CAMILA RIBOLI RAMPAZZO O CLIMA URBANO EM ALFREDO MARCONDES/SP: UMA ANÁLISE DOS INDICADORES GEOAMBIENTAIS PRESIDENTE PRUDENTE NOVEMBRO DE 2012 CAMILA RIBOLI RAMPAZZO O CLIMA URBANO EM ALFREDO MARCONDES/SP: UMA ANÁLISE DOS INDICADORES GEOAMBIENTAIS Monografia de Bacharelado apresentada ao Departamento de Geografia, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Câmpus de Presidente Prudente. ORIENTADOR: PROF.º DR.º JOÃO LIMA SANT'ANNA NETO PRESIDENTE PRUDENTE NOVEMBRO DE 2012 COMISSÃO EXAMINADORA ______________________________________________ Prof.º Dr.º João Lima Sant'Anna Neto (Orientador) ______________________________________________ Prof.ª Dr.ª Margarete Cristiane de Costa Trindade Amorim ______________________________________________ MsC. Gislene Figueiredo Ortiz ______________________________________________ Camila Riboli Rampazzo (Graduanda) Presidente Prudente/SP, 16 de novembro de 2012 Resultado: _____________________________________ FICHA CATALOGRÁFICA Pelas rosas, pelos lírios, pelas abelhas sinhá, Pelas notas mais chorosas do canto do sabiá, Pelo cálice das angústias da flor do maracujá! Fagundes Varela AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente aos meus pais, Sebastião A. Rampazzo e Olgari I. R. Rampazzo, e também meu irmão Carlos Eduardo R. Rampazzo, que permitiram que eu me dedicasse exclusivamente aos estudos, e para isso cuidaram de mim durante todos estes momentos. Agradeço pela força, preocupação e carinho e pelo amor que sempre senti ao lado de vocês. Agradeço ao meu orientador João Lima Sant'Anna Neto, por me orientar e partilhar parte dos seus conhecimentos comigo durante a realização desta pesquisa, possibilitando seu desenvolvimento, além da paciência e colaboração. Agradeço a Profª Margarete Amorim, que não hesitou em nos ajudar nos momentos de dúvidas, com contribuições valiosas, além do carinho e atenção. Agradeço a turma de alunos da Pós-Graduação em Geografia da FCT/Unesp de Presidente Prudente que cursam a disciplina de "Teoria e Método em Climatologia" em 2012, a turma "mais rasgada" da FCT. Todos sem exceção ajudaram durante a realização do trabalho de campo na cidade de Alfredo Marcondes/SP, bem como se esforçaram em possibilitar melhores formas de analisar os dados. Um obrigado especial para os pós-graduandos Rafael de Castro, Rubens, Gislene Ortiz e Núbia Armond, pela atenção, dicas e ajuda para a elaboração de etapas primordiais do trabalho. Além das queridas, Tainá, Gisele, e a turminha de meninas da sala, Marleide, Aline, Aline (Kura), Jéssica, Lara e Fernanda, que sem ordem de importância me ajudaram em diversas etapas deste trabalho. Agradeço também aos colegas do laboratório GAIA, que sem necessidade de citar nomes, sabem da importância que tiveram durante estes anos e nesta pesquisa. Agradeço aos colegas do curso de geografia pelo carinho durante estes quatro anos, em especial as meninas pelas horas de alegrias, tristezas e brincadeiras para sempre eternizadas em minha memória. Porque não agradecer as pessoas que esqueci de mencionar, que de uma forma ou de outra contribuíram para este trabalho, sintam-se agradecidas. Por fim, mas não menos importante agradeço ao meu namorado Carlos Elias Arminio Zampieri pela ajuda sem mencionar os motivos ou questionar, em todas as etapas deste trabalho e principalmente da minha vida. De forma a resumir, agradeço a este ser superior aos meros mortais que incessantemente olha por nós e nos mantêm firmes na vida. Meus sinceros agradecimentos a todos!!! Há homens que lutam um dia, e são bons; Há outros que lutam um ano, e são melhores; Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons; Porém há os que lutam toda a vida... Estes são os imprescindíveis. Bertold Brecht SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO...................................................................................................................17 2. JUSTIFICATIVA E REFERENCIAL TEÓRICO..................................................................21 2.1. Pressupostos teóricos e justificativa da temática.........................................................21 2.2. O clima urbano e a cidade: pressupostos teóricos e seus resultantes.........................25 2.3. Ilhas de calor e gradiente térmico e higrométrico - diferenças térmicas.......................44 2.4. Cidades de pequeno porte: a necessidade de identificar suas particularidades para compreensão do clima urbano...............................................................................................52 2.4.1. Indicadores geoambientais........................................................................................62 2.4.1.1 Usos e ocupação do solo........................................................................................63 2.4.1.2 Áreas Verdes - Vegetação arbórea........................................................................65 2.4.1.3 Edificações.............................................................................................................68 3. BREVE HISTÓRICO DOS ESTUDOS EM CLIMA URBANO...........................................73 4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO...................................................................82 4.1. Breve histórico do município e descrição do seu clima no âmbito regional..................82 5. PRESSUPOSTOS METODOLÓGICOS.............................................................................86 5.1. Levantamento das variáveis geoambientais..................................................................86 5.2. Fundamentação teórico metodológica para análise do clima urbano...........................91 5.2.1 As medições intra-urbanas; dia 28/07 e 15/10 de 2012..............................................96 5.2.2 Seleção dos pontos intra-urbanos para os registros móveis de temperatura, dias 28/07 e 15/10 de 2012..........................................................................................................100 6. ANÁLISES E RESULTADOS...........................................................................................110 6.1. Indicadores geoambientais..........................................................................................110 6.2. Análise das características térmicas no dia 28 de julho - inverno de 2012.................138 6.3. Análise das características térmicas no dia 15 de outubro - primavera de 2012........160 7. CONCLUSÕES E PROPOSTAS.....................................................................................181 Referências Bibliográficas e Apêndices, respectivamente.......................................186 e 192 Lista de Tabelas 01. Evolução da população e taxa de urbanização brasileira................................................25 02. Aspectos que possuem grande influência no processo de formação das ilhas de calor no âmbito do "urban canopy layer"..............................................................................................37 03. Aspectos que possuem grande influência no processo de formação das ilhas de calor no âmbito do "urban boundary layer"...........................................................................................38 04. Alguns limites nos quais ocorre mudança do tipo de fluxo de ar.....................................39 05. Propriedades radiativas de materiais urbanos.................................................................46 06. Propriedades radiativas de materiais rurais.....................................................................46 07. Características urbanas importantes para a formação de ilhas de calor e seus efeitos no balanço de energia sobre a superfície terrestre....................................................................51 08. Padrões de uso do solo estabelecidos para a cidade...................................................111 09. Classes estabelecidas de ocupação do solo (%)..........................................................117 10. Classificação da localização da vegetação e descrição de suas especificidades........120 11. Definição dos portes da vegetação considerados para a classificação lote a lote.......120 12. Classificação das densidades de vegetação por meio da relação entre o porte da vegetação e a quantidade de árvores.................................................................................122 13. Tipos de coberturas consideradas na malha urbana da cidade...................................127 14. Tipos de edificações consideradas na malha urbana da cidade..................................130 15. Tipos de materiais construtivos considerados na malha urbana da cidade.................132 Lista de Gráficos 01. Distribuição da temperatura do ar na área rural e urbana no dia 28/07/2012...............143 02. Distribuição das temperaturas dos pontos fixos durante os horários de registro no dia 15/10/2012............................................................................................................................167 Lista de Quadros 01. Sistema Clima Urbano (S.C.U): Articulação dos sistemas segundo os canais de percepção..............................................................................................................................42 02. Temperatura superficial dos materiais e suas propriedades de reflectância..................71 03. Modelo de planilha utilizada em campo..........................................................................89 04. Organização dos dados referentes a ocupação do solo, cálculo da taxa de ocupação das quadras e seu enquadramento em classes dadas em %...................................................116 05. Variáveis consideradas e seus pesos atribuídos..........................................................135 06. Distribuição das variáveis meteorológicas referentes ao ponto fixo urbano e rural.....142 07. Distribuição das variáveis climáticas do ponto fixo 1, no dia 15 de outubro.................194 08. Distribuição das variáveis climáticas do ponto fixo 2, no dia 15 de outubro.................194 09. Distribuição das variáveis climáticas do ponto fixo 3, no dia 15 de outubro.................195 10. Distribuição das variáveis climáticas do ponto fixo 4, no dia 15 de outubro.................195 11. Distribuição das variáveis climáticas do ponto fixo 5, no dia 15 de outubro.................196 12. Distribuição das variáveis climáticas do ponto fixo 6, no dia 15 de outubro.................196 13. Distribuição das temperaturas referentes aos pontos fixos urbanos e rural e diferenças térmicas entre os pontos.....................................................................................................166 Lista de Figuras 01. Representação das diferentes escalas de ocorrência da atmosfera urbana...................38 02. Balanço de radiação.........................................................................................................56 03. Microclima de uma rua interna e microclima de uma praça............................................58 04. Variação diária de temperatura (°C) sob vegetação com diferentes portes....................59 05. Indicador de uso do solo e subindicadores relacionados................................................87 06. Indicador de vegetação arbórea e seus subindicadores.................................................88 07. Indicador das características das edificações e seus subindicadores............................88 08. Localização dos mini-abrigos na área rural (A) e na área urbana (B)............................96 09. Imagem de satélite e fotografias dos pontos das instalações dos mini-abrigos meteorológicos na zona rural e na zona urbana .................................................................97 10. Vista parcial dos pontos fixos de registro 1, 2, 3, 4, 5 e 6 no dia 15 de outubro de 2012......................................................................................................................................99 11. Vista parcial dos pontos 1, 2, 3 e 4 no trajeto A-B........................................................102 12. Vista parcial dos pontos 5 e 6 no trajeto A-B................................................................103 13. Vista parcial dos pontos 1, 2, 3 e 4 do trajeto C-D.......................................................105 14. Vista parcial dos pontos 5, 6, 7 e 8 do trajeto C-D.......................................................106 15. Vista parcial dos pontos 13 e 14 do trajeto C-D...........................................................107 16. Demonstração da representação de uma árvore na carta...........................................123 17. Imagens do satélite GOES: América do Sul nos horários das 16:45h, 17:15h e 18:15h em 28 de julho de 2012......................................................................................................139 18. Perfil longitudinal da temperatura do ar no dia 28/07/2012 às 14hrs no trajeto A-B....148 19. Carta de isoterma referente ao dia 28 de julho de 2012 às 14hrs no trajeto A-B.........149 20. Perfil longitudinal da temperatura do ar no dia 28/07/2012 às 20hrs no trajeto A-B.....151 21. Carta de isoterma referente ao dia 28 de julho de 2012 às 20hrs no trajeto A-B.........153 22. Perfil longitudinal da temperatura do ar no dia 28/07/2012 às 14 hrs no trajeto C-D...156 23. Carta de isoterma referente ao dia 28 de julho de 2012 às 14hrs no trajeto C-D........156 24. Perfil longitudinal da temperatura do ar no dia 28/07/2012 às 20 hrs no trajeto C-D...158 25. Carta de isoterma referente ao dia 28 de julho de 2012 às 20hrs no trajeto C-D........160 26. Imagens disponíveis nas análises sinóticas: América do Sul nos dias 14 e 15 de outubro de 2012................................................................................................................................161 27. Imagens do satélite GOES: América do Sul nos horários das 23:30h (14/10), 06:30h e 11:15h e 16:00h do dia 15 de outubro de 2012..................................................................162 28. Perfil longitudinal da temperatura do ar no dia 15/10/2012 às 10hrs no trajeto A-B...170 29. Perfil longitudinal da temperatura do ar no dia 15/10/2012 às 12hrs no trajeto A-B...171 30. Perfil longitudinal da temperatura do ar no dia 15/10/2012 às 15hrs no trajeto A-B...172 31. Perfil longitudinal da temperatura do ar no dia 15/10/2012 às 10hrs no trajeto C-D..174 32. Perfil longitudinal da temperatura do ar no dia 15/10/2012 às 12hrs no trajeto C-D...176 33. Carta de isoterma referente ao dia 15 de outubro de 2012 às 10hrs...........................178 34. Carta de isoterma referente ao dia 15 de outubro de 2012 às 12hrs trajetos A-B e C- D.........................................................................................................................................179 35. 36. Vista parcial dos pontos 7, 11, 15 e 17 do trajeto A-B...........................................192 36. Vista parcial dos pontos 19, 20, 23 e 24 do trajeto C-D...............................................193 Lista de Cartas 01. Apresentação dos pontos fixos e móveis de registro no dia 28 de julho de 2012........ 94 02. Apresentação dos pontos fixos e móveis de registro no dia 15 de outubro de 2012....95 03. Representação do indicador geourbano dos Usos do solo..........................................113 04. Representação do indicador geourbano da Ocupação do solo....................................118 05. Representação do indicador geoambiental de Densidade de vegetação e Localização pontual da vegetação no lote..............................................................................................124 06. Representação do atributo geourbano de Cobertura das edificações.........................129 07. Representação do atributo geourbano dos Tipos de Edificações da cidade...............131 08. Representação do atributo geourbano dos Tipos de materiais construtivos...............133 09. Índices das Condições de conforto do ambiente........................................................137 Lista de Mapas Mapa 1 - Localização da Área de estudo.............................................................................82 RESUMO RAMPAZZO, Camila Riboli. Clima urbano em Alfredo Marcondes/SP: uma análise dos indicadores geoambientais. Presidente Prudente, 2012. Monografia de Bacharelado em Geografia - Faculdade de Ciências e Tecnologia "Júlio de Mesquita Filho, Universidade Estadual Paulista, 2012. São evidentes as transformações que ocorrem no espaço das cidades, sentidas em síntese pela degradação da qualidade do ambiente e principalmente o agravamento da qualidade de vida da população. Até mesmo as cidades de pequeno porte, passaram a apresentar características atmosféricas típicas de um clima local. Assim, se torna singular analisar as particularidades destes espaços que, diferente das médias e grandes cidades, possibilitam uma análise detalhada das particularidades do espaço intra-urbano no intuito de evidenciar quais os fatores que potencializam ou que amenizam as formações de um clima tipicamente urbano em distintos padrões de uso do solo. Pretende-se com esta pesquisa partir de uma representação dos atributos geoambientais (usos e ocupação do solo, vegetação arbórea e características das edificações) enquanto representativos das dinâmicas citadinas. Com isso, busca-se inter-relacionar estes indicadores com a análise climática urbano-rural e intra- urbana aplicada à cidade de Alfredo Marcondes/SP, uma cidade de pequeno porte, a fim de identificar um possível comprometimento das condições climáticas a ponto de gerar um clima específico. A partir desta análise detalhada, pretende-se dar sugestões junto ao poder público para melhorar as condições de conforto de tal ambiente. Para o levantamento dos dados foi organizada uma metodologia específica para sua obtenção, organização e representação e para o registro dos dados climáticos (temperatura, direção e velocidade do vento e nebulosidade), foram utilizados mini-abrigos meteorológicos com sensores de temperatura nos pontos fixos, e um sensor de temperatura acoplado na lateral de um veículo, a 1,5 metros de altura do chão perpassando pelos 42 pontos selecionados nos distintos espaços intra-urbanos da cidade, nos trajetos A-B e C-D. Os registros foram feitos em dias representativos da estação de inverno (28 de julho) e primavera (15 de outubro) no ano de 2012. Verificou-se que a cidade apresenta características de um clima urbano, cujas magnitudes chegaram a 5,6°C de diferença térmica em pontos com características distintas. Além disso, a intensa ocupação do solo se mostrou um elemento singular em uma cidade de pouco mais de 1km² em extensão territorial e que possui aproximadamente 2 mil lotes, e isso, associado à ausência de vegetação, foram os elementos que mais contribuíram de forma pontual no aumento de temperatura, demonstrando a importância de pensar em medidas que contribuam para que a cidade apresente características térmicas mais agradáveis, considerando uma maior facilidade de aproximação junto aos seus dirigentes. As condições sinóticas evidenciadas durante a realização dos registros das variáveis climáticas também foram significativos nos valores térmicos obtidos, sobretudo em relação aos pontos fixos urbanos e rural, acentuando ou diminuindo as diferenças térmicas entre os pontos. Palavras-Chave: Clima urbano - Cidades de pequeno porte - Alfredo Marcondes/SP - Indicadores geoambientais. ABSTRACT RAMPAZZO, Camila Riboli. Clima urbano em Alfredo Marcondes/SP: uma análise dos indicadores geoambientais. Presidente Prudente, 2012. Monografia de Bacharelado em Geografia - Faculdade de Ciências e Tecnologia "Júlio de Mesquita Filho, Universidade Estadual Paulista, 2012. There are obvious changes that occur within the cities, experienced in synthesis for the degradation of the environment and especially the worsening quality of life. Even small cities, began to exhibit characteristics typical of an atmospheric climate. Thus, it becomes natural to analyze the characteristics of these spaces, unlike the medium and large cities, provide a detailed analysis of the peculiarities of intra-urban space in order to highlight what factors enhance or soften the formations of a typical urban climate distinct patterns of land use. The aim of this research from a geoenvironmental mapping of attributes (uses and land cover, vegetation and tree characteristics of buildings) while representing the dynamic City entertainment. Thus, we seek to inter-relate these indicators to analysis climate urban-rural and intra-urban applied to the city of Alfredo Marcondes / SP, a small town in order to identify a potential compromise climate conditions point to generate a specific climate. From this detailed analysis, we intend to give suggestions with the government to improve the comfort of that environment. For the data collection was organized a specific methodology for its collection, organization and representation and for the record of climatic data (temperature, wind speed and direction and cloud cover) were used mini-shelters weather with temperature sensors in fixed locations, and a temperature sensor attached on the side of a vehicle, 1.5 meters in height from the floor for 42 points perpassando selected in different intra-urban spaces of the city, in the paths AB and CD. The recordings were made on days representative of the winter season (July 28) and spring (October 15) in 2012. It was found that some characteristics of a city urban climate, whose magnitudes reached 5.6 ° C difference in thermal dots with different characteristics. Moreover, the intense land use proved a singular element in a city of just over 1km ² in area and has approximately 2000 lots, and this, coupled with the absence of vegetation, were the elements that contributed most punctually increase in temperature, demonstrating the importance of considering measures to help the city presents thermal characteristics nicer, considering ease of approach among its leaders. The synoptic conditions evident during the performance records of climate variables were also significant in the thermal values obtained, particularly in relation to rural and urban fixed, accentuating or decreasing the temperature differences between points. Key Words: Urban climate - Small cities - Alfredo Marcondes/SP - Indicators geoenvironmental. Lista de Siglas 01. Sistema Clima Urbano...............................................................................................S.C.U 0.2 . Ilha de calor...................................................................................................................IC 16 17 1. INTRODUÇÃO A Revolução Industrial foi um marco no processo de transformação do espaço natural em espaço adaptado (SERRA, 1936, p.45), materializando-se a partir da intensa urbanização e o crescimento do número de cidades, cujas derivações acabam por alterar as dinâmicas climáticas no âmbito local. As cidades no contexto destas transformações, passaram a ser os principais locais de atuação humana e na mesma proporção passaram a refletir as condições de degradação do ambiente. (LOMBARDO, 1985; MENDONÇA, 1994) As grandes e médias cidades talvez pela facilidade de evidenciar os problemas que se processam em seus espaços urbanos, foram amplamente estudadas, confirmando a hipótese da formação de um clima específico ou urbano resultante da interação clima e superfície e, principalmente a necessidade de políticas de planejamento urbano para readequação de seus espaços. Sabendo da existência das problemáticas urbanas, que se materializam na forma de ilhas de calor, poluição, diferenças térmicas, alagamentos e inundações, entre outros, a presente pesquisa parte do pressuposto de que o conjunto urbano das pequenas cidades também são suficientemente capazes de produzir diferenças térmicas que se contrastam em relação às zonas rurais principalmente, mas também nos pequenos espaços que particularizam a cidade. As mudanças na paisagem natural se evidenciam notadamente pela retirada da cobertura vegetal e a incorporação ao aparato urbano de elementos como, pavimentação, edificações, intensa impermeabilização, emissão de poluentes, materiais construtivos inadequados, entre outros, que alteram o balanço de energia, muito vinculado as distintas formas destes objetos responderem à incidência de radiação (AMORIM, 2000, p.22). O mesmo ocorre em cidades de pequeno porte, mudando apenas as proporções e os fatores que potencializam a geração de uma atmosfera particular, sabendo disso e apropriando-se de uma cidade com tais características, no caso a cidade de Alfredo Marcondes/SP, é singular identificar em tais espaços quais os fatores e elementos que estão vinculados e mais influenciam nas modificações atmosféricas, notadamente no campo térmico. Assim, elementos relacionados aos usos e ocupação, a vegetação arbórea e as características construtivas são, dentre os fatores, os que mais influenciam de forma pontual na alteração térmica em distintos espaços intra-urbanos no contexto citadino. O potencial das cidades de pequeno porte de modificar as características atmosféricas locais, como é o caso de Alfredo Marcondes/SP enquanto recorte territorial do presente estudo, que possui uma menor densidade populacional e extensão territorial de pouco mais de 1km²; não pode ser refutado, visto que diversos trabalhos realizados neste 18 sentido, demonstram modificações nos padrões climáticos comparáveis aos de médias e grandes cidades. Além disso, Monteiro (1976) enquanto norteador do referencial teórico- metodológico do Sistema Clima Urbano (S.C.U), deixa claro que o clima urbano se individualiza de forma independente do grau de urbanização, ou espacial da cidade, sendo na verdade consequência da intervenção inadequada na paisagem. Alfredo Marcondes localizada no Oeste do estado de São Paulo, é uma típica cidade de pequeno porte, cujas atividades são voltadas ao abastecimento domiciliar, não possui atividades industriais, nem verticalização, sua população é de 3.891 habitantes segundo IBGE censo (2010), mas suas características do espaço construído sugerem a potencialidade da cidade em apresentar uma atmosfera urbana correspondente às suas características internas. Apropriando-se de tais pressupostos o presente trabalho pode vir a contribuir com o conhecimento dos espaços das cidades de pequeno porte, salientando a influência dos aspectos geoambientais, na geração de um clima urbano. Para tanto esta pesquisa traz como proposta o levantamento e representação detalhada dos indicadores geoambientais como sendo os que mais interferem nas características térmicas da cidade, para que, com base nisso possam ser propostas medidas mitigatórias de melhoria das condições de qualidade do ambiente para a população. Para que isso se efetive será tomado como referencial a metodologia para identificação das características climáticas urbana e intra- urbana da cidade, implementada por Amorim (2000), que faz um apanhado de técnicas e propostas organizadas desde Monteiro (1976, 1990), Tarifa (1977), entre outros. As cidades de pequeno porte permitem uma aproximação e facilidade em levar sugestões positivas ao poder público local, quando comparadas com as médias e grandes cidades, o que instiga ainda mais o conhecimento e realização do estudo. Para efetivação das idéias acima propostas a pesquisa tem por objetivo estabelecer uma interrelação entre os indicadores geoambientais (incluindo aspectos naturais e urbanos) representativos da área urbana de Alfredo Marcondes/SP, na construção social do clima urbano, bem como estabelecer sua influência neste processo. Para tanto, foram estabelecidos os objetivos específicos de identificar e representar os indicadores geoambientais referentes aos usos e ocupação do solo, a vegetação arbórea e as características das edificações. Avaliar as características climáticas da cidade de Alfredo Marcondes por meio da comparação das variáveis climáticas no ambiente urbano- rural, bem como em pontos de registro representativos dos seus espaços intra-urbanos, buscando evidenciar diferenças térmicas. E por fim, entender qual a participação destes indicadores elencados na amenização ou potencialização da geração de um clima urbano, 19 de forma detalhada que permita dar sugestões junto ao poder público para melhorar as condições de conforto de tal ambiente. Desta forma, na tentativa de analisar de forma justaposta a cidade em estudo através de suas respostas térmicas frente aos aspectos geoambientais selecionados, esta monografia foi estruturada através de VII capítulos sequenciais. O capítulo I, contempla as idéias iniciais no que tange às cidades pequenas e o clima urbano para o estabelecimento dos objetivos a serem alcançados pelos estudos, os quais foram norteadores do andamento da pesquisa. O capítulo II, apresenta a justificativa e relevância da presente pesquisa, de forma integrada ao referencial teórico acerca da temática, com destaque a alguns eixos centrais como o clima urbano, os aspectos geoambientais (urbanos e naturais), as cidades de pequeno porte, as alterações térmicas e/ou ilhas de calor, bem como a interação clima e superfície. O capítulo III, consistiu em um breve histórico dos estudos em clima urbano, com destaque para alguns estudos em cidades de pequeno porte, que se identificam com o trabalho ora proposto. O capítulo IV, traz uma breve caracterização da área de estudo com ênfase na apresentação das características dos "principais" pontos de registro selecionados para as medidas das variáveis climáticas, incluindo os pontos fixos e móveis dos dois dias de análise. O capítulo V, consiste na apresentação dos pressupostos metodológicos utilizados para o levantamento das variáveis geoambientais (usos e ocupação do solo, vegetação e edificações) e os pressupostos teórico-metodológico para identificação e análise do clima urbano. O capítulo VI, corresponde às análises e resultados da pesquisa, tanto referentes a parte inicial de levantamento e representação dos aspectos geoambientais, como os resultados das análises do clima urbano. Por fim, o capítulo VII apresenta as considerações finais e as propostas para a área de estudo, bem como uma síntese dos resultados obtidos, oferecendo um panorama da área de estudo e seu clima urbano. 20 21 2. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS E JUSTIFICATIVA DA TEMÁTICA. 2.1 Algumas considerações iniciais A grande discussão em vários segmentos da sociedade, incluindo pesquisadores como arquitetos, especialistas na área da saúde, engenheiros, geógrafos, sociólogos e principalmente urbanistas, são as questões referentes à crescente urbanização em nível do planeta, já que desde o último século mais de 50% da população reside em áreas urbanas, estando sujeitas aos problemas de tal ambiente. Naturalmente, se o espaço urbano passou a comportar um número maior de pessoas, na mesma proporção seria preciso aumentar a disponibilidade de infra-estrutura, serviços e moradias urbanas para os novos residentes. É quase sempre óbvio, para não cair no determinismo, que isso não ocorre em escala espacial e temporal na mesma medida em que se expandem às áreas urbanas, e é justamente isso que provoca uma defasagem nas medidas de qualidade do ambiente, que são tomadas não para prever ou impedir a ocorrência de uma deterioração das condições urbanas, mas como meio para reparar os danos e problemas acumulados durante anos de apropriação indevida. As transformações decorrentes do processo de urbanização concentrada e desordenada, desde a Revolução Industrial no século XVIII, trouxeram mudanças particulares para algumas cidades devido às intervenções mais intensas da sociedade moderna. As mudanças mais evidentes nas paisagens são vistas a partir da retirada intensiva da vegetação (desmatamento) e sua substituição por uma variedade de usos e ocupação do solo em detrimento dos ecossistemas naturais. Tal situação implica no surgimento de condições específicas, sendo necessário repensar as questões referentes à qualidade de vida da sociedade. Esta é senão a principal, uma das maiores inquietações na atualidade, já que as cidades enquanto reflexo das construções humanas, é também o local de vivência da maior parte da população, em que se evidenciam mudanças nos padrões de temperatura por meio de regiões com gradientes térmicos acentuados (ilhas de calor), um maior número de enchentes, poluição, e desconfortos dos mais diversos devido à inadequação dos espaços construídos às condições do clima. Sabe-se que o clima é um importante componente no planejamento urbano, entretanto pouco das mudanças nos padrões de interrelação entre as dinâmicas da atmosfera e superfície são considerados na organização dos espaços urbanos públicos ou residenciais, ou seja, o conforto do ambiente é notoriamente negligenciado, apesar de 22 muitas das características do clima urbano serem conhecidas, incluindo seus condicionantes e produtos. O fluxo populacional para as cidades ocorre a uma velocidade que o planejamento urbano não consegue acompanhar, seja na adequação sanitária, de habitação ou abastecimento, enfim, fazendo com que a cidade atue efetivamente como agente modificador das características do ambiente urbano e do clima regional, criando condições para a definição do clima urbano. Neste sentido, tal como indica Lombardo (1997, p.60), as atividades humanas no contexto da cidade, como “a intensidade de veículos, a concentração industrial, o adensamento de edificações, processo de verticalização, e o asfalto de ruas e avenidas, a diminuição de áreas verdes, criam condições específicas de padrões de uso do solo urbano.” Isso se torna de extrema relevância já que são fontes adicionais de calor, que resultam das atividades humanas provocando a diminuição da qualidade do ambiente e principalmente aumentando a vulnerabilidade da população às enfermidades e os desconfortos notadamente térmicos. De acordo com Assis (2006, p.20) as cidades dos países em desenvolvimento, com ênfase no Brasil, têm crescido quase sem nenhum controle ou planejamento, estando à frente das ações dos governos locais em prover adequada infraestrutura, habitação e qualidade de vida. A urbanização desencadeada desta forma, segundo a autora, implica em uma série de danos no ambiente natural e construído, que são sentidos principalmente na atmosfera local. Desta forma, observa-se que um dos fatores que mais contribuem para a intensificação desta problemática é a falta de integração entre os conhecimentos da climatologia urbana e as ações de planejamento e projeção das cidades, sendo necessário trazer para as discussões as abordagens de tais ciências a fim de ações conjuntas na geração de conhecimentos úteis ao planejamento urbano e gestão das cidades. Um aspecto singular na interrelação clima e planejamento é considerar a interferência da forma urbana (estruturas e funções), nas mudanças de temperatura do ar no ambiente da cidade. Estas duas visões, principalmente, permitem entender o clima da cidade enquanto produto direto dos processos de trocas de energia entre o ar atmosférico e o ambiente construído. Considerar o clima urbano a partir deste paradigma permite desenvolver todas as demais discussões sobre ilhas de calor (OKE, 1982), diferenças térmicas, bolsões de ar aquecidos, ilhas de frescor, etc.; possibilitando entender o papel dos condicionantes urbanos nas mudanças climáticas causadas pelos assentamentos urbanos. (ASSIS, 1997). 23 Além disso, o mais importante a considerar é que se põe em evidência o papel da geometria do relevo e da inércia térmica dos materiais de construção na mudança das trocas de energia em áreas urbanas, cujas maiores responsabilidades recaem sobre o planejamento, os projetos e sobre a qualidade de vida urbana. (ASSIS, 1997, p.135). É certo que os estudos em climatologia contribuem para o planejamento e a preservação da qualidade física e ambiental urbana, porém sua aplicação se limita a poucos casos, e de acordo com Assis (2006, p.21) isso ocorre não somente pelo distanciamento entre estas ciências, mas principalmente por seu caráter descritivo. Para tanto, considera-se que a dinâmica dos atributos ou indicadores climáticos se dá em vários ritmos, inter-relacionados com a atmosfera, hidrosfera e sócio-biosfera, que se repercutem e interagem no âmbito das atividades humanas e no ambiente, e é por meio destes ritmos e interações (ar, água, solo e vegetação), que a vida é criada, destruída e reproduzida (SETTE, 2005, p.30). Sendo assim, dada a importância e ligação entre tais unidades torna-se de fundamental importância analisar a forma com que se dão estas relações e principalmente os produtos daí consequentes, para que possamos pensar em formas de amenizá-los ou diminuir seus impactos. Sabendo disso, e objetivando elaborar uma análise detalhada, passível de ser levada a conhecimento público, com vistas a contribuir com as medidas de planejamento do espaço na melhoria das condições do ambiente, vê-se como necessário uma representação detalhada dos elementos e das dinâmicas do clima urbano, não apenas de forma descritiva, mas a fornecer subsídios efetivos que sejam úteis à tomada de decisões no âmbito do espaço urbano, tal como argumenta Assis (1997; 2006). A massa construída das cidades (edificações, pavimentação) passa a configurar-se como resultado da interação humana sobre o espaço adaptado produzindo alterações na paisagem natural, que resultam em inúmeras problemáticas, onde a degradação da qualidade ambiental urbana é em suma o resultado da complexidade citadina (BARBIRATO, SOUZA, TORRES, 2007, p.21). Além disso, de acordo com Amorim (2000, p.18) a maioria das cidades brasileiras cresceu sem levar em consideração o seu contexto climático, devido a isso, torna-se de muita relevância que “o relevo, uso e ocupação do solo, enfim, os condicionantes geoambientais e urbanos devem ser estudados pela climatologia, a fim de que seja possível diagnosticar as alterações presentes na atmosfera urbana, para contribuir com o planejamento da cidade” (AMORIM, 2000, p.18). Diversos estudos são desenvolvidos principalmente em cidades de médio e grande porte, muitas vezes porque os problemas ambientais e urbanos são percebidos com maior frequência e facilidade, bem como acometem um maior número de pessoas. Já no caso das 24 cidades de pequeno porte, devido a menor complexidade de seus espaços, somente a partir dos anos 90 se tem estudos voltados também ao comprometimento da atmosfera urbana local em cidades com menor dinamismo, porém não menos importantes aos estudos de clima urbano. Monteiro (2009, p.19) enfatiza que não há preocupação em precisar a partir de que grau de urbanização ou características geoecológicas locais se poderia pré-determinar a existência de um clima urbano, ou seja, mesmo as cidades de pequeno porte, como é o caso de Alfredo Marcondes/SP, são capazes de modificar o comportamento dos elementos climáticos que compõe sua atmosfera local. Isso interessa mais ainda, pois os problemas evidenciados em qualquer das cidades, atingem de forma mais ou menos intensa a população, pois a magnitude de tais problemas não é proporcional às suas dimensões, mas sim às características do local e a forma com que se deu o processo de estruturação do espaço considerado. Alfredo Marcondes, localizada no Oeste do Estado de São Paulo constitui-se como uma típica cidade de pequeno porte, com pouco dinamismo econômico e atividades voltadas principalmente ao abastecimento local. O interessante é que apesar de possuir pouco mais de 1Km² em extensão territorial e uma população de 3.891 habitantes, as características geoambientais (MONTEIRO, 1990, p.13) da cidade (relacionadas a forma de estruturação e as funções urbanas do espaço) sugerem particularidades/implicações na configuração de um clima específico. Por se tratar de uma cidade pequena, a relevância de tal estudo, está principalmente no fato de propiciar ao pesquisador a identificação detalhada de suas características intra- urbanas (MENDONÇA, 2009, p.93), que repercute na definição específica dos fatores que contribuem para a geração de um clima urbano, bem como possibilita que sejam propostas medidas para melhorar as condições de tal espaço. O geógrafo tem papel fundamental neste processo, por possuir condições de compreender a relação entre os elementos climáticos da cidade com as características específicas da estrutura urbana (AMORIM, 2000, p.19). Além disso, esta pesquisa, dado o detalhamento de seu levantamento, pode contribuir para os estudos em cidades de pequeno porte, e principalmente ao poder público, no ordenamento das cidades de tais dimensões para que as mesmas não venham a sofrer problemas de magnitude tão alta quanto às cidades de médio e grande porte, ainda que estejam sujeitas a um aumento populacional e expansão urbana. 25 2.2 O clima urbano e a cidade: pressupostos teóricos e seus resultantes. No cenário brasileiro o processo de urbanização tem se caracterizado pela intensidade e rapidez com que vem ocorrendo, sendo que a partir de meados do século XX deixou de ser predominantemente agrário, transformando-se em um país de caráter urbano (DEÁK, 1999). Santos (2005, p.31) considera que há uma verdadeira inversão quanto ao lugar de residência da população brasileira entre os anos de 1940 e 1980, com grande influência da lógica da industrialização e dos esforços complexos de integração do território, cujas resultantes acentuam a concentração da população nas cidades impulsionando o processo de urbanização ao mesmo tempo em que firmam as formas capitalistas de produção e divisão do trabalho. Neste contexto Santos (2005) argumenta que: Há meio século atrás (1940), a taxa de urbanização era de 26,35%, em 1980 alcança 68,86%. Nesses quarenta anos, triplica a população total do Brasil, ao passo que a população urbana se multiplica por sete vezes e meia. Hoje, a população urbana passa dos 77%, ficando quase igual à população total de 1980. (SANTOS, 2005, p.31) A tabela (1) abaixo permite visualizar a proporção deste processo de forma abrupta desde os anos 40 até os anos 2010, de forma que as cidades tiveram que se reorganizar para assentar uma proporção numericamente superior a capacidade original de indivíduos. Tal situação não haveria de ter como produto, algo que não à degradação da qualidade do ambiente e o comprometimento da vida dos indivíduos destes aglomerados humanos. Brasil População total População urbana Índice de urbanização População Total de Alfredo Marcondes/SP 1940 41 326 000 10 891 000 26,35 ... 1950 51 944 000 18 783 000 36,16 16054 1960 70 191 000 31 956 000 45,52 7638 1970 93 139 000 52 905 000 56,80 6917 1980 119 099 000 82 013 000 68,86 4318 1991 2000 2010 150 400 000 169 799 170 190 755 799 115 700 000 137 953 959 160 925 804 77,13 81,25 84,36 3503 3685 3891 Tabela 1: Evolução da população e taxa de urbanização brasileira. Fonte: Santos, 2005, p.32, adaptação da autora. 26 A evolução da população de Alfredo Marcondes/SP também foi adicionada aos dados a fim de comparar se a forma de crescimento da população na cidade foi semelhante às características à nível nacional, e com base nos dados se verifica que não foi da mesma forma. De maneira contrária, observa-se que nos anos 50 a população marcondense era mais de três vezes maior que atualmente, e gradativamente até a década de 90, a população diminuiu significativamente, chegando a 3.503 habitantes. De forma distinta, no âmbito nacional a população aumentou de forma singular durante este período, sendo que uma dinâmica que pode explicar esta configuração é o próprio deslocamento da população para as grandes metrópoles durante este período a fim de buscar facilidade de emprego ensejando, dentre outros, melhores condições de vida. Com isso, as pequenas cidades, como é o caso de Alfredo Marcondes/SP, acabavam por perder habitantes devido a migração da população para cidades maiores e em plena expansão produtiva durante estas décadas, por exemplo. A partir dos anos 90 a população de Alfredo Marcondes voltou a aumentar, porém em proporções menores do que a diminuição da população nas décadas anteriores. Observa-se, por exemplo, que nos últimos 20 anos a população aumentou em 388 habitantes, estando com 3.891 habitantes segundo o último censo (IBGE, 2010). No contexto dos anos 60, no âmbito nacional, assume importância as novas relações sócio-espaciais capitalistas, atribuindo novas funções para as cidades, e nesta dinâmica “- industrialização e a urbanização –“ tornam-se um só processo. (DEÁK, 1999, p.16). A década de 50 e principalmente os anos 60 marcam esta nova conjuntura sócio- espacial vivenciada no Brasil, marcadamente pelo processo de urbanização, inserindo-o em uma nova dinâmica de acumulação e organização, caracterizada pela industrialização e o aumento gradativo do número de cidades, destacando a velocidade com que isso reordena e estrutura o espaço urbano do país. (SCHIFFER, 1999, p.96) Santos (2002, p.131) acrescenta que decorrente da dinâmica capitalista acentua-se a tendência de diversificação da natureza, antes operada por forças naturais e agora se realizando por meio das forças sociais, tal processo se intensifica com a indústria e as técnicas que o homem passa a dispor, alterando o conjunto de trocas de energia. Com a marcha do capitalismo, amplia-se a tendência a que, sobre a diversificação da natureza, operada pelas forças naturais, se realize uma outra diversificação, também à escala global, mediante forças sociais. [...] Com a indústria, esta tendência se acentua ainda mais, graças às técnicas que o homem para a dispor, já que estas interferem em todas as fases do processo de produção, através das novas formas de energia comandadas pelo homem. (op cit, p.131) 27 Segundo dados do Censo 2010 (IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) o total da população brasileira residindo em áreas urbanas é de 84,36%, valores alcançados pela crescente atratividade das cidades e pela expulsão da população rural, caracterizando o processo marcante de êxodo rural no Brasil, ou ainda a primazia da cidade sobre o campo. Monteiro (1997, p.69) se refere à intensificação do processo de urbanização, enquanto fator fundamental para o entendimento das atuais conjunturas e organização das cidades, no que tange às mudanças na dinâmica natural da atmosfera, modificando o balanço de energia entre esta e a superfície. Apesar de não duvidarmos que a utilização de combustíveis fósseis, as actuais práticas agrícolas e a crescente exploração dos cursos de água podem gerar impactes significativos no sistema climático, a intensificação dos processos de urbanização é, em nossa opinião, um dos melhores estudos de caso para demonstrar como o modus vivendi das sociedades actuais, pode ser responsabilizado por algumas das manifestações de mudança climática temporárias e/ou permanentes, evidentes a várias escalas espaciais. (MONTEIRO, 1997, p.69, grifo do autor). Tal como salientado, associa-se a isso, o fluxo constante de pessoas oriundas do campo para a cidade, causando um inchaço nestas áreas urbanas, constituindo arranjos desordenados, desprovidos em sua maioria de planejamento e organização urbana, dada principalmente à velocidade com que isso se materializa. O que deve ser ressaltado é que, desse jogo campo-cidade, resultou um exacerbado processo de urbanização que, na visão oficial, geraria regiões metropolitanas, em torno de uma dezena, onde o improviso (ilegal) superava, de muito, o planejado (legal) (MONTEIRO, 2003, p.10). Ou ainda, Lombardo (1985) argumenta sobre este processo característico brasileiro da seguinte forma: Durante as últimas décadas, as cidades dos países menos desenvolvidos que se encontram na franja de clima tropical têm-se convertido numa espécie de atração para a população rural. A numerosa migração rural e as elevadas taxas de reprodução têm provocado uma explosão do crescimento urbano. (p.18) Neste sentido, entendemos que é na cidade onde se estabelecem as mais variadas atividades, funções que lhe são atribuídas e relações em âmbito político, econômico e social, este último atribuindo um olhar especial, visto que a cidade é o cenário de interação 28 entre o Homem e a Natureza, conferindo mobilidade e dinamicidade ao espaço. (MONTEIRO, 2009, p.10). A cidade passou a ser o local de atuação e de modificação por meio da ação do homem constituindo espaços produzidos e adaptados que agrega elementos novos como, desmatamento, asfaltos, construções, entre outros que nos remete a considerar a não existência de espaços inalterados pela ação humana. (BARBIRATO, SOUZA, TORRES, 2007; LOMBARDO, 1985; MONTEIRO, 2009). Lombardo (1985, p.17) se refere à cidade enquanto resultado da complexidade da intervenção humana a qual se denomina de segunda natureza, expressão atribuída por Santos (1980 apud op cit), a esse processo de constante transformação e dinamicidade da natureza em seu estado primeiro, natureza naturans para uma segunda natureza, natureza naturata. Natureza e cidade1 se tornam peças do mesmo processo, não podendo ser estudados de forma isolada, já que fica evidente à existência de um híbrido entre estes elementos e é justamente isso que permite que se faça uma análise e interpretação dos fenômenos na atual conjuntura da sociedade. As cidades pequenas, médias e grandes passaram a ser objeto de preocupação e estudo devido à degradação das condições de vida e as alterações na atmosfera urbana, realidade que se agrava quando observamos a existência de subespaços urbanizados na cidade, visto que as condições econômicas e sociais da população não são homogêneas se refletindo nas condições de moradia, exclusão social, salubridade, renda, etc. Mendonça (2009, p.176) se refere a este processo remetendo-se ao contexto do Estado moderno que além de inferir novas dinâmicas à cidade, deixou aquém a cidade de todos pela cidade de alguns (apud LEFEBVRE, 1991). Como resultado das relações capitalistas de produção, as cidades passaram a centralizar a produção, o consumo, a circulação, em suma o poder, onde predominam interesses privados e individuais em detrimento dos públicos e coletivos (MENDONÇA, op cit). Neste sentido, Monteiro salienta que: Tudo isso, aliado à própria dinâmica da população aí concentrada, circulando e desempenhando variadas atividades e serviços, faz com que as cidades sejam – por excelência – os lugares onde as resultantes ambientais configuram-se como obra conjunta de uma natureza retalhada e afeiçoada aos propósitos do viver humano. (2009, p.10) 1 Cidade aqui vista enquanto resultado do processo de urbanização e transformação do ambiente natural e lócus de vivência da população, onde se dão a maior parte das relações sociais e de produção. 29 Tal situação se torna relevante quando consideramos que estas transformações no espaço urbano, ou seja, - uma paisagem natural que vem sendo substituída por uma paisagem antrópica, - não se dá de forma harmônica, e a forma de organização da sociedade e os tipos de relações que nela se estabelecem, materializando-se nas mais variadas formas de uso e ocupação do solo, sugerem a potencialidade da cidade em modificar os circuitos de energia e matéria. Concordamos com Lombardo (1985, p.17-18) quando salienta que é “no espaço urbano que os problemas ambientais atingem maior amplitude, notando-se maior concentração de poluentes do ar e da água e degradação do solo e subsolo, em consequência do uso intensivo do território pelas atividades urbanas”. A remoção desta cobertura natural e a reformulação do sítio urbano, aliados às intensas atividades econômicas e sociais, provocam estas mudanças na dinâmica natural, modificando as trocas de energia entre a superfície e a atmosfera, devido, principalmente, aos variados tipos de materiais construtivos utilizados nas construções, a concentração de pessoas, serviços e fluxos, poluição e desmatamento. É fundamental considerar, a contribuição do homem na modificação – travando ou intensificando – das trocas de energia entre os sistemas, sendo, portanto, fundamental analisar sua co-participação em escalas gerais, ou em respostas regionais e locais. (MONTEIRO, 1997, p.67). O que modifica por sua vez, o balanço de energia que “representa a diferença entre as radiações recebidas pela superfície terrestre e aquela devolvida ao espaço, após as interações térmicas entre as superfícies e o ar”. (BARBIRATO; SOUZA; TORRES; 2007, p.66). Estas discussões se fazem necessárias quando observamos que a forma como ocorreu o processo de urbanização no Brasil e em diversos países, trouxeram graves problemas ambientais associados à degradação da qualidade ambiental. Uma das principais formas de percepção destes problemas se faz por meio do clima e nas cidades, já que a grande maioria da população nela reside e estão sujeitas as variações diárias das condições do tempo de forma direta. Os estudos em climatologia urbana estão associados ao planejamento urbano com vistas a identificar a existência destes problemas a fim de propor medidas que amenizem seus efeitos sobre as condições de vida da população, ou ainda no caso de cidades pequenas buscam prever a existência de alterações na dinâmica climática local e propor medidas, para que as mesmas não venham a apresentar os problemas principalmente evidenciados nas grandes metrópoles. 30 Em se tratando de um ambiente construído, mais específico à cidade, são utilizados materiais construtivos com propriedades térmicas diferenciadas, pavimentação asfáltica, verticalização, entre outros, ou seja, há um aumento das rugosidades presentes no espaço que acabam por alterar as características da atmosfera local, principalmente os índices de temperatura, umidade relativa e poluição do ar. A superfície natural torna-se predominantemente impermeabilizada devido à concentração de áreas construídas, associada à maior inércia térmica dos materiais, dificultando a infiltração da água e o escoamento areolar e retendo/armazenando uma maior quantidade de calor durante os horários de incidência de radiação, situação que é prejudicada pela ausência de vegetação e associados, tais processos alteram o balanço de energia e acabam por gerar um clima urbano particular da cidade. Conforme acentua Lombardo (1985, p.23): Com a expansão das cidades, modifica-se substancialmente a paisagem natural. A grande concentração de áreas construídas, parques industriais, adensamento populacional, pavimentação asfáltica, associados à concentração de poluentes, criam condições para alterar o comportamento da baixa troposfera (camada limite), e em ambientes urbanos. A forma descontrolada com que se dá o uso e ocupação do solo, ou mesmo à diversidade de formas de organização urbana acabam por produzir desconfortos ambientais de várias ordens, térmicos, acústicos, visual, de circulação, poluição, que resultam em um ambiente desagradável para a vivência da sociedade. (LOMBARDO, 1985, p.18) Diversas são as formas com que estes problemas se expressam e se inter- relacionam no espaço urbano: ilhas de calor e ilhas de frescor de variadas intensidades, chuvas intensas, inundações, poluição atmosférica, se fazem presentes no cotidiano da sociedade, que passa a sofrer as consequências desta natureza alterada. O clima constitui um dos mais importantes componentes do sistema ambiental, conhecer sua dinâmica e interação com os demais elementos é condição necessária para o entendimento de suas manifestações. Monteiro (2009, p.14) toma como premissa básica que o tratamento do clima urbano, enquanto um componente da qualidade ambiente, não poderá ser considerado insignificante para o mundo moderno. Destaca Barbirato, Souza, Torres (2007, p.21) que o clima é resultante dinâmico de fatores globais (latitude, altitude, continentalidade, etc), locais (revestimentos do solo, topografia) e elementos (temperatura, umidade, velocidade dos ventos, etc) que afeiçoam uma dada localidade. Sendo os tipos de climas definidos com base nas características de 31 observação da atmosfera durante longo período, no que tange às principais variáveis climáticas. No início dos anos 70, Monteiro (1963), apoiado na crítica de Maximilien Sorre (1934, 1951) e nos estudos de P. Pedelaborde (1958, 1959), esforçou-se em admitir o entendimento do clima por meio de uma concepção geográfica dada a complexidade e heterogeneidade do espaço urbano, e não simplesmente meteorológica como visto até então de cunho estatístico. O clima enquanto variável meteorológica era entendido como os estados médios dos elementos atmosféricos sobre o dado lugar, associado á existência de uma cidade. A partir dos esforços de Monteiro e suas orientações conceituais o clima passou a ser concebido a partir da adoção de uma concepção dinâmica. Sendo assim com base na visão da cidade enquanto local de morada do homem, o clima é entendido como o “ritmo de sucessão habitual dos estados atmosféricos sobre os lugares”. Desta forma, Monteiro (1976, p.23) argumenta que: A nova perspectiva é dinâmica (série e sucessão) e está baseada em uma propriedade intensiva da atmosfera – a própria idéia de tempo meteorológico, essencialmente associativa. Parece-me que não há dúvida de que o paradigma novo é o do ritmo em substituição à média dos elementos discretamente dissociados à atmosfera e expressos como meras propriedades extensivas. Além da proposição deste novo paradigma do “ritmo climático”, Monteiro (2009) ainda faz uso do quadro de referencial teórico da Teoria Geral dos Sistemas para a proposição do estudo do clima urbano, possibilitando a realização de estudos utilizando métodos dedutivos e indutivos a fim de objetivar a essência do fenômeno urbano, tal como salienta deveras complexo. A Teoria Geral dos sistemas (BERTALANFFY, 1973) permite ao pesquisador pensar sobre o espaço urbano em sua perspectiva climática e propor medidas de intervenção e planejamento que visam melhorar as condições da qualidade ambiente bem como da população que nele vive. Para tanto o dinamismo inerente à urbanização aliado à concepção do clima permite que se façam análises em escalas diferenciadas, evidenciando suas peculiaridades (MONTEIRO, 2009, p.18-19). A visão sistêmica, portanto, é o princípio norteador das pesquisas desenvolvidas com base na proposição teórico-metodológica de Monteiro (1976) a fim de compreender seu funcionamento, desempenho e organização, para tanto é necessário conhecer as características e particularidades de cada sistema para que haja uma interrelação entre a multiplicidade de variáveis. 32 Monteiro (1999) em "O Estudo Geográfico do Clima", faz uma leitura de sua proposta do S.C.U, procurando distinguir os propósitos genéticos de causalidade em lugar da simples caracterização de padrões espaciais de regionalização pautados nos estados médios. Em vez disso ensejou a proposta da "análise rítmica" que possibilitou uma abordagem da dinâmica dos padrões climáticos extremos e habituais, que possibilitam uma interpretação muito mais vinculada ao que é geográfico e se inter-relacionam a complexidade dos climas gerados pela urbanização. Estes eventos, sem dúvida favorecem entender que muitas vezes é de maior importância aquilo que se comporta como excepcional, em vez do simples estabelecimento de padrões, pois o que explica estes comportamentos é que se vincula às dinâmicas regionais e locais, e a ação do homem é decisiva em suas repercussões. Sabendo que existem espaços urbanizados com diferentes extensões espaciais, denominados cidades de pequeno, médio e grande porte, Monteiro (2003, p.19) considera o clima urbano como “um sistema que abrange o clima de um dado espaço terrestre e sua urbanização”, ou seja, “um sistema singular que abrange um clima local (fato natural) e a cidade (fato social)”. Segundo Lombardo (1985, p.22): É um mesoclima que está incluído no macroclima e que sofre, na proximidade do solo, influências microclimáticas derivadas dos espaços urbanos. [...] a cidade deve ser considerada parte integral do espaço regional, assim como suas contradições internas. Deve-se analisar as variações do ambiente urbano, nos vários níveis, tais como nos bairros, ruas, casas, ambientes internos. A ação ecológica, associada aos fenômenos urbanos, constitui o conjunto complexo de inter-relações que produzem o clima urbano. De acordo com Mendonça (2000, p.167-168): O clima constitui-se numa das dimensões do ambiente urbano e seu estudo tem oferecido importantes contribuições ao equacionamento da questão ambiental das cidades. O clima dessas áreas, ou clima urbano, é derivado da alteração da paisagem natural e da sua substituição por um ambiente construído, palco de intensas atividades humanas. O Sistema Clima Urbano (S.C.U) perpassa por diversas escalas referente a dinâmica da circulação atmosférica, mantendo íntima articulação entre a escala regional e local (espaço urbanizado) e este último subdividindo-se em topoclimas e microclimas. Para tanto a cidade é observada em seus aspectos macroestruturais e microestruturais a fim de considerar todos os aspectos que possam interferir nas respostas climáticas peculiares do recorte territorial estudado. Ou seja, de acordo com Monteiro (2009, p.20) “O clima local se insere em climas sub-regionais e sazonais, assim como pode ser subdividido até os 33 microclimas. A cidade tanto se integra em níveis superiores como se divide em setores, bairros, ruas, casas, ambientes internos etc”. Monteiro (2009, p.21) considera que: O S.C.U visa compreender a organização climática peculiar da cidade e, como tal, é centrado essencialmente na atmosfera que, assim, é encarada como operador. Toda a ação ecológica natural e as associações aos fenômenos da urbanização constituem o conjunto complexo sobre o qual o operador age. Por isso, tudo o que não é atmosférico e que se concretiza no espaço urbano, incluindo o homem e demais seres vivos, constitui elementos do sistema, estruturando-se em partes que, através de suas reações, definem atributos especiais. Assim, esse conjunto complexo e estruturado constitui o operando do sistema. Pela sua natureza, é um tipo especial de operando, que não é estático ou passivo. Ainda neste sentido Monteiro (2009, p.41) argumenta que o “artefato físico criado pela urbanização, integrado ao suporte geoecológico em que se insere dinamizado pelos fluxos urbanos, é que constitui o operando do sistema S.C.U cuja estrutura é penetrada e percorrida por fluxos energéticos do operador: a atmosfera.” A T.G.S associa-se ao conceito de núcleo e ambiente e direcionando tais aspectos ao estudo do clima, o espaço urbanizado constitui o núcleo do sistema que mantêm íntima relação com o ambiente regional em que se insere. O espaço urbano por sua vez requer uma análise que considere a totalidade de suas variáveis de forma intrínseca e inter- relacionada, sem deixar de lado a contribuição dos aspectos sociais e econômicos que conferem maior dinamicidade e complexidade à cidade. Neste sentido, referente à dinâmica núcleo e ambiente e as trocas de energia que se estabelecem torna-se relevante as diferentes materializações presentes no espaço principalmente suas características, para compreender como eles se inter-relacionam e interferem na dinâmica e funcionamento do sistema, ou mesmo suas respostas às diferentes condições do ambiente. Quanto a isso Monteiro (2009, p.22) argumenta que: No caso do S.C.U haverá a maior necessidade de integração entre os diferentes elementos, aglutinando-se em partes, caracterizando atributos de cujas relações dependem o desempenho e a organização funcional do sistema. [...] É todo esse organismo, através das diferentes formas de uso do solo e estrutura urbana, que passa a exercer os efeitos decisivos de reflexão, absorção e armazenamento térmico; efeitos de atrito na ventilação etc. As abordagens em clima urbano que compreendem o comportamento e a dinâmica atmosférica se fazem pela extensão, intensidade, duração e a frequência de ocorrência do 34 fenômeno estudado, o que implica, por sua vez, na definição da escala de abordagem empregada. Assim como no estudo em questão, faz-se necessário adequar à escala do recorte territorial estudado à escala climática conveniente, de forma a não proceder de forma equivocada, e possibilitar uma interpretação do clima enquanto uma construção social, por meio das várias territorialidades construídas no ambiente urbano, haja vista a formação dos diferentes microclimas urbanos decorrentes das condições em que foram produzidos tais espaços. Primeiramente parte-se dos processos de entrada de energia no sistema, que através de uma organização funcional conduzem ao conceito de diferença, que se avalia através daquele de estado, que por sua vez, conduz àquele de mudança, por fim, chega-se à transformação e/ou mudança repetida. De forma mais clara, é possível transpor estas denominações sabendo que a atmosfera, mais ligada aos elementos do clima, se decompõe em algumas unidades, como o tempo meteorológico que é o estado momentâneo da atmosfera e se encadeia em sequência, demonstrando os padrões de desenvolvimento, que conduzem ao ritmo (habitual, extremos, etc) e a partir dele se chega ao conceito de clima. (MONTEIRO, 2009, p.22-23). Em suma, "o modo de transmissão, entrada e fluxo de energia através do sistema, é fundamental. Eles explicam a geração dos estados iniciais e a seqüela de processos de mudanças e transformações no interior do sistema" (MONTEIRO, 2009, p.23). Para entendimento das escalas estabelecidas para os processos de interação atmosfera/superfície, de acordo com Monteiro (2009, p.34), num primeiro nível - zonal - parece tender a diversificação do todo, passando num segundo nível - regional - à organização, onde se estabelecem e se diferenciam os principais sistemas, por fim, no terceiro nível há uma especialização dos sistemas, onde se formam e se evidencia efetivamente os sistemas influenciados pelas dinâmicas em superfície/urbanas. Sendo assim, tomando as definições estabelecidas por Monteiro (1976; 1999) de forma sucinta, referente à organização sequencial entre as escalas climáticas, sem entendê- las como delimitações rígidas, mas sim como as características gerais de diferenciação entre os elementos, podem-se entendê-las da seguinte forma: - No nível zonal a atmosfera, sua composição e estrutura são fundamentais por sua interrelação com os elementos em superfície, a latitude e a radiação também são decisivas nos processos de diversificação e no balanço térmico, culminando na geração dos climas do globo, organizados em grandes células. Assumem portanto, 35 uma dimensão global, que se repercutem nas mudanças do clima à nível do planeta, na dimensão temporal do tempo geológico. - As escalas possuem dimensão regional a partir da organização destas grandes células em escala macrorregional, ou centros de ação que por meio de variações cíclicas ou padrões sequenciais em uma parte da superfície, caracterizam os sistemas regionais. - Por fim, a dimensão local do clima está diretamente relacionada a influência das modificações na paisagem dentro das regiões, advindas da ação humana capaz de alterar a dinâmica das interações superfície/atmosfera subsequente. O clima local, por sua vez, e na mesma perspectiva de organização da anterior, pode subdividir-se em novos compartimentos em escalas inferiores como o mesoclima que compreende a extensão de uma cidade, por exemplo. A partir deste recorte que refere-se as áreas menores do que a do macroclima ou zonal, exercem influência variáveis ou feições fisiográficas como a vegetação, topografia, o tipo de solo e a presença de obstáculos naturais, com ênfase na cobertura do solo e composição da atmosfera. O mesoclima passa a organizar-se no nível dos topoclimas, que também é uma derivação do clima local com influência das rugosidades do relevo, incluindo topografias, exposição, orientação e forma das vertentes. Uma especialização do mesoclima configura- se o nível microclimático, sendo o nível de maior aproximação da superfície. Nesta escala, busca-se compreender a relação direta entre uma edificação e ar atmosférico imediato, a influência de algumas árvores, um corpo d'água, etc. O microclima, portanto está inserido no mesoclima, que por sua vez, está inserido no macroclima, sendo que este último existe a partir das grandezas escalares inferiores. Apresentando os aspectos gerais das escalas geográficas do clima, considerando seu aspecto dinâmico e adaptativo, percebe-se que para o entendimento dos processos de formação do clima urbano, a escala local é a que permite considerar a relação direta entre a influência das construções humanas e a modificação dos elementos atmosféricos, principalmente a temperatura do ar, o que acaba por sua vez, na degradação das condições do ambiente. As alterações produzidas com o clima urbano, segundo Oke (1978) são percebidas a partir de camadas atmosféricas geradas em escala temporal e espacial diferenciadas, sendo mais ou menos intensas de acordo com a variação solar diária. A atmosfera urbana possui estruturas verticais distintas, que podem ser subdivididas em duas camadas: o urban canopy layer e urban boundary layer. 36 O dossel urbano ou "urban canopy layer" situa-se no nível microclimático, abrangendo desde a superfície até, aproximadamente o nível das coberturas das edificações ou telhado dos edifícios. Este dossel ou capa urbana de ar é governado por processos de microescala, presentes na camada intra-urbana das ruas, que formam os "canyons" entre as edificações (BARBIRATO, SOUZA, TORRES, 2007, p.55). Ainda de acordo com Amorim (2000, p.26) "esta camada de ar pode atingir entre 1 e 3 vezes a altura do topo dos elementos existentes à superfície, e pode apresentar uma turbulência forte de pequena escala, dependendo da rugosidade da superfície." É esta camada que, por sua proximidade do ambiente citadino e da superfície afeta diretamente as condições do ambiente e o conforto da população. Isso ocorre por estar grande parte relacionada à propriedade dos materiais urbanos e a forma de estruturação dos espaços. De acordo com Monteiro (1990, p.87) esta camada representa: Abaixo da linha dos tetos de edificações, aquilo que OKE (1981) designa como o “urban canopy layer” (UCL) representa [...] alguns dos variadíssimos aspectos de arranjos e combinações entre variáveis topográficas, geo- ecológicas, de edificação e funções urbanas com alguma consideração sobre o caráter social e nível econômico desse conjunto heterogêneo. Ainda mais especificamente, referente à especialização desta camada limite intra- urbana, Monteiro (1990, p.87-88) complementa que: Desdobrando-se mais ainda em direção aos níveis inferiores procura-se sugerir as articulações dos níveis mesotopoclimáticos com aqueles microclimáticos já no domínio do edifício e do jardim – arquitetura, paisagismo, onde se produzem as mais diretas relações no homem urbano e seres vivos que dinamizam a paisagem urbana. A tabela abaixo estabelece algumas características do ambiente urbano que podem influenciar o balanço de radiação solar provocando alterações térmicas no âmbito do "urban canopy layer". 37 Tabela 2 - Aspectos que possuem grande influência no processo de formação das ilhas de calor no âmbito do "urban canopy layer" 1. Elevação do afluxo de radiação devido à absorção da radiação de ondas longas e reemissão pela atmosfera urbana poluída. 2. Redução urban canopy layer da perda de radiação de ondas longas dos canyons devido à redução do seu sky view factor. 3. Maior absorção da radiação de ondas curtas devido ao efeito da geometria do canyon no albedo. 4. Maior estocagem de calor diurno devido a propriedades térmicas dos materiais urbanos e sua liberação noturna. 5. Calor antropogênico proveniente dos edifícios. 6. Redução da evaporação devido à remoção da vegetação e à impermeabilização da superfície da cidade. 7. Redução da perda de calor sensível devido à queda da velocidade do vento na camada urbana. Fonte: Oke (1978, p.259) apud Amorim (2000, p.26). Adaptado pela autora. A camada limite urbana ou "urban boundary layer" é a camada situada logo acima do dossel urbano (ou acima do teto das edificações), possui características também influenciadas pela presença da cidade, porém com maior influência, por exemplo, dos ventos regionais, sendo que sua altura pode variar de acordo com sua capacidade de movimentar o ar (AMORIM, 2000, p.26; BARBIRATO, SOUZA, TORRES, 2007, p.54; SAYDELLES, 2005, p.24). De acordo com Amorim (2000, p.26) "durante a noite pode atingir menos de 100m, porque a superfície esfria mais depressa do que a atmosfera e, durante o dia pode atingir de 1 a 2 km, pois as correntes convectivas são mais intensas." A tabela abaixo estabelece algumas características mais específicas da cidade, no nível local que podem influenciar nas trocas de energia provocando alterações térmicas no âmbito do "urban boundary layer". 38 Tabela 3 - Aspectos que possuem grande influência no processo de formação das ilhas de calor no âmbito do "urban boundary layer". 1. Entrada de ar quente resultante da ilha de calor na camada de cobertura urbana. 2. Calor antropogênico dos telhados e da aglomeração. 3. Queda do fluxo de calor sensível da camada estável de cobertura pela convecção de penetração. 4. Convergência do fluxo radiativo de ondas curtas no ar poluído. Fonte: Oke (1978, p.259) apud Amorim (2000, p.26). Adaptado pela autora. Assim, é por meio deste complexo conjunto de inter-relações que ocorre a formação do clima urbano, cujas derivações se processam no espaço urbano, dentre as formas principais, a partir das ilhas de calor (Figura 1). Figura 1: Representação das diferentes escalas de ocorrência da atmosfera urbana. Fonte: OKE (1978) apud Saydelles, 2005, p.27. Admite-se aqui, portanto, um novo conceito ou fenômeno que ocorre no espaço urbano fruto da formação de características atmosféricas específicas da forma de estruturação do espaço urbano, o "urban canyon" ou "street canyon". Segundo Barbirato, Souza, Torres (2007, p.56) se refere a uma unidade geométrica, de natureza tridimensional, correspondendo a um perfil de via urbana de forma retangular, e consiste na principal unidade da camada intra-urbana. Ainda segundo a autora (op cit) refere-se ao volume de ar delimitado pelas paredes e o solo entre dois edifícios adjacentes, que resultam em microclimas particulares dentro do macroclima da cidade, importando aqui fatores como a orientação do relevo, a relação entre a largura das vias e altura das edificações e os materiais de construção utilizados. 39 Monteiro apoiado nas proposições de Oke (1984), também faz algumas considerações sobre a importância das edificações nos processos de trocas de energia e sua interferência na ventilação e dinâmicas no âmbito da cidade. Desta forma, Monteiro (1990, p.89) considera: Dentre outros aspectos teóricos legalizados no conhecimento dos climas urbanos estes esboços permitem lembrar que a ordem de grandeza topográfica alia-se aquela de edificação onde – de modo equivalente – a relação entre altura e espaçamento entre os edifícios condiciona as funções de transmissão de energia (trocas térmicas) e de atrito-turbulência do ar (ventilação) que, além de constituir a base da “transformação” intra-urbana (caixa-preta) confere o caráter especial da turbulência e desordem da faixa de transição que seria a “urban wake layer” (OKE, 1984). Oke (1988) apud Barbirato, Souza, Torres (2007, p.57-58) em estudo demonstra algumas interferências provocadas pelas edificações no fluxo de ar ou ventilação, e aponta três situações em que ocorrem mudanças no tipo de fluxo de ar, sendo eles os seguintes, conforme tabela 4, abaixo: Tabela 4 – Alguns limites nos quais ocorre mudança do tipo de fluxo de ar. 1. As edificações interferem no fluxo de ar, criando um campo de turbulência ao seu redor. Quanto mais afastadas umas das outras [...], mais isolado se torna o campo de turbulência, não chegando a causar o impacto de uma edificação no fluxo de ar que atinge a outra; 2. No caso de edificações mais próximas entre si, os campos de turbulência se interagem; 3. A medida que o espaçamento entre edificações diminui, o fluxo de ar tende a não penetrar entre elas, formando um campo isolado, que sofre pequeno movimento, provocado pelo atrito com as camadas superiores, causando assim uma diminuição na perda de calor por turbulência. Fonte: Oke (1988) apud Barbirato, Souza, Torres (2007, p.57-58) Adaptado pela autora. Além da compartimentação da atmosfera em nível vertical, esta também se diferencia no plano horizontal, e aqui a análise deve considerar fatores como o adensamento urbano, os aspectos funcionais da cidade, que possibilitam distinguir as áreas comerciais, residenciais, de serviços, que possuem diferentes padrões de ocupação do solo (locais com maior ou menor densidade de edificações), bem como a presença de arborização, lagos, etc. Estas diferenciações se tornam ímpares nos estudos em clima urbano, pois cada área considerada verticalmente pode ter variados comportamentos no 40 âmbito da superfície. E para a definição dos espaços intra-urbanos da cidade e suas respostas no comportamento térmico, é necessário este tipo de levantamento para possibilitar esta interrelação entre as variáveis estudadas bem como uma leitura geográfica e comprometida da pesquisa. O S.C.U proposto por Monteiro (1976) possui uma centralização na “cidade” (em vez de na atmosfera), e além da perspectiva “sistêmica” a própria concepção de “clima” como fato dinâmico, configura "o clima urbano como um sistema complexo, aberto, adaptativo que, ao receber energia do ambiente maior no qual se insere, a transforma substancialmente a ponto de gerar uma produção exportada ao ambiente" (MONTEIRO, p.10). Apesar de possuir um nível de organização maior que é o próprio clima da cidade, incluindo o natural e o construído pelo homem, o S.C.U admite também que seja organizado em níveis menores de resolução que caracterizam os subsistemas nele contidos. Cada uma destas partes que se organizam na estrutura geral do sistema, graças aos seus atributos perpassam por vários níveis hierárquicos e de resolução do sistema. Estas hierarquias não são elementos que se dispõe em degraus, mas sim podem ser comparadas a uma árvore viva, "um multinivelado, estratificado e esgalhado padrão de organização. Essa idéia não anula aquela da ordem de grandeza, mas simplesmente se associa a ela e a completa." (MONTEIRO, 2009, p.31) Nesta árvore, ou Koestler há uma relação entre seus troncos e os galhos e entre os galhos e os ramos, muito próximo a uma caixa chinesa em que uma caixa está contida na outra e suas partes estão contidas no todo. Segundo o autor (op cit) a idéia de árvore é mais dinâmica, mais rica, pois revela a relação entre as partes por admitir a noção de crescimento e evolução do sistema. Para a realização desta integração o autor propõe os conceitos de hólons e táxons, que de forma geral expressam os elementos do sistema e explicam sua organização funcional. De forma sucinta, mas que esclarece tal organização, pode-se compreender que, quanto aos hólons "designa as formas intermediárias de organização que participam tanto das propriedades autônomas do toso quanto das propriedades dependentes das partes." (MONTEIRO, 2009, p.32). Não somente isso, é necessário compreender que: A proposição do Koestler vem, assim, acrescentar ao conceito de táxon, que expressa a ordem de grandeza entre as partes do sistema, aquele de hólon, necessário ao definir os graus de organização mo interior do mesmo [...] combinando a organização hierárquica, de um lado, e sistema aberto, de outro (MONTEIRO, 2009, p.32). 41 Na proposição do S.C.U há uma preocupação em enfatizar a importância de sua estrutura interna, considerando toda entrada de energia atmosférica pelo sistema (imput/output), superando a visão mecanicista de um sistema organizado ou de simples causa-efeito, a fim de ressaltar a interdependência dos processos em sua organização funcional. Como uma organização complexa e sistêmica, o clima da cidade admite ainda que seja subdividido em vários graus de hierarquia funcional e de resolução, ou seja, são subsistemas pelos quais pode ser interpretado ou sentidos os efeitos do S.C.U. Estes subsistemas ou canais de percepção pressupõe a participação urbana no desempenho do sistema que se faz de formas variadas. Observando a articulação entre os sistemas a partir dos canais de percepção para análise do fato urbano, observa-se que o S.C.U proposto por Monteiro (1976) foi subdividido em três subsistemas, com base na percepção humana: I - Conforto térmico - Englobando as componentes termodinâmicas que, em suas relações, se expressam através do calor, ventilação e umidade nos referenciais básicos a esta noção. É um filtro perceptível bastante significativo, pois afeta a todos permanentemente. Constitui, seja na climatologia médica, seja na tecnologia habitacional, assunto de investigação de importância crescente. II - Qualidade do ar - A poluição é um dos males do século, e talvez aquele que, por seus efeitos mais dramáticos, atraia mais a atenção associada às outras formas de poluição (água, solo etc.), a do ar é uma das mais decisivas na qualidade ambiente urbana. III - Meteoros do impacto - Aqui estão agrupados todas aquelas formas meteóricas, hídricas (chuva, neve, nevoeiros), mecânicas (tornados) e elétricas (tempestades), que assumindo eventualmente manifestações de intensidade são capazes de causar impacto na vida da cidade, perturbando-a ou desorganizando-lhe a circulação e os serviços. O quadro 1 abaixo possibilita observar a interrelação entre os elementos, insumos, fontes, efeitos, entre outros que compõem os canais de percepção do clima urbano. Complementando tais colocações, Monteiro (1976, p. 134), considera que a partir da interferência de todos os fatores que se processam sobre a camada de limite urbano e que agem no sentido de alterar o clima em sua escala local, a cidade gera um clima urbano. Os mais diretos são sentidos pela população, daí o estabelecimento dos canais de percepção humanos, através das manifestações ligadas ao " conforto térmico, à qualidade do ar, aos impactos pluviais e a outras manifestações capazes de desorganizar a vida da cidade e deteriorar a qualidade de vida de seus habitantes" (op cit, p.134). 42 Quadro 1 – SISTEMA CLIMA URBANO (S.C.U) Articulação dos sistemas segundo os canais d percepção. Subsistemas Canais Caracterização I Termodinâmico Conforto térmico II Físico-Químico Qualidade do ar III Hidrometeórico Impacto meteórico Fonte Atmosfera Radiação Circulação horizontal Atividade urbana Veículos auto- motores Indústrias Obras-Limpas Atmosfera estados especiais (desvios rítmicos) Trânsito no sistema Intercâmbio de operador e operando De operando ao operador Do operador ao operando Mecanismo de ação Transformação no sistema Difusão através do sistema Concentração no sistema Projeção Interação Núcleo ambiente Do núcleo ao ambiente Do ambiente ao núcleo Desenvolvimento Contínuo (permanente) Cumulativo (renovável) Episódico (eventual) Observação Meteorológica especial (T. de campo) Sanitária e Meteorológica especial Meteorológica Hidrológica (T. de campo) Correlações disciplinares e tecnológicas Bioclimatologia Arquitetura Urbanismo Engenharia sanitária Engenharia sanitária e Infra-estrutura urbana Produtos “Ilha de Calor” Ventilação Aumento da precipitação Poluição do ar Ataques à Integridade Urbana Efeitos diretos Desconforto e redução do desempenho humano Problemas sanitários Doenças respiratórias, oftalmológicas etc. Problemas de circulação e comunicação urbana Reciclagem adaptativa Controle do uso do solo Tecnologia de conforto habitacional Vigilância e controle dos agentes de poluição Aperfeiçoamento da infra-estrutura urbana e regularização fluvial. Uso do solo Responsabilidade Natureza e Homem Homem Natureza Fonte: C.A DE FIGUEIREDO MONTEIRO, 2009, p.46. Adaptado pela autora. De forma a concluir o processo de interação entre os sistemas e demonstrar a articulação entre os insumos-produtos, passando por todos os elementos que o constituem, Monteiro (1976, p.125) coloca que: Assim constituídos, esses canais podem atravessar toda a organização desde o nível insumidor, pelo transformador ao produtor; possibilitam a 43 orientação no sentido contrário, como é o caso do Canal II; procuram definir, através do nível de resolução de fenômenos climáticos, os subsistemas fundamentais ao Sistema Clima Urbano; deixam margem à avaliação de suas transformações em sua passagem pelo interior da estrutura interna do sistema; possibilitam, por fim, a avaliação das relações entre o núcleo e o ambiente do sistema. (MONTEIRO, 1976, p.125). A importância em se estudar as dinâmicas climáticas, em qualquer uma das dimensões do ambiente urbano, está no fato de que, tais estudos têm oferecido importantes subsídios ao planejamento e melhoria da qualidade ambiente das cidades, já que como produto, o ambiente construído altera os índices de temperatura, umidade relativa do ar, direção e velocidade dos ventos, o que resulta no clima urbano. A colocação de Gonçalves (2009, p.77) sobre o processo de análise climática urbana em relação aos canais de percepção revela o seguinte: Desta maneira, as variáveis que se sobressaem nos climas urbanos, tais como ilhas de calor, poluição atmosférica e inundações no espaço urbano, são analisadas, respectivamente, através de canais abstratos - conforto térmico, qualidade do ar e impacto meteórico - os quais definem os subsistemas fundamentais ao Sistema Clima Urbano (Termodinâmico, Físico-Químico e Hidrodinâmico) que atuam no complexo energético (p.77). O S.C.U, portanto, diante de todas as formas de análise e possibilidades de repercussão na qualidade ambiente, sugere uma gama de problemáticas a serem investigadas, com vistas a contribuir com o rearranjo do espaço urbano, que é ao mesmo tempo o local de vivência da população, como também é o reflexo da ação descontrolada e despreocupada do homem. Cabe ao pesquisador de acordo com Gonçalves (2009), observar qual o canal de percepção que se sobressai e impõe desconfortos aos citadinos, e desvendar as variáveis envolvidas de forma a possibilitar que sejam sugeridas possibilidades de medidas mitigatórias e de melhoria na forma de interrelação entre tais variáveis no contexto urbano. 44 2.3. Ilhas de calor e gradiente térmico e higrométrico - diferenças térmicas. Os estudos em climatologia surgiram inicialmente a partir da comparação entre os elementos do clima no ambiente urbano em relação ao rural, pois se percebeu que a cidade a partir das características do ambiente construído altera as variáveis como temperatura, umidade relativa do ar, direção e velocidade do vento, etc. A atmosfera subsequente à superfície passou a responder de forma diferenciada em distintos locais, sendo que no ambiente urbano torna-se mais contrastante as evidencias de tais alterações. Assim como a própria definição ou tomada de consciência do fato urbano emergiu do contraste com o campo, foi através dessa dicotomia e dos contrastes entre eles, que o homem tomou consciência de que a própria atmosfera sobre a cidade era sensivelmente diferente daquela do campo (MONTEIRO, 1976, p. 54). Quando comparadas com o ambiente rural circundante ou próximo, as cidades têm a capacidade de modificar as trocas de energia, produzindo um clima próprio, que comumente são verificadas a partir do aumento da temperatura do ar e diminuição da umidade relativa, produzindo desconfortos ambientais, sentidos constantemente, além da degradação do ambiente, que deteriora ainda mais o lócus de vivência dos indivíduos. Sabendo disso, e buscando refletir sobre tais modificações nos espaços, Mendonça (1994, p.20) destaca: O processo de urbanização engendra consideráveis modificações no balanço de energia, pois substitui a cobertura da superfície pela concentração de materiais, equipamentos e pessoas numa pequena área. Tais alterações dão origem ao clima urbano e se manifestam, genericamente, na redução da radiação solar, do albedo, da insolação e da umidade relativa do ar, na elevação da temperatura média anual e mínima de inverno, fluxo de calor sensível, nebulosidade, precipitação e velocidade do vento. (MENDONÇA, 1994, p.20) De forma a ilustrar estas alterações que se processa neste “novo espaço” no sentido das dinâmicas que aí ocorrem, tem-se a colocação de Assis (2006) que se reporta ao comportamento das áreas construídas para definir o processo de armazenagem de calor, característico das diferentes estruturas urbanas. Sendo assim, distingue: Nas cidades, ao contrário, as superfícies construídas têm maior capacidade térmica e o grau de cobertura do solo é muito maior, de modo que a maior parte do fluxo térmico é de calor sensível (QH). As estruturas urbanas também favorecem o estoque de calor (Qs), aumentando a importância desse termo no sistema. Assim, durante a noite, a intensidade da perda 45 térmica é função da quantidade de calor estocada e disponível na superfície (ASSIS, 2006, p.22). De forma distinta, o campo ou áreas rurais possui mecanismos próprios de armazenagem, troca e liberação de calor que é percebida em relação ao comportamento citadino, principalmente pelo fato de armazenar calor de forma mais rápida que a cidade, porém ao final da incidência de radiação solar, possui a capacidade de rapidamente liberar esta energia para a atmosfera, mantendo o ar ao seu redor com menor temperatura. As análises das diferenças de temperatura e umidade nos diferentes sítios e ambientes estudados se explicam segundo Tarifa (1977, p.73) pelo “modo de recepção, transmissão, propagação e dissipação de energia nesses ambientes”, pois, devido ao fato de estarem “localizados junto à interface solo-atmosfera (camada limite), qualquer alteração na natureza dessa superfície, tanto espacial como vertical, altera significativamente o modo de propagação de energia [...]”. (TARIFA, 1977, p.73). Comumente esta diferenciação de temperatura e umidade relativa em relação ao ambiente urbano e rural é denominada de gradiente térmico e higrométrico, que se reporta ao quanto determinado local está mais ou menos aquecido, ou, mais ou menos úmido em relação ao outro. A magnitude de tal fenômeno se denota como gradiente térmico e higrométrico. Além de se referir ao ambiente urbano e rural, também podem ser avaliadas as diferenças térmicas e higrométricas dentro do espaço intra-urbano, sob condições distintas nos padrões de uso e ocupação do solo. A alteração do balanço de radiação em superfície é uma das formas mais evidentes de verificar os mecanismos que ocorrem em um e outro espaço, que representa a substituição de características naturais por materiais tipicamente urbanos (AMORIM, 2000, p.23). Além disso, os próprios ambientes intra-urbanos possuem diferentes formas de responder à incidência de radiação solar, de acordo com alguns indicadores como vegetação, tipos de materiais construtivos, tipos de uso e ocupação do solo, etc. Sendo assim, as tabelas 5 e 6 abaixo, permite observar as diferentes propriedades radiativas dos materiais urbanos e rurais que “comprovam as mudanças nos processos de absorção, difusão e reflexão da energia, sofrida pela atmosfera, acarretando alterações locais.” (AMORIM, 2000, p.23). 46 Tabela 5 – Propriedades radiativas de materiais urbanos SUPERFÍCIE ALBEDO EMISSIVIDADE 1. Ruas com asfaltos 0,05 – 0,20 0,95 2. Paredes Concreto 0,10 – 0,35 0,71 – 0,90 Tijolos 0,20 – 0,40 0,90 – 0,92 Pedras 0,20 – 0,35 0,85 – 0,95 Madeiras 0,90 3. Telhados Piche e Cascalho 0,08 – 0,18 0,92 Telhas 0,10 – 0,35 0,90 Ardósia 0,10 0,90 Sapé – Folhagem 0,15 – 0,20 Chapa Ondulada 0,10 – 0,16 0,13 – 0,28 4. Janelas Ângulo menor 40° 0,8 0,87 – 0,94 Vidros claros: zênite Ângulo de 40° a 80° 0,09 – 0,52 0,87 – 0,92 5. Pinturas Brancas, Caiadas 0,50 – 0,90 0,85 – 0,95 Vermelha, Marrom, Verde 0,20 – 0,35 0,85 – 0,95 Preta 0,20 – 0,15 0,90 – 0,98 6. Áreas Urbanas Variações 0,10 – 0,27 0,85 – 0,96 Médias 0,15 0,95 Fonte: Oke (1978, p.247) apud Amorim (2000, p.24). Adaptado pela autora. Tabela 6 – Propriedades radiativas de materiais rurais SUPERFÍCIE ALBEDO EMISSIVIDADE 1. Solos Escuro, Úmido 0,05 0,90 Claro, Seco 0,04 0,90 2. Desertos 0,20 – 0,25 0,84 – 0,9 3. Grama Alta (1m) 0,16 0,90 Baixa (0,02m) 0,26 0,95 4. Cultivos, Tundra 0,18 – 0,25 0,90 – 0,99 Vidros claros: zênite Ângulo de 40° a 80° 0,09 – 0,52 0,87 – 0,92 5. Pomares 0,15 – 0,20 6. Florestas Decíduas Solo nu 0,15 0,97 Abandonadas 0,20 0,98 7. Coníferas 0,05 – 0,15 0,97 – 0,99 8. Água Pequeno ângulo 0,03 – 0,10 0,92 – 0,97 (ângulo zenital) Grande ângulo 0,10 – 1,00 0,92 – 0,97 Fonte: Lombardo (1995, p.57). Adaptado pela autora. Após observarmos o comportamento distinto entre as superfícies, conforme tabelas 5 e 6, fica evidente a configuração de características específicas para cada ambiente considerado, de forma que, a energia recebida do ambiente no qual se insere, é 47 transformada substancialmente, a ponto de gerar um clima particular e complexo que reflete as características locais. Para Lombardo (1985, p.25), a radiação solar que entra na cidade é menor devido a grande quantidade de aerossóis, por exemplo, porém, a cidade emite maior quantidade de radiação na forma de ondas longas, decorrentes principalmente pelas elevadas temperaturas das superfícies ou dos alvos, como o concreto, tijolos, asfalto e outros materiais construtivos. E ainda explica que em condições de calmaria, em que há poucas trocas turbulentas, grande parte da energia irradiada volta a construção urbana através da reemissão radiativa de onda longa pela atmosfera. Esta alteração no balanço de energia nas áreas urbanas também é interpretada por García (1991) da seguinte forma: La isla de calor o isla térmica urbana consiste en que las ciudades suelem ser, especialmente de noche, más cálidas que el medio rural o menos urbanizado que