela Av. São João. Figura 17 - Mapa de localização etnográfica. Figura 18 -– Localização da feira. Figura 19 - Feira-livre aos domingos na R. Sebastião Pereira. Figura 20 - Mapa de usos e equipamentos. Figura 21 - Mapa de acessos. 29 31 32 33 35 36 7 Figura 22 - Percurso do Minhocão e principais vias. 38 Figura 23 - – Moradores de rua, catadores de papelão ocupam o inferior do Elevado. Figura 24 - Aos fins de semana, as pessoas encontram no Minhocão, 39 41Figura 24 - Aos fins de semana, as pessoas encontram no Minhocão, uma extensa área de lazer. Figura 25 - Mapa de Localização. Figura 26 - Estacionamento dos funcionários do Metrô. Figura 27 - Vista sul do terreno: grades restringem o acesso público à área. 41 43 44 45 Figura 28 - Terminal de ônibus Amaral Gurgel. Figura 29 – Mapa de Uso e Ocupação do Solo. Figura 30 – Mapa de Implantação Figura 31 - Complexo multifuncional composto por contêineres. Figura 32 - Mapa com a nova passagem e orientação do complexo. Figura 33 - Passarela através da viga vierendedel. 46 48 49 52 54 55Figura 33 - Passarela através da viga vierendedel. 55 8 Introdução O presente trabalho visa à produção de uma estrutura arquitetônica no bairro da Santa Cecília (situado na zona central do município de São Paulo), que promova multiplicidade e conexão, princípios estes do sistema denominado Rizoma, extraído da filosofia deleuzeana. Assim, objetiva-se que a noção de unidade seja sobreposta pela de multiplicidade, resultando num “sistema aberto e voltado para o exterior” (JACQUES, 2003, p.132),.p.132),. Para tanto, desenvolveu-se um complexo multifuncional composto por unidades assistenciais dispostas em contêineres, ou seja, dispositivos de apoio aos usuários da área, constituindo um conjunto com usos diversificados destinados a públicos variados. Os usos foram definidos tendo em vista um levantamento etnográfico do bairro, a partir do qual se reconheceu a necessidade de inserir determinados agrupamentos sociais e usuários na participação social e integrá-los ao contexto urbano, de modo a refletir na paisagem a culturaparticipação social e integrá-los ao contexto urbano, de modo a refletir na paisagem a cultura pública da cidade. Fez-se necessária, então, uma análise, levantamento e estudo da região da Santa Cecília, a fim de reconhecer as potencialidades da área e suas principais condicionantes. Nesse sentido, identificou-se o Minhocão como importante fator de degradação da região, ao passo que nos fins de semana define-se como espaço para se exercer a vida pública. Soma-se a ele, a estação do metrô Santa Cecília, a qual torna a dinâmica do bairro ainda mais intensa. Deste modo, o trabalho buscou incorporar a morfologia do objeto arquitetônico à estrutura urbana, em vista da compatibilização do projeto com o entorno. A solução resultante foi um complexo multifuncional, os quais podem ser chamados de contêineres urbanos, e um piso térreo livre. O edifício constituirá uma passagem, ou seja, uma via de circulação para pedestres, o qual se comunicará com o Elevado em nível superior e à estaçãocirculação para pedestres, o qual se comunicará com o Elevado em nível superior e à estação de metrô no subsolo. 1 Contextualização Histórica Nos primórdios do desenvolvimento de São Paulo, à luz do domínio português, as questões que concerniam o adequado ordenamento do território urbano e seu arruamento eram, em grande parte, negligenciadas pelo poder público. As vias eram definidas aleatoriamente, desprezando-se o traçado já existente, de forma a produzir uma malha irregular e desarticulada. Como assinala Jorge (2006, p. 93): “seria muito exigir de homens que, procedentes de regiões agrárias portuguesas e animados de outras vontades, pudessemque, procedentes de regiões agrárias portuguesas e animados de outras vontades, pudessem desenvolver neste solo mentalidade mais plástica e obediente a rigores construtivos”. Foi somente em meados do século XVIII, perante os sinais de caos no espaço urbano, que a Câmara nomeou o mestre carpinteiro Francisco Gomes Tavares como arruador do Conselho. Os poderes municipais estabeleceram diferentes códigos de posturas, entre eles, a reformulação dos conceitos para definição de ruas, em 1875. Em 1886, novas resoluções condicionaram as vias à forma reta e largura de 16 metros, além de praças no formato quadrado, fato que fragmentou alguns bairros em uma malha ortogonal “retomando arcaicos processos no traçado de ruas” (JORGE, 2006, p. 95). Quando efetuados por particulares, afirma Jorge (2006, p. 95), esses traçados reduziram significativamente a inserção de áreas livres e criaram “blocos bairrísticos desarticulados do todo citadino”, como ocorreu em Santa Cecília¹.Cecília¹. O bairro da Santa Cecília surge em meio a iniciativas progressistas, ao romper de uma nova mentalidade que se opunha à opressão política, – a qual reprimia as manifestações culturais de cunho nativo –, introduzindo medidas destinadas a prover a cidade de serviços e recursos e, assim, suprir carências e aumentar a qualidade de vida da população: ¹ O início do processo de expansão da cidade de São Paulo, no início do século XIX, sob uma gestão fortemente vinculada à Igreja, resultou na instituição de diversas paróquias, a partir das quais se constituíram os bairros da Consolação, Lapa, Luz, Pari, Bom Retiro, Campos Elísíos, Barra Funda, Pacaembu, Perdizes, Água Branca, Vila Pompéia, Higienópolis, Cerqueira César, Jardins e Santa Cecília, “dispostos numa periferia semicircular” à Catedral da Sé (JORGE, 2006, p. 27). 2 O bairro de Santa Cecília aparece, justamente, nos anos dessa transição, quando a sociedade investiu-se com um forte e genuíno espírito civilizador matizado pela sua própria cultura e capacidade. Sob o nume tutelar da virgem mártir romana [Santa Cecília], acompanhou o compasso progressista e, por mercê de operosidade de seusCecília], acompanhou o compasso progressista e, por mercê de operosidade de seus moradores, ocupa destacado lugar entre os mais expressivos desta república municipalista (JORGE, 2006, p. 28). A igreja, de mesmo nome e ponto primordial no processo de formação do bairro, teve sua construção desenrolada em três ocasiões distintas. Foi somente em 1895, mediante decreto episcopal, que a então capela de Santa Cecília foi elevada à categoria de paróquia. Com a nomeação de um novo pároco, idealizou-se “a construção de uma nova igreja maisCom a nomeação de um novo pároco, idealizou-se “a construção de uma nova igreja mais ampla, condigna e compatível com os créditos religiosos e o crescimento populacional do bairro” (JORGE, 2006, p. 68-69). A demolição da antiga capela e realização da nova igreja, iniciada em 1897, foi possível em razão de donativos arrecadados em campanha. As obras prolongaram-se até 1917, embora a paróquia tenha sido inaugurada em 1901 (JORGE, 2006, p. 69) (Figura 1). A paróquia exibe características neo-românticas e fachada semelhante à matriz do bairro Consolação. Atualmente, abriga inumeráveis cerimônias de casamento, e constitui importante referência para o local (JORGE, 2006). A despeito da paróquia, a ocupação urbana no bairro de Santa Cecília se firmaria somente algumas décadas mais tarde, como explica Ribeiro e Campos (2007):somente algumas décadas mais tarde, como explica Ribeiro e Campos (2007): De fato, os olhos dos especuladores só se voltaram para aquela região de chácaras, situada na parte baixa da encosta do espigão central, depois da construção, nas imediações, do hospital da Santa Casa de Misericórdia (1881-1884) e, em cota mais alta, da faustosa vila suburbana (1882-1885) de D. Veridiana da Silva Prado (1825- 1910) [...]. A presença da casa de D. Veridiana certamente foi um atrativo a mais para o vizinho Boulevard Burchard, loteado em 1895. O novo empreendimento imobiliário, de estrito uso residencial, que depois se tornaria o bairro de Higienópolis, tinha localizaçãouso residencial, que depois se tornaria o bairro de Higienópolis, tinha localização privilegiada e por isso atraiu moradores muito ricos influenciados pelo recente sanitarismo. (RIBEIRO; CAMPOS, 2007). 3 G O .. ., s .d .) . ta C ec íl ia . Fo n te : (L A R G O P o st al d o L ar g o S an ta C F ig u ra 1 – C ar tã o P o 4 A exemplo do casarão de D. Veridiana (Figura 2), Maria Angélica de Sousa Queirós Barros – viúva de Francisco Aguiar de Barros, filho do marquês de Itu –, resolveu edificar em sua propriedade rural – a Chácara das Palmeiras –, no ano de 1891, uma residência, erguendo “imponente domicílio apalacetado e com nítida influência prussiana” (JORGE, 2006, p. 61)² (Figura 3). A sede anterior da chácara foi legada à casa Pia São Vicente de Paulo, em atividade até os dias atuais. D. Maria Angélica residiu na chácara durante quinze anos. Em 1901, uma lei concedeu à mesma, a isenção de impostos sob as condições de realizar “à sua custa as obras de nivelamento das ruas e de sujeitar aos arruamentos, alinhamentos e nivelamentos estabelecidos pela Prefeitura e prazos de início e conclusão desses serviços” (JORGE, 2006, p. 62). Deste modo, as terras da Chácara das Palmeiras foram desmembradas, dando início à uma série de outros parcelamentos, como será visto a seguir. Em vista do potencial rentável de suas propriedades, não tardou a se iniciar aEm vista do potencial rentável de suas propriedades, não tardou a se iniciar a fragmentação daquelas extensas áreas rurais por seus proprietários abastados, em vista de fins lucrativos: O loteamento da antiga chácara do Marechal Rendon em 1893 (origem do bairro de Vila Buarque) e a venda da segunda etapa do Boulevard Burchard, a partir de 1897, convenceriam os donos das chácaras vizinhas que era oportuno dar inicio à comercialização de suas propriedades (RIBEIRO; CAMPOS, 2007).comercialização de suas propriedades (RIBEIRO; CAMPOS, 2007). Nesse sentido, o bairro da Santa Cecília constituiu-se a partir do interesse em auferir rendimentos dos lotes oriundos do retalhamento das amplas chácaras existentes. O loteamento e arruamento deram-se das bordas para o centro, na medida em que os lotes ² “Estava, pois, configurada neste exemplo a nova maneira do “saber morar” [...]. Observou-se nesta² “Estava, pois, configurada neste exemplo a nova maneira do “saber morar” [...]. Observou-se nesta edificação a técnica laterícia e a abolição da usual taipa de pilão. [...] o que mais se salienta é a tendência da aristocracia fin-du-siècle de preferir a arquitetura de importação, rompendo com as antigas e tradicionais formas da arquitetura paulistana” (JORGE, 2006, p. 61). 5 te : (C A SA .. ., s .d .) . te m p o s re m o to s. F o n te a D o n a V er id ia n a em t em F ig u ra 2 – C as a d a D 6 , 2 0 1 1 ). . Fo n te : (P A LA C ET E. .. , 2 e m t em p o s re m o to s. F D o n a M ar ia A n g él ic a e F ig u ra 3 – C as a d a D 7 moldavam-se à forma dos terrenos dos bairros adjacentes (ANTUNES; ALBA, 2007). Este modo de conformação do bairro Santa Cecília aliado ao surgimento de uma nova classe social no período da Primeira Grande Guerra, resultou numa paisagem urbana com limites tênues entre o bairro e seu vizinho Higienópolis (Figura 4): [...] uma classe média diferenciada formada por comerciantes bem sucedidos, funcionários públicos de alto escalão, imigrantes enriquecidos, que ainda não possuía o capital necessário para usufruir o status da elite, mas procurava se instalar próxima aos bairros elegantes da classe alta [...] em lotes tradicionais, de preços moderados (ANTUNES;ALBA, 2007).(ANTUNES;ALBA, 2007). A transição da paisagem urbana entre o bairro de Higienópolis e o bairro de Santa Cecília se fazia então de modo sutil: dos luxuosos palacetes de fins do dezenove passava-se aos amplos sobrados de classe média dos anos de 1920. A parte ocupada pela Dr. Gabriel dos Santos se conservaria estritamente residencial até os anos 50, quando se iniciou o processo de verticalização da região e a conseqüente mudança de uso (RIBEIRO; CAMPOS, 2007). Portanto, Santa Cecília definiu-se como um bairro com lotes e ocupação diversificadosPortanto, Santa Cecília definiu-se como um bairro com lotes e ocupação diversificados e desenho irregular: Ao contrário da parte mais antiga do bairro, que apresenta irregularidades no traçado urbano, a área de ocupação posterior segue um plano mais uniforme, com a presença de quarteirões retangulares e extensos [...]. Aqui, os terrenos são mais amplos e com testadas mais largas. Com variações, as casas aí construídas se apresentavam isoladas nos lotes, espaçadas entre si e cercadas de jardins, lembrando a conformação do vizinho bairro de Higienópolis [Figura 5]. Reproduziam, assim, a antiga feição das chácaras de moradia, preservando uma identidade social e cultural própria das classes sociais mais abastadas, da qual descendiam seus moradores. (ANTUNES; ALBA, 2007). Enquanto o loteamento do bairro de Higienópolis foi planejado de maneira a oferecer as melhores condições de implantação às construções, a parte referente à Santa Cecília parece ter seguido os puros ditames da exploração fundiária. Na parte de Santa Cecília mais próxima do bairro de Higienópolis, os lotes eram em sua maioriaSanta Cecília mais próxima do bairro de Higienópolis, os lotes eram em sua maioria amplos, equivalentes aos abertos nas terras do Boulevard Burchard, com o objetivo de seduzir o mesmo tipo de morador de elite. A parte do bairro, no entanto, cujo 8 ). . H IG IE N Ó PO LI S. .. , s. d .) .. H ig ie n ó p o li s. F o n te : (H IG F ig u ra 4 – B ai rr o H ig 9 perímetro é formado pela Avenida Angélica e Ruas das Palmeiras, Sebastião Pereira e Jaguaribe, mais próxima da Vila Buarque, já tinha outra configuração, com lotes bastante estreitos, que só admitiam construções geminadas, como as do bairro contíguo (RIBEIRO; CAMPOS, 2007).contíguo (RIBEIRO; CAMPOS, 2007). Os primeiros sinais de declínio do bairro surgem na década de 30, momento em que muitos moradores abastados transferem-se para outras regiões da cidade, cedendo espaço à especulação imobiliária e à consequente introdução de prédios residenciais, especialmente a partir de 1950, em substituição às antigas mansões. Tal fato foi impulsionado com a Lei do Inquilinato, instaurada em 1942, e o consequente congelamento dos aluguéis, estabelecendoInquilinato, instaurada em 1942, e o consequente congelamento dos aluguéis, estabelecendo um ponto de transição no processo de verticalização. A locação tornou-se pouco rentável, abrindo espaço para a incorporação imobiliária. “O padrão a ser alcançado é influenciado pelo american way of life” (LOBATO, 2009, p. 31), incentivado pela possibilidade de grandes dimensões para o gabarito máximo. “A introdução do condomínio e da figura do incorporador, aliada ao superávit da balança comercial nos anos pós-guerra, aqueceu o mercado imobiliário da década de 50 e fez com que surgisse uma verdadeira febremercado imobiliário da década de 50 e fez com que surgisse uma verdadeira febre construtiva na cidade” (SAMPAIO, 2002 apud GALVÃO, 2007, p. 2). A produção dos primeiros edifícios residenciais paulistanos, como visto, foi conduzida pela lógica do mercado imobiliário – de obtenção de lucros por meio da reprodução do solo urbano –, e pelos ditames do barateamento da construção, fato que resultou, muitas vezes, em soluções projetuais desprovidas “de quaisquer inovações e ousadias técnicas, que não aquelas estritamente necessárias para sua concretização” (PINHEIRO, 2008, p. 110). Logo, buscou-se usufruir o máximo do potencial do lote de forma a ignorar condicionantes técnicos de conforto ambiental, como explica Pinheiro (2008): A primazia da fachada principal é nítida; os pavimentos-tipo apresentam unidadesA primazia da fachada principal é nítida; os pavimentos-tipo apresentam unidades heterogêneas, com soluções de planta alheias às necessidades funcionais e da comodidade; tudo isso agravado pela irregularidade dos lotes de origem colonial. 10 [...] Trata-se quase invariavelmente de estruturas em pilar e viga, calculadas sem grandes ousadias, vedadas em tijolos e associadas a lajes planas – que constituem os pisos dos edifícios –, sem qualquer preocupação de configurar plantas-livres (PINHEIRO, 2008, p. 110).(PINHEIRO, 2008, p. 110). Se por um lado o Modernismo despontava com uma arquitetura racionalista buscando soluções mais apropriadas à verticalização metropolitana (GALESI E CAMPOS, 2003) – a partir da maximização do uso do solo aliada a espaços qualificados, e do emprego de uma estética mais ajustada às aspirações de modernidade da época –, a maior parte dos edifícios concebidos nas décadas de 1930 e 1940 não agregava os preceitos modernistas, dos quaisconcebidos nas décadas de 1930 e 1940 não agregava os preceitos modernistas, dos quais se destaca a figura de Le Corbusier, mas constitui “versões mais ou menos simplificadas” (PINHEIRO, 2008, p. 112) do Art déco, estilo típico do centro de São Paulo. Isto se deve à compatibilidade de tal estilo às necessidades e interesses meramente econômicos do mercado da construção: Na verdade, apenas o Art déco poderia servir à intenção claramente especulativa daNa verdade, apenas o Art déco poderia servir à intenção claramente especulativa da verticalização do centro da cidade nas décadas de 1930 e 1940, já que, por um lado, este estilo representou, de fato, apenas uma atualização dos valores arquitetônicos pré-existentes [para a introdução de modernidade], sem questioná-los em profundidade; de outro, implicava realmente numa diminuição dos custos da construção, pela diminuição dos ornamentos ou por sua estilização, vale dizer, simplificação (PINHEIRO, 2008, p. 120). Soma-se que “o apuro no tratamento formal da fachada, no detalhamento do projeto eSoma-se que “o apuro no tratamento formal da fachada, no detalhamento do projeto e na especificação dos materiais de acabamento” dos edifícios residenciais refletem a preocupação com os “cuidados necessários para garantir a venda dos apartamentos numa cidade onde, sobre esta forma de morar, ainda pesava a pecha de “cortiços verticais”” (PINHEIRO, 2008, p. 120). Assim como o estilo arquitetônico (Art déco), as soluções projetuais inseridas nestes prédios também traduzem a busca por lucratividade do setor imobiliário, na medida em queprédios também traduzem a busca por lucratividade do setor imobiliário, na medida em que contraem a planta de modo a possibilitar a utilização absoluta do terreno, e negligenciam 11 fatores necessários para o conforto ambiental. Sob outra perspectiva, tais soluções de planta indicam a necessidade de se incorporar variadas tipologias a fim de satisfazer diferentes usuários, os quais eram, até então, incertos: [...] a análise das plantas desses edifícios demonstra que, nas décadas de 1930 e 1940, o programa habitacional verticalizado, e portanto sua clientela, encontrava-se ainda indefinido. Praticamente todos os edifícios apresentam apartamentos de diferentes tamanhos, inclusive no mesmo andar, o que – além de facilitar o desejado aproveitamento máximo do lote – sugere a experimentação de soluções variadas, na busca de atender às expectativas ainda desconhecidas de um novo mercado (PINHEIRO, 2008, p. 121).(PINHEIRO, 2008, p. 121). O anseio pela ocupação integral do terreno à luz de objetivos especulativos culminou na inexistência de garagens na maior parte dos edifícios residenciais, uma vez que esses espaços reduziriam a área edificável. Nos prédios comerciais, as garagens eram ainda mais relegadas, “o que hoje constitui problema a ser superado para a desejada revitalização da área central de São Paulo, maciçamente verticalizada a partir de 1930” (PINHEIRO, 2008, p.área central de São Paulo, maciçamente verticalizada a partir de 1930” (PINHEIRO, 2008, p. 124). Retomando o estilo Art déco e situando o bairro Santa Cecília no contexto histórico apresentado, cita-se como representante das décadas de 30 e 40 o Edifício João Alfredo, localizado na Rua das Palmeiras, projetado pelo Escritório Moya & Malfatti (Figura 5). O prédio apresenta seis pavimentos com tipologias distintas de apartamentos. Desprovido de garagem, o piso térreo é composto por lojas (presentes na grande maioria dos edifícios de apartamentos da época) e três apartamentos projetados com sala, cozinha, banheiro e/ou lavabo, e um ou dois dormitórios (Figura 6). Os demais pavimentos constituem-se de sete apartamentos, básicos, compostos por vestíbulo, um ou dois dormitórios, banheiro e terraço (Figura 7). Com uma solução pouco usual, o edifício também foi projetado com uma(Figura 7). Com uma solução pouco usual, o edifício também foi projetado com uma lavanderia coletiva no piso térreo. 12 O Edifício João Alfredo constitui um exemplar emblemático dos prédios de apartamentos residenciais do bairro Santa Cecília, os quais foram erguidos à custa da demolição de muitos casarões antigos, fato que resultou na subsistência de algumas poucas unidades, as quais foram destinadas à locação ou transformadas em pensões, cortiços ou habitações coletivas precárias. Isentos de garagem e área de lazer, os edifícios construídos na década de 30 e 40 foram ocupados por famílias mais modestas, tornando o bairro pouco atrativo para as classes média e alta. A decadência do bairro intensificou-se com o processo de esvaziamento da área central da cidade na década de 70, e com a construção do Elevado Costa e Silva na mesma década, o qual causou a desvalorização da área, como apresentado a seguir. 13 Figura 5 – Edifício João Alfredo. Fonte: (EDIFÍCIO..., 2008). 14 Figura 6 – Piso térreo do Edifício João Alfredo. Fonte: (PISO..., 2008). 15 Figura 7 – Pavimento-tipoPavimento-tipo do Edifício João Alfredo. Fonte: (PAVIMENTO..., 2008). 16 O cotidiano do bairro Santa Cecília O cotidiano do bairro Santa Cecília ostenta um enorme fluxo de pessoas, o qual possui sua fonte, especialmente, na estação de metrô de mesmo nome que o bairro. A estação Santa Cecília compõe a Linha 3 - Vermelha (Leste-Oeste) do metrô, interligando-se a outras importantes e movimentadas estações como a República, Anhangabaú e Sé, constituintes da região central da metrópole; Brás, Belém e Tatuapé, bairros da Zona Leste do município; e a Barra Funda, na Zona Oeste. Além da própria área, a estação Santa Cecíliamunicípio; e a Barra Funda, na Zona Oeste. Além da própria área, a estação Santa Cecília ainda serve bairros adjacentes como o Higienópolis e Campos Elíseos. Santa Cecília assume significativa diversidade, uma vez que abriga usos variados. Nota-se grande oferta de comércios e serviços, concentrados no Largo Santa Cecília, (Figura 8) predominando-se estacionamentos e botecos (Figura 9). Tal oferta encarrega-se de suprir aos usuários da área, constituídos especialmente por trabalhadores e moradores da região. Esta multiplicidade muito agrada as pessoas que lá utilizam, pois estas acabam por poder usufruir da intensa atividade econômica e diversidade de equipamentos. Importante destacar, ainda, a presença da Santa Casa de Misericórdia, no bairro vizinho Vila Buarque, e o Shopping Pátio Higienópolis. − Ora, o bairro é ótimo, temos tudo o que precisamos. Tudo tem por aqui. Vamos à feira todo o fim de semana. (moradora idosa do bairro Santa Cecília)feira todo o fim de semana. (moradora idosa do bairro Santa Cecília) − Moro aqui há 60 anos, e gosto devido às facilidades que o bairro tem. [...] O bairro está mais seguro depois da reforma na [Rua] Amaral Gurgel, porque colocaram mais iluminação. Construíram um hotel de gays no Arouche, e o policiamento melhorou à noite. [...] Sempre venho caminhar no Minhocão nos fins de semana. (moradora idosa do bairro Santa Cecília) − Eu moro há 28 anos na Santa Cecília. Gosto porque tem loja, banco, transporte,− Eu moro há 28 anos na Santa Cecília. Gosto porque tem loja, banco, transporte, restaurante, tudo... [...] [Quando questionado sobre os moradores de rua] Não me importo 17 com os mendigos, não. [Quando questionado sobre o policiamento e criminalidade do bairro] Ah, polícia sempre tem, né? Mas é igual, a mesma coisa, não mudou muito, não. (morador do bairro Santa Cecília) A inexistência de comércios e serviços específicos ou peculiares à área, somada à grande quantidade de residências, tornam Santa Cecília um bairro de passagem, e não de destino. Isto se deve ao fato de seus frequentadores – quando não moradores do próprio bairro servindo-se dos equipamentos existentes –, constituírem-se de indivíduos transeuntes, que por lá circulam durante seus percursos ao trabalho, ou para os restaurantes no horário de almoço. Assim, os comércios e serviços do bairro servem, ora pessoas que residem, ora trabalhadores que transitam pelo bairro, e que, esporadicamente, interrompem seus trajetos ao trabalho para adquirirem algum produto. Portanto, o bairro Santa Cecília, usualmente, não consiste em um local para onde as pessoas se destinam com um propósito específico – como o bairro Santa Efigêniapessoas se destinam com um propósito específico – como o bairro Santa Efigênia característico pelo ramo de eletrônicos –, se não sua própria residência ou trabalho. Justapõem-se hotéis, casas degradadas, residências antigas por vezes utilizadas para fins diversos como clínica de acupuntura, escolas e universidades, as quais motivam estudantes a se estabelecerem na região, lojas de R$1,99, móveis usados, restaurantes, bares, escritório de decoração, óticas, sapataria, supermercado, agências bancárias, despachante, lojas de roupas, Correios, entre vários outros (Figura 10). 18 V A , 2 0 1 2 . e se m an a. F o n te : SI LV A an ta C ec íl ia e m d ia d e s F ig u ra 8 – La rg o S an 19 e: S IL V A , 2 0 1 2 . ro S an ta C ec íl ia . Fo n te : s sã o c o m u n s n o b ai rr o F ig u ra 9 – B o te co s s 20 . Fo n te : SI LV A , 2 0 1 2 . va ri ad o s se m is tu ra m . F F ig u ra 1 0 – U so s va r 21 Ao sair da estação de Metrô Santa Cecília, encontra-se o Largo Santa Cecília que abriga a Paróquia homônima, calçadões com canteiros e bancos, vários estabelecimentos, e no qual se misturam diversos grupos sociais. Pela manhã e fim da tarde, milhares de trabalhadores da região transitam por entre os mendigos a dormir nas calçadas. Nas ruas, carros e empregados em bicicletas transportando suplementos e mercadorias, dividem o espaço. Os vendedores ambulantes constituem uma pequena parcela da população do lugar, em razão das ações de regulamentação do poder público municipal. Aqueles existentes carregam suas mercadorias em mostruários estratégicos como carrinhos de supermercados, os quais propiciam fácil mobilidade para se deslocarem na área e em caso de necessidade de fuga dos fiscais (Figura 11). Há os que aparecem somente em determinados períodos, como nos domingos durante a feira-livre, quando há grande contingente de consumidores. Estes aproveitam para expor seus produtos montando suas barracas próximas às barracas dos feirantes. A ocupação do espaço para prática de comércio e serviços informais é reforçadafeirantes. A ocupação do espaço para prática de comércio e serviços informais é reforçada pela interligação do bairro com outras áreas da cidade por meio do metrô (FRÚGOLI, 2006). Idosos e aposentados constituem grande parte dos moradores do bairro (Figura 12) – normalmente na parte mais alta da encosta, próxima ao bairro nobre do Higienópolis3. No geral, estes residentes estabeleceram-se há longos períodos na região, pela qual criaram um forte laço e apreciação, e desfrutam das facilidades proporcionadas pela complexa infraestrutura e diversidade de serviços da área central. 3 Ultimamente, o bairro da Santa Cecília tem sido alvo de investimentos imobiliários, especialmente no trecho mais próximo ao seu vizinho nobre: o Higienópolis. Tal fato deve-se ao influxo positivo que este bairro de classe alta exerce na região e o desejo das incorporadoras em expandi-lo. Esta influência, no entanto, é limitada, e restringe-se à parte elevada da encosta, próxima ao chamado Espigão da Paulista, onde o bairro nobre está localizado. Apesar de alguns poucos lançamentos imobiliários, na porçãoonde o bairro nobre está localizado. Apesar de alguns poucos lançamentos imobiliários, na porção baixa da vertente, onde está implantado o Elevado Costa e Silva, a paisagem urbana é indecorosa: os edifícios são antigos e deteriorados, e o espaço abaixo do viaduto abriga moradores de rua e usuários de drogas. 22 V A , 2 0 1 2 . le tr ô n ic o s. F o n te : SI LV A d o ra A m b u la n te d e el e F ig u ra 1 1 – V en d ed o 23 IL V A , 2 0 1 2 . an ta C ec íl ia . Fo n te : SI LV p as se ia p el o L ar g o S an F ig u ra 1 2 – Id o so p a 24 Por outro lado, na parte baixa mais próxima ao Minhocão, residem jovens casais e solteiros (alguns estudantes), os quais normalmente locam apartamentos e tornam a ocupação do bairro transitória, com novos moradores de tempos em tempos. Os mendigos, em enorme quantidade, são em grande parte responsáveis pelo aspecto deteriorado do bairro (Figura 13). Ocupam desde a parte inferior do viaduto até as calçadas do Largo Santa Cecília e região. Alguns, flutuantes, estão apenas de passagem e perambulam pela cidade. Outros, entretanto, fixaram-se no bairro transformando-o em local de moradia. Muitas vezes associados ao crime e a imundície, estes mendicantes são completamente ignorados e vivem no local como “seres” invisíveis, totalmente excluídos das interações sociais (Figura 14). Não completamente desamparados, os mendicantes contam, no bairro, com um Centro de Acolhida Especial para idosos e um Espaço de Convivência, destinados a acolher a população em situação de rua, provendo refeições, banhos, vestuário, lazer, entre outros serviços.serviços. No fim do dia, no período noturno, surgem as garotas de programa, as quais se disseminam por toda a área. Os usuários de drogas (Figura 15), também mais visíveis à noite e em lugares recônditos, advêm, em sua maioria, do desmantelamento da Cracolândia em virtude da Operação Centro Legal, a qual visava à reconfiguração e requalificação do local e acabou por expulsar e disseminar os usuários de drogas pela área. No Largo Santa Cecília assenta uma Base Comunitária Móvel da Polícia Militar, onde policiais exercem vigilância e rondas a pé a fim de inibir a criminalidade na área. Além de promoverem segurança e policiamento, os policiais são frequentemente consultados por informações, prestando auxílio à população em diversos aspectos. Existem, também, os carroceiros que trabalham em relativa parceria com os comerciantes de móveis usados, predominantes na Avenida São João (Figura 16 e 17). Eles recolhem do lixo peças de mobiliário descartadas pela população e as transportam em suas 25 o . Fo n te : SI LV A , 2 0 1 2 . n as c al ça d as d o b ai rr o . m en d ig o s d o rm em n a F ig u ra 1 3 – V ár io s m 26 . Fo n te : SI LV A , 2 0 1 2 . co m o s er es i n vi sí ve is . F ig o s vi ve m n o b ai rr o c o F ig u ra 1 4 – M en d ig o 27 1 2 . et rô . Fo n te : SI LV A , 2 0 1 2 o la n a es ta çã o d e m et r io d e d ro g a p ed e es m o l F ig u ra 1 5 – U su ár io 28 2 0 1 2 . o J o ão . Fo n te : SI LV A , 2 0 ei ro a n d a p el a A v. S ão J F ig u ra 1 6 – C ar ro ce ir 29 carroças, para posteriormente oferecerem para os comerciantes das lojas, os quais decidem, dependendo das condições dos móveis, adquiri-las ou não em troca de pagamento. Sem características definidas e de pouca visibilidade, os batedores de carteira e ladrões de celulares atuam com frequência, visando especialmente os desatentos, naquela área onde suas ações são facilitadas pela grande movimentação e fluxo de pessoas. Verificam-se, ainda, em menor quantidade, vendedores de doces e bolos, aos quais muitos trabalhadores recorrem para um “tira-gosto”; engraxates, quase inexistentes, mas que ainda sobrevivem prestando seus serviços nas ruas; sorveteiros, entre outros. Sob outro panorama, emergem personagens diferentes e uma dinâmica oposta ao cenário de Santa Cecília em dias de semana: o palco para o “transitar” de pessoas transforma- se numa multidão compartilhando o mesmo espetáculo; São aos domingos que a movimentada Rua Sebastião Pereira abre espaço para a feira-livre de 637 metros lineares (Figura 18 e 19). Nas demais vias, calmaria.(Figura 18 e 19). Nas demais vias, calmaria. Repleta de sons, cheiros, movimento e cores, a feira transforma o bairro acinzentado, que nos dias de semana se perde entre o vaivém de pessoas, em um verdadeiro aglomerado de gente com o mesmo objetivo: comprar frutas, verduras e legumes. Alguns mendicantes aproveitam para um passeio entre as barracas. Chega-se a presenciar moradores de outros bairros: − Venho [na feira] uma vez por mês. Gosto porque é barato e os produtos têm mais qualidade do que a feira da Oscar Freire, então vale a pena vir até aqui. [moradora do bairro de Perdizes] Além da feira, a Igreja Santa Cecília, localizada no centro do Largo, ocasionalmente promove eventos como quermesses, cursos e grupos de oração, conformando um espaço para a reunião de fiéis e “ponto de parada”. Próximo à igreja, em nível superior, avista-se o Elevado Costa e Silva, símbolo da priorização do tráfego no bairro e sobre o qual será discutido a seguir. 30 0 1 2 . rá fi ca . Fo n te : SI LV A , 2 0 1 d e lo ca li z aç ão e tn o g rá f F ig u ra 1 7 – M ap a d e Legenda Moradores de rua Vendedores Ambulantes Carroceiros Base Policial 31 : SI LV A , 2 0 1 2 . iz aç ão d a fe ir a. F o n te : S F ig u ra 1 8 – Lo ca li z a 32 . Fo n te : SI LV A , 2 0 1 2 . a R . Se b as ti ão P er ei ra . F li vr e ao s d o m in g o s n a R F ig u ra 1 9 – Fe ir a- li vr 33 A localização privilegiada, na zona central da cidade, coloca à disposição do bairro diversos comércios, serviços e programas culturais existentes na própria área ou nas cercanias, como demonstra a Figura 20: Legenda: 1. Campo de Marte; 2. Hotel Ibis; 3. Memorial da América Latina; 15. Santa Casa de Misericórdia; 16. Edifício Louveira; 17. Fundação Armando Álvares Penteado;3. Memorial da América Latina; 5. Faculdade Oswaldo Cruz; 6. Teatro Macunaíma; 7. Theatro São Pedro; 8. Associação Cultural Cecília; 4. Museu de Arte Sacra; 9. Pinacoteca do Estado; 17. Fundação Armando Álvares Penteado; 18. Edifício Esther; 19. Teatro Municipal de São Paulo; 20. Edifício Martinelli; 21. Pateo do Collegio; 21. Edifício Copan; 23. Biblioteca Mário de Andrade;9. Pinacoteca do Estado; 10. Sala São Paulo; 11. SENAC Santa Cecília; 12. PUC São Paulo; 13. Hospital Samaritano; 14. Shopping Pátio Higienópolis; 23. Biblioteca Mário de Andrade; 24. Universidade Presbiteriana Mackenzie; 25. Estádio do Pacaembu; 26. Cemitério Consolação; 27. Catedral da Sé. Ademais, a existência de avantajada infraestrutura de acesso a partir de amplas avenidas, da Linha 3-Vermelha do metrô, e das Linhas 7 (Rubi) e 8 (Diamante) da CPTM, confere comunicação fácil e rápida ao distrito Santa Cecília (Figura 21). 34 2 . o s. F o n te : SI LV A , 2 0 1 2 . e u so s e eq u ip am en to s F ig u ra 2 0 – M ap a d e 35 o s. F o n te : SI LV A , 2 0 1 2 . a 2 1 – M ap a d e ac es so s F ig u ra 2 36 O Minhocão O Elevado Presidente Artur da Costa e Silva, mais conhecido como Minhocão, é uma via expressa elevada que conecta a área central à zona oeste da cidade através do eixo lesto- oeste. Inicia-se na Praça Roosevelt, a partir da Avenida Radial Leste-Oeste, e desemboca na Avenida Francisco Matarazzo, no Largo Padre Péricles, perfazendo uma extensão de 3,4 km que serpenteia sobre a Avenida General Olímpio da Silveira, Avenida São João e Rua Amaral Gurgel.Gurgel. Diante da impossibilidade de se alargar tais vias, as quais atravessam a região central, o Minhocão foi concebido paralelamente em nível superior, a fim de desobstruir o tráfego intenso por meio da duplicação da capacidade de fluxo. Portanto, o Elevado retrata uma solução problemática do trânsito da cidade, na qual se priorizou o automóvel em detrimento do transporte coletivo. O Elevado Costa e Silva possui a maior parte de sua extensão inserida no distritoO Elevado Costa e Silva possui a maior parte de sua extensão inserida no distrito Santa Cecília, transpassando-o quase em sua metade (Figura 22). Constitui uma grande intervenção dentro da cidade, a qual o poder público tem buscado reparar a partir de projetos de intervenção e até mesmo cogitando sua demolição. Renegado pela população local e por planejadores desde sua idealização, o Elevado foi somente concretizado na gestão de Paulo Maluf, em 1970, e tornou-se alvo de duras críticas chegando a ser designado “uma aberração arquitetônica” devido ao impacto negativo e brusco que sua implantação provocou na paisagem urbana do centro de São Paulo. Atualmente, o Minhocão ainda sofre apreciação desfavorável em razão da desvalorização imobiliária e degradação do entorno ensejados pelo ruído dos automóveis e pelos mendicantes que ocupam a parte inferior do viaduto (Figura 23). Em alguns trechos o elevado chega a passar a apenas cinco metros das aberturas dos edifícios que o ladeiam.elevado chega a passar a apenas cinco metros das aberturas dos edifícios que o ladeiam. Essa proximidade, para muitos, já transcendeu a materialidade, e agora faz do viaduto uma parte da história da vida daqueles que o têm em suas janelas. “Pessoas que estão ali por 37 IL V A , 2 0 1 2 . in ci p ai s vi as . Fo n te : SI LV rs o d o M in h o cã o e p ri n c Legenda Elevado Costa e Silva Vias principais Distrito Santa Cecília F ig u ra 2 2 – Pe rc u rs o 38 o . Fo n te : SI LV A , 2 0 1 2 . o i n fe ri o r d o E le va d o . es d e p ap el ão o cu p am o o re s d e ru a, c at ad o re s F ig u ra 2 3 – M o ra d o r 39 opção ou não, há muito ou pouco tempo, de diferentes idades e origens. O Elevado provoca e converge os olhares: de janela para janela, do segundo andar para a via expressa, do carro para dentro do apartamento, do ônibus para o comércio, do comerciante para o transeunte, da cobertura para a paisagem”4. Apesar da “cicatriz” deixada na cidade, o Minhocão toma parte na comunicação leste- oeste do município, a qual, juntamente com o eixo norte-sul, constituem as ligações fundamentais da capital. Ademais, aos domingos e feriados ele renasce como local de lazer e ponto de convivência, sendo interditado de forma a possibilitar a prática de ciclismo e caminhadas. O cenário é irreconhecível: por cima da via elevada, várias pessoas caminhando, outros se exercitam em suas bicicletas, animais de estimação livres a correr (Figura 24). O percurso é longo, a via, larga, há espaço para todos. Assim, o elevado tem desenvolvido importante função como palco para a vida urbana e eventos públicos, como na Virada Cultural, Meia Maratona Internacional de São Paulo e até para Blocos Carnavalescos.para Blocos Carnavalescos. − Eu moro na [Avenida] São João. Eu gosto de vir aqui [no Minhocão], é o lugar mais seguro pra gente ficar, praticar esporte, deixar os animais soltos. [morador jovem do bairro Santa Cecília] − Viemos do Belém do Pará. A gente mora há 9 anos no Campos Elíseos, e vem aqui no Minhocão às vezes. Gostamos muito daqui. [...] O bairro ficou mais sujo nos últimos anos. [...] Nunca tivemos problema com segurança, mas a aparência é ruim por causa da Cracolândia e do Centro Comunitário de Apoio da Prefeitura que fez com que ficassem uns drogados na rua. [casal jovem moradores do bairro Campos Elíseos, bairro vizinho de Santa Cecília] 4 http://www.elevadotrespontocinco.com.br/elevado35/ 40 te : SI LV A , 2 0 1 2 . sa á re a d e la z er . Fo n te : in h o cã o , u m a ex te n sa ss o as e n co n tr am n o M in in s d e se m an a, a s p es so F ig u ra 2 4 – A o s fi n s 41 O terreno O projeto será implantado no município de São Paulo, no bairro Santa Cecília (Figura 15). Tal bairro compõe o Centro Velho de São Paulo, e mostra-se sob intenso processo de degradação. Apesar disso, abriga importante complexo arquitetônico, histórico e cultural. Assim como os demais bairros da área central, Santa Cecília é composto por um completo sistema que infraestrutura que inclui abastecimento de água, pavimentação, coleta de lixo, sistema de esgoto, iluminação pública, saúde, lazer e transporte público.de lixo, sistema de esgoto, iluminação pública, saúde, lazer e transporte público. O terreno totaliza uma área aproximada de 8350,41 m² e é circunscrito pelas ruas Sebastião Pereira, Ana Cintra e Avenida General Olímpio da Silveira, esta última sobreposta pelo Elevado Costa e Silva. Consiste num terreno plano, cujo subterrâneo é parcialmente ocupado pela estação do metrô Santa Cecília. É a estação de menor profundidade – apenas 12 metros – devido ao característicoÉ a estação de menor profundidade – apenas 12 metros – devido ao característico geológico da região, mostrando subsolo rochoso à profundidade de 15 metros. Além desse fato, os técnicos apontaram como fator de maior interferência o cruzamento do eixo de implantação do Metrô com o sistema viário elevado (JORGE, 2006, p. 92). Sua superfície é, na maior parte, coberta por vegetação (rasteira e de médio porte), apresentando, ainda, porções pavimentadas utilizadas como estacionamento para os funcionários do Metrô (Figura 26), embora tenham sido inicialmente idealizadas com afuncionários do Metrô (Figura 26), embora tenham sido inicialmente idealizadas com a função de praça pública. O terreno encontra-se cercado com grades de ferro, o que restringe seu acesso, como mostra a Figura 27. Em relação ao subterrâneo, o terreno conta com uma entrada que desemboca na estação abaixo do nível do solo. Numa pequena área, em frente à Igreja Santa Cecília, outra entrada permite acesso ao nível inferior. Na lateral do terreno, abaixo do Minhocão, assenta o terminal de ônibus AmaralNa lateral do terreno, abaixo do Minhocão, assenta o terminal de ônibus Amaral Gurgel (Figura 28). 42 Figura 25 – Mapa de Localização. Fonte: Silva, 2012. 43 te : SI LV A , 2 0 1 2 . n ár io s d o M et rô . Fo n te : io n am en to d o s fu n ci o n á F ig u ra 2 6 – Es ta ci o n 44 te : SI LV A , 2 0 1 2 . o p ú b li co à á re a. F o n te : s re st ri n g em o a ce ss o p su l d o t er re n o : g ra d es r F ig u ra 2 7 – V is ta s u 45 , 2 0 1 2 . l G u rg el . Fo n te : SI LV A , 2 in al d e ô n ib u s A m ar al G F ig u ra 2 8 – T er m in a 46 De acordo com a Lei de Uso e Ocupação do Solo (2004) (Figura 29), o terreno situa-se numa Zona Mista de Alta Densidade (ZM-3b), fato que possibilita à área contemplar tipologias diversas a partir da fixação de edificações com usos variados e/ou combinados. Nesta área a lei estabelece os seguintes critérios: coeficiente de aproveitamento mínimo igual a 0,20, básico igual a 2,0 e máximo variando de 2,0 até o limite de 2,5. A taxa de ocupação máxima é 0,50, todavia, poderá chegar a 0,70 quando o gabarito de altura da edificação não exceder 12,00 m. Quanto à taxa de permeabilidade mínima, define-se 0,15, e testada mínima de 5,0 m. O gabarito de altura máximo é ilimitado. No que se refere aos recuos, o recuo frontal mínimo é 5,0 m, enquanto nos fundos e laterais, restringe-se somente se a altura da edificação exceder 6,0 m, devendo, assim, utilizar-se a fórmula R = (H - 6) ÷ 10, onde R = recuos laterais e de fundos; H = altura da edificação em metros contados a partir do perfil natural do terreno. A tipologia de ocupação do solo predominante é a mista, na qual se associam edifício de apartamentos residenciais e estabelecimento comercial no pavimento térreo. Asde apartamentos residenciais e estabelecimento comercial no pavimento térreo. As edificações, em sua maioria, ocupam toda a extensão do lote – com exceção das mais recentes –, tendo em vista que na época de sua concepção tais instrumentos urbanísticos eram inexistentes e a disciplina urbana relegada ao segundo plano. 47 Figura 29 – Mapa de Uso e Ocupação do Solo. Fonte: Prefeitura de São Paulo, 2004. 48 Containeres Urbanos no Bairro da Santa Cecília O primeiro aspecto a ser considerado no que se refere ao projeto são as condicionantes principais verificadas a partir do levantamento da área, as quais citamos: a estação de metrô Santa Cecília situada no subsolo – restringindo as áreas passíveis de apoio da estrutura; e a massa arbórea intensa distribuída pelo terreno. Logo, optou-se por implantar o projeto na extremidade do mesmo, onde a vegetação é reduzida e a estação metroviária não se faz presente (Figura 30).metroviária não se faz presente (Figura 30). À luz dos agrupamentos sociais identificados no bairro Santa Cecília, somados à sua multiplicidade de aspectos e usos, o projeto foi idealizado a partir do conceito de conjunção Figura 30 – Mapa de Implantação. Fonte: SILVA, 2012. multiplicidade de aspectos e usos, o projeto foi idealizado a partir do conceito de conjunção urbana, buscando-se a articulação dos três elementos fundamentais – em níveis distintos – existentes na área a ser intervida, e seus significados: a estação de metrô no subsolo – fonte principal do fluxo de pessoas da região e ponto de interligação com outras partes da cidade – 49 a praça no piso térreo – importante espaço de lazer e convivência, atualmente inutilizada para este fim –, e o Minhocão em nível elevado – reflexo da priorização do tráfego e concomitante palco para a manifestação da vida pública nos fins de semana. Foram assumidos, para tal diretriz, o conceito de rizoma, extraído da filosofia deleuzeana (DELEUZE E GILLES, 1997). Sistema baseado, entre outros princípios, na multiplicidade e conexão, no qual “os pontos não são fixos, [mas] deslocam-se formando linhas [...]. O rizoma funciona por descentralizações em diferentes dimensões. Ao contrário da árvore, não se preocupa com origens (ou raízes) [...].” A noção de unidade é sobreposta pela de multiplicidade, tornando “o sistema aberto e voltado para o exterior” (JACQUES, 2003, p.132), podendo sempre se reconstituir após rupturas. Nesse sentido, optou-se pela utilização de contêineres, os quais propiciam flexibilidade e adaptabilidade ao projeto – em razão de sua mobilidade, além da possibilidade de ampliação e modificação da estrutura 5. São, também, polivalentes, podendo acomodar funções variadas: ainda que “simples no sentido elementar, mostram-se capazes defunções variadas: ainda que “simples no sentido elementar, mostram-se capazes de responder virtualmente a todos os requisitos espaciais” (HERTZBERGER, 1999, p. 133.). Ademais, o uso dos contêineres mostrou-se ideal, tendo em vista a busca por uma arquitetura menos rígida e mais permeável, oposta a um volume colossal e único. (Figura 31) A ideia de não gentrificar a área implicou em uma reflexão quanto ao uso público dos espaços privatizados. Logo, o projeto despontou como um complexo multifuncional composto por unidades assistenciais, ou seja, dispositivos de apoio aos usuários da área, constituindo um conjunto com usos diversificados destinados a públicos variados. Os usos foram definidos tendo em vista um levantamento etnográfico do bairro, a partir do qual se reconheceu a necessidade de inserir determinados grupos sociais e usuários na participação s o c i a l e i n t e g r á - l o s à e s t r u t u r a 5 Cita-se ainda, outras vantagens proporcionadas pela utilização de contêineres, das quais se destacam: baixo custo de instalação e manutenção, rapidez de instalação, ecologicamente correto. Exemplo bem sucedido de sua utilização tem sido a obra premiada do arquiteto chileno Sebastian Irarrazaval. 50 urbana; além de promover uma arquitetura característica dos usuários, isto é, retratar um espaço público democrático que representasse a cultura pública urbana do local. Objetivou- se, então conceber um projeto “mais sensível às responsabilidades individuais e à proteção pessoal daqueles que estão diretamente envolvidos, [...] [a fim de] se tornar mais intensamente usado e, portanto, mais rico” (HERTZBERGER, 1999, p. 86). Desta forma, foram estabelecidas para o complexo as seguintes funções e programa: � Praça – já existente, porém não utilizada. Propõe-se sua reabertura e ampliação; � Núcleo de Inserção Produtiva para pessoas em situação de rua – oferece oficinas de capacitação para qualificar e reinserir essas pessoas no mercado de trabalho, provendo autonomia financeira e inclusão social. As oficinas escolhidas foram: � Oficina de Arte Urbana visando não só a valorização da arte – visto que o Bairro Santa Cecília apresenta em seu DNA uma veia artística e pode se consolidar com essa identidade para a cidade –, bem como fornecer às pessoas em situação de rua uma forma de expressão e participação na produção da paisagem urbana;forma de expressão e participação na produção da paisagem urbana; � Oficina de Marcenaria destinada aos catadores de móveis, possibilitando que restaurem as mobílias adquiridas e possam revendê-las por valores mais dignos. Será disposto, também, um espaço para depósito destes móveis, e para sua comercialização (loja). � Unidade de apoio aos atletas – destinada aos corredores e praticantes de ciclismo e caminhada, os quais utilizam o Minhocão nos fins de semana. Este será um espaço dedicado à assistência de saúde, onde serão dispostos bebedouros e oferecidos serviços de massagem expressa, aferição de pressão arterial, e cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC). � Botequim – pensado para atender a todos e quaisquer usuários do complexo. À noite, o espaço será cedido para alguma entidade social que vise promover distribuição caritativa de alimentos às pessoas em situação de rua; � Administração – implantada com a finalidade de organizar as atividades nas oficinas, bem como seus participantes; 51 Figura 31 – Complexo multifuncional composto por contêineres. SILVA, 2012. 52 � Lavanderia e guarda-pertences – destinados unicamente às pessoas em situação de rua, propondo-se a higienização de seus vestuários e conservação de seus pertences durante o período das oficinas; � Banheiros químicos – serão dispostos a fim de atender além dos usuários do complexo, os feirantes presentes aos domingos na feira-livre da Rua Sebastião Pereira. Os banheiros com duchas destinam-se aos moradores de rua, os quais terão necessidade de banhar-se, caso queiram, para participar das oficinas. A utilização deste tipo de banheiro deve-se à sua qualidade móvel, característica essa estimada no projeto, visto o objetivo da flexibilidade. Como já mencionado, Santa Cecília constitui um bairro de passagem, fato que ensejou a escolha dos fluxos de pessoas à guisa de partido arquitetônico. Assim, propôs-se, primeiramente, a abertura da praça já existente por meio da remoção das grades, a fim de permitir o acesso livre ao terreno em questão (uma vez que a praça – utilizada comopermitir o acesso livre ao terreno em questão (uma vez que a praça – utilizada como estacionamento para os funcionários do Metrô –, fora reaberta, foi desenvolvido um novo estacionamento ao lado do complexo). Desta forma, obteve-se de imediato, através da praça, uma passagem no sentido transversal do terreno, a qual confere ligação entre a Rua Sebastião Pereira e a Avenida São João, paralela à primeira. Nesse sentido, também se configurou a orientação principal do projeto: adjacente ao viaduto (Figura 32). Ergueu-se, assim, um conglomerado mais transparente de componentes menores (os contêineres, de 45’). Estes foram empilhados irregularmente formando blocos, os quais se conectam por meio de passarela. O acesso vertical entre os contêineres dá-se por meio de escadas e uma plataforma (destinada aos deficientes), também utilizada como monta-carga para os móveis recolhidos pelos carroceiros. Já o acesso entre o complexo e o subsolo é realizado por um elevador (Em ambas as estruturas, da plataforma e do elevador, foram utilizados contêineres na posição vertical). 53 As entradas e saídas, passagens e acessos, fazem o complexo parecer mais um trecho da cidade do que um “edifício”. O projeto foi concebido visando a criação de um espaço literalmente público, qualidade especialmente explorada através da ligação do complexo com a estação do metrô e com o Elevado em nível superior. Tal ligação com o Figura 32 – Mapa com a nova passagem e orientação do complexo. Fonte: SILVA, 2012. Minhocão dá-se através de uma viga vierendeel de aço com perfis “I”, a qual forma uma extensa passarela vazada até o complexo, capaz de vencer o grande vão dispensando o uso de pilares (Figura 33). O objetivo foi criar uma alusão ao elevado, de forma a amenizar a gradação entre os dois espaços, tornando-o, assim, mais convidativo. Importante salientar que o complexo é composto por uma estrutura básica, a qual se expressa como uma porção essencialmente fixa e permanente, e por uma porção variável eexpressa como uma porção essencialmente fixa e permanente, e por uma porção variável e flexível. Alguns dos contêineres deverão ser estáveis, dada a imobilidade das fundações – estritamente necessárias –, e a posição inalterável da viga vierendeel e do elevador de acesso ao subsolo. 54 55 No que se refere à especificações técnicas, cita-se a utilização de placas cimentícias, com as quais um dos contêineres de oficina de arte urbana será revestido, a fim de receber as produções advindas das oficinas, para exposição. Nos contêineres destinados à circulação vertical e à administração, serão aplicados painéis de aço. Para o revestimento interno, por sua vez, serão utilizadas paredes drywall com 95mm de espessura, montantes simples de largura 70mm e espaçamento de 60 cm entre montantes. O isolamento termoacústico das paredes e teto dar-se-á por meio de lã de PET Isosoft com espessura de 50mm. Uma vez constituído de garrafas pet, tal tratamento é integralmente de material reciclado. Os principais benefícios deste material são a fácil instalação e manuseio, melhor custo-benefício, rápida execução e obra limpa. Ademais, o material não cede ao longo do tempo, mantendo suas propriedades isolantes permanentemente. 56 Referências AMARAL, M. B. Limites e possibilidades: a relação edifício/cidade na Avenida Paulista. 2007. 182 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. ANELLI, R. L. S. Redes de mobilidade e urbanismo em São Paulo: das radiais/perimetrais do Plano de Avenidas à malha direcional PUB. Vitruvius, São Paulo, mar. 2007. Disponível em: . Acesso em: 6 nov. 2011. ANTUNES, F. M. R. F.; ALBA, L. B. O tombamento de antigas residências em Santa Cecília. Informativo arquivo histórico municipal, São Paulo, jun. 2007. Disponível em: . Acesso em: 2 jun. 2012. ATIQUE, F. Ensinando a morar: o Edifício Esther e os embates pela habitação vertical em São Paulo (1930-1962). Rev. 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