Norimar Hernandes Dias Papel protetor da laringe e da traquéia proximal na prevenção de lesões epiteliais causadas pela inalação de gases pouco condicionados. Estudo experimental em cães. Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Bases Gerais da Cirurgia da Faculdade de Medicina de Botucatu, UNESP, para a obtenção do título de Doutor. Orientadora: Profa. Livre–Docente Regina Helena Garcia Martins Botucatu – SP 2008 FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA SEÇÃO TÉCNICA DE AQUISIÇÃO E TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO DIVISÃO TÉCNICA DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO - CAMPUS DE BOTUCATU - UNESP Bibliotecária responsável: Selma Maria de Jesus Dias, Norimar Hernandes. Papel protetor da laringe e da traquéia proximal na prevenção de lesões epiteliais causadas pela inalação de gases pouco condicionados. Estudo experimental em cães / Norimar Hernandes Dias. – Botucatu : [s.n.], 2008. Tese (doutorado) – Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista, 2008. Orientadora: Regina Helena Garcia Martins Assunto CAPES: 40102009 1. Ventilação mecânica 2. Respiração artificial 3. Anestesia CDD 616.028 Palavras chave: Laringe; Máscara laríngea; Morfologia; Traquéia; Tubo traqueal Salmo 22/23 O senhor é meu pastor, nada me faltará. Em verdes prados ele me faz repousar. Conduz-me junto às águas refrescantes, restaura as forças de minha alma. Pelos caminhos retos ele me leva, por amor do seu nome. Ainda que eu atravesse o vale escuro, nada temerei, pois estais comigo. Vosso bordão e vosso báculo são o meu amparo. Preparais para mim a mesa à vista de meus inimigos. Com óleo vós ungis minha cabeça, e o meu cálice transborda. A vossa bondade e misericórdia hão de seguir-me por todos os dias da minha vida. E habitarei na casa do Senhor pelos tempos infinitos. Dedicatória À minha filha, Beatriz, dádiva de Deus, cujo simples sorriso e olhar carinhoso revigoram diariamente minhas forças para superar os desafios da vida. À minha esposa, Cristiane, pelo amor, dedicação, estímulo constante e auxílio imensuráveis em mais esta importante etapa de minha vida. Agradecimento Especial À minha mãe, Clarisse, por todo amor, dedicação e educação, alicerce das minhas conquistas pessoais e profissionais. Ao meu pai, Noé (in memoriam), pela força espiritual e pelo exemplo de vida e amor pela família. À minha irmã Ana Paula e seu marido José Antônio, e aos meus irmãos, Nivaldo e Norivaldo, que foram fundamentais para a minha formação e crescimento pessoal. À toda minha família, essência da vida, pela força na superação deste desafio. À Deus, pela presença constante ao meu lado. Agradecimento Especial À Professora Regina Helena Garcia Martins, o meu mais profundo e sincero agradecimento pela orientação e pelos grandiosos ensinamentos ao longo desses anos, e acima de tudo pela amizade e oportunidade de crescimento pessoal a mim proporcionadas. Agradecimentos Agradeço a todas as pessoas e instituições que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho, em especial: Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP), pela minha formação acadêmica e atualização permanente; Hospital Estadual Bauru (UNESP), pela oportunidade na concretização de um projeto; Professor José Reinaldo Cerqueira Braz, do Departamento de Anestesiologia da Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP), pelas inúmeras e valiosas colaborações e pelo enorme incentivo na concretização deste trabalho; Professores Emanuel Celice Castilho, Jair Cortez Montovani, José Vicente Tagliarini, Onivaldo Bretan, Silke Anna Theresa Weber e Victor Nakajima, do Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP), pelos ensinamentos e formação profissional desde o início da residência médica; Ivanira Ayako Tamashiro, Marisa Portes Fioravanti e Daniela Polo, fonoaudiólogas do Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP), pela amizade e constante atenção a mim dispensada; Professor Júlio Defáveri, do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP), pelo auxílio na realização das análises histológicas; Professoras Elisa Aparecida Gregório e Daniela Carvalho dos Santos, do Instituto de Biociências do Campus de Botucatu (UNESP), pelo auxílio no estudo de microscopia eletrônica; Professora Lídia Raquel de Carvalho, do Departamento de Bioestatística do Instituto de Biociências de Botucatu (UNESP), pela orientação e análise estatística dos resultados; Departamento de Anestesiologia da Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP), pela permissão de utilização da estrutura do seu laboratório para realização do experimento; Cristiano Correa de Oliveira e Jurandir Antonio, funcionários do Laboratório Experimental do Departamento de Anestesiologia, pela colaboração na execução do trabalho experimental; Carlos Alberto Martins e Marta Regina Russo Sarzi, funcionários do Laboratório Experimental do Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço, pela colaboração na execução do trabalho experimental; Marta Regina Russo Sarzi, funcionária do Laboratório Experimental do Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço, pelo preparo das lâminas histológicas; Nivalde Antonio Basso e Maria Helena Moreno, funcionários do Centro de Microscopia Eletrônica do Instituto de Biociências do Campus de Botucatu (UNESP), pelo preparo do material de microscopia eletrônica; Cinthia Scolastico Cecílio, secretária do Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP), pela atenção e inúmeras colaborações a mim dispensadas; Nilse Ribeiro da Silva, funcionária do Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP), pela atenção e colaboração a mim dispensada; Simone Barroso Corvino Camargo, secretária do Programa de Pós-graduação em Bases Gerais da Cirurgia, pela atenção e colaboração a mim dispensada; aos funcionários do Departamento de Anestesiologia da Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP), Danilo Cláudio de Godoy, Joana Jacirene Costa Teixeira, Neli Aparecida Pavan e Sonia Maria Martins e Silva, pela atenção e colaboração a mim dispensada; ao desenhista Benedicto Vinicio Aloise, pela confecção das ilustrações; aos funcionários da Seção de Pós-Graduação da Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP), pela atenção e colaboração a mim dispensada; Selma Maria de Jesus, bibliotecária da Seção Técnica de Referência, Atendimento ao Usuário e Documentação do Campus de Botucatu (UNESP), pela confecção da ficha catalográfica e orientação bibliográfica; Professor Álvaro Oscar Campana, do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP) pela gentileza da correção gramatical. Sumário Lista de Figuras Lista de Tabelas Lista de Abreviaturas e Siglas Resumo Abstract 1 INTRODUÇÃO E LITERATURA 1 2 OBJETIVO 8 3 MATERIAL E MÉTODOS 9 3.1 Animais Utilizados 9 3.2 Grupos Experimentais 9 3.3 Seqüência Experimental 11 3.4 Atributos Estudados 13 3.4.1 Atributos para controle do experimento 13 3.4.2 Atributos para atendimento das finalidades do experimento 13 3.5 Momentos Estudados 14 3.6 Técnicas Utilizadas 14 3.6.1 Preparo do animal 14 3.6.2 Medidas dos atributos 17 3.6.3 Estudo morfológico 19 3.7 Análise Estatística 25 4 RESULTADOS 26 4.1 Peso dos Animais 26 4.2 Comprimento dos Animais 27 4.3 Sexo dos Animais 28 4.4 Pressão Arterial Média 29 4.5 Freqüência de Pulso 30 4.6 Freqüência Respiratória 31 4.7 Volume Corrente 32 4.8 Saturação Periférica da Oxihemoglobina 33 4.9 Pressão Expiratória Final de CO2 34 4.10 Pressão Inspiratória 35 4.11 Temperatura Timpânica 36 4.12 Temperatura Ambiente 37 4.13 Umidade Relativa do Ar Ambiente 38 4.14 Umidade Absoluta do Ar Ambiente 39 4.15 Temperatura dos Gases Inalados 40 4.16 Umidade Relativa dos Gases Inalados 41 4.17 Umidade Absoluta dos Gases Inalados 42 4.18 Análise de Microscopia de Luz 43 4.18.1 Infiltração de polimorfonucleares (PMN) no epitélio 45 4.18.2 Infiltração de polimorfonucleares (PMN) no córion 47 4.18.3 Congestão 49 4.19 Análise de Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) 51 4.19.1 Escore morfológico da microscopia eletrônica de varredura (MEV) 53 4.20 Análise de Microscopia Eletrônica de Transmissão (MET) 55 4.20.1 Escore morfológico da microscopia eletrônica de transmissão (MET) 57 5 DISCUSSÃO 59 5.1 Peso, Comprimento e Sexo dos Animais 59 5.2 Pressão Arterial Média e Freqüência de Pulso 59 5.3 Freqüência Respiratória, Volume Corrente, Saturação Periférica da Oxihemoglobina, Pressão Expiratória Final de CO2 e Pressão Inspiratória 61 5.4 Temperatura Timpânica 62 5.5 Temperatura, Umidade Relativa e Umidade Absoluta do Ar Ambiente 63 5.6 Temperatura, Umidade Relativa e Umidade Absoluta dos Gases Inalados 64 5.7 Resultados Morfológicos 65 5.7.1 Microscopia de luz 66 5.7.2 Microscopia eletrônica 70 5.7.2.1 Microscopia eletrônica de varredura 70 5.7.2.2 Microscopia eletrônica de transmissão 72 6 CONCLUSÃO 76 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 77 8 APÊNDICES 85 Lista de Figuras Figura 1 Epitélio pseudoestratificado da traquéia do homem. Setas estreitas apontam para células caliciformes e setas largas para as células ciliadas. Em A, microscopia de luz (H&E, 40X). Em B, microscopia eletrônica de transmissão – MET (1.550X). 3 Figura 2 Em A, desenho esquemático da estrutura da membrana basal (Gartner & Hiatt, 2002); em B, setas apontando para a membrana basal da traquéia do homem (MET, 2.750X). 3 Figura 3 Máscara laríngea. 7 Figura 4 A – tubo traqueal no 8,5 utilizado no grupo TT; B – máscara laríngea no 4 utilizada no grupo ML. 10 Figura 5 Representação esquemática dos grupos experimentais: A – grupo TT e B – grupo ML, mostrando o posicionamento do tubo traqueal e da máscara laríngea, bem como o segmento livre da via aérea em contato com os gases inalados em ambos os grupos. 11 Figura 6 Foto panorâmica do experimento após término do preparo do animal. 17 Figura 7 Termohigrômetro digital portátil, modelo Higrotermo 95, da Gulton do Brasil. 18 Figura 8 Termohigrômetro acoplado ao ramo inspiratório do sistema de ventilação, para medida da temperatura e da umidade relativa dos gases inalados. 18 Figura 9 Dissecção cervical e mediastinal, obtendo completa exposição e individualização da traquéia cervical e torácica. 20 Figura 10 Bloco laringotraqueal removido, abertura da traquéia pela porção membranosa e áreas de biópsia da mucosa traqueal (TP – traquéia proximal, TM – traquéia média, TD – traquéia distal). 20 Figura 11 Microscópio eletrônico de varredura. 22 Figura 12 Microscópio eletrônico de transmissão. 24 Figura 13 Peso dos animais (kg). Média e desvio padrão dos valores observados nos grupos estudados (p>0,05). 26 Figura 14 Comprimento dos animais (cm). Média e desvio padrão dos valores observados nos grupos estudados (p>0,05). 27 Figura 15 Sexo dos animais. Distribuição das proporções observadas nos grupos estudados (p>0,05). 28 Figura 16 Pressão arterial média (mm Hg). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados (p>0,05). 29 Figura 17 Freqüência de pulso (bat.min-1). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados (p>0,05). 30 Figura 18 Freqüência respiratória (insp.min-1). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados (p>0,05). 31 Figura 19 Volume corrente (ml.kg-1). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados (p>0,05). 32 Lista de Figuras Figura 20 Saturação periférica da oxihemoglobina (%). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados (p>0,05). 33 Figura 21 Pressão expiratória final de CO2 (mm Hg). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados (p>0,05). 34 Figura 22 Pressão inspiratória (cm H2O). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados (T0 grupo TT < grupo ML, p<0,05; no grupo TT: T0 < T60 < T120 < T180, p<0,05). 35 Figura 23 Temperatura timpânica (oC). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados (p>0,05). 36 Figura 24 Temperatura ambiente (oC). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados (p>0,05). 37 Figura 25 Umidade relativa do ar ambiente (%). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados (p>0,05). 38 Figura 26 Umidade absoluta do ar ambiente (mg H2O.l-1). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados (p>0,05). 39 Figura 27 Temperatura dos gases inalados (oC). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados (p>0,05). 40 Figura 28 Umidade relativa dos gases inalados (%). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados (p>0,05). 41 Figura 29 Umidade absoluta dos gases inalados (mg H2O.l-1). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados (p>0,05). 42 Figura 30 Microscopia de luz, epitélio traqueal normal pseudoestratificado cilíndrico ciliado (cão do grupo TT). Em A, detalhe da camada epitelial (ce) e da lâmina própria (lp) (H&E 40X); em B, detalhe das células ciliadas (cc) e das células mucosecretoras (cm) contendo secreção mucosa (H&E 60X); em C e D, detalhe da membrana basal bem delimitada (cabeças de setas), alguns capilares (setas contínuas) e glândulas seromucosas (seta descontínua) presentes na lâmina própria, assim como o tecido conjuntivo (H&E 40X). 44 Figura 31 Escore histológico da infiltração de PMN no epitélio. Box plot dos valores obtidos ao longo dos segmentos traqueais nos grupos estudados (p>0,05). 45 Figura 32 Microscopia de luz, infiltrado de PMN (cabeças de setas) no epitélio (A e B – discreto, cão do grupo ML; C e D – moderado, cão do grupo TT); H&E 40X. 46 Figura 33 Escore histológico da infiltração de PMN no córion. Box plot dos valores obtidos ao longo dos segmentos traqueais nos grupos estudados (p>0,05). 47 Figura 34 Microscopia de luz, infiltrado discreto de PMN na lâmina própria (A e B; H&E 40X, cão do grupo TT); e de moderada intensidade (C e D; H&E 40X e 60X, respectivamente, cão do grupo ML). 48 Lista de Figuras Figura 35 Escore histológico da congestão. Box plot dos valores obtidos ao longo dos segmentos traqueais nos grupos estudados (p>0,05). 49 Figura 36 Epitélio traqueal: congestão (cabeças de setas) discreta em A (40X), cão do grupo ML; moderada intensidade em B (40X), cão do grupo ML; e intensa em C (40X) e D (60X), cão do grupo TT (Microscopia de luz, H&E). 50 Figura 37 Epitélio traqueal normal, cão do grupo ML. A – visão do epitélio respiratório em menor aumento; B, C, D, E e F – grande quantidade de cílios soltos e orientados recobrindo totalmente a superfície mucosa; B e C – detalhe das reentrâncias normais presentes na superfície do epitélio (setas); D – detalhe de uma célula mucosecretora (cm) sem cílios, posicionada entre as células ciliadas, notar a diferença de tamanho entre os seus microvilos e os cílios das células ciliadas; E e F – detalhe da configuração normal dos cílios em maior aumento. MEV (A – 129X; B – 4.055X; C – 5.280X; D – 4.820X; E – 4.630X; F – 6.840X). 52 Figura 38 Escore morfológico da microscopia eletrônica de varredura. Box plot dos valores obtidos ao longo dos segmentos traqueais nos grupos estudados (p>0,05). 53 Figura 39 Epitélio traqueal, cão do grupo TT. A e B – detalhe da desorganização e desorientação dos cílios na superfície epitelial e de gota de muco (setas) com aspecto normal sendo expelida para a superfície epitelial; C e D – cílios aderidos formando pequenos agrupamentos (setas); E e F – detalhe da desorientação ciliar mais intensa, além da formação de agrupamentos (setas). MEV (A – 2.760X; B – 4.825X; C – 3.500X; D – 4.825X; E – 4.440X; F – 3.885X). 54 Figura 40 Epitélio traqueal normal, cão do grupo ML. A – detalhe da camada epitelial (ce), células com núcleos ovóides (nu), posicionados na região basal da mesma, e lâmina própria (lp); B – destaque para as células mucosecretoras (cm) contendo grânulos secretórios na região apical; C – inúmeros cílios soltos e orientados em cortes transversais e longitudinais, implantados nos corpúsculos basais; D – célula mucosecretora abrindo-se no lúmen; E – célula em escova ou brush cells (bc) com microvilos altos ao lado de uma célula ciliada (cc), detalhe da junção tipo desmossomo (seta contínua) entre as células; F – membrana basal delicada e contínua (seta descontínua), lâmina própria com fibras colágenas e elásticas. MET (A – 2.450X; B – 5.750X; C – 17.000X; D – 13.250X; E – 23.000X; F – 17.000X). 56 Figura 41 Escore morfológico da microscopia eletrônica de transmissão. Box plot dos valores obtidos ao longo dos segmentos traqueais nos grupos estudados (grupo TT > grupo ML, p<0,05). 57 Figura 42 Epitélio traqueal, cão do grupo TT. A – desorientação e rarefação ciliar na superfície epitelial; B, C e D – alargamento de junções celulares (setas), núcleo picnótico com cromatina condensada (nu); E e F – detalhe para vacuolização citoplasmática (setas), rarefação e desorganização ciliar. MET (A – 7.750X; B – 3.250X; C – 5.750X; D – 7.750X; E –9.750X; F – 13.250X). 58 Lista de Tabelas Tabela 1 Peso dos animais (kg). Média e desvio padrão dos valores observados nos grupos estudados. 26 Tabela 2 Comprimento dos animais (cm). Média e desvio padrão dos valores observados nos grupos estudados. 27 Tabela 3 Sexo dos animais. Distribuição das freqüências absolutas (n) e relativas (%) observadas nos grupos estudados. 28 Tabela 4 Pressão arterial média (mm Hg). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados. 29 Tabela 5 Freqüência de pulso (bat.min-1). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados. 30 Tabela 6 Freqüência respiratória (insp.min-1). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados. 31 Tabela 7 Volume corrente (ml.kg-1). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados. 32 Tabela 8 Saturação periférica da oxihemoglobina (%). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados. 33 Tabela 9 Pressão expiratória final de CO2 (mm Hg). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados. 34 Tabela 10 Pressão inspiratória (cm H2O). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados. 35 Tabela 11 Temperatura timpânica (oC). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados. 36 Tabela 12 Temperatura ambiente (oC). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados. 37 Tabela 13 Umidade relativa do ar ambiente (%). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados. 38 Tabela 14 Umidade absoluta do ar ambiente (mg H2O.l-1). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados. 39 Tabela 15 Temperatura dos gases inalados (oC). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados. 40 Tabela 16 Umidade relativa dos gases inalados (%). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados. 41 Tabela 17 Umidade absoluta dos gases inalados (mg H2O.l-1). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados. 42 Tabela 18 Escore histológico da infiltração de PMN no epitélio. Valores da mediana, 1o e 3o quartis obtidos ao longo dos segmentos traqueais nos grupos estudados. 45 Tabela 19 Escore histológico da infiltração de PMN no córion. Valores da mediana, 1o e 3o quartis obtidos ao longo dos segmentos traqueais nos grupos estudados. 47 Tabela 20 Escore histológico da congestão. Valores da mediana, 1o e 3o quartis obtidos ao longo dos segmentos traqueais nos grupos estudados. 49 Lista de Tabelas Tabela 21 Escore morfológico da microscopia eletrônica de varredura. Valores da mediana, 1o e 3o quartis obtidos ao longo dos segmentos traqueais nos grupos estudados. 53 Tabela 22 Escore morfológico da microscopia eletrônica de transmissão. Valores da mediana, 1o e 3o quartis obtidos ao longo dos segmentos traqueais nos grupos estudados. 57 Tabela 23 Peso, comprimento e sexo dos animais nos grupos TT e ML. 85 Tabela 24 Valores da pressão arterial média (PAM) e da freqüência de pulso (FP) obtidos ao longo do tempo nos animais dos grupos TT e ML. 86 Tabela 25 Valores da freqüência respiratória (FR), do volume corrente (VC) e da saturação periférica da oxihemoglobina (SpO2) obtidos ao longo do tempo nos animais dos grupos TT e ML. 87 Tabela 26 Valores da pressão expiratória final de CO2 (PETCO2) e da pressão inspiratória (PI) obtidos ao longo do tempo nos animais dos grupos TT e ML. 88 Tabela 27 Valores da temperatura timpânica e da temperatura ambiente obtidos ao longo do tempo nos animais dos grupos TT e ML. 89 Tabela 28 Valores da umidade relativa (UR) e da umidade absoluta (UA) do ar ambiente obtidos ao longo do tempo nos animais dos grupos TT e ML. 90 Tabela 29 Valores da temperatura dos gases inalados obtidos ao longo do tempo nos animais dos grupos TT e ML. 91 Tabela 30 Valores da umidade relativa (UR) e da umidade absoluta (UA) dos gases inalados obtidos ao longo do tempo nos animais dos grupos TT e ML. 92 Tabela 31 Valores dos escores obtidos com relação à erosão e infiltrado de PMN no epitélio pela microscopia de luz nos animais dos grupos TT e ML. 93 Tabela 32 Valores dos escores obtidos com relação à congestão, hemorragia e infiltrado de PMN na lâmina própria pela microscopia de luz nos animais dos grupos TT e ML. 94 Tabela 33 Valores dos escores obtidos pela microscopia eletrônica de varredura nos três animais de cada grupo. 95 Tabela 34 Valores dos escores obtidos pela microscopia eletrônica de transmissão nos três animais de cada grupo. 95 Lista de Abreviaturas e Siglas ANOVA análise de variância bat.min-1 batimento por minuto oC grau Celsius CO2 dióxido de carbono cm centímetro cm H2O centímetro de água F fêmea FP freqüência de pulso FR freqüência respiratória FiO2 fração inspirada de oxigênio H&E hematoxilina-eosina HME heat and moisture exchanger ou permutador de calor e umidade insp.min-1 Inspiração por minuto kg quilograma L.min-1 litro por minuto M macho MEV microscopia eletrônica de varredura MET microscopia eletrônica de trasmissão ML máscara laríngea mg H2O.l-1 miligrama de água por litro mg.kg-1 miligrama por quilograma mg.kg-1.h-1 miligrama por quilograma por hora min minuto ml.kg-1 mililitro por quilograma ml.kg-1.h-1 mililitro por quilograma por hora mm milímetro mm Hg milímetro de mercúrio μm micrômetro nm nanômetro N freqüência absoluta Lista de Abreviaturas e Siglas no número O2 oxigênio p nível de significância PAM pressão arterial média PMN. polimorfonucleares neutrófilos PETCO2 pressão expiratória final de dióxido de carbono PI pressão inspiratória SpO2 saturação periférica da oxihemoglobina % porcentagem TT tubo traqueal TP traquéia proximal TM traquéia média TD traquéia distal UA umidade absoluta UR umidade relativa VC volume corrente Resumo DIAS, N.H. Papel protetor da laringe e da traquéia proximal na prevenção de lesões epiteliais causadas pela inalação de gases pouco condicionados. Estudo experimental em cães. Botucatu, 2008. 95p. Tese de Doutorado em Cirurgia - Faculdade de Medicina, Campus de Botucatu, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Introdução: Durante a inspiração, grande parte da umidade e do calor é incorporada ao ar durante sua passagem pelas fossas nasais e rinofaringe. Entretanto, quando as fossas nasais estão impedidas de participar do condicionamento dos gases como no paciente respirador bucal, traqueotomizado, sob intubação traqueal ou laringectomizado, os demais segmentos das vias aéreas passam a atuar mais ativamente na tarefa do condicionamento. Vários autores têm constatado lesões na mucosa respiratória frente à inalação de gases secos e frios. Estudos experimentais morfológicos do epitélio respiratório demonstraram importantes alterações, como áreas de completa desorganização e agrupamentos dos cílios, além de zonas de devastação. Em pesquisa experimental prévia, foi quantificada e constatada a participação ativa do segmento laringotraqueal no condicionamento dos gases inalados, quando se utiliza a máscara laríngea na manutenção da permeabilidade da via aérea. Entretanto, nesse estudo, a necessidade de monitoramento constante da temperatura e da umidade do ar inalado e traqueal exigia manipulação freqüente da traquéia cervical, o que inviabilizou a realização de estudo morfológico complementar do epitélio respiratório. Objetivo: analisar, no cão, por meio de estudo morfológico, o papel protetor da laringe e da traquéia proximal na prevenção de lesões epiteliais, causadas pela inalação de gases pouco condicionados. Material e Métodos: A pesquisa recebeu aprovação do Comitê de Ética em Experimentação Animal sob o protocolo de no 442/04. Doze cães adultos foram submetidos à anestesia venosa com pentobarbital sódico e ventilação mecânica, com alto fluxo de gases frescos, em sistema sem reabsorção de CO2, durante 3 horas. Os animais foram distribuídos em dois grupos experimentais, dependendo do dispositivo utilizado para a manutenção da via aérea: Grupo Resumo TT – tubo traqueal e Grupo ML – máscara laríngea. Foram analisados parâmetros hemodinâmicos (pressão arterial média, freqüência de pulso), ventilatórios (freqüência respiratória, volume corrente, saturação periférica da oxihemoglobina, PETCO2, pressão inspiratória), temperatura timpânica, temperatura, umidade relativa e absoluta do ar ambiente e dos gases inalados. Ao término do experimento, os animais foram sacrificados com dose excessiva de anestésico, o segmento laringotraqueobrônquico foi removido, sendo realizadas biópsias nas seguintes áreas pré-determinadas, TP – traquéia proximal; TM – traquéia média; TD – traquéia distal, para estudo sob microscopia de luz e microscopia eletrônica (varredura e transmissão). Os dados morfológicos foram submetidos à análise semiquantitativa por meio de escores. Resultados: Com relação à análise histológica, observou-se que em algumas áreas houve predomínio de processo inflamatório agudo, havendo infiltrado de PMN no epitélio e congestão na lâmina própria em ambos os grupos, discretamente mais relevantes nos animais do grupo TT, porém sem diferença estatística. As alterações observadas pela microscopia eletrônica varredura foram discretamente mais prevalentes no grupo TT, destacando-se desorganização e agrupamento ciliar. Na microscopia eletrônica de transmissão verificaram- se alterações significantes, com diferença estatística entre os grupos na análise dos escores, como alargamento das junções celulares, desorientação ciliar, vacuolização citoplasmática e modificações nas características do núcleo, mantendo-se em todos os grupos a integridade da membrana basal. Conclusão: Nos animais ventilados com elevado fluxo de gases frescos e sob baixa umidade absoluta, com a máscara laríngea foram constatadas menores alterações morfológicas, quando comparadas aos ventilados com o tubo traqueal, fato este atribuído, provavelmente, ao papel protetor do segmento laringotraqueal à inalação de gases pouco condicionados. Palavras-chave: laringe, traquéia, máscara laríngea, tubo traqueal, morfologia. Abstract DIAS, N.H. Protective function of the larynx and proximal trachea in preventing epithelial lesions caused by the inhalation of poor conditioned gases. Experimental study in dogs. Introduction: during inhalation, moisture and heat is incorporated to the air in its passage through the nose and rhinopharynx. However, when the nose doesn’t participate in gas conditioning, such as in mouth-breathing, tracheotomized, intubated or laryngectomized patients, other segments of the airways participate more actively in the conditioning task. Lesions in the respiratory mucosa have been detected due to the inhalation of dry and cold air. Morphologic studies of the respiratory epithelium have shown important alterations, such disorganization, ciliary clusters and devastation. In a previous experimental study, we were verified and quantified the active participation of the laryngotracheal segment in the conditioning of inhaled gases, using laryngeal mask airway for maintaining airway permeability. However the need of constant controlling of the temperature and moisture of the gases required frequent handling of the cervical trachea, and did not permit a complementary morphologic study of the respiratory epithelium. Objective: to study the protective function of the larynx and proximal trachea in dogs, preventing epithelial lesions caused by the inhalation of poor conditioned gases. Material and Methods: the study was approved by the ethics committee for animal experimentation under registration number 442/04. Twelve adult dogs were submitted to venous anesthesia with sodium pentobarbital and mechanical ventilation in a system without CO2 resorption for three hours. The animals were distributed into two experimental groups, depending on the tube used for airway maintenance: Group TT – tracheal tube and Group ML – laryngeal mask airway. Hemodynamic parameters (blood pressure, heart rate), ventilatory parameters (respiratory rate, current volume, peripheral oxyhemoglobin saturation, PETCO2, inspiratory pressure), tympanic temperature, temperature, relative and absolute moisture of the ambient and inhaled gases were analyzed. After three hours, the animals were sacrificed Abstract with over anesthetic dose. The laryngotracheobronchial segment was removed, and biopsies were carried out on previously determined areas as TP – proximal trachea, TM – medial trachea and TD – distal trachea. The biopsies were analyzed under light and electron microscopy (scanning and transmission). Morphologic data were submitted to semiquantitative analysis by means of scores. Results: in some areas, the histological analysis showed a predominance of an acute inflammatory process, with PMN infiltrate in the epithelium and congestion in the lamina propria in both groups. Although slightly more relevant for the animals in Group TT, there was no significant difference. The alterations observed by electron microscopy were more prevalent in Group TT, with emphasis for disorganization and ciliary clusters, in scanning electron microscopy, and enlargement of cell junctions, ciliary disorientation, cytoplasmic vacuolization and alteration in nucleus characteristics, in transmission electron microscopy. The integrity of the basal membrane was maintained in all cases. Conclusion: in the animals ventilated with the laryngeal mask airway, less morphologic alterations were verified when compared to those ventilated by the tracheal tube. This fact may be attributed to the protective function of the laryngotracheal segment during the inhalation of poor conditioned gases. Key words: larynx, trachea, laryngeal mask airway, tracheal tube, morphology. 1 Introdução e Literatura 1 INTRODUÇÃO E LITERATURA O ar inalado deve receber adequado aquecimento e umidificação durante sua passagem pelas vias aéreas superiores, para que chegue aos brônquios condicionado, isto é, aquecido à temperatura próxima à corpórea e com 100% de umidade relativa, condições estas consideradas ideais para que as trocas gasosas ocorram normalmente. O condicionamento dos gases inalados se dá por meio da incorporação de calor e de umidade, fornecidos pelo contato do ar com a mucosa das vias aéreas. As fossas nasais participam, ativamente, deste processo, filtrando, aquecendo e umidificando o ar inalado, graças às particularidades anatômicas e histológicas da sua mucosa nasal, também chamada de mucosa pituitária (Widdicombe, 1997). Na parede lateral da cavidade nasal, encontram-se as conchas nasais (inferior, média e superior), as quais aumentam a superfície de contato do ar com a mucosa durante a inspiração, tornando o condicionamento do ar ainda mais eficaz; dessa forma, aproximadamente 75% da umidificação e do aquecimento do ar ocorrem até a rinofaringe. Nos demais segmentos das vias aéreas, como a faringe, laringe, traquéia e brônquios, o condicionamento do ar é completado (MacFadden, 1992). O epitélio respiratório de cobertura das fossas nasais e da traquéia é do tipo pseudoestratificado cilíndrico ciliado, constituído por seis tipos de células: cilíndricas ciliadas ou colunares (30%), caliciformes ou mucosecretoras (30%), células basais (30%), células em escova ou brush cells (3%), células serosas com grânulos apicais (3%), e células do sistema neuroendócrino (4%), atuando na regulação do sistema como um todo. Todas essas células fazem contato com a membrana basal, mas nem todas alcançam o lúmen (Gartner & Hiatt, 2002). As células ciliadas possuem, em média, 250 cílios em seu ápice, sendo que cada um se insere em seu respectivo corpúsculo basal, estrutura semelhante aos centríolos, localizado 2 Introdução e Literatura logo abaixo da membrana celular. Os cílios têm movimentos sincronizados, capazes de deslocar em direção ao trato digestivo, partículas de poluentes e microorganismos aderidos à camada de muco. O citoplasma das células ciliadas é rico em mitocôndrias, posicionadas, principalmente, na porção apical, próximo aos corpúsculos basais. As células caliciformes possuem pedículo estreito (localizado na região basal) e teca alargada; o núcleo e as organelas ficam concentrados no pedículo inferior (região basal). Essas células produzem glicosaminoglicanos, sulfatos ácidos, glicoproteínas e o mucinogênio (Figura 1). A teca apresenta numerosos grânulos secretórios, de diâmetros variáveis, contendo mucinogênio; a membrana celular apical exibe alguns microvilos curtos, estando estas células entremeadas às demais células epiteliais, garantindo a umidificação permanente de toda a mucosa do trato respiratório. As células basais são células indiferenciadas, mantendo-se posicionadas sobre a membrana basal. Essas células não alcançam o lúmen e não possuem cílios. São consideradas células fontes, pois podem se diferenciar em células ciliadas ou caliciformes, durante o processo de reposição celular do epitélio respiratório. As células em escova ou brush cells são pequenas células colunares e estreitas, contendo microvilos altos, porém sem cílios. Sua função ainda é pouco conhecida, havendo indícios de que tenham algum papel sensorial. Entretanto, para outros autores, nada mais são do que as próprias células caliciformes que liberaram o mucinogênio de seu citoplasma (Junqueira & Carneiro, 2004). 3 Introdução e Literatura Figura 1. Epitélio pseudoestratificado da traquéia do homem. Setas estreitas apontam para células caliciformes e setas largas para as células ciliadas. Em A, microscopia de luz (H&E, 40X). Em B, microscopia eletrônica de transmissão – MET (1.550X). As células epiteliais repousam sobre a membrana basal que é uma estrutura laminar especializada, sintetizada pelas células da camada basal e pelos fibroblastos da lâmina própria; tem papel de sustentação, suporte, adesão, filtração (barreira permeável a nutrientes e gases) e controle da organização e regeneração epitelial. Apresenta-se como estrutura delicada e contínua, discretamente sinuosa. É formada por uma lâmina basal, de derivação epitelial, e uma lâmina reticular, derivada do tecido conjuntivo. As células da camada basal aderem-se firmemente à membrana basal por meio de hemidesmossomos (Figura 2). A membrana basal é composta por fibras colágenas, laminina, fibronectina e proteoglicanas. O colágeno dá resistência e elasticidade; a laminina, o proteoglicano e a fibronectina conferem adesão celular e permeabilidade (Gartner & Hiatt, 2002). Figura 2. Em A, desenho esquemático da estrutura da membrana basal (Gartner & Hiatt, 2002); em B, setas apontando para a membrana basal da traquéia do homem (MET, 2.750X). B A A B 4 Introdução e Literatura Logo abaixo da membrana basal, dispõe-se a lâmina própria, constituída por tecido conjuntivo frouxo e fibroelástico, elementos linfóides (folículos linfóides, linfócitos e neutrófilos), além de glândulas serosas e mucosas cujos ductos abrem-se na superfície epitelial e auxiliam no processo de umidificação. A lâmina própria do epitélio respiratório apresenta também densa rede de fibras elásticas e colágenas (Junqueira & Carneiro, 2004). Como vimos, a mucosa respiratória é constituída por estruturas bastante elaboradas, que têm como um dos principais papéis, o adequado condicionamento do ar inalado. No entanto, em determinadas situações clínicas, a passagem do ar pelas fossas nasais pode estar prejudicada ou mesmo anulada, temporariamente ou não, como ocorre no paciente respirador bucal, no paciente intubado, no paciente traqueotomizado e no paciente laringectomizado. Nestes casos, são descritas várias morbidades relacionadas ao déficit no condicionamento dos gases inalados como rouquidão, congestão de mucosa faríngea e laríngea, ressecamento das secreções, formação de crostas e rolhas, e atelectasia (Chalon et al., 1972; Marfatia et al., 1975; Schiffmann et al., 1997). Em algumas situações, é possível adicionar, ao menos parcialmente, calor e umidade aos gases inalados, como ocorre durante ventilação mecânica, cujos respiradores são dotados de umidificadores aquecidos, garantindo assim, que o ar inalado chegue aos brônquios em condições mais próximas às ideais, possibilitando que as trocas gasosas ocorram normalmente, e prevenindo efeitos deletérios para o organismo (Jaber et al., 2004; Branson, 2006; Schulze, 2007). Os efeitos nocivos à mucosa respiratória exposta à inalação de gases pouco condicionados foram temas de várias pesquisas, tanto clínicas como experimentais, sendo descritas lesões epiteliais como diminuição da atividade ciliar, aumento da viscosidade do muco, erosão de mucosa, ulceração, necrose, infiltrado de células inflamatórias na lâmina própria, e até mesmo metaplasia do epitélio traqueal (Martins et al., 1996; Turner & Loan, 5 Introdução e Literatura 2000; Todd et al., 2001a; 2001b). De acordo com Sottiaux (2006), a mucosa respiratória e a função pulmonar podem ser muito prejudicadas em pacientes sob ventilação mecânica, se os gases inalados não forem adequadamente condicionados. Entretanto, a avaliação prática da umidade e aquecimento dos gases pode não ser fácil, principalmente porque não existem parâmetros clínicos capazes de detectar, com exatidão, todos os efeitos do condicionamento inadequado dos gases. Nos pacientes que necessitam de ventilação mecânica por período mais prolongado, o adequado condicionamento dos gases inalados torna-se ainda mais crucial prevenindo a retenção de secreções nas vias aéreas e possibilitando o máximo transporte mucociliar. Bisinotto et al. (1999), em estudo experimental, no qual cães foram submetidos à ventilação mecânica e expostos à inalação de gases sob condições precárias de calor e umidade, constataram, por meio de análises de microscopia eletrônica das peças de biópsia traqueal, áreas de completa desorganização e agrupamento ciliar e áreas de devastação ciliar. Visando a obtenção de condições mais satisfatórias dos gases inalados, umidificadores aquecidos e permutadores de calor e umidade (HME), também chamados de narinas artificiais, têm sido utilizados acoplados aos sistemas de ventilação (Branson et al., 1992). Os HMEs atuam recuperando parte do calor e da umidade perdidos no ar expirado, sendo incorporados ao ar inalado a cada ciclo inspiratório. A umidificação é garantida a partir da condensação de vapor d’água no dispositivo durante a expiração; por outro lado, a preservação do calor ocorre porque os HMEs são constituídos por materiais com capacidade de conservação da energia térmica (Nakagawa et al., 2000). Os permutadores de calor e umidade têm sido adaptados também no orifício do traqueostoma de indivíduos submetidos à laringectomia total, demonstrando resultados satisfatórios (Eckerbom et al., 1991; Bisinotto et al., 1999; Ackerstaff et al., 2003; Keck et al., 2005). 6 Introdução e Literatura Procurando-se preservar ao máximo a integridade da mucosa das vias aéreas e ao mesmo tempo assegurar boa permeabilidade ao fluxo inspiratório dos gases, Archie Brain (1983) desenvolveu um novo protótipo de cânula, denominado de máscara laríngea (ML) (Figura 3), a qual, quando inserida, posiciona-se na hipofaringe e não toca a glote nem a traquéia cervical. Alguns autores têm destacado as vantagens da máscara laríngea em relação ao tubo traqueal, como (Hollande et al., 1993; Reinhart, 1993; Brimacombe & Berry, 1993; Joshi et al., 1994; Brimacombe, 1995; Dhillon, 1996; Rieger et al., 1997; Martins et al., 2000; Dahaba et al., 2006): • ausência de contato com a traquéia, • inserção fácil e rápida, • não necessidade de laringoscopia direta para sua inserção, tendo conseqüentemente menor estimulação do paciente, menor necessidade de anestésicos durante a fase de indução e menores alterações hemodinâmicas, • menor incidência de laringoespasmo, tosse, odinofagia, disfonia e disfagia, • rápido acesso às vias aéreas em pacientes com intubação difícil ou mesmo em circunstâncias de socorro emergencial, antes de chegar no hospital. Pelos benefícios apresentados, a máscara laríngea passou a ser cada vez mais utilizada em cirurgias de profissionais da voz (como cantores, jornalistas, professores, etc) e em procedimentos rápidos e de emergência. Além disso, desde sua introdução na prática clínica, tem sido uma interessante opção aos anestesiologistas e demais especialistas que manipulam as vias aéreas, como broncoscopistas. Mais recentemente, o surgimento de novos modelos tem proporcionado vantagens adicionais em determinadas situações clínicas e procedimentos hospitalares ou mesmo ambulatoriais. 7 Introdução e Literatura Figura 3. Máscara laríngea. A posição mais elevada da máscara laríngea permite que maior extensão das vias aéreas fique livre do contato com a cânula. Assim, o segmento laringotraqueal, sem a presença da cânula, pode fornecer aos gases inalados, algum grau de umidade e de aquecimento, visto que, parte do condicionamento também ocorre nas vias aéreas mais baixas, não sendo restrito ao interior das fossas nasais (MacFadden, 1992). Em pesquisa experimental prévia, foi demonstrado, quantitativamente, a real participação desse segmento da via aérea no processo de condicionamento do ar, sendo registrados valores, significativamente, mais elevados de umidade absoluta dos gases inalados na traquéia dos animais que haviam sido ventilados com máscara laríngea (23 mg H2O.l-1), quando comparados aos ventilados com tubo traqueal (14 mg H2O.l-1) (Dias et al., 2005). Entretanto, nesse estudo, a necessidade de monitoramento constante da temperatura e umidade dos gases exigiu manipulação freqüente da traquéia cervical, incluindo a realização de traqueotomia próxima à fúrcula esternal para adaptação do termohigrômetro digital, o que inviabilizou a realização de estudo morfológico complementar, por meio do qual poderíamos avaliar se o epitélio respiratório seria menos lesado quando exposto à condições mais satisfatórias de condicionamento dos gases, provenientes da laringe e traquéia proximal. 8 Objetivos 2 OBJETIVO O objetivo desta pesquisa foi analisar, por meio de estudo morfológico, o papel protetor da laringe e da traquéia proximal na prevenção de lesões epiteliais, causadas pela inalação de gases pouco condicionados, em cães anestesiados e ventilados com pressão positiva intermitente por meio de máscara laríngea ou tubo traqueal. 9 Material e Métodos 3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1 Animais Utilizados Após aprovação do Comitê de Ética em Experimentação Animal (CEEA) da Faculdade de Medicina de Botucatu – UNESP, sob o protocolo de no 442/04, foram utilizados 12 cães adultos de ambos os sexos, sem raça definida, com pesos variando de 15 a 27 quilogramas, fornecidos pelo Biotério do Campus de Botucatu da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho". Na seleção, foram excluídos do experimento os animais que não apresentavam aspecto sadio. 3.2 Grupos Experimentais Os animais foram, aleatoriamente, distribuídos em dois grupos experimentais, dependendo do instrumental utilizado na manutenção da permeabilidade das vias aéreas para ventilação mecânica dos pulmões: Grupo TT (n=6) – Tubo Traqueal Portex no 8,5 (Inglaterra) (Figura 4A). Grupo ML (n=6) – Máscara Laríngea ClassicTM no 4 (Singapura) (Figura 4B). 10 Material e Métodos Figura 4. A – tubo traqueal no 8,5 utilizado no grupo TT; B – máscara laríngea no 4 utilizada no grupo ML. No Grupo TT, a extremidade distal do tubo traqueal ficou posicionada no segmento superior da traquéia, ao nível dos primeiros anéis traqueais, em todos os animais deste grupo, reproduzindo as condições do experimento prévio (Figura 5A). No Grupo ML, a máscara laríngea permaneceu locada na hipofaringe, na transição faringolaríngea, deixando livre de contato com a cânula as estruturas da laringe e da traquéia proximal (Figura 5B). B A 11 Material e Métodos Figura 5. Representação esquemática dos grupos experimentais: A – grupo TT e B – grupo ML, mostrando o posicionamento do tubo traqueal e da máscara laríngea, bem como o segmento livre da via aérea em contato com os gases inalados em ambos os grupos. 3.3 Seqüência Experimental Em todos os animais, foi realizada a seguinte seqüência experimental: • Jejum alimentar de aproximadamente 14 horas, com livre acesso à água. • Instalação do biomonitor AS/3 da Datex-Engstrom (Finlândia) para leitura dos parâmetros ventilatórios e hemodinâmicos por módulos específicos. • Instalação do termômetro digital de dois canais marca Yellow Springs Instruments Precision 4000 A (EUA), para verificação das temperaturas timpânica e ambiente. B A 12 Material e Métodos • Instalação do aparelho WarmTouch, modelo 5200, da Mallinckrodt Medica (EUA), para manutenção da temperatura corpórea do animal, por meio de manta específica. • Pesagem do animal. • Sorteio do grupo experimental. • Anestesia venosa com pentobarbital sódico. • Colocação do animal em goteira de Claude Bernard. • Tricotomia da região inguinal esquerda. • Dissecção e cateterismo da artéria e veia femorais esquerdas. • Hidratação com Ringer lactato. • Inserção de tubo traqueal ou máscara laríngea, de acordo com o grupo estudado. • Instalação da monitorização hemodinâmica e ventilatória. • Bloqueio neuromuscular com cloreto de alcurônio. • Instalação da ventilação mecânica dos pulmões em sistema sem reabsorção de CO2, com alto fluxo de gases frescos (ar 3 L.min-1 e O2 2 L.min-1). • Medida dos atributos estudados logo após a realização da indução anestésica e instalação dos aparelhos de registro e após intervalos de 60 minutos, durante o período de 180 minutos. • Eutanásia do animal, ao final do experimento, com injeção venosa de dose excessiva de anestésico (pentobarbital sódico). • Dissecção cervical e mediastinal com remoção do segmento laringotraqueobrônquico para coleta de biópsias da mucosa traqueal em três locais pré-determinados: TP – traquéia proximal, TM – traquéia média e TP – traquéia distal, para exame histopatológico e microscopia eletrônica de varredura e transmissão. 13 Material e Métodos 3.4 Atributos Estudados 3.4.1 Atributos para controle do experimento • Peso do cão (kg). • Comprimento do cão (cm). • Sexo do cão (M/F). • Pressão arterial média (mm Hg). • Freqüência de pulso (bat.min-1). • Freqüência respiratória (insp.min-1). • Volume corrente (ml.kg-1). • Saturação periférica da oxihemoglobina (%). • Pressão expiratória final de CO2 (mm Hg). • Pressão inspiratória (cm H2O). • Temperatura timpânica (oC). 3.4.2 Atributos para atendimento das finalidades do experimento • Temperatura ambiente (oC). • Umidade relativa do ar ambiente (%). • Umidade absoluta do ar ambiente (mg H2O.l-1). • Temperatura dos gases inalados (oC). • Umidade relativa dos gases inalados (%). • Umidade absoluta dos gases inalados (mg H2O.l-1). • Exame histopatológico da mucosa traqueal nas áreas pré-determinadas (TP, TM, TD). 14 Material e Métodos • Exame de microscopia eletrônica de varredura e de transmissão da mucosa traqueal nas áreas pré-determinadas (TP, TM, TD). 3.5 Momentos Estudados Os atributos hemodinâmicos, respiratórios, de temperatura e de umidade foram obtidos nos seguintes tempos: • 0 – logo após o início do experimento e instalação dos aparelhos de registro. • 60 – 60 minutos após o início do experimento. • 120 – 120 minutos após o início do experimento. • 180 – 180 minutos após o início do experimento. 3.6 Técnicas Utilizadas 3.6.1 Preparo do animal • Após período de jejum alimentar de 14 horas, mas com livre acesso à água, os animais foram pesados, submetidos à anestesia com injeção venosa de pentobarbital sódico (25 mg.kg-1 de peso corporal) e colocados em decúbito dorsal horizontal, sobre goteira de Claude Bernard. • Manutenção da permeabilidade das vias aéreas por meio da utilização de tubo traqueal ou máscara laríngea, na dependência do grupo experimental estudado. • Intubação traqueal, no grupo TT, sempre pelo mesmo pesquisador, com auxílio de laringoscópio, para exposição da região glótica e introdução do tubo traqueal de diâmetro interno 8,5 mm, observando-se cuidadosamente a introdução da cânula para que o seu balonete (insuflado com ar para não permitir vazamento durante a respiração) ficasse posicionado, em todos os cães deste grupo, logo abaixo das pregas vocais, garantindo que 15 Material e Métodos a extremidade do tubo traqueal permanecesse ao nível dos primeiros anéis traqueais, sendo o tubo fixado à boca do animal. • Inserção da máscara laríngea no4, no grupo ML, também pelo mesmo pesquisador, de acordo com a técnica descrita, previamente, no cão (Braz et al., 1999). O cão foi colocado em decúbito dorsal, com a cabeça em extensão e a língua levemente tracionada para melhor visualização da região da hipofaringe e maior facilidade na inserção. A máscara laríngea foi inserida com o seu dorso firmemente pressionado contra o palato duro e progredida em direção a hipofaringe, até que fosse percebida alguma resistência à sua introdução. Uma vez posicionada, o balonete foi insuflado com ar, para obtenção de “selo” satisfatório ao redor da laringe, e a máscara fixada à boca do animal de modo que a linha negra, presente em toda extensão do tubo, permanecesse sempre na posição mediana. • Instalação de ventilação mecânica dos pulmões com mistura de ar ambiente (3 L.min-1) e O2 (2 L.min-1) em sistema de ventilação sem reinalação, empregando-se ventilador mecânico ciclado à pressão (K. TAKAOKA, modelo 2600, Série Nikkei – Brasil). Com o fluxo de gases frescos utilizados, a fração inspirada de oxigênio (FiO2) permaneceu ao redor de 50%. Para facilitar a ventilação artificial e a manutenção do volume corrente, utilizou-se o cloreto de alcurônio, na dose inicial de 0,2 mg.kg-1 e manutenção de 0,06 mg.kg-1 a cada 60 minutos. • Instalação do sensor do oxímetro de pulso em forma de pinça, fixado à língua do animal e do captor da amostra de gases para medida da fração inspirada de oxigênio e da pressão expiratória final de dióxido de carbono (PETCO2), junto à válvula expiratória, entre a máscara laríngea ou o tubo traqueal e o circuito inspiratório. • Introdução do sensor de temperatura no conduto auditivo externo, posicionado junto à membrana timpânica, para medida da temperatura timpânica. 16 Material e Métodos • Para medida da temperatura ambiente, um sensor foi mantido exposto ao ar ambiente próximo ao animal. • Dissecção da artéria femoral esquerda, a qual foi cateterizada com cateter de polietileno PE 240 para medida da pressão arterial média. Para este fim, a extremidade do cateter foi conectada ao dômus específico para determinação da pressão arterial. • Dissecção da veia femoral esquerda, a qual foi cateterizada com cateter de polietileno PE 240 para administração de Ringer lactato (dose de 5 ml.kg-1.h-1) e pentobarbital sódico (dose de 5 mg.kg-1.h-1) em bomba de infusão contínua de dois canais modelo Anne, da Abbott (EUA). Esta via foi também utilizada para injeção venosa de doses complementares de cloreto de alcurônio. • Colocação de manta térmica para manutenção da temperatura corpórea do animal, cobrindo todo o corpo, sendo a mesma conectada ao aparelho fornecedor de ar aquecido WarmTouch, modelo 5200, da Mallinckrodt Medica (EUA). • Fim do período de preparação e leitura dos atributos nos tempos estudados (Figura 6). • Ao final do experimento, foi realizada eutanásia do animal com injeção venosa de dose excessiva de pentobarbital sódico (70 mg.kg-1). 17 Material e Métodos Figura 6. Foto panorâmica do experimento após término do preparo do animal. 3.6.2 Medidas dos atributos • Os atributos ventilatórios e hemodinâmicos foram determinados por meio de módulos específicos do biomonitor AS/3 da Datex-Engstrom (Finlândia). • As temperaturas timpânica (oC) e ambiente (oC) foram registradas pelo termômetro digital de 2 canais da Yellow Springs Instruments Precision 4000 A (USA). • A leitura dos valores da temperatura (oC) e da umidade relativa (%) dos gases foi feita com o termohigrômetro digital portátil, modelo Higrotermo 95, da Gulton do Brasil, o qual detecta valores de temperatura na faixa de –20oC a +60oC, e de umidade relativa entre 5% e 95% (Figura 7). • Nas avaliações dos gases inalados, o termohigrômetro foi acoplado ao ramo inspiratório do sistema de ventilação, junto à válvula expiratória, por cerca de 30 segundos até a estabilização dos valores de temperatura e umidade relativa (Figura 8). 18 Material e Métodos • A umidade absoluta (mg H2O.l-1) foi calculada por meio da seguinte fórmula (Tubelis & Nascimento, 1980; Andrews, 1989): da = (ds x F) x 100-1 onde: da – umidade absoluta (mg H2O.l-1) ds – umidade absoluta do ar em condição de saturação (mg H2O.l-1), obtida em tabela específica (Tubelis & Nascimento, 1980) F – umidade relativa (%) Figura 7. Termohigrômetro digital portátil, modelo Higrotermo 95, da Gulton do Brasil. Figura 8. Termohigrômetro acoplado ao ramo inspiratório do sistema de ventilação, para medida da temperatura e da umidade relativa dos gases inalados. 19 Material e Métodos 3.6.3 Estudo morfológico • Após o sacrifício do animal, ao final das três horas de experimento, o segmento laringotraqueobrônquico foi imediatamente removido para a realização de biópsias da mucosa traqueal nas áreas pré-determinadas. Para esta finalidade, foi realizada, inicialmente, tricotomia da região cervical e torácica do animal, seguida de dissecção cervical e toracotomia pela linha média, interessando pele e subcutâneo, com bisturi lâmina 21, partindo-se do nível do osso hióideo e progredindo até dois centímetros abaixo do processo xifóide do osso esterno. Realizou-se, a seguir, a abertura do osso esterno com tesoura, seguida da colocação do afastador autostático, e divulsão romba das pleuras com pinçamento, ligadura e secção dos vasos mediastinais. Após completa exposição e individualização da laringe, traquéia em toda sua extensão (cervical e torácica) e dos brônquios principais (Figura 9), foi realizada remoção em bloco da laringe e traquéia, seguida da abertura cuidadosa da traquéia, em toda sua extensão, pela sua porção membranosa, com exposição de sua luz. Foram realizadas biópsias da mucosa traqueal de 1x1cm nas três áreas pré-determinadas: TP – traquéia proximal, TM – traquéia média, TP – traquéia distal, para exame histopatológico e microscopia eletrônica de varredura e transmissão (Figura 10). 20 Material e Métodos Figura 9. Dissecção cervical e mediastinal, obtendo completa exposição e individualização da traquéia cervical e torácica. Figura 10. Bloco laringotraqueal removido, abertura da traquéia pela porção membranosa e áreas de biópsia da mucosa traqueal (TP – traquéia proximal, TM – traquéia média, TD – traquéia distal). 21 Material e Métodos • Microscopia de luz – as biópsias coletadas nas três áreas pré-determinadas (TP, TM e TD), nos seis cães de cada grupo, foram submetidas à seguinte seqüência de preparação: fixação em formalina a 10% durante 48 horas, inclusão dos fragmentos em parafina, os quais foram cortados por métodos convencionais e corados pelo método da hematoxilina- eosina. A avaliação histológica pela microscopia de luz foi feita pelo pesquisador e pelo patologista com registro fotográfico e ilustração das principais alterações encontradas, sem conhecimento prévio dos grupos aos quais pertenciam as lâminas, sendo as mesmas identificadas por letras e números. Em cada lâmina, foram analisados os seguintes parâmetros à microscopia de luz: epitélio (erosão e presença de polimorfonucleares neutrófilos) e córion (congestão, hemorragia e presença de polimorfonucleares neutrófilos). Com exceção da erosão epitelial, nos demais parâmetros, foi realizada análise semiquantitativa por meio de escores sendo 0 – ausente, 1 – discreto, 2 – moderado e 3 – intenso. Os dados relativos à erosão epitelial foram analisados em termos de extensão do corte histológico, como segue: 0 – ausência de erosão em toda extensão do corte histológico, 1 – comprometimento de até 30% da extensão do corte histológico, 2 – comprometimento de 31% a 60% da extensão do corte histológico, 3 – comprometimento de 61% a 100% da extensão do corte histológico. Para realização do estudo de microscopia eletrônica, foram coletados fragmentos de biópsia da mucosa traqueal (1x1cm), em três animais de cada grupo, nas mesmas áreas pré- determinadas (TP, TM e TD). Cada fragmento era dividido ao meio, sendo enviada uma parte para microscopia eletrônica de varredura e outra para microscopia eletrônica de transmissão. • Microscopia eletrônica de varredura – os fragmentos de biópsia da mucosa traqueal coletados nas três áreas pré-determinadas (TP, TM e TD) foram submetidos à seguinte preparação: fixação em glutaraldeído a 2,5% em tampão fosfato 0,1M e pH 7,3 por, no 22 Material e Métodos mínimo, 12 horas; três lavagens em tampão fosfato 0,1M e pH 7,3 de 15 minutos cada; pós-fixação em tetróxido de ósmio a 1% em tampão fosfato 0,1M e pH 7,3 por 1 hora em câmara escura; três lavagens em tampão fosfato 0,1M e pH 7,3 de 15 minutos cada; desidratação da peça em série alcoólica de 75% a 100% (duas trocas de 15 min cada); secagem das peças em aparelho de ponto crítico Balzers CPD-020, utilizando-se dióxido de carbono líquido; montagem em base metálica com cola de prata; cobertura das peças com ouro (15nm) em aparelho Balzers MED-010; exame e fotografia digital do material em microscópio eletrônico de varredura modelo QUANTA 200 da FEI (República Tcheca), com aumentos crescentes, englobando toda superfície da peça (Figura 11). Cada fragmento foi submetido à análise semiquantitativa por meio de escores, sendo: 0 – ausência de alterações nos cílios, epitélio íntegro em toda sua extensão, 1 – agrupamento e/ou desorientação ciliar em áreas focais, 2 – agrupamento e/ou desorientação ciliar em áreas extensas, ausência de ulceração epitelial, 3 – rarefação ciliar em áreas extensas, ausência de ulceração epitelial, 4 – rarefação ciliar em áreas extensas, ulceração epitelial. Figura 11. Microscópio eletrônico de varredura. 23 Material e Métodos • Microscopia eletrônica de transmissão – os fragmentos de biópsia da mucosa traqueal coletados nas três áreas pré-determinadas (TP, TM e TD) foram submetidos à seguinte preparação: fixação em glutaraldeído a 2,5% em tampão fosfato 0,1 M e pH 7,3; secção da peça de biópsia com lâmina preparada, em fragmentos de 3x1mm, sob cera de dentista rosa, umidecida com solução fixadora de glutaraldeído a 2,5%; coleta de fragmentos por meio de micro pipetas e fixação em glutaraldeído a 2,5% por três horas; pós-fixação com ácido ósmico a 1% em tampão fosfato 0,1 molar, pH 7,3; desidratação em série crescente de acetonas (50%, 70%, 90% e 100%); mergulho dos fragmentos em mistura de acetona e resina de araldite (Polysciences, Inc.) de grau 502 por 12 horas; retirada dos fragmentos da mistura e inclusão em bloco de resina de araldite pura por uma hora em estufa a 37oC, sendo preparados 6 blocos de cada peça de biópsia; colocação em estufa a 60oC por 48 horas para polimerização; trimagem dos blocos, sob lupa, com auxílio de lâmina preparada; realização de cortes semi-finos de 0,5μm, que foram colocados sobre lâminas e corados com uma mistura de 1:1 de azul de metileno a 1% e de Azur II a 1%; exame em microscópio óptico para escolha dos cortes semi-finos apropriados; cortes ultra-finos (500) a partir dos cortes semi-finos escolhidos; exame e fotografia do material em microscópio eletrônico de transmissão Philips, modelo EM 301 (Holanda), abrangendo o epitélio e a lâmina própria (Figura 12), com aumentos variáveis e crescentes quadro a quadro, realizando algumas fotos com aumentos maiores para destacar detalhes ultra- estruturais. Cada fragmento foi submetido à análise semiquantitativa por meio de escores, sendo: 24 Material e Métodos 0 – células epiteliais com configuração normal, 1 – alargamento das junções intercelulares e/ou presença de células inflamatórias, membrana basal normal, 2 – alargamento das junções intercelulares e/ou presença de células inflamatórias, vacuolização citoplasmática, membrana basal normal, 3 – vacuolização citoplasmática com polimorfismo celular/nuclear, membrana basal alterada. Figura 12. Microscópio eletrônico de transmissão. O estudo de microscopia eletrônica foi realizado no Centro de Microscopia Eletrônica do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho (UNESP – Botucatu). 25 Material e Métodos 3.7 Análise Estatística Para verificar se a variável apresentava ou não distribuição normal, empregou-se o teste para normalidade dos resíduos de Kolmogorov-Smirnov, juntamente com o teste para homogeneidade de variância de Bartlet. Nas situações em que as variáveis não tiveram distribuição normal, utilizou-se o teste não paramétrico de Friedman na comparação entre os valores dos momentos dentro de cada grupo e o teste não paramétrico de Mann-Whitney para comparação entre os valores dos dois grupos em cada momento. Estes atributos tiveram seus resultados expressos pela mediana, primeiro e terceiro quartis, e representação em figuras (box plot) com indicação do menor valor, do primeiro quartil, da mediana, do terceiro quartil e do maior valor obtido. Para as variáveis que apresentaram distribuição normal, foi realizada ANOVA, seguida do teste para comparações múltiplas de Tukey. Os resultados dos atributos neste caso foram expressos pela média e desvio padrão. Na análise do peso e comprimento dos animais, utilizou-se o teste t de Student, e para a distribuição dos sexos, foi empregado o teste exato de Fisher. O nível de significância utilizado foi de 0,05 (Fisher & Belle, 1993). 26 Resultados 4 RESULTADOS 4.1 Peso dos Animais Tabela 1. Peso dos animais (kg). Média e desvio padrão dos valores observados nos grupos estudados. Grupo Peso (kg) TT 19,7 ± 4,7 ML 17,5 ± 3,2 Teste t; p=0,37 0 5 10 15 20 25 30 TT ML Grupo P es o (k g ) Figura 13. Peso dos animais (kg). Média e desvio padrão dos valores observados nos grupos estudados (p>0,05). Comentário geral: não houve diferença entre os grupos com relação ao peso dos animais. 27 Resultados 4.2 Comprimento dos Animais Tabela 2. Comprimento dos animais (cm). Média e desvio padrão dos valores observados nos grupos estudados. Grupo Comprimento (cm) TT 104,8 ± 10,6 ML 97,0 ± 7,9 Teste t; p=0,18 0 20 40 60 80 100 120 TT ML Grupo C o m p ri m en to (c m ) Figura 14. Comprimento dos animais (cm). Média e desvio padrão dos valores observados nos grupos estudados (p>0,05). Comentário geral: não houve diferença entre os grupos com relação ao comprimento dos animais. 28 Resultados 4.3 Sexo dos Animais Tabela 3. Sexo dos animais. Distribuição das freqüências absolutas (n) e relativas (%) observadas nos grupos estudados. Sexo Grupo TT ML Macho (M) 3 (50,0) 4 (66,7) Fêmea (F) 3 (50,0) 2 (33,3) Teste exato de Fisher; p=0,56 Figura 15. Sexo dos animais. Distribuição das proporções observadas nos grupos estudados (p>0,05). Comentário geral: não houve diferença entre os grupos com relação ao sexo dos cães. 0 20 40 60 80 TT ML Grupo F re q ü ên ci a d o s se xo s (% ) M M F F 29 Resultados 4.4 Pressão Arterial Média Tabela 4. Pressão arterial média (mm Hg). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados. Tempo (min) Grupo TT ML 0 105,7 ± 12,9 100,5 ± 7,1 60 113,2 ± 11,5 119,3 ± 12,6 120 112,8 ± 7,8 122,0 ± 7,6 180 114,2 ± 8,6 120,8 ± 11,0 (1) médias dos tempos dentro de cada grupo, não diferem estatisticamente (p=0,18). (2) médias dos grupos dentro de cada tempo, não diferem estatisticamente (p=0,18). 0 20 40 60 80 100 120 140 0 60 120 180 Tempo (min) P re ss ão a rt er ia l m éd ia ( m m H g ) TT ML Figura 16. Pressão arterial média (mm Hg). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados (p>0,05). Comentário geral: os valores da pressão arterial média não se alteraram significativamente entre os grupos e ao longo do tempo nos grupos estudados. 30 Resultados 4.5 Freqüência de Pulso Tabela 5. Freqüência de pulso (bat.min-1). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados. Tempo (min) Grupo TT ML 0 153 ± 23 150 ± 29 60 162 ± 13 152 ± 25 120 162 ± 15 152 ± 17 180 156 ± 20 154 ± 17 (1) médias dos tempos dentro de cada grupo, não diferem estatisticamente (p=0,80). (2) médias dos grupos dentro de cada tempo, não diferem estatisticamente (p=0,80). 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 0 60 120 180 Tempo (min) F re q ü ên ci a d e p u ls o ( b at .m in -1 ) TT ML Figura 17. Freqüência de pulso (bat.min-1). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados (p>0,05). Comentário geral: os valores da freqüência de pulso não se alteraram significativamente entre os grupos e ao longo do tempo nos grupos estudados. 31 Resultados 4.6 Freqüência Respiratória Tabela 6. Freqüência respiratória (insp.min-1). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados. Tempo (min) Grupo TT ML 0 13 ± 1,0 13 ± 0,9 60 13 ± 1,0 13 ± 0,5 120 13 ± 0,8 13 ± 0,8 180 13 ± 1,0 13 ± 0,8 (1) médias dos tempos dentro de cada grupo, não diferem estatisticamente (p=0,60). (2) médias dos grupos dentro de cada tempo, não diferem estatisticamente (p=0,60). 0 2 4 6 8 10 12 14 16 0 60 120 180 Tempo (min) F re q ü ên ci a re sp ir at ó ri a (i n sp .m in -1 ) TT ML Figura 18. Freqüência respiratória (insp.min-1). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados (p>0,05). Comentário geral: os valores da freqüência respiratória não se alteraram significativamente entre os grupos e ao longo do tempo nos grupos estudados. 32 Resultados 4.7 Volume Corrente Tabela 7. Volume corrente (ml.kg-1). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados. Tempo (min) Grupo TT ML 0 20,3 ± 0,5 19,5 ± 0,6 60 19,5 ± 0,8 19,3 ± 1,1 120 19,9 ± 0,5 19,4 ± 1,1 180 19,7 ± 0,5 19,1 ± 1,0 (1) médias dos tempos dentro de cada grupo, não diferem estatisticamente (p=0,64). (2) médias dos grupos dentro de cada tempo, não diferem estatisticamente (p=0,64). 0 5 10 15 20 25 0 60 120 180 Tempo (min) V o lu m e co rr en te ( m l.k g -1 ) TT ML Figura 19. Volume corrente (ml.kg-1). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados (p>0,05). Comentário geral: os valores do volume corrente não se alteraram significativamente entre os grupos e ao longo do tempo nos grupos estudados. 33 Resultados 4.8 Saturação Periférica da Oxihemoglobina Tabela 8. Saturação periférica da oxihemoglobina (%). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados. Tempo (min) Grupo TT ML 0 98,7 ± 0,5 99,0 ± 0,0 60 98,8 ± 0,8 98,8 ± 0,4 120 98,7 ± 0,5 98,5 ± 0,8 180 98,5 ± 0,8 98,7 ± 0,5 (1) médias dos tempos dentro de cada grupo, não diferem estatisticamente (p=0,58). (2) médias dos grupos dentro de cada tempo, não diferem estatisticamente (p=0,58). 50 60 70 80 90 100 110 0 60 120 180 Tempo (min) S at u ra çã o p er if ér ic a d a o xi h em o g lo b in a (% ) TT ML Figura 20. Saturação periférica da oxihemoglobina (%). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados (p>0,05). Comentário geral: os valores da saturação periférica da oxihemoglobina não se alteraram significativamente entre os grupos e ao longo do tempo nos grupos estudados. 34 Resultados 4.9 Pressão Expiratória Final de CO2 Tabela 9. Pressão expiratória final de CO2 (mm Hg). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados. Tempo (min) Grupo TT ML 0 33,8 ± 5,0 35,3 ± 5,5 60 33,0 ± 5,2 36,2 ± 5,9 120 33,7 ± 3,8 37,3 ± 5,9 180 34,2 ± 3,5 37,3 ± 6,1 (1) médias dos tempos dentro de cada grupo, não diferem estatisticamente (p=0,58). (2) médias dos grupos dentro de cada tempo, não diferem estatisticamente (p=0,58). 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 0 60 120 180 Tempo (min) P et C O 2 (m m H g ) TT ML Figura 21. Pressão expiratória final de CO2 (mm Hg). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados (p>0,05). Comentário geral: os valores da pressão expiratória final de CO2 não se alteraram significativamente entre os grupos e ao longo do tempo nos grupos estudados. 35 Resultados 4.10 Pressão Inspiratória Tabela 10. Pressão inspiratória (cm H2O). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados. Tempo (min) Grupo TT ML 0 10,2 ± 0,4 c(1) B(2) 11,2 ± 1,8 a 60 11,0 ± 0,9 bc A 11,8 ± 1,3 a A 120 11,7 ± 0,8 ab A 12,0 ± 1,5 a A 180 12,3 ± 0,8 a A 11,8 ± 1,7 a A (1) médias dos tempos dentro de cada grupo, seguidas de diferentes letras minúsculas, diferem estatisticamente (p=0,002). (2) médias dos grupos dentro de cada tempo, seguidas de diferentes letras maiúsculas, diferem estatisticamente (p=0,002). 0 2 4 6 8 10 12 14 16 0 60 120 180 Tempo (min) P re ss ão in sp ir at ó ri a (c m H 2O ) TT ML * Figura 22. Pressão inspiratória (cm H2O). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados (T0 grupo TT < grupo ML, p<0,05; no grupo TT: T0 < T60 < T120 < T180, p<0,05). Comentário geral: os valores da pressão inspiratória no grupo TT foram inferiores aos do grupo ML apenas no momento inicial, e aumentaram significativamente ao longo do tempo apenas no grupo TT. 36 Resultados 4.11 Temperatura Timpânica Tabela 11. Temperatura timpânica (oC). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados. Tempo (min) Grupo TT ML 0 37,3 ± 0,7 37,7 ± 0,5 60 37,5 ± 1,0 38,0 ± 0,5 120 37,9 ± 1,1 38,4 ± 0,6 180 38,4 ± 1,2 38,6 ± 0,4 (1) médias dos tempos dentro de cada grupo, não diferem estatisticamente (p=0,69). (2) médias dos grupos dentro de cada tempo, não diferem estatisticamente (p=0,69). 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 0 60 120 180 Tempo (min) T em p er at u ra t im p ân ic a (o C ) TT ML Figura 23. Temperatura timpânica (oC). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados (p>0,05). Comentário geral: os valores da temperatura timpânica não se alteraram significativamente entre os grupos e ao longo do tempo nos grupos estudados. 37 Resultados 4.12 Temperatura Ambiente Tabela 12. Temperatura ambiente (oC). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados. Tempo (min) Grupo TT ML 0 23,9 ± 2,1 24,1 ± 0,7 60 25,1 ± 2,0 24,6 ± 0,8 120 25,1 ± 2,1 24,9 ± 1,0 180 25,3 ± 2,5 25,3 ± 1,0 (1) médias dos tempos dentro de cada grupo, não diferem estatisticamente (p=0,27). (2) médias dos grupos dentro de cada tempo, não diferem estatisticamente (p=0,27). 0 5 10 15 20 25 30 0 60 120 180 Tempo (min) T em p er at u ra a m b ie n te ( o C ) TT ML Figura 24. Temperatura ambiente (oC). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados (p>0,05). Comentário geral: os valores da temperatura ambiente não se alteraram significativamente entre os grupos e ao longo do tempo nos grupos estudados. 38 Resultados 4.13 Umidade Relativa do Ar Ambiente Tabela 13. Umidade relativa do ar ambiente (%). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados. Tempo (min) Grupo TT ML 0 58,4 ± 10,8 63,2 ± 9,3 60 57,3 ± 12,0 61,9 ± 11,4 120 57,0 ± 10,2 63,5 ± 10,2 180 56,8 ± 13,1 63,2 ± 9,9 (1) médias dos tempos dentro de cada grupo, não diferem estatisticamente (p=0,65). (2) médias dos grupos dentro de cada tempo, não diferem estatisticamente (p=0,65). 0 10 20 30 40 50 60 70 80 0 60 120 180 Tempo (min) U m id ad e re la ti va d o a r am b ie n te ( % ) TT ML Figura 25. Umidade relativa do ar ambiente (%). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados (p>0,05). Comentário geral: os valores da umidade relativa do ar ambiente não se alteraram significativamente entre os grupos e ao longo do tempo nos grupos estudados. 39 Resultados 4.14 Umidade Absoluta do Ar Ambiente Tabela 14. Umidade absoluta do ar ambiente (mg H2O.l-1). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados. Tempo (min) Grupo TT ML 0 12,6 ± 2,5 13,8 ± 2,1 60 13,2 ± 2,5 14,1 ± 2,6 120 13,1 ± 2,1 14,6 ± 2,0 180 13,1 ± 2,6 14,7 ± 2,0 (1) médias dos tempos dentro de cada grupo, não diferem estatisticamente (p=0,35). (2) médias dos grupos dentro de cada tempo, não diferem estatisticamente (p=0,35). 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 0 60 120 180 Tempo (min) U m id ad e ab so lu ta d o a r am b ie n te (m g H 2O .l-1 ) TT ML Figura 26. Umidade absoluta do ar ambiente (mg H2O.l-1). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados (p>0,05). Comentário geral: os valores da umidade absoluta do ar ambiente não se alteraram significativamente entre os grupos e ao longo do tempo nos grupos estudados. 40 Resultados 4.15 Temperatura dos Gases Inalados Tabela 15. Temperatura dos gases inalados (oC). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados. Tempo (min) Grupo TT ML 0 23,6 ± 2,4 23,9 ± 0,7 60 24,4 ± 2,4 24,2 ± 1,1 120 24,6 ± 2,3 24,5 ± 1,0 180 24,9 ± 2,7 24,8 ± 1,2 (1) médias dos tempos dentro de cada grupo, não diferem estatisticamente (p=0,46). (2) médias dos grupos dentro de cada tempo, não diferem estatisticamente (p=0,46). 0 5 10 15 20 25 30 0 60 120 180 Tempo (min) T em p er at u ra d o s g as es in al ad o s (o C ) TT ML Figura 27. Temperatura dos gases inalados (oC). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados (p>0,05). Comentário geral: os valores da temperatura dos gases inalados não se alteraram significativamente entre os grupos e ao longo do tempo nos grupos estudados. 41 Resultados 4.16 Umidade Relativa dos Gases Inalados Tabela 16. Umidade relativa dos gases inalados (%). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados. Tempo (min) Grupo TT ML 0 11,9 ± 0,7 12,0 ± 1,2 60 10,5 ± 0,6 11,2 ± 1,2 120 10,7 ± 0,5 11,5 ± 1,3 180 10,6 ± 0,3 11,0 ± 1,0 (1) médias dos tempos dentro de cada grupo, não diferem estatisticamente (p=0,22). (2) médias dos grupos dentro de cada tempo, não diferem estatisticamente (p=0,22). 0 2 4 6 8 10 12 14 0 60 120 180 Tempo (min) U m id ad e re la ti va d o s g as es in al ad o s (% ) TT ML Figura 28. Umidade relativa dos gases inalados (%). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados (p>0,05). Comentário geral: os valores da umidade relativa dos gases inalados não se alteraram significativamente entre os grupos e ao longo do tempo nos grupos estudados. 42 Resultados 4.17 Umidade Absoluta dos Gases Inalados Tabela 17. Umidade absoluta dos gases inalados (mg H2O.l-1). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados. Tempo (min) Grupo TT ML 0 2,5 ± 0,3 2,6 ± 0,2 60 2,3 ± 0,4 2,5 ± 0,2 120 2,4 ± 0,4 2,6 ± 0,2 180 2,4 ± 0,4 2,5 ± 0,2 (1) médias dos tempos dentro de cada grupo, não diferem estatisticamente (p=0,62). (2) médias dos grupos dentro de cada tempo, não diferem estatisticamente (p=0,62). 0 1 2 3 0 60 120 180 Tempo (min) U m id ad e ab so lu ta d o s g as es in al ad o s (m g H 2O .l-1 ) TT ML Figura 29. Umidade absoluta dos gases inalados (mg H2O.l-1). Média e desvio padrão dos valores obtidos ao longo do tempo nos grupos estudados (p>0,05). Comentário geral: os valores da umidade absoluta dos gases inalados não se alteraram significativamente entre os grupos e ao longo do tempo nos grupos estudados. 43 Resultados 4.18 Análise de Microscopia de Luz O estudo de microscopia de luz foi realizado nas três áreas de biópsia da mucosa traqueal (TP – traquéia proximal, TM – traquéia média e TP – traquéia distal) em todos os animais incluídos neste estudo, totalizando dezoito fragmentos de cada grupo. Pela análise de microscopia de luz nota-se que, em ambos os grupos, muitas lâminas examinadas apresentavam aspecto normal, em todos os segmentos estudados, ou seja, epitélio traqueal do tipo pseudoestratificado cilíndrico ciliado, composto por células caliciformes justapostas entre células ciliadas; ambas repousando sobre uma membrana basal delicada e retilínea, ou discretamente sinuosa, em algumas áreas. Na lâmina própria, delicados feixes de fibras colágenas encontravam-se dispostos paralelamente à superfície, entre os quais haviam agrupamentos esparsos de glândulas seromucosas, alguns folículos linfóides e capilares (Figura 30). Pela coloração de hematoxilina-eosina (H&E), as fibras colágenas não se diferenciaram das fibras elásticas. Em algumas lâminas, foram identificadas alterações histológicas em proporções discretamente distintas entre os grupos de estudo. 44 Resultados Figura 30. Microscopia de luz, epitélio traqueal normal pseudoestratificado cilíndrico ciliado (cão do grupo TT). Em A, detalhe da camada epitelial (ce) e da lâmina própria (lp) (H&E 40X); em B, detalhe das células ciliadas (cc) e das células mucosecretoras (cm) contendo secreção mucosa (H&E 60X); em C e D, detalhe da membrana basal bem delimitada (cabeças de setas), alguns capilares (setas contínuas) e glândulas seromucosas (seta descontínua) presentes na lâmina própria, assim como o tecido conjuntivo (H&E 40X). A C D B cm cc lp ce C D 45 Resultados 4.18.1 Infiltração de polimorfonucleares (PMN) no epitélio No epitélio, algumas lâminas apresentavam infiltração variável de polimorfonucleares neutrófilos (PMN). Entretanto, a análise estatística não identificou diferença significativa desse parâmetro entre os grupos estudados (Tabela 18; Figura 31). Em nenhuma lâmina analisada foram constatadas erosões, mesmo que superficiais. Tabela 18. Escore histológico da infiltração de PMN no epitélio. Valores da mediana, 1o e 3o quartis obtidos ao longo dos segmentos traqueais nos grupos estudados. Segmento traqueal Grupo TT ML TP 0,0 [0,0; 0,0] 0,0 [0,0; 0,0] TM 0,0 [0,0; 1,0] 0,0 [0,0; 0,0] TD 0,0 [0,0; 1,0] 0,0 [0,0; 0,0] (1) escores de cada segmento representados pelas medianas dentro dos grupos, não diferem estatisticamente (p=1,00). (2) escores dos grupos representados pelas medianas dentro de cada segmento, não diferem estatisticamente (p=0,60). Figura 31. Escore histológico da infiltração de PMN no epitélio. Box plot dos valores obtidos ao longo dos segmentos traqueais nos grupos estudados (p>0,05). 46 Resultados Figura 32. Microscopia de luz, infiltrado de PMN (cabeças de setas) no epitélio (A e B – discreto, cão do grupo ML; C e D – moderado, cão do grupo TT); H&E 40X. A B D C 47 Resultados 4.18.2 Infiltração de polimorfonucleares (PMN) no córion No córion, foi observado infiltrado de polimorfonucleares neutrófilos (PMN) em várias lâminas de ambos os grupos. Entretanto, a análise estatística dos escores obtidos não identificou diferença significativa desse parâmetro entre os grupos estudados (Tabela 19; Figura 33). Tabela 19. Escore histológico da infiltração de PMN no córion. Valores da mediana, 1o e 3o quartis obtidos ao longo dos segmentos traqueais nos grupos estudados. Segmento traqueal Grupo TT ML TP 0,0 [0,0; 1,0] 0,0 [0,0; 1,0] TM 1,0 [1,0; 1,0] 0,5 [0,0; 1,0] TD 0,5 [0,0; 1,0] 0,5 [0,0; 1,0] (1) escores de cada segmento representados pelas medianas dentro dos grupos, não diferem estatisticamente (p=1,00). (2) escores dos grupos representados pelas medianas dentro de cada segmento, não diferem estatisticamente (p=0,45). Figura 33. Escore histológico da infiltração de PMN no córion. Box plot dos valores obtidos ao longo dos segmentos traqueais nos grupos estudados (p>0,05). 48 Resultados Figura 34. Microscopia de luz, infiltrado discreto de PMN na lâmina própria (A e B; H&E 40X, cão do grupo TT); e de moderada intensidade (C e D; H&E 40X e 60X, respectivamente, cão do grupo ML). A B C D 49 Resultados 4.18.3 Congestão A congestão foi registrada em lâminas de ambos os grupos, com discreto predomínio no grupo TT, porém sem significância estatística (Tabela 20; Figura 35). Em nenhuma delas foi identificada hemorragia. Tabela 20. Escore histológico da congestão. Valores da mediana, 1o e 3o quartis obtidos ao longo dos segmentos traqueais nos grupos estudados. Segmento traqueal Grupo TT ML TP 1,0 [1,0; 1,0] 1,0 [1,0; 1,0] TM 2,0 [1,0; 2,0] 1,0 [1,0; 1,0] TD 2,0 [1,0; 2,0] 2,0 [2,0; 2,0] (1) escores de cada segmento representados pelas medianas dentro dos grupos, não diferem estatisticamente (p=0,69). (2) escores dos grupos representados pelas medianas dentro de cada segmento, não diferem estatisticamente (p=0,84). Figura 35. Escore histológico da congestão. Box plot dos valores obtidos ao longo dos segmentos traqueais nos grupos estudados (p>0,05). 50 Resultados Figura 36. Epitélio traqueal: congestão (cabeças de setas) discreta em A (40X), cão do grupo ML; moderada intensidade em B (40X), cão do grupo ML; e intensa em C (40X) e D (60X), cão do grupo TT (Microscopia de luz, H&E). A B C D A 51 Resultados 4.19 Análise de Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) A mucosa traqueal, na maioria das peças examinadas, apresentou aspecto de normalidade, com cílios recobrindo toda a extensão do fragmento. Os cílios apresentaram-se soltos, direcionados e com distribuição regular. Entre as células ciliadas, observaram-se algumas células caliciformes produtoras de muco (Figura 37). 52 Resultados Figura 37. Epitélio traqueal normal, cão do grupo ML. A – visão do epitélio respiratório em menor aumento; B, C, D, E e F – grande quantidade de cílios soltos e orientados recobrindo totalmente a superfície mucosa; B e C – detalhe das reentrâncias normais presentes na superfície do epitélio (setas); D – detalhe de uma célula mucosecretora (cm) sem cílios, posicionada entre as células ciliadas, notar a diferença de tamanho entre os seus microvilos e os cílios das células ciliadas; E e F – detalhe da configuração normal dos cílios em maior aumento. MEV (A – 129X; B – 4.055X; C – 5.280X; D – 4.820X; E – 4.630X; F – 6.840X). A B C D E F cm 53 Resultados 4.19.1 Escore morfológico da microscopia eletrônica de varredura (MEV) Em alguns fragmentos, exclusivamente do grupo TT, foram identificadas pequenas alterações nos cílios, como desorganização e agrupamento ciliar. Entretanto, a análise estatística dos escores não identificou diferença significativa (Tabela 21; Figura 38). Lesões maiores, como áreas de devastação ciliar ou ulceração epitelial não foram observadas em nenhum dos fragmentos estudados. Tabela 21. Escore morfológico da microscopia eletrônica de varredura. Valores da mediana, 1o e 3o quartis obtidos ao longo dos segmentos traqueais nos grupos estudados. Segmento traqueal Grupo TT ML TP 1,0 [0,0; 1,0] 0,0 [0,0; 0,0] TM 1,0 [0,0; 1,0] 0,0 [0,0; 0,0] TD 1,0 [0,0; 0,0] 0,0 [0,0; 0,0] (1) escores de cada segmento representados pelas medianas dentro dos grupos, não diferem estatisticamente (p=0,83). (2) escores dos grupos representados pelas medianas dentro de cada segmento, não diferem estatisticamente (p=0,58). Figura 38. Escore morfológico da microscopia eletrônica de varredura. Box plot dos valores obtidos ao longo dos segmentos traqueais nos grupos estudados (p>0,05). 54 Resultados Figura 39. Epitélio traqueal, cão do grupo TT. A e B – detalhe da desorganização e desorientação dos cílios na superfície epitelial e de gota de muco (setas) com aspecto normal sendo expelida para a superfície epitelial; C e D – cílios aderidos formando pequenos agrupamentos (setas); E e F – detalhe da desorientação ciliar mais intensa, além da formação de agrupamentos (setas). MEV (A – 2.760X; B – 4.825X; C – 3.500X; D – 4.825X; E – 4.440X; F – 3.885X). A B C D E F 55 Resultados 4.20 Análise de Microscopia Eletrônica de Transmissão (MET) O estudo morfológico de microscopia eletrônica de transmissão foi realizado nas três áreas de biópsia da mucosa traqueal (TP – traquéia proximal, TM – traquéia média e TP – traquéia distal) em três animais de cada grupo do estudo, totalizando nove fragmentos do grupo TT e nove do grupo ML. A mucosa traqueal, na maioria das peças examinadas, apresentou aspecto de normalidade. Na camada epitelial, destacaram-se as células ciliadas, as células caliciformes ou mucosecretoras, as células basais e as células em escova ou brush cells. As células ciliadas continham cílios inseridos nos seus corpúsculos basais e distribuídos homogeneamente na superfície celular, citoplasma rico em mitocôndrias, as quais se encontravam dispostas, principalmente, na porção apical, junto aos corpúsculos basais, e demais organelas como retículo endoplasmático rugoso (RER), complexo de golgi e ribossomos. As células caliciformes, com seu formato em pêra, apresentavam numerosos grânulos secretórios na região da teca, permanecendo o núcleo e as outras organelas na região basal. Entre as células ciliadas e caliciformes na superfície do epitélio, observavam-se, em menor número células em escova ou brush cells, pequenas células com microvilos altos na membrana celular apical, mas sem cílios. As células basais indiferenciadas localizavam-se sobre a membrana basal em disposição perpendicular à mesma, não atingindo o lúmen, apresentavam dimensões menores, e seu núcleo volumoso continha cromatina descondensada. As células epiteliais mostravam-se justapostas, com junções intercelulares do tipo interdigitação e desmossomos. A membrana basal apresentava-se delgada e discretamente sinuosa. Na lâmina própria, identificavam-se feixes de fibras colágenas e fibras elásticas, as quais se coravam mais intensamente pelo ácido tânico, e alguns capilares (Figura 40). 56 Resultados Figura 40. Epitélio traqueal normal, cão do grupo ML. A – detalhe da camada epitelial (ce), células com núcleos ovóides (nu), posicionados na região basal da mesma, e lâmina própria (lp); B – destaque para as células mucosecretoras (cm) contendo grânulos secretórios na região apical; C – inúmeros cílios soltos e orientados em cortes transversais e longitudinais, implantados nos corpúsculos basais; D – célula mucosecretora abrindo-se no lúmen; E – célula em escova ou brush cells (bc) com microvilos altos ao lado de uma célula ciliada (cc), detalhe da junção tipo desmossomo (seta contínua) entre as células; F – membrana basal delicada e contínua (seta descontínua), lâmina própria com fibras colágenas e elásticas. MET (A – 2.450X; B – 5.750X; C – 17.000X; D – 13.250X; E – 23.000X; F – 17.000X). A B C D E F ce lp nu cm bc cc 57 Resultados 4.20.1 Escore morfológico da microscopia eletrônica de transmissão (MET) Em alguns fragmentos analisados, foram identificadas alterações ultraestruturais como desorganização ciliar, alargamento de junções celulares, infiltrado de células inflamatórias, e até mesmo vacuolização citoplasmática e alteração do padrão morfológico normal dos núcleos. Essas alterações foram mais relevantes no grupo TT, sendo identificada diferença estatística significativa entre os grupos (Tabela 22; Figura 41). Tabela 22. Escore morfológico da microscopia eletrônica de transmissão. Valores da mediana, 1o e 3o quartis obtidos ao longo dos segmentos traqueais nos grupos estudados. Segmento traqueal Grupo TT ML TP 1,0 [0,2; 1,8] A(2) 0,0 [0,0; 0,8] B TM 2,0 [1,2; 2,0] A 0,0 [0,0; 0,0] B TD 1,0 [0,2; 1,8] A 0,0 [0,0; 0,0] B (1) escores de cada segmento representados pelas medianas dentro dos grupos, não diferem estatisticamente (p=0,40). (2) escores dos grupos representados pela mediana dentro de cada segmento, seguidos de diferentes letras maiúsculas, diferem estatisticamente (p=0,015). Figura 41. Escore morfológico da microscopia eletrônica de transmissão. Box plot dos valores obtidos ao longo dos segmentos traqueais nos grupos estudados (grupo TT > grupo ML, p<0,05). 58 Resultados Figura 42. Epitélio traqueal, cão do grupo TT. A – desorientação e rarefação ciliar na superfície epitelial; B, C e D – alargamento de junções celulares (setas), núcleo picnótico com cromatina condensada (nu); E e F – detalhe para vacuolização citoplasmática (setas), rarefação e desorganização ciliar. MET (A – 7.750X; B – 3.250X; C – 5.750X; D – 7.750X; E – 9.750X; F – 13.250X). E C D A B F nu 59 Discussão 5 DISCUSSÃO 5.1 Peso, Comprimento e Sexo dos Animais Foram utilizados, no experimento, cães de ambos os sexos, com peso entre 15 e 27 kg, pois nestes as dimensões do segmento faringolaríngeo permitem boa adaptação da máscara laríngea número 4, de acordo com estudos anteriores (Braz et al., 1999; Martins et al., 2000). Não foram detectadas diferenças significativas entre os grupos com relação aos atributos peso, comprimento e sexo dos animais, confirmando a homogeneidade na constituição dos grupos de estudo. 5.2 Pressão Arterial Média e Freqüência de Pulso Foi observada estabilidade hemodinâmica em ambos os grupos, dados estes confirmados pelos valores adequados de pressão arterial média e freqüência de pulso, os quais não se alteraram, significativamente, tanto ao longo do tempo como entre os grupos estudados. Embora o tubo traqueal ainda seja considerado por muitos como o método “gold standard” para manutenção da permeabilidade das vias aéreas durante anestesia e em situações emergenciais, a utilização de sondas supraglóticas alternativas, como a máscara laríngea, vem aumentando, progressivamente, em virtude da não necessidade de laringoscopia para a sua inserção, causando menor estresse e repercussões hemodinâmicas ao organismo, fato este extremamente benéfico, particularmente nos pacientes com doenças cardiovasculares (Dahaba et al., 2006). A inserção da máscara laríngea produz menor repercussão hemodinâmica, devido a menor liberação de catecolaminas, do que a intubação traqueal. Além disso, a estimulação de proprioceptores durante a realização da laringoscopia, para inserção do tubo traqueal, induz à hipertensão arterial, taquicardia e elevação nos níveis de 60 Discussão catecolaminas, proporcional à intensidade do estímulo realizado na base da língua. As alterações hemodinâmicas e a liberação de catecolaminas podem ser duas vezes mais intensas durante a inserção do tubo traqueal quando comparadas à da máscara laríngea (Oczenski et al., 1999). Bennett et al. (2004) realizaram estudo prospectivo randomizado em 27 pacientes com doença coronariana durante a cirurgia de revascularização, comparando a inserção do tubo traqueal à da máscara laríngea, e demonstraram menor elevação nos níveis pressóricos, bem como da freqüência cardíaca com a utilização da máscara laríngea, garantindo melhor estabilidade cardiovascular, sem necessidade de intervenção farmacológica. Kihara et al. (2003), comparando os efeitos hemodinâmicos da laringoscopia e intubação aos da inserção da máscara laríngea em pacientes normotensos e hipertensos, concluíram que a resposta cardiovascular foi atenuada com a utilização da máscara laríngea apenas no grupo de indivíduos hipertensos. No presente estudo, os animais foram anestesiados com pentobarbital sódico, anestésico venoso do grupo dos oxibarbituratos. A escolha do pentobarbital sódico deveu-se à sua ampla utilização em anestesia de experimentação animal, permitindo plano anestésico seguro e adequado, principalmente quando utilizado sob infusão contínua, evitando assim efeitos hemodinâmicos indesejáveis (Nascimento et al., 1995; Van der Linden et al., 2000; Chiba & Tsuboi, 2001). Além disso, as determinações hemodinâmicas foram feitas em momentos distantes da inserção do tubo traqueal e da máscara laríngea, com a finalidade de verificar a estabilidade desses parâmetros ao longo do estudo e não para constatar possíveis alterações resultantes da inserção da cânula. 61 Discussão 5.3 Freqüência Respiratória, Volume Corrente, Saturação Periférica de Oxihemoglobina, Pressão Expiratória Final de CO2 e Pressão Inspiratória Uma das preocupações iniciais com a utilização da máscara laríngea foi a possibilidade de escape de ar sem a manutenção de selo adequado, com prejuízo dos parâmetros respiratórios, aliado ao risco de aspiração de secreções para traquéia e pulmões. Essa restrição à sua utilização foi, ao longo dos anos, sendo reconsiderada, tendo em vista as inúmeras publicações com o emprego desse tipo de sonda em diversos procedimentos cirúrgicos, como obstétricos e gastrointestinais, em adultos e crianças (Maltby et al., 2002; 2003; Lim et al., 2007; Sinha et al., 2007), e ainda em cirurgias otorrinolaringológicas e de cabeça e pescoço, os quais, comumente, cursam com manipulação e sangramento nas vias aéreas (Brimacombe & Berry, 1995; Hatcher & Stack, 1999; Rehberg et al., 2007; Cheong et al., 2008; Martin-Castro & Montero, 2008). Esses autores têm registrado parâmetros respiratórios dentro da normalidade com a utilização da máscara laríngea, confirmando que a mesma garante selo adequado. Particularmente nas crianças, a única ressalva, segundo Flick et al. (2008), seria a utilização da máscara laríngea na vigência de infecções das vias aéreas ou infecção recente, predispondo maior incidência de laringoespasmo. Os resultados dos parâmetros respiratórios no presente estudo confirmaram a eficácia da máscara laríngea na manutenção da permeabilidade das vias aéreas com selo adequado, podendo-se observar que, tanto nos animais que utilizaram sondas endotraqueais convencionais (Grupo TT) como nos animais ventilados com a máscara laríngea (Grupo ML), foram detectados valores muito próximos e satisfatórios de freqüência respiratória, volume corrente, saturação periférica de oxihemoglobina e pressão expiratória final de CO2, sem alterações significativas desses atributos ao longo dos momentos do experimento. Com relação à pressão inspiratória, valores discretamente inferiores foram registrados nos animais do grupo TT logo no momento inicial do experimento, aumentando 62 Discussão significativamen