UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Instituto de Geociências e Ciências Exatas Campus de Rio Claro TERMOCRONOLOGIA POR TRAÇOS DE FISSÃO EM APATITAS NA REGIÃO DO ARCO DE PONTA GROSSA, ENTRE OS ALINHAMENTOS DE GUAPIARA E SÃO JERÔNIMO-CURIÚVA Ana Olivia Barufi Franco Orientador: Prof. Dr. Peter Christian Hackspacher Co-Orientador: Prof. Dr. Antonio Roberto Saad Dissertação de Mestrado elaborada junto ao Programa de Pós-Graduação em Geociências – Área de Concentração em Geologia Regional, para obtenção do Título de Mestre em Geociências Rio Claro (SP) 2006 Comissão Examinadora ______________________________________________ Prof. Dr. Peter Christian Hackspacher (DPM/IGCE/UNESP) ______________________________________________ Prof. Dr. Julio Cesar Hadler Neto (OFGW/UNICAMP) _____________________________________________ Dr. Delzio de Lima Machado Junior Petrobrás – Petróleo Brasileiro S.A. Resultado: Tudo vale a pena quando a alma não é pequena Fernando Pessoa Aos meus primeiros mestres na educação e na vida: Walter e Teresinha Agradecimentos Inicialmente, gostaria de agradecer à FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo pelo financiamento desta pesquisa (Processo 03/11081-0) e pelo suporte financeiro do Projeto Temático “História da Exumação da Plataforma Sul- americana a exemplo da região Sudeste Brasileira: Termocronologia por Traços de Fissão e sistemáticas Ar/Ar e Sm/Nd” (Processo 00/03960-5), através dos quais tornou-se possível a realização deste trabalho. E ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), pelo apoio às atividades de campo (Processo 550619/2002-0). Ao orientador e amigo Prof. Dr. Peter Christian Hackspacher, pela confiança em minha capacidade e aprendizado, por compartilhar seus conhecimentos e experiências durante todos esses anos de convivência diária e também por estar sempre disposto às discussões e aos novos desafios. Ao co-orientador e amigo Prof. Dr. Antonio Roberto Saad, por seu estímulo e presteza em todas as etapas desde o início deste trabalho, bem como pelas inúmeras e proveitosas discussões a respeito da Bacia Sedimentar do Paraná. Ao amigo e Prof. Dr. Mario Lincoln Etchebehere, pela sugestão do tema, encorajamento e auxílio em uma das etapas de campo. Ao Grupo de Cronologia do Instituto de Física da Unicamp, coordenado pelo Prof. Dr. Julio Cesar Hadler Neto e representado por Sandro Guedes, Pedro Iunes, Pedro Augusto Moreira, Eduardo Curvo e Rosane Palissari, pela atenção e paciência sempre dedicadas, pelos ensinamentos e pelas discussões sobre Traços de Fissão. Ao Grupo de Traços de Fissão da Unesp/Rio Claro, coordenado pelo Prof. Dr. Peter C. Hackspacher e representado por Luis Felipe Ribeiro, Marli Carina Ribeiro, Daniel Godoy, Daniele Genaro, Carlos Fracalossi, Valéria Falcão, Carolina Doranti, Rafael de Freitas, Eder Spatti Jr., pela amizade, companheirismo, ajuda e discussões em todos esses anos de caminhada. E a Fulvia Chavarette, pela amizade de tantos anos e apoio técnico sempre disponível. Aos geólogos e amigos Fabio B. Machado, Iata A. Souza, Frederico G. G. Andrade, Ricardo Blaquez, Ivaldo Trindade, pelo companheirismo e encorajamento. Aos funcionários do Departame nto de Petrologia e Metalogenia/Unesp, nas pessoas de Adilson Rossini, Nadia Lunardi, Nelson Lopes Jr., Vânia Roveratti e Neusa da Silva (Neusinha), pela amizade, disposição e apoio técnico. Ao Marcelo, namorado, companheiro e amigo de todas as horas, por entender minha ausência em certos momentos e pelo seu amor, paciência, dedicação e estímulo durante todos esses anos de convívio diário. Às minhas irmãs, Carolina e Ana Tereza; e ao meu avô Antônio, pela amizade, orações e estímulo. Aos meus pais, Walter e Teresinha; por aceitarem com muito orgulho e apoiarem com força essa minha opção de Pesquisadora. Pelo amor e encorajamento nos momentos difíceis e também por entenderem a minha falta em algumas ocasiões importantes de nossa vida. Por fim, à Deus, a quem nada é impossível. SUMÁRIO Índice i I INTRODUÇÃO 1 II OBJETIVOS 2 III LOCALIZAÇÃO E VIAS DE ACESSO 2 IV CONTEXTO GEOLÓGICO-REGIONAL 4 V EVOLUÇÃO DO ARCO DE PONTA GROSSA 19 VI MODELOS DE EVOLUÇÃO DO RELEVO APLICADOS AO ARCO DE PONTA GROSSA 30 VII CONTEXTO TECTÔNICO DO ARCO DE PONTA GROSSA 35 VIII MÉTODOS & TÉCNICAS 39 IX RESULTADOS 81 X CONSIDERAÇÕES FINAIS 107 XI REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 110 ÍNDICE I. INTRODUÇÃO 1 II. OBJETIVOS 2 III. LOCALIZAÇÃO E VIAS DE ACESSO 2 IV. CONTEXTO GEOLÓGICO-REGIONAL 4.1.Introdução 4 4.2 O Arco de Ponta Grossa 5 4.2.1 Embasamento Cristalino 6 4.2.2 Bacia Sedimentar do Paraná 9 V. EVOLUÇÃI DO ARCO DE PONTA GROSSA 5.1 Introdução 19 5.2 Evolução do Arco de Ponta Grossa 20 VI. MODELOS DE EVOLUÇÃO DO RELEVO APLICADOS AO ARCO DE PONTA GROSSA 6.1 Introdução 30 6.2 Modelos de evolução do relevo no Arco de Ponta Grossa 31 VII CONTEXTO TECTÔNICO DO ARCO DE PONTA GROSSA 7.1 Introdução 35 7.2 Contexto Tectônico do Arco de Ponta Grossa 35 VIII MÉTODOS & TÉCNICAS 8.1 Método de Datação por Traços de Fissão – Introdução 39 8.2 Traços Nucleares e Traços de Fissão 39 8.2.1 Processos de formação de traços e teorias 40 i 8.3 Método de Datação por Traços de Fissão 42 8.3.1 Princípios do Método de Datação por Traços de Fissão: Equação Fundamental da Idade 43 8.3.2 Parâmetros Relevantes 47 8.3.2.1 Constante de Decaimento do U238 por fissão espontânea(? f) 47 8.3.2.2 Fator de Geometria (g) 48 8.3.2.3 Taxa da reação de Fissão Induzida no U235 por nêutrons térmicos 48 8.3.3 Técnicas de Datação – Calibrações 49 8.3.3.1 Calibração Absoluta 50 8.3.3.2 Calibração por Idade-Padrão – Calibração Zeta 51 8.3.4 Técnicas de Datação – Procedimentos 53 8.3.4.1 Método da População de Grãos 53 8.3.4.2 Método do Detector Externo 53 8.3.5 Considerações Práticas 54 8.3.5.1 Preparação da Amostra e Irradiação 54 8.3.5.2 Contagem e Medição dos Traços de Fissão em Apatitas 55 8.3.6 Revelação e Observação dos Traços de Fissão 57 8.3.6.1 Técnicas de revelação dos Traços de Fissão: Ataque Químico 57 8.3.7 Análise de Dados e Correção da Idade 60 8.3.8 Annealing dos Traços de Fissão em apatitas 63 8.3.8.1 Causas 64 8.3.8.2 Experimentos de Annealing e Experimentos de Arrhenius 65 8.3.8.3 Temperatura de Fechamento (retenção) do traço de fissão em apatitas 67 8.3.8.4 Comprimento dos traços de fissão em apatitas x annealing 68 8.3.8.5 Annealing x Propriedades Químicas e Cristalográficas 70 8.3.8.6 Estabilidade do traço de fissão em apatitas a condições naturais e extrapolação na Geologia 71 8.3.8.7 Interpretação Geológica 71 8.3.8.7.1 Aplicação da Datação por Traços de Fissão em Apatitas em Bacias Sedimentares 74 8.3.8.7.2. Métodos de Análise Idades de Traços de Fissão em Estudos de Bacias Sedimentares 77 8.3.9 Reconstrução de Histórias Térmicas 78 IX RESULTADOS 81 9.1 Introdução 81 9.2 Interpretações x Discussões 90 9.2.1 Evento A – 130 Ma 90 9.2.2 Evento B – 110/100 Ma (109 e 106Ma) 94 9.2.3 Evento C – 90 Ma (85 e 92 Ma) 96 9.2.4 Evento D – 60 Ma (68 e 54 Ma) 102 9.2.5 Evento E – 30/20 Ma 104 X CONSIDERAÇÕES FINAIS 107 XI REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 110 ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1 - Mapa Digital do relevo confeccionado a partir de dados de elevação Dtopo 30 (USGS) pág. 2 Figura 2 – Localização da are a de estudo e vias de acesso pág.3 Figura 3 - Províncias Estruturais da região estudada pág. 4 Figura 4 - Mapa de geológico-regional do Arco de Ponta Grossa na Bacia do Paraná, evidenciando seus alinhamentos estruturais pág. 6 Figura 5 - Mapa geológico simplificado da Bacia do Paraná, com o contorno estrutural (profundidade) do embasamento cristalino. pág. 11 Figura 6 - Carta estratigráfica da Bacia do Paraná com respectivas Superseqüências da Bacia do Paraná pág. 12 Figura 7 - Mapa do arcabouço estrutural da Bacia do Paraná pág. 21 Figura 8 - Mapa de isópacas da Formação Ponta Grossa pág. 22 Figura 9 - Mapa de isópacas da Formação Rio Bonito pág. 23 Figura 10 – Mapas de isópacas acumuladas do Permiano Superior pág. 24 Figura 11 - Seções paleoestruturais com direção NW-SE (strike), ilustrando a evolução tectônica da Bacia do Paraná pág. 25 Figura 12 - Mapa de isópacas acumuladas do Triássico (Grupo Rosário do Sul e Formação Pirambóia) e do Jurássico Inferior (Formação Botucatu) pág. 26 Figura 13 - Mapa de isópacas das rochas extrusivas da Formação Serra Geral pág. 28 Figura 14 - Mapa de Anomalia Bouger na região do Alinhamento de Guapiara pág. 29 Figura 15 - Localização das principais unidades do relevo no estado do Paraná (A), e disposição de perfl geológico-geomorfológico pág. 31 Figura 16 - Representação esquemática do modelo de denudação proposto por Gilchrist & Summerfield (1990) pág. 32 Figura 17 - Diacronismo das gerações de diques ortogonais e paralelos ao eixo do Atlântico Sul, possível indicação na mudança nos esforços extensionais pág. 37 Figura 18 - Mapa de localização do Alto Estrutural de Quatiguá pág. 38 Figura 19 - Representação de Íon Explosion Spike Theory e formação dos traços de fissão em um mineral pág. 41 Figura 20 - Método do Detector Externo pág. 56 Figura 21 - Esquema de revelação do traço pelo ataque químico pág. 58 Figura 22 - Os três estágios de ataque químico no mineral. pág. 59 Figura 23 - Modelos de ajuste de dados de traços de fissão em apatitas pág. 62 Figura 24 - Modelos de ajuste de dados de traços de fissão em apatitas pág. 62 Figura 25 - Decréscimo da Idade Aparente de Traços de Fissão em Apatitas a partir de seu valor original (X) para zero entre 110 e 60ºC, devido ao annealing dos traços de fissão e conseqüente redução a zero para o mesmo intervalo de tempo. pág. 64 Figura 26 - Dados de annealing em laboratórios obtidos por Green et al. (1986), plotados de forma convencional no Diagrama de Arrhenius pág. 66 Figura 27 - Dados laboratoriais de anneanling obtidos por Green et al. (1986), correspondendo aos cinco tempos de annealing indicados pág. 66 Figura 28 - Conceito da PAZ para a apatita, em perfil crustal pré-exumação pág. 67 Figura 29 - Dados de traços de fissão induzidos e espontâneos para três tipos de apatitas mono-composicionais pág. 69 Figura 30 - Curva de resfriamento do Sudeste Brasileiro, a NE da cidade de São Paulo, entre o estado homônimo e de minas Gerais, através de dados geocronológicos e idades de traços de fissão pág. 72 Figura 31 - A influência da história térmica na acumulação de traços de fissão espontâneos pág. 73 Figura 32 - Quatro modelos de histórias térmicas pré-deposicionais durante 100 Ma em Bacias Sedimentares pág. 76 Figura 33 - Exemplos de distribuição de idades de grãos individuais de traços de fissão em apatitas pág. 87 Figura 34 - Idade de traços de fissão em apatita x Altitude; Idade de traços de fissão em apatita x média do comprimento dos traços confinados pág. 88 Figura 35 - Histórias Térmicas aceitas para as referidas amostras pág. 90 Figura 36 - Rift propagante do Atlântico-Sul, constituído de três segmentos de break-up. pág. 93 Figura 37 - Mapa Topográfico Digital do sudeste brasileiro e modelos de sedimentação da Bacia de Santos pág. 96 Figura 38 - Coluna Estratigráfica da Bacia do Paraná pág. 99 Figura 39 - Coluna Estratigráfica da Bacia de Santos pág. 101 Figura 40 - Reconstrução paleogeográfica da parte inferior da seqüência Santoniano/Eocampaniano da Bacia de Santos pág. 102 Figura 41 – Seções esquemáticas (WNW-ESE) representativas da evolução da região centro-norte do Arco de Ponta Grossa, a partir do Meso-Cenozóico, através de dados de traços de fissão em apatitas pág. 109 Figura Anexa 1 - Mapa Geológico simplificado da área de estudo com relação de pontos amostrados ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1 - Abundâncias e Tempos de meia-vida para os quatro maiores nuclídeos de ocorrência natural que sofrem fissão espontânea pág. 42 Tabela 2 - Especificações de vidros dopados em U utilizados para dosimetria de nêutrons térmicos na Datação por Traços de Fissão pág.50 Tabela 3 - Localização e caracterísitcas geológicas das amostras coletadas para Datação por Traços de Fissão em apatitas na região norte do Arco de Ponta Grossa pág. 83 Tabela 4 - Idades de Traços de Fissão em apatitas na região norte do Arco de Ponta Grossa, para as amostras da Bacia Sedimentar do Paraná pág. 84 Tabela 5 - Idades de traços de fissão e respectivas características na região norte do Arco de Ponta Grossa, para as amostras do embasamento cristalino pág. 85 Tabela 6 - Amostras referentes ao Grupo Itararé e Formação Irati, seus agrupamentos de idades e respectivas idades corrigidas pág. 86 Tabela 7 - Eventos tectono-sedimentares-magmáticos fanerozóicos na região sudeste do Brasil Anexo ÍNDICE DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Curva de ataque químico da mica para se determinar o tempo ideal de ataque químico. pág. 60 ÍNDICE DE FOTOS Foto 1 - Fotomicrografia de uma seção prismática de um cristal de apatita polido e atacado, evidenciando a superfície de ataque intersectando os traços, inclusive traço confinado, revelado através da fratura. pág. 58 Foto 2 - Visão geral da região de Ibaiti, região central do APG, ao longo do Alinhamento de São Jerônimo-Curiúva pág. 100 RESUMO A evolução do Arco de Ponta Grossa, na região sudeste brasileira, durante o Meso- Cenozóico, apresenta uma estreita relação com os eventos tectono-magmáticos responsáveis pela abertura do Oceano Atlântico- Sul. A utilização do Método de Datação por Traços de Fissão em apatitas, nessa região, permitiu a identificação de cinco eventos térmicos, responsáveis pela estruturação dessa feição, a partir do Cretáceo. São eles: Evento A – Aquecimento em 130 Ma, relacionado ao evento de ruptura do Gondwana Sul- Ocidental e geração do Oceano Atlântico-Sul; Evento B – Resfriamento em 110 Ma, associado à reativação de antigas zonas de cisalhamento e/ou falhas geradas na ocasião do evento de ruptura do Gondwana Sul-Ocidental; Evento C – Aquecimento em 90 Ma, associado à um soerguimento regional, interpretado como alçamento de isógradas, provavelmente como reflexo do soerguimento do Arco de Ponta Grossa e conseqüente sedimentação correlativa (Grupo Bauru ls, no interior continental, e seqüência inferior da Formação Santos, na Bacia homônima), bem como de intrusões alcalinas; Evento D – Resfriamento em 60 Ma, correlacionado à um evento erosivo, que propiciou a formação de uma extensa superfície de erosão, neste caso a Superfície Sulamericana, amplamente registrada tanto na parte continental como na porção submersa adjacente ao Arco de Ponta Grossa (sob a forma de discordância regional na Bacia de Santos); Evento E – Resfriamento em 30/20 Ma, associado à atuação de ciclos erosivos, instalação de bacias tafrogênicas e, localmente, intrusões alcalinas. Palavras-Chave: Soerguimento, Aquecimento, Meso-Cenozóico, Bacia do Paraná ABSTRACT The evolution of Ponta Grossa Arch, in southeastern Brazil, during Mesozoic- Cenozoic, seems to be related to the tectono-thermal events related to South Atlantic opening. The use of Apatite fission Track Method, in this region, allowed the recognition of five thermal events, responsible for the formation of this feature, since Cretaceous, which are: Event A – Heating event in 130 Ma, related to the Southeastern Gondwana break-up and the origin of South Atlantic Ocean; Event B – Cooling event in 110 Ma, associated to the shear zones reactivation and/or faults generated during Gondwana break-up; Event C – Heating event in 90 Ma, associated with a regional uplift, interpreted as uplift isotherms, probably as a reflection of Ponta Grossa Arch uplift and correlated sedimentation (Bauru Group ls, in continent and the inferior sequence of Santos Formation, in Santos Basin), and alkaline intrusions; Event D – Cooling event in 60 Ma, correspondent to an erosional event, that formed an extended erosional surface, in this case, Sulamericana Surface, registered both in continental region and in offshore portion (registered as a regional discordance in Santos Basin); Event E – Cooling in 30/20 Ma, related to erosional cycles, tafrogenic basins origin and, locally, alkaline intrusions. Key-words: Uplift, Heating, Mesozoic-Cenozoic, Parana Basin Franco, A. O. B. 2006 1 I. INTRODUÇÃO A Plataforma Sulamericana, na região Sudeste brasileira, foi palco de diversas manifestações tectono-magmáticas e de soerguimentos como conseqüência da atuação dos ciclos de subsidência em bacias sedimentares e da abertura do Oceano Atlântico- Sul, além da reativação Neocretácica e epirogênese posterior, durante o Cenozóico. Exemplos disso são o magmatismo básico da Formação Serra Geral da Bacia do Paraná, magmatismo alcalino do Alinhamento Poços de Caldas-Cabo Frio, além dos soerguimentos das Serras da Mantiqueira e do Mar e do Arco de Ponta Grossa, entre outros. O estudo dessas manifestações passa pela análise e interpretação de eventos térmicos ocorridos durante o Fanerozóico, particularmente em zonas aquecidas da Plataforma Sul-Americana, sendo de fundamental importância para o entendimento e reconstrução da paisagem atual e dos recursos minerais associados, a partir do Cretáceo. A Datação por Traços de Fissão em apatitas apresenta-se como uma ferramenta bastante útil na reconstrução dos eventos termotectônicos / cronológicos responsáveis pela estruturação de diferentes setores da Plataforma Sulamericana, em especial para o Arco de Ponta Grossa (Figura 1), através da associação entre eventos de soerguimento e epirogênese associados a alçamentos tectônicos. Tal metodologia permite reconstruir os eventos geológicos, principalmente aqueles de caráter tectônicos e erosionais, nas porções superiores da crosta terrestre (no máximo a 5 km de profundidade) devido à sua característica de se apresentar como um mineral bastante sensível ao sistema de traços de fissão a temperaturas máximas de 120ºC. Franco, A. O. B. 2006 2 Figura 1 – Mapa Digital do relevo confeccionado a partir de dados de elevação Dtopo 30 (USGS). Compilado de MapMart (2004). II. OBJETIVOS O objetivo principal desta pesquisa foi detectar e delimitar eventos termotectônicos na região centro-norte do Arco de Ponta Grossa, a partir do Meso- Cenozóico, através da utilização, em conjunta, da Datação por traços de fissão em apatitas e aspectos geológicos/geomorfológicos. III. LOCALIZAÇÃO E VIAS DE ACESSO A referente área de estudo localiza-se na porção centro-leste dos estados de São Paulo e Paraná, nas proximidades das cidades de Itapeva (SP) e Castro (PR), em seus limites setentrional e meridional, respectivamente. Suas principais vias de acesso são a SP – 258, SP-270, PR - 118 e BR-476 (Figura 2). N Franco, A. O. B. 2006 3 Figura 2 – Localização da área de estudo e vias de acesso. Franco, A. O. B. 2006 4 IV. CONTEXTO GEOLÓGICO-REGIONAL 4.1 Introdução A área de estudo encontra-se inserida na Província Mantiqueira (Figura 3), inicialmente definida por Almeida et al. (1981). Esta província apresenta um trend NNE ao longo das atuais costas sul e sudeste do Brasil e Uruguai, delimitada pelas Faixas Ribeira, Araçuaí e Dom Feliciano (Cordani et al., 2000), através de um cinturão de cisalhamento transcorrente, que articula interações entre a Faixa Brasília, o Cráton São Francisco e uma série de terrenos acrescidos a sul de diferentes idades e evoluções tectônicas (Campos Neto, 2000; Campanha, 2002). Seu principal elemento tectônico é a Faixa Ribeira, formada por domínios colocados lado a lado através de zonas de cisalhamento neoproterozóicas de orientação NE/SW, cuja evolução é Paleo a Neo – Proterozóica, e msotra-se cortada por zonas de cisalhamento dextrais relacionadas com colisão oblíqua e/ou tectônica de escape (Campanha & Sadowski, 1999). É tida como resultado de uma colisão entre o Cráton de São Francisco e Cráton Congo entre 650 – 600 Ma, durante a Orogênese Brasiliana – Pan-Africana, de acordo com Hackspacher & Godoy (1999). Figura 3 – Províncias Estruturais da região estudada. Base Geológica utilizada CPRM (2001). Após sucessivos episódios colisionais relacionados à aglutinação de blocos crustais dispostos por meio de faixas móveis associados à Orogênese Brasiliana - Pan- Africana (Almeida et al., 2000; Cordani et al., 2000) e conseqüente consolidação Franco, A. O. B. 2006 5 durante o Paleozóico, originou-se o Paleocontinente Gondwana. Este, tornou-se palco de intensa e extensa sedimentação, onde seqüências paleozóicas-mesozóicas foram acumuladas em bacias ao longo de sua margem e sobre porções de seu interior cratônico (Milani, 1997). Essas seqüências cratônicas sedimentares fanerozóicas registradas na Plataforma Sulamericana configuram uma série de unidades (seqüências) limitadas por discordâncias (Sloss, 1963; Soares et al., 1978; Milani et al., 1994; Milani, 1997), como resultados de ciclos de subsidência seguidos por períodos de erosão desenvolvidos em bacias pericratônicas e interiores durante o Ordoviciano Inferior e o Cretáceo, no caso a Bacia do Paraná. Além disso, durante a evolução tectono-sedimentar da plataforma, ocorrem intrusões de diques e extravasamento de lavas basálticas nessas bacias, como resultado de ampla fragmentação do Continente Pangea e da abertura do Oceano Atlântico Sul durante o Cretáceo Inferior (Milani & Thomaz Filho, 2000). 4.2 O Arco de Ponta Grossa O Arco de Ponta Grossa (APG) é uma das feições tectônicas mais expressivas da porção sul-oriental da América do Sul. Delineado como uma megaestrutura soerguida, com eixo dirigido para NW no sentido do interior da Bacia do Paraná, é caracterizado por cinco alinhamentos estruturais-magnéticos com extensões não inferiores a 600 km e larguras variáveis entre 20 e 100 km. Definido na sua forma atual com base no trabalho de Portela Filho & Ferreira (2003), o APG é limitado a nordeste pelo Alinhamento de Guapiara (Ferreira et al., 1981; Almeida 1983; Machado Jr. 2000), a sudoeste pelo Alinhamento do Rio Piquiri, sendo sua região central balizada pelos alinhamentos São Jerônimo-Curiúva e Rio Alonzo (Ferreira, 1982; Almeida 1983), além do Alinhamento do Rio Ivaí, situado entre os alinhamentos do Rio Piquiri e do Rio Alonzo (Almeida, 1982) (Figura 4). Tais faixas são bem marcadas geologicamente por enxames de diques de diabásio, que ocupam e acompanham os principais planos de fraturas e falhas. Geofisicamente, essas faixas são caracterizadas por lineamentos magnéticos, com base em dados aeromagnetométricos, de Imagens Landsat/TM5 (Ferreira et al., 1981), dispostos sob a forma de um leque aberto para o interior, com orientações variando de N40W a N60W (Machado Jr., 2000). Ferreira (1982) interpretou as zonas de magnetismo anômalo como Alinhamentos Estruturais-Magnéticos de Guapiara, São Jerônimo-Curiúva, Rio Alonzo e Rio Piquiri. Franco, A. O. B. 2006 6 Tais alinhamentos encerram espessos enxames de diques de diabásio, do Cretáceo Inferior (Renne et al., 1992, Turner et al. 1994), dirigidos preferencialmente segundo NW-SE. Secundariamente, há também diques de direção E-W e NE-SW, apresentando mergulhos subverticais e comprimentos de até 100 km (Portela Filho & Ferreira 2003). Segundo Zalán et al. (1990), o paralelismo dos alinhamentos que constituem o APG é uma clara indicação de sua origem tectônica, já que esta é uma das duas mais importantes direções de trends de falhas e lineamentos da bacia. Entretanto, estudos efetuados não descartam a possibilidade de se relacionar tal arco a respostas flexurais da crosta à sobrecarga de sedimentos da Bacia do Paraná ou atuação de plumas mantélicas. Figura 4 – Mapa de geológico-regional do Arco de Ponta Grossa na Bacia do Paraná, evidenciando seus alinhamentos estruturais. Modificado de Raposo (1995), Almeida (1983) e Portela Filho & Ferreira (2003). 4.2.1 Embasamento Cristalino A porção sul da Província Mantiqueira – Setor Central (Hasui & Oliveira, 1984), denominada de Terreno Apiaí (Cordani et al., 2000) ou Domínio Apiaí (Campanha & Sadowski, 1999), possui aspectos litotectônicos referentes ao Embasamento Franco, A. O. B. 2006 7 Paleoproterozóico/Arqueano, representado pelo Terreno Curitiba, onde predominam gnaisses e migmatitos do Complexo Atuba (Siga Jr. et al., 1995); e ao Ciclo Brasiliano, expressos sob a forma de metamorfismo de baixo a médio grau e intensa geração de magma cálcio-alcalino, contemporaneamente à migmatização de rochas supra e infra- crustais, além de abundantes intrusões de corpos graníticos pré, sin e pós-colisionais referentes à colagem orogênica brasiliana, representativos dos Terrenos Apiaí e Embu (Cordani et al. op cit.; Heilbron et al., 2004). Durante o Neoproterozóico, o contexto tectônico é representado pela sutura Brasiliana – Pan Africana, evidenciada por rochas pertencentes ao Cinturão Kaoko e Gariep. A evolução segue por através de um magmatismo pós-tectônico, sedimentação continental, vulcanismo ácido a intermediário e intensa transcorrência, originando bacias pull-apart. A zona de cisalhamento de transcorrência dextral que foi desenvolvida durante o Neoproterozóico Superior - Paleozóico Inferior, possivelmente está associada às estruturas oblíquas devido ao choque dos Crátons Congo e São Francisco, contemporaneamente ao fechamento do Oceano Adamastor (Brito Neves & Cordani, 1991; Campos Neto, 2000; Alkmin et al., 2001; Campanha & Sadowski, 1999). Segundo Campos Neto (2000), na região correspondente à área de estudo, localizada na Província Mantiqueira – Terreno Apiaí, são observadas as seguintes associações litológicas/estruturais referentes ao Embasamento Pré-cambriano, representadas essencialmente pelos Grupos Açungui (Almeida, 1956; Marini et al., 1967; Campanha et al., 1987; Fiori, 1992; Campanha & Sadowski, 1999) e São Roque (Hasui et al., 1975; Bergmann, 1988). Exposições de embasamento paleoproterozóico/arqueano na Província Mantiqueira-Domínio Apiaí são raros e se restringem a núcleos de ortognaisses peralcalinos, associados a corpos de ortognaisses porfiroclásticos alongados, cujas idades variam de 1,75 a 2,1 Ga (Kaulfuss, 2001; Cury et al., 2002). Os metassedimentos aflorantes na porção sudoeste do ‘Terreno Apiaí’ (Cordani et al., 2000), também classificado como ‘Terreno Apiaí-São Roque’ (Heilbron et al., 2004), vêm sendo classicamente denominados de Grupo Açungui (Almeida, 1956; Marini et al., 1967; Campanha et al., 1987; Fiori, 1992; Campanha & Sadowski, 1999). Compõe-se de rochas metassedimentares, de baixo a médio grau, mesoproterozóicas (cerca de 1,4 Ga, segundo Juliani et al., 2000; Basei et al., 2003; Weber et al., 2003; Oliveira et al., 2003), compreendendo faixas alternadas e orientadas segundo a direção NW/SE, controladas por zonas de cisalhamento laterais. Franco, A. O. B. 2006 8 A unidade basal metavulcano-sedimentar corresponde à Formação Perau, composta por quartzitos, mármores restritos e calciossilicáticas, xistos grafitosos, cálcio-filitos e formações ferríferas bandadas, com freqüentes intercalações de metabasaltos (Piekarz, 1981; Takahashi et al., 1981 apud Campanha & Sadowski, 1999). A Formação Votuverava, topo da seqüência metavulcano-sedimentar, é caracterizado por meta-arenitos, metaconglomerados e metarritmitos associados a rochas calcárias e seqüências pelíticas, representativas de plataforma carbonática de mar aberto; cujo metamorfismo de baixo grau e de contato ocorreu durante o Mesoproterozóico (Campanha, 1991; Campos Neto, 2000). Encontram-se intercalações de metabasitos (metabasalto do tipo MORB) (Daitx, 1996) e, secundariamente, quartzitos, calco-silicáticas e margas, Esta formação compreende núcleos metamórficos complexos constituídos por gnaisses miloníticos (Sadowski, 1991b) cujas estruturas delimitam os blocos tectônicos pertencentes aos Lineamentos de Lancinha e Agudos – Grandes/Ribeira, além de se encontrarem associados os Lineamentos de Figueira e Morro Agudo (Campanha & Sadowski, op cit; Heilbron et al., 2004).). Associado à essa formação encontra-se a Formação Água Clara, que constitui-se de carbonatos impuros associados a calco-silicáticas, metapelitos, metacalcários e anfibolitos, representativos de plataforma carbonática distal, segundo Campos Neto (2000), pertencentes à um maior grau metamórfico quando comparado às associações anteriores. Neste, as rochas encontram-se mais deformadas e há metamorfismo termal superimposto. Também encontram-se associados basaltos shoshoníticos de arcos magmáticos maturos (Campanha & Sadowski, op cit). Por fim, o Grupo Setuva e a Formação Capiru constituem sucessões de sedimentação pertencente à plataforma carbonática rasa e depósitos terrígenos correspondendo, respectivamente, a xistos de baixo a médio grau metamórfico e carbonatos de baixo grau/pelitos (Campanha & Sadowski, op cit; Campos Neto, 2000). O Grupo São Roque encontra-se situado no domínio do Bloco São Roque (Hasui et al., 1975). Possui estruturação em formato irregular, alongado na direção SSW – NNE, constituindo uma faixa que se estende entre a Zona de Cisalhamento de Jundiuvira e a Zona de Cisalhamento de Taxaquara (Hackspacher et al. 1993). De idade Neoproterozóica, o Grupo São Roque é litologicamente composto por rochas metassedimentares de baixo grau, predominantemente pelíticas a psamíticas, com intercalações carbonáticas com intrusivas básicas e prováveis extrusivas e Franco, A. O. B. 2006 9 vulcanoclásticas máficas e félsicas associadas. Também ocorrem micaxistos, metarcóseos e xistos, e uma camada inferior caracterizada por rochas calco-silicáticas, além de lentes de metadolomitos estromatolíticos, anfibolitos, metandesitos e metabasaltos com estruturas de almofadas (pillows) e brechas (Hackspacher et al., 1999; 2000; Campos Neto, 2000). Juntamente com o Grupo Açungui representa uma seqüência extensional, depositada em torno de 620 Ma em bacias do tipo retro-arco, durante a fase sin-colisional da Orogênese Brasiliana (Hackspacher et al., 1999; 2000). A grande maioria dos complexos graníticos intrusivos ocorrentes na área foram gerados durante episódios tectonomagmáticos do Ciclo Orogenético Brasiliano (Töpfner, 1996; Prazeres Filho et al., 2003), datados entre 600 e 615 Ma (Janasi et al., 2001). Os diversos corpos granitóides são caracterizados por serem sin, tardi ou pós – tectônicos, originários de ambientes de extensão em bacias retroarco, ambientes de colisão continente – continente e em ambientes pós-colisionais associados a zonas de cisalhamento (Töpfner, 1996). Segundo Cordani et al. (2003), tais corpos granitóides são uma evidência do fechamento do Oceano Adamastor entre os crátons Rio de La Plata – Paraná e Kalahari, através de inúmeras acresções. Adicionalmente, bacias tardi a pós-colisionais (Basei et al., 1998) encontram-se associadas aos regimes transcorrentes pertencentes às Zonas de Cisalhamento pertencentes ao Ciclo Brasiliano. Bacias de Castro, Guaratubinha, Camarinha, Campo Alegre e Quatis (Siga Jr., 1995), denominadas inicialmente por Almeida (1956) por ‘bacias do estágio de transição’ representam tais depósitos, sendo litologicamente caracterizados principalmente por rochas vulcânicas, mas podendo ocorrer associados também sedimentos terrígenos, tais como rochas psamíticas imaturas com fácies pelíticas distais. A idade U/Pb (SHRIMP) referente ao vulcanismo Castro é do Cambriano Inferior, segundo Cordani et al. (1999). Isócronas Rb/Sr e idades U/Pb em zircão de Teixeira (1982) e Siga Jr. (1995), respectivamente variam de 0.6 a 0.4 Ga são indicativas do limite Paleoproterozóico. 4.2.2 Bacia Sedimentar do Paraná O contorno da Bacia do Paraná se configura como um limite erosivo em sua maior parte, em torno de 5.500km de extensão. Tal formato reflete fenômenos erosivos e ascensionais pós-paleozóicos da Plataforma Sul-Americana, que fizeram com que Franco, A. O. B. 2006 10 fossem denudados grandes espessuras do pacote sedimentar original. Assim sendo, o flanco oeste, limitado pelo Arco de Assunção, foi imposto pela sobrecarga litosférica imposta pela colisão Andina, possuindo continuidades na Bacia Chaco-Paraná; o flanco nordeste, caracterizado pela Flexura de Goiânia, possui evidências de um limite original, uma paleoborda deposicional. No limite sul-sudoeste, a bacia apresenta descontinuidades, devido à imposição do Arco do Rio Grande, estendendo-se em territórios uruguaio e argentino. Além disso, o flanco leste foi esculpido pela erosão em função do soerguimento marginal como conseqüência da abertura do Rift Sul- Americano, expondo profundamente o embasamento cristalino, cuja associação encontra-se o APG (Milani, 2004) (Figura 5). A Bacia Sedimentar do Paraná foi a província tectono-sedimentar que mais registrou a sucessão de orogenias, em seu arcabouço litológico, durante a evolução fanerozóica do Gondwana Sul-Ocidental (Milani & Ramos, 1998), cuja inserção e evolução, no interior cratônico do Gondwana, desde o Neo-Ordoviciano, possui uma estreita relação com o desenvolvimento dos Gondwanides, um extensivo cinturão fanerozóico marcado pela sucessão dos Ciclos Orogênicos Famatiniano, que compreende as Orogenias Oclóyica e Precordilheirana, e Gondwânico, que inclui as Orogenias Cahnica e Sanrafaelica (Milani, 1997; Milani & Ramos, 1998). Cada um desses eventos orogênicos possuem grande influência temporal nos ciclos de subsidência e conseqüente sedimentação de várias superseqüências responsáveis pelo preenchimento sedimentar da Bacia do Paraná, bem como pelos episódios deformacionais da mesma, através de esforços intraplaca relacionados à reativação de antigas zonas de fraqueza NE-SW referentes à Orogênese Brasiliana (Milani & Thomaz Filho, 2000), observados no domínio de antepaís adjacente através de dois pulsos de deformação compressiva e fenômenos sedimentares e magmáticos associados (Milani & Ramos, 1998). Observados tais fenômenos no contexto intraplaca da Bacia do Paraná, foram reconhecidas por Milani (1997) seis unidades tectono-estratigráficas, denominadas de Superseqüências, distribuídas de modo descontínuo na sedimentação e que foram depositadas durante episódios de subsidências. São elas: Superseqüência Rio Ivaí (Caradociano – Llandoveriano, 458 – 428 Ma), Superseqüência Paraná (Lockoviano – Frasniano, 417 – 364 Ma), Superseqüência Gondwana I (Westphaliano – Seythiano, 354 – 260 Ma), Superseqüência Gondwana II (Neoanisiano – Eonoriano, 242 – 220 Ma), Franco, A. O. B. 2006 11 Superseqüência Gondwana III (Neojurássico – Berriasiano, 206 – 144 Ma) e Superseqüência Bauru (Aptiano – Mastrichiano, 121 – 65) (Figura 6). Figura 5 – Mapa geológico simplificado da Bacia do Paraná, com o contorno estrutural (profundidade) do embasamento cristalino. Compilado de Milani (2004). Além de Milani (op cit.), outros autores também determinaram Superseqüências, todas baseadas em Vail et al. (1977), a começar por Fúlfaro & Landim (1976) (Seqüências I, II, III e IV); Soares et al. (1978) (Seqüências alfa, beta, gama, delta, delta-A, epsilon e zeta); Zalán et al. (1990) (Seqüências Siluriana, Devoniana, Permo- carbonífera, Triássica e Juro-cretácica), além de Soares (1991) (Seqüências Tectonossedimentares Ordovício – Siluriana, Devoniano – Mississipiana, Pensilvaniana – Permiana e Triássico – Jurássico). Franco, A. O. B. 2006 12 Figura 6 – Carta estratigráfica (Milani et al., 1994) com respectivas Superseqüências da Bacia do Paraná (Milani, 1997). O pacote sedimentar mais antigo da Bacia Sedimentar do Paraná, na região do Arco de Ponta Grossa, porém presente em subsuperfície, encontra-se representado por litotipos do Grupo Rio Ivaí, pertencente à Superseqüencia Rio Ivaí (Milani, 1997) Superseqüências Deposicionais (Milani, 1997) Superseqüência Bauru Superseqüência Gondwana III Superseqüência Gondwana II Superseqüência Gondwana I Superseqüência Paraná Superseqüência Rio Ivaí Franco, A. O. B. 2006 13 (Figura 6), cuja atribuição de idades deveu-se à cronocorrelação destes pacotes sedimentares com outros presentes na porção paraguaia da bacia, bem como à datação por palinologia das formações superiores. Tais litotipos são, basicamente, diamictitos de coloração avermelhada e matriz arenosa e diamictitos de coloração cinza azulada e matriz síltico-arenosa da Formação Iapó, sobrepostos por folhelhos representativos de superfície de inundação máxima da Formação Vila Maria. Essa seqüência foi depositada entre o Ordoviciano-Siluriano e Siluriano Inferior (Assine et al., 1994), muitas vezes assentando-se diretamente em discordância litológica sobre rochas do embasamento cristalino Pré-cambriano/Eopaleozóico (Assine, 1996). Mesmo que a Formação Iapó tenha sido descrita e formalizada no estado do Paraná por Maack (1947), a oeste da cidade de Castro, estratigraficamente abaixo dos arenitos e conglomerados basais da Formação Furnas, afloramentos são difíceis de serem observados no flanco sudeste da bacia, porque a unidade é pouco espessa, descontínua e freqüentemente recoberta por depósitos de tálus (Assine op cit.) Assim sendo, o pacote sedimentar mais antigo da Bacia do Paraná, em superfície, é representado pelo Grupo Paraná, pertencente à Superseqüência Paraná (Milani, 1997) (Figura 6), constituído pelas Formações Furnas e Ponta Grossa, depositadas entre o Eo e Neodevoniano (Milani et al., 1994). Para Bergamaschi (1992), a Formação Furnas possui homogeneidade litológica bastante marcante, sendo representativa da base para o topo da seqüência por sistemas continentais fluviais tipo braided, transicionais (ambiente deltáico-marinho) e costeiros (shoreface superior), cujos litotipos predominantes são arenitos de coloração branca a amarelada, caulínica, de granulação média a grossa, com poucas ocorrências de conglomerados. Sua espessura sedimentar é de cerca de 250 e 300m (Assine, 1996). Ainda segundo Bergamaschi (op cit.), descarta-se a existência de um hiato deposicional significativo entre os depósitos transicionais a costeiros do topo da Formação Furnas (depositados durante o Praguiano) e os depósitos marinhos-rasos da base da Formação Ponta Grossa (acumulados no Emsiano). Dessa forma, a Formação Ponta Grossa é uma unidade predominantemente pelítica, de ambiente marinho plataformal (Schneider et al., 1974), apresentando grande variedade de macro e microfósseis, tais como trilobitas, braquiópodos, tentaculites, acritarcas, quitinozoários, entre outros (Assine, 1996). Foi subdividida em três membros. O mais basal, Membro Jaguariaíva, possui idade emsiana e é constituído por folhelhos sílticos de coloração cinza/média, abundantemente fossilíferos e às vezes Franco, A. O. B. 2006 14 bioturbados, podendo por ora possuir altos teores de matéria orgânica. É seguido pelo Membro Tibagi, de idade eifeliana (Lange, 1967), composto por arenitos finos a muito finos, provenientes de ambiente marinho e com estratificação cruzada hummocky, lenticulares, fossilíferos e por vezes intercalados por folhelhos sílticos. O topo da formação é caracterizado pela presença do Membro São Domingos, de idade givetiana/frasniana, constituído por folhelhos laminados de coloração cinza, ora betuminosos, interdigitados a arenitos finos (Assine, 1996). Estudos realizados por Bergamaschi (1999) revelam que curvas de variação do nível do mar relativo para ciclos de 2ª ordem indicaram elevação relativa do nível do mar desde o Ludloviano-Praguiano até o Frasniano. Num primeiro momento, a taxa de subida relativa do nível do mar foi baixa, quando comparada ao Neolochkoviano, quando sua subida provocou um rápido afogamento da Formação Furnas, e conseqüente instalação de uma superfície transgressiva de 2ª ordem, ou seja, instalação da plataforma marinha-rasa da Formação Ponta Grossa. Em escala de ciclos de 3ª ordem, os limites temporais dos membros dessa formação são concordantes com as quedas relativas do nível do mar, durante o Emsiano, Eifeliano e Frasniano, originando os limites inferiores destas seqüências. Após um grande período de instabilidade da Bacia do Paraná, de aproximadamente 45 Ma (Daemon et al., 1996), durante o Eocarbonífero, através de uma ação conjunta de fatores de caráter climático (Caputo & Crowell, 1985) e tectônico (De Wit & Ransome, 1992), foi gerada a mais forte discordância regional de maior hiato na bacia. Assim sendo, durante o Neocarbonífero (Westphaliano), a deposição das rochas do Grupo Itararé, pertencente à Superseqüência Gondwana I (Milani, 1997) (Figura 6) encontrava-se sob forte influência de geleiras, tendo o gelo como meio de transporte e deposição de sedimentos. Seus litotipos mais abundantes são, da base para o topo, pacotes areno-conglomeráticos, com conglomerados maciços, gradados, laminados ou estratificados, associados a arenitos maciços, gradados, laminados e com estratificação cruzada ou ondulações de correntes, adicionados a diamictitos maciços ou estratificados com seixos de granulometria variada e composição diferenciada e lamitos/siltitos com intercalações arenosas, em associação a folhelhos acinzentados e ritmitos sílticos- argilosos são representantes das Formações Campo Tenente, Mafra e Rio do Sul do Grupo Itararé (Schneider et al. 1974; França & Potter, 1988; MINEROPAR, 1986; Vesely, 2001) e da Formação Aquidauna, no estado de São Paulo (Daemon & França, Franco, A. O. B. 2006 15 1993). Tais pacotes sedimentares representam eventos de avanço de geleiras, com erosão por abrasão subglacial e/ou por água do degelo. Empilhamentos retrogradacionais constituem seqüências de deglaciação equivalentes a tratos transgressivos, correspondentes à fase de avanço glacial (Vesely, op cit.). A idade Neocarbonífera-Eopermiana desta seqüência foi determinada através de elementos bioestratigráficos, tais como palinomorfos, bivalves, foraminíferos, conchostráceos e braquiópodos (Daemon et al., 1996). A seqüência Carbonífera-Permiana da Bacia Sedimentar do Paraná é representada pelo Grupo Guatá, também pertencente à Superseqüência Gondwana I (Milani, 1997) (Figura 6). Em todo seu registro sedimentar, os pacotes refletem deposição de caráter transgressivo, em função do degelo das calotas polares instaladas no Eocarbonífero. Entretanto, cunhas anômalas de depósitos clásticos arenosos invadem a bacia sob a forma de pacotes deltácios, representativos da Formação Rio Bonito (Zalán et al., 1990), durante o Artinskiano/Kunguriano. Seus litotipos são arenitos associados a leitos de carvão, siltitos e folhelhos localmente carbonosos (Milani et al., 1994). Ao cessar o afluxo de cunhas clásticas na bacia, é retomada a subida do nível do mar através da deposição da Formação Palermo, caracterizada por siltitos e siltitos arenosos bioturbados, depositados em ampla plataforma marinha rasa (Schneider et al., 1974; Milani, op cit.). Os sedimentos depositados durante a transgressão marinha alcançam a máxima expressão de área na Formação Irati do Grupo Passa-Dois (incluso Superseqüência Gondwana I (Milani, 1997), Figura 6). Depositada durante o Permiano Superior, a Formação Irati é subdividida nos membros Taquaral e Assistência. Seus litotipos mais predominantes são folhelhos, folhelhos betuminosos, arenitos, margas, carbonatos e anidritas, depositados em ambiente marinho de águas calmas abaixo do nível de ação das ondas (Membro Taquaral) e ambiente marinho raso, sob condições de restrição da bacia, com pouca circulação e oxigenação (Membro Assistência) (Schnneider, op cit.; Hachiro et al., 1993; Daemon et al., 1996). Ainda no Permiano Superior, lamitos e folhelhos da Formação Serra Alta (Grupo Passa-Dois) afogaram a então “bacia Irati”, seguindo um ciclo regressivo de ampla magnitude (Milani, op cit.). A seqüência regressiva segue atuante, representada pelas Formações Teresina, Rio do Rastro e Corumbataí, caracterizada pela ação de um mar epicontinental na bacia. Assim sendo, a Formação Teresina possui litotipos como argilitos e siltitos cinza claros, associados a calcários e coquinas no topo, depositados Franco, A. O. B. 2006 16 sob ação de ondas e marés. A Formação Rio do Rastro, cujo limite superior remonta o Eotriássico, é constituída pro arenitos, siltitos e folhelhos arroxeados, esverdeados e avermelhados e calcarenitos, depositados em sistemas de avanço de deltas (MINEROPAR, 1986; Milani, op cit.). Vale ressaltar que as denominadas Formações Serra Alta, Teresina e Rio do Rastro, no estado do Paraná, são correspondentes à Formação Corumbataí, no estado de São Paulo (Milani, op cit.). As seqüências mesozóicas da Bacia do Paraná são essencialmente continentais, inicialmente registradas pelos sedimentos pertencentes à Formação Pirambóia (Grupo São Bento, Superseqüência Gondwana I), constituídos por arenitos avermelhados e esbranquiçados, médios a finos, localmente conglomerados, com estratificação cruzada acanalada e planar, sedimentados em associação a ambientes fluviais e eólicos, depositados durante o Neotriássico (Caetano-Chang, 1997). Durante o Jurássico – Cretáceo, um extenso campo de dunas eólicas cobriu grande porção do continente, materializado pela Formação Botucatu (Grupo São Bento, Superseqüência Gondwana III), seguido por um gigantesco extravasamento intracontinental de lavas basálticas (Formação Serra Geral, pertencente Grupo São Bento - Superseqüência Gondwana III), como fruto da abertura do Oceano Atlântico – Sul (Milani et al., 1994; Milani, 1997; Milani & Thomaz Filho, 2000), entre cerca de 137 e 126 Ma (Ar / Ar) (Renne et al., 1992; Turner et al., 1994). Na Formação Serra Geral predominam basaltos toleíticos, porém com variações químicas marcantes. Constituem derrames sobrepostos, às vezes, separados por arenitos cretáceos. No sul da Bacia do Paraná, embora localmente, alguns derrames chegam a apresentar composições riolíticas e riodacíticas (Melfi et al., 1988). Há soleiras e grandes quantidades diques, destacando-se os que obedecem à orientação geral NW, associados aos enxames do Arco de Ponta Grossa, e outros orientados segundo ENE, subparalelos às estruturas pré-cambrianas do Arco da Serra do Mar, na região de Santos, tornando-se escassos a partir de Campos até o Espírito Santo. Cessado o período de magmatismo básico, segue um novo evento magmático, porém de caráter alcalinoque, na Bacia do Paraná, processou-se em estruturas soerguidas marginais ou transversais Às bordas da bacia, além de alguns pontos intrusivos no interior da mesma, tais como Lajes/SC; Ipanema e Jaboticabal/SP (Almeida, 1986). Franco, A. O. B. 2006 17 Tais intrusões alcalinas provavelmente apresentaram-se em duas fases: uma contemporânea ao magmatismo basáltico (pré-Aptiano) e outra possivelmente associada à tectônica da Serra do Mar (Neocretáceo – Eoceno) (Almeida op cit.). Inúmeros plugs, stocks ou mesmo intrusões compõem a denominada Província Alcalina do Arco de Ponta Grossa, totalizando cerca de quinze intrusões simples ou complexos múltiplos (Almeida, 1983). São petrograficamente bastante heterogêneos (associações alcalinas, gabróides e ultramáficas), tais como Jacupiranga, Juquiá, Barra do Itapirapuã, Mato Preto, Cananéia, Tunas, dentre outras (Almeida op cit.). Por fim, a Seqüência Neocretácica da Bacia do Paraná encontra-se no extremo noroeste do estado do Paraná, oeste do estado de São Paulo, sudeste do Mato Grosso do Sul, sul de Goiás e no Triângulo Mineiro, assentada em uma discordância erosiva sobre os basaltos da Formação Serra Geral (Milani, 1997). Trata-se de um pacote dominantemente arenoso, relacionado a um ambiente deposicional com grande contribuição de processos eólicos (Grupo Caiuá) e alúvio- fluviais (pertencente ao Grupo Bauru, primeiramente determinado por Soares et al., 1980), compreendendo a Superseqüência Bauru (Milani, 1997 – Figura 6). A “Bacia Bauru”, como chamada por diversos autores, foi originada através de processos de soerguimento da margem continental sudeste brasileira, durante o Aptiano, permitindo a formação de uma rede de drenagem que fluísse para o interior continental (Asmus, 1981). Dessa forma, como resposta a esse processo no interior do continente, há a deposição de litotipos do Grupo Caiuá, representados por arenitos finos a médios e de coloração vermelho-arroxeadas pertencentes à Formação Caiuá e arenitos muito finos a médios, castanho-avermelhados e com estratificações cruzadas de baixo ângulo, aceitos como Formação Santo Anastácio (Lima et al., 1986). A deposição de conglomerados do Grupo Bauru dá-se como resposta às várias pulsações da movimentação tectônica da margem continental. (Fulfaro et al., 1982). Dessa forma, a Formação Adamantina é representada como bancos de arenitos de granulação fina a muito fina, de coloração rósea a castanha e com estratificação cruzada, às vezes intercalada com bancos de lamitos, siltitos e arenitos lamíticos. Já a Formação Marília é composta por arenitos grosseiros e conglomeráticos, depositados em abientes de leques aluviais e lagos efêmeros (Lima op cit.). Vale ressaltar ainda que rochas Neopaleozóicas da Bacia do Paraná, principalmente as Formações Rio Bonito, Irati e, em menor proporção, o Grupo Itararé, bem como rochas pertencentes ao seu embasamento cristalino, encontram-se intrudidas Franco, A. O. B. 2006 18 por sills e diques de diabásio de idade eocretácica, estes denominados de Enxame de Diques do Arco de Ponta Grossa. Constitui a feição geológica mais notável dos alinhamentos estruturais, de direção preferencial entre N50W e N60W, com extensão que variam de alguns centímetros a mais de 500 m, datados entre 129 e 131Ma (Renne et al., 1996). Franco, A. O. B. 2006 19 V. EVOLUÇÃO DO ARCO DE PONTA GROSSA 5.1 Introdução Estudos realizados na margem continental brasileira e áreas oceânicas adjacentes permitiram a definição e associação entre grandes estruturas transversais, bacias interiores e marginais, e feições submersas, possibilitando assim correlações entre as áreas oceânicas e o interior continental. Desse modo, estudos realizados integrando a faixa delimitada na margem continental brasileira e no oceano pelos lineamentos do Rio de Janeiro e Florianópolis (Alves, 1981; Asmus & Guazelli, 1981) e, no continente emerso, pelo Arco de Ponta Grossa, são os responsáveis pelo melhor entendimento do papel dessas estruturas na evolução tectono-sedimentar dessa porção do território brasileiro. À luz do conhecimento atual, o Arco de Ponta Grossa e seus alinhamentos estruturais parecem condicionar, muito fortemente, a evolução tectônica dessa faixa de estruturação desde o Devoniano, porém com maior acentuação após o Carbonífero Superior, principalmente durante a Reativação Wealdeniana (Neojurássico ao Plioceno) (Almeida, 1969, 1981; Almeida & Melo, 1981; Almeida, 1982; Ferreira, 1982; Fulfaro et al., 1982; Zalán et al., 1990; Zalán, 2004). Esta região mostra-se afetada por lineamentos e arqueamentos, muitas vezes refletindo rupturas do embasamento cristalino da própria estrutura, denominados de Cinturões de dobramentos Brasilianos e/ou áreas de reativação brasiliana, tais como Falhas Transcorrentes de Itapirapuã, Morro Agudo, Ribeira e Lancinha (Sadowski & Campanha, 2004). Neste contexto, o APG constitui, segundo Zalán et al., (1987), um conjunto de terrenos Pré-cambrianos retrabalhados durante o evento tectônico Brasiliano, domeados no Triássico – Jurássico, durante o soerguimento da Serra do Mar (Vignol-Lelarge et al., 1994), Cretáceo Superior (Lima et al., 1986) e Cenozóico (Tello et al., 2003; Hackspacher et al., 2004). Por ser uma estrutura soerguida a partir do Triássico, o APG possui relação tanto com a Reativação Wealdeniana (Almeida, 1969) que, durante o Cretáceo Inferior, desencadeou uma série de fendilhamentos sobre antigos alinhamentos estruturais (Cesero, 1997), bem como a intrusão de diques de diabásio devido à abertura do Oceano Atlântico Sul (Almeida et al., 1996; Milani & Ramos, 1998; Almeida et al., 2000). Franco, A. O. B. 2006 20 5.2. Evolução do Arco de Ponta Grossa Almeida (1981) considera que os alinhamentos de direção NW que compõem o Arco de Ponta Grossa são ativos já no Devoniano, sendo o paralelismo entre esses e estruturas do embasamento composto por rochas pré-cambrianas o fator mais provável para uma possível herança tectônica e conseqüente atividade tectônica desta feição positiva. Segundo Zalán et al. (1990), nesse mesmo período, há um forte controle tectônico de falhas de direção NW, principalmente ao longo da Zona de Falha de Guapiara (Figura 7), observado também pela regressão do mar Siluriano (Figura 8) e provável soerguimento de áreas-fonte. Já no Permiano, o mapa de isópacas da Formação Rio Bonito (Figura 9) evidencia o forte controle segundo trend NE, onde importantes lobos deltáicos formaram-se segundo essa direção, através da entrada de cunhas clásticas arenosas na bacia. Para Milani et al. (1994), tal evento regressivo é conseqüência de um episódio de reativação de áreas-fonte, atribuído por Zalán et al. (1990), à Orogenia Tardiherciniana. Estes últimos autores ainda afirmam que essa região esteve ativa durante o Permiano, mas através das Zonas de Falha Curitiba-Maringá e Guapiara (Figura 7), e não através do Arco de Ponta Grossa. O mapa de isópacas do Permiano Superior (Figura 10) não apresenta nenhuma evidência de deposição sedimentar ao longo dos trends NW ou NE, de forma que as camadas sedimentares depositaram-se sob a forma de curvas elípticas e a sedimentação ocorreu concentricamente em relação ao centro da bacia. Tal fato pode ser uma evidência de que, durante o Neopermiano, a bacia passou por uma fase de quiescência tectônica marcante, consistindo em uma ampla plataforma estável coberta por um mar epicontinental em fase regressiva (Zalán et al., 1990). Franco, A. O. B. 2006 21 Figura 7 – Mapa do arcabouço estrutural da Bacia do Paraná. A bacia é dominada por elementos tectônicos lineares de três direções principais: NW-SE, NE-SW e E-W. Com direção NW: 1-Arco do Alto Paranaíba; 2-Flexura de Goiânia; 3-Baixo de Ipiaçu/Campina Verde; 4-Alto de Cardoso; 5-Zona de Falha de Guapiara; 6-Falha de Santo Anastácio; 7-Falha de São Jerônimo-Curiúva; 8-Arco de Ponta Grossa; 9-Zona de Falha Curitiba-Maringá; 10-Falha do Rio Alonzo; 11-Zona de Falha Cândido de Abreu- Campo Mourão; 12-Lineamento do Rio Piquiri; 13-Zona de Falha Caçador; 14-Sinclinal deTorres; 15-Arco do Rio Grande. Com direção NE: 16-Zona de Falha (ou Lineamento) Transbrasiliano; 17-Lineamento de Araçatuba; 18-Falha de Guaxupé; 19-Falha de Jacutinga; 20-Falha de Taxaquara; 21-Zona de Falha de Lancinha-Cubatão; 22-Zona de Falha Blumenau-Soledade; 23-Falhado Leão; 24-Falha de Açotea. Com direção E-W: 25-Lineamento de Cassilândia; 26-Lineamento Mogi Guaçu-Dourados; 27-Lineamento de São Sebastião; 28-Lineamento de Taquara Verde; 29-Lineamento de Bento Gonçalves. Com direção N-S: 30-Arco de Assunção. Astroblema: 31-Domo de Aragurainha. Modificado de Zalán et al. (1990). Franco, A. O. B. 2006 22 Figura 8 – Mapa de isópacas da Formação Ponta Grossa. Linhas finas representam importantes zonas de falhas (5 – Guapiara, 9 – Curitiba-Maringá, conforme numeração da Figura 23) (Zalán et al., 1990). Franco, A. O. B. 2006 23 Figura 9 – Mapa de isópacas da Formação Rio Bonito. Linhas finas representam importantes zonas de falhas (5 – Guapiara, 9 – Curitiba-Maringá, conforme numeração da Figura 23) (Zalán et al., 1990). Franco, A. O. B. 2006 24 Figura 10 – Mapa de isópacas acumuladas do Permiano Superior (Membro Serra Alta da Formação Irati, Formação Teresina e Formação Rio do Rastro) (Zalán et al., 1990). Entretanto, é no Mesozóico em que há uma grande revolução na geometria de preenchimento da Bacia do Paraná. Mapas de isópacas das seqüências sedimentares depositadas durante o Paleozóico, apresentam a mesma configuração erosiva através do truncamento das camadas no atual Arco de Ponta Grossa, que causaram uma notável reentrância na bacia, mesmo tendo ocorrido duas principais fases de subsidência durante o período mencionado na Bacia do Paraná (Siluriano – Devoniano e Carbonífero – Permiano). É por esse motivo que Zalán et al. (op cit.) acreditam que esta feição continental é decisivamente mesozóica, pois essa região viria a soerguer-se e interceptar Franco, A. O. B. 2006 25 as isópacas das unidades litoestratigráficas paleozóicas, estando seu soerguimento inicial intimamente relacionado ao rompimento do Gondwana Sul-Ocidental. Ainda segundo os autores, mesmo que as Zonas de Falhas Curitiba-Maringá e Guapiara sejam feições antigas e que sofreram diversos episódios de reativação durante o Paleozóico, a região hoje conhecida como Arco de Ponta Grossa é do Mesozóico (Figura 11). Figura 11 – Seções paleoestruturais com direção NW-SE (strike), ilustrando a evolução tectônica da Bacia do Paraná. A evolução do Siluriano ao Eojurássico é caracterizada por migrações dos depocentros (Setas maiores apontando para baixo), movimentos verticais de blocos, atividade recorrente e reversão de movimentos ao longo de certas zonas de falhas (1 – Guapiara; 2- São Jerônimo-Curiúva; 3 – Caçador; 4 – Taxaquara). Um intenso tectonismo .teve lugar durante o Neojurássico-Eocretáceo, concomitante ao magmatismo toleítico (camadas com simbologia). Várias falhas novas foram criadas, por exemplo, 5 – Mogi Guaçu-Dourados, e o Arco de Ponta Grossa atingiram seu desenvolvimento pós-lava. O comprimento da seção é de 950 km e o exagero vertical, de cinqüenta vezes). Zalán et al. (1990). Franco, A. O. B. 2006 26 Tal afirmação é corroborada pelo mapa de isópacas do Triássico e Jurássico (Figura 12), no qual se nota que as camadas são depositadas paralelamente à essa estrutura. Assim sendo, esta é primeira indicação da tendência positiva deste compartimento durante a sedimentação das Formações Pirambóia e Botucatu. Figura 12 – Mapa de isópacas acumuladas do Triássico (Grupo Rosário do Sul e Formação Pirambóia) e do Jurássico Inferior (Formação Botucatu). Zalán et al. (1990). Franco, A. O. B. 2006 27 No Limite Jurássico-Cretáceo, um importante evento tectônico afetou de modo significativo a evolução das bacias localizadas à margem sul do Gondwana. Tal evento é denominado de Orogenia La Ventana (De Wit & Ransome, 1992) que, na Bacia do Paraná, foi identificado através de movimentações positivas em alguns setores, com reativações de áreas-fonte adjacentes, dando origem à uma superfície erosional. Esta etapa de reativação de antigas zonas de cisalhamento e posterior manifestações magmáticas básicas e alcalinas com intenso fendilhamento da crosta terrestre é denominada por Zalán (2004) de Ativação Meso-Cenozóica. Para Silva (1983), alinhamentos reativados a partir do Neojurássico-Eocretáceo (Reativação Wealdeniana) foram locais de extensos falhamentos distensionais, caracterizados pela extrusão de sills e enxame de diques de diabásio no APG e rochas alcalinas em outras porções do continente, fazendo com que a atividade tectônica dos alinhamentos estruturais tivessem grande importância tanto na bacia como no embasamento (Zalán et al., 1990). Nessa época de extravasamento das lavas basálticas da Formação Serra Geral, há uma nova mudança na geometria de preenchimento da bacia, onde as isópacas voltam a cobrir a região do Arco de Ponta Grossa (Figura 13), e o soerguimento do mesmo é paralisado temporariamente. Um novo e último pulso de soerguimento é registrado por esses autores no Neocretáceo, quando então os derrames basálticos e as bordas da bacia são alçados e, conseqüentemente erodidos, dando origem à sua morfologia atual, de semi-elipse. Nesta época, como soerguimento de toda a região do Arco de Ponta Grossa, inclusive da Serra do Mar (Cobbold et al., 2001), houve fornecimento de sedimentos clásticos na Bacia de Santos, entre aproximadamente 100 e 90 Ma, principalmente (Pereira & Feijó, 1994). Este episódio de soerguimento regional iniciado no Cretáceo Superior também foi observado por Lima (2000). Neste caso, o mesmo é associado a esforços compressivos intraplaca, como conseqüência da Colisão Andina, que causaram o alçamento e erosão das bordas das bacias da Plataforma Sulamericana (no caso, a Bacia do Paraná) que durante este período foi preenchida por aproximadamente 250m de sedimentos continentais (Grupo Bauru) (Lima et al., 1986; Milani, 1997). Outros autores, tais como Tello et al. (2003) indicam, pelo menos outros dois pulsos de soerguimento crustal no Sudeste Brasileiro, adjacente à Bacia de Santos, entre o Cretáceo e Paleoceno, respectivamente 120-100 Ma e 85-65 Ma. Franco, A. O. B. 2006 28 Figura 13 – Mapa de isópacas das rochas extrusivas da Formação Serra Geral. Linhas finas representam importantes zonas de falhas (5 – Guapiara, 9 – Curitiba-Maringá, conforme numeração da Figura 23) (Zalán et al., 1990). De qualquer forma, o Arco de Ponta Grossa e seus alinhamentos estruturais possuem grande importância na atividade tectono-magmática do Sudeste Brasileiro, afetando tanto a Bacia Sedimentar do Paraná, o embasamento cristalino, bem como condicionando as em intrusões alcalinas e enxame de diques mesozóicos, admitindo-se, Franco, A. O. B. 2006 29 por isso, vínculo tectono-estrutural profundo. Tal interpretação é também corroborada por dados gravimétricos, conforme pode ser observado pelo mapa de anomalia exibido na Figura 14 (Machado Jr., 2000). Figura 14 – Mapa de Anomalia Bouger. Nota-se que existe um lineamento de aproximadamente N50W marcando o Alinhamento de Guapiara. O padrão de anomalia é caracterizado por fortes gradientes laterais para SW e NE. A NNE ocorre uma ampla região caracterizada por baixos gravimétricos, em sua maior parte coincidente com a Bacia do Paraná. A SSW há uma área tomada por valores mais altos, coincidindo com o Arco de Ponta Grossa, cujo contorno possui direção SE, tornando-se paralelo ao litoral. Compilado de Machado Jr. (2000). Franco, A. O. B. 2006 30 VI. MODELOS DE EVOLUÇÃO DO RELEVO APLICADOS AO ARCO DE PONTA GROSSA 6.1 Introdução Estudos recentes sobre a evolução e esculturação do relevo na região do sudeste brasileiro mostram que teriam seu início relacionado aos processos tectônicos responsáveis pela ruptura do Gondwana Sul-Ocidental, e conseqüente origem do Oceano Atlântico-Sul, seguidos de soerguimentos, reativação de descontinuidades (inclusive geração de horsts e grabens), intrusões alcalinas e eventos erosivos. O Arco de Ponta Grossa (APG), uma das mais notáveis estruturas no flanco leste da Bacia do Paraná, cuja feição é decisivamente mesozóica (Zalán et al., 1990), é responsável pelo controle de algumas feições geológicas/geomorfológicas na região sudeste brasileira, tais como: 1. Concavidade do contato dos sedimentos paleozóicos da Bacia do Paraná e reentrância do embasamento cristalino na referida bacia, devido à remoção erosiva dos sedimentos nas porções mais soerguidas do arquemento (Milani, 2004); 2. Escalonamento do relevo em planaltos de origem erosiva no estado do Paraná, resultantes da conjugação do efeito do levantamento tectônico do APG com atuação da erosão diferencial tanto nos sedimentos paleozóicos como no embasamento cristalino adjacente (Melo et al., 2000). Tal compartimentação do relevo paranaense ocorre sob a forma de escalonamento de planaltos com caimento suave para oeste, divididos em três grandes setores: Primeiro, Segundo e Terceiro Planalto Paranaense (Maack, 1948; Melo op cit.) (Figura 15). O Primeiro Planalto Paranaense é caracterizado pelas rochas pré-cambrianas do embasamento cristalino, limitado a leste pela Serra do Mar e a oeste, pelo Segundo Planalto Paranaense. Este, é delimitado por um desnível topográfico de cerca de 300 m, representado pela denominada “Escarpa Devoniana” a leste e a Serra Geral a oeste, sustendo por rochas paleozóicas e intrusivas básicas da Bacia do Paraná. Já o Terceiro Planalto, na porção oeste do estado, encontra-se sustentado pelos extensos derrames basálticos da Formação Serra Geral (Maack op cit.; Melo op cit.). 3. Fraturas, falhas e diques, preferencialmente de direção NW-SE, são os responsáveis pelo controle do relevo e da hidrografia. Franco, A. O. B. 2006 31 Figura 15 – Localização das principais unidades do relevo no estado do Paraná (A), e disposição de perfl geológico-geomorfológico. Modificado de (Melo, 2000); Volkmer & Fortes (2003). Legenda: GUA – Guarapuava, PGR – Ponta Grossa, CTB – Curitiba, PAR – Paranaguá. 6.2 Modelos de evolução do relevo no Arco de Ponta Grossa Propostas referentes à evolução geológica/geomorfológica da região do APG, a partir do Meso-Cenozóico, baseiam-se no modelo empírico de retração de escarpa, partindo de regiões de margem passiva (flanco de rifts) para o interior continental (escarpamento), conforme proposto por Gilchrist & Summerfield (1990). Gilchrist & Summerfield (op cit.) sugerem, em ambientes tipo rift que evoluíram para margem passiva, diferentes taxas de denudação na planície costeira, no front da Franco, A. O. B. 2006 32 escarpa e no interior continental (Figura 16). Neste caso, a própria escarpa, feição comum nas margens dos rifts, recua ao longo de tempo, sendo acompanhada por escalonamento de relevos mais baixos em áreas do interior continental. Figura 16 – Representação esquemática do modelo de denudação proposto por Gilchrist & Summerfield (1990). Modificado de Gilchrist & Summerfield (op cit.). Dados de traços de fissão em apatitas, na margem atlântica do SE do Brasil, entre Florianópolis e Porto Alegre, adquiridos por Gallagher et al. (1995) mostram claramente que as rochas da planície consteira são mais jovens (idades em torno de 100Ma e taxa de erosão menor que 100 m/Ma) que aquelas na cobertura dos escarpamentos interiores de basaltos (idades em torno de 130 Ma), refletindo o modelo de retrocesso de escarpa, conforme descrito anteriormente. Os próprios autores ainda sugerem que o evento de 130Ma, responsável pelo break-up do Pangea, seja na verdade, 130 ± 20 Ma, pois consideram que a magnitude térmica do evento de extravasamento dos basaltos da Formação Serra Geral da Bacia do Paraná se estendesse por tanto tempo, principalmente nas sucessões sedimentares paleozóicas/mesozóicas. Entretanto, Vignol-Lelarge et al. (1994) sugerem, também através de dados de traços de fissão em apatitas na região da Serra do Mar adjacente à Bacia de Santos nas proximidades do APG, em amostras coletadas em altitudes entre 20 e 800m, uma idade média ponderada de 86 ± 4 Ma, seria relacionada ao soerguimento da área, através de processos de rápida passagem pela Zona de Annealing Parcial (ZAP), e que teriam sido denudados cerca de 2,5 km de material crustal. Outra idade, de 110 Ma, à altitude de 1000 m, seria proveniente de uma ZAP pré-denudação. Franco, A. O. B. 2006 33 Gallagher & Brown (1999) ainda sugerem que os espessos pacotes de sedimentos clásticos depositados na Bacia de Santos tanto há 95 como há 70 Ma, logo após a deposição de evaporitos e carbonatos, refletem duas fases de denudação ‘herdada’, e que boa parte da denudação rápida ocorreu devido ao alçamento do APG. Além disso, outro grande período de denudação ocorreu há cerca de 20 Ma, com outro grande input de sedimentos clásticos na referida bacia. Esse período, segundo os autores, refletem denudação em diferentes regiões da margem continental, sugerindo que a bacia tivesse recebido sedimentos de diversas regiões em tempos distintos, e/ou que o padrão tivesse mudado no Mioceno. Além disso, ainda consideram que o aumento da denudação, a partir de 20 Ma, é parcialmente constatado pelos problemas que os modelos de annealing apresentam com a extrapolação dos dados empíricos para o tempo geológico. E enquanto esses modelos não melhoram não é possível determinar com exatidão o volume de material recente denudado. Gunnell (2000) sugere que os modelos regionais de idades ao longo das margens passivas exibem uma tendência de decréscimo de idades de traços de fissão de regiões interioranas para a linha de costa. Além disso, o autor descreve que este modelo é sustentado através de correlações entre a idade de traço de fissão e a respectiva altitude, e que as últimas amostras que passaram pela ZAP encontram-se, provavelmente, a cotas topográficas mais altas. Tal processo é condizente com as idades de traços de fissão apresentadas por Gallagher & Brown (1997) na região do APG, onde foram registrados valores de aproximadamente 100-80 Ma, na linha de costa, com tendência para o aumento para o interior continental (cerca de 130 Ma em aproximadamente 100 km distante da costa, até 300 Ma em aproximadamente 300 km distante da costa). Isso não necessariamente significa que fossem apresentadas grandes taxas de denudação para estas localidades, mas alternativamente, taxas de erosão diferencial são suficientes para produzir a assimetria característica da morfologia de margem passiva, através da exposição de diferentes níveis de idades de traços de fissão em ambos lados do escarpamento (Gunnell op cit.). A metodologia de traços de fissão é uma importante ferramenta na quantificação e qualificação dos processos erosivos atuantes em diversos tipos de ambientes geológicos/geomorfológicos, inclusive na porção de interior continental em ambientes de margem passiva que, em associação, podem fornecer informações quanto à análise do evento de resfriamento, através de variáveis térmicas, estruturais/cinemáticas e Franco, A. O. B. 2006 34 geomoforlógicas, em processos denominados de Denudação Tectônica (Tectonic Denudation) e Denudação erosional (Erosional Denudation), conforme descrito por Gallagher et al. (1998). Denudação Tectônica (Tectonic Denudation) se refere à erosão através de processos de falhamentos normais, reativações de zonas de cisalhamento como processos aceleradores da erosão. Por sua vez, Denudação Erosional (Erosional Denudation) é geralmente caracterizada por períodos de rápida erosão, conforme descrito por Gallagher op cit. Franco, A. O. B. 2006 35 VII. CONTEXTO TECTÔNICO DO ARCO DE PONTA GROSSA 7.1 Introdução Durante o Mesozóico, a Plataforma Sulamericana foi palco de diversas manifestações magmáticas e de soerguimento, relacionadas à ruptura do Supercontinente Gondwana, iniciado no Neocomiano, que culminou com a abertura e geração do Oceano Atlântico-Sul e implantação das bacias marginais brasileiras no chamado Sistema de Riftes do Leste Brasileiro (Chang et al., 1992). Como já referido, essa região é caracterizada por cinco alinhamentos estruturais- magnéticos de direção NW-SE, com extensões de cerca de 600 km e larguras variáveis entre 20 e 100 km, nomeados de Alinhamento de Guapiara, na porção nordeste; a sudoeste pelo Alinhamento do Rio Piquiri, e na região central os alinhamentos São Jerônimo-Curiúva e Rio Alonzo, além do Alinhamento do Rio Ivaí, situado entre os alinhamentos do Rio Piquiri e do Rio Alonzo (Figura 4). Tais alinhamentos encerram espessos enxames de diques de diabásio, do Cretáceo Inferior (Renne et al., 1992, Turner et al. 1994), dirigidos preferencialmente segundo NW-SE, mas também à E-W e NE-SW, mergulhos subverticais e comprimentos de até 100 km (Portela Filho & Ferreira, 2003). 7.2 Contexto Tectônico do Arco de Ponta Grossa Almeida (1981) considera forte atuação dos alinhamentos de direção NW que compõem o APG no Devoniano, através do paralelismo entre esses e estruturas do embasamento composto por rochas pré-cambrianas o fator mais provável para uma possível herança tectônica e conseqüente atividade tectônica desta feição positiva. Segundo Zalán et al. (1990), nesse mesmo período, há um forte controle tectônico de falhas de direção NW, principalmente ao longo da Zona de Falha de Guapiara. No Permiano, há um forte controle segundo trend NE, interpretado como uma possível conseqüência de episódios de reativação de áreas-fonte, atribuído por Zalán op cit. à Orogenia Tardiherciniana. Zalán op cit. acrescentam que dos elementos tectônicos lineares orientados nas direções NW-SE, NE-SW e E-W, apenas o sistema NW-SE sofreu forte reativação durante a abertura do Atlântico Sul, ao contrários dos outros dois sistemas que teriam Franco, A. O. B. 2006 36 sido pouco afetados. Rostirolla et al. (2005) consideram que tais lineamentos (de direção NW) sejam estruturas bastante proeminentes nos eventos mesozóicos ligados à ruptura do Gondwana Sul-Ocidental, estando associadas à uma rotação horária da Placa Sulamericana no eo-Cretáceo. Segundo Zalán op cit., durante o break-up Juro-Cretáceo do Gondwana, as falhas de direção NW foram fortemente reativadas, fato não ocorrido com as falhas NE. Tal evento não só reativou falhas NW pré-existentes como também gerou várias outras paralelas à essa direção, promovendo a intrusão e o condicionamento de vários corpos ígneos. Bartorelli (2004) acrescenta que o padrão estrutural das zonas de falhas NW é caracterizado por um extenso trecho retilíneo, cuja concentração de falhas e diques se distribuem por uma faixa com largura de várias dezenas de quilômetros, como por exemplo, as zonas de falha de Guapiara, Cândido de Abreu-Campo Mourão e Rio Piquiri; enquanto que o padrão estrutural das zonas de falha NE é caracterizado pela presença de uma única falha larga ou zona de falha retilínea, onde estão ausente diques de diabásio. Segundo Bueno (2004), o diacronismo entre o enxame de diques e as lineações magnéticas observadas tanto na margem sul-americana como na africana, suporta a interpretação de um rifte propagante para o Atlântico-Sul, cujo estágio pré-rifte se caracterizou por uma ascenção astenosférica em sua porção sul, provavelmente vinculada à Pluma Tristão da Cunha, processo pelo qual culminou no magmatismo da Província Paraná-Etendeka, entre 138 e 127 Ma. Dessa forma, as deformações ocorridas na região estariam inicialmente relacionadas à tectônica essencialmente extensional de um presumível domo térmico que evoluiu para junção tríplice, da qual o próprio APG seria um possível ramo abortado. Posteriormente, com a ruptura do Gondwana e o início da deriva continental, ocorreria alternância no regime de esforços, que pode ser explicada pela migração da Placa Sul-Americana na direção oeste, combinada com as taxas de encurtamento e extensão, respectivamente nos seus flancos oeste, com a Placa de Nazca, e leste, na Dorsal Meso-Atlântica, conforme proposto por Riccomini (1989). Bueno (op. cit.) atribui que o diacronismo entre as gerações de diques ortogonais e paralelos ao eixo do Atlântico-Sul como uma possível indicação na mudança dos esforços extensionais (Figura 17). Franco, A. O. B. 2006 37 Figura 17 – Diacronismo das gerações de diques ortogonais e paralelos ao eixo do Atlântico Sul, possível indicação na mudança nos esforços extensionais (modificado de Hawkesworth et al. 1992; Marzoli et al. 1999; compilado de Bueno; 2004). Rostirolla et al. (2000) identificaram um evento de deformação distensional, de direção preferencialmente NW, mas com evidências de reativação de falhas de direção NE; estas últimas geradas durante o Permo-Triássico, época da reativação da Zona de Falha de Jacutinga. A composição de esforços tracionais responsáveis pela reativação de falhas tanto de direção NW como NE, condicionaram a formação do APG, e conseqüentemente, da feição dômica observada no Alto Estrutural de Quatiguá (Figura 18), estrutura presente na Bacia do Paraná, a noroeste do estado homônimo, gerado pela superposição dos dois eventos tectônicos supra mencionados, e que resulta de importante tectônica deformadora, através da Zona de Falha de Jacutinga, onde o magmatismo Serra Geral teve papel fundamental na sua geometria final, causando alçamentos e rotações de blocos, bem como a geração extensiva de falhas e diques de direção NW e, subordinadamente, NE. Franco, A. O. B. 2006 38 Figura 18 – Mapa de localização do Alto Estrutural de Quatiguá. Modificado de Rostirolla et al. (2000). Segundo Machado Jr. (2000), a orientação regular apresentada pelos diques de diabásio, associados à sua forma tabular e disposição vertical, indicam que sua formação provavelmente ocorreu através de regimes de cisalhamento puro, prevalecidos por tempo razoável durante o Cretáceo Inferior, mas que persistiram após a formação dos diabásios. O autor ainda descreve que as falhas de direção NE, observadas algumas vezes no embasamento cristalino da região do Alinhamento de Guapiara, mantêm-se na seção sedimentar paleozóica, a exemplo da região de Fartura e Taguaí, cujas falhas NE encontram-se sustentadas por diques e sills na mesma direção. Franco, A. O. B. 2006 39 VIII. MÉTODOS & TÉCNICAS 8.1 – MÉTODO DE DATAÇÃO POR TRAÇOS DE FISSÃO - INTRODUÇÃO A análise de traços de fissão como uma ferramenta de datação geológica foi primeiramente proposta na década de 1960, por P. B. Price e R. M. Walker. Passados 10 anos, através dos trabalhos de Price, Walker e R. L. Fleischer, foram observadas as maiores expansões na aplicação da maioria dos problemas geológicos. Tal fato deve-se à um maior entendimento da dependência da ferramenta na chamada temperatura de annealing e informações sobre sua cinética. A datação por traços de fissão tem sido aplicada na tentativa de maior explicação de uma grande variedade de problemas geológicos, tais como: proveniência sedimentar, modelagem de histórias térmicas de bacias sedimentares, evolução crustal de cinturões orogênicos e episódios de denudação/exumação nos continentes. 8.2 – TRAÇOS NUCLEARES E TRAÇOS DE FISSÃO Quando fragmentos de fissão atravessarem a rede cristalina de um mineral, é criada uma zona de defeito por uma partícula carregada eletricamente. Se essa zona de defeito persistir no sólido mesmo depois desta partícula não estar mais ionizada, é então originado o traço latente. Dessa forma, o sólido no qual os traços encontram-se registrados é chamado de detector. O comprimento de um traço nuclear varia desde 1µm até alguns milímetros, a depender da carga e energia da partícula, e da composição do detector (vidro, plástico, minerais) (Wagner & Van Den Haute, 1992). Quanto à espessura destes traços, é predominantemente sub-microscópica, da ordem de poucos nanômetros. A zona de defeito causada pela trajetória da partícula é caracterizada por uma porção preferencial para ataque químico de reagentes, fazendo com que esses traços se tornem mais espessos a ponto de se tornarem visíveis e serem observados ao microscópio óptico (Price & Walker, 1962). Franco, A. O. B. 2006 40 8.2.1. Processos de formação de traços e teorias A fissão nuclear é um dos modos de desintegração que ocorre entre nuclídeos pesados e instáveis (radioativos). Na reação de fissão, núcleos – pai instáveis decaem para dois nuclídeos – filho, grosseiramente, de mesma massa atômica. As reações por fissão podem ocorrer tanto espontânea como artificialmente através do bombardeamento com nêutrons, prótons ou outras partículas, tais como, irradiação de raios-? (Wagner & Van Den Haute, 1992). A reação por fissão foi descoberta em 1939 por Hahn e Strassmann, ao bombardearem átomos de U235 com nêutrons. Exemplos de reações por fissão são: Cf252 ? Ru108 + Xe140 + 4n + Q (Fissão Espontânea) U235 + n ? U236 ? Kr90 + Ba143 + 3n + Q (Fissão Induzida por nêutron) Dentre as muitas teorias formuladas na década de 1960 para explicar o processo de formação de traços nucleares, a mais aceita baseia-se no princípio do spike, termo utilizado para descrever um evento muito rápido e intenso que ocorre quando uma partícula energizada atravessa um sólido. Foi formulada a partir de experimentos teóricos de Fleischer et al. (1975) e passou a ser denominada de “Teoria da Explosão Iônica” (Ion Explosion Spike Theory). Fissões fósseis ou espontâneas são produzidas ao longo do tempo em minerais e vidros naturais que contêm pequenas quantidades (ppm) de urânio como impureza. Como mencionado acima, o U238 é o único radionuclídeo que pode produzir fissões espontâneas em quantidades mensuráveis. Quando uma dessas fissões ocorre, o U238, o isótopo mais abundante do urânio, e muitas vezes presente como impureza na rede cristalina dos minerais (Figura 19 a), decai por fissão espontânea em outros dois fragmentos com massa atômica média entre 95 e 135 (Fleisher et al., 1975), que viajam em direções opostas com altas energias (~100 e 70 MeV, respectivamente) (Figura 19 b). No percurso, estes fragmentos de fissão interagem com os átomos da rede cristalina, dando origem a uma região ionizada. O alcance combinado destes fragmentos é o chamado traço latente (Figura 19 c) (Wagner & Van Den Haute, op cit.). Franco, A. O. B. 2006 41 Figura 19 – Representação de Íon Explosion Spike Theory e formação dos traços de fissão em um mineral. Modificado de Gallagher et al. (1998). Os traços latentes são produzidos continuamente em minerais, como por exemplo a apatita, ao longo de sua história geológica, seguindo a lei de decaimento radioativo com uma constante de decaimento por fissão espontânea ? f. Em trabalhos aplicados, tais como Datação por Traços de Fissão ou Análise Quantitativa do Urânio, é necessária uma determinação cuidadosa do número de átomos fissionados do U238 e U235 por unidade de volume (densidade) nos minerais, vidro e plástico (detectores), cuja técnica de revelação óptica será detalhada adiante. Entretanto, valem ressaltar algumas observações (Wagner & Van Den Haute, 1992): (1) Os átomos fissionados são distribuídos homogeneamente no volume do detector; (2) Todos os traços possuem comprimento l igual e o início da fissão é o centro de cada traço; (3) Os traços são isotropicamente distribuídos, sem nenhuma orientação preferencial, cuja probabilidade de formação no detector é a mesma em todas as direções. Vale ressaltar que a fissão espontânea ocorre somente em nuclídeos pesados, com número atômico maior que 90 e massa atômica maior que 230. Esses nuclídeos são isótopos de elementos pertencentes à Série dos Actinídeos (Th, Pa, U, Np, Pu, dentre outros), cuja maioria também se desintegra por outros processos, tais como decaimento- ?. Somente Th232 e dois isótopos do U (U235 e U238) podem ocorrer em concentrações Franco, A. O. B. 2006 42 passíveis de medição, como constituintes primários de substâncias naturais (Tabela 1) (Wagner & Van Den Haute, op cit.). Na Tabela 1 encontram-se dispostos valores de abundância e tempos de meia-vida total e parcial (fissão espontânea) do Th232, U234, U235 e U238. A partir desta tabela, pode-se deduzir que em todas as reações por fissão e, conseqüentemente, todos os traços de fissão observados em sólidos (vidros e minerais) são somente, traços de fissão de átomos do U238. Isso porque os outros isótopos do urânio e o Th232 possuem pouca abundância na natureza e também, associado à esse fato, o longo tempo de meia-vida por fissão espontânea, tornando inviável o tempo levado por esses isótopos para originar quantidades suficientes de traços de fissão espontâneos passíveis de medição, quando comparados ao U238 (Wagner & Van Den Haute, 1992). Abundância Relativa (em relação ao U238) Tempo de meia-vida total (anos) Tempo de meia-vida da fissão espontânea (anos) Th232 4d 1,40 * 1010 a 1,0 * 1021 c U234 5,44 * 10-5 2,46 * 105 b 1,5 * 1016 b U235 7,25 * 10-3 7,04 * 108 a 1,0 * 1019 b U238 1 4,47 * 109 a 8,2 * 1015 b a Steiger & Jäger (1977); b Holden (1989); cBaard et al. (1989); d Média Geoquímica Tabela 1 – Abundâncias e Tempos de meia-vida para os quatro maiores nuclídeos de ocorrência natural que sofrem fissão espontânea (Wagner & Van Den Haute, 1992). 8.3 – MÉTODO DE DATAÇÃO POR TRAÇOS DE FISSÃO Em meados da década de 60, Young (1958) e Silk & Barnes (1959), seguidos por Price & Walker (1962) descobriram que as micas contêm traços naturais que podem ser revelados opticamente, através de ataque químico com ácido fluorídrico. Essa descoberta foi o ponto de partida para a busca de traços naturais (também chamados de traços fósseis) em diferentes tipos de materiais, tais como mais de dez tipos de minerais e muitos vidros. Desde então, iniciaram-se os estudos de registro destes traços naturais, bem como de sua origem, tanto em traços espontâneos, originados a partir da concentração de partículas pesadas, tais como o urânio; bem como traços induzidos, Franco, A. O. B. 2006 43 originados através da concentração de átomos de elevado número e massa atômica com a atuação de fluxo de energia (raios-?) ou partículas (nêutrons ou partículas-?). 8.3.1. Princípios do Método de Datação por Traços de Fissão: Equação Fundamental da Idade A primeira instância, o Método de Datação por Traços de Fissão obedece aos mesmos princípios dos outros métodos geocronológicos, baseados no decaimento natural de átomos-pai instáveis para átomos-filho estáveis. Vale ressaltar que as equações referentes aos conceitos da Física, utilizadas nesta pesquisa, são baseadas em Halliday et al. (2002). Onde, ? = constante de desintegração ou constante de decaimento. Possui valor característico para cada radionuclídeo. Como este decaimento é uma reação de primeira ordem, não se pode presumir se um nuclídeo decairá. Pode-se apenas afirmar que, se uma amostra hipotética, de qualquer material, contém N nuclídeos, esta reação ocorrerá a uma taxa proporcional aos N: N dt dN ??? (1) ? )(dt N dN ??? (2) Integrando: ?? ?? t to N No dt N dN ? (3) )(lnln totNoN ???? ? (4) Na Equação 4, No é o número de radionuclídeos,em uma determinada amostra, para o mesmo tempo inicial t0. Então, se t0 = 0: t No N ???ln (5) Onde, ? = constante de desintegração ou constante de decaimento (a-1). Possui valor característico para cada radionuclídeo. Franco, A. O. B. 2006 44 Re-escrevendo de uma forma mais conveniente a Equação (5): te No N ??? (6) A Equação (6) é representativa da Lei do Decaimento Radioativo em um determinado tempo t. Dessa forma, o número de decaimentos (D) entre t0 e t, respectivamente entre nuclídeos-pai e nuclídeos-filho, obedece à seguinte equação: NNoD ?? (7) ; e tNoN ??? Substituindo os termos: e tNoNoD ???? (8) Ajustando melhor a equação: )1(238 ?? e tND ? (9) onde: N238 = número total de átomos de U238 por unidade de volume A Equação 9 é a equação básica da maioria dos Métodos de Datação Geocronológicos, incluindo o Método por Traços de Fissão. No caso do Método de Datação por Traços de Fissão, os traços de fissão espontâneos são equivalentes aos nuclídeos-filho, como um produto do decaimento do U238. Entretanto, este radionulídeo não decai somente por fissão espontânea, mas também por emissão de partículas-?, originando uma seqüência de decaimentos que termina no Pb206. Assim sendo, a probabilidade total do decaimento do U238 (?T) é associada tanto ao decaimento-? (??)como por fissão espontânea (?f): ??? ? fT ?? (10) Levando-se em consideração este ponto fundamental do método, podemos re- escrever a Equação 9 da seguinte forma: ))(1(238 ? ?? ft f eND ?? (11) (obs.: ? = ?T) Franco, A. O. B. 2006 45 Se na Equação 11, N238 é o número total de átomos de U238 por unidade de volume, então a relação entre o número total de traços de fissão espontânea por unidade de área pode ser chamada de densidade de traços de fissão espontâneos (? s). Dessa forma: ffs D ?? ? (12) onde: ?f = eficiência total dos traços que foram gerados de serem contados na superfície do grão mineral (tem dimensão de comprimento). A Equação 12 pode ser re-escrita da seguinte maneira: s ft s eN ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ?? ? ? ?? ? ? ?? )1(238 (13) Ou então: ? ?1238 ?? tf uss eNC ? ? ? ?? (14) onde: C238 = Concentração isotópica do U238 = 99,275%, na natureza Nu = Número de átomos de urânio por unidade de volume Os traços de fissão induzidos são gerados no mineral através da irradiação da amostra em reator nuclear, com uma determinada fluência de nêutrons térmicos (F), em átomos de U235, conforme explícito a seguir: ? + U235 ? (U236)* ? Fissão Induzida (? =nêutrons) Assim sendo, a densidade de traços de fissão induzidos (? i) pode ser escrita da seguinte forma: uuii RNC 235?? ? (15) Franco, A. O. B. 2006 46 onde: C235 = Concentração isotópica do U235 no urânio natural = 0,720% Ru = ? Ri (Ri é o número de eventos de fissão por núcleo alvo de Ui). Dessa forma, se a quantidade de fissões induzidas no U235 por nêutrons térmicos for muito maior que a fissão induzida por nêutrons rápidos no U238, RU é dado por: ?? térmicoU CR 235? (16) onde: C235= concentração isotópica do U235 = 0,720% s térmico= seção de choque do U235 para fissões induzidas por nêutrons térmicos = 580,2 * 10-24 cm2 F = fluência de nêutrons térmicos (*1015 cm-2) Neste trabalho, a determinação de RU, um dos fatores fundamentais para a determinação da idade, segue o método descrito em Bigazzi et al. (1995a, 1995b, 1995c, 1999), Iunes (1999) e Iunes et al. (2002). Colocando as equações 14 e 15 em termos de Nu temos que: ? ? s tf s eC Nu ? ? ? ? ? 1238 ? ? (17) e (18) Admitindo-se que Nus = Nui e colocando as equações em termos de t temos que: ? ? ? ? ? ? ? ? ?? ? ? ? ? ? ? ? ? 1ln 1 238 235 R C C t fs i i s ? ? ? ? ? ? ? (19) onde: t = Idade Aparente de Traços de Fissão (Ma) i u i R C ? ? 235 ? Nu Franco, A. O. B. 2006 47 Fazendo um ajuste na equação para se considerar o fator de geometria g, a equação pode ser escrita como: ? ? ? ? ? ? ? ? ?? ? ? ? ? ? ? ? ? 1ln 1 238 235 u fi s i s R C C gt ? ? ? ? ? ? ? (20) onde: g = fator de geometria (será melhor explicado mais adiante). A Equação 20 é a equação da Idade do Método de Traço de Fissão e é aplicável em uma gama enorme de materiais geológicos, ou seja, minerais, tais como: apatita, alanita, amazonita, berilo, calcita, clorita, epidoto, granada, vidro, cianita, mica, monazita, quartzo, esfênio, titanita, zeólita, zircão, entre outros. Pode-se dizer que é a equação da Idade Aparente do Método. Vale ressaltar que neste trabalho o mineral utilizado para se aplicar a metodologia de Datação por Traços de Fissão foi a apatita (Ca5(PO4)3(F,Cl,OH)). 8.3.2. Parâmetros Relevantes 8.3.2.1. Constante de Decaimento do U238 por fissão espontânea (?f) Desde a descoberta da desintegração por fissão espontânea do U238 em 1940, por G. N. Flerov e K. A. Petrzhak, numerosas determinações sobre sua constante de decaimento, chamada de ? f, têm sido fornecidas utilizando diferentes técnicas, tais como medidas diretas com câmaras de ionização, métodos radioquímicos incluindo medidas de produtos de fissão, acumulação de traços de fissão espontâneos em micas ou outros detectores, e análises de amostras de idade conhecida. Neste trabalho, o valor de ? f, fator de fundamental importância para a determinação da idade, é ? f = (8,37?0,17) x 10-17 a-1 (Guedes et al., 2003a). Este valor foi calculado experimentalmente utilizando a técnica de dosimetria descrita em Iunes et al. (2002), através da determinação da densidade de traços de fissão espontâneos de U238 em uma amostra de grão mineral associada a determinações de densidade de traços em um detector externo, a partir da fissão induzida do U235 por nêutrons térmicos. Também é necessário o cálculo da densidade de traços de fissão em um detector (normalmente muscovita), o qual será acoplado a um referido vidro dopado de U, chamado de dosímetro. Tal definição está de acordo com a recomendação da IUPAC Franco, A. O. B. 2006 48 (International Union of Pure and Applied Chemistry) (Holden & Hoffman, 2000) e com outras medidas recentes (Guedes et al., 2000, 2003b). 8.3.2.2. Fator de Geometria (g) O Fator de Geometria refere-se à geometria inicial das superfícies investigadas para contagem de traços espontâneos e induzidos, sendo igual a 0,5 ou 1, a depender da técnica de datação usada (Seção 8.3.4). O caso do fator g ser igual 0,5 é quando um detector externo, usualmente uma placa de muscovita, é acoplado à montagem com os grãos e o conjunto é irradiado com nêutrons térmicos. Durante a irradiação, a mica registra os traços de fissão induzida gerados nos grãos de apatita (geometria 2?, ou seja, fonte externa em contato com a superfície do detector). Em seguida, a mica é atacada quimicamente. Note que nesta técnica o fator g é idealmente igual a 0,5 (2?/4?), mas na prática, devido à diferença de eficiência entre a mica e a apatita, este fator varia entre 0,5 e 0,6 (Iwano & Danhara, 1998; Jonckheere, 2003). Ao se utilizar a técnica de datação das populações de grãos (ver seção 8.3.4.1), duas alíquotas de grãos minerais são montadas em resina epóxi e polidas até se atingir uma superfície interna (geometria 4?). Considera-se que se atingiu uma superfície interna quando a espessura da camada removida durante o polimento é maior que o alcance de um fragmento de fissão, ~10 ? m. Por fim, as amostras são atacadas quimicamente para que os traços se tornem visíveis ao microscópio óptico comum. A densidade de traços de fissão espontânea, ? s, é medida na alíquota não-irradiada e a densidade de traços de fissão induzida, ? i, na alíquota irradiada. Neste caso, o fator de geometria g é igual a 1 (4?/4?), pois a geometria de contagem é a mesma nos dois casos (4?). 8.3.2.3. Taxa da reação de Fissão Induzida no U235 por nêutrons térmicos Na equação da Idade Aparente de Traço de Fissão, uma importante determinação é o cálculo da fluência de nêutrons (F), ou mais precisamente a taxa de fissão do U235 induzida por esta fluência. Se a distribuição de energia de nêutrons corresponder à uma distribuição ideal de nêutrons puramente térmicos, a reação é dada por: Franco, A. O. B. 2006 49 ?? térmicoU CR ?235 térmico U C R ?235 ?? (21) onde: Ru= probabilidade de fissão por núcleo alvo de U C235 = 0,720 % - concentração isotópica do U235 ? térmico = 580,2 * 10-24 - seção de choque da reação U235 (n, f) F = fluência de nêutrons térmicos A determinação do valor de Ru é dada pela seguinte fórmula (Iunes et al., 2002): vv u v U N R ? ? ? (22) onde: ? v = média ponderada da densidade das micas acopladas aos vidros dopados de U (dosímetros) Nu v = número de átomos de urânio por unidade de volume do vidro (é variável conforme o vidro utilizado na irradiação) (Iunes et al., 2002) ?v = razão entre a densidade superficial de traços observados na mica e o número de eventos de fissão ocorridos por unidade de volume do vidro (é variável conforme o vidro utilizado na irradiação) (Iunes et al., 2002). 8.3.3. Técnicas de Datação - Calibrações Com o objetivo de se determinar a Idade de Traço de Fissão em um determinado material geológico (mineral) podem ser utilizados, comumente, dois tipos de calibração para uma melhor aproximação na Datação por Traços de Fissão. Um deles é conhecido como Calibração Absoluta, onde se utiliza a determinação de F ou RU; e o outro é a Calibração Zeta, onde se utiliza de idades-padrão (idades bem documentadas por outros métodos geocronológicos, tais como Ar/Ar, Rb/Sr, K/Ar) para se obter a Idade de Traço de Fissão. Franco, A. O. B. 2006 50 8.3.3.1. Calibração Absoluta É caracterizada por determinar o valor da fluência de nêutrons térmicos através de duas técnicas: monitores metálicos ativados e dosímetros tipo vidros dopados de urânio natural. Para isso, é necessário avaliar, empirica e absolutamente, as eficiências de detecção e ataque do sistema (Wagner & Van Den Haute, 1992; Hurford, 1998). Vidros dopados com U fornecem os dosímetros mais utilizados na medida de nêutrons induzidos, registrando os traços em detectores externos adjacentes (muscovita ou pol