UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS E CIÊNCIAS EXATAS IGCE - RIO CLARO ENGENHARIA AMBIENTAL “ANÁLISE PALEOGEOGRÁFICA EVOLUTIVA DA REGIÃO DO PARQUE ESTADUAL DA ILHA DO CARDOSO (PEIC), LITORAL SUL DE SÃO PAULO, COMO SUBSÍDIO A AÇÕES DE PLANEJAMENTO E CONSERVAÇÃO AMBIENTAL” LARISSA CRISTINA LOPES CAL Novembro - 2007 Monografia apresentada à Comissão do Trabalho de Formatura do Curso de Graduação em Engenharia Ambiental, do Instituto de Geociências e Ciências Exatas – Unesp, Campus de Rio Claro (SP), como parte das exigências para o cumprimento da disciplina Trabalho de Formatura no ano letivo de 2007. iii “Passamos os dias de nossas vidas ansiando pela realização dos nossos sonhos para depois vivermos de suas recordações” Larissa C. L. Cal iv DEDICATÓRIA À minha mãe por seu amor e seu exemplo À minha família por tudo que representam para mim Ao meu namorado Matheus pelo amor, carinho e companheirismo Ao meu “bebê” por todo o amor e alegria v AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar, agradeço a Deus pela minha vida e por todas as oportunidades que recebi ao longo dos meus vinte e dois anos. Posso dizer que sou uma pessoa agraciada. Agradeço à minha mãe, por todos os seus esforços compreendidos até aqui, lutando praticamente sozinha, para que eu pudesse conquistar o meu lugar ao sol. Obrigado mãe, você é demais! Agradeço ao Prof. Dr. Jairo Roberto Jiménez-Rueda pela orientação, por acreditar em mim, e por ter aberto as suas portas enquanto outros me fechavam. Um verdadeiro mestre! Agradeço à Patrícia Lupi Gimarães (Paty), grande amiga, com quem dividi muitos momentos de dúvidas e aflições, e que sempre me socorreu no que eu precisei, inclusive no começo desse trabalho. Obrigada. Agradeço ao colega de orientação Fabiano do Nascimento Pupim. Obrigada por toda a sua ajuda nessa fase final do meu trabalho. Bom, agradeço a todas as pessoas da Unesp que de alguma forma contribuíram com este trabalho: ao Décio (pesquisador visitante da ANP), ao Miguel (GT de Sensibilidade Costeira do PRH – 05, ANP) por ter me disponibilizado as cartas do trabalho do Arthur, as quais foram imprescindíveis. Pelo Cláudio de Rondônia (Sombrão), pessoa que me ajudou tanto no trabalho, quanto nos meus desabafos. Foram horas muito boas de conversa. Agradeço também à Siane, que me apresentou pela primeira vez aos Mapas de Isobases. Agradeço de coração. À Cíntia, pelos seus conselhos e “toques” desde a fase Fapesp. Agradeço à Wânia, do DPM, por toda a ajuda recebida em todos os momentos que precisei, por toda a simpatia e pelos momentos de conversa. Agradeço também à Nilcinha, do DPM, por sempre ter me tratado tão bem e me ajudado em qualquer coisa que eu pedisse. À Cidinha (da biblioteca) que fez a correção das minhas referências segundos as normas da ABNT, e à todas as outras meninas que nos atendem de maneira tão simpática e amorosa. Muito obrigada. Agradeço à minha prima Débora pela ajuda com o abstract (afinal não dava tempo de eu traduzir sozinha). A todos os colegas da sala do Jairo, pelos momentos de risada e de ajuda mútua nos trabalhos. Agora os agradecimentos pessoais: agradeço a todos os meus colegas da 1° turma de Engenharia Ambiental da Unesp de Rio Claro por todos os momentos vivenciados juntos, os quais serão certamente inesquecíveis. Lembremo-nos: “Veterano que é veterano nunca foi bixo”!!!! vi Ao quarteto fantástico (Thaís, Natasha, Marcela e eu), por todos os momentos juntas, pelas risadas, mas também pelas divergências, pois são através delas que nos aprimoramos. Um agradecimento especial aos meus melhores amigos de Rio Claro, Thaís e Topete (Augusto Senatore). Pelas nossas viagens que sempre serão inesquecíveis. Ah, ao Clayton também pelas risadas. Não poderia esquecer do Cantagalo e da confiança que ele depositou sempre em mim. À minha família em São José do Rio Preto, avós (em especial ao meu avô, por todo o apoio desde o início), tios e tias, primos, e um agradecimento especial à minha avó Cleide Cal e à minha tia Cristina Helena. Vocês sempre acreditaram e acreditam que eu sou a melhor. Amo todos vocês. À minha melhor amiga Janaina, amiga de não sei quantos anos (uns 13 ou 14 talvez), e do resto da minha vida. Jana, você é como uma irmã. Te amo!!!! Á minha “família” de Americana: Miriam, Celso, Thiago e Yara, Carol e Jorge. Obrigada por me acolherem. À minha família: mãe, pai e irmãos. Carlos, nunca vou esquecer de colocar um tijolinho no bolso e Rômulo, sem palavras....Amo vocês dois demais....Mãe, nem todas as palavras do mundo poderiam exprimir meu sincero amor e gratidão por você e por tudo que você sempre fez e faz para mim. Pai, apesar das divergências também te agradeço por muitos conselhos (nem que fossem meio tortos). Também te amo muito. E por fim gostaria de agradecer a dois seres muito especiais que Deus colocou na minha vida. Um se chama Matheus Ortega Pietrobon, meu amor, que sempre me apoiou, me amparou, me segurou nos momentos difíceis, e com quem compartilhei e ainda compartilharei tantas alegrias. Te amo e te adoro muito. E o outro se chama Floquinho, meu bebê peludo, que sempre me recebe com a maior alegria do mundo, que me consola quando estou triste, e que me dá o amor mais puro e incondicional que pode existir nesse mundo. Te amo demais!!!!! vii RESUMO A Ilha do Cardoso, localizada no extremo sul do litoral paulista, caracteriza-se por sua importância ecológica em função da grande quantidade de biodiversidade de Mata Atlântica, bem como por abrigar diversos tipos de ecossistemas como, entre outros, os manguezais, tendo sido considerada pela UNESCO como patrimônio natural da humanidade Os manguezais estão entre os mais importantes ecossistemas marinhos, conhecido como garantia de produtividade e diversidade biológica e fonte de recursos alimentares e econômicos para a população da local. Embora a Ilha do Cardoso tenha sido transformada em parque estadual com fins de preservação, ela não se encontra livre de impactos ambientais gerados por atividades antrópicas. Dessa maneira propôs-se uma reconstituição dos processos evolutivos da região, com o objetivo de subsidiar programas de conservação e planejamento, visando o desenvolvimento sustentável. Para tanto se utilizou a metodologia da análise de isobases, onde a partir da ordenação e hierarquização dos canais de drenagens e suas confluências gera- se mapas relativos aos diferentes níveis de base (isobases), caracterizando-se por uma tentativa de reconstituir a paisagem pretérita local. Foram elaborados oito mapas referentes a quatro ordens de confluências encontradas na região da Ilha do Cardoso e entorno, onde pode se concluir que se trata de uma metodologia adequada para a reconstituição de ambientes pretéritos que visem principalmente ações de planejamento e conservação ambiental. viii ABSTRACT Cardoso Island, settled in the south of paulista region, is characterized by its ecological importance due to the great biodiversity of Mata Atlântica and for accommodating several kinds of ecosystems as mangroves, which were considered by UNESCO as human natural ownership. The mangroves are among the most important marine ecosystems, known as warranty of biological productivity and diversity and supply of food and economical resources to the local population. Although the island has been transformed in a state park for preservation, it hasn’t become free from environmental impacts made by antropical activities. This way it was proposed a rebuilt of an evolutionary process in the region, having as an objective to subsidize programs of environmental conservation and planning , aiming to a sustainable development. For this it was used a isobasis methodological analyses where by the drainage channels and its confluences makes relative maps to the different base levels represented by the isobasis, characterizing itself by an attempt to rebuilt the preterit local landscape. There were elaborated eight maps referring to four orders of confluences met in the region of Cardoso Island and round it where you can conclude it is about an appropriate methodology to rebuilt preterits environments that specially aim to actions of environmental planning and conservation. ix ÍNDICE Pág. 1. INTRODUÇÃO..................................................................................................................1 2. OBJETIVOS.......................................................................................................................3 3. MÉTODOS E ETAPAS DO TRABALHO......................................................................4 3.1. Diagnóstico Zero da área de estudo.................................................................... 4 3.1.1. Características gerais da área de estudo................................................. 4 3.1.2. Aspectos Sócio – Econômicos ............................................................... 6 3.1.3. Contexto Histórico – Social ................................................................... 6 3.1.4. Parque Estadual da Ilha do Cardoso (PEIC) .......................................... 6 3.1.5. Aspectos Biológicos .............................................................................. 7 3.1.5.1.Vegetação....................................................................................7 3.1.5.2.Fauna...........................................................................................8 3.1.6. Aspectos Físicos .................................................................................... 8 3.1.6.1.Geomorfologia.............................................................................8 3.1.6.2.Geologia......................................................................................9 3.1.6.3.Pedologia...................................................................................11 3.1.6.4.Palinologia................................................................................11 3.1.6.5.Hidrologia..................................................................................12 3.1.6.6.Climatologia..............................................................................12 3.2. Manguezais da Ilha do Cardoso..........................................................................13 3.2.1. Flora.......................................................................................................15 3.2.1.1.Gênero Rhysophora...................................................................16 3.2.1.2.Gênero Aviccenia.......................................................................17 3.2.1.3.Gênero Laguncularia.................................................................17 3.2.1.4.Criptógamas..............................................................................18 3.2.2. Fauna.....................................................................................................18 3.2.3. Microbiota.............................................................................................19 3.2.3.1.Cianofíceas................................................................................19 3.2.3.2.Foraminíferos............................................................................19 3.2.4. Solos......................................................................................................20 3.2.5. Ciclagem de Nutrientes.........................................................................20 3.3. Qualidade Ambiental...........................................................................................21 x 3.4. Aspectos Evolutivos..............................................................................................22 3.4.1. Mapas de Isobases.................................................................................22 4. DISCUSSÃO.....................................................................................................................27 4.1. Variações do nível do mar...................................................................................27 4.1.1. Evidências do nível do mar abaixo do atual..........................................29 4.1.2. Evidências do nível do mar acima do atual...........................................29 4.2. Configuração do costa litorânea no período atual............................................31 4.3. Configuração da costa na área de estudo e entorno..........................................31 4.3.1. Mapa de Isobases de 2° ordem..............................................................33 4.3.2. Mapa de Isobases de 3° ordem..............................................................36 4.3.3. Mapa de Isobases de 4° ordem..............................................................37 4.3.4. Mapa de Isobases de 5° ordem..............................................................39 5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES......................................................................40 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................42 xi ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1 – Mapa de Localização da Ilha do Cardoso (Fonte: Bernardi (2001)).......................5 Figura 2 – Vias de Acesso (Fonte: Bernardi (2001).....................................................................5 Figura 3 - Principais ambientes litorâneos da Ilha do Cardoso (Fonte: Wieczorek (2006))..........14 Figura 4 (a) – Mangue Vermelho (Gênero Rhyzophora) (Fonte: Prahl et al (1990))..............16 Figura 4 (b) – Raízes do Gênero Rhyzophora (Fonte: Prahl et al. (1990))........................................17 Figura 5 (a) – Mangue Preto (Gênero Aviccenia) (Fonte: Prahl et al. (1990))..........................17 Figura 5 (b) – Raízes do Gênero Aviccenia (Fontes: Prahl et al. (1990))...........................................18 Figura 6 – Estruturas do Gênero Laguncularia (em ordem raízes, folhas, flores, frutos e embriões e plântulas) (Fonte: Prahl et al. (1990))................................................................................18 Figura 7 – Esquema de Hierarquia de Canais e Confluências (Fonte: Pupim (2007)).........25 Figura 8 – Mapa de Confluências (Ilha do Cardoso e entorno)..........................................26 Figura 9 - Curvas de variações do nível do mar nos últimos 7.000 anos para a região de Cananéia-Iguape. (Fonte: Suguio et.al (1985) em Suguio (2003)).......................................................28 Figura 10 – Mapa de Isobases de 2° ordem (isolinhas)..................................................33-34 Figura 11 – Mapa de Isobases de 2° ordem (cores)........................................................33-34 Figura 12 – Mapa atual da região da Ilha do Cardoso........................................................34 Figura 13 – Esquema proposto para a conformação da Ilha do Cardoso (5.100 anos A.P.). (Fonte: Bonetti Filho (1995) citado por Coelho Jr. (2003)....................................................36 Figura 14 - Mapa de Isobases de 3° ordem (isolinhas)...................................................36-37 Figura 15 - Mapa de Isobases de 3° ordem (cores).........................................................36-37 Figura 16 - Mapa de Isobases de 4° ordem (isolinhas)...................................................37-38 Figura 17 - Mapa de Isobases de 4° ordem (cores).........................................................37-38 Figura 18 - Esquema proposto para a conformação da Ilha do Cardoso (120.000 anos A.P.). (Fonte: Bonetti Filho (1995) citado por Coelho Jr (2003).....................................................38 Figura 19 - Mapa de Isobases de 5° ordem (isolinhas)...................................................39-40 Figura 20 - Mapa de Isobases de 5° ordem (cores).........................................................39-40 ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1 - Tipos fisiográficos de manguezais e parâmetros observados em ortofotos e em campo (Fonte: Wieczorek (2006))......................................................................................................................14 http://www.csc.noaa.gov).................16/ http://www.worldwildlife.org).................17/ 1 1. INTRODUÇÃO Localizada no extremo sul do litoral paulista, a Ilha do Cardoso, pertencente ao município de Cananéia, possui importância ecológica em função principalmente da grande biodiversidade de Mata Atlântica presente na área. Também abriga uma série de outros ecossistemas como restingas, florestas e manguezais. Tais fatos contribuíram para que a Ilha do Cardoso fosse declarada como patrimônio natural da humanidade pela Unesco, tendo sido transformada em Parque Estadual em 1962. Dentre todos os ecossistemas presentes no Parque Estadual da Ilha do Cardoso (PEIC), será abordado neste estudo o ecossistema manguezal por cosntituírem um dos mais importantes ecossistemas costeiros. Os manguezais têm sido estudados desde tempos imemoriais por diversos autores, e que abordaram os mais diversos parâmetros físicos e bióticos, que compõem esses ecossistemas. A definição de mangues apresentada por Prahl et al. (1990) diz que são plantas lenhosas não necessariamente relacionadas entre si, com algumas famílias de árvores e arbustos características desse tipo de ecossistema, entre elas Família Rhizophoraceae, Família Acicenniaceae, Família Combrataceae, Família Theaceae, e Família Caesalpinaceae. Suguio (1992) define mangue como o termo coletivo usado para gêneros de plantas halófitas características de regiões costeiras tropicais ou subtropicais. Já o termo manguezal, segundo a definição do mesmo, é o ambiente caracterizado pela associação de árvores e arbustos (Rhyzophora mangle, Laguncularia racemosa, Aviccenia sp.), gramíneas (Spartina sp.), todas plantas halófitas que se desenvolvem em planícies de maré protegidas, margeando lagunas e estuários de regiões quentes e úmidas, e comunidades animais associadas a esses ambientes (Schaeffer-Novelli, 1994). Em termos de variabilidade estrutural, as espécies de manguezais são bastante diferentes, uma vez que o gênero Rhizophora costuma estar associado a sedimentos orgânicos e argilosos finos, enquanto Aviccenia é encontrada em terrenos mais altos formando extensos bosques (Schaeffer-Novelli, 1994). Rossi et Mattos (2002) afirmam que são áreas dinâmicas, pedologicamente instáveis, seja pela constante deposição de areias do mar, seja pelo rejuvenescimento do solo ribeirinho, com deposições aluviais e lacustres e Cunha-Lignon (2001) os considera como importantes transformadores da matéria orgânica em nutrientes e geradores de bens e serviços. 2 No estudo de áreas de mangues, devem ser levados em conta fatores de variabilidade temporal que influem e condicionam o seu desenvolvimento, como sedimentação e erosão, fatores climáticos, geológicos e geomofológicos, entre outros. Os manguezais geralmente se desenvolvem em áreas cujo relevo topográfico suave está exposto a marés de grande amplitude, áreas geomorfologicamente ativas, que apresentem elevados índices de precipitação fluvial, fartos aportes de água doce de rios, ricos em nutrientes (Schaeffer-Novelli, 1994), ou seja, que recebem grandes quantidades de sedimento. A vegetação de mangue está constantemente respondendo e se ajustando aos processos geomorfológicos, em ambientes dinâmicos, onde o relevo é continuamente retrabalhado e remodelado por forças externas, como as variações do nível do mar e processos tectônicos que remodelam o relevo. Os manguezais dominam os habitats costeiros de regiões tropicais e subtropicais, e caracterizam os ecossistemas estuarinos dessas regiões, constituindo, durantes milhares de anos, um importante recurso econômico utilizado pelas populações costeiras dos trópicos. Por essa razão, os manguezais são usualmente considerados entre os habitats mais importantes das zonas úmidas (Coelho Jr., 2003). Muitos organismos encontrados sob as raízes das árvores ou sob o substrato lamoso apresentam grande importância econômica e servem como complemento alimentar para a população local, o qual também se caracteriza pela manutenção da qualidade das águas estuarinas, que está associada à função de filtro exercida pelos seus sedimentos lodosos (Santa Cruz, 2004). Coelho Jr. (2003) salienta que nos últimos anos tem-se dado maior atenção à conservação dos manguezais uma vez que servem como áreas de abrigo, reprodução, desenvolvimento e alimentação de espécies, pontos de pouso para aves migratórias, proteção da linha de costa evitando erosão, entre outros. Os principais fatores de degradação dos manguezais são decorrentes do relacionamento incorreto entre o homem e o meio ambiente como lançamento de esgotos domésticos, atividades turísticas, expansão imobiliária, aterramento para construção de bairros residenciais, desmatamento e exploração de madeira e principalmente derrames de petróleo e outras substâncias tóxicas. A Ilha do Cardoso foi transformada em parque estadual com a finalidade de garantir a preservação dos ambientes inseridos em seu território, tendo sido elaborado um plano de manejo que regularizasse as atividades realizadas na área (Beccato, 2004). Porém isto não isenta a área da possibilidade de sofrer impactos decorrentes de atividades antrópicas, como impactos oriundos da exploração turística, que se caracteriza como uma importante fonte de 3 renda para muitas famílias que habitam determinadas áreas da ilha, e impactos oriundos de acidentes e derramamentos de petróleo e substâncias tóxicas. O fato de a ilha estar localizada entre dois portos de grande importância econômica (o porto de Santos ao norte e o porto de Paranaguá ao sul), faz com que essa área esteja bastante vulnerável a acidentes e derrames que podem ocorrer entre esses portos. Para Suguio (2003), a melhor compreensão dos processos evolutivos de uma área, intimamente relacionados a eventos geológicos, geomorfológicos e climáticos que regem a dinâmica dos ambientes, devem subsidiar as ações de planejamento e programas de conservação que visem o desenvolvimento sustentável, sem prejudicar a sobrevivência dos ecossistemas presentes, salientando que este desenvolvimento, com inteira garantia de conservação das regiões litorâneas, nunca deveria ser implementado ignorando-se a importância ecológica dos manguezais. Por tais razões propôs-se a elaboração de um estudo que caracterizasse os diferentes aspectos biofísicos, sócio-econômicos e culturais presentes na Ilha do Cardoso, a interpretação e correlação de dados fisiográficos e ambientais, objetivando a reconstrução evolutiva da paisagem, por meio da interpretação de mapas de isobases obtidos pelo método de análise dos diferentes níveis de base da área (gerados a partir dos canais de drenagem da área e suas confluências), visando subsidiar ações de planejamento e conservação dos ambientes presentes na área. 2. OBJETIVOS Realizar o Diagnóstico Zero da área da Ilha do Cardoso; Realizar a revisão bibliocartográfica dos dados existentes sobre a área de estudo; Elaborar um modelo evolutivo da área baseado na metodologia de análise das isobases, através da elaboração de Mapas de Isobases; Capacitar a aluna para a elaboração de projetos de pesquisa visando o seu desenvolvimento intelectual e técnico. 4 3. MÉTODOS E ETAPAS DO TRABALHO 3.1. Diagnóstico Zero da área de estudo Basicamente o Diagnóstico Zero consiste em um levantamento bibliocartográfico de toda a área de estudo onde, através da aquisição de dados poderá ser realizado o seu reconhecimento e posterior reinterpretação e homogeneização das suas informações (Pupim, 2007). Dessa maneira foi realizada a caracterização de diversos aspectos biofísicos/ histórico- culturais/ sócio-econômicos, através de publicações (artigo, dissertações e teses), objetivando um amplo conhecimento da área de estudo. Para Macedo (1999), a par da diversidade de possíveis composições para um mesmo espaço ambiental, uma subdivisão ampla e reconhecidamente utilizada é a seguinte: meio físico, meio biótico e meio antrópico. É válido lembrar, no entanto, que as relações entre os meios, mesmo assim organizados, são sistemáticas, sendo indesejável qualquer tratamento metodológico que não contemple esse fato. Além dos dados bibliográficos, também foram utilizados dados do Mapa Geológico do Estado de São Paulo, escala 1: 500.000 (IPT, 1981); Mapa Geomorfológico do Estado de São Paulo, escala 1:1.000.000 (IPT, 1981); Mapa Pedológico do Estado de São Paulo, escala (1:500.000) (Oliveira et al. (1999)), e cartas topográficas digitalizadas (provenientes do trabalho de Arthur Wieczorek, 2006), da região de Cananéia (SG-23-V-C-1-1, escala 1:50.000), Ariri (SG-22-X-D-III-2, escala 1:50.000), e Barra do Ararapira (SG-22-X-D-III-4, escala 1:50.000). 3.1.1. Características gerais da área de estudo A Ilha do Cardoso, denominada Parque Estadual da Ilha do Cardoso (PEIC), está localizada no extremo sul do litoral do Estado de São Paulo, na porção limítrofe da divisa com o Estado do Paraná, na região do Complexo Estuarino – Lagunar de Iguape – Cananéia – Paranaguá, limitada ao norte pelo paralelo 25°03’05’’; ao sul pelo paralelo 25°18’18’’; a leste pelo meridiano 47°53’48’’; e a oeste pelo meridiano 48°05’42’’ (Coelho, 2005; Beccato, 2004). Com uma área de aproximadamente 151 km2 a Ilha, que pertencente ao município de Cananéia, é considerada uma Área de Proteção Ambiental (APA), administrada pelo Instituto Florestal da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Weber et. al., 2001; Coelho, 2005). 5 A forma da Ilha é irregular, tendo sua porção norte alargada e a parte sul formada por uma longa e estreita faixa arenosa, com largura máxima de 700 m. A Ilha é banhada ao norte e noroeste pela Baía de Trepandé, a oeste pelo mar de Trepandé e Ararapira, a leste pelo Oceano Atlântico e ao sul pela barra do Ararapira. Localizadas próximas à Ilha se encontram as ilhas oceânicas do Bom Abrigo, Cambriú, Castilho e Figueira (Coelho, 2005; Beccato, 2004). Na Figura 1 tem-se o mapa de localização da Ilha do Cardoso e na Figura 2 tem-se as vias de acesso da Ilha do Cardoso no sul do litoral do Estado de São Paulo (Bernardi, 2001). Figura 1 – Mapa de localização da Ilha do Cardoso Fonte: Bernardi (2001) Figura 2 – Vias de acesso Fonte: Bernardi (2001) 6 3.1.2. Aspectos Sócio – Econômicos Na Ilha residem cerca de 400 pessoas (de acordo com trabalho realizado por Beccato (2004)), divididas em sete comunidades, apresentadas a seguir: Itacuruça, Maruja, Enseada da Baleia e Vila Rápida, Pontal do Leste, Foles e Cambriú, além de alguns sítios isolados (Lages, Morretinho, Ipanema, Costão dos Andrades e Trepandé). Na Ilha encontra-se também uma aldeia indígena guarani M’bya. A criação do PEIC, em 1962, proibiu o cultivo de roça, o que fez com que muitas famílias que viviam na Ilha abandonassem as suas terras. Os moradores que permaneceram na Ilha passaram a viver exclusivamente da pesca e clandestinamente do extrativismo, caça e roça (Beccato, 2004). 3.1.3. Contexto Histórico – Social Em seu trabalho, Beccato (2004) relata que os primeiros registros de ocupação da Ilha do Cardoso apontam que essa começou por volta de 5.000 anos atrás com a chegada de tribos nômades ou semi - nômades. Esses registros constam da presença de sítios arqueológicos na região, os “sambaquis”, que são constituídos por restos de fogueira, ossos humanos e de animais e utensílios. Posteriormente essa região teria sido ocupada por grupos indígenas tupiniquins e carijós, que se caracterizavam por uma economia extratora e produtora, desenvolvendo lavoura. Entre os séculos XVII e XVIII, após a chegada dos portugueses, a Ilha chegou a ser mais habitada que Cananéia. Essa ocupação continuou no início do século XX em virtude da abundância de peixes, água potável, solo fértil e riqueza de espécies da fauna e da flora. Tais ocupações na região fizeram com que parte da população que ocupava o litoral sul paulista fosse constituída por descendentes da miscigenação étnico – cultural dos indígenas, colonizadores portugueses e em menor parte dos escravos africanos. As populações existentes atualmente são denominadas caiçaras, as quais ainda mantêm como base de sua sobrevivência principalmente atividades de agricultura itinerante e da pequena pesca (Beccato, 2004). 3.1.4. Parque Estadual da Ilha do Cardoso (PEIC) Em 1962 foi criado o Parque Estadual da Ilha do Cardoso – PEIC, através do decreto 40.319, passando a ser administrado pelo Instituto Florestal (IF) (Coelho, 2005). A criação do 7 parque visava ações do tipo contenção das ações e empreendimentos imobiliários iniciados na Ilha, paralisação da exploração dos sambaquis, da fauna e da flora, criação de um parque natural, estabelecimento de uma base de estudos da Comissão de Pré – História e implantação de um instituto de pesquisa (Becato, 2004). Em 1978 foi criado o Centro de Pesquisas Aplicadas em Recursos Naturais da Ilha do Cardoso (CEPARNIC), que atualmente é conhecido por Núcleo Perequê (Coelho, 2005). A Ilha do Cardoso tornou-se Parque Estadual em função principalmente da quantidade de representantes da biodiversidade da Mata Atlântica que abriga, em diversos tipos de ecossistemas como praias, costões rochosos, estuários, rios, restingas, floresta pluvial tropical de planície litorânea, floresta pluvial atlântica e manguezal. Estes complexos ecossistêmicos consagram títulos importantes ao Parque como por exemplo “Zona Núcleo da Reserva da Biosfera – Patrimônio Natural da Humanidade”, pela UNESCO em 1992 (Beccato, 2004). 3.1.5. Aspectos Biológicos 3.1.5.1.Vegetação Prado (1997) cita que a vegetação original para a região de Iguape-Cananéia é composta de vegetação de Mata Atlântica, mangue e formações higrófilas. A vegetação da Ilha é extremamente diversificada, ocorrendo em sua extensão praticamente todas as formações vegetacionais características da faixa costeira da Mata Atlântica (Coelho, 2005). Bernardi (2001) destaca que a partir da praia até a área montanhosa, a Ilha apresenta sete tipos de vegetação: vegetação pioneira de dunas, vegetação de restinga, floresta pluvial tropical de planície litorânea, floresta pluvial tropical de Encosta da Serra do Mar, vegetação arbustiva de topo de morros altos, vegetação secundária e vegetação de mangue. Coelho (2005) ainda cita que Bernardi (2001) elaborou um mapa temático dos tipos de vegetação da Ilha do Cardoso que demonstra o mosaico de fisionomias vegetais que compõem a área de Mata Atlântica na Ilha do Cardoso. Também estão presentes no Parque cerca de 1.200 espécies de plantas identificadas com sendo, entre estas, 118 orquídeas e 41 bromélias (Beccato, 2004). Funo (2005) destaca que a margem do sistema Cananéia – Iguape é amplamente ocupada por manguezal com suas espécies arbóreas típicas, representadas por espécies como Laguncularia recemosa, Rizophora mangle e Avicnnia schaueriana. Já a área de transição, segundo o autor, é dominada por espécies como Hibiscus pernambuscenis, Acrosticum aureum, Dalbergia ecastophyllum e Annona glabra. 8 3.1.5.2.Fauna No Parque foram identificadas 70 espécies de mamíferos, destacando-se as que se encontram ameaçadas de extinção como a jaguatirica (Leopardus pardalis), a lontra (Lutra longicaudis) e o bugiu (Alouatta guariba). Também se encontram mais de 400 espécies de aves, sendo algumas migratórias e outras ameaçadas de extinção, como o jacu (Penélope obscura) e a jacutinga (Pipile jacutinga). Também se pode encontrar no Parque algumas espécies endêmicas como o morcego Lasiurus ebenus e a maior concentração de espécies de aves ameaçadas ou raras de região neotropical, como o papagaio da cara roxa Amazona brasiliensis (Beccato, 2004). 3.1.6. Aspectos Físicos 3.1.6.1.Geomorfologia De acordo com o Mapa Geomorfológico do IPT (1981), na Ilha do Cardoso predomina duas formas de relevo, com algumas subdivisões: relevos de agradação (planícies costeiras) e relevos de degradação em planaltos dissecados (relevo montanhoso-montanhas). As planícies costeiras se classificam como terrenos baixos, e mais ou menos planos, próximos ao nível do mar, com baixa densidade de drenagem, padrão meandrante, localmente anastomosados. Como formas subordinadas ocorrem cordões (praias, dunas, etc.). Já o relevo montanhoso (montanhas) classifica-se por topos angulosos, vertentes ravinadas com perfis côncavo-convexos. Também apresentam drenagem de média a alta intensidade, padrão dendrítico e vales fechados. Podem ocorrer isoladas nas planícies costeiras (IPT, 1981). Ao sul do litoral de São Paulo, na região da área de estudo, desenvolvem-se grandes planícies essencialmente formadas por depósitos marinhos ou flúvio-lagunares. Essas planícies são separadas entre si por pontões do embasamento em contato com o mar. A passagem de uma província a outra não é brusca, mas progressiva (Tessler, 1994). Ainda segundo o mesmo trabalho, as planícies sedimentares costeiras são essencialmente de origem marinha e de composição arenosa. Estes sedimentos foram depositados através de duas fases transgressivas/ regressivas principais, durante o Pleistoceno (Transgressão Cananéia) e Holoceno (Transgressão Santos), em ambiente marinho raso. Os sedimentos pleistocênicos (Fomação Cananéia), ocupam predominantemente as porções mais interiores das atuais planícies costeiras. Suas cotas vão desde 5 a 6 m de altitude em áreas mais próximas à linha de costa atual, até 9 a 10 m nas áreas mais próximas à Serra 9 do Mar. Estes sedimentos pleistocênicos apresentam uma extrema uniformidade granulométrica (Tessler, 1994). A topografia da Ilha é predominantemente montanhosa, com morros que alcançam mais de 800 m de altitude em sua região central. Da parte central para noroeste e sudoeste o relevo evolui para planícies, onde a formação vegetacional predominante são os manguezais. Ao norte, nordeste e sudeste, o relevo de grandes altitudes passa a planícies litorâneas, nas quais se salientam alguns morros esparsos. Essas planícies se apresentam quase planas ocupando o espaço entre as cotas 3 e 6 m em relação ao nível do mar (Coelho, 2005). 3.1.6.2.Geologia A costa do Estado de São Paulo apresenta dois aspectos importantes limitados pela região de Bertioga. A metade sudoeste que mostra características emergentes é formada por uma Formação Marinha Quaternária bem desenvolvida. Essa costa, que não é absolutamente estável, provavelmente foi tectonicamente ativa durante a maior parte do Quaternário, embora a influência tectônica tenha sido somente de menor importância na sedimentação do Quaternário recente (Suguio & Barcelos, 1978). Ainda segundo esses autores, a planície costeira entre as cidades de Cananéia e Iguape é muito importante porque ela contém a sedimentação quaternária mais extensa do litoral de São Paulo, o qual é caracterizado por uma série de planícies sedimentares mais ou menos extensas separadas umas das outras por promontórios do Porão Cristalino que se estende pelo mar. O embasamento cristalino de idade pré-cambriana, ao redor do complexo lagunar de Cananéia-Iguape, é de origem metamórfica vinculada ao denominado Grupo Açunguí. Os termos litológicos mais freqüentes são filitos, micaxistos, migmatitos e gnaisses com intrusões de granito, adamelitos e granodioritos. Cortando todo esse complexo de rochas, afloram rochas alcalinas instrusivas (Suguiu & Barcelos, 1978). De acordo com o Mapa Geológico do IPT (1981), na Ilha do Cardoso e entorno, predominando na área de borda da Ilha voltada para o continente, encontra-se a presença de sedimentos continentais indiferenciados, enquanto que ao redor de toda a Ilha, há a predominância de Sedimentos Marinhos-Mistos e da Formação Cananéia (Pleistoceno- Holoceno). No interior, correspondendo à parte mais elevada, encontra-se granitos alcalinos e subalcalinos, alóctones, isótropos de granulação média a grossa (Fácies Graciosa), característicos das Suítes Graníticas pós-Tectônicas. E na porção noroeste da Ilha, encontra-se 10 micaxistos, quartzo-micaxistos e xistos com intercalações quartizíticas, característicos do complexo Turvo-Cajati (Proterozóico inferior). Ainda sedundo as classificações do IPT (1981), as descrições dos litotipos encontrados na área são: - Sedimentos Marinhos-Mistos: Sedimentos atuais e subatuais, incluindo termos arenosos praiais, depósitos marinhos localmente retrabalhados por ação fluvial e/ou eólica, termos areno-síltico-argilosos, de deposição flúvio-marinha-lacustre e depósitos de mangue. - Sedimentos Continentais Indiferenciados: Depósitos continentais incluindo sedimentos elúvio-coluvionares de natureza areno-argilosa e depósitos de caráter variados associados a encostas. - Formação Cananéia: Areias marinhas finas, inconsolidadas, freqüentemente limonitizadas, com presença de esparsos leitos argilosos. A Formação Cananéia, a qual se originou provavelmente antes da transgressão do Holoceno, ocupa uma grande parte da região situada contra as rochas do Porão Cristalino, onde está localmente coberta pelas mais recentes formações continentais. Holoceno marinho e as formações transicionais estão localizadas topograficamente mais abaixo dos afloramentos da Formação Cananéia (Suguio & Barcelos, 1978). A Ilha do Cardoso é formada essencialmente por rochas pré-cambrianas, com depósitos quaternários localizados apenas em suas bordas, junto à linha de costa atual ou ao canal de Ararapira, feição que a separa do continente, segundo trabalho de Petri & Fúlfaro (1970), apresentado no Diagnóstico Ambiental da Petrobrás (Tessler, 1994). Weber et. al. (2001), apresenta um mapa geológico simplificado da Ilha onde são divididas as áreas de acordo com a geologia. Nesse mapa são apresentados os seguintes litotipos: Sedimentos Quaternários, Formação Pariquera Açu, Álcali – Feldspato Granito Itapitangui, Granitos Porfiríticos, Anfibólio/Biotita Gnaisses, Álcali – Feldspato Granito Cambriú, Álcali – Feldspato Sienito Três Irmãos e Rochas Metassedimentares. Beccato (2004) destaca que na Ilha são encontrados litotipos sedimentares como areias marinhas litorâneas correlatas à Formação Cananéia (de idade pleistocênica); sedimentos arenosos marinhos litorâneos, flúvio – lagunares e de baías arenosas e argilosas; sedimentos de mangue e pântano (areias e argilas) holocênicos; e sedimentos continentais (areaias e argilas) quaternários indiferenciados podendo recobrir formações marinhos e flúvio – lagunares. 11 3.1.6.3.Pedologia Prado (1997) apresenta a classificação dos solos para a região de Iguape-Cananéia, como sendo: Latossolo Amarelo álico A moderado com textura argilosa, Podzólico Vermelho Amarelo latossólico álico A moderado textura média/argilosa, Grupamento indiferenciado de Pdzólicos Vermelhos Amarelos A moderado textura arenosa/média, Pdozólico Vermelho Amarelo distrófico A moderado textura argilosa, Solo aluvial, Cambissolo álico a moderado textura argilosa, Glei indiscriminado, Glei pouco húmido e Orgânico. O autor ainda cita que o material de origem é proveniente de produto de alteração de corpos de composição granadiorítica a granítica (fácies Cantareira), sedimentos marinhos e mistos, areias marinhas (Formação Cananéia), sedimentos eluvio-coluvionares de natureza areno-argilosa, segundo trabalho publicado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), em 1981. Em seu estudo, Pinto (1998) apresentou três grupos de solos presentes na Ilha do Cardoso, baseado em trabalhos de outros autores, que são: solos eluviais (sobre rochas), solos sobre aluviões fluviais e solos sobre depósitos marinhos. O mesmo autor ainda apresenta cinco tipos de solos que são: Latossolo Vermelho Amarelo – Orto, Podzólico vermelho Amarelo “intergrade” para Latossolo Vermelho Amarelo, Litossolo – fase substrato granito – gnaisse, Solos Aluviais e Solos de Mangue. De acordo com o Mapa Pedológico (Oliveira et. al., 1999), a Ilha do Cardoso apresenta os seguintes tipos de solo: Cambissolos (distróficos e háplicos distróficos latossólicos), Neossolos Litólicos Distróficos, Espodossolos Ferrocárbicos Órticos e Espodossolos Ferrocárbicos Hidromórficos, Organossolos Endotiomórficos, Solos de Mangue indiscriminados e Gleissolos indiscriminados em relevo de várzea. Beccato (2004) afirma que na planície costeira destaca-se a presença de Espodossolos Ferrocárbicos Hidromórficos, que se destacam por permanecerem saturados com água, em um ou mais horizontes, dentro de 100 cm de superfície, por longos períodos, e os Neossolos Quartzarênicos Hidromórficos, que possuem o lençol freático elevado durante a maior parte do ano, são mal drenados, entre outras características. 3.1.6.4.Palinologia Vidotto et al. (2007) propõem um estudo de reconstrução da evolução do manguezal na Ilha do Cardoso a partir da análise palinológica de testemunhos obtidos em zona atualmente colonizada por este tipo de ecossistema. O estudo está sendo realizado através da 12 parceria da ESALQ/USP, CENA/USP e UNICAMP, com financiamento da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). A autora cita que as planícies costeiras como as conhecemos hoje, assim como a origem e distribuição dos manguezais são resultados da variação do nível do mar e de alterações paleoclimáticas. A autora ainda afirma, baseada em diversos autores na área, que estudos palinológicos realizados em manguezais atuais indicaram possíveis alterações do nível relativo do mar e variações climáticas durante o Holoceno nas regiões Norte, Nordeste e Sudeste. 3.1.6.5.Hidrologia De acordo com Beccato (2004), os cursos d’água que drenam a Mata Atlântica são dependentes da alta pluviosidade da área e possuem as características da água das chuvas (pH ácido e baixo conteúdo de nutrientes), já que estão associadas ao substrato antigo e altamente lixiviado do Pré – Cambriano, ou ao substrato do Pleistoceno – Holoceno das restingas. Segundo Coelho (2005), o sistema de drenagem da Ilha é do tipo radial. Os rios das vertentes norte e nordeste escoam rumo ao canal de Trepandé, os rios da vertente sudoeste drenam para o canal de Ararapira e os rios da vertente leste correm direto para o mar. Ainda segundo o autor, devido às nascentes dos rios estarem localizadas na parte central da Ilha, estes se apresentam encachoeirados e com corredeiras nas vertentes, tornando-se meândricos ao chegar na planície. Com exceção dos rios da vertente leste, os demais deságuam em áreas de manguezais (Coelho, 2005). 3.1.6.6.Climatologia De acordo com apresentado por Prado (1997), o clima da região de Iguape-Cananéia é classificado como Cwa na classificação de Köppen, apresentando temperatura média anual de 24,3°C, e precipitação média anual de 1951 mm. Segundo Beccato (2004), a área de Ilha do Cardoso se enquadra na classificação de “Clima subtropical úmido da fachada da América do Sul”, sendo a origem das chuvas diretamente relacionada à atividade da Frente Polar Atlântica. As montanhas rochosas da Ilha do Cardoso funcionam como uma barreira para o avanço das massas de ar provenientes do oceano e do sul do continente, direcionando correntes convectivas que condensam e provocam chuvas de caráter orográfico, podendo também causar nevoeiros ocasionais. Os ventos são oriundos predominantemente do quadrante sul. 13 Ainda segundo a autora, a distribuição anual das chuvas, sem estação seca, é um dos fatores determinantes para as características deste ecocomplexo. A estimativa de precipitação anual mínima é por volta de 1.400 mm, a média está em cerca de 2.000 mm e a máxima está em torno de 2.500 a 3.000 mm, sendo em janeiro, fevereiro e março os meses de maior precipitação e junho, julho e agosto os de menor quantidade de chuvas. É considerada como a região mais chuvosa do litoral paulista (Santa Cruz, 2004; Cunha-Lignon, 2001). As médias térmicas anuais oscilam entre 20°C e 22°C, proporcionando amplitudes térmicas anuais com pouca variação, com exceção de alguns dias de inverno que atingem temperaturas inferiores a 10°C a alguns dias de verão que alcançam valores entre 37°C e 40°C. O comportamento da temperatura sofre modificações importantes decorrentes da distribuição das chuvas, da orientação das vertentes em face dos ventos, bem como do relevo e sua orientação. 3.2. Manguezais da Ilha do Cardoso Os manguezais da região sudeste encontram-se sobre planícies essencialmente formadas por depósitos marinhos ou flúvio-lagunares quaternários (Schaeffer-Novelli, 1994). Dessa maneira os manguezais da Ilha do Cardoso são incluídos neste grupo. Segundo Cunha Lignon (2001), na Ilha do Cardoso a área de mangue corresponde aproximadamente a 900 ha. Wieczorek (2006) cita que os manguezais da Ilha do Cardoso são distribuídos em grupos, tais como os mangues denominados Sítio Grande e Perequê, e os manguezais ao longo do canal de Ararapira. A Figura 3 apresenta os manguezais encontrados na Ilha do Cardoso (representados pela cor verde), entre outros ambientes (baixios lodosos (laranja); praias (amarelo); e litoral rochoso (vermelho). Em seu trabalho, Wieczorek (2006) apresenta uma tabela (Tabela 1), onde descreve os tipos fisiográficos dos manguezais da Ilha do Cardoso, obtidos através de parâmetros observados em ortofotos e parâmetros observados em fotos. 14 Tabela 1 – Tipos fisiográficos de manguezais e parâmetros observados em ortofotos e em campo Tipo Fisiográfico Parâmetros observados nas ortofotos Parâmetros observados em campo Erosão Localizados, em geral, nas margens côncavas dos canais de drenagem, presença de faixas claras no interior dos manguezais (indicando substrato arenoso), coloração com verde menos intenso devido ao solo mais arenoso e tamanho das árvores mais reduzido. Presença de evidências erosivas como barrancos marginais, árvores mortas ou reclinadas. Intermediário Localizados em locais com canais de drenagem principais retilíneos, ausência de bancos de areia evidentes. Ausência de evidências erosivas e/ou de progradação. Progradação Localizados nas margens convexas dos principais canais de drenagem, presença adjacente de baixos lodosos, coloração em verde intenso indicando substrato lamoso. Presença de baixios lodosos adjacentes, presença de sucessão da vegetação com banco de marisma e plântulas ou jovens em desenvolvimento. Fonte: Extraído de Wieczorek (2006) Figura 3 – Principais ambientes litorâneos da Ilha do Cardoso Fonte: Wieczorek (2006) 15 3.2.1. Flora Em Iguape-Cananéia, as áreas de sedimentação recente se apresentam colonizadas por Spartina e Laguncularia, enquanto que Rhizophora é encontrada nos substratos mais maduros. Os bosques de bacia são caracterizados pela mistura de aviccenia e Laguncularia, com predominância da última. Em Cananéia, as franjas de mangue vermelho (Rhizophora) são sucedidas por Laguncularia. A estatura desses bosques apresenta acentuado gradiente estrutural da franja que pode atingir 10 metros de altura, até as partes mais internas (bacias) com 2,5 metros (Schaeffer-Novelli, 1994). Segundo Bernardi (2001), a vegetação de mangue ou manguezal cobre os sedimentos finos e lodo da planície litorânea encontrados na foz dos rios e ao longo do canal de Ararapira. A vegetação arbórea da Ilha do Cardoso é composta basicamente da espécie Rhizophora mangle, Avicenia schaueriana e Laguncularia racemosa, além de alguns exemplares de Conocarpus sp (Branco, 1991, Bernardi, 2001). Bernardi (2001) ainda cita que nas bordas dos manguezais ocorrem comumente Hibiscos pernambucenis (Malvaceae) e Spartina ciliata (Gramínea). Czajkowski (2004) classifica os manguezais e áreas de transição como formações pioneiras sob influência flúvio-marinha. Segundo a autora, neste ambiente desenvolve-se uma vegetação especializada, com porções de marismas, dominadas por poáceas (Spartina sp.) e amarilidáceas (Crinum sp.), de fisionomia herbácea; e porções dominadas por espécies arbóreas de mangue propriamente dito (Rhizophora mangle, Laguncularia racemosa e Avicennia schaueriana). A autora explica que manguezais e marismas diferem bastante entre si, tanto no que se refere à sua composição específica como ao seu grau de desenvolvimento estrutura. No entanto, os fatores ambientais que regulam a ocorrência e distribuição destas formações vegetais costeiras são essencialmente os mesmos, entre os quais se destaca o papel desempenhado pelas marés. Tal classificação para a área de mangues da Ilha do Cardoso é confirmada tanto por Bernardi (2001) quanto por Funo (2005), visto que nos dois trabalhos são citadas as presenças na área de vegetação de mangues e marismas. Funo (2005) cita um trabalho realizado por Dias-Brito & Zaninetti (1979), que estudando os manguezais de Iguape, encontraram um modelo de zonação fitológica com Spartina alterniflora como espécie colonizadora dos bancos de lama seguida de uma estreita faixa dominada por Laguncularia racemosa 16 delimitando o maguezal dito “maduro”. Este seria composto pelas espécies Rhizophora mangle e Avicennia sachaueriana associadas a Laguncularia racemosa. Segundo Cintrón et al. (1985), citado por Wieczorek (2006), os manguezais podem ser classificados também considerando três tipos fisiográficos: ribeirinho, franja e ilhote, e bacia. Segundo o autor, nos manguezais da região as árvores de Rhizophora mangle localizam-se nas franjas e as de Laguncularia racemosa situam-se em áreas com menor penetração das marés e com sedimentos arenosos. Há um forte gradiente estrutural na vegetação, com as árvores de franja apresentando cerca de 10 m de altura e as áreas inferiores dificilmente ultrapassando os 2,5 m. Ao longo dos rios, em direção às nascentes, os manguezais vão sendo substituídos por uma vegetação de transição com a restinga, segundo Schaeffer-Novelli et al.(1995), citados por Wieczorek (2006). 3.2.1.1.Gênero Rhizophora Mangue vermelho ou verdadeiro, encontra-se geralmente nas franjas dos bosques em contato com o mar, ao longo dos canais, na boca de alguns rios ou, nas partes internas onde a salinidade não é muito elevada. As plantas desse gênero toleram salinidades de até 55, porém crescem melhor quando esses valores se aproximam ou são menores que os da água do mar (igual a 35). A característica peculiar do gênero é dada pelo sistema de sustentação, conhecido como raízes-escora (rizóforos), que partem do tronco e pelas raízes adventícias, que partem dos galhos (Prahl, 1990; Schaeffer-Novelli, 1994). O gênero Rhizophora está representado na Figura 4. Figura 4 (a) - Mangue Vermelho (Gênero Rhyzophora) Fonte: Prahl et al. (1990) 17 Figura 4 (b) – Raízes do Gênero Rhyzophora 3.2.1.2.Gênero Aviccenia Siriúba ou mangue preto ocupa terrenos da zona de entremarés, ao longo das margens lamacentas dos rios ou diretamente exposta às linhas de costa, desde que submetidas às intrusões salinas. Essas plantas toleram salinidades intersticiais muito mais altas que os demais gêneros de mangue, chegando a sobreviver em locais com 90. O sistema radicular consta de raízes subterrâneas, nutritivas e de sustentação e, de pneumatóforos, raízes com geotropismo negativo, onde se processam as trocas gasosas com o meio ambiente, através de lenticelas (Prahl, 1990, Schaeffer-Novelli, 1994). O gênero Aviccenia está representado na Figura 5. Figura 5 (a) – Mangue Preto (Gênero Aviccenia) Fonte: Prahl et al. (1990) 18 Figura 5 (b) – Raízes do Gênero Aviccenia Fonte: Prahl et al. (1990) 3.2.1.3.Gênero Laguncularia Mangue branco ou tinteira, encontrado em costas banhadas por águas de baixa salinidade, às vezes ao longo de canais de água salobra ou, em praias arenosas protegidas. Da mesma forma que Aviccenia, o gênero monoespecífico Laguncularia racemosa possui raízes subterrâneas e pneumatóforos. Como esses órgãos não são muito numerosos, nem chegam a ser muito altos, o mangue branco não tolera locais submetidos a amplas flutuações do nível das preamares (Prahl, 1990; Schaeffer-Novelli, 1994). O gênero Laguncularia está representado na Figura 6. Figura 6 – Estruturas do Gênero Laguncularia (em ordem raízes, folhas, flores, frutos e embriões e plântulas) Fonte: Prahl et al. (1990) 3.2.1.4.Criptógamas As comunidades de algas bentônicas dos manguezais da região de Cananéia (Ilha do Cardoso), associadas a troncos, raízes-escora e pneumatóforos, incluem 68 representantes distribuídos entre os seguintes grupos: Cyanophyta, Chlorophyta e Rhodophyta (Schaeffer- Novelli, 1994). 3.2.2. Fauna 19 Schaeffer-Novelli (1994), no Diagnóstico Ambiental da Petrobrás apresenta os levantamentos realizados e publicados por Schaeffer-Novelli (1989), referente às espécies de fauna associadas aos manguezais do litoral centro-sul do Estado de São Paulo (Baixada Santista e Cananéia-Iguape), os quais encontraram os seguintes grupos taxonômicos: 1- Invertebrados: Esponjas/ Briozoários, Celenterados/ Ctenóforos, Nemertíneos, Anelídeos não poliquetas, Anelídeos poliquetas, Crustáceos, Insetos/ Aracnídeos, Moluscos, Equinodermas, Ascídias. 2- Vertebrados: Peixes, Répteis, Aves, Mamíferos. Especificamente na região de Iguape-Cananéia, foram encontradas as seguintes espécies: 1- Espécies residentes: Phalacrocorax olivaceus, Egretta caerulea, Egretta thula, Egretta Alba, Ardea cocoi, Dendrocygna viduata, Amazoneta brsiliensis, Aramides cajanea, Vanellus chilensis. 2- Espécies do Neártico: Charadrius semipalmatus, Tringa melanoleuca, Tringa flavipes, Calidris fuscicollis, Laridae. 3- Outras espécies: Sula leucogaster, Fregata magnificens, Amazona brasiliensis. 3.2.3. Microbiota 3.2.3.1.Cianofíceas Branco (1991) realizou um trabalho de análise das algas cianofíceas encontradas nas áreas de mangues da Ilha do Cardoso. Neste trabalho foram identificadas 54 espécies, distribuídos nas famílias Chroococcaceae, Dermocarpaceae, Dermocarpellaceae, Hydrococcaceae, Microcystaceae, Xenococcaceae, Nostocaceae, Oscillatoriaceae, Rivulariaceae, Scytonemataceae e Stigonemataceae. Branco (1991) salienta a importância do estudo de algas cianofíceas, visto que estas possuem papel de destaque na manutenção do equilíbrio ecológico do ecossistema manguezal. O mesmo autor ainda salienta que maiores estudos dirigidos ao conhecimento do papel ecológico que desempenha a comunidade de algas em geral, quando abordados aspectos como produtividade e herbivoria, podem auxiliar na compreensão da dinâmica dos mangues e servir como subsídios em trabalhos de recuperação em sistemas degradados. 3.2.3.2.Foraminíferos 20 Petri & Suguio (1973) realizaram levantamentos de microorganismos em perfis de poços no IGG, em toda a região de Cananéia-Iguape. Os autores analisaram as espécies de foraminíferos e diatomáceas da área, com o objetivo de avaliar as seqüências estratigráficas da área e conseqüentemente as variações dos níveis do mar ao longo de milhares de anos. Os autores identificaram 49 espécies de foraminíferos e 6 espécies de diatomáceas. Funo (2005) analisou os foraminíferos encontrados nas áreas de mangue da Ilha do Cardoso, principalmente a Baía de Trepandé. O autor define foraminíferos como protozoários sarcodinos com ampla distribuição em ambientes marinhos, ocorrendo também em ambientes transicionais. São espécies basicamente marinhas, ocorrendo poucas em água doce, que surgiram há cerca de 570 milhões de anos, no período Cambriano. Segundo explica o autor, a estrutura da comunidade de foraminíferos está relacionada a variáveis químicas e físicas como salinidade, pH, concentração de oxigênio, temperatura, profundidade, luminosidade, características do substrato, entre outros fatores. Assim podemos concluir que os foraminíferos podem ser excelentes bioindicadores da qualidade ambiental dessas áreas, entre outras funções. No trabalho apresentado pelo autor foram identificadas 22 espécies de foraminíferos distribuídas ao longo do perfil estudado na Baía de Trepandé. 3.2.4. Solos Estudos demonstram que as áreas de mangue da Ilha do Cardoso, não se diferem em grande escala das áreas de mangue encontradas no restante do litoral brasileiro. Porém algumas diferenças podem ser apontadas, conforme proposto por Suguiu (2003), tais como variação e comportamento do nível do mar quaternário, em períodos interglaciais, o que influi nos processos de transgressão (recuo do mar), conseqüentemente na deposição de sedimentos, formação de deltas e estuários, entre outros fatores. Os padrões apresentados por Suguiu (2003) se mostram semelhantes para as áreas compreendidas entre no trecho do litoral que começa em Cabo Frio (RJ) e termina em Laguna (SC), classificadas como áreas de escarpas cristalinas. Neste contexto, os solos de mangue da Ilha do Cardoso podem ser classificados conforme definição apresentada por Czajkowski (2004), para solos indiscriminados de mangue, aplicados para a área do Parque Nacional do Superagüi, localizado ao sul da Ilha do Cardoso, no Estado do Paraná. A autora descreve esse tipo de solo como sendo solos que ocorrem nas áreas sujeitas à influência direta do fluxo e refluxo das marés, nos estuários dos rios e nas partes protegidas 21 das baías, onde as águas são mais calmas. São solos minerais predominantemente halomórficos, alagados, de profundidade limitada pela altura do lençol freático, geralmente sem diferenciações de horizontes, exceto nas áreas marginais, onde se verifica o desenvolvimento de um horizonte A sobre o C. Esse tipo de solo possui textura variável, dependente da natureza do substrato e com conteúdos variáveis de sais, principalmente de Na+, Mg++, Ca++, K+ e outros. A concentração destes sais no solo também depende da maior ou menor influência da água do mar (Czajkowski, 2004). 3.2.5. Ciclagem de Nutrientes Macronutrientes, elementos traços e metais pesados, todos participam dos processos de ciclagem. Nos sedimentos de manguezais o nitrogênio na sua forma molecular é fixado por bactérias fotossintéticas do ciclo do enxofre. O ferro também é importante elemento presente no ambiente dos manguezais devido ao seu potencial de óxido-redução. Os óxidos de ferro 2 são responsáveis pela cor preta dos sedimentos, enquanto que os sulfetos de ferro apresentam cor cinza escuro, sendo o dissulfeto de ferro 2 responsável pela cor amarelo-latão identificável em algumas piçarras (níveis de sedimentos cimentados, a exemplo dos sedimentos arenosos finos de coloração cinza amarelada da Formação, que passam, próximos ao topo, para uma coloração marrom escuro). No manguezal, esses elementos são removidos da água através das raízes aéreas, das macroalgas associadas ao sistema radicular, do sedimento, das raízes nutritivas e dos invertebrados e microorganismos associados a todas essas superfícies. Paralelamente a essa função de acumulador, o manguezal como ecossistema também exporta partículas e substâncias dissolvidas ricas em nutrientes. È na região sudeste do litoral brasileiro que estudos realizados sobre química da água nos manguezais de Cananéia relatam a importância desse ecossistema como fonte de nitrogênio para as cadeias alimentares costeiras adjacentes. Os sedimentos de manguezal atuam como acumuladores de metais pesados (Cu, Cr, Cd, Zn, Mn, Co, Pb, Ni), possivelmente devido às altas concentrações de matéria orgânica, baixos teores de oxigenação e reduzida exposição à ação das ondas (Schaeffer-Novelli, 1994). 22 3.3. Qualidade Ambiental A qualidade ambiental de um ecossistema expressa as condições e os requisitos básicos que ele detém, de natureza física, química, biológica, social, econômica, tecnológica e política, de modo a que os fatores ambientais que o constituem, em qualquer instante, possam exercer efetivamente as relações ambientais que lhes são naturalmente afetas, necessárias à manutenção de sua dinâmica e, por conseguinte, da dinâmica do ecossistema de que fazem parte, bem como detenham a capacidade complementar de auto-superação, que os permita desenvolver novas estruturas relacionais e promover, aleatoriamente, desdobramentos ordenados da complexidade do ecossistema. É o resultado da dinâmica dos mecanismos de adaptação e dos mecanismos de auto-superação dos ecossistemas. (Macedo, 1999). Segundo um artigo publicado na revista Superinteressante, em novembro de 1988, a Ilha do Cardoso vem sendo preservada desde a criação do Parque no intuito de proteger a fauna e a flora que sobreviveu à devastação provocada pelo processo de colonização. O fato é que a Ilha do Cardoso abriga remanescentes da Mata Atlântica e foi declarada patrimônio natural; um dos lugares que devem ser preservados em caráter de urgência. Atualmente, a Ilha do Cardoso é considerada como uma área cujos ambientes se encontram livres de atividades antrópicas expressivas (Oliveira et al., 2007), e por isso serve como base de comparação para experimentos realizados em outras áreas comprovadamente impactadas. A exemplo tem-se o experimento realizado por Oliveira et al. (2007), para análise de mercúrio total em solos de mangue da Baixada Santista e Ilha do Cardoso, onde os resultados encontrados para os solos de mangues desta são inferiores aos valores de intervenção da agência ambiental (CETESB). Porém, mesmo sendo uma área bastante preservada, a Ilha do Cardoso, e conseqüentemente as suas áreas de manguezais são bastante vulneráveis à forma de impacto que talvez mais prejudique esse tipo de ecossistema: derrame de petróleo. Tal fato é alertado por inúmeros pesquisadores, entre eles Wieczorek (2007), que elaborou um Atlas de Sensibilidade Costeira de toda a Ilha do Cardoso a derrames de petróleo, onde o autor explica que por se encontrar localizada entre dois portos bastante expressivos (porto de Santos ao norte e porto de Paranaguá ao sul), a Ilha do Cardoso se encontra bastante susceptível a impactos decorrentes de eventuais vazamentos de petróleo que possam ocorrer. Segundo o autor, para a elaboração de uma carta de sensibilidade os ambientes são divididos em um índice de vulnerabilidade de 1 a 10 (menor para maior vulnerabilidade), de acordo com a metodologia usada pelo MMA, sendo que para esses índices de vulnerabilidade, os manguezais são classificados com índice 10 em caso de derrames de petróleo. 23 Dessa maneira, conclui-se que, embora as áreas de mangue da Ilha do Cardoso, e demais tipos de ecossistemas da área se encontrem bastante preservados de atividades antrópicas, estas não se encontram livres de sofrerem impactos danosos decorrentes de vazamentos de petróleo, principalmente as áreas de manguezais, extremamente vulneráveis a esse tipo de impacto. 3.4. Aspectos Evolutivos 3.4.1. Mapas de Isobases Os Mapas de Isobases são mapas elaborados a partir do ordenamento da rede de drenagem, segundo Strahler (1952), e da obtenção de pontos de suas confluências. Para isso é feito o adensamento dos canais de drenagem, com o objetivo de se alcançar tanto os canais perenes como os intermitentes. Essas confluências são então posteriormente classificadas segundo níveis de base e divididas em ordens, tais como segunda ordem, terceira ordem, etc, seguindo do menor nível de base para o maior, seja no continente ou no litoral. Nos Mapas de Isobases se põem as costas fixas da linha costeira de uma mesma idade, e logo os pontos de alturas equivalentes se unem por meio de isolinhas (isobases), que mostra como estava deformado o plano horizontal inicial da linha costeira depois da sua formação. Com suas cotas e desenho as isobases refletem exatamente a morfologia e as dimensões das estruturas tectônicas (Spiridinov, 1981). Segundo Hernández (1994), para se obter os mapas de isobases se leva em conta a seguinte ordem: na base topográfica se levantam todas as interseções dos vales das ordens correspondentes. Como nos mapas não aparecem os valores absolutos do corte das águas dos rios, se tomam as interseções dos vales com as curvas de nível. Colocam-se uma série de pontos no sítio de interseção das curvas de nível com os vales dos rios. Estes pontos de interseção se unem mediante isolinhas denominadas isobases, ou seja, linhas de base de erosão. Para a elaboração dos mapas é necessário que se tenham dados referentes à hidrografia e à altimetria (cotas) da área estudada. A partir daí são determinados os pontos de confluências e as suas cotas, resultando num mapa de isolinhas que apresentam níveis altimétricos, representado por escalas de cores. Cada ponto de confluência possui um valor em UTM (x e y) e a cota (z). As isobases possuem as mesmas propriedades que as curvas de nível; elas não podem cortar-se e nem tocar umas às outras e têm a finalidade de se tentar reconstruir parte da paisagem pretérita, através da elaboração de mapas baseados nas 24 confluências dos rios, o qual mostra a possível evolução da paisagem formada pelos processos endógenos e exógenos (Lisboa, 2007). Do mesmo modo, Guimarães (2007) explica que as isobases objetivam mostrar a evolução temporal da paisagem, mostrando suas modificações ao longo do tempo, dando a idéia das ações sofridas pelas coberturas de alteração intempéricas, bem como, dos possíveis movimentos neotectônicos, que levam ao aparecimento de novos elementos da paisagem, como falhas e planalto, além de evidenciarem a dissecação e os soerguimentos sofridos pelo relevo. Assim, a partir do mapa de 2° ordem, o qual representa um momento não muito distante da atualidade, até o mapa da última ordem encontrada, é possível se fazer uma reconstrução da paisagem pretérita da área, em um determinado período de tempo. É importante salientar que o uso da metodologia das Isobases com a finalidade de evolução da paisagem é relativamente nova, e apesar de ser uma tentativa de representar ambientes pretéritos, não se pode afirmar precisamente até quanto anos antes do presente elas podem representar. A interpretação das Isobases permite chegar à estimativas de modelos evolutivos da paisagem pretérita, através da correlação destas com dados existentes no presente. A elaboração dos Mapas de Isobases foi feita utilizando-se carta topográfica digitalizada da área de estudo, obtida do trabalho de Wieczorek (2006), cujos dados foram transformados em arquivos shapefile e tratados com o software ArcGis, da ESRI, versão 9.2. Foi utilizado os dados cartográficos pontos cotados, hidrografia, curvas de nível e limite de área. Após a separação dos dados, foi realizado o adensamento da rede de drenagem da área a partir das curvas de nível. Pupim (2007) cita que as cartas topográficas apresentam uma série de informações e para que essas não fiquem ainda mais saturadas, são representados apenas os principais canais de drenagem. No entanto, o autor salienta que existem muitos outros canais de drenagem que apresentam escoamento superficial apenas em épocas de chuva, os quais representam a maior parte das drenagens de primeira e segunda ordem, o que explica a necessidade de fazer o adensamento da drenagem. O esquema com a hierarquia de canais e confluências está representado na Figura 7. 25 Figura 7 – Esquema de Hierarquia de Canais e Confluências (Fonte: Pupim, 2007) O adensamento foi realizado não somente para a Ilha do Cardoso como também em parte do entorno com o intuito de melhor avaliar/ entender o modelo evolutivo da área, uma vez que esse se dá em conjunto e não separadamente. A partir do adensamento da malha de drenagem foi possível fazer a ordenação dos pontos de confluência da mesma. A cada ponto de confluência foi feita a identificação, hierarquização (em ordens de drenagem) e valoração (cota de altitude). As ordens foram divididas em 2°, 3°, 4° e 5°, 6° e 7° ordens. As linhas de litoral foram consideradas como linhas de base maior e, portanto, de ordem superior. Após a definição das diferentes ordens de confluência e suas altitudes, são gerados os modelos, utilizando os módulos Spatial Anlyst e Topo to Raster. Foi gerada uma carta de isobases para cada ordem de drenagem. Foram identificadas confluências na ilha de até 7° ordem, porém como o número de pontos identificados para as confluências de 6° e 7° ordens foram insuficientes para se fazer a modelagem, optou-se por agrupá-los no modelamento de 5° ordem. Dessa maneira foram elaborados quatro mapas de isobases, divididos em 8 figuras, sendo um mapa representado em escalas de cores e outro escala de cores e isolinhas. Nos mapas gerados, a figura que representa a área pretérita é confrontada com a linha de costa atual, que se encontra representada em todos os mapas. Os pontos de confluência também representam somente as áreas amostradas, podendo distingui-las das áreas geradas pela extrapolação do modelo geoestatístico do programa utilizado. Foram identificadas 1.923 confluências de 2° ordem, 435 confluências de 3° ordem, 97 confluências de 4° ordem, 23 confluências de 5° ordem, 3 confluências de 6° ordem e 1 confluência de 7° ordem. O Mapa com a representação das confluências identificadas na área encontra-se representado na Figura 8. 26 Figura 8 – Mapa de Confluências (Ilha do Cardoso e entorno) 27 4. DISCUSSÃO As regiões litorâneas caracterizam-se por serem áreas de intensos intercâmbios de energia e matéria em todo o sistema do planeta. Isto se deve ao fato dessas constituírem áreas de limite entre o oceano e o continente. De acordo com Suguio (2003), essas regiões mantêm- se em geral sob condições de equilíbrio dinâmico e não de equilíbrio estático, o que por sua vez, faz com que elas sejam muito suscetíveis a mudanças, podendo ser afetadas em diversas escalas espaciais e temporais, sofrendo importantes transformações que podem ou não ser reversíveis. É válido salientar que fatores geológicos, geomorfológicos e climáticos podem eliminar impactos que geram conflitos decorrentes da ocupação desordenada das áreas costeiras, como mudança estática do nível do mar, “alimentação” de areia na região litorânea, soerguimento isostático, movimentos tectônicos regionais, processos costeiros e atividades humanas. Através da interpretação desses fatores, associados à análise de eventos neotectônicos, podem ajudar no melhor conhecimento evolutivo da área permitindo com isso um planejamento adequado e minimização de possíveis impactos. 4.1. Variações do nível do mar São inúmeros os estudos que avaliam as variações do nível do mar nos milhares de anos que nos antecedem. Essas variações, denominadas como processos de Transgressão/ Regressão do nível do mar, bem como processos de origem tectônica e climáticos, levam a eventos de deposição/ sedimentação, que possuem estreitas relações com a configuração litorânea atual. Existem fases de alteração do nível do mar, provocadas principalmente nos períodos interglaciais, onde as fases de derretimento/ expansão das geleiras provocou a subida e descida do nível do mar, alterando para níveis superiores e inferiores ao nível atual. Tais fenômenos ligados às variações do nível do mar nos últimos milhares de anos podem possuir distintas origens, entre outros Suguio (2003) e Tessler & Goya (2005), tais como: • glacioeustasia : refere-se às variações do nível relativo do mar devido aos fenômenos glaciais, de origem climática. Nos estágios glaciais (fase de expansão das geleiras), ocorrendo a retenção de grandes volumes de água sobre os continentes, verifica-se a descensão do nível do mar. Contrariamente, nos estágios interglaciais (fase de retração das geleiras), com a diminuição dos 28 volumes de água retidos sobre os continentes, constata-se a ascensão do nível relativo do mar; • Tectonoeustasia: caracterizam-se por variações do nível do mar devido a movimentos crustais; • Geoidoeustasia (fenômenos geoidais): variações da configuração da forma do geóide; • Sedimentoeustasia: de naturezas muito limitadas em termos de escalas temporal e/ou espacial, como os fenômenos meteorológicos e os efeitos de compactação diferencial ou de assoreamento por sedimentos. Por tal razão as variações do nível do mar estão intimamente relacionadas a processos tanto climáticos (processos de contração e expansão das geleiras) quanto tectônicos (processos de soerguimento e rebaixamento do relevo). Fúlfaro (1971) salienta não há, geologicamente, contradição entre clima e tectônica, uma vez que ambos são processos físicos com diferentes causas e não dependentes, assim se tem tectonismo, intenso ou não, independente de qualquer tipo de clima e o clima pode agir em qualquer situação tectônica. A linha de costa sofreu inúmeras modificações, devido a diversos fatores, entre eles as variações do nível do mar em milhares de anos, até atingir a sua configuração atual. Suguio et. al (1985) elaboraram curvas de variação do nível relativo do mar durante os últimos 7.000 anos, para todo o litoral brasileiro. Na curva que representa a área de estudo (Figura 7), a 7.000 anos A.P. o nível do mar se encontrava abaixo do atual, tendo atingido um momento de transgressão máxima a cerca de 5.000 anos, regrediu até níveis abaixo do atual, tornou a subir atingindo um pico a pouco mais de 3.500 anos, onde permaneceria regredindo até os dias atuais, dando origem à formação de novas colunas estratigráficas, surgimento e desaparecimento de estuários, e lagoas estuarinas, mudanças na linha de costa, formação de novas planícies litorâneas, extinção ou formação de novas áreas de mangue, originando assim, novos sistemas costeiros (Petri & Suguio (1971); Suguio & Petri (1973); Ross (2002); Suguio (2003); Tessler & Goya (2005)). Figura 9 – Curvas de variações do nível do mar nos últimos 7.000 anos para a região de Cananéia-Iguape Fonte: Suguio et al. (1985) em Suguio (2003) 29 Para Tessler & Goya (2005), a formação e manutenção da linha de costa é correlacionada principalmente a três fatores que atuam e atuaram em diversas escalas espaciais e temporais como a herança geológica, o modelo quaternário, e a ação da dinâmica sedimentar atual, salientando que as flutuações do nível relativo do mar constituem elemento importante na evolução das planícies costeiras brasileiras, sobretudo no Quaternário. A reconstrução das variações do nível do mar pode ser feita seguindo dois modelos apresentados por Suguiu (2003): as evidências de níveis relativos do mar abaixo do atual e as evidências de níveis relativos do mar acima do atual: 4.1.1. Evidências do nível do mar abaixo do atual Estas se dividem em três fases: • Primeira: 17.500 a 16.000 A.P; nível do mar de 120 a 130 m abaixo do atual; plataforma continental emersa submetida à erosão subaérea; sedimentos constituídos de areias finas (plataforma interna) e lamosas a lamas (parte externa e taludes coninentais. Paleolinha representada por areias médias, estuarinas ou deltaicas (provenientes de paleodrenagens costeiras). • Segunda: 16.000 a 11.000 A.P. Retrabalhamento de sedimentos mais antigos (plataforma continental interna). Estabilização do período transgressivo. • Terceira: 11.000 a 6.500 A.P. Continuação do processo transgressivo; deslocamento da linha de costa para oeste; sedimentos finos recobrindo areias transgressivas (plataforma continental média e externa). Fase de estabilização evidenciada pela presença de cascalhos biodedríticos; concentrações de minerais pesados indicando antigas linhas de praia. 4.1.2. Evidências do nível do mar acima do atual Os indicadores para esses eventos se classificam como indicadores geológicos, biológicos e pré-históricos. A exemplo de indicadores geológicos tem-se os “terraços marinhos”, que formam as planícies costeiras e baixadas litorâneas, caracterizando-se como evidências inquestionáveis do nível do mar acima do atual. Estão ligados a eventos transgressivos do Quaternário. 30 Os indicadores biológicos se caracterizam por restos de vegetais e organismos cuja movimentação em vida era bastante restrita, como tubos fósseis de Cllichirus (em terraços marinhos), e os paleomanguezais. Os sambaquis se classificam como registros pré-históricos e são constituídos basicamente de conchas de moluscos, restos de instrumentos líticos, objetos de adorno, espinhas de peixes e esqueletos humanos, e podem chegar a centenas de metros. Segundo Suguio & Petri (1973), os sambaquis se caracterizam por serem registros da fase regressiva do mar Quaternário. Outras evidências do nível acima do atual são descritas abaixo (Suguio, 2003): • Registros anteriores a 123.000 A.P.: vestígios de terraços e cascalhos com mais de 13 m acima do nível do mar atual. Este nível do mar mais alto anterior a 123.000 A.P. foi denominado de Transgressão Antiga. • Registros mais altos que o atual de 123.000 A.P.: Novo evento transgressivo, com nível do mar variando de 8 a 10 m acima do atual. Este evento é denominado, no Estado de São Paulo, de Transgressão Cananéia. Evidências constando de terraços arenosos de 6 a 10 m acima do nível mais alto de maré. Há registros de troncos de madeira carbonizados cuja datação corresponde a 35.000 A.P. • Registros de níveis mais altos que o atual do Holoceno: Última fase Transgressiva conhecida como Transgressão Santos. Existem poucas datações variando de 6.500 a 7.000 A.P. Presença de terraços holocênicos de 4 a 5 m acima do atual nível do mar. Tessler & Goya (2005) citam que ao longo do Quaternário, dois ciclos transgressivos e regressivos modelaram as planícies costeiras brasileiras, conseqüências de oscilações do nível do mar. O primeiro ciclo, de idade pleistocênica (~ 120.000 anos A.P.), tendo o primeiro atingido cotas de aproximadamente 8 a 10 metros acima do nível atual. Este evento foi denominado de Transgressão Cananéia no trecho da costa paulista. Após o máximo transgressivo pleistocênico, o nível do mar recuou até posições ao redor da isóbata de 110 metros abaixo do nível atual, há cerca de 17.000 anos A.P. Ao longo deste processo de regressão marinha, a atual plataforma continental foi quase totalmente exposta, sendo sulcada por vales fluviais. A partir do máximo regressivo, o nível do mar foi submetido a uma nova elevação, tendo atingido há cerca de 7.000 anos A.P., um nível próximo do zero atual. Este 31 processo transgressivo se manteve até 5.100 anos A.P., atingindo quatro metros acima do nível atual, sendo este processo denominado de Transgressão Santos (Tessler & Goya, 2005). 4.2. Configuração da costa litorânea no período atual Suguio (2003) classifica a costa brasileira segundo proposta apresentada por Silveira (1964), considerando aspectos climáticos, oceanográficos e continentais, que caracterizam os diversos trechos do litoral brasileiro, dividindo-o em trechos, que são: litoral amazônico ou equatorial (da Foz do Rio Oiapoque ao Maranhão Oriental), litoral nordestino ou das Barreiras (Maranhão Oriental ao Recôncavo Baiano), litoral oriental (do Recôncavo Baiano ao norte do Espírito Santo), litoral sudeste ou das escarpas cristalinas (do sul do Espírito Santo à região de Laguna) e litoral meridional ou subtropical (da região de Laguna à foz do Arroio Chuí). A área de estudo insere-se no trecho classificado como “litoral sudeste ou das escarpas cristalinas”, classificado como sendo o trecho onde se tem o Planalto Atlântico, cujas rochas cristalinas pré-cambrianas alcançam a orla litorânea com grande freqüência e as lagoas costeiras. Neste trecho do litoral, embora ocorram sedimentos terciários (Formação Barreiras, Pariquera-Açu), as feições gerais são definidas pelo Planalto Atlântico e pelas planícies litorâneas frequentemente interrompidas por promontórios, que delimitam trechos restritos de planície com “praias-de-bolso” (Suguio, 2003). Nos litorais fluminenses, parte norte paulista e no paranaense, o Planalto Atlântico chega a ultrapassar 800m de altitude representando, na maioria das vezes, escarpas de falha recuadas por erosão. A maioria dessas falhas originou-se no Pré-Cambriano, porém foram reativadas em várias ocasiões, cujas atividades mais intensas ocorreram durante a abertura do Oceano Atlântico e concomitantemente formação e preenchimento das bacias costeiras ou marginais, desde cerca de 150 até 50 milhões de anos passados. Até hoje muitas dessas falhas exibem alguma atividade tectônica (Suguio, 2003). 4.3. Configuração da costa na área de estudo e entorno A região da área de estudo morfologicamente é formada também por planícies costeiras, que se caracterizam, segundo Suguio (2003) por superfícies geomorfológicas deposicionais de baixo gradiente, formadas por sedimentação predominantemente subaquosa, que margeiam corpos d’água de grandes dimensões, como o mar ou oceano, representadas comumente por faixas de terrenos recentemente, em termos geológicos, emersos e compostos 32 por sedimentos marinhos, continentais, fluviomarinhos, lagunares, paludiais, em geral de idade quaternária. Na região, as planícies costeiras desenvolvem-se sobre um pacote de sedimentos quaternários, que obedecem basicamente ao mesmo padrão de distribuição em toda a costa paulista, comportando diferenças de espessura. Assim, têm-se sedimentos fluviais correlacionáveis à Formação Pariquera-Açu (depósito aluvial distribuído na Bacia do rio Ribeira do Iguape e que se trata de um resultado direto dos eventos quaternários ocorridos na região lagunar de Cananéia-Iguape), que passam para depósitos predominantemente argilosos de ambiente misto, capeados por depósitos arenosos de origem marinha, referidos è Formação Cananéia (IPT, 1981). Martin & Suguio (1978) seqüenciaram o modelo evolutivo do litoral entre a Ilha do Cardoso e o Morro da Juréia em cinco estádios, descritos a seguir: • Primeiro estádio: Durante o máximo da Transgressão Cananéia (120.000 anos A.P.), o mar atingiu o sopé da Serra do Mar (Pré-Cambriano) e as formações cristalinas mais elevadas, quando foram depositadas argilas transicionais e marinhas da Formação denominada Cananéia, recobrindo a Formação Pariquera- Açu. Essa formação é constituída de areias e areias conglomeráticas, contendo níveis argilosos, com espessura de até 118 m, ocorrendo sobre o embasamento Pré-Cambriano. • Segundo estádio: Com a regressão depositaram-se as cristas praiais, sedimentadas no topo dos depósitos arenosos da Formação Cananéia. • Terceiro estádio: Durante esta fase, o nível marinho mais baixo foi atingido, chegando a 130 m abaixo do nível atual, a cerca de 18.000 anos. Os rios que drenavam em direção ao mar, provavelmente erodiram a Formação Cananéia. • Quarto estádio: Com a subida do nível do mar, formou-se extenso sistema lagunar, onde sedimentos areno-argilosos freqüentemente ricos em matéria orgânica foram depositados há aproximadamente 5.150 anos A.P. • Quinto estádio: Durante o retorno do nível do mar para o atual, foram formadas cristas praiais holocênicas, variando de gerações conforme as flutuações do nível do mar. 33 Tendo como base os dados obtidos pela revisão bibliocartográfica, e pelos modelos gerados para as isobases, fez-se a reconstrução evolutiva da Ilha do Cardoso e da região de entorno, correlacionando-se aos modelos apresentados nos estudos consultados. 4.3.1. Mapa de Isobases de 2° ordem O Mapa de Isobases de 2° ordem foi elaborado de duas maneiras: um mapa somente apresentado as escalas de cores e outro com as isolinhas, as quais foram espaçadas de 50 em 50 m, para facilitar a visualização, uma vez que um espaçamento menor poderia resultar em um mapa bastante carregado, o que dificultaria o seu entendimento. Os Mapas de Isobases (com isolinhas e com cores) estão representados na Figura 10 e Figura 11. Conforme podemos observar pelos mapas, a paisagem representada não difere muito da realidade, uma vez que se pode observar as áreas de morros, e uma configuração de costa parecida com a atual. A Figura 12 representa a área da Ilha do Cardoso e entorno atualmente. Nessa época, as areias da Formação Cananéia, cujo evento de Transgressão é datado de 123.000 anos A.P. aproximadamente (Suguio & Petri (1973), Petri & Suguio (1973), Suguio (2003), Tessler & Goya (2005), Suguio & Martin (1978 apud Coelho Jr (2005)), deve estar representada pelas áreas com coloração variando entre a coloração amarela e que representam as altitudes de 0 a 50 m. Os sedimentos dessa Formação recobrem a área de borda da Ilha juntamente com os depósitos marinhos holocênicos originários da Transgressão Santos (5.100 anos A.P.). As condições pluviais se mantinham elevadas (desde o término da glaciação de Würm), criando condições para o desenvolvimento de vegetções de grandes florestas e ecossistemas tropicais e subtropicais. Nessa área atualmente encontram-se terraços marinhos retrabalhados datados da Transgressão Santos variando a uma atura de 4 a 5 m (Suguio, 2003). Petri & Suguio (1973) propõem a denominação de Formação Cananéia para uma unidade litológica composta por “areias regressivas”, tipo <> ou <>. Estas são reconhecidas como depósitos praiais antigos, apresentam importância preponderante na geologia regional de superfície na planície litorânea, não somente pela sua enorme persistência, mas por constituir uma importante fonte de detritos para os subambientes atuais. Além da presença da Formação Cananéia (mais recente), as montanhas localizadas na Ilha do Cardoso são formadas por rochas de origem Pré-Cambriana (Suguio & Petri, 1973). Os autores também analisaram uma série de perfis na área lagunar da região de Cananéia-Iguape e com as amostra coletadas os autores fizeram análises de minerais pesados e inventários de microorganismos, como foraminíferos e algas. Para isso os autores dividiram as amostras em seqüências estratigráficas e as identificaram. Segundo os autores, as análises 34 de microorganismos serviram para avaliar diferentes ambientes de sedimentação, tendo estes sido identificados como marinhos, salobros e de água doce. Figura 12 – Mapa atual da região da Ilha do Cardoso Concluiu-se no estudo que houve uma sedimentação ativa ocorrida na planície costeira de Cananéia-Iguape; que a sedimentação foi conseqüência de uma fase típica transgressão marinha com um registro prévio de camada não-marinhas na fase de regressão. Concluem ainda que os depósitos provavelmente sejam resultados diretos de tectonismo epirogênico, interações de mudanças eustáticas ocorridas durante o Quaternário. Segundo os autores ainda, a instabilidade geológica da área não termina com o encerramento da deposição da Formação Cananéia. A formação foi soerguida 5 a 6 m acima do nível do mar e a costa nessa região 35 ainda está subindo, conforme descrevem alguns estudos de Petri e Fúlfaro (1970) para a área da Ilha do Cardoso. A Formação Cananéia recobre a Formação Pariquera-Açu, cuja deposição, iniciada no terciário, continua até o presente, fazendo parte de um sistema deposicional que engloba fácies sedimentares mapeadas como sendo pertencentes às formações que se distribuem desde o Rio Grande do Sul até o Amapá. As fácies associadas a esse sistema deposicional ocorrem nas partes mais internas das planícies costeiras, no sopé de terras mais altas (Villwock et al., 2005), recobrindo as rochas de origem Pré-Cambrianas. Atualmente a Ilha do Cardoso possui relevo com altitude superior a 800 m. Nessa época, no entanto, é possível observar que o ponto mais alto da Ilha chega a atingir altitude entre 600 e 700 m. Embora esta seja uma altitude estimada, é possível perceber processos de soerguimento tectônico de blocos (orientados no mesmo sentido), tanto na área da Ilha do Cardoso, como na área de entorno. Tal fato é melhor visualizado com a análise dos próximos mapas. Contudo é válido lembrar que para Suguio & Barcelos (1978), essa costa não é absolutamente estável e foi ativa tectonicamente durante a maior parte do Quaternário e Hasui et. al. (1998) salientam que o sudeste é caracterizado por planaltos, depressões, cuestas e planícies costeiras decorrentes de processos de degradação e agradação relacionados a movimentos tectônicos do Mesozóico-Cenozóico. As antigas áreas de mangue provavelmente foram soerguidas durante a fase ativa tectônica, sendo encontradas atualmente em níveis superiores. Deixando de existir em áreas que apresentassem condições ao desenvolvimento de manguezais, esses mangues antigos perderam suas funções e passaram por processos de transformação, conferindo ao solo, atualmente, características de solos mais orgânicos e com a presença de detritos de restos vegetais. Esses solos podem ser correlacionados aos espodossolos que recobrem toda a porção interna da ilha, diferenciando-se somente dos cambissolos cascalhosos que recobrem a porção dos morros da Ilha, segundo o mapa pedológico apresentado por Oliveira et. al (1999). É válido lembrar que segundo Vidotto et al. (2007), a origem e distribuição dos manguezais são resultados da variação do nível do mar e de alterações paleoclimáticas. Segundo o esquema elaborado por Bonetti Filho (1995) para a Evolução da região de Cananéia, a partir de estudos de Martin & Suguio (1978), a conformação da costa obtida pelos Mapas de Isobases pode ser comparada com o esquema proposto pelo autor para a conformação da Ilha durante o Período da Transgressão Santos, onde a Ilha do Cardoso ainda não se encontrava totalmente formada, a linha de costa se encontrava mais a oeste, e os canais que separam a Ilha do Cardoso do continente eram bem largos. Trata-se do quarto estádio evolutivo proposto por Martin & Suguio (1978), tendo o mar invadido as áreas rebaixadas 36 pela erosão, formando um extenso terreno plano (Ross, 2002). Pode-se inferir que o Mapa de Isobases de 2° ordem da Ilha do Cardoso e entorno remonta a 5.100 anos A.P., data proposta para o esquema apresentado por Bonetti Filho (1995) citado por Coelho Jr. (2003), representado na Figura 13. Figura 13 - Esquema proposto para a conformação da Ilha do Cardoso (5.100 anos A.P.) por Bonetti Filho (1995). Fonte: Coelho Jr. (2005) 4.3.2. Mapa de Isobases de 3° ordem O Mapa de Isobases de 3° ordem foi elaborado com isolinhas espaçadas de 50 em 50 m, também com a finalidade de se obter uma melhor visualização do mapa. Foram elaborados mapas com escalas de cores e escalas de cores com isolinhas. Os Mapas de Isobases (com isolinhas e com escalas de cores) estão representados na Figura 14 e Figura 15. A análise dos mapas permite-nos remontar a um tempo evolutivo anterior ao estimado para os mapas de 2° ordem (5.100 anos A.P.). Pode se observar que os pontos mais altos da Ilha do Cardoso correspondem a 450 a 500 m, e no entorno de 600 a 650, enquanto que no mapa de 2° ordem observam-se os morros da Ilha do Cardoso a uma altitude variando de 650 a 700 m e no entorno variando de 850 a 90 m. Dessa forma os morros se encontravam mais baixos se comparados ao momento anterior, o que nos remonta novamente aos processos de soerguimento tectônico. Os Mapas de Isobases de 3° ordem representam um momento anterior aos Mapas de Isobases de 2° ordem, sendo, portanto, a fase de regressão marinha anterior à Transgressão Santos, uma vez que após a Transgressão Cananéia, nível relativo do mar Quaternário alcançou limites de 110 a 130 m abaixo do nível do mar atual. 37 Nesse período de regressão marinha a Formação Cananéia, depositada durante a Transgressão Cananéia, os rios que drenavam a planícies costeiras devem ter erodido profundamente os depósitos da Formação Cananéia. As condições pluviais, que se encontravam ampliadas devido ao período interglacial úmido e quente, provocaram a expansão dos cinturões de chuvas tropicais sobre as regiões semi-áridas desenvolvidas durante a última glaciação (Bigarella, 1994), favorecendo o desenvolvimento de grandes florestas e vegetações costeiras, e um declínio da vegetação de cerrado e caatinga desenvolvida nas condições semi-áridas. Os esquemas gerados por Bonetti Filho (1995) citado Coelho Jr. (2003), não representam esse momento compreendido pelo Mapa de Isobases de 3° ordem, tendo representados somente eventos de transgressão. Dessa maneira não se pode estimar uma data aproximada para o referido estágio evolutivo. Estima-se que compreenda um momento entre 120.000 anos A.P. e 5.100 anos A.P. (datas apresentadas nos esquemas propostos pelo referido autor). Nesse momento a Formação Cananéia provavelmente se encontraria em regiões menos elevadas, possivelmente sendo erodida pelos rios que drenavam para o mar, conforme descrevem Martin & Suguio (1978), não havendo a ocorrência dos sedimentos marinhos holocênicos provenientes de Transgressão Santos, continuando a recobrir a Formação Pariquera-Açu, conforme explicado anteriormente. Em um momento de regressão marinha (ocorrido entre dois eventos de transgressão), a plataforma continental se encontrava exposta, passando por processos erosivos, conforme demonstram Ross (2002), Suguio (2003), Tessler e Goya (2005). 4.3.3. Mapa de Isobases de 4° ordem Os Mapas de Isobases de 4° ordem foram elaborados com isolinhas espaçadas de 30 em 30 m, também objetivando uma melhor visualização do terreno, sendo um representado somente em escala de cores e outro com escala de cores e isolinhas, semelhantes aos mapas mostrados anteriormente. Os Mapas de Isobases de 4° ordem estão representados na Figura 16 e na Figura 17. A análise do mapa permite-nos observar que as áreas de morros da Ilha do Cardoso e da região de entorno representadas nos mapas anteriores alcançam valores em torno de 60 a 90 m e 360 a 390 m respectivamente. A Ilha do Cardoso, tão bem representada nos mapas anteriores, não estava formada, se comparada à região de entorno, com uma elevação de até 38 60 m, provavelmente formada pelas rochas Pré-Cambrianas, que acompanhavam o os eventos de soerguimento tectônico. A linha de costa estava deslocada bem a oeste, sugerindo a ocorrência de um evento transgressivo se comparado ao mapa anterior (3° ordem). O esquema proposto por Bonetti Filho (1995) e citado por Coelho Jr. (2003), sugere uma conformação para a região da Ilha do Cardoso e Cananéia bem parecida com a conformação obtida pelo Mapa de Isobases de 4° ordem. O esquema é datado de 120.000 anos A.P., correspondendo à fase da Transgressão Cananéia, e está representado na Figura 18. Nessa época o mar deve ter atingido o sopé da Serra do Mar, quando foram depositadas as argilas transicionais e marinhas da Formação Cananéia, recobrindo a Formação Pariquera- Açu (Ross, 2002), que por sua vez recobria as rochas Pré-Cambrianas, podendo a Formação Cananéia estar representada pela área que corresponde a uma variação altimétrica de 0 a 30 m. Essa fase corresponde ao primeiro estádio da seqüência evolutiva proposta por Martin & Suguio (1978), para a área da região compreendida desde a Ilha do Cardoso até o Morro da Juréia. Trata-se também da época de ocorrência da última glaciação quaternária, denominada glaciação Würm, datada de 115.000 a 112.000 anos A.P. (Neto e Nery, 2005). A redução da radiação solar durante as épocas glaciais, e o conseqüente abaixamento da temperatura oceânica restringiu a precipitação no Brasil (através da evaporação no cinturão dos ventos alísios), conduzindo a mudanças sistemáticas nos padrões de vegetação. As áreas anteriormente cobertas por florestas passaram à vegetação aberta, expondo o solo à ação direta das chuvas. Embora a precipitação tivesse diminuído, o escoamento superficial tornou- se mais efetivo, provocando intensa erosão dos solos (Bigarella, 1994), o que provavelmente provocou a erosão de sistemas deposicionais mais antigos, tal como o sistema deposicional que deu origem à Formação Pariquera-Açu. Figura 18 – Esquema proposto para a conformação da Ilha do Cardoso (120.000 anos A.P.) por Bonetti Filho (1995). Fonte: Coelho Jr. (2003) 39 4.3.4. Mapa de Isobases de 5° ordem Os Mapas de Isobases de 5° ordem foram elaborados com isolinhas espaçadas de 5 em 5 m, para que fosse possível uma melhor visualização dos seus contornos e em virtude do relevo se apresentar bem menos elevado do que nos mapas anteriores. Também foram elaborados mapas com isolinhas e escalas de cores e mapas somente com escalas de cores. Os Mapas de Isobases estão representados pela Figura 19 e pela Figura 20. Conforme o mapa nos permite observar, toda a área que aparece dividida nos outros mapas encontra-se totalmente ligada formando uma única massa continental. Devido à falta de dados, não é possível observar se na época representada o mar se encontrava em pr