UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE ENGENHARIA CAMPUS DE BAURU MARCIO YUKIO HIRANO GERAÇÃO DE ENERGIA POR MICROTURBINA ALIMENTADA À BIOGÁS EM UMA PROPRIEDADE RURAL - ESTUDO DE CASO BAURU – SÃO PAULO 2015 MARCIO YUKIO HIRANO GERAÇÃO DE ENERGIA POR MICROTURBINA ALIMENTADA À BIOGÁS EM UMA PROPRIEDADE RURAL - ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada à Faculdade de Engenharia da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus de Bauru, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação da Engenharia Mecânica, para obtenção do título de Mestre em Engenharia Mecânica. Orientador: Prof. Dr. Celso Luiz da Silva BAURU – SÃO PAULO 2015 Hirano, Marcio Yukio. Geração de energia por microturbina alimentada à biogás em uma propriedade rural : estudo de caso / Marcio Yukio Hirano, 2015 107 f. : il. Orientador: Celso Luiz da Silva Dissertação (Mestrado)–Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Engenharia, Bauru, 2015 1. Microturbina. 2. Biogás. 3. Aproveitamento Energético. I. Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Engenharia. II. Título. I AGRADECIMENTOS Agradeço aos meus pais, Orlando Eiiti Hirano e Luiza H. Saruwataru Hirano, que estiveram sempre comigo, ensinando-me, apoiando-me, e acreditando em meu potencial. Agradeço também a todos os professores da Engenharia Mecânica que me acompanharam durante a graduação e a pós-graduação, e que foram tão importantes na minha vida acadêmica, em especial ao Prof. Dr. Celso Luiz da Silva pelo convívio, pela compreensão, pela paciência, pela amizade, pelos conhecimentos repassados e pelo apoio para a realização deste trabalho. Aos amigos e colegas, pelo incentivo e pelo apoio constante, em especial a minha amiga Aline A. Camargo, que também entrou nesta jornada conhecimentos, e sempre me apoiou nos momentos difíceis. Agradeço também aos proprietários e funcionários do Sítio Vovó Cida, que gentilmente permitiram conhecer a propriedade e contribuiram na obtenção de dados para este trabalho. Agradeço também a CAPES pelo apoio científico e financeiro que viabilizaram a realização deste trabalho. II “Trabalhar com sustentabilidade é plantar um presente que garanta a subsistência das novas gerações num planeta que pede socorro e se aquece a cada dia. Pois melhor que plantar árvores, despoluir rios, proteger animais, é semear a consciência de que a garantia da vida é respeitar as fronteiras da natureza.” (Nildo Lage) III SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 1 1.1 Objetivos ............................................................................................................................. 3 1.1.1 Objetivo geral .................................................................................................................... 3 1.1.2 Objetivos específicos ........................................................................................................ 3 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................................................. 5 2.1 Histórico da decomposição anaeróbica e a formação do biogás. ........................................ 5 2.1.1 Microbiologia da digestão anaeróbica .............................................................................. 6 2.2 Fatores que influenciam a digestão anaeróbica ................................................................. 11 2.2.1 Quantidade de oxigênio................................................................................................... 11 2.2.2 Níveis de pH .................................................................................................................... 11 2.2.3 Temperatura .................................................................................................................... 12 2.2.4 Toxidade .......................................................................................................................... 13 2.2.5 Nutrientes ........................................................................................................................ 14 2.2.6 Teor de água .................................................................................................................... 14 2.2.7 Agitação e manutenção ................................................................................................... 14 2.3 Biodigestor ........................................................................................................................ 15 2.3.1 Histórico e panorama mundial ........................................................................................ 15 2.3.2 Disposição correta dos resíduos provindo da criação bovina em confinamento e vantagens da biodigestão .......................................................................................................... 18 2.3.3 Modelos de biodigestores ................................................................................................ 23 2.4 Biogás ................................................................................................................................ 29 2.4.1 Propriedades e uso........................................................................................................... 29 2.4.2 Tratamento do biogás ...................................................................................................... 32 2.4.3 Armazenamento do biogás .............................................................................................. 36 2.4.4 Potencial de produção do biogás ..................................................................................... 37 IV 2.5 Benefícios do biofertilizante e do efluente mineralizado. ................................................. 38 2.6 Microturbina ...................................................................................................................... 40 2.6.1 Conexão com a rede elétrica e conversores de potência ................................................. 45 2.6.2 Aproveitamento Energético ............................................................................................ 46 2.6.3 Panorama de Uso das Microturbinas............................................................................... 46 2.6.4 Microturbina específica para biogás ............................................................................... 47 2.7 Benefícios do uso do biogás em microturbinas, cogeração e trigeração. .......................... 48 3. MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................................ 50 3.1 Localização e Caracterização da propriedade ................................................................... 50 3.2 Capacidade de produção de resíduos bovinos ................................................................... 59 3.3 Capacidade de produção de biogás. .................................................................................. 59 3.4 Poder calorífico do biogás ................................................................................................. 60 3.5 Seleção da microturbina e a produção de energia elétrica. ............................................... 61 3.6 Formas de aproveitamento energético – Aquecimento de água ........................................ 63 3.7 Formas de aproveitamento energético – Efeito de refrigeração ........................................ 65 3.8 Análise inicial de custo ...................................................................................................... 70 4. RESULTADOS E ANÁLISE .............................................................................................. 71 5. CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 82 6. BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................. 83 V LISTA DE FIGURAS FIGURA 1.1 – Fontes de energia utilizadas no Brasil .............................................................. 1 FIGURA 2.1 - Estágios do processo de digestão anaeróbia .................................................... 10 FIGURA 2.2 - Balanço da digestão anaeróbica ...................................................................... 10 FIGURA 2.3– Sistema descontínuo (batelada) de produção de biogás. .................................. 23 FIGURA 2.4– Diagrama esquemático do biodigestor tipo contínuo. ...................................... 24 FIGURA 2.5 – Biodigestor modelo Indiano. ............................................................................ 25 FIGURA 2.6 - Biodigestor modelo Chinês. .............................................................................. 27 FIGURA 2.7 - Biodigestor modelo Canadense. ....................................................................... 29 FIGURA 2.8 - Desenho esquemático de uma microturbina à gás. .......................................... 41 FIGURA 2.9 - Microturbina Capstone C60. ............................................................................ 41 FIGURA 2.10 - Diagrama esquemático de uma microturbina a gás. ...................................... 42 FIGURA 2.11 - Microturbina com regenerador. ..................................................................... 43 FIGURA 2.12 - Representação do eixo móvel de uma microturbina. ...................................... 44 FIGURA 2.13 - Microturbina Capstone CR30 ......................................................................... 47 FIGURA 3.1 - Barracão de confinamento. .............................................................................. 50 FIGURA 3.2 - Sala de ordenha. ............................................................................................... 51 FIGURA 3.3 - Tanque resfriado para armazenamento do leite. .............................................. 51 FIGURA 3.4 - Grelhas de coleta de dejetos bovinos. .............................................................. 52 FIGURA 3.5 - Grelhas de coleta de dejetos bovinos. .............................................................. 52 FIGURA 3.6 - Vista da canaleta de condução de dejetos bovinos........................................... 53 FIGURA 3.7 - Caixa de entrada para a diluição do esterco. .................................................. 53 FIGURA 3.8 - Caixa de entrada do biodigestor, após a diluição dos dejetos. ........................ 54 FIGURA 3.9 - Condução de dejetos pós diluição até o biodigestor ........................................ 55 FIGURA 3.10 - Biodigestor modelo Canadense. ..................................................................... 55 FIGURA 3.11 - Lagoa aeróbica utilizada para a fertirrigação. .............................................. 56 FIGURA 3.12 - Conjunto motobomba utilizado para a fertirrigação. .................................... 57 FIGURA 3.13 - Conjunto motobomba. ..................................................................................... 57 FIGURA 3.14 - Conjunto motogerador. ................................................................................... 58 FIGURA 3.15 - Conjunto motogerador. ................................................................................... 58 FIGURA 3.16- Diagrama da potência elétrica e eficiência vs. temperatura ambiente. .......... 61 FIGURA 4.1- Produtividade média de biogás para 40 kg de dejetos (um animal). ................ 71 VI FIGURA 4.2- Produção de biogás em função do número de bovinos leiteiros. ...................... 72 FIGURA 4.3- Potencial energético que pode ser obtido através da biodigestão de dejetos orgânicos de um bovino leiteiro. .............................................................................................. 73 FIGURA 4.4 - Produção energética da microturbina, e consumo energético do compressor em função do número de bovinos leiteiros. .............................................................................. 74 FIGURA 4.5 - Geração líquida de energia da microturbina. .................................................. 74 FIGURA 4.6 - Quantidade de água aquecida (95 °C) produzida pelo recuperador de calor. 75 FIGURA 4.7 - Geração líquida de energia da microturbina com aquecimento de água. ....... 76 FIGURA 4.8 - Capacidade de refrigeração fornecida pelo resfriador de líquido (chiller). .. 77 FIGURA 4.9 - Geração líquida de energia elétrica da microturbina com refrigeração (chiller). .................................................................................................................................... 78 FIGURA 4.10 – Energia elétrica gerada pela microturbina e o consumo elétrico dos equipamentos utilizados para os casos de: geração direta, com o uso de aquecimento de água e com o uso do resfriamento de líquido, obtido por um animal (para os dados apresentados na tabela 4.1). ........................................................................................................................... 79 FIGURA 4.11 – Fornecimento líquido de energia elétrica para os casos de: geração direta, com o uso do aquecimento de água e com o uso do resfriamento de líquido, obtido por um animal (para os dados apresentados na tabela 4.1). ............................................................... 79 FIGURA 4.12 – Quantidade de energia contida no biogás, na energia elétrica gerada e no volume de água aquecida produzida, obtido para um animal. ................................................ 80 FIGURA 4.18 – Quantidade de energia contida no biogás, na energia elétrica gerada e na capacidade de refrigeração produzido pelo resfriador de líquido, obtido para um animal. .. 80 VII LISTA DE TABELAS TABELA 2.1– Composição típica do biogás processado num biodigestor. ............................. 30 TABELA 2.2 – Energia equivalente produzido pelo biogás. .................................................... 31 TABELA 2.3 – Consumo de biogás em diferentes utilidades. .................................................. 31 TABELA 2.4 - Sistemas de armazenamento de biogás. ............................................................ 36 TABELA 2.5 - Potencial de produção de biogás a partir de dejetos animais .......................... 37 TABELA 2.6 - Especificações técnicas da microturbina CAPSTONE CR30. .......................... 48 TABELA 3.1 - Dados Técnicos do Compressor Mehrer TRE 200 ........................................... 62 TABELA 3.2 - Dados Técnicos do Recuperador de Calor ITC 1 ............................................. 64 TABELA 3.3 - Dados Técnicos do Chiller LWM-W003 ........................................................... 67 TABELA 3.4 - Custo aproximado dos equipamentos utilizados para geração de energia e aproveitamento térmico. ........................................................................................................... 70 VIII LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ACRISSUL - Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul AGEITEC - Agência Embrapa de Informação Tecnológica ANAEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica ASSOCON - Associação Nacional dos Confinadores CENBIO - Centro Nacional de Referência em Biomassa CERs - Certificados de Emissões Reduzidas COP - Coeficiente de Performance (Rendimento) COPEL - Companhia Paranaense de Energia EEA - Empresa de Engenharia Ambiental EMATER - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural ETE - Estação de Tratamento de Esgoto GLP - Gás Liquefeito de Petróleo MDL - Mecanismos de Desenvolvimento Limpo PCI - Poder Calorífico Inferior PCS - Poder Calorífico Superior SABESP - Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo TECPAR - Instituto de Tecnologia do Paraná TR - Tonelada de Refrigeração TRH - Tempo de Retenção Hidráulica IX LISTA DE SÍMBOLOS %��� = Quantidade (percentual) de gás metano presente no biogás �� ��� = vazão mássica de água de recirculação [kg/s] �� á� = Vazão mássica dos gases de exaustão da microturbina [kg/s] � ���� = Coeficiente de performance (rendimento) do resfriador de líquido (chiller) ����� = Calor específico da água [kJ/kg∙K] �� á� = Calor específico dos gases de exaustão [kJ/kg∙K] ���� = Energia consumida pela bomba do resfriador de líquido (chiller) [kWh] ����� = Energia elétrica consumida pelo compressor [kWh] ���� = Energia elétrica gerada pela microturbina [kWh] ���� = Potencial energético fornecido pelo biogás em função do PCI do biogás [kJ] ���� = Potencial energético fornecido pelo biogás em função do PCS do biogás [kJ] ���� = Energia elétrica consumida pela bomba do recuperador de calor [kWh] ���� = Potência elétrica da bomba do resfriador de líquido (chiller) [kW] �� ��� = Poder Calorífico Inferior do gás metano [kJ/Nm³] �� ��� á� = Poder Calorífico Inferior do biogás [kJ/Nm³] ��!"#� = Poder Calorífico Superior do gás metano [kJ/Nm³] ��!��� á� = Poder Calorífico Superior do biogás [kJ/Nm³] ����� = Potência elétrica consumida pelo compressor [kW] ����= Potência elétrica gerada pela microturbina nas condições ambientes de operação [kW] ���� = Potência elétrica consumida pela bomba do recuperador de calor [kW] �� = Potencial de conversão da matéria orgânica em biogás [m³ de biogás/kg de esterco] $� = Volume produzido de água aquecida a 95 °C [m³] $% = Capacidade de refrigeração do resfriador de líquido (chiller) [kWh] X $& � = Taxa de calor que entra no resfriador de líquido (chiller) [kW] '� = Temperatura da água na saída do recuperador de calor [K] '� = Temperatura da água na entrada do recuperador de calor [K] '� = Temperatura da água na entrada do resfriador de líquido (chiller) [K] '�( = Temperatura dos gases de exaustão na entrada do recuperador de calor [K] '� = Temperatura da água na saída do resfriador de líquido (chiller) [K] '�( = Temperatura dos gases de exaustão na saída do recuperador de calor [K] )� = Volume de água aquecida disponível no recuperador de calor [m³] )��� á� = Volume de biogás produzido [m³] *"+,- = Tempo de operação do compressor [h] *��� = Tempo de operação do resfriador de líquido (chiller) [h] *��� = Tempo de operação do recuperador de calor [h] .� = Potência elétrica consumida pela bomba do resfriador de líquido (chiller) [kW] *�/ = Tempo consumido para aquecer a água da temperatura ambiente até 95°C [h] 0��� = Massa específica da água [kg/m³] 1���� = Vazão volumétrica de compressão [m³/h] 1��� = Fluxo energético requerida pela microturbina para operar [kJ/h] $ = Quantidade de matéria orgânica utilizada [kg] �2(34� = Custo bruto da energia elétrica produzida [R$/kW] ��= Custo do equipamento [R$] ��5 �7�4 = Potência elétrica instalada [kW] C9í:;<=+ = Custo líquido da energia elétrica produzida[R$/kW] P?@ AéB,