UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “Júlio de Mesquita Filho” Câmpus Experimental de Ourinhos EVANDRO DEL NEGRO DA SILVA AS REDES DE TURISMO EM PRUDENTÓPOLIS - PR OURINHOS - SP 2020 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “Júlio de Mesquita Filho” Câmpus Experimental de Ourinhos EVANDRO DEL NEGRO DA SILVA AS REDES DE TURISMO EM PRUDENTÓPOLIS - PR Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à banca examinadora para obtenção do título de Bacharel em Geografia pela Unesp - Campus Experimental de Ourinhos. Orientador: Prof. Dr. Luciano Antonio Furini. OURINHOS - SP 2020 BANCA EXAMINADORA ________________________________________ Prof. Dr. Luciano Antonio Furini - UNESP (Orientador) (Assinatura do membro) ________________________________________ Prof. Dr. Paulo Fernando Cirino Mourão - UNESP (Assinatura do membro) ________________________________________ Profa. Dra. Vanessa Maria Ludka - UENP (Assinatura do membro) Ourinhos, 10 de agosto de 2020. DEDICATÓRIA Dedico este trabalho em memória do meu irmão Luís Rafael Del Negro da Silva e também aos meus pais, Maria Cristina e Jones, que sempre estiveram do meu lado em todos os momentos da minha vida. E aos que me ajudaram ao longo dessa segunda parte da graduação. AGRADECIMENTOS Agradeço em primeiro lugar a Deus por mais este sonho concluído, por todas as realizações que eu tanto almejava na qual acabaram se concretizando, por me abençoar, me fortalecer, não me deixando desistir nas tribulações desta caminhada. Aos meus pais Maria Cristina Del Negro da Silva e Jones Tiburcio da Silva, por sempre me incentivarem em minha formação, desde criança até a realização deste tão almejado sonho, me ajudando, me aconselhando, sendo indispensável para que eu não renunciasse a vontade de estudar mais a fundo esta ciência conhecida como Geografia, sempre me lembrando de duas coisas: a primeira, que o nome é a única coisa que temos de mais precioso na vida, e a segunda é que o conhecimento é única herança que poderiam me deixar, para que eu fosse um ser humano melhor, com mais oportunidade que eles tiveram. A professora Mirian, que lecionou no 2º ano do Ensino Médio, no Colégio Estadual Professor Isaltino de Mello, localizado na zona sul, da capital paulista onde estudei, que me estimulou ir além nos estudos da ciência geográfica, pois desde criança, eu sempre gostei muito da matéria. Ao meu orientador Luciano Antonio Furini, que desde março de 2019, vem prestando todo o suporte no desenvolvimento da presente pesquisa, me instruindo e muitas vezes, fazendo uma crítica construtiva para que eu não desanimasse e evoluísse como estudante, que eu melhorasse para enriquecer todos os trabalhos acadêmicos, de forma que eu crescesse como pesquisador e como profissional na ciência da Geografia. Gratulo especialmente a professora Vanessa Maria Ludka, da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), Campus de Cornélio Procópio, e o professor Paulo Fernando Cirino Mourão, representando o colegiado de Geografia UNESP, Campus de Ourinhos pela disponibilidade de compor a banca avaliadora. A todos os professores que passaram pela instituição de ensino ao longo da minha formação acadêmica, durantes esses dois anos letivos, em especial as professoras Camila Hipolito Bernardo, Carla Cristina Reinaldo Gimenes de Sena, Daniela Fernanda da Silva Fuzzo, Edinéia Aparecida dos Santos Galvanin, Fabiana Lopes da Cunha, Luciene Cristina Risso, Maria Cristina Perusi. E os professores Clerisnaldo Rodrigues de Carvalho, Luciano Antonio Furini, Marcelo Dornelis Carvalhal, Paulo Fernando Cirino Mourão, Rodrigo Lilla Manzione. Aos projetos que tive a oportunidade de participar, como, por exemplo, Empresa Junior da UNESP: Soluções Geográficas (EmpGeo), ao qual cooperei em outubro de 2019 à dezembro de 2020, e compreendi o proveito de desenvolver mapas para empresas que já estão no mercado, disponibilizando experiências para a minha vida profissional, além da confecção de trabalhos de pesquisa, e vivência no ambiente acadêmico, participando ativamente das atividades do colegiado. E também a Iniciação Científica Sem Bolsa (ICSB) que desfrutei a oportunidade participar, dos meses de agosto de 2019 a julho deste ano, me auxiliando no processo de desenvolvimento dessa pesquisa. Enfim, coisas que acrescentaram em minha formação, fortalecendo e diversificando o meu conhecimento, e para uma vida profissional repletas de práticas. A todos os meus colegas das turmas em que passei, e amigos do curso, em especial, Afonso Muzzo Alves, Alene Fernandes, André Samogin, Bethânia dos Santos, Débora Domingos, Gabrielly Oliveira Pinto, Ian Mateus Viera Russo, Jéssica Alves, Lizandra Mayara de Oliveira Teixeira, Maria Mariana Pavan Tucci, Matheus de Oliveira Kamaguso Jamaico, Stephanie Passaretti Freire, Tatiane Gregório, Vinicius Nicodemos da Silva Souza, Wagner Vanderlei Vasconcelos Accioli. E aos discentes das turmas que trabalhei e fizeram parte de muitos momentos de descontração ao longo dos dois anos de graduação. Aos profissionais do campus que me auxiliaram em diversos momentos, como, Cleiton as Silva Antonio, Júlio Cesar Demarchi, Rafael Augusto Godoy da Rocha, Ângela Peres Crespo, Edivaldo Ribeiro Rocha (Canitar), Vanessa Ramos dos Santos e a nossa protetora de todos os momentos Laryssa Bitencourt da Silva. RESUMO O turismo é um fenômeno que se espacializa segundo lógicas socioespaciais que podem ser analisadas a partir da perspectiva geográfica. O trabalho tem como objetivo demonstrar a relação da prática turística realizada em Prudentópolis e a rede dos agentes que desenvolvem a atividade turística, também busca demonstrar os seus principais pontos de visitação e as duas modalidades do turismo no município. Os procedimentos metodológicos incluem, trabalho de campo com aplicação de entrevistas e de questionários. Especificamente será analisada a rede de turismo presente no município a partir da abordagem da análise de rede social. Como resultado espera-se discutir a espacialidade do turismo no município de Prudentópolis - PR particularmente as especificidades existentes nos dois segmentos do turismo presentes no município, o ecoturismo e o religioso. Palavras-chaves: Turismo; Redes sociais; Geografia; Prudentópolis - PR. ABSTRACT Tourism is a phenomenon that is spatialized according to socio-spatial logics that can be analyzed from the geographical perspective. The work aims to demonstrate the relationship of the tourist practice carried out in Prudentópolis and the network of agents that develop the tourist activity, it also seeks to demonstrate its main points of visitation and the two types of tourism in the municipality. Methodological procedures include fieldwork with interviews and questionnaires. Specifically, the tourism network present in the municipality will be analyzed based on the social network analysis approach. As a result, it is expected to discuss the spatiality of tourism in the municipality of Prudentópolis - PR particularly the specificities existing in the two segments of tourism present in the municipality, ecotourism and religious. Keywords: Tourism; Social networks; Geography; Prudentópolis - PR. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Mapa das diversas categorias turísticas do Brasil ........................... 39 Figura 2 - Mapa das diversas categorias turísticas do Paraná ........................ 40 Figura 3 - Mapa de localização a área de estudo ............................................ 48 Figura 4 - Mapa das 14 regionalizações turísticas do Paraná ......................... 49 Figura 5 - São Francisco localizado no limite de três municípios .................... 50 Figura 6 - Artesanato desenvolvidos no município de Prudentópolis ……….... 53 Figura 7 - Mapa de organização da igreja católica na região .......................... 54 Figura 8 - O verso do Folder do roteiro da Terra das Cachoeiras Gigantes .... 55 Figura 9 -. Folder do roteiro da Terra das Cachoeiras Gigantes ...................... 55 Figura 10 - Folder do roteiro Capital da Oração ............................................... 56 Figura 11 - As rodovias de acesso a Prudentópolis ......................................... 58 Figura 12 - Imagem do Satélite Landsat 8 do município de Prudentópolis ...... 59 Figura 13 - Principais atrativos turísticos do município de Prudentópolis - PR 60 Figura 14 - Fluxo de visitação de turistas por tipo de atrativo (por pessoa) ..... 61 Figura 15 - Cachoeira Perehouski .................................................................... 63 Figura 16 - Sede da propriedade do Recanto Perehouski e pousada ............. 64 Figura 17 - Quiosque utilizado próximos aos acampamentos ......................... 64 Figura 18 - Placa do início da trilha .................................................................. 65 Figura 19 - Placas informando a proibição de som no local e as partes com grutas e buracos na trilha .................................................................................. 65 Figura 20 - Placa no limite da propriedade sobre a Cachoeira Água Verde .... 66 Figura 21 - Cachoeira Santo Antônio ............................................................... 67 Figura 22 - Salto São Sebastião ...................................................................... 67 Figura 23 - Salto Mlot ....................................................................................... 68 Figura 24 - Placas de orientação e a estrutura em situações críticas no Salto São Sebastião ................................................................................................... 69 Figura 25 - Mirante do Salto São Sebastião com vista para o Salto Mlot ........ 69 Figura 26 - Cemitério Paroquial ........................................................................ 70 Figura 27 - Tumulo da Irmã Anatólia Bodnar ................................................... 71 Figura 28 - Igreja Evangélica Luterana do Brasil ............................................. 72 Figura 29 - Igreja Matriz São João Batista ....................................................... 73 Figura 30 - Igreja Matriz São Josafat ............................................................... 74 Figura 31 - Pia batismal .................................................................................... 75 Figura 32 - Igreja Nossa Senhora do Patrocínio .............................................. 76 Figura 33 - Monumento Natural Salto São João .............................................. 77 Figura 34 - Placas no Monumento Salto São João .......................................... 78 Figura 35 - Sinalizando áreas de risco e as distâncias entre os mirantes ....... 78 Figura 36 - Museu das Irmãs servas de Maria Imaculada ............................... 79 Figura 37 - Museu do Milênio ........................................................................... 80 Figura 38 - Cachoeira da Água Verde .............................................................. 81 Figura 39 - Cânion do Rio Barra Bonita ........................................................... 82 Figura 40 - Sede da RPPN Ninho do Corvo ..................................................... 83 Figura 41 - Placas de sinalização na RPPN Ninho do Corvo .......................... 83 Figura 42 - Salto São Francisco ....................................................................... 84 Figura 43 - Salto Sete ....................................................................................... 86 Figura 44 - Placas indicadoras no Salto Sete .................................................. 87 Figura 45 - Grade de arame e ponto com grandes pedras escorregadias no Salto Sete .......................................................................................................... 87 Figura 46 - Santuário Nossa Senhora das Graças .......................................... 88 Figura 47 - Sitio geológico com o Pinheiro de Pedra ....................................... 90 Figura 48 - Placa de localização em uma área rural ........................................ 91 Figura 49 - Placa em frente a alguns atrativos com QR Code ......................... 93 Figura 50 - Rede de agentes ligados ao turismo ............................................. 95 Figura 51 - Grau de conectividade da Rede .................................................... 97 Figura 52 - Origem dos turistas por Estado ...................................................... 99 Figura 53 - Quais são os meios de informação sobre os pontos turísticos ...... 99 Figura 54 - Qual o meio de transporte utilizado ............................................... 100 Figura 55 - Fluxo de turistas ……………………………………………………..... 101 Figura 56 - Conexões entre os atrativos .......................................................... 103 Figura 57 - Conexões entre as mídias sociais digitais ..................................... 106 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - A evolução da abordagem sobre turismo, dentro do pensamento geográfico .......................................................................................................... 21 Quadro 2 - As segmentações do turismo ………………………………………... 36 Quadro 3 - As modalidades turísticas .............................................................. 36 Quadro 4 - Institutos de Ensino Superior com cursos relacionados ao Turismo no Estado do Paraná ……………………………………………………... 42 Quadro 5 - Cursos de Geografia das IES públicas do Estado do Paraná e a disciplina de Geografia do Turismo.……………………………………………….. 43 Quadro 6 - Agentes de turismo em Prudentópolis e região ............................. 94 Quadro 7 - Mídias sócias que atuam no turismo de Prudentópolis .................. 105 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Valor arrecadado nos setores econômicos em Prudentópolis ............ 51 Tabela 2 - Número de cadastros com base no CADASTUR (2019) .................... 52 Tabela 3 - Atividades e números de empregos desenvolvidos através do turismo em Prudentópolis ..................................................................................... 52 Tabela 4 - Principais atrativos naturais e históricos culturais, do município de Prudentópolis - PR ................................................................................................ 62 Tabela 5 - Local de origem dos turistas ............................................................... 98 Tabela 6 - Números de funcionários e preços e entrada dos atrativos ................ 102 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ACT Atividade Característica do Turismo ADECSUL Agência de Desenvolvimento das Regiões Sul e Centro Sul do Estado do Paraná APRUART Associação Prudentopolitana de Artesanato CADASTUR Cadastro de Prestadores de Serviços Turísticos do Ministério do Turismo CGRMG Comissão de Geografia do Turismo, Recreação e Mudança Global CGTOR Comissão de Geografia do Turismo, Ócio e Recreação CIT Centro de Informações Turísticas COMTUR Conselho Municipal de Turismo E-MEC Sistema Eletrônico do Mistério da Educação ENTBL Encontro Nacional de Turismo com Base Local FAESI Faculdade de Ensino Superior de São Miguel do Iguaçu FENAFEP Festa Nacional de Feijão Preto FG Faculdade Guarapuava IAP Instituto Ambiental do Paraná IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICMS Circulação de Mercadorias e Serviços ICNF Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas ICSB Iniciação Científica Sem Bolsa (ICSB/UNESP) IES Instituições de Ensino Superior INFOTUR Centro de Informações Turísticas de Prudentópolis IPARDES Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social ISULPAR Instituto Superior do Litoral do Paraná ITCG Instituto de Terras, Cartografia e Geologia do Paraná LGBT Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais MEC Ministério da Educação OMT Organização Mundial do Turismo OSBM Ordem de São Basílio Magno QR Code Código Quick Response RPC Rede Paranaense de Comunicação RPPN Reserva Particular do Patrimônio Natural S.P Sem página THR Assessoria de Turismo Hotelaria e Recreação UDC Centro Universitário Dinâmica das Cataratas UEL Universidade Estadual de Londrina UEM Universidade Estadual de Maringá UENP Universidade Estadual do Norte do Paraná UEPG Universidade Estadual de Ponta Grossa UFPR Universidade Federal do Paraná UGI União Geográfica Internacional UNESA Universidade Estácio de Sá UNESPAR Universidade Estadual do Paraná UNICENTRO Universidade Estadual do Centro Oeste UNICESUMAR Universidade Cesumar UNILA Universidade Federal da Integração Latino - Americana UNIOESTE Universidade Estadual do Oeste do Paraná UNISUL Universidade do Sul de Santa Catarina UNIUV Centro Universitário de União da Vitória SUMÁRIO INTRODUÇÂO ………………………………………………………………………... 18 1. GEOGRAFIA E TURISMO: UMA ANÁLISE SOBRE OS CONCEITOS DE ESPAÇO GEOGRÁFICO, REGIÃO E REDES SOCIAIS E SUA APROPRIAÇÃO NA PRÁTICA DO TURISMO .............................................. 20 1.1 Espaço Geográfico e Turismo ................................................................. 23 1.2 Espaço Sagrado e Turismo ..................................................................... 25 1.3 Espaço Natural e Paisagem Turística ..................................................... 27 1.4 Região e Turismo .................................................................................... 29 1.5 Redes Sociais e Turismo ........................................................................ 32 2. CONCEITO DE TURISMO: UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE TURISMO RELIGIOSO E O ECOTURISMO ................................................................... 35 2.1 Turismo Religioso .................................................................................... 44 2.2 Ecoturismo .............................................................................................. 45 3. CARACTERÍSTICA DO TURISMO DESENVOLVIDO PELO MUNICÍPIO DE PRUDENTÓPOLIS (PR) .......................................................................... 47 3.1 Cachoeira Perehouski ............................................................................. 63 3.2 Cachoeira Santo Antônio, Salto Mlot e Salto São Sebastião .................. 66 3.3 Cemitério Paroquial ................................................................................. 70 3.4 Igreja Evangélica Luterana do Brasil ....................................................... 71 3.5 Igreja Matriz São Josafat ......................................................................... 72 3.6 Igreja Matriz São João Batista ................................................................ 73 3.7 Igreja Nossa Senhora do Patrocínio ....................................................... 75 3.8 Monumento Natural Salto São João ....................................................... 76 3.9 Museu das Irmãs servas de Maria Imaculada ......................................... 79 3.10 Museu do Milênio .................................................................................. 79 3.11 Reserva Particular do Patrimônio Natural Ninho do Corvo ................... 80 3.12 Salto São Francisco .............................................................................. 84 3.13 Salto Sete .............................................................................................. 85 3.14 Santuário Nossa Senhora das Graças .................................................. 88 3.15 Sitio geológico com o Pinheiro de Pedra .............................................. 89 4. REDES SOCIAIS DE TURISMO EM PRUDENTÓPOLIS …………………..... 93 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ……………………………………………............... 107 REFERÊNCIAS …………………………………………………………………......... 109 ANEXOS …………………………………………………………………………......... 116 ANEXO A - Questionário 0011:: Com membros da rede que fomentam ou trabalham com turismo .................................................................................. 118 ANEXO B - Questionário 02: Enquete com frequentadores do local ............ 119 ANEXO C - Questionário 03: Caracterização do local de turismo ................ 120 ANEXO D - Questionário 04: Entrevistas com agentes bem informados ..... 121 18 INTRODUÇÃO Este trabalho buscou analisar a atividade turística que vem sendo desenvolvida no município de Prudentópolis, localizado na região do Sudeste Paranaense, devido sua importância para a região, pois envolve as questões ambientais, históricas e culturais, entre outras. O trabalho tem como objetivo demonstrar a relação da prática turística realizada em Prudentópolis e a rede dos agentes que desenvolvem a atividade turística, também busca demonstrar os seus principais pontos de visitação do ecoturismo e religiosos presentes no município. O município já é conhecido por ser a “Terra das Cachoeiras Gigantes” no sul do Brasil e mais recentemente vem se destacado pela preservação da cultura ucraniana e as suas inúmeras igrejas católicas presentes no local, ligadas ao turismo religioso. O referencial teórico que apoiou o estudo inclui Santos (1979, 1986, 2004a), sobre a conceituação de espaço geográfico; Rosendahl (1997, 2002) e Eliade (2010) contribuindo para as definições de espaço sagrado e profano no âmbito do turismo religioso e; a definição de espaço natural e espaço social desenvolvida por Moreira (2002) e para melhor compreensão do ecoturismo, foi utilizado o conceito de paisagem turística, com base em Pires (2001). Já para discutir o conceito de região nos apoiamos em Lecioni (1999) e Porter (1998), que define as práticas turísticas em uma determinada regionalização. Marteleto (2001), que apresenta a ideia de redes sociais; e, já fazendo a interlocução com o turismo a partir da noção de redes as abordagens de Goeldner (2002) e Perinotto (2013). Para a fundamentação teórica do turismo as obras de Vera (1997), Andrade (2000) e Rodrigues (1997, 1999). Para a concretização desta pesquisa, foi realizado o trabalho de campo, para conhecer os pontos turísticos e também foram aplicados alguns questionários e entrevistas, abrangendo frequentadores, agentes de turismo1 e agentes bem informados2. 1 Agentes do turismo: Funcionários, proprietários de propriedades com pontos de visitação 2 Agentes bem informados: Pessoas com posição privilegiada sobre o tema como secretária do turismo municipal, coordenador de pontos, entre outros. 19 Prudentópolis é o 5º maior município do Estado do Paraná, com aproximadamente 2.237 km² IBGE (2020), uma área extensa para a realização do trabalho de campo que num primeiro momento contou com visitas no perímetro urbano da cidade, identificando museus e igrejas, além da aplicação dos questionários para os turistas3 e agentes do turismo, também foi realizada uma entrevista semiestruturada com a secretária do turismo da localidade, no intuito de compreender a dinâmicas e as estruturas das atividades turísticas locais, foram visitados os atrativos naturais selecionados, como o Salto Sete, e o Salto São Francisco, posteriormente foram percorridos os demais atrativos iniciando com o Salto São Sebastião, Salto Mlot e Cachoeira São Antônio, todos na área norte do local supracitado, e foi se retornado em direção à sede municipal observando os demais atrativos, como: Reserva Particular do Patrimônio Natural Ninho do Corvo (RPPN), Cachoeira Perehouski, o Cânion do Rio Barra Bonita que faz parte desses pontos e por fim o Monumento Natural Salto São João. O trabalho, inicialmente, discute a definição de geógrafos aliados ao fenômeno do turismo, utilizando os conceitos geográficos como, espaço e região, além das formulações de redes sociais, buscando correlacionar os temas. No segundo momento aprofunda o conceito de turismo nas duas modalidades presentes na localidade, o turismo religioso - histórico cultural - e o ecoturismo - aventura. No terceiro momento, serão apresentadas as características da área de estudo, no caso de Prudentópolis e da municipalidade do entorno, salientando os principais atrativos presentes, o processo histórico de formação daquela localidade, e a estrutura que envolve os meios de propaganda e demais elementos de divulgação do turismo, a partir de dados coletados no site do Centro de Informações Turística e dos resultados das entrevistas semiestruturadas e questionários E por fim, os resultados da pesquisa, analisando todas as informações e leituras com a dinâmica das redes sociais ligadas ao turismo, e outras especificidades observadas. De fato, o trabalho busca demonstrar os pontos onde ocorre a prática do 3 Turistas: Segundo o dicionário Michaelis, turista significa: Pessoa que faz turismo ou é indivíduo que realiza viagem por puro lazer, sem propósitos científicos. Já de acordo com o Ministério do Turismo, o turista é a pessoa que se desloca para fora de seu local de residência permanente por mais de 24 horas, pernoita, por motivo outro que o de não fixar residência ou exercer atividade remunerada, realizando gastos de qualquer espécie com renda recebida fora da região visitada (BRASIL, 2018, p. 33). 20 turismo, as redes que são formadas para realização dessa atividade no município e na região. Com isso, possibilita um entendimento sobre a prática das ações turísticas desenvolvidas, e a relações das pessoas e organizações que desenvolvem o turismo em Prudentópolis. 1. GEOGRAFIA E TURISMO: UMA ANÁLISE SOBRE OS CONCEITOS DE ESPAÇO GEOGRÁFICO, REGIÃO E REDES SOCIAIS E SUA APROPRIAÇÃO NA PRÁTICA DO TURISMO. O turismo é uma prática socioespacial em que as atividades são realizadas com finalidades específicas. O estudo do turismo na ciência geográfica, segundo muitos autores, é polêmico. Segundo Mirian Rejowski (1996) são identificados os estudos sobre turismo em meados do século XIX, onde se dava ênfase a economia, na década de 1950 os conceitos sobre o espaço turístico começaram a ser novamente evidenciado de uma maneira mais significativa. Em sua obra Rejowski, (1996, p.15) faz uma análise da evolução do conceito de turismo na Alemanha, tendo início no século XX, seus primeiros relatos discutem o turismo na perspectiva dos geógrafos, analisando obras como: A importância do turismo, de Brougier (1902); O Turismo, de Stradner (1905), responsável por introduzir o tema Geografia do Turismo no aperfeiçoamento da prática científica; Condicionantes geográficos e efeitos do turismo, de Sputz (1919), um dos pioneiros a correlacionar os deslocamentos espaciais com as viagens turísticas. Para Vera (et. al, 1997, p. 29) em 1940 a Geografia do Turismo estava relacionada com um segmento de diálogos e deslocamento, mais já se tinham dado inicio aos estudo do turismo na ciência geográfica, através de alguns pontos: “la conquista del tiempo, la conquista del espacio, la disponibilidad de ingresos, la mayor capacidad de consumo y la conversión del turismo en una necesidad básica”. Já nas ilhas britânicas, em 1965, o lazer foi abordado por estudiosos locais como Geografia Geral, demonstrando alguns aspectos turísticos. Dessa forma, em meados do século XX o turismo ainda era visto como um meio de lazer, mas com os estudos e análises foram se observando que o turismo foi se tornando um grande setor econômico principalmente no período pós moderno, onde ele se consolidou. 21 A Geografia ao longo a história foi se desenvolvendo, estabelecendo novos parâmetros, ideologias e hipóteses, redefinindo a própria disciplina, e isso consequentemente influenciou no modo de abordagem da atividade turística na ciência geográfica Vera (et. al, 1997, p. 29) "se puede decir que la sucesión de propuestas metodológicas para el estudio geográfico del turismo corre paralela a la sucesión paradigmática que ha experimentado la geografía". Como isso, Vera (et. al), a ponta com a evolução do pensamento geográfico, surgiram diferentes abordagens sobre de turismo: Quadro 1 - A evolução da abordagem sobre turismo, a partir do pensamento geográfico. Evolución del pensamiento geográfico Características de los enfoques turísticos Geografía Clásica para la geografía clásica, del determinismo ambiental al posibilismo historicista y la tradición corológica, el enfoque del objeto de estudio sobre las influencias que los factores Ejercicios físicos y antropogeográficos sobre el surgimiento y desarrollo del turismo Geografía Neopositivista El fenómeno turístico inició su concepción dentro de la ciencia geográfica en los años 70, del siglo XX, que no se guió por pensar en dos espacios centrales, destacando el turismo como una actividad recreativa, lúdica, de esparcimiento que organiza o produce el espacio economicamente. Nueva Geografía Es una refutación del positivismo, que adquiere relevancia para diversas expresiones humanas. Pero en la década de los 80, del siglo XX, la Geografía Humanista logró un éxito moderado en el concepto teórico de turismo, un movimiento espacial no postindustrial acabó afectando al segmento turístico. Geografía Posmodernista Tiene un papel directo en la formación de ideas sobre el fenómeno turístico y el desarrollo de la Geografía del Turismo. Fonte: Vera (et. al, 1997, p. 30) Elaboração: Evandro Del Negro da Silva, 2020. Vera (et. al, 1997, p. 18), aponta que o turismo: “(...) se caracteriza por la extensión de la función turística de un territorio, más allá de los límites de la red turística tradicional y la globalización territorial, de la nueva dimensiones de la movilidad espacial y la jerarquía funcional urbana y territorial”. Dessa forma, este autor realizou um levantamento da fundação e evolução 22 de um grupo de pesquisa sobre o turismo aplicado à geografia. Em 1972 foi criado um grupo de estudo relacionando o turismo e a recreação, esse acontecimento marcou o início dos estudos mais efetivos entre o turismo e a geografia, o grupo foi desenvolvido pela União Geográfica Internacional (UGI). Com o passar dos anos o grupo se desenvolveu se tornando a Comissão de Geografia do Turismo, Ócio e Recreação (CGTOR), atualmente abrange um nível global se tornando a Comissão de Geografia do Turismo, Recreação e Mudança Global (CGRMG), demonstrando o avanço nos estudos e na atividade turística (VERA, et. al, 1997). Já Castro (2006) realiza um levantamento sobre o desenvolvimento dos trabalhos relacionados à temática no Brasil: Enquanto as décadas de 1970 e 1980 marcam, no Brasil, as primeiras reflexões e teorizações acadêmicas pelo olhar do geógrafo pesquisador em Turismo, os centros acadêmicos europeus vivem o auge dessas tematizações em teses e trabalhos empíricos. Questiona-se o desinteresse ou alheamento do geógrafo brasileiro pela pesquisa desse tema que, no entretanto, provocava tamanho interesse nos centros acadêmicos europeus e, posteriormente, estendeu-se pelos departamentos de Geografia dos Estados Unidos, Canadá, Nova Zelândia e Austrália. Uma dessas razões poderia ser a historicidade do peso do Turismo como prática social e atividade econômica na vida nacional que, por sua vez, relaciona-se às políticas nacionais e setoriais (CASTRO 2006, p. 168). Segundo Rodrigues (1999, p. 95) “a Geografia do Turismo serve para alimentar e irrigar a reflexão na Geografia”. Porém, é fudamental o entendimento da ciência geográfica com a finalidade de compreender as atividades turísticas, observando os diferentes pontos de visitação. Para Coriolano e Mello e Silva (2005, p.21-22) “a Geografia é a ciência do espaço e o Turismo concretiza-se nos espaços geográficos”. Dessa forma a Geografia do Turismo tem por finalidade ler o mundo, explicar e interpretá-lo, para entender a dinâmica espacial do turismo. O auge dos trabalhos que relacionam ciência geográfica com a atividede turística no Brasil ocorreu a partir de um evento, realizado no ano 1995, com a participação de inúmeros autores que estudavam a temática. Foram escritos sobre alguns assuntos relacionados ao tema, como: os imapctos econômicos, ambientais que o turismo acarreta; os conceitos geográficos como espaço, paisagem, lugar, região e território voltados para a prática turística; e as reflexões teóricas a níveis enfoques regionais. Posteriormente aconteceu o I Encontro Nacional de Turismo com Base Local - ENTBL, em 1997. Estabelece-se, assim,um grande avanço nas pesquisas, na quantidade e qualidade dos matérias desenvolvidos sobre a 23 Geografia do Turismo. 1.1 Espaço Geográfico e Turismo Na Geografia o conceito de espaço geográfico foi analisado a partir de diferentes acepções, permitindo avançar no seu entendimento Seria impossível pensar em evolução do espaço se o tempo não tivesse existência no tempo histórico, [...] a sociedade evolui no tempo e no espaço. O espaço é o resultado dessa associação que se desfaz e se renova continuamente, entre uma sociedade em movimento permanente e uma paisagem em evolução permanente [...]. Somente a partir da unidade do espaço e do tempo, das formas e do seu conteúdo, é que se podem interpretar as diversas modalidades de organização espacial. (SANTOS. 1979, p. 42-43): Deste modo, o espaço representa os resultados das ações nele desenvolvidas. O espaço por suas características e por seu funcionamento, pelo que ele oferece a alguns e recusa a outros, pela seleção de localização feita entre as atividades e entre os homens, é o resultado de uma práxis coletiva que reproduz as relações sociais, [...] o espaço evolui pelo movimento da sociedade total. (SANTOS, 1986, p. 171). Dessa forma, [...] deve ser considerado como uma totalidade, a exemplo da própria sociedade que lhe dá vida [...] o espaço deve ser considerado como um conjunto de funções e formas que se apresentam por processos do passado e do presente [...] o espaço se define como um conjunto de formas representativas de relações sociais do passado e do presente e por uma estrutura representada por relações sociais que se manifestam através de processos e funções (SANTOS, 1986, p. 122). Portanto, o autor destaca o espaço como a ocorrência das atividades no meio temporal que demonstra desenvolvimento socioespacial. Com efeito, o espaço geográfico é apreendido por Santos (1986, p. 128), “[…] como realidade objetiva, um produto, isto é, resultado da produção, um objeto social”. Para Moraes (1987, p. 56) o espaço representa “uma proporção de equilíbrio entre a população de uma dada sociedade e os recursos disponíveis para suprir suas necessidades definindo assim suas potencialidades para progredir e suas permanências territoriais”. De acordo com Dollfus (1991, p.11) “a fisionomia da Terra está em perpétua transformação. Toda a paisagem que reflete uma porção do espaço ostenta as marcas de um passado mais ou menos remoto, apagado ou modificado de maneira 24 desigual, mas sempre presente”. Portanto, demonstrando os diversos elementos que formaram, e moldaram o espaço ao longo do tempo. As abordagens geográficas avançam buscando compreender as peculiaridades da noção de espaço mostrando os diversos níveis de abrangência que possui. A palavra espaço amplia seu significado em Geografia, abrindo para a disciplina extraordinárias possibilidades de explorações temáticas através de diversos espaços teóricos e relativos, possibilidades antes o pacificadas pela concepção do espaço geográfico único. Como corolário, os objetos da Geografia também se multiplicam definidos pelos estudos das diversas relações entre os inumeráveis componentes do espaço geográfico (CORRÊA, 1995, p.15). Para Corrêa (1995, p.18), “O espaço transforma-se, assim, através da política, em território, em conceito-chave da geografia”. Deste modo, o espaço está relacionado tanto com os aspectos sociais e culturais mais locais quanto com o modo de produção. O espaço pode ser redefinido em conjunto com as ações humanas produtivas, por diversos setores com o agrícola, o da construção civil ou mesmo do turismo. No sentido destacado por Soja (1993): O espaço não é um reflexo da sociedade, ele é a sociedade [...] Portanto, as formas espaciais, pelo menos no nosso planeta, hão de ser produzidas, como o são todos os outros objetos, pela ação humana. Hão de expressar e executar os interesses da classe dominante, de acordo com um dado modo de produção e com um modo específico de desenvolvimento (SOJA, 1993, p. 89). Dessa forma, a prática do turismo enquanto dinâmica de espaço geográfico acaba se apropriando de diversos espaços com potencialidades de visitação para o desenvolvimento da atividade turística. O turismo, tal como outras atividades e concorrendo com elas, introduz no espaço objetos definidos pela possibilidade de permitir o desenvolvimento da atividade. Além disso, objetos preexistentes em dado espaço podem ser igualmente absorvidos pelo e para o turismo, tendo seu significado alterado para atender a uma nova demanda de uso, a demanda de uso turístico (CRUZ, 2001, p.12). Cruz (2001, p.12), destacando os vários significados presentes na dinâmica espacial afirma que “os espaços são diferentemente valorizados pelas sociedades, dependendo de fatores políticos, econômicos, culturais, todo o espaço do planeta, pode ser considerado espaço do turismo”. Nesse sentido, o município de Prudentópolis e sua região têm uma dinâmica 25 espacial apropriada pela prática do turismo, como por exemplo, o espaço sagrado ou o espaço profano, em atrativos religiosos e históricos culturais, e espaço natural em atrativos naturais, de aventura e ecológicos. Nos tópicos seguintes será abordada com maior ênfase a temática turística nos diferentes espaços. 1.2 Espaço sagrado e turismo Ao analisar o espaço sagrado percebe-se que estudar a manifestação da religiosidade na história da humanidade, até nos dias atuais, é de extrema relevância para a compreensão do espaço sagrado. Dado pelo fato que é uma criação humana dotada de simbologias e crenças, que formam assim o espaço sagrado. Para Tuan (1983 p. 168), o espaço sagrado pode ser moldado pela crença das pessoas no lugar, como por exemplo, “a religião tanto pode vincular uma pessoa ao lugar como libertá-la dele. O culto aos deuses locais vincula um povo ao lugar, enquanto que as religiões universais dão liberdade”. Já Raffestin (1993, p.186), destaca que, “[...] podemos crer que é a partir desses lugares simbólicos da unidade que nascem todas as formas religiosas, que o culto se estabelece, que o espaço se organiza, que uma temporalidade histórica se instaura, que uma primeira vida social se esboça [...]”. Assim, o espaço sagrado é composto por diversos fatores, que em conjunto articulam e vivenciam a questão religiosa. A religião de acordo com Chauí (2000, p.380): “[...] realiza um planejamento do meio que se insere transformando em um espaço simplesmente natural em um local cultural”. Compreende-se que a crença organiza a vida dos seres sociais e direciona as suas ações no tempo e no espaço. O espaço sagrado, caracterizado por cultos, devoções, manifestações, oferendas e outros tipos de fenômenos religiosos (CHAUÍ, 2000). De acordo com Gil Filho (2001, p.7): “O espaço não é cristalização do fenômeno, mas parte das possibilidades relacionais do mesmo. Assim, construímos imagens do espaço e atribuímos a elas as representações de nossa existência”. A compreensão de sagrado é fundamental ao entendimento da filosofia das religiões, formada por vários locais considerados como sagrados pelos freqüentadores. 26 Para Gil Filho (2008, p. 49), o espaço sagrado é um produto da consciência religiosa, “se apresenta como palco privilegiado das práticas religiosas. Por ser próprio do mundo da percepção, o espaço sagrado apresenta marcas distintivas da religião, conferindo-lhe singularidades peculiares aos mundos religiosos”. Para a Geografia, o espaço sagrado é materializado por objetos e símbolos divinos que é manifestado pela sacralidade. O recrudescimento e a demanda por novos símbolos religiosos acentuam- se no espaço e adquirem funções e significados distintos em diversos grupos envolvidos. Ao geógrafo da religião, cabe interpretar os lugares religiosos e seus sucessivos arranjos espaciais frente às novas funções e significados oriundos da mudança de demanda do grupo de leigos, isto é, grupos sociais que impõem novas práticas na demanda por bens de salvação (ROSENDAHL, 2003. p. 191). Para Rosendahl, (2002, p.29), o espaço sagrado é onde o divino se manifesta, podendo ser representado por dois sentimentos opostos, de fascinação ou terror, pois segundo a autora é importante a edificação do espaço religioso e as fontes de doações dos frequentadores, de modo que pode deixar muitos devotos presos a participar das atividades, pois acaba sendo criado um laço de permanência e dedicação do fiel, que pode impedir de romper com o laço, ou seja, deixar de ir um dia da semana que está sendo realizadas as atividades religiosas, perante a penalização de não alcançar a graça desejada. Por isso, existe essa bifurcação de terrível ou fascinante quando se refere a espaço sagrado. Segundo Rosendahl (2002, p. 68), também existem religiões que acreditam na topografia sagrada, como a nascente de rios para os indianos, montanhas para os budistas, montanhas e grutas para os católicos, dentre outros exemplos, mas o fato é que os elementos naturais são incorporados pelos frequentadores dos locais sagrados quando lhe agrada ou quando tem um diferencial potencial para se tornar um espaço divino. Eliade (2010, p. 17) se refere ao profano como “[...] purificado de toda pressuposição religiosa [...]”. Portanto, o espaço profano não tem atributos religiosos ou nenhum tipo de manifestação nesse aspecto, pois é tudo aquilo que não mantém nenhuma característica com a espacialidade sagrada. Dessa forma, para o individuo não religioso, o espaço é como ele realiza e edifica as suas atividades, sem nenhuma ligação com o sagrado. Dessa forma, o turismo nos espaços sagrados acaba tendo um contexto de relação entre as diversas sociedades, matrizes e culturas presentes na superfície da 27 terra, pois é necessária a tolerância com a cultura do outro, facilitando as relações entre as diversas religiões, a visitação em lugares diversos. 1.3 Espaço natural e paisagem turística O turismo em espaços naturais é outro setor de Prudentópolis, o turismo nessa linha, tenta se apropriar da natureza “preservada” para nela exercer a prática turística, nos espaços naturais, como, por exemplo, mata nativa, quedas d’água, morros, rios, lagos, cachoeira e entre outros. Assim podemos entender, que quanto maior o desenvolvimento da sociedade, menor o espaço natural existente, pois mesmo com o turismo o espaço na área natural selecionada poderá sofrer ações antrópicas ou adaptações, para melhor acesso dos turistas. Segundo Moreira (2002, p.36), “apesar da primeira natureza não ser o espaço geográfico, não há, no entanto, espaço geográfico sem ela”. Ela ainda descreve que a natureza rudimentar só é inserida ao universo social no momento que é incluída no desenvolvimento da humanidade e no interesse dos mesmos, demonstrando sua dimensão para a ciência geográfica, resultando na necessidade de se fazer referência a própria base do espaço natural e social, de caracterização como dos elementos importantes de relação. Para Moreira (2002, p.36), “A natureza primeira ou o espaço natural constitui, portanto, a matéria-prima que através do trabalho será transformada dando origem ao espaço geográfico”. Nessa perspectiva a espacialidade é relacionada como espaço social, que é dotado às ações humanas que moldam o ambiente aos seus interesses, e lugar natural, onde se tem as características próprias “preservadas”, como, aspectos físicos, ambientais, fatores bióticos e abióticos, que estão à disposição da adaptação e do uso pela humanidade, para assim se tornar espaços sociais. De acordo com Boullón (2002, p.78-79) o ecoturismo no espaço comporta uma fragmentação se tornando o espaço natural e o espaço modificado, “[...] é o homem quem decide onde devem nascer e quanto tempo vai viver [...]”. Para o autor, é necessário que se tenha o espaço modificado para se realizar as ações turísticas, “[...] elemento do patrimônio turístico, mais o empreendimento e as infraestruturas turísticas [...]” (BOULLÓN, 2002, p.78-79). 28 Com essa perceptiva o espaço é um instrumento a disposição dos interesses humanos, concomitantemente são realizadas inúmeras ações no meio natural, seja para valorização econômica, para as sociedades em geral e seus impulsos. Com isso, a geografia do turismo. Entretanto: A geografia do turismo (...) não se refere apenas a abordagem cientifica do fenômeno do turismo pela ciência geográfica. A “geografia do turismo” é uma expressão que se refere à dimensão sócio espacial da prática social do turismo, e isto sim pode interessar às mais diversas áreas do conhecimento. (LUDKA, 2012, p. 233). Pra isso é necessária a compreensão do conceito de paisagem sobre o espaço natural, pois tanto natural, quanto cultural, sempre foi uma “peça” fundamental para o turismo, pois muitas vezes, é a paisagem que atrai os turistas para conhecerem determinadas localidades, já que a paisagem é a parte observável do espaço, que pode variar de acordo com as várias percepções de quem a vê. (RODRIGUES, 1997) A partir dessa importância da paisagem para o turismo, será utilizado alguns conceitos, tendo como exemplo, a paisagem turística que é um dos conceitos utilizados nos estudos acerca desta área. Além disso, Cruz (2001) define paisagem turística, da seguinte maneira, “(...) paisagens são a porção visível do espaço geográfico e, por isso, desempenham importante papel na constituição dos lugares turísticos e no direcionamento dos fluxos turísticos”. Todavia, salientando a importância da paisagem para a atividade turística. Para reforçar o quanto a paisagem é essencial ao turismo, Pires (2001, p. 127), enfatiza que “A paisagem é um elemento substancial de fenômenos turísticos e, portanto, um recurso de grande valor no desenvolvimento e na consolidação da oferta turística”. Sendo assim, a paisagem acaba se tornando uma forma de vender determinado espaço, para atrair turistas. Para uma melhor compreensão, podem-se definir as paisagens naturais e culturais, como produto turístico, já que vem sendo cada vez mais utilizadas para estes determinados fins. O produto turístico é o resultado da soma de recursos naturais e culturais e serviços produzidos por uma pluralidade de empresas, algumas das quais operam a transformação da matéria-prima em produto acabado, enquanto outras oferecem seus bens e serviços. (BENI, 1998, p. 29). 29 É importante ressaltar que a utilização da paisagem pelo turismo se distingue da paisagem utilizada pela ciência geográfica. Enquanto a Geografia analisa a paisagem como um todo no espaço geográfico, o turismo vai apreciar as paisagens que possuem alguma atração natural ou histórica, que chame a atenção para o desenvolvimento da ação turística. (LUDKA, 2012). A paisagem também se constitui como uma realidade atual construída através do acúmulo de acontecimentos ou eventos passados, uma vez o que que é observado em uma paisagem da atualidade passou por um processo de constantes mudanças. Após apontar a importância da paisagem para o turismo, fica evidente que essa atividade pode contribuir tanto para o lazer quanto para a aprendizagem, e muitas vezes, a paisagem acaba sendo a peça fundamental do destino escolhido para a realização da atividade turística no espaço geográfico. 1.4 Região e Turismo Já a formulação de região parte da delimitação de um determinado espaço, partindo de alguns critérios, como, nas áreas econômicas, políticas, climáticas, entre outras. Sendo assim, Ribeiro; Gonçalves afirmam (2001, p. 91): “Que a região é a junção de elementos similares, que ficaram marcados no processo histórico e socioespacial”. De acordo com Lencione: [...] a palavra região assume caráter ideológico à medida que se torna referência para a construção de mistificações geográficas, sendo por isso um instrumento de manipulação política. A palavra região tem ainda um sentido afetivo vinculado ao sentimento das pessoas pertencerem a um determinado lugar (LENCIONE, 2009, p. 198). Deste modo a região tem por função básica, dividir o espaço geográfico conforme as peculiaridades, esse conceito vem ao longo da história auxiliando na classificação de elementos físicos como uma bacia hidrográfica, uma zona climática, um bioma e no âmbito cultural e econômico, nas divisões por dioceses, pelas mesorregiões e suas simologias relacionadas a diferentes povos da humanidade. Deste modo, o conceito de região é uma ferramenta, que organiza o espaço geográfico, [...] “a geografia define a região como uma forma de organização do espaço pelo homem” (GEISER, 1969 p. 6). 30 Gomes (2008, p. 55) destaca que "[...] o conceito de região natural nasce, pois, desta ideia de que o ambiente tem um certo domínio sobre a orientação do desenvolvimento da sociedade." Essas definições tem um viés ambientalista. A região é uma realidade concreta, física, ela existe como um quadro de referência para a população que aí vive. Enquanto realidade, esta região independe do pesquisador em seu estatuto ontológico. Ao geógrafo cabe desvendar, a combinação de fatores responsável por sua configuração (GOMES, 2008, p. 57). Um exemplo do caráter deliberativo do uso do termo região no senso comum pode ser observado nas ações em Ministério da saúde (2002), quando afirma que: O conceito de região tem sido utilizado tradicionalmente para fins políticos e administrativos. Para indicar áreas que embora subordinadas a um poder central, dispõem de uma estrutura de poder. Para designar áreas de competência das autoridades jurídicas, policiais, fazendárias, sanitárias etc. Embora o conceito tradicionalmente se vinculasse à noção de território, as novas concepções mostram-se bem mais flexíveis. É o que ocorre, por exemplo, com o conceito de região de saúde, que leva em consideração fatores como identidades culturais, econômicas, sociais e redes de comunicação, sem considerar necessariamente as fronteiras administrativas dos municípios (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002). Ao pesquisar o conceito de região, é necessário refletir sobre regionalização, como afirma, Haesbaert (2010, p. 1). “A região, enquanto entidade geográfica concreta, a regionalização, enquanto processo de diferenciação ou de recorte do espaço geográfico em parcelas coesas ou articuladas, e a regionalidade, enquanto propriedade do "ser" regional”. A regionalização é o ato de regionalizar. Para Geiger (1969, p. 5) comenta que “abordar o assunto da regionalização vale, portanto, em tocar no assunto região. Aparentemente, o tema é simples: regiões são porções diferenciadas da superfície terrestre e a regionalização é a forma atual de formação das regiões [...]”. Dessa forma, para Haesbaert (2010): Regionalizar, no seu sentido mais amplo é relacionado a uma de suas raízes etimológicas, enquanto “recortar” o espaço ou nele traçar linhas, é uma ação ligada também ao sentido de orientar(-se) – como na antiga concepção de “região” dos áugures (adivinhos) romanos que, através de linhas ou “regiões” traçadas no céu pretendiam prever o destino de nossa vida aqui na Terra. (HAESBAERT, 2010, p. 3 - 4). Assim regionalizar deve-se pensar em diferentes sentidos como: econômico, ambiental, político, cultural e social. A regionalização, para a ser uma forma de planejamento de uma região. No viés turístico, Andrade (1995, p.38) destaca as características presentes 31 no espaço de uma determinada região que visa à ação turística, "turismo é o complexo de atividades e serviços relacionados aos deslocamentos, transportes, alojamentos, alimentação, circulação de produtos típicos, atividades relacionadas aos movimentos culturais, visitas, lazer e entretenimento". Existe também o cluster4 turístico, um termo que está diretamente conectado com a conceituação de região turística, com a questão da globalização e com o viés econômico, isso porque, em um grupo de empresas com as formas conjuntas, propõe-se unificar o valor de produto, acirrando a competição de um determinado setor, ocasionando um aumento da produtividade; visando a modificação e as novas formas; o crescimento e a preservação do cluster turístico (PORTER, 1998). Deste modo, podemos destacar que a necessidade de criação de um cluster turístico para o município de Prudentópolis, para assim facilitar o contato e o desenvolvimento do turismo na região. A definição de regionalização implica sobre a disputa de espaços e está relacionado diretamente com poder exercido naquela região. Por isso, ao refletir sobre as regiões turísticas, deve ser observada uma identificação regional, sendo uma vantagem ou uma desvantagem, acarretando em consideração da formação dos clusters turísticos. Portanto a descrição de região é essencial para analisar os processos que são desenvolvidos sobre uma espacialidade. [...] de fato, o poder constrói malhas nas superfícies do sistema territorial para delimitar campos operatórios. Esses sistemas de malhas não são únicos; existem diferentes tipos, de acordo com a própria natureza das ações consideradas. Observações análogas, senão idênticas, poderiam ser feitas para os nós e as redes (RAFFESTIN, 1993, p. 149). Nesse sentido vale destacar que ao “território das regiões superpõe-se um território das redes” (SANTOS, 2002, p. 82). As redes são “[...] formadas de pontos interligados que, praticamente se espalham por todo o planeta, ainda que com densidade desigual, segundo os continentes e países” (SANTOS, 2002, p. 82). No tópico seguinte será discutido com maior ênfase a prática turística e o conceito de redes. 4Cluster: é uma palavra em inglês que significa grupo, podendo estar relacionada ao meio de comunicação no âmbito econômico, podendo se relacionar com indústria, serviços, sistemas de informática e turismo, entre outros. 32 1.5 Redes Sociais e Turismo O sentido de redes sociais a partir da organização espacial é constituído de linhas e pontos conectados e implica uma troca de informações com os membros. Sobre a natureza das redes, podemos dizer que é a soma das ações organizadas em torno do mesmo objetivo, representadas por vias de fluxos que perpassa por uma determinada região, auxiliando em suas construções, as redes podem ser organizacional, temporal ou espacial (CORRÊA, 2011, p. 207). Para Marteleto (2001, p.71) "A rede social [...] passa a representar um conjunto de participantes autônomos, unindo ideias e recursos em torno de valores e interesses compartilhados". O caráter espacial das redes pode ser observado quando enfatizamos sua dupla forma de apreensão. […] o termo rede, em sua multiplicidade, nos remete tanto a uma dimensão conceitual como a uma vertente instrumental. As Redes são planejamentos que visam alguma atividade, um modo espontâneo de organização em oposição a uma dimensão formal e instituída; (JUNQUEIRA, 1998, p. 96). Assim os estudos em redes somam-se as aplicações das pesquisas em diversas realidades, os assuntos sociais, desenvolvendo novos modelos para a realização da análise acerca da organização socioespacial presente na contemporaneidade. As redes nas ciências sociais designam normalmente, mas não exclusivamente, os movimentos fracamente institucionalizados, reunindo indivíduos e grupos em uma associação cujos termos são variáveis e sujeitos a uma reinterpretação em função dos limites que pesam sobre suas ações. (MARTELETO, 2001, p.73) Para Santos (2004), há um grande número de definições para “rede”, entretanto, todas convergem no sentido de ligação, laço e interação no ramo das Ciências Sociais. Através de vários tipos de redes interligadas, o gerente pode adquirir informações a priori que sejam importantes, exercer várias formas de influência interpessoal e preparar caminho para proposições que esteja interessado em concretizar (SANTOS, 2004, p. 127). A constante possibilidade de redefinição das redes remete ao caráter dinâmico das mesmas […] redes são estruturas abertas capazes de expandir de forma ilimitada, integrando novos nós, ou atores, desde que consigam comunicar-se dentro da rede, ou seja, desde que compartilhem os mesmos códigos de comunicação (linguagem, valores, informações). Uma estrutura social com base em redes é um sistema aberto altamente dinâmico suscetível de 33 inovação sem ameaças ao seu equilíbrio. (CASTELLS, 2001, p. 498). O entendimento de redes tem por objetivo ajudar a compreender a organização do espaço geográfico a partir de diversas realidades contextuais “[…]. Com base em seu dinamismo, as redes, dentro do ambiente organizacional, funcionam como espaços para o compartilhamento de informação e do conhecimento.” (TOMAEL, 2005, p. 94). Também existe a formação de redes pessoais, que está relacionada com as relações existentes no sistema social, como, por exemplo, a troca de afeto, vínculo familiar, a questão econômica, informacional entre outros, todas essas ligadas entre si com as relações partilhadas, que são fundamentais para a edificação dessa conexão. As ideias de rede advêm dos laços de fluxos relacionais que compõem uma malha e “a ideia de malha remete a um pensamento de união, pois somente com o entrelaçamento dos fios haverá a formação do tecido”, ou no caso as redes (LOIOLA E MOURA, 1997, p. 54). As redes sociais podem ser identificadas por três tipos de redes informais: Rede de amizade: rede informal baseada na troca de amizade e socialização. Rede de confiança: rede informal na qual um ator se permite correr riscos, abrindo mão do controle dos resultados, e tornando-se dependente de outro ator, sem a força ou coação da relação contratual, estrutural, legal ou de terceira pessoa (revela com quem eram trocadas confidências, em que laços de confiança são mais centrados na pessoa do que na posição formal que ocupa). Rede de informação: rede informal na qual a informação é conduzida sobre o que está acontecendo na organização, e que afeta todos os seus membros (revela o fluxo de informações entre os atores) (KUIPERS, 1999, p. 117, apud LAGO JÚNIOR. 2005, p. 44). Nesse sentido o autor parte dos laços relacionais em que acontecem as conexões, de um ator, uma informação, fazendo essa relação. As ligações se estruturam em um conjunto físico, pretendendo a movimentação de elementos, comunicações com a particularidade de cada indivíduo. O indivíduo já nasce inserido em um contexto social que é o núcleo familiar e ao longo de sua vida vai integrando-se a outras relações sociais, tais como, de amizade, de trabalho, de estudo, etc. Cada uma dessas relações sociais pode ser percebida como uma rede. Dentro das redes, cada pessoa pode ser vista como uma estrela, a partir da qual, linhas irradiam-se para outros pontos, que, por sua vez, conectam-se a outros pontos, formando sua rede de contatos (ROMI, 2013, p. 26). 34 As redes podem estar relacionadas com o ordenamento e o poder sobre uma territorialidade, as redes virtuais acabam “transcendendo os limites espaciais das redes face a face, criando, portanto, territórios virtuais cujas configurações são definidas pela adesão a uma causa ou por afinidades políticas, culturais ou ideológicas” (SCHERER-WARREN, 2005, p. 83). Portanto, a definição de redes se relaciona às ligações e aos laços, sejam físicos ou virtuais. Para Perinotto (2013) as redes são as conexões que criam movimentos e a estrutura necessária, para a articulação do turismo. Diante do aumento do uso da Internet, inclusive como meio de divulgar e, em consequência, promover o turismo em determinados destinos, a utilização da mesma é fator decisivo para a tomada de decisão na hora da escolha de um destino turístico. Dessa forma, a utilização de ferramentas da web como as redes sociais para divulgar determinado local... É interessante frisar que as redes sociais sempre existiram e o “boca a boca” sempre foi importante para propagar aspectos positivos e negativos de um determinado produto ou marca. A diferença hoje é que a tecnologia permitiu que essas redes crescessem rapidamente, propiciando a interação de milhares de pessoas. O “boca a boca” virtual passa a atingir um grupo maior de amigos virtuais, fãs e seguidores, em poucos minutos e sem limites geográficos (PERINOTTO, 2013, p.12-14). Goeldner (2002) afirma que para conceituar turismo, deve-se ter conhecimento que deriva de diferentes grupos que acabam moldando essa prática: Quando pensamos em turismo, o que nos vem à mente, em primeiro lugar, são pessoas que se deslocam para passear, ver amigos ou parentes, tirar férias e divertir-se. Elas podem usar seu tempo de lazer praticando esportes, tomando banho de sol, conversando, cantando, caminhando, passeando, lendo ou simplesmente aproveitando o ambiente ou seja o turismo é a soma de fenômenos e relações originados da interação de turistas, empresas, governos locais e comunidades anfitriãs, no processo de atrair e receber turistas ou visitantes. (GOELDNER, 2002, p. 23). Deste modo, o turismo é o resultado das somas dos fenômenos, relações e interações dos grupos. Em outras palavras foi possível observar ao longo dos debates sobre o conceito de redes sociais, que é possível identificar que o mesmo tem inúmeras vertentes, desde laços e relacionamentos por afetividade, como também existem vínculos relacionados na esfera econômica, também existe atualmente a questão das redes na internet que é um veículo de comunicação, que vem evoluindo com o passar dos anos, e auxiliam a divulgação de pontos turísticos, pelas mídias sócias. As redes sociais do turismo serão abordadas posteriormente, partindo das análises dos materiais coletados no trabalho de campo. No capitulo seguinte intitulado “uma breve reflexão sobre turismo religioso e o ecoturismo” será feita uma 35 contextualização sobre a definição de turismo e os segmentos turísticos que atuam no município de Prudentópolis. 2. UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE TURISMO RELIGIOSO E O ECOTURISMO Para Castrogiovanni (2004, p.40) o “turismo propicia o movimento do mundo”. Segundo a Organização Mundial do Turismo - OMT (2002) para a realização da atividade turística o indivíduo tem que sair da sua espacialidade por um período acima de 24 horas, pernoitando no local de destino, com uma duração de menos de 60 dias, pois após esse tempo pode ser configurado mudança para o local destinado. O significado da palavra turismo vem de várias derivações de nações diferentes, mas tudo teve início com a palavra grega tornos, que significa giro, posteriormente passando para a palavra em latim tornare, que sucedeu para o francês tourisme, e transcorreu para o inglês tourism. A etimologia do inglês é o que mais representa a experiência de um giro (BARBOSA, 2002, p.69). A atividade turística é uma maneira do Homem realizar os seus desejos, conhecer diversos lugares, culturas, mas para isso ser possível essa atividade aciona diversos setores econômicos, pois quando é praticada, influencia em várias escalas, particularmente no capital local que a atividade está sendo desenvolvida. No entanto a abrangência do turismo é ampla, pois como afirma Rodrigues (1999, p.17), “O turismo é, incontestavelmente, um fenômeno econômico, político, social e cultural dos mais expressivos das sociedades ditas pós-industriais”. [...] o Turismo é uma amálgama de fenômenos e relações, fenômenos estes que surgem por causa do movimento de pessoas e sua permanência em vários destinos. Há um elemento dinâmico - a viagem, e um elemento estático - a estada. A viagem e a estada acontecem fora do lugar de residência, as pessoas desenvolvem atividades diferentes de seu cotidiano. O movimento de pessoas, também, é particular, por ser temporário - o turista sempre pensa em voltar para casa em pouco tempo. (BURKART; MEDLIK, 1974, p. 29) Até a década de 1960, o mundo observava o fenômeno do turismo como uma prática de lazer e recreação, direcionada para uma determinada classe social. Já nos anos 90 aconteceram algumas mudanças globais, com o desenvolvimento econômico, o crescimento na renda da população, as novas formas de comunicação e transporte. De fato, a segmentação do turismo (Quadro 2) se desenvolveu nas últimas 36 décadas, sendo possível uma análise comparativa entre diferentes organizações demonstrando o desdobrando e a infinidade de modalidades turísticas atualmente (Quadro 3). Quadro 2 - As segmentações do turismo. Tipos Ecoturismo Turismo Cultural Turismo de Aventura Turismo de Esportes Turismo de Estudos e Intercâmbio Turismo de Negócios e Eventos Turismo de Pesca Turismo de Saúde Turismo de Sol e Praia Turismo Náutico Turismo Rural Fonte: Ministério do Turismo (2006) Elaboração: Evandro Del Negro da Silva, 2020. Quadro 3 - As modalidades turísticas. Segmentos Modalidades Cultural Turismo cultural Turismo religioso Turismo histórico Turismo astronômico Turismo étnico Turismo gastronômico Turismo científico Intercambio Turismo pedagógico Natural Ecoturismo Geoturismo Turismo de aventura Turismo rural Turismo de montanha Turismo de neve Turismo de campo Turismo de praia https://pt.wikipedia.org/wiki/Turismo_cultural https://pt.wikipedia.org/wiki/Turismo_cultural https://pt.wikipedia.org/wiki/Turismo_religioso https://pt.wikipedia.org/wiki/Turismo_hist%C3%B3rico https://pt.wikipedia.org/wiki/Turismo_astron%C3%B4mico https://pt.wikipedia.org/wiki/Turismo_gastron%C3%B4mico https://pt.wikipedia.org/wiki/Turismo_cient%C3%ADfico https://pt.wikipedia.org/wiki/Ecoturismo https://pt.wikipedia.org/wiki/Turismo_de_aventura https://pt.wikipedia.org/wiki/Turismo_rural 37 Motivacional Compra e venda Congresso Turismo de Incentivo Turismo de negócios Turismo de saúde Turismo de lazer Turismo de eventos Faixa etária Turismo infantil Turismo de juventude Turismo da melhor idade Grupo Turismo individual Turismo de grupos Turismo LGBT Turismo familiar Fonte: OMT (2002) Elaboração: Evandro Del Negro da Silva, 2020. Atualmente existem inúmeras modalidades de turismo como foi possível observar na tabela acima, os relacionados à saúde, aos LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), os de negócios, de compras e vendas, os culturais, os de incentivos, os de eventos e especificamente os de natureza e religiosos que fazem parte das modalidades desenvolvidas no município de Prudentópolis. A evolução do turismo, ocorrido com o desenvolvimento na virada do século XX para o século XXI, permite definir um modelo econômico baseado em três grandes realidades: 1º FASE: Crescimento Econômico: os níveis do crescimento do Turismo em termos mundiais continuaram irreprimíveis a partir dos anos 1990, mesmo durante a fase de contração econômica vivenciada pelo mundo durante a primeira fase do século XXI. O número de chegadas internacionais continuou a crescer, e todas as previsões na área apontam, mesmo com algumas oscilações, para uma expansão do Turismo nas próximas décadas; 2º FASE: Generalização mundial: O Turismo como atividade econômica e social tem vindo a generalizar-se a quase todos os países, que têm vindo a “descobrir” o seu potencial em termos de crescimento e desenvolvimento; 3º FASE: Dinamização de bases econômicas locais: o efeito de disseminação do Turismo dentro das economias locais tem vindo a processar-se num autêntico efeito de “mancha de óleo”. O Turismo tem vindo a deixar de ser entendido numa perspectiva de economia restrita aos subsetores do alojamento e da restauração, para analisar também o aluguel de automóveis, os transportes, agências, os serviços recreativos, e os serviços culturais. Estes sete subsetores do Turismo são atualmente contabilizados dentro de um sistema estatístico próprio, designado por “Conta Satélite do Turismo. (COSTA, 2013, p. 78- 97). De acordo com Rodrigues (1999) a atividade turística pode ser observada de diferentes aspectos, devido aos segmentos e modalidades que o turismo se https://pt.wikipedia.org/wiki/Turismo_de_neg%C3%B3cios https://pt.wikipedia.org/wiki/Turismo_de_sa%C3%BAde https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Turismo_de_lazer&action=edit&redlink=1 https://pt.wikipedia.org/wiki/Turismo_de_eventos https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Turismo_infanto-juvenil&action=edit&redlink=1 https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Turismo_de_meia_idade&action=edit&redlink=1 https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Turismo_da_melhor_idade&action=edit&redlink=1 https://pt.wikipedia.org/wiki/Turismo_LGBT 38 desdobra nos dias de hoje, isso pode acontecer em escala local e regional, de modo geral em um país, ou entre países. Alguns princípios constituem o turismo, como, a procura pelo serviço, a oferta de função, o espaço geográfico que o indivíduo busca para realizar sua viagem e, por fim, as empresas que disponibilizam essas ocupações, como, agências, companhias, rede de hotéis ou pousadas que acabam organizando todo o sistema para a realização da atividade turística (BRASIL, 2010). Com base no programa de regionalização do turismo do Ministério do Turismo (2020), o Brasil possui atualmente 333 regiões turísticas, espalhadas por 2694 municípios (Figura 1). Para participar do programa é necessário uma prefeitura atuante que participe do Conselho Municipal de Turismo (Comtur), e que as empresas em atuação no município estejam cadastradas no Cadastro de Prestadores de Serviços Turísticos (Cadastur). O programa possibilita analisar os números de caso por regionalização através da categorização dos municípios que vai de A a E, deixando evidente o desempenho econômico local do turismo. Através dos mapas são identificadas as necessidades de investimento em cada município. A categorização pode ser classificada também através do grau de importância que o município em uma região, dado pelo fato que esse programa é recente e está em seu primeiro período de análise, tendo início em 2019 até 2021. O Estado do Paraná possui atualmente 217 municípios (Figura 2) que fazem parte do Mapa do Turismo Brasileiro, sendo agrupada em 14 regionalizações turísticas diferentes que leva em consideração os aspectos econômicos, geográficos e histórico cultural. 39 Figura 1 - Mapa das diversas categorias turísticas do Brasil Fonte: Ministério do Turismo, 2020. 40 Figura 2 - Mapa das diversas categorias turísticas do Paraná Fonte: Ministério do Turismo, 2020. 41 Com base nas figuras acima do programa de regionalização do turismo, é possível analisar que as categorias se dão pelo grau de desenvolvimento e infraestrutura de cada município, como também pela quantidade de empregos relacionadas ao turismo, quantidade de turistas nacionais e internacionais que visitam o local. Com isso, quanto mais próximo da categoria A (verde) tem mais investimentos e infraestrutura relacionado ao turismo, uma maior procura pelos turistas, já a categoria E (marrom) são municípios com uma potencialidade turística, mais com pouco recurso, sem uma consolidação da atividade do turismo. Deste modo, no estado do Paraná podemos observar na categoria A o eixo (Curitiba, Foz do Iguaçu e Londrina) onde se tem os maiores investimentos e as variedades nas modalidades turísticas, tendo uma rede de hotelaria, aeroportos, aluguel de transporte, posteriormente na categoria B, os centros regionais (Cascavel, Guarapuava, Maringá e Ponta Grossa), na categoria C é aonde se encaixa o município de Prudentópolis, e outros municípios com uma importância local e regional, com uma população de até 50. 000 habitantes, nas categorias D e E são municípios menores, com poucos infraestrutura, mas que possuem uma potencialidade turísticas no Estado. Segundo o ministério do turismo o programa auxiliara no reconhecimento de locais com potencialidade turística, para futuros investimentos e assim podendo também observar os dados coletados com o passar dos anos, para ver se teve desenvolvimento na atividade turística. Voltando se para a formação acadêmica, segundo o Ministério da Educação (MEC), os cursos de turismo em atividade no Estado do Paraná (Quadro 4), podem variar entre licenciatura, bacharelado e tecnológico, estando disponível em mais de 20 municípios do Estado. Vale destacar a baixa procura pela área de turismo, por mais que se tenha uma grande quantidade de cursos de graduação ou técnico no Paraná, deixando alguns cursos sem a formação de novas turmas como o caso Centro Universitário de União da Vitória (UNIUV), que deste 2004 não abre turma para a formação de turismólogo, um dos motivos é não ter mercado de atuação suficiente em algumas regiões do Estado, fazendo com que os profissionais migrem para outras áreas. 42 Quadro 4 - Institutos de Ensino Superior com cursos relacionados ao Turismo no Estado do Paraná, com base no MEC 2020.5 Instituição - IES Cursos Grau Modalidade Município Centro Universitário de União da Vitória (UNIUV) Turismo Bacharelado Presencial União da Vitória Centro Universitário Dinâmica das Cataratas (UDC) Turismo Bacharelado Presencial Foz do Iguaçu Centro Universitário Estácio de Ribeirão Preto Turismo Tecnológico A Distância Vários municípios Centro Universitário Estácio de Ribeirão Preto Turismo Licenciatura A Distância Vários municípios Centro Universitário Estácio de Santa Catarina Turismo Licenciatura A Distância São José Faculdade Ensino Superior de São Miguel do Iguaçu (FAESI) Turismo Bacharelado Presencial São Miguel do Iguaçu Faculdade Guarapuava (FG) Turismo Bacharelado Presencial Guarapuava Faculdade Pitágoras de Londrina Turismo Bacharelado Presencial Londrina Instituto Assis Gurgacz Turismo Bacharelado Presencial Cascavel Instituto Superior do Litoral do Paraná (ISULPAR) Turismo Bacharelado Presencial Paranaguá Universidade Cesumar (UNICESUMAR) Turismo Bacharelado Presencial Maringá Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) Turismo Bacharelado A Distância Vários municípios Universidade Estácio de Sá (UNESA) Turismo Licenciatura A Distância Vários municípios Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) Turismo Bacharelado Presencial Ponta Grossa Universidade Estadual do Centro Oeste (UNICENTRO) Turismo Bacharelado Presencial Prudentópolis Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) Turismo Bacharelado Presencial Foz do Iguaçu Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR) Turismo e Meio Ambiente Bacharelado Presencial Campo Mourão Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR) Turismo e Negócios Bacharelado Presencial Apucarana Universidade Federal do Paraná (UFPR) Gestão de Turismo Tecnológico Presencial Matinhos Universidade Federal do Paraná (UFPR) Turismo Bacharelado Presencial Curitiba Fonte: Ministério do Turismo, 2020 Organização: Evandro Del Negro da Silva, 2020. 5 Quadro 4 - Os cursos estão cadastrados no MEC, mais não necessariamente estão sendo ofertados pelas IES. 43 Voltando se para o ensino do turismo na ciência geográfica o Quadro 5, traz a lista dos cursos de Geografia em universidades públicas no Estado do Paraná, que ofertam a disciplina de Geografia do Turismo em sua grade curricular, sendo possível observar que das nove instituições, seis ofertam a matéria, sendo quatro na categoria obrigatória e duas optativa. Quadro 5 - Cursos de Geografia das IES públicas do Estado do Paraná e a disciplina de Geografia do Turismo. Disciplina Instituições Campus Oferta Categoria Geografia do Turismo Universidade Estadual de Londrina (UEL) Londrina Sim Obrigatória Universidade Estadual de Maringá (UEM) Maringá Sim Optativa Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) Ponta Grossa Sim Obrigatória Universidade Estadual do Centro Oeste (UNICENTRO) Guarapuava Irati Sim Obrigatória Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP) Cornélio Procópio Sim Optativa Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) Francisco Beltrão Marechal Cândido Rondon Não X Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR) Campo Mourão Paranavaí União da Vitória Não X Universidade Federal da Integração Latino - Americana (UNILA) Foz do Iguaçu Não X Universidade Federal do Paraná (UFPR) Curitiba Sim Obrigatória Fonte: Grades Curriculares das Instituições. Elaboração: Evandro Del Negro da Silva, 2020. Assim como já foi demonstrado no capítulo anterior, os estudos do turismo pela Geografia adquiriram expressão em meados do século XX, o leque de temáticas vai do aumento da prática turística, dos segmentos, as transformações do território, do desenvolvimento sustentável, a capacidade de carga do território ou a geração de emprego, dentre outros fatores. O fato é que os avanços nos estudos pela ciência geográfica buscam analisar esse fenômeno presente no espaço. Com isso, podemos destacar duas vertentes do turismo que estão em atividade atualmente em Prudentópolis, o turismo religioso e o ecoturismo. 44 2.1 Turismo Religioso A prática do turismo religioso decorre dos últimos anos, se desenvolvendo e atraindo turistas, esse segmento tem como principais pontos, as igrejas. A atividade pode ser realizada por dois motivos, seja por simplesmente vivenciar espaços novos, de culturas e crenças diferentes, e a outra razão é pela devoção do indivíduo, que realiza a prática através de romarias e peregrinação. O papel da Geografia é analisar os fenômenos que estão ocorrendo no espaço, como o turismo está sendo desenvolvido em espaços considerados sagrados, e todos os impactos que a atividade está ocasionando na comunidade local ou regional. Entende-se que essa ação turista tem uma forte relação com os anseios e emoções humanas para com um determinando local, mediado pela fé na busca de alguma benevolência, este segmento turístico ocorre em igrejas, templos sagrados, grutas, matas, ou seja, locais que expressam valores e sentimentos religiosos (DEL NEGRO; LUDKA, 2019, p.7-8). Já para Andrade (2001), o turismo religioso, vem se desenvolvendo nos últimos anos, ficando atrás somente da modalidade de turismo de negócios, segundo ele a religião demonstra aos turistas a arquitetura, a historicidade do espaço visitado, a devoção a um determinado santo, sendo assim uma atividade histórico cultural. Segundo Knafou (1999, p.64) “[...] o turismo não é mais uma atividade exclusiva das classes elitistas, se transformando em uma cultura de massa”. O turismo religioso ou turismo nos espaços sagrados “[...] tornou-se o primeiro instrumento da compreensão entre os povos. Ele permite o encontro de seres humanos que habitam as regiões mais afastadas e são de línguas, raças, religiões, orientação política e posição econômica muito diferentes” (KRIPPENDORF, 2001, p. 82). A intensidade e interação dos frequentadores podem ser diferentes, por exemplo, os devotos realizam suas peregrinações em função da sua crença no sagrado, vivenciando e dependendo dos representantes religiosos para o seu encontro com o ser divino, já o turista é um cliente que desfruta do espaço para observar a arquitetura, tirar foto, uma forma de observar a religiosidade que as vezes nem tem relação com a do indivíduo que está visitando o local, havendo uma relação genérica com o espaço religioso, visitado em comparação com o devoto. A 45 mesma diferença ocorre com o deslocamento e a participação dos fiéis e dos turistas, pois o dia a dia do ritual religioso é vivenciado pelo beato, o turista por mais que tente compreender os fenômenos que ocorrem no espaço, não compreende a essência do sagrado no local (ROSENDAHL, 2009, p.105-106). Ainda segundo as reflexões de Rosendahl, (2009 p.106). A importância que a hierópolis6 tem com a conexão com os peregrinos acaba posteriormente atraindo o desenvolvimento da atividade turística no local, isso ocorre pelos eventos que são realizados nesse espaço sagrado, como a data de comemoração do padroeiro, ou festividades litúrgicas, ou até mesmo as celebrações em louvor a um santo, como por exemplo, o caso do dia 29 de todo mês em que é celebrada a missa de cura e libertação, em louvor a São Miguel Arcanjo, da religião católica, na cidade de Bandeirantes, Paraná. De acordo com Andrade (2001, p.77), denomina-se turismo religioso o: “conjunto de atividades com utilização parcial ou total de equipamentos, e realização de visitas a receptivos, que expressem sentimentos místicos ou suscitem fé, esperança e caridade aos crentes ou pessoas vinculadas a religiões”. 2.2 Ecoturismo A descrição de Ecoturismo pode ser variada, pelos inúmeros autores que escrevem sobre o tema, e pelo leque de modalidades que está inserida nesse segmento do turismo. Segundo o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas - ICNF (2020), o ecoturismo “permite conhecer o patrimônio natural, as paisagens e as tradições dessas áreas respeitando valores naturais que nelas existem.”. Esse segmento do turismo segundo a OMT (2002) está relacionado às áreas naturais, aos elementos físicos, ao ecossistema de modo geral, é de suma relevância, por absorver outras modalidades do turismo, como por exemplo, o turismo de negócios, o turismo desportivo, o geoturismo, o turismo de aventura, o turismo pedagógico, o turismo rural, turismo ambiental e o ecoturismo. O ecoturismo está pautado no lazer, na recreação e na experiência com o meio ambiente, por isso, esse segmento, se apropria de parques, monumentos, 6 Hierópolis: cidades sagradas ou centros religiosos, por exemplo, Aparecida do Norte (SP), Juazeiro do Norte (CE). 46 reservas, áreas rurais preservadas, ambientes urbanos que tenham elementos naturais, e que possam ser observados como, a fauna, a flora, os corpos hídricos, o relevo, as florestas, dentro outros fundamentos, que chama a atenção dos turistas e de empreendimentos, por isso são relacionados ao turismo de negócios. Com isso, o espaço turístico passa pela valorização, a criação de um planejamento que visa uma infraestrutura organizacional e diversificação do espaço, sendo assim: A instabilidade do setor de construção civil [...] tornou o setor turismo atrativo para empreendedores desse ramo. A necessidade de migração de capitais de um para outro setor da economia, como forma de garantir sua reprodução em momentos de crise, é um dos fatores desencadeadores do casamento entre empreiteiras e atividade turística (CRUZ, 2000, p. 138). Para Cunha (2009, p. 51) o segmento do ecoturismo, parte de uma dicotomia entre o ecológico, que busca analisar o espaço natural, sua gênese, com a preocupação de não alterar o local visitado, e o ambiental, que é quando ocorre uma viagem, e o turista somente está interessado na contemplação e na originalidade do sistema natural. Por outro lado, existe uma diversidade no modo de se referir à definição de ecoturismo, muitas vezes se assimilando a um sinônimo, ou uma expressão a palavra com certa semelhança, como as definições de turismo sustentável, turismo de aventura dentre outros, sendo que a própria nomenclatura de ecoturismo, já induz que é uma atividade e será realizada em um meio natural que tem como base os elementos físicos (DIAS, 2008, p.106). A relação do segmento do ecoturismo com o turismo de aventura, já foi ponto de diversas discussões há alguns anos, por exemplo, a OMT juntamente com a Assessoria de Turismo Hotelaria e Recreação - THE (2006), alegam que a prática busca as espacialidades naturais com potencialidades diferentes, como o contato com diferentes elementos: as cachoeiras, cânions, cavernas, serras, morros, picos, dentre outros espaços que tenham um atrativo potencial para o desenvolvimento desse segmento e uma natureza preservada, dando a sensação de conectividade com o ambiente natural, sendo realizadas as atividades de aventura. Com isso a modalidade de aventura faz com que se tenham duas vertentes, como o turismo de aventura soft7 portando relações com atividades sem tanto risco, mais leves e fáceis, como caminhadas em trilhas abertas sem tantos desníveis, 7Soft: é uma palavra em inglês que significa uma atividade ou ação fácil, suave, leve. 47 fazendo-se possível ser realizadas sem o acompanhamento de um guia especializado. Por outro lado o turismo de aventura hard8 está relacionado à prática de atividades radicais que desafiam quem deseja realizá-las, o que requer um indivíduo que tenha experiência e saiba dos riscos, algumas das ações que podem ser praticadas são o rapel, a tirolesa, a escalada, dentre outros. Ainda sobre o turismo de aventura, Swarbrooke (2003, p.9) afirma que: “existem palavras que caracterizam as atividades de aventura, como, resultados incertos, desafio, perigo, risco e emoções constantes”. Essas qualidades mostram as diferenças da modalidade de aventura, dos demais já apresentados anteriormente. Dessa maneira o turismo voltado para a contemplação do ambiente natural é um setor que está em ascensão, pois procura uma maior conscientização das pessoas em relação ao meio ambiente, e tudo que nele está envolvido, além de ser um importante componente para o setor turístico. “Nesse sentido, o ecoturismo em muitos países se torna uma componente chave no setor turístico, movimentando uma nova demanda nas localidades” (EAGLES, 2001, p.43). Vale ressaltar que as atividades econômicas ligadas ao ecoturismo buscam a preservação do meio natural, para assim desenvolver uma atividade econômica sustentável. Como afirma Coelho, (2006, p.5) “essas são formas de exploração sustentáveis que visam causar o menor impacto aos ecossistemas e suas populações locais”. A seguir, será discutida a temática do turismo no município de Prudentópolis, Paraná e as ramificações da prática turística, destacando suas características como seus pontos turísticos e as respectivas abordagens turísticas, de cada ponto de visitação presente no município. 3. CARACTERÍSTICA DO MUNICÍPIO DE PRUDENTÓPOLIS (PR) Para iniciarmos a pesquisa foi preciso compreender, em um primeiro momento, o papel do turismo para o local, e de qual modo foi idealizado. Inicialmente, houve uma seleção de alguns municípios para começar o desenvolvimento do trabalho, e foi analisando as particularidades presentes no 8Hard: é uma palavra em inglês que significa uma atividade ou ação Difícil, intenso, pesada. 48 espaço, e a interação entre eles que avançamos para o recorte final da pesquisa. Destacando o crescente potencial que Prudentópolis vem apresentando na região. Os municípios ao entorno de Prudentópolis (Figura 3) possuem inúmeros atrativos turísticos, como, por exemplo, o município de Guarapuava, que dispõe do Santuário da Mãe Rainha e Vencedora três vezes admirável de Schoenstatt, o Parque Natural Municipal das Araucárias, no município de Inácio Martins, a Cachoeira Zatta e a Igreja Menino Jesus. Mas o município que vem se projetando nos últimos anos na atividade turística é Prudentópolis. Figura 3 - Mapa de localização da área de estudo. Fonte: Malha digital IBGE (2015) 49 Segundo a Secretaria do Desenvolvimento Sustentável e do Turismo do Estado do Paraná (2019) o espaço de Prudentópolis, está no limite de duas regionalizações turísticas, das 14 presentes no estado do Paraná (Figura 4), que são: Terra dos Pinhais, composta pelos municípios da região, como: Guamiranga; Imbituva; Inácio Martins; Irati; Ivaí e Prudentópolis e Entre Matas, Morros e Rios, contemplando outros três municípios aos arredores de Prudentópolis, que são Cândido Abreu e Turvo. Um ponto relevante para o questionamento dessas regionalizações vigentes é que alguns municípios mantêm contato através do turismo, mesmo sendo de outra regionalização. Figura 4 - Mapa das 14 regionalizações turísticas do Paraná. Fonte: SECRETARIA DE TURISMO DO ESTADO DO PARANÁ (2020). O único ponto de visitação que possui uma ligação com Prudentópolis é Salto São Francisco, justamente por fazer a limitação de três municípios: Guarapuava, Prudentópolis e Turvo (Figura 5), atualmente quem investe financeiramente no ponto turístico, é Guarapuava através do Parque Municipal São Francisco da Serra da Esperança, os demais, aguardam que o parque seja elevado à categoria de parque estadual, beneficiando as três localidades supramencionadas. 50 Figura 5 - São Francisco localizado no limite de três municípios. Fonte: Malha digital IBGE (2015) O histórico da urbanização de Prudentópolis está relacionado ao município de Guarapuava, isso, pois em 1895, foram iniciados os loteamentos para o povoamento na região, com planejamento de ruas, habitações construídas pelas famílias de poloneses e ucranianos, isso tudo anteriormente combinado entre os governos dos respectivos países. (PREFEITURA MUNICIPAL DE PRUDENTÓPOLIS - PR, 2020). De acordo, IBGE (2020), no final do século XIX o local tinha como proprietário Firmo Mendes de Queiroz, que cedeu alguns terrenos para a construção da capela de São João Batista. Posteriormente, foram chegando à região oito mil imigrantes ucranianos. Depois os imigrantes acabaram sendo distribuídos nas áreas rurais do povoamento, que desempenharam o papel de pequenos agricultores, pecuaristas e industriais. No ano de 1906, Prudentópolis se edificou de fato como município, se https://pt.wikipedia.org/wiki/Ucr%C3%A2nia 51 desmembrado oficialmente do município de Guarapuava, a nomenclatura do mesmo tem referência ao presidente Prudente de Morais. Devido a vinda de ucranianos para a região do final do século XIX até 1920, a mesma acabou sendo conhecida como a que tem a maior influência e número de descendentes ucraniano no Brasil, cerca de 80% da população atual de Prudentópolis tem origem nos imigrantes. O município também teve a colonização, em menor número, de alemães, poloneses e italianos. Atualmente o município ocupa uma área total de 2.461,58 Km², tendo uma população estimada de 52.200 habitantes, sendo 60% do total dos habitantes residentes nas zonas rurais do município (IBGE, 2020). Prudentópolis tem como principal atividade econômica o setor agrícola (Tabela 1), produzindo salame, mel, fumo, erva mate, feijão preto, tendo até a Festa Nacional de Feijão Preto (FENAFEP) em realização desde 2010, soja e milho como culturas temporárias e animais de pequeno porte, como ovinos, caprinos e suínos (IBGE, 2020). Tabela 1 - Valor arrecadado nos setores econômicos em Prudentópolis - 2018 Setores Econômicos Valor Produção primária (Agrícola) 356.794.747, 00 Indústria 84.736.537, 00 Comércio e Serviços (Turismo) 195.205.174, 00 Recursos / Autos9 3.442.537, 00 TOTAL 640.178.995,00 Fonte: IPARDES (2020) Organização: Evandro Del Negro da Silva, 2020. Segundo a secretária de turismo do município, os investimentos em turismo em Prudentópolis são realizados a partir das três esferas: federal, estadual e municipal. Os investimentos podem também estar vinculado a outro setor de forma indireta, por exemplo, a pavimentação de uma linha (estrada rural), beneficiando o setor agrícola e o setor turístico ou a iluminação, as placas urbanas de localização, 9 Recursos: é o valor proveniente de decisões judiciais incorporados ao valor adicionado de municípios. Autos: é o valor pago (ou base de cálculo da lavratura) em autos de infração, no ano de referência. https://pt.wikipedia.org/wiki/Prudente_de_Morais 52 assim fazendo conjunção de alguns setores para assim construir o turismo no local. De acordo, com a secretária o valor arrecadado pelo município para o turismo é direcionado a divulgação, papelaria com a impressão dos folders e outros materiais. Ao questionar a secretária de turismo, se os investimentos relacionados ao Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) ecológico eram disponibilizados para o departamento do turismo, a secretária não soube dizer, pois não tem acesso aos dados do dinheiro da secretaria do meio ambiente do município. Deste modo a questão econômica no setor do turismo (Tabelas 2, 3) pode movimentar os setores de serviços como: hospedagem, restaurantes e também o artesanato (Figura 6) realizado pela comunidade ucraniana, como tecido bordados, pessankas, canecas, botons, tendo como responsável a Associação Prudentopolitana de Artesanato (APRUART), que administra as quatro lojas de souvenir presentes no município (INFOTUR, 2020). Tabela 2 - Número de cadastros com base no CADASTUR (2019) Tipo de cadastro número Acampamento Turístico 1 Agências de Turismo 9 Guia de Turismo 16 Meio de Hospedagem 10 Organizadora de Eventos 2 Parque Temático 0 Transportadora Turística 13 TOTAL 51 Fonte: IPARDES (2020) Organização: Evandro Del Negro da Silva, 2020. Tabela 3 - Número de estabelecimentos e empregos (RAIS) nas atividades características do turismo (ACT's) em Prudentópolis - 2018 Atividades (act's) Estabelecimentos Empregos Alojamento 9 39 Alimentação 45 193 Transporte Terrestre 9 40 Transporte Aéreo - - Transporte Aquaviário - - Agências de Viagem 3 6 Aluguel de Transportes - - Cultura e Lazer 1 1 TOTAL 67 279 Fonte: IPARDES (2020) Organização: Evandro Del Negro da Silva, 2020. 53 Figura 6 - Artesanato desenvolvidos no município de Prudentópolis. Fonte: PREFEITURA MUNICIPAL DE PRUDENTÓPOLIS (2020) A história do turismo em Prudentópolis foi impulsionada a partir dos anos 90, espontaneamente os turistas visitavam os atrativos naturais, da conhecida rota “Terra das Cachoeiras Gigantes”, ao longo dos anos foram feitas melhorias na Rota das Cachoeiras, mas nos dois últimos mandatos do governo local, ocorreu um maior investimento na infraestrutura e na sinalização, com divulgação, possibilitando a disseminação da prática do turismo no município. Nesse contexto ocorreu a criação da rota “Capital da Oração”, no ano de 2017, enquanto nova rota turística, que visa o turismo religioso, a preservação e divulgação da cultura local, que tem fortes traços da colonização ucraniana. Focando nos atrativos do turismo religioso de Prudentópolis, podemos observar que as igrejas católicas do município fazem parte da regionalização denominada como Diocese de Guarapuava (Figura 7) que foi fundada em 16 de dezembro de 1965 pela Bula “Christi Vices”, do Papa Paulo VI. A Diocese é dividida em quatro decanatos10 que são: o Centro, Laranjeiras, Pitanga e Pinhão. As igrejas presentes em Prudentópolis são organizadas e administradas pelo decanato de Pinhão (DIOCESE DE GUARAPUAVA, 2020). 10 Decanato: é o agrupamento de paróquias que tem como finalidade um melhor desenvolvimento do ministério pastoral, para o bem dos fiéis, permitindo uma melhor comunicação entre o bispo e os párocos. Essas regiões formam unidades pastorais lideradas por um padre moderador, o decano. https://pt.wikipedia.org/wiki/Par%C3%B3quias https://pt.wikipedia.org/wiki/Padre https://pt.wikipedia.org/wiki/Decano 54 Figura 7 - Mapa da organização da Igreja Católica na região. Fonte: DIOCESE DE GUARAPUAVA (2020) Cerca de 90% da população do município professa a fé católica, tendo disponível por volta de 116 espaços religiosos, sendo divido entre o rito bizantino e o rito latino, no rito bizantino, são 43 espaços religiosos que estão localizados em comunidades rurais e uma no centro, todas com as mesmas arquiteturas típicas das igrejas do leste europeu. O rito latino possui 70 espaços religiosos nas comunidades rurais e duas na área urbana, os estilos das paróquias nas áreas rurais são mais simples. Dessa forma o turismo religioso faz uma propagação da fé católica, e de outra religião presente no município, a religião evangélica com a Igreja Evangélica Luterana do Brasil. O ano de 2017 foi importante para o setor turístico de Prudentópolis, pois, apresentou maior avanço com a inauguração do Monumento Natural Salto São João que é atualmente o principal atrativo da “Terra das Cachoeiras Gigantes” (Figuras 8 e 9), com o lançamento da citada rota “Capital da Oração” (Figura 10) e com o início da pavimentação das estradas rurais, conhecidas pela população local como “linhas”, (Linha Barra Bonita; Linha Esperança; Linha Paraná; Linha Vista Alegre). Com isso o objetivo do município, é “estimular a prática do turismo e a permanência do turista, ao menos, mais um dia na cidade, ou na pousada das áreas rurais, assim auxiliando o desenvolvimento do mesmo, na geração de renda e emprego” (INFOTUR, 2020). 55 Figura 8 - O verso do Folder do roteiro da Terra das Cachoeiras Gigantes. Fonte: INFOTUR (2020) Figura 9 - Folder do roteiro da Terra das Cachoeiras Gigantes. Fonte: INFOTUR (2020) 56 Figura 10 - Folder do roteiro Capital da Oração. Fonte: INFOTUR (2020) 57